Beira 105

6
Rosyane Rodrigues C ada vez mais, os temas do cotidiano estão ganhando espaço na Academia. A pesquisa realizada pela professora Telma Amaral Gonçalves, defendida no Programa de Pós-Gra- duação em Ciências Sociais, é um exemplo disso. Transformar o amor – tema corriqueiro e banal em tese de doutorado exige coragem. Em entrevista ao Jornal Beira do Rio, Telma conversou sobre a pesquisa que investigou parceiros heterossexuais e homossexuais das camadas médias urbanas de Belém. "Trabalhando os dois universos em conjunção, percebi que não há diferença. É evidente que existem as especificidades, mas, na vivência cotidiana do amor, o fato de serem dois homens, duas mulheres, um homem e uma mulher não é o elemento mais importante. A rotina, a di- visão de tarefas e as queixas são idênticas", afirma a professora. 12 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Junho/ Julho, 2012 O amor nosso de cada dia Discursos e práticas amorosas na contemporaneidade Entrevista ISSN 1982-5994 JORNAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ • ANO XXVI • N. 105 • JUNhO/ JULhO, 2012 Vacina contra amebíase em teste Moradores e turistas são público-alvo do Praia Limpa Com o Projeto de Extensão, pro- fessores e alunos da Faculdade de Oceanografia da UFPA estão desen- volvendo ações de conscientização socioambiental ao longo da zona costeira paraense. Pág. 3 Meio ambiente Praia de Cotijuba será atendida com ações do Projeto S egundo a Oganização Mundial de Saúde (OMS), 50 milhões de pessoas são diagnosticadas com amebíase todos os anos. A ameba intestinal é a segunda causa de morte por doenças parasitárias, ficando atrás apenas da malária. Dados do Núcleo de Medicina Tropical (NUMET) da UFPA indicam que cerca de 29% da população paraense hospeda o parasito. Diante desse cenário, o NUMET estabeleceu par- ceria com o Weizmann Institute, de Israel, para realizar os primeiros testes da vacina contra a amebíase humana. Pág. 7 Infosaberes Intercâmbio Projeto promove inclusão digital Engenharia da Computação é premiada Pág. 5 52 bolsas para Doutorado Sanduíche Pág. 9 Coluna traz artigo da professora Luanna Tomaz sobre Direito Penal e Democracia. Pág. 2 Opinião Entrevista Pró-Reitor Emmanuel Tourinho discute os desafios da pós- graduação na UFPA. Pág. 2 Telma Amaral fala sobre discursos e práticas amorosas na contemporaneidade. Pág. 12 Coluna da Reitoria Belle Époque ganha roteiro especial Depois de passear pelas ruas da Cidade Velha e pelas barracas do Ver-o-Peso, o Grupo de Pesquisa em Geografia do Turismo da UFPA propõe roteiro a pé pelos símbolos do Ciclo da Borracha Pág.4 "Geo-turismo" Theatro da Paz (foto), Edifício Manoel Pinto da Silva e o Cinema Olympia estão no roteiro Saúde Pesquisa ICB faz mapa da hanseníase no Estado Além de portadores da doença, também foram examinadas pessoas que compõem a rede de contatos e alunos da rede pública. Pág. 10 Copaíba é anti- -inflamatório e neuroprotetor Pesquisa com ratos indica que o óleo de copaíba tem bons resultados para tratamento de doenças do sistema nervoso central. Pág. 6 ALEXANDRE MORAES ALEXANDRE MORAES ALEXANDRE MORAES FOTOS KAROL KHALED Beira do Rio – O antropólogo Anthony Seeger diz que a escolha dos temas é uma escolha pessoal. No seu caso, o amor sempre esteve presente na sua trajetória acadêmica, não? Telma Amaral – No mestrado, eu pesquisei o ca- samento. Na época, eu estava às vésperas de casar, então, esse era um incômodo pessoal. E pesquisan- do o casamento, o amor se colocou, pois, para falar de casamento, as pessoas falam de amor. É quase um critério básico: para casar, tem que amar. Na época, escrevi um capítulo sobre isso. No doutorando, para vincular os temas e dar uma continuidade ao trabalho anterior, lembrei-me do amor. Sem contar que esse tema tem a ver com a nossa vida. Afinal, o que é o amor? Ele se constrói ou não? Como é no dia a dia? Também é um tema pouco discutido academicamente. Mas por que ninguém discute o amor? Porque amor é coisa do cotidiano, é o clichê, todo mundo ama e fala de amor. Por ser tão banali- zado, ele é pensado como não acadêmico. Existem alguns trabalhos nos campos da Antropologia e da Sociologia, mas não são muitos. São temas que estão "ao redor" do amor, como conjugalidade, fa- mília, vínculos, sexualidade. Decidi fazer o inverso. Na minha pesquisa, o amor é o tema central. Beira do Rio – Antes de partir para o campo, fizeste uma revisão das referências sobre o amor. Quais fo- ram as descobertas nesse momento da pesquisa? Telma Amaral – Eu trabalhei referências da Antropo- logia, da Sociologia. Algumas no campo da História e da Psicologia. Na Antropologia, mostrei que os clás- sicos já apontavam para o estudo da relação afetiva, desde Malinowisk, com A vida sexual dos selvagens e Margaret Mead, com Sexo e Temperamento. Esses dois antropólogos já tinham a preocupação com es- ses temas considerados "menores" diante dos temas clássicos: religião, organização social, parentesco e magia. Mais recentemente, você tem uma leva de estudos, entre os quais, eu destaco os da Maria Luiza Heilborn e os da Marlise Matos. Um dado interessante é que esses pesquisadores não incorporam só o uni- verso heterossexual. Quando se pensava em amor, era sempre a relação homem- mulher, e esses novos trabalhos discutem o amor entre homem e mulher, homem e homem, mulher e mulher. Essa foi uma percepção que eu também tive. Não dá mais para falar da vida social sem enxergar essas variações. Beira do Rio – A contemporaneidade permite outras formas de amar? Telma Amaral – Sim, permite. Essa discussão está em pauta, diferente de algumas décadas atrás. Não dá para ignorar esse universo tão amplo como o termo "homoafetivo" contempla. Hoje, é possível ver as pessoas expressando o afeto, que, no universo hete- rossexual, sempre foi uma marca registrada. Amar implica pegar, beijar, abraçar, falar sobre o amor. No universo homossexual, devido ao forte preconceito, há um tabu que proíbe a manifestação pública desse afeto. Todos os entrevistados colocaram claramente esta dificuldade. E eles incorporam esse discurso do "não pode" dizendo que é preciso "se dar ao respeito" e respeitar as pessoas. Assim, eles encontram estra- tégias para fugir do preconceito, mas de uma forma terrível, pois inibem aquilo que o amor tem de mais forte: a manifestação do sentimento amoroso. Por outro lado, os mais jovens têm se mostrado muito mais corajosos e ousados. Beira do Rio – Letras de músicas foram usadas para nomear os capítulos. Músicas, cinema e literatura servem para nos "alfabetizar" nesse aprendizado sobre o que é o amor? Telma Amaral – Não foi essa a minha intenção. Eu quis romper um pouco o rigor acadêmico e trazer a linguagem da arte, que é menos formal. A percepção que as pessoas têm é que uma tese de doutorado é uma leitura inacessível. Ao incorporar a linguagem do cinema, da música e da poesia, eu quis tornar a leitura da tese fácil e agradável. Algumas músicas foram indicadas pelos entrevistados, pois marcaram a relação; outras foram selecionadas por mim. Os poemas também foram citados pelos entrevistados. A literatura é um campo que eu aprecio e acabei tra- zendo para o trabalho como estratégia para nomear as pessoas e manter o anonimato pedido por elas. Beira do Rio – Quais foram as práticas e os dis- cursos revelados? Telma Amaral – O amor é ponto de partida, mas ele vai sofrendo transformações ao longo do tempo. Daí, as práticas que eram comuns no namoro, como a troca de correspondências, presentes, beijos e abraços intermináveis, com o casamento, elas redu- zem. Ao serem perguntados sobre isso, eles se dão conta da mudança e elaboram um discurso que diz que o amor se constrói e se reconstrói, diariamente, na convivência. Práticas comuns na época do na- moro vão sendo deixadas de lado e substituídas por outras. Um entrevistado dizia que uma convivência tão intensa faz com que não sejam necessárias tantas cartas de amor, mas, por outro lado, se você não cuidar da relação, o amor tende a desaparecer. Eles usam a metáfora da planta que precisa ser regada para continuar viçosa, bonita e viva. Apontam o diálogo como uma ferramenta metodológica para você lidar com o dia a dia. O que não está bem precisa ser conversado. Esse "conversar sobre" é um elemento da contemporaneidade, não deixar as coisas acumularem. Trabalhando os dois universos em conjunção, percebi que não há diferença. É evidente que existem as especificidades, mas, na vivência cotidiana do amor, o fato de serem dois homens, duas mulheres, um homem e uma mulher não é o elemento mais importante. A rotina, a divi- são de tarefas e as queixas são idênticas. Beira do Rio – Esses temas "menores" estão ga- nhando cada vez mais espaço? Telma Amaral – Sim, primeiro você tem que ter a ousadia de dizer que vai estudar esses temas e uma das formas de fazer isso é divulgando-os aos alunos. Por exemplo, ministrei uma disciplina voltada para Gênero, Afetividade e Sexualidade. Usei referências que normalmente são lidas na pós-graduação e, a partir dali, três alunos já me procuraram querendo escrever o Trabalho de Conclusão de Curso sobre esses temas. Ao ousar discutir o assunto e colocá- lo em pauta, abrimos um campo de debate desde a graduação.

description

Beira do Rio edição 105

Transcript of Beira 105

Page 1: Beira 105

Rosyane Rodrigues

Cada vez mais, os temas do cotidiano estão ganhando espaço na Academia. A pesquisa realizada pela professora Telma Amaral

Gonçalves, defendida no Programa de Pós-Gra-duação em Ciências Sociais, é um exemplo disso. Transformar o amor – tema corriqueiro e banal – em tese de doutorado exige coragem.

Em entrevista ao Jornal Beira do Rio, Telma conversou sobre a pesquisa que investigou parceiros heterossexuais e homossexuais das camadas médias urbanas de Belém. "Trabalhando os dois universos em conjunção, percebi que não há diferença. É evidente que existem as especificidades, mas, na vivência cotidiana do amor, o fato de serem dois homens, duas mulheres, um homem e uma mulher não é o elemento mais importante. A rotina, a di-visão de tarefas e as queixas são idênticas", afirma a professora.

