Berta Ribeiro Significados Simbolicos Da Cultura Material Suma Etnologica Vol3p15-27

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1 · r, t'"1 .'. j o' Coordenação Gráfica Cecília Jucá de Hollanda Projeto Gráfico Cláudia Zarvos Fernando Bueno Diagramação e artefinalização Cesar Medeiros Ângela Souto Revisão Técnica Berta G. Ribeiro ' Revisão de Texto Sandra Regina Barros Dias Paulo Sérgio da Conceição Gomes Katia Brêtas de Araujo Composição Ururay Jorge Araujo lára Knauer CIP-Brasil. Catalogação-na-fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ A952 Suma etnológica brasileira. Edição atualizada do Handbook of South Ameri- 7 v. can lndians. Darcy Ribeiro (Editor) et alia. Volume 3. Arte lndia. Alfred L. Kroeber, Anthony Seeger, Berta G. Ribei- ro, Darcy Ribeiro, Elizabeth Travassos. Lux Vida!, Maria Helo(sa Fénelon Cos- ta, Regina Aparecida Polo Müller, Sonia Ferraro Dorta, William Murray Vin cent 1. Etnologia - Brasil. 2. lnd1os da América do Sul Brasil. 85-0124 coo - 301.2981 CDU - 572(81) • 1 O presente volume contém uma tradução de; Julian H. Steward, Editor 1949 Handbook of South American lndians. Volume 5: The Comparative Ethnology of South American lndians. Washing· ton. Smithson1an lnstitution, Bureau of American E thnology, Buli 143, 818 p. edição fac-similar: New York, 1963, Cooper Square Publishers, lnc. Copyright Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) Extraído do volume 3 (Arte índia) da Suma Etnológica Brasileira. Disponível para download em http://www.etnolinguistica.org/suma

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1 r , t'"1 .'. jo' Coordenao Grfica Ceclia Juc de Hollanda ProjetoGrfico CludiaZarvos Fernando Bueno Diagramao e artefinalizao CesarMedeiros ngelaSouto RevisoTcnica Berta G. Ribeiro' Revisode Texto SandraReginaBarros Dias Paulo Srgio da Conceio Gomes Katia Brtas de Araujo Composio Ururay Jorge Araujo lraKnauer CIP-Brasil.Catalogao-na-fonte SindicatoNacional dos Editores deLivros,RJ A952Suma etnolgicabrasileira.Edio atualizada do Handbook of South Ameri-7v.canlndians.DarcyRibeiro(Editor) et alia. Volume3. Arte lndia.Alfred L.Kroeber, Anthony Seeger,Berta G. Ribei -ro,DarcyRibeiro, Elizabeth Travassos.Lux Vida!, Maria Helo(saFnel on Cos-ta,ReginaAparecidaPoloMller, SoniaFerraroDorta,WilliamMurrayVin cent 1. Etnologia - Brasil.2. lnd1os da Amrica do SulBrasil. 85-0124coo - 301.2981 CDU- 572(81) 1 Opresente volumecontmumatraduode; JulianH.Steward,Editor 1949Handbookof SouthAmerican lndians. Volume 5: The Comparative Ethnology of SouthAmericanlndians.Washing ton.Smithson1anlnstitution,Bureau ofAmericanE thnology,Buli143, 818 p. ~ edio fac-similar: New York, 1963,CooperSquarePublishers,lnc. Copyright FinanciadoradeEstudoseProjetos(FINEP) Extrado do volume 3 (Arte ndia) da Suma Etnolgica Brasileira. Disponvel para download em http://www.etnolinguistica.org/sumalntroduco , "Na ciOncia,como na vida, s se acha oque se procura." E.E.Evans-Pritchard ALINGUAGEM SIMBLICA DA CULTURA MATERIAL Berta G.Ribeiro Algunsconceitos-chavepermeiamhoje os estudos antropolgi cos.Doisdeles,sobretudo,sintetizamastendnciasmaiscor-rentes:estrutura e comunicao.Emalguns casos, reduzem-se a rtulos emitos queinibem otrabalho criativo a partir dainves-tigaoemprica.Casosemqueautilizao de