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Universidade Presbiteriana Mackenzie Curso de Integralização de Créditos de Teologia – Turma 2013-2 Prof. CHRISTIAN BRIALLY T D MEDEIROS – Antropologia Bíblica Aluno: Roberto Lucio Ferreira – Matricula: 4137998-5 Louis Berkhof em sua antropologia inicia seu argumento afirmando que o deslocamento da teologia para a antropologia, isto é, do estudo de Deus para o estudo do homem, é natural. O homem não é somente a coroa da criação, mas também é objeto de um especial cuidado de Deus, como também defende Bavinck. O homem ocupa um lugar de central de importância na escritura, e por que o conhecimento do homem em relação a Deus é essencial para entende-la adequadamente. A antropologia teológica tem como pressuposto o que a Bíblia diz a respeito do homem e da relação em que ele está e deve estar com Deus. Ela só reconhece a Escritura como a sua fonte, e examina os ensinamentos da experiência humana à luz da palavra de Deus. A Escritura nos oferece um duplo relato da criação do homem, um em Gn 1.26, 27, e outro em Gn 2.7, 21-23. A alta crítica é de opinião que o escritor de Gênesis juntou duas narrativas da criação, a primeira, de Gn 1.1-2. 3, e a segunda, de Gn 2.4-25; e que as duas são independentes e contraditórias. Em sua obra sobre a Doutrina Bíblica do Homem (The Doctrine of Man),1 Laidlaw dispõe-se a admitir que o autor de Gênesis fez uso de duas fontes, mas se recusa a ver aí dois diferentes relatos da criação. Com muita propriedade, nega que no capítulo dois temos “um diferente relato da criação, pela simples razão de que este não leva em conta a criação em geral”. Deus, e indica claramente que tudo que o precedeu serviu para preparar uma adequada habitação para o homem como o rei da criação. Ela nos mostra como o homem foi colocado na criação, rodeado pelo mundo vegetal e animal, e como ele iniciou a sua história. Há certas particularidades

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Louis Berkhof em sua antropologia inicia seu argumento afirmando que o deslocamento da teologia para a antropologia, isto é, do estudo de Deus para o estudo do homem, é natural. O homem não é somente a coroa da criação, mas também é objeto de um especial cuidado de Deus, como também defende Bavinck. O homem ocupa um lugar de central de importância na escritura, e por que o conhecimento do homem em relação a Deus é essencial para entende-la adequadamente.

A antropologia teológica tem como pressuposto o que a Bíblia diz a respeito do homem e da relação em que ele está e deve estar com Deus. Ela só reconhece a Escritura como a sua fonte, e examina os ensinamentos da experiência humana à luz da palavra de Deus.

A Escritura nos oferece um duplo relato da criação do homem, um em Gn 1.26, 27, e outro em Gn 2.7, 21-23. A alta crítica é de opinião que o escritor de Gênesis juntou duas narrativas da criação, a primeira, de Gn 1.1-2. 3, e a segunda, de Gn 2.4-25; e que as duas são independentes e contraditórias. Em sua obra sobre a Doutrina Bíblica do Homem (The Doctrine of Man),1 Laidlaw dispõe-se a admitir que o autor de Gênesis fez uso de duas fontes, mas se recusa a ver aí dois diferentes relatos da criação. Com muita propriedade, nega que no capítulo dois temos “um diferente relato da criação, pela simples razão de que este não leva em conta a criação em geral”. 

Deus, e indica claramente que tudo que o precedeu serviu para preparar uma adequada habitação para o homem como o rei da criação. Ela nos mostra como o homem foi colocado na criação, rodeado pelo mundo vegetal e animal, e como ele iniciou a sua história. Há certas particularidades nas quais a criação do homem sobressai, em distinção da dos outros seres vivos: 

a. A criação do homem foi precedida por um solene conselho divino . Antes de registrar a criação do homem, o escritor inspirado nos leva de volta, por assim dizer, ao conselho de Deus, pondo-nos em conhecimento do decreto divino com as palavras: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança”, Gn 1.26.

b. A criação do homem foi, no sentido mais estrito da palavra, um ato imediato de deus. Algumas das expressões utilizadas na narrativa anterior à da criação do homem, indicam criação mediata, nalgum sentido da palavra. Notem-se as seguintes expressões: “E disse: Produza a terra relva, ervas que deem semente, e árvores frutíferas que deem fruto segundo a sua espécie” – “Povoem-se as águas de enxames de seres viventes” – “Produza a terra seres viventes, conforme a sua espécie”, e comparem-se com a simples declaração: “Criou Deus, pois o homem”. Seja qual for a indicação de mediação na obra da criação, contida nas primeiras expressões, falta por completo na última. Evidentemente, a obra de Deus na criação do homem não foi mediata, em nenhum sentido da palavra. Ele fez uso de material preexistente na formação do corpo humano, mas, já na criação da alma, isto foi excluído. 

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c. Em distinção das criaturas inferiores, o homem foi criado conforme um tipo divino. No que diz respeito aos peixes, às aves e aos animais, lemos que Deus os criou segundo a sua espécie, numa forma típica da deles próprios. O homem, porém, não foi criado assim, e muito menos segundo o tipo de uma criatura inferior. Quanto a ele, disse Deus: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança”.

d. Distinguem-se claramente os dois diferentes elementos da natureza humana. Em Gn 2.7 faz-se clara distinção entre a origem do corpo e a da alma. O corpo foi formado do pó da terra; na sua produção Deus fez uso de material preexistente. Na criação da alma, porém, não houve modelagem de materiais preexistentes, mas a produção de uma nova substância. A alma do homem foi uma nova produção de Deus, no sentido estrito da palavra, Jeová “lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente”. Com estas simples palavras afirma-se a dupla natureza do homem, e o que elas nos ensinam é corroborado por outras passagens da Escritura, como Ec 12.7; Mt 10.28; Lc 8.55; 2 Co 5.1-8; Fp1.22-24; Hb 12.9. Os dois elementos são o corpo e o sopro ou espírito de vida nele soprado por Deus, e com a combinação dos dois o homem se tornou “alma vivente”, o que neste contexto significa simplesmente “ser vivo”. 

e. O homem é imediatamente colocado numa posição exaltada. O homem é descrito como alguém que está no ápice de todas as ordens criadas. Foi coroado como rei da criação inferior e recebeu domínio sobre todas as criaturas inferiores. Como tal, foi seu dever e privilégio tornar toda natureza e todos os seres criados, que foram colocados sob seu governo, subservientes à sua vontade a o seu propósito, para que ele e todos os seus gloriosos domínios magnificassem o onipotente Criador e Senhor do universo, Gn1.28; Sl 8.4-9. 

Entre as várias teorias que têm sido aventadas para explicar a origem do homem, acha-se atualmente em campo a teoria evolucionista Nem sempre a teoria evolucionistas é exposta da mesma forma. Às vezes é descrita como se o homem fosse um descendente direto de uma das espécies de macacos antropóides atualmente em existência, e então, ainda, como se o homem e os macacos mais desenvolvidos tivessem uma ascendência comum. Mas, qualquer que seja a diferença de opinião existe sobre este ponto, o certo é que, de acordo com o evolucionismo naturalista do momento, o homem descende de animais inferiores, corpo e alma, por um processo completamente natural, dirigido inteiramente por forças inerentes. Um dos princípios mais importantes da teoria é o da rigorosa continuidade entre o mundo animal e o homem. Ela não pode admitir qualquer descontinuidade em nenhum ponto ao longo do curso da evolução, pois toda e qualquer ruptura é fatal para a teoria. Nada que seja absolutamente novo e imprevisível tem que ter estado potencialmente no germe originário, do qual todas as coisas se desenvolveram. E o processo todo tem que ser dirigido, do começo ao fim, por forças inerentes. O evolucionismo teísta, que parece mais aceitável a muitos teólogos, simplesmente considera a evolução como o método de ação de Deus. Às vezes é

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apresentado numa forma em que Deus é apenas chamado para servir de ponte sobre as lacunas que há entre a criação inorgânica e a orgânica, e entre a criação irracional e racional. Mas, na medida em que se presume uma operação especial de Deus, admite-se a existência de lacunas que a evolução não pode cobrir, e alguma coisa nova é trazida à existência, naturalmente a teoria deixa de ser uma pura teoria evolucionista. Darwin apoiou-se, (1) no argumento derivado da similaridade estrutural entre o homem e os animais de categoria superior; (2) no argumento embriológico; e (3) no argumento dos órgãos rudimentares. A esses três foram acrescentados posteriormente, (4) o argumento derivado dos testes de sangue; e (5) o argumento paleontológico. Mas nem um só desses argumentos dá a prova desejada.

Sobre a Origem do Homem e a Unidade da Raça a escritura ensina que a humanidade toda descente de um único par. Este é o sentido óbvio dos capítulos iniciais de Gênesis. Deus criou Adão e Eva como os iniciantes da espécie humana, e lhes ordenou que fossem fecundos e se multiplicassem e enchessem a terra. Além disso, a narrativa subsequente em Gênesis mostra claramente que as gerações seguintes, até ao tempo do dilúvio, estiveram em ininterrupta relação genética com o primeiro casal, de sorte que araçá humana constitui, não somente uma unidade especifica, uma unidade no sentido de que todos os homens compartem a mesma natureza humana, mas também uma unidade genética ou genealógica.

