Beber Ou Dirigir- LIVRO UNIFESP

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lcool e DireoBeber ou DirigirPresidenteRuth GuinsburgConselho EditorialBenjamin Kopelman (representante da Fap)Cynthia A. Sarti (campus Guarulhos)Durval Rosa Borges (presidente da Fap)Erwin Doescher (campus So Jos dos Campos)Marcia Couto (representante externo)Mauro Aquiles La Scalea (campus Diadema)Plinio Martins Filho (editor)Ruth Guinsburg (campus Vila Clementino)Editora-assistenteAdriana Garcia lcool e DireoBeber ou Dirigirum guia prtico para educadores, profissionais da sade e gestores de polticas pblicasorganizadoresSrgio Dualibi Ilana PinskyRonaldo LaranjeiraColaboradoresLigia Duailibi Jos Florentino dos Santos Filho RosangelaPommorsky Vilma Leyton Julio de Carvalho Ponce Gabriel Andreuccetti Dbora Gonalves de Carvalho Raquel ZanelattoCopyright 2010 by AutoresFicha catalogrca elaborada pela Biblioteca Central da Unifesp So Paulo: Editora Unifesp, 2010.000 p. ; 14 x 21 cmisbn 1. i. ii. Ttulocdd- 000.000 0Todos os direitos desta edio reservados Editora UnifespFundao de Apoio Universidade Federal de So PauloRua Jos de Magalhes, 80 Vila Clementino04026-090 So Paulo SP Brasil(11) 2368-4022www.fapunifesp.edu.br/editora [email protected] no Brasil 2010Foi feito o depsito legal7agradecimentos ..................................................................11prefcio ...............................................................................131.problemas associados a beber e dirigir e seu impactoem relao sade pblica e segurana no trnsito . 15Como Varia e do que Depende a Quantidade de lcool Medida no Sangue e pelos Bafmetros ou Etilmetros aps um IndivduoBeber? ........................................................................................... 17Problemas Relacionados ao lcool e Direo ..............................212.legislao nacional ......................................................31O Atual Cdigo de Trnsito Brasileiro ..........................................32O Cdigo de Trnsito e o Dirigir Alcoolizado ...............................35Alteraes Recentes no Cdigo .......................................................373.nmeros da situao atual no brasil: pesquisanacional do beber e dirigir .........................................43Populao Estudada e Objetivos da Pesquisa ................................44sumrio8lcool e direo: beber ou dirigirMetodologia e Tipos de Bafmetros Utilizados .............................45Resultados nas Diferentes Cidades ................................................ 48Comparativo da Pesquisa Beber e Dirigir em So Paulo (sp), antese depois da Lei 11.705 (2009) ......................................................... 50Resultados Anteriores Lei Seca ................................................... 53Comparaes com Resultados de Pesquisas Semelhantes emOutros Pases ................................................................................. 544.caractersticas dos pesquisados quanto aocomportamento do motorista aps beber .................... 57Dados Sociodemogrcos dos Pesquisados ..................................... 57Dados Referentes ao Comportamento dos Motoristas quantoao Padro de Consumo de Bebidas Alcolicas............................... 60Dados Referentes ao Comportamento do Motorista aps Beber ... 62Dados dos Entrevistados Referentes ao Comportamento noTrnsito e ao Conhecimento das Leis ............................................ 64ndice de Aceitao dos Entrevistados aos Bafmetros e a OutrasMedidas Preventivas ..................................................................... 66Aspectos da Identicao de Motoristas Intoxicados pelo lcool .. 705.impactos de beber e dirigir sobre a populao .......73Resultados do 1o Levantamento Nacional de Padres de Consumode lcool pela Populao Brasileira (Unifesp-Uniad/Senad) ....... 73Apoio da Populao s Medidas Preventivas ................................ 76Vtimas Fatais do Beber e Dirigir: Dados Referentes aos bitosDecorrentes de Acidentes de Trnsito Registrados no iml de SoPaulo-sp em Pesquisa da Universidade de So Paulo ................... 819sumrio5.medidas preventivas quanto a beber e dirigir:as melhores intervenes ..............................................87Principais Medidas Preventivas Quanto ao Custo-Efetividade ..... 88Preveno Comunitria (Local) .................................................... 92Como Realizar as Aes Municipais a Importncia da Fiscalizao com Bafmetros............................................................................ 946.poltica preventiva nacional: resultados dalei seca ............................................................................ 99Principais Resultados Iniciais ....................................................... 100anexos..................................................................................1051. Questionrio da Pesquisa Nacional Beber e Dirigir................. 1052. Folhetos Educativos da Pesquisa Nacional Beber e Dirigir ......... 1113. Redao da Lei 11.705, a Lei Seca .......................................... 113referncias bibliogrficas .............................................119sobre os autores ................................................................12511os grandes temas e problemas da vida no respeitam fron-teiras individuais nem arranjos burocrticos do saber. Agradece-mosatodasaspessoas,prefeituras,polcias,rgosdetrnsito que nos ajudaram nas pesquisas e publicao deste livro, e espe-cialmente a:Prefeitura da Cidade de So Paulo sp.Prefeitura da Cidade de Santos sp.Prefeitura da Cidade de Vitria es.Prefeitura da Cidade de Belo Horizonte mg.Prefeitura da Cidade de Diadema sp.Ricardo Montoro, secretrio especial para Participao e Par-ceria da Cidade de So Paulo.Guarda Civil Metropolitana de So Paulo.Guarda Civil Metropolitana de Diadema.Regina Miki, secretria da Defesa Social de Diadema sp.Luis Alberto Chaves de Oliveira, coordenador da Coordena-doria de Ateno s Drogas de So Paulo.agradecimentos12lcool e direo: beber ou dirigirJosFlorentinodosSantosFilho,presidentedoComudade So Paulo.Polcia Militar de So Paulo.Sindicato dos Corretores de Seguros de So Paulo Sincor-sp.InstitutoNacionaldePolticasdelcooleDrogasInpad- -cnpq.UnidadedePesquisaemlcooleoutrasDrogasUniad- -Unifesp.Rafaela Rodrigues ChecheCarla Priscila LinarelliPolcia Militar de Santos.Polcia Militar de Vitria.Polcia Militar de Belo Horizonte.Polcia Militar de Diadema.Companhia de Engenharia de Trfego cet, de So Paulo-sp.Universidade Federal de So Paulo Unifesp.Editora Unifesp.Vilma Leyton.EaoGrupoViva,ClnicaTeraputicaViva,quepatrocinou parte deste livro.13inegvelaparticipaodasbebidasalcolicasemuma considervel parte dos acidentes de trnsito com vtimas fatais no Brasil. Trata-se da maior causa de mortalidade com possibilidade depreveno,emcomparaoavriasoutrascausas;masisso nosetraduzemnenhumconsoloparaaquelesqueperderam parentes e amigos nesses acidentes.A importncia dos acidentes associados a bebidas e direo rearmada tambm pelos elevados custos sociais do lcool e suas consequncias para as vtimas e suas famlias. Podemos conside-r-lo, sem sombra de dvida, um problema prioritrio de sade pblicanospasesemdesenvolvimento,levando-seemcontao pesado fardo social e econmico resultante do montante de pre-juzos materiais, gastos mdico-hospitalares e os referentes per-da de produtividade pessoal e das empresas.Este livro contm resultados de estudos realizados em vrias cidades brasileiras por pesquisadores da Universidade Federal de So Paulo, Unifesp, integrantes do Instituto Nacional de Polticas delcooleDrogas(Inpad)docnpq,que,apartirdemetodo-prefcio14lcool e direo: beber ou dirigirlogiasinternacionalmenteconsagradas,realizarampesquisasno campodabebidaedireo,utilizando-sedeumquestionrioe daaplicaodebafmetrosemmotoristasquecirculavamem grandesviasdetrfegodosmunicpiosavaliados.Paraampliar o acervo de conhecimento sobre o assunto, este guia tambm trazumapesquisasobrevtimasfataisdobeberedirigir,rea-lizadaporcolegasdaUniversidadedeSoPaulo,usp.Contm tambm todo um conjunto de evidncias cientcas internacio-nalmente consagradas referentes ao tema, numa linguagem aces-svel e fcil de ler.ConsideramostambmoimpactodoprimeiroanodaLei 11.705, a Lei Seca, sobre o nmero de motoristas dirigindo alcoo-lizados (por meio de duas pesquisas comparativas, antes e aps a lei) e sua eccia em relao aos acidentes de trnsito e mortes nas cidades onde a lei foi devidamente implementada e scalizada.O m de cada captulo apresenta um Guia de Consulta R-pida que resume os mais importantes pontos abordados em cada segmento do livro, servindo de roteiro prtico para educadores, prossionais da sade e gestores de polticas pblicas.Cientes da importncia do assunto abordado, no desregulado mercado brasileiro de venda de bebidas alcolicas (a baixos pre-os e com oferta elevada), esperamos contribuir para a discusso contnua do tema beber ou dirigir, de interesse vital para a sa-de e segurana pblica do pas.15aolongodotempo,oconsumodebebidasalcolicas adquiriu smbolos e signicados sociais nos mais diferentes con-textos. Festas de m de ano, carnaval ou momentos de lazer esto diretamente ligados bebida; porm, o lcool no pode ser con-sideradoumprodutoqualquer:violnciadomstica,agresses, crimes, mortes, suicdios, infraes e graves acidentes de trnsito costumamaparecerassociadosaoconsumodebebidas,consti-tuindo alguns dos problemas relacionados ao lcool. Nosltimostrintaanos,aOrganizaoMundialdeSade (oms) vem coordenando projetos que objetivam avaliar todas as evidncias disponveis sobre as polticas pblicas de controle do lcool, visando diminuir os problemas associados ao consumo de bebidas. Esses estudos geraram importantes constataes: importante substituir a palavra alcoolismo, que nao tem umsignicado cientco preciso. Os conceitos de problemas re-lacionados ao lcool e dependncia do lcool mostram-se mais precisos e teis;1problemas associados a beber e dirigir e seu impacto em relao sade pblica e segurana no trnsito16lcool e direo: beber ou dirigir deve-se ressaltar que os problemas decorrem nao de um pe-queno grupo de dependentes crnicos, mas sim do hbito de beber da populao em geral; percebe-seque, quantomaiselevadooconsumomdiodebebidas alcolicas em uma comunidade, maior a prevalncia de problemas relacionados ao lcool, observa-se que os padroes de consumo desta substancia tmimplicaes importantes e diretas na sade e segurana p-blicas,inuindodiretamentenonmerodeacidentesde trnsito; nota-se que existem polticas pblicas efcazes para reduzir osproblemas relacionados a essa droga, e que elas devem con-templar toda populao que bebe e no s os grandes bebe-dores e dependentes.Embora exista uma tendncia popular de se enxergar todos osproblemasrelacionadosaoconsumodelcoolcomoalcoo-lismo,estudosmostramquehumuniversodecomplicaes causadaspelolcoolqueestoalmdasfronteirasdoalcoolis-mo.Comfrequncia,osabusosagudosdabebida,os porres, como so chamados, que aparecem na origem dos problemas relacionadosaolcoolnapopulaoemgeral.Portanto,im-portantesalientarqueumnicoepisdiodeconsumojpode acarretarefeitos,mesmoqueoindivduonobebacomfrequ-ncia. Isso particularmente importante na populao que bebe preferencialmentenosnsdesemana,comoosadolescentese jovens adultos, que costumam tambm ser as maiores vtimas