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Rosyane Rodrigues E m março, a Universidade Federal do Pará (UFPA) sediou o I Congresso Pan-Amazô- nico e o VII Encontro da Região Norte de História Oral. Os dois eventos fazem parte de um esforço para consolidar essa área da pesquisa na região. Pesquisadores brasileiros e de outros países latino-americanos, de diferentes áreas de estudo, apresentaram os resultados das suas pesquisas. O professor Pere Petit, da Faculdade de His- tória da UFPA e diretor na Região Norte da Associa- ção Brasileira de História Oral (ABHO), conversou com o Jornal Beira do Rio sobre a consolidação das pesquisas com fontes orais e as dificuldades que os pesquisadores ainda enfrentam no desenvolvimento dessa perspectiva metodológica. "Além de aprender com as falas dessas pessoas, você compreende mais o outro. Na maioria das vezes, são experiências impossíveis de se encontrar em outro lugar", afirma o professor. 12 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Maio, 2012 A História do tempo presente Ao lidar com fontes "vivas", a História Oral proprociona experiência única Entrevista Genética contra a dengue ISSN 1982-5994 JORNAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ • ANO XXVI • N. 104 • MAIO, 2012 Aves silvestres são criadas como animais de estimação Dissertação defendida no Núcleo de Teoria e Pesquisa do Comportamento, da UFPA, investiga as razões pelas quais os moradores do município de Santa Bárbara mantêm aves silvestres em cativeiro. Pág. 4 Meio ambiente Papagaio-do-mangue está entre os mais capturados O Laboratório de Genética Humana e Médica do Insti- tuto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade Federal do Pará está participando da pesquisa nacional sobre febres hemorrágicas virais, coordenada pelo Instituto Evandro Chagas. A Universidade é responsável pelo Subprojeto De- senvolvimento de estudos genéticos para associação de polimorfismo de genes KIR e seus grupos de ligantes HLA-C com Dengue. Os pesquisa- dores estão mapeando o perfil de pacientes com dengue para verificar em que medida os fatores genéticos determinam o desenvolvimento da doença em um organismo infectado pelo vírus. A partir das característi- cas genéticas do paciente, é viável fazer considerações sobre a evolu- ção do quadro clínico e oferecer um tratamento especializado.Pág. 7 ALEXANDRE MORAES ALEXANDRE MORAES Professor Pere Petit fala sobre a consolidação da História Oral na Região Norte. Pág. 12 Rosangila Xavier defende a qualificação dos técnico- -administrativos da UFPA. Pág. 2 Valorizando e desenvolvendo pessoas é o artigo do pró-reitor João Cauby. Pág. 2 Opinião Entrevista Coluna da Reitoria Pesquisa Saúde Antropologia UFPA triplica cursos de pós- -graduação Em 2011, esse cenário promissor contava com 52 cursos de mestrado e 26, de doutorado. Novas propostas já estão em análise na CAPES. Pág. 3 Alimento deve ser consumido puro Boate foi um dos locais pesquisados MÁCIO FERREIRA RAMON REIS Consumo de açaí protege coração. Pág. 6 Sociabilidade no circuito gay de Belém. Pág. 8 Dados clínicos e laboratoriais foram coletados durante consulta no Instituto Evandro Chagas Beira do Rio – Qual a importância da UFPA ter sediado o I Congresso Pan-Amazônico e o VII Encontro da Região Norte de História Oral? Pere Petit – No recente Encontro, inovamos ao receber pesquisadores de outros países, ao ampliar a participação de professores, alunos de muni- cípios paraenses e de outros Estados brasileiros. No total, foram cerca de 600 pessoas inscritas, participando de comunicações, mesas-redondas, minicursos, rodas de conversa e assistindo aos documentários selecionados. Beira do Rio – As pesquisas assumem um cará- ter específico por estarmos na Amazônia? Pere Petit – Sim. A maior parte das pesquisas, não apenas na área das Ciências Humanas e Sociais, está muito focada em questões da região. Nós temos, em algumas áreas ou temáticas, pesquisas que só podem ser realizadas com fontes orais, pela falta de documentação escrita. Durante o evento, pessoas relataram problemas ao pesquisar a Guerrilha do Araguaia, os conflitos no campo, o trabalho escravo. Ao estudarmos assuntos in- seridos no que denominamos História do Tempo Presente, temos que ser conscientes de estar lidan- do com visões de mundo, conflitos de interesses ou disputas pelo poder, "reais" ou "simbólicos", nos tempos de hoje. Beira do Rio – Nos seus primeiros anos, a Histó- ria Oral esteve relacionada aos povos tradicio- nais. Com o tempo, essa metodologia também passou a ser aplicada em outros cenários, se for possível chamar assim. Em quais contextos podemos utilizá-la em pesquisas na cidade? Pere Petit – Trabalhando com fontes orais é pos- sível estudar a história dos movimentos sociais, dos bairros, das igrejas católicas e evangélicas, as festas juninas, a importância do cinema de bairro, qualquer tema que se julgue importante. Alguns pesquisadores trabalham exclusivamente com as fontes orais, eu prefiro não negar a importâncias das outras fontes, como vídeodocumentários, cinema, música, jornais e documentos oficiais. Estamos sempre dialogando com outras fontes, pois a intenção não é transformar as falas em verdades. Beira do Rio – É preciso buscar o contexto daquilo que é dito? Pere Petit – Sim, além do momento histórico no qual a entrevista é realizada, o local e o tempo destinado à mesma. O fundamental é o diálogo prévio que se estabelece com os entrevistados, esclarecendo, sempre, os objetivos das nossas pesquisas. Após definir as pessoas que iremos entrevistar, é preciso escolher a técnica de pes- quisa que será utilizada para recolher os seus depoimentos: entrevistas dirigidas, semiabertas, histórias de vida, rodas de conversa, entre ou- tras. Beira do Rio – Com as novas tecnologias e as redes sociais, existem maiores possibilidades de compartilhamento de conteúdos. Isso pode ajudar a registrar e resguardar essas histórias e essas memórias? Pere Petit – Depende de quais redes sociais estamos falando. No Facebook, quem controla a memória dos textos e as imagens são os seus donos. Filmar as entrevistas é importante e temos usado, cada vez mais, esse recurso. Queremos ver a pessoa, o espaço onde se fez a entrevista, os momentos de silêncio, as emoções. Este é um material que desperta bastante interesse. Beira do Rio – Normalmente, esse material gerado com a pesquisa vai ser visto em sala de aula, nos congressos científicos. Com ou- tras mídias, seria possível compartilhar esse conteúdo? Pere Petit – Partimos do princípio de que esse ma- terial é do pesquisador e da pessoa entrevistada. Essa questão ética é fundamental. Só em alguns casos, esse material é veiculado via internet. Existem centros de memória, institutos de tempo presente, onde esse material é veiculado, mas ainda para um uso restrito. Antes de publicar – na internet ou em artigos científicos –, os envolvidos precisam ser consultados. Beira do Rio – Em relação à História Oral, como o senhor avalia o lugar que a UFPA ocupa atualmente? Pere Petit – Sem dúvida, hoje, a UFPA é um dos principais centros de pesquisa no País. Neste último Encontro, foi interessante ver a diversida- de das pesquisas: história do circo e da música, oralidade, literatura, análise de como a oralidade influenciou a própria literatura, quer dizer, temos uma grande diversidade, mas ainda nos faltam espaços para socialização dessas experiências. Beira do Rio – Qual conselho o senhor daria para o estudante que quer ser um especialista em História Oral? Pere Petit – O mais importante é que ele curse todas as disciplinas e faça a sua pesquisa saben- do que poderá usar fontes orais ou não. Quem trabalha com a história do tempo presente lida, de uma forma ou de outra, com pessoas vivas, essa é a diferença. A importância dessa metodo- logia é a experiência que ela nos dá a partir da relação com as pessoas. Além de aprender com essas falas, você compreende mais o outro, mais do que quando nos encontramos apenas com os documentos. São experiências impossíveis de se encontrar em outro lugar. Essa é nossa vantagem, seja na área que for: nós podemos ler as fontes escritas, encontrar as lacunas e, com a história oral, ajudar a preenchê-las. FOTOS ALEXANDRE MORAES

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Beira do Rio edição 104

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Rosyane Rodrigues

Em março, a Universidade Federal do Pará (UFPA) sediou o I Congresso Pan-Amazô-nico e o VII Encontro da Região Norte de

História Oral. Os dois eventos fazem parte de um esforço para consolidar essa área da pesquisa na região. Pesquisadores brasileiros e de outros países latino-americanos, de diferentes áreas de estudo, apresentaram os resultados das suas pesquisas.

O professor Pere Petit, da Faculdade de His-tória da UFPA e diretor na Região Norte da Associa-ção Brasileira de História Oral (ABHO), conversou com o Jornal Beira do Rio sobre a consolidação das pesquisas com fontes orais e as dificuldades que os pesquisadores ainda enfrentam no desenvolvimento dessa perspectiva metodológica. "Além de aprender com as falas dessas pessoas, você compreende mais o outro. Na maioria das vezes, são experiências impossíveis de se encontrar em outro lugar", afirma o professor.

12 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Maio, 2012

A História do tempo presenteAo lidar com fontes "vivas", a História Oral proprociona experiência única

Entrevista

Genética contra a dengue

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JORNAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ • ANO XXVI • N. 104 • MAIO, 2012

Aves silvestres são criadas como animais de estimação

Dissertação defendida no Núcleo de Teoria e Pesquisa do Comportamento, da UFPA, investiga as razões pelas

quais os moradores do município de Santa Bárbara mantêm aves silvestres em cativeiro. Pág. 4

Meio ambiente

Papagaio-do-mangue está entre os mais capturados

O Laboratório de Genética Humana e Médica do Insti-tuto de Ciências Biológicas

(ICB) da Universidade Federal do Pará está participando da pesquisa nacional sobre febres hemorrágicas virais, coordenada pelo Instituto Evandro Chagas. A Universidade é responsável pelo Subprojeto De-senvolvimento de estudos genéticos para associação de polimorfismo de genes KIR e seus grupos de ligantes HLA-C com Dengue. Os pesquisa-dores estão mapeando o perfil de pacientes com dengue para verificar em que medida os fatores genéticos determinam o desenvolvimento da doença em um organismo infectado pelo vírus. A partir das característi-cas genéticas do paciente, é viável fazer considerações sobre a evolu-ção do quadro clínico e oferecer um tratamento especializado.Pág. 7

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Professor Pere Petit fala sobre a consolidação da História Oral na Região Norte. Pág. 12

Rosangila Xavier defende a qualificação dos técnico- -administrativos da UFPA. Pág. 2

Valorizando e desenvolvendo pessoas é o artigo do pró-reitor João Cauby.Pág. 2

Opinião Entrevista Coluna da Reitoria

Pesquisa

Saúde

Antropologia

UFPA triplica cursos de pós- -graduação Em 2011, esse cenário promissor contava com 52 cursos de mestrado e 26, de doutorado. Novas propostas já estão em análise na CAPES. Pág. 3

Alimento deve ser consumido puro

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Sociabilidade no circuito gay de Belém.

