Beth Azevedo Sala Preta

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  • 7/29/2019 Beth Azevedo Sala Preta

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    Elizabeth R. Azevedo professora do Departamento de Artes Cnicas e do Programa de Ps-Gradua-o em Artes Cncias da ECA-USP.

    significado da palavra mito amplo ecomplexo. De uma primeira acepobsica, em sua origem na lngua grega(mythos) significandofbula, no sentidode narrativa de tempos hericos ou de

    narrativa simblica e/ou filosfica; tambmpode designar uma representao exagerada ouilusria de pessoa ou fato real e at simples-mente, uma idia falsa. E justamente sobre es-sas mltiplas facetas do termo que se constrio livro da professora e crtica teatral carioca

    Tnia Brando Uma empresa e seus segredos:Companhia Maria Della Costa, lanado no finalde 2009 pela editora Perspectiva com patroc-nio da Petrobrs.

    Em primeiro lugar est a narrativa dostempos hericos da criao do teatro brasileiromoderno pela perspectiva de uma das mais im-portantes companhias teatrais do perodo. Seno fosse alm desse trabalho de recuperaohistrica, registro da atuao do grupo, identi-ficao das temporadas e da recepo crtica, otrabalho j seria merecedor de louvores. Afinal,ainda h muito por se conhecer sobre a histriade personalidades, companhias, grupos e movi-

    mentos no teatro do Brasil. Tal tarefa, quandorazoavelmente realizada, significar, se no umanova (ou definitiva) verso da histria do teatro

    brasileiro, certamente a possibilidade de umafundamentao mais slida para a compreensoda trajetria da arte teatral entre ns. Nesse as-pecto, a pesquisa de Tnia Brando exemplarpelo apuro, cuidado e abrangncia na utilizaodas fontes textuais, das entrevistas realizadas eda leitura da bibliografia disponvel. Resultan-do num volume de mais de quatrocentas pgi-nas, desgua na apresentao do percurso tantoda companhia quanto de seus fundadores. Otexto avana, no ncleo do trabalho, a partir da

    formao do grupo, pela escolha do repertrio,as crticas recebidas por cada encenao e as op-es e estratgias comerciais. neste ltimo as-pecto, alis, que ganha relevncia a figura deSandro Polnio. Muito embora a companhiaacabasse se cristalizando ao longo dos anos emtorno da figura de Maria Della Costa (mitoconscientemente construdo como sugere a au-tora) e que atuao de Sandro como ator, dire-tor e iluminador esteja presente, h um desta-que para sua atividade de produtor teatral, sem-pre empenhado (atravs de seus manifestospublicados nos diversos programas do grupo)em discutir os rumos do teatro brasileiro no que

    se referia a um projeto cultural que deveria serabraado pelos poderes pblicos, fosse sob a for-ma de patrocnios, fosse atravs de uma compa-

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    Uma companhia moderUma companhia moderUma companhia moderUma companhia moderUma companhia moderna: o Tna: o Tna: o Tna: o Tna: o Teat reat reat reat reat ro Popular de Arte,o Popular de Arte,o Popular de Arte,o Popular de Arte,o Popular de Arte,

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    EEEEE l izabeth R. Azevedo

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    nhia estatal, fosse no empenho pela formaode pblico. Fato que fica claro o quanto, du-rante todo o perodo de existncia da compa-nhia, de 1948 a 1974, Sandro Polnio se esfor-ou para mant-la viva numa realidade indife-rente, seno hostil, a tais propostas.

    essa realidade da qual participava acompanhia do casal de artistas que compe orestante do livro. O intuito final, a tese, do tra-balho oferecer, a partir dessa relao, uma novaperspectiva sobre a formao do teatro brasilei-ro moderno. Portanto, no se trata de mera in-sero do grupo em um contexto mais am-plo. Em resumo, Tnia Brando defende a idiade que o Teatro Popular de Arte (depois rebati-zado de Maria Della Costa) foi a primeira com-panhia teatral profissional moderna do Brasil.Com esta concepo, a autora investe direta-mente contra o mito da prevalncia do TBC.Para provar tal tese, percorre dois caminhos quese entrelaam. Em primeiro lugar, procura en-tender o seria afinal um teatro moderno no Bra-sil, quais os novos parmetros e procedimentosque o definiriam. Assim, vai buscar as matrizesque formataram a discusso e a instalao da

    modernidade teatral entre ns. As histrias doteatro francs e italiano do sculo XX so apre-sentadas como introdutoras das questes marca-damente modernas, que poderiam ser rapida-mente (e pobremente) reduzidas aqui como oconfronto entre um teatro da palavra e um tea-tro da cena (do espetculo). Nomes e estilos quecompuseram o chamado cartel francs, bemcomo as discusses polarizadas em torno dositalianos DAmico e Bragaglia so evocados paramarcar cada uma das posies conflitantes.Transportadas para a terra brasilis, ambas as tra-dies so aqui, como sempre, confrontadas, li-mitadas e transformadas pela realidade e pers-pectiva locais (historicamente ligadas tradiofrancesa e, mais recentemente, em funo davinda da leva de diretores, ao cenrio italiano).

