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Alcoolismo: realidade e ficção (Um alerta em prosa e verso)

Paulo Marcelo Braga

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Apenas por força da amizade, é o que nos parece, resolveu Paulo

Marcelo Braga, nos reservar a honrosa investidura de apresentar este livro.

Apesar de não ter nenhuma vocação para a crítica literária, creio que faz-

se absolutamente necessário demonstrar, através de algumas palavras,

nosso efetivo interesse por esse esforço honesto, focalizando tanto a obra

quanto a nobre personalidade do autor.

O Mestre Maior nos ensinou que pelo fruto se conhece a árvore e,

por extensão, pela obra se conhece o autor, de tal modo que, nas páginas

seguintes, com certeza o leitor irá identificar as qualidades do Paulo

Marcelo Braga, mas, como alguns detalhes poderão passar sem serem

notados, com o mero propósito de colaborar com o seu entendimento,

tomamos a liberdade de dizer algo sobre ele.

Trata-se de um médico respeitável na nossa sociedade, lúcido, firme,

às vezes, ardoroso, familiarizado com a arte de escrever, com relativa

projeção no mundo das letras, que aborda com simplicidade um tema

sempre atual, especialmente enquanto existir neste orbe alguém,

silenciosamente vertendo uma lágrima por causa do alcoolismo.

Inicialmente, devo declarar que este livro merece ser lido e meditado,

não somente por pessoas que possuem em seus lares familiares

acometidos por esse insidioso vício, catalogado pela Organização Mundial

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Alcoolismo: realidade e ficção (Um alerta em prosa e verso)

Paulo Marcelo Braga

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de Saúde como doença grave que destrói o doente e, não raro à própria

família, eis que arrasa o coração materno que vê o filho caído nas

esquinas; rompe os laços conjugais, e sepulta as esperanças dos filhos.

O autor, na qualidade de médico, ministra em dosagem adequada o

remédio para os que atravessam as estações de sofrimento e, na singeleza

de suas palavras, sustenta que a terapia mais segura, passa pelo apoio da

família, combinado com especializado tratamento médico e psicológico e,

acrescento eu, o indispensável acompanhamento espiritual.

Enfim, se o leitor encarar o presente trabalho em suas linhas

fundamentais, identificará o homenageado, como uma pessoa portadora de

espírito pacífico, que jamais se desorientou, e que, tem por objetivo

despertar consciências endurecidas e chamar a atenção das autoridades,

quase sempre indiferentes aos problemas da população, além do

prazeroso aprendizado.

(*) João Jeremias Chene, Bacharel em Direito, Fiscal de Tributos

Estaduais e articulista do jornal “Diário do Pará”

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Alcoolismo: realidade e ficção (Um alerta em prosa e verso)

Paulo Marcelo Braga

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Sumário

“Um brinde, o nosso astro merece...” (Cazuza).

01) Uma dedicatória

02) outra dedicatória

03)Introdução

04) Umas e outras doses de esclarecimentos

05)UM BRINDE À POESIA

5.a) Alerta a um viciado

5.b) Versinho preventivo

5.c) Moral da história

5.d) Porre otário

5.e) Porre “milionário”

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Paulo Marcelo Braga

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5.f) Para outro boteco

5.g) Canção inspirada (Uma prosa de botequim)

5.h) Aconselhamento

5.i) Livre arbítrio

5.j) Recaída

5.k) Com certeza

5.l) A melhor opção

5.m) A paródia dos embriagados

5.n) Canção da embriaguez

5.o) Canção da lucidez

5.p) Refrão guardião

5.q) Bolero da mulher de bar

5.r) Orientação

5.s) Aviso

5.t) Rimas embriagadas

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5.u) Vida nova

5.v) Fim de farra

5.x) Conclusão

06) UM BRINDE À PROSA

6.1) Alcoolismo: realidade e ficção

6.2) A ópera nacional

6.3) Lutando contra o alcoolismo

6.4) Alcoolismo: o realismo de uma história simplória de

amor e dor

6.5) Canção de bar

6.6 ) A “saideira”

07) A HISTÓRIA DE UM CAMPEÃO

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UMA DEDICATÓRIA

A Deus, à minha família, à Fátima Cabral, ao Mário Câmara e à Maria José, do

“Instituto 15 de Agosto”, com gratidão. Em memória de:

Francisco Namor Braga, Renato Braga, Claudionor Franco, Jaime Fernandes,

“Jango”, “Catodo”, Antônio Marcos, Raul Seixas, Renato Russo e Cazuza.

Ao Paulo Francisco Braga (O “KikO”),

com esperança... A mim mesmo, com autocrítica

e desconfiança.... Ao “Tinho” e ao Eurico, com amizade. Ao Isacc (o “bigode”), ao Fernando, ao Kleber, ao Lago e à sinceridade

dos amigos que, COMIGO CONVERSANDO, inspiraram este “BRINDE à SOBRIEDADE”...

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OUTRA DEDICATÓRIA

Mais uma “dose”, sem patrocínio

(Ao Kiko)

“Beba, pois a água viva ainda está na fonte” (Raul Seixas) “Meus heróis morreram de overdose/ meus inimigos estão no poder.

Ideologia, eu quero uma pr’a viver...” . (Cazuza). “Eu não tô legal, não agüento mais birita”. (Renato Russo)

Fazer umas rimas bem inspiradas

é tudo o que eu mais gosto... No prazer de vê-las publicadas, contudo, rapaz, eu não aposto...

No entanto, eu continuo escrevendo,

para vencer qualquer peleja... Se, em cada canto, há um irmão bebendo,

eu peço a Deus que o proteja... Belém, 20/11/2001

18 horas

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Introdução (Aos jovens estudantes brasileiros)

Aqui, neste meu intróito grosso e curto, deixo um recado exato: bebida transforma um bom moço num “velha guarda” muito chato...

Belém, 25/10/2001

02 horas e 30 minutos

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UMAS E OUTRAS “DOSES” DE ESCLARECIMENTO

(Ao leitor) “Primeira dose”:

Prezado leitor, neste momento, quero fazer o favor de

ofertar, sem o enrolado “lero” falho de bar, o isento sabor

de limão, de mel e de alho, da “real ficção” que invento,

além do fundamental esclarecimento sobre a opção do

trabalho social que tento publicar, sem querer apontar um

atalho, nem bancar o feio intelectual com cara de

espantalho no meio do matagal...

Eu sei, leitores sóbrios ou embriagados, que poderei

ter vários trabalhos engavetados, além dos que já tenho.

Mas sei, também, que os “falhos e mandatários editores”

não serão perversos a ponto de não publicarem meus versos

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comunitários, de não ajudarem os sofredores embriagados

(atores do “conto de fada real”) e de condenarem, com a

“prosa fiada intelectual”, o trabalho social da rima

simplificada e do cabeçalho normal que desanima cada ato

falho “pseudocultural” - que avacalho - a exigir “obra-

prima” no meio do desacato total de quem está a cair, sem

freio, no inexato inferno astral do demônio alcóolico,

antônimo do exato e terno sentimento bom, de final

melancólico e sem o Dom triunfal do bem “apostólico”...

“Segunda dose”:

Um brinde à sobriedade!, para que finde tudo bem,

cedo ou tarde... É o que deseja a publicidade da poética

engavetada, em peleja com a antiética prosa regada à

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cerveja e à cachaça, alcoolizada e sem saúde, enfim, que só

vê valorizada a desgraça de uma atitude ruim...

Entre a lucidez engalfinhada com a embriaguez, o

melhor é ir em frente, com a “equilibrada maluquez”, como

disse a canção inspirada de um saudoso freguês de bar, um

tal de “Raulzito”, famoso e triunfal “anjo pop esquisito” que

fez um sacrifício, antecipou o final de sua vida, partiu para

o infinito, sucumbiu ao vício da bebida, mas deixou um

legado inspirador para quem escutou o refrão bem

inspirado, consolador, em forma de trova, cantado por um

coração embriagado, em busca de nova opção: “Cansei de

acordar pelo chão/Muito obrigado, eu já estou calejado/

Não quero mais andar na contramão...”.

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“Terceira dose”:

A Associação de Alcóolicos Anônimos pode ser a

solução aos melancólicos bebedores que, numa definição

resumida, são sofredores escravos da bebida...

Alcoolismo não é “sem vergonhice”, é uma doença

regada a consumismo, à fanfarrice e à descrença no poder

governamental, que não faz o que tem o dever de fazer,

pelo bem estar social... Ah!, se o Estado ouvisse o recado

que o povão disse através da Constituição Federal (“A

saúde é um dever do Estado e um direito do CIDADÃO”),

tomaria uma atitude para convencer – e convenceria – cada

embriagado a fazer uma opção triunfal e urgente para viver

equilibrado física, mental e espiritualmente... Mas a

política, em geral, infelizmente, neste país desgovernado,

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emergente, infeliz e embriagado, só se faz com voto

regado a “aguardente”... Isso deve, afinal, ser mudado por

quem tem adotado um compromisso social e se atreve a

alertar o eleitorado a “votar legal”, ao invés de se

embriagar, após cada revés eleitoral, quando cada algoz,

mostra a verdadeira face do mal...

“Última dose (a saideira)”:

Vamos chamar o garçom para ele trazer a conta devida

e vamos cantar o som da canção que desponta atrevida, com

prazer e inspiração, sem perder o tom, só para afrontar a

bebida que está louca para querer nos mostrar a pior opção

desta vida... Vamos cantar, vamos viver, vamos parar de

beber o siso e vamos votar para vencer, como é preciso..

Belém, 31 de outubro de 2001 (17 horas)

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Um brinde à poesia

“Cadê os seus planos? Cadê as meninas?

Você agora enche a cara e cai pelas esquinas...”

(Renato Russo).

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Alerta a um viciado(1)

(1) Este Alerta foi publicado, no jornal “O LIBERAL”, em 07/08/1983. Na ocasião, o autor teve a honra de presenciar o texto ser lido e elogiado pelo saudoso Cláudio de Sá Leal que, naquela época, era editor chefe do referido jornal.

Nos instantes de lucidez, você se refugia em sua casa. A perdição lhe chama, você até que resiste, mas logo enfraquece e se manda pra rua... Perambula esquisito, pára num canto e compra, outra vez, uma passagem pra lua (ou para o inferno, quem sabe?). Com a cabeça feita, você entra num bar, bebe, bagunça e fala bobagem e faz tanta doidice... Você está muito errado, pensando que é uma boa cultivar a imundície deste hábito ruim. Sujeitos que fazem isso sempre se dão mal,

levados por ilusões, chegam sempre a um triste fim... Prejuízo,decepção, pilantragem, falsa alegria e grande vazio, é tudo o que a droga lhe dá. Pois então pára com isso! Rejeita esse vício, limpa teu corpo, arruma tua vida e sai desse lixo. Banca o esperto, segura as pontas, suporta a tentação. Luta, segue em frente, pula fora dessa. Há amigos por perto, deixa que te ajudem, estende a mão e volta a ser gente...

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Versinho preventivo

Um versinho preventivo será agora declamado,

contra um bobinho aperitivo, que implora para ser tomado...

Tem esteatose gordurosa e crise de depressão numa dose horrorosa

a quem disse ser “são”...

O alcoolismo engana e mata, é um vício traiçoeiro...

O liberalismo da cana nefasta é o precipício do biriteiro...

Um estridente verso

diz, numa rima pequena: “aguardente em excesso faz mal, não vale a pena !”.

Não defender a abstinência

e sim evitar o excesso é ter e usar inteligência para escutar tal verso...

“Beber ou não beber?:

eis a questão...”. Quem quiser sofrer, beba muito, então...

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Moral da história “Tratar bem sem olhar a quem”. (Sabedoria Popular)

“Timoneiro, timoneiro, para onde partirá este cargueiro?

Timoneiro, timoneiro, responde: para onde, para onde???”

-“Este cargueiro está lotado e sem vaga para biriteiro...”

