Bento do A maral Coutinho Capueruçú, Ephemerides Brasileiras, · dissidio, o espirito nativista...

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- i91- TRAÇOS BIOGRAFICOS Bento do Amaral Coutinho foi o comandante da companhia de estudantes por ocasião da primeira in- vasão francesa de João Francisco Duclerc (1710). Perto do morro do Destêrro, bateu-se heroicamente, assim como frei Francisco de Menezes. Na segunda invasão, de Duguay-Trouin, (1711), Amaral Coutinho prestou tambem excelentes ser- viços. A 23 de Setembro desse ano, quando voltava de um reconhecimento á fortaleza de São João, encon- trou perto da lagôa da Sentinela, no porto de junção dos caminhos de Matacavalos e Capueruçú, (hoje rua Frei Caneca), duas companhias de granadeiros franceses, que foram logo atacadas; mas acudindo outras duas, do comando dos capitães Brugnon e Cheridan, foram os nossos destroçados, e Amara! Coutinho, que dois dias antes recebera a patente de mestre de campo, morreu em combate. (Rio-Branco, Ephemerides Brasileiras, pág. 459.) PONTO 11° - 31 a LIÇÃO MASCATES E PERNAMBUCA~OS Em 1710, irrompeu na capitania de Pernambuco, sendo governador Sebastião de Castro e Caldas, outro movimento nativista, entre os senhores de engenho, pertencentes á aristocracia brasileira, com residen- da em Olinda, e os negociantes portugueses, que ha- bitavam o Recife, e eram pelos primeiros alcunha- dos, por menospreso, de mascates (vendedor ambu- lanle) .

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TRAÇOS BIOGRAFICOS

Bento do Amaral Coutinho foi o comandante dacompanhia de estudantes por ocasião da primeira in-vasão francesa de João FranciscoDuclerc (1710).Perto do morro do Destêrro, bateu-se heroicamente,assim como frei Francisco de Menezes.

Na segunda invasão, de Duguay-Trouin,(1711),Amaral Coutinho prestou tambem excelentes ser-viços.

A 23 de Setembro desse ano, quando voltava deum reconhecimento á fortaleza de São João, encon-trou perto da lagôa da Sentinela, no porto de junçãodos caminhos de Matacavalos eCapueruçú, (hojerua Frei Caneca), duas companhias de granadeirosfranceses, que foram logo atacadas; mas acudindooutras duas, do comando dos capitães Brugnon eCheridan, foram os nossos destroçados, e Amara!Coutinho, que dois dias antes recebera a patente demestre de campo, morreu em combate. (Rio-Branco,Ephemerides Brasileiras,pág. 459.)

PONTO 11° - 31a LIÇÃO

MASCATES E PERNAMBUCA~OS

Em 1710, irrompeu na capitania de Pernambuco,sendo governador Sebastião de Castro e Caldas, outromovimento nativista, entre os senhores de engenho,pertencentes á aristocracia brasileira, com residen-da em Olinda, e os negociantes portugueses, que ha-bitavam o Recife, e eram pelos primeiros alcunha-dos, por menospreso, demascates (vendedor ambu-lanle) .

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Entre as causas principais dêsse antagonismo fi-guravam - a ruina da antiga r,apital pernambucana;incendiada em 1631, pelos invasores holandeses; e oconfronto entre a primeira destas cidades mal re-construida, e muito aquem do seu primitivo esplendore a segunda, povoação maritima em crescente gráude grandeza e prosperidade, não sendo mais admissi-vel que a nova Recife permanecesse sob a jurisdiçãoda decadente Olinda.

Além disso, preponderava entre as razões dodissidio, o espirito nativista dos Pernambucanos, quenunca puderam tolerar a ascendencia dos Portugue-ses, os quais, como negociantes, eram, de ordinario,credores por fornecimentos feitos aos ricos, e muitasvezes, imprevidentes e perdularios senhores deOlinda.

Sôbre a lavoura, exerciam os gananciosos e usu-rarios capitalistas do Recife a maior pressão.

