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Biblioteca Ativa 1

Gerdau acredita que a contribuiçãode uma empresa ultrapassa o compro-misso de gerar produtos e serviços dequalidade, lucro, empregos e impos-

tos. Tem como um dos seus objetivos estratégicoscontribuir para o desenvolvimento de comunidadesnas quais está inserida. Uma forma encontrada foisuprir a carência de livros das bibliotecas de escolase/ou centros comunitários dos municípios onde atua,bem como oferecer às bibliotecas este manual deapoio às práticas de leitura.

Hoje, a maioria das bibliotecas brasileiras lutacontra a falta de recursos para a atualização do acer-vo, em grande parte defasado e ineficiente em rela-ção às exigências do currículo escolar. A fim de aten-

der esta questão, a Associação Rio-Grandense deBibliotecários (ARB) e a L&PM Editores idealiza-ram o projeto Pró-Biblioteca. Cada biblioteca con-tém 200 títulos avaliados e aprovados por análise téc-nica realizada pelo Ministério da Cultura, em parce-ria com a Biblioteca Nacional.

O acervo privilegia leituras obrigatórias na redede Ensino Fundamental e de Ensino Médio, como,por exemplo, clássicos nacionais e internacionais,livros infantis, infanto-juvenis e livros de referência(guias e livros de saúde).

Agradecemos a colaboração das crianças e dosjovens do Núcleo Socioeducativo Cruz de Malta,entidade social de São Paulo, pelas ilustrações queenriquecem esta publicação.

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Apresentação ............................................................................................................... 4

Capítulo 1 – Ambiente físico dos acervos................................................................... 5

a) Organização e normas de funcionamento ............................................................. 5

b) Caracterização dos espaços utilizados ..................................................................... 5

c) Acesso ao acervo ...................................................................................................... 6

Capítulo 2 – Ambiente cultural dos acervos .............................................................. 8

A importância do ato de ler ........................................................................................ 9

Leitura como fonte de conhecimento ........................................................................ 9

Leitura como estímulo à imaginação .......................................................................... 9

Leitura como fonte de prazer estético ...................................................................... 10

Capítulo 3 – Práticas de incentivo à leitura na biblioteca ....................................... 11

Práticas diretas .......................................................................................................... 11

a) Saraus literários ..................................................................................................... 11

b) Leitura em voz alta: o papel do interpretante ...................................................... 11

c) Momentos de apreciação literária ........................................................................ 12

d) Roda de indicação de leitura ............................................................................... 12

e) Hora da audição de autores gravados .................................................................. 13

f) Exposição e leitura das melhores produções escritas ........................................... 13

g) Projeção de um filme produzido a partir de um livro ........................................ 14

Práticas indiretas ....................................................................................................... 14

a) Decorar o espaço com poemas e excertos em prosa ............................................ 14

b) Pôsteres de escritores ............................................................................................ 16

c) Hemeroteca com biografias, entrevistas, etc. ....................................................... 16

d) Mural com recortes de jornais sobre literatura.................................................... 16

e) Disponibilizar livros de jogos, com regras e história ............................................ 17

f) Marcadores de livros com indicação de leitura pelos usuários da biblioteca...... 17

g) Caixa de empréstimos de livros da comunidade ................................................. 17

h) Pastas com textos retirados da Internet ............................................................... 18

Capítulo 4 – Ampliação do acervo ........................................................................... 19

a) Incrementando a biblioteca ................................................................................. 20

b) Envolvendo o público na construção do acervo .................................................. 20

Para saber mais .......................................................................................................... 23

Livros ......................................................................................................................... 23

Revistas e jornais ....................................................................................................... 23

Sites ............................................................................................................................ 23

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ste manual, dedicado a bibliotecários,voluntários-orientadores de leitura eeducadores, foi preparado pelo Institu-to Avisa Lá, a pedido da Gerdau, com

o intuito de potencializar o trabalho desenvol-vido nas bibliotecas apoiadas pela empresa pormeio do projeto Pró-Biblioteca. O objetivo é ofe-recer subsídios educativos para o desenvolvimentode propostas com o material doado e alternati-vas para que as bibliotecas, formadas com o acervoGerdau, encontrem modos de ampliar suas ações

Ee títulos existentes, incorporando uma prática derenovação sistemática desejável para um lugarque pretende ser um espaço de leitura ativo edinâmico.