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Dados clínicos e laboratoriais foram coletados durante consulta no Instituto Evandro Chagas

Beira do Rio – Qual a importância da UFPA ter sediado o I Congresso Pan-Amazônico e o VII Encontro da Região Norte de História Oral? Pere Petit – No recente Encontro, inovamos ao receber pesquisadores de outros países, ao ampliar a participação de professores, alunos de muni-cípios paraenses e de outros Estados brasileiros. No total, foram cerca de 600 pessoas inscritas, participando de comunicações, mesas-redondas, minicursos, rodas de conversa e assistindo aos documentários selecionados.

Beira do Rio – As pesquisas assumem um cará-ter específico por estarmos na Amazônia?Pere Petit – Sim. A maior parte das pesquisas, não apenas na área das Ciências Humanas e Sociais, está muito focada em questões da região. Nós temos, em algumas áreas ou temáticas, pesquisas que só podem ser realizadas com fontes orais, pela falta de documentação escrita. Durante o evento, pessoas relataram problemas ao pesquisar a Guerrilha do Araguaia, os conflitos no campo, o trabalho escravo. Ao estudarmos assuntos in-seridos no que denominamos História do Tempo Presente, temos que ser conscientes de estar lidan-

do com visões de mundo, conflitos de interesses ou disputas pelo poder, "reais" ou "simbólicos", nos tempos de hoje.

Beira do Rio – Nos seus primeiros anos, a Histó-ria Oral esteve relacionada aos povos tradicio-nais. Com o tempo, essa metodologia também passou a ser aplicada em outros cenários, se for possível chamar assim. Em quais contextos podemos utilizá-la em pesquisas na cidade?Pere Petit – Trabalhando com fontes orais é pos-sível estudar a história dos movimentos sociais, dos bairros, das igrejas católicas e evangélicas, as festas juninas, a importância do cinema de bairro, qualquer tema que se julgue importante. Alguns pesquisadores trabalham exclusivamente com as fontes orais, eu prefiro não negar a importâncias das outras fontes, como vídeodocumentários, cinema, música, jornais e documentos oficiais. Estamos sempre dialogando com outras fontes, pois a intenção não é transformar as falas em verdades.

Beira do Rio – É preciso buscar o contexto daquilo que é dito? Pere Petit – Sim, além do momento histórico no qual a entrevista é realizada, o local e o tempo destinado à mesma. O fundamental é o diálogo prévio que se estabelece com os entrevistados, esclarecendo, sempre, os objetivos das nossas pesquisas. Após definir as pessoas que iremos entrevistar, é preciso escolher a técnica de pes-quisa que será utilizada para recolher os seus depoimentos: entrevistas dirigidas, semiabertas, histórias de vida, rodas de conversa, entre ou-tras.

Beira do Rio – Com as novas tecnologias e as redes sociais, existem maiores possibilidades de compartilhamento de conteúdos. Isso pode ajudar a registrar e resguardar essas histórias e essas memórias?Pere Petit – Depende de quais redes sociais estamos falando. No Facebook, quem controla a memória dos textos e as imagens são os seus donos. Filmar as entrevistas é importante e temos usado, cada vez mais, esse recurso. Queremos ver a pessoa, o espaço onde se fez a entrevista,

os momentos de silêncio, as emoções. Este é um material que desperta bastante interesse.

Beira do Rio – Normalmente, esse material gerado com a pesquisa vai ser visto em sala de aula, nos congressos científicos. Com ou-tras mídias, seria possível compartilhar esse conteúdo? Pere Petit – Partimos do princípio de que esse ma-terial é do pesquisador e da pessoa entrevistada. Essa questão ética é fundamental. Só em alguns casos, esse material é veiculado via internet. Existem centros de memória, institutos de tempo presente, onde esse material é veiculado, mas ainda para um uso restrito. Antes de publicar – na internet ou em artigos científicos –, os envolvidos precisam ser consultados.

Beira do Rio – Em relação à História Oral, como o senhor avalia o lugar que a UFPA ocupa atualmente?Pere Petit – Sem dúvida, hoje, a UFPA é um dos principais centros de pesquisa no País. Neste último Encontro, foi interessante ver a diversida-de das pesquisas: história do circo e da música, oralidade, literatura, análise de como a oralidade influenciou a própria literatura, quer dizer, temos uma grande diversidade, mas ainda nos faltam espaços para socialização dessas experiências.

Beira do Rio – Qual conselho o senhor daria para o estudante que quer ser um especialista em História Oral? Pere Petit – O mais importante é que ele curse todas as disciplinas e faça a sua pesquisa saben-do que poderá usar fontes orais ou não. Quem trabalha com a história do tempo presente lida, de uma forma ou de outra, com pessoas vivas, essa é a diferença. A importância dessa metodo-logia é a experiência que ela nos dá a partir da relação com as pessoas. Além de aprender com essas falas, você compreende mais o outro, mais do que quando nos encontramos apenas com os documentos. São experiências impossíveis de se encontrar em outro lugar. Essa é nossa vantagem, seja na área que for: nós podemos ler as fontes escritas, encontrar as lacunas e, com a história oral, ajudar a preenchê-las.

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Coluna da REITORIA

BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Maio, 2012 – 11

Ouvidoria favorece gestão hospitalar Manifestações de pacientes apontam problemas e indicam áreas críticasA partir da visão integrada

e estratégica da função de gestão de pessoas, etapa

evolutiva em que se percebeu a ne-cessidade de conjugar os objetivos da organização com os objetivos e necessidades das pessoas que a integram, novos horizontes surgi-ram para essa importante função da Administração. As pessoas, antes, tratadas como recursos que precisavam ser controlados e pro-gramados, a exemplo dos recursos materiais, financeiros e tecnológi-cos, passaram a ser reconhecidas como fontes de talento, criativida-de e competência.

As diretrizes relativas à gestão de pessoas e os objetivos organizacionais de longo prazo passaram a ser definidos e har-monizados a partir da missão, das estratégias e dos valores das instituições públicas ou privadas.

Os empreendimentos que não acompanharam essa evolução ficaram pelo caminho, em razão da falta de visão de futuro, em que a prospecção e a valorização do capital intelectual são veto-res fundamentais para o sucesso das organizações. Consciente da importância das pessoas para o alcance dos seus objetivos insti-tucionais, a Universidade Federal do Pará estabeleceu, a partir do seu Plano de Desenvolvimento Institucional – 2011/2015, a neces-sidade de definir estratégias para captar, capacitar, desenvolver e reter profissionais aptos a promo-ver o alcance dos seus propósitos institucionais.

Nessa direção, a UFPA tem dado ampla divulgação aos seus concursos públicos, bem como vem estabelecendo meios para selecionar candidatos com o perfil

compatível com seus objetivos estratégicos. Realiza, ainda, ex-pressivo investimento na capaci-tação e qualificação de pessoal, por meio de uma ação integrada entre a PROGEP e a PROPESP, uma das razões pelas quais a Uni-versidade foi escolhida, ao final de 2011, como um dos Polos de Desenvolvimento de Pessoas da Região Norte pelo Ministério do Planejamento, que também tem apoiado a política de atenção à saúde do servidor da Universida-de, considerando que as ações de promoção e prevenção em saúde também integram a área de desen-volvimento de pessoas.

O Programa de Educação Continuada, coordenado pela PROGEP, tem ofertado educação formal, em nível de graduação e pós-graduação, para seus servi-dores, notadamente nas áreas de

Planejamento e Gestão Pública, estando em andamento uma turma de graduação, uma de especializa-ção e uma de mestrado, voltadas para técnico-administrativos, visando qualificar suas ações e formar novos gestores para a área administrativa da Instituição.

Esses programas e ações são desdobramentos dos objetivos estratégicos definidos no Plano de Desenvolvimento Institucional, na política de desenvolvimento de pessoas da Universidade Federal do Pará e na política nacional de desenvolvimento de pessoal, cujos resultados serão apresentados e avaliados no II Encontro Regional de Desenvolvimento de Pessoas, a ser promovido em Belém, nos dias 21 e 22 de maio de 2012, pela Secretaria de Gestão Pública do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão.

UFPA: valorizando e desenvolvendo pessoas

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

2 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Maio, 2012

Rua Augusto Corrêa n.1 - Belém/[email protected] - www.ufpa.br

Tel. (91) 3201-8036

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O curso de mestrado (2009-2011) voltado para a qua-lificação de servidores

técnico-administrativos (TAs) da Universidade Federal do Pará (UFPA) foi fruto da parceria entre a Pró-Reitoria de Desenvolvimento e Gestão de Pessoal (Progep) e o Núcleo de Altos Estudos Amazôni-cos (NAEA). O resultado culminou com a formação de 18 mestres, cujas dissertações abordaram temas voltados à Política de Desenvolvi-mento e Gestão Institucional. Entre as dissertações defendidas, está Capacitação de servidores técnico-administrativos: desenvolvendo na UFPA competências por meio do conhecimento.

E por que estudar a capa-citação dos servidores técnico-administrativos da UFPA? Por ocasião da elaboração do Plano de Desenvolvimento 2001-2010, foi identificado um baixo índice de qualificação dos servidores técnico-administrativos e a inexistência de uma política de valorização. A Instituição precisava investir na

qualificação dos técnicos como uma forma de assegurar as mu-danças propostas à modernização da gestão.

A Política de Valorização de Recursos Humanos da UFPA, com ênfase na capacitação/qualificação dos técnicos, foi o foco da disserta-ção. O objetivo era investigar se a capacitação dos servidores técnico-administrativos da UFPA, os quais realizaram cursos de especializa-ção no período de 2002/2004, no Campus Belém, contribuiu para a melhoria do desempenho de suas unidades e da Instituição, por meio do conhecimento adquirido.

Dentro de uma abordagem qualitativa, fez-se uso da pesquisa bibliográfica, documental e da en-trevista. Os informantes foram dois pró-reitores de Planejamento, dois da Pró-Reitoria de Desenvolvimen-to e Gestão de Pessoal e 15 técnicos com o seguinte perfil: ser egresso dos cursos de especialização, ter sido lotados nas Pró-Reitorias, entre 2001 e 2010, e ter exercido cargos de CD ou FG. Assim, seria

possível ter a visão do gestor e do servidor qualificado.

Os resultados, a seguir, indi-caram que fatores motivacionais, aliados à política de valorização es-tabelecida no PDI e na Legislação vigente possibilitaram a graduação de 87 técnicos e a pós-graduação de 385 (311 especialistas, 67 mestres e sete doutores).

Foi constatado que a qua-lificação, em primeiro lugar, teve uma motivação pessoal na busca de autor-realização. Muitos passaram a exercer cargos de confiança, CD ou FG, atuando em funções antes exercidas somente por docentes, aplicando os conhecimentos ad-quiridos em seus locais de traba-lho. Outros foram remanejados quer pela qualificação, quer pela mudança de gestão. Não existe a Avaliação de Impacto dos eventos de capacitação e desenvolvimento dos servidores. Podendo-se afirmar que os resultados dos cursos sob análise foram positivos. Os servi-dores contribuíram e contribuem para que a Universidade atue de

forma mais eficiente e alcance os objetivos institucionais, fato confirmado pelos gestores e pelos técnicos entrevistados, e, ainda, que a capacitação e a qualificação dos TAs são importantes para o de-senvolvimento institucional. Este processo não pode ser interrompido e precisa estar focado nas deman-das institucionais e na realização pessoal e profissional.