abordagens ba seadasnosfundamentosdalingsticaestrutural e dasemiolo-giasefazempor foradeumatomada de posio ideolgica e nodeumaconvicocientfica.Aconseqnciadaadoo dessasposiestericasextremadaspodelevar a resultados es-treis,comoocorreutantas vezes,nopassado,no campo dos estudos antropolgicos. Apresente introduo no pretende fazer uma exegese ouuma crticadosdiscursostericosmodernosemque a arte focali-zadadeumpontodevistaantropolgico.Meuobjetivoto somenteaveriguarosrecursosqueasnovasteoriasemtodos fornecemaocampodeque trata este volume- a produo ar tesanalpara fins outros que no os da subsistncia - e a manei-racomovmsendoutilizados.Emessncia,oquesepostula nessestrabalhos no tanto a valorizao das dimenses estti-casdasobrasanalisadas ou simplesmente sua descrio formal, esimasrelaes entre expresso (forma)e contedo (significa-do) .Ouseja,formasqueremetemareferentesquelheso exteriores:sistemas de organizao social,mitos,papis rituais. Trata-se,portanto,daexteriorizaomaterialdeidiase con-ceitos quepodemserdecodificados,oumelhor,interpretados segundoocontextoculturalem que se inserem.Em outras pa-lavras,trata-sede estudaroconjunto daparafernlia queiden-tificaoindivduoeogrupocomoumali nguagemvisual,um cdigo,uma iconografia. Naprimeiraparte desta introduo procuro explicitar sumaria-mente os conceitos bsicos, bem como o esquema terico em que 1!: 16 aspesquisas sobre oartesanato no-utilitrio, inclusive a pintura e ornamentao do corpo(tomando-seaqui ocorpo no sentido de"objeto"ou"suporte")vmsendoconduzidas,isto,co-moumsistema designificao.A segunda part e oferece exem-plificaesdeestudosreferentesasignosgrficoserelao entreritoeobjetoritual.Aterceirapartefocalizaexpresses simblicasrelacionadascaracterizaoda persona(personali-dadesocial)eidentificao tnicaque,emessncia,desem-bocamnofimltimodetodaaosocial:areproduoda sociedade tal qual .Em algumas exemplificaes utilizo dados depesquisasarqueolgicasporquemepareceuquesepresta-vammelhorparaexplicitar conceitoslingsticosempregados nos estudos de simbolizao. O ARTE FATOE A PALAVRA Preliminarmentetorna-senecessrio elucidar os conceitos utili-zadosnosestudosmodernos de"arte primitiva".Elessoen-contradosgeralmentenos dicionrios de lingstica e, mais fre-qentemente,nasobrasespecializadasdessadisciplinaeda semiologia.Taisso,entreoutros:fonema,morfema,signifi-cante,significado,cone,ndice,smbolo,sinal,metfora, metonmia,gramtica,semntica,linguagemsimblica,comu-nicao social.Amelhor maneira de faz-lo,ameu ver, verifi-carcomosoequacionadosnaprtica,aexemplodealguns trabalhosinsertosnestevolume que,poressemotivo,nose-roobjeto de anlise.Os casos selecionados prendem-se, sobre-tudo,suaqualidadedemodelos,algunsjconsagr.ados,do emprego dessanovametodologia. J.Deetz(1967)fazumatentativadeaplicarosconceitosde fonemaemorfemaaartefatosarqueolgicos.Partedo pressu-postodeque,assimcom"oslingistasdescrevemaestrutura dediversaslnguas e definem asregras para combinar essasuni-dades emconstrues maiores,tais como palavras e sentenas" (1967:85),damesmaformaosarquelogospodemencontrar regrasestruturaisno estudodeseusmateriais.E,"assim como osfonemassorelevantesapenasparaa1nguaemrelao qualforam definidos"(p.90), da mesma forma certos factemas caracterizamobjetosde um determinado sistema cultural. Fac-temadefinido como aunidade de forma, porque