O Biblioteca Ativa traz algumas idéias de comoincrementar as propostas de leitura nas bibliotecas,transformando-as em momentos de interlocução en-tre os textos escritos e os leitores e, também, decomo a biblioteca pode ser um espaço vivo,instigante, aberto para o mundo da palavra em suasmanifestações verbal e escrita.

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riar ambientes que mobilizem a curio-sidade dos leitores é um objetivo queprecisa ser planejado com cuidado. Háque se pensar no aspecto material doambiente, na sua funcionalidade e nas

relações que se estabelecem entre os usuários, os li-vros e os responsáveis pelo acervo.

a) Organização e normasde funcionamento

Uma biblioteca precisa ser organizada de forma a:

• oferecer acesso fácil ao acervo permanente;• manter intercâmbio contínuo com livrarias,

editoras e centros culturais;• diversificar e atualizar, regularmente, o

acervo;• afixar informações sobre a localização

das obras;• possuir painéis e/ou murais de exposição;• ter fichários de consulta à disposição;• ter fichários de empréstimos de livros;• atender as demandas de leitura e pesquisa

dos diferentes usuários;• promover ações culturais instigantes;• ter iluminação adequada à leitura;• ter mobiliário que ofereça conforto

ao leitor.

As normas de funcionamento devem ser decidi-das de acordo com a realidade de cada biblioteca. Oimportante é que estejam registradas e façam partedo contrato de quem a utiliza. Entre elas, podemconstar:

• horário de funcionamento da biblioteca;• normas de uso dos materiais (por exemplo,

deixar os livros consultados sobre a mesa semrecolocá-los nas prateleiras, utilizar caixa parasugestões, etc.);

• normas específicas para a retirada de material;• procedimentos em caso de danos materiais;• carteirinha de identificação;• dicas de organização do acervo.

b) Caracterização dos espaços utilizados

Que biblioteca queremos oferecer aos nossosusuários? Que espaço de leitura pretendemos criar?Para responder a estas questões, basta lembrar emque situações nos sentimos à vontade lendo. Algunspreferem ler sentados em cadeiras, apoiando o livrona mesa; outros, num confortável sofá, na rede ouao ar livre. Pensando nessa diversidade, é desejávelque os espaços oferecidos comportem diferentespossibilidades para que o ato de ler aconteça.

Nesse sentido, espaços com almofadas e estei-ras no chão, uma rede no canto da sala ou poltro-nas podem ser diferentes opções. No caso de a bi-blioteca possuir uma saída para o jardim, é possíveldisponibilizar bancos próximos para a leitura. Utili-zando-se de materiais alternativos e de ajuda da co-munidade, consegue-se vencer a falta de recursos.Detalhes assim evitam a criação de ambientes se-melhantes aos das bibliotecas públicas, que, muitasvezes, têm um aspecto homogêneo, empobrecido ecom móveis básicos, locais, sem alma e cor.

Com uma simples interferência, é possível trans-formar um canto da biblioteca em um espaço acon-chegante para a leitura. Com a colaboração de cos-tureiras e associação de mães, é possível confeccio-nar almofadas usando retalhos de tecido. Os tapetespodem ser feitos usando recursos criativos, comocaixas grandes de papelão decoradas com colagensde papel ou retalhos de tecido, com camada de ver-

Ambiente físico dos acervos

Nenhum ambiente é vazio de significados: a forma como ele é organizado reflete a propostaeducativa subjacente. Assim, a biblioteca tanto pode convidar como desestimular a leitura.Cuidar da biblioteca significa, entre outras coisas, cuidar de seu espaço físico

É interessante que cada bibliotecapossua um visual diferenciado.

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niz para conservação, ou tiras de retalhos têxteis,barras de calça jeans unidas com bordados ou, ain-da, usando recursos locais, como sobras de tapeça-rias da região ou E.V.A., quando houver uma fábri-ca por perto.

Adolescentes podem criar biombos para expo-sição de textos e interação entre grupos. Aprovei-tar as contribuições dos próprios usuários é tam-bém uma forma de induzi-los à apropriação e aouso do espaço.