de acidentes de trnsito.Sabe-se que o consumo de bebidas alcolicas capaz de cau-sar prejuzos em decorrncia de trs fatores distintos:17problemas associados e beber e dirigir...s toxicidade: consumo frequente e pesado de lcool, que pode causarproblemasdesadecrnicos,comocirrose,doena cardiovascular e depresso;s intoxicao aguda: a elevao rpida dos nveis de lcool no sangue, que pode resultar em danos como acidentes de trn-sito, acidentes pessoais e violncia;sdependncia:prejuzodacapacidadepessoaldecontrolara frequnciaequantidadedabebidaconsumidaeconsumo com o m de evitar sintomas de abstinncia. Tais danos po-dem ser agudos ou crnicos e dependem do padro de con-sumodecadapessoa,quesecaracterizanosomentepela frequncia com que se bebe e pela quantidade por episdio, mas tambm pelo tempo entre um episdio e outro e, ainda, pelo contexto em que se bebe.Como Varia e do que Depende a Quantidade de lcool Medida no Sangue e pelos Bafmetros ou Etilmetros aps um Indivduo Beber?Os caminhos do lcool no organismoA absoro do lcool se d 20% na mucosa oral e estmago e 80% no intestino delgado, aproximadamente. Aps essa absor-o, o lcool dirige-se para a corrente sangunea. Contudo, a pre-sena de determinados fatores pode inuenciar o nvel de lcool no sangue, diminuindo ou aumentando sua absoro.Em linhas gerais, h fatores que diminuem a absoro e os nveis de lcool no sangue, como presena de alimentos no est-mago, queda da temperatura corporal e realizao de exerccios fsicos. E existem tambm fatores que aumentam a absoro e os 18lcool e direo: beber ou dirigirnveis de lcool no sangue: ingesto muito rpida do lcool, con-sumodebebidasalcolicasougaseicadasealtaconcentrao de bebida, por exemplo.A Concentrao de lcool no Sangue casAps ser absorvido, o nvel de lcool no sangue de uma pes-soa chamado de Concentrao de lcool no Sangue cas. Alm da quantidade de lcool que a pessoa ingeriu, a concentrao no seu sangue e no ar expirado (e que detectada pelo teste do baf-metro) depender tambm de vrios fatores. Por isso tambm o tempo necessrio para o organismo eliminar totalmente o lcool da circulao sangunea depender de algumas variveis, expos-tas na Tabela 1 e nos itens a seguir: concentraao de alcool de acordo com o tipo de bebida: com-parandoquantidadesidnticasdebebida,aaguardente(ca-chaa)eousquecontmmaiorconcentraodelcoolem relao aos vinhos, que, por sua vez, tm maior concentrao de lcool que as cervejas em geral. peso e sexo do bebedor: as mulheres e os mais magros, emgeral,permanecemcomlcoolnacirculaosanguneapor mais tempo. Os homens tendem a ter mais msculos e gua corporalemenosgorduradoqueasmulheres.Portanto, comparando-se homens e mulheres de mesmo peso, altura e porte fsico que consomem uma mesma dosagem de bebida, o lcool ser mais diludo no homem e, por isso, sua cas no sangue (e nos bafmetros) tende a ser menor. fatores raciais: os orientais metabolizam o alcool com maiordiculdade, por uma decincia enzimtica. ingestaodealimentos: consumirdocesjuntocomabebida19problemas associados e beber e dirigir...diminuiaabsorodolcoolesuaquantidadenosangue. Se for ingerido em jejum, o teor de lcool no sangue ser um tero mais elevado; o tipo de bebida: bebidas carbonadas e gaseifcadas facilitam aabsoro de lcool; por isso, na comparao com bebidas sem gs em mesma quantidade e concentrao ingeridas, os valo-res a serem obtidos no sangue e bafmetros sero superiores; a tolerancia individual ao alcool: o alcool fcara menos tempono sangue de quem bebe com mais frequncia em compara-o com pessoas que no tm o hbito de beber.Tabela 1. Consumo de bebidas e peso corporal (aps trinta minutos).Consumo 60 Kg 70 Kg 80 Kg1 lata de cerveja (350 ml)1 copo de vinho tinto (200 ml)1 dose de usque (50 ml)0,27 g 0,22 g 0,19 g2 latas de cerveja (700 ml)2 copos de vinho tinto (400 ml)2 doses de usque (100 ml)0,54 g 0,44 g 0,38 g3 latas de cerveja (350 ml)3 copos de vinho tinto (200 ml)3 doses de usque (50 ml)0,81 g* 0,66 g* 0,57 gRelaoentreaconcentraomdiadelcoolnosangue,apstrintaminutos do consumo de bebidas, considerando as diferenas de peso corporal entre os bebedores. * Nota: depende tambm da quantidade de alimentos ingeridos com a ali-mentao,dousodemedicamentosedeoutrosfatoresindividuais(For-migoni et al. 2004).Comoumaregrageral,sujeitaaexcees,poderamosdizer que a metabolizao de um copo de chope, uma taa de vinho ou uma dose (50 ml) de destilados, como usque e aguardente de cana 20lcool e direo: beber ou dirigir esta ltima mais conhecida como pinga ou cachaa , demoraria entre 1:00h a 1:30h, ou seja, o tempo para o lcool car zerado no sangue e no bafmetro. Da mesma forma, o consumo em dobro dessas doses demoraria cerca de duas a trs horas para ser meta-bolizado,eassimpordiante.Concluso:aoingerirumagrande quantidade de lcool no dia anterior, mesmo depois de uma boa noite de sono, a pessoa eventualmente poderia ser agrada no ba-fmetro, de acordo com os limites da legislao vigente.Comoexisteminmerosfatoresqueinuenciamaabsoro dolcoole,portanto,osvaloresobtidosnobafmetro,muito difcil conjecturar quais seriam os ndices de alcoolemia aps a in-gesto de bebidas. Inclusive porque os valores de lcool no sangue, aps uma bebedeira, variam muito de pessoa para pessoa, e mes-monamesmapessoa,emdiasdiferentes.Sabe-sequecirculam na internet vrios modelos de planilhas para clculo dos nveis de lcool de acordo com o consumo de bebida, porm eles no so totalmente conveis. Nesse caso, os bafmetros portteis atende-riam melhor a este propsito. Como o lcool eliminado do organismoUma vez absorvido pela corrente sangunea, o lcool elimi-nado do organismo de trs maneiras: pelo rim, que elimina aproxi-madamente 5% do lcool na urina; pelos pulmes, que exalam em mdia 5% do lcool; e pelo fgado, que transforma quimicamente o lcool restante (90%) em acetato, resduo pouco txico descarta-do pela urina. O que ocorre no fgado a degradao ou oxidao do etanol: uma enzima, chamada lcool desidrogenase, quebra os eltrons do etanol para convert-lo em acetaldedo. Outra enzima, chamada de aldedo desidrogenase, na presena do oxignio, con-21problemas associados e beber e dirigir...verte o acetaldedo em cido actico, o principal componente do vinagre. No nosso organismo, o cido actico pode ser usado para formar os cidos graxos ou ainda ser posteriormente quebrado em dixido de carbono e gua. Diz-sequeacasaumentaquandoocorpoabsorveolcool maisrpidodoqueoelimina.Portanto,comoocorpoconsegue eliminar apenas cerca de uma dose de lcool por hora, beber vrios copos em uma hora acaba por aumentar a cas muito mais do que sefosseconsumidoapenasumcopoemumespaodetempode uma hora ou mais. Problemas Relacionados ao lcool e DireoInmeros so os efeitos da bebida alcolica na conduo de veculos,causandoumimpactosignicativoecrescentenon-mero de acidentes de trnsito. A bebida proporciona aos motoris-tas um falso senso de conana, prejudicando habilidades como ateno, coordenao e tempo de reao. Mesmo quantidades pe-quenas de lcool, abaixo dos limites legais, aumentam as chances de ocorrerem acidentes. Entre as principais alteraes que podem ocorrer no motorista alcoolizado, esto: comprometimento da sade fsica do condutor; alteraoes de comportamento, das nooes de perigo e do nvelde conscincia; diminuiaodacapacidadedeavaliaaocrtica, como, porexemplo, calcular a distncia adequada para realizar uma ul-trapassagem; alteraoes na capacidade de julgamento, como em uma situa-o de perigo, por exemplo. 22lcool e direo: beber ou dirigir reduao na capacidade de controle dos impulsos e aumentoda impetuosidade; prejuzodashabilidadessensrio-motorasdecoordenaaodemovimentosederespostasrpidasaumadeterminada situao; comprometimento visual, nos refexos e na visao perifrica.Todas essas caractersticas descritas anteriormente so essen-ciais para a adequada e segura conduo de veculos, e a ausncia delas causa graves danos ao bebedor e sociedade. Por esses moti-vos, bebida e direo so altamente incompatveis e no existem li-mites seguros de consumo de lcool para motoristas, mesmo com baixosnveisdelcoolnosangue,conformemostramosdados apresentados a seguir (Tabela 2). As alteraes do organismo com presena de lcool no sangue so progressivas: com a ingesto de apenas uma dose de bebida, o risco de acidentes aumenta em uma vez e meia, dobra aps duas doses e aumenta em dez vezes aps o consumo de cinco doses de bebidas com teor alcolico. Tabela 2. Nveis de lcool no sangue e reaes esperadas no motorista.Nveis Sanguneos de lcool: Reaes esperadas no motorista(decigrama lcool / litro de sangue)*De 1 a 2 dg/lDiminuiodainibio,levefaltadecoordenao, diminuionavisoperifrica,comprometimento da noo de distncia e de velocidade.De 3 a 5 dg/ls reaes anteriores, somam-se desateno e restri-o do campo visual do motorista.De 6 a 8 dg/lPerda da noo dos riscos, dos reflexos, intolerncia a alteraes de luminosidade.23problemas associados e beber e dirigir...Nveis Sanguneos de lcool:(decigrama lcool/litro de sangue*Reaes esperadas no motoristaDe 9 a 15 dg/lDesconcentraoedificuldadenacoordenaode movimento, completo prejuzo nos reflexos e na ca-pacidade de resposta rpida quando necessrio.De 16 a 20 dg/lAosefeitoscitadosanteriormente,somam-seviso dupla e/ou borrada. De 21 a 50 dg/lEmbriaguez acentuada e amplificao dos sintomas anteriores.> 50 dg/l Inconscincia, diminuio dos reflexos, falncia res-piratria, morte.*Nota: AsreaescitadasnaTabela2variamdeacordocomdiversosfatores que podem inuenciar a quantidade de lcool absorvida: a quantidade de alimentos, principalmente doces, ingeridos com as bebidas, alguns medica-mentos que a pessoa possa estar utilizando, bem como o nvel de tolerncia individualaoconsumodebebidasalcolicas.Assim,jovenscommenor tolerncia tm esses efeitos mais exacerbados.Existem Diferenas quanto Idade do Motorista? O consumo de bebidas alcolicas reduz a viso perifrica, di-minuiavisonoturnaemaproximadamente25%eem30%a velocidade de reao do motorista. Esses efeitos so mais intensos em jovens e em pessoas com baixa tolerncia s bebidas bebe-doresque,mesmotomandopequenasdosesdelcool,apresen-tam efeitos de signicativa piora de desempenho na conduo de veculos.Em relao idade do bebedor, a fase inicial da adolescncia apresenta um risco especial para incio do consumo do lcool. Em pessoas jovens, o lcool a primeira droga de escolha, sendo mais cont.24lcool e direo: beber ou dirigirconsumida do que todas as outras drogas ilcitas combinadas. O resultado que, entre outros fatores, o consumo de bebidas entre adolescentes tem aumentado nas ltimas dcadas. Houtrosfatoresqueaparecemassociadosaessasituao, como: o habito de beber ter se tornado parte da cultura do jovemocidental,sendoqueapenasaminoriamantm-seemtotal abstinncia por toda a adolescncia; os acidentes de transito relacionados ao alcool serem a prin-cipal causa de morte e inaptido entre pessoas jovens. O uso de lcool tambm est associado a mortes de adolescentes por afogamento, incndios, suicdios e homicdios; a possibilidade de desenvolver dependncia do alcool ser cin-covezesmaioremumindivduoquecomeaabeberpre-cocemente do que naquele que inicia o consumo de bebidas aps os 21 anos.NoBrasil,olcooladrogamaisusadaemqualquerfaixa etria e seu consumo entre adolescentes vem aumentando, prin-cipalmente na faixa etria de doze a quinze anos e entre as meni-nas. Alm da alta prevalncia do consumo de lcool