    Em segundo lugar, reexamina a histriaconsagrada do teatro brasileiro a partir desse seu

    novo ponto de vista. Nessa operao, busca omarco inicial da chegada da modernidade aoteatro nacional. Sua escolha recai sobre a mon-tagem de Romeu e Julieta, realizada pelo Teatrodo Estudante do Brasil no Rio de Janeiro em1938, organizada por Paschoal Carlos Magno,protagonizada por Snia Oiticica e Paulo Por-to, sob a direo de Itlia Fausta. Seria a partirdesse acontecimento, passando para atuao,ainda que amadora, do grupo carioca Os Co-mediantes (do qual fizeram parte Sandro Pol-nio e Maria Della Costa) que se encaminharia atrajetria da fundao e atuao do Teatro Po-pular de Arte, com uma proposta renovadora,moderna. Mas essa explicao no se faz sem adescontruo de um outro mito: a escolha tra-dicional da montagem de Vestido de Noiva, deNelson Rodrigues, dirigida por Ziembinski,pelo prprio grupo d Os Comediantes comoato fundador da nossa modernidade teatral.A autora se esfora em desconstruir a mticasempre repetida em torno do evento, do autorda pea, bem como de seu diretor. Para ela, averdadeira frmula da modernidade teria sidogestada pelo grupo d Os Comediantes e reali-

    zada pelo Teatro Popular de Arte, antes mesmoque o Teatro Brasileiro de Comdia os adotas-se, e com maior amplitude.

    Assim como se dedica a estabelecer a che-gada da modernidade teatral, com um modeloinspirado da Europa e transformado no Brasil,Tnia Brando tambm se preocupa em expli-car sua derrocada, vtima de contradies inter-nas e externas. Desse modo, a aventura moder-na conclui seu destino nos idos dos anos 70,sobrepujada, entre outros, pela ascenso damtica do nacional-popular e pela desestrutura-o do sistema de produo de grupos estveis.

    Portanto, em seu conjunto, com enormeriqueza de informaes, dados e anlises, o livronos lana o desafio de rever nossos conceitos,certezas e crenas at hoje bem estabelecidossobre esse perodo da histria do teatro brasilei-ro. Certamente, um exerccio dos mais salutares.

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    1. As contribuies devem ser enviadas ao De-partamento de Artes Cnicas da Escola deComunicaes e Artes da USP, Av. Prof.Lucio Martins Rodrigues, 443, CidadeUniversitria, 05508-900, So Paulo Bra-sil, A/C Editor de Sala Preta. Os artigos de-vem ser apresentados em duas cpias em pa-pel e numa verso em disquete, gravado nosistema word para windows. A formataodeve adotar o tipo Times Roman, corpo 11para o texto e corpo 10 para a bibliografia.

    2. Os artigos no devem exceder quatro milpalavras e devem ser acompanhados de resu-mos em portugus e ingls.

    3. Os manuscritos devem ser digitados em es-pao simples, sem espaamento entre os pa-rgrafos e com entrada de pargrafo a 1,25cm da margem.

    4. As ilustraes (fotos reproduzveis, desenhosou estampas) devem ser cuidadosamenteidentificadas e acondicionadas.

    5. As indicaes bibliogrficas devem trazer,logo aps o trecho citado, entre parnteses,

    o sobrenome do autor em Caixa Alta, segui-do do ano da publicao e do nmero da

    IIIII ns t rue s aos co laboradorns t rue s aos co laboradorns t rue s aos co laboradorns t rue s aos co laboradorns t rue s aos co laboradore se se se se s

    pgina em que se encontra a citao. A refe-rncia bibliogrfica completa deve vir no fi-nal do artigo.

    6. As notas de rodap s devem trazer informa-es adicionais, comentrios e sugestesbibliogrficas.

    7. Os manuscritos devem ser cuidadosamenterevisados antes do envio. No sero aceitosartigos fora do formato indicado

    8. Todos os artigos enviados tero a sua recep-o confirmada. Os artigos sero submetidosa pareceristas ad hoce, em um prazo mxi-mo de seis meses, os autores sero notifica-dos se tiverem sido selecionados. As resenhasde livros so feitas por convite, mas os edito-res esto prontos a aceitar propostas de livrosa serem resenhados.

    9. Os editores podero encomendar artigos ecolaboraes que tero prioridade sobre osartigos enviados espontaneamente.

    10. Os manuscritos sero aceitos na pressupo-sio de que so textos originais, nunca pu-

    blicados e que no foram oferecidos a ne-nhuma outra publicao.

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