BHAGAVAD - GITA O CANTO DO SENHOR -...

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Editora Shu apresenta BHAGAVAD - GITA O CANTO DO SENHOR SWAMI PARAMANANDA & LIN YUTANG Rio de Janeiro, 2002. O CANTO DO SENHOR (O BHAGAVAD-GITA) INTRODUÇÃO O BHAGAVAD-GITA está para o hinduísmo como o Sermão da Montanha para os ensinamentos cristãos. Já disseram que êle é a "Essência dos Vedas". Um santo indiano declarou: "Todos os Upanishads são as vacas, o próprio Senhor é o Ordenhador, e os que têm a mente purificada são os bebedores do leite, o supremo néctar do Gita".

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Editora Shu apresenta

BHAGAVAD - GITA

O CANTO DO SENHOR

SWAMI PARAMANANDA & LIN YUTANG

Rio de Janeiro, 2002.

O CANTO DO SENHOR (O BHAGAVAD-GITA)

INTRODUÇÃO

O BHAGAVAD-GITA está para o hinduísmo como o Sermão da Montanha

para os ensinamentos cristãos. Já disseram que êle é a "Essência dos Vedas".

Um santo indiano declarou: "Todos os Upanishads são as vacas, o próprio

Senhor é o Ordenhador, e os que têm a mente purificada são os bebedores do

leite, o supremo néctar do Gita".

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O Bhagavad-Gita, a princípio, constituía uma seção do Livro Sexto do poema

épico hindu, o Mahabharata. Está lançado em forma de palestra entre o

guerreiro Arjuna e seu cocheiro, que em verdade era o "Senhor Abençoado", o

deus Krishna. Tornara-se inevitável a guerra entre os filhos de Pandu (e

Arjuna era um dêles) e os seus primos Duryodhana e irmãos, filhos do rei

cego Kurus. A batalha estava iminente quando Arjuna se recusou a combater,

pois percebeu que ia matar os próprios parentes. O deus Krishna explicou-lhe

que ninguém podia ser morto, porque as almas dos homens vivem para

sempre. Daí começa a palestra que, estendendo-se por dezoito capítulos,

abrange fase por fase os problemas éticos e religiosos referentes ao Yoga da

ação, à justificação de rituais e sacrifícios, às manifestações de Deus no

mundo físico, e termina com o importante preceito que manda aceitar Krishna

como um refúgio a que devem recorrer, para encontrar paz e salvação, todos

os indivíduos de tôdas as classes. Ao velho rei cego, que não podia observar o

desenvolvi- mento da luta, um grande sábio ofereceu vista, que êle recusou,

pois não sentia desejo de assistir à matança de pessoas do seu sangue. O

grande sábio, então, assegurou a Sanjaya o dom de perceber à distância os

acontecimentos desenrolados no campo de batalha. Assim, sobretudo no início

e no fim do canto, vemos os comentários de Sanjaya sôbre o combate,

enquanto que as perguntas e respostas entre Arjuna e Krishna formam a

substância do corpo principal do livro.

Tôda essa obra respira a atmosfera mental e religiosa hindu, embora alguns

ensinamentos (como o do entusiasmo na ação, que deve ser praticada sem

intenção de lucro egoístico, mas por devoção a Deus, e particularmente o

preceito da negação do materialismo e a vigorosa afirmação védica de que o

espírito se acha por detrás de tôdas as coisas), embora ensinamentos dêste

gênero ofereçam pontos de vista que ou são atuais ou de que se necessita

grandemente no mundo moderno. De qualquer modo, os contrastes são tão

importantes como as semelhanças, e é porque êsse trabalho se impõe,

frisantemente, como o produto mais relevante do espírito religioso hindu, que

a sua influência e posição na Índia tem sido tão grandes. O Dr. E. J. Thomas

chamou-o de "um dos maiores fenômenos religiosos do mundo" e de "o mais

antigo e ainda o maior monumento da religião hindu".

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Para mim, o Bhagavad-Gita não encerra o mesmo interêsse que o

Dhammapada budista, porém isto não constitui razão por que êle seja menos

importante perante a nação indiana. O que é de interêsse é notar o progresso

do espírito hindu evidenciando- se desde os Upanishads até o Gita, e a sua

crescente clareza de pensamentos, e como os processos de pensamentos estão

mais próximos dos nossos. O Canto do Senhor foi provavelmente escrito no

século segundo antes da era cristã, embora não se possa determinar uma data

aproximada. E tão importante se tornou no pensamento religioso hindu que

todos os sistemas tiveram que se enquadrar nos seus ensinamentos. No

trabalho existem laivos de panteísmo, de monoteísmo, de teísmo e de deísmo.

O que sucessivos escritores lhe tenham acrescentado importa menos que o fato

de que aquêles ensinamentos foram, e ainda são, aceitos pelo povo hindu

como conjunto definitivo de sabedoria religiosa. Qualquer tentativa dos mais

altos críticos ocidentais no sentido de separar as diferentes correntes de crença

e de "restaurar" o "texto original" está destinada a ser, a um só tempo, louca e

ridícula. Certos eruditos tentaram a tarefa maluca de determinar a sua

composição original. Nunca lhes ocorreu que o mundo podia ser Deus e,

simultaneamente, um Deus pessoal podia existir belíssimas distinções que só

existem nos espíritos acadêmicos. O grande poder do Gita reside no fato de

que êle ensina uma "fé amante" ou devoção (bhakti) a um Deus pessoal,

Krishna. A mensagem final de Krishna é: "Abandona todos os Dharmas, vem

refugiar-te unicamente em mim. Eu te livrarei de todos os pecados; não te

aflijas", (XV1II, 66).

É extremamente importante que um tal testemunho do espírito religioso hindu

não seja traduzido por um estudioso de sânscrito, mas por alguém que se

dedique ao hindu, que se sinta à vontade com o espírito dos seus preceitos, e

que saiba o que significam os vários versos, diretamente e simplesmente, para

o povo indiano.

O Bhagavad-Gita tem merecido carinhosos esforços de muitos tradutores, e

dêle existem traduções excelentes, como o "Canto do Senhor", d'e Lionel D.

Barnett (Temple Classics), com longa introdução e notas copiosas, o "Canto

do Senhor", de E. J. Thomas (Wisdom of the East Series), a conhecida versão

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de Annie Besant (Theosophical Press), o "Canto Celestial", de Sir Edwin

Arnold (Trubner), o "Poema do Senhor", de M. M. Chatterji (Houghton),

acompanhado de comentários e notas e referências às Escrituras Cristãs, e a

tradução erudita de Telang nos "Sacred Books of the East". Escolhi,

entretanto, a tradução de Swami Paramananda porque acho que, mais que as

outras, demonstra essa maestria em línguas e essa compreensão da essência do

pensamento cujo resultado é, e devia ser, uma versão madura e efetiva, sem os

emaranhamentos da tradução erudita ou o subreptício parafrasear dos super-

interpretativos. Segundo comentário do editor do livro: "A letra deve ser

iluminada pelo espírito; e ninguém pode ler a tradução sem se sentir

convencido de que a cabeça, o coração e a vida cooperaram nela". Isto não é

para lisonjear. Conservei as notas de Swami Paramananda.

Lin Yutang, 1941.

Texto.

O CANTO DO SENHOR ABENÇOADO

SRIMAD-BHAGAVAD-GITA

Swani Paramananda

CAPITULO I

Dhritarashtra perguntou:

1. Ó Sanjaya, reunidos na sagrada planície de Kurukshetra, e desejosos de

lutar, que devem fazer meu povo e os Pandavas?

Sanjaya respondeu:

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2. O Príncipe Duryodhana, tendo visto as fôrças Pandavas em formação de

batalha, chegou-se ao seu professor (Drona) e disse estas palavras:

3. Olha estas poderosas hostes dos filhos de Pandava, dispostas pelo filho de

Drupada, o discípulo dotado.

4-6. Aqui estão heróis, possantes arqueiros. que na batalha se igualam a

Bhima e Arjuna - os grandes guerreiros, e a Yuyudhana, Virata e Drupada; o

valente Drishtaketu, Chekitana e o Rei de Kashi; Purujit, Kunti-Bhoja e

Shaibya, os maiores dos homens; o poderoso Yudhamanyu e o bravo

Uttamaujas; o filho de Subhadra e os filhos de Draupadi, todos êles

esplêndidos guerreiros em erros.

7. Ó melhor das duas vêzes nascidos(1), ouve também sôbre aquêles que mais

se têm distinguido entre nós, os comandantes do meu exército; vou nomeá-los

para ficares informado.

8. Tu próprio, e Bishma e Karna, e Kripa, o feroz na batalha, Aswatthama,

Vlkarna, Jayadratha.

9. Também existem muitos heróis hábeis no combate armados com muitas

espécies de armas, e resolvidos a dar a vida por minha causa.

10. Mas êste nosso exército, embora comandado por Bhishma parece

insuficiente; entretanto, o exército dêles, comandado por Bhima parece

suficiente.

11. Portanto, todos vós, estacionados nos vossos respectivos lugares nas

divisões do exército, deveis apoiar Bishma, que está só.

12. O poderoso e mais velho dos Kuros (Bhishma) , o grão-senhor, para

acalmá-lo (a Duryodhana) emitiu um forte rugido de leão e soprou o búzio.

13. Então (acompanhando Bhishma) de súbito soaram búzios, timbales,

tambores, trombetas e trompas. O estrondo foi tremendo.

14. Então Madhava (Krishna) e Pandava (Arjuna) pararam o seu grande carro

de guerra, atrelado a dois cavalos brancos, e também sopraram os seus divinos

búzios.

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15. Hrishikesha (Krishna)(2) soprou o Panchajanka; e Dhananjaya(3) (Arjuna)

, Devadarras (4) (Deus-dado); e Virkodara(5) (Bhima), autor de terríveis

feitos, soprou o seu grande búzio Paundra.

16. O Rei Yudhishthira, filho de Kunti, soprou o búzio chamado Anantavijaya

(vitória infindável). Nakula e Sahadeva sopraram os seus Sughosha e

Manipushpaka.

17. O Rei de Kashi, o grande arqueiro, o poderoso guerreiro Shivhandi,

Dhrishtadyumna, Virata e o herói inconquistado, Satyati .

18. (O Rei) Drupada e os filhos de Draupadi e o poderosamente armado filho

de Subhadra, cada qual soprou o seu próprio búzio, ó Senhor da Terra!

19. Esse tremendo ressoar, enchendo a terra e o céu de som, abalou os

corações dos partidários de Dhritarashtra.

20. Então, ó Senhor da Terra!, vendo o exército de Dhritarashtra em ordem de

batalha e sacando de armas na iminência de iniciar a luta, o filho de Pandu

(Arjuna) ergueu o arco e falou para Krishna as seguintes palavras:

Arjuna disse:

21-23. Ó Achyuta (imutável, Krishna), coloca o meu carro entre os exércitos

desejosos de batalha, para que eu possa ver com quem devo lutar ao irromper

desta guerra, pois pretendo saber ais os que aqui se reuniram para lutar no

desejo de ser agradáveis ao mal-intencionado filho de Dhritarashtra, formando

ao seu lado.

Sanjaya disse:

24-25. Ó Rei! Assim solicitado por Gudakesha(6) (Arjuna), Krishna, tendo

colocado o carro de guerra entre os dois exércitos, frente a Bhishma, Drona e

todos os governantes da terra, assim falou: ó filho de Pritha (Arjuna) , vê tôdas

as forças kuru congregadas.

26. Então Partha (Arjuna)! viu já ali, em ambos os exércitos formados, avós,

sogros, tios, irmãos e primos, os seus próprios filhos e seus filhos e netos,

camaradas, professôres e amigos.

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27. Então êle, o filho de Kunti (Arjuna), vendo todos os parentes formados nas

fileiras, assim falou, tristemente, acabrunhado por funda compaixão:

Arjuna disse:

28. ó Krishna, ao ver êstes meus parentes reunidos aqui, desejosos de lutar, os

meus membros cedem, e arde-me a bôca.

29. Meu corpo tirita, arrepiam-se-me os cabelos, meu Gandiva (arco)

escorrega-me das mãos, minha pele se abrasa.

30. ó Keshava (Khrishna, o matador de Keshi) , não sou capaz de me manter,

os meus pensamentos redemoinham, e vejo maus presságios.

31. ó Krishna, não enxergo nenhum bem em chacinar meu próprio povo nesta

contenda. Não aspiro a vitória, nem a reino, nem, a prazeres.

32-34. Mestres, tios, filhos e netos, avós, sogros, além de outros parentes, que

inspiravam o desejo de império, alegria e prazeres, êles próprios ali estão em

ordem de batalha renunciando a vida e fortuna. Que valem pois reino, alegria

e mesmo a existência, Ó' Govinda (Krishna)?

35. A êstes guerreiros não quero eu matar, embora por êle seja morto, nem

pelo domínio dos três mundos, quanto mais por causa desta terra, ó matador

de Madhu.

36. ó Janardana (o que dá prosperidade e salvação, Krishna),. que prazer pode

advir para nós do assassínio dos filhos de Dhritarashastra? Só o pecado se

apossará de nós por termos massacradro êstes malfeitores.

37. Portanto não devemos matar êstes filhos de Dhritarashtra, nossos parentes;

porque, como podemos nós, ó Madhava (Krishna), ganhar felicidade

destruindo os nossos próprios parentes?

38. Embora êstes (meus inimigos), espíritos dominados pela ambição, não

vejam mal na extinção de famílias, nem pecado em hostilizar amigos.

39. Mas, ó Janardana, por quê não recuarmos dêste pecado, enxergando

claramente o mal em destruição de família?

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40. Com a destruição de uma família perecem os imemoriais ritos religiosos

dessa família. Destruída a espiritualidade, tôda essa família é prêsa do êrro.

41. ó Krishna, com a predominância do êrro as mulheres dessa família tornam-

se corruptas; e, corruptas as mulheres, surge a mistura de castas.

42. Essa mistura de castas leva os destruidores da família ao inferno, o mesmo

acontecendo à própria família; porque os seus ancestrais tombam, despojados

das oferendas de bolos de arroz e água (7).

43. Os imemoriais ritos religiosos de família e casta são destruídos por êstes

atos maus dos assassinos da família.

44. ó Janardana, ouvimos dizer que, para tais homens, cujos ritos religiosos

domésticos foram destruídos, a morada no inferno é inevitável.

45. Ai! em que grande pecado resolvemos incorrer, preparando-nos para

chacinar os nossos parentes, ao impulso da ambição de reinado e de prazeres.

46. Na verdade, melhor teria sido para mim que os filhos de Dhritarashtra,

armas em punho, me assassinassem na batalha, inerme e desarmado.

Sanjaya disse:

47. Assim falando no centro do campo de batalha, Arjuna deixou-se cair no

banco do seu carro de guerra, atirando para um lado: o seu arco e as flechas, a

alma afogada em tristeza.

Aqui termina o Primeiro Capítulo chamado “A tristeza de Arjuna”

CAPÍTULO II

Sanjaya disse:

1. A êle (Arjuna), cuja alma estava acabrunhada de dor e de tristeza, e que

tinha os olhos turvos de lágrimas, Madhusudana (Krishna) falou com estas

palavras:

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o Senhor Abençoado disse:

2. ó Arjuna, de onde vem sôbre ti neste momento crítico esta depressão

indigna de um Ariano, ignominiosa, e contrária à conquista do céu?

3. ó filho de Pritha, não condescendas com a efeminação, ela não te é

benéfica. Tange para longe esta disposição de fraqueza, ó terror dos teus

inimigos!

Arjuna disse;

4. ó destruidor de inimigos e matador de Madhu (Krishna) como posso lutar

com estas setas em batalha contra Bishma e Drona, que são dignos de ser

adorados (por mim) ?

5. Antes viver nesta vida mendigando do que trucidar êstes senhores de

grandes almas; matando-os, todos os nossos gozos de riquezas e desejos, ainda

neste mundo, ficarão manchados de sangue.

6. Na verdade, não sei qual das duas é melhor para nós; nós os dominarmos ou

êles nos dominarem. Porque êstes legítimos filhos de Dhritarashtra estão

diante de nós, e depois de os chacinar não devemos cuidar mais em viver.

7. Com a alma esmagada de pena e desânimo e o espírito confuso sôbre o

dever, eu Te imploro (ó Krishna), dize-me com certeza o que será bom para

mim. Sou Teu discípulo, instruí-me, a mim que em Ti me refugiei.

8. Porque não vejo o que possa afastar esta mágoa que estiola os meus

sentidos, ainda quando eu tenha a obter incontrastável domínio sôbre a terra e

o govêrno dos deuses.

Sanjaya disse;

9. Gudakesha (Arjuna), o vencedor dos seus inimigos, tendo assim falado ao

Senhor dos sentidos (Krishna), disse: "Eu não lutarei. ó Govinda !" E quedou

silencioso.

10. Ó descendente de Rei Bharata, Hrishikesha (Krishna), como sorridente,

falou estas palavras para êle (Arjuna) que assim estava tomado de tristeza

entre os dois exércitos.