Isso é ensinado também por Paulo em At 17.26, “de um só fez toda raça humana para habitar sobre a face da terra”. A mesma verdade é básica para a unidade orgânica da raça humana na primeira transgressão, e da provisão para a salvação da raça em Cristo, Rm 5.12, 19; 1 Co 15.21, 22. constitui uma pessoa particular, tendo todas as propriedades essenciais da natureza humana”.

Os Elementos Constitutivos da Natureza Humana possui diferentes opiniões: DICOTOMIA E TRICOTOMIA. É costume. Especialmente nos círculos cristãos, entender que o homem consiste de duas partes distintas, e de duas somente, a saber, corpo e alma. Esta concepção é tecnicamente denominada dicotomia. Ao lado dela, porém, apareceu outra, segundo a qual a natureza humana consiste de três partes, corpo, alma e espírito. É designada pelo termo tricotomia. O conceito do homem tripartido originou-se na filosofia grega, que entendia a relação mútua entre o corpo e o espírito do homem segundo a analogia da mútua relação entre o universo material de Deus.

A exposição geral da natureza do homem na Escritura é claramente dicotômica. De um lado, a Bíblia nos ensina a ver a natureza do homem como uma unidade, e não como uma dualidade consistente de dois elementos diferentes, cada um dos quais movendo-se ao longo de linhas paralelas em realmente unir-se para formar um organismo único. A ideia de um simples paralelismo entre os dois elementos da natureza humana, encontrada na filosofia grega e também nas obras de alguns filósofos posteriores, é inteiramente alheia à Escritura. Embora reconhecendo a complexa natureza humana, ela nunca a expõe como redundando num duplo sujeito no homem.

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Cada ato do homem é visto como um ato do homem todo. Não é a alma, e sim, o homem, corpo e alma, que é redimido em Cristo. Esta unidade já acha expressão na passagem clássica do Velho Testamento – a primeira passagem a indicar a complexa natureza do homem – a saber, Gn 2.7: “Então formou o Senhor Deus ao homem do pó da terra, e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente”.

A filosofia grega dedicou considerável atenção ao problema da alma humana e não deixou de fazer sentir a sua influência na teologia cristã. A natureza, a origem e a existência permanente da alma eram objetos de consideração. Platão cria na preexistência e na transmigração da alma. Na Igreja primitiva a doutrina da preexistência da alma limitava-se praticamente à escola Alexandrina. Orígenes foi o principal representante dessa ideia e a combinava com a noção de uma queda pré-temporal. Logo apareceram dois outros conceitos e se provaram muito mais populares nos círculos cristãos: o criacionismo e o traducionismo.

A teoria do criacionismo sustenta que Deus cria uma nova alma por ocasião do nascimento de cada indivíduo. Foi a teoria dominante na igreja oriental, e também encontrou alguns defensores no Ocidente. Jerônimo e Hilário de Pictávio foram os seus representantes mais proeminentes. Na igreja ocidental o traducionismo aos poucos foi ganhando terreno. De acordo com este conceito, a alma do homem, como o corpo, origina-se mediante reprodução. Geralmente se funde com a teoria realista de que a natureza humana, em sua inteireza, foi criada por Deus e crescentemente se individualiza, à medida que a raça humana se multiplica. Tertuliano foi o primeiro a expor a teoria do traducionismo e esta, sob a influência dele, continuou a obter apoio nas igrejas norte-africana e ocidental. Parecia adequar-se melhor à doutrina da transmissão do pecado que era comum naqueles círculos.

O CRIACIONISMO defende que cada alma individual deve ser considerada como uma imediata criação de deus, devendo a sua origem a um ato criador direto, cuja ocasião não se pode determinar com precisão. A alma é, supostamente, uma criatura pura, mas unida a um corpo depravado. Não significa necessariamente que a alma é criada primeiro. Separadamente do corpo, corrompendo-se depois pelo contato com o corpo, o que pareceria pressupor que o pecado é algo físico.

Pode simplesmente significar que a alma, conquanto chamada à existência por um ato criador de deus, é, contudo, pré-formada na vida física do feto, isto é, na vida dos pais e, assim, adquire a sua vida não acima e fora daquela complexidade de pecado que pesa sobre toda a humanidade, mas debaixo dessa complexidade e nela.criadora de Deus originando almas humanas deve ser entendida como estando mais estreitamente ligada ao processo natural da geração de novos indivíduos. O criacionismo não tem a pretensão de poder eliminar todas as dificuldades, mas, ao mesmo tempo, serve de advertência contra os seguintes erros: (1) que a alma é divisível;

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(2) que todos os homens são numericamente da mesma substância; e (3) que Cristo assumiu a mesma natureza numérica que caiu em Adão.