Portanto, encontrar soluções criativas locais éuma forma de driblar a falta de identidade dasbibliotecas em geral. Assim, quando não se tem pol-tronas para a biblioteca, pode-se substituí-las por ban-cos de ônibus encontrados em ferros-velhos da pre-feitura, reformando-os, ou, ainda, utilizar câmerascheias de ar, amarradas umas às outras, com tiras daprópria câmera para fazer poltronas. São muitas aspossibilidades, basta conversar com a comunidadepara descobrir como resolver a questão.

É necessário considerar, também, os aspectos sim-bólicos do espaço: a escolha das cores e o cuidado

com o ambiente, permanentemente renovado comescritas que informam, trazem histórias, emocio-nam, dialogam com o leitor. O espaço físico, comovemos, é carregado de intencionalidade. Precisamosconstantemente avaliar se a configuração espacialda biblioteca está sendo convidativa aos tempos deleitura.

c) Acesso ao acervo

O acervo deve oferecer variedade e qualidadede livros e materiais, especialmente tratando-se deuma biblioteca escolar. A bibliotecária Diana Mota,em seu artigo Biblioteca Escolar1, nos alerta para adiversidade de obras que podem compor um acervobibliotecário:

• obras de referência – dicionários, enciclopé-dias e similares;

• livros didáticos, manuais de textos e escolares;• livros paradidáticos – que levam o leitor a for-

mar a sua opinião;

Tânia de Almeida Oliveira

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• livros técnicos e científicos – relacionados comas disciplinas da escola;

• livros de cultura geral ou humanística – queabranjam não apenas assuntos relacionados àsmatérias dos currículos, mas que também ofe-reçam leituras sobre assuntos variados;

• livros de recreação, ficção, romances, aventu-ras, contos, poesia, humorismo, teatro, etc. –com a finalidade de satisfazer as necessidadesde leitura recreativa das crianças e dos jovense ajudá-los a desenvolver o hábito de ler e ointeresse pelos livros;

• folhetos, trabalhos datilografados, digitados oumanuscritos de professores e alunos;

• materiais audiovisuais – jogos, slides, fotogra-fias, filmes educativos, diafilmes2, fitas cassetee toda outra fonte de informação;

• materiais de informática – computadores,disquetes, CDs e CD-ROMs;

• materiais de reprodução;• periódicos e jornais.

1 Biblioteca escolar: orientações básicas para organização e fun-cionamento. Revista do Professor, Porto Alegre, 15 (58): 21-24,abr./jun. 1999.2 Tira de filme que contém uma sucessão de imagens que sedestinam a ser projetadas uma a uma, com ou sem som.

Para a organização do registro bibliográfico,seleção, aquisição, classificação, catalogação e pre-paro do livro para empréstimo, consulte o ConselhoFederal de Biblioteconomia (www.cfb.org.br), oConselho Regional de Biblioteconomia de sua re-gião ou, ainda, www.elysio.com.br, que traz um sis-tema desenvolvido para administração de coleçõese serviços de bibliotecas e centros de informação.

Para se fazer um uso autônomo do acervo, épreciso, sobretudo, buscar informações, acessar li-vros e materiais de interesse. Conhecer a organiza-ção das prateleiras, estantes, fichários, arquivos e osignificado dos códigos marcados nos livros faz par-te do trabalho realizado pelo bibliotecário ou mes-mo por um voluntário que auxilia os usuários nesseconhecimento.

Gustavo Lima Sant’Anna

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ensar sobre o contexto cultural exi-ge um olhar sobre o que ocorre narelação entre os usuários, a biblio-teca e seus responsáveis: que víncu-los sociais e culturais são estabe-

lecidos com o usuário? Há disponibilidade pessoalpara o atendimento? Há incentivos para trocas so-bre as leituras entre leitores? O universo dos livros

oportuniza a circulação de idéias? O ambiente é pro-pício a práticas culturais e pedagógicas variadas deacordo com o público?

Numa avaliação, se estas questões forem res-pondidas negativamente, será necessário repen-sar todo o projeto da biblioteca, buscando for-mas de ação que modifiquem a relação com osusuários.