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O Senhor Abençoado disse:

11. Tu tens estado lamentando quem não deveria ser lamentado e, todavia,

disseste (parece) palavras de sabedoria; mas a lamentação verdadeiramente

sábia não é para o morto nem para o vivo.

12. Não é verdade que eu tenha existido antes, nem tu, nem todas as coisas.

Não é verdade que todos nós tenhamos de deixar e existir daqui por diante.

13. Como neste corpo a alma encarnada passa através da infância, da

juventude e da velhice, assim também ela vai de. um corpo para outro;

portanto, o sábio nunca se engana no que diz respeito a ela (a alma).

14. ó filho de Kunti, as sensações de calor, frio, prazer, dor são produzidas

pelo contacto dos sentidos com os objetos-sentidos: Têm princípio e fim, são

transitórios. Portanto, ó Bharata, suporta-as (bravamente).

15. ó poderoso, entre os homens está apto a ganhar a imortalidade aquêle que

é sereno e não se aflige com essas sensações, porém é o mesmo no prazer e na

dor.

16. Não há existência para o irreal e o real jamais pode ser-inexistente. Os

Videntes de Verdade sabem onde ambos terminam.

17. Conhecem que é indestrutível Aquêle que em tudo penetra. Ninguém pode

jamais destruir êste Imutável.

18. Estes corpos são perecíveis. Mas os que moram nestes corpos são eternos,

indestrutíveis e impenetráveis. Luta, pois, ó descendente de Bharata!

19. Aquele que considera êste (o Eu) um assassino ou aquêle que supõe que

êste (o Eu) é assassinado não conhece a Verdade. Porque ele não mata, nem

ele é morto.

20. Este (o Eu) não nasce, nem morre, nem depois de ter- sido descamba no

não-ser. Este (o Eu) não nasce, é eterno, imutável, antigo. Jamais é destruído,

nem mesmo quando o corpo o é.

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21. ó filho de Pritha, como pode matar, ou causar a matança de outrem, aquêle

que sabe que êste (o Eu) é indescritível, eterno, inascido e imutável?

22. Assim como o homem despe as roupas velhas e veste outras novas, assim

também a alma, despindo os corpos gastos, entra em outros que são novos.

23. Espada não pode perfurá-lo (o Eu), fogo não pode queimá-lo, água não

pode molhá-lo e o ar não pode secá-lo.

24. Ele não pode ser perfurado, nem queimado, nem molhado, nem enxugado.

Ele é eterno, onipresente, imutável, permanente, perpétuo .

25. Dizem que ele (o Eu) está acima da percepção, acima do pensamento, é

inalterável; portanto, sabendo que ele assim é, tu não te deverias entristecer.

26. Mas, ainda que penses que ele (o Eu) é sujeito ao nascimento e morte

constantes, ainda assim, Ó poderosamente armado, tu não te deverias

entristecer.

27. Para aquêle que nasceu a morte é certa, e para o morto o nascimento é

certo. Portanto, não te entristeças ante o inevitável.

28. Ó Bharata, todas as criaturas são invisíveis no princípio, manifestas na

etapa média, novamente invisíveis no fim. Que há nisto para tristeza?

29. Alguns olham para ele (o Eu) com espanto, alguns falam dele com

espanto, alguns ouvem falar dele com espanto, e ainda alguns, mesmo depois

de ouvirem falar dele, não o conhecem.

30. O morador do corpo de qualquer um é sempre indestrutível: portanto, ó

Bharata, tu não deverias lamentar criatura alguma.

31. Mesmo encarando este assunto do ponto de vista do teu Dharma(1), tu não

deverias hesitar, porque nada há mais elevado para um Khsatrya (guerreiro) do

que uma guerra justa.

32. Ó filho de Pritha, em verdade são afortunados os guerreiros aos quais vem,

sem ser buscada, como um portão aberto para o céu, uma guerra assim.

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33. Mas se não tomares parte nesta guerra justa, faltando então ao teu próprio

dever e a tua própria honra, incorrerás em pecado.

34. O povo falará sempre mal de ti; para o que é estimado, a desonra é ainda

pior do que a morte.

35. Estes grandes guerreiros em carros pensarão que fugiste à batalha através

do mêdo. E te considerarão levianamente aquêles que já te prestaram altas

honras.

36. Os teus inimigos dirão de ti coisas indizivelmente ignominiosas e negarão

o teu valor. Que pode ser mais penoso do que isto?

37. Se tombares na batalha, obterás o céu; se conquistares, gozarás a terra.

Assim, pois, ó filho de Kunti, levanta-te e dispõe-te a lutar.

38. Olhando por um mesmo prisma prazer e dor, ganho ou perda, vitória ou

derrota, trava a tua batalha. Assim o pecado não te manchará.

39. Assim te anunciei a sabedoria da Auto-realização. Ouve-me agora, ó filho

de Pritha, a respeito de Yoga, cujo conhecimento te livrará das peias do

Karma (causa e efeito) .

40. Neste (o Yoga) não há nem desperdício de esforço nem possibilidade de

resultados maus. Mesmo uma pequena prática disto (Yoga) liberta-nos do

pavor.

41. Ó filho de Kuru, neste (no Yoga) o espírito bem determinado é único

direto; mas os propósitos do espírito irresoluto são vários e infindáveis.

42. Ó filho de Pritha, aquêles que se deliciam com a linguagem florida dos

ignorantes e se satisfazem com a simples letra dos Vedas (Escrituras) dizendo:

"Não há mais nada";

43. E aquêles que estão cheios de desejos de auto-satisfação, olhando o céu(2)

como o seu mais alto objetivo, e se emaranham em muitos ritos complicados

de Escritura só para, nas suas futuras encarnações, merecer gozo e poder como

recompensa aos seus feitos;

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44. Aquêles cujo discernimento é arrebatado pelo amor do poder e do gôzo e

que assim de então em diante a êles aderem profundamente ficam na

impossibilidade de convicção firme (no propósito) ou consciência de Deus.

45. Os Vedas jogam com os três Gunas. Ó Arjuna, livra-te dêstes três

Gunas(3); livra-te dos pares de opostos (frio e calor, prazer e dor); sempre

firme, sê livre das (idéias de) aquisição, conservação, auto-possessão.

46. Para o Brahamana, o conhecedor da Verdade, todos os Vedas estão tão

fora do mais pequeno uso quanto um pequeno tanque de água o está na época

de uma inundação, quando a água está por toda parte(4).

47. Tens o direito de trabalhar sozinho, mas não o tens sôbre os frutos do teu

trabalho. Não te deixes levar pelos frutos da ação, nem te entregues à inação.

CAPÍTULO III

Arjuna disse:

1. ó Janardana, ó Keshava (Krishna), se para o teu espírito (o caminho da)

sabedoria é superior ao (caminho) da ação, porque estás me engajando nesta

terrível ação?

2. Com estas palavras(1) que parecem contraditórias estás conturbando o meu

entendimento; dize-me, pois, com certeza, com qual delas poderei atingir o

mais alto.

O Senhor Abençoado disse:

3. ó sem-pecado, neste mundo é duplo o caminho que já descrevi. O caminho

da sabedoria é para os meditativos, e o caminho do trabalho é para os ativos.

4. Um homem não alcança a liberdade pela ação deixando de executar a ação,

nem atinge a perfeição simplesmente com o abandonar a ação.

5. Ninguém pode jamais descansar por um instante sem executar ação, porque

todos são impelidos pelas Gunas (qualidades) filhas de Prakriti (Natureza) a

um agir incessante. Aquêle que, restringindo os órgãos de ação, se queda com

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pensamentos de objetos do sentido na mente, é um que se ilude a si próprio, e

é chamado um hipócrita.

7. Mas, ó Arjuna, aquêle que, controlando os sentidos com a mente, segue

desprendido o caminho da ação com os seus orgãos de ação, é apreciado o

8. Executa, portanto, ações justas e obrigatórias, porque a ação é superior à

inação. Sem trabalho, até a manutenção desnuda do teu corpo seria

impossível.

9. Este mundo está ligado por ações, exceto quando elas são praticadas por

causa de Yajna(2). Assim, pois, ó filho de Kunti, pratica a ação com

desprendimento.

10. No principio o Senhor das criaturas, tendo criado a humanidade,

juntamente com Yajna, disse: “Por elas (Yajna) prosperaremos e obteremos

todos os resultados desejados, como Kamadhuk”(3).

11. “Por elas (Yajna) seremos agradáveis aos Devas (os brilhantes) e os

Devas, por seu turno, nos agradarão. Assim, agradando-nos mutuamente,

obteremos o mais alto bem”.

12. Os Devas, cativados pelas Yajna, esparzirão sôbre todos vós todos os

objetos do vosso desejo. Aquêle que goza dos objetos dados pelos Devas, sem

aos Devas oferecê-los, é em verdade um ladrão.

13. Os justos, comendo as sobras de Yajna (sacrifício) , tornam-se isentos de

todo pecado; mas os injustos, que cozinham para si mesmos, cometem pecado.

14. As criaturas surgem da comida; a comida é produzida. pela chuva; a chuva

chega como resultado de Yajna; e Yajna é: fruto de Karma (ação) .

15. Sabe que Karma surge dos Vedas e os Vedas do Imperecível. Por

consequência, a Verdade onipresente (Brahman) é sempre alicerçada em

Yajna (sacrifício).

16. Aquêle que aqui (na terra) não segue a roda que assim vai girando, vive

em pecado e sensualidade; ó Partha, vive em vão.

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17. Ao homem que se devota ao Eu, está satisfeito com o Eu e contente apenas

com o Eu, em favor dêsse homem nada se pode fazer.

18. Para êle, nada existe neste mundo a ganhar por ação ou a perder por

inação; nem êle necessita de depender de qualquer ser para qualquer objetivo.

19. Portanto, desprendido, cumpre incessantemente os teus deveres (o trabalho

que deve ser executado); pois através do exercício da ação, desprendida, o

homem atinge o mais alto.

20. Na verdade, só pelo trabalho, Janaka(4) e outros (grandes espíritos)

atingiram a perfeição. Assim; precisamente do ponto de vista do beneficio à

humanidade, deves exercer a ação:

21. Os homens inferiores só fazem aquilo que o homem superior faz. Seja qual

for o exemplo que o homem superior dê, o povo (as massas) o seguem.

22. ó Partha, nada há para que Eu faça; nada há nos três mundos alcançados

ou por alcançar por Mim, e todavia eu continuo em ação.

23. Porque se eu não trabalhasse sem cessar, ó Partha, os homens seguiriam o

meu caminho (exemplo) passo-à-passo.

24. Se eu não trabalhasse sem cessar, êstes mundos pereceriam(5). Eu causaria

confusão de castas(6), e também a destruição de todos os seres.

25. Ó descendente de Bharata, assim como o ignorante (que é apegado aos

resultados) trabalha, assim também (com o mesmo fervor) o sábio deveria

agir, isento de apêgo, desejoso de ajudar a humanidade.

26. Não se deve abalar o entendimento do ignorante que se apega à ação; o

homem de saber pelo exercício firme de ações, deve engajar (o ignorante) em

toda boa ação.

27. Todas as ações são praticadas pelos Gunas, nascidos de Prakriti (natureza).

O que tem o entendimento iludido pelo egoísmo apenas pensa: "Eu sou o

autor."

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28. Mas, ó poderosamente.armado, o Vidente da Verdade, compreendendo as

divisões de Guna e Karma (virtudes, sentidos e ações), e sabendo que só os

sentidos perseguem os objetos sensuais, não ficará iludido nêles.

29. Um homem de perfeita sabedoria não deveria inquietar a gente de

conhecimento reduzido e imperfeito, que se ilude com as qualidades nascidas

da Natureza e é apegada à função dos Gunas (sentidos).

30. Subordinando toda ação a Mim e fixando o espírito no Eu, isento de

esperança(7) e de egoísmo(8), e livre da febre (de pesar), luta, ó Arjuna.

31. Os que praticam constantemente êstes Meus ensinamentos, com

verdadeira fé e devoção e coração resoluto, também êles estão livres (das

grilhões) da ação.

32. Mas os que julgam errada a minha pregação e não a seguem, êsses auto-

iludidos, despojados de todo conhecimento e discriminação, sabem que estão

arruinados.

33. Até um homem sábio age conforme a sua, natureza; os seres seguem a

natureza: que pode fazer a coerção?

34. O apêgo e a aversão dos sentidos são fundados em objeto dos sentidos;

que ninguém caia sob a influência do apêgo e da à versão. Eles são os

inimigos.

35. O nosso dever, ainda que destitui do de mérito, é melhor do que o dever

alheio, bem cumprido. É melhor a morte, no cumprimento do nosso próprio

dever; o dever alheio é cheio de perigo.

Arjuna disse:

36. Mas, ó Descendente de Vrishni (Krishna) , impelido por que poder o

homem comete pecado contra a sua vontade, como se fosse constrangido pela

força?

O Senhor Abençoado disse:

37. É o desejo, é a cólera, nascida de Rajo-Guna (espécie de paixão); conhece-

a como o inimigo nêste mundo(9).

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38. Assim o fogo é envolto pela fumaça, assim como um espelho o é pelo pó,

um embrião pelo útero, assim está êste (o Eu) envolto por aquêle.

39. ó filho de Kunti, a sabedoria é envolta por êste insaciável fogo de desejo, o

inimigo tenaz do sábio.

40. Dizem que a sua sede são os sentidos, o espírito e o intelecto; através dêles

o desejo ilude o ser encarnado envolvendo-lhe a sabedoria.

41. Portanto, ó poderosíssimo da raça Bharata, subjugando em primeiro lugar

os sentidos, mata-o (desejo), o pecador, o destruidor da sabedoria e do

Conhecimento Próprio.

42. Dizem que os sentidos são superiores (ao corpo), que o espírito é superior

aos sentidos e o intelecto é superior ao espírito; e que o superior ao intelecto é

ele (Atman, o Eu) .

43. Ó poderosamente-armado, conhecendo-o assim, ao que é superior ao

intelecto, e subjugando o eu pelo Eu, destrói o inimigo em forma de desejo,

difícil de vencer-se.

Aqui termina o Terceiro Capitulo, chamado Karma-Yoga, ou O Caminho do

Trabalho".

CAPITULO IV

O Senhor Abençoado disse:

1. Expus êste imperecível Yoga a Vivasvan, e Vivasvan o expôs a Manu, e

Manu o ensinou a Ikshvaku.

2. Assim, trazido para baixo numa sucessão regular, os sábios reais o

conheceram. Durante longo tempo êste Yoga ficou perdido neste mundo, ó

Parantapa (Arjuna).

3. este mesmo velho Yoga foi (novamente) hoje revelado a ti por Mim, porque

és meu devoto e meu amigo. este é o supremo segredo.

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Arjuna disse:

4. O teu nascimento foi depois, o nascimento de Vivasvan foi antes do teu.

Como, pois, hei de eu saber que revelaste isto no principio?

O Senhor Abençoado disse:

5. Ó Arjuna, tanto vós como eu temos passado por muitos nascimentos. Eu os

conheço a todos, porém tu não os conheces, ó Parantapa.

6. Embora eu seja não-nato e de natureza imutável, e embora eu seja o Senhor

de todos os seres, ainda assim, governando a minha Prakriti (Natureza) e pelo

meu próprio Maya, assumo a condição de ser.

7. Ó Bharata, sempre que há declinio de virtude e predominância de vicio,

encarno-me.

8. Para a proteção do bom e destruição dos malfeitores e para o

restabelecimento de Dharma (virtude e religião) sou nascido de era em era.

9. Aquêle que assim compreende verdadeiramente meu Divino Nascimento e

minha ação, ó Arjuna; não nasce mais ao deixar o seu corpo, porém Me

alcança e penetra em Mim.

10. Livres de apêgo, de mêdo e de cólera, absorvidos por Mim e em Mim

tendo refúgio, purificados pelo fogo da sabedoria, muitos têm atingido o Meu

Ser.

11. Seja qual for a maneira por que os homens Me adorem, da mesma maneira

Eu satisfaço os seus desejos. Ó Partha, de toda maneira os homens seguem os

Meus passos.

12. Os que desejam sucesso neste mundo adoram os deuses, pois no mundo

humano o êxito é rapidamente alcançado por meio de ações.

13. A casta quádrupla(1) foi por mim criada de acordo com Guna e Karma

(qualidades e ações). Embora eu seja o autor (disto) conhece-me como o-que-

não-faz e o imutável.

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14. As ações não Me poluem, nem tenho qualquer desejo pelos frutos da ação.

Aquêle que assim Me sabe, não está ligado pela ação.

15. Sabendo disto, os antigos pesquisadores executavam ação depois da

libertação. Portanto, executa-a também tu, como fizeram os antigos nos

tempos idos.

16. Até os homens sábios ficam perturbados quando consideram o que é ação

e o que é inação. Portanto, ensinar-te-ei esta ação, cujo conhecimento te

tornará isento de todo mal.

17. Porque, verdadeiramente, a natureza da boa ação deve ser compreendida,

como também a da ação má e a da inação. A natureza de Karma (ação) é, com

efeito, muito difícil de ser compreendida.