rene "uma classe mnima de atributos que afeta osignificado funcional do artefato"(ibidem).Deetzexemplificaumfactemapelosatri-butosgeraisdeformadeumapontadeflechadepedra eum a/ofactopelas variaesno entalhe presentes nessamesmapon-ta.Osalofactos,talcomo osalofones(variantedepronuncia-o do fonema),noafetam o significado funcional do artefato. Namesmalinhaderaciocnio,Deetzencontrauma''unidade estruturalcomparvelaomorfemanomaterialarfefactual" (1967:90).Denominaessaunidadeformema,definindo-a como"a classemnimadeobjetos quepossuem uma significa-ofuncional"(ibidem).Uma flecha co mpreenderiauma com-binao de cinco formemas:ponta de pedra, haste, penas, adeisi-vousadoparaafi xao daspart eseumdesenhonahaste.O autoradmitequedevehave rumacont rapartelingsticaem todas as culturas para unidades tais como o factema e o formema, muitoemboraos membros dessas sociedades no se dem con-. tadisso,comoos falantesdeuma1nguanosaberiamdistin-guirasunidadesfonmicasemorfmicasdassentenasque pronunciam. Devidoaosatributos funcionais dos artefat os- sejam eles per-furadores,percussoresourecipientes- epossibilidadede investigaressesatributosemcomunidadesemqueacultura materialcontinuavigente,Deetz acreditaqueautilizaodos conceitos defactemae formema, eomodo como secombinam, podeajudaraencontrarregrasestruturaisnoacervoartefac-tualdeuma cultura.Essasregras,derivadasdo exame do arte-fato,constituemaestruturaecorrespondemsconcepes deformaefunodeseusartfices.Oautorcotejaaanlise formal dosartefatos,paraaconstituiode tipos, com oestu-do comparado de1 nguas,baseadonaforma,paraadefinio defamlias.Acomparao devocabulrios,porsis,noim-pl ica emafinidadelingstica, uma vez que palavraspodem ser facilmentetransmitidasdeuma1nguaaoutra.Cont4dq,se 11 duaslnguascomparti lhamregrasgramaticais,quasecerto quesejamaparentadas."Domesmomodo,doisconjuntos de artefatospodemapresentaraltograudesemelhanaquanto aatributosindividuais;massomentequandoe lespartilham regrassemelhantesparacombin-los podemosinferirqueeles esto definitivamente correlacionados".( 1967 :93/94). OutroargumentodeDeetzemfavordaanalogiaentreartefa-tos epalavrasassimexpresso:"Artefatos,tal como palavras, soprodutosdaatividademotorahumana,produzidaatravs daaodemsculos guiados mentalmente sobre amatria-pri-maenvolvida.Aformaresultantedequalquerartefatoa combinaodeunidadesestruturais- atributos- que,em qualquercombinaoparticular,produzemumobjetocom uma funo especfica nacultura que oengendrou.Amudana emqualquerdessesatributosesignificaofuncionalpoder alteraroartefato,seaalteraoforsuficienteparaafetarsua significao.Emoutraspalavras,podehaverunidades estrutu-raisnosartefatos quecorrespondemaosfonemasemorfemas nalinguagem, correspondncia esta que vaimaisalm da analo-gia,refletindoumaidentidadeessencialentre1 nguaeobjetos numsentidoestrutural."(1967:87).Como se v,Deetz procu-radescobrirregrasestruturaisnosartefatos que correspondem s daling stica.Ou seja,umconjunto de unidades que formam abaseestruturalde todasas1nguas,afimdeque,atravs do seuestudo,possademonstrar como diferentes1nguascombi-namsonsem sistemasdecomunicaofuncional.(Arespeito dos postulados deDeetz, recomenda-se aleitura de DellHymes ( 1970): Modelos lingsticos na arqueologia). O arquelogo argentino AlbertoRexGonzalez, depois de dca-dasdetrabalho deescavaononoroestedoseupas, em que tentouinferirosmodosdesubsistncia,osquadroscontex-tuaisemqueocorriameadatao deculturas extintas, se viu anteodesafio deinterpretar a exuberante iconografia expressa nomaterialcermico,depedraemetaldessa rea e de regies contguas.Paraisso,buscoumodelosinterpretativoscapazes, noseuentender," ...de comear a estabelecer uma certa siste-matizaodesignosquepermitissem,no futuro,elaborar uma verdadeirasemiologiaarqueolgicadesses materiais"(1974:9). Tratava-se,nestecaso,deinterpretar" ... asimagens,realistas algumasvezesefantsticasoutras"eque,aseuver," ...pos-suemumindubitvelcartersignificativo,como .signoscuja mensagemerainteligvelparaseuscriadoresereceptores" (p.10).Aoanalisarosatributos grficos eplsticos desses ob-jetosarqueolgicos,Gonzalezverificaqueretratamimagens duaisemoposioumaoutra; oucomatributos anatmicos deduasespciesdiferentes,de significado oposto mas comple mentar, que podem fundir-senuma novaunidade e,ainda,ima-gensdecarterambivalente,chamadas anatrpicas("vistasde umladomostramumaimagem,vistasdeoutro ngulooufa-zendo-asrotar90ou180graus,etc.,mostramumafigura distinta"(op.cit._17)e,ainda,figurasdesdobradas(split representation)assinaladasporLvi-Strauss(1975:281)na artegrficaKadiwu,da costa noroeste daAmrica do Norte e outras reas distantes. Diante dessasrepresentaese, no obstante aprecariedade de dadosetnohistricoseetnogrficos sobre os grupos do noroes-teargentino,RexGonzalez procura associ-losa fenmenos de carter sociale mgico-religioso.A funcionalidadeinferidapela formade alguns desses objetos, usados,segundo supe oautor, comorecipientesparaalucingenos,osassociaimediatamente aodomniodosagrado.Arepresentaodualhomem/jaguar remete,aseuver,ao"complexode transformao"dqxam emona,correntenamitologiasul-americana.Aconcepo deoposiodualinformasobreocarter dualista da organiza-osocial,dequeexistem exemplosabundantesnaliteratura etnogrficae etnohistricasul-americana(Gonzalez1974:96 e ss).Emessncia, o queo autor se props investigar foi:" ... mais queuma estritaanliseestrutural,adescriodeumdetermi-nadogrupodesignosarqueolgicosesuasrelaes;de signifi-cantesmaisdoquedesignificados"(1974:11)(osgrifosso meus). Otrabalho deRexGonzalez,embora no conclusivo, como ele prprioadmite,nosofereceaoportunidadedeexaminarai gunspressupostostoricosdoautor,inferidospelousodos termosassinalados,todoselesprovindosdorepertrioda lingsticaestrutural.Essaterminologiaeoseuempregono so explicitados por Gonzalez, da mesma forma que por outros autoresquerecorreramaosmesmosmodelosno estudo de ex-pressesplsticasegrficasnasartestribais.Parece-me,por isso,pertinentecitaraquialgunsconceitosmetodolgicostal comosoutilizadospeloslingistasedamaneiracomo, supo-nho,foramempregadasporGonzalez,attulodeexemplifi cao.Oquesesegueoresumo de algumas definies toma- 11 das dabibliografiaespecializada(Saussures/d,Peirce1975) e, principalmente,doDicionrioEnciclopdicodasCinciasda Linguagem(DECL)deTodorov&Ducrot(1977).Vejamos, primeiro,adefiniodesigno."Osignoanoobsicade todacinciadalinguagem( ... )Todosossignosremetem necessariamenteauma relaoentre dois relata" .