Beatriz ferreira milhazes
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(Rio de Janeiro, 1960).
A artista e a irmã, a coreógrafa Márcia Milhazes, foram criadas num ambiente que estimulava a criatividade. A mãe,
Glauce, é professora de história da arte. O pai, o advogado José Milhazes, sempre foi
um apaixonado pela música brasileira.
• Nós criamos trabalhos que são camadas e camadas de idéias buscando significados. Bia tem personalidade e coragem. É um privilégio ter uma irmã que me estimula. Dividimos até o silêncio. Diz a irmã.
Beatriz milhazes é formada em Comunicação Social, ingressou na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro, em 1980,
onde, mais tarde, lecionou e coordenou atividades culturais.
Integrou a Geração 80, um grupo de artistas que buscou retomar a Pintura,
contrapondo-se às vertentes 'conceituais' dos anos 70.
Características das obras da artista:
• Bordados, flores, rendas e mandalas se sobrepõem em infinitas camadas, numa leitura atualíssima de nossa tradição barroca - sobre um pedaço de plástico. A pele de tinta que seca sobre o plástico é depois decalcada sobre a tela, que ganha, pouco a pouco, camadas superpostas de tinta.
• Nas colagens, a artista usa materiais cotidianos como embalagens de bombom e balas para recriar seu vocabulário pictórico.
• É possível identificar elementos da cultura brasileira e ícones como as exuberantes fauna e flora, as ondas do mar, o calçadão de Copacabana, frutas, além de uma combinação inusitada de curvas, caracóis, motivos florais e rococós, que a artista plástica declara ser baseada em recortes do modernismo europeu, na artdecó.
• Exuberância das formas e a textura das cores.
• Pintura geométrica e cores caipiras, rigor formal e carnaval. A capacidade de conciliar universos tão distantes talvez explique o sucesso de Beatriz Milhazes.
• Beatriz usa os contrastes e afinidades entre as cores para equilibrar dezenas de elementos.
• Seu método consiste no desenho e na pintura de motivos e arabescos, com um colorido estonteante.
• As pinturas de Beatriz Milhazes jamais se rendem ao figurativo. Verdadeiramente abstratas, são relações visuais intensas, citações ou "pinturas sobre a natureza" como traduzem os críticos: "o diário de uma naturalista, tão impressionada com a exuberância de formas e cores da natureza quanto com as sutis e simples estruturas que as regem.”
• Nas telas,os quadrados, retângulos e listras desprendem-se do fundo da pintura para aparecer em primeiro plano. Nota-se forte referência às tradições da Op-Art e Geometria Abstrata, em contraponto ao vocabulário carnavalesco e barroco particular da artista.
• Beatriz estabelece uma composição dinâmica onde os elementos – arabescos, círculos, flores, listras e quadrados - se sobrepõem uns aos outros criando uma sensação ótica de constante movimento.
• As "armadilhas" das formas superficialmente bonitas e com caráter decorativo de suas pinturas atraem o público, que imediatamente percebe que é possível ultrapassar o prazer instantâneo do primeiro contato, pois elas se revelam uma erudição discursiva, cheia de detalhes trabalhados de forma conceitual. Uma elaborada organização de planos, texturas e harmonia de composição.
Sucesso também lá fora
O nome de Beatriz Milhazes começou a circular fora do país
em 1993, ano em que fez sua primeira exposição no exterior.
Em Caracas, Venezuela.
Beatriz tem hoje quadros nas coleções de museus como o MoMa e o Guggenheim, em
Nova York, o Reina Sofia, em Madri, e o Century Museum
of Contemporary Art, no Japão.
Com 22 anos de carreira foi aberta a exposição Mares do Sul. A primeira
grande exposição individual da artista no país. Foram apresentados
23 trabalhos, todos inéditos na cidade, três deles produzidos
especialmente para a exposição.
Selecionar os 23 trabalhos não foi tarefa fácil. "Para produzir uma grande exposição de Beatriz é
essencial a vinda de quadros que estão fora do Brasil", diz o curador Adriano Pedrosa.
O que dizem os críticos:• Hoje críticos de revistas e jornais
anunciam com entusiasmo a descoberta da carioca.
• A edição de outubro de 1993 da revista inglesa Frieze dedica a matéria de capa, escrita pela crítica Jennifer Higgie, ao trabalho da artista, com expressões elogiosas do tipo "caleidoscópio psicodélico de cores, flores, amor" e "loucura tecnicolor".
• O jornalista Celso Martins escreve que as obras individuais da artista em Londres, Paris e Nova York foram muito bem recebidas, com elogios "à frescura e à complexidade" do trabalho.
• Uma publicação inglesa, saiu em setembro de 1993 com uma seleção super-rigorosa de pouco mais de 100 nomes de pintores contemporâneos de todo o mundo. Apenas dois artistas brasileiros foram citados por críticos e curadores: Beatriz Milhazes e Adriana Varejão.
• Em um texto do catálogo da exposição — produção do Instituto Arte Viva com curadoria de Adriano Pedrosa — o crítico Paulo Herkenhoff diz que também não é qualquer um que atinge o domínio que Beatriz tem da cor.
O que diz a própria artista:
• A questão central é a honestidade. Só sendo honesto consigo mesmo e suas questões é que seu trabalho acaba aparecendo.
• Minha pintura tem as mesmas características desde o início da carreira, mas fui criando novos problemas para ela e tendo mais segurança sobre meus desejos.
• Sempre amei pintura geométrica, mas não poderia pintar só retângulos e círculos, porque meus interesses em arte vão muito além disso.
• A cor organiza tudo. Com ela, trabalho a tela como se ela fosse música — diz a artista, que formou uma espécie de linguagem com os desenhos que se repetem em seu trabalho.
• “Dois aspectos me atraem: a forma de lidar com a repetição das imagens e a liberdade com o uso das cores.”
• Sou uma “devoradora de imagens.”
Os muitos convites para exposições internacionais fazem com que Beatriz passe boa parte do ano viajando, mas sempre que
pode ela volta para o ateliê que mantém desde o início da carreira num sobrado no
Horto, com vista para o Cristo e para o agito do Clube Condomínio.
No artigo sobre sua obra que foi capa da última "Frieze", a mais importante revista de
arte da Inglaterra, a crítica Jennifer Higgie escreveu, espantada, que Beatriz "ainda"
morava no Rio. A pintora diz que não gosta de perder de vista a atmosfera carioca.
Reconhecida por sua disciplina, Beatriz
construiu sua carreira como formiguinha, amadurecendo um passo de cada vez
para desabrochar em meados dos anos 90.