Beira 93

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Beira do Rio - O Projeto está completan- do 18 anos. O que temos a comemorar? Christian Pinheiro da Costa – A partir deste mês, iniciamos uma parceria com o Propaz [Programa do governo do Estado, abrigado na Santa Casa, que atende vítimas de violência sexual, com idade entre 0 e 18 anos incomple- tos] por meio da qual vamos transformar uma tecnologia social de educação pelo esporte em política pública. Com isso, conseguimos fechar um ciclo. Estamos colocando em prática a missão da Universidade: a produção de conhecimento e sua transferência para a sociedade no formato de política pública. Esta foi a grande conquista nesta maioridade. Beira do Rio – Após esses anos, que mudanças podem ser observadas na comunidade? C.P.C. – A origem do Projeto está muito próxi- ma à instalação dessa comunidade no entorno do Campus. Ainda existem muitas dificuldades, mas elas foram minimizadas com saneamento, segurança e transporte. Hoje, é possível circular com carros dentro da comunidade, naquela altu- ra, nem ônibus entrava. Enfim, o Projeto Riacho Doce criou uma marca forte, que deu visibilidade a essa comunidade. Os prêmios conquistados também contribuíram para isso. Depois de 18 anos, o cenário é, realmente, bem diferente. Beira do Rio Ficou mais fácil firmar parce- Um registro da memória e da história da Faculdade A obra dos médicos Aristóteles de Mi- randa e José Maria Abreu Jr. recupera o cotidiano, as personagens marcan- tes e o processo de federalização do primeiro curso de Medicina da Região Norte. Pág. 4 Educação Congresso Inovação Extensão Rosyane Rodrigues U m projeto acadêmico por natureza, o coor- denador faz questão de repetir. Mas com múltiplos braços extensionistas, capazes de abraçar e acolher a comunidade de mesmo nome, nós poderíamos acrescentar. O Riacho Doce é o projeto de extensão da Universidade Federal do Pará que talvez tenha a maior visibilidade. A força da marca é tão grande que alguns pensam se tratar de uma Organização Não Governamental. Desenvolvido pela Faculdade de Educação Física, o Projeto está completando 18 anos. Para comemorar a maioridade, o Projeto firma parceria com o governo do Estado do Pará, por meio do Pro- paz, e transforma em política pública a tecnologia social de educação pelo esporte que desenvolveu ao longo desse tempo. Em entrevista ao Jornal Beira do Rio, o professor e coordenador do Projeto, Chris- tian Pinheiro da Costa, falou sobre as conquistas, o crescimento da comunidade e a importância das ati- vidades de extensão para a formação acadêmica. 12 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Abril, 2011 Medicina Kits de Química aproximam teoria e prática Pág. 10 Programa muda realidade no campo Programa "Saberes da Terra da Amazônia Paraense", parceria entre UFPA, IFPA e Seduc, é premiado pelo MEC. Pág. 9 Língua e Literatura na Amazônia III Congresso Internacional de Estudos Linguísticos e Literários deve reunir cerca de mil pessoas na UFPA. Pág. 3 Novo recurso para ensinar Matemática Professor João Batista do Nascimento propõe uso da linguagem teatral para aproximar disciplina dos alunos. Pág. 5 A força dos raios na Amazônia D e acordo com dados do Grupo de Eletricidade Atmosférica (Elat/INPE), o Brasil tem a maior incidência de raios do planeta. Pesquisas sobre o assunto estão sendo realizadas pela Univer- sidade Federal do Pará, em parceria com o Sistema Brasileiro de Detecção de Descargas Atmosféricas e com a Rede de Detecção de Raios do Sistema de Proteção da Amazônia. Os resultados comprovam que as descargas elétricas têm características específicas na região amazônica. A localização na faixa equa- torial contribui para que, aqui, os raios sejam mais frequentes e mais potentes. Págs. 6 e 7 Sede própria foi adquirida com recursos de doações Projeto atendeu 240 alunos ISSN 1982-5994 JORNAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ • ANO XXV • N. 93 • AbRIL, 2011 Riacho Doce: 18 anos formando cidadãos “Gerar política pública. Esta foi a grande conquista da maioridade” Entrevista 25 Anos Hilton Silva faz relato de experiência sobre Fórum Social Mundial em Senegal. Pág. 2 Opinião Entrevista O vice-reitor Horácio Schneider discute redução de diferenças entre os campi. Pág. 2 Christian Pinheiro da Costa comemora os 18 anos do Projeto Riacho Doce. Pág. 12 Coluna da Reitoria Quantidade de edificações deixa zonas urbanas mais vulneráveis às ocorrências de descargas elétricas MARCOS JOEL REIS ACERVO DO PROJETO MARI CHIBA rias e receber apoio? C.P.C. – Em 1993, o conceito de responsabili- dade social ainda não estava bem configurado. O Projeto foi precursor na sua aplicação. O Instituto Ayrton Senna, parceiro na construção dessa tecnologia social, foi um dos primeiros a utilizar imagens de atletas para a captação de recursos para projetos que tenham as crianças como público-alvo. Esse movimento contribuiu para sensibilizar muitas empresas a associarem suas marcas às imagens desses atletas. Beira do Rio – O perfil das crianças atendidas mudou ao longo do tempo? C.P.C. – O perfil continua sendo de crianças em situação de risco. São famílias desfavorecidas socioeconomicamente e de vários formatos, mas com um responsável. Isto é importante, pois existem situações em que nós precisamos saber a quem nos dirigir. Essas crianças não são menores infratores ou delinquentes, este é outro perfil de público. O Projeto Riacho Doce é um grande la- boratório para os alunos da Universidade, nossos recursos humanos estão em formação. Não temos condições de prestar atendimento a uma clientela que exige atenção mais específica. Beira do Rio Que cursos participam das atividades que vocês desenvolvem? C.P.C. – Aqueles das áreas de convergências do esporte. Além dos alunos de Educação Física, os quais coordenam as atividades esportivas, temos alunos dos cursos de Pedagogia, Enfermagem, Medicina, Odontologia, Serviço Social, Psicolo- gia, Ciências Sociais, Comunicação Social, entre outros. O esporte é a âncora, é ele quem atrai as crianças. Por trás, estão a figura dos ídolos e a expectativa de mobilidade social. Porém a nossa preocupação não é trabalhar com a formação de atletas, nós trabalhamos com a formação do cidadão. Beira do Rio Crianças de outros bairros podem participar? C.P.C. – Não há nenhum tipo de pré-requisito para a matrícula. O que existe é uma seleção natural em função do transporte. Essas crianças moram no entorno do Campus e, normalmente, vêm caminhando. Mais de 90% do nosso público é residente no Guamá e na Terra Firme. Beira do Rio – Quais são as atividades desen- volvidas? C.P.C. – Atividades aquáticas, mas não necessa- riamente a natação, iniciação ao atletismo, mini- -vôlei, futsal – que sempre atrai muito a garotada. Oferecemos orientação de estudos, atendimento odontológico e de primeiros socorros, palestras na área da saúde e trabalhos com arte-educadores. Também garantimos, diariamente, um lanche. Beira do Rio Vocês acompanham o percurso dessas crianças depois que elas saem daqui? C.P.C. – Nunca tivemos estrutura para um acompanhamento longitudinal sobre o desen- volvimento dessas crianças. Mas temos alguns casos emblemáticos que mostram o impacto que esta experiência teve na vida dessas pessoas. Em alguns casos, já estamos atendendo a segunda geração. Aquelas meninas de 1993-1994 estão trazendo os seus filhos para o Projeto. Este é um indicador de sucesso. Beira do Rio – Em dezembro passado, um bolsista do Projeto ganhou o Prêmio Jovem Cientista no XXVI Congresso Brasileiro de Cefaleia. É o que podemos citar como um “caso de sucesso” do Projeto? C.P.C. – Este é um desses casos emblemáticos. O Disraeli chegou aqui com 8-9 anos. No ensino médio, foi nosso educador, passou três ou quatro anos tentando uma vaga em Medicina. Imagina um garoto sair dessa comunidade e conseguir ser aluno de Medicina na UFPA! Hoje, ele é nosso bolsista e um aluno de destaque. Temos outros exemplos: a Dani, que chegou aos sete anos no Grupo de Dança e, em junho, vai colar grau na primeira turma de Dança da UFPA; o Rogerinho, jogando futebol no Japão; dois bailarinos no Gru- po de Dança do Teatro Municipal de São Paulo; a professora Rosilene, que foi nossa bolsista e, hoje, é diretora da Pediatria da Santa Casa. Beira do Rio A aproximação com a Universi- dade amplia os horizontes dessas crianças? C.P.C. – Esta aproximação é o nosso braço da extensão. O Projeto cresceu muito, porém faze- mos questão de continuar sendo um projeto de extensão da Faculdade de Educação Física. Após 18 anos, é possível contar nos dedos de uma das mãos os projetos que começaram na mesma época e continuam existindo. Talvez seja em virtude deste formato em que a criança tem no seu edu- cador um referencial que elas percebem como podem se transformar naquele ídolo. Tudo isso também tem um impacto positivo na formação desses alunos, que saem da universidade com uma formação acadêmica mais humanizada. A exten- são quer isto: quebrar os muros da universidade, trazer a comunidade para dentro do campus. FOTOS KAROL KHALED

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Beira do Rio edição 93

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Beira do Rio - O Projeto está completan-do 18 anos. O que temos a comemorar? Christian Pinheiro da Costa – A partir deste mês, iniciamos uma parceria com o Propaz [Programa do governo do Estado, abrigado na Santa Casa, que atende vítimas de violência sexual, com idade entre 0 e 18 anos incomple-tos] por meio da qual vamos transformar uma tecnologia social de educação pelo esporte em política pública. Com isso, conseguimos fechar um ciclo. Estamos colocando em prática a missão da Universidade: a produção de conhecimento e sua transferência para a sociedade no formato de política pública. Esta foi a grande conquista nesta maioridade.

Beira do Rio – Após esses anos, que mudanças podem ser observadas na comunidade?C.P.C. – A origem do Projeto está muito próxi-ma à instalação dessa comunidade no entorno do Campus. Ainda existem muitas dificuldades, mas elas foram minimizadas com saneamento, segurança e transporte. Hoje, é possível circular com carros dentro da comunidade, naquela altu-ra, nem ônibus entrava. Enfim, o Projeto Riacho Doce criou uma marca forte, que deu visibilidade a essa comunidade. Os prêmios conquistados também contribuíram para isso. Depois de 18 anos, o cenário é, realmente, bem diferente.