12 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Junho/ Julho, 2012

O amor nosso de cada diaDiscursos e práticas amorosas na contemporaneidade

Entrevista

issn

198

2-59

94

JORNAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ • ANO XXVI • N. 105 • JUNhO/ JULhO, 2012

Vacina contra amebíase em teste

Moradores e turistas são público-alvo do Praia Limpa Com o Projeto de Extensão, pro-fessores e alunos da Faculdade de Oceanografia da UFPA estão desen-

volvendo ações de conscientização socioambiental ao longo da zona costeira paraense. Pág. 3

Meio ambiente

Praia de Cotijuba será atendida com ações do Projeto

Segundo a Oganização Mundial de Saúde (OMS), 50 milhões de pessoas são diagnosticadas com amebíase todos os anos. A ameba intestinal é a segunda causa de morte por doenças parasitárias,

ficando atrás apenas da malária. Dados do Núcleo de Medicina Tropical

(NUMET) da UFPA indicam que cerca de 29% da população paraense hospeda o parasito. Diante desse cenário, o NUMET estabeleceu par-ceria com o Weizmann Institute, de Israel, para realizar os primeiros testes da vacina contra a amebíase humana. Pág. 7

Infosaberes

Intercâmbio

Projeto promove inclusão digital

Engenharia da Computação é premiada

Pág. 5

52 bolsas para Doutorado Sanduíche

Pág. 9

Coluna traz artigo da professora Luanna Tomaz sobre Direito

Penal e Democracia. Pág. 2

Opinião

Entrevista

Pró-Reitor Emmanuel Tourinho discute os desafios da pós-

graduação na UFPA. Pág. 2

Telma Amaral fala sobre discursos e práticas amorosas

na contemporaneidade. Pág. 12

Coluna da Reitoria

Belle Époque ganha roteiro especialDepois de passear pelas ruas da Cidade Velha e pelas barracas do Ver-o-Peso, o Grupo de Pesquisa em Geografia do Turismo da UFPA propõe roteiro a pé pelos símbolos do Ciclo da Borracha Pág.4

"Geo-turismo"

Theatro da Paz (foto), Edifício Manoel Pinto da Silva e o Cinema Olympia estão no roteiro

Saúde

Pesquisa

ICB faz mapa da hanseníase no Estado Além de portadores da doença, também foram examinadas pessoas que compõem a rede de contatos e alunos da rede pública. Pág. 10

Copaíba é anti--inflamatório e neuroprotetorPesquisa com ratos indica que o óleo de copaíba tem bons resultados para tratamento de doenças do sistema nervoso central. Pág. 6

Ale

xAn

dre

Mo

rAes

Ale

xAn

dre

Mo

rAes

Ale

xAn

dre

Mo

rAes

Foto

s KA

rol

KhA

led

Beira do Rio – O antropólogo Anthony Seeger diz que a escolha dos temas é uma escolha pessoal. No seu caso, o amor sempre esteve presente na sua trajetória acadêmica, não?Telma Amaral – No mestrado, eu pesquisei o ca-samento. Na época, eu estava às vésperas de casar, então, esse era um incômodo pessoal. E pesquisan-do o casamento, o amor se colocou, pois, para falar de casamento, as pessoas falam de amor. É quase um critério básico: para casar, tem que amar. Na época, escrevi um capítulo sobre isso. No doutorando, para vincular os temas e dar uma continuidade ao trabalho anterior, lembrei-me do amor. Sem contar que esse tema tem a ver com a nossa vida. Afinal, o que é o amor? Ele se constrói ou não? Como é no dia a dia? Também é um tema pouco discutido academicamente. Mas por que ninguém discute o amor? Porque amor é coisa do cotidiano, é o clichê, todo mundo ama e fala de amor. Por ser tão banali-zado, ele é pensado como não acadêmico. Existem alguns trabalhos nos campos da Antropologia e da Sociologia, mas não são muitos. São temas que estão "ao redor" do amor, como conjugalidade, fa-mília, vínculos, sexualidade. Decidi fazer o inverso. Na minha pesquisa, o amor é o tema central.

Beira do Rio – Antes de partir para o campo, fizeste uma revisão das referências sobre o amor. Quais fo-ram as descobertas nesse momento da pesquisa?

Telma Amaral – Eu trabalhei referências da Antropo-logia, da Sociologia. Algumas no campo da História e da Psicologia. Na Antropologia, mostrei que os clás-sicos já apontavam para o estudo da relação afetiva, desde Malinowisk, com A vida sexual dos selvagens e Margaret Mead, com Sexo e Temperamento. Esses dois antropólogos já tinham a preocupação com es-ses temas considerados "menores" diante dos temas clássicos: religião, organização social, parentesco e magia. Mais recentemente, você tem uma leva de estudos, entre os quais, eu destaco os da Maria Luiza Heilborn e os da Marlise Matos. Um dado interessante é que esses pesquisadores não incorporam só o uni-verso heterossexual. Quando se pensava em amor, era sempre a relação homem- mulher, e esses novos trabalhos discutem o amor entre homem e mulher, homem e homem, mulher e mulher. Essa foi uma percepção que eu também tive. Não dá mais para falar da vida social sem enxergar essas variações.

Beira do Rio – A contemporaneidade permite outras formas de amar? Telma Amaral – Sim, permite. Essa discussão está em pauta, diferente de algumas décadas atrás. Não dá para ignorar esse universo tão amplo como o termo "homoafetivo" contempla. Hoje, é possível ver as pessoas expressando o afeto, que, no universo hete-rossexual, sempre foi uma marca registrada. Amar implica pegar, beijar, abraçar, falar sobre o amor. No universo homossexual, devido ao forte preconceito, há um tabu que proíbe a manifestação pública desse afeto. Todos os entrevistados colocaram claramente esta dificuldade. E eles incorporam esse discurso do "não pode" dizendo que é preciso "se dar ao respeito" e respeitar as pessoas. Assim, eles encontram estra-tégias para fugir do preconceito, mas de uma forma terrível, pois inibem aquilo que o amor tem de mais forte: a manifestação do sentimento amoroso. Por outro lado, os mais jovens têm se mostrado muito mais corajosos e ousados.

Beira do Rio – Letras de músicas foram usadas para nomear os capítulos. Músicas, cinema e literatura servem para nos "alfabetizar" nesse aprendizado sobre o que é o amor?Telma Amaral – Não foi essa a minha intenção. Eu quis romper um pouco o rigor acadêmico e trazer a linguagem da arte, que é menos formal. A percepção que as pessoas têm é que uma tese de doutorado é uma leitura inacessível. Ao incorporar a linguagem do cinema, da música e da poesia, eu quis tornar a

leitura da tese fácil e agradável. Algumas músicas foram indicadas pelos entrevistados, pois marcaram a relação; outras foram selecionadas por mim. Os poemas também foram citados pelos entrevistados. A literatura é um campo que eu aprecio e acabei tra-zendo para o trabalho como estratégia para nomear as pessoas e manter o anonimato pedido por elas.

Beira do Rio – Quais foram as práticas e os dis-cursos revelados? Telma Amaral – O amor é ponto de partida, mas ele vai sofrendo transformações ao longo do tempo. Daí, as práticas que eram comuns no namoro, como a troca de correspondências, presentes, beijos e abraços intermináveis, com o casamento, elas redu-zem. Ao serem perguntados sobre isso, eles se dão conta da mudança e elaboram um discurso que diz que o amor se constrói e se reconstrói, diariamente, na convivência. Práticas comuns na época do na-moro vão sendo deixadas de lado e substituídas por outras. Um entrevistado dizia que uma convivência tão intensa faz com que não sejam necessárias tantas cartas de amor, mas, por outro lado, se você não cuidar da relação, o amor tende a desaparecer. Eles usam a metáfora da planta que precisa ser regada para continuar viçosa, bonita e viva. Apontam o diálogo como uma ferramenta metodológica para você lidar com o dia a dia. O que não está bem precisa ser conversado. Esse "conversar sobre" é um elemento da contemporaneidade, não deixar as coisas acumularem. Trabalhando os dois universos em conjunção, percebi que não há diferença. É evidente que existem as especificidades, mas, na vivência cotidiana do amor, o fato de serem dois homens, duas mulheres, um homem e uma mulher não é o elemento mais importante. A rotina, a divi-são de tarefas e as queixas são idênticas.

Beira do Rio – Esses temas "menores" estão ga-nhando cada vez mais espaço? Telma Amaral – Sim, primeiro você tem que ter a ousadia de dizer que vai estudar esses temas e uma das formas de fazer isso é divulgando-os aos alunos. Por exemplo, ministrei uma disciplina voltada para Gênero, Afetividade e Sexualidade. Usei referências que normalmente são lidas na pós-graduação e, a partir dali, três alunos já me procuraram querendo escrever o Trabalho de Conclusão de Curso sobre esses temas. Ao ousar discutir o assunto e colocá-lo em pauta, abrimos um campo de debate desde a graduação.

Page 2: Beira 105

Coluna da REITORIA

BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Junho/ Julho, 2012 – 11

Tese discute ocupação e posseAutora afirma que debate sobre direito agrário precisa ser ampliado

O Sistema Nacional de Pós-Graduação (SNPG) tem experi-mentado mudanças notáveis no

que concerne às demandas a ele dirigi-das e aos resultados dele esperados. Tais mudanças guardam relação estreita com o processo de desenvolvimento recente no País, que depende muito fortemente da expansão da competência científica nacional para sustentar-se.

É possível falar de três ciclos des-sas mudanças mais recentes. O primeiro teve como foco a eficiência na formação de pesquisadores, medida principal-mente pelo tempo médio de titulação. A exigência de formação de mestres em vinte e quatro meses e doutores em quarenta e oito meses imprimiu um ritmo de trabalho em pesquisa marcado pela regularidade e pela otimização no uso da base instalada para a produção de conhecimento. Apesar das reações iniciais, hoje, essa referência de tempo de formação encontra-se assimilada pelo sistema.

Um segundo ciclo caracterizou-se pela exigência de eficiência na produ-ção de conhecimento, em um contexto de busca de maior visibilidade e impacto internacionais da ciência brasileira. As publicações, em quantidade e qualidade crescentes, tornaram-se uma meta fun-

damental, vindo a constituir-se como a principal referência para a avaliação dos cursos. Também aqui, estamos diante de um resultado da pós-graduação já assimilado pelo sistema, que se reco-nhece como voltado à formação de pesquisadores produtivos. Os desafios atuais nessa área consistem mais em evitar distorções da cultura da produ-tividade, que inflacionam números de publicações e, por vezes, comprometem o avanço efetivo da pesquisa.

Nos últimos anos, essa discus-são ganhou um novo ingrediente. Ante o descompasso entre a produção de conhecimento e sua apropriação na so-lução dos problemas do País, passou-se a demandar, também, a transferência de conhecimento de ponta para os setores não acadêmicos da sociedade. Processos produtivos e políticas públicas, princi-palmente, deveriam estar usufruindo da elevada competência científica al-cançada pelo País; no entanto evoluem à parte desse sistema ignorando suas potencialidades.

Algumas respostas às novas demandas começam a ser dadas pelos programas de pós-graduação. A preo-cupação com a integração das agendas de pesquisa às necessidades locais e regionais constitui a face mais visível

desse esforço. A pressão pelo investi-mento na inovação e pelo registro de patentes, cada vez mais presente, exige uma reflexão. Como regra, o desenvol-vimento de produtos e a obtenção de patentes são tarefas da indústria, não da Academia - algo diferente do que ocorre com o desenvolvimento de tecnologias sociais, geralmente iniciadas no ambien-te acadêmico e com respeito às quais não há preocupação com o registro de patentes. Mas a pós-graduação precisa, de fato, contribuir para a inovação no setor produtivo no País.