- “Timoneiro, timoneiro despeitado, ignorante e arruaceiro,

toma bastante cuidado,

que o tempo é meu justiceiro... Haverás de viver embriagado, envolto num forte nevoeiro...”

-“Deixa de ser malcriado, vai-te embora, biriteiro... Já estou ficando enjoado só de sentir o teu cheiro...”

-“Pobre timoneiro despeitado,

cuidado com o nevoeiro... Considera-te desempregado, sou o dono deste cargueiro...”

Belém, 23/07/1997 04:00 horas

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Porre otário * Um velhote embriagado, extremamente miserável, foi, num abraço, roubado, por uma puta “adorável”...

O “mão de vaca”, cidadão sexagenário,

bebeu até virar “boneca”; querendo ser um esperto, foi um otário,

na mão de uma puta sapeca... Belém, 06/03/1996

Porre “milionário” ** Querendo impressionar uma putinha, o peão deu uma de arquimilionário, gastando todo o dinheiro que tinha,

em bebida, para deixar de ser otário... Em casa os filhos com fome,

esperavam o pai trazer a janta... A mulher do peão se consome

e ele come, bebe, dança e canta.. Voltando pr’a casa doidão, o peão deu uma de “corno”,

acusando o famoso “Ricardão” de roubar a comida do forno...

Belém, 08/03/1996

* Do livro RIMAS Prostituídas (Inédito) ** Do livro Rimas Adulteradas (Inédito)

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Para outro boteco “Às vezes, os meus dias são de par em par, procurando uma agulha num palheiro...”.

(Cazuza) “O freguês sempre tem razão” (Sabedoria Popular)

Fui beber uma gelada no boteco do Marçal e vi a cara zangada

daquela mulher boçal...

Ela espanta a freguesia do maridão comerciante... Causou-me até uma “azia” o olhar daquela arrogante...

Não pedi nenhuma gelada,

nem mesmo um refrigerante, fui batendo em retirada

para outro boteco adiante... Belém, 26/12/1996

06:00 Horas

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Canção inspirada (Uma prosa de botequim)

“Eu não tô legal, não agüento mais birita...”. (Renato Russo)

“Se você quer beber o problema é seu. Se você quer parar de beber o problema é nosso” (A.A)

Numa educativa madrugada, um poeta ouviu num botequim “um dedo de prosa fiada”,

que era, mais ou menos, assim:

-“A solitária embriaguez dissolve uma sólida vida... Pare com essa estupidez de se entregar à bebida...

Cada inocente ‘trago’

de qualquer bebida alcóolica, causa irreparável estrago

e torna a vida melancólica...”

- “As reações nos bebedores, felizmente, são distintas:

nuns, produzem dissabores; noutros, intuições esquisitas...

Então, pare de beber, portanto, se você não se sentir bem

e me deixe quieto em meu canto, fazendo o que me convém...”

Belém, 30/09/1998 23 horas e 45 minutos

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Aconselhamento “Quando tudo está perdido, sempre existe um caminho...” (Renato Russo)

Um ébrio cambaleava, falando sozinho, enquanto outro estava chorando baixinho... Os dois se encontraram em frente a uma mercearia e, juntos, eles formaram uma estranhíssima parceria.. Sem rumo, decidiram cantar uma canção... Logo, ambos ouviram a ébria inspiração... A canção embriagada foi composta em má hora: “Não adianta de nada chorar, nem sorrir, agora... Então, vamos beber, até a vaca tossir, até o dia amanhecer, até o mundo explodir... Está é tudo já perdido, não há mais nada a ser feito... Todo herói vira bandido, não há um só amigo do peito... Até a nossa parceria não tem nenhuma esperança... A vida é uma porcaria, e viver desse jeito cansa...”

Cansados e sem esperanças, os dois foram chamados por um grupo de crianças, filhos dos pobres coitados... Aquela cena deprimente penalizou um cidadão que, de modo convincente, mostrou aos dois a opção: “Vocês estão cansados e sem esperanças, conforme estavam cantando... Então, aceitem os chamados das crianças, elas estão lhes esperando... Desculpem-me a forma intrometida de lhes dar esse aconselhamento... Conheço muitos amantes da bebida que se deram bem com tratamento... Vocês encontrarão a saída para as soluções dos seus problemas e, sem o efeito da bebida, farão as canções com os bons temas.” Os ébrios foram embora com as suas respectivas crianças... Os dois compõem agora canções educativas de esperanças... Freqüentam uma anônima associação, sem o apoio governamental devido e cantam: “Sempre há uma solução, quando tudo está ou parece perdido.”

Belém, 25/08/1999 02 horas e 30 minutos

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Livre arbítrio

Há o etilista social Há o etilista moderado Há o etilista infernal Há o etilista enjoado...

Há quem beba por “esporte” Há quem beba por prazer

Há quem beba pr’a dar sorte Há quem beba pr’a morrer...

Há quem bebe e se embriaga Há quem beba pr’a dormir Há quem bebe e nunca paga Há quem beba pr’a curtir...

Há quem bebe e está vivendo Há quem bebe e está amando Há quem bebe e está morrendo Há quem bebe e está chorando...

Há quem bebe por doença

Há quem bebe por desprazer Há quem bebe por descrença Há quem não goste de beber....

Há de ser respeitado

aquele que faz o que quer... Há de ser amparado

quem beber até não puder...

Belém, 25/08/1999 02 horas e 45 minutos

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Recaída “Não diga que a vitória está perdida.

Tenha fé em Deus, Tenha fé na vida...”. (Raul Seixas).

“Eu me descontrolei e, infelizmente, bebi... agi como um fora da lei e um bom amigo perdi... Eu agi como um fraco! A quem tanto amo, ofendi... Fui chato, enchi o saco, simplesmente, porque bebi... Ao saber de tudo isso, não suportei a verdade, descumpri meu compromisso e bebi com insanidade... Estou muito deprimido e não sei o que fazer... Se errei por ter bebido, por que voltei a beber? Uns dizem: ‘És um doente!’... Outros propõem tratamento,

para eu viver como gente e me livrar desse tormento... Um fato é verdade e eu preciso entender: antes que seja tarde, devo é parar de beber... Acontece que não consigo fazer o que é preciso, mesmo perdendo um amigo e o que me resta de siso... Embora seja errado, não consigo entender: por que vivo embriagado? Alguém pode responder? Caso ninguém possa, que me deixe beber em paz e pare de fazer joça deste embriagado incapaz...”.

Belém, 29/08/1999 (18 horas e 30 minutos)

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Com certeza “Eu quero desta vida o que há de melhor, e no vício da bebida

ganho o que há de pior...

Sou um contraditório, eu bebo querendo parar... Faço um poema simplório para me auto - criticar...

Bebo de tudo um pouco, até não mais poder, agindo como um louco,

por não parar de beber...

O que tenho conseguido com esta atitude demente? Perco um monte de amigo, decepciono muita gente...

Vou conseguir parar

de fazer tanto sacrifício se procurar o AA

para curar o meu vício?

Meu louco pranto, que nesta rima cai,

responde num acalanto: ‘com certeza, vai’...”

Belém, 28/08/1999 (18 horas e 45 minutos)

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A melhor opção

Antes de tentar resolver os problemas do mundo, você precisa aprender

a sair do “poço sem fundo”...

Cuide bem da sua vida e do mundo ao seu redor, destruído pela bebida e pelo o que há de pior...

Diga não a esse vício, e não se deixe dominar,

pare com esse desperdício que pode destruir seu lar...

Procure agir como gente

e não como bicho...

Levante e siga em frente, saia do meio do lixo...

Procure olhar para o lado, há pessoas lhe ajudando

enquanto você, embriagado, nem sequer está notando...

Não se queixe de tristeza,

tampouco de solidão, e levante já dessa mesa, largue a bebida de mão...

Pegue esse conselho e faça

a sua vida melhorar... Mas se preferir a cachaça,

vai destruir seu lar...

Belém, 30/08/1999 (15 horas e 55 minutos)

A PARÓDIA DOS EMBRIAGADOS “Sete e sete dá catorze, com mais sete vinte e um, vejo pivetes embriagados, quero ajudar ao menos um...

Nestes versos que compus, todos bêbados foram ao chão... Acudiram bons cavalheiros, penalizados com a situação...”. Belém,30/08/1999(15horas)

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Canção da embriaguez

Fá-lá-mi-sol, Fala-me o luar...

Ré-si, rio do besteirol poético de bar...

Ré-mi-dó-lá, remida sócia, traga pra cá

o trago da Escócia...

Fá-lá-dó som, fala do carinho

do estigma do batom vermelho no colarinho...

Lá-fá-mi-si,

“oui, madmoisele”, já convenci

tua flor da pele?

Fá-lá-dó tom... Tá bom, encrenqueira...

Vem cá, garçom, traz logo a saideira...

Belém, 21/11/1996 03 horas e 55 minutos

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Alcoolismo: realidade e ficção (Um alerta em prosa e verso)

Paulo Marcelo Braga

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Canção da lucidez Esta noite tão fria

não me fará esquecer do calor da poesia,

disposta a me aquecer...

Esta noite tão angustiante não me verá afogado

na depressão tão arrogante de um tolo embriagado...

Esta noite tão quieta

não me tornará agitado, deixarei a mente aberta terei a lucidez do lado...

Esta noite tão triste não me fará duvidar que, felizmente, existe Deus para me ajudar...

Almeirim, 07/10/2000 (23 horas e 59 minutos)

Refrão guardião (Ao meu anjo guardião)

Estou bem, obrigado... Aliás, estou excelente... Sinto-me fortificado,

pois sei: estás presente... Almeirim, 08/10/2000 (01 hora)

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Bolero da mulher do bar

A mulher do bar fala o que ela quiser, por que não me abala a omissão de nenhuma mulher... Bebo o que der e não me atrevo a ver submissão em nenhuma tagarela mulher... Ela é um tesão! Ela “mama” e fala que me ama, me ama, me ama... Quero levá-la para cama e ela fala (e como fala), sem parar...Ela fala o que quiser falar,porque não me abala a confissão da mulher do bar... Se ela falar que tem má fama, que não me ama,nem vou me abalar... Só quero levá-la para cama... Ela que fale o que quiser falar... Só importa o que acredito e só acredito, de verdade, quando chego a um veredicto, no aconchego da sensualidade... Se ela me diz que é um mito do sossego e da verdade, eu nem vou me abalar com o nhem-nhem-nhem da mulher do bar... “Ela só quer, só pensa em” me enrolar..., dizendo uma imensa prosa de bar... Nenhum nhem-nhem-nhem ou ti-ti-ti daqui vai me enrolar...

Eu , também, nem vou me abalar com o nhem-nhem-nhem de quem está dizendo o que quiser no bar... E ela fala e fala, sem parar, um blá-blá-blá que nunca ouvi nesta ou noutra espelunca de bar... Quero deitar com a mulher do bar, que está tentando é me embriagar, tá me enrolando quase sem parar, tá me enganando ao me confessar, que está me amando e sempre irá me amar... Que blá-blá-blá tem a mulher do bar... Ninguém consegue fazer calar o nhem-nhem-nhem da mulher do bar... Ela só fala que me ama e para todo o sempre irá me amar... Quero levá-la para cama... Espero fazê-la parar de tagarelar... Um bolero, agora, inflama o “brio sincero” da mulher do bar... Vou embora, peito em chama, crânio frio, quero a mulher do bar... Eu só espero desfrutar do cio de quem quer me embriagar... Ela vem, com linguajar macio, e diz que quer me amar, mas não, eu não, jamais confio, na infeliz mulher do bar...

Belém, 12/07/1997 15 horas e 17 minutos

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Alcoolismo: realidade e ficção (Um alerta em prosa e verso)

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Orientação

“Estudarei o Evangelho de Jesus para que não peque, e deixarei de ser um velho companheiro do tal ‘pileque’ ... Rejeitarei a pinga, a ‘gelada’, não entrarei em bares lotados... Só beberei da ‘água fluidificada’ e pagarei os meus pecados...

Quem sabe, assim, eu consiga viver em paz nesta vida... Vencerei, no fim, uma briga, sem ceder à voraz bebida... Na minha opção pela abstinência, eu alcançarei alguma vitória histórica... Com a orientação da Providência, tirarei da memória a bebida alcoólica”.

Belém, 18/01/2001 (05:00 horas)

AVISO “Quem avisa amigo é”. (Sabedoria Popular)

Querer beber “fissurado” é uma atitude “demente”... É melhor tomar cuidado ao beber a “aguardente”... Quem bebe com moderação, poderá beber sossegado... Bom mesmo é ter a opção de não ficar embriagado...

Às vezes basta um “golinho” para querer tomar demais, ficar, vários meses, sozinho, e sofrer em bares infernais... Tome cuidado, portanto, ao tomar a primeira dose... Bebida tem gerado pranto e pode causar uma psicose...

Belém, 18/10/2001 (15 horas e 20 minutos)

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Rimas embriagadas

“Eu resolvi escrever poesias com umas ‘rimas embriagadas’, e ouvi o bom som das fantasias no tom das ‘cismas das geladas’... Eu vi o sol nascer feio e cinzento, tive umas alucinações cruéis, ouvi besteirol, ao ver o tormento que vive nos corações infiéis...

Até que um dia, finalmente, eu resolvi foi é parar de beber... Tenho fé na poesia estridente, escrevi pr’a afogar o desprazer... Este verso eu finalizo, sem sono, com sobriedade: não bebo mais meu juízo, sou dono da minha vontade...”. Belém, 18/10/2001 (16 horas)

Vida nova “Quero manter a firmeza que encontrei na sobriedade... Em Deus, há a fortaleza, onde me abriguei da maldade... Fui vítima da malvadeza da minha própria vontade,

ao me sentar numa mesa e me embriagar até tarde... Se hoje estou libertado do vício que vinha da ‘bebida’, Deus sempre será louvado pelo início de minha nova vida...”.

Belém, 18/01/2001 (16 horas e 15 minutos)

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Fim de farra (A UM AMIGO )

Não beba cerveja quente, escute o que vou falar: procure agir como gente e não vá se embriagar...

O dia está raiando

e sua mulher lhe espera... Vá logo se preparando,

ela deve estar uma fera...

Portanto, vamos, amigo... Por hoje, já chega de farra...

Venha embora comigo... Melhor ir por bem que na marra...

Enquanto você está bebendo, sua família lamenta e chora... Escute o que estou dizendo: já está na hora de ir embora...

Logo o dia amanhece,

o sol está para nascer... Agora, você se aborrece; depois, irá me agradecer...

Escute esta última advertência:

Pare de beber, agora! Você pode perder a paciência, mas vou lhe levar embora...

Almeirim, 22/02/2000 (05 horas e 30 minutos).

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Conclusão “Um bêbado trajando luto, me lembrou Carlitos”.

(Elis Regina).

Todo ser alcóolico é um solitário, isso já está confirmado;

e, melancólico, gasta todo salário para sobreviver embriagado,

na casta de um circo comunitário, onde vai morrer desamparado, pelo poder neocapitalista, sem poder ter ao seu lado uma amadora “equilibrista”, conforme já havia decantado uma cantora vanguardista

a quem bebia no enorme tablado... Belém, 24/03/2000

02:00 horas

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Um brinde à prosa

“Se você quer beber, o problema é seu. Se você quer parar de beber, o problema é nosso.”.

(Alcoólicos anônimos)

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Alcoolismo: realidade e ficção

“Eu não tô legal, não agüento mais birita...” (Renato Russo)

Bebida alcoólica é uma mazela histórica! Alcoolismo é um vício

desgraçado , que vem sendo descaradamente divulgado no território brasileiro.

A “aguardente” rende muito dinheiro aos fabricantes que, impunemente, vão

deixando o povo cada vez mais doente e alienado, a ponto de trocar votos,

principalmente no interior do Estado, por doses de bebidas, em algumas

eleições corrompidas...

As chagas do alcoolismo são agravadas pelo comodismo reinante dos

“cientistas sociais”, pelegos pseudointelectuais, alheios às notícias policiais,

geradas pela excessiva ingestão de bebida alcoólica, a ser combatida não com

retórica e sim com ação curativa somada a preventiva, para que os atuais

dependentes do álcool não venham a dividir o palco com futuros representantes

do drama real, causado pelo alcoolismo, em qualquer escala social...

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Segundo estudos realizados numa universidade japonesa, o cromossoma

14 foi identificado como responsável pela dependência química em alguns

indivíduos. No entanto, não há confirmação científica se o alcoolismo é

transmitido geneticamente. Um fato, porém, é confirmado pela OMS: alcoolismo

é uma doença (e não uma “sem vergonhice” , como muitos costumam dizer),

cujo tratamento requer um atendimento multidisciplinar por uma equipe

composta por assistentes sociais, psicólogos, médicos clínicos, psiquiatras,

além de outros profissionais de saúde.

A Associação de Alcoólicos Anônimos (AA) tem colaborado bastante

lutando contra o alcoolismo em todo o mundo. Mesmo sem o apoio oficial

devido, o AA vem tirando do “fundo do poço” muitos jovens e velhos, pais e

mães de família, trabalhadores e desempregados, que cambalearam pela

estrada desse vício traiçoeiro, perdendo dignidade, dinheiro e saúde... Muitos

continuam cambaleando, sem ter quem os ajude... Por isso, fica a sugestão

para que, em Belém, a Comissão de Saúde da Câmara Municipal debata o

assunto com a prefeitura e com o governo estadual, dentro da sobriedade e da

urgência necessária, visando diminuir a incidência dessa atual mazela

comunitária, ajudando o AA a exercer sua atividade solidária, com apoio ideal e,

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Alcoolismo: realidade e ficção (Um alerta em prosa e verso)

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em conseqüência, com maior eficiência, em busca da prevenção e da

recuperação dos casos da doença...

Além da sugestão, fica, também, elaborada a principal questão a ser

analisada pela comissão de saúde da Câmara Municipal de Belém, para que a

mesma possa debater, prevenir e curar o alcoolismo, como convém, após fazer

um estudo estatístico e comprovar a elevada ingestão de álcool etílico na

população, para, em seguida, partir da oratória à ação devida e mudar o rumo

da história escrita pelo vício da bebida. O excelente Programa de Saúde do

Trabalhador do IPAMB, se devidamente apoiado, em muito pode colaborar

nesse projeto, encaminhando-o ao rumo certo, mantendo o álcool longe e a

ajuda perto de quem precisa e aceita, conforme pesquisa a ser feita, pela

comissão de saúde eleita para legislar em prol da saúde comunitária, de forma

insuspeita, debatendo o alcoolismo em sessão extra-ordinária... Os diretores

dos hospitais das forças armadas não recusariam uma parceria com a CMB,

tendo em vista o estudo feito pela psicóloga Jesiane Caldeirado e pela

psiquiatra Cristina Terezo, no ano passado (1998), quando foi confirmado o

preocupante índice de alcoolismo nas três forças armadas em Belém.

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Enquanto o apoio oficial não vem, leitor esclarecido, pense bem e faça um

favor a um consumidor combalido, ou seja, se um alcoólatra conhecido o

convidar para beber, recuse o eventual convite e formule outro; convide-o a ir

rezar numa igreja ou a passear numa praça, ao invés de tropeçar e cair afogado

num mar de lama, de cerveja ou de cachaça. Tal convite deve ser feito de forma

dissimulada, “siciliana”, como quem não tem nada contra “cana”... Consegue

muito quem tem o intuito de ajudar e não condenar a quem quer se embriagar

sob a psicodélica alegação de “tentar esquecer, já que não pode resolver, os

problemas do mundo”, prestes a cair num “poço sem fundo”, desconhecendo

que só Deus é a solução para qualquer problema e o AA pode dar a mão a

quem estiver disposto a adotar esse lema: “Se você quer beber o problema é

seu. Se você quer parar de beber, o problema é nosso.”.

Vale publicar a seguinte ficção, composta na madrugada de 30/09/98,

para que a temática em questão seja analisada, com atenção e colocada em

prática, na abordagem tática de um ou outro embriagado cidadão, que quase

sempre entende mal uma opinião imparcial, sobre o efeito da bebida na vida

física e espiritual. Numa educativa madrugada, um poeta ouviu num botequim

um “dedo de prosa fiada”, que era mais ou menos assim: Um amigo disse a

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outro alcoólatra –“A solitária embriaguez dissolve uma sólida vida... Pare com

essa estupidez de se entregar a bebida... Cada inocente trago de qualquer

bebida alcoólica causa irreparável estrago e torna a vida melancólica...”. Após

ser avisado, o inveterado respondeu: -“As reações nos bebedores felizmente

são distintas: nuns, produzem dissabores: noutros, intuições esquisitas... Se

estou bebendo, portanto, é porque me sinto bem. Então, me deixe quieto em

meu canto fazendo o que me convém...”. Moral da história: há tempo de dizer e

de calar, de aprender e de ensinar, de beber e de parar, de saber lutar contra o

vício ou a ele se aliar... O livre arbítrio alheio deve ser respeitado. Isso não

significa que um cidadão embriagado deva ser menosprezado... Ampará-lo é

obrigação do Estado...

Artigo publicado no jornal “Diário do Pará”, em 04/12/1999

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A ópera nacional

“ Brasil, mostra a tua cara, quero ver

quem paga p’ra gente ficar assim...”

(Cazuza).

“Sem o seu trabalho,

o homem não tem honra...” .

(Fagner).

Senhoras e senhores, atenção, por favor... Ilustríssimos eleitores, da

capital e do interior, temos a insatisfação de apresentar a “ópera nacional”...

Quem prestar bem atenção, do início ao final, verá que ela está disposta a

satirizar qualquer perverso que estiver interessado em fazer uma aposta no

retrocesso e não na evolução do sofrível processo eleitoral, estagnado na pista

da corrompida, mas reversível, alienação social...

Há vários meninos perambulando pelas ruas, desamparados, porque seus

pais não estão encontrando os empregos tão almejados... Tantos “meninos de

rua”, sem pais e sem residências, são a imagem nua e crua da politicagem e

das incompetências... Os “homens dos gabinetes”, comendo filé, faisão e caviar,

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fazendo tantos joguetes, não têm com que se importar... Há crianças chorando

de fome e desespero, e a elite, nem se importando, exige o melhor tempero...

Há crianças roubando e morrendo, abusando do fumo e da cachaça, enquanto

muitos nem estão vendo; outros vêm e fazem pirraça...Na prisão dos

miseráveis, as fugas, às vezes, são alcóolicas e condenadas pelos “honoráveis

fariseus das teorias apostólicas não praticadas”... Criticar a atitude de um ser,

sem perspectiva de viver em plenitude, é um pecado sem justificativa... Todo

pobre coitado, sem alternativa para mudar de vida, deve ser ajudado antes de

sucumbir ao vício da bebida...

É preciso tratar com atenção o problema do menor abandonado, da

criança sem comida, do trabalhador mal remunerado... É preciso protestar até

que governantes sejam convencidos a ajudar desempregados e excluídos, para

que o futuro não seja como antes: com soldados mal comandados, por

ditadores arrogantes, massacrando cidadãos revoltados... A revolta popular

deve ser expressa sem guerrilhas e sem prosas fiadas, depressa, apenas, com

simples rimas politizadas e canções serenas... Os menestréis devem cantar,

aos antiquados “coronéis”, sátiras construtivas... Os tenores devem refutar as

cantorias desafinadas e especulativas dos impostores... Os poetas devem ser

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inspirados no linguajar e no sofrimento dos chefes de famílias desempregados,

dos trabalhadores sem aumento, das crianças maltrapilhas, dos mendigos, dos

pobres ébrios escorraçados...

Se há muitos cambaleando é porque, muitas vezes, certamente, não

estão trabalhando ou não são remunerados condignamente... Não adianta

alimentar de graça ( sem empregar ) um desempregado; é condenável fazer

pirraça diante de um pobre embriagado... Neste país, cheio de criança catando

alimento na lixeira, onde está a esperança? Tremulando, ao vento, no verde de

uma bandeira? Neste país, onde trabalhadores são massacrados na luta pela

terra, onde estão os “prosadores” que dizem: “a justiça não erra!”? Num país em

que o alcoolismo não é tratado corretamente, onde estará o idealismo?

Embriagado ou condizente? Num Estado como o Pará, cheio de tanta riqueza,

por que muitos “vivem ao Deus dará”, sem uma migalha de pão na mesa?...

É necessário resolver as causas sociais dos problemas, ao invés de só

dizer: “as culpas são dos sistemas!”. Não há problema sem solução, já disse a

sabedoria popular, a quem sabe partir para a ação, ao invés de apenas falar. Se

cada cidadão decidir pensar e agir, as mazelas sociais vão embora. Por que

muitos insistem em fingir e adiar o que pode ser feito, agora? Os governantes

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deste país emergente devem dar um tratamento adequado e urgente ao

alcoólatra, ao desempregado e às crianças famintas, as maiores vítimas da

pobreza, pois se sobra “menino de rua”, falta comida na mesa... Os governantes

têm obrigação de amparar crianças desamparadas e de utilizar as verbas da

população como devem ser utilizadas... As mínimas condições de vida devem

ser maximizadas e as causas do vício da bebida devem ser, imediatamente,

tratadas. Esse quadro deprimente só poderá vir a mudar quando o povo exigir

seus direitos ao invés de se acomodar, com mal governantes eleitos...

Senhores governantes, é preciso que V.Excias saiam dos gabinetes para

as ruas... Senhores governados, todo omisso é sofredor, por ser co-autor de

falcatruas... Exmos senhores governantes, mantenham a postura cívica, para

que, dentre vós, os farsantes sejam a menor estatística... Basta de corrupção...

Senhores desempregados, desta desgovernada nação: velhos erros podem ser

consertados em cada nova eleição... Todo aquele que pensar, agir e votar mal,

não terá escapatória, será enquadrado como vilão na lei triunfal da história... O

que pode ser feito agora? Partir para a ação, ora, e não ficar na oratória...

“Quem vai ficar, quem vai partir?” É hora de se decidir... Pouca gente notou que

o presente já terminou, o passado ditatorial retornou e o futuro da ópera

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nacional ainda nem começou, por falta de força de vontade dos que acham

“normal” ficar no passado, ao invés de partir rumo ao futuro, em busca de

reconstruir uma nova sociedade, onde cada duro drama aqui apresentado terá

resolutividade, apesar da peleguice covarde optar por defender a “mesmice” e

dizer: “É tarde, nada mais se pode fazer...”. A cada “não” dito a quem busca um

novo horizonte, haverá um monte de “sim”, bradando e partindo para a ação,

lutando e sentindo que este sacrifício provará, “tim-tim, por tim-tim”, ser o início

de um meio que terá um bom fim...

Este artigo foi publicado no jornal Diário do Pará, no dia 28 de agosto de 1999

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Lutando contra o Alcoolismo

“É de batalhas que se vive a vida...”

( Raul Seixas )

Hoje, 21 de agosto de 1999, um desgosto envolve o meio artístico varonil.

Há dez anos atrás, um dos maiores sábios do Brasil, senão o maior, morreu

como um imbecil, cantando em dó menor... Raul dos Santos Seixas, guru de

marmanjos, guris e gueixas, “cawboy fora da lei predileto”, um “herói sem pés

de barro”( como diria o Dr. Antônio Soares Neto, tirando um “sarro” ), sucumbiu

à diabetes e à pancreatite, mazelas agravadas pelo alcoolismo, uma chaga

social, que insiste em matar impunemente um bando de boa gente, vivendo

como bicho, catando o lixo do poder estatal, insensível a esse problema de

saúde mundial, avançando imbatível pelo mundo, jogando muitos num “poço

sem fundo”...

Abaixo o alcoolismo! Esse, o maior recado de Raul, ainda não foi

compreendido neste milênio que, embriagado, finda... Cantando de norte a sul e

se transmutando, Raul insistiu um bocado em dizer: “Abaixo o alcoolismo! Não

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sou nada disso que vivo a fazer, não canto por cantar, não bebo por beber,

assumi esse compromisso com muito desprazer e peço a Jesus Cristo para me

desfazer disto...” De certa maneira, Raulzito disse a quem quis ouvir: “Não se

vicie a nada, não faça besteira, nem aprecie a minha vida alcoolizada, e sim as

minhas idéias birutas, dosadas com lucidez, as minhas odisséias curtas,

buscando ajuda a mim e a vocês que insistem na maluquez da bebida, vício

traiçoeiro, capaz de destruir uma vida, por inteiro...”.

A “Sociedade Alternativa”, de quem não dormia de touca e duvidava da

verdade absoluta, foi uma visão “louca” de uma inspiração astuta que uma

alcoolizada boca, sem comando e deslumbrada, foi cantando pelos quatro

cantos desta nação que não entendeu o pedido de S.O.S em cada canção do

saudoso “alienígena”. Discordo do crítico catedrático. Na minha concepção

arborígena, Raul dizia enfático: “Estou cansado de seguir em frente e só ter ao

meu lado uma garrafa de aguardente...” Diante dos imbecis donos da verdade

deste país, Raul clamou em cada rock que cantou: “ô,ô, seu moço do disco

voador, me ajude a cuidar de mim, da minha saúde, nesta guerra sem fim deste

cachorro-urubu contra o Z-U...”. O Z-U, inimigo a ser vencido, é o alcoolismo e

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não vai fazer o idealismo aguerrido ter “vista grossa” contra um mal que à um

indivíduo e à uma família destroça...

Raul Seixas sabia que “não se vence uma guerra lutando sozinho”,

principalmente num “buraco de rato”, num antro de “papudinho”... No Brasil,

uma eleição pode ser decidida por uma porção de gente corrompida, daí a

razão do alcoolismo ser uma “boa pedida” que, exatamente por isso, vem sendo

mantida pelo coronelismo eleito com doses de bebida. Uma dose de cachaça,

embora provoque tanta desgraça, é dada de graça a muita gente viciada e

alienada, dando voto a troco de nada... Comento esse fato, sem ser candidato,

sequer sou filiado a uma sigla política, sou apenas um eleitor politizado,

alimentando uma prosa raquítica com um pobre verso rimado, dizendo que o

sonho da “sociedade alternativa” pode ser realizado se o idealismo não for

derrotado pelo alcoolismo...

O alcoolismo é o grande mal do mundo! Não pretendo rimar a fundo, ter a

pretensão de limpar um poço imundo, combater o maior e mais liberado vício do

planeta, compondo verso rimado, empunhando uma caneta ou uma pena, como

diziam os poetas das rimas prediletas... Então, que a Assembléia Legislativa, a

Câmara Municipal de Belém, a comitiva do governador e a do prefeito tentem

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ajudar, como convém, a cada família onde o alcoolismo já está, já vem ou virá

se instalar, se ninguém o combater, se ninguém se importar...

O aniversário, aqui registrado, da “viagem” de Raul, uma “estrela da

constelação do cruzeiro do sul”, não terá sido em vão se este Estado levar cada

alcoólatra a ter tratamento adequado para vencer esse vício desgraçado. Assim,

o irrequieto homenageado poderá descansar sossegado. Descanse em paz,

“cachorro-urubu”, e obrigado por, de alguma maneira, ter inspirado este artigo

em verso, uma bandeira na luta contra o Z-U, o alcoolismo, o grande mal

causado pelo capitalismo perverso, o maior vilão do universo, armado com um

copo de aguardente em cada mão, montado num inocente “cavalo do cão”,

atropelado por cavalgar na contramão, sem saber que o segredo da vida é agir

como cidadão, sem querer bancar herói, nem vilão, achando bacana ser um “pé

de cana”...

Por falar em “pé de cana”, quando a crítica pisava em seus pés, Raul

cantava: “dói, mas no dia seguinte aperto meus pés, outra vez...” Nem a

propósito, ouvindo a voz da lucidez, minha mente raquítica engoliu a boa crítica

do colega Antônio Soares Neto, um alimento para meu intelecto... Falar, como

falei, de herói, citando os nomes de uns poucos, foi uma falha que ainda dói nos

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Alcoolismo: realidade e ficção (Um alerta em prosa e verso)

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meus pensamentos “barrocos”...Os poucos nomes que citei, na minha crônica

“Pais e filhos”, só demonstra que eu cantei como um frango sem muitos

milhos... Não ter citado Lúcio Flávio Pinto como sendo um dos meus “heróis” é

um remorso que eu ainda sinto pelo bom exemplo que ele dá a nós... Muitos

nomes ficaram de fora da pequena lista mal elaborada; no entanto, não adianta,

agora, remendar uma falha já publicada... Eu só posso e devo, apenas,

agradecer ao herói e crítico esperto: Dr. Antônio Soares, deu para perceber que

não agi de modo correto...Quanto aos nomes que citei, você disse vários são

“pés de barro” e, ainda nem lhe perguntei: com quem você quis tirar um

“sarro”?... Outro questionamento será rimado ao colega e herói sobrevivente, e

tomara que seja bem explicado: quais são os pés? Diga pra gente...

Responda, amigo, urgente: por que morreram cedo vários heróis de

antigamente? Por terem batido de frente com cada inimigo, menosprezando o

perigo de não coligar a teoria à prática? Não é bom mudar a tática para

controlar a “maluquez misturada com a lucidez”, como Raul Seixas tentou, mas

não fez, devido, talvez, ter lutado só, “uma luta surda”, contra o vício da

embriaguez? De que maneira as verbas da população, que são desviadas,

poderão ser utilizadas para curar pessoas alcoolizadas? O que podemos fazer?

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Vamos assumir o compromisso de escrever sobre isso? Pois é, colega, a nossa

vez é agora, vamos fazer a nossa hora, lutando, com fé e sem radicalismo,

contra as causas sociais do alcoolismo, sem cometer os mesmos erros dos

nossos heróis antigos... E “pelas barbas de Moisés”, homem, não me deixe no

esparro, diga-me: quais dos meus heróis são “pés de barro”? Quem sabe na

próxima semana você responde e ajude a alertar os “pés de cana”( com os pés

no cemitério), os pais das crianças mal alimentadas, os profissionais de saúde,

de magistério e de outras profissões mal remuneradas, para que, unidos,

possamos protestar contra as verbas desviadas de formas impunes e insanas,

por vilões travestidos de impostores heróis bacanas, que transformam

desprevenidos eleitores em “pés de cana”...

Para encerrar, vale registrar um pequeno refrão de uma canção de

Raulzito para reflexão de quem despreza a força da união da coletividade:

“sonho que se sonha só é só um sonho(...) mas sonho que se sonha junto é

realidade...”.

Artigo publicado no jornal “Diário do Pará”, em 21 de agosto de 1999

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Alcoolismo: o realismo de uma

história simplória de amor e dor

Walter da Paixão havia nascido em Santarém, na praia de Alter do Chão...

Chovia e seu pai não tinha percorrido além de uma milha, à toa. Fora atrás de

um rabo de saia e encontrou a encantadora filha menor de uma boa família,

convencido de que seu melhor par na quadrilha junina era, na sua concepção

pequenina, de rapaz deslumbrado, de dezoito anos de idade, o coração amado

e o coito dos planos para comemorar a maioridade... Como insanos, os dois

fizeram “amor de verdade”... Depois de nove meses, Walter veio ao mundo...

Até hoje, quando chove na cidade, Menezes, um feio vagabundo, recorda com

saudade da aventura amorosa vivida com Mercedes, sua “mulata cheirosa e

atrevida”... Ao lado de Menezes está o mendigo “Zé catinga”, seu agitado

amigo, ou melhor, “parceiro de pinga”, o primeiro a (“na maior lata dura”) dar

corda para Menezes recontar a melosa e inexata história amorosa com a pura e

bela Mercedes, naquela noite chuvosa...

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-“Vou te contar, rapaz – diz Menezes- estou pra reconquistar a quem

sempre me deu paz e me fez feliz....”. –“E o que está faltando pra isso

acontecer?, indagou o “velho Assis”, outro mendigo, a quem Menezes responde:

-“Ela esconde por esconder a saga que nunca vai esquecer de ter vivido comigo

uma bela história de amor... “. E sem convencer ninguém com sua oratória de

dor, sorrindo, afirma: -“Ela ainda me ama e está sentindo falta da minha rima...

Aquela linda “Cinderela” sempre me amou... O nosso amor não acabou e nem

podia acabar.... Comigo, ela será feliz... Nosso dia vai chegar...”. A balela finda

e começa o perigo quando “Zé panela”, um mendigo provocador diz: “Qual o

que, abestado infeliz... Ela não quer mais saber de um pobre coitado como você

que vive embriagado e nem tem onde morrer...”. Furioso, Menezes colocou o

mendigo para correr... Em seguida, esperançoso de reconquistar Mercedes,

com fé, jurou mudar de vida... Pensou até em trabalhar bastante e ir encontrar

quem está distante e nem deve se importar se ele vai ou não insistir em tentar

conseguir o que está querendo... Enquanto Menezes estiver bebendo,

Mercedes estará dizendo a Walter, o que o mesmo precisa saber a respeito do

pai: -“Meu filho, é melhor você esquecer... Seu pai não vai mudar. Ele faz parte

de um passado triste... Ele segue desgarrado, não consegue fazer nada além

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de beber. Insiste em fazer promessa furada e vive embriagado pelos cantos,

sem se importar com os prantos de quem o quer bem... Esqueça, então, meu

filhote... Seu pai é o maior beberrão do norte...”.

Apesar do aviso da mãe, o rapaz tinha outro juízo e foi procurar uma

forma capaz de ajudar o pai que causou muito prejuízo à sua mãe, “casou com

a bebida” e o desamparou quando ainda era pequeno... –“Não vai adiantar de

nada essa lida! decretou Heleno, dileto avô de Walter e patriarca da “galera”. E

justificou o decreto: -“A vida desgarrada tornou seu pai uma ‘fera’. A desatenção

com que ele tratou sua mãe não vai fazer com que ela o ajude... Com prazer, eu

criei você... Ninguém se ilude com a irresponsabilidade total de seu ‘pai

verdadeiro’. Tenha bondade e amor filial por ele, mas se encontrá-lo não lhe dê

dinheiro. Tudo o que você o oferecer ele vai trocar por bebida... Se isso

acontecer, pode apostar, ele vai perseguir sua vida até conseguir, depois e

depois, mais e mais ajuda financeira... Não adianta, rapaz, ele é ruim e não

muda, pois sempre foi assim a vida inteira...

Embora ouvisse o conselho de quem tinha o direito de meter o bedelho

em sua vida, Walter não mudou seus planos e tentou tirar o pai “mal ouvido” das

garras da bebida... Depois de tantos anos, ele estava decidido a fazer o que já

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deveria ter feito... Tirará o pai das ruas, dar-lhe-á alegria, um leito e falará do

amor que há em seu peito por quem lhe trouxera ao mundo, em parceria com

sua genitora, antes de cair em decadência desesperadora, nos laços possantes

do vício que ilude os populares e havia quebrado os laços triunfantes e

familiares de Menezes, tornando-o um desamparado vagabundo, como tantos

fregueses de um bar lotado e imundo... Todavia, Walter, embora avisado pelos

seus, sabia no fundo que, em boa hora, seu pai seria recuperado... O rapaz ora

a Deus, acreditando que vai ser capaz de tirar o pai do vício desgraçado. Valeria

a pena o sacrifício que faria, lutando para ver o pai curado... A cena real seria o

início esperado da luta entre o bem e o mal, entre a embriaguez e a lucidez,

entre a sobriedade e a maldade, frente a frente com a solidariedade... Decerto,

o seu pai relutaria em aceitar ajuda. Mas o filho esperto insistiria... –“Ele muda,

dizia Walter, nem que seja na marra... Vou tirá-lo da sarjeta, serei seu amigo e

vou avisá-lo do perigo da farra”... No fim, o pai de Walter cai em si e se ajeita,

sim... É o que esta história narra, com esperanças, a tantos pais de famílias que

abandonaram suas esposas e crianças por aí, e estão andando pelo cais da

amargura, caçando “mariposas”, tomando cana pura, achando que é bem

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bacana adotar a postura de andar de bar em bar, sem ninguém em quem

confiar...

Está confirmado, com certeza, que o alcoolismo é uma doença e não

safadeza, como muita gente pensa. Logo, ele não pode ser tratado com cinismo

e indiferença pela imprensa e pelos poderes estatais, enquanto seres

humanos padecem tanto nas mãos de insanos que enriquecem demais às

custas da miséria alheia, e se esquecem de que a coisa é séria e está ficando

cada vez mais feia. Muitos governantes “legais da cuca”, serão

responsabilizados, antes tarde do que nunca, por não darem atenção, nem

solidariedade, aos embriagados desta nação. A comunidade consciente precisa

cobrar dos alienados mandatários uma ação urgente para livrar os alcoolizados

da discriminação dos “sectários abstêmios”, culpados por esta embriagada

nação ganhar “prêmios” da estatística não publicada da política de saúde

preventiva não implantada, para atenuar a atitude descarada da nociva prática

incentivada na “temática de bar”, onde a omissão passiva e antipática de quem

não sabe governar vai receber a pena alternativa que sempre cai sobre uma

dramática ação corruptiva... O alcoolismo denunciado neste conto mal rimado

só existe porque o neocapitalismo estatal tem dado incentivo a quem insiste em

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dar motivo para o cidadão beber, sem ter um local adequado para cumprir a

missão social de estender a mão ao viciado que quer sair desse mal... Fica a

moral da história para a reflexão de quem não critica a oratória e a omissão

total dos governos federal, estadual e municipal sobre o crescente “vício liberal”

e o imprudente desperdício de uma porção de real, sem a função de fazer uma

prevenção oficial... Muita gente está carente e vive a confundir prazer com

aguardente... É hora de se exigir prevenção urgente, agora, contra o mal que

entra pela boca, deixando a população doente e louca de uma aflição que se

agiganta, num “bar imenso”, brindando tanta falta de bom senso, com a

badalação de quem sabe fingir, até a festa acabar e o estorvo, o que não presta,

vir a se manifestar... Dado o aviso, o povo fica convidado a fazer o que é

preciso: parar de beber o juízo...

( Artigo publicado no Jornal popular, em 02/02/2001)

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Canção de bar (Ao Denis Cavalcante)

No dia sete deste mês, o livreiro Denis Cavalcante, em tom de uma poesia

que promete, fez um artigo inteiro, exultante e sem hipocrisia, sobre a solidão

que vive a imperar na vida e no coração de um freguês de bar... Num estilo leve

e, de certa forma filosófico, o Sr. Cavalcante analisou a norma de quem bebe o

teor melancólico da sinfonia desarmônica do instante histórico... O autor da

crônica inebriante, inspirada na melancolia distônica de um anônimo bebedor,

foi o brilhante compositor da cena gravada ao som do que seria (e é) uma obra

sinfônica de bar, que vale a pena cantar...

Denis Cavalcante, livreiro e escritor de rara nobreza, ouviu um

“bamboleante biriteiro”, cara a cara, numa mesa de um bar pouco movimentado

e escreveu, com sutileza, sobre o sufoco do embriagado, cheio de solidão e de

tristeza, intitulado “Anônimo no bar”. O autor do referido artigo sentiu dó,

vendo o aperreio e a sensação de fraqueza de um bebedor desconhecido, que

lhe pediu abrigo, dizendo: -“Não me deixe só!”.

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Quando o biriteiro anônimo do bar, como surgiu, foi embora, o livreiro

ficou a pensar sobre o que ouviu em boa hora... Em seguida, resolveu publicar a

prosa que a rima da canção espelhada reproduziu agora... Nesta vida, quem já

bebeu, talvez possa explicar por que quem bebe sozinho chora, por nada... Às

vezes, mesmo acompanhado, um bebedor dá imensa risada, mas não é feliz,

confunde-se todinho, fala enrolado e pensa saber o que diz... Só quem não é

exagerado e bebe com moderação pode beber sozinho ou acompanhado, sem

sentir a aflição sentida por um embriagado em plena e total solidão, na qual a

bebida tem rezado a novena da combalida religião social do pecado...

Denis Cavalcante escreveu algo para ser guardado, não na estante, mas

em cada trago dado num bar, onde um errante e virtual embriagado vive a

reclamar a todo instante da vida real... O artigo solidário foi publicado no jornal

“O LIBERAL” e merece ser analisado por todo bom amigo bebedor solitário,

contumaz ou eventual, que deve entender o tom provocador deste vocabulário,

afinal: “A questão não é o que se bebe, muito menos o quanto se bebe. Mas

sim, por que razão se bebe.”. Para responder tal questão, não se deve meter o

bedelho nas queixas de solidão de um embriagado, e sim entender o triunfal

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refrão cantado por Raul Seixas a um “ruim pentelho pelego gagá”, o qual é mais

ou menos assim: “Você já foi ao espelho? Não, nêgo? Então, vá...”.

Parabéns, é o que te digo, escritor Denis Cavalcante. Tens, ao compor o

teu bom artigo, um interessante dom considerado instigador, sinônimo do

inebriante som do refrão inspirado num bebedor “ anônimo e bamboleante” que,

por beber em excesso, não poderia entender a cantoria boa do verídico verso

que tua triunfal poesia entoa diante da farsa do crítico perverso, bocó e

arrogante, a qual não passa de hipocrisia à toa, que só o político do “congresso

da fantasia” apregoa...

Belém, 11/09/2001

(20 horas e 20 minutos).

Artigo publicado em O LIBERAL, de 29/09/2001

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A “saideira”

“Todo bebum fica chato...”.(Reginaldo Rossi).

(Ao bigode, ao Fernando e ao Santana, um trio amigo; à minha linda família inteira e a

quem me viu obcecado pela “saideira”, digo que ainda estou metabolizando a “cana

pirateira”, neste artigo rimado que estou publicando, com minha rima cabreira...).

emora um pouco, mas na hora do sufoco, quando o cliente já está

“regando as plantas”, o prudente “barman” vai logo falando: na

geladeira não tem mais nada, nem quente nem gelada... Então, convém ao bom

senso solucionar a questão e pagar o imenso prejuízo que a bebida já fez a

nossa vida, antes que ela venha a apagar o nosso juízo, com a balela proferida

por uma embriaguez mal ouvida...

ão há quem possa com a insistente solicitação da “saideira”. Nossa

gente sem opção pensa que boteco é feira e passa a confundir

noção intensa com “jaleco de enfermeira...” Aí, já é hora de parar de pedir... Se

dá pra ir embora, pra que ficar e insistir???... Lá no bar, o tempo parece estar

D

N

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parado para quem amanhece embriagado e insiste em duvidar de um dilema:

ficar ou ir embora? Para que futricar sobre o tema do “papo furado” de quem

sempre quer estar a “sorrir da boca pra fora”, mas não é valorizado ao preferir

ser enxotado de um bar fechado que sempre vai abrir para “multar um

abestado”?... “Beber ou não beber? Eis a questão”. Beber bebida até que sim, o

juízo, enfim é que não... Já chega de prejuízo. Pão e manteiga, essa é a boa

opção do trabalhador que não perdoa a promessa e a prosa pelega do mau

empregador. Justiça social não se consegue na mesa de um bar, principalmente

a quem negue a gentileza de lutar contra um vício real e potente a zombar do

sacrifício de uma brava gente que trava uma batalha infernal contra a gentalha

que afronta um pobre doente e encobre o mal com “aguardente”, neste nobre

país adoentado, emergente e infeliz, repleto de embriagado sem teto e sem

ajuda de um governante esperto, de pose trombuda, farsante e em close diante

da população “papuda” desta nação, na festa da corrupção “porruda”...

lcoolismo é um problema médico e social do neoliberalismo antiético

e patronal, incentivado pela pirraça do sectarismo patético eleitoral...

A bebida se disfarça e causa horror deletério, desencanto e ilude o povo

A

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trabalhador, sem que o sério bebedor de cada canto receba uma atitude que

sossegue o mistério do mal que não finda e causa pranto e dor, sem que

nenhuma providência urgente de quem quer chegar à presidência, apoiado pelo

atual presidente que se recusa a ajudar muita gente que abusa, sem querer

abusar, da “aguardente”... Quando a eleição chegar, muitos estarão

embriagados demais e nem entenderão mais nada. Todos se confundirão com

as “prosas fiadas”, mas identificarão os engodos das mal cheirosas promessas

divulgadas e não cumpridas, as quais não terão pressas de serem

desmascaradas e vencidas pelas mesas atoladas de bebidas e de incertezas...

A reformulação do processo eleitoral é a salvação do universo social. Toda

convenção é um retrocesso total e fará que exploda a eleição de um perverso

boçal que aposta na alienação e na embriaguez da população, a qual não gosta

da opção que não fez e, revoltada, tem fugido da realidade criada por quem tem

preferido a irresponsabilidade governista, sem ter a esperada (que poderia ter

tido) piedade de cada alcoolista mendigando a “saideira” e perambulando, “sem

eira nem beira”, numa pista cheia de buraqueira e afronta, buscando justiça

social, discursando contra o revés da cobiça governamental, divulgando uma

faceira e banal oratória. Muita gente fraqueja, ao invés de fazer o que é preciso

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urgentemente, ou seja, parar de beber o juízo. Moral da história: o certo é nem

pedir a “primeira” para não ganhar um desafeto ao insistir com a “saideira”...

PS: Num bar agradável, na Pedreira, o colunista conseguiu contar com a

paciência louvável e altruísta de quem ao aviar a primeira, sofreu com a

insistência da “saideira”, quando eu pensava estar certo, mas estava era

completamente errado e inquieto. Obrigado, sinceramente, por terem me

aturado sob aquele teto.

Este artigo foi publicado no JORNAL POPULAR, em 01/03/2002

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Belém – Pará

(2001)

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A história de um campeão (Em memória de Paulo Francisco Silva Braga, o “Kiko”, nascido em 23/09/1962 e falecido em 20/08/2003).

“Além da vida que se tem, existe uma outra vida além e, assim, o renascer, morrer não é o fim... Tudo o que aqui ele deixou não passou e vai sempre existir... Flores nos

lugares que pisou e um caminho certo pra seguir”... (Roberto Carlos).

“Doutor, eu quero parar de beber!”

(Primeira frase dita por Kiko, quando o médico Marcos Daniel,

começou a lhe atender).

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Alcoolismo realidade e ficção (Um alerta em prosa e verso e a história de um campeão)

“Assim como toda a minha vida foi uma luta para que ninguém tenha que lutar, assim é o canto que te quero cantar...”

(Vinícius de Moraes)

utador persistente e vencedor competente eram essas as qualidades mais marcantes

com as quais meu irmão vencia as falsidades petulantes de quem o tratava com

hipocrisia e dele falava o que não devia ... Agora, lamentações não me importam e sim as

comemorações que, a toda hora, brotam dos corações vitoriosos... No dia 20 de novembro

do ano de 2001, lembro de um acinte de uma oratória, em prosa e “poesia”, que fiz

(inspirado na imagem e na alegria da história do meu mano amado, com o pergaminho de

uma dedicatória que ele merecia) um Livrinho, com plano de ser desengavetado, o qual

L

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pretendia fazer uma abordagem simplória sobre o mal cuidado problema da dependência

alcoólica que tem recebido do poder institucionalizado uma displicência histórica...

ma certeza me revigora e dá firmeza ao meu coração, que comemora a luta vitoriosa

do meu saudoso irmão Paulo Francisco Silva Braga, o “Kiko”, contra a ativa chaga

do alcoolismo... Esperançoso, dedico este pequeno trabalho a quem possa se interessar,

sem meter o malho em quem está a sofrer joça, por se embriagar, por beber de maneira

descontrolada, e a quem possa ser capaz de ter a crença de entender que uma “bebedeira”

tão criticada não é nada mais que uma doença traiçoeira, estimulada pelos poderes

constituídos e pelos governantes alienados, os quais deixam combalidos, os suplicantes e

pobres embriagados, sem os tratamentos merecidos...

ido como um bebedor inveterado, meu irmão querido não teve a oportunidade de

conhecer o favor praticado pela dedicação atuante da Associação dos Alcoólicos

Anônimos, pois veio a falecer, vitimado pelo agravante de uma infecção pulmonar e de um

acidente vascular cerebral hemorrágico, no instante em que resolveu parar de beber, de

modo enfático. Recordo que meu irmão era bastante prático... Caso tivesse sobrevivido,

ele teria ido naquele local supracitado, onde muitos têm recebido consolação e têm se

fortalecido diante do mal chamado alcoolismo, que meu brilhante e triunfal mano enfrentou

com heroísmo, pois tinha o plano de viver feliz e ser libertado da bebida... Porém, Deus quis

U

T

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que ele fosse para o outro lado da vida, onde o seu espírito evoluído será inspirado a curar

a ferida de quem tem sido vitimado pelo veredicto da política atual combalida e pelo mito da

crítica social indevida, deixando aflito quem tem sido criticado, por beber, sem vir a ser

ajudado... A ajuda fundamental deverá partir do próprio adoentado... Só assim é possível a

obtenção de um bom resultado... Esse compromisso o meu irmão esforçado conseguiu

cumprir... O fato de ter tentado, sem desistir, deixou seus familiares e amigos orgulhosos, e

isso será valorizado, no ato, pelo Deus dos vitoriosos, que o orientará a trabalhar,

espiritualmente, em lugares onde os perigos impiedosos dos goles descontrolados têm

deixado uma porção de gente numa situação deprimente... Sei que o trabalho espiritual do

meu mano, terá um triunfal plano de mostrar o atalho devido no caminho de quem tem

sucumbido à bebida, sem ter recebido a ajuda governamental devida...

lcoolismo: realidade e ficção (Um alerta em prosa e verso e A história de um

campeão) traz, no início, um resumo da história de heroísmo de meu irmão... Ele foi

vitorioso, pois tentou e conseguiu parar de beber, e só partiu para o Lar do Deus

Misericordioso, após ter cumprido o seu dever contra um mal tão algoz... No final, seu

esforço foi e continuará sendo reconhecido por quem está me lendo e tem bebido,

pensando que o vício é um caminho sem volta, sem saber que tentando, com sacrifício e

sem revolta, pode-se romper a porta de uma prisão onde o realismo narrado nesta “ficção”

se confunde com o alcoolismo derrotado por meu irmão, em nome da saúde. Ele teve a

A

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realização de dizer o ensinamento feliz que captei e, com prazer, transcreverei aqui: “Como

aprendiz, tentei fazer o que pude e consegui ter a sorte de parar de beber ... Minha morte

foi uma transição que fiz por merecer, para o cumprimento da virtude de uma lida de uma

forte missão, onde poderei me reerguer, dando atenção devida à saúde de quem tem o

intento de vencer o vício da bebida para se fortalecer no início de uma nova vida...”. Sei que

a morte não existe! Não sou um cético. Acredito que o espírito do meu irmão tem grande

porte energético. Ele assiste a quem está aflito e tem necessidade de dedicação exclusiva

contra uma enfermidade astuta, nociva, que não resiste a força de vontade bruta de quem

tem a iniciativa de partir pra luta e vencer a dificuldade, sem sucumbir, sem esmorecer, ao

reagir, como há de ser à necessidade de querer vir a beber, pelo desprazer que sentir, por

viver numa sociedade, onde um alcoolista, infelizmente, não tem a solidariedade do poder

governista incompetente...

Paulo Marcelo Silva Braga Belém, 21 de agosto de 2003

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Alcoolismo: realidade e ficção (Um alerta em prosa e verso)

Paulo Marcelo Braga

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“O amor não tem que ser uma história com princípio, meio e fim...” .(Fábio Jr.)

toda hora, vários pais e mães de família, vários irmãos espirituais, quanta gente não

se humilha e/ou se desespera em decorrência do alcoolismo, uma doença

desgraçada que pragueja e vocifera enquanto o poder governista graceja diante dessa

“fera”, dessa chaga social e não faz o que se espera para extinguir essa praga infernal de

uma perversa enfermidade que está a ferir toda uma sociedade??? O que fazer diante

disso? Crer em Deus, e não ser omisso como os fariseus, é uma opção de quem busca

uma solução. A outra, é não perder a esperança necessária para fazer a cobrança

prioritária à uma corja governista ordinária... A principal atitude é não perder a real virtude

de crer na justiça divina contra a cobiça malina e alienada... Quem exerce uma Medicina

liberal e engajada se enobrece, atua e se encaixa no contexto sócio-cultural inerente à

profissão e, além disso, jamais se rebaixa , sob nenhum pretexto “governamental”, a ponto

de ser displicente ao não criticar a faixa do texto pronto da propaganda de “aguardente”,

com a permissão total da ciranda estatal condizente ...

A

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esmo desde a mais tenra idade, alcançando a maturidade, até a paz da Eternidade,

buscando a fé e cantando em louvor às Dimensões Espirituais, governada pelo

Criador, o meu mano, as nossas manas, os nossos pais, sempre estivemos passando por

compromissos de provações educacionais, com amor e dedicações, não reclamando

jamais... Por isso, o Deus Salvador nos dá consolações e firmezas espirituais para

compensar nossas eventuais desilusões e pobrezas materiais ... Somos gratos a Ele por

tudo isso e muito mais... De fato, esse relato familiar tem o interesse peculiar de decantar o

verbo amar e de agradecer ao Senhor Jesus (por Ele abençoar nosso lar com Seu Amor

que nos conduz, disposto a nos consolar em qualquer desgosto que tenhamos que

encarar), além do objetivo de abordar, como convém, um tema “educativo” à qualquer

família de quem (seja homem ou mulher) esteja a se embriagar a vida inteira, sem que um

emblema governativo, embora possa, não queira ajudar de maneira devida ...

amor supera a morte! A história de meu irmão Kiko tem um louvor forte e é

simplória, como a de todo e qualquer campeão verdadeiro. Eu abdico da oratória

rebuscada para contar um pouco, por inteiro, o sufoco da luta da vida iluminada e curta de

quem nos deixou uma lição de persistência, ao vencer o alcoolismo, com determinação e

paciência, mesmo que para isso tenha “morrido” lutando, evitando perecer combalido, como

fatalmente teria acontecido se ele não tivesse lutado bravamente contra tão abominável

enfermidade, deixando um exemplo louvável de força de vontade...

M

O

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esumindo a história da vida do mano, posso dizer, de fato, ao Soberano (sei que Ele

está me ouvindo do Alto de Sua Glória), no sentido de agradecer por tal

oportunidade de ter podido conviver com um lutador triunfal: quão lindo foi o prazer de

verdade de ter vivido ao lado de um ente tão querido, paciente, dedicado, cheio de

benevolência pelos seus e aguerrido contra a maledicência dos fariseus... Obrigado, Deus,

pela clemência que tens tido com os erros dos teus seguidores, os quais tens livrado dos

desterros e das dores espirituais... Agradeço, também, pelos meus pais, pelas minhas duas

irmãzinhas (Magaly e Francely), pela minha família e pelos meus amigos... No endereço do

Bem, eles têm me ofertado uns abrigos... Por isso não esmoreço com o compromisso

praticado no desenlace do mano amado... Primogênito de Paulo Benedito Santos Braga (o

Quarentinha) e de Maria de Lourdes Silva Braga (a Lourdinha), Paulo Francisco Silva

Braga, o Kiko, tinha cinco filhinhos, incontáveis amiguinhos, uma educativa saga de

campeão e venceu a nociva praga do alcoolismo, com afinco e determinação... Ele nasceu

em 23 de setembro de 1962, alegrou os seus e, depois, faleceu, aos 40 anos de idade, em

20 de agosto de 2003, com humildade e calma... Que Deus tenha piedade de sua alma...

Paulo Marcelo Silva Braga.

(Belém, 25 de agosto de 2003)

R

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“A fé remove montanhas”. (Sabedoria Popular).

“Meu Deus, não sei rezar... Perdoe, por favor”... (Antonio Marcos). Esclarecimento: Deve ser exposto que este artigo foi publicado no dia 22 do mês de

agosto de 2003, quando o meu amigo mano amado, tinha

sentido o gosto de ter saído do perigo de permanecer

aprisionado no combalido envoltório carnal e já havia até

registrado o seu nome simplório no Cartório Celestial...

Recentemente, no Dia dos Pais, Kiko, um pai devoto,

não estava internado e foi visitado por sua filha Suellen Braga

(com ele na foto), representando os cinco filhinhos de um

cidadão que está em paz, mesmo tendo enfrentado uma saga

de espinhos que a doença traz e a crença em Deus desfaz. Atualmente, Kiko, permanece

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entubado, lá na UTI do HPSM do Guamá, onde está tendo a bagagem e a boa sina de estar

sendo bem tratado, por toda equipe de Medicina e de Enfermagem, com aguerrido e total

apoio do Dr. Domingos Carneiro, Diretor Geral do referido Hospital. Além de encarar uma

infecção pulmonar, Kiko, o primogênito do vitorioso craque do século deste Estado, com a

mesma humildade do seu pai, o famoso Quarenta, tem lutado, bravamente, sem parar,

contra outra enfermidade, desde que foi vitimado, aos 40 anos de idade, por um acidente

vascular cerebral hemorrágico. Porém, certamente, por Deus, ele vai se salvar deste

quadro drástico e, na verdade, brevemente, vai retornar para o lado dos seus, ficará bem,

enxugará nosso pranto e viverá em bom estado, em nome do Pai, do Filho e do Espírito

Santo... Amém...

PODEROSO Senhor Deus, Bondoso Criador, escuta, por favor, minha oração e me perdoa se

oro como os fariseus... A bruta e feinha rima desta solicitação implora (e sei que alcança) os

Teus Cuidados... Anima, meu Deus, a confiança de quem chora pelos adoentados... Eu não sei

orar bonito, mas haverei de fazer um louvor, mesmo estando a chorar aflito, no tenesmo deste

clamor, buscando o Teu Favor para um irmão que está agonizando num leito de dor...

SENHOR, perdoa meu egoísmo... Pai de Tanta Formosura, abençoa o altruísmo e a virtude, de

quem “planta ternura”, para oferecer a todos os irmãos “famintos por saúde” e pela Santa

Brandura do Poder das Tuas Mãos... Perdoa, Senhor, se não sei ser altruísta, assim... Minha

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atitude é imatura, bem sei... Em vão, fiz o que pude, enfim, no sentido de pedir Tua Atuação,

por todo e qualquer irmão combalido... No entanto, não cometerei o engodo de fazer uma

confissão diferente da qual o meu coração, em pranto, realmente, fez... Só Te fiz minha

solicitação, exclusivamente, por meu irmão doente... É com desprazer que confesso o meu

egoísmo de pedir, como um insano, no verso desta oração, egoisticamente, por meu mano:

Paulo Francisco Silva Braga, o “Kiko”, o primogênito da dona Lourdinha e do Quarentinha... Eu

me entalo numa nociva saga egoísta de solicitar pela recuperação exclusivista do meu citado

irmão, internado lá na UTI (onde está sendo muito bem cuidado) do HPSM do Guamá, com uma

complicação infecciosa pulmonar, para a qual Tua Unção Poderosa eu venho solicitar, em nome

do Mestre Amado Jesus Cristo, que não tem negado Luz ao crente e aflito coração deste

requerente...Tenho dado um grito desesperado pela saúde de meu irmão, de uma criatura tão

querida, cuja ternura e educação têm credibilidade nesta e noutra vida... Genitores, duas irmãs,

este irmão, cinco filhos, vários primos, primas, sobrinhos, sobrinhas, padrinhos e madrinhas

tias, tios, avó, cunhada, incontáveis amigos, uma família amada, somos todos admiradores e

fãs da bondade do humilde, porém glorioso KIKO, cujo pleito de amor sairá vitorioso daquele

ridículo leito de dor...

DEUS Pai, Todo Poder e Bondade , cuida, cura, abençoa e ajuda meu irmão, por favor...

Atende minha oração, entende o meu temor de perdê-lo quando ainda posso tê-lo ao meu lado,

para que ele possa me ensinar, um bocado, a ser paciente e bondoso, como ele tem

demonstrado ser, mesmo doente e comatoso. Atende esta prece, Senhor, e repreende o mal

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que não merece fazer festa com a dor de quem entende, afinal, que, num revés, Tua Bondade

oferece a Paz... És Soberano na tua vontade... Mas, não queira, Senhor, por enquanto, levar o

meu mano para a espiritualidade... Ele tem tanto a fazer por uma prole inteira que precisa

alcançar a maturidade antes de vir a chorar e sofrer de saudade... Meus sobrinhos precisam ter

o genitor em seus caminhos, como um exemplo de dignidade, apesar do templo da enfermidade

causada pelo alcoolismo, uma infectada chaga da sociedade... Ajuda meu irmão, Senhor, tem

piedade dele, cuida da saúde dele... Eu te solicito, Senhor do Universo, em nome do Amor que

Tens pelo Teu Filho Amado Jesus Cristo: faz o favor de atender o grito desafinado desse

louvor, em forma de verso, dedicado a Ti, em prol da saúde do meu irmão adoentado, para que

ele tenha a Tua Atenção, na peleja que tem travado contra a doença...Tenho dito... Assim seja...

O rito da minha crença festeja, por antecipação, a vitória a ser oferecida, pela Tua Glória

enaltecida... Esta oração verdadeira e forte, a ser por Ti atendida, trará meu mano de volta, da

fronteira da morte, para este outro lado da vida...

Amém!

Belém, 17 de agosto de 2003 (03:00 horas).

Na década de sessenta, Kiko, carregado pelo genitor Quarenta, ao lado da genitora, Lourdes Braga, gestante do autor desafinado de uma oração consoladora que apresenta as virtudes da saga

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Alcoolismo: realidade e ficção (Um alerta em prosa e verso)

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possante de louvor a um irmão adoentado, suplicante pelo Favor e pela Atenção de um Deus Amado.

Quando mano estava internado, lutando para ser curado, eu fiz uma

ORAÇÃO DIFERENTE POR UM IRMÃO DOENTE e a publiquei, no JORNAL

POPULAR. A situação dele piorou, eu fiquei desesperado, o meu coração

desanimou... Então, fiz um esclarecimento ao leitor, pedindo para meu

irmão vir a ser libertado daquele sofrimento perturbador... Em forma de

prece, elaborei um aflito PS, transcrito a seguir... Logo depois, ele falece,

como quem está a dormir, serenamente... O Criador parece que resolveu

me ouvir, amparou e fortaleceu o meu irmão, e o levou ao desprendimento

espiritual... Atualmente, mano está a sorrir na esfera celestial ao lado do

Soberano... Eis o PS devido anteriormente anunciado sobre o querido

paciente desenganado: No fechamento desta edição, uma última

informação: no momento em que resolveu parar de beber, meu irmão está

prestes a falecer... Valeu o compromisso de teres lutado, mano... Isso será

valorizado pelo Soberano. Com teu jeito manso de ser, já lutaste demais...

Se nada mais pode ser feito, descansa em paz...

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Alcoolismo:realidade e ficção (Um alerta em prosa e verso e a história de um campeão)

(Em memória de Paulo Francisco Silva Braga, o KIKO)(Em memória de Paulo Francisco Silva Braga, o KIKO)(Em memória de Paulo Francisco Silva Braga, o KIKO)(Em memória de Paulo Francisco Silva Braga, o KIKO)

Meu amor, por ti, continua

Ainda, agora, mais puritano e desapegado...

Na dor, eu senti aquela tua

Oração linda, na hora da paz, mano amado...

Eu sei que estás forte e és abençoado!

Uma vez que a morte é revés superado...

Tenho fé no Bom Deus Glorificado. Ele nos tem (e a ti, também) consolado...

Agora, em consolação, permanece em paz...

Mostra que o teu espírito iluminado

Obteve a devoção e a prece dos nossos pais...

Mostra que tua passagem nesta vida

Alcançou a lição esperada...

Na tua bela imagem, resta fortalecida

O vôo da evolução alcançada... Belém, 25/08/2003 (01 hora).

Teu mano: Marcelo

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(Em memória de Paulo Francisco Silva Braga, o Kiko)

“Um campeão se mostra na derrota na força pra lutar quando já cansou...”. (Fábio Jr.).

“E quando chegar a noite, cada estrela parecerá uma lágrima...”. (Renato Russo).

inha voz rouca não se cansa de decantar a louca e comovente vida do

meu irmão, nem de apostar na sua merecida evolução espiritual... Pouca

gente tem um coração tão legal, cheio de paz e de conformação, como o que

batia fortemente no peito do meu irmão, Paulo Francisco Silva Braga ou,

simplesmente, o “Kiko”. Aos 40 anos de idade, alheio a qualquer fuxico da

cidade, ele lutou contra o alcoolismo, superou, com paciência e heroísmo, a

fase de abstinência e superou bravamente a enfermidade... Mesmo sendo

obediente, ele reclamava frente a minha admoestação e falava, com convicção:

-“Ei, mano, para de ralhar comigo. Pela lei, tu é que deves te comportar e me

M

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obedecer, porque sou teu irmão mais velho...”. Não consigo esquecer de que

ele dizia isso assim, calmamente, com aquele jeitinho cheio de meiguice e fazia

eu me sentir mais ruim do que sou realmente, por minha chatice de tê-lo

admoestado, para o seu bem, quando ele chegava embriagado, cambaleando;

porém, jamais ficava agitado, nem perturbando, como a maioria dos que bebem

o juízo... Agindo dessa maneira, Kiko não estava causando prejuízo a ninguém

a não ser a ele mesmo e continuava se afogando na “bebedeira”, um vício

contra o qual lutava, com sacrifício... Ele se embriagava de dia, chegava de

noite, banhava, comia, conversava com a gente, dormia e sonhava com a ajuda

financeira que almejava e, infelizmente, não podia dar aos filhos e a sua família

inteira... Doente, mesmo intoxicado pela bebida, ele nunca foi um

folgado...Tinha uma responsabilidade que jamais será esquecida por este

irresponsável escrevinhador... Na verdade, em toda a sua vida de incansável

trabalhador, Kiko agia com uma responsabilidade sem precedente, e se alguém

lhe pedia um favor ele atendia imediatamente... O “trocado” que ganhava aqui

era jogado fora ali; ele gastava na hora, com “aguardente” e distribuindo para

qualquer moleque que via pela frente, quando estava de pileque... Talvez, ele

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fazia isso compensando o que não podia dar por mês a cada filhinho (ele tinha

um quinteto) que fez com amor e carinho perfeito...

scutei uma narração e, por ela, apostei na elaboração de uma “novela real”

a ser interpretada na tela educacional que quero ver editada... Vindo

comigo do velório do meu irmão, o amigo de boa oratória, o “Laranjeira”, o

“Raimundão”, disse ter presenciado um momento lindo patrocinado pela história

verdadeira do cidadão citado, que aqui será decantado... Na esquina da

municipalidade, sentado na mesa de um bar, sua sina e sua gentileza de ajudar

mostrou-se, com integridade total... “Estribado”, porque tinha ganhado uma

pontinha de uma dezena de real no jogo do bicho, Kiko não se fez de rogado e

patrocinou uma pequena festinha legal, distribuindo um bocado de picolé para a

molecada do setor... E continuou sorrindo ao ter sido provocado por um amigo,

que havia lhe perguntado em tom gozador: -“Ei, Kiko, onde foi o ‘assalto’???”.

Sem querer pagar o pato cozido, ele respondeu, inspirado, de imediato , a quem

lhe havia inquirido: -“Eu joguei no bicho e ganhei... Deu viado... Isso porque eu

sonhei contigo, meu amigo...”. Não precisa nem dizer que o amigo convidado

não se recusou a beber até o valor da premiação ter acabado... Isso dá uma

E

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pequena noção do desapego material de quem tinha a plena herança de uma

opção pelo alcoolismo... Dedicado à família e aos amigos, mano tinha um amor

puritano pela sua mãe Lourdinha, por cada filhinho, por cada filhinha, por cada

amigo e parente próximo ou distante que não o deixavam sozinho... Ele tinha

uma força espiritual comovente ... Por algum instante, com seu jeito meigo, ele

lembrava bastante o tio nego, o Renato, irmão do Quarentinha, cujo virtuosismo

superava, de fato, o revés da doença e dava um brilhantismo espiritual que

iluminava a sua vida, através da crença em Deus e do amor dedicado aos seus

familiares e amigos... Isso o tornava um vencedor que, por todos os bares,

detonava os perigos da descarada hipocrisia de quem o criticava com prosa

vazia, como cada garrafa que ele bebia...

ltimato para o mano deixar de meter a cara no mato não adiantava...

Quanto mais o tempo passava, em todo canto, mais o nosso Kiko se

intoxicava na bebedeira e nem ligava para o fuxico de quem falava besteira...

No entanto, na Passagem Leitão, ele encontrou uma outra família verdadeira...

Lá, amigos de verdade cuidavam da vida dele, tinham, por ele, a devida

solidariedade e passaram a incentivá-lo a se livrar do desencanto da cruel

U

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enfermidade... Portanto, naquele local, cada amigo e amiga que fez o papel de

ajudar meu irmão é considerado meu mano e minha mana do coração. No céu,

o meu único e amado mano, terá uma evolução espiritual, conforme o Plano do

Criador Louvado... Tal e enorme era a determinação, a força de vontade que

ele tinha de se livrar do vício que, na espiritualidade, não será em vão o seu

sacrifício... Kiko é um campeão! Na verdade, sua premiação, a ser recebida da

Mão do Vitalício, será o promissor início de uma dedicação que o saudoso e

aclamado lutador usará como missão de ajudar todo e qualquer desamparado

bebedor... Se o alcoolismo é uma doença fatal, o realismo de uma crença no

Poder Celestial é uma consolação, e quem o entender bem (isso o mano

entendia) não haverá de perecer ao mal, não ficará submisso à hipocrisia de

ninguém: superará uma separação transitória de um ente querido, cuja

dedicação à Glória Poderosa do Louvado e Puro Onipotente o terá inserido na

História vitoriosa do passado, do futuro e do presente...(Belém, 21/08/2003).

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(Em memória de Paulo Francisco Silva Braga, o Kiko)

“Além do horizonte deve ter algum lugar bonito pra viver em paz...” (Roberto Carlos).

“Doutor, eu quero para de beber!”

(Primeira frase dita por Kiko, quando o médico Marco Daniel começou a lhe atender).

eu coração saudoso tem clamado pela consolação do Deus Poderoso...

Destroçado de tristeza, abdico do sofrimento na certeza de que meu irmão está no

Firmamento... Para o carinhoso Kiko, tudo estava sempre bem... Virtuoso, ele não

reclamava de nada e de ninguém... Preocupados com a situação dele, tentávamos

convencê-lo a parar com a opção de se dedicar à bebida... Não o tratávamos com

displicência e nem ligávamos para a maledicência de quem dizia isso. Metíamos o

bedelho em sua vida e tínhamos o compromisso de repreender o seu livre arbítrio de

“beber até o talo”. No entanto, não podíamos obrigá-lo a parar e nem devíamos deixá-lo

pelo canto, cambaleando, sem se aborrecer com quem estava falando do seu vício, sem

querer ajudar e nem saber do sacrifício que ele estava praticando, ao tentar não se afogar

em cada garrafa que estava secando... A estafa não o deixava submisso, ele continuava

lutando... Finalmente, na noite do dia 13 do mês de agosto deste ano, por ser boa gente, o

M

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mano foi convidado a se submeter a um tratamento adequado. Com o rosto cansado,

aceitou, imediatamente, o plano do convite formulado, sem se fazer de triste, nem de

rogado, para vir a ser um paciente fiel e dedicado do Dr. Marco Daniel. A enfermeira Vera

fez a intermediação da primeira avaliação e sem espera, no dia seguinte, no horário

marcado, com uma alegria verdadeira, ele foi acompanhado por uma das nossas duas

dedicadas irmãs (a caçulinha) e pela nossa mãezinha para a consulta tão esperada.

Mesmo com a medicação, a luta contra o vício foi travada com muito sacrifício e uma

dedicação extraordinária. Quatro dias depois, veio a internação necessária, e não

programada, lá na UTI do HPSM do Guamá, devido uma infecção pulmonar e um acidente

vascular cerebral hemorrágico... A evolução do quadro só fez piorar... O querido e legal

paciente faleceu de modo trágico, após quatro dias de internação no referido hospital...

Sem a embriaguez contra a qual estava a lutar, meu irmão viajava para a esfera espiritual

e nos deixava a espera de sua evolução triunfal, para poder ajudar quem se desespera a

beber... Atualmente, mano é nosso anjo guardião... Seu valente exemplo de inesquecível

dedicação familiar é um potente templo incrível de oração a nos consolar...

gora meu coração chora, mas será consolado pela inspiração do Consolador...

Obrigado, Deus, pelo Senhor ter ajudado meu irmão a ter se livrado da

condenação imposta pelos fariseus e por ele ter dado uma resposta de libertação aos

seus familiares. Obrigado por aceitares a minha oração de agradecimento e, também, por

salvares meu irmão do sofrimento... Amém... A boa sorte, através de um momento triste,

entoa em meus pés um sentimento que me assiste: a morte é revés que não existe...

A

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Deus Pai todo poderoso, nessa separação provisória, onde o que interessa é a Tua

Promessa de Salvação que recai sobre meu irmão vitorioso, Tua consolação não me

esconde outra Lição: a vida simplória daquele saudoso campeão não sairá da minha

memória... Ele venceu a bebida, entrará para a história, mereceu o devido e compulsório

ritmo orquestrado de uma fortalecida salva de palmas, iniciado por sua filhinha Suellen

Braga, no concorrido velório no cemitério de Santa Isabel, local de pranto, onde foi

enterrado o seu querido, simplório e sério invólucro carnal, enquanto a sua alma foi para o

céu, numa festa triunfal...

inguém haverá de negar que o Kiko é um campeão, um vencedor... É um rico

espírito em evolução e será merecedor do rito de compaixão que virá do Salvador...

No dia 21 do mês de agosto de 2003, com a presença e o afinco de seus pais, irmãos, de

sua cunhada, de suas ex-cunhadas, de seus cinco filhinhos, de sua ex-esposa, com uma

intensa facção de familiares e amigos, o seu corpo foi velado na capela dos Capuchinhos

e, no dia seguinte, foi enterrado no jazigo da imensa família Braga, após ter se livrado do

perigo de uma doença, da praga do alcoolismo, e ter se tratado no requinte do abrigo da

crença de uma saga de heroísmo... Valeu, mano, por teres lutado... Se teu corpo não

sobreviveu é porque o plano de Deus deve ser respeitado... Continuo te amando e não

compactuo com quem se atreve a continuar te criticando, sem saber que “viajaste”

lutando... Pena que não levaste, como fazias, esporadicamente, para a redação do Jornal

Popular, as rimas vazias, deste incompetente irmão que, afinal, não conseguiu te ajudar

como merecias ser ajudado, pois mesmo que o teu direito de ir e vir fosse desrespeitado,

N

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eu deveria te deixar aprisionado em nossa residência... Talvez, assim, estarias ao nosso

lado e livre da maledicência, da embriaguez e da farra, contra a qual não lutarias por livre

e espontânea vontade e sim na marra... Todavia, isso não te daria a credibilidade, por ti

alcançada, e impediria a tua vitória sobre uma doença desgraçada, da qual só te livrarias

(e por seres forte, dela tu te livraste) no leito da morte onde te abrigaste... Enfim, mano, se

foi ruim para nós, está confirmado que foi melhor para ti que o plano de Deus tenha se

realizado... Sei que, pelo Consolador, serás recompensado e quem te ama e chora de

saudade será consolado pela voz que aflora da Espiritualidade... Descansa em paz, nas

Fortalezas celestiais, porque tua maneira mansa de ser já lutou demais e creditou para ti

riquezas espirituais, que pouca gente alcança, as quais fizeste por merecer...

ramos por ti, nós nos orgulhamos de ti, nós te amamos e continuaremos te amando

eternamente... Assim como nos encontramos no passado, nos encontraremos

futuramente, pois temos nos enlaçado num laço familiar potente que não deve ser

quebrado facilmente... Até breve, mano amado, e do plano espiritual, cuida de muita

gente, de muito viciado, que tem se embriagado, sem o apoio oficial condizente

esperado... Teu esforço, meu irmão, será recompensado, no esboço de cada oração que

a ti temos dedicado...(Belém, 21/08/2003).

O

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Alcoolismo: realidade e ficção (Um alerta em prosa e verso)

Paulo Marcelo Braga

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Acima, um porta-retrato, bastante antigo, da residência dos nossos pais, reafirma o instante de paz do abraço carinhoso entre dois maninhos, enxota o perigo do laço

presunçoso do mal que há pelos caminhos, comporta um abrigo aos que são vitoriosos, por não se sentirem sozinhos, e exorta o fato da existência de uma amizade entre uma

irmandade, crente na Clemência de Deus, para alcançar a consolação na ausência de um ente querido que se vai triunfal ao merecido encontro do Pai Celestial... Não há nada na vida que faça que eu esqueça daquela querida cabeça unida a minha... Embora eu me entristeça com a lembrança da fotografia da nossa infância, a cada hora recupero a

esperança e a alegria, afinal, ao saber que apesar da distância celestial, tenho confiança de que meu querido mano tem evoluído no plano espiritual...

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Alcoolismo: realidade e ficção (Um alerta em prosa e verso)

Paulo Marcelo Braga

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Kiko, bebê, carregado pelo paizão, Quarenta, como um troféu que um campeão ostenta

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Alcoolismo:realidade e ficção (Um alerta em prosa e verso e a história de um campeão)

Kiko, já rapazinho, segurando no

ombrinho da maninha Magaly e o colunista,

segurando a mãozinha da caçulinha Francely. Eis a pista de um quarteto completo

formado por uma idealista irmandade, onde o nosso

mano Kiko tem um pleito dileto,

de solidariedade. Ele saiu do leito armado no teto da

enfermidade e partiu para longe dos seus...

Porém, haverá de ser bem amparado pela Piedade e pelo Decreto do Deus

Louvado...

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Alcoolismo: realidade e ficção (Um alerta em prosa e verso)

Paulo Marcelo Braga

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Foto de casamento de Kiko com Regina, o qual, por imaturidade do casal adolescente, não foi em frente. De tudo isso, restou uma amizade consistente.

E tal compromisso não termina, principalmente pela responsabilidade, no momento, pela boa sina dos filhos, frutos de um bom sentimento que ninguém desanima...