18. O que vê inação na ação e ação na inação, é inteligente entre os homens; é

um homem de sabedoria firmada e um verdadeiro executor de todas as

ações.(2)

19. Os sábios chamam sábio àquele cujos empreendimentos estão isentos de

desejo de resultados e de planos, cujas ações são queimadas pelo fogo da

sabedoria.

20. Tendo abandonado o apêgo aos frutos, sempre satisfeito e não dependendo

de ninguém, embora engajado na ação êle nada faz.

21. Sendo isento de ambição, como o Eu controlado, e abandonando todo o

sentido de posse (propriedade), êle fica livre da tentação do pecado pela

simples execução de ação corporal.

22. Contente com tudo quanto venha sem esforço, não incomodado pelos

pares de opostos (prazer e dor, calor e frio) livre de inveja, mantendo o

espírito inalterável ante o êxito e o fracasso, ainda que agindo (êle) não está

sujeito.

23. Aquêle cujo apêgo se foi, que está libertado, cuja alma está bem firmada

na sabedoria, que trabalha somente por sacrifício, todo o seu Karma se funde.

24. Brahman (a Verdade absoluta) é a oferenda, Brahman é a oblação, o fogo

do sacrifício é (outra forma de) Brahman e por Brahman é consumado O

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sacrifício. Assim, praticando ações com a consciência de Brahman, êle

alcança Brahman sozinho.

25. Alguns Yogis oferecem sacrifícios aos Devas, enquanto outros consumam

o sacrifício no fogo de Brahman oferecendo o ser pelo ser, apenas.

26. Alguns oferecem o sentido do ouvido e outros sentidos como uma oblação

no fogo de govêrno; outros, ainda, oferecem som e outros objetos dos sentidos

no fogo dos sentidos.

27. Outros oferecem todas as ações dos sentidos e funções das forças vitais

como oblação no fogo do autodomínio, iluminados pela sabedoria.

28. Alguns oferecem riquezas como sacrifício; alguns, austeridade e Yoga

como sacrifício; outros, ainda, de rígidos votos e autodomínio, oferecem

estudo das Escrituras e sabedoria como sacrifício.

29. Outros, ainda, oferecem como sacrifício, na entrada, o fôlego que vai sair

e, na saída, o fôlego que vai entrar, parando os cursos dos fôlegos que vão sair

e vão entrar; assim praticam constantemente Pranayana(3). Enquanto outros,

regulando a alimentação, oferecem as forças vitais como sacrifício no próprio

Prana.

30-31. Todos os conhecedores de sacrifício, queimando os seus pecados

(impurezas) pela realização do sacrifício e bebendo néctar do que resta do

sacrifício, vão para a eterna Brahman (a Verdade absoluta). Ó, melhor dos

Kurus (Arjuna), se nem mesmo êste mundo é para o que não realiza sacrifício,

muito, muito menos o é o outro (mundo).

32. Todos êstes vários sacrifícios são expostos nos Vedas (a revelação de

Brahman ou Verdade absoluta). Sabe que todos êles são nascidos da ação;

assim sabendo, serás livre.

33. Ó Parantapa (Arjuna), sabedoria-sacrifício é muito superior a sacrifício

feito com objetos materiais. Todo o reino da ação, ó Partha, termina em

sabedoria.

34. Aprende isto pela reverência, pela pesquisa e pelo ser- viço humilde.

Aquêles homens de saber, que apreenderam o sentido da Verdade, te

ensinarão a suprema sabedoria.

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35. Conhecendo-a, ó Pandava, não cairás novamente assim em êrro (ilusão) e

através dela verás todos os seres em (teu) Eu e também em Mim.

36. Ainda que sejas o mais pecador dos pecadores, atravessarás (o oceano do

pecado) na barca da sabedoria.

37. Assim como o fogo ateado reduz a lenha a cinzas, ó Arjuna, assim o fogo

da sabedoria reduz todas as ações (Karma) a cinzas.

38. Com efeito, nada purifica neste mundo como a sabedoria. Em tempo, o

que é aperfeiçoado pelo Yoga a encontra por si mesmo dentro de si mesmo.

39. O homem de (inflexível) fé, que dominou os seus sentidos, alcança a

sabedoria. Tendo ganho sabedoria, atinge imediatamente a paz suprema.

40. O ignorante, o falto de fé, o de espírito hesitante, perecem.. Neste mundo,

nem no seguinte, há qualquer felicidade para o eu que duvida.

41. Ó Dhananjaya, as ações não vinculam aquêle que renunciou à ação pelo

Yoga e cortou a dúvida no meio pela sabedoria e o dono de si mesmo.

42. Portanto, cortando pelo meio com a espada da sabedoria esta dúvida do

Eu, filha da ignorância jazendo no coração, refugia-te em Yoga e ergue-te, ó

Bharata !

Aqui termina o Quarto Capitulo, chamado "Jnana-Yoga, ou Caminho da

Sabedoria"

CAPÍTULO V

Arjuna disse:

1 . Ó Krishna, tu louvas a renúncia à ação e depois novamente a Yoga

(exercício da ação); dize-me com certeza qual dos dois é melhor.

O Senhor Abençoado disse:

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2. Renúncia (à ação) e exercício da ação, ambos conduzem à libertação. Mas,

dos dois, o exercício da ação é superior à renúncia à ação.

3. Conhece-o como perpétuo renunciante (Sannyasi) que não tem anseio nem

aversão, ó poderosamente-armado; sendo livre dos pares de opostos (frio e

calor, prazer e dor, etc.), êle é facilmente libertado de qualquer liame.

4. Somente as crianças (os ignorantes) dizem, não os homens sábios, que

sabedoria e Yoga são diferentes. O que está verdadeiramente firmado num

obtém os frutos do outro.

5. esse lugar que é alcançado pelos Jnanis (homens sábios) tambem é atingido

pelos Karma Yogins (homens de ação). Aquêle que considera uma só coisa

sabedoria e exercício da ação, é um verdadeiro Vidente.

6. Ó poderosamente-armado, é difícil alcançar-se renúncia à ação sem exerci

cio de ação. O homem sábio, sendo devotado a Yoga (ação), em breve atinge

Brahman (a Verdade absoluta) .

7. O que é devotado a Yoga, de espírito purificado, auto-dominado e senhor

dos sentidos, entendo o seu Eu como o Eu de todos os seres; ainda que aja,

não fica manchado.

8-9. O conhecedor da Verdade que se possui a si mesmo pensaria: "Eu não

faço absolutamente nada, ainda que veja, ouça, sinta pelo tato, sinta pelo

olfato, coma, ande, durma, respire, deixe de seguir e contenha, abra e feche os

olhos, firmemente convencido de que só os sentidos se movem por entre

objetos dos sentidos”.

10. O que pratica ações, ofertando-as a Brahman e abandonando todo apêgo,

não é poluído pelo pecado, assim como uma flor de lótus não o é pela água(1).

11. Os Karma Yogins, só para auto-purificação, praticam ações com o corpo,

com o espírito, até com os sentidos, abandonando todo apêgo.

12. O de espírito firme, desprezando o apêgo por todos os frutos da ação,

obtém paz, filha da constância. O hesitante (volúvel) , apegado aos resultados

através do desejo, está sempre subjugado (pela ação).

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13. Pela renúncia a todas as ações mediante o discerni- mento mental, aquêle

que se domina descansa feliz na cidade dos nove portões (o corpo), nem

agindo (êle próprio) nem fazendo (a outrem) agir.

14. O Senhor não criou para o mundo nem a agência (sentido do "Eu"), nem

ações, nem união com o fruto da ação. É a natureza que conduz à ação.

15. O Senhor onipresente não partilha nem dos bem nem dos mal feitos de

ninguém. A sabedoria está sobrepujada pela ignorância, e por isto os mortais

estão ludibriados.

16. Mas, como o sol, aqueles cuja ignorância foi destruída pelo conhecimento

de si mesmos, pelo seu conhecimento do Eu, iluminam o Supremo.

17. Aquêles cujo coração e cujo espírito estão absorvidos naquele (o

Supremo), que são firmemente devotados e Aquele e que olham Aquêle como

a sua meta mais alta, não regredirão nunca mais, porque os seus pecados

(impurezas) foram lavados pela sabedoria.

18. O sábio olha com igual olhar(2) para um Brahmana dotado de saber e

humildade, para uma vaca, um elefante, um cão, um Pariah (comedor de cão).

19. Mesmo aqui (neste mundo) a existência (vida terrena) por aquêles cujo

espírito descansa em igualdade, pois Brahman é sem imperfeição e igual.

Portanto, êles moram em Brahman.

20. O de espírito firme, esclarecido conhecedor de Brahman, sendo bem

firmado em Brahman, nem se rejubila em receber o agradavel nem se

entristece em receber o desagradável.

21. Aquêle cujo coração é desapegado aos contactos exteriores (dos sentidos)

avalia a ventura que reside no Eu; unido a Brahman pela meditação, alcança a

felicidade eterna.

22. Os prazeres que nascem do contacto (com objetos dos sentidos) são

sempre geradores de desdita. Ó filho de Kunti, neles o sábio não procura

prazer.

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23. Aquêle que pode deter o impulso de lascivia e de cólera ainda aqui (nesta

vida), antes de estar separado do corpo, é firme e verdadeiramente um homem

feliz.

24. O que tem a alegria. dentro de si, o prazer dentro de si, e a luz dentro de si,

tal Yogi, por ser bem firmado em Brahman, atinge a liberdade absoluta.

25. Os Rishis (Videntes da Verdade), que se dominam, e que estão lavados de

suas impurezas, e cujas dúvidas estão destruídas, e que se ocupam em fazer o

bem a todos os seres, alcançam a libertação suprema.

26. Para os Sannyasins, que são isentos da luxúria e de cólera, que possuem

corações bem dominados e o Eu bem compreendido, para êles a liberdade

absoluta existe, aqui e depois daqui.

27-28. Isolando-se do contacto externo com os objetos dos sentidos, os olhos

fixos entre as sobrancelhas(3), e tornando iguais as correntes de Prana (entrada

do ar) e Apana (saída do ar) nas narinas, o homem que medita, havendo

dominado os sentidos, o espírito e o intelecto, estando isento de desejo, de

mêdo e de cólera, e considerando a liberdade a sua finalidade suprema, está

livre para sempre.

29. Reconhecendo em Mim o que recebe e o que distribui Yajna (sacrifício) e

austeridade, o Senhor Supremo do Universo e o AInigo de todos os seres, o

que medita alcança a paz.

Aqui termina o Quinto Capítulo, chamado "Sannyasa-Yoga, ou O Caminho da

Renúncia"

CAPÍTULO VI

O Senhor Abençoado disse:

1. Aquêle que cumpre o seu dever sem depender dos frutos da ação, é um

Sannyasi (um verdadeiro renunciante), e um Yogi (um verdadeiro

trabalhador), mas aquele que não possui chama de sacrifício a ação.

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2. Ó Pandava, sabe que o que é chamado Sannyasa (renúncia) é também Yoga

(real desempenho de ação), pois ninguém se pode tornar um Yogi sem deixar

de fantasiar sôbre os frutos da ação.

3. Para o meditativo empenhado em alcançar Yoga, diz-se que a ação constitui

os meios; para o mesmo homem, quando êle já alcançou Yoga, diz-se que a

inação constitui os meios.

4. Aquele que não é apegado aos objetos dos sentidos e às ações, e abandonou

todas as fantasias sôbre os frutos da ação, é considerado como tendo atingido

Yoga.

5. Que um homem se erga pelo seu Eu, que êle nunca se abaixe; porque só êle

é amigo de si mesmo e só: êle é inimigo de si mesmo.

6. O que se conquistou pelo Eu, é amigo de si mesmo; mas aquele cujo Eu não

está conquistado, tem nesse Eu um adversário que age como um inimigo

externo.

7. O Supremo Eu do que possui espírito sereno e se domina está sempre isento

das perturbações do calor e do frio, do prazer e da dor, tão bem na honra como

na desonra.

8. O que se satisfaz com saber e visão direta da Verdade, o que dominou os

sentidos e está sempre isento de perturbação, e para quem um punhado de

terra, uma pedra e ouro são a mesma coisa, é Yogi e chamado Yukta (um

santo de sólida sabedoria).

9. É estimado aquêle que com igual olhar olha bem intencionado, amigos,

inimigos, neutros, um mediador, o odiento, os parentes, o direito e o iníquo.

10. Um Yogi(1) deve praticar constantemente concentração do coração, ficar

em reclusão sozinho submetendo o corpo e o espírito e se tornando isento de

aspiração ou posse (sentido de propriedade).

11. Tendo estabelecido sua sede firmemente num lugar limpo, nem muito alto

nem muito baixo, com uma roupa, pele e erva Kusha, colocada uma sobre a

outra;

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12. Sentando-se ali, dirigindo o espírito num rumo único e subjugando as

atividades do espírito e dos sentidos, deixa que êle pratique Yoga para se

purificar.

13. Deixa que êle mantenha o corpo, a cabeça e o pescoço erectos e imóveis,

fixando o olhar na ponta do nariz, não olhando em torno.(2)

14. De coração sereno e sem temor, sempre firme no voto de Brahmacharya(3)

e controlando o espírito, deixa que êle ali fique firmemente absorvido em

pensamentos em Mim, a Mim considerando o seu objetivo supremo.

15. Assim, sempre se conservando firme, o Yogi de espírito dominado alcança

paz eterna e liberdade, que moram em Mim.

16. Mas, ó Arjuna, (a prática do) Yoga não é para o que come em excesso ou

não come coisa alguma, nem para o que dorme em excesso ou permanece

acordado (em excesso).

17. Para o que é moderado em comer e recrear-se, moderado nos seus esforços

de trabalho, moderado no sono e na vigília (a sua prática de) Yoga se torna

uma força destruidora de toda infelicidade.

18. Quando o espírito, completamente dominado, descansa no Eu somente,

,livre de ambição por todos os objetos do desejo, então se diz que o homem é

um Yukta (firmemente estabelecido no conhecimento do Eu) .

19. Uma lâmpada colocada em lugar onde não venta, não vacila. A mesma

comparação é usada para definir o Yogi de espírito dominado, praticando a

união com o Eu.

20. Em tal estado, quando o espírito está completamente dominado pela

prática do Yoga e alcançou a serenidade, em tal estado, vendo o Eu pelo eu,

êle está satisfeito no Eu isolado.

21. Em tal estado, transcendendo dos sentidos, êle (o Yogi) sente essa infinita

ventura que é experimentada pela com- preensão purificada; disto sabendo e

nisto firmado, nunca decai do seu verdadeiro estado (de conhecimento do seu

Eu);

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22. Depois de cuja obtenção nenhum outro ganho parece maior; estando nêle

estabelecido, o Yogi não sucumbe nem a grande tristeza.

23. Conhece este (estado) de separação do contacto com a dor como Yoga.

Este Yoga deve ser praticado com perseverança e coração forte.

24. Abandonando sem reservas todos os desejos nascidos das fantasias

mentais e refreando completamente pelo espírito todo o grupo de sentidos de

várias direções.

25. Com a compreensão ajudada pela firmeza e o espírito estabelecido no Eu,

deixa que êle (assim) atinja gradualmente a tranqüilidade; deixa que êle não

pense em nada mais.

26. Por onde quer que o espírito inquieto e volúvel possa vaguear, deixa que

êle o arranque de lá e o traga ao controle do Eu somente.

27. A um Yogi cujas paixões estão amainadas e cujo espirito esta

perfeitamente tranqüilo, e que se tornou um com Brahman, livrando-se de

todas as impurezas, a um Yogi assim vem a felicidade suprema.

28. Assim conservando o espírito constantemente firme, o Yogi, cujas

impurezas são banidas, facilmente atinge a ventura infinita, nascida do

contacto com Brahman.

29. Aquêle cujo coração está. firmemente empenhado em Yoga, olha para toda

parte com os olhos da igualdade, vendo o Eu em todos os seres e todos os

seres no Eu.

30. Para o que Me vê em tudo e em tudo Me vê, Eu não desapareço, nem êle

desaparece para Mim.

31. O Yogi que estando estabelecido em unidade adora-me como existindo em

todos os seres, o Yogi assim, como quer que more, mora em Mim.

32. Ó Arjuna, o Yogi que encara o prazer e a dor em toda parte como os

encara quando êles lhe são aplicados, é um Yogi altamente considerado.

Arjuna disse:

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33. Ó Destruidor de Mandhu (Krishna), não vejo para êste Yoga por Ti

proclamado possibilidade de existência duradoura. devido à inquietação do

espírito.

34. Ó Krishna, o espírito é inquieto, turbulento, forte e insubmisso; creio que

subjugá-lo é tão difícil como dominar o vento.

O Senhor Abençoado disse:

35. Sem dúvida, ó poderosamente-armado, o espírito é in- quieto e de difícil

controle; mas, ó filho de Kunti, através da prática e da renúncia êle pode ser

submetido.

36. O Yoga é difícil de atingir para aquêle que tem o seu indisciplinado: tal a

minha convicção; mas aquêle que se domina pode atingi-lo seguindo os meios

próprios.