A UFPA, ao longo dos anos, vem aprimorando a política de valorização dos servidores em um processo contínuo de aprendiza-gem, pois, somente assim, poderá cumprir seu papel social como Instituição pública, produtora de conhecimento e prestadora de ser-viços educacionais de qualidade destinados ao cidadão.

Maria Rosangila Xavier Serique - graduada em Serviço Social com Especialização em Administração Estratégica e mestre em Planeja-mento do Desenvolvimento. Atu-almente, exerce suas funções no CAPACIT/PROGEP.

Capacitação é o caminho para o desenvolvimento

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Maria Rosangila Xavier Serique [email protected]ÃO

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Reitor: Carlos Edilson Maneschy; Vice-Reitor: Horácio Schneider; Pró-Reitor de Administração: Edson Ortiz de Matos; Pró-Reitor de Planejamento: Erick Nelo Pedreira; Pró-Reitora de Ensino de Graduação: Marlene Rodrigues Medeiros Freitas; Pró-Reitor de Extensão: Fernando Arthur de Freitas Neves; Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: Emmanuel Zagury Tourinho; Pró-Reitor de Desenvolvimento e Gestão de Pessoal: João Cauby de Almeida Júnior; Pró-Reitor de Relações Internacionais: Flávio Augusto Sidrim Nassar; Prefeito do Campus: Alemar Dias Rodrigues Júnior. Assessoria de Comunicação Institucional Coordenação Luiz Cezar S. dos Santos; JORNAL BEIRA DO RIO Edição: Rosyane Rodrigues; Reportagem: Jéssica Souza (1.807-DRT/PA) Marília Jardim/Mayara Albuquerque/Paulo Henrique Gadelha/Pedro Fernandes/Rosyane Ro-drigues (2.386-DRT/PE); Fotografia: Alexandre Moraes/Karol Khaled; Secretaria: Silvana Vilhena; Beira On-Line: Leandro Machado; Revisão: Júlia Lopes/Cintia Magalhães; Arte e Diagramação: Rafaela André/Omar Fonseca; Impressão: Gráfica UFPA; Tiragem: 4 mil exemplares.

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dA partir dos resultados, Eliza-

beth Pantoja concluiu que a gestão do Hospital Ophir Loyola, mediante as informações geradas no serviço de Ouvidoria a partir dos usuários, age de forma pontual e suas ações são pautadas em uma condução voltada à resolução individual e não à cole-tividade, no sentido de diminuir as queixas recorrentes que prejudicam o desenvolvimento da assistência.

Entre os problemas recorren-tes, estão a falta de prontuário e os erros no sistema de marcação de consultas. Diariamente, esses dois

problemas provocam transtornos de ordem operacional e assistencial, bem como conflitos entre usuários e servidores. "Várias vezes, o paciente não pode ser consultado, porque o prontuário não foi previamente sepa-rado. Consultas são marcadas em dias facultados, em período de férias ou licença dos médicos. O que acontece? É remarcado para o paciente retornar daqui a dois ou três meses. Alguns vão à Ouvidoria e lá conseguem abreviar esse tempo, ou seja, resolve-se o pro-blema individualmente, mas ele volta a acontecer com outras pessoas",

explica a pesquisadora.Além disso, ela afirma que o

gestor da saúde também não viabiliza políticas que abranjam as peculiarida-des do Estado, como a população que reside fora da capital. "Os pacientes que moram no interior são tratados da mesma forma que um paciente residente em Belém, o que fere o princípio da igualdade defendido pelo SUS", afirma.

Os resultados mostram que a Ouvidoria do HOL não conseguiu cumprir as suas atribuições institu-cionais. De acordo com Elizabeth

Pantoja, é preciso que a gestão va-lorize as informações contidas nas manifestações dos usuários, no aco-lhimento das demandas e efetive o seu verdadeiro papel nesse contexto. Para isso, é necessário que a Ouvidoria se revele como uma via de mão du-pla, ou seja, as informações geradas devem subsidiar respostas coletivas que favoreçam a todos que precisem do serviço público. "Sem isso, ela continuará desempenhando um papel voltado para o assistencialismo, o que fere seus princípios e prejudica os usuários," conclui.

Mayara Albuquerque

A Ouvidoria tem a função de representar os usuários, defen-der seus interesses e garantir a

reparação, caso tenham seus direitos violados. No Brasil, o sistema público de saúde convive com problemas de ordem econômica, tecnológica e de recursos humanos. Foi nesse contexto que Elizabeth Pantoja analisou o papel da Ouvidoria no Hospital Estadual Ophir Loyola (HOL). Os resultados da pesquisa foram apresentados no Programa de Pós-Graduação em De-senvolvimento Sustentável do Trópico Úmido, no Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA) da Universidade Federal do Pará.

A Dissertação O Papel da Ou-vidoria em Hospital Público: um estudo a partir das manifestações dos usuários do Hospital Ophir Loyola, orientada pelo professor Durbens Nascimento, analisou em que medida a Ouvidoria do Hospital cumpriu suas atribuições em relação às manifesta-ções dos usuários.

O Sistema Único de Saúde (SUS) se estabelece como um modelo moderno de atenção à saúde, o qual tem como principal característica a valorização da gestão municipal na or-ganização dos serviços de saúde. Ape-sar do alcance social e das conquistas obtidas, esse modelo ainda apresenta sérios problemas de financiamento e de gestão. Tais problemas repercutem

Criadas por recomendação do Ministério da Saúde, as Ouvidorias diminuem a distância entre usuários e gestores

diretamente nos serviços de saúde, principalmente nos de atenção de mé-dia e alta complexidade, a exemplo dos hospitais em que é comum a fila de usuários em busca de tratamento, uma vez que a demanda por assistência é maior que a oferta de serviços.

Com o objetivo de melhorar essas e outras questões relativas às con-

dições da saúde, o Ministério da Saúde implementou a Política Nacional de Humanização (PNH), cujo propósito é efetivar os princípios do SUS por meio da oferta de serviços de qualidade, e a Ouvidoria, que deve representar as demandas do usuário e também ser instrumento gerencial. Na medida em que mapeia problemas e aponta áreas

críticas, também promove a aproxima-ção das instâncias gerenciais. Elizabeth Pantoja afirma que a Ouvidora foi uma necessidade popular, "sua criação foi necessária para diminuir a distância entre o usuário e a alta gestão hospi-talar, para que esta pudesse conhecer as necessidades dos usuários e tentar resolvê-las efetivamente".

81% das reclamações eram direcionadas ao Hospital �O Ophir Loyola é uma autar-

quia, órgão de atuação especial da Secretaria de Estado de Saúde Públi-ca, sem fins lucrativos. Por ser o úni-co no Estado a prestar atendimento integral em Oncologia, o Hospital é mais vulnerável às adversidades do sistema de saúde. Elizabeth Pantoja afirma que este foi um dos motivos que incitaram sua pesquisa. "Sou enfermeira e trabalho na assistên-cia direta aos pacientes oriundos dos mais variados locais do Pará. Enfrento diariamente problemas de gestão operacional do sistema de saúde e da gestão do Hospital. Ao ver a repetição de problemas que poderiam ser facilmente resolvidos,

comecei a indagar por que isso não estava sendo feito," explica.

A pesquisa foi realizada de forma retrospectiva e teve um cunho exploratório-descritivo baseado na análise de documentos do período de 2008 a 2010. Foram analisados 398 registros do serviço de Ouvi-doria. O projeto buscou, também, compreender o papel e a relevância deste órgão que se caracteriza pela interação entre as políticas de gestão organizacional e a sociedade.

Segundo a pesquisadora, a análise das manifestações dos usu-ários dimensiona o grau e a evolu-ção de satisfação ou insatisfação, em relação aos diversos serviços

ofertados por uma organização. No caso do Ophir Loyola, a intenção era mapear as manifestações de insatis-fação que prejudicam o atendimento e verificar como a gestão do Hos-pital responde a estas, atendendo individualmente ou coletivamente as necessidades dos usuários.

Os resultados foram divididos em duas categorias: manifestações relacionadas à esfera da gestão hos-pitalar e manifestações relacionadas à esfera da gestão do Sistema Único de Saúde. Para a pesquisadora, desta forma, seria mais fácil identificar os problemas relacionados à gestão hospitalar, pois há problemas que fogem ao controle da Instituição.

Os resultados dizem que 81% das manifestações contemplam a esfera da gestão hospitalar e apenas 19%, a da gestão do SUS. Quanto aos resultados, o estudo constatou que 50% das manifestações não foram atendidas no seu pleito, des-sas, 8% estão relacionadas às não respondidas e 42% referem-se às respostas não satisfatórias. Com relação aos 50% restantes, 188 equivalem às respostas satisfatórias do pleito, destes, 94% contemplam as soluções individuais e somente 6% (11 manifestações) alcançaram a coletividade. Apenas duas destas provocaram mudança de ordem gerencial.

"Espaço precisa se revelar como via de mão dupla" �

João Cauby - Pró-Reitor de Desenvolvimento e Gestão de Pessoal [email protected]

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10 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Maio, 2012 BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Maio, 2012 – 3

UFPA triplica cursos de pós-graduaçãoHoje, o desafio é fixar novos doutores na Região Amazônica

Imagens, cenários e histórias de mulheresPublicação traz resultados de pesquisas sobre gênero na região

PesquisaGEPEM

A UFPA também participa de programas de pós-graduação interinstitucional, ou seja, aqueles desenvolvidos mediante parcerias com outras instituições, a exemplo, o da Universidade Federal do Ama-zonas (UFAM), com quem oferta os cursos de Doutorado em Matemática e Mestrado em Saúde, Sociedade e Endemias na Amazônia. Além dis-so, há programas de pós-graduação ofertados por uma rede de institui-ções, como o Programa de Mestrado Profissional em Matemática e o Pro-grama de Doutorado em Educação em Ciências e Matemática.

Segundo o diretor Pedro Wal-fir, um programa de pós-graduação interinstitucional é submetido à Ca-pes quando uma instituição, sozinha, ainda não tem um corpo suficiente-mente qualificado para ofertar um curso. Desta forma, o grande bene-fício é poder associar instituições com o intuito de prover programas

de pós-graduação de qualidade, de forma independente e mais ágil, promovendo o desenvolvimento da região, com base no conhecimento científico, tecnológico e inovador

Um caso de destaque na UFPA é o Programa de Pós-Graduação em Genética e Biologia Molecular (PPGBM). O PPGBM completa 11 anos em 2012, "ele foi criado com uma expansão do seu grupo de pes-quisadores e já classificado como nível 4 pela Capes. No ano de 2007, recebeu a classificação de nível 5, o que reflete a qualidade do trabalho desenvolvido", relata o coordenador, professor Sidney Santos.