(DECL:105). "Osignonoforosamentelingstico:abandeira,acruz gamada,determinadogesto,asplacasdetrnsitosoigual -mente signos"(DECL: 108). "Osignolingi'stico- sustentaSaussure- unenouma coisaeuma palavra,masumconceito euma imagem acstica. Estenoosommaterial,coisapuramentefsica,masaim presso(empreinte)psquicadessesom,arepresentaoque delenosdotestemunhodosnossossentidos;talimagem sensoriale,sechegamosacham-la"material",somente nestesentido,eporoposioaooutrotermodaassociao, oconceito,geralmente mais abstrato.( ... ) Propomo-nos a con-servarotermo signopara designar ototal ea substituir concei toeimagem acsticarespectivamentepor significado e signifi-cante; estes dois termos tm a vantagem de assinalar a oposio queos separa,querentresi,quer do total de que fazem parte. (... )Osignolingsticoassimdefinido exibe duas caractersti casprimordiais. 1 ~ ) Olao que une osignificante ao significa-doarbitrrio.(... )Queremos dizer que osignificante imotl-vado,isto,arbitrrioemrelaoaosignificado,comoqual no tem nenhum lao natural de realidade. 2 ~ ) (... )Por oposi oaossignificantesvisuais(sinaismartimos,etc.).quepo-demoferecercomplicaessimultneasemvriasdimenses, ossignificantesacsticosdispemapenasdelinhado tempo; seuselementosseapresentamumapsooutro;formamuma cadeia.Essecarterapareceimediatamentequandoosrepre sentamospelaescritaesubstitumos a sucesso do tempo pela linha espacialdos signos grficos" (Saussure, s/d :80, 81, 83, 84). CiteiextensamenteSaussureporquedifici lmentepoderiaofe-recerumasnteseexatadesignoeseuscomponentes,signifi cante esignificado, concebidos por esse precursor da lingstica 18 moderna,quetantainflunciaexerceuemoutrosdomnios cientficos.AplicandooconceitodesignificantedeSaussure, Gonzalezquer dizer queseus dados(signosarqueolgicos), de naturezaartefactual(significantesvisuais),spoderiamser interpretadospeloladosensorial.Nocaso dalingstica, osig-nificante(aparte sensveldo signo)nopode existir sema par-teno-sensvel,osignificado."Um significantedesprovido de significado simplesmente um objeto, ele mas no significa". (DECL:106). Assimsendo,quandoGonzaleztentainterpretarseussignos arqueolgicos,comovimosrapidamenteacima,lanamode outros conceitoslingsticosassociadosaosigno,muitas vezes confundidos com ele ou com otermo "significao".Este deve serdistinguidodotermoreferenteoudafunoreferencial. No exemplo dado por Todorov & Ducrot(1977:107), aexpres sosonora(ougrfica)dapalavra"ma"(significante)se associaaoconceito"ma"(significado); ambos se fundemna palavra"ma"(signo),aqualdenota(ouremetemareal (referente).Esclarecemque"A denotao seproduzno entre umsignificante eum significado mas entre osigno e o referen-te".Noexemploquevimoscitando,astravessasde cermica destinadas,aparentemente,aservir comorecipientes dealuei ngenos seriam os referentes (o objeto real) para os signos (idias a elesassociadas pelosusurios). Aquiprecisointroduziroutrosconceitoslingsticos,como os de representao e simbolizao.Representao se distingue designificao" ...queoaparecimentodeumaimagemreal nousuriodossignos"(DECL:107).Representaopode tam bmserentendidacomoimitaoouevocaonuma perspec-tiva semc1ntica (ibidem). Arepresentao diz respeito,portanto, aoreferente,aoobjetoreal,quepodesersimbolizado.Por isso,paraSaussure (s/d:92)"O smbolo tem como caractersti-can'oserjamais completamente arbitrrio; ele no estvazio, existeumrudimento de vnculonaturalentreosignificantee osignificado.Osmbolodajustia,abalana, no poderia ser substitudoporumobjetoqualquer,um carro, por