por adoles-centes, dois outros fatores so relevantes: a idade de incio do uso desta substncia e o seu padro de consumo. Quanto idade de incio, estudos sugerem que a mdia de idade para o primeiro uso desta droga no Brasil seria de 12,5 anos. Oinciodoconsumoduranteapr-adolescnciaenapri-meira fase da adolescncia gura entre os fatores de risco associa-dos ao surgimento de problemas relacionados ao lcool na idade adulta. Alm disso, h um crescente consenso de que o consumo precoce, especialmente pelo uso pesado de lcool, esteja associa-25problemas associados e beber e dirigir...doaprejuzoscognitivos(memria,ateno,planejamento)na idade adulta, devido ao neurotxica do lcool sobre as estru-turas cerebrais ainda em desenvolvimento na adolescncia.Quantoaopadrodeconsumo,aliteraturarevelaqueos adolescentes tendem a fazer uso de lcool de forma pesada, apre-sentandoepisdiosdeabusoagudo(bingedrinking),ouseja,o consumo, em uma mesma ocasio, de quatro ou mais doses por indivduosdosexofemininoedecincooumaisdosespelosdo sexo masculino. Tal comportamento aumenta em dez vezes o ris-co de acidentes de trnsito e eleva o risco de uma srie de proble-mas sociais e de sade, incluindo: doenas sexualmente transmis-sveis,gravidezindesejada,acidentesdetrnsito,problemasde comportamento, violncia e ferimentos no intencionais (dados daoms,2001).NosEstadosUnidos,estima-sequeaproximada-mente 90% do lcool consumido por menores de idade e 50% do lcool consumido pelos adultos esteja relacionado a episdios de abuso agudo, sendo esse tipo de consumo o que mais predispe a acidentes de trnsito ligsdos ao lcool.Impacto do lcool nos Acidentes de Trnsito Os problemas decorrentes do consumo de lcool entre con-dutores de veculos automotores tm sido amplamente estudados em pases desenvolvidos e considerados uma importante questo de sade pblica mundial. Tais problemas geram elevados custos sociais e consequncias para os acidentados, resultando em danos socioeconmicos pela soma dos prejuzos materiais, gastos mdi-cos e referentes perda de produtividade. Podemos considerar o consumo de lcool como assunto prio-ritrio de sade pblica nos pases em desenvolvimento, conside-26lcool e direo: beber ou dirigirrando-seopesadofardoeconmicoesocialresultantedasoma desses prejuzos materiais, gastos mdicos e os referentes perda deprodutividadepessoal(Ameratungaetal.,2006).Combase em modelos econmicos vigentes, o custo total dos acidentes no trfegode1,0%dototaldoProdutoInternoBruto(pib)em pasesdebaixarenda,1,5%empasescomrendamdiae2,0% naquelesdealtarenda.Oespaourbanoe,particularmente,o trnsitosocenriosdemuitasconsequnciasdousoindevido do lcool e o setor pblico tem de prover medidas de controle e atenuao desses efeitos.Dados nacionaisOBrasil,apesardequasenopossuirdadosepidemiolgi-cosdaocorrnciadeacidentesdetrnsitorelacionadosaouso de lcool, um dos pases com maior ndice de problemas rela-cionadosaesteconsumo,comimensoscustossociais.Ospou-cos estudos nacionais existentes apontam o beber e dirigir como um problema muito relevante. De fato, somos o quarto produtor mundialdedestiladoseolcoolestdiretamenterelacionadoa 10% ou mais do total de causas de morbidade e de mortalidade gerais do pas.Estudos indicam que de 40% a 50% dos acidentes de trnsito com mortes na cidade de So Paulo esto relacionados ao consu-mo excessivo de bebidas alcolicas, segundo dados da Secretaria de Sade Estadual (42,7%) e do Detran (50%). Outra pesquisa, da AssociaoBrasileiradosDepartamentosdeTrnsito,realiza- daem1997emBraslia,Curitiba,RecifeeSalvador,revelouque entreas865vtimasdecolisesdecarro,umtotalde27,2%ti-nham alcoolemia superior ao limite permitido pela lei.27problemas associados e beber e dirigir...Nocaptulo3destelivro,NmerosdaSituaoAtualno Brasil, h dados recentes referentes realidade brasileira. A Pes-quisa Nacional do Beber e Dirigir, indita e realizada nas prin-cipaisviasdetrnsitoemSoPaulo(sp),BeloHorizonte(mg), Vitria(es),Santos(sp)eDiadema(sp)com6 356motoristas, apontanveisdefrequnciaseisvezesmaiorqueosobservados em outros pases.Emresumo:asevidnciascientcasnacionaisindicamalta incidnciademorbidadeemortalidaderelacionadasaobebere dirigir, associadas a uma excessiva oferta de bebidas alcolicas a baixos preos e alta disponibilidade de lcool em diferentes am-bientes. O resultado dessa equao um dos motivos de o pas ser um dos recordistas mundiais de acidentes de trnsito.Dados internacionaisNa Amrica do Sul e na Amrica do Norte, apesar da falta de dados especcos em estudos, o ato de dirigir aps o consumo de bebidaspercebidocomoumaprticacomum,queprecisaser controlada.Morteseinaptidescausadasporumacombinao de consumo de lcool e direo podem ser prevenidas. H fortes evidncias cientcas de uma relao entre acidentes automobi-lsticos e consumo abusivo de lcool e, embora ainda no haja ne-nhuma pesquisa pan-americana exclusiva sobre lcool e seguran-a de trnsito, existem dados referentes bastante signicativos: entre 20% e 50% dos bitos por acidentes de trnsito no con-tinente americano esto relacionados ao consumo de bebidas alcolicas (oms); nos Estados Unidos, a cada dois minutos ocorrem acidentesdeautomvelrelacionadosaolcoolqueproduzemleses 28lcool e direo: beber ou dirigirno fatais. Em 2005, cerca de 40% de todas as mortes no trn-sito foram relacionadas ao lcool, causando um custo social de us$ 40 bilhes por ano e 1,4 milhes de apreenses, segun-do The Royal Society for the Prevention of Accidents; na Colombia, uma pesquisa do Departamento de MedicinaForenseconstatouelevadosnveisdelcoolnosangue,em 60% dos mortos no trnsito; na Costa Rica, um estudo feito pelo Costa Rican Medical Exa-minerdetectouque46%dosmotoristasmortosemconse-qunciadecolisesdeveculosapresentavamalcoolemia elevada.No continente europeu, temos os seguintes dados referenciais: em pesquisa recente realizada na Espanha, o abuso da bebi-daaparececomoamaiorcausademortesnotrnsito,com olcoolemndicesacimadoslegaispresentenosanguede 32,7% dos motoristas envolvidos em acidentes. Ou seja, quase umterodessesmotoristasfalecidos(501de1 531)descum-priuasnormasvigentesemrelaoaoconsumodebebidas e direo; na Nova Zelandia, um estudo avaliou os riscos da conduaonoturna de veculos, considerando vrios fatores, entre eles o lcool.Foidemonstradoqueparaoscondutorescomidade inferior a quarenta anos, o lcool contribui com quase meta-de do risco de acidentes noturnos; uma grande operaao de fscalizaao com bafometros, reali-zada em dezoito pases da Europa no ms de junho de 2008, mostrou que em mdia 1,7% dos europeus bebem acima do limitepermitidoantesdedirigir.Aoperaonasestradas 29problemas associados e beber e dirigir...ecidadeseuropeiasfoirealizadaaolongodeumasemana, com859 516motoristasnaAlemanha,Blgica,Dinamarca, Espanha,Finlndia,Frana,ReinoUnido,Grcia,Holanda, Hungria, Irlanda, Itlia, Litunia, Moldvia, Noruega, Rom-nia, Sucia e Sua. O pas que apresentou o maior ndice de infratores foi a Moldvia, onde 19% dos motoristas estavam acima do limite vigente. A Sua cou em segundo lugar, com 6,65%,eoReinoUnidoemterceiro,com6%.Noextremo oposto, os pases escandinavos (Dinamarca, Noruega, Sucia eFinlndia)apresentaramomenorndicedeinfrao.Na mdia,menosde1%dosmotoristasforampegosdirigindo aps ter bebido acima do nvel permitido.Quadro 1. Guia de consulta rpida. Quanto mais elevado o consumo mdio de bebidas alcolicas emuma comunidade, maior a prevalncia de problemas relacionados ao lcool,comrepercussodiretasobreasadepblicaeasegurana do trnsito. O consumo de bebidas alcolicas, mesmo em baixas doses, acarretaalteraes incompatveis com a direo: falta de coordenao moto-ra,diminuiodavisoperifrica,comprometimentodanoode distnciaedevelocidade.Olcoolproporcionaaosmotoristasum falso senso de confiana, prejudicando habilidades como a ateno, avisonoturna,quediminuiemcercade25%,eacapacidadede reao do condutor, que decresce em 30%. Um nico episdio de consumo de bebidas ja pode acarretar efeitospara os condutores, mesmo que o indivduo no beba com frequncia. Essa informao particularmente importante para a populao que bebepreferencialmentenosfinsdesemana,comoosadolescentese adultos jovens, que so as maiores vtimas de acidentes de trnsito.30lcool e direo: beber ou dirigir Episdios de abuso agudo de consumo de cinco ou mais doses debebidas alcolicas no sexo masculino, ou consumo de quatro ou mais doses por indivduos do sexo feminino, em uma mesma ocasio (bin-ge drinking) aumentam em dez vezes o risco de acidentes de trnsito. Nao existem limites seguros de consumo de alcool para motoristas. Os problemas decorrentes do consumo de alcool entre condutoresde veculos automotores so considerados um importante problema de sade pblica em todo o mundo.EmpasescomooBrasil, semummnimocontrolesocialdoal-cool, com baixssima fiscalizao com bafmetros nas ruas e estradas, almdebaixospreosealtadisponibilidadedevendasdebebidas alcolicas em vrios estabelecimentos (inclusive postos de gasolina), a situao mais grave ainda: o lcool responde por pelo menos me-tade dos acidentes graves de trnsito. 31no brasil, a atual situao vivida pela populao das reas urbanas em relao a problemas causados pelo trnsito de vecu-los pede a interveno do Estado e dos organismos a ele vincula-dos. Essa questo, que hoje alcana propores crticas, pode ser compreendidacomaanlisedefatoseeventosdahistriado trnsito no pas, pontuando-se o momento em que o assunto en-tra na pauta de discusso dos dirigentes brasileiros. Sabe-se que o primeiro automvel chegou ao Brasil no ano de 1893eque,nasdcadasseguintes,poucosveculosautomotores circulavam pelas vias brasileiras. A atuao das autoridades res-tringia-seregulamentaodoaspectopolicial-burocrticodo trnsito, como a emisso das licenas para dirigir ou para possuir veculos e o controle do pagamento de taxas e impostos referentes ao uso dos meios de transporte. Nadcadade1920,afrotadeveculosnopascomeoua aumentar,passandoporumsignicativoincrementoapsaii GuerraMundial,duranteograndeincentivoindustrializao no governo de Getlio Vargas. Em decorrncia da intensicao 2legislao nacional32lcool e direo: beber ou dirigirda quantidade de veculos nas ruas brasileiras, fez-se necessria a formulao do primeiro Cdigo de Trnsito do Brasil, instaurado pela Lei n. 3.671 de 25 de setembro de 1941. Esse primeiro cdigo regulamentavaodeslocamentodeveculosepessoasnasruase estradasbrasileiraseestabeleciaacriaodeumDepartamen-todeTrnsitoemcadaunidadefederativadopas.Antesdisso, alguns estados j possuam rgos que regulavam e vistoriavam otrnsitodeveculos,masnohaviaqualquerunicaolegis-lativa em relao ao assunto. No ano de 1966, o primeiro cdigo sofreu alteraes e passou a ser denominado Cdigo Nacional de Trnsito, permanecendo em vigor at a dcada de 1990, quando diversos estudos foram publicados indicando o aumento do n-mero de vtimas fatais no trnsito em todo o territrio brasileiro. Um dado desse perodo o aumento de 63% no nmero de mor-tes decorrentes de acidentes de trnsito, registrado entre os anos de 1977 e 1994.Os nmeros de acidentes de trnsito no pas sugeriam que o cdigo em vigor no era mais adequado, devido especialmente ao aumento da frota de veculos e ao desenvolvimento da tecnologia automotiva. Perante essa situao, a Presidncia da Repblica, no anode1993,encaminhouCmaradosDeputadosumProjeto de Lei com o intuito de atualizar a legislao brasileira de trnsito. O