A perspectiva é que, no final de 2012, o Programa evolua ao nível 6. Hoje, o PPGBM tem 66 alunos de mestrado e 58 alunos de douto-rado desenvolvendo trabalhos que vão desde a Genética Humana até a Genética de Micro-organismos, de modo que a UFPA possui um dos

mais importantes grupos brasileiros de pesquisas em Genética e Biologia Molecular.

"Em uma região como a Ama-zônia, onde os recursos genéticos (e o uso potencial desta diversidade) ainda são pouco conhecidos, são importantes a permanência e a ex-pansão de grupos de pesquisa que permitam aumentar a fronteira do co-nhecimento ao mesmo tempo em que aumentam a formação de recursos humanos aptos a desenvolver novos conhecimentos nessa área", ressalta o professor Sidney.

Produtividade - De acordo com a Diretoria de Pós-Graduação da UFPA, outro destaque é o Programa de Pós-Graduação em Matemática (PPGME), curso de doutorado desen-volvido em conjunto com a UFAM. O Programa tem professores com bolsas de produtividade do CNPq e membros da Academia Brasileira de Ciências.

Além disso, possui inúmeros pro-jetos aprovados e financiados pelas Agências Nacionais de Fomento à Pesquisa, bem como promove eventos científicos anuais que reúnem pesqui-sadores do Brasil e do exterior.

"Olhamos para o futuro com muita esperança e focados no nosso objetivo principal - criar condições para a consolidação do Programa e a obtenção de um conceito elevado na avaliação da Capes. Isso deverá ocor-rer em 2016, quando os primeiros alunos já tiverem defendido e publi-cado suas teses", explica o professor Giovany Figueiredo, coordenador do PPGME. "Como consequência desse esforço, esperamos que este Progra-ma de doutorado se desdobre em dois bons programas: um, na UFPA; e ou-tro, na UFAM". A perspectiva é que o PPGME possibilite a formação de recursos humanos qualificados para suprir as necessidades das institui-ções universitárias do norte do País.

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Laboratório atende à Pós-Graduação em Genética e Biologia Molecular

Jéssica souza

Atualmente, cada vez mais o mercado de trabalho tem exigido de seus profissionais

maior qualificação em termos de pós-graduação. Quem pensa que, para ter uma boa formação nesse nível, é preciso sair do Estado e até do País, uma boa notícia: a pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado) está crescendo no Brasil e a Univer-sidade Federal do Pará (UFPA) tem liderado esse crescimento na região amazônica.

"Para se ter uma ideia, no ano de 2001, a UFPA tinha 23 cursos de pós-graduação stricto sensu, sendo 16 cursos de mestrado e sete de douto-rado. Em 2011, uma década depois, passamos para 78 cursos, sendo 52 de mestrado e 26 de doutorado". O cenário promissor é descrito pelo pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da UFPA (Propesp), professor Emmanuel Tourinho, para quem tal crescimento é resultado, sobretudo, da formação e consolidação dos grupos de pesquisa acadêmicos no País.

Perspectiva é aumentar número de doutores no Estado �No Estado do Pará, atualmen-

te, há menos de dois mil doutores em atuação no mercado. No entanto, em estudo na UFPA, são mais de 1.100 alunos de doutorado. "Isso significa que, em, no máximo, quatro anos, poderemos aumentar em mais de 50% o número de doutores no Esta-do", espera o pró-reitor.

Para Emmanuel Tourinho, em qualquer sociedade, há forte correla-ção entre a proporção de doutores e os indicadores econômicos e sociais, de modo que o crescimento da pós-graduação na região demonstra que a UFPA tem-se esforçado para criar condições de melhoria do quadro

econômico e social no Pará e na Amazônia. "Só com a pesquisa, formaremos os recursos humanos necessários para forjar um novo projeto de desenvolvimento, basea-do na sustentabilidade e na inclusão social", afirma.

Entre as metas da UFPA para 2012, está a abertura de novos pro-gramas de pós-graduação aliados às demandas do Estado e da Amazônia. Os investimentos atuais concentram-se na formação e consolidação de novos grupos de pesquisa e na qualificação dos programas de pós-graduação existentes, fomentando a internacionalização e o cumprimento

de metas acadêmicas, por meio de um Programa de Acompanhamento Institucional, com a participação de consultores externos.

Outra novidade é o Mestrado Profissional em Gestão Pública, que acaba de abrir sua primeira turma em Belém. A oferta de mestrado na cate-goria "profissional" também teve um crescimento significativo na UFPA. É o que explica o diretor de Pós-Graduação, professor Pedro Walfir: "A UFPA ofertava dois cursos em 2009. Atualmente, são sete cursos nas áreas Multidisciplinar; de Engenha-ria, Ciências Sociais, Administração e Ciências Exatas e da Terra".

O Mestrado Profissional visa formar um profissional para atuar, de forma inovadora, no mercado de trabalho. Hoje, a UFPA tem uma política que acolhe a expansão dessa modalidade de curso, visto que ela aproxima a competência científica e tecnológica das demandas dos vários setores da sociedade. "O Mestra-do Profissional, segundo a Capes, objetiva formar profissionais com ênfase em princípios como os de aplicabilidade técnica e de flexibi-lidade operacional, os quais são de suma importância para a capacitação da mão de obra da região", comple-menta o diretor.

Programa interinstitucional com a UFAM é destaque �

Segundo o pró-reitor, somente nos últimos três anos, a UFPA abriu 24 novos cursos de pós-graduação, sendo nove deles de doutorado. "Já temos dois novos cursos de mestrado autorizados para iniciar em 2012,

além de outras propostas em exame pela Coordenação de Aperfeiçoa-mento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Um desses cursos novos é o Mestrado em Dinâmicas Territoriais e Sociedade na Amazônia, o primeiro

do Campus de Marabá, com o que avançamos na interiorização da pós-graduação stricto sensu", destaca.

O fato de existir, hoje, na UFPA, um maior número de cursos de mestrado do que de doutorado indica que muitos de seus grupos de pesquisa ainda se encontram em processo de consolidação. "São gru-pos mais jovens do que os encontra-dos nas instituições que têm maior número de doutorados, em geral, constituídos por docentes recém-titulados", explica Tourinho. Dar tempo e condições de trabalho para o amadurecimento científico desses jovens pesquisadores, portanto, é uma das estratégias para que, em um curto prazo, a Federal Paraense possa aumentar a proporção de programas que ofereçam também o doutorado.

Outro desafio, além de expan-dir o alcance da pós-graduação com a interiorização, é formar e fixar os no-vos pós-graduados para atuarem na Amazônia, uma vez que as Regiões Sul e Sudeste do País oferecem mais atrativos a esses profissionais.

O universo feminino na Lite-ratura é tema do capítulo "O saber literário de mulheres amazônidas". A professora Eunice Santos, uma das organizadoras do livro e vice-coordenadora do Gepem, destaca que "as escritoras paraenses são excluídas dos programas de vestibulares. Em razão disso, elas também não são estudadas nos ensinos fundamental e médio nem, obviamente, incluídas nos processos seletivos das universi-dades", ressalta.

Para Eunice Santos, a ausência dessa produção literária nas agendas

de leituras das instâncias escolar e universitária faz com que grande parte desses livros fique no anonimato dos arquivos ou em edições esgotadas, visto que a reedição é praticamente inexistente. Segundo ela, seria per-tinente e oportuno se os professores que ministram Língua Portuguesa ou Literatura Brasileira incentivassem seus alunos a consultar os acervos das obras das escritoras paraenses.

O Gepem dialoga com o mo-vimento social organizado. A União de Mulheres de Belém (UMB), o Movimento de Mulheres do Campo

e da Cidade (MMCC), o Fórum de Mulheres da Amazônia Paraense (FMAP) e o Conselho Estadual dos Direitos da Mulher são alguns desses parceiros. Nesse sentido, o Grupo bus-ca contribuir, de alguma forma, para o desenvolvimento da sociedade.

"Se nós apenas pesquisásse-mos e deixássemos nas prateleiras os nossos estudos, não estaríamos contribuindo com a justiça social. É muito importante o contato com outros grupos que travam a mesma luta que a nossa. Assim, ganhamos força conjuntamente. Dessa forma, os

estudos sobre mulher e gênero, que, na Região Norte, contaram com o pioneirismo da Universidade Federal do Pará, tornam-se cada vez mais con-solidados. A busca pela equidade entre os gêneros, a qual é uma luta árdua, é um processo contínuo", conclui Maria Luzia Álvares.

Serviço: Para adquirir o livro Mulhe-res Amazônidas: imagens-cenários-histórias, entre em contato com o GepemTelefone: (91) 3201-8215E-mail: [email protected]

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rAesPaulo Henrique Gadelha

Em agosto de 2012, o Grupo de Estudos e Pesquisas "Eneida de Moraes" (Gepem), vincu-

lado ao Instituto de Filosofia e Ciên-cias Humanas (IFCH) da Universi-dade Federal do Pará, completará 18 anos, tendo, ao longo desse tempo, promovido diversas iniciativas con-cernentes à discussão da temática mulher e gênero na Amazônia, como encontros, palestras, cursos e a pu-blicação de obras com os resultados das pesquisas.

A publicação mais recente Mulheres Amazônidas: imagens-cenários-histórias nasceu do IV Encontro Amazônico sobre Mulhe-res e Gênero, ocorrido em 2009 e foi organizada pelas professoras e pesquisadoras Maria Angélica Motta Maués, Maria Luzia Miranda Álvares e Eunice Ferreira dos Santos. "Com essa nova publicação, pretende-se reiterar a necessidade de se continuar pesquisando e dando visibilidade às questões sobre gênero e mulher na Amazônia", comenta Maria Luzia Álvares, coordenadora do Gepem.

Coletânea – Mulheres Amazônidas constitui-se em uma coletânea na qual a temática da mulher e os es-tudos de gênero são apresentados a partir de diversas áreas do conhe-cimento, como a Antropologia, a Sociologia e a Literatura. O livro tem 23 artigos, os quais estão diretamente relacionados às cinco linhas de pes-quisa desenvolvidas pelo Grupo. São elas: "Mulher e Participação Políti-ca"; "Mulher, Relações de Trabalho, Meio Ambiente e Desenvolvimento";

"Gênero, Identidade e Cultura"; "Gê-nero, Arte/Comunicação, Literatura e Educação" e "Gênero, Saúde e Violência".

Nesse contexto de transversa-lidade de temas que convergem para a mulher, situa-se a discussão sobre as teorias do gênero, o qual, segundo a docente, é construído social e cul-turalmente. Essa construção sinaliza os papéis que são normatizados e

supostamente seguidos por homens e mulheres. "Durante muito tempo, concebeu-se que as mulheres só poderiam trajar vestidos. Em razão disso, as primeiras que ousaram usar calça comprida foram estigmatiza-das, pois esse tipo de vestimenta era considerado como típico, apenas, de homens", exemplifica.

Esses padrões geraram, ao longo do tempo, normas consuetu-

dinárias (baseadas na tradição e nos costumes), as quais passaram a ser normatizadas por meio de leis. Essa trança de legislação, segundo a pro-fessora, implicou desigualdade. Por exemplo, durante certo período, as mulheres eram excluídas do processo eleitoral. Diante dessas situações, quem estava descontente foi à luta, o que resultou no Movimento Fe-minista.

Mulheres Amazônidas traz 23 artigos escritos a partir das cinco linhas de pesquisa desenvolvidas pelo Grupo

Situações de desigualdade geraram lutas e mudanças �"A partir deste momento, fo-

ram quebrando-se tabus e normas de comportamento. Como consequên-cia dessas ações, as leis tiveram que ser reformuladas. Um dos grandes exemplos desse processo foi quando o presidente Getúlio Vargas outor-gou, em 1932, o direito das mulhe-res ao voto. Essa mudança deveu-se, sobretudo, à militância política, que vinha desde 1919, apoiada pela bi-óloga Bertha Lutz, um dos maiores

expoentes do feminismo no Brasil. Com o decurso das décadas, muitas vitórias foram alcançadas, porém to-das foram obtidas por meio de luta. Nada nos deram de graça", pondera Maria Luzia Álvares.

Um dos capítulos da coletâ-nea trata da relação das mulheres com a política. Para a coordenadora do Gepem, outra desigualdade vi-venciada no cotidiano é, justamente, a pouca representatividade da figura

feminina no cenário político. Em 2008, foram eleitas apenas 14% de prefeitas no Pará, o que ainda reflete a concepção de que política é um metiê próprio de homens.

O capítulo "As tramas da violência doméstica: assédio e adoe-cimento psicológico" aborda um dos temas mais delicados relacionados à mulher: a violência doméstica. Aqui, discute-se, por exemplo, a questão da agressão psicológica

e como estavam configurados os cenários da violência conjugal em Belém, nas décadas de 60 e 70 do século XX. "A Lei Maria da Penha, que pode levar o agressor à prisão, também foi resultado das lutas travadas pelo reconhecimento da cidadania feminina. Muitos juízes, inclusive, ainda questionam a vali-dade dessa lei, indagando se ela não está configurando um caso de discri-minação", diz a pesquisadora.

Escritoras paraenses não estão nos programas escolares �

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4 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Maio, 2012

Criadores preferem curió, sabiá e papagaioPesquisa investiga presença de aves silvestres em ambientes domésticos

BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Maio, 2012 – 9

Indústrias criam nova demanda de energia Em Marabá, consumidores sentem impactos da sobrecarga do sistema

EngenhariaMeio ambiente

O estudo mostrou que alguns moradores possuem conhecimento da alimentação mais adequada para aves silvestres. Os criadores de curió sabem, por exemplo, que a ave se alimenta de grãos. Já os criadores de papagaios-do-mangue não pos-suem esse tipo de informação. "O papagaio é um animal que come grãos, sementes e frutas. Porém os criadores costumam alimentá-los, de forma inadequada, com feijão, arroz, ovo cozido e café. De alguma forma, isso pode prejudicar a ave que está acostumada a comer outros alimentos

encontrados em seu habitat. Produtos manufaturados podem prejudicar a ave", esclarece Viviany Amaral.

Mesmo que as pessoas ofe-reçam os cuidados necessários às aves, elas pertencem à natureza, "ave nenhuma pode ter bem-estar em cativeiro domiciliar. Por exemplo, os criadores de sabiás usam uma pequena gaiola, na qual o animal mal consegue se movimentar. Os pa-pagaios criados em cativeiro têm as asas cortadas e ficam soltos em casa. Assim, as pessoas imaginam que ele terá bem-estar, longevidade e vai se

tornar um membro da família", conta a pesquisadora.

A captura e a criação de aves silvestres em Santa Bárbara não se resumem a questões de educação ou de legislação. Os habitantes dos bair-ros visitados sabem que a legislação proíbe a criação de aves silvestres em domicílio. Por uma questão cultural, eles usam as aves silvestres como animais de estimação. Para eles, criar aves em casa é uma forma de diversão e de lazer. Para Viviany Amaral, este costume pode alterar o equilíbrio da natureza, pois as aves têm papéis

essenciais no ecossistema. A retirada delas do meio ambiente pode desen-cadear problemas ecológicos.

A fim de possibilitar a diminui-ção da demanda de aves em cativeiro, a pesquisadora propõe a criação de estratégias pedagógicas voltadas à educação ambiental. "Nosso anseio é criar um Núcleo de Observadores de Aves, no qual os moradores possam aprender, por exemplo, sobre o desen-volvimento das aves e a importância delas para o meio natural e aproximar o nosso trabalho da comunidade", finaliza.

Entre as 64 aves encontradas, 9% eram da espécie papagaio-do-mangue

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rAesPedro Fernandes

Utilização, perseguição, des-truição, caça ou apanhe de espécimes da fauna silvestre

são práticas proibidas por lei (Lei Federal Nº 5.197/67). Na Região Amazônica, por exemplo, ações como essas ainda são muito comuns. As aves são os principais alvos dessas ameaças antrópicas. Entre elas, o papagaio-do--mangue (Amazona amazonica) e o curió (Sporophila angolensis).

Em geral, a captura dessas aves tem como fim a comercialização. Porém, em certos casos, as aves são capturadas para a criação (uso do-méstico). Em Santa Bárbara do Pará, os moradores compram, ganham ou capturam essas aves para criá-las em cativeiro. Quais os motivos para que as pessoas criem aves silvestres em cati-veiro? Foi essa a questão que norteou a Dissertação de Mestrado de Viviany Amaral da Costa, pesquisadora do Núcleo de Teoria e Pesquisa do Com-portamento (NTPC) da Universidade Federal do Pará.

Sob a orientação da professora Maria Luisa da Silva, coordenadora

No município de Santa Bárbara, criação é hábito cultural �Os resultados mostram que

os motivos para a criação de aves em domicílio são diversos, 37% dos entrevistados afirmam criar aves em cativeiro em virtude do canto que elas produzem; 17%, por conta do hábito cultural; 15%, por causa da beleza das aves; 13%, em razão da alegria propor-cionada por elas ao ambiente familiar; 4%, pela capacidade de imitação de sons e 6%, por tê-las encontrado.

Ainda que alguns moradores das localidades consultadas tenham

o costume de criar aves silvestres em cativeiro, não há dados suficientes para comprovar que os principais responsá-veis pela captura e comercialização das aves seja o próprio morador.

Os dados obtidos também reve-lam que não há associação entre o nível de escolaridade, o poder aquisitivo e o hábito de criar aves silvestres. As informações coletadas confirmam que se trata de uma tradição transmitida de pais para filhos.

"Criar aves silvestres em ca-

tiveiro é uma questão cultural, um hábito que as pessoas insistem em manter. Essa prática prejudica muito a vida natural das aves, o ciclo repro-dutivo delas e, consequentemente, a diversidade das espécies", explica Viviany Amaral.

Foram encontradas 64 aves silvestres, 17 espécies de cinco fa-mílias, das quais 36% são da espécie curió (Sporophila angolensis); 11%, sabiá-branco (Turdus leucomelas); 9%, papagaio-do-mangue (Amazona

amazonica); 9%, coleira ou gola-preta (Sporophila nigricollis); 8% ,brejal ou patativa (Sporophila americana) e 6%, tem-tem (Euphonia violacea).

A captura indiscriminada de aves silvestres para criação em ca-tiveiro pode colocá-las em risco de extinção. Exemplo disso é o curió (Sporophila angolensis), o qual, ra-ramente, é encontrado em ambiente natural em Santa Bárbara do Pará. Ao todo, foram encontrados 23 curiós em cativeiro.

Alimentação e falta de espaço prejudicam os animais �

Das 64 aves silvestres encontradas,Razões para manter as aves em cativeiro

37% por gostar do canto

17% por ser um hábito

15% por ser bela.

13% por trazer ale-gria ao ambiente.

36% curió (Spo-rophila ango-lensis)

11% sabiá-branco (Turdus leucomelas)

9% Papagaio-do- -mangue (Amazona amazonica)

9% coleira ou gola--preta (Sporophila nigricollis)

8% Brejal ou pa-tativa (Sporophila americana)

6% tem-tem (Eupho-nia violacea)

do Arquivo do Som da Amazônia (ASA), a pesquisadora desenvolveu seu trabalho Aves Silvestres criadas em cativeiro em Santa Bárbara do Pará: aspectos socioculturais, a fim de identificar a percepção da população do município quanto à manutenção de aves silvestres em cativeiro.

"O objetivo da dissertação foi diagnosticar o problema e o porquê de as pessoas estarem criando aves silvestres. Depois disso, a ideia é fazer um projeto de educação ambiental a partir do que descobrimos, e minha dissertação foi a primeira etapa para a construção desse projeto, que terá a participação de todos os pesquisadores do ASA", explica Viviany Amaral.

Para conhecer os motivos de tal costume, bem como o perfil dos mantenedores das aves em cativeiro, foram entrevistadas 120 pessoas de três bairros do município de Santa Bár-bara, no período de abril a dezembro de 2011. Os formulários aplicados nas entrevistas continham perguntas aber-tas (subjetivas) e perguntas fechadas ("sim" ou "não") a respeito do perfil dos entrevistados e da criação das aves silvestres.

O trabalho apresenta algumas sugestões e propostas para os proble-mas detectados. Em primeiro lugar, é preciso conhecer o tipo de carga que será inserido no sistema, ou seja, verificar como as indústrias podem afetar a qualidade de energia elétrica do alimentador e o abastecimento de outros consumidores, com os quais irá dividir o circuito. Em segundo lugar, é necessário averiguar os impactos que a própria rede pode causar às unidades consumidoras.

Além de acompanhar o cres-cimento daquela região e verificar os tipos de novas cargas que serão in-terligadas, o trabalho propõe também que a Concessionária de Energia crie um regulamento que estabeleça em que condições novos tipos de cargas industriais podem ser incorporadas ao sistema elétrico. As normas técnicas são necessárias para que os novos consumidores adaptem o seu sistema para entrar na rede sem afetar aqueles que já fazem parte dela.

As indústrias abastecidas pelo sistema elétrico das Subestações de Itacaiunas e Itupiranga precisam trabalhar dentro dos padrões estabe-lecidos pelo PRODIST e não injetar mais harmônicos no sistema além do permitido. À Concessionária, por sua vez, cabe regular a entrada desses consumidores especiais e averiguar se eles estão dentro do padrão estabele-cido. Ao identificar que determinado consumidor está contribuindo de for-ma nociva para o sistema, extrapolan-

do os níveis de distorções harmônicas permitidos, a Concessionária deve propor solução.

"Este trabalho vai contribuir para que a Concessionária de Energia comece a estabelecer normas internas e formas de atendimento para manter uma tensão de qualidade ao consumi-dor. Além disso, mostra ao consumi-dor como ele deve proceder para que os impactos no sistema, em forma de harmônicos, sejam mínimos", conclui Eduardo Augusto Esteves.

A Subestação de Itupiranga foi um dos locais utilizados para a coleta de dados

Pedro Fernandes

Nos últimos anos, a implantação de siderúrgicas no sudeste do Pará tem sido um dos princi-

pais fatores de desenvolvimento socio-econômico da região. O crescimento industrial, associado ao crescimento populacional, aumentou bastante o consumo de energia elétrica na região. Por consequência, essa nova demanda tem afetado diretamente o desempenho das subestações (SEs) distribuidoras de energia.