exempl o". Dentro dessalinha de raciocnio, Gonzalez associaasoposies duais das figuraes grficas eplsticas que analisou organiza-odualdassociedadesqueasteriamproduzido.Poder-se-ia admitir tratar-se apenas de uma questo de simetria ou estt ica, en'odesimboliza'o.Entretanto,cabeaointerpretantea liberdadedeinterpretarosmbolo(Peirce1975: 11 1 ).Nalin-gsticatampoucoexisteumarelaonecessriaentre"sim-bolizante"e"simbolizado".Assim,arelaoentre"chama" e"amor" totalmente"arbitrria".t"motivada" por "seme-lhana"e"contigidade", no sentido de/cone efndice(Todo rov&Ducrot1977:108).Os autoresadvertem queessesdois termosnoso tomados aqui no sentido que lhesfoiatribudo porCh.S.Peirce,filsofonorte-americanotidocomofunda-dordaSemitica(ouSemiologia),"a cinciadossignos"(do grego:semeion= signo)oudacomunicao(DECL: 93/ 95). Arefernciasemiologiaigualmentecabvelporqueseus conceitosmetodol gicossoutil izadosnoest udodossignifi cadossimblicosdaculturamaterial(verR.Mllernestevo-lume). Detenhamo-nosumpouconoexamedoconceitodesignotal comoodefinePeirce."UmsignoouRepresentamenum Primeiroquesepeemrelaotridicagenunatalparacom umSegundo,chamadoseuObjeto,demodoasercapazde determinarumTerceiro,chamadoseuinterpretante,oqual se coloqueemrelaoaoObjetonamesmarela'otridicaem queeleprprio estemrelao a essemesmo Objeto".(Peirce 1975:116).Ou,deumamaneiramaissimples:"Umsigno (... )algoquerepresentaalgoparaalgum,sobalgumprisma" (1975:26).ParaostradutoresbrasileirosdaobradePeirce, "Signo temumsignificadoamplo.Noprecisa ser uma palavra; podeser umaao,umpensamento,ouenfim, qualquer coisa queadmitaum"interpretante",isto,quesejacapazdedar origemaoutros signos"(Mota &Hegenberg1975:27). Aspala-vraseseussinnimosouparafrasesilustram"oprocessode conversoentreossignoseointerpretante"(DECL:95).t preciso acrescentar que Todorov &Ducrot (DECL:95) chamam aatenoparaopapelfundamentalqueacifratrsdesempe-nhanopensamentodePeirce,damesmaforma que onmero doisnade Saussure. Peirce distinguet rsnveisno signo:(cones, indicadores e slm bolos."Umsignopodeser icnico,ouseja,poderepresentar seuobjetoprincipalmentepor similaridade, independentemen-te do seu modo de ser"(op. cit.:1975:118) . Peirce exemplifica: qualquerrepresenta'oconvencional,apintura,porexemplo, pode ser tidacomo hipo-lcone.Afotografia seria a representa-oicnicapor excelncia(p.118).Os que participam de "Pri meiras Primariedades"ou "simples qualidades" so imagens,os queuti lizam"relaesanlogas"emsuasprpriaspartesso "diagramas",os que"traam umparalelismocom algo diverso, metforas(p.117).O indicador oundice como o sintoma de umadoenaouogestodeapontar.Ou"umsignoqueseen-contraeleprprioemcontigidadecomoobjetodenotado" (DECL:94)."Nenhumaquestodefatopodeserenunciada semoempregodealgumsignoqueat uecomoindicador", escrevePeirce(1975:131).Vejamoscomo serefere a smbolo: "Apalavraslmbofopossuitantossignificadosqueseriauma ofensa1nguaadicionar-lhemaisum.Creio que osignificado quelhedou,adeumsignoconvencional,ouquedepende de hbito,natoouadquirido,notantoumsignificadonovo, como umretorno ao significado original" (1975:128). Voltandoaoexemplo queelegemos,deduz-sequeasimagens duaisconcebidasemoposio nas esculturas dos vasos de cer-mica,morteirosourecipientesdepedra,imagensessasinter-pretadasporGonzalez,poranalogiaousemelhana,comoo homemeofelino(ouosprincpiosgenricosdehomeme