A formação de pesquisadores e a produção de conhecimento básico continuam sendo os principais resul-tados esperados da pós-graduação, até porque, sem universidades e institutos de pesquisa fortemente dedicados à ciência básica, nenhum país escala os degraus do desenvolvimento tecnoló-gico. A questão que se coloca é como articular essas funções básicas, sem comprometê-las, com a necessária contribuição à inovação.

Acompanhando a progressão das demandas dirigidas à pós-gradu-ação, a UFPA tem executado políticas que oferecem suporte aos cursos que buscam uma boa inserção no SNPG. A expansão da iniciação científica e

a criação do programa de iniciação ao desenvolvimento tecnológico, por exemplo, permitem alimentar os cur-sos de mestrado com um contingente maior de alunos que já chegam com os repertórios básicos de pesquisa e com interesse na inovação. O apoio financeiro para a publicação de artigos nas melhores revistas estrangeiras fa-vorece a visibilidade dos grupos locais. O incentivo à cooperação com grupos externos tem contribuído para a integra-ção crescente a programas de pesquisa de largo alcance. E o acompanhamento institucional da pós-graduação, com o auxílio de consultores externos, tem possibilitado o planejamento baseado em metas de excelência acadêmica, considerando-se todos os resultados esperados dos cursos.

O trabalho dos grupos de pesqui-sa na UFPA responde, de modo direto, pelos resultados da pós-graduação e requer políticas de apoio sintonizadas com as exigências do SNPG. Tais políticas precisam ser continuamente atualizadas, levando em conta o cenário externo em que a pós-graduação se de-senvolve e, ao mesmo tempo, a missão institucional de produzir e socializar co-nhecimento com vistas à transformação da realidade regional.

A Pós-Graduação e seus Desafios

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

2 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Junho/ Julho, 2012

Rua Augusto Corrêa n.1 - Belém/[email protected] - www.ufpa.br

Tel. (91) 3201-8036

cio

Fer

reir

A

O Grupo de Estudos e Pesquisas “Direito Penal e Democracia” foi criado em 2011, com o

objetivo de disponibilizar um espaço aberto e democrático, com a participa-ção efetiva de alunos (as), professores (as) e convidados (as), o qual viabilize a rediscussão da dogmática penal mostrando que o modelo positivista, tradicionalmente utilizado, precisa ser superado por outro, baseado na inter-pretação da Constituição e na análise crítica e interdisciplinar. O Grupo busca mostrar que a intervenção penal deve ser compreendida a partir dos postulados do Estado Democrático de Direito e dos princípios que o conformam.

É necessário lembrar que os principais diplomas repressivos hoje em vigor (Código Penal e Código de Pro-cesso Penal) datam da década de 1940 e foram concebidos em plena ditadura Varguista. Assim, as concepções que inspiraram os referidos diplomas são

de cunho autoritário, defendendo um modelo de intervenção penal máxima. Além disso, o sistema processual pe-nal adotado se respalda no paradigma inquisitório, com a centralização de todos os atos (principalmente a gestão da prova) na figura do juiz.

Porém a Constituição trilhou caminho bem diverso, propondo um modelo de Direito Penal de inter-venção mínima, por meio dos prin-cípios democráticos que impõem ao Estado a abstenção no uso da força. Isto é, a timidez punitiva, ao lado de uma necessária postura positiva na adoção de políticas públicas, a fim de atingir os problemas vitais da sociedade brasileira (saúde, edu-cação, segurança pública, moradia e emprego). Dito de outro modo: o Direito Penal não é instrumento de realização de políticas públicas, mas de garantia de direitos fundamentais do imputado. Esse é o paradigma traçado constitucionalmente.

A prevenção da criminalidade, desta forma, perpassa não apenas pela intervenção penal, mas também, fundamentalmente, pelas políticas sociais positivas. Daí a necessidade de remodelar a política criminal, a fim de estruturar soluções possíveis para lidar com a gravíssima questão da criminalidade em suas mais diversas formas (institucional, urbana, contra grupos vulneráveis e de violência contra o meio ambiente). Soluções es-sas que cumpram a função simbólico-punitiva, sem, contudo, comprometer a estrutura acusatória e democrática do Direito e do Processo Penal.

O Grupo de Estudos e Pesqui-sas “Direito Penal e Democracia” funcionará, então, como um instru-mento para incentivar o processo de produção científica, de integração in-terdisciplinar, de pesquisa e extensão por meio da realização de eventos e permanentes discussões acadêmicas.

Compreender e distinguir os

entrelaçamentos de processos com-plexos e diferenciados que perpassam o aparecimento da violência nas re-lações sociais em suas mais diversas formas é fundamental para a elabora-ção de políticas públicas de segurança e de prevenção à criminalidade mais eficazes.

Diversas palestras já foram realizadas e, para o próximo perío-do, estão programados debates so-bre patronato e justiça restaurativa. No próximo semestre, haverá um grande seminário com a apresenta-ção de trabalhos dos discentes e dos docentes. Para maiores informações do Grupo: www.direitopenaledemo-cracia.ufpa.br

Luanna Tomaz – professora do Instituto de Ciências Jurídicas, dou-toranda em Direito pela Universida-de de Coimbra e líder do Grupo de Estudos e Pesquisas “Direito Penal e Democracia”.

Alimentando o debate sobre Direito Penal e Democracia

kkkTerras públicas

Luanna Tomaz [email protected]ÃOKA

rol

KhA

led

Reitor: Carlos Edilson Maneschy; Vice-Reitor: Horácio Schneider; Pró-Reitor de Administração: Edson Ortiz de Matos; Pró-Reitor de Planejamento: Erick Nelo Pedreira; Pró-Reitora de Ensino de Graduação: Marlene Rodrigues Medeiros Freitas; Pró-Reitor de Extensão: Fernando Arthur de Freitas Neves; Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: Emmanuel Zagury Tourinho; Pró-Reitor de Desenvolvimento e Gestão de Pessoal: João Cauby de Almeida Júnior; Pró-Reitor de Relações Internacionais: Flávio Augusto Sidrim Nassar; Prefeito do Campus: Alemar Dias Rodrigues Júnior. Assessoria de Comunicação Institucio-nal Coordenação Luiz Cezar S. dos Santos; JORNAL BEIRA DO RIO Edição: Rosyane Rodrigues; Reportagem: Jéssica Souza (1.807-DRT/PA)/ Mayara Albuquerque/Paulo Henrique Gadelha/Pedro Fernandes/Rosyane Rodrigues (2.386-DRT/PE); Foto-grafia: Alexandre Moraes/Karol Khaled; Secretaria: Silvana Vilhena; Beira On-Line: Leandro Machado; Revisão: Júlia Lopes/Cintia Magalhães; Arte e Diagramação: Rafaela André/Omar Fonseca; Impressão: Gráfica UFPA; Tiragem: 4 mil exemplares.

Emmanuel Zagury Tourinho - Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação [email protected]

Recentemente, a Tese foi utili-zada em um processo judicial de rein-tegração de posse. Andréia Barreto também é defensora pública agrária do Estado do Pará e atua em 12 mu-nicípios do Estado, sendo Altamira a cidade polo. Em ações judiciais em que particulares disputam terras do Estado, a Defensoria Pública atua na defesa dos trabalhadores rurais.

"Este foi o caso da Fazenda Santa Helena, no município de Ana-pu. O particular propôs ação posses-sória contra as famílias residentes em uma gleba pública federal. Em recurso ao Tribunal de Justiça do Estado do Pará contra a decisão que concedeu medida liminar de reinte-gração de posse em favor desse par-ticular, aleguei prática de grilagem e

negativa de posse de terras públicas, a partir da Constituição Federal de 1988, entre outros fundamentos. O recurso não foi julgado, mas esta é a linha defensiva dos processos da Defensoria Pública em casos semelhantes a este", considera a pesquisadora.

Ainda sobre essa questão de aplicabilidade da pesquisa, levan-do-se em consideração o contexto amazônico, Andréia Barreto diz que tem atuado no caso da família Mi-litão, composta por ribeirinhos que moravam às margens do Rio Xingu e estavam em área de incidência de um dos canteiros de obra da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, em Altamira. Essa família, segundo ela, tinha uma produção de cacau

e vivia da terra até ser expropriada pelo Consórcio Construtor, este ano. A advogada não atuou no processo, e sim em outra ação que busca dar auxílio financeiro à família até que o processo, que tramita na Justiça Federal, seja concluído.

Segundo a pesquisadora, nesse processo judicial de desapropria-ção, a União manifestou interesse argumentando que as terras podem ser suas e, por isso, nesse caso, não haveria indenização. Para a advoga-da, o Estado deveria ter promovido o reconhecimento do território dos ribeirinhos antes da desapropriação. "Se isso se reproduzir sistematica-mente na Amazônia, daqui a pouco, as populações ribeirinhas, impacta-das por grandiosos empreendimentos

energéticos, viverão em completa marginalidade. No caso da família Militão, trata-se de direito à posse e não se aplica o entendimento de que não cabe posse de terras públicas", critica.

Para a pesquisadora, os insti-tutos do Direito Agrário precisam ser melhor compreendidos pelos juristas. Ela considera que houve muitos avanços neste aspecto, mas ainda se encontram posições que se pautam exclusivamente no direito civil para discutir a ocupação de terras rurais. "Considero que essa visão está ultra-passada. Olhar para a realidade rural brasileira significa enxergar uma diversidade social e isso, no espaço rural, precisa de tratamento particula-rizado", conclui Andréia Barreto.

Paulo Henrique Gadelha

É possível ter a posse de terras públicas? Se tais terras são pú-blicas, qualquer pessoa pode

ter acesso e usufruí-las ou há regras e leis que restrinjam esse acesso? Tais questionamentos estão presentes na Tese Detenção agrária de terras públicas: implicações jurídicas na regularização fundiária, defendida pela advogada Andréia Macedo Bar-reto, no âmbito do Programa de Pós- -Graduação em Direito do Instituto de Ciências Jurídicas (ICJ) da Uni-versidade Federal do Pará (UFPA).

"Com esta pesquisa, busquei analisar, juridicamente, as diver-sas formas de ocupação das terras públicas no espaço rural. O estudo centrou-se na pluralidade de posses: por populações indígenas e quilom-bolas, por agroextrativistas e por posse agrária. O trabalho debruçou-se, também, nas hipóteses tidas como negativa da posse, mas centrada nos institutos do direito agrário. Assim, o que denomino, ao longo da Tese, de detenção agrária é a negativa da posse agrária", esclarece a pesqui-sadora.

De acordo com Andréia Bar-reto, no Brasil, durante o Período Colonial, ocupar terras públicas im-plicava direito à posse, e o Estado era obrigado a fazer o reconhecimento. Contudo esse mecanismo foi sendo restringido ao longo do tempo e

Comunidade do Paratizão, em Altamira, é um dos locais de atuação da defensora pública Andréia Barreto

sofreu sensíveis mudanças com a Constituição Federal de 1988, ponto de partida da Tese.