projeto entrou em vigor em 22 de janeiro de 1998, como Cdi-go de Trnsito Brasileiro ctb.O Atual Cdigo de Trnsito Brasileiro O Cdigo de Trnsito Brasileiro, constitudo por 341 artigos, deneaestruturadoSistemaNacionaldeTrnsitosnt,inte-grandorgosfederais,estaduaisemunicipaisqueregulamen-33legislao nacionaltam,organizamescalizamotrnsito.Comorgonormativo e consultivo mximo dentro dessa estrutura est o Conselho Na-cional de Trnsito Contran, a quem compete estabelecer a Po-ltica Nacional de Trnsito. Submetidos ao Contran, atuam como rgosnormativosemmbitoestadualosConselhosEstaduais de Trnsito Cetran. A execuo das regulamentaes de trnsi-to de responsabilidade do Departamento Nacional de Trnsito Denatran, a que se submetem os Departamentos Estaduais de Trnsito Detran e as Diretorias de Trnsito, nos estados e mu-nicpios brasileiros, respectivamente. No Brasil, de acordo com dados do Denatran, entre os anos de1998e2005,ouseja,depoisdainstauraodonovoCdigo, houveumaumentononmeroabsolutodeacidentescausados por transportes terrestres. Para analisar esse dado, no entanto, precisoconsiderarque,nomesmoperodo,houvetambmum aumentodonmerodeveculoslicenciadosnopas:26 209 232 paracadamilhabitantesem1998,e42 071 961pormilhabitan-tesnoanode2005(Koizumi&MelloJorge,2007).Levando-se em conta ainda que houve aumento na taxa populacional do pas (outra varivel presente nesse ndice), percebe-se que a quantida-dedeveculosnasruaseestradasaumentousignicativamente, o que contribui de forma direta para que a probabilidade de aci-dentes no trnsito aumente, independente do rigor das leis.J a anlise da taxa de mortes por acidentes de transporte ter-restre,calculadaedivulgadapormeiodoSubsistemadeInfor-mao sobre Mortalidade, do Ministrio da Sade, permite uma melhor leitura dos efeitos da aplicao do novo cdigo de trn-sito, a partir de 1998. Esta taxa calculada a partir da proporo entre bitos causados por acidentes de trnsito com a populao 34lcool e direo: beber ou dirigirno ano e local determinados. O grco a seguir indica a oscilao dessa taxa nos ltimos anos, antes da entrada em vigor do cdigo e naqueles que se seguiram sua promulgao.Grco 1. Taxa de mortalidade por acidente de trnsito terrestre no Brasil 1996 a 2005.Fonte: Koizumi & Mello Jorge, 2007. Atualmente, o que se sabe que os ndices de mortes por en-volvimento em acidentes de trnsito continuam sendo alarman-tes, constituindo-se uma das principais causas externas (provoca-das por interveno humana direta) de bitos no pas (Datasus, 2008).DadosfornecidospeloSistemanicodeSadesus indicamqueoatendimentosvtimasdotrnsitoencontra-se entreosmaisonerososaoEstado,dentreosgastoscomsade. Nmerosde2004,porexemplo,mostramqueocustodashos-pitalizaesporlesesprovocadasporacidentesdetrnsitoera maior que o despendido com as internaes necessrias para os cuidadosdasvtimasdetodososoutrosacidentes,violnciase causas naturais em conjunto (Mello Jorge, 2004).Taxa de Mortalidade232221201918171615199619971998199920002001200220032004200535legislao nacionalOutro dado preocupante o fato de que a principal fatia da populaovtimadeacidentesdetrnsitoaqueseconcentra entre 15 e 24 anos. Se, h cinco ou seis dcadas, as epidemias e do-enasinfecciosasguravamentreasprincipaiscausasdemorte entre os jovens, hoje so fundamentalmente os acidentes de trn-sito e os homicdios que ocupam esse lugar. No ano de 2005, por exemplo, o Ministrio da Sade registrou 45 336 bitos de jovens nessa faixa etria, incluindo todos os tipos de causas, tanto natu-raiscomoexternas.Dessetotal,quasedoisteros,oumaispre-cisamente61,3%,ocorreramporcausasconsideradasviolentas, isto,ocasionadasporacidentesdetransporte,homicdiosou suicdios (Waiselsz, 2007). No mesmo ano, os acidentes de trn-sito se apresentaram como a segunda maior causa de mortalidade juvenil, sendo menos frequentes apenas que os casos de homic-dio,fatoquejvinhasemostrandoevidenteemlevantamentos anteriores. Em 2001, 6 701 jovens morreram em decorrncia des-ses acidentes, nmero que em 2003 sofreu um aumento de 11,8% e progrediu em mais 8,6% no ano de 2005 (Waiselsz, 2007). O Cdigo de Trnsito e o Dirigir AlcoolizadoOCdigodeTrnsitoBrasileiro(Lein.9.503/97)apresentou importantes alteraes regulamentao do trnsito em relao ao uso de bebidas alcolicas, fazendo referncia ao tema tanto na descri-o das infraes administrativas como na dos crimes de trnsito.A nova lei dene como infrao gravssima dirigir sob a in-uncia de lcool, em nvel superior a seis decigramas por litro de sangue (0,6 dg/l), ou de qualquer substncia entorpecente ou que determinedependnciafsicaoupsquica(Lein.9.503/97,xv, art.165),etambmreduzondicedealcoolemiapermitidoaos 36lcool e direo: beber ou dirigirmotoristas.Ainfraoteriacomopena,almdapontuaoda carteira de habilitao do motorista em sete pontos, o pagamento de multa, podendo-se, na reincidncia, suspender do motorista o direito de dirigir. Paraqueapenapossaseraplicada,entretanto,necessrio que existam provas testemunhais ou materiais da ocorrncia do fato, dando-se maior credibilidade para as segundas. Em funo disso, ca prescrito no artigo 277 que: todo condutor de veculo automotor envolvido em acidente de trnsito ou que for alvo de scalizaodetrnsito,sobsuspeitadehaverexcedidooslimi-tes previstos no artigo anterior, ser submetido a testes de alcoo-lemia,examesclnicos,percia,ououtroexameque,pormeios tcnicos ou cientcos em aparelhos homologados pelo Contran, permitam certicar seu estado (Lei n. 9.503/97, xvii, art. 277). J oartigo306descrevecomocrimedetrnsito conduzirveculo automotor, na via pblica, sob a inuncia de lcool ou substn-cia de efeitos anlogos, expondo a dano potencial a incolumidade de outrem (Lei n. 9.503/97, xix, art. 306). De forma diferente dos casos de infrao, os crimes de trnsi-to so julgados de acordo com as normas gerais do Cdigo Penal edoCdigodoProcessoPenal,podendocorresponderpena de deteno de seis meses a quatro anos, dependendo do crime. No caso do artigo 306, o ctb dene como pena deteno de seis meses a trs anos, multa e suspenso ou proibio de se obter a permissoouahabilitaoparadirigirveculoautomotor(Lei n. 9.503/97, xix, art. 306). importante explicitar que o que difere a infrao (descrita noartigo165)docrimedetrnsito(estipuladopeloartigo306) no a concentrao de lcool no sangue do motorista, mas sim 37legislao nacionala maior potencialidade de causar danos a outras pessoas atribu-vel aos sintomas provenientes da ingesto de lcool ou do uso de outra substncia que o indivduo apresenta (Souza, 2001). Con-forme aponta Mattedi (2005), o teste de alcoolemia, por si s, no suciente para o diagnstico da embriaguez, sendo necessrios examesclnicos,baseados,primordialmente,na observaode manifestaes comuns. AsalteraesnoCdigo,emespecialareduodataxade alcoolemiapermitidaeacaracterizaododirigirembriagado oferecendoriscocomocrime,apontaramnadireodeumen-durecimento da Lei, na tentativa de reduzir a frequncia de mo-toristasdirigindoalcoolizadose,consequentemente,onmero de acidentes causados por estes. Todavia, entre os anos de 1998 e 2005, o uso de lcool continuou associado s principais causas de acidentes de trnsitos, o que tem levado os rgos legisladores a determinar novas resolues cada vez menos tolerantes em rela-o ao uso de lcool por condutores de veculos. Alteraes Recentes no CdigoAmaisrecentedasmedidasquebuscamdiminuirospro-blemas relacionados ao uso de lcool por condutores de veculos foi a Lei n. 11.705, sancionada em 19 de junho de 2008, pela Pre-sidnciadaRepblica. AnovaLeialterouoCdigodeTrnsito Brasileiro, com a nalidade de estabelecer alcoolemia 0 (zero) e impor penalidades mais severas para o condutor que dirigir sob ainunciadolcool,etambmobrigou osestabelecimentos comerciaisemquesevendemouoferecembebidasalcolicasa estampar,norecinto,avisodequeconstituicrimedirigirsoba inuncia de lcool (Lei n. 11.705/08, art. 1.) 38lcool e direo: beber ou dirigirUma das alteraes impostas por essa lei refere-se redao do artigo 276 do Cdigo, que determinava 0,06% como a concen-trao mxima de lcool no sangue permitida, e que agora passa a ser qualquer concentrao de lcool por litro de sangue sujeita o condutor s penalidades previstas no art. 165 deste Cdigo (Lei n. 11.705/08, artigo 5).Deacordocomanovaleidejunhode2008,ainfraode trnsito continua sendo classicada como falta gravssima, que determinaamanutenodamultacomopena.Noentanto,se anteriormente era prevista suspenso do direito de dirigir du-ranteumadozemesesparaprimriosedurante6a24meses para aqueles que reincidissem na infrao dentro do perodo de um ano, j agora, aps a instaurao da lei, prevista para todos os casos de infrao primria uma sano xa de doze meses de suspensododireitodedirigir,enquantoqueomotoristarein-cidente ter a habilitao cancelada, no prazo de um ano aps o cumprimento da penalidade (Cabette, 2008).Dirigir com concentrao delcool por litro de sangue igual ou superior a 6 (seis) decigramas, ou sob a inuncia de qualquer outrasubstnciapsicoativaquedeterminedependncia(Lein. 11.705/08, art. 5), que antes caracterizava infrao, aps a instau-raodanovaLeipassaaconstituir-secomocrimeesubmete ocondutoraoCdigoPenalBrasileiro.Comessasalteraes, observa-se que agora no mais necessrio que o motorista ofe-rea risco concreto aos demais transeuntes: o fato de apresentar uma taxa de alcoolemia superior a 0,06% j caracteriza o crime. Porm,ousodeumamedidaobjetivaparaidenticarocrime apontaparaaseveridadedaleietemsidoalvodepolmicano meio jurdico. 39legislao nacionalAs discusses em torno da Lei, tanto no meio jurdico, quanto nos meios de comunicao em massa, referem-se principalmente obrigao em se submeter o condutor a exame que comprove a pre-sena de lcool no sangue, acrescentada pelo inciso 3o ao artigo 277 do ctb. Esse inciso passa a determinar que sero aplicadas as pe-nalidades e medidas administrativas estabelecidas no art. 165 [...] ao condutor que se recusar a se submeter a qualquer dos procedimen-tos (Lei n. 11.705/08, art. 5) para avaliao do estado de embriaguez. Alguns advogados argumentam que essa alterao inconstitucio-nal, tendo em vista a Conveno Americana de Direitos Humanos, assinada tambm pelo Brasil, que estabelece como direito de toda pessoa acusada de delito no ser obrigada a depor contra si mesma ou confessar-se culpada, o que consagra o princpio de que ningum obrigado a produzir provas contra si mesmo (Marco, 2008). Segundooprincpioapontadoanteriormente,omotorista que fosse solicitado pela polcia a fazer o teste do bafmetro, por exemplo, poderia recusar-se, impedindo a criao de provas ma-teriais que comprovassem sua embriaguez. Com a nova lei, o que ocorre que caso se negue a fazer o teste, o motorista obrigado a acompanhar o policial at a delegacia e responder processo por infrao ao artigo 267 do Cdigo de Trnsito. ApsainstauraodaLeiaumentoutambmascalizao dos condutores por parte da Polcia Militar, em especial durante as madrugadas, perodo em que ocorre a maior parte dos aciden-tesprovocadosporusodelcool.Acredita-sequeessaprtica, queresultanoaumentodaprobabilidadedeummotoristaser agrado dirigindo sob o efeito de lcool e, consequentemente, ser punido,inibaocomportamentodoscondutoresdedirigiraps consumirem bebidas alcolicas ou outras substncias com efeitos 40lcool e direo: beber ou dirigirsimilares.Naprtica,osscaisnosubmetempenalidadeos motoristasqueapresentemalcoolemiadeat0,02%,equeno