Ambiente cultural dos acervos

Não só os aspectos físicos do ambiente precisam ser pensados para atender melhor os leitores: umabiblioteca pode ser, simplesmente, um depósito de livros empoeirados que poucos lêem ou consultam.Para que ela tenha uma importância marcante na vida dos usuários, é preciso somar, aoplanejamento do espaço, o cuidado com as relações interpessoais que se estabelecem nesse ambiente

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Carlos Eduardo H. da Silva

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A importância do ato de ler

Lemos por diversos propósitos: para nos instruir,obter informações, seguir instruções, por prazer, paracomunicar um texto a um auditório, revisar umescrito próprio, etc. Todos estes propósitos sãoconstitutivos para a formação de um bom leitor;portanto, devem estar na pauta das atividades deleitura oferecidas na biblioteca.

Quando se lê, cria-se um texto paralelo, que é oresultado daquilo que se entendeu e interpretou.Chegar a essa síntese própria é uma condição dese-jável para a formação de bons leitores.

O bibliotecário ou o voluntário que se dispõe atrabalhar nesse espaço deve ser um modelo de leitorpara os usuários da biblioteca, envolvendo-se com omundo da leitura. Antes de mais nada, é preciso gos-tar de ler e se interessar pela leitura como fonte deconhecimento e prazer. Esta é a melhor forma de sepreparar para atender bem o público.

“Sentimos muito bem que nossa sabedoriacomeça onde a do autor termina, e gosta-ríamos que ele nos desse respostas, quan-do tudo o que ele pode fazer é dar-nos de-sejos. Estes desejos, ele não pode desper-tar em nós senão fazendo-nos contemplara beleza suprema à qual o último esforçode sua arte lhe permitiu chegar. Mas poruma lei singular e, aliás, providencial daótica dos espíritos (lei que talvez signifiqueque não podemos receber a verdade de nin-guém e que devemos criá-la nós mesmos),o que é fim de sua sabedoria não nos apa-rece senão como começo da nossa, de sorteque é no momento em que eles nos disse-ram tudo que podiam nos dizer que fazemnascer em nós o sentimento que ainda nadanos disseram.”

Sobre a leitura. Proust, Marcel. São Paulo: Pontes, 1989.

Leitura como fonte de conhecimento

A leitura pode ser uma fonte inesgotável de co-nhecimento. Lemos para nos informar, para saciarnossa curiosidade, porque somos desejosos de saber,porque queremos conhecer mais acerca de um as-sunto, dialogando com a produção de conhecimen-to da atualidade ou do passado.

Ler para compartilhar o conhecimento deveser uma prática cotidiana das bibliotecas, incenti-vadas por seus gestores. Livros, revistas, jornais,Internet, folhetos, dicionários especializados, le-gendas e imagens devem fazer parte do repertóriode crianças, adolescentes e adultos que freqüen-tam a biblioteca. A leitura desses textos pode fa-vorecer o posicionamento crítico diante do mun-do, permite a construção de argumentos, hipóte-ses e o estabelecimento de um diálogo mais aber-to com o conhecimento.

Leitura como estímulo à imaginação

Entre as diversas formas de leitura, existemaquelas que são alimentos para a alma, dizem res-peito à constituição da subjetividade, diferindo daleitura que procura um conhecimento mais obje-tivo. Nesse sentido, as diferentes leituras são com-plementares. Enquanto algumas trazem respostasrelativamente objetivas para a compreensão domundo, outras trazem perguntas, dúvidas e, porconseqüência, geram uma diversidade de interpre-tações.

O ato de ler freqüentemente criauma intimidade do leitor com os

diferentes tipos de textos.

A leitura está presente em nossa vidatambém para ocupar o lugar do simbólico,

do imaginário, da fantasia.

Tanto quanto um espaço de pesquisae de acesso à informação, a bibliotecadeve ser um lugar de fruição estética,

no qual a gratuidade do ato de lertambém deve ser garantida.

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Enquanto em uma leitura procuramos respos-tas externas, compartilhando significados, em ou-tra procuramos respostas internas que nos permi-tem uma viagem interior simbólica em busca desentido.

“...a literatura tem o privilégio de serequívoca. A qualidade da dúvida em umromance talvez seja uma forma de nosdizer que, como a autoria (e portanto aautoridade) é incerta e suscetível demuitas explicações, o mesmo acontececom o mundo. A realidade não é fixa, émutável. Só podemos abordar a realida-de se não pretendermos definí-la de umavez por todas.As verdades parciais propostas por um ro-mance são um baluarte contra as imposi-ções dogmáticas.”