Arjuna disse:

37. Ó Krishna, aquêle que, ainda que possuído de fé, falha em contrôle, e cujo

espírito vagueia por longe de Yoga, que fim encontra êle, deixando de

alcançar a perfeição?

38. Ó poderosamente-armado (Krishna), êle não parece como uma nuvem

rôta, cai do de ambos (daqui e depois daqui). confuso no caminho de Brahman

(Verdade) ?

39. Ó Krishna, Tu deves desfazer esta minha dúvida, porque ninguém senão

Tu é capaz de destruir esta dúvida.

O Senhor Abençoado disse:

40. Ó Partha, não há destruição para êle nem aqui nem depois daqui, porque o

benfazejo (devoto), ó Amado, jamais chega a um mau fim.

41. O que decai do Yoga, depois de ter atingido as regiões dos justos e morado

lá por tempo ilimitado, reencarna-se na casa do puro e próspero.

42. Ou então nasce na família de sábios Yogis; mas tal nascimento é de muito

rara obtenção neste mundo.

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43. Ó descendente de Kuru, lá (naquela encarnação) êle ganha o conhecimento

adquirido na encarnação anterior, e luta ainda mais (ardentemente) do que

antes pela perfeição.

44. Ele é irresistivelmente guiado pela prática anterior (de Yoga). Até o

pesquisador de Yoga vai além da carta-Brahman(4).

45. Mas o Yogi, lutando com perseverança, purificado de todo pecado,

aperfeiçoado através de muitos nascimentos, alcança a meta suprema.

46. O Yogi é superior ao asceta, e superior aos que alcançaram a sabedoria por

meio de livros; êle é também superior aos que desempenham ação (de acôrdo

com as Escrituras). Portanto, ó Arjuna, sê um Yogi.

47. E, entre todos os Yogis para Mim o mais alto é aquêle que, com o seu eu

mais recôndito absorvido em Mim, Me adora com (inflexível) fé.

Aqui termina o Capitulo Sexto, chamado "Dhyana-Yoga, ou O Caminho da

meditação"

CAPÍTULO VII

O Bem-aventurado Senhor disse:

1. Ó Partha, praticando o Yoga, com teu espírito em Mim fixo e procurando

refúgio em Mim, ouvirás verdadeiramente de que modo tu hás de me conhecer

sem duvidar.

2. Revelar-te-ei sem reservas êsse conhecimento (teoria) e sabedoria (prática)

e tendo-o obtido sentirás que nada mais aqui (neste mundo) ficará por saber.

3. No meio de milhares de seres humanos dificilmente se encontra um que se

esforce em busca da perfeição; e no meio (de milhares de) homens sinceros

que se esforçam pela perfeição dificilmente um Me conhece de verdade.

4. São oito os elementos em que está dividida minha Prakriti (Natureza): terra,

água, fogo, ar, éter, espírito, intelecto e egoísmo.

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5. Essa Prakriti é inferior; mas diferente dela, sabe, ó poderosamente armado,

que minha Prakriti superior, na forma de ciência-de-vida, serve de apoio a êste

universo.

6. Sabe que todos os seres são gerados dessas duas (prakritis). Eu sou a origem

e também a dissolução do universo inteiro.

7. Ó Dhananjava (Arjuna) , não há nada (existente) superior a mim. Tal como

pérolas num fio, todo êste (universo) está enfiado em Mim.

8. Ó filho de Kunti, eu sou o sabor das águas e o brilho do sol e da lua, eu sou

Om(1) em todos os Vedas, sou som em Akasha (éter), sou consciência da

humanidade.

9. Eu sou o perfume sagrado da terra e o esplendor do fogo; eu sou a vida de

todos os seres e a austeridade dos ascetas.

10. Conhece-Me, ó Partha, como o gérmen eterno de todos os seres. Eu sou o

intelecto do inteligente e a valentia dos poderosos.

11. Ó poderoso da raça Bharata, do forte sou a força, despida de desejo e

apêgo; eu sou (também) desejo em todos os seres, sem oposição a Dharma

(dever espiritual) .

12. Sejam quais forem as condições pertencentes aos estados de Sattwa

(predicado de bondade) , Rajas (paixão), Tamas (ignorância, inércia)

reconhece-as todas como procedentes de Mim. Não estou neles porém êles

estão em Mim.

13. Iludidos por êsses estados, compostos dos três Gunas (predicados), êste

mundo inteiro não Me conhece, a Mim que estou além dêsses predicados e sou

imutável.

14. De fato êste meu divino Maya (mistério que engana) composto de Gunas,

é difícil de transpor; só aquêles que em Mim se refugiam, transpõem êste

Maya.

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15. Os iludidos, os malfeitores, os homens mais ínfimos, privados de

compreensão por Maya e seguindo tendências demoníacas, êsses não

conseguem atingir-me.

16. Ó Príncipe da raça Bharata, ó Arjuna, quatro espécies de homens virtuosos

Me adoram: os mortificados, os que pro-. curam o saber, os que procuram a

prosperidade material e os sábios.

17. Entre êsses, o sábio, sempre firme, devotado ao único (a Mim), é o que

sobrepuja pois sou supremamente caro ao sábio e êle Me é caro.

18. Todos êles são nobres, mas considero o sábio como meu próprio Eu; pois,

com alma sempre firme, pôs seus olhos só em Mim como sua meta suprema.

19. No fim de vários nascimentos, o homem sábio entra em Mim vendo que

tudo isto está (preenchido por) um único Eu. Um homem de alma tão grande é

muito difícil de encontrar.

20. Aquêles cujo discernimento é perturbado por diversos desejos, adoram

outras deidades ao observar vários outros ritos (com a esperança de obter

prazer, poder, etc.) sendo impelidos pela sua própria natureza.

21. Qualquer devoto que procure adorar qualquer (Divina) forma com fé, eu

faço com que sua fé não vacile.

22. Possuindo essa fé, êle se empenha na adoração (dessa deidade); e daí

obtém os resultados ambicionados, que são concedidos só por Mim.

23. Mas o fruto (adquirido) por êsses homens de compreensão curta é pequeno

e de pouca duração. Os adoradores dos Devas (dos que brilham) procuram

Devas; porém os meus crentes vêem a Mim.

24. Os ignorantes, não conhecendo meu estado Eterno, Imutável e Supremo,

consideram-Me como a vinda sem manifestação para a revelação.

25. Eu não sou revelado a todos, sendo oculto por Yoga-Maya(2). esse mundo

iludido não Me conhece, a Mim, o Não-nascido e o Imutável.

26. Ó Arjuna, eu conheço o passado, o presente e o futuro de todos os seres,

mas ninguém Me conhece.

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27. Ó Bharata, terror de teus inimigos, todos os seres ao nascerem caem na

ilusão, causada por adversários aos pares, Burgindo do desejo e da aversão.

28. Porém aquêles homens de virtuosas façanhas, cujo pecado terminou, livres

da ilusão de adversários aos pares, adoram-Me com firme resolução.

29. Aquêles que, tendo se refugiado em Mim, esforçam-se por atingir a

liberdade escapando à velhice e à morte, êsses conhecem Brahman, todo o Eu

individual e o reino inteiro de Karma (ação).

30. Os que Me conhecem no reino físico, no reino Divino- e no reino do

sacrifício, sendo firmes de coração, conhecem-Me até mesmo na hora da

morte.

Aqui termina o Sétimo Capitulo, chamado "Jnana-Vijnana-Yoga, ou O

Caminho da Sabedoria e da Realização"

CAPÍTULO VIII

Arjuna disse:

1. Ó Melhor dos Seres (Krishna), o que é Brahman, o que é Adhyatma (alma

corporificada) e o que é Karma? O que é reino físico (Adhibhutã) e o que é

chamado reino Divino (Adhidaiva)?

2. Ó Destruidor de Mandhu, como e quem mora neste corpo como Adhiyajna

(deidade do sacrifício); e como és Tu reconhecido na hora da morte pelos que

se dominam a si próprios?

O Bem-aventurado Senhor disse:

3. O Ser Supremo e Imperecível é Brahman, sua manifestação como alma

corporificada é chamada Adhyatman. O sacrifício prescrito, que dá causa à

criação e apoio dos seres, é chamado Karma.

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4 – 6. ó melhor dos corporificados (Arjuna), a eXistência mortal é chamada

Ahibhuta (física); o Eu Supremo é a Adhidaivata (Espírito Universal). Eu sou

a Adhiyajna (a deidade que preside ao sacrifício) no corpo.

5. Aquêle que, na hora da morte, pensando em Mim somente, sai à luz,

deixando o corpo, êsse alcança o meu Ser. Não há dúvida nessa afirmativa.

6. Ó filho de Kunti, qualquer que seja o estado (ou ser) que alguém conserve

no fim, na hora de deixar o corpo; isso sozinho êle atinge, devido ao

pensamento constante daquele estado ou ser.

7. Por conseguinte, em todas as épocas, pensa em Mim e luta. Tendo oferecido

teu espírito e teu intelecto a Mim, tu entrarás, sem nenhuma dúvida em Mim!

8. Ó filho de Pritha, por meio de uma; constante prática de meditação com

espírito que não vacila (sem transportar-se para parte alguma) e o pensamento

constante no Ser Supremo e Divino, pode-se chegar até Ele.

9. Aquêle que pensa sôbre o Onisciente, o Antigo, o que Rege, o mais

minucioso dos meticulosos, o Apoio de todos, cuja forma é inconcebível,

resplandecente como o sol, e além das trevas (da ignorância);

10. (Aquêle que assim sobre ele medita) na hora da morte,. com espírito que

não tergiversa, cheio de devoção, fixando em pleno O Prana (hálito da vida)

entre as sobrancelhas pelo poder de Yoga, êsse atinge O Divino Ser Supremo.

11. Aquilo que os que conhecem Veda (Verdade, Sabedoria) citam como

imperecível, aquilo em que os Sannyasins(1) sem apêgo penetram, pelo anseio

do qual praticam Brahmacharya(2), aquêle estado Eu manifestarei em ti em

breve.

12. Abstraindo-se de todos os sentidos, pondo à mente no coração e fixando o

Prana na cabeça (entre as sobrancelhas) assim se empenha na prática da

concentração (Yoga);

13. Pronunciando o monossílabo "Om", (o som) Brahman, e em Mim

meditando, aquêle que parte, ao deixar o corpo, atinge a meta suprema.

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14. Aquêle que não tem outro pensamento (senão em Mim), que se lembra de

Mim diária e constantemente; ó Partha, eu sou facilmente alcançado por êsse

sempre devotado Yogi.

15. Os de alma grande, tendo chegado a Mim, não sofrem outro nascimento,

morada sempre diferente de miséria, pois êles atingiram a mais alta perfeição.

16. Ó Arjuna, todos os mundos, desde a morada de Brama até êste mundo,

estão sujeitos à volta; mas, ó filho de Kunti, após ter-Me atingido não há outro

nascimento.

17. Aquêles que sabem que o dia de Brama termina em mil Yugas (eras) e sua

noite em mil Yugas, êsses são os verdadeiros conhecedores da noite e do dia.

18. Ao aproximar-se o dia (de Brama), toda.s as manifestações provêm da

parte do Não-revelado, e ao aproximar-se a noite, mergulham no que é

chamado o Não-manifestante.(3)

19. Ó Partha, a multidão de seres, que volta a nascer repetidas vezes,

irremediavelmente mergulha no (Não-revelado) ao aproximar-se a noite e

novamente tornam a manifestar-se ao aproximar-se o dia.

20. Mas além dêsse Não-revelado, há um outro irrevelado, que é eternamente

existente e não é destruído mesmo quando todos os seres são aniquilados.

21. Aquilo que tem sido descrito Como Não-revelado e Imperecível é

chamado à Meta Suprema, e após atingi-Ia não há volta (outro nascimento).

Eis minha Morada Suprema.

22. Ó filho de Pritha, aquêle Eu Supremo, no qual todos os seres moram e que

é a essência de tudo, pode ser alcançado pelos de coração intacto e pela

devoção exclusiva a ele.

23. Ó Príncipe da raça Bharata, agora revelar-te-ei em que tempo, ao partir,

(abandonando o corpo) os Yogis voltam (nascem outra vez), e também o

tempo em que, ao partir, êles não voltam.

24. Fogo, luz, dia, quinze noites brilhantes (lua crescente), os seis meses do

curso norte do sol, partindo em tal época, os que conhecem Brahman vão para

Brahman.

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25. Fumo, noite, quinze noites escuras (lua minguante), os seis meses do curso

sul do sol, o Yogi que partir em tal época e receber a luz da lua, voltará.

26 . Esses dois são considerados como caminhos eternos do mundo, o claro e

o escuro, (caminho do saber e caminho da ignorância). Por um, (o homem)

chega a não voltar (liberdade); pelo outro, êle torna a voltar.

27. Ó filho de Pritha, por meio do conhecimento dêsses (dois) caminhos, os

Yogis nunca se enganam. Por conseguinte, ó Arjuna, em todos os tempos

apega-te firmemente a Yoga.

28. Quaisquer que sejam os frutos das boas ações prometidos no estudo dos

Vedas, nos sacrifícios, na prática das austeridades, em dádivas caridosas, o

Yogi, tendo-os conhecido e elevando-se acima disso tudo, atinge a Suprema

Morada primordial.

Aqui termina o Oitavo Capitulo, chamado “Akshara-Brama-Yoga, ou O

Caminho do Brahman imperecível"

CAPÍTULO IX

Bem-aventurado Senhor disse:

1. (Agora) confiar-te-ei, a ti que não tens maus pensamentos, êste grande

segrêdo, sabedoria juntamente com realização, ciente do qual, tu estarás livre

do mal.

2 . Este é o rei das ciências, o rei dos mistérios, o supremo purificador; é

obtido pela percepção direta e é dotado de retidão, facilmente cumprida e

imperecível.

3. Ó Parantapa (Arjuna), os homens que não têm fé neste Dharma (ciência de

autoconhecimento) , sem Me atingirem, voltam ao caminho da morte e de

outro nascimento.

4. Todo êste mundo tem a essência de Minha Forma irrevelada; todos os seres

em Mim habitam, porém Eu não habito nêles.

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5. Presta atenção a Meu Divino Yoga! Os seres não habitam em Mim; embora

o Criador e Apoio de todos os seres, ainda assim Meu Eu não habita neles.

6. Assim como o ar, amplo e sempre se movendo por toda a parte, existe em

Akasha (espaço e éter), mesmo assim, sabe tu, todos os seres em Mim

existem,

7. Ó filho de Kunti, todos os seres, no fim de um ciclo, voltam à minha

Prakriti (Natureza); novamente, ao começar um ciclo, Eu os mando para

diante.

8. Dominando Minha Prakriti, Eu mando para diante, repetidas vezes, essa

enorme multidão de seres, que são irremediavelmente impelidos pela

Natureza.

9. O conquistador de opulências (Arjuna) , êsses atos (de criação e dissolução)

não Me embaraçam, que me mantenho como se êles não me dissessem

respeito e não tivessem ligação alguma comigo.

10. Ó filho de Kunti, tendo-Me como a Deidade que preside, Prakriti

(Natureza) impele as coisas moveis e as imóveis. É por essa razão que as

rodas do mundo giram e giram.

11. Tolos, inconscientes de Meu estado Supremo, como o Grão-Senhor dos

seres, não Me consideram como tomando forma humana.

12. Eles são feitos de esperanças vãs, ações inúteis, saber vão, e insensíveis,

possui dos pela natureza enganosa de Rakshasas (impuros, cheios de paixões e

criaturas sem deus) e Asuras (criaturas de trevas e de ignorância).

13. Mas, ó filho de Kunti, os que têm a alma grande, possuindo a Natureza

Divina, conhecendo-Me como Imutavel e como a Fonte dos seres, adoram-Me

com devoção única e devotada.

14. Até mesmo entoando Minha glória e esforçando-se com votos sinceros,

curvando-se ante Mim com devoção, (êles) perpetuamente adoram-Me.

15. Outros ainda, cumprindo o sacrifício da sabedoria, adoram-Me, o Que-

Tudo-Enfeita, como único, como isolado, ou em diferentes formas.

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16. Eu sou Kratu(1), eu sou Yajna(2), eu sou Svadha(3), eu sou ervas

medicinais, eu sou Mantra(4) eu Sou oblação, sou o fogo e sou o ato de

sacrifício.

17. Eu sou o Pai do universo, sou a Mãe, o Apoio o Grão- Senhor, o Único a

ser conhecido, o Purificador, Om (Som Brahman), Rik, Saman e Yajur(5).

18. (Eu sou) a Estrada, o Apoio, o Senhor, a Prova, a Morada, o Refúgio, o

Amigo, a Origem, a Dissolução; o Lugar-de-Repouso, o Celeiro e a Semente

Eterna.

19. Ó Arjuna, eu dou o calor, eu mando a chuva e a retenho; sou a

Imortalidade e também a Morte. Sou ser e não-ser (o revelado e o irrevelado).

20. Os que conhecem os três Vedas(6), tendo-Me rendido com sacrifício,

tendo bebido o Soma(7) e assim estando purificados de pecado, rezam para

obter a meta do céu; êles, tendo chegado à região do que rege Devas, gozam

nos céus os prazeres celestiais do Devas.