Acirrava ainda essa odiosidade a ambição dopoder politico: os Portugueses se viam sempre ex-cluidos do exercício dos cargos municipais, pelo quepediram reiteradas vezesá corôa fosse o Recife ele-vado á categoria de cidade, o que era de justiça, eafinal obtiveram, em 1710, despacho favoravel dacôrte de Lisbôa.

O governador lusitano Sebastião de Castro eCaldas, embora parcial, sarcastico e desdenhosopara com os de Olinda, simpatizante aos reinóis, seus.patricios, procedeu com prudencía na demarcação-do novo têrmo da cidade e municipio do Recife, aque ficaram subordinadas as tres paroquias - Pe-ninsula, ilha de Santo Antonio e Bôa Vista - queconstituiam o antigo perimetro da cidade holandesa,deixando para Olinda todo o resto do territorio.

Erigiu-se o novo municipío, segundo os disposi-tivos do velho direito português, levantando-se na

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praça municipal o pclourinho, símbolo da autori-dade e da justiça.

Esse ceremonial foi feito, porém, quasiá clan-destina, sendo as pedras dopoial do pelourinho de-positadas, préviamente, no pateo do forte do Recife,e dai transportadas e assentes durantea noite.

Ao raiar d'alva, Recife já era cidade e foi dadoprovimento aos oficios competentes.

Logo, o presidente da Camara Municipal deOlinda foi ler com o governador Castro e Caldas e .lavrou perante ele seu protesto, terminando por con-vidá-lo a demolir a picota, erguida na praça do Re-cife.

O capitão-general fê-lo prender, bem assim a ou-tros oradores exaltados, que, sucessivamente, o pro-curaram, um dos quais da prestigiosa família dosBezerras, dois outros foram tambem presos, por an-tigos delitos de morte, que haviam ficado impunes.

A nobrcsa de Olinda sentiu-se ultrajada, e omovimento estava prestes a explodir, quando o go-vernador Castro e Caldas ordenou o desarmamentogeral e proibiu aos particulares de ter armas, medidaque não foi cumprida, antes mais fez acrescer o nú-mero dos revoltosos armados.

Correndo, então, a notícia de que intentavamdepô-lo, entrou o governador a fazer, sem maiorexame, prisões de pessôas importantes em Olinda;e nesse interim, a 17 de Outubro de 1710,á sua pas-sagem emBôa Vista, foi lhe desfechado, de tocaia,do vão de uma j anela, um tiro de escopeta, que oferiu.

Dous dos autores materiais desse atentado, alémde muitas outras pessôas, foram capturados.

O bispo de Olinda, d. Manuel Alvares da Costa.saira de visita pastoral pela diocese, levando na co-mitiva um oficial de justiça, indigitado de coniven-da no atentado deBôa Vista, e um contingente de

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tropa foi expedido com ordem de detê-lo; recusou-se, porém, o bispo a entregá-lo e reagiu com suasfôrças, tendo batido as do governador.

Travou-se então a luta.

A nobresa de Olinda deu o toque de rebate, e,em pouco, se achavam em armas vinte mil homensque sitiaram Recife.

O governador, que se achava de cama, em con-sequencia do ferimento sofrido, não podendo re-sistir nem receber recursos de outras companhias,quer de gente de armas, quer de viveres, resolveuentrar em negociação com os rebeldes, propondo-Ihesa entrega dos presos, em troca do desarmamento dosrebeldes.

Responderam-lhe os Pernambucanos que elesproprios poriam em liberdade os prisioneiros quandoquizessem, e que vinham buscar a cabeça do gover-nador e de outros mais.

Reconhecendo que havia perdido a partida, ogovernador Castro e Caldas tratou de embarcar paraa Baía em companhia de negociantes lusitanos.

Entraram os sitiantes no Recife onde a festa dotriunfo durou dous dias; arrazaram o pelourinho,ao som de canticos sacros; mas é de justiça salientarque não praticaram saque nem desacato algum.