Analisar a qualidade de energia elétrica (QEE), diagnosticar e mitigar os problemas causados pelo aumento do atendimento de energia elétrica, no sudeste do Pará, foram os objetivos da Dissertação Impactos na Qualidade de Energia Elétrica Provenientes do Rápido Crescimento da Demanda no Sudeste do Estado do Pará, apresenta-da ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica (PPGEE) da Uni-versidade Federal do Pará (UFPA).

Uma das consequências do crescimento de cargas [elétricas] industriais é o aparecimento de fenô-menos [distúrbios] elétricos, que são naturais do setor elétrico. "O foco do trabalho foi voltado para os problemas que começam a surgir naquela região. As situações de mitigação tornam possível a convivência com o proble-ma, de tal modo que ele não afete a Concessionária nem o consumidor", explica Eduardo Augusto Cardoso Esteves, autor da Dissertação.

Diante do aumento da deman-da de energia, algumas providências são necessárias. "A região [sudeste do Pará] tem vivido um "boom"

econômico, atraindo investimentos e empresas. Dependendo do tipo de indústria, o impacto na rede elétrica pode ser muito grande. As cargas já instaladas recebem o impacto dessas novas indústrias", acrescenta a profes-sora Maria Emília Tostes, orientadora da pesquisa.

No sudeste do Pará, alguns impactos já podem ser constatados. Perda de energia, aquecimento de equipamentos, zumbidos em transfor-madores e rompimentos de cabos são os distúrbos mais comuns. A pesquisa procurou comprovar a nocividade desses distúrbios sobre a qualidade da

energia elétrica a partir de um estudo de caso envolvendo as Subestações (SEs) Itacaiunas e Itupiranga, locali-zadas em Marabá. Para tanto, foram realizadas campanhas de medição e simulações computacionais. Por fim, foram estabelecidas ações de mitiga-ção para tais problemas.

No momento, nível de distorção de tensão é aceitável �O levantamento de dados ob-

servou o Módulo 8 dos Procedimentos de Distribuição de Energia Elétrica (PRODIST), lançado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANE-EL), o qual normatiza as campanhas de medição em sistemas elétricos. As medições em Itacaiunas e Itupiranga foram feitas por meio de analisadores de qualidade de energia colocados em pontos específicos [e testes apro-priados].

Os aparelhos captaram, armaze-naram e processaram as informações do sistema elétrico e produziram re-

latórios gráficos. Depois disso, foram feitas análises comparativas entre os resultados obtidos e as tabelas contidas no PRODIST. A partir dos dados [va-lores] obtidos durante as campanhas de medição, foram feitas simulações por meio do software ATP (Alternatve Transient Program), o qual faz análise de transitórios e de qualidade de ener-gia elétrica.

Além de regular as campanhas de medição, o PRODIST regula tam-bém o nível de tensão aceitável, crítico ou precário que circula nas redes elétri-cas, além dos níveis de distorções har-

mônicas de tensão. Os impactos ocor-rem quando há a violação dos níveis de tensão e das distorções harmônicas de tensão. Como o PRODIST não regula os níveis de distorções harmônicas de corrente, os estudos seguiram a norma IEEE-519, resolução norte-americana que normatiza as distorções provoca-das pela corrente elétrica.

As campanhas de medição e as simulações mostraram que a principal causa dos problemas na rede elétrica são os harmônicos, perturbações que surgem naturalmente no sistema. São "impurezas" colocadas na rede elétrica

pelos consumidores (indústrias, princi-palmente) atendidos pelas subestações analisadas. Em condições normais, a rede elétrica funciona na frequência de 60 Hertz (HZ). Os harmônicos são distorções na forma de onda da tensão e da corrente elétrica, ou seja, múltiplos de frequências de 60 Hertz [circulando na rede elétrica], como 120 e 300 Hertz. "Os níveis de distorção de tensão apresentados pelo sistema elétrico de Marabá ainda estão aceitá-veis. Porém nós observamos que isso vai ter um crescimento natural", afirma Eduardo Augusto Esteves.

Concessionária deve normatizar entrada de clientes �Ac

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8 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Maio, 2012 BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Maio, 2012 – 5

Na rua, na praça e na boateDissertações analisam espaços de sociabilidade LGBT em Belém

Evento IEstão abertas as inscrições para o VI Encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Meio Ambiente. O Encontro será sediado em Belém, no período de 18 a 21 de setembro deste ano. Para mais in-formações sobre a programação e os valores da inscrição, acesse http://www.anppas.org.br

Evento IINo período de 8 a 10 de no-vembro, Belém sediará o VII Congresso Latino-Americano de Sistemas Agroflorestais para a Produção Pecuária Sustentável. O prazo para envio de trabalho é até o dia 31 de julho. Mais informações pelo telefone (91) 3228-4893 e pelo site do evento http://www.linkedej.com.br/bio/

Rede Wi FiOs usuários da Biblioteca Cen-tral já podem contar com a Rede Wi Fi nos salões de leitura. A obra, realizada em março, foi concluída e os frequentadores receberam as senhas para testar a nova forma de conexão.

Agenda CulturalO novo Portal da UFPA conta com seção exclusiva para di-vulgação de eventos culturais promovidos no âmbito da Uni-versidade. A Agenda Cultural traz informações sobre shows, exibição de filmes, peças de teatro, lançamentos de livros, exposições e espetáculos de dança. Os interessados podem enviar e-mail para [email protected].

Direito I

A Faculdade de Direito (ICJ) da UFPA, representada pelos alunos Dienny Estefhani Maga-lhães Barbosa Riker e Vitor Sil-va De Moraes, do 3º ano da gra-duação, conquistou o segundo lugar na etapa oral do Concurso Nacional Sistema Interamerica-no de Direitos Humanos 2012, promovido pela Secretaria dos Direitos Humanos da Presidên-cia da República. O Concurso constitui etapa preparatória para a competição internacional, a qual será realizada em maio, em Washington, pela American University.

Direito IIO Concurso tem como objetivo difundir o funcionamento do Sistema Interamericano de Pro-teção aos Direitos Humanos nas Instituições de Ensino Superior (IES) brasileiras, mediante a simulação de uma audiência da Corte Interamericana de Direi-tos Humanos, com base em um caso hipotético, que tratou sobre Direitos Indígenas este ano.

PM e UFPA firmam parceriaGeografia faz treinamento para uso de geoinformação

Extensão EM DIAAntropologia

A partir do georreferenciamento, é possível mapear as zonas de policia-mento com dados sobre os tipos de delitos que ocorrem em determinada área, pontuando as ocorrências. O trabalho inicia com o levantamento e a organização de dados já existentes e daqueles coletados pelos policiais nas rondas. Reunir em mapas essas informações, que, muitas vezes, estão dispersas, permite o planejamento do policiamento preventivo.

"Uma grande quantidade de homens numa determinada região não vai gerar, necessariamente, um combate eficiente à criminalidade. A partir da análise de dados cartográficos, obser-va-se o comportamento espacial dos delitos. Assim, é possível, entre outras

coisas, fazer uma leitura dos fluxos mi-gratórios do crime e do comportamento espacial das ocorrências, gerando, com isso, controle e combate mais eficazes" explica Clay Chagas.

A capacitação do efetivo da Polícia Militar para a alimentação e o gerenciamento do banco de dados acontece por meio de cursos realizados no Laboratório de Análise de Informa-ção Geográfica (LAIG), vinculado à Faculdade de Geografia e Cartografia, localizado no prédio do Instituto de Fi-losofia e Ciências Humanas. Os cursos objetivam mostrar ao policial como a cartografia pode ser útil para a execução de seu trabalho.

"Os dados usados pela PM, antes dessa parceria, eram informações gerais

e estatísticas sobre os municípios que integram a RMB. Agora, os agentes de segurança aprendem a importância do uso de dados cartográficos e de recursos tecnológicos que possibilitem a coleta de informações importantes, como o tipo, a frequência e a área na qual ocorre ou poderá ocorrer determinado crime", esclarece o coordenador do Projeto.

O estabelecimento de estraté-gias, a partir da análise cartográfica, para redução dos índices de violência visa dar mais tranquilidade à população. Mas parcerias como essa não são sufi-cientes para solucionar os problemas de segurança. "Outras políticas públicas são necessárias. Os gestores devem investir nas áreas social e de educação", reconhece o diretor da PM.

Exemplo: mapa de Marituba mostra áreas de criminalidade e tipos de ocorrências

Marília Jardim

As ações de planejamento e de gestão da segurança pública na Região Metropolitana de

Belém (RMB) vêm recebendo a co-laboração da Faculdade de Geografia e Cartografia (FGC) da Universidade Federal do Pará, por meio do Projeto de Extensão "Uso de ferramentas de geoin-formação na prevenção e no combate à criminalidade na Região Metropolitana de Belém, Estado do Pará".

Iniciado em 2010, o Projeto viabilizou uma parceria entre a FGC e o Comando de Policiamento da RMB para capacitação de pessoal em tecno-logia específica, capaz de auxiliar no mapeamento de áreas de criminalidade e na organização do registro de ocor-rências.

As ações do Projeto estão dividi-das em seis etapas, três delas já foram

concluídas: a assessoria na criação de um projeto para a implantação de um laboratório de geoinformação e geopro-cessamento para armazenar, consultar e atualizar dados espaciais; a elabora-ção de cartas temáticas da RMB que informam características pedológicas, geomorfológicas, geológicas, de uso, de infraestrutura e de vegetação da re-gião e um banco de dados cartográfico urbano digital.

A criação de um Sistema de Gerenciamento da Segurança (SGSP) e a capacitação técnica são etapas parcialmente concluídas. Esta última já envolveu 30 servidores da Polícia Militar. Um banco de dados geográficos específico para a segurança pública e uma publicação sobre o tema são ini-ciativas previstas para acontecerem até o final deste ano.

De acordo com o coronel Marco Antônio Machado, diretor de Ensino e

Instrução da Polícia Militar, a forma-ção adequada de um quadro efetivo de policiais demora, no mínimo, um ano. "Mas sabemos que apenas o recurso humano não é suficiente para combater a criminalidade. Hoje, temos que inserir a tecnologia nessa formação. Por isso, buscamos parceria com quem domina os recursos tecnológicos em geoinfor-mação, a qual pudesse nos orientar na criação, alimentação e gerenciamento de um banco de dados com informações relevantes para a segurança pública", explica.

"É mais uma interação da Acade-mia com a sociedade. Uma contribuição da Geografia, que sai do campo teórico para auxiliar a segurança da população, por meio da informação georreferencia-da", destaca o professor Clay Anderson Chagas, coordenador do Projeto, junto com os pesquisadores João Márcio Palheta da Silva e Christian Nunes.