mulher)(Gonzalez1974:136)expressamoconedoxam e representamafaculdadequelhe atribuda de transformar-se emona;ou se quisermosir mais longe, a concepo de que "a onadefatoumhomem.Noumhomemcomum,masum homem-xam dotado depoderes sobrenaturais" (op.cit.:103). Apassagemdeuma condiooutrasecumpre atravs da in-gestodoalucingeno.Estamediaoestariaexpressanono vasilhameemsique,porsuaforma, denota afuno de recep tculo,esimna. suaornamentao,quesimbolizaiconografi-camenteosatributosdoxam/ felino.Asfiguras .anatrpicas e desdobradas poderiam ter uma interpretao mais sofisticada, calcadaigualmentenaoposio dual,conformesupeGonza lez. Poder-se-iaobjetar queGonzaleztentoufazerumainterpreta-ocombaseemdadosetnogrficos,dos quais extraiu signifi cadosdaesferaritual,mgico-religiosa esocial- eaplicou-os a materiaisarqueolgicos.Esseoprocedimentocomume cor rentedos arquelogosnoquesereferea elementos da cultura material,decarterutilitrioefuncional.Nestecaso,porm, tentou-se uma criptoanlise de uma "linguagem" ou uma "escri ta"desconhecida.Trata-se,defato,deumaanlisearriscada, pormfecunda.Comparvelanlisedomito,concebidoem umtempoprstino, queserealizanadramatizao do rito, no tempopresente.Alm disso,comoacentua Jakobson, citando Peirce" .. . osigno- e em particular o signo lingstico - para sercompreendidoexigenosdoisprotagonistasqueparti cipemdoatodafala,masalmdisso,um"interpretante" (Jakobson1970:31 ).Mais adiante, acrescenta Jakobson: "Peir ceduma definioincisiva do principal mecanismo estrutural dalinguagemquandomostraquetodosignopode ser traduzi-dopor outro signo no qualele est mais completamente desen-volvido(... )omtodoseriaintersemiticoserecorrssemos aumsignono-lingstico,por exemplo,umsignopictrico. Masemtodosos casos substitumos signospor signos".(1970: 32). Nessecontexto, "signo" tem um sentido mais abrangente, oda mensagem,seporessetermo entendermosacomunicaode umconhecimento,explcitoouvelado,quesedesejatenha influnciasobrequemorecebe.Ou seja,um veculo da comu-nicaosocial.Assimsendo,oestudodosignonaarte contri-buiparaumcampomais amplo que se passou a chamar lingua-gemvisual. ARTE GRFICA COMOLINGUAGEM AanliseprocedidaporGonzalez do material arqueolgico do noroesteargentinomostraqueeleisolouelementos significan-tesem funo de: 1) similitudeicnica comumpossvelmode loou sua representao: traos felino-humanos, traos hbridos mltiplosfelino-antropomorfosouornitomorfoseumasrie deoutrostiposde dualidade;2)interpretouseus significados simblicos em funo de elementos culturais de contextosetno grficos. Vejamosumexemplodoempregodomtodoestruturalao estudodeumaiconografia,emqueopesquisador tampouco teveacessoaos significados explcitos dos signospor parte dos seusemissores:aaltamenteelaboradadecoraocermica dosgruposPueblo,estadodeArizona,dosEstadosUnidos. UmestudodecampofeitoporRuthBunzel,em1929,de-monstrouquenohaviacoernciaeuniformidadenatermi-nologiaatribudapelasoleirasZuniaelementosdodesenho. Issolevouessaautoraaconcluir queaarte dos grupos Pueblo nodesfrutavaderacionalizao.Aomesmotempo,Bunzel constatouqueexistiaumaterminologiaprecisanadescrio deconceitos espaciais,taiscomoquadrados,crculos, tringu-los,etc.Levandoemcontaessascircunstncias,LauraGreen-berg procedeu auma anlise estrutural dos desenhos da cermi cadosHopi(tambmgrupoPueblo)emqueproc