21. Tendo gozado aquêle amplo mundo celestial, êles, na exaustão do mérito

(de suas boas ações) entram novamente no mundo mortal; assim seguindo a

religião dos três Vedas, ansiando por objetos de desejo, ficam partindo e

voltando (nascimento e renascimento).

22. Os que Me adoram e em Mim meditam sem qualquer outro pensamento, a

êsses devotos sempre firmes eu prometo segurança e supro todas as suas

necessidades (carrego Seus fardos).

23. Ó filho de Kunti, mesmo aquêles devotos que adoram outros deuses com

fé, êsses também Me adoram a Mim, mas contrários à lei.

24. Pois eu só sou O Senhor; mas êles não Me conhecem na verdade, donde

têm que voltar (recaem noutro nascimento).

25. Os que adoram os deuses vão para os deuses; para os ancestrais vão-os que

rendem culto aos ancestrais; os que adoram espíritos vão para os espíritos;

mas Meus adoradores vêm a Mim.

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26. Aquêle que, com devoção, Me oferece uma folha, uma flor, um fruto e

água, aceito essa oferenda de amor, desde que feita com coração puro.

27. Seja o que fôr que fizeres, seja o que fôr que comeres, seja o que for que

ofereceres como oblação, seja o que fôr que deres e as austeridades que

cumprires, ó filho de Kunti, faze-o como uma oferenda a Mim.

28. Assim estarás livre dos grilhões de ação que prôduzem os bons e os maus

frutos; e estando firmemente empenhada nessa devoção de renúncia; tua alma

libertada far-te-á vires a Mim.

29. Eu sou o mesmo para todos os seres; odiados ou queridos não há nenhum

para Mim. Mas os que Me adoram com devoção, êsses estão em Mim e eu

estou nêles.

30. Ainda que seja o mais perverso que Me adore com devoção sincera, êle

será considerado bom, pois está perfeitamente convertido.

31. Muito breve êle se torna uma alma reta e atinge a paz eterna. Sabe tu, ó

filho de Kunti, que meus devotos jamais perecem.

32. ó Partha, mesmo os que são de nascimento inferior - mulheres, Vaishyas

(classe dos mercadores) e Sudras (classe dos servos) - mesmo êles, ao se

refugiarem em Mim, atingem a Meta Suprema.

33 . Qual a necessidade, pois, de falar dos santos Brahmanas e dos Sábios

reais!(8) Tendo entrado neste mundo transitório e sem alegrias, deves adorar-

Me.

34. Enche tua mente coMigo, sê Meu devoto, adora-Me e curva-te a Mim;

assim, firmemente unindo teu coração a Mim somente e considerando-Me

como tua Suprema Meta, tu entrarás em Mim.

Aqui termina o Nono Capitulo, chamado "O Caminho da Ciência Real e do

Mistério Real"

CAPÍTULO X

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O Bem-aventurado Senhor disse:

1. Ó poderosamente armado, novamente ouvirás Meu Verbo Supremo, que eu,

desejando teu bem-estar, desvendo a ti que -rejubilas (em ouvir-Me).

2 . Todos os Devas não conhecem minha origem, tão pouco a conhecem os

grandes Rishis (Videntes); pois eu sou a Origem de todos os Devas e dos

grandes Rishis.

3. Aquêle que Me conhece como sem-nascimento e sem início, como o Senhor

Supremo do universo, êle no meio dos mortais não vive enganado e está livre

de todos os pecados.

4. Inteligência, sabedoria, sinceridade, clemência, verdade, contrôle de

paixões, serenidade de coração, prazer e dor, nascimento e morte, mêdo e

coragem.

5. Não injuriar, equanimidade, satisfação, austeridade, benevolência, fama e

infâmia; êsses diferentes estados só de Mim -decorrem.

6. Os sete grandes Rishis, os quatro mais velhos(1) assim como Manus,

nasceram de Meu espírito e são dotados com Minha natureza, da qual (são

geradas) todas essas criaturas no mundo.

7. Aquêle que compreende na realidade essas Minhas várias manifestações e

Meu poder Yoga, êsse se torna um Yoga inabalável e com boa base. Não há

dúvida nessa afirmativa.

8. Eu sou a Origem de tudo, tudo tem seu principio em Mim. Sabendo disso,

os sábios adoram-Me com êxtase amoroso.

9. Com os corações em Mim fixos, com suas vidas em Mim absorvidas,

mutuamente instruindo-se (uns aos outros) e perpetuamente cantando Minha

glória, êles estão satisfeitos e alegres.

10. A êsses adoradores constantes e amorosos eu dou aquêle Yoga de

sabedoria pelo qual êles vêm a Mim.

11. Além de pura compaixão por êles, eu, habitando em seus corações, destruo

as trevas provenientes da ignorância com a luz deslumbrante da sabedoria.

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Arjuna disse:

12-13. Tu és o Brahman Supremo, o Supremo Lar e a Pureza Suprema. Todos

os Rishis (Sábios), o divino sábio Narada, bem como Asita, Devala e Vyasa,

declararam que Tu és o Ser Eterno e que irradias luz deslumbrante, és a

Deidade Primeva, sem nascimento e que em tudo penetra; e Tu em pessoa te

declaraste a mim do mesmo modo.

14. ó Keshava (Krishna), eu considero tudo o que Tu me disseste como

verdade. ó Bem-aventurado Senhor, nem Devas nem Danavas (semi-deuses)

conhecem Tuas manifestações.

15. ó Supremo Ser, ó Origem dos Seres, ó Senhor dos seres- ó Deus dos

deuses, ó Regente do universo, Tu em pessoa, só Tu Te conheces a Ti por Ti

mesmo.

16. (ó Senhor), Tu deves falar-me, sem reserva, sôbre Tuas manifestações

Divinas, Tu que por Teus atributos Divinos habitas todos os mundos.

17. ó Yogin (Krishna), como por meio de uma meditação. constante em Ti eu

hei de conhecer-Te? Ó Bem-aventurado Senhor, sob que aspectos devo pensar

em Ti?

18. Ó Janardana (Krishna), conta-me novamente em detalhes quais Teus

poderes Yoga e Teus atributos Divinos, pois. eu nunca me sacio de ouvir Tuas

palavras feitas de néctar.

O Bem-aventurado Senhor disse:

19. Ó melhor dos Kurus, explicar-te-ei Meus principais: atributos Divinos,

pois não há fim para a vastidão de Minhas. manifestações.

20. Ó Gudakesha (Arjuna), eu sou o Eu existente no coração de todos os seres.

Eu sou o comêço, o meio e também o fim dos seres.

21. Eu sou Vishnu dos Adityas, dos corpos luminosos eu sou o Sol radiante,

entre os ventos eu sou Marichi, entre as constelações eu sou a Lua.

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22. Dos Vedas eu sou Sarna-Veda, e dos Devas eu sou Vasava (Indra) . Dos

sentidos eu sou o espírito eu sou a consciência de todos os sêres vivos.

23. Dos Rudras eu sou Sankara; eu sou o Senhor das opulências dos Yakshas e

Rakshasas; dos Vasus eu sou o deus-Fogo; eu sou Meru entre as montanhas.

24. ó Partha, conhece-Me como Brihaspati, o sumo sacerdote; dos generais,

sou Skanda; entre as águas eu sou o oceano.

25. Eu sou Bhrigu entre os grandes Rishis; entre as palavras sou o

monossílabo "Om". Dos Yajnas (sacrifícios) sou Japa(2); das coisas que não

se movem eu sou o Himalaia.

26. Eu sou Aswattha entre todas as árvores; entre os divinos Rishis eu sou

Narada, Eu sou Chitraratha dos Gandharvas(3); eu sou o sábio Kapila(4) entre

os sábios perfeitos.

27. Entre os cavalos, reconhece-Me como Uchchaisrava, nascido no néctar; e

dos aristocráticos elefantes como Airavata, e entre homens como Monarca.

28. No meio das coisas que ferem eu sou o Raio; entre as. vacas eu sou

Kamadhuk. Eu sou Kandarpa, a causa da geração; e das serpentes eu sou

Vasuki.

29. Eu sou Ananta entre as cobras; eu sou Varuna entre os seres aquáticos; sou

Aryama entre os ancestrais e sou Yama entre os que governam.

30. Eu.sou Prahlada entre os Daityas; entre as medidas, o Tempo; entre as

bestas selvagens eu sou O senhor das selvas (leão); entre os pássaros eu sou

Vainateya.

31. Entre os purificadores, eu sou o vento; entre os guerreiros e.u sou Rama;

entre os peixes, sou Makara (tubarão); e entre os rios, eu sou o Ganges.

32. Ó Arjuna, de todas as criações eu sou o começo, o meio e também o fim;

de todas as ciências, eu sou a renuncia do auto-conhecimento; entre os que

disputam, eu sou Vada(5).

33. Das silabas, eu sou "A" e Dvandva(6) de todas as palavras compostas, Eu

sou o Tempo eu sou o Distribuidor (de frutos de ação), e estou por toda parte.

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34. Eu sou a Morte que nada poupa; eu sou a origem de tudo o que está para

existir; eu sou a fama, a prosperidade, a fala, a memória, a inteligência, a

constância e o perdão.

35, Eu sou Brihat-saman dos hinos védicos; eu sou Gayatri da métrica(7), Dos

meses eu sou Margashirsha e das estações do ano sou a que dá flores.

36. Eu sou o jogo entre os fraudulentos; eu sou a valentia do poderoso. Eu sou

a Vitória, sou a Perseverança, eu sou a Bondade dos bons.

37. Dos Vrishis eu sou Vasudeva; entre os Pandavas eu sou Dhananjaya; entre

os santos sou Vyasa e entre os sábios sou Ushana.

38. Eu sou a Vara dos disciplinares; eu sou a Constituição Política dos que

andam atrás de conquistas. Eu sou o Silêncio dos segredos; eu sou a Sabedoria

dos sábios.

39. Ó Arjuna, qualquer que seja a semente de todos os seres, isso também sou

eu. Sem Mim não há nenhum ser vivo, seja dos, que se movem ou dos que não

se movem.

40. Ó Parantapa, não há fim às manifestações de Meu Poder Divino; o que eu

declarei é somente uma afirmativa parcial da vastidão de minha manifestação

Divina.

41. Qualquer que. seja o ser existente, glorioso, próspero ou poderoso, sabe

que surgiu de uma porção de Meu esplendor.

42. Ó Arjuna, que necessidade tens de saber êsses detalhes? Eu, só eu existo,

sustentando o universo inteiro com uma porção de Meu Eu.

Aqui termina o Décimo Capítulo, chamado "Vibhuti-Yoga, ou O Caminho da

Manifestação Divina"

CAPÍTULO XI

Arjuna disse:

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1. As palavras supremamente profundas sobre o auto-conhecimento,

pronunciadas por Ti, por compaixão por mim, dissiparam minha ilusão.

2. Ó Olhos-de-Lotus (Krishna), ouvi finalmente Tua palavras sobre a criação e

dissolução dos sêres; bem como dê Tua inexaurivel glória.

3. Ó Grande Senhor, assim como Te declaraste ser, assim és. Ó Ser Supremo,

desejo ver Tua Forma Divina.

4. Ó Senhor, se Tu me julgas capaz (digno) de ver isso (Forma), então, ó

Senhor dos Yogis, mostra-me. Teu Ser Infinito .

O Bem-aventurado Senhor disse:

5. Vê, ó Partha, Minhas várias Formas. celestiais, de cores diferentes e de

feitios diversos, às centenas e aos milhares.

6. Ó descendente de Bharata, vê o Aditya; o Ruqras, o Vasus, os gêmeos

Asvins e os Maruts(1). Vê muitas maravilhas que não foram vistas antes.

7. ó Gudakesha (Arjuna), vê neste Meu corpo o universo inteiro reunido, com

tudo o que se move e o que é imóvel e tudo o mais que desejares perceber.

8. Mas com êsses teus olhos tu não Me podes ver; por conseguinte, eu te dou a

visão Divina. Vê meu Supremo Poder Yoga!

Sanjaya disse:

9. Ó Rei, tendo assim falado, o grande Senhor de Yoga, Hari (Krishna) então

mostrou a Partha Sua Suprema Forma Divina.

10. Com vários semblantes e olhos, com muitas visões maravilhosas, com

muitos ornamentos celestiais e com muitas armas celestiais erguidas.

11. Usando roupagens e adornos celestiais, ungido com fragrantes perfumes

celestiais; a toda-maravilhosa Deidade, infinita, enfrentando o universo em

toda a parte.

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12. Se o brilho deslumbrante de milhares de sóis pudesse cintilar de uma vez

só no céu, isso daria a impressão do esplendor daquele grande Ser.

13. Então o filho de Pandu (Arjuna) viu o universo inteiro descansando

reunido, com suas variadas divisões, no corpo do Deus dos deuses.

14. Então Dhananjaya, deslumbrado com a maravilha e com os cabelos em pé,

curvou a cabeça temeroso ante a Deidade, e falou com as mãos cruzadas:

Arjuna disse:

15. ó Deus! em Teu corpo eu vejo todos os deuses, bem como as multidões de

todas as espécies de seres; o Senhor Brama, sentado num trono de lotos, todos

os Rishis e todas as serpentes celestiais.

16. ó Senhor do universo, ó Forma Universal, eu Te vejo com vários braços,

barrigas, bocas e olhos, ilimitado por todos os lados; tampouco vejo Teu

comêço, ou Teu meio ou Teu fim.

17: Eu Te vejo com diademas, clavas, discos, irradiando, deslumbrante, por

toda a parte, inflamando tudo ao redor tal como o sol, o fogo em chamas e

ofuscando a vista e imensurável.

18. Tu és o Imperecível, o Supremo, o único que deve ser conhecido. Tu és o

Refúgio Supremo dêste universo; Tu és o sempre imutável Guarda do Dharma

Eterno (religião); Tu és, eu sei, o Antigo Ser.

19. Eu Te vejo sem inicio, meio ou fim, com poder infinito, com braços

inúmeros, o sol e a lua como Teus olhos. Tua bôca, tal como o fogo que

ofusca, aquecendo êste universo com Tua própria radiação.

20. O espaço entre os céus e a terra é atravessado por Ti somente. Ó Alma

Grande, vendo isso, Tua Forma maravilhosa e terrível, os três mundos estão

golpeados pelo mêdo.

21. Na verdade, essas hostes de Devas estão entrando em Ti; alguns com

mêdo, louvando-Te com as mãos cruzadas. A hoste dos grandes Rishis e

Siddhas, pronunciando "Svasti" (paz, bem pode ser) está entoando Tua glória

em hinos belíssimos.

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22. Os Rudras, Adityas, Vasus, Sadhyas, os Visvas, os Asvins, os Maruts, os

Ushmapas, as hostes de Gandharvas, Yakshas, Asuras, Siddhas, estão todos

olhando para Ti maravilhados.

23. ó poderosamente-armado, vendo Tua forma imensurável, com muitas

bocas e olhos, com muitos braços, coxas e pés, com vários rins e terrível com

muitos dentes enormes, os mundos e eu, outrossim, somos agitados pelo

terror.

24. ó Vishnu, vendo-Te tocando nos céus, brilhando com várias cores, com as

bôcas muito abertas e com enormes olhos cintilando, meu coração ficou

aterrorizado e não encontro nem paz nem tranqüilidade.

25. ó Senhor dos deuses! vendo Tuas bocas, terríveis com dentes compridos

brilhando como as chamas da destruição, eu não encontro paz de modo

nenhum. Tem piedade, ó Morada do universo!

26. Todos êsses filhos de Dhritarashtra, com a multidão de monarcas,

Bhishma, Drona e Sutaputra (Karna) bem como nossos próprios guerreiros

principais.

27. Entram impetuosamente dentro de Tuas bocas, terríveis com os dentes

compridos e medonhos de ver-te. Alguns eram vistos suspensos entre Teus

dentes com as cabeças esmagadas até ficarem reduzidas a pó.

28. Como as várias torrentes de rios são levadas para u oceano, do mesmo

modo êsses heróis entre os homens entram em Tuas bôcas, brilhando

ferozmente para todos os lados.

29. Assim como as mariposas loucamente correm a lançar-se na chama assim

destruindo-se, do mesmo modo essas criaturas correm para Tuas bocas

apressadamente, apenas para perecerem!

30. O Visbnu! engolido todos os mundos com Tu,as chamas que ofuscam, Tu

estás devorando tudo ao redor. Teus raios, violentos e radiantes, enchendo o

universo inteiro, estão queimando.

31. Dize-me, quem és Tu, nesta Forma terrível? A Ti as: saudações! Ó

Deidade Suprema, tem piedade! Ó único Primordial, eu desejo conhecer-Te,

pois na verdade eu não sei qual Teu desígnio.

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O Bem-aventurado Senhor disse:

32. Eu sou o Tempo eterno e que destrói o mundo, aqui manifestado para

destruição dêsse povo. Na verdade, sem Ti, nenhum dêsses guerreiros,

dispostos aqui nos exércitos hostis, viverá.