Beira do Rio – Ficou mais fácil firmar parce-

Um registro da memória e da história da Faculdade

A obra dos médicos Aristóteles de Mi-randa e José Maria Abreu Jr. recupera o cotidiano, as personagens marcan-

tes e o processo de federalização do primeiro curso de Medicina da Região Norte. Pág. 4

Educação

Congresso

Inovação

Extensão

Rosyane Rodrigues

Um projeto acadêmico por natureza, o coor-denador faz questão de repetir. Mas com múltiplos braços extensionistas, capazes de

abraçar e acolher a comunidade de mesmo nome, nós poderíamos acrescentar. O Riacho Doce é o projeto de extensão da Universidade Federal do Pará que talvez tenha a maior visibilidade. A força da marca é tão grande que alguns pensam se tratar de uma Organização Não Governamental.

Desenvolvido pela Faculdade de Educação Física, o Projeto está completando 18 anos. Para comemorar a maioridade, o Projeto firma parceria com o governo do Estado do Pará, por meio do Pro-paz, e transforma em política pública a tecnologia social de educação pelo esporte que desenvolveu ao longo desse tempo. Em entrevista ao Jornal Beira do Rio, o professor e coordenador do Projeto, Chris-tian Pinheiro da Costa, falou sobre as conquistas, o crescimento da comunidade e a importância das ati-vidades de extensão para a formação acadêmica.

12 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Abril, 2011

Medicina

Kits de Química aproximam teoria e prática

Pág. 10

Programa muda realidade no campo Programa "Saberes da Terra da Amazônia Paraense", parceria entre UFPA, IFPA e Seduc, é premiado pelo MEC. Pág. 9

Língua e Literatura na Amazônia III Congresso Internacional de Estudos Linguísticos e Literários deve reunir cerca de mil pessoas na UFPA. Pág. 3

Novo recurso para ensinar Matemática Professor João Batista do Nascimento propõe uso da linguagem teatral para aproximar disciplina dos alunos. Pág. 5

A força dos raios na Amazônia

De acordo com dados do Grupo de Eletricidade Atmosférica (Elat/INPE), o Brasil tem a maior incidência de raios do planeta. Pesquisas

sobre o assunto estão sendo realizadas pela Univer-sidade Federal do Pará, em parceria com o Sistema Brasileiro de Detecção de Descargas Atmosféricas

e com a Rede de Detecção de Raios do Sistema de Proteção da Amazônia. Os resultados comprovam que as descargas elétricas têm características específicas na região amazônica. A localização na faixa equa-torial contribui para que, aqui, os raios sejam mais frequentes e mais potentes. Págs. 6 e 7

Sede própria foi adquirida com recursos de doações

Projeto atendeu 240 alunos

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JORNAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ • ANO XXV • N. 93 • AbRIL, 2011

Riacho Doce: 18 anos formando cidadãos“Gerar política pública. Esta foi a grande conquista da maioridade”

Entrevista

25 Anos

Hilton Silva faz relato de experiência sobre Fórum Social

Mundial em Senegal. Pág. 2

Opinião

Entrevista

O vice-reitor Horácio Schneider discute redução de diferenças

entre os campi. Pág. 2

Christian Pinheiro da Costa comemora os 18 anos do

Projeto Riacho Doce. Pág. 12

Coluna da Reitoria

Quantidade de edificações deixa zonas urbanas mais vulneráveis às ocorrências de descargas elétricas

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rias e receber apoio?C.P.C. – Em 1993, o conceito de responsabili-dade social ainda não estava bem configurado. O Projeto foi precursor na sua aplicação. O Instituto Ayrton Senna, parceiro na construção dessa tecnologia social, foi um dos primeiros a utilizar imagens de atletas para a captação de recursos para projetos que tenham as crianças como público-alvo. Esse movimento contribuiu para sensibilizar muitas empresas a associarem suas marcas às imagens desses atletas.

Beira do Rio – O perfil das crianças atendidas mudou ao longo do tempo?C.P.C. – O perfil continua sendo de crianças em situação de risco. São famílias desfavorecidas socioeconomicamente e de vários formatos, mas com um responsável. Isto é importante, pois existem situações em que nós precisamos saber a quem nos dirigir. Essas crianças não são menores infratores ou delinquentes, este é outro perfil de público. O Projeto Riacho Doce é um grande la-boratório para os alunos da Universidade, nossos recursos humanos estão em formação. Não temos condições de prestar atendimento a uma clientela que exige atenção mais específica.

Beira do Rio – Que cursos participam das atividades que vocês desenvolvem? C.P.C. – Aqueles das áreas de convergências do esporte. Além dos alunos de Educação Física, os quais coordenam as atividades esportivas, temos alunos dos cursos de Pedagogia, Enfermagem, Medicina, Odontologia, Serviço Social, Psicolo-gia, Ciências Sociais, Comunicação Social, entre outros. O esporte é a âncora, é ele quem atrai as crianças. Por trás, estão a figura dos ídolos e a expectativa de mobilidade social. Porém a nossa preocupação não é trabalhar com a formação de atletas, nós trabalhamos com a formação do cidadão.

Beira do Rio – Crianças de outros bairros podem participar?C.P.C. – Não há nenhum tipo de pré-requisito para a matrícula. O que existe é uma seleção natural em função do transporte. Essas crianças moram no entorno do Campus e, normalmente, vêm caminhando. Mais de 90% do nosso público é residente no Guamá e na Terra Firme.

Beira do Rio – Quais são as atividades desen-volvidas?C.P.C. – Atividades aquáticas, mas não necessa-riamente a natação, iniciação ao atletismo, mini-

-vôlei, futsal – que sempre atrai muito a garotada. Oferecemos orientação de estudos, atendimento odontológico e de primeiros socorros, palestras na área da saúde e trabalhos com arte-educadores. Também garantimos, diariamente, um lanche.

Beira do Rio – Vocês acompanham o percurso dessas crianças depois que elas saem daqui?C.P.C. – Nunca tivemos estrutura para um acompanhamento longitudinal sobre o desen-volvimento dessas crianças. Mas temos alguns casos emblemáticos que mostram o impacto que esta experiência teve na vida dessas pessoas. Em alguns casos, já estamos atendendo a segunda geração. Aquelas meninas de 1993-1994 estão trazendo os seus filhos para o Projeto. Este é um indicador de sucesso.

Beira do Rio – Em dezembro passado, um bolsista do Projeto ganhou o Prêmio Jovem Cientista no XXVI Congresso Brasileiro de Cefaleia. É o que podemos citar como um “caso de sucesso” do Projeto?C.P.C. – Este é um desses casos emblemáticos. O Disraeli chegou aqui com 8-9 anos. No ensino médio, foi nosso educador, passou três ou quatro anos tentando uma vaga em Medicina. Imagina um garoto sair dessa comunidade e conseguir ser aluno de Medicina na UFPA! Hoje, ele é nosso bolsista e um aluno de destaque. Temos outros exemplos: a Dani, que chegou aos sete anos no Grupo de Dança e, em junho, vai colar grau na primeira turma de Dança da UFPA; o Rogerinho, jogando futebol no Japão; dois bailarinos no Gru-po de Dança do Teatro Municipal de São Paulo; a professora Rosilene, que foi nossa bolsista e, hoje, é diretora da Pediatria da Santa Casa.

Beira do Rio – A aproximação com a Universi-dade amplia os horizontes dessas crianças?C.P.C. – Esta aproximação é o nosso braço da extensão. O Projeto cresceu muito, porém faze-mos questão de continuar sendo um projeto de extensão da Faculdade de Educação Física. Após 18 anos, é possível contar nos dedos de uma das mãos os projetos que começaram na mesma época e continuam existindo. Talvez seja em virtude deste formato em que a criança tem no seu edu-cador um referencial que elas percebem como podem se transformar naquele ídolo. Tudo isso também tem um impacto positivo na formação desses alunos, que saem da universidade com uma formação acadêmica mais humanizada. A exten-são quer isto: quebrar os muros da universidade, trazer a comunidade para dentro do campus.

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Horacio Schneider - vice-reitor

Hilton P. Silva

[email protected]

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Coluna da REITORIA

OPINIÃO

BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Abril, 2011 – 11

Matraca quebra o silêncio e chama os fiéisEm 1960, na Sexta-Feira da Paixão, esse era o único ruído permitidoQuando assumi a Vice-Reitoria

da UFPA, tinha a noção exata da dimensão e complexidade

da tarefa que havia pela frente. Noção esta adquirida após mais de 10 anos convivendo com as dificuldades de manutenção de infraestrutura, de insu-ficiência de pessoal, seja docente, seja técnico-administrativo; e também com o relativo isolamento em que se vive nos campi da UFPA.

Durante a campanha para a Rei-toria, repetimos, até a exaustão, o mote de que tínhamos que reduzir as assime-trias entre os campi da UFPA. Agora, era a hora de mostrar que podíamos fazer isso.

Na oportunidade, tínhamos claro a ideia de que não fazia sentido, numa Universidade Multicampi, a Vice-Reitoria tratar os campi desigual-mente, pois a redução das assimetrias começa com o princípio de que todos os campi são iguais – esta é a hipótese de nulidade. Sabemos que estamos longe disso, mas temos (sempre tive-mos) a consciência de que nosso papel é trabalharmos juntos, administração superior e unidades da UFPA, na tarefa de reduzir essas diferenças. Por outro lado, tínhamos plena consciência de que isso somente se faz com transparência, tranquilidade, planejamento, "muita" democracia e tempo.

Essa foi a prática adotada nes-

tes quase 600 dias de trabalho. Posso garantir que foram dias muito ricos, tanto do ponto de vista pessoal como do profissional. Graças ao trabalho conjunto da administração superior com os dirigentes das unidades (ins-titutos e campi) e subunidades, foi possível a implementação de muitas ações positivas, todas elas precedidas e pautadas pela discussão nas unidades e pela transparência.

Apesar de 2009 ter sido um ano pela metade, muito foi realizado. Além das questões do dia a dia dos campi, tra-balhamos ativamente na continuidade dos processos de construção, aquisição de equipamentos e demais ações rela-tivas ao Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI), em perfeita consonância com os gestores dos campi. No entanto algumas das ações do REUNI foram comprometidas pelo curto espaço de tempo disponível para sua efetivação.

Em 2010, tínhamos um ano in-teiro e usamos todos os 365 dias. Foram inúmeras viagens aos campi do interior para tratar dos mais diversos temas e conhecer de perto as peculiaridades de cada unidade. Criamos uma nova comissão de assessoria ao REUNI e iniciamos o novo ano com o objetivo de usar, da melhor maneira possível, todos os recursos disponibilizados pelo

Programa. Quando começamos o ano de

2010, tínhamos pela frente uma grande tarefa. O orçamento previsto para cus-teio (material de consumo e serviços) e investimento (obras e equipamentos) somava mais de 29 milhões de reais. Além desses, havia, ainda, um volume de recursos para obras e equipamen-tos, referentes a 2009, contingenciado (retido) pelo MEC. Esses recursos somavam mais de 13 milhões de reais e acrescentados aos recursos de 2010 atingiam o montante de mais de 42 milhões de reais.