estejamdirigindodeformaaapresentarqualquerriscodeaci-dente, uma vez que esse limite pode ser obtido pelo uso de pro-dutos como antisspticos bucais ou pelo consumo de sobremesas que incluam bebidas alcolicas em sua composio.Ainda so poucos os dados provenientes de pesquisas realiza-das com amostras conveis a respeito dos efeitos que a nova Lei temcausadonotrnsitobrasileiro.Noentanto,diversosjornais erevistastmrealizadoentrevistascommotoristas,emespecial nas capitais brasileiras, que apontam para uma alterao nos h-bitosdessaspessoasemrelaoaoconsumodebebidasalco-licasedirigir,apsasanodaLei,apelidadapelamdiacomo Lei Seca. Um exemplo desse novo comportamento so os amigos que passaram a eleger um membro do grupo que no consumir nenhum tipo de bebida alcolica durante a noite para ser o mo-torista de todos na volta para casa. interessante ressaltar que duas variveis parecem determi-nar as mudanas de comportamento dos brasileiros e os nmeros quevmseapresentando.Umndicedetolerncia zerofa-cilmente medido pelo motorista basta abster-se totalmente do lcool antes de dirigir, enquanto o ndice anterior no era de fcil previso e muitas vezes o motorista o ultrapassava sem perceber. Outroaspectoquecertamentefavoreceuorespeitonovalei o aumento da percepo de scalizao. A mdia tem divulgado inmeras manchetes sobre o assunto envolvendo a populao na discusso e tomada de conscincia da questo. O nmero de agrantes de embriaguez nas estradas federais, desde que a Lei passou a vigorar, aumentou em 78,5% em com-41legislao nacionalparao ao mesmo perodo no ano passado (Braga & Rope, 2008, agosto 21). Em relao ao nmero de motoristas que se recusou a fazer o teste do bafmetro, a Polcia Rodoviria Federal revelou um ndice de 18%, o mesmo percentual de recusa encontrado an-tes da aplicao da nova lei. Esse grupo de dados sugere a efeti-vidade das novas medidas na soluo a questes que relacionam trnsito e consumo de bebidas alcolicas. Cabe armar, entretanto, que essas alteraes na legislao de trnsitosoapenaspartedasaesquepodemserrealizadasa mdealterarhbitosdapopulaoquetrazemriscossade. Polticas pblicas em outras reas, como, por exemplo, na regu-lamentaodapublicidadesobrelcoolenaimplementaode programasdesadeeeducao,podemtambmconstituir-se comoelementosimportantesquecontribuamparaamodica-o do cenrio atual.Quadro 1. Guia de consulta rpida. Grande parte dos acidentes de transito tem suas causas relacionadasaousodebebidasalcolicas,fatoquetemlevadoasautoridadesa promoveralteraesnalegislaodetrnsitodopas,implantando medidasmaisrgidasemrelaoacondutoresquedirijamapso uso de lcool. O consumo de alcool e os problemas de transito decorrentes dissoso abordados pela legislao brasileira com mais nfase a partir das proposies do Cdigo de Trnsito Brasileiro, em vigor desde 1998. O uso de bebidas alcolicas pelos condutores tem novo tratamentoapartirdaLein.11.705/08.AnovaLeialteraoCdigodeTrnsito reduzindo a zero a concentrao de lcool por litro de sangue permi-tida aos motoristas. A partir da, surgem as primeiras repercusses na opinio pblica e no trnsito brasileiro. 43apesquisanacionaldobeberedirigirumapesquisade mbito nacional, realizada entre janeiro de 2006 e maro de 2008, anteriormenteLeiSeca,etevecomoobjetivofazerumlevan-tamento sobre a frequncia da combinao entre beber e dirigir e o comportamento dos motoristas no trnsito. No total, foram abordados6 356veculosautomores(carros,caminhese/ou motos) em horrios pr-estabelecidos e em pontos de checagem onde eram parados sem prejudicar o trnsito. As cidades pesqui-sadas foram So Paulo (sp), Santos (sp), Diadema (sp), Belo Ho-rizonte (mg) e Vitria (es) e o levantamento com os motoristas pelas localidades deu-se da seguinte forma: 2 500 condutores em So Paulo; 1 000 veculos parados em Belo Horizonte; 1 410 motoristas entrevistados em Santos; 1 000 carros e/ou motos pesquisados em Diadema; 590 motoristas abordados em Vitria.3.nmeros da situao atual no brasil: pesquisa nacional do beber e dirigir44lcool e direo: beber ou dirigirPopulao Estudada e Objetivos da PesquisaAscidadesestudadasaceitaramvoluntariamenteparticipar desselevantamento,comavaliosaparticipaoeinteressedas Prefeiturasdecadalocalidade,bemcomodaPolciaMilitar,da GuardaCivilMetropolitanaededemaisrgosligadosdireta-menteaotrnsitolocal.PesquisadoresdaUniad-Unifespacom-panharamoestudoemcadaumadascidades,destacando-se tambm a colaborao de professores e alunos das universidades locais.Aescolhadessascidadesdeveu-se,portanto,aointeresse de cada uma delas em levantar a frequncia real da associao de bebidasalcolicaseconduodeveculosautomotoresemsuas respectivas comunidades.A pesquisa dividiu-se em duas fases: resposta ao questionrio e aplicao de bafmetros. Os condutores pesquisados poderiam, deacordocomasuavontade,participarounodecadauma dasetapas.Osresultadosdastaxasderecusaalcanaramapro-ximadamenteumquartodospesquisados:dos6 356motoristas pesquisados, um total de 4 661 (75,6%) dos participantes concor-dou em ter seus nveis de lcool avaliados por bafmetros ativos (queexigemqueocondutorassopre)eporbafmetrospassi-vos (que captam o ar expirado mediante uma bomba de suco acionada pelo pesquisador e no precisam que o motorista asso-pre), enquanto 1 695 motoristas (26,7%) se recusaram. possvel, diantedessastaxasderecusa(26,7%),suporqueosresultados elevadosapresentadosporesselevantamentopudessematser mais expressivos caso a pesquisa fosse obrigatria, j que vrios motoristas que se recusaram a participar do estudo apresentavam evidentes sinais de embriaguez.45nmeros da situao atual no brasil...Metodologia e Tipos de Bafmetros UtilizadosA Pesquisa Nacional do Beber e Dirigir baseou-se na metodo-logia de levantamentos internacionais do dirigir alcoolizado em ruaseestradas,conhecidoscomopontosdescalizaodeso-briedade (sobriety checkpoints), largamente utilizados em pesqui-sas realizadas nos Estados Unidos, Austrlia e em pases europeus (Voas et al., 1996). Tambm contou com a superviso de pros-sionaisdoPacicInstituteforResearchandEvaluationpire, uma organizao americana voltada para a promoo e avaliao de estudos nas reas de sade e segurana pblica.A pesquisa dividiu-se em duas fases distintas. A primeira com opropsitodeestabelecerumretratotransversalepanormico da situao atual referente ao beber e dirigir nas cidades escolhi-das, realizada em um cenrio da legislao nacional antes da Lei 11.705,queefetivamentepassouaaplicarumascalizaocom bafmetrosdeumaformamaiscontundente.Oobjetivodase-gunda fase foi propor intervenes comunitrias e avaliar a efeti-vidade da Lei 11.705 atravs da repetio da pesquisa. Inicialmen-te,osmotoristaseramparadospelospoliciaisparaobservao das medidas de segurana e, na sequncia, o entrevistador expli-cava o motivo da pesquisa. Os motoristas que concordassem em participar assinavam um termo de consentimento e respondiam a um questionrio sem identicao nominal, com doze pergun-tas. O procedimento seguinte era desviar o veculo para o ponto de vericao, em um local distante dos policiais que dirigiam o trfego.Nasegundapartedapesquisa,eramaplicadosostestes com dois tipos de bafmetros (Figura 1), assegurando aos condu-tores que os resultados aferidos no seriam compartilhados com a Polcia Militar. 46lcool e direo: beber ou dirigirEm relao aos motoristas encontrados com nveis alcolicos acima do permitido pela lei, seguiram-se os cuidados tomados em estudos internacionais similares: sugesto para a troca de condutor se houvesse outro passageiro habilitado e em melhores condies que o motorista; oferta de alimento e gua ao motorista enquanto aguardasseonveldelcoolnosanguediminuir;solicitaoque outra pessoa viesse at o local retirar o veculo.Tambm os aspectos ticos em relao aos participantes des-ses estudos foram amplamente considerados. Aos motoristas, foi garantido o anonimato e a condencialidade dos resultados ob-tidos, bem como assegurado o carter voluntrio da participao na pesquisa. Reservou-se ao motorista o direito de no responder ao questionrio ou desistir de participar a qualquer momento das pesquisas,semprejuzosdequalquernatureza. Aspesquisasfo-ram conduzidas dentro dos padres da Declarao de Helsinki e foram submetidas e aprovadas pelo Comit de tica em Pesquisa da Universidade Federal de So Paulo.Em relao metodologia utilizada na Pesquisa Nacional do Beber e Dirigir, os principais aspectos so: dias de pesquisa: sextas-feiras e sabados no perodo noturnoe nos domingos tarde; nmero de veculos abordados: de setenta a cem veculos emquatro horas; equipe de trabalho: um ou mais efetivos da Polcia Militar eda Guarda Civil Municipal, entidades ligadas ao controle do trnsitoepelomenoscincoentrevistadores(professorese alunos universitrios); perodo: dois anos de pesquisa, de 2 de janeiro de 2006 a mar-o de 2008;47nmeros da situao atual no brasil... mtodo de escolha do veculo: aleatrio; etapas: resposta ao questionario e aplicaao dos bafometrosativos e passivos. Termo de consentimento; tempo de duraao da pesquisa: cinco minutos, em mdia; analiseestatstica:foirealizadaumaanalisedescritivaatra-vs de medidas-resumo (mdia, mediana, mnimo, mximo, desvio padro) a m de determinar o perl da amostra estu-dada; distribuiao de folheto informativo sobre prevenao de aci-dentes relacionados ao lcool. Figura 1. Tipos de bafmetro utilizados.Apresentepesquisatambmtinhacomooutrosobjetivos testaraaplicabilidade,conabilidadeeaceitabilidadedosbaf-metros na coleta de dados. Esses instrumentos mostraram-se de 48lcool e direo: beber ou dirigirfcil e rpida aplicao e seus ndices de recusas no geral foram de 26,7%, ainda consideravelmente menores quando utilizados s os bafmetros passivos (recusa de 15%). Quanto conabilidade, os resultados apresentados em ambos os bafmetros foram simila-res, exceto quando o bafmetro passivo captava o lcool presente em alguns diluentes de perfumes dos condutores, fato facilmen-teconstatadotambmpeloolfatodospesquisadores.impor-tanteapontarqueosresultadosdosbafmetrostambmforam semelhantes aoautorrelatodos motoristas quando perguntados sobre seu consumo de lcool no dia da pesquisa.Resultados nas Diferentes CidadesOs resultados obtidos nas cinco cidades pesquisadas esto re-presentados nas duas tabelas a seguir: a Tabela 1 relata o nmero de condutores abordados e quantos se recusaram a participar; a Tabela2mostraosdadosreferentesatodososmotoristasque concordaram em participar da pesquisa.Tabela 1. Prevalncia do beber e dirigir: resultados.MotoristasabordadosRecusasfrequnciaRecusas%BafmetroFrequnciaDiadema 1 000 150 15% 850Belo Horizonte 1 000 421 42,1% 579Santos 1 256 295 23,4% 962Vitria 590 220 37,3% 370So Paulo 2 510 609 24,3% 1 901Total 6 356 1 695 26,7% 4 661Fonte: Srgio Duailibi, Ronaldo Laranjeira et al. 2007.49nmeros da situao atual no brasil...Na Tabela 2 temos os dados referentes a todos os motoristas queconcordaramemparticipardapesquisanascincocidades. Como a pesquisa no era obrigatria, os dados da tabela podem at mesmo ser inferiores aos reais.Tabela 2. Prevalncia do beber e dirigir: resultados. 