"A partir da Constituição de 1988, passa a ser negada a posse agrária pelo ato exclusivo do parti-cular. Assim, é o Poder Público quem

controla a destinação de suas terras, cabendo ao Estado o reconhecimen-to da ocupação. Esse mecanismo corresponde à detenção agrária, ou seja, o sujeito detém a propriedade rural pertencente ao Poder Público, realiza nela uma atividade econômica

agrária, mas o reconhecimento da posse perpassa pelo controle e pela competência do Estado. As popu-lações quilombolas, indígenas ou tradicionais agroextrativistas estão excluídas desse conceito de detenção agrária", diz a autora.

hoje, Usucapião rural só é aplicado entre particulares �Segundo Andréia Barreto, é

comum um particular ocupar terras públicas e permanecer nelas por anos. Antes da Constituição de 1988, esse ocupante poderia ingressar com uma ação judicial, requerer o reconhecimen-to da posse e adquirir a propriedade por meio da ação de usucapião – obtenção de um bem móvel ou imóvel, por um cidadão, devido à utilização deste bem por um lapso temporal. Contu-do, após a Constituição, esse tipo de ação passou a ser proibida para terras

públicas. Atualmente, de acordo com Andréia Barreto, a ação de usucapião rural só se aplica entre particulares, que necessitam solicitar a regularização diretamente ao Poder Público e não à Justiça.

Outro ponto destacado no estudo é que existem critérios distintivos entre a posse agrária e a detenção agrária. Nesse sentido, quando há um indivíduo que ocupa terras públicas, é verificado se essas propriedades foram retira-das do patrimônio público de forma

apropriada. Para isso, de acordo com a pesquisadora, é realizado um levan-tamento fundiário. Se for confirmado que as terras são públicas, analisa-se a viabilidade do ocupante permanecer no local, respeitando algumas exigências legais, como a dimensão do imóvel e a utilização econômica da terra.

"Esses requisitos dizem res-peito à posse agrária. Na ocupação de terras públicas pertencentes à União, localizadas na Amazônia Legal, por exemplo, se o ocupante estiver na área

de mais de mil e quinhentos hectares e não desenvolver nenhuma atividade econômica nesse local, ele não terá sua ocupação regularizada oficialmente. Assim, o Poder Público pode retomar sua propriedade. Mas, se for verificada a possibilidade de permanência, com o cumprimento de todos os requisitos, o Poder Público garante a ocupação e expede documento que determina a posse ou a propriedade, conforme o caso. Assim, as terras passam de públicas a privadas", diz.

Resultados já foram utilizados em ação em Anapu �

Acer

vo d

o P

roje

to

Page 3: Beira 105

10 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Junho/ Julho, 2012 BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Junho/ Julho, 2012 – 3

Praia limpa o ano inteiro Projeto realiza ações de educação ambiental no litoral paraense

ICB realiza pesquisa sobre hanseníase Resultados estimam 60 mil novos casos nos próximos 20 anos

Meio ambienteSaúde

Turistas e moradores de Mosqueiro (foto), Cotijuba, Joanes, Salinas e Algodoal receberão visitas da equipe do Projeto

Pedro Fernandes

Em vigor desde 2010, o Projeto de Extensão "Praia Limpa", da Faculdade de Oceanografia

da Universidade Federal do Pará (UFPA), realiza ações de conscien-tização socioambiental em praias de zonas costeiras no Pará. A novidade é que, este ano, o Projeto passou a inte-grar o Programa de Proteção à Zona Costeira Amazônica (PPZCA), apoia-do pelo Ministério da Educação.

A partir de suas ações, o Pro-jeto visa incentivar os moradores das

comunidades visitadas a refletirem sobre as questões socioambientais, principalmente as que dizem respeito ao saneamento básico, ao uso e reuso da água e à reciclagem de resíduos sólidos. E, ainda, estimulá-los a pro-por soluções exequíveis a estas e a outras questões coletivas. A proposta é uma educação ambiental tanto para os frequentadores quanto para as po-pulações locais, principalmente nos períodos de alta estação, quando o número de visitantes e de produção de resíduos sólidos aumenta.

Em 2012, o Projeto atuará

em Outeiro, Mosqueiro, Cotijuba, Breves, Soure, Algodoal, Ajuruteua, Salinas, Joanes e na Ilha Longa. As ações são realizadas por professores e alunos da UFPA, principalmente do Instituto de Geociências (IG). Antes de chegar ao local, é feito um levantamento das características e dos problemas socioambientais da comunidade visitada. As ações devem envolver características e questões próprias de cada localidade.

Para abordar temas como a coleta seletiva e a reutilização de resíduos sólidos, os bolsistas utilizam

instrumentos lúdicos e pedagógicos. Entre eles, teatro, gincanas, salas de desenho livre, palestras, debates e oficinas de reciclagem. O objetivo é tornar o ambiente mais limpo e sau-dável e, assim, melhorar a qualidade de vida das pessoas.

"Planejamos atividades volta-das para as crianças, como uma peça infantil com personagens folclóricos, típicos da região, Curupira, Matinta Pereira, Boto e Mãe d'água", explica Marcelo Rollnic, professor da Fa-culdade de Oceanografia da UFPA e coordenador do Projeto.

Hoje, 20 alunos da Universi-dade são colaboradores. O Projeto possibilita que eles façam uma análise crítica dos problemas socioambientais e compreendam as dificuldades inerentes à área em que irão atuar. Além disso, permite que eles troquem conhecimen-tos e experiências com as pessoas das

comunidades visitadas."Aprendemos a ser gestores,

identificando problemas e tentando resolvê-los. Também aprendemos a tratar um tema específico a partir de diversas abordagens e a lidar com públi-cos diferenciados ", conta Antônio Der-gan, aluno do curso de Oceanografia da

UFPA e bolsista do "Praia Limpa"."Os alunos estão aprendendo

e colaborando. Estão empolgados, propondo e executando ideias, como a peça teatral e algumas oficinas de reciclagem. Além disso, esse contato com a comunidade e com o próprio meio ambiente está sendo proveitoso.

Ao conversar com pescadores e com populações tradicionais, as quais pre-senciaram as mudanças sofridas pelas praias ao longo dos anos, eles adquirem muitos conhecimentos. São informa-ções que contribuem para a formação profissional e cidadã", finaliza Marcelo Rollnic.

Experiência: bolsistas valorizam trocas com comunidade �

A atividade teatral é usada com o objetivo de deter a atenção do público e direcioná-lo para os temas abordados pelo Projeto. Nas escolas, é encenada a peça "O lixo da gente", nas praias, alguns autos são repre-sentados para transmitir mensagens educativas aos banhistas. Gincanas também são usadas como ferramenta de conscientização e mobilização do público. Por meio do jogo de

perguntas e respostas, brincadeiras e prêmios, as diretrizes do Projeto são apresentadas aos participantes. A intenção é incentivar a participação da comunidade.

Outra ação são as salas de desenho livre, que estimulam a cria-tividade das crianças e possibilitam o entendimento das questões locais. Para que os pais dessas crianças tam-bém participem das ações, as salas de

desenho são realizadas paralelamen-te à programação adulta.

Para obter informações socioe-conômicas das localidades escolhidas, os integrantes do Projeto entrevistam os moradores com o auxílio de questio-nário semiestruturado, composto por perguntas subjetivas e objetivas. As informações recolhidas possibilitarão uma maior compreensão das deman-das das comunidades visitadas.

Entre as oficinas desenvolvi-das pelos facilitadores que atuam no Projeto, estão: produção de bijuterias com escamas de peixe e sementes; reaproveitamento de legumes, verduras e frutas; fabri-cação de brinquedos e artesanato com garrafas PET; reuso do óleo de cozinha para fabricação de sabão e formação de orientadores para o ecoturismo local.

Teatro e desenho chamam a atenção do público infantil �

Ale

xAn

dre

Mo

rAes

Um artigo sobre a pesquisa foi publicado na revista norte-americana The New England Journal of Medici-ne. Com dois séculos de existência, a revista publica semanalmente a foto de um caso clínico. Na segunda sema-na de abril, a fotografia que estampou a primeira página da publicação foi a de um paciente de 57 anos, do interior do Pará, que possuía uma forma grave da doença, caracterizada por uma

insuficiente resposta imunológica. O estudo demonstrou o resultado do tra-tamento convencional no paciente.

Além da New England, a equi-pe também publicou artigos em outras revistas importantes, como a revista inglesa Leprosy Review; a Emerging Infectious Diseases, do Centro de Controle de Doenças (CDC) de Atlan-ta, nos Estados Unidos, e a Memórias, do Instituto Oswaldo Cruz. O profes-

sor afirma que, além de disseminar a informação médica e científica pelo mundo, as publicações agregam valor ao trabalho da equipe, ao laboratório e à Universidade.

Cláudio Salgado alerta que a repercussão dos resultados deixa à mostra a diferença entre a qualidade do serviço de saúde do Brasil e a qualidade do serviço de saúde dos países mais desenvolvidos. "Recebi

um e-mail de um pesquisador da No-ruega dizendo que nunca tinha visto um caso igual. Estamos falando de uma doença que existia há 120 anos, na Europa, e, em 2012, ainda existe no Brasil. Isso mostra o quanto estamos atrasados em relação à qualidade de vida da população e demonstra uma urgência: a redefinição de prioridades pelo governo. Nossa população preci-sa viver com dignidade", conclui.

Equipe coletou material biológico entre os pacientes e sua rede de contatos. O mapa mostra a área de abrangência da pesquisa

Mayara Albuquerque

Ainda hoje, o controle da hanse-níase é um desafio para o sis-tema de saúde. Com o Projeto

"Caracterização Molecular de Cepas de M. leprae de pacientes e comuni-cantes de Hanseníase: correlação com aspectos clínicos, comprometimento neural e resistência medicamentosa", os profissionais do Laboratório de Dermato-Imunologia do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Pará realizaram pesquisa de campo em oito municípios do Es-tado, para identificar áreas de maior

concentração da doença e analisar como está sendo feito o seu controle e tratamento.

A hanseníase é uma doença infectocontagiosa causada pelo micro- -organismo Mycobacterium leprae. Sua transmissão ocorre quando há contato direto com doentes sem tra-tamento, que eliminam os bacilos por meio do aparelho respiratório, pelas secreções nasais, pelas gotículas da fala, pela tosse e pelo espirro. No caso dos doentes que recebem tratamento médico, não há risco de transmissão. Nem toda pessoa exposta ao bacilo de-senvolve a doença, acredita-se que isso

se deva a múltiplos fatores, incluindo a genética individual.

Seus principais sintomas são: sensação de formigamento, fisgadas ou dormência nas extremidades; manchas brancas ou avermelhadas, geralmente com perda da sensibilidade ao calor, ao frio, à dor e ao toque; caroços e placas em qualquer região do corpo e diminuição da força muscular. A doen-ça pode atingir todas as faixas etárias e tem cura. O tratamento é feito com medicação via oral, distribuído gratui-tamente, nas unidades de saúde.

Sob a coordenação do professor Cláudio Salgado, o Projeto corre-

lacionou dados clínicos com dados moleculares, comparando pacientes de diferentes regiões do Estado do Pará. A equipe, formada por profissionais da UFPA e da Unidade de Referência Especializada Dr. Marcello Cândia, em Marituba, fez um levantamento dos casos de hanseníase, dos últimos cinco anos, em Breves, Marituba, Castanhal, Paragominas, Oriximiná, Altamira, Parauapebas e Redenção. Entre os casos confirmados, foram escolhidos 100 pacientes. Segundo o professor, a ideia era verificar se o tratamento havia sido feito corretamente e se os pacientes estavam curados.