A tarefa se tornou mais comple-xa ainda, porque o MEC passou a exigir que elaborássemos projetos (termo de referência e planos de trabalho) para aquisição de equipamentos e realização de obras. Estes projetos tinham que ser previamente encaminhados ao MEC para análise e , caso fossem aprovados, os recursos seriam liberados (descentra-lizados) e, então, poderíamos proceder à licitação.

Essa prática, que não era adota-da anteriormente, dificultou bastante o processo, porque aumentou o número de passos burocráticos necessários para, por exemplo, construir um prédio ou comprar equipamentos para uma de-terminada unidade acadêmica.

Durante o ano de 2010, a equi-pe responsável pela coordenação

e execução do REUNI elaborou (e submeteu ao MEC) vinte projetos de obras beneficiando os campi de Aba-etetuba (1), Altamira (2), Belém (8), Bragança (2), Breves (1), Cametá (2), Castanhal (2), Marabá (1) e Soure (1); e oito para aquisição de equipamentos favorecendo, praticamente, todos os campi. Dos vinte projetos referentes a obras e dos oito referentes à aquisição de equipamentos, apenas cinco dos de obras e dois dos de equipamentos não foram liberados.

Desta vez, é o MEC que está em débito com a UFPA e não o contrá-rio. Em resumo, no ano de 2010, todos os projetos foram elaborados e encami-nhados ao MEC e todos os projetos au-torizados (obras e equipamentos) foram licitados. A missão foi cumprida.

Para 2011, os recursos do REU-NI chegam a mais de 52 milhões de reais. Mais um grande desafio que, se vencido, representará mais prédios e equipamentos e mais recursos para manutenção e reformas a serem apli-cados nos diversos campi da capital e do interior, inclusive nos novos campi de Capanema e Tucuruí, os quais serão contemplados com obras de infraestru-tura. De novo, a ação articulada da ad-ministração superior com os dirigentes das unidades, certamente, vai permitir que, no final de 2011, possamos dizer novamente – missão cumprida.

UFPA reduz assimetrias entre os campi

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

2 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Abril, 2011

Rua Augusto Corrêa n.1 - Belém/[email protected] - www.ufpa.br

Tel. (91) 3201-8036

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Jovens por todas as partes do mundo exigem mudanças. Do Marrocos à Líbia e ao Egito, da

Grécia à França e Inglaterra, as pessoas estão descontentes com as políticas e os políticos que não conseguem dar respostas às sucessivas crises que vêm se abatendo sobre as populações, afe-tando, especialmente, os mais pobres e, em particular, os países periféricos. Governos corruptos e opressores geram indignação, revolta, greves e revoluções. Esses movimentos não são motivados por radicais religiosos, como querem fazer crer alguns jor-nais, eles são movimentos de massas, de cidadãos que desejam democracia e cidadania. Foi neste contexto que ocorreu em Dacar, capital do Senegal, na chamada "Africa Noir", a mais re-cente edição do Fórum Social Mundial (FSM).

O FSM tem demonstrado que há alternativas concretas e viáveis ao modelo neoliberal, que é possível os Estados assegurarem a seus cidadãos a proteção dos direitos humanos fundamentais e o acesso a serviços básicos.

Este ano, aproximadamente 100 mil pessoas, de mais de 120 países, participaram de centenas de oficinas, grupos de trabalho e ativida-des autogestionadas. A maioria dos participantes foram mulheres, que têm papel cada vez mais protagonista no ativismo social, em níveis local e mundial. Palestinas, quenianas, libe-rianas, brasileiras, indianas e mulhe-res de muitas outras nacionalidades enchiam as tendas e salas de debates para relatar experiências bem sucedi-das e denunciar situações de abuso, violência, discriminação e desrespeito aos acordos internacionais por parte de seus países.

A realização do FSM na África tem especial importância, pois traz a atenção para aquele continente que tem sido tão espoliado ao longo dos séculos, mas que, além de ser o berço da humanidade e ter contribuído para a formação da identidade social de vários países, tem muito a ensinar em termos culturais. Não por coincidên-cia, 2011 foi declarado pela Assem-bleia Geral das Nações Unidas o "Ano Internacional dos Afrodescendentes",

marcando a necessidade de maior respeito e reconhecimento pelas con-tribuições que o continente africano e seus cidadãos, mesmo os expatriados pelo tráfico negreiro, têm feito pela sociedade humana.

O II Festival Internacional de Filme Social (II FEST-FISC), inicia-tiva paraense de parceria entre a so-ciedade civil, a produção audiovisual independente e a Academia, foi con-vidado pelo professor Bubacar Buuba Diop, coordenador local do Fórum, para fazer parte da programação cul-tural oficial "Espace Cinema, Films & Débats". Sob a direção dos professores Hilton P. Silva e Francisco Weyl, o II FEST-FISC levou à África 18 filmes, organizados em três mostras.

A primeira exibição, realizada na Maison Du Brésil, contou com os filmes selecionados de diversos Estados e de outros países. A segunda ocorreu no Centro Cultural Blaise Senghor, com a apresentação dos "7 Filmes Capitais"; e a terceira teve lugar na École Elementaire Samba Diery Diallo como parte das ativida-des paralelas do FSM, na qual alunos

e professores senegaleses tiveram a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre o Brasil e a Amazônia por meio do trabalho de jovens produtores marajoaras. As mostras ocorreram, simultaneamente, em Belém, em di-versos bairros e formatos.

O FSM do Senegal mostrou que a África está preparada para o futuro e não pode ser ignorada ou relegada a políticas de ajuda humanitária. Os problemas que acometem aquele conti-nente não são diferentes dos existentes em outros lugares do mundo e os afri-canos podem e devem ter autonomia para decidir que caminhos desejam trilhar para o seu desenvolvimento. O FSM representa a mais importante es-tratégia da sociedade civil para trocar informações e congregar forças para a construção de um futuro melhor. Foi no Brasil que se iniciou o Fórum e é bom saber que nós, da Amazônia, tam-bém podemos contribuir para a criação de um mundo melhor para todos.

Hilton P. Silva é professor do IFCH/UFPA e atua no Programa de Pós-Graduação em Antropologia.

A busca por um mundo melhor para todos

kkkQuaresma

Reitor: Carlos Edilson Maneschy; Vice-Reitor: Horácio Schneider; Pró-Reitor de Administração: Edson Ortiz de Matos; Pró-Reitor de Planejamento: Erick Nelo Pedreira; Pró-Reitora de Ensino de Graduação: Marlene Rodrigues Medeiros Freitas; Pró-Reitor de Extensão: Fernando Arthur de Freitas Neves; Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: Emmanuel Zagury Tourinho; Pró-Reitor de Desenvolvimen-to e Gestão de Pessoal: João Cauby de Almeida Júnior; Pró-Reitor de Relações Internacionais: Flávio Augusto Sidrim Nassar; Prefeito do Campus: Alemar Dias Rodrigues Júnior. Assessoria de Comunicação Institucional JORNAL BEIRA DO RIO Coordenação: Ana Danin; Edição: Rosyane Rodrigues; Reportagem: Ana Carolina Pimenta (013.585-DRT/MG)/Dilermando Gadelha/Flávio Meireles/Jéssica Souza(1.807-DRT/PA)/Paulo Henrique Gadelha/Rosyane Rodrigues (2.386-DRT/PE)/Vito Ramon Gemaque; Fotografia: Alexandre Mo-raes/Karol Khaled; Secretaria: Silvana Vilhena/Carlos Junior/ Davi Bahia; Beira On-Line: Leandro Machado/Leandro Gomes; Revisão: Júlia Lopes/Cintia Magalhães; Arte e Diagramação: Rafaela André/Omar Fonseca; Impressão: Gráfica UFPA; Tiragem: 4 mil exemplares.

Jane Felipe Beltrão

Nos anos 60 do século passado, as práticas católicas trazidas e impostas pelos europeus se faziam fortemente presentes em Belém,

malgrado o Círio de Nazaré ser a maior expressão de fé dos paraenses. Durante a Semana Santa, as expressões católicas oficiais eram/são expressivas e em várias igrejas do circuito histórico era/é pos-sível assistir às Vias Sacras e Vigílias em Honra do Senhor Morto e delas participar. Hoje, não tão frequentes pelos problemas de segurança pública que se enfrenta.

O ápice das homenagens oficiais era/é o Sermão das Três Horas da Agonia, iniciado ao meio-dia e encerrado às três da tarde. Os oradores, escolhidos "a dedo", se esmeravam e ainda se esme-ram em pregar ao rebanho. Os fiéis que não podiam chegar à Capela do Colégio Santo Antônio podiam ouvir o Sermão pelas ondas do rádio. Os eventos eram concorridos, mesmo que muitos se deslocas-sem aos balneários para aproveitar os feriados.

Às práticas católicas, o povo de Deus acres-centa "sotaques" outros, nem sempre aprovados pelas autoridades católicas e, em Belém, não era/é diferente. Talvez, para manter o silêncio da meni-nada nos dias de guarda, especialmente na Sexta-Feira da Paixão, quando nada podia interrompê-lo, muitas histórias circularam advertindo para não fazer barulho ou algazarra.

Os sinos não dobravam/dobram nos dias da Santa Semana, apenas as matracas-da-quaresma - objetos de percussão feitos em prancha de madeira pesada, na qual são fixados pedacinhos de tábuas ou metal que, ao balançarem, repercutem na pran-cha e emitem sons de chamamento aos fiéis - era conferida a possibilidade de romper o silêncio, os matraqueiros, penso eu, eram felizardos pela chan-ce ao agitarem o objeto e produzirem sons ritmados, mas nem mesmo a eles se confere o direito de soar as matracas durante as "horas da agonia".

Assim, às crianças proibidas de brincar se dizia que, ao fazerem barulho, podiam perder a mãe, tanto que, no Santo Alexandre – Igreja que passou anos fechada para restauração –, existiam "estátuas" de meninas que ousaram ser barulhentas e, por terem desobedecido às mães, secaram como palha. Mas nem tudo eram ameaças! As avós, para contemporizar, contavam histórias à meninada e saíam com os netos em "passeio" obrigatório, mis-são de fé prazerosa.

Conheci bem uma dessas senhoras, Dona dos Anjos, que saía com a neta, Maria Francisca, pela mão em direção à Igreja do Rosário dos Pretos, primeira parada do passeio. No local, indicava à Francisca as imagens cobertas por mantos roxos informando a tristeza que abatia os católicos pela Paixão de Cristo. Depois, vagarosamente, alcançava a Igreja de Santana em cuja cúpula não era possível colocar mantos roxos, assim, a bondosa Dos Anjos mostrava à neta as figuras que, como imagens, estavam cobertas. Francisca e Dos Anjos, longe dos olhares de todos, tinham chance de cochichar a sós, ela sussurrava lindas histórias de santos, as quais mais pareciam belos contos de fadas, pois o sofrimento dos personagens era recompensado com a santidade, como as heroínas.