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A boate Malícia foi considerada um ambiente "fino" e de bom gosto

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A Dissertação Na rua, na pra-ça, na boate: uma etnografia da so-ciabilidade LGBT no circuito GLS de Belém-PA, de autoria do antropólogo Mílton Ribeiro da Silva Filho, foi orientada pela professora Carmem Izabel Rodrigues. "Neste trabalho, procurei perceber como se davam as vivências, os estilos de vidas especí-ficos e as formas de interação entre homossexuais e afins nos espaços de sociabilidade LGBT de Belém", explica Mílton Ribeiro.

Durante a pesquisa etnográfi-ca, o antropólogo visitou e observou o circuito comercial GLS que existia em Belém, no período de 2010 e 2011. Integravam esse circuito seis boates: Malícia Hot, Lux Dance Pub, R4 Point, Rainbow Club, Boate Vênus e Hache Clube; além de dois bares, Veneza e Refúgio dos Anjos. Esses lugares de lazer localizavam-se esparsamente pela capital paraense, em bairros centrais e periféricos.

"Quando um indivíduo amplia a sua rede de sociabilidade, ele passa a adquirir outros estilos de vida. No caso da sociabilidade no circuito GLS, os novos integrantes passam por um processo de aprendizagem, assimilando códigos e referências ali circunscritas. Assim, esses su-jeitos reconstroem a si mesmos", considera.

De acordo com Mílton Ribei-ro, uma das principais característi-cas desses ambientes é a prática do Bajubá, uma espécie de código lin-guístico, composto por um conjunto de gírias e expressões. "Dentro do circuito GLS, é quase impossível al-guém se sociabilizar sem conhecer o mínimo de códigos dessa rede, como o Bajubá", destaca. Ao frequentar sistematicamente esses espaços, cada indivíduo passa a construir o seu "eu gay" a partir da rede de que faz parte, dos lugares que frequenta e dos bens que consome. O pesquisador explica

que esses fatores simbolizam e deter-minam que "tipo" de homossexual cada um é. Entre os bares visitados, o "Refúgio dos Anjos", localizado no Guamá, é considerado um lugar "bagaceiro". Já o Bar Veneza, loca-lizado num bairro mais central, é classificado como um local "fino", sofisticado, de bom gosto.

As entrevistas deram ênfase às histórias de vida de sete interlocuto-res: quatro gays, um bissexual, uma mulher transexual e uma lésbica. O ponto de partida eram perguntas mais formais para traçar um perfil socioeconômico e cultural dos en-trevistados. Posteriormente, os in-terlocutores discorriam sobre trechos da sua história de vida, abordando questões como criação, o ingresso nos espaços de sociabilidade LGBT e as primeiras experiências sexuais. Outro ponto discutido nesta etapa era o processo de coming out, que signi-fica "sair do armário", momento em

que um LGBT assume sua orientação sexual ou de gênero.

"Busquei saber como esses sujeitos foram constituindo-se em novos sujeitos. A relação com o ‘armário’ foi citada por todos como uma das barreiras enfrentadas, em algum momento, ao longo das suas trajetórias. Todos os interlocutores também construíam, pelos seus dis-cursos, uma visão romanceada das suas biografias, repleta de altos e baixos", revela.

O pesquisador diz que traba-lhos acadêmicos com essa temática precisam ser produzidos com mais frequência e ter mais visibilidade. "Fazer parte de uma geração que começou a produzir essas pesquisas com mais volume na UFPA, no Pará e na Amazônia é difícil e, ao mesmo tempo, valioso. Com essa semente plantada, espera-se que esses estudos ganhem volume e qualidade contí-nua", conclui.

Paulo Henrique Gadelha

A discussão sobre diversidade sexual tem ganhado desta-que em diversos setores da

sociedade: dos Poderes Legislativo e Executivo até as telenovelas. A temática chegou às universidades. Na Universidade Federal do Pará (UFPA), recentemente, duas disser-tações foram defendidas no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, área de concentra-ção em Antropologia, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Instituição. Uma delas é intitulada Encontros e desencontros: uma etnografia das relações entre homens homossexuais em espaços de sociabilidade homossexual de Belém, Pará, orientada pela professora Cris-tina Donza Cancela.

"O trabalho procurou compre-ender como é que se dava a dinâmica das relações entre homens homosse-xuais nas boates Lux e Malícia, as quais eram e ainda são dois importan-tes espaços de sociabilidade gay em Belém", diz Ramon Pereira dos Reis, antropólogo, autor do trabalho.

Para traçar esse panorama, Ramon Reis visitou, sistematica-

A busca pelo �parceiro ideal

Estabilidade financeira é requisito valorizado �

Aspectos como idade, classe social e performatividade podem influenciar nas escolhas e expecta-tivas dos frequentadores dos dois ambientes. "A intenção era constatar se o fato de um homem homossexual frequentar a Lux ou a Malícia tinha ligação direta com a busca por parcei-ros", complementa Ramon Reis.

A fim de ilustrar e enriquecer a sua análise, o pesquisador abordou pessoas nos dois ambientes, com as quais manteve conversas informais. A partir disso, realizou a "etnografia da intimidade", entrevistando – em momento e lugares diferentes – nove frequentadores.

O critério de seleção dos inter-locutores se deu a partir da variação sociocultural. Foram entrevistados negros, brancos, jovens, idosos, pessoas de diversas classes sociais e performatividade de gênero. As-sim, seria possível entender como os frequentadores se movimentavam no "trânsito homoerótico", traçando estratégias para atrair determinado indivíduo, na busca por um parceiro ideal.

O antropólogo diz que as duas boates apresentavam nítidas diferen-ças entre si. "A Lux era concebida como um lugar desvalorizado, ‘ba-gaceiro’ e prestigiado pelas chamadas ‘bichas pererecas’. Esses frequen-tadores eram jovens, residiam em bairros periféricos, apresentavam performatividade de gênero predo-minantemente feminina e possuíam baixo poder aquisitivo. Diante dessa condição, essas pessoas apenas po-diam consumir produtos populares e tinham dificuldade de acesso a outros bens. Esse conjunto de fatores conferia à Lux um status negativo", considera o pesquisador.

A boate Malícia era frequen-tada por médicos, advogados, jor-nalistas e publicitários, sujeitos que exerciam profissões valorizadas. "A Malícia era considerada um ambiente ‘fino’, exemplo de sofisticação e bom gosto. Nela, transitavam as chamadas ‘bichas finas’, consumidoras de grifes, que procuravam manter a discrição", reforça Ramon Reis.

Uma situação recorrente é a constituição do "parceiro em poten-cial". De acordo com essa categoria, se um homossexual, frequentador de

um dos espaços, não estiver dentro do padrão de beleza convencional, mas, se for estável financeiramente e pos-suir bens materiais, como um carro, torna-se um "parceiro em potencial". Essa situação configura-se porque esse indivíduo, detentor de poder aquisitivo, passa a ser um chamariz para quem está em busca de parceiros, para relacionamentos duradouros ou efêmeros.

A busca por parceiros foi outra questão que acompanhou o autor durante a pesquisa. "Entre os nove

entrevistados, apenas um reconheceu que o principal motivo para ir às bo-ates era a oportunidade de encontrar alguém para namorar. Os demais interlocutores tentavam camuflar essa intenção argumentando que a possibilidade de dançar e encontrar amigos era o que chamava a atenção nesses ambientes. A busca por parcei-ro, quando mencionada, era sempre a última resposta. Contudo percebia-se a sensação de felicidade e recompensa por ter encontrado um par", finaliza Ramon Reis.

Circuito envolve bairros centrais e periféricos de Belém �

mente, de agosto de 2010 a agosto de 2011, os dois lugares de lazer e sociabilidade, os quais funciona-vam, na época da pesquisa, no bairro Reduto, na capital paraense, e eram separados por apenas um quarteirão. Nas boates, o antropólogo observou os comportamentos e os perfis dos

sujeitos. Essas observações, segundo ele, foram realizadas baseadas em aspectos interseccionais, a saber: ge-ração ou idade, classe social e perfor-matividade de gênero, que é a forma como os indivíduos manifestam a sua identidade de gênero, entre os polos masculino e feminino.

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Açaí pode prevenir doenças cardiovasculares Pesquisa investiga febres hemorrágicas Alimento deve ser consumido puro, sem açúcar ou outros ingredientes UFPA é responsável por mapear o perfil genético de pacientes com dengue

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Claudine Feio afirma que o estudo pode ser estendido às pessoas obedecendo a certas condições: o alimento deve ser consumido sem adição de açúcar, farinha e outros ingredientes. "O açaí deve ser con-sumido puro para, desta forma, agir como um suplemento alimentar que proteja contra doenças cardiovascula-res. A adição de ingredientes como o açúcar ou a farinha deixam o alimento hipercalórico, atenuando, deste modo, sua ação benéfica," explica.

A professora afirma, também, que, dentro dessas condições, o açaí consumido diariamente e de forma moderada traz inúmeros benefícios para a saúde. Segundo ela, para uma

pessoa que pese em média 60 Kg, o consumo ideal seria em torno de 300g de açaí todos os dias. "O açaí é rico em sais minerais, zinco, mag-nésio, ferro, então, não é necessário adicionar nenhum outro elemento. Como em nosso Estado o consumo de açaí é elevado, esta pesquisa sugere uma ótima notícia para a população," festeja.

A pesquisadora defende que o alimento faça parte da merenda escolar. "Atualmente, os alunos consomem macarronada, feijão com charque e outros alimentos gordu-rosos que induzem a elevação do colesterol. Por que então não usar o açaí, sem exagero, como lanche nas

escolas, já que ele traz tantos benefí-cios para a saúde? Nutricionalmente, é melhor, e, economicamente, é até mais viável," propõe.

Para aqueles que deixaram de consumir o açaí por medo da doença de Chagas, a professora esclarece: não há relação direta entre a fruta e a doença. "Normalmente, os surtos da doença de Chagas acontecem quando a lavagem do açaí não é feita corretamente. Assim como acontece no Pará, acontece em outros Estados com o caldo de cana, o suco de goia-ba, entre outros alimentos. Então, o problema é a falta de higiene e não o fruto," afirma.

Segundo Claudine Feio, além

da importância alimentar, como su-plemento, o consumo elevado tam-bém beneficiaria a economia local. "Muitas vezes, pessoas de outros Estados e até de outros países valori-zam mais nossos alimentos do que nós que os temos com tanta facilidade. Precisamos começar a valorizar o que é nosso," conclui.

Saiba mais – O mal de Chagas é uma doença infecciosa causada pelo pro-tozoário Tripanosoma cruzi, que pode ser adquirida pelo contato com as fezes do barbeiro. Entre os principais sinto-mas, estão febre, inchaço e problema cardíaco, que, em estado avançado, leva o paciente à morte.

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Puro, com farinha, peixe frito ou camarão, a polpa do açaí está diariamente no cardápio dos

paraenses e também alimenta uma cadeia produtiva que começa nas pro-priedades ribeirinhas e segue até a dis-tribuição para o mercado internacional. O que nem todos conhecem são os benefícios que o alimento pode trazer à saúde. A pesquisa realizada pela pro-fessora Claudine Maria Alves Feio, do Instituto de Ciências da Saúde da Uni-versidade Federal do Pará, comprovou que o açaí pode atuar na prevenção de

doenças cardiovasculares.As doenças cardiovasculares

(DCV) são responsáveis por, apro-ximadamente, 50% das mortes em países ocidentais. Estima-se que dois terços das mortes por DCV ocorram em países em desenvolvimento, como o Brasil, taxa que corresponde ao dobro da taxa observada em países desenvolvidos.