33. Por conseguinte, Tu Te ergues e alcanças glória. Subjugando os inimigos)

goza o reino sem rival. Somente por Meti intermédio foram êles já mortos; sê

simplesmente uma causa instrumental, ó Savysachin(2) (Arjuna).

34. Drona, Bhíshma, Jayadratha, Karna, bem como outros: guerreiros

valentes, já estendem-se, mortos por Mim. Tu matarás e não terás mêdo. Luta!

e hás de conquistar teus inimigos na batalha.

Sanjaya disse:

35. Tendo ouvido essas palavras de Keshava (Krishna). (Arjuna) o que ostenta

o diadema, com mãos cruzadas, tremen- te, prosternando-se, novamente falou

a Krishna numa voz sufocada, curvando-se, dominado pelo mêdo.

Arjuna disse:

36. O Senhor dos sentidos (Krishna), é certo que o mundo acha prazer e se

alegra em Tua glória. Os Rakshasas (criaturas demoníacas) fogem de mêdo

em todas as direções e a haste de Siddhas curva-se diante de Ti em adoração.

37. Por que não haveriam de curvar-se diante de Ti, ó Ser Poderoso, ó único

Infinito, ó Senhor dos deuses, ó Morada do universo, maior do que Brama e

até a causa primordial de Brama; pois Tu és o Imperecível; (Tu és) Existência

e Não- existência e tudo o que está além.

38. Ó Forma sem limites, Tu és a Deidade Primeira, o Antigo Ser, Tu és o

Refúgio Supremo dêste universo; Tu és o Ciente, o Único a ser conhecido e o

Lar Supremo. Só por Ti êste universo é penetrado.

39. Tu és Vayu, Yama, Agni, Varuna, a Lua; Tu és o Senhor das criaturas e o

grande Grão-Senhor. Saudações a Ti, minhas saudações milhares de vezes,

repetidas vezes, minhas saudações a Ti !

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40. Saudações a Ti quando estiveres de frente, saudações a Ti quando

estiveres de costas, saudações a Ti por todos os lados! O Tudo, de poder

infinito, de imensurável valor, Tu em tudo penetras, portanto Tu és Tudo.

41. Não conhecendo Tua glória e considerando-Te simplesmente como um

amigo, o que quer que eu possa ter dito presunçosamente, seja por negligência

ou indulgência, dirigindo-me a Ti como "O Krishna", "O Yadava", "O

Amigo,";

42. O Imutável, de qualquer maneira que eu possa ter me mostrado

desrespeitoso para conTigo, gracejando, passeando, repousando, sentando, ou

em refeições, sozinho ou na presença de outros; ó Imensurável, eu Te imploro

que esqueças tudo isso.

43. Tu és o Pai do mundo que se move e do mundo imóvel, e o objeto de sua

adoração; maior do que o grandioso, ó Incomparável Poder, não existe nos três

mundos ninguém que Te iguale...Como, então, pode alguém exceder-Te?

44. Ó Adorável Senhor! prosternando-me em adoração, eu suplico Teu

perdão. Ó Deus, como um pai perdoa a seu filho, um homem a seu querido

amigo, um amado a seu amor, assim Tú hás de perdoar-me!

45. Ó Deus, alegre estou eu por ter visto (Tua forma) a qual jamais vira antes;

contudo meu coração está agitado pelo terror, portanto mostra-me aquela Tua

Forma. O Deus dos deuses ! O Lar do universo, tem piedade.

46. Desejo ver-Te como antes, com diadema., clava e discos. Ó Forma

Universal de milhares de braços, manifesta-Te naquela mesma Forma-de-

Quatro-Braços (Forma de Vishnu) .

O Bem-aventurado Senhor disse:

47. Ó Arjuna, misericordiosamente mostrei-te esta Forma Suprema por meio

de Meu próprio poder Yoga. Essa Forma deslumbrante, infinita, primordial,

grande e universal que Eu tenho, não foi vista por ninguém antes de ti.

48. O grande herói de Kurus, não é pelo estudo dos sagrados Vedas ou pelo

sacrifício, nem pela caridade ou rituais, nem pelas austeridades que, eu sou

visível em tal Forma neste mundo de homens por outro que não Tu.

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49. Não fiques amedrontado, nem transportado, tendo visto esta Minha Forma

terrifica, livrando-te de teu mêdo e com o coração alegrado, vê novamente esta

Minha Forma primitiva.

Sanjaya disse:

50. Vasudeva (Krishna), tendo assim falado a Arjuna, ostentou novamente Sua

própria Forma. O Único de Alma-Grande, tendo assim reassumido Sua Forma

gentil, acalmou-o (Arjuna), pois estava aterrorizado.

Arjuna disse:

51. Ó Janardana, vendo isto, Tua gentil Forma humana, sinto agora que meus

pensamentos voltaram e que me recobrei.

O Bem-aventurado Senhor disse:

52. Esta Minha Forma que acabas de ver é muito difícil de ser percebida; até

os deuses levam muito tempo para ver-Me -nesta Forma.

53, Nem por meio dos Vedas, nem pelas austeridades, nem por oferendas

caridosas, nem por sacrifícios, posso ser visto tal como tu Me viste,.

54. Mas apenas pela devoção de um coração singelo eu posso ser assim

conhecido, Ó Arjuna, e na realidade percebido e também compreendido, ó

Parantapa.

55. O Pandava, aquêle que trabalha para Mim, tem-Me a Mim como sua mais

alta meta, é-Me devotado, está livre de apegos e não sustenta inimizade para

com criatura nenhuma êste penetra em Mim.

Aqui termina o Décimo-Primeiro Capitulo, chamado "Vishya-Rupa-

Darsanam, ou A Visão da Forma Universal"

CAPÍTULO XII

Arjuna disse:

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1. Aquêles devotos que, sempre firmes, assim Te adoram e aquêles que

adoram o Não-revelado Imperecível, quais dêles são os que mais conhecem

Yoga ?

O Bem-aventurado Senhor disse:

2. Aquêles que, em Mim fixando seus espíritos, Me adoram com devoção

perpétua, dotados de fé suprema, para Meu espírito são êsses os melhores

conhecedores de Yoga.

3. Mas aquêles que contemplam o Imperecível, o Indefinível, o Irrevelado,

Onipresente, Inimaginável; Imutável, Imóvel e Eterno,

4. Tendo sobrepujado todos os sentidos, por toda a parte com pensamentos

elevados, e procurando fazer o bem a todos os sêres, na verdade êsses chegam

a Mim.

5. A dificuldade para aquêles espíritos que estão postos sobre o Irrevelado é

maior, pois a meta do Irrevelado é muito árdua para ser atingida pelos que

estão corporificados.

6. Mas aquêles que, rendendo todas as ações a Mim e considerando-Me como

a Meta Suprema, adoram-Me com devoção sincera no coração,

7. Para êsses cujos corações estão fixos em Mim, ó filho de Pritha, tornar-Me-

ei em breve o Salvador vindo do oceano de Samsara mortal (mundo de

nascimento e morte) .

8. Fixa tua mente em Mim somente e repousa tua compreensão em Mim,

assim tu, sem nenhuma dúvida, viverás em Mim para o futuro.

9. Ó Dhananjaya, se tu és incapaz de fixar teu espírito firmemente em Mim,

então, por meio de uma prática constante de devoção, tu procurarás alcançar-

Me.

10. Se tu és também incapaz de praticar a devoção, então seja teu intelecto

trabalhar por Mim. Mesmo esforçando-te por amor a Mim, tu chegarás à

perfeição.

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11. Se tu não és capaz de fazer até isso, então, refugiando- te em Mim

somente, e controlado, tu entregarás os frutos de todas as ações.

12. O saber é na verdade melhor do que a prática às cegas; a meditação

sobrepuja o saber; a entrega dos frutos da ação é mais apreciada do que a

meditação. A paz vem logo após a entrega.

13. Aquêle que não odeia criatura nenhuma e. que é com- passivo e amável

para todos, aquêle que está livre de apegos e egoísmo, espírito Imparcial no

prazer e na dor e inclinado ao perdão.

14. Que está sempre satisfeito e meditativo, controlado e dono de convicção

firme, com espírito e intelecto a Mim dedicados, aquêle que é assim devotado

a Mim, êste Me é caro.

15. Aquêle que não causa aflições ao mundo e que não se deixa perturbar pelo

mundo, que é livre de soberba, inveja, mêdo e ansiedade, êste Me é caro.

16. Aquêle que está livre de toda dependência externa, é livre, eficiente, sem

apegos, imperturbável e que abandonou todos os empreendimentos (egoístas) ,

aquêle que é assim devotado a Mim, esse Me é caro.

17. Aquêle que não se rejubila, nem odeia, nem se entristece, nem deseja e que

renunciou a todo bem e todo mal, aquêle que é assim cheio de devoção, Me é

caro.

18. Aquêle que é o mesmo para o amigo e o inimigo e outrossim na honra e na

desonra, o mesmo no calor e no frio, no prazer e na dor, livre de todo apego,

19. Aquêle que é igual no louvor e na censura, é silencioso, satisfeito com

tudo, de espírito firme, uma alma assim devotada Me é cara.

20. Os que seguem êsse Dharma imortal (ensinamento) tal como foi declarado

(por Mim) e que têm fé, considerando-Me como a Meta Suprema, tais devotos

são superiormente caros a Mim.

Aqui termina o Décimo-Segundo Capitulo, chamado "Bhakti-Yoga, ou O

Caminho da Devoção"

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CAPÍTULO XIII

Arjuna disse:

Ó Keshava, Prakriti (Natureza) e Purusha (Eu), Kshetra e o conhecedor de

Kshetra, sabedoria e aquilo que deve ser conhecido, essas coisas eu desejo

aprender.

O Bem-aventurado Senhor disse:

1. Ó filho de Kunti, êste corpo é chamado Kshetra (campo), o sábio dá ao que

sabe isso o nome de Kshetrajna (conhecedor do campo).

2. Ó descendente de Bharata, conhece-Me como sendo Kshetrajna (Alma

consciente) em todos Kshetras (corpos). Para Meu espírito, o conhecimento de

Kshetra (corpo) e Kshetrajna (Alma) é o verdadeiro saber.

3. Ouvirás em breve, dito por mim, o que é Kshetra, qual sua natureza, quais

suas modificações e quando surge; também quem é ela (a que sabe, Alma) e

quais seus poderes.

4. Esta verdade foi cantada pelos Rishis (Videntes) de vários modos, em

muitos hinos diferentes, nos Aforismos Brama- Sutra, plenos de raciocínio e

convicção.

5. Os grandes elementos (terra, água, fogo, ar, éter) , egoísmo, intelecto, o

irrevelado (Natureza), os dez orgãos (dos sentidos e da ação) e o único

(espírito), os cinco objetos do sentido;

6. Desejo, aversão, prazer, dor, a combinação (dêsses), consciência, valor,

assim foi descrito rapidamente o Kshetra (corpo) com suas modificações.

7. Humildade, falta de ostentação, não injuriar, clemência, simplicidade,

servidão a Guru (guia espiritual), pureza, firmeza, controle.

8. Renúncia aos objetos dos sentidos bem como ausência de egoísmo,

realização dos males de nascimento, morte; velhice, doença, dor;

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9. Falta de apêgo, não-identificação de si mesmo com filho, mulher, lar e o

resto; imparcialidade nos acontecimentos benéficos e não-benéficos;

10. A devoção bem dirigida e firme para comigo, em lugares apartados,

aborrecendo as reuniões;

11. Devoção constante ao saber espiritual, realização da essência da Verdade,

eis o que é dito ser sabedoria; o que é contrário a isso é ignorância.

12. Declararei agora aquilo que deve ser conhecido, e por intermédio do qual

atinge-se à imortalidade. O Brahman Supremo não tem inicio; dizem que não

tem existência nem inexistência.

13. Com mãos e pés por toda a parte, com olhos e bôcas por todo o lugar e

com ouvidos em todos os lados no universo, sômente Aquilo existe,

envolvendo tudo.

14. Brilha através as funções de todos os sentidos e no entanto não tem

sentidos; sem laços que O prendam, todavia sustém tudo; desprovido de

Gunas (qualidades) contudo é o experimentador de Gunas.

15. Existe dentro e fora de todos os seres; é tão imóvel como móvel,

incompreensível devido à sua subtileza; está longe e também perto.

16. Indivisível, no entanto existe como se fosse dividido em seres; deve ser

conhecido como o Sustentador dos seres: -destrói e também gera.

17. É a Luz das luzes e diz-se estar além das trevas. É saber, o Único que deve

ser conhecido, e a Meta do saber; habitando o coração de todos.

18. Assim Kshetra (campo), sabedoria e o que deve ser conhecido, foi contado

em poucas palavras. Meu devoto, sabendo disso, torna-se apto a entrar em

Meu Ser (em unidade comigo) .

19. Sabe que tanto Prakriti (Natureza) como Purusha (Alma) não têm comêço.

Sabe também que todas as modificações e Gunas (qualidades) nascem de

Prakriti.

20. Prakriti, diz-se, é a fonte que produz a causa e o efeito; ao passo que a

alma corporificada é a causa de experIências de prazer e dor.

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21. Pois a Purusha (Alma) experimenta as Gunas, provenientes de Prakriti;

apêgo às Gunas é a causa de sua, geração em bons e maus ventres.

22. A Alma grande (que habita) neste corpo é chamada: a “Testemunha ou o

Espectador, o Confirmador, o Sustentador", o Experimentador, o Senhor

poderoso e também o Eu Supremo.

23. Aquêle que assim conhece Purusha (Alma) e Prakriti (Naftlreza) com as

Gunas (qualidades), seja como for que possa estar Vivendo, não nasce

novamente.

24. Alguns, pela meditação, avistam o Eu por meio do eu que têm dentro de si

mesmos; outros pelo caminho da sabedoria; outros ainda pelo caminho da

ação.

25. Outros ainda, não possuindo tal conhecimento, adoram como ouviram os

outros aconselharem (Almas iluminadas); mesmo êles elevam-se acima da

morte, ao seguirem com fé o que lhes aconselharam.

26. Ó poderoso da raça Bharata, sej a o que for que tenha nascido, seja móvel

ou imóvel, sabe que é (produzido) pela; união de Kshetra e Kshetrajna

(Natureza e Alma) .

27. O Supremo Senhor habita igualmente em todos os seres; (ele é) imortal no

mortal: Aquêle que (assim) vê, tem a verdadeira visão.

28. Vendo o mesmo Senhor existindo igualmente por toda a parte, êle não

magoa o Eu e a8Sim atinge o mais alto alvo.

29. E aquêle que vê que todas as ações estão sendo cumpridas por Prakriti

(Natureza) sozinha e que o Eu não está agindo, êste vê com clareza.

30. Quando êle vê a existência isolada de todos os seres confirmadas numa

Única, e sua expansão decorrente só desta. Única, então êle se torna Brahman

(único com Brahman).

31. Ó filho de Kunti, sendo sem comêço e desprovido de Gunas, o Eu

supremo é imutável; embora habitando no corpo, nem age nem é afetado pelos

frutos da ação.

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32. Assim como o éter que em tudo penetra (akasha) não tem manchas, devido

a sua sutileza, igualmente este eu (embora existente) por toda parte do corpo

não tem manchas.

33. Ó descendente de Bharata, como um único sol ilumina todo este mundo,

do mesmo modo aquele que habita no corpo ilumina todos os corpos.

34. Aqueles que assim, pelos olhos do saber, percebem a distinção entre corpo

e alma, e a libertação dos seres da natureza (prakriti), eles atingem o supremo.

Aqui termina o capítulo Décimo Terceiro, chamado “Yoga de Khsetra e

Khsetrajana, ou caminho da discriminação entre corpo e alma”.

CAPITULO XIV

1. Agora eu te desvendarei novamente aquela sabedoria suprema, que está

acima de toda a sabedoria, e de posse da qual todos os sábios, após esta vida,

atingem a mais alta perfeição.

2. Sendo fiel a esta sabedoria e tendo alcançado o Meu ser, nem saem em

evolução(1) nem são afetados em involução(2).

3. Ó descendente de Bharata, a grande Prakriti é Meu ventre; nela coloco a

semente, e daí a origem de todos os sêres.

4. Ó filho de Kunti, qualquer que seja a forma produzida em todos os ventres,

a grande Prakriti é o ventre e eu sou o Pai que dá a semente.

5. Ó poderosamente-armado, Sattwa, Rajas, Tamas(3), essas Gunas

(qualidades), nascidas de Prakriti, mantendo o imutável, mantêm a alma no

corpo.

6. Ó sem pecado, dessas (Gunas) Sattwa, sendo transparente, luminoso e livre

de mal, mantém (os corporificados) pelo apêgo à felicidade e o apêgo ao

saber.

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7. Ó filho de Kunti, conhece Rajas como tendo a natureza. da paixão, dando

origem à sê de (pelo prazer) e ao apêgo. Mantém o corporificado pelo apêgo à

ação.

8. Ó Bharata (Arjuna), conhece Tamas como nascido da ignorância; engana

todos os sêres corporificados e mantém pela percepção falsa, indolência e

sono.

9. Ó Bharata, Sattwa prende alguém à felicidade; Rajas à ação; enquanto

Tamas, cobrindo a sabedoria, prende à falsa percepção.