Erros no fluxo de informação �Nos municípios, a equipe visi-

tou a casa dos pacientes e examinou seus contatos, pessoas que moravam com o portador da doença ou que tivessem contato diário com ele. "Cerca de 4% e 5% dos contatos tinham hanseníase, o que é um nú-mero muito alto. Quando um caso novo é encontrado, a Unidade Básica de Saúde tem o dever de chamar as pessoas que convivem com o doente para serem examinadas. Isso só ocorre em 50% dos casos. E mesmo quando ocorre, não é de forma adequada", alerta Cláudio Salgado.

Além desses casos, o grupo selecionou algumas escolas da rede pública em cada município para fa-zer o exame clínico em cerca de 200 crianças. O número de estudantes portadores da doença variou entre 2% e 4%. Após isso, as crianças também realizaram o exame para detectar uma imunoglobulina chamada anti-PGL1,

que mostra como está a situação na comunidade, por meio do sangue coletado.

"O anticorpo fornece uma por-centagem de pessoas que entraram em contato com o bacilo. Se você fizer isso em um país europeu, o resultado é praticamente 0%. No Rio Grande do Sul, são 8%; em São Paulo, 15%. Aqui, a porcentagem é de 50%. É uma taxa absurda", avalia o professor.

Outro resultado importante foi em relação ao grau de incapacidade física causada pela doença. Atualmen-te, este grau é classificado de 0,1 a 2. O grau 2 caracteriza a incapacidade física. O sistema de informação do SUS indica que 5% dos casos de hanseníase correspondem ao grau 2. Entretanto, quando a equipe foi à casa dos pacientes, esse número subiu para 15%, o que aponta para um erro no fluxo de informação da Rede de Saúde Pública.

Diagnóstico ainda na infância �Cláudio Salgado afirma que,

em alguns municípios, como Altamira e Breves, o número alto de pacientes diagnosticados chamou atenção. Fo-ram encontrados entre 50 e 70 casos novos, em uma semana, quando a estimativa era de dois ou três casos. "Percebemos que, quando se trata de um caso clássico de hanseníase, o diagnóstico é feito. A dificuldade está em fazer um diagnóstico precoce, quando a pessoa só apresenta uma mancha", explica.

De acordo com o professor, o tratamento da doença deve ser feito, prioritariamente, ainda na infância. Segundo os dados coletados, a pre-visão de estudantes doentes na rede pública do Estado é de 60 mil pessoas, entre cinco e 18 anos. "Se você não tratar estas crianças, elas desenvol-verão a hanseníase clássica daqui a 20 anos e, durante este período, irão transmitir a doença para outras

pessoas, num ciclo que não termina. Além disso, aumenta a possibilidade de pacientes sequelados e com a inca-pacidade física instalada", afirma.

Em maio, os pesquisadores iniciaram a ação com recursos do Ministério da Saúde, para detectar novos casos da doença e capacitar as equipes municipais de saúde para o diagnóstico precoce. Além disso, o professor Josafá Barreto, do Campus de Castanhal da UFPA, parte, no final deste ano, para uma temporada na Universidade de Emory, nos Estados Unidos. Os pesquisadores marcaram a localização da residência dos pa-cientes e desenvolveram um mapa da hanseníase, por região. A pesquisa de doutorado de Josafá Barreto fará o georreferenciamento da doença em cada município, assim, os gestores municipais saberão onde devem investir para diminuir os índices da doença.

Resultados foram publicados em revistas internacionais �

Foto

s Ac

ervo

do

Pro

jeto

Page 4: Beira 105

4 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Junho/ Julho, 2012

Belle Époque é tema de novo roteiroFaculdade de Geografia mantém trabalho de valorização do patrimônio

BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Junho/ Julho, 2012 – 9

Ciência fora do território nacionalPrograma de Doutoramento Sanduíche da UFPA tem 52 bolsas disponíveis

IntercâmbioTurismo

As oportunidades de pesquisa são nas mais diversas áreas e locali-dades do mundo. A estudante Sarah Raphaella Scarlecio, orientanda da professora Sheyla Domingues, do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal da UFPA, por exem-plo, está, desde fevereiro, em "es-tágio sanduíche" na Universidade Católica de Louvain, Bélgica, onde realiza estudos na área de criopre-servação de tecido ovariano.

"O tratamento do câncer que objetiva salvar vidas, em muitas mulheres, ocasiona a menopausa precoce, com perda da fertilidade. Em situações clínicas em que os pacientes são meninas pré-púberes ou quando a quimioterapia não pode ser adiada, a criopreservação do tecido ovariano tem surgido como uma opção promissora para restaurar a fertilidade. Na Uni-versidade de Louvain, realizamos criopreservação e transplante de fragmentos de tecido do ovário. Usando esta técnica, obtivemos o primeiro nascimento, ao vivo, de tecido ovariano criopreservado em todo o mundo", conta.

Ao retornar, Sarah Scarlecio pretende contribuir para a inovação tecnológica e para o avanço da pes-quisa técnico-científica no Brasil.

Luiz Kleber de Souza é doutorando do Programa de Pós-Graduação em Química e está de partida para os EUA

Jéssica souza

De passagens compradas e malas prontas. Destino: cidade de Kent, Ohio, Estados Unidos.

Viagem de férias? Não. Luiz Kleber de Souza, estudante do Programa de Pós-Graduação em Química da Uni-versidade Federal do Pará (UFPA) vai fazer um estágio na Universidade de Kent State para complementar seus estudos de doutorado por meio do Programa de Doutorado Sanduíche no Exterior (PDSE), da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

Em 2012, a UFPA oferta, por meio do Programa, 52 bolsas, de 12 meses cada, disponibilizadas em fluxo contínuo, a qualquer doutorando matri-culado na Instituição que deseje passar uma temporada de estudos e investiga-ções científicas junto aos pesquisadores das melhores universidades estrangei-ras conveniadas. O estágio de Luiz Kleber, por exemplo, terá a orientação do professor Mietek Jaroniec, um dos mais notáveis cientistas de materiais do mundo, com grande destaque na área de materiais mesoporosos (um material poroso cujos poros têm diâmetro de 2 a 50 nanômetros).

A pesquisa do estudante diz respeito à nanotecnologia e a novos materiais, área considerada prioritária pelo Programa Ciência sem Fronteiras, do governo federal. O Programa busca promover a consolidação, a expansão e a internacionalização da ciência e

"Respirando" pesquisa em outros ambientes �"A participação no PDSE me

permitirá não só uma nova experiência cultural, como também a atualização de conhecimento em materiais mesoporo-sos e a utilização de um laboratório de ponta para essa investigação", afirma Luiz Kleber de Souza. O Grupo de Pes-quisa em Catálise e Oleoquímica (LCO) da UFPA já vem realizando estudos nessa área e, agora, será beneficiado pela transferência de tecnologia com a instituição americana.

"Poderei complementar meu aprendizado em síntese de novos ma-teriais e de outras técnicas de caracte-rização, como Ressonância Magnética no Estado Sólido, Microscopia Eletrô-nica e Adsorção", espera o estudante. E

complementa: "O PDSE é um excelente programa, que possibilita a muitos pós- -graduandos da UFPA, e do Brasil, uma oportunidade única de fazer uma parte experimental de sua tese em uma univer-sidade renomada, o que, muitas vezes, dá visibilidade internacional à produção científica local".

O orientador de Luiz Kleber, professor Emmerson da Costa, pesqui-sador do LCO, acredita que, por meio do PDSE, o pesquisador tem a oportunidade de trabalhar e "respirar" pesquisa em uma instituição mundialmente conceitu-ada em sua área. "O Programa permite que um número significativo de pesqui-sadores de nossa região possa se destacar pela qualidade das pesquisas realizadas.

Por isso, é importante valorizarmos o trabalho realizado pela Pró-Reitoria de Pesquisa da UFPA, ao viabilizar e estabelecer parcerias com grupos de pesquisa consolidados", opina.

De fato, o PDSE tem como objetivo oportunizar a alunos de pós--graduação, em nível de doutorado, a experiência de interação com a comuni-dade científica internacional. "Além da troca de informações e do enriquecimen-to da formação do aluno, o Programa propicia o fortalecimento da produção científica dos grupos da UFPA, bem como o crescimento da cooperação inter-nacional", explica Emmanuel Tourinho, pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da UFPA.

Seguro saúde, passagens e auxílio moradia �A submissão ao Programa não é

vinculada a editais, pois as bolsas são ofertadas em fluxo contínuo. Os alunos de doutorado da UFPA interessados em realizar o "estágio sanduíche" devem procurar a coordenação de seus cursos e manifestar o interesse apresentando plano de pesquisa e carta de aceite do pesquisador estrangeiro que assumirá a coorientação no período do estágio.

Como pré-requisitos para a concessão da bolsa, o estudante deve ter sido aprovado no exame de quali-ficação do doutorado, ter proficiência

em língua estrangeira e retornar ao Brasil pelo menos seis meses antes do prazo para a conclusão do curso. É necessário que haja parceria entre os orientadores no Brasil e no exterior. A bolsa do PDSE garante mensalidade na moeda do país de destino, seguro saúde, auxílio deslocamento (pas-sagens aéreas) e auxílio instalação (moradia).

Segundo Emmanuel Touri-nho, a concessão das bolsas cresceu à medida que cresceu o número de doutorados ofertados na Instituição.

Em uma década, o número de cursos de doutorado na UFPA aumentou de sete para 26 e o número de bolsas do PDSE concedidas subiu de uma, em 2008, para 12, em 2011.

"Essa oportunidade enriquece a formação científica, alarga os hori-zontes de investigação e favorece a internacionalização da Instituição e seus grupos de pesquisa", sintetiza o pró- -reitor. As bolsas podem ter duração de quatro a doze meses. Com a cota atual de 52 bolsas, a UFPA tem 624 meses de bolsa disponíveis para o ano de 2012.

Experiência em �universidade belga

tecnologia, da inovação e da competi-tividade brasileira, por meio do inter-câmbio e da mobilidade internacional. O Projeto Preparação e Caracterização de Sistemas Mesoporosos para Libera-ção Controlada de Princípios Ativos da Biodiversidade Amazônica, no Brasil, está sendo orientado pelo professor

Carlos Emmerson Costa (UFPA).O Projeto, pertencente à Rede

Nanobiotec-Brasil, tenta recuperar compostos bioativos amazônicos, de alto valor comercial, utilizando mate-riais mesoporosos. Na Universidade de Kent State, os novos compostos serão sintetizados e terão o potencial investi-

gado para a recuperação de compostos bioativos que podem ser aplicados na produção de cosméticos, fármacos, suplementos nutricionais e de alimen-tos funcionais. Na área de fármacos, por exemplo, tais compostos possuem eficácia comprovada contra o câncer e como anti-inflamatórios.

