Bebês, crianças ou alunos? Continuidade ou ruptura? Quais os desafios de entender a criança ao...

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Bebês, crianças ou alunos? Continuidade ou ruptura? Quais os desafios de entender a criança ao longo da Educação Infantil e do Ensino Fundamental? Superando as formas como se têm tratado as crianças de acordo com etapas de desenvolvimento (a criança é uma até os três anos, torna-se outra dos 3 aos 6 anos e outra, ainda, dos 6 aos 12anos), o Currículo Integrador defende que as potencialidades dos bebês e das crianças se ampliam à medida que vivem experiências que sejam organizadas e apoiadas por educadoras e educadores e ao mesmo tempo sejam desafiadoras das ações das possibilidades das crianças.Com educadoras e educadores intencionalmente organizando experiências envolventes com e para bebês e crianças, criam-se percursos de aprendizagens significativos e socialmente relevantes que se somam desde a Educação Infantil até o Ensino Fundamental. Desse modo, cuidam-se e educam-se bebês e crianças que pensam e agem de forma cada vez mais curiosa e autônoma no mundo. Esse percurso construído na Educação Infantil e no Ensino Fundamental tem um valor em si, pois, as experiências vividas no presente são relevantes para o tempo presente da vida das crianças: não constituem um período de preparação ou antecipação das futuras etapas do processo de educação. E porque privilegia a vida e o tempo presentes de bebês e crianças, respeitando seus tempos e modos de viver suas infâncias, cria bases sólidas para a vida futura (justamente na medida em que não a antecipa). A antecipação de etapas retira das crianças o direito de viver a infância, tempo que os seres humanos precisam para construir suas potencialidades que não são genéticas, mas históricas e culturais, isto é, aprendidas na relação criança-sociedade. Ao longo da Educação Infantil e do Ensino Fundamental, bebês e crianças precisam de tempo e vivências para ampliar suas formas de ver, conceber e expressar o mundo por meio das diferentes linguagens que integram arte e ciência no complexo processo de apropriação e construção de conhecimento que envolve curiosidade, observação, atenção, percepção, pensamento, investigação, interpretação, criação de hipóteses, imaginação e elaboração de teorias explicativas daquilo que vivem e observam. Tudo isso resulta em significativas aprendizagens que só acontecem pela atitude ativa da criança no meio social quando esta é tratada como sujeito capaz de realizar tudo isso. Nessa perspectiva, o desafio que se apresenta é o de superar a hierarquização e o caráter instrucional que privilegia a fala de

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Bebês, crianças ou alunos? Continuidade ou ruptura? Quais os desafios de entender a criança ao longo da Educação Infantil e do Ensino Fundamental?Superando as formas como se têm tratado as crianças de acordo com etapas de desenvolvimento (acriança é uma até os três anos, torna-se outra dos 3 aos 6 anos e outra, ainda, dos 6 aos 12anos), o Currículo Integrador defende que as potencialidades dos bebês e das crianças se ampliam à medida que vivem experiências que sejam organizadas e apoiadas por educadoras e educadores e ao mesmotempo sejam desafiadoras das ações das possibilidades das crianças.Com educadoras e educadores intencionalmente organizando experiências envolventes com e para bebês e crianças, criam-se percursos de aprendizagens significativos e socialmente relevantes que se somam desde a Educação Infantil até o Ensino Fundamental. Desse modo, cuidam-se e educam-se bebês e crianças que pensam e agem de forma cada vez mais curiosa e autônoma no mundo. Esse percurso construído na Educação Infantil e no Ensino Fundamental tem um valor em si, pois, as experiências vividas no presente são relevantes para o tempo presente da vida das crianças: não constituem um período de preparação ou antecipação das futuras etapas do processo de educação. E porque privilegia a vida e o tempo presentes de bebês e crianças, respeitando seus tempos e modos de viver suas infâncias, cria bases sólidas para a vida futura (justamente na medida em que não a antecipa). A antecipação de etapas retira das crianças o direito de viver a infância, tempo que os seres humanos precisam para construir suas potencialidades que não são genéticas, mas históricas e culturais, isto é, aprendidasna relação criança-sociedade. Ao longo da Educação Infantil e do Ensino Fundamental, bebêse crianças precisam de tempo e vivências para ampliar suas formas de ver, conceber e expressar o mundo por meio das diferentes linguagens que integram arte e ciência no complexo processo de apropriação e construção de conhecimento que envolve curiosidade, observação, atenção, percepção, pensamento, investigação, interpretação, criação de hipóteses, imaginação e elaboração de teorias explicativas daquilo que vivem e observam. Tudo isso resulta em significativas aprendizagens que só acontecem pela atitude ativa da criança no meio social quando esta é tratada como sujeito capaz de realizar tudo isso. Nessa perspectiva, o desafio que se apresenta é o de superar a hierarquização e o caráter instrucional que privilegia a fala de professoras e professores sobre o conhecimento, superar os treinos de linguagem escrita e o silenciamento das demais linguagens e conteúdos, superar a lógica da divisão de trabalho fabril presente na escola e que separa, de um lado, educadora e educador que pensam e, de outro lado, as crianças que não são chamadas a pensar, mas apenas a executar o que foi pensado para elas. Trata-se de promover, no dia a dia da Educação Infantil e do Ensino Fundamental, o protagonismo das educadoras e dos educadores como organizadores de experiênciasem que bebês e crianças são igualmente protagonistas (brincantes, artistas e cientistas) que pensam, projetam, agem, descobrem, criam e recriam o mundo, e expressam tudo isso de forma ativa, rica e autoral.