10. Ó Bharata (algumas vezes) Sattwa predomina sobre . Rajas e Tamas;

(algumas vezes) Rajas predomina sobre Sattwa e Tamas; e (algumas vezes)

Tamas sobre Sattwa e Rajas.

11. Quando a luz da compreensão brilha atravessando todos os sentidos dêste

corpo, então deve ser percebido que Sattwa predomina.

12. Ó Príncipe da raça Bharata, ambição, atividade (excessiva),

empreendimento, inquietude, anseio, essas coisas prevalecem quando Rajas

predomina.

13. Ó descendente de Kuru, trevas, inércia, percepção falsa e também engano

prevalecem quando Tamas predomina.

14. Se o corporificado encontra a morte quando Sattwa predomina, então êle

alcança as regiões imaculadas dos que conhecem o Supremo.

15. Encontrando-se com a morte em Rajas, nasce-se entre os que gostam de

ação; e morrendo em Tamas, nasce-se nos ventres de seres insensíveis.

16. O fruto das boas ações é declarado Sattwika e puro; o fruto de Rajas

(feitos apaixonados) é dor; e ignorância é o fruto de Tamas.

17. Sabedoria nasce de Sattwa; ambição de Rajas; falsa percepção, engano e

ignorância surgem de Tamas.

18. Os habitantes de Sattwa elevam-se; os Rajasic (de naturezas apaixonadas)

ficam no meio; e os Tamasic, vivendo nas funções da mais baixa Guna,

inferiorizam-se.

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19. Quando o Vidente não avista outro agente senão os Gunas, e conhece

também Aquilo que é superior às Gunas, então êle atinge Meu Ser.

20. O corporificado, tendo ultrapassado essas três Gunas, fora das quais o

corpo desdobra-se, fica livre do nascimento, morte, declínio e dor, e atinge a

imortalidade.

Arjuna disse:

21. Ó Senhor, quais são os signos daquele que ultrapassou as três Gunas ?

Quais são suas características e como ultrapassa essas três Gunas?

O Bem-aventurado Senhor disse:

22. Ó Pandava, aquêle que nem odeia a presença da iluminação (Sattwa),

atividade (Rajas) ou ilusão (Tamas) nem anseia por elas quando ausentes;

23. Aquêle que está sentado desinteressado (como um espectador) e a quem as

Gunas não fazem agir, que está parado e sem comover-se, sabendo que

somente as Gunas trabalham;

24. Aquêle que é o mesmo no prazer e na dor; controlado; considerando do

mesmo modo um monte de terra, uma pedra e o ouro; que é o mesmo no

prazer e no aborrecimento, no elogio e na censura, e firme;

25. Aquêle que é igual na honra e na desonra, o mesmo para amigo e o

inimigo, abandonando todos os empreendimentos egoístas, esse diz-se passou

além de todas as Gunas.

26. E aquele que, passando por cima das Gunas, serve-me com devoção

inabalável, torna-se apto a atingir a unidade com o Brahman.

27. Pois eu sou a morada de Brahman, o imutável, o imortal, o dharma eterno

e a bem aventurança absoluta.

Aqui termina o capítulo Décimo Quarto, chamado "distinção das três Gunas".

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CAPÍTULO XV

O Bem-aventurado Senhor disse:

1. Falam de uma Ashwattha eterna (árvore) com raízes em cima e ramos em

baixo, cujas fôlhas são os Vedas. Aquêle que a conhece, conhece os Vedas.

2. Seus ramos abrem-se em baixo e em cima, alimentados pelas Gunas; os

objetos do sentido são os botões de flores; as raízes estendem-se bem por

baixo no mundo dos homens, crianças as ações.

3. Sua forma não é visível aqui, tampouco se vê onde acaba e onde começa, e

não se vê sua base. Tendo derrubado essa árvore Ashwattha de raízes firmes,

com a espada poderosa da falta de apêgo.

4. Então, a Meta deve ser procurada depois, e depois de atingida, êles (os

sábios) não voltam novamente. Eu me refugio naquele Ser Primevo do qual

jorram as correntes da Energia Eterna (criativa).

5. Livre de orgulho e de falso conceito, o mal do apêgo dominado, sempre

devotado ao conhecimento espiritual, desejos completamente acalmados,

libertado de pares de adversários conhecidos como prazer e dor, os que não se

iludem alcançam aquela Meta eterna.

6. Aquela (Meta) o sol não ilumina, tampouco o faz a lua e o fogo; chegando

lá, êles (os sábios) não voltam. Eis Minha Morada Suprema.

7. Uma porção de Mim-Mesmo tornou-se a Alma vivente no mundo da vida

desde tempos que não têm comêço. Ela atrai os (cinco) sentidos e o espírito,

os seis (sentidos), que estão em Prakriti.

8. Quando o Senhor (Alma) obtém um corpo e quando Ele o deixa, Ele retoma

êsses (sentidos e espíritos) e parte como o vento (parte) dissipando os

perfumes onde estiveram (as flores).

9. A alma corporificada, presidindo sôbre o ouvido, o olho, o tato, o paladar e

o cheiro, bem como sôbre o espírito, experimenta objetos-de-sentidos.

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10. Seja abandonando o corpo, ou nêle residindo, ou experimentando, ou

unindo-se às Gunas, os iludidos não vêem (a Alma); mas aquêles que têm o

ôlho do saber percebem-na.

11. Os auto-dominados A percebem, morando em si mesmos; mas os de

coração impuro e os não-inteligentes, mesmo que se esforcem, não A vêem.

12. A luz que reside no sol; na lua, no fogo e que ilumina o mundo inteiro,

sabe que esta luz é Minha.

13. Entrando na terra com Minha energia, mantenho todos os seres e nutro

tôdas as ervas.

14. Morando no corpo de seres vivos como o Fogo, eu, estando unido a Prana

(inalação) e Apana (exalação), dirijo quatro espécies de alimentos(1).

15. Estou no fundo do coração de todos, Eu dou a memória, a sabedoria e

também as faço perder. Eu sou aquilo que é conhecido em todos os Vedas. Na

verdade, eu sou o Autor de Vedanta e o conhecedor dos Vedas.

16. Existem duas espécies de seres no mundo; os mortais e os imortais; todos

os seres são mortais, mas Purusha (Eu) é imortal.

17. Mas há outro, o Ser Supremo, chamado o Eu Supremo, que é o Senhor

Imutável, penetrando nos três mundos e mantendo-os.

18. Como estou além do mortal e estou acima mesmo do imortal, sou por isso

conhecido no mundo e no Veda como o ser Supremo.

19. Ó descendente de Bharata, aquêle que, livre de ilusão, conhece-Me como o

Ser Supremo, êste, sabendo tudo, adora-Me de todo o coração.

20. Assim, ó Bharata sem pecado, acaba de ser revelado por Mim o

ensinamento mais profundo, sabendo isso atinge-se à ilustração e ao

cumprimento de todos os deveres.

Aqui termina o Capitulo Décimo-Quinto, chamado "O Caminho do Ser

Supremo"

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CAPÍTULO XVI

O Bem-aventurado Senhor disse:

1. Intrepidez, pureza de coração, firmeza no Yoga de auto-conhecimento,

esmolas, controle dos sentidos, sacrifício, estudo das Escrituras Sagradas,

austeridade e simplicidade.

2. Não-injúria, lealdade, ausência de cólera, renúncia, paz, ausência de

calúnia, compaixão para com os seres, falta de cobiça, gentileza, modéstia e

constância.

3. Vigor, clemência, magnanimidade, pureza, ausência de ódio e orgulho,

essas, ó descendente de, Bharata, pertencem ao que nasceu com a propriedade

divina.

4. ó Partha, ostentação, arrogância e presunção, cólera bem como crueldade e

ignorância, pertencem ao que nasceu com a propriedade demoníaca.

5. A propriedade divina liberta, e a demoníaca escraviza. Não te entristeças, ó

Pandava, tu nasceste com a propriedade divina.

6. ó Partha, neste mundo existem duplas manifestações de seres; o divino e o

demoníaco. O divino foi descrito por completo. Ouve-Me agora sôbre o estado

demoníaco.

7. Os demoníacos não sabem como seguir o direito ou como abster-se do

errado; não há nem pureza, nem boa conduta, nem verdade nêles.

8. Eles dizem que "êste universo não tem verdade, não tem base, não tem

Deus, nascido de uma união motivada pela luxúria. O que mais há?"

9. Mantendo êsse ponto de vista, essas almas arruinadas, de compreensão

curta e de façanhas cruéis, erguem-se como inimigos do mundo para sua

destruição.

10. Cheios de desejos insaciáveis, cheios de hipocrisia, orgulho e arrogância,

mantendo caprichos perversos através a ilusão, trabalham com propósitos sem

santidade.

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11. Cercados de cuidados imensos, terminando apenas na morte; considerando

os prazeres sensuais como os mais altos e tendo certeza de que nada há além

dêles;

12. Ligados por centenas de esperanças. entregues à luxúria e à cólera, êles se

esforçam para assegurar tesouros de riqueza por meios injustos, para prazer

sensual.

13. "Isto foi ganho por mim hoje e hei de obter tal desejo, isto é meu e êsses

bens também serão meus."

14. "Este inimigo foi morto por mim, matarei ainda outros tambem. Eu sou o

senhor, eu sou o que aproveita, eu sou bem sucedido, poderoso e feliz."

15. "Sou rico e bem-nascido; quem é igual a mim? Farei sacrifícios, darei

presentes, rejubilar-me-ei": assim enganados pela ignorância.

16. Desencaminhados por muitos caprichos, envolvidos pela rêde da ilusão,

junto com os sentidos satisfeitos, êles caem num inferno detestável.

17. Auto-glorificando-se, orgulhosos, cheios de vaidade e intoxicados pelas

riquezas, cumprem sacrifícios (simplesmente) em nome da hipocrisia,

desrespeitando as ordens formais da Escritura.

18. Cheios de egoísmo, poder, insolência, luxúria e cólera, essas pessoas

perversas odeiam-Me (habitando) seus próprios corpos e nos de outros.

19. Eu lanço êsses homens malignos, cruéis e perversos, os mais aviltados,

dentro dos ventres de Asuras(1) no mundo (do nascimento e da morte) .

20. ó filho de Kunti, entrando em ventres Asúricos (impuros) e em repetidos

nascimentos enganosos, sem Me atingirem -êles caem em estado ainda mais

baixo. A Luxúria, cólera e ambição, são êsses os três portões do inferno pelos

quais as almas são destruídas. Por conseguinte deve-se abandoná-los.

22. ó filho de Kunti, aquêle que se livra dêsses três portões de trevas, pratica o

que é bom para sua alma e assim atinge a Meta Suprema.

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23. Aquêle que, pondo de lado os preceitos da Escritura, .segue os impulsos

do desejo, não atinge nem a perfeição, nem a felicidade, nem a meta suprema.

24. Portanto que as Escrituras sejam a autoridade que consultarás quando não

souberes o que deve ser feito e o que não deve ser feito. Tendo apreendido os

preceitos declarados nas Escrituras, assim agirás aqui (neste mundo) .

Aqui termina o Décimo-Sexto Capitulo, chamado "Distinção entre a

Propriedade Divina e a Demoníaca"

CAPÍTULO XVII

Arjuna disse:

1. Ó Krishna, aquêles que desconsiderando os preceitos das Escrituras,

cumprem sacrifício com fé, qual é seu estado? É o de Sattwa (bondade); Rajas

(paixão),ou Tamas (trevas).

O Bem-aventurado Senhor disse:

2. Tripla é a fé dos corporificados, decorrente de sua natureza interna:

Sattwica (bom), Rajasica (apaixonado), Tamasica (ignorante). Vais ouvir

sObre isso.

3. Ó descendente de Bharata, a fé de cada um está de acordo com sua natureza

mesma. O homem consiste em sua fé; na verdade, ele é o que sua fé for.

4. Os homens puros adoram os deuses; os homens de naturezas apaixonadas

adoram Yakshas e Rakshasas; ao passo que os outros, homens de Tamasica

(ignorantes), adoram fantasmas (espíritos que partiram) e duendes.

5. Os homens que praticam injustiças, que não satisfazem :as Escrituras, sêres

hipócritas e egoístas, são levados pela luxúria.

6. Torturantes, insensíveis como são, todos os órgãos dos sentidos e Eu,

morando no corpo, são de essência demoníaca.

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7. Os alimentos também são de natureza tripla e são, respectivamente,

apreciados por cada um dêsses; e do mesmo modo o sacrifício, e as esmolas.

Vais ouvir a distinção entre êles.

8. Os alimentos que aumentam a vitalidade, a energia, a fôrça, a saúde, a

alegria, e a jovialidade, e que são saborosos, suaves, substanciais e agradáveis,

são apreciados pela natureza Sattwica.

9. A natureza Rajasica aprecia alimentos que são amargos, acres, salinos,

muito quentes, picantes, sêcos, que queimam e que produzem dor, pesar e

doença.

10. O que é deteriorado, insípido, pútrido, está preparado desde a noite

anterior, até alimentos fermentados ou impuros são apreciados pelos de

natureza Tamasica.

11. É Sattwiva aquêle sacrifício que é cumprido por homens que não desejam

frutos, como é prescrito pelas leis da Escritura, e que têm a mente fixa só no

sacrifício, somente por amor ao próprio sacrifício.

12. Mas, ó melhor dos Bharatas, aquilo que é cumprido com o anseio de frutos

e ostentação, sabe que é um sacrifício Rajasica.

13. O sacrifício que é cumprido, sem consideração aos preceitos da Escritura,

no qual nenhum alimento é distribuído, e que não tem textos sagrados,

esmolas e fé, êste, diz-se, é Tamasica.

14. Adoração dos deuses, dos que nascem-duas-vêzes(1), de Gurus(2) e dos

sábios; pureza, simplicidade, continência, não-injúria; são coisas chamadas

austeridades do corpo.

15. Palavras que não magoam (a outros) e que são verdadeiras, bem como

agradáveis e benéficas; estudo regular das Escrituras: essas coisas são

chamadas austeridade de palavras.

16. Jovialidade de espírito, doçura, silêncio, contrôle, pureza de coração: essas

coisas são chamadas austeridade de espírito.

17. Quando esta tripla austeridade é praticada, por homens ou por devoção

firme, com grande fé, sem ansiar por frutos, diz-se que é Sattwica.

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18. Quando esta austeridade é cumprida com o objetivo de obter boas coisas,

honra e adoração, ou proveniente da ostentação, diz-se ser Rajasica, instável e

passageira.

19. A austeridade que é cumprida com compreensão errônea por auto-

flagelação ou com o propósito de injuriar outrem, essa, diz-se e Tamasica.

20. "É direito dar": com êsse pensamento, dando a alguém que nada dá em

troca, em lugar adequado, no tempo indicado e a uma pessoa digna, é

considerado uma dádiva Sattwica.

21. A dádiva que é feita com a idéia de receber qualquer coisa em troca, ou a

espera de frutos, ou dada com relutância, é conhecida como dádiva Rajásica.

22. A dádiva feita em lugar e tempo não-indicados, a pessoas que não a

merecem, com desrespeito e desprêzo, esta, diz-se, é uma dádiva Tamasica.

23. "Om, Tat, Sat" (Sim, Aquilo, o Real), declaram serem êstes o tríplice

nome de Brahman, para o qual foram feitos, de há muito, os Brahmanas, os

Vedas e os sacrifícios.

24. Eis porque os seguidores de Vedas sempre começam seus atos de

sacrifício, esmola e austeridade pronunciando "Om" como ordena a Escritura.

25. Pronunciando "Tat" sem esperar os frutos, os que pro- curam a libertação

cumprem vários atos de sacrifício, austeridade e esmola.

26. Ó Partha, a palavra "Bat" é usada no sentido da realidade e da bondade; e a

palavra "Sat" também é usada no sentido de um ato auspicioso.

27. Firmeza no sacrifício, austeridade e esmola são chamadas "Sat", e a ação

cumprida por amor Aquele (Supremo) é também chamada "Sat".

28. Ó Partha, qualquer que seja a coisa sacrificada, ou dada, ou cumprida, ou

quaisquer que sejam as austeridades pra- ticadas com fé, recebem o nome de

"Asat" (Irreal). Não é bom nem para êste mundo nem para o outro.

Aqui termina o Décimo-Sétimo Capitulo, chamado "Divisão da Tripla Fé"

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CAPÍTULO XVIII

Arjuna disse:

1. Ó Senhor dos sentidos, ó Poderosamente-Armado, ó Destruidor de Keshi,

desejo conhecer respectivamente a verdade a respeito de Sannyasa (renúncia)

bem como de Tyaga (abandono).

O Bem-aventurado Senhor disse;

2. Os Sábios declaram que a renúncia às ações com desejo de obter (frutos) é

Sannyasa, e os doutos declaram que o abandono dos frutos de todas as ações é

Tyaga.

3. Alguns filósofos declaram que todas as ações devem ser abandonadas como

um mal; ao passo que outros dizem que o trabalho do sacrifício, da dádiva e da

austeridade jamais deve ser abandonado.