No caminho, Dos Anjos encontrava as ami-gas que, como ela, iniciavam os netos nas práticas católicas. De Santana à Capela Pombo, pequenina e nem sempre aberta, de lá para a Igreja das Mercês, local de histórias de escravo, pois, antes, a praça em frente foi mercado de escravos. Depois, a torcida da neta voltava-se para que a Igreja de Santo Alexandre estivesse aberta. Dos Anjos ia contando a história das meninas secas por malcriação, mas, por anos a fio, ficaram paradas à soleira da porta.

Quando Santo Alexandre abriu suas portas, no final dos anos 90, Dos Anjos tinha partido e

Francisca não mais tinha curiosidade. Assim, não se sabe se há "meninas secas", pois a Igreja perdeu a configuração original. Como não podiam entrar, o jeito era ir à Sé, Catedral consagrada a Nossa Senhora de Belém. Lá, tudo era suntuoso e mara-vilhava a pequena menina, mas o roteiro encerrava quando os chamados Sete Passos eram completados com a visitação à Igreja do Carmo, que alcançavam andarilhando pela primeira Rua de Belém, a qual, embora tenha se chamado rua do Norte, à época, já era conhecida como Siqueira Mendes.

A rua era deslumbrante, um desafio à me-mória de Dos Anjos, que apresentava Francisca às garagens náuticas dos clubes, à antiga fábrica

do Guaraná Soberano, cuja iluminação era feita por águias-lampião, estas, o encanto da neta que tentava, em vão, fazê-las voar enxotando-as com as mãos, pois o silêncio era imperioso. A pequena Francisca sempre pensou que, em outro dia, aos gritos, poderia fazer a águia voar, mas o passeio só acontecia na Semana Santa. Assim, a pequena ficou sem conseguir o intento. O roteiro estava completo! Os tempos de Dos Anjos pertencem à memória!

Jane Felipe Beltrão é antropóloga, docente do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UFPA e pesquisadora do CNPq.

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10 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Abril, 2011 BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Abril, 2011 – 3

Congresso reúne especialistas em LetrasProposta é fazer radiografia das pesquisas que estão sendo realizadas

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Centro de Convenções da UFPA abrigará parte da programação do III CIELLA

O CIELLA ocorre a cada dois anos e teve sua primeira edição re-alizada em 2007. O evento nasceu como desdobramento da Jornada de Estudos Linguísticos e Literários, promovida pelo Mestrado em Letras da UFPA, em nível local. A ideia era transformar esse encontro em que os alunos apresentavam suas pesquisas em um grande congresso, uma vez que o caráter internacional do even-to traria maior apreço aos trabalhos dos mestrandos.

Desde então, todas as edições do evento têm contado com exten-siva participação. "O Congresso já se consolidou no cenário científico das Letras, pois já tem público estável e propósito bem definido - oportunizar a publicação"-, sintetiza Sílvio Holanda, coordenador geral da terceira edição do evento.

O porfessor destaca que o cenário amazônico para as pesquisas em Letras é relativamente favorável, porque, apesar da grande assimetria com as demais regiões do Brasil, o Norte ainda conta com alguns privilégios, por exemplo, uma cota nas linhas de financiamento das

agências de fomento, como Capes e CNPq.

"Isso permite ao professor da Amazônia ter maior acesso à linha de investimentos. Não basta somen-te ser um bom pesquisador, é preciso transformar o talento intelectual em produção efetiva, a qual, somada à produção dos alunos, poderá, a médio prazo, nos permitir oferecer um Doutorado em Letras na região, o qual seria o primeiro de todo o Norte", afirma o pesquisador.

A meta é obter, de imediato, o conceito 4 na avaliação da Capes, que, atualmente, avalia o Programa de Pós-Graduação em Letras com a nota 3, em uma escala de 0 a 7. "Os professores estão fazendo a sua parte, cabe, agora, aos alunos também produzirem artigos, sendo o CIELLA oportunidade ímpar neste sentido", conclui Sílvio Holanda.

Serviço: Para informações comple-tas sobre programação, convidados confirmados, inscrições, passeios tu-rísticos e hospedagens, acesse o site do evento: http://www.3CIELLA.ufpa.br.

Jéssica souza

Cerca de mil pessoas do Brasil e do exterior são esperadas para a terceira edição do

Congresso Internacional de Estu-dos Linguísticos e Literários na Amazônia (III CIELLA), o qual acontecerá na Universidade Federal do Pará (UFPA), entre os dias 18 e 20 de abril. Com o tema "Estudos Literários e Linguísticos, Histórias e Perspectivas", o evento tem como objetivo gerar uma grande interlo-cução sobre os rumos das pesquisas na área de Letras, para, com isso, formular um diagnóstico e um prog-nóstico acerca da produção científica em Linguística e Literatura na Ama-zônia, no Brasil e no mundo.

Mesas-redondas, conferências, palestras, minicursos e apresentações de trabalhos estão previstos na inten-sa programação, que ocorrerá, simul-taneamente, no Centro de Eventos Benedito Nunes, nos auditórios seto-riais e de institutos, como o Instituto de Letras e Comunicação (ILC) e o Instituto de Ciências Jurídicas (ICJ).

Participantes podem fazer inscrições até o dia 18 �

O CIELLA é organizado pelo Pro-grama de Pós-Graduação em Letras da UFPA, programa misto nas áreas de Linguística e Estudos Literários, coordenado pelo professor Sílvio

Augusto de Oliveira Holanda. De acordo com o coordenador,

o Congresso foi criado intencional-mente "na" e "para" a Amazônia. "Para Amazônia, porque a região

precisava de um evento desse porte a fim de que alunos e professores da área pudessem contar com um canal para publicação e divulgação de suas pesquisas. Já a preposição 'na' foi escolhida de modo deliberado no lugar de 'da' Amazônia com o intuito de frisar que o CIELLA deve abordar temáticas que partem do enfoque amazônico, mas abarcam motivos mais amplos, de caráter inter e multidisciplinar", destaca Sílvio Holanda.

Áreas afins, como Cinema, Comunicação Social e Artes Plásti-cas, ou que dialogam com a Linguís-tica e a Literatura, como Sociologia, Antropologia e História, também estarão representadas no evento, por meio dos eixos norteadores das diversas modalidades de apresen-tações. A Filosofia, por exemplo, será ressaltada durante homena-gem, na mesa oficial de abertura do Congresso, ao saudoso professor emérito da UFPA, filósofo e crítico literário Benedito Nunes, falecido no dia 27 de fevereiro, em Belém, aos 81 anos.

Até março de 2011, já ha-via 500 comunicações de alunos inscritas na programação. Língua portuguesa e questões do âmbito da fonologia, morfologia, semântica, como também línguas estrangeiras e línguas indígenas estarão entre os assuntos apresentados. A grande novidade deste ano é a discussão em torno da Linguagem em Libras, tema de trabalhos sobre ensino-aprendizagem a serem trazidos por

especialistas da área de Linguística. "Hoje, o profissional de Letras é obrigado por lei a ter formação em Libras, discussão vital e oportuna para o CIELLA 2011", destaca Sílvio Holanda.

Em Literatura, há grande con-centração de trabalhos na temática das narrativas orais, uma vez que o Congresso está sediado na Amazô-nia. "Além disso, há, ainda, trabalhos na área da Literatura Comparada, que

traz para análise autores locais colo-cados em contraponto com autores e teorias mundiais, como a perspectiva latino-americana de literatura", com-plementa o coordenador.

As inscrições para apresenta-ção de trabalhos estão encerradas. Para participar do evento como ou-vinte, estudantes de pós-graduação, de graduação e do ensino médio podem se inscrever até o dia da abertura, 18 de abril, pelo site http://

www.3CIELLA.ufpa.br. Profis-sionais de Letras ou de áreas afins também têm a opção de apresentar relatos de experiências em torno das temáticas do Congresso.

Pesquisadores da América do Norte, como dos Estados Unidos; e da Europa, como de Portugal, Fran-ça e Itália, estão com conferências previstas na programação, além de professores colaboradores de uni-versidades brasileiras.

Artigos estarão em revista �Na categoria sessões temáti-

cas, foram definidos dez subtemas, entre eles: "Poéticas orais e saberes interculturais"; "Literatura, arte e educação em diálogo: mapeando o ato didático criador"; "Escrita de professores em formação"; "Classes de palavras e relações espaciais em línguas indígenas brasileiras e áreas adjacentes"; "A correspondência das artes" e "Produção, circulação e recepção de textos ficcionais no Brasil".

A palavra-chave é diversida-de: de temas, de público, de suges-tões sobre os rumos que a pesquisa na área pode seguir a partir desses debates. "São propostas bem ricas em temas e abordagens que possibi-litarão aos participantes do evento uma radiografia das pesquisas em torno das Letras", afirma Sílvio Holanda. Até mesmo relações inu-sitadas, como a da Literatura com o futebol, estão no páreo das temáticas propostas por meio do minicurso a ser ministrado pelo professor Elcio Loureiro Cornelsen, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Há, no total, seis opções de

minicursos. Além do "Futebol, Lin-guagem e Artes", são eles: "Tudo que você quer saber sobre documentação por meios digitais"; "Compreen-são e produção oral em Línguas Estrangeiras"; "Gêneros da poesia popular nordestina"; "Tipologia e universais linguísticos" e "Técnicas de documentação linguística". Os minicursos poderão ser escolhidos pelo participante no ato do creden-ciamento no Congresso, sem nenhum custo adicional. Há vagas para até 300 pessoas.

Segundo o professor Sílvio, o contato com pesquisadores de universidades nacionais e estran-geiras é o carro-chefe deste evento, uma vez que, a partir daí, podem surgir parcerias para publicações ou formação de grupos de pesquisas, colaboração bibliográfica e efetiva produção científica. Além disso, o Congresso servirá de canal para que o aluno da pós-graduação encontre um espaço propício para divulgar suas produções. A meta da coorde-nação é poder editar uma revista temática com a produção decorrente de todo o evento.

Cenário favorável à pesquisa �

Utilizando o espaço e os recursos disponíveis, cerca de 240 alunos participaram do Projeto

A despeito dos percalços, a experiência foi considerada positiva pelo professor Victor Diniz. “Os alunos receberam bem o Projeto, perceberam o quão é importante a realização de aulas práticas e apren-deram que não devem se contentar apenas com explicações tradicionais”, afirma.

Um dos momentos considera-dos mais importantes foi a visita de um grupo de alunos ao Laboratório de Química da UFPA, quando eles pude-ram conhecer o Grupo de Espectro-metria Analítica Aplicada (GEAAp), coordenado pela professora Kelly

Dantas. Na ocasião, eles observaram uma análise química de plantas medi-cinais e esclareceram dúvidas com os responsáveis por essas pesquisas.