0 a 0,2 g/l0,3 a 0,50,6 ou maisN = 4054 na%anb%bnc%cDiadema850649 76,4 36 4,2 165 19,4Belo Horizonte579358 62 107 18,4 114 19,6Santos354227 64,1 60 17 67 18,9Vitria370216 58,4 97 23,7 57 17,9So Paulo1 9011 372 72,2 148 7,8 381 20Legenda:a. casos em que no havia indcios da presena de lcool no bafmetro;b. casos em que havia a presena de lcool no bafmetro, porm ainda den-tro dos limites legais; c. casos em que a presena de lcool estava acima dos limites legais. Fonte: Srgio Duailibi e Ronaldo Laranjeira, 2006/2007.Em Diadema (sp), dos 1 000 motoristas abordados, 850 acei-taramparticipar(85%)esubmeteram-seaosbafmetrosativos epassivos.Dessaamostra,umtotalde165(19,4%)estavacom nveis de lcool no ar expirado acima de 0,6 g/l. Outros 36 (4,2%) tinham nvel de lcool positivo e inferior a 0,6 g/l.EmSantos(sp),dos1 256motoristasparadospelosagentes de trnsito, 962 (76,6%) aceitaram participar da pesquisa. Desta 50lcool e direo: beber ou dirigiramostra,182condutores(18,9%)apresentavam-secomndices acima de 0,6 g/l. Outros 164 (17%) tinham nvel de lcool inferior a 0,6 g/l.EmBeloHorizonte(mg),dos1 000condutoresabordados, um total de 579 (57,9%), aceitou ser submetidos aos bafmetros. Foi uma taxa alta de recusas participao. Da amostra pesquisa-da, obtivemos 114 condutores (19,6%) com nveis de lcool no ar expirado acima de 0,6 g/l. Outros 107 (18,4%) tinham algum nvel de lcool no sangue, porm inferior a 0,6 g/l.Em Vitria (es), dos 590 motoristas pesquisados, os resulta-dos apontaram que 370 pesquisados (62,7%) aceitaram participar submetendo-seaosbafmetrosativos.Destaamostra,umtotal de57(15,4%)estavacomnveisdelcoolnoarexpiradoacima dos limites permitidos pelo Cdigo de Trnsito Brasileiro. Outros 97 (26,2%) tinham algum nvel de lcool no sangue.Comparativo da Pesquisa Beber e Dirigir em So Paulo (sp), antes e depois da Lei 11.705 (2009)Na cidade de So Paulo foram feitas pesquisas comparativas anteseapsaLeiSeca,respectivamenteem2007e2009.Des-saforma,foipossvelcompararoimpactodaLein.11.705em relaoaonmerodemotoristasdirigindosobainunciade bebidas alcolicas. Os objetivos na pesquisa em So Paulo foram:s realizar levantamento de dados referentes ao comportamento eafrequnciadobeberedirigiremcondutoresdeveculos em vias pblicas da cidade de So Paulo (nos bairros de Vila Madalena, Itaim Bibi, Interlagos, Santana e Tatuap); 51nmeros da situao atual no brasil...scompararosndicesobtidosantes(2007)eapsanovalei (2009). Figura 2. Fotos da Pesquisa de 2009 em So Paulo sp.Osprincipaisresultadosobtidospodemserconferidosnas tabelasaseguir,querepresentamonmerototaldemotoristas abordadosnotrnsitodasviasanteriormentemencionadasem SoPaulonosanosde2007ede2009,comparativamente.Na Tabela 1, o nmero total de motoristas entrevistados reete o n-mero de carros abordados pelos policiais; a segunda linha destaca as recusas em participar da pesquisa (questionrio e bafmetros). A Tabela 2 mostra, nos dois anos, os resultados obtidos por baf-metro nos motoristas que aceitaram participar da pesquisa. 52lcool e direo: beber ou dirigirTabela 1. Nmero total de entrevistas e recusas.So Paulo (sp) Ano 2007 Ano 2009Entrevistados 2 510 2 077Recusas 609 (24,3%) 357 (17,2%)Total 1 901 1 720Tabela 2. Resultados comparativos.So Paulo (sp) Ano 2007 (n = 1901) Ano 2009 (n = 1720)0,0 g/l 1 372 (72,2%) 1 352 (78,6%)0,1 a 0,2 g/l 62 (3,3%) 83 (4,8%)0,3 a 0,6 g/l 86 (4,5%) 80 (4,7%)Acima de 0,6 g/l 381 (20%) 205 (11,9%)Tabela 3. Resultados e concluses.resultadosComparandooanode 2007com2009(ps leiseca),tivemosuma quedade32%dosmotoristaspesquisadosdirigindoacimadoslimites legais.Em 2009,houveumaumentodonmerodemulheres(aumentode 20%) e de motoristas de faixa etria entre 31-40 anos (aumento de 25%) compositividadenostestesdobafmetro,comparando-secomoano de 2007. A maior prevalecncia de positividade nas duas pesquisas: sexo mascu-lino, solteiros, na faixa de 18 a 30 anos. A amostra dos condutores com alcoolemia positiva nao estava visivel-mente intoxicada.concluso dos dadosParcelasignificantedemotoristasquecirculamcomnveisdealcoolelevado nos fins de semana. Queda nos ndices (em torno de 32%). Necessidade de persistncia nafiscalizao.53nmeros da situao atual no brasil...concluso dos dadosA prevalncia dos motoristas que estavam dirigindo intoxicados caiu, po-rm, ainda cerca de cinco vezes maior que a encontrada em pesquisas semelhantes na Europa, eua e Oceania. Analisamos situaoes locais que provavelmente refletem uma realidadenacional.Fonte: Srgio Duailibi e Ronaldo Laranjeira, 2009.Resultados Anteriores Lei SecaOs resultados (Figura 3) referentes ao perodo anterior Lei Seca apontaram que um total de 899 (19,3%), dos 4 661 conduto-resdeveculosestudadosqueaceitaramsersubmetidosaosba-fmetrosativose/oupassivos,tinhanveisalcolicosacimados permitidospelalegislaovigente.Tambmfoiconstatadoque 552motoristas(11,8%),dos4 661pesquisadosnosbafmetros, apresentavam pelo menos algum trao de lcool no ar expirado. Figura 3. Resultados Gerais Obtidos nas Cidades Pesquisadas.A. Positividade de 0,1 g/l at 0,5 g/l: 12% (552); B. sem indcios de lcool no bafmetro: 69% (3 210);C. acima de 0,6 g/l: 19% (899).cont.ABC54lcool e direo: beber ou dirigirComparaes com Resultados de PesquisasSemelhantes em Outros PasesOs dados obtidos nesta pesquisa apresentam-se, em mdia, cinco a seis vezes mais elevados que os obtidos em pesquisas se-melhantes nos Estados Unidos, Austrlia, Nova Zelndia ou em pases europeus. Nos Estados Unidos, por exemplo, realizaram-se dois grandes levantamentos nacionais, confrontando os dados obtidos em uma grande pesquisa de metodologia semelhante, e o resultado obtido foi uma taxa de prevalncia do beber e diri-gir, nos anos de 1991-1992, de 3,7% dos motoristas pesquisados, e de 2,9% em 2001-2002. Nessas pesquisas, com intervalos de dez anos, observou-se uma queda de 22% na prevalncia, reetindo os esforos continuados de intervenes e prevenes no campo do beber e dirigir, sob a presso de ongs, especialmente a ameri-cana madds (Mes Contra Motoristas Bbados), para a adoo de uma poltica de tolerncia zero para o lcool no trnsito.Quadro 1. Guia de consulta rpida. Em uma analise mais apurada avaliando as provaveis causas paraaelevadafrequncianacionaldemotoristasalcoolizadosnascida-des e rodovias brasileiras (valores cinco a seis vezes maiores que em pesquisassemelhantesemoutrospases),possvellevantaralguns aspectos significativos:1. a falta de uma presso social para uma mudana neste quadro atual de elevado nmero de bitos e acidentes nas estradas, onde o lcool no est presente somente no tanque de combustvel;2. a deficincia na fiscalizao com bafmetros na maioria das ci-dades brasileiras;3. a elevada oferta de bebidas alcolicas a preos baixos em inme-55nmeros da situao atual no brasil...ros estabelecimentos. Esta fcil acessibilidade um dos fatores que levam a um aumento do consumo de bebidas. Com a percepao de que nenhuma poltica efetiva a menos queadequadamentefiscalizada,umestudonacionalapontouqueespe-cialistasdetrnsitoforamunnimesemafirmarquedificilmente poderia haver melhora na situao do beber e dirigir sem a aplicao de multas e fiscalizao adequadas. O que funciona efetivamente a certezadequedeterminadainfraoserpunida.Issosimmudao comportamentodosmotoristas:beberoudirigir...Foidestaforma que pases europeus e da Oceania, cuja legislao permite entre trs aoitodecigramasdelcoolporlitrodesangue,conseguiramapre-sentarumaexpressivaquedanosndicesdeacidentesnasdcadas de 1980 e 1990. Leis rigorosas, associadas a uma fiscalizao rgida e mudanas nas normas sociais, contriburam para esse progresso. Na grande maioria desses pases foi possvel estabelecer uma rela-oinversamenteproporcionalentrefiscalizaocombafmetros eacidentesdetrnsitorelacionadosaolcool:quandoafiscaliza-ocomtestesrespiratriosintensificou-se,onmerodeaciden-tescommotoristasalcoolizadosdiminuiuproporcionalmente.J nascomunidadesondeospostosdefiscalizaocombafmetros so realizados semanalmente, h uma reduo de cerca de 20% dos acidentes fatais relacionados ao lcool, sendo, por isso, exatamente uma das medidas mais eficazes para se reduzir este tipo de ocorrn-cia, segundo a oms. E fato tambm que o comportamento de beber e dirigir s se sus-tenta quando em consonncia com as normas culturais vigentes em umacomunidade.faltaderestries,aspropagandasdebebi-dasalcolicasnosmeiosdecomunicaosetornameficientesno propsitodeseduziropblico,principalmenteojovem,mesmo que citando, inocuamente, reiteradas vezes o bordo se beber, no dirija. Ou seja, os valores que imperam na sociedade ainda so os 56lcool e direo: beber ou dirigirdos lobbies das indstrias de bebidas alcolicas e o descontrole so-cialemrelaoaoconsumoelevadodolcoolabaixospreose amplamente disponvel nos mais variados ambientes, de maneira a banalizar o seu consumo e permitir a tolerncia em relao trans-gresso legal. 57Dados Sociodemogrcos dos Pesquisadosnestes dois anos de pesquisa, 6 356 condutores foram entre-vistados,dosquais5 250responderamaoquestionrio(Anexo1. Questionrio da Pesquisa Nacional Beber e Dirigir) com perguntas relativas ao comportamento dos motoristas aps beber, questes sociodemogrcas,opiniesdosmotoristasquantolegislao atual e dados sobre o padro de consumo de bebidas alcolicas. Os dados socioeconmicos e demogrcos de toda a popula-o pesquisada esto demonstrados nas Tabelas a seguir, numera-das de 1 a 6: distribuio por gnero, por faixa etria, estado civil, graudeescolaridade,tipodeocupaoerendafamiliar.Nota-sequeosexomasculinofoipreponderantenaamostra(68,4%) equeamaioriadosparticipantestinhaentrevinteecinquenta anos. Quanto ao estado civil, a maior parte era solteira e cursou pelomenosatoensinomdio.Boapartedospesquisadosda amostra tinha emprego formal (31,2%) e grande parte (53,3%) re-latou uma renda familiar de quatro a sete salrios mnimos.4caractersticas dos pesquisados quanto aocomportamento do motorista aps beber58lcool e direo: beber ou dirigirEmrelaoaosdadosreferentespopulaocomresulta-dos positivos quanto presena de lcool nos bafmetros, a po-sitividadefoiesmagadoramentemaiornapopulaomasculina (88,2%), solteira (77,9%), com renda familiar entre quatro a sete salrios mnimos (59,3%) e idade inferior a trinta anos (79,5%).Tabela 1. Distribuio por gnero.Sexo Total de entrevistados %masculino 3 594 68,4feminino 1 656 31,6Total 5 250 100Tabela 2. Distribuio etria.Faixa etria Total de entrevistados %18 e 19 anos 394 7,520 a 30 anos 1 381 26,331 a 40 anos 1 333 25,441 a 50 anos 1 181 22,551 ou mais 961 18,3Total 5 250 100Tabela 3. Estado civil.Tipo Total de entrevistados %solteiro(a) 2 436 46,4casado(a) 2 058 39,2amasiado(a) 89 1,7desquitado(a)/divorciado(a)/separado(a)483 9,2vivo(a) 184 3,5Total 5 250 10059caractersticas dos pesquisados quanto ao comportamento...Tabela 4. Grau de escolaridade.Graduao Total de entrevistados %analfabeto 07 0,1ensino fundamental 331 6,3ensino mdio 1 879 35,8superior incompleto 1 386 26,4superior completo 1 648 31,4Total 5 250 100Tabela 5. Tipo de ocupao.Situao Total de entrevistados%emprego formal 1 638 31,2emprego informal 1 071 20,4profissional liberal 1 386 26,4desempregado 236 4,5estudante 751 14,3aposentado 168 3,2Total 5 250 100Tabela 6. Renda familiar.Renda em salrios mnimos Total de entrevistados %menos de 1 salrio 89 1,7de 1 a 3 salrios 693 13,2de 4 a 7 salrios 2 798 53,3mais de 8 salrios 1 670 31,8Total 5 250 10060lcool e direo: beber ou dirigirDados Referentes ao Comportamento dos Motoristas quanto ao Padro de Consumo de Bebidas AlcolicasA Pesquisa Nacional do Beber e Dirigir referenciou tambm dados relativos ao comportamento dos condutores entrevistados