(Bellini, Giebelen, Casali 2010 I&S) limitações digitais

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 25 Inf. & Soc.:Est., João Pessoa, v.20, n.2, p. 25-35, maio/ago. 2010 1 INTRODUÇÃO D iscussões em relação às tecnologias de informação e comunicação – TICs, e mais especicamente em torno das variadas formas de exclusão, desigualdade ou limitação digital, são comuns na literatura acadêmica e ocupam espaço importante na elaboração de políticas públicas (VAN DIJK; HACKER, 2000). Ilustrando a importância das TICs na lide diária do século XXI, a alfabetização digital talvez seja, hoje, tão básica quanto o desenvolvimento das habilidades de ler, escrever e fazer cálculos, de modo a proporcionar ao indivíduo um exercício mais pleno de sua cidadania. Questão central na concepção deste panorama digital é, de fato, entender as atitudes em relação ao conhecimento computacional (COMPTON et al 2002). Uma nova sociedade – seja ela denominada pós-industrial, pós-moderna, em rede ou da informação e do conhecimento – surge com implicações enormes para a área de serviços em instituições privadas e públicas e para a população em geral no contexto familiar e prossional, como também para consumidores e cidadãos (KLECUN, 2008). Donat et al. (2009) reforçam isto ao apontar para o fato de que é vital as pessoas terem acesso às novas mídias e LIMITAÇÕES DIGITAIS Carlo Gabriel Porto Bellini* Edwin Giebelen** Richélita do Rosário Brito Casali*** R ESUMO  As tecnologias de informação e comunicação TICs constituem ferramental indispensável para a inserção do indivíduo na sociedade contemporânea, no sentido de seu pleno exercício de cidadania. Discussões sobre limitações de acesso e de uso das TICs são comuns na literatura acadêmica internacional (usualmente tratadas pelo termo “exclusão digital”) e também preocupam cidadãos e  gestores na elaboração de políticas públicas. No presente estudo, de natureza conceitual e crítica, identificam-se as formas básicas de limitação digital presentes na literatura e elabora-se uma mais refinada distinção entre elas a partir do entendimento de que fenômenos de naturezas diferentes vêm sendo equivocadamente tratados de maneira indistinta e sem igual profundidade. Três formas principais de limitação digital são definidas (limitação de acesso, limitação cognitivo-informaciona l e limitação comportamental) e suas interdependência s são identificadas e descritas à luz da teoria do comportamento planejado. Como resultado adicional, percebe-se que o fenômeno da limitação digital envolve mais dimensões do que usualmente se imagina e apresenta uma dinâmica complexa de possibilidades de solução, dado que a interdependência entre as três formas de limitação é muito sensível a alterações em fatores tecnológicos, sociais, econômicos, cognitivos e comportament ais. Palavras-chave : Exclusão Digital. T ecnologi as de Informaçã o e Comunicaç ão. Teoria do Comportamento Planejado. Modelagem Conceitual. * Bacharel em Computação. Mestre e doutor em Administração ambas pela UFRGS. Professor-Adjunto e Asses- sor de Pesquisa do Departamento de Administração e do Programa de Pós-Graduação em Administração ( UFPB). Vice-Diretor do Centro de Tecnologia e Desenvolvimento Re-  gional (UFPB). Vice-Coordenador do Mestrado Profissional em Ges-  tão de Organizações Aprendentes (UFPB). E-mail: [email protected] ** Pedagogo. Mestrando em Educação, PPGE/UFPB. Tutor de EaD, UAB. E-mail:[email protected] *** Bacharel em Administração (UFPB). Mestranda em Administração, PPGA/UFPB E-mail: [email protected]   a   r    t    i   g   o     d   e   r   e   v    i   s    ã   o

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25Inf. & Soc.:Est., João Pessoa, v.20, n.2, p. 25-35, maio/ago. 2010

1 INTRODUÇÃO

Discussões em relação às tecnologias deinformação e comunicação – TICs, e maisespecificamente em torno das variadas

formas de exclusão, desigualdade ou limitaçãodigital, são comuns na literatura acadêmica eocupam espaço importante na elaboração depolíticas públicas (VAN DIJK; HACKER, 2000).Ilustrando a importância das TICs na lide diáriado século XXI, a alfabetização digital talvez seja,hoje, tão básica quanto o desenvolvimento dashabilidades de ler, escrever e fazer cálculos, demodo a proporcionar ao indivíduo um exercício

mais pleno de sua cidadania. Questão centralna concepção deste panorama digital é, de fato,

entender as atitudes em relação ao conhecimentocomputacional (COMPTON et al 2002).Uma nova sociedade – seja ela denominada

pós-industrial, pós-moderna, em rede ou dainformação e do conhecimento – surge comimplicações enormes para a área de serviçosem instituições privadas e públicas e para apopulação em geral no contexto familiar eprofissional, como também para consumidorese cidadãos (KLECUN, 2008). Donat et al. (2009)reforçam isto ao apontar para o fato de que évital as pessoas terem acesso às novas mídias e