Ao avaliar a situação atual da rede pública de ensino, o professor Victor Diniz diz que a realidade in-dica uma série de fatores que podem contribuir negativamente para a qua-lidade do ensino. “Muitas vezes, até tentamos inovar, mas nos deparamos com problemas na infraestrutura, por exemplo. As escolas não oferecem o mínimo necessário para realizarmos um bom trabalho. Aquelas que dis-põem de laboratórios não possuem

o material para os experimentos. Também faltam laboratórios de in-formática, os quais são um excelente instrumento de pesquisa. Todas essas dificuldades interferem na qualidade do ensino e colaboram com a des-motivação do professor”, pondera Victor Diniz.

O docente diz, ainda, que, em sala de aula, o livro didático ajuda, mas não é suficiente. “Eles represen-tam uma excelente ferramenta. Porém não são suficientes para a aquisição do conhecimento. É importante buscar-mos outras alternativas, como a exi-bição de vídeos que possam explicar

como acontece uma reação química”, complementa.

Já para a professora Kelly Dantas, uma das dificuldades é a concepção que muitos têm da Quí-mica como uma disciplina difícil. “O que mais dificulta, às vezes, são as metodologias utilizadas. Há experi-mentos simples de serem realizados. Por exemplo, é possível pegar duas soluções incolores, misturá-las e, como resultado, temos uma coloração diferente, evidenciando uma reação química. Dessa forma, é mais fácil explicar, pois os alunos estão vendo o que está acontecendo”, finaliza.

Paulo Henrique Gadelha

A realidade das escolas brasilei-ras, sobretudo as pertencentes à rede pública, continua sen-

do pautada pela tênue relação entre teoria e prática, união considerada imprescindível pelos profissionais da educação para se chegar à excelência do ensino-aprendizagem. Por diver-sas circunstâncias, na maioria dessas escolas, tal relação inexiste, o que contribui para agravar os problemas do sistema educacional do País.

Ao analisar essa realidade no Pará, mais especificamente na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio (EEEFM) Padre Benedito Chaves, localizada em Belém, onde leciona Química para os alunos do ensino médio, o professor Victor Wagner Bechir Diniz constatou que a realidade local é, talvez, ainda mais grave. Então, o docente, atualmente doutorando em Química na Universi-dade Federal do Pará (UFPA), sentiu a necessidade de criar um projeto que pudesse amenizar essa situação na escola em que trabalha e também contribuir para a melhoria do ensino na rede básica.

O resultado foi o Projeto de Extensão “Confecção e utilização de kits de atividades experimentais para o ensino de Química como es-tratégia para a melhoria da prática pedagógica do professor de ensino médio”, coordenado por ele e apro-vado pelo Programa Fortalecer, parceria entre o governo do Estado e a UFPA. A iniciativa contou com o apoio da professora da Faculdade de Química do Instituto de Ciências Exatas e Naturais (ICEN) da UFPA,

Kelly das Graças Fernandes Dantas, que atuou como supervisora, e de três bolsistas, estudantes de graduação do curso de Licenciatura em Química, da Universidade.

O Projeto iniciou em 2008 e permaneceu em vigor por dois anos. Segundo Victor Diniz, o objetivo era proporcionar aulas práticas aos alunos do ensino médio da Escola

Padre Benedito Chaves, onde não existem laboratórios para as aulas experimentais. Para isso, seriam con-feccionados kits de atividades que poderiam despertar nos alunos o in-teresse científico e a (re)aproximação entre teoria e prática. “Os kits seriam a possibilidade de proporcionar aos alunos um momento diferente, o qual não ficasse restrito às aulas tradicio-

nais”, diz Victor Diniz. De acordo com a professora

Kelly Dantas, observar os fenôme-nos que, antes, ficavam apenas na teoria torna as aulas mais atraentes e enriquecedoras, “dessa maneira, os estudantes podem se apropriar ainda mais do conhecimento e ter melhor entendimento dos conteú-dos”, avalia.

bolsistas eram responsáveis pelo roteiro das aulas �A partir da metodologia utiliza-

da no Projeto, os alunos de Graduação em Química eram responsáveis pelo levantamento bibliográfico e elabo-ração de roteiros das aulas práticas. Eles ainda produziam questionários avaliativos, sob orientação dos pro-fessores Victor Diniz e Kelly Dantas, os quais seriam respondidos pelos alunos do ensino médio. Após esse planejamento inicial, os bolsistas

tinham que confeccionar e testar os experimentos.

No total, 242 alunos das três séries do ensino médio e de todos os turnos da escola participaram do Projeto. Por uma questão de didática e pensando na busca de bons resultados com as atividades que seriam execu-tadas, cada bolsista foi incumbido a monitorar aproximadamente 80 alunos. Dessa forma, os estudantes

receberiam uma atenção especial, podendo elucidar as suas dúvidas com os monitores, caso as tivessem.

Os experimentos eram consti-tuídos por reações que demonstravam os fenômenos químicos. Após as soluções ficarem prontas, elas eram depositadas em frascos devidamente rotulados e separados em kits, de acordo com o tipo de experimento e, então, eram colocados em maletinhas.

Os testes e a montagem dos kits acon-teciam na própria UFPA e as aulas práticas na Escola.

Em razão de alguns problemas com o repasse dos recursos que seriam utilizados na confecção dos materiais, os integrantes do Projeto tiveram que improvisar utilizando material cedi-do pelo Laboratório de Química da UFPA, onde a professora Kelly Dantas coordena outras pesquisas.

Visita possibilitou encontro “ao vivo” com a pesquisa �

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Atividades aproximam teoria e práticaKits complementam conteúdos presentes nos livros didáticos

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Livro traz história da Faculdade de Medicina Autores revelam personagens e fatos que marcaram os primeiros anos

BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Abril, 2011 – 9

Saberes da TerraMemória

Sede própria: Palacete Santa Luzia foi adquirido para abrigar a Faculdade de Medicina do Pará

No período de surgimento, des-crito pelos autores como o mais crítico, houve uma rotatividade muito grande de professores, porque poucos encara-vam os baixos salários. Nessa época, a motivação era muito mais filosófica do que de ascensão profissional. O movi-mento em que os poucos docentes se desdobravam para lecionar múltiplas disciplinas ficou conhecido como a "dança das cátedras". O romantismo daquele momento é notório quando

lemos que, em épocas de quase falência da Faculdade, muitos professores che-garam a abrir mão de seus salários.

A Faculdade de Medicina foi, até 1950, uma instituição particular. O processo de federalização durou qua-tro anos e significou um dos capítulos mais heróicos da história da instituição. A participação intensa e brilhante do Diretório Acadêmico no início do mo-vimento, em prol da gratuidade do ensi-no, é narrada em detalhes pelos autores

e constitui um dos pontos altos do livro. Após lutas e ampla mobilização, veio o ato presidencial que tornou pública a Faculdade de Medicina.

Aos poucos, os antigos profes-sores, fundadores da Escola, foram-se afastando, por falecimento ou pela aposentadoria. O corpo docente foi sendo reestruturado, as obras do Pavi-lhão Lauro Magalhães foram conclu-ídas em 1949 e o prédio do Instituto da Higiene foi entregue em 1955. "A

Faculdade estava pronta para mais uma batalha: a criação da Universidade do Pará, que aconteceria em 1957". Mas isso é outra história, ou quem sabe outro livro.

Serviço: O livro Memória Histórica da Faculdade de Medicina e Cirurgia do Pará, 1919-1950. Da Fundação à Federalização pode ser adquirido pelos e-mails: [email protected] ou [email protected]. Valor: R$ 50,00.

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Ana Carolina Pimenta

Contar um pouco da história do curso de Medicina da Univer-sidade Federal do Pará, o pri-

meiro da Região Norte, é um desafio que os médicos Aristóteles Guilliod de Miranda e José Maria de Castro Abreu Jr. encaram no livro Memória Histórica da Faculdade de Medicina e Cirurgia do Pará, 1919-1950. Da Fundação à Federalização. Como o próprio título diz, a obra retrata os primórdios da Faculdade, em um marco temporal de 30 anos. Em seus capítulos, estão personagens e fatos marcantes, o cotidiano, as atividades acadêmicas, o processo de federali-zação e o seu crescimento.

Nomes, como Barão de Anajás, Camilo Salgado e Olympio Silveira, são lembrados com destaque no livro sem que se deixe de ressaltar que a Faculdade de Medicina e Cirurgia do Pará foi uma construção de muitos. "Quisemos fugir do biografismo, mas não poderíamos deixar de ressaltar figuras emblemáticas. O médico Barão de Anajás, por exemplo, é sempre citado nos discursos atuais, mas pouco se sabe sobre ele", alega Aristóteles Guilliod em referência ao primeiro diretor da Faculdade de Medicina, Emiliano de Souza Cas-tro, nomeado com título de nobreza pelo imperador D. Pedro II.

Diversos públicos – Mesmo cor-rigindo injustiças cometidas pela memória, dando luz a personagens fundamentais, os quais permanece-ram por anos no obscurantismo, os autores não se prendem à coletânea de perfis e descrevem um relato

atraente para diversos públicos. De acordo com eles, não se trata de uma obra para pares, mas para aqueles que gostam de história e têm curiosidade pelo o passado.

O livro também esboça o contexto socioeconômico durante o período embrionário da Instituição. "É curioso notar, por exemplo, que a Faculdade surge num momento de profunda crise econômica na Amazô-nia, já com o declínio da extração da borracha", comenta o médico Aris-tóteles Gullliod. Os pesquisadores

informam que a prosperidade eco-nômica não se fez sentir no âmbito da educação superior e explicam a ironia. "A elite dominante mandava seus filhos estudarem na Europa, por isso não era interessante estimular a formação de ‘doutores’ no próprio Estado durante a Belle Époque. Essa necessidade nasceu a partir do momento em que não havia recursos para enviar seus herdeiros para fora do País", revela José Maria Abreu.

Assim, surgem a Escola Li-vre de Odontologia (1914) e a de

Agronomia e Veterinária (1918). Mas foi, sem dúvida, a criação da Faculdade de Medicina e Cirurgia do Pará (1919) que demandou maior esforço e coragem. Embora houvesse uma lei para a criação de Faculdades de Medicina, Engenharia e Direito no Estado do Pará durante a gestão do governador e médico José Paes de Carvalho (1897-1901), isso não se concretizou. Foi somente em 1919, por meio da iniciativa de particulares, que surgiu a Faculdade de Medicina do Pará.

Da 1ª turma, apenas quatro alunos concluíram curso �Outro fato descrito nas páginas do

livro é a carência por recursos materiais e humanos que marcou o surgimento da Faculdade. Hoje, uma das carreiras mais desejadas e concorridas, a nova es-cola era vista com desconfiança naquele momento e passou por dificuldades para completar seu corpo de alunos. Houve, inclusive, uma campanha para aumentar o número de candidatos matriculados na Faculdade.

Após a empreitada, matricula-ram-se 58 alunos, sendo que somente quatro saíram formados. Além do alto número de evasão, a maioria dos estu-

dantes foi reprovada ao longo do curso. De acordo com os pesquisadores, o mé-dico Camilo Salgado considerou o fato positivo e de um efeito moralizante, já que comprovava que não bastava pagar as mensalidades para o aluno sair um profissional.