BiA

nc

A d

’Aq

uin

oAtualmente, o Projeto conta

com 19 bolsistas de extensão e de pes-quisa. São estudantes do ensino médio, da graduação e da pós-graduação, além de professores colaboradores das diferentes faculdades. "Após o Projeto, nós conseguimos olhar a cidade com outra perspectiva, nos apropriando do patrimônio como parte da nossa história e exigindo sua preservação. Isto é enriquecedor", afirma Casluym Farias, estudante do curso de Geogra-fia e bolsista do Projeto.

Após o passeio, os participantes recebem um formulário de avaliação

por e-mail. "Queremos coletar críticas, observações, sugestões e dicas dos par-ticipantes para melhorarmos os rotei-ros. Com a avaliação, podemos incluir ou modificar detalhes da programação. Temos recebido o retorno do nível de satisfação dos participantes, isso nos motiva a melhorar cada vez mais a programação", afirma a professora Goretti Tavares.

No futuro, a equipe quer ex-pandir os roteiros geo-turísticos para outros municípios. Já estão sendo fei-tos contatos com parceiros em Breves, Altamira, Ponta de Pedras, Vigia, Bra-

gança, Marabá e Santarém. "A ideia é que renovar o projeto sempre e que a sua concepção atinja todo o Estado. É preciso que a população conheça a sua história e valorizes o seu patrimônio cultural", conclui.

O projeto Roteiros Geo-tu-rísticos é financiado pelo Ministério da Educação e pela Pró-Reitoria de Extensão da UFPA (PROEX), além de contar com o apoio da Belemtur, Paratur, SECULT-PA, Associação dos Moradores do Bairro da Cidade Velha (Civiva) e do Instituto do Patri-mônio Histórico e Artístico Nacional

(IPHAN). Em 2011, o trabalho foi indicado para concorrer à 24ª edição do Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, promovido pelo Ministério da Cultura, na categoria de educação patrimonial.

Serviço: Roteiros são realizados quin-zenalmente, estão abertos ao público e têm três horas de duração. Mais informações: e-mail: [email protected]: RoteirosgeoturisticosBlog: geoturisticosroteiros.blogs-pot.com

Ale

xAn

dre

Mo

rAes

Passeio tem início em frente ao Cinema Olympia, que comemora seu centenário este ano

Mayara Albuquerque

Com o objetivo de reaver a me-mória socioespacial do centro histórico da capital paraense, o

Grupo de Pesquisa em Geografia do Turismo (GGEOTUR) da Faculdade de Geografia e Cartografia da Univer-sidade Federal do Pará (UFPA) vem desenvolvendo roteiros geoturísticos, os quais retomam a história da cidade e valorizam a cultura do Estado.

Nesta perspectiva, o Grupo desenvolveu o Projeto "Roteiro Geo-Turístico: percorrendo e revelando paisagens da Belle Époque", sob a co-ordenação de Maria Goretti Tavares, docente da Faculdade e do Programa de Pós Graduação em Geografia. A ideia é tomar como base a formação histórica e espacial do centro de Be-lém, reconstituindo e valorizando a memória socioespacial e patrimonial a partir dos seus atores sociais.

O roteiro da Belle Époque é o terceiro idealizado pelo grupo, que, desde 2011, já desenvolve o "Cidade Velha: conhecendo o centro histórico de Belém", que percorre o bairro da Cidade Velha, no sentido do Forte do Castelo à Praça Dom Pedro II e o "Do Ver-o-Peso ao Porto", que percorre a Feira do Ver-o-Peso em seu interior, partindo da Praça do Pescador à Es-tação das Docas. A elaboração dos

roteiros é feita por de pesquisa biblio-gráfica, documental e de informações colhidas no centro histórico. Com essas informações, a equipe define o trajeto a ser realizado.

Segundo Goretti Tavares, co-ordenadora do Projeto, a proposta do roteiro geo-turístico surgiu com

as pesquisas e debates realizados pelo Grupo de Pesquisa Turismo e Desenvolvimento Socioespacial na Amazônia. Um dos problemas identi-ficados pelo Grupo foi a insuficiência de ações voltadas para o turismo, as quais valorizassem o potencial histórico, cultural, patrimonial de

Belém e, por conseguinte, a memória socioespacial da cidade. "Verificamos que não havia roteiro turístico a pé nas ruas de Belém e pensamos em reali-zar um projeto que pudesse envolver mais a sociedade, levando as pessoas a conhecerem e a valorizarem o nosso patrimônio", afirma.

O turismo visto na perspectiva da educação patrimonial �Além da ótica diferenciada

de turismo, o Projeto possibilita a formação de novos agentes so-ciais, reprodutores de um turismo alternativo e com a perspectiva da educação patrimonial. A intenção é romper com os atuais paradigmas do mercado do turismo que coloca em prática o consumo pelo consumo do espaço.

De acordo com a professora, do ponto de vista prático, as polí-ticas de turismo implementadas no território paraense têm contribuído pouco para promover, de fato, o de-senvolvimento local. Suas diretrizes estão voltadas para a exploração do potencial natural dos territórios.

"Neste Projeto, o conteúdo in-tercala elementos conceituais sobre a paisagem, associando a Geografia

aos conhecimentos de Arquitetura, História e Turismo", explica Goretti Tavares. Segundo a coordenadora, a perspectiva da política de turismo para o Pará é promissora, uma vez que, em 2012, o Estado lançou um novo plano de turismo, no qual a cul-tura é carro chefe, além de ter criado a Secretaria de Turismo.

Borracha – Durante o século XIX, desenvolveu-se o período do apogeu da economia extrativista na Amazô-nia, proporcionado pelo êxito eco-nômico trazido com a exportação da borracha. A goma elástica teve uma progressiva procura pelos mercados internacionais e esse interesse fez a borracha assumir um papel impor-tante na economia regional. Nesse período, Belém cresceu e urbanizou-

se, importando modelos europeus de grandes construções, como teatros e praças. O Ciclo da Borracha deixou na cidade vestígios espaciais que sobrevivem até hoje.

Segundo a professora Goretti Tavares, a ideia de realizar um rotei-ro temático teve a intenção de reunir as diversas áreas de conhecimento, nas quais estão inseridos os bolsistas do Projeto, e também contemplar a programação comemorativa ao cen-tenário do Cinema Olympia, fundado durante o apogeu da borracha. "O Olympia estava fazendo 100 anos e queríamos incluí-lo ao roteiro. Surgiu, então, a ideia de produzir um passeio sobre a Belle Époque, o qual nos permitisse contar a história da cidade para a sua população", explica.

O roteiro retrata a história e a geografia da cidade durante o período da borracha e a modificação na forma e atuação destes espaços na atualidade. O passeio inicia no cinema Olympia, passando pela Praça da Sereia, prédio do IEP (antiga sede da Província do Pará), Edifício Manoel Pinto da Silva (antiga Casa Outeiro ou Casa de Secos e Molhados), Casa da Linguagem, Palacete Bolonha, Praça da República, Rua Santo Antônio, Loja de tecidos Paris n’America, Avenida Boulevard Castilho França e termina na Praça dos Estivadores. O grupo também desen-volve outras atividades como mesas-redondas, palestras, e ainda tem como plano lançar um documentário baseado nos roteiros realizados e um livro com artigos de alunos e professores sobre a experiência no Projeto

Equipe pretende desenvolver roteiros em todo o Estado �

Page 5: Beira 105

8 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Junho/ Julho, 2012 BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Junho/ Julho, 2012 – 5

Certificação em línguas estrangeiras Profile é a alternativa para candidatos aos cursos de pós-graduação

Horário especial

O Centro de Memória da Ama-zônia (CMA) vai colocar seus espaços e acervos à disposição do público também no período noturno. A iniciativa tem como objetivo atender pessoas que não têm disponibilidade du-rante o dia para visitar o CMA. O horário especial ocorre às terças-feiras, das 18h30 às 21h, para atividades de pesquisa, aulas e outros eventos.

Parceria

A Coordenação de Aperfeiço-amento de Pessoal de Nível Superior (Capes) divulgou o edital para seleção de projetos de parcerias universitárias en-tre Brasil e França, no âmbito do Programa Capes/Brafagri. As inscrições podem ser rea-lizadas até o dia 15 de junho de 2012. Mais informações no site http://capes.gov.br/editais/abertos/5381-brafagri-

Revista I

A Revista EXITUS, do Insti-tuto de Ciências da Educação (ICED) da Universidade Fede-ral do Oeste do Pará (UFOPA), está recebendo artigos até o dia 31 de julho de 2012 para publi-cação. Serão aceitos trabalhos referentes à pesquisa teórica e/ou empírica e relatos de práticas educativas. Entre as temáticas abordadas, estão: Estudos em Formação Docente, Políticas e Gestão Educacional.

Revista IIOs textos devem ter até 25 pá-ginas numeradas, ser escritos em português ou espanhol e incluir resumo, palavras-chave, abstract, keywords, introdução, conclusão ou considerações finais e referências. Os artigos deverão ser submetidos por meio do endereço eletrônico [email protected] A mensagem de encaminha-mento do artigo deverá conter o seguinte texto: “artigo para Revista EXITUS”.

Rio+20

O Museu da UFPA teve parte do seu acervo selecionado para compor a Exposição “Amazô-nia, ciclos de Modernidade”. A mostra integra a programação da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável Rio+20, que acon-tecerá de 20 a 22 de junho, no Rio de Janeiro. As obras po-derão ser visitadas no Centro Cultural Banco do Brasil.

Inclusão digital e socialEngenharia da Computação comemora prêmio nacional

Infosaberes EM DIAProficiência

"Nossa metodologia envolve a formação de pessoas que atuarão como monitoras nesses infocentros. Nós realizamos cursos com turmas de 20 alunos, que serão multiplicadores de informações", explica Eduardo Cerqueira. Os cursos têm turmas he-terogêneas, sem faixa etária específica e formam, diretamente, cerca de 200 pessoas por ano.

O professor relata exemplos que incentivam a continuidade do Projeto e mostram seus resultados para a população. "Tivemos um participante que trabalhava durante a tarde como vigilante e trocou a escala para a noite para participar do curso. Com o certificado, ele afirmou

que iria procurar outro emprego", diz Eduardo Cerqueira.

O Infosaberes também realiza a manutenção nos computadores, permitindo a maior durabilidade do patrimônio público e aumentando a disponibilidade dos equipamentos. "Quando a manutenção era tercei-rizada, o conserto levava cerca de dois meses para ser feito. Com os nossos alunos lá, ministrando os cursos, formando e conscientizando a população, conseguimos deixar os computadores com uma taxa de utili-zação de quase 90%. Isso é ótimo para a própria população", afirma.

No ano passado, o Infosaberes ficou em primeiro lugar no Prêmio

Brasil de Engenharia, na área de Inclusão Digital. O Prêmio Brasil de Engenharia é uma iniciativa do Sindicato dos Engenheiros no Dis-trito Federal e do Instituto Atenas de Pesquisa e Desenvolvimento - Brasil, o qual tem por objetivo estimular o pensamento científico e a inovação na produção tecnológica nacional, assim como reconhecer e destacar a contri-buição da Engenharia e de seus pro-fissionais para o desenvolvimento do País. "Mais do que o reconhecimento pelo trabalho de alunos e professores, é também um reconhecimento para a população envolvida, a qual nos deu a oportunidade de aprender com ela," conclui.