quantoaopadrodeconsumodebebidasalcolicas,expressos nas tabelas a seguir, numeradas de 7 a 10. Entre os pesquisados, uma amostra de 17,2% respondeu nunca ter utilizado qualquer tipo de bebida alcolica (Tabela 7). Quan-do perguntados sobre o uso de bebidas no dia da pesquisa (Tabe-la 8), um total de 21,3% dos motoristas admitiu seu consumo. Na Tabela 9, observam-se os dados referentes ao padro de consumo semanaldoscondutoresentrevistadoseaTabela10demonstra as estatsticas quanto ao tipo de bebida utilizada. Note-se (Figu- ra 1) que a maioria opta pela cerveja (39%), seguida por vinho ou champanhe (20%), cachaa ou pinga (19%) e bebidas ice (13%).Tabela 7. Faz uso de bebida alcolica? Resposta Total de entrevistados %sim 4 095 78no 1 155 22Total 5 250 100Tabela 8. Ingeriu alguma bebida alcolica hoje (dia da pesquisa)?Resposta Total de entrevistados %sim 1 118 21,3no 4 132 78,7Total 5 250 10061caractersticas dos pesquisados quanto ao comportamento...Tabela9. Quantas vezes por semana ocorre ingesto de bebidas al-colicas?Resposta Total de entrevistados %nenhuma 2 867 54,61-2 vezes 2 021 38,53-4 vezes 215 4,15-7 vezes 89 1,7mais de 8 vezes 58 1,1Total 5 250 100Tabela 10. Tipo de bebida preferida.Tipo de bebida Total de entrevistados %cachaa ou pinga 998 19%cerveja 2 047 39%bebidas ice 683 13%vinho ou champanhe 1 050 20%outros 472 9%Total 5 250 100%Figura 1. Tipo de bebida preferidaoutros9%vinho ouchampanhe20%cerveja39%bebidas ice13%cachaa ou pinga19%cachaa ou pingacervejabebidas icevinho ou champanheoutros62lcool e direo: beber ou dirigirDados Referentes ao Comportamentodo Motorista aps BeberOcomportamentodocondutorentrevistadoapsbeber tambmfoireferenciado(Tabela11),apartirdequestionrio sobrequalsuaatitudeaosairdeumbarouumafestaapste-rem bebido demais. A Tabela 11 mostra que um total de 33% dos entrevistados respondeu no beber na ocasio em que tivesse de dirigirposteriormente.Aalternativadedirigirbemdevagarfoi escolhida por 17% dos pesquisados e para 9,4% a melhor escolha seria aguardar algum tempo para dirigir. Um total de 19,4% pre-fere dirigir, mesmo aps ter bebido, pois considera que a bebida no atrapalha sua capacidade de dirigir, ou at que a bebida faa com que dirijam melhor. Uma parcela de 4,3% diz acreditar que ingerir caf aps a bebida mantenha a capacidade de conduzir o veculo, anulando o efeito do lcool.A escolha de 8,7% dos entrevistados foi optar por entregar o veculo a outra pessoa que no tenha bebido ou que tenha bebido menos; e 8,2% dos motoristas optaram por no dirigir, escolhen-do alguma alternativa, como pegar um txi. Somando-seasalternativasrazoveisnassituaesemqueo condutor do veculo poder ser exposto ao uso de bebidas alcolicas e analisando os resultados estatsticos, a Pesquisa Nacional do Beber e Dirigir permite o estabelecimento das seguintes concluses: uma parcela de 49,3% dos entrevistados (2 588 motoristas) ado-ta medidas preventivas em relao aos problemas na conduo de veculos aps o consumo de bebidas alcolicas. So moto-ristas que no dirigem aps beber, voltam de txi para casa ou entregam o veculo para outra pessoa habilitada conduzir;63caractersticas dos pesquisados quanto ao comportamento...um total de 9,4% dos condutores (494 pesquisados) adota a medida de aguardar um tempo antes de dirigir; por volta de 41,3% dos entrevistados (2 168 motoristas) man-tmadecisodedirigirdepoisdebeber,baseadosemopi-niestemerrias:4,4%doscondutoresconsideramquedi-rigemmelhorquandobebem;15,6%armamqueabebida no atrapalha sua conduo; 4,3% acreditam que tomar caf restauraplenamenteascondiesparadirigir;17%dirigem bemdevagar,considerandooprocedimentoumaestratgia razovel e ignorando os prejuzos causados pelo consumo de lcool na coordenao motora, na viso perifrica, nos ree-xos e na capacidade de ateno.Tabela 11. Comportamento do motorista em ocasies em que tenha bebido e precise dirigir.Comportamento quanto conduo doveculo aps ter bebidoTotal deentrevistados%Dirige aps tomar caf 226 4,3Dirige,poisnoconsideraqueabebida atrapalhe819 15,6No dirige, pega um txi 430 8,2Dirige porque considera que dirige melhor quando bebe 231 4,4Dirige bem devagar 893 17,0Esperaumtempoatmelhoraredepois dirige494 9,4No bebe 1 732 33Entrega o veculo para outra pessoa que no tenha bebido425 8,1Total 5 250 10064lcool e direo: beber ou dirigirDados dos Entrevistados Referentes aoComportamento no Trnsito eao Conhecimento das LeisOs dados referentes ao comportamento dos motoristas entre-vistadosnotrnsitoetambmaoseuconhecimentodasleisdo Cdigo Brasileiro de Trnsito foram catalogados nas Tabelas 12 a 15. Observa-se que aproximadamente 33,6% dos condutores en-trevistados j estiveram envolvidos em algum acidente de trnsito (Figura 2), 15,7% considera dirigir alcoolizado somente a quarta modalidade de infrao de trnsito mais grave, dentre uma lista de oito possveis, perdendo para ultrapassagem perigosa, que foi apontada como a infrao mais grave por 23,1% dos pesquisados. AsTabelas14e15trazemosdadosreferentesaoconhecimento dos motoristas sobre dois tpicos importantes do Cdigo Brasi-leiro de Trnsito: qual o nvel de lcool no sangue a partir do qual uma pessoa considerada alcoolizada para dirigir (Tabela 14) e o que pode ocorrer com uma pessoa que for pega dirigindo sob a inuncia de bebidas alcolicas (Tabela 15). Tabela12.Jesteveenvolvido,comomotorista,emalgumacidente de trnsito?Resposta Total de entrevistados %sim 1 764 33,6no 3 486 66,4Total 5250 10065caractersticas dos pesquisados quanto ao comportamento...Figura 2. J esteve envolvido, como motorista, em algum acidente de trnsito?Tabela 13. Qual infrao de trnsito considerada mais grave? Infrao Total de entrevistados %ultrapassagem perigosa 1 213 23,1excesso de velocidade 1 061 20,2avanar o sinal 1 029 19,6dirigir alcoolizado 824 15,7m conservao do veculo 504 9,6falta do uso de equipamentos de segurana252 4,8parar fora do acostamento 115 2,2outras 252 4,8Total 5 250 1004 0003 0002 0001 0000sim; 1 764no; 3 486simnoNmero66lcool e direo: beber ou dirigirTabela 14. Segundo as leis brasileiras, qual o nvel de lcool no sangue a partir do qual uma pessoa considerada alcoolizada ao dirigir?Nvel (em dg/l) Total de entrevistados %0,04 488 9,30,05 441 8,40,06 767 14,60,07 84 1,60,08 84 1,60,09 42 0,8No sabe 3 344 63,7Total 5 250 100Tabela15.SegundooCdigoBrasileirodeTrnsito,oquepode ocorrer com uma pessoa que for pega dirigindo sob a inuncia de bebidas alcolicas?Penalidade Total de entrevistados%pagar multa 903 17,2suspenso da cnh 1 433 27,3ser presa 1 176 22,4no sabe 1 738 33,1Total 5 250 100ndice de Aceitao dos Entrevistados aos Bafmetros e a Outras Medidas PreventivasO apoio dos entrevistados s medidas preventivas a seguran-anotrnsitoetambmsuasopiniesarespeitodasmelhores condutas para reduzir o nmero de acidentes foram compilados na Tabela 16. Mais de 66% dos motoristas optou por medidas res-67caractersticas dos pesquisados quanto ao comportamento...tritivas no trnsito (Figura 3), tais como aumentar a scalizao e a aplicao mais rigorosa do Cdigo Brasileiro de Trnsito. Isto pode representar o incio de uma reao popular ao crescente n-mero de acidentes de trnsito e s graves consequncias a eles re-lacionadas,comoafastamentoparatratamentos,hospitalizao, invalidez transitria ou permanente, morte e toda a repercusso socioeconmicaqueessesfatosgeramparaafamliadavtima em particular e para a sociedade como um todo.Tabela 16. Qual a medida mais importante para reduzir os acidentes de trnsito?Opinio Total de entrevistados %aumentar a fiscalizao 2 021 38,5melhorar as estradas e assinalizaes1 539 29,3aumentar o valor das multas 215 4,1aplicao mais rigorosa do cbt 1 475 28,1Total 5 250 100Figura3.Opiniesdosentrevistadossobreasmelhorescondutas para reduzir o nmero de acidentes.28%39%29%4%aumentar ascalizaomelhorar estradase sinalizaesaumentar o valordas multasaplicao maisrigorosa do c.b.t.68lcool e direo: beber ou dirigirAs questes levantadas para os motoristas pesquisados acer-ca da aceitabilidade do bafmetro como instrumento de scali-zao e preveno de acidentes relacionados bebida e direo estoapresentadasnasTabelas17e18.Observa-sequeaproxi-madamente70%doscondutoresestointeressadosoumuito interessados em apoiar polticas preventivas e scalizadoras que incluam a utilizao de bafmetros (ou etilmetros) (Tabela 17 e Figura 4), e que 75,6% dos entrevistados no se recusou a uti-lizar o bafmetro (Tabela 18 e Figura 5), indicando a aceitao dos bafmetros. A aceitabilidade desses instrumentos foi maior aindaquandoseutilizouobafmetrodotipopassivo(aquele que no necessita que o motorista assopre, captando o ar expi-rado pelo condutor por meio de uma bomba de suco).Tabela 17. Manifesta apoio a uma poltica que busque legalizar o uso do bafmetro (ou etilmetro) para aferir e ajudar na scalizao e preveno,visandoareduodosndicesdeacidentessoboefeito do lcool?Nvel de interesse Total de entrevistados %muito interessado 2 541 48,4interessado 1 087 20,7pouco interessado 646 12,3no apoia talprocedimento829 15,8no sabe responder 147 2,8Total 5 250 10069caractersticas dos pesquisados quanto ao comportamento...Figura 4. Interesse dos entrevistados em apoiar medidar preventivas com o uso de bafmetros (etilmetros).Tabela 18. Nmero de recusas aos bafmetros durante a pesquisa.Recusou Total de entrevistados %Sim 1 695 26,7No 4 661 73,3Total 6 356 100Figura 5. Recusas ao bafmetro.16%48%3%21%12%muito interesseinteressadopouco interessadono apoio tal procedimentono sabe responder5 0004 0003 0002 0001 000 0SimNoNmero1 6954 661Nmero de pesquisadosSimNoNmero4 661Nmero1 69570lcool e direo: beber ou dirigirAspectos da Identicao de Motoristas Intoxicadospelo lcoolOsentrevistadoresselecionadosparaaPesquisaNacional doBebereDirigirpossuamnveluniversitrioereceberam treinamento para reconhecer sinais de intoxicao pelo lcool e embriaguez. O questionrio tambm continha uma questo di-recionada apenas para o entrevistador, solicitando que avaliasse o estado geral do entrevistado entre as seguintes trs categorias: normal,visivelmenteembriagadoesobefeitodelcool,mas sem embriaguez.Oresultadodapesquisarevelaqueemboapartedosca-sospositivosparaolcoolnosbafmetrosnohouvecorres-pondncia entre a avaliao dos entrevistadores e os ndices no bafmetro.Portanto,trata-sedeumdadorelevante:osentre-vistadores devidamente treinados para identicar motoristas alcoolizados no conseguiram encontrar sinais de intoxicao nagrandemaioriadosmotoristasagradospelosbafmetros comocasospositivosdelcoolnosangueacimadoslimites permitidos pela lei. Em apenas 29,7% dos motoristas altamente positivadosparaolcoolhouvepercepodesinaisbviosde intoxicao. Essainformaoapontaparaaimportnciadousodeba-fmetroscomoinstrumentodeidenticaodemotoristasal-coolizados,indodeencontrotendnciadeidenticaopelos condutores somente pelos sinais de embriaguez.71caractersticas dos pesquisados quanto ao comportamento...Quadro 1. Guia de consulta rpida. Os 5 250 participantes da pesquisa responderam a um questionrio (Anexo1QuestionriodaPesquisaNacionalBebereDirigir)com perguntasrelativasaocomportamentodosmotoristasapsbeber, questes sociodemogrficas, opinies dos motoristas quanto legis-lao atual e dados sobre o padro de consumo de bebidas alcolicas. Os participantes na sua maioria eram homens, solteiros entre vinte e trinta anos. Boa parte dos pesquisados da amostra tinha emprego formal (31,2%) e grande parte (53,3%) reportou uma renda familiar de quatro a sete salrios mnimos.Estaamostra, escolhidaaleatoriamente, desconhecevariosaspec-tosquantolegislaosobreotrnsitoreferenteaobeberedirigir, pormapoiaautilizaodebafmetrosnotrnsitoenorecusou a sua utilizao durante a pesquisa. Destes, 38,5% acham necessrio ampliar a fiscalizao como a mais importante medida para reduzir os acidentes de trnsito. Mais de 23% dos motoristas da pesquisa consideram ultrapassagem perigosa como a infrao de trnsito mais perigosa. O comportamento mais frequente dos motoristas entrevistados emocasiesemquetenhambebidoenecessitemdirigirconduziro veculo bem devagar ou acham que este tipo de comportamento no prejudica a dirigibilidade do veculo.s Aproximadamente 78% dos entrevistados bebem entre uma e duas vezes por semana e 39% preferem a cerveja como bebida.73Resultados do 1o Levantamento Nacional de Padresde Consumo de lcool na Populao Brasileira(Unifesp-Uniad /Senad)de maneira geral, a opinio da populao sobre questes referentesaoconsumodebebidasalcolicasfundamentalao planejamentoeimplementaodepolticaspblicas.Essano-o auxilia o planejador de polticas a compreender quais reas requerem maior trabalho educativo, no sentido de aumentar o conhecimento e, eventualmente, de afetar atitudes e comporta-mento. Alm disso, a opinio da populao tambm pode ofere-cer uma oportunidade de reexo sobre a situao na qual uma nova poltica e as consequentes mudanas sero implantadas. As tentativas de compreenso do sentimento pblico quan-tospolticasrelacionadassbebidasalcolicassobaseadas, principalmente, em pesquisas populacionais. No Brasil, so ra-ros os estudos com essa caracterstica, tanto por conta do assun-5impactos de beber e dirigir sobre a populao74lcool e direo: beber ou dirigirto(dirigirsoboefeitodolcool),comoporsuametodologia (ampla). Umadasprimeiraspesquisasquevericouoapoiodapo-pulaoemrelaosmedidasrestritivasaodirigiralcoolizado foi realizada no Departamento Estadual de Trnsito de So Pau-lo Detran-sp em 1998, ano da aprovao do novo Cdigo de Trnsito. Foram entrevistados 2 004 indivduos, de 18 a 25 anos de idade, com vrias perguntas questionando o apoio desses jovens s trs principais medidas punitivas a serem aplicadas a um mo-torista pego dirigindo alcoolizado: imposio de priso, suspen-so da carteira de motorista e aplicao de multas. As alternativas para a resposta foram classicadas em ordem crescente de apoio, variando de nenhum caso, alguns casos, vrios casos, muitos ca-sos at na maioria dos casos.Apesquisaindicouqueoapoiomaiorfoidadosmedidas menos severas: 64% dos entrevistados escolheram a aplicao de multas para a maioria dos casos de infrao. O mesmo foi verda-de para metade dos sujeitos no caso de suspenso da carteira de motoristaeparaapenasumteronoqueserefereprisodos motoristas.Dequalquermaneira,emumapopulaobastante jovem,amaioriapareceuperceberalgunsproblemasrelaciona-dos ao comportamento de dirigir alcoolizado e apoiou algumas medidas no sentido de restringir esse comportamento.Um panorama signicativamente mais amplo sobre o assunto foioferecidoporumlevantamentoprobabilsticonacional,que est em foco neste captulo. Trata-se do 1o Levantamento Nacio-nal sobre Padres de Consumo de lcool na Populao Brasilei-ra, organizado pela Universidade Federal de So Paulo Unifesp, 75impactos de beber e dirigir sobre a populaocom o apoio nanceiro da Secretaria Nacional de Polticas sobre Drogas Senad. Completada em 2007, a pesquisa foi desenvolvi-dacommetodologiatalquerepresentassetodasasregiesbra-sileiras, os moradores de zonas urbanas e rurais, os adolescentes (catorze a dezessete anos) e os adultos (a partir de dezoito anos). Entre os dados apontados por essa pesquisa, cita-se que 53% dosbrasileirospodemserclassicadoscomobebedores,sendo que 27% fazem uso ocasional ou raro e 25% fazem uso ao menos umavezporsemana.Contudo,emboraapesquisatenhacon-templado um total de 3 007 entrevistados, entre adultos e adoles-centes, neste captulo sero reportados apenas os resultados dos adultos,apartirdedezoitoanos,totalizando2 346indivduos. Entreasvriasreasinvestigadasnapesquisa,trsquestesre-lacionavam-se ao apoio dos entrevistados em relao a medidas preventivas ao dirigir alcoolizado. As perguntas que foram feitas, assimcomoaspossibilidadesderesposta,estocatalogadasno Quadro 1.Quadro 1. Apoio a polticas restritivas relacionadas ao dirigir e beber.Emsuaopiniao,umapessoapeganoBrasil dirigindodepoisdebeber trs doses ou mais, deveria ser condenada priso? (Em geral apoio, em geral no apoio, no sei.) Emsuaopiniao,umapessoapeganoBrasil dirigindodepoisdebeber trs doses ou mais, deveria ter sua carteira de habilitao sus-pensa? (Em geral apoio, em geral no apoio, no sei.) Em sua opiniao, uma pessoa pega no Brasil dirigindo depois de be-ber trs doses ou mais, deveria ter de pagar multas? (Em geral apoio, em geral no apoio, no sei.)76lcool e direo: beber ou dirigirApoio da Populao s Medidas PreventivasOs resultados mostram que a maioria da populao brasileira favorvel aplicao de penalidades sobre aqueles que so pe-gos dirigindo depois de beber trs doses ou mais. Note que essa quantidade de trs doses de bebidas alcolicas signica que o mo-torista geralmente estaria acima da quantidade legal permitida de alcoolemia no Brasil, no perodo em que foi aplicado o questio-nrio (2006). No geral, 93% dos indivduos acham que os motoristas alcoo- lizados devem pagar multas; 81% que eles deveriam ter a cartei-ra de habilitao suspensa; e 63% apoiam a condenao priso nesses casos. Ou seja, existe um apoio bastante claro relatado pela maioria esmagadora da populao.Osresultadosdeapoioapolticasdolcoolgeralmenteva-riamdeacordocomalgumascaractersticassociodemogrcas do indivduo. Isso signica que aspectos como idade, sexo, nvel sociocultural e religiosidade, entre outros, podem ter um impac-to na maneira em que as pessoas avaliam seu apoio s medidas. As Tabelas 1, 2 e 3 mostram, no entanto, que fatores demogrcos no inuenciaram muito o apoio da populao s medidas con-trrias ao dirigir alcoolizado. Tabela1.Percentualdeapoioaopagamentodemultasdeacordo com caractersticas sociodemogrcas.Em geral apoiaEm geralno apoiaNo sabe/ recusaSexo: HomensMulheres91 9 --94 5 177impactos de beber e dirigir sobre a populaoIdades: 18-2425-3435-4445-5960 ou +92 8 --92 8 --94 6 --92 7 194 4 2Regies: NorteCentro-oesteNordesteSudesteSul96 4 --94 5 192 8 --94 6 --89 11 --Classe ABCDE90 10 --90 10 --93 7 --94 5 193 5 2Total 93 6 1Tabela 2. Percentual de apoio suspenso da carteira de habilitao de acordo com caractersticas sociodemogrcas.Em geral apoiaEm geralno apoiaNo sabe/recusaSexo HomensMulheres79 20 183 16 1Idade 18-2425-3435-4445-5960 ou +76 24 178 22 --83 17 --85 14 185 11 4cont. Em geral apoiaEm geralno apoiaNo sabe/ recusa78lcool e direo: beber ou dirigirRegies: NorteCentro-oesteNordesteSudesteSul80 20 --85 14 179 19 282 17 181 18 1Classe abcde78 22 --77 23 --81 19 --83 15 282 15 4Total 81 18 1Os resultados expressos nas Tabelas anteriores mostram que homensemulheres,jovenseadultos,moradoresdascincore-gies brasileiras e pertencentes s vrias classes sociais geralmente concordamcomessastrspolticasrestritivas/preventivas.Esse apoio macio no caso da mais leve dessas penalidades, que a aplicao de multas. Tambm praticamente unnime no que diz respeito suspenso de habilitao.Tabela 3. Percentual de apoio priso de acordo com caractersticas sociodemogrcas.Em geralEm geral no apoiaNo sabe/recusaSexo HomensMulheres5966393123cont. Em geral apoiaEm geralno apoiaNo sabe/recusa79impactos de beber e dirigir sobre a populaoEm geralEm geral no apoiaNo sabe/recusaIdade 18-2425-3435-4445-5960 ou +6058636568394035312611236Regies: NorteCentro-oesteNordesteSudesteSul6474636163292235373574222Classe ABCDE5056596871474339292331236Total 63 35 2No caso da indicao de priso, notam-se algumas variaes deapoiocommaisresistnciaspenalidadesporpartedosho-mens; dos mais jovens (at 34 anos) e das classes sociais mais altas. Para compreender melhor essas diferenas de apoio, os pesquisa-dores zeram uma srie de anlises estatsticas incluindo outras variveis de comparao. Assim, foram introduzidos nesse exame osseguintesitens:religio(catlica,evanglica,outras,nenhu-ma), estado civil, nvel educacional, status de trabalho (trabalha, estuda, desempregado, dona de casa, aposentado), local de mora-dia (interior, capital, zona rural, urbana), intensidade do consu-cont.80lcool e direo: beber ou dirigirmo de bebidas alcolicas do indivduo (cinco faixas de consumo delcool,desdeabstinnciadeclaradaatconsumofrequentee em grande quantidade). Asnovasanlisesconrmaramamesmaproporocitada anteriormenteemrelaorestrionocasodaaplicaode multas.Ouseja,mesmoinvestigando-semaisprofundamente as caractersticas da populao, h um apoio similar de pratica-mentetodoogrupoaessapenalidade. Aexceocaporcon-ta dos indivduos na faixa mais alta de consumo de lcool (no necessariamente dependentes de lcool, importante apontar), que apoiam tal medida menos do que os abstinentes. Mas todas asoutrasfaixasdeconsumoendossamigualmenteaaplicao de multas.Em relao suspenso da carteira de habilitao e priso de motoristas agrados alcoolizados, o apoio a polticas restriti-vas ao dirigir alcoolizado tambm se conrma: indivduos que nao bebemsao mais a favor dessas medidas doque aqueles que bebem pesadamente; pessoas das faixas mais jovens de idade (18 a 24 anos) apoiam menos a suspenso da carteira de habilitao do que os mais velhos; homens sao mais resistentes as polticas restritivas do que asmulheres. O mesmo ocorre em relao aos casos de priso; pessoasnasmenoresfaixasdeescolaridade(atprimario)so mais favorveis suspenso da carteira e priso do que aquelas em faixas superiores de educao.Deacordocomo1oLevantamentoNacionalsobrePadres deConsumodelcoolnaPopulaoBrasileira,acomunidade 81impactos de beber e dirigir sobre a populaodefende outras polticas pblicas que tambm inuenciam dire-tamente o beber e dirigir. 92% apoia programas preventivos ao uso do lcool em escolas e programas de tratamento para o alcoolismo (91%); 86% favorvel a campanhas governamentais de alerta sobre os riscos do lcool e ao aumento da scalizao contra a ven-da de bebidas alcolicas para menores (95%); aindapara 96%dosentrevistados,osprogramasdetrata-mentoparadependentesqumicosdeveriamsergratuitose obrigatrios e tambm deveria ocorrer um aumento dos im-postos sobre as bebidas (54%); para89%dosentrevistados,osestabelecimentosnodeve-riam servir bebidas alcolicas para clientes que j esto b-bados,almdaopiniofavorvelproibiodavendade bebidasalcolicasempadarias,confeitariasemercearias (74%)erestrioaohorriodevendadebebidasalco-licas (76%). Vtimas Fatais do Beber e Dirigir*:Dados Referentes aos bitos Decorrentes de Acidentesde Trnsito Registrados no iml de So Paulo-sp em Pesquisa da Universidade de So Paulo Em2002,umestudonacionalrealizadoporequipemulti-disciplinarcom464pacientesacidentadosdoProntoSocorro CentraldoHospitaldasClnicas,daFaculdadedeMedicinada * lcool em Vtimas Fatais por Acidente de Trnsito no Estado de So Paulo (Vilma Leyton, Julio de Carvalho Ponce, Gabriel Andreuccetti, Dbora Gonal-ves de Carvalho.)82lcool e direo: beber ou dirigirUniversidade de So Paulo, apontou uma alcoolemia positiva em 28,9%doscasos. Asvtimasapresentavamidademedianade29 anos, sendo que 73,7%, e