O perfil dos primeiros médicos formados pela então Faculdade de Medi-cina e Cirurgia era bastante diversificado e um tanto incomum. Um era comercian-te grego residente em Belém, outro era jornalista, outro era dentista e o outro era um estudante de Medicina, que veio transferido, do Rio de Janeiro.

Como ocorre ainda hoje, o fluxo de candidatos de outros Estados era bastante significativo. "Basta fazer uma pesquisa e verificar que os médicos mais antigos do Amazonas, do Acre, de Rondônia, do Piauí e do Ceará foram formados pela Instituição. Sua impor-tância geográfica era enorme", diz José Maria Abreu.

A campanha seguinte foi para aquisição do prédio da nova faculdade, que se encontrava abrigada em salas de aula do Colégio Paes de Carvalho. Os autores contam que a iniciativa partiu do médico Camilo Salgado, figura bastante

popular e influente à época. A imprensa local abraçou a causa e os jornais passa-ram a pedir recursos e a publicar listas de doadores e valores, o que serviria como instrumento de promoção pessoal. Seis meses depois, a Faculdade de Medicina do Pará já contava com sede própria. Aristóteles Guilliod e José Maria Abreu explicam que, por ironia, a crise econô-mica por que passava o Estado ajudou na compra do novo prédio. "O Palacete Santa Luzia (hoje Praça Camilo Salga-do) foi adquirido em virtude da desva-lorização dos imóveis durante o período pós-crise", esclarecem os autores.

Diretório Acadêmico iniciou movimento pela gratuidade �

A educação formal e o saber tradicional Programa está mudando a realidade de comunidades rurais da região

Todo o Projeto foi pensado para atender aos interesses dos po-vos do campo, como: agricultores familiares, assalariados, assentados, ribeirinhos, caiçaras, extrativistas, pescadores, indígenas, remanes-centes de quilombos, entre outros povos que, por muito tempo, lutam pela afirmação de seus direitos.

O "Saberes da Terra" atende, prioritariamente, aos jovens de mu-nicípios que têm baixos indicadores sociais e fazem parte do Programa Território de Cidadania, criado em 2008. Para participar, os estudantes devem ser alfabetizados, agricul-

tores familiares na faixa de 18 a 29 anos, residir ou trabalhar nas regiões de abrangência do Projeto, não ter concluído o ensino funda-mental e não estar matriculado em curso regular.

O Programa "Saberes da Terra da Amazônia Paraense" ganhou, ano passado, a Medalha Paulo Freire, durante a II Semana da Educação de Jovens e Adultos, organizada pelo Ministério da Educação (MEC) - Comissão Na-cional de Alfabetização e Educação de Jovens e Adultos e Fóruns de Educação de Jovens e Adultos. O

prêmio veio declarar nacionalmente a importância do trabalho desenvol-vido pelo Projeto.

A premiação é o reconheci-mento oficial do êxito de uma ação concreta, com resultados positivos, no que diz respeito à Política Pú-blica em Educação do Campo. A experiência vem servindo de refe-rência para as instituições envolvi-das com a formação educacional. Ela influenciou a concepção das propostas curriculares dos cursos de Licenciatura em Educação do Campo, da UFPA, e de Técnico Agropecuário, do IFPA.

O professor Evandro Medei-ros destaca, ainda, que a premiação é uma recompensa para a equipe do Projeto e para toda a Universidade, já que a UFPA e o IFPA são insti-tuições de vanguarda em iniciativas pedagógicas e na mobilização dos debates sobre a necessidade de políticas públicas de educação no campo.

"A medalha reconhece a liderança, a competência e o com-promisso da Universidade com a construção de uma sociedade mais justa e sustentável no contexto da Amazônia", salientou o professor.

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Atividade realizada durante o Tempo Comunidade no município de Marabá

Vito Ramon Gemaque

A educação no campo, há muito tempo, é considerada um dos grandes desafios do Brasil.

Até bem pouco tempo, todo o co-nhecimento formal ficava restrito às cidades urbanas brasileiras. Com isso, grandes setores da população foram excluídos elevando, assim, as taxas de analfabetismo e de semiescolaridade no campo.

Vários projetos e programas foram criados para suprir essa ca-rência da população. O "ProJovem Campo - Programa Saberes da Terra" é um deles. O Projeto, desenvolvido nacionalmente por meio da parceria de diversas instituições, ministérios e secretarias de governo, visa contribuir para que jovens com idade entre 18 e 29 anos concluam o ensino funda-mental, unindo o conhecimento tradi-cional das suas comunidades com o conhecimento formal das escolas.

O Programa "Saberes da Terra da Amazônia Paraense" foi iniciado em 2005 e está na sua terceira ver-são. No Pará, a Secretaria de Estado de Educação (Seduc) coordena o Programa levantando a demanda de educadores e dividindo-os entre a Universidade Federal do Pará (UFPA) e o Instituto Federal de Educação, Ci-ência e Tecnologia do Pará (IFPA), os quais são as instituições formadoras. Além destas instituições, o "Saberes da Terra" tem parceria com o Fórum Paraense de Educação do Campo e

com a União Nacional de Dirigentes Municipais de Educação (Undime/PA).

Este ano, a UFPA coordenará a ação de formação em 19 municípios, nos polos de formação em Altamira, Tocantins e Marajó. O Programa terá, no total, 1.226 estudantes, 39 turmas, 196 educadores e 19 coordenadores

pedagógicos. Também serão qualifi-cados os jovens envolvidos em Agri-cultura Familiar, para que eles sejam multiplicadores do conhecimento em suas comunidades.

"O objetivo é contribuir para a formação integral do jovem do campo, potencializando a sua ação no desenvolvimento sustentável e

solidário de seus núcleos familiares e comunidades, por meio de atividades curriculares e pedagógicas, em con-formidade com o que estabelecem as Diretrizes Operacionais para Educa-ção Básica nas Escolas do Campo", explica a coordenadora do Programa na UFPA, Selma Pena, do Instituto de Educação (ICED).

Aulas divididas em Tempo Comunidade e Tempo Escola �Entender a realidade que cerca

as comunidades do campo é funda-mental para o "Saberes da Terra". Com uma nova metodologia de ensi-no, educadores e alunos pesquisam e participam do cotidiano do grupo em dois momentos: o "Tempo Comuni-dade" e o "Tempo Escola".

Essa metodologia dividindo a prática escolar e a prática comunitária é chamada pedagogia da alternância, criada em 1935, com um pequeno grupo de agricultores franceses insa-tisfeitos com o sistema educacional que não atendia às especificidades da educação no meio rural.

"É uma proposta que vincula educação e trabalho a um paradigma de educação e sociedade, cujo objeti-vo é construir uma nova dimensão de desenvolvimento do campo. Isso está em consonância com o pensamento de Paulo Freire, que, em sua obra de 1980, diz que é preciso a edu-cação estar em seus conteúdos, em seus programas e em seus métodos, adaptada ao fim que se persegue: per-mitir ao homem chegar a ser sujeito, construir-se como pessoa, transfor-mar o mundo", afirma a professora Selma Pena.

O "Tempo Escola" é orientado

para a formação integral do aluno, correspondendo a 15 dias durante os quais os jovens permanecem na unidade escolar desenvolvendo os saberes técnico-científicos dos eixos temáticos, além de planejamento e realização de pesquisas, atividades de acolhimento e organização grupal.

No "Tempo Comunidade", pro-fessores e alunos utilizam outros 15 dias para realizar pesquisas e estudos nas comunidades, compartilhando os conhecimentos adquiridos na escola com as suas famílias. Assim, os conte-údos de áreas, como Linguagem, Ci-ências Humanas, Ciências Naturais,

Ciências Exatas e Ciências Agrárias, são ensinados de maneira articulada aos eixos temáticos.

Essa pedagogia permite que os estudantes não se afastem do convívio e atividade familiares e permaneçam na escola, com sucesso. Para o profes-sor Evandro Medeiros, da Faculdade de Educação (FACED) do Campus Marabá da UFPA, este ensino trouxe uma novidade para as populações e municípios participantes, pois, muitas vezes, o reconhecimento desses sujei-tos numa perspectiva social, histórica e cultural é invisibilizado pela escola tradicional.

Prêmio reconhece resultados obtidos pelo Programa �

8 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Abril, 2011 BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Abril, 2011 – 5

CongressoO Programa de Pós-Graduação em Letras realiza, no período de 18 a 20 de abril de 2011, o III Congresso Internacio-nal de Estudos Linguísticos e Literários na Amazônia (CIELLA). A programação reunirá trabalhos nas áreas de Estudos Literários e Culturais e Estudos Linguísticos. Mais informações no site http://www.3ciella.ufpa.br

MestradoEstão abertas as inscrições para o Programa de Pós-Graduação em Comunicação, Cultura e Amazô-nia. Informações sobre as etapas do processo seletivo e o calendá-rio de provas podem ser obtidas pelo telefone (91) 3201-7526.

GeografiaAcontecerá em Belém, no perí-odo de 7 a 11 de novembro de 2011, o V Simpósio Internacio-nal de Geografia Agrária e VI Simpósio Nacional de Geografia Agrária. Os interessados podem inscrever trabalhos até o dia 16 de maio. Mais informações no site http://singa2011.ufpa.br

JantarAtendendo ao anseio da comu-nidade acadêmica, o Restaurante Universitário iniciou o forneci-mento de refeições no período noturno. O novo serviço está funcionando de segunda a sexta-feira, das 18h às 19h. O cardápio será diferente daquele servido no almoço, mas terá a mesma constituição (arroz, feijão, salada, farofa, um tipo de carne e sobre-mesa) e o mesmo valor calórico. Inicialmente, serão servidas 500 refeições por dia.

Direitos humanosLaboratório de Direitos Humanos da UFPA iniciou suas atividades. Vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Direito (PPGD), o Laboratório terá pesquisas e ações de extensão baseadas em três linhas específicas: “Constitu-cionalismo, democracia e direitos humanos”; “Direitos humanos e inclusão social” e “Direitos hu-manos e meio ambiente”.

ConcursoEstão abertas as inscrições para o I Concurso Cultural Desembar-gador Milton Augusto de Brito Nobre. Os participantes deverão ser estudantes de Direito, de uni-versidade ou faculdade sediada em Belém. Os trabalhos – textos jurídicos sobre qualquer tema relacionado à saúde suplementar – devem estar na forma de TCC ou artigo científico. As inscrições podem ser feitas até o dia 1º de julho de 2011. Mais informa-ções: [email protected].