LIMITAÇÕES DIGITAIS

Carlo Gabriel Porto Bellini* Edwin Giebelen** 

Richélita do Rosário Brito Casali*** 

R ESUMO    As tecnologias de informação e comunicação – TICs

constituem ferramental indispensável para a inserção do

indivíduo na sociedade contemporânea, no sentido de seu

pleno exercício de cidadania. Discussões sobre limitações

de acesso e de uso das TICs são comuns na literatura 

acadêmica internacional (usualmente tratadas pelo termo

“exclusão digital”) e também preocupam cidadãos e

 gestores na elaboração de políticas públicas. No presente

estudo, de natureza conceitual e crítica, identificam-se as

formas básicas de limitação digital presentes na literatura e elabora-se uma mais refinada distinção entre elas a 

partir do entendimento de que fenômenos de naturezas

diferentes vêm sendo equivocadamente tratados de maneira 

indistinta e sem igual profundidade. Três formas principais de

limitação digital são definidas (limitação de acesso, limitação

cognitivo-informacional e limitação comportamental) e suas

interdependências são identificadas e descritas à luz da teoria 

do comportamento planejado. Como resultado adicional,

percebe-se que o fenômeno da limitação digital envolve

mais dimensões do que usualmente se imagina e apresenta 

uma dinâmica complexa de possibilidades de solução, dado

que a interdependência entre as três formas de limitação émuito sensível a alterações em fatores tecnológicos, sociais,

econômicos, cognitivos e comportamentais.

Palavras-chave: Exclusão Digital. Tecnologias de Informação e Comunicação.

Teoria do Comportamento Planejado. Modelagem

Conceitual.

* Bacharel em Computação. Mestre e

doutor em Administração ambas pela 

UFRGS. Professor-Adjunto e Asses-

sor de Pesquisa do Departamento

de Administração e do Programa de

Pós-Graduação em Administração (UFPB). Vice-Diretor do Centro de

Tecnologia e Desenvolvimento Re-

  gional (UFPB). Vice-Coordenador 

do Mestrado Profissional em Ges-

  tão de Organizações Aprendentes

(UFPB).

E-mail: [email protected] 

** Pedagogo. Mestrando em Educação,

PPGE/UFPB. Tutor de EaD, UAB.

E-mail:[email protected]

*** Bacharel em Administração (UFPB).

Mestranda em Administração,

PPGA/UFPB

E-mail: [email protected]

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Carlo Gabriel Porto Bellini; Edwin Giebelen; Richélita do Rosário Brito Casali

saberem usá-las de maneira efetiva. Além disso,acrescentam que (p. 38):

[...] sem acesso à Internet e sem ashabilidades necessárias que acompanhama atitude de usar as NTIC [novas

tecnologias de informação e comunicação],indivíduos não têm como obter informações de maneira eletrônica, como também não podem ser informados por organizações e instituições através de  tecnologia de informação, tornandoas discussões e reflexões em relaçãoà desigualdade digital de extrema importância.

A problemática em torno do acesso e douso das TICs envolve discutir o que a literaturavem tratando, há mais de uma década, como

“exclusão digital” (VAN DIJK; HACKER, 2000;DIMAGGIO; HARGITTAI, 2001; DONAT etal., 2009), termo este que merece atenção maisespecífica quanto à representação que faz dofenômeno real – a limitação (e não a completaexistência ou inexistência) de níveis de acessoe de uso das TICs, proposição da presentepesquisa. Além da possível discussão em tornode se o fenômeno refere-se ao acesso ou a níveisde acesso, também é passível de questionamentoa abrangência conceitual; de fato, a literaturaora versa sobre as possibilidades sociais,

econômicas e tecnológicas de acesso daspessoas às TICs, ora sobre os conhecimentose habilidades necessários para utilizá-las, orasobre aspectos comportamentais do indivíduoque influenciam a efetividade desse uso.Assim, o presente artigo tratará o fenômenopor meio da expressão “limitação digital”(embora referências aos termos mais comuns“exclusão digital” e “desigualdade digital”sejam permitidas) e sob a perspectiva do acessoem si, da capacidade potencial de uso, e do usoefetivo.

Por exemplo, a exclusão digital tem sidoentendida como o acesso desigual de indivíduosa computadores e à Internet, desigualdadeesta causada por fatores sociais e econômicoscomo gênero, renda, raça, etnia e localizaçãogeográfica (CARVETH; KRETCHMER, 2002),desigualdade em relação ao acesso e ao uso dasTICs (HSIEH et al., 2008) ou desigualdade noque diz respeito a atitudes e comportamentosem relação às TICs (DONAT, et al., 2009). NoBrasil, as pesquisas nesta esfera também são

abundantes em diversas áreas do conhecimento,como exemplificam os trabalhos de Selwin(2008), De Mattos e Chagas (2008), MedeirosNeto e Miranda (2009), Silva et al. (2005) eSilvino e Abrahão (2003).

O discurso sobre exclusão digital vem sesofisticando na literatura acadêmica, já sendoreconhecido que não há uma simples divisãoentre as pessoas que têm acesso à Internet eaquelas que não o têm. Além disso, váriosautores associam a exclusão digital à exclusãosocial (VAN DIJK; HACKER, 2000; KLING,2000; KLECUN, 2008), mas a solução não estariamais focada exclusivamente no acesso e naconectividade; de fato, ela incluiria, entre outrosfatores, as habilidades e o letramento digital,bem como o capital social e a disposição de cada

pessoa em se relacionar de forma produtiva comas TICs (KLECUN, 2008).No intuito de ampliar a reflexão sobre a

desigualdade digital, Donat et al. (2007, 2009)elaboraram três formas para ela: a primeira serefere à relação entre atributos demográficos eo uso da Internet; a segunda trata de questõessobre habilidades diversas no uso da Internet esuas vantagens; e a terceira seria algo como umadesigualdade de comportamentos fundamentadaem atitudes (construto antecedente docomportamento) que desempenham papel

importante na adoção e na aprendizagem deTICs. Os autores concluem que as pesquisassobre desigualdade digital se concentram nasduas primeiras formas.

O presente estudo, como já comentado,adota uma perspectiva ligeiramente diferentepara tratar os fenômenos (conceitualmentediferentes) da exclusão e da desigualdade digital.Enquanto “exclusão” refere-se ao extremo da faltade acesso, “desigualdade” faz sentido apenasquando se comparam indivíduos; nenhum dessestermos, porém, aborda apenas o indivíduo em

termos de seus níveis de acesso e de uso das TICs.Assim, aqui se adota o termo “limitação digital”para fazer referência a restrições que o indivíduoapresenta para se inserir mais plenamente emuma sociedade permeada por TICs. Busca-se, emparticular, responder as seguintes questões depesquisa:

Quais as formas básicas de limitação•relativas ao acesso e ao uso das TICs?Qual a relação entre essas limitações?•

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Limitações digitais

As questões de pesquisa são discutidasà luz da teoria do comportamento planejado deAjzen (1991), segundo a qual um comportamentopode ser razoavelmente antecipado porintenções, que, por sua vez, resultam de atitudes,normas subjetivas e controle comportamentalpercebido. O presente estudo foca as atitudes(grau em que uma pessoa avalia favorávelou desfavoravelmente um comportamento– AJZEN, 1991), já que elas são importantesno contexto da adoção e da difusão de novastecnologias (DONAT et al., 2007, 2009). Ademais,supondo a existência de uma terceira forma delimitação digital – baseada em comportamentospossivelmente deliberados –, o uso daquela teoriaé pertinente.

Neste sentido, aqui são caracterizadas

as diferenças e as relações entre três formas delimitação digital, o que resulta em um modelode referência para investigações empíricas eelaboração de políticas públicas de acesso e deuso de TICs pela população em geral. Defende-se, também, a existência de uma relação complexade interdependência entre as três formas delimitação digital, e não a relação incompleta elinear tradicionalmente encontrada na literaturaacadêmica e difundida em práticas sociais epúblicas. Um dos elementos dessa complexidadeé representado pelo comportamento humano,

que, em casos, inverte o usual entendimentocronológico e causal entre as formas de limitação.Este artigo apresenta as bases conceituais

da limitação digital, com ênfase na elaboraçãode três formas distintas do fenômeno e nospressupostos da teoria do comportamentoplanejado; e propõe-se um modelo conceituala ser utilizado como referência em pesquisasempíricas e na elaboração de políticas públicaspara a cidadania digital.

2 EXCLUSÃO, DESIGUALDADE ELIMITAÇÃO DIGITAL

A complexa problemática em torno doacesso e do uso das TICs fez emergir diversascategorizações possíveis para exclusão,desigualdade e limitação digital. Para Van Dijk eHacker (2000), o primeiro obstáculo em todas aspesquisas tem origem no multifacetado conceitode acesso, usado indiscriminadamente parailustrar diferentes situações; entre elas, a maiscomum no contexto das tecnologias digitais

refere-se à posse de um computador e acesso auma conexão à Internet. No entanto, tal concepçãoreflete apenas uma das quatro categorias deacesso propostas por eles, que são:

a pessoa não possuir experiência digital,•fato causado por falta de interesse, medode computadores ou por não se sentiratraída pela tecnologia (acesso psicológico);a pessoa não ser proprietária de um•computador e não estar conectada (acessomaterial);a pessoa não possuir habilidades digitais,•fato causado por não apresentar umhistórico de uso amigável e suficiente datecnologia, como também por sua educaçãoser inadequada ou faltar apoio social (acesso

de habilidades); ea pessoa não ter oportunidades•significativas de uso da tecnologia (acessode uso).

Ainda segundo Van Dijk e Hacker (2000), aopinião e as políticas públicas geralmente focama segunda categoria (acesso material), supondoque o problema estaria solucionado assim quetodos tivessem simples acesso a um computadorcom conexão à Internet. Isso, porém, resolveapenas os problemas relacionados ao acesso

material. Já em relação aos problemas derivadosdo uso diferenciado das TICs (quarta categoria),tais problemas não receberiam a devida atençãoporque o uso é imaginado ser de livre escolhado indivíduo. Aqueles autores ainda afirmamque os problemas de tecnologia digital migramgradualmente das primeiras duas categorias paraas duas últimas – ou seja, quando os problemasde acesso psicológico e material estiveremresolvidos, os problemas inerentes a habilidadese uso emergem e devem ser tratados.

Limitações digitais também podem ser

classificadas em quatro categorias (KLECUN,2008). A primeira delas aponta para disparidadesno que se refere ao acesso às TICs; neste sentido,as limitações de acesso às TICs são inevitáveis esimilares às limitações de acesso aos serviços desaúde, oportunidades de emprego, habitação,entre outros. A segunda categoria se refereàs disparidades entre e dentro de países –entendimento este compartilhado por Carvethe Kretchmer (2002); países desenvolvidosapresentariam acesso e utilização de TICs

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de maneira mais avançada do que países emdesenvolvimento. A terceira categoria tratao fenômeno como sendo de cunho político esocial, e não necessariamente um problema dedesenvolvimento (DIMAGGIO; HARGITTAI,2001; KLING, 2000; KLECUN, 2008; AGARWALet al., 2009); sem considerar aspectos políticose sociais, o fenômeno seria tratado apenasde maneira tecnológica, gerando soluçõestecnológicas talvez desalinhadas às necessidadesda situação. E a quarta categoria rejeita a ideiada limitação digital como questão política ou dedesenvolvimento, pois, de outro modo, desviar-se-iam a atenção e os recursos de outros domíniosrelevantes – como saúde pública e meio-ambiente–, assim agravando a desigualdade.

Klecun (2008) ainda menciona que, no

intuito de utilizar serviços online em vez depresencialmente, as pessoas necessitam nãoapenas de acesso às TICs e de habilidadestecnológicas, mas também de um nível adequadode instrução geral para que possam lidar cominformações complexas. Assim, limitações – comoa digital – não seriam suprimidas apenas com aadoção de novas tecnologias ou de tecnologiasamigáveis.

  Já Hsieh et al. (2008) interpretam alimitação digital como uma desigualdade noacesso e no uso das TICs. Segundo os autores,

pesquisas sugerem que a desigualdade digitalapresenta uma variedade de dimensões, taiscomo demográficas, étnicas, geográficas, de rendafamiliar e de educação – sendo as duas últimas(que representam o estado socioeconômico doindivíduo) aquelas com maior poder preditivoquanto ao uso de TICs. Por fim, acrescentam quea desigualdade digital é um problema complexoe multifacetado, e que recursos materiais, sociaise cognitivos são necessários em busca de umasolução eficaz.

Mas o estudo sobre atitudes no contexto

da desigualdade digital realizado por Donatet al (2009) propõe um novo olhar sobre ofenômeno. Para eles, tornou-se crucial ter acessoàs novas TICs e saber usá-las na sociedade doconhecimento, o que permite a discussão de trêstipos básicos de desigualdade digital: o primeirose refere à relação entre o uso da Internet/TICse questões geográficas; o segundo envolve asdiversas habilidades necessárias para se usufruirplenamente a Internet/TICs e as vantagensassociadas ao seu uso; e o terceiro contempla

as atitudes em relação à Internet/TICs. Apesarda importância dos dois primeiros tipos, oterceiro não tem recebido a atenção devidade pesquisadores e profissionais da área (porexemplo, desenvolvedores de políticas públicaspara acesso e uso de TICs).

A questão norteadora do presente estudonão foca apenas os fatores tecnológicos, pois sebusca entender por que pessoas que têm acesso àInternet/TICs não utilizam – ou não utilizam demaneira mais efetiva – essas mídias. Em relaçãoa isso, assume-se o pressuposto de DiMaggioe Hargittai (2001) de que pessoas que usam aInternet percebem retornos na forma de maioracesso a bens e serviços que elas valorizam,como também melhores oportunidades de vidaatravés de uma educação mais ampla, melhores

empregos e renda maior.Atitudes em relação à Internet exercemimportante papel na adoção e na difusão denovas tecnologias (DONAT et al., 2007, 2009).Partindo disso, supõe-se que a relação entreatitudes e comportamentos seja útil para proverum melhor entendimento acerca do complexofenômeno da limitação digital – atitudes são ograu de disposição individual de reagir favorávelou desfavoravelmente a algo (AJZEN, 1991).Em Donat et al (2009, p. 39), descrevem-se trêscomponentes das atitudes:

(...) o componente cognitivo incluipercepções e conhecimentos sobre oobjeto em foco (...). O componenteemocional ou afetivo representa sentimentos em relação ao objeto, e ocomponente comportamental chama a atenção para reações humanas emrelação a ele.

O componente comportamental é o maisdifícil de medir, ao mesmo tempo em que setornou imprescindível entendê-lo para ampliar

a discussão sobre as possíveis causas e tipos delimitações digitais, bem como a consequentebusca por soluções.

3 DE ATITUDES A COMPORTAMENTOS

Diversas teorias se apresentam com opropósito de desvendar os elementos psicológicosdo complexo comportamento humano (AJZEN,1991), e uma via importante, segundo McBroom e

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Reed (1992), parece ser estudar as atitudes, que oantecedem. Porém os mesmos autores advertemque essa relação de causalidade é bastantecomplexa; examinando a consistência da relaçãoentre atitudes e comportamentos, os autoressugerem diversas possibilidades teoricamenteaceitáveis, baseados em combinações dasdicotomias ausência-presença do comportamentoe favorabilidade-desfavorabilidade da atitude.Concluem, por fim, que, mais importante do queestabelecer a sequência causal, importa identificaros processos através dos quais a consistência ou ainconsistência entre atitudes e comportamentosocorre.

Entre as teorias que utilizam atitude comopreditor do comportamento humano, a teoriada ação racional (theory of reasoned action – TRA)

e a teoria do comportamento planejado (theoryof planned behavior – TPB) têm sido as maisempregadas em diversas áreas do conhecimento,sendo que as bases dessas teorias referem-se àexpectativa de valor (CONNER; ARMITAGE,1998; AJZEN, 2001). A TRA, desenvolvida porAjzen e Fishbein (1977), postula que as pessoastendem a se comportar de forma a atingirresultados e de acordo com a expectativa dosoutros. Ela considera a decisão de se engajar emdeterminado comportamento como diretamenteprevista pela intenção do indivíduo em exercê-

lo; já a intenção pode ser derivada da atitudedo ator e das normas subjetivas com relação aocomportamento.

Visando a preencher a principal lacuna daTRA – a falta de controle volitivo –, mais tardedesenvolveu-se a TPB (AJZEN, 1991; PHAU;NG, 2009). A TPB considera atitudes, normassubjetivas e controle comportamental percebidocomo os três preditores decisivos para as intençõesde efetivar comportamentos; e essas intenções,quando associadas a controle comportamentalpercebido, seriam responsáveis por considerável

variância no comportamento (Figura 1). Oprimeiro preditor seria a atitude em direção aocomportamento, referindo-se ao grau em quea pessoa avalia ou aprecia o comportamentoem questão como favorável ou desfavorável; osegundo preditor seriam as normas subjetivas,que se refere à pressão social exercida sobre oindivíduo a fim de que ele se comporte ou nãode determinada forma; e o terceiro preditor seriao controle comportamental percebido, que dizrespeito à facilidade ou dificuldade percebida

pelo indivíduo para efetivar determinadocomportamento, refletindo experiências passadase obstáculos previstos (AJZEN, 1991).

 Figura 1: Teoria do comportamento planejado.

Fonte: Ajzen (1991, p. 181).

De modo geral, a TPB sugere que, quantomais favoráveis forem a atitude e a normasubjetiva com relação a um comportamento, equanto maior for o controle comportamentalpercebido, maior será a probabilidade de oindivíduo se engajar nesse comportamento.

Portanto, a intenção somente se converte emcomportamento se a pessoa possuir controlevolitivo, ou seja, se ela puder decidir sobreexercer ou não o comportamento.

Embora a TRA e a TPB tenham atingidopopularidade e reconhecimento na comunidadeacadêmica, há naturais críticas e limitações. Umadelas aponta para a inadequação de sua aplicaçãoquando inexiste motivação ou oportunidade.Nesses casos, a associação da TPB a modelosque considerem a atitude para o comportamentocomo um processo não planejado (como, porexemplo, o modelo de Fazio, 1986) deveráfornecer um entendimento mais completo dofenômeno (CONNER; ARMITAGE, 1998).

Donat et al. (2009) argumentam queas atitudes podem servir como importantedimensão na explicação da adoção e da difusãode novas tecnologias. Partindo dessa proposição,pode-se supor que a relação entre atitudes ecomportamentos seja útil para fornecer ummelhor entendimento sobre o complexo fenômenoda limitação digital ,   já que o comportamento

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humano pode estar na origem de uma terceiraordem de limitação, a ser discutida em maisdetalhe a seguir.

4 MODELO TRIDIMENSIONAL DELIMITAÇÕES DIGITAIS

Conforme mencionado anteriormente,a identificação de três dimensões da limitaçãodigital e a contribuição da TPB podem proverbenefício significativo para o entendimentomais profundo do fenômeno em foco. A partirdos estudos de Van Dijk e Hacker (2000), Kling(2000), DiMaggio e Hargittai (2001), Carvethe Kretchmer (2002), Hsieh et al. (2008), Klecun(2008), Agarwal et al. (2009) e Donat et al. (2009)

sobre as limitações digitais, um novo modelo

para explicá-las é aqui proposto (Figura2). O modelo também inclui contribuiçõesdesenvolvidas a partir da experiência dosautores do presente estudo com o uso de TICs,bem como de análise crítica a respeito dosfenômenos que são verdadeiramente discutidosna literatura de referência; de fato, percebe-se que alguns termos (por exemplo, “exclusãodigital”) são usados de forma homogênea entrepesquisas que, muitas vezes, versam sobrefenômenos diferentes (por exemplo, falta deacesso à tecnologia ou dificuldades de uso).Por fim, o modelo recebe contribuições deAjzen (1991, 2001), McBroom e Reed (1992),Conner e Armitage (1998) e Phau e Ng (2009),que proporcionaram bases teóricas para odesenvolvimento do construto relativo à

dimensão comportamental.

Na Figura 2, distinguem-se as três formasbásicas de limitação digital, sendo que a terceira

aborda aspectos não priorizados na literaturaacadêmica nem nas políticas públicas:

A limitação de acesso (LA) refere-se à•dificuldade social e material do indivíduoem acessar as TICs. Isso pode ser devido aformas de exclusão social, à falta de acessovoluntário à Internet, à inadequação dosrecursos de hardware e software disponíveis,a interfaces homem-máquina de baixaergonomia, etc.

Figura 2: As três dimensões da limitação digital.

Fonte: Elaborado pelos autores, 2010.

A limitação cognitivo-informacional (LI)•refere-se a deficiências do indivíduo emnível de habilidades digitais necessáriaspara fazer uso efetivo das TICs. Asdeficiências podem se manifestar no saberbuscar, selecionar, processar e aplicar asinformações disponibilizadas pelas TICs,e as causas disso podem ser diversas –como aspectos neurológicos e psicológicos,formação formal deficiente, experiênciasde vida pouco ricas, etc.A limitação comportamental (LC) refere-•se à dificuldade do indivíduo em aplicar

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Limitações digitais

desenvolver comportamentos contrários ao usoprevisto para a tecnologia, bem como prejuízoscognitivos ao indivíduo. Soluções para limitaçõesde acesso são abundantes na literatura, naspráticas sociais e em políticas públicas alinhadasaos pressupostos da sociedade da informação– como ilustram a implantação de lan houses em bairros menos favorecidos, o barateamentodos custos de aquisição de hardware e desoftware, a disponibilização de acesso sem fio àInternet em locais públicos e de forma gratuita,o fortalecimento do varejo local para a ofertacontínua de produtos e serviços necessários aouso das TICs, etc.

O caminho LI-LC, sob uma perspectivade mera sequência cronológica, inicia com asolução satisfatória de limitações cognitivo-

informacionais e termina com a identificaçãode limitações comportamentais. Ou seja, após asuperação de limitações de habilidades cognitivase informacionais, exige-se investigar a possívelexistência de limitações de comportamento doindivíduo para um uso efetivo das TICs, poisseus comportamentos podem não corresponder àsua habilidade potencial. Por outro lado, sob umaperspectiva causal, esse mesmo caminho evidenciaque as limitações cognitivo-informacionaispodem fazer surgir comportamentos contráriosao uso previsto para a tecnologia (por exemplo, a

falta de habilidades pode causar desmotivação).Soluções para limitações cognitivo-informacionaisestão presentes na literatura, mas são apenasparcialmente incluídas em práticas sociais e empolíticas públicas – como ilustram, por um lado, acriação de centros de apoio e o desenvolvimentode métodos de ensino específicos para aformação de pessoas com necessidades especiais(cognitivas ou físicas), a introdução das TICscomo objeto de estudo e como ferramenta deapoio ao ensino em sala de aula, e o estímulo aoamplo uso das TICs nas atividades ordinárias

do indivíduo (assim desenvolvendo uma basede experiências individuais com TICs); poroutro lado, negligencia-se de modo alarmanteo combate a órgãos de imprensa que atuam emfavor de grupos sociais e políticos específicos(que, assim, viciam as informações distribuídaspublicamente), o combate a comunicaçõestelevisivas, radiofônicas, textuais e demercado que promovem a mediocrização e amercantilização do modelo mental de crianças,adolescentes e adultos, etc.

plenamente as suas habilidades digitais,mesmo que as possua em nível elevado.Essas dificuldades podem incluir desdeum bloqueio psicológico ao uso dasTICs até um uso excessivo das mesmas.Neste sentido, condicionado em algumamedida por sua constituição neurológica,seu poder discricionário e seus traumase vícios desenvolvidos espontaneamenteou estimulados por agentes externos, oindivíduo pode apresentar comportamentospositivos em relação às TICs (utilizando demaneira racional ou produtiva ambientesvirtuais como comércio eletrônico, governoeletrônico, bancos eletrônicos, educaçãoa distância, redes sociais virtuais, etc.)ou negativos (utilizando abusivamente

as TICs para lazer em horário detrabalho, acessando determinados tiposde conteúdo em intensidade superior ànecessária, aplicando a tecnologia parafins escusos, não dedicando atenção àsinformações disponíveis, etc.). Esse tipode limitação expõe um fenômeno sutil egrave – a efetividade do uso das TICs, ouseja, a aplicação do acesso material e dashabilidades cognitivas do indivíduo paraum uso alinhado às suas necessidadesfuncionais, sejam elas voluntariamente

esposadas ou não.

As relações entre as possíveis formasde limitação digital representam caminhos(sequências cronológicas ou sequências causais,dependendo do caso) que iniciam com asolução satisfatória de uma forma de limitação eterminam com a identificação de outra forma delimitação, conforme descrito a seguir.

Assim, sob uma perspectiva de merasequência cronológica, os caminhos LA-LIe LA-LC iniciam com a solução satisfatória

de limitações de acesso e terminam coma identificação de limitações cognitivo-informacionais e comportamentais,respectivamente. Ou seja, sem antes superar aslimitações sociais ou materiais de acesso às TICs,não faz muito sentido discutir as limitações dehabilidades potenciais e comportamentos doindivíduo para um uso efetivo dessas tecnologias.Por outro lado, sob uma perspectiva causal, essesmesmos caminhos evidenciam que a ocorrênciade condições insatisfatórias de acesso pode

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 Já o caminho LC-LI, sob uma perspectiva demera sequência cronológica, inicia com a soluçãosatisfatória de limitações comportamentaise termina com a identificação de limitaçõescognitivo-informacionais. Ou seja, após asuperação de limitações de comportamento (ou,mais precisamente neste caso, de intenções),exige-se investigar a possível existência delimitações cognitivas ou informacionais doindivíduo para um uso efetivo das TICs, pois ashabilidades podem não corresponder aos seuscomportamentos positivos. Por outro lado, sobuma perspectiva causal, esse mesmo caminhoevidencia que as limitações comportamentaispodem restringir o desenvolvimento cognitivo-informacional do indivíduo em relação àtecnologia (por exemplo, a desmotivação

pode comprometer a incorporação de novashabilidades). Comportamentos patológicos comoo acesso compulsivo a sites de relacionamento,o distanciamento exagerado da realidade pormeio de jogos virtuais, o vício em conteúdopornográfico ou relacionado à violência e o usosistemático de poucas fontes de informaçãoilustram comportamentos que não permitemao indivíduo aplicar as TICs de maneiramais racional e efetiva em benefício de suasatividades profissionais e particulares. Pesquisas

  já abordaram alguns desses casos, (por exemplo

em KRAUT, 1998 e em CHOU et al., 2005), porémsoluções para limitações comportamentais nãosão comuns na literatura, nas práticas sociaisnem nas políticas públicas – como ilustram a faltade investimentos para proteger as pessoas deinfluências externas (sociais ou mercadológicas)que objetivam moldar seus comportamentos (emuma época em que “tudo vale”, o incorreto pareceser a defesa de valores outrora importantes),bem como a falta de ações para informá-lassobre modos efetivos de selecionar e apreenderinformações com vistas a uma aprendizagem

significativa e crescimento pessoal.Por fim, o caminho LC-LA, sob uma

perspectiva de mera sequência cronológica,inicia com a solução satisfatória de limitaçõescomportamentais e termina com a identificaçãode limitações de acesso. Ou seja, após a superaçãode limitações de comportamento (ou, maisprecisamente neste caso, de intenções), exige-seinvestigar a possível existência de limitações deacesso do indivíduo às TICs. Por outro lado, sobuma perspectiva causal, esse mesmo caminho

evidencia que as limitações comportamentaispodem restringir o acesso do indivíduo às TICs (porexemplo, pessoas tecnofóbicas ou desmotivadaspodem, simplesmente, rejeitar a tecnologia).

5 CONSIDERAÇÕES FINAISPesquisas que buscam entender a clássica

exclusão digital (ou, nos termos do presenteartigo, as diversas formas de limitação digital)proporcionam uma compreensão profundaem torno do acesso e do uso das tecnologiasde informação e comunicação – TICs. Noentanto, o mainstream de pesquisas nessaárea tradicionalmente não aborda de maneirasistemática ou completa a complexa relação entreas formas de exclusão e seus condicionantes; a

complexidade de fato ocorre, sobretudo porqueas formas detectadas de exclusão podem serinterdependentes – o que não parece haver sidodescrito em trabalhos anteriores.

Baseado na literatura sobre exclusão edesigualdade digital, na teoria do comportamentoplanejado (TPB) e na experiência dos autores comousuários e pesquisadores em TICs, o presenteartigo desenvolveu um modelo conceitual paraa sistematização do estudo e do enfrentamentodas restrições de acesso e de uso das TICs,modelo este que equilibra a responsabilidade dosagentes externos e a responsabilidade do próprioindivíduo na busca por soluções. Para fins declareza de proposições, optou-se por utilizar otermo e o conceito de “limitação digital” comoreferência a essas restrições, por consequênciaadotando-se uma perspectiva espectral (enão dicotômica, caso se optasse pelo termo“exclusão”) e individual (e não relacional, caso seoptasse pelo termo “desigualdade”).

Os resultados principais indicam a existênciade três limitações digitais básicas: limitação

de acesso, limitação cognitivo-informacional elimitação comportamental. Embora apresentandosignificativa interdependência, cada umadessas limitações possui definição à parte esuficientemente exclusiva para ser tratada commétodos específicos por indivíduos e agentespúblicos. Argumenta-se, também, que há um gravedesbalanceamento nas ações sociais e nas políticaspúblicas para o enfrentamento de cada limitação:enquanto as questões materiais são priorizadasde modo razoavelmente efetivo (em função, porexemplo, da melhoria da qualidade socioeconômica

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Limitações digitais

da população e da oferta de meios públicos deacesso às TICs) e o letramento digital tambémavança (em função, por exemplo, da presençadessas tecnologias nos ambientes de trabalho enas residências), a formação de valores humanosque moldam comportamentos é negligenciadaquase por inteiro, como ilustra o poder concedido agrupos de comunicação para decidirem sobre o queé permitido e o que é ultrapassado.

De um modo geral, entende-se que o usoefetivo das TICs somente poderá acontecer nomomento em que uma iniciativa sistêmica forrealizada por indivíduos, empresas e poderpúblico. Essa iniciativa inclui, entre outros aspectos,a melhoria das condições socioeconômicas e oletramento digital da população, o esclarecimentosobre as bases da sociedade da informação,

o desenvolvimento de TICs ergonômicas, einvestimentos corajosos de combate à formataçãodo comportamento humano motivada porinteresses escusos ou baseados em valoresincompatíveis com a dignidade e as possibilidadesde desenvolvimento humano integral.

Óbvias limitações do modelo aqui propostoiniciam pela falta de uma validação empíricamais sistemática. Validações foram realizadas demodo informal ao longo da experiência práticae de pesquisa dos autores, dado que utilizamTICs em seu locais de trabalho e em atividadespessoais há anos – em alguns casos, o uso diárioda Internet nessas duas esferas ultrapassa umadécada, tempo durante o qual acumularam-sepercepções a respeito de como as habilidades eos comportamentos humanos podem facilitar ouprejudicar o uso das TICs. Sugere-se, porém, queo modelo seja estudado com base em métodosmais controlados de coleta e análise de dados,sobretudo para identificar (1) a magnitude e apresença relativa de cada tipo de limitação junto asegmentos de usuários, (2) a importância de cada

limitação para a efetividade das TICs, (3) a forçade cada caminho causal identificado entre paresde limitações, (4) os eventos que podem ativar ouaumentar cada limitação, e (5) a abrangência domodelo para explicar o acesso e uso das TICs nasatividades profissionais e particulares.

DIGITAL LIMITATIONS

 ABSTRACT  Information and communication technologies – ICTs are of paramount importance in the promotion

of citizenship in contemporary society. Research about an individual’s limitations regarding the

access to and the use of ICTs – the digital limitations – is widely found in the academic literature,

and the general citizen and public policy makers are also engaged in addressing this issue. Our

study comprises a theoretical review of concepts about the digital limitations and argues that

they are of three interdependent types: access limitations, cognitive-informational limitations,

and behavioral limitations. The three types of limitations are commonly not addressed in full or

in similar depth both in literature and in practice, or they are even treated as an undifferentiated

whole. The theory of planned behavior helps us to identify and explain the types of limitations and

to devise how sensitive their interdependencies are to changes in technological, social, economic,cognitive, and behavioral factors.

Keywords: Digital Divide. Information and Communication Technologies. Theory of Planned Behavior.

Conceptual Modeling.

 Artigo recebido em 08/04/2010 e aceito para publicação em 09/07/2010

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