Reunidos numa especie de comicio do povo crepresentantes da terra, organizou-se um govêrnoprovisorio, composto de seis membros, todos brasi-leiros, sendo submetido o caso politicoá apreciaçãodo rei de Portugal.

Em seguida foi entregue o govêrno ao bispod. Manuel Alvares da Costa, como substituto legaldo governador, até a chegada do novo serventuario.

Seu primeiro ato, em Novembro de 1710, foi aanistia geral.

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Nessa interinidade, valeram-se os rebeldes doensejo para instituir osjuizes do povo,a exemplo doque já se havia feito no Maranhão.

Foi então que surgiu na luta o sargento-mórBernardo Vieira de Mello, chefe dotêrço dos Pal-mares, rico fazendeiro, de enorme prestígio.

Era homem violento e tornou-se chefe dos radi-cais, com o plano de fazer reembarcar o novo capitão-general, caso não trouxesse a anistia.

Chegando ao Recife, comandando umafôrçamilitar, que aparentava destinada ao ataque de umquilombo, foi recebido com atenções pelas autori-dades provisorias, que logo lhe descobriram o intentode se apoderar do paiol depólvora ou fazê-Io voar.

Bernardo Vieira de l\1ello e João da Motta pro-moveram o motim, durante o qual, em1711, se viu obispo obrigado a deixar a capiLania, inteiramenteconflagrada.

Os combates mais renhidos foram os deSebirôganho pelos recifenses, cujasfôrças, sob o comandode Miguel Paes Barreto e Sebastião Pinheiro Cama-rão venceram as tropas olindenses, chefiadas porChristóvão de MendonçaArraes; e o da lagôa de Ga-rapú, vencido pelos olindenses, sob o comando deJoão do Rego Barros e Christóvão de Holanda Ca-valcante sôhre a gente de Camarão.

Em fins de 1711, tomou posse do cargo de ca-pilão-general de Pernambuco, Felix José Machadode Mendonça, perseguidor dos Brasileiros de Olinda,e que, auxiliado pelo ouvidor José Marques Baca-lháo e pelo juiz de fóra Paulo de Carvalho, reslabe-leceu a ordem, garantida pela carta régia de domJoão V, de7 de Abril de 1714, pela qual Recife con-servou os privilegios municipais, repartidos co;mOlinda e a faculdade de séde do govêrno ,

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QUADRO SINOTICO

Dá-se o nome de luta dosMascates ao movi-mento nativista de 1710 entre os senhores de engenhode Olinda e os negociantes portugueses do Recife,apelidados por desprêso,Mascates, sendo governadorSebastião de Castro e Caldas.

A elevação de Recifeá categoria de cidade, de-vido á sua prosperidade como cidade comercial emarítima, em contraposição á Olinda, mal recons-truida das ruinas em que a deixou a invasão holan-desa, apressara esse movimento, em que tiveramparte saliente o bispo de Olinda, d. Manuel Alvares daCosta, e o sargento-mór da terra dos Palmares, e ricosenhor de engenhos Bernardo Vieira de Mello.

Castro e Caldas teve de se refugiar na Baía, e obispo assumiu o govêrno provisorio, mas em 1711foi tambem obrigado a fugir, ficando a capitaniaconflagrada.

Os principais combates então travados foram osde Sebirô, ganho pelos portugueses recifenses, e ode lagôa de Garapú, vencido pelos olindenses.

A nomeação do novo governador, Felix de Men-donça em fins de 1711 e a promulgação da carta régiade dom João V. de 7 de Abril de 1714, puzeram têrmo

á luta.

O Recife conservou seus privilegios.

" .PONTO 1~ - 32a LIÇÃO

aVERHA D.\ SUCESSÃO D.1 ES1'.\NHA. EFEITOS NO BR4SIL: INVAS.:\O

PRANCESA DO RIO DE JANEIRO, 1'OH JoÃo FRANCISCO DUCLERC

Em 1700, faleceu, sem descendencia, Carlos Il,toei da Espaonha, legando, em testamento, o trono ao