Novo olhar sobre a MatemáticaLinguagem teatral torna o aprendizado divertido

Educação EM DIACapacitação

Alunos participam, encenam espetáculos propostos pela nova metodologia

Apesar de defender com afinco o seu método, o professor mostra-se cético quanto a possíveis mudanças no modelo tradicional de se ensinar a ciência na rede básica, o qual ele considera extremamente deficiente e ultrapassado. Um problema que não se restringe ao Brasil, “o ensino de Matemática praticado aqui é de péssima qualidade. Essa realidade ultrapassa as fronteiras do País e se estende por toda a América Latina. É premente a necessidade de melhorar o ensino. Não adianta mais o pro-fessor apenas se limitar a escrever uma definição no quadro e o aluno copiar. E para atingir a qualificação esperada, o docente precisa buscar

novos métodos. Porém não vejo uma movimentação intensa nesse sentido”, declara João Nascimento.

Para o professor, um dos fatores que contribuem para essa realidade é a concepção de que o aluno da rede básica não faz ciência. “Isso é falso. Eles produzem ciência tanto quanto quem está na universidade. Agora, é claro que existe uma diferença na densidade da produção. Isso é natural. Mas a produção do ensino básico não deixa de ser científica por ser menos complexa”, considera.

O próximo desafio de João Nascimento é produzir um livro que contemple todo o histórico da sua me-todologia, para auxiliar estudantes e

professores. A obra deve conter as di-nâmicas envolvendo teatro e também poesia, música e outras vivências. O projeto já tem título “Matemática para Aprender e Ensinar”. Faltam alguns detalhes para a publicação, no entanto o professor já usa o esboço do mate-rial para auxiliar alguns colegas que têm interesse no trabalho.

“Não consigo visualizar gran-des mudanças. Porém continuo in-sistindo em relacionar o teatro com a Matemática. Quero que as crianças não se limitem a aplicar o conheci-mento em um papel frio de prova, mas possam defender o seu saber com todos os recursos e emoções disponí-veis”, finaliza João Nascimento.

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Paulo Henrique Gadelha

Historicamente, a Matemática foi concebida como uma ciência hermética e desin-

teressante. É comum escutarmos relatos de experiências traumáticas quando o assunto em questão é o aprendizado da disciplina. Seria possível, então, estudar os conte-údos matemáticos de uma forma alternativa e atraente, tornando-os inteligíveis para os alunos e eficiente para o professor?

Para essa indagação, o profes-sor João Batista do Nascimento, da Faculdade de Matemática do Insti-tuto de Ciências Exatas e Naturais (ICEN) da Universidade Federal do Pará (UFPA), não titubeia em afirmar que sim. A resposta tem respaldo na metodologia criada pelo próprio docente: o uso do teatro na aula de Matemática.

De acordo com o professor, a didática consiste em trabalhar os conceitos dessa área de conhecimen-to de uma maneira em que os alunos possam assimilar os conteúdos de forma lúdica e prazerosa. “Com o auxílio do teatro, a criança vai perder o medo da Matemática e passar a ter uma nova visão sobre a disciplina, pois a linguagem teatral tem o poder de despertar os nossos sentimentos e emoções. Dessa forma, após vi-venciar no palco o que sempre foi considerado enfadonho, o aluno vai

ter mais sensibilidade para aplicar a Matemática no seu cotidiano”, afir-ma o professor João Nascimento.

Com o primeiro resultado prá-tico de sua metodologia, o professor criou, em 2003, o Projeto de Exten-são “Atividades de Matemática para 3ª e 4ª séries”, o qual vigorou durante aquele ano na UFPA e contou com a ajuda de quatro alunos que cursa-vam Licenciatura em Matemática na Universidade, na época. A iniciativa recebeu, ainda, apoio do Clube de Ciências do Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento da Educação

Matemática e Científica (NPADC), atualmente Instituto de Educação Matemática e Científica (IEMCI), e da Faculdade de Matemática.

As atividades da iniciativa aconteciam aos sábados no Clube de Ciências. Nesses encontros, crianças do bairro Guamá entravam em con-tato com a Matemática não só por meio de peças de teatro, mas também por utilização de jogos e outras brin-cadeiras. Essas dinâmicas, segundo João Nascimento, são eficientes, pois contribuíam para uma melhor fixação dos conteúdos.

Espetáculo conta origem das figuras geométricas �Após essa experiência, o

professor pensou em criar um espetáculo teatral que pudesse consolidar o seu trabalho. Então, João Nascimento elaborou a pro-posta da peça chamada “De ponto em ponto formamos...”, na qual os personagens representam elementos da Geometria Plana. O objetivo era discorrer a respeito dos conceitos básicos desse tópico da Matemáti-ca, tudo de forma informal e bem humorada.

A peça era dividida em cin-co atos: OH! Sujeito quadrado!

(ato 1); Triângulo Amoroso (ato 2); Círculo Vicioso (ato 3); Tem que andar na linha (ato 4); Ponto Finalmente (ato 5). No momento das encenações, os personagens (elementos matemáticos) se apre-sentavam, explicavam suas funções e peculiaridades contracenando uns com os outros. A proposta foi apresentada em instituições de en-sino superior no Pará, adequando o conteúdo à realidade local. No Campus Universitário do Baixo Tocantins (CUBT) da UFPA, em Abaetetuba, isso aconteceu durante

a realização da disciplina Funda-mentos Teóricos e Metodológicos para o Ensino de Matemática, ministrada pelo professor Aubedir Seixas Costa, que também desen-volveu o trabalho nos municípios de Breves, Tailândia e Concórdia do Pará.

A metodologia foi batizada de “Matemática e Teatro – da constru-ção lúdica à formalização”. A forma alternativa de ensinar Matemática ganhou notoriedade na mídia local, nacional e até internacional, sendo divulgada em Portugal.

Modelo tradicional é deficiente e ultrapassado �

Educimat qualifica sete mil professores Agora, o desafio é manter as atividades de formação continuada

Os recursos didáticos elaborados durante o Educimat podem ser aplica-dos tanto em cursos de especialização e formação continuada quanto nas salas de aula de ensino fundamental. Para Terezinha Valim, a produção total do Programa envolveu mais de 88 produtos entre módulos, livros, jogos educativos, CDs, cartilhas, materiais didáticos específicos de Ciências e Matemática e eventos.

Os materiais abordam diferentes temas e possuem diversos formatos, como jogo de tabuleiro, em que os participantes teriam que fazer contas para avançar nas casas e chegar à reta final, ou peças para compor formas geo-métricas. A educação inclusiva também foi tema de livros e DVDs, como no caso das Lendas Amazônicas voltadas para estudantes com surdez. Segundo Terezinha Valim, todos os objetivos do Programa foram alcançados. Entretanto a reprodução dos materiais didáticos e a sua distribuição para as escolas não foram possíveis por falta de recursos. A professora pretende buscar novas par-cerias que garantam a disponibilização dos materiais em sala de aula.

Ainda que o Programa tenha sido encerrado, os municípios podem/devem manter esses grupos em ativi-dade. "Para isso, basta fazer um plano de ação e enviá-lo para aprovação e registro no Iemci, se pretenderem cer-tificação pela UFPA, ou podem usar sua autonomia e fazer a certificação", orienta a professora Terezinha Valim.

Dilermando Gadelha

A educação é um dos pilares que sustentam a construção de uma nação desenvolvida. Basta ver

o caso do Japão, um país devastado pela Segunda Guerra Mundial, o qual se reergueu em cinco anos, tornando-se uma das maiores potências do mun-do em virtude de planos econômicos, e também da educação de boa qualidade ofertada para todos.

O Brasil é um país em desen-volvimento, mas ainda com graves problemas na educação. Em alguns Estados, como no Pará, esse quadro piora quando levamos em conta a pobreza da população e a falta de pro-fessores com qualificação e condições de trabalho adequadas para ensinar.

Para ajudar a mudar essa rea-lidade em relação à qualificação dos professores, a Universidade Federal do Pará, por meio do Instituto de Educação Matemática e Científica (Iemci), em parceria com o Centro Universitário do Estado do Pará (Ce-supa), a Universidade da Amazônia (Unama) e a Universidade Estadual do Pará (Uepa), realizou o Programa Educimat: Formação, Tecnologia e Prestação de Serviços em Educação em Ciências e Matemática.

O Programa teve início no segundo semestre de 2004, com re-

Livros, cartilhas e CD-ROM: temática amazônica está presente no material produzido pela equipe

cursos liberados pelo Ministério da Educação (MEC), e funcionou até o final de 2010. Ao longo de seis anos, o Educimat trabalhou em três linhas de

atuação: criação e desenvolvimento de cursos e programas de formação continuada para professores do en-sino fundamental; desenvolvimento

de materiais didáticos na área de Ensino de Ciências e Matemáticas e formação de tutores para ministrar os cursos.

Especialização foi diferencial do Programa �O primeiro passo foi formar

tutores que pudessem ministrar os cursos de formação continuada para professores do ensino fundamental nos municípios paraenses. Os cursos foram oferecidos pela UFPA em nove polos, de forma semipresencial e com uma carga horária de 480 horas.

"Tínhamos um percentual de praticamente 50% da carga horária presencial. Os participantes recebiam os módulos do curso, os quais eram discutidos em encontros presenciais de 16 a 20 horas. Os cursistas levavam os módulos para estudar e fazer as atividades programadas, muitas vezes com os próprios alunos, e traziam num outro encontro", acrescenta a profes-sora Terezinha Valim, coordenadora

do Projeto. Para ela, a oferta de cursos de especialização era um diferencial do Programa. "Queríamos dar um up grade na formação do professor. Fomos o único programa da Rede Nacional de Formação de Professo-res que previu a especialização. A iniciativa foi muito bem aceita pelos professores".

Os cursos de especialização e de formação continuada foram organi-zados em quatro temáticas principais: Educação em Ciências e Matemática na educação infantil; Educação em Ciências e Matemática nas séries iniciais; Educação em Ciências de 5ª a 8ª séries e Educação Matemática de 5ª a 8ª séries.

Para o desenvolvimento dos

cursos, a equipe do Educimat pro-duziu módulos de formação, livros, cartilhas, CD-ROM e outros materiais. Para testar os materiais didáticos e os conteúdos, um polo de formação piloto foi criado no município de Abaetetuba.

Ao mesmo tempo em que eram formados os primeiros 130 tutores, eram feitas as modificações e ajustes nos módulos de formação de profes-sores, os quais seriam utilizados em outros oito polos de formação. "Além do professor que conduzia o módulo, em cada sala de aula, nós contávamos com um observador que fazia anota-ções sobre como os alunos reagiam às atividades, o tipo de perguntas que faziam...", explica a professora.

Professores especialistas atuaram como tutores �Nos anos de 2005, 2007 e

2008, o Educimat formou mais de 640 especialistas, em 34 turmas formadas nos nove polos do Programa nos municípios de Abaetetuba, Altamira, Belém, Bragança, Breves, Castanhal, Itaituba, Marabá e Santarém.

Após os cursos de especializa-ção, cada tutor ficava responsável por uma turma de formação continuada de professores do ensino fundamental do seu município de origem. Eram, então, aplicados os conhecimentos adquiridos na pós-graduação. Como tutores, os novos especialistas atua-vam como mediadores entre os pro-fessores do município e os formadores

do Iemci. "Os tutores mostravam aos professores do ensino básico ‘como fazer a diferença’", afirma Terezinha Valim.

Os cursos de formação con-tinuada têm uma carga horária de 160 horas e são organizados em quatro módulos. Entre as temáticas abordadas, estão: Educação Indíge-na; Educação Ambiental; Iniciação em Informática e Metodologias de Ensino.

Em seis anos de Programa, foram certificados mais de 5.500 pro-fessores de ensino básico. Segundo Terezinha Valim, a ideia era oferecer os cursos em modalidade de aperfei-

çoamento, o que não foi possível em virtude da realidade do Pará, onde muitos professores não possuem en-sino superior.

Também eram realizados se-minários de acompanhamento e avaliação, nos quais os tutores re-latavam avanços e dificuldades. As informações eram registradas no denominado "Caderno de Registro, Acompanhamento e Avaliação da Formação Continuada" e enviado à coordenação do Programa. Somente após a análise dos cadernos pelos formadores, os professores eram cer-tificados pelo Instituto de Educação Matemática e Científica (Iemci).

Produção �envolve 88 itens

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6 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Abril, 2011 BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Abril, 2011 – 7

Pesquisadores investigam intensidade e potência dos raios "amazônicos"Pará é atingido por mais de 12,5 milhões de raios por ano. Número coloca Estado no mesmo patamar que as florestas do Congo e os países do sudeste asiático

Meteorologia

Densidade: nos trópicos, a altura das nuvens é mais elevada. Na Amazônia, elas podem ultrapassar os 20 quilômetros de altura

A maioria dos imóveis utiliza para-raios baseados no modelo de Franklin, com a haste de aço em ele-vação. Contudo também é comum ver prédios com para-raios radioativos. Devido à alta densidade e umidade do ar, o uso do último modelo é de-saconselhado. Há 15 anos, o Corpo de Bombeiros de Belém notificou os condomínios que utilizavam este tipo de instrumento, pedindo para substituí--los por para-raios convencionais.

O problema, entretanto, não se resolve apenas com a montagem e a escolha correta dos aparelhos de pro-teção. A manutenção desses sistemas é fundamental para a sua eficácia. Por serem feitos de aço, eles têm propensão à oxidação.

Mas não basta instalá-lo em cima do prédio, é preciso que ele seja o ponto mais alto do edifício. Segundo o professor José Ricardo, é comum deparar-se com antenas de televisão com altura maior que a dos para-raios. Desse modo, um raio pode acertar a antena, passar pelo condutor do sinal e entrar na casa de alguém. "As consequ-ências vão desde danificar um aparelho até mesmo matar uma pessoa", alerta o professor. "De qualquer modo, a coleta das descargas elétricas efetuadas pelos para-raios é um processo probabilístico e a proteção total ou completa não pode ser garantida por nenhum sistema de para-raios", pondera.

Analisando o poder de alcance de um raio, Brígida Ramati garante

que esse cuidado já deve começar na construção civil. Por ter uma capaci-dade altamente destrutiva, é preciso que as construções tenham sistemas de prevenção contra descargas elétri-cas, "medidas que já estão previstas por lei há muito tempo", garante a professora.

Assim como qualquer fenômeno da natureza, os raios não têm somente a capacidade destrutiva. Um de seus principais benefícios é a sua contri-buição para o adubo de plantas. Isso acontece, porque descargas elétricas são capazes de devolver o nitrogênio que, antes, se encontrava na atmosfera para o solo. "Mais da metade de adubos nitrogenados naturais são propiciados pelos raios", ressalta José Ricardo.

Uma grande campanha de ob-servações com equipamentos atuali-zados ocorrerá em Belém, nos meses de junho e julho deste ano. Além das pesquisas, essas atividades deverão congregar pesquisadores, professores e alunos, visando formar recursos humanos nesta área de conhecimento para a Amazônia.

Entenda: Um raio é uma descarga elétrica que se produz intranuvem, entre nuvens ou entre uma nuvem e a superfície terrestre. A trajetória do raio e suas ramificações irregulares são possíveis de serem vistas a olho nu. Esse clarão originado é chamado de relâmpago, que vai acompanhado de onda sonora denominada trovão.

Flávio Meireles

Por mais que a maioria das pes-soas não entenda os processos físicos existentes na formação

de descargas elétricas atmosféricas, ao longo do tempo, muito se tem falado acerca desse fenômeno. E não é por acaso. Segundo dados do Grupo de Eletricidade Atmosférica (Elat/INPE), o Brasil tem a maior in-cidência de raios do planeta e, muito provavelmente, continuará tendo nas próximas décadas.

Por estar no topo do ranking, no Brasil, estudos sobre o assunto são realizadas em nível nacional. A Universidade Federal do Pará, em parceria com o Sistema Brasileiro de Detecção de Descargas Atmosféricas (Brasildat) e com a Rede de Detec-ção de Raios do Sistema de Prote-ção da Amazônia (RDR/SIPAM), contribui significativamente para as pesquisas nessa área.

Professores e alunos da pós-graduação as Faculdades de En-genharia Elétrica e Meteorologia

analisam esses fenômenos em vários aspectos: os mapas ceráunicos, os quais estudam ocorrências de tro-voadas e de densidade de eventos, os parâmetros de intensidade da corrente e o número de pulsos em cada raio.

O levantamento de dados é realizado na sede do SIPAM - Centro Regional de Belém, onde são anali-sadas informações dos Estados do Amapá, Maranhão, Pará e Tocantins. Esses Estados são cobertos por um sistema que, em sua melhor configu-

ração operacional, integra 12 senso-res eletromagnéticos pertencentes à RDR. Atualmente, este sistema está sendo reposicionado para melhor cobertura da Região Metropolitana de Belém.

Além do SIPAM, a UFPA rea-liza estudos com o Instituto Nacional de Atividades Espaciais (INPE), o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), a Faculdade de Engenha-ria Elétrica da Unicamp, o Instituto Astronômico e de Geofísica da USP, entre outras instituições.

Dados indicam potência das descargas acima do normal �Os resultados das pesqui-

sas comprovaram que descargas elétricas na região amazônica têm características específicas. No leste da Amazônia, por exemplo, a RDR tem detectado, em áreas onde sua eficiência de cobertura é boa, cerca de 20 raios por km² ao ano. Mesmo considerando a metade dessa den-sidade de ocorrências, incidiriam aproximadamente 12,5 milhões de raios no Pará, a cada ano. Este dado coloca o Estado no patamar idêntico ao das áreas montanhosas de Minas Gerais, ao das florestas do Congo, na África, e ao dos países do sudeste asiático.

Para José Ricardo, coorde-nador da área de Meteorologia dos estudos e professor da FAMET/

UFPA, os resultados são fáceis de serem entendidos, ao considerar-mos a premissa de que quanto mais nuvens, mais raios haverá. Como a faixa equatorial tem mais nebulosi-dade do que outras áreas do planeta, a incidência de raios no País é muito maior. "E isso tende a aumentar na região amazônica, já que esta se encontra, praticamente, na faixa equatorial", afirma o professor.

Os estudos também indicam que não é só na quantidade que os raios "amazônicos" se diferenciam. A intensidade deles também é pe-culiar. De acordo com as pesquisas, eles seriam mais potentes.

Segundo José Ricardo, a altu-ra da troposfera, camada atmosférica em que se formam as nuvens, indica

a altura que estas podem vir a ter. Quanto mais alta a nuvem for, mais desenvolvida e energizada ela será. Nos trópicos, a altura das nuvens é muito mais elevada que nos polos terrestres. "Enquanto, na Amazônia, elas podem passar de 20 km de al-tura, as nuvens mais altas dos polos vão até 12 km de altitude". A nebu-losidade amazônica é mais densa e, portanto, mais forte. "Então, neces-sariamente, os raios produzidos são diferentes", enfatiza o professor.

Duas características impor-tantes têm sido observadas e já fo-ram objeto de trabalhos publicados pelos pesquisadores. A primeira é a proporção de superdescargas na região, nas quais a corrente de pico excede 100 kA (kiloampère, unidade

de medida de correntes elétricas). Os dados mostram que o leste da Ama-zônia apresenta cerca de 8% de des-cargas acima desse referencial. Nos Estados Unidos e no Canadá, raios de mesma intensidade representam 2,4% e 0,5% dos totais observados, respectivamente.

A segunda característica des-tacada é a ocorrência de raios positivos na região. Na Amazônia, incidem aproximadamente 24% de raios com polaridade positiva, en-quant, em nível mundial, descargas elétricas com essa polaridade repre-sentam cerca de 15%. Vale ressaltar que raios positivos são considerados mais potentes e danosos, pois apre-sentam canais verticais mais longos para atingir a superfície.

Incidência de raios é maior no último trimestre do ano �

A partir de dados coletados pelo SIPAM, professores e alunos das Faculdades de Engenharia Elétrica e Meteorologia analisam tempestades

Com o maior índice pluviométri-co médio do País, a Amazônia é quem recebe a maior parte dos raios que caem no Brasil. Mas, apesar de chuva e raio estarem relacionados, nem sempre ha-verá descargas elétricas quando estiver chovendo na superfície. Isso é o que garante Brígida Rocha, professora e coordenadora responsável pela área de Engenharia Elétrica dos estudos.

Para ela, isso acontece porque a origem dos raios está mais relacionada

com processos termoelétricos no inte-rior das nuvens, coisa que pode acon-tecer sem que, necessariamente, chova muito. "Então, quanto maior for essa eletrificação, mais raios cairão", explica a professora. Como os processos de eletrificação nas nuvens aumentam no período de transição entre as estações seca e chuvosa, nessa ocasião, as gran-des tempestades de raios acontecem na nossa região. Ou seja, os meses de outubro, novembro e dezembro são os

mais propícios a grandes tempestades de raios.

Estudos patrocinados pela Rede Celpa, realizados por técnicos da Em-presa e por pesquisadores da Univer-sidade e do SIPAM, mostraram que, além desse aspecto sazonal, os raios tendem a preceder e suceder as chuvas por cerca de meia hora a uma hora em ambos os casos.

A população das grandes cida-des convive com mais ocorrências de

descargas elétricas do que os mora-dores de zonas rurais em virtude da quantidade de edificações. Estudos revelam que, anualmente, incidem mais de 15 raios por km² nas áreas mais edificadas de Belém. Portanto, é provável que cada edifício alto, nessa área, receba pelo menos uma descarga direta de raio a cada ano. Por haver o risco de prédios serem atingidos por esses fenômenos, há a necessidade de instalação de para- -raios.

Para-raios devem estar no ponto mais alto do edifício �

Construção civil: leis obrigam adoção de sistemas contra descargas elétricas

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