4. . Ó melhor dos Bharatas, ó tigre entre os homens, ouve de Mim a verdade

final a respeito da renúncia; pois afirmam ser a renúncia de três espécies.

5. Os atos de sacrif1cio, dádiva e austeridade não devem ser abandonados,

mas na verdade devem ser cumpridos; pois o sacrifício, a dádiva e a

austeridade estão purificando.

7. Abandono das ações prescritas não é indicado. O abandono da mesma,

através engano, é afirmado como Tamasica.

8. Aquêle que renuncia à ação por mêdo de perturbações físicas, pensando

"isso é doloroso", assim cumprindo abandona Rajasica, não obtém o fruto

disso.

9. ó Arjuna, abandonando apêgo e frutos, quando a ação prescrita é cumprida

porque deve ser feita, tal renúncia é considerada como Sattwica .

10. O que renuncia, imbuído de Sattwa e com firme compreensão, com suas

dúvidas destruídas, não detesta um trabalho desagradável, nem se apega a um

agradável.

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11. Não é possível para o corporificado abandonar ações por completo; mas

aquêle que abandona os frutos da ação é chamado um (verdadeiro)

renunciador.

12. Triplo é o fruto de ação obtido pelos que não renunciam após a morte:

bem, mal e a mistura (dos dois) ; mas jamais (é obtido) pelos que renunciam.

13. ó poderosamente-armado, aprende comigo as cinco causas para

consumação de tôdas as ações, como ensina a filosofia Sankhya.

14. O corpo, o agente, os vários sentidos, as diferenças e múltriplas funções e

a deidade que preside, como a quinta.

15. Qualquer que seja a ação que o homem faça com seu corpo, espírito e

palavras, sejam direitas ou erradas, são essas as cinco causas .

16. Assim sendo, aquêle que, por meio de compreensão impura, contempla

seu Eu, o Único, como o agente, êste de espírito pervertido, não vê (a

Verdade).

17. Aquêle que não tem noção egoística (tal como "eu sou o agente"), cuja

compreensão não é afetada (pelo bem e pelo mal), ainda que matando êsse

povo, êle nem mata nem é limitado (pela ação).

18. O conhecimento, o que pode ser conhecido e o conhecedor são as causas

triplas de ação; o instrumento (sentidos). o objeto e o agente, são a base tripla

de ação.

19. Diz a filosofia Sankhya serem tríplices a sabedoria, a ação e o agente,

segundo a distinção das Gunas. Ouve-se também devidamente.

20. Sabe que a sabedoria é Sattwica, quando por ela é visto em todos os seres

o Único e imutável, inesperado no separado.

21.Mas a sabedoria que vê em todos os seres as entidades distintas de diversas

espécies tão diferentes uma da outra, sabe que essa sabedoria é Rajasica.

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22. Enquanto a sabedoria que é limitada a um só efeito, como se fosse o

inteiro, sem razão, sem basear-se na verdade, é trivial, esta é declarada

Tamasica.

23. A ação que é prescrita, cumprida por alguém que não deseja frutos, livre

de apegos e sem amor ou aversão, diz-se, Sattwica.

24. Mas a ação que é cumprida com anseio pelos objetivos do desejo, ou com

egoísmo, ou com muito esforço, é dita Rajasica.

25. A ação que é empreendida devido à ilusão, sem atenção à habilidade e à

conseqüência, perda e injúria (a outros) esta é Tamasica.

26. Livre de apêgo, não egoísta, dotado de perseverança e entusiasmo, sem se

afetar pelo sucesso ou derrota, um agente dêsses é chamado Sattwica.

27. Aquêle que é apaixonado e deseja os frutos de ação, é ambicioso, maligno,

impuro, facilmente comovível pela alegria e pela tristeza, um tal agente é

chamado Rajasica.

28. Inconstante, vulgar, arrogante, desonesto, malicioso, indolente,

desanimado, retardado, um agente assim é chamado Tamasica.

29. ó Dhananjaya, ouve a distinção de compreensão e magnanimidade,

segundo as tríplices Gunas, como tenho explicado distinta e exaustivamente.

30. ó Partha, sabe que a compreensão é Sattwica quando percebe o momento

em que deve agir e aquêle em que deve abster-se de ação; do mesmo modo

uma ação má e boa, mêdo e destemor, escravidão e libertação.

31. ó Partha, o que faz a compreensão ficar distorcida a respeito do certo e do

errado, do próprio e do impróprio, é chamado compreensão Rajasica.

32. A compreensão que é coberta de trevas e considera a falta de retidão como

retidão e vê todas as coisas sob uma luz viciada, essa, ó Partha, é compreensão

Tamasica.

33. A firmeza, ó Partha, pela qual se pode controlar a atividade do espírito,

Prana e os sentidos, por meio da constante prática de Yoga, esta firmeza é

Sattwica.

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34. Mas a firmeza pela qual alguém se prende ao dever, ao desejo e à riqueza,

dando aprêço a essas coisas e desejoso de frutos, esta firmeza é Rajasica.

35. ó Partha, aquela pela qual um homem estúpido não perde o sono, o mêdo,

o pesar, o desânimo e a vaidade, esta firmeza é Tamasica.

36. ó Principe da raça Bharata, agora ouve-Me a respeito da felicidade tríplice,

aquela felicidade que se goza por hábito e pela qual se chega ao fim da dor.

37. Aquela que é como veneno no comêço e como néctar no fim, é felicidade

Sattwica (pura), nascida do ditoso conhecimento do Eu.

38. A felicidade que decorre do ajuste dos sentidos com os objetos dos

sentidos e é como néctar no comêço, mas como veneno no fim, é dita

Rajasica.

39. Aquela felicidade que começa e termina na ilusão surgindo do sono, da

indolência e da percepção falsa, é dita Tamasica .

40. Não há nenhum ser na terra ou nos céus entre os deuses, que esteja livre

das três Gunas, nascidos de Prakriti (Natureza).

41. Ó Parantapa (Arjuna) , os deveres dos Brahmanas, Kshatriyas, Vaisyas e

também dos Sudras, estão distribuídos segundo suas Gunas, decorrentes de

suas naturezas.

42. Controle de espírito e sentidos, austeridade, pureza, clemência e também

simplicidade, saber, realização e fé em Deus; são êsses os deveres dos

Brahmanas, decorrentes de suas naturezas.

43. Valentia, energia, firmeza, perícia e também covardia, generosidade,

dignidade, são os deveres de Kshatrivas, decorrentes de suas naturezas.

44. Agricultura, incremento do gado e do comércio são os deveres dos

Vaisyas, decorrentes de suas naturezas. Servidão é o dever dos Sudras,

decorrente de suas naturezas.

45. O homem atinge a perfeição estando ocupado em seu próprio dever, ouve

agora como atinge a perfeição quem se ocupa em seu próprio dever.

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46. Ao adorar com seu próprio dever Aquêle de Quem decorre a evolução de

todos os seres por Quem tudo isso é penetrado, o homem atinge a perfeição.

47. É melhor o próprio dever de alguém, embora imperfeito, do que o de

outrem bem cumprido. Aquêle que cumpre o dever decorrente de sua própria

natureza não incorre em pecado.

48. Ó filho de Kunti, não se deve abandonar o dever para o qual se nasceu,

embora com defeitos, pois todos os empreendimentos são cercados pelo mal

assim como o fogo pela fumaça.

49. Aquêle,cuja compreensão não se apega a nada, que é desprovido de

desejos, êste, pela renúncia, atinge a perfeição suprema, consistindo na

libertação de ação.

50. Ó filho de Kunti, após alcançar tal perfeição, como atinge Brahman, a

mais alta Meta do Saber, vais ouvi-lo de Mim em breve.

51. Dotado de compreensão pura; submetendo o próprio eu pela firmeza;

abandonando o ruído e outros objetos dos sentidos; abandonando o anseio e a

aversão;

52. Procurando um lugar solitário; comendo pouco; controlando o corpo, as

palavras e o espírito; sempre firmemente empenhado na meditação e

concentração; dotado de serenidade de espírito;

53. Abandonando o egoísmo, o poder, o orgulho, a luxúria, a cólera e a posse;

livre da noção do "meu" e tranqüilo: assim se é digno de tornar-se um só com

Brahman.

54. Tornando-se um só Brahman, de espírito sereno, nem se entristece nem

tem desejos; semelhante a todos os sêres, êle atinge a suprema devoção em

Mim.

55. Pela devoção; êle Me conhece na verdade, o que e quem eu sou; tendo

assim Me conhecido de verdade, êle imediatamente entra em Mim.

56. Mesmo que constantemente cumprindo todas as ações, procurando refúgio

em Mim, por meio de Minha graça, êle atinge a Morada Eterna e Imutável.

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57. Rendendo mentalmente todas as ações a Mim, considerando-Me como a

mais alta meta, tu sempre fixarás teu coração em Mim.

58. Fixando teu coração em Mim, tu hás de, por Minha graça, passar por sôbre

todos os obstáculos; mas se, por meio de egoísmo, tu não Me ouvires,

perecerás.

59. Se, levado pelo egoísmo, pensares: "Não lutarei", será em vão esta tua

resolução. Tua própria natureza há de impelir-te.

60. ó filho de Kunti, sendo limitado pelo teu próprio Karma decorrente de tua

própria natureza, tu hás de ser levado, irremediavelmente, a fazer o que,

devido à ilusão, tu não desejas fazer.

61. Ó Arjuna, o Senhor habita o coração de todos os sêres, fazendo com que

todos os sêres girem, como se estivessem sobre rodas.

62. ó Bharata, refugia-te n’Ele com todo teu coração; por intermédio de Sua

graça tu hás de atingir a Paz Suprema na Morada Eterna.

63. Assim a sabedoria, o mais profundo de todos os segredos, foi-te

desvendado por Mim; ponderando sobre ela maduramente, faze como

preferires.

64. Ouve novamente Minha Palavra Suprema, a mais profunda de tôdas; pois

tu és ternamente amado por Mim, eis porque falarei para teu bem.

65. Enche teu coração coMigo, sê devotado a Mim, adora-Me e curva-te

diante de Mim. Assim hás de atingir-Me. Na verdade eu te dou esperanças,

porque tu Me és caro.

66. Abandonando todos os Dharmas (ações retas e incorretas), vem a Mim

somente como refúgio. Livrar-te-ei de todos os pecados; não te entristeças.

67. Essas coisas jamais devem ser ditas por ti a alguém que seja desprovido de

austeridade ou que não tenha devoção, nem a quem não preste homenagens,

nem a quem fale mal de Mim.

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68. Aquêle que, com suprema devoção a Mim, declarar êsse segrêdo profundo

a Meus devotos, sem dúvida êste entrará em Mim.

69. Não há nenhum entre os homens que tenha prestado homenagens mais

caras a Mim do que êle, nem haverá nenhum outro na terra que Me seja mais

querido do que êle.

70. E aquêle que estudar êsse Diálogo Sagrado entre nós, por êste serei

adorado com sacrifício da sabedoria. Tal é minha convicção.

71. E até aquêle que ouça isso, cheio de fé e sem malicia, êle também, estando

livre do mal, há de atingir a sagrada região dos de ações justas.

72. ó filho de Pritha, ouviste tudo com atenção? ó Dhananjaya, o engano

motivado por tua ignorância foi destruído?

Arjuna disse:

73. Minha ilusão está destruída, e eu recuperei minha memória, por intermédio

da tua graça, ó imutável. Estou de pé, firme, com as dúvidas dissipadas; agirei,

segundo tua palavra.

Sanjaya disse:

74. Assim ouvi esse maravilhosos diálogo entre Vasudeva (Krishna) e Partha

de alma-grande, fazendo seus cabelos se arrepiarem.

75. Por intermédio da graça de Vyasa ouvi esta Yoga suprema e

profundíssima, diretamente revelada pelo próprio Krishna, o senhor da Yoga.

76. Ó rei, quando me lembro, repetidas vezes, deste diálogo maravilhoso e

sagrado entre Keshava e Arjuna, rejubilo-me outras tantas vezes..

77. E quando me lembro, repetidas vezes, daquela maravilhosíssima forma da

Hari (do Senhor), grande é minha admiração, ó Rei, eu me rejubilo outras

tantas vezes.

78. Em qualquer lugar em que estiver Krishna, o Senhor de Yoga, em

qualquer lugar em que estiver Partha, o arqueiro, existem a prosperidade, a

vitória, a glória e a constituição política sã. Tal é minha convicção firme.

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Aqui termina o Décimo Oitavo capítulo, chamado "O caminho da libertação

por meio da Renúncia", no Srimad Bhagavad Gita, a essência dos Upanishads,

a ciência do Brahman, o escrito de Yoga, o diálogo entre Sri Krishna e Arjuna.

Paz! Paz! A Paz esteja com todos!

Notas:

Capítulo I

1. Um Brahmin é chamado “duas vezes nascido” porque nasce pela segunda

vez quando recebe o sagrado cordão ou emblema para a vida espiritual.

2. O Senhor dos sentidos.

3. Conquistador de riquezas.

4. Nome do búzio.

5. O que tem o ventre de um tigre, indicando a formação física de um herói.

6. O Conquistador do sono.

7. Ritos funerários que se realizam pelo bem estar dos que morrem.

Capítulo II

1. Dever moral e religioso.

2. O Céu é a morada temporária do mais alto prazer.

3. Sattwa, virtude da bondade: Rajas, de atividade e paixão; Tamas, de treva e

inércia.

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4. Este versículo mostra a diferença entre a simples cultura livresca e a direta

visão da Verdade.

Capítulo III

1. Ora louvando o trabalho, ora a sabedoria.

2. Cerimônias religiosas, sacrifícios, adoração, etc.

3. A vaca simbólica, que possui o extraordinário dom de dar leite quando quer.

4. O grande rei que se tornou notável pela sua sabedoria e pelo seu

desprendimento.

5. Pela falta de exemplos sociais, morais e espirituais.

6. Ordem ou divisão de qualidades entre os homens.

7. Aspirando resultados.

8. No sentido do Eu e Meu.

9. O desejo e a cólera são inseparáveis, pois a cólera é causada pelo desejo

estorvado.

Capítulo IV

1. Brahamana, representa as qualidades espirituais – bondade, serenidade, etc.

Kshatrya representa a combinação de Sattwa (bondade) e Rajas (paixão,

ambição). Vasya, a classe comercial, é representada por Rajas (paixão) e

Tamas (estupidez). Sudra, ou classe dos servos, é representada por Tamas

(estupidez, ignorância, inércia). Em resumo, estas quatro castas dão uma

forma organizada de divisão do trabalho, colocando cada qual numa posição

de acordo com sua qualidade e sua capacidade.

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2. Este versículo diz que um homem verdadeiramente sábio sabe como

estabelecer a diferença entre corpo, espírito, sentidos e o EU. Mesmo quando,

no plano físico, a atividade está prosseguindo, ele sabe o que o verdadeiro Eu

não está agindo.

3. Exercícios respiratórios para controle do Prana, a força vital.

Capítulo V

1. Embora cresça na água, a flor de Lótus não é por ela apodrecida.

2. Vê, subjacente, o mesmo Eu por toda parte.

3. Um tipo de processo de concentração.

Capítulo VI

1. O que está lutando pela união com Deus através da prática de concentração

e meditação.

2. Processo de concentração.

3. Voto de vida piedosa e continência.

4. O desempenho de ritos e rituais dados nas escrituras.

Capítulo VII

1. Pranava ou Deus-Verbo. O mesmo que Logos da Teologia cristã.

2. Ilusão composta dos três Gunas.

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Capítulo VIII

1. Pessoas que renunciam e que são controladas.

2. Vida de continência e pureza.

3. Esses dois versos significam a evolução e a involução da soma total de

energia cósmica, representada pelo dia e noite de Brama.

Capítulo IX

1. Certo rito védico.

2. Sacrifício.

3. Oferenda em benefício dos ancestrais mortos.

4. O texto sagrado pelo qual alguém se purifica repetindo-o e meditando sobre

ele.

5. Diferentes ramos dos Vedas.

6. mencionado no versículo 17.

7. Néctar, restos do sacrifício.

8. Como a meta é atingida por ele com maior facilidade.

Capítulo X

1. Mais velho do que os sete.

2. Repetição silenciosa do texto sagrado.

3. Músicos celestiais.

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Fundador do sistema Sankhya de Filosofia.

4. Argumentos que procuram a verdade.

5. Copulativo

6. Verso de 24 sílabas.

Capítulo XI

1. Nomes de seres celestiais.

2. Aquele que pode atirar flechas até coma esquerda.

Capítulo XIV

1. Criação.

2. Dissolução.

3. Paixão, trevas.

Capítulo XV

1. Alimentos de quatro “estados” que necessitam ser mastigados, sugados,

engolidos e sorvidos.

Capítulo XVI

1. Criaturas impuras, cruéis, sem deuses. Antigos demônios.

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Capítulo XVII

1. Brahamanas.

2. Guias espirituais.

Ficha técnica:

O presente texto é uma versão produzida com base na tradução do Bhagavad

Gita feita por LIN YUTANG. Sabedoria da Índia e da China. RJ: Pongetti,

1945.

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