Crianças em atividade no infocentro instalado no Lar Fabiano de Cristo

Mayara Albuquerque

Tornar os telecentros locais de capacitação e inclusão social. Esse é o objetivo do Projeto

"Infosaberes: inclusão digital através da inclusão social", liderado pela Faculdade de Engenharia da Com-putação da Universidade Federal do Pará. Além de realizar a manutenção de computadores e instalar softwares grátis em escolas públicas, centros comunitários e telecentros, o Projeto também forma agentes multiplicadores, os quais serão responsáveis por repas-sar o conhecimento adquirido a outros interessados.

Atualmente, com o advento das Tecnologias de Informação Comuni-cação (TIC), é possível fortalecer o processo de inclusão social por meio da inclusão digital. Essa metodologia, uti-lizada em países como Estados Unidos, Índia, Inglaterra, Portugal e Brasil, usa políticas públicas para mobilizar a so-ciedade em prol do desenvolvimento de atividades que apliquem a tecnologia na educação e na formação de pessoas.

Mas, apesar do crescente núme-ro de acessos à internet e de milhares de pessoas usarem a rede para trocar ideias e conteúdos, ainda é grande o número

de excluídos desse universo. Um estu-do realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2008, mostrou que, no sudoeste brasileiro, 40% das pessoas acessam a internet, enquanto no Nordeste, região com maior índice de pobreza, apenas 25% o faz. No Norte, este índice chega a 30%.

Uma das maneiras de mudar esse

cenário é garantir que a população mais carente tenha acesso a cursos básicos, avançados e profissionalizantes relacio-nados às Tecnologias de Comunicação e Informação. Além de acelerar o pro-cesso de inclusão, este tipo de iniciativa complementa a formação, permitindo melhor colocação profissional, aumento de renda e, consequentemente, redução dos índices de violência.

Rompendo com a miséria e a desesperança �O Projeto Infosaberes, coor-

denado pelo professor Eduardo Cer-queira, quer preencher uma carência da sociedade e da Universidade. "Percebemos que faltava aproximar da sociedade os alunos da Faculdade. Nós tínhamos o conhecimento aca-dêmico, poderíamos repassá-lo para outras pessoas, mas não o fazíamos. A população estava precisando desse conhecimento, assim, o Projeto surge para resolver isso", afirma.

Um infocentro consiste em um espaço com computadores conectados à internet de banda larga, os quais fi-cam à disposição da população. Nele, qualquer cidadão pode navegar pela rede mundial de computadores e usar os recursos que a informática propor-ciona para estudar, trabalhar e buscar entretenimento.

De acordo com o coordena-dor, o objetivo estratégico é romper o processo de reprodução das con-dições de miséria, desesperança e falta de perspectivas das populações carentes. Ativo desde 2009, o grupo já desenvolveu suas atividades em diversos infocentros no Estado, como os localizados em Belém e em outros municípios.

Os cursos são desenvolvidos e ministrados por alunos da UFPA, sob a orientação dos professores. Contam com uma carga horária que varia en-tre dez e quarenta horas, dependendo do conteúdo, e englobam informática básica (Sistema Operacional Windo-ws, Linux, Internet, Editor de Textos e Planilha Eletrônica) e avançada (Editor de Textos e Planilha Eletrôni-ca, desenvolvimento de Sites Web e

programação Java). Além de permitir a inclusão digital, o Projeto busca pre-parar os interessados para ingressar no mercado de trabalho pelos conheci-mentos avançados em informática.

"Trazer essas pessoas para o mundo digital gera maiores oportuni-dade de trabalho. Por exemplo, algo simples que as pessoas não sabem, e nós ensinamos, é como fazer um currículo. Atualmente, grande parte das ofertas de emprego exige o envio de um currículo por e-mail. Como uma pessoa que não sabe acessar a internet nem fazer um currículo digital conseguiria um emprego? Então, além destes cursos básicos, nós também tentamos dar um apoio indireto em outros tipos de atividades que ajudem no dia a dia dessas pessoas," afirma o professor.

Primeiro lugar no Prêmio Brasil de Engenharia �

Ale

xAn

dre

Mo

rAes

Após a correção do Teste, a Falem emite a certificação aos candi-datos que se submeteram ao exame. O documento indica o dia que o aluno fez a prova, a área de conhe-cimento, o idioma escolhido e a nota (conceito) alcançada pelo candidato. A Faculdade emite certificado para o candidato que obtiver, no mínimo, nota cinco, a qual corresponde ao conceito Regular, mas é o programa de pós-graduação que define qual

será a nota mínima exigida em cada processo seletivo.

De acordo com Marcus Araú-jo, a primeira sessão do Projeto, realizada em fevereiro de 2009, re-gistrou a participação de 36 alunos. Na prova realizada em maio deste ano, o Profile contabilizou um re-corde de participantes, cerca de 640 candidatos inscritos. Até o momento, o Projeto já atendeu 2.300 candida-tos, o que, para o coordenador, é um

número significativo.A cada prova, é formada uma

banca por área do conhecimento, composta por dois professores da Falem. Cada prova é corrigida pelos dois professores separadamente. Em seguida, eles se reúnem para verificar as possíveis discrepâncias e, ao final, definir a nota do aluno.

"A correção e os demais proce-dimentos adotados pelo Projeto são realizados por professores mestres

e doutores capacitados em ensino e aprendizagem de línguas. Com isso, em pouco tempo, conquistamos a credibilidade, sobretudo dentro da UFPA, das dezenas de programas de pós-graduação. Além disso, a cada sessão, aumenta o número de candidatos que procuram o nosso Teste de Proficiência, o que também é importante para a consolidação do serviço prestado", finaliza Marcus Araújo.

KAro

l Kh

Ale

d

Para receber a certificação, o candidato precisa obter, no mínimo, nota cinco, equivalente ao conceito regular

Paulo Henrique Gadelha

Convencionalmente, no Brasil, as seleções para pós-gradua-ção stricto sensu (mestrado e

doutorado) exigem dos candidatos a comprovação de proficiência em lín-guas estrangeiras. Um dos motivos da exigência está relacionado com o fato de que, na pós-graduação, o aluno terá contato com conteúdos de livros, artigos e periódicos disponíveis em outros idiomas. Na Universidade Federal do Pará (UFPA), essa com-provação pode ser obtida por meio da prova aplicada pelo Projeto de Ex-tensão "Proficiência em Leitura em Línguas Estrangeiras (Profile)", de-senvolvido pela Faculdade de Letras Estrangeiras Modernas (Falem).

"Esta iniciativa possibilita aos candidatos que buscam ingressar nos programas de pós-graduação da UFPA e também de outras Institui-ções de Ensino Superior do Pará a oportunidade de obter a certificação em uma língua estrangeira, uma das etapas das seleções desses progra-mas. Com a criação e sistematização do Projeto, estipularam-se duas sessões de provas ao ano, o que contribuiu para a organização dos futuros candidatos, do corpo docente da Falem e dos programas de pós-graduação", considera o professor da Falem e coordenador do Profile, Marcus Araújo.

Antes do Projeto, em um interstício de curto tempo, os coor-denadores de diversos programas de pós-graduação da UFPA procuravam a Faculdade a fim de requerer o tes-te de proficiência. De acordo com Marcus Araújo, isso gerava uma so-brecarga ao corpo docente da Falem

– responsável pela elaboração e pela correção dos testes – e inviabilizava o atendimento a tantas solicitações.

Em 2009, o Profile surge oficialmente. Naquele ano, a Falem

realizou quatro sessões de provas para candidatos dos programas de pós-graduação da UFPA e, eventual-mente, para pessoas que pretendiam ingressar em outras universidades.

Segundo o professor, a partir de 2010, o Projeto passou a oferecer apenas duas sessões anuais, nos me-ses de maio e outubro, o que perdura até hoje.

Texto em língua estrangeira, respostas em português �O exame é na língua estrangei-

ra escolhida pelo candidato: alemão, espanhol, francês ou inglês, este último é o idioma mais procurado. O Teste de Proficiência consiste em uma prova analítico-discursiva, na qual um texto é apresentado. Con-forme explica o coordenador, após a leitura do texto, o candidato deve responder, em português, cerca de cinco questões.

A prova abrange as cinco grandes áreas do conhecimento – classificação adotada e recomendada

pelo Conselho Nacional de Desen-volvimento Científico e Tecnológico (CNPq) – , a saber: Ciências Huma-nas e Ciências Sociais Aplicadas; Linguística, Letras e Artes; Ciências Exatas, Engenharias e Ciências da Terra; Ciências da Saúde e Ciências Biológicas e Ciências Agrárias e Veterinárias.

"Os professores elaboram o Teste a partir da grande área do aluno e não a partir do curso da pós-gra-duação que ele almeja. Por exemplo, se um candidato pretende ingressar

no Programa de Pós-Graduação em Direito, ele será submetido a uma prova relacionada à grande área das Ciências Humanas e Ciências Sociais Aplicadas", explica Marcus Araújo.

"Nessa prova, verificamos a competência linguística do candidato para leitura e compreensão de um texto na língua estrangeira. Assim, espera-se que o aluno demonstre ter a proficiência exigida na língua escolhida. O Profile é apenas uma confirmação de que o candidato

está apto para adquirir a certificação pleiteada", diz o professor.

Os programas de pós-gradua-ção da Universidade têm autonomia para aceitar ou não o Teste de Pro-ficiência oferecido pelo Projeto. De acordo com o docente, desde 2009, os programas da UFPA vêm aderindo ao Profile. Inclusive, alguns utilizam a prova como primeira etapa dos seus respectivos processos seleti-vos. Esse é o caso do Programa de Pós-Graduação em Comunicação, Cultura e Amazônia.

Em três anos, 2.300 candidatos já realizaram a prova �

Page 6: Beira 105

6 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Junho/ Julho, 2012 BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Junho/ Julho, 2012 – 7

Copaíba tem efeito neuroprotetor UFPA testa vacina contra amebíasePesquisa analisou ratos em situação semelhante ao AVC humano Testes em primatas terão início ainda este mês

Inovação Medicina tropical

Ale

xAn

dre

Mo

rAes

É justamente com essa linha-gem atenuada de parasitas que serão feitos os experimentos. O Núcleo de Medicina Tropical da UFPA, com a colaboração do Centro Nacional de Primatas (CENP), realizará os testes utilizando as células modificadas em macacos. Os testes serão feitos em macacos porque eles, tal como os humanos, desenvolvem a amebíase. Os testes da vacina começarão agora, em junho.

A vacina será inoculada em macacos, os quais terão acompanha-

mento diário de uma equipe formada por alunos de iniciação científica, mestrado e doutorado do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFPA. O objetivo é analisar se, depois de inoculada a vacina, houve ou não resposta do sistema imune do animal. Depois dos testes com a linhagem modificada do parasito, serão feitos experimentos com a linhagem viru-lenta, causadora da amebíase.

"Faremos a inoculação da linhagem atenuada, esperaremos os macacos desenvolverem imunidade

e, depois, então, inocularemos a linhagem não modificada, ou seja, vi-rulenta e causadora da doença. Como o primata já terá desenvolvido uma resposta imunológica contra o parasi-to, esperaremos que esta resposta seja capaz de protegê-lo contra infecções subsequentes e, obviamente, contra o desenvolvimento da doença", explica Evander Batista.

Se os testes funcionarem, o passo seguinte será usar as células modificadas (vacina) em seres hu-manos. "Se você entra em contato

com o parasito na forma atenuada, seu organismo produzirá uma res-posta imunológica. Se um dia, você consumir água contaminada, já estará com a imunidade garantida e não de-senvolverá a doença. Essa é a nossa hipótese", afirma o pesquisador. Além da UFPA, do Institute Weizmann de Israel e do Centro Nacional de Prima-tas (CENP), a pesquisa conta com a colaboração do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (IBCCF) da Uni-versidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Pedro Fernandes

São vários os tipos de ameba que habitam o sistema digestivo humano. Na boca, por exem-

plo, podemos encontrar a Entamoeba gingivalis, que, de certo modo, auxilia a saúde bucal, fagocitando bactérias, outros protozoários e restos celulares. Mas, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o único protozoário parasita humano é a Entamoeba his-tolytica. Essa espécie vive no intes-tino grosso e pode causar a amebíase intestinal. A amebíase ocorre com maior incidência em países de clima tropical ou subtropical.

Segundo a OMS, 50 milhões de novas infecções da doença são registradas, por ano, no mundo. A amebíase intestinal é a segunda causa de morte por doenças parasitárias, ficando atrás apenas da malária. Anu-almente, a amebíase mata em torno de 100 mil pessoas. Dados do Núcleo de Medicina Tropical (NUMT) da Universidade Federal do Pará (UFPA) indicam que cerca de 29% da popula-ção do Pará hospeda o parasito.

Diante deste cenário e visando contribuir com as pesquisas nessa área, o NUMT estabeleceu, em junho de 2011, uma cooperação científica com o Weizmann Institute, de Israel, para realizar os primeiros testes de vacina contra a amebíase humana. Será a primeira vacina deste tipo no mundo.

A amebíase é uma doença de fácil contágio. Quando um indivíduo

O professor Evander Batista realiza estudos em parceria com o Instituto Weizmann, em Israel

tem o protozoário no intestino (trofo-zoíto), os cistos (forma de resistência do protozoário) são eliminados pelas fezes e contaminam o meio ambiente, principalmente a água e o solo, em locais onde não há saneamento básico adequado. Ao beber água ou ingerir alimentos contaminados, os cistos vão para o intestino, onde se tornam o agente causador da doença. O ciclo biológico do parasito é monogenético,

ou seja, tem apenas um hospedeiro. O percurso da infecção é de homem para homem.

No intestino, em sua forma mó-vel (trofozoíto), o parasito se reproduz por divisão binária ou cissiparidade, processo por meio do qual o parasito divide-se em outros dois e assim por diante. No intestino grosso, os tro-fozoítos se alimentam de bactérias ou fragmentos celulares humanos.

Em geral, os sintomas da amebíase intestinal são indisposição, diarreia intermitente e flatulência. Há casos, porém, em que o parasito degrada o tecido intestinal, provocando úlceras e sangramentos. Quando o parasito atravessa o intestino grosso e alcança a corrente sanguínea, ele pode aco-meter o fígado, o pulmão e o cérebro. Nesses casos, a doença é chamada de amebíase extraintestinal.

Sem assistência médica, óbito pode ocorrer rapidamente �Quando ocorre a invasão te-

cidual, caso não haja intervenção médica, o paciente pode vir a óbito em pouco tempo, em cerca de dois a três meses. A E. histolytica é uma "máqui-na" de destruir células humanas. Ela possui proteínas de membrana que a aderem às células intestinais. Assim, o protozoário injeta no interior do tecido parasitado os seus fatores de virulência, os ameboporos e as cis-teineproteinases. Os ameboporos são pequenos polipeptídeos que existem no citoplasma do protozoário.

Os ameboporos, quando libe-rados no meio extracelular, perfuram as camadas lipídicas das células

intestinais. Consequentemente, as células parasitadas perdem material intracelular. Em seguida, o parasito libera proteína lítica, a cisteineprotei-nase, no interior do tecido intestinal. A cisteineproteinase rompe os compo-nentes proteicos das células intestinais parasitadas, matando-as. Por fim, o protozoário fagocita os restos das cé-lulas humanas degradadas por ele.

O projeto da vacina contra a amebíase humana consiste na mani-pulação genética dos trofozoítos. "A linhagem HM1, a linhagem virulenta, que causa a doença, sofreu uma modi-ficação por meio de técnicas de biolo-gia molecular. Hoje, existem técnicas

de 'knockout’, por meio das quais nós conseguimos manipular o código genético de qualquer organismo", explica Evander Bastista, professor do Núcleo de Medicina Tropical da UFPA e responsável pelos testes da vacina.

Os pesquisadores do Instituto Weizmann alteraram molecularmen-te os principais componentes do protozoário, os quais o parasita usa para degradar as células do intestino humano. Os genes de codificação do ameboporo e da cisteineproteinase 5 (EhCP5), principais fatores de virulência do parasito, foram silen-ciados ou "nocauteados", ou seja,

modificados de forma a não mais se expressarem. A modificação genética do protozoário constituiu a primeira fase da pesquisa.

"Na verdade, os pesquisadores do Instituto Weizmann criaram uma nova cepa de E. histolytica a partir da cepa virulenta e causadora da amebí-ase. Para criar essa nova ‘linhagem’ de organismos, chamada de RB10, os pesquisadores manipularam os genes da cisteineproteinase e dos amebopo-ros. De resto, os organismos atenuados (geneticamente modificados) possuem as mesmas características dos organis-mos virulentos", esclarece Evander Batista.

hipótese é que animais não desenvolvam a doença �Contudo, para aplicar o estudo

em seres humanos, é indispensável a realização de mais pesquisas sobre a aplicabilidade do extrato da copaíba. Depois dos experimentos em ratos, a investigação seria feita em primatas. Antes de se chegar aos humanos, é necessário descobrir quais os princí-pios ativos responsáveis pelos efeitos anti-inflamatório e neuroprotetor do óleo de copaíba.

Segundo Walace Leal, atual-mente, nenhum anti-inflamatório é

usado para diminuir a lesão de uma doença do sistema nervoso. Então, se o estudo com a copaíba realmente funcionar em humanos, uma subs-tância derivada do óleo dessa árvore pode ser utilizada para minimizar a inflamação.

"Assim, talvez tenhamos des-coberto um composto natural, da Amazônia, que tenha um efeito anti-inflamatório para doenças do sistema nervoso central. Isso seria uma grande conquista para a socie-

dade. Até o momento, quando uma pessoa que sofreu um AVC chega ao hospital, pouco se pode fazer. Então, esses pacientes poderiam receber um derivado da copaíba que atenuasse a inflamação e protegesse o cérebro. Seria um remédio anti-inflamatório com efeito neuroprotetor", defende o professor.

O próximo passo da pesquisa será, justamente, a busca pelo isola-mento do princípio (ou princípios) ativo(-s) do óleo da copaíba. Com

essa possível delimitação, o trata-mento será feito com os componentes ativos já isolados. O procedimento vai se dar, primeiramente, com ratos e, depois, com primatas. Com a desco-berta desses princípios ativos, "seria possível apontar, precisamente, quais substâncias do óleo de copaíba pro-movem o efeito anti-inflamatório e a neuroproteção, as quais, futuramente, poderão ser utilizadas como medi-camento para o tratamento de seres humanos", finaliza Walace Leal.

BiA

nc

A d

’Aq

uin

o

Adriano Guimarães Santos no Laboratório de Neuroproteção e Neurorregeneração Experimental do ICB

Paulo Henrique Gadelha

De acordo com o professor Walace Gomes Leal, do Instituto de Ciências Bio-

lógicas (ICB) da Universidade Federal do Pará (UFPA), a Medi-cina Popular defende que um dos benefícios do óleo da copaíba é o efeito anti-inflamatório para do-enças da pele e de outros tecidos. A partir disso, surgiu o questiona-mento: será que o composto natural poderia ter algum efeito no sistema nervoso central?

O questionamento motivou o biólogo Adriano Guimarães Santos a produzir a Dissertação Efeitos anti-inflamatórios e neuroprote-tores do óleo-resina de Copaifera reticulata Ducke após lesão exci-totóxica do córtex motor de ratos adultos, orientada pelo professor Walace Leal. A pesquisa, defen-dida no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Neurociências e Biologia Celular do ICB, foi realizada no Laboratório de Neu-roproteção e Neurorregeneração Experimental e financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Pará (Fapespa).

"Nenhum outro laboratório havia investigado se o tratamento com o óleo de copaíba tinha algum efeito anti-inflamatório em um mo-delo experimental de uma doença do sistema nervoso central. Então, consideramos pertinente realizar esse estudo na UFPA", esclarece o professor.

Neste modelo experimental, fora injetada uma neurotoxina (substância tóxica que pode lesar o

sistema nervoso) no cérebro de ra-tos. Esse procedimento causa uma lesão semelhante à provocada pelo Acidente Vascular Cerebral (AVC),

"nós anestesiamos esses animais e introduzimos a neurotoxina. En-tão, induziu-se a uma lesão neural aguda e à perda tecidual devido à

substância. Essa ação gerou, ainda, um déficit motor, o que simula uma doença humana como o AVC", ex-plica o professor.

Resultado será referência para tratamento em humanos �Como parte da metodologia,

foram utilizados mais dois grupos de ratos, tratados de forma diferen-te. Um grupo recebeu uma solução salina estéril (soro fisiológico), con-tendo sódio e água. Esse composto, de acordo com Walace Leal, era um placebo, substância administrada como controle do experimento e com efeito inócuo.

"Já o outro grupo foi tratado com óleo de copaíba, diluído em uma concentração que era considerada adequada", destaca o docente. Após

os experimentos, os pesquisadores constataram que, "no grupo de ani-mais tratados com copaíba, houve uma diminuição da inflamação no sistema nervoso central e uma melhor proteção desse sistema contra lesão, ou seja, neuroproteção. Esses foram os dois principais resultados encon-trados", revela Walace Leal.

A pesquisa contou com a colaboração de dois engenheiros químicos da UFPA, Raul Carvalho e Lucinewton Silva de Moura, os quais realizaram um estudo da composição

química do composto natural. Osmar Lameira, agrônomo e pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), também contribuiu fornecendo o óleo da co-paíba. Segundo Walace Leal, utilizar material de uma árvore conhecida é condição imprescindível para esse tipo de pesquisa.

Segundo o orientador da Dis-sertação, a simulação feita com ratos e os resultados encontrados com os experimentos podem, posteriormente, servir como referência para o trata-

mento de doenças do sistema nervoso em humanos. "Evolutivamente, os mecanismos que causam lesão em ratos são muito parecidos com os de humanos. E para se apreender o que pode acontecer em doenças de hu-manos, é necessário, primeiramente, fazer experimentos em animais. Um rato com AVC, por exemplo, bem como um humano que sofre com essa doença apresentam problema motor, lesão e inflamação no cérebro. Nota-se, portanto, que as consequências lesivas são as mesmas", considera.

Próximo passo é isolar componentes ativos do óleo �