No País, a principal causa de morte ainda é o acidente vascular cerebral (AVC), entretanto, em alguns locais, como o Estado de São Paulo, o perfil de mortalidade se assemelha ao de países mais desenvolvidos, ou

seja, a maior mortalidade decorre da doença aterosclerótica ou doença arterial coronariana, que é caracteri-zada pelo estreitamento dos vasos que suprem o coração em decorrência do espessamento da camada interna da artéria devido ao acúmulo de placas de gordura.

A doença aterosclerótica se de-senvolve em virtude de depósitos de gordura, colesterol, cálcio, colágeno e outros materiais sobre a parede das artérias, formando placas, que podem crescer restringindo o fluxo sanguíneo ou podem se romper levando à forma-ção de coágulos que podem ocasionar

a obstrução do fluxo sanguíneo e, em última análise, o infarto.

O Brasil é o maior produtor, consumidor e exportador de açaí, bebida rica em gorduras mono e poli-insaturadas, fitosteróis, antioxidantes e fibras. Um litro de açaí do tipo médio contém 33 vezes mais antocianinas do que um litro de vinho tinto, por exemplo. A bebida é normalmente co-mercializada à temperatura ambiente ou na forma congelada. Predominante na Região Norte, o Pará é responsável por 95% da produção de açaí do País, calculada em 100 a 180 mil litros/dia só em Belém.

Brasil é o maior produtor, consumidor e exportador de açaí. A bebida é rica em gordura mono e poli-insaturadas, antioxidantes e fibras

Ação vasodilatadora, anti-hipertensiva e anti-inflamatória �"Nós ingerimos o açaí, mas não

temos noção do valor nutricional que ele tem. Apesar de possuir um alto teor de gorduras, a maioria é de boa qualidade (60%, são monoinsaturadas e 13% são poli-insaturadas), que são gor-duras benéficas ao organismo, porque diminuem os níveis de colesterol LDL (colesterol ruim) e ajudam a aumentar os níveis de colesterol HDL (colesterol bom), auxiliando, assim, na proteção do sistema cardiovascular", explica a professora Claudine Feio, que defendeu tese de doutorado sobre o tema na Esco-la de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).

De acordo com a professo-ra, o alimento também tem ação vasodilatadora, anti-hipertensiva, anti-inflamatória, além de reduzir as desordens metabólicas. "O açaí é uma fruta de grande valor energético, rico em valores nutricionais e até mesmo funcionais. A sua ingestão deve ser o mais natural possível e em substituição a pequenas refeições", afirma.

O estudo foi desenvolvido durante três anos, com 30 coelhos da raça Nova Zelândia, os quais permaneceram 15 dias em adaptação. Após este período, foram coletados

10 ml de sangue total para as dosa-gens laboratoriais basais, ou seja, em condições normais, com menor possibilidade de interferência. A ração consumida anteriormente foi substituída por uma ração enrique-cida com colesterol a 0,5%, para indução do aumento do colesterol no sangue dos animais e consequente desenvolvimento de aterosclerose, por um período de três meses. Após novas determinações laboratoriais e verificação dos níveis de colesterol, os animais foram aleatoriamente alocados em dois grupos, o grupo I (açaí) e o grupo II (controle).

Os dois grupos continuaram a receber dietas enriquecidas com co-lesterol. Para o grupo I, foi adicionado 80 ml de açaí/dia e água, e para o gru-po II, somente água. Após 12 semanas deste tratamento, foi realizada nova coleta de sangue para avaliação dos parâmetros. Nesse momento, os ani-mais foram sacrificados, retirando-se a artéria aorta em toda a sua extensão para quantificação da área ocupada por placas de gordura. A aterosclerose induzida pela dieta rica em colesterol foi significantemente atenuada na ar-téria aórtica dos coelhos que tiveram açaí em suas dietas.

Professora indica consumo de 300g de açaí todos os dias � Por meio de inúmeros testes, le-vando em consideração os dados clínicos e genéticos, o Laboratório de Genética Humana e Médica, do ICB, chegou a dois resultados principais: "Encontramos um fator genético muito importante, o qual serve de proteção. Assim, o indivíduo infectado pelo vírus da dengue, com essa característica, tem uma chance menor de manifestar a doença. Outro fator genético encontrado é o que trabalha modulando o quão exuberante vai ser o quadro clínico de pacientes que apresentam a dengue clássica", revela Eduardo Santos.

Segundo o pesquisador, a den-gue figura entre as principais doenças, transmitidas por insetos, em número de incidência no mundo. De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde, há mais de dois bilhões de pessoas no

Planeta vivendo em regiões suscetíveis ao contato com o vírus, e mais de 200 milhões de indivíduos que apresentam alguma forma da doença.

"Essas regiões vulneráveis à dengue são as de área tropical, a única por onde o mosquito circula. Os países localizados nela são economicamente pouco privilegiados e apresentam servi-ços básicos, como a saúde, deficientes. Além disso, muitos governos priorizam outros problemas, considerados, em determinados contextos, mais sérios. Por isso, a dengue configura-se como uma doença negligenciada", analisa o professor.

Pesquisas – O docente ressalta que a negligência em relação à dengue é reforçada por outros países. De acordo

com ele, países desenvolvidos, a maio-ria localizada fora da faixa de risco de exposição ao vírus, tem preocupação e interesse menores em realizar estudos sobre a doença.

Eduardo Santos ressalta que a melhor proteção contra a dengue é o controle da proliferação do mosquito com medidas simples, como manter totalmente fechadas cisternas e caixas d’água e não acumular latas, pneus e garrafas, especialmente, durante os pe-ríodos chuvosos.

O docente acredita que a pesquisa sobre dengue permitirá a realização de tratamentos direcionados aos indivíduos infectados com o vírus e acometidos pela doença, de acordo com o quadro da infecção e da evolução da enfermidade. "Mas tudo o que se puder produzir, re-

sultante das pesquisas executadas, como medicamentos novos e testes preditivos para saber qual tipo de dengue o indivíduo apresenta, significa um custo. Assim, com certeza, é recomendável nunca esquecer a implementação de ações preventivas eficazes", finaliza Eduardo Santos.

Saiba mais – Além do Laboratório de Genética Humana e Médica, integram o Projeto o Laboratório de Neuroanatomia, também do ICB, coordenado pelo profes-sor Cristovam Diniz, e os Laboratórios de Farmacodinâmica e de Epidemiologia Molecular da Universidade Estadual de Santa Cruz, na Bahia, e o Laboratório de Patologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Já o Instituto Evandro Chagas, setor de Arbovirologia, é responsável por três subprojetos.

Paulo Henrique Gadelha

Os indivíduos picados pelos mosquitos Aedes aegypti e Ae-des albopictus, transmissores

do vírus da dengue, podem manifestar sintomas variados da doença, bem como apresentar qualquer uma das modalidades da enfermidade, ou seja, a clássica, a hemorrágica ou a severa. Outra possibilidade, como decorrência do contato com o mosquito infectado, é o indivíduo não manifestar sintomas da doença mesmo inoculado com o ví-rus. Assim, quais serão os fatores que determinam a manifestação ou não da dengue em suas diferentes formas?

Essas são algumas das questões estudadas no Projeto Instituto Nacio-nal de Ciência e Tecnologia para Fe-bres Hemorrágicas Virais, coordenado pelo pesquisador Pedro Fernando da Costa Vasconcelos, do Instituto Evandro Chagas (IEC). A iniciativa, sediada e executada no Instituto, conta com a parceria de cinco laboratórios, os quais desenvolvem pesquisas, por meio de sete subprojetos, no âmbito das febres hemorrágicas virais que ocorrem no Brasil – dengue, febre amarela, hepatites virais B e D, hantaviroses e patologia das febres hemorrágicas virais.

O Laboratório de Genética Humana e Médica do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Uni-

Dengue: o mapeamento genético vai ajudar a direcionar o tratamento de acordo com o perfil do paciente

versidade Federal do Pará (UFPA) é um desses parceiros. Sob a res-ponsabilidade do professor Eduardo José Melo dos Santos, o Laboratório desenvolve o Subprojeto Desenvol-vimento de estudos genéticos para associação de polimorfismo de genes

KIR e seus grupos de ligantes HLA-C com Dengue.

Eduardo Santos afirma que a pesquisa busca "conhecer quais são os fatores genéticos presentes no hospedeiro, os quais diferenciam um indivíduo do outro e determinam ou

não o desenvolvimento da dengue no organismo infectado pelo vírus. O es-tudo também objetiva identificar quais fatores influenciam o aparecimento de uma forma mais branda ou grave da enfermidade, ou seja, a modulação da evolução da doença".

Foram realizados exame laboratorial e estudo genético �De acordo com o Ciclo da

Dengue, o vírus, que é transmitido pela picada do mosquito infectado, acomete células da pele e, posterior-mente, replica-se pelo organismo do hospedeiro, infectando várias outras células. Assim, com a inoculação do vírus, os indivíduos podem ou não desenvolver a doença. Caso manifes-tem, a enfermidade pode ser a clássica (a mais comum), a hemorrágica (com sangramento em várias regiões do cor-po, como na gengiva e na área nasal, e pode levar à morte) ou a severa, que engloba a hemorrágica e configura-se

pela síndrome de choque pela dengue, desencadeada pela queda da pressão arterial, também pode ser fatal.

Em relação a esses tipos, o pro-fessor diz que, dentro da modalidade clássica, podem existir variações de sintomas. "Quem manifesta a forma mais comum da dengue pode ter alguns ou todos os sintomas, como febre, vô-mito, dores na cabeça, nos músculos, nas articulações e coceira", explica Eduardo Santos.

Conforme explica o coordena-dor, ao se conhecer os fatores genéticos que influenciam na manifestação da

doença em um indivíduo, é possível sinalizar se esta pessoa, por exemplo, tem mais chances de desenvolver a dengue clássica ou hemorrágica. Com a identificação do tipo, a partir das características genéticas do paciente, é viável fazer considerações sobre a evolução do quadro clínico e, assim, oferecer um tratamento médico espe-cializado.

O Subprojeto é um estudo classi-ficado como Caso-Controle. De acordo com o professor, com esta metodologia, é realizada a comparação entre grupos de pessoas. Assim, para a pesquisa,

foram considerados três grupos: o primeiro foi composto por indivíduos que não estavam com dengue e nunca reportaram ter tido sintomas da doença; ao segundo, integraram-se pessoas com diagnóstico para a modalidade clássica e o terceiro grupo reuniu sujeitos com dengue hemorrágica. Participaram da pesquisa cerca de 220 indivíduos, abor-dados durante a visita ao atendimento médico no Instituto Evandro Chagas. Dessas pessoas, foram coletados dados clínicos laboratoriais e, posteriormente, fora realizado um estudo genético, com a extração do DNA.

Proteção está no contole da proliferação do mosquito �