O elogio da incerteza. Fuentes, Carlos. Folha de

S.Paulo, Caderno Mais!, 9/10/2005.

Leitura como fonte de prazer estético

Em um mundo permeado pela ditadura da utili-dade, a literatura, ou parte dela, representa um oásisque escapa a um fim preciso, a uma intencionalidadeobjetiva. Os textos de ficção lidam com umaintencionalidade difusa, capaz de carregar um senti-do cujo único fim é o prazer. Um prazer de ordemintelectual, é certo, mas também, e principalmente,de ordem espiritual ou metafísica – um prazer semutilidade imediata.

A biblioteca pode ser o espaço onde as crianças eos adolescentes experimentam o prazer particular einsubstituível da leitura sem um fim imediato. O aces-so, através dos livros, ao conhecimento humano, assimcomo ao conhecimento simbólico, só será pleno quan-do a eles se somar o prazer da leitura. Nesse sentido, lerpelo simples prazer de ler é um gesto de extrema com-plexidade. É nesse momento que se constitui a camadamenos visível do conhecimento, aquela que, por nãoter um fim imediato, solda todas as outras.

Paulo Cesar Piola

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Práticas diretas

Ao lermos um livro, compartilhamos o universocriado pelo autor, confrontando-o com o nosso pró-prio universo de conhecimentos, sentimentos e ex-periências. Partilhar uma leitura com outras pessoasé ampliar as possibilidades de troca entre diversoscontextos.

a) Saraus literários

A promoção de saraus literários deve fazer partedas ações da biblioteca, acontecendo mensalmente,ou mais vezes, conforme a disponibilidade das insti-tuições. No caso de bibliotecas escolares, é precisoum rodízio semanal desses momentos para atendera todas as salas. É desejável que cada grupo ouça,pelo menos uma vez por semana, uma leitura reali-zada na biblioteca. Para tanto, organizar uma gradecom os horários, para atender os diferentes grupos,ajuda a garantir que todos usufruam desses momen-tos de leitura compartilhada.

Os saraus devem contemplar tanto essa situaçãoquanto a apreciação literária.

b) Leitura em voz alta: o papeldo interpretante

A leitura em voz alta exige preparo do interpre-tante para dar vida ao texto. Nem toda leitura emvoz alta é convidativa e tem o poder de arrebatar oouvinte. Portanto, o papel do interpretante, seja elebibliotecário ou voluntário de leitura, é fundamen-tal, devendo ser construído com dedicação. Assim,o comportamento desse leitor competente serviráde modelo aos ouvintes.

“O interpretante informa à criança, aoefetuar esse ato aparentemente banal quechamamos leitura, que essas marcas têm

poderes especiais: basta olhá-las para pro-duzir linguagem. O ato de leitura é umato mágico. O que existe por trás dessasmarcas para que o olho incite a boca a pro-duzir linguagem? Certamente é uma lin-guagem peculiar, bem diferente da comu-nicação face a face. Quem lê não olhapara o outro, mas para a página (ou qual-quer outra superfície sobre a qual as mar-cas foram realizadas). Quem lê parece fa-lar para o outro, porém o que diz não é asua própria palavra, mas a palavra de umOutro que pode ser desdobrada em mui-tos Outros saídos não se sabe de onde,também escondidos atrás das marcas. Defato, o leitor é um ator: empresta sua vozpara o texto ser re-apresentado (o senti-do etimológico de “tornar-se a apresen-tar”). Portanto, o intérprete fala, mas nãoé ele quem fala; o interpretante diz, po-rém o dito não é seu próprio dizer mas ode fantasmas que se realizam através desua boca (...).”Interpretação, intérpretes, interpretantes. Piaget-

Vygotsky, novas contribuições para o debate. EmíliaFerreiro, Ática.

Alguns procedimentos devem ser consideradospelo leitor:

• explicitar o motivo da escolha do livro;• fornecer informações sobre o texto: título, au-

tor, editora, ano de publicação e ilustrador, casotenha;

• selecionar trechos da introdução e de algunsdados biográficos do autor, para compartilharcom os ouvintes, contextualizando, assim, aprodução do texto;

• ler o texto, previamente, preparando a leiturade modo que seja interpretada com fluência e

Práticas de incentivo à leitura na biblioteca

Não basta ter uma biblioteca para a formação de uma comunidade leitora. É preciso,sobretudo, um plano de ação que se preocupe com as práticas de incentivo à leitura.Cada biblioteca pode criar formas de atingir esse objetivo. Vejamos, a seguir, algumas delas

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com vida própria como a de quem conhece ese identifica com o texto lido.

c) Momentos de apreciação literária

Para a formação de um bom leitor, é necessárioque se contemplem espaços nos quais haja umaatmosfera de troca e intimidade com o universoda cultura escrita. Compartilhar opiniões sobre oque se lê permite o maior trânsito dos leitores pelomundo da leitura. Vejamos algumas dicas de comoincentivar a prática de apreciação literária:

• promover rodas de comentários sobre as lei-turas realizadas, sejam elas do bibliotecário oumesmo dos usuários da biblioteca;

• tecer comentários a respeito do que foi lido,instigando os ouvintes a fazer o mesmo;

• estimular os ouvintes a conversar a respeitodo que foi lido;

• retomar um ou outro trecho que chamou aatenção do grupo para que comentem o quelhes agrada no texto;

• separar outros textos disponíveis na bibliotecado mesmo autor, incentivando os usuários aconhecer mais sobre a produção do escritor.

d) Roda de indicação de leitura

O momento de encontro de um grupo nabiblioteca pode ser muito propício às trocas deindicações de leitura. O bibliotecário deve exerceresse papel e incentivar os usuários a participardessa função. Assim sendo, é interessante quepromova rodas de conversa, nas quais cada leitortraga o livro que leu na semana/mês para indicar

Tânia de Almeida Oliveira

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a leitura, compartilhando, com o grupo, as razõesde sua indicação.

e) Hora da audição de autores gravados

Montar um acervo audiovisual, com fitas casse-te, CDs, vídeos e DVDs, será uma boa forma dedisponibilizar ao público momentos de fruição deleitura e audição de entrevistas e depoimentos so-bre o processo de criação, tão importante de ser com-partilhado com o leitor.

Para compor o acervo, pode-se realizar grava-ções caseiras de autores conhecidos da comunida-de, e, também, contar com material já publicadoe disponível no mercado, encontrado em redestelevisivas, centros e institutos culturais emidiatecas de centros universitários, bem comoaqueles publicados e vendidos em livrarias e lojasdo ramo.

Convidar autores para leitura de trechos de seuspróprios textos, seguida de uma conversa com opúblico freqüentador da biblioteca, aproxima oleitor do autor. Esse procedimento amplia odiálogo iniciado pela leitura e incentiva a busca porum conhecimento mais aprofundado da obra doescritor.

É interessante que os funcionários responsáveispelos agendamentos façam uma preparação préviaao convite, a fim de que os usuários da bibliotecasaibam quem é o autor, o que escreveu e em quecontexto se insere o trabalho e, de preferência, queentrem em contato com uma ou outra obra sua comantecedência.

Tais encontros podem ser gravados, em fita devídeo e/ou fita cassete, para que sejam disponibiliza-dos, em outras ocasiões, para os demais freqüenta-dores do espaço.

É aconselhável que se faça um cronograma an-tecipando quantos autores serão convidados, e emque datas, para que os encontros sejam agendados ecomunicados com antecedência.

f ) Exposição e leitura das melhoresproduções escritas

Quando se trata de uma biblioteca inserida emum contexto escolar, ou daquelas que oferecem ofi-cinas de produção de textos para o público, é dese-jável que as produções de textos de autores con-sagrados estejam à disposição. É importante, tam-bém, valorizar textos produzidos pelos usuários dabiblioteca, pois esse procedimento contribuirá parao objetivo social comunicativo da escrita. Um tex-to, produzido num contexto de sala de aula, nãodeveria ter como único destinatário o professor.Uma boa produção precisa circular entre diferentesleitores, e o fato de tornar público um texto tam-bém leva o produtor a se preocupar mais com a car-pintaria da escrita, um cuidado típico de quem es-creve para um público. Incentivar ações de sociali-zação das produções escritas dos estudantes, em es-paços públicos, contribui para a valorização do atode escrever e institui a cultura de compartilhar lei-turas entre colegas de classe.

Para a escolha mensal dos textos a serem sociali-zados no espaço da biblioteca, é preciso que cadasala de aula tenha realizado leituras internas em seusgrupos e elegido os textos que querem colocar emdestaque. É interessante que as produções escritasestejam em conformidade com um gênero de texto,o que é muito diferente das “redações”, sem gêneroou interlocutor, produzidas por alunos no ensino tra-dicional.

Ao final de cada ano, faz-se uma seleção de to-dos os textos para uma publicação caseira, que ga-nha lugar especial no acervo da própria biblioteca.

Programas sobre escritores e suas obras

� Instituto Moreira Salles (www.ims.com.br) –tem uma série de vídeos e CDs com leitura deautores (CD O autor por ele mesmo), como José

Paulo Paes, Adélia Prado, Tatiana Belinky, Mar-celo Rubens Paiva, Fernando Gabeira, FerreiraGullar, etc.

� TV Globo News (www.globonews.globo.com) –destaque para o Programa Starte, que trazentrevistas com personalidades nacionais einternacionais do mundo da cultura. Trans-mitido quase todos os dias em horários alter-nativos.

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g) Projeção de um filme produzidoa partir de um livro

Como exemplo do diálogo que as diversas mani-festações artísticas mantêm entre si, é necessáriomostrar aos usuários da biblioteca filmes que forambaseados em textos literários. Para isso, a bibliotecapromoverá projeções de filmes baseados em livros jálidos ou poderá realizar o caminho inverso: incen-tivar a leitura do livro, do qual originou-se determi-nado filme, para só então exibi-lo, seguido de sessãode debate.

Sabemos que muitas bibliotecas realizam prá-ticas de incentivo indireto com muita competên-cia, como as bibliotecas públicas que promovemencontros para jogos RPG (Role Playing Game),jogos cooperativos de representação, que atraemmuitos adolescentes. Como esse jogo está atrela-do, diretamente, à leitura de textos ficcionais ede história, a procura por esse tipo de livro é ine-vitável.

Da mesma forma, abrir a biblioteca para de-bates de determinados assuntos com especialis-tas será um convite indireto à leitura. É preciso,também, cuidar do objetivo maior da biblioteca,que é disponibilizar bons textos e formar umacomunidade leitora. Assim sendo, se o debate irádiscutir, por exemplo, a questão do plebiscito arespeito do desarmamento ou não da população,é interessante que sejam selecionados diversostextos que tratem, direta ou indiretamente, daquestão.

Pode-se, também, abrir a biblioteca para outrasfinalidades que gerem interesse em leituras específi-cas, como, por exemplo, para uma roda de chorinho.Após ouvirem a apresentação, os participantes po-dem apreciar textos com as letras das músicas, bio-grafias dos compositores e textos que falem dessegênero musical e de seu contexto de criação selecio-nados previamente.

a) Decorar o espaço com poemase excertos em prosa

Tanto um bom acervo, que conta com cons-tantes aquisições e que visa instigar a curiosidade deseus freqüentadores, quanto a organização do espa-ço físico da biblioteca (paredes, painéis, biombos,etc.) potencializam o convite à leitura.

Semanalmente, é desejável selecionar textos paracompartilhar, com os freqüentadores da biblioteca,poesias e excertos em prosa. A maneira de apresen-tar tais textos é importante. Estudar formas de cha-mar a atenção do leitor deve ser uma preocupaçãoconstante do responsável pelo espaço. Contar coma ajuda dos freqüentadores para tal tarefa é uma boaopção para escolher os locais e as formas de exposi-ção dos textos, de modo que sejam socializados elidos por um maior número de pessoas. Muitas ve-

Práticas indiretas

Até agora, vimos diferentes práticas de incenti-vo direto à leitura, ações cuja ênfase está em com-partilhar a apreciação de textos, em local e tempodelimitados.

Há outras formas, entretanto, de incentivaruma comunidade leitora. São práticas que dispo-nibilizam textos em formatos distintos aos dos li-vros com os quais o usuário interage. Essas ações,atreladas à escolha do usuário, precisam ser bemplanejadas e avaliadas constantemente. Só assimessas iniciativas se tornarão convites eficazes aomundo dos textos.

Sugestões de filmes (a partir do acervo de livrosoferecido pela Gerdau):

� Livro: Triste Fim de Policarpo Quaresma, de LimaBarreto (Vídeo: Triste Fim de Policarpo Quares-ma, de Paulo Thiago)

� Livro: Coração das Trevas, de Joseph Conrad(Vídeo: Coração das Trevas, de Orson Welles)

� Livro: Frankenstein, de Mary Schelley (Vídeo:Frankenstein, de Kenneth Branagh)

� Livro: Assassinato no Expresso Oriente, de AgathaChristie (Vídeo: Assassinato no Expresso Orien-te, de Sidney Lumet)

� Livro: As Aventuras de Robinson Crusoé, deDaniel Defoe (Vídeo: Robson Crusoé, de LuisBuñuel)

� Livro: Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Ma-chado de Assis (Vídeo: Brás Cubas, de JúlioBressane)

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zes, os usuários desejam e podem colaborar com o“marketing” do texto.

Algumas formas alternativas de exposiçãosugeridas:

• caixas de papelão pintadas, presas com fio denylon ao teto, com textos presos em cada umada laterais;

• varais literários, com textos fixados com pren-dedores;

• caixa-cineminha, para expor o texto como sefosse um pergaminho que é desenrolado paraver o que está escrito;

• painéis pintados sobre papelão com grafitagemde texto.

O interessante é buscar formas que convoquem aspessoas ao universo da escrita. Sem esquecer que tãoimportante quanto chamar a atenção é escolher bonstextos retirados dos próprios livros do acervo, daInternet, das crônicas dos jornais, das revistas, etc.

Para que essa atividade seja incluída no cotidianoda biblioteca, é importante que se estabeleça um de-terminado dia da semana para a renovação dos tex-tos a serem publicados. No caso da biblioteca escolar,o bibliotecário ou voluntário responsável pode pro-por um sistema de revezamento de quem coloca asnovidades no espaço, nos murais, compartilhando acriação de um espaço de leitura instigante com todos.

Painéis para troca de opiniões sobre livros tam-bém podem ser criados.

Jean Axel

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c) Hemeroteca com biografias,entrevistas, etc.

Uma hemeroteca é uma seção da bibliotecaonde se colecionam recortes de matérias de jor-nais e revistas. Tais recortes estão organizados porassuntos com o objetivo de proporcionar novas fon-tes para pesquisa. A vantagem dessa forma de or-ganização é a facilidade na consulta, por conta desua classificação e indexação, e também a idéiade colecionar matérias que enriqueçam os assun-tos em pauta ou que forneçam informações sobreos autores pesquisados.

O material selecionado pode ser colado em fo-lha sulfite ou cartolina, no tamanho A4, com as res-pectivas fontes (nome do periódico, local e data) eorganizado por índice ou ordem alfabética, para fa-cilitar a localização de informações específicas. Pas-tas ou arquivos fichários de A a Z são bons organiza-dores desses materiais. No caso da hemeroteca dosautores, deve-se cuidar para que o sobrenome ve-nha antes do nome, como, em geral, são consulta-dos os nomes nas bibliotecas (exemplo: Lobato,Monteiro).

Os jornais, as revistas literárias e a Internet sãoótimas fontes para a montagem da hemeroteca. Taismateriais devem ser consultados com freqüência. Osusuários podem ajudar a selecionar recortes ecatalogá-los em suas respectivas pastas ou arquivos.Esse procedimento vale para os autores e para osassuntos escolhidos, tais como jogos eletrônicos,ciências, esportes, autores, etc.

Mesmo que não se tenha assinatura de periódi-cos, pode-se fazer a seleção de matérias, reporta-gens e entrevistas, buscando-as nos sites de diferen-tes jornais e revistas disponíveis na Internet. Nes-ses casos, a hemeroteca pode ser informatizada, sen-do guardada no próprio computador ou em CDsespecíficos.

d) Mural com recortes dejornais sobre literatura

Na sala da biblioteca, os assuntos sobre litera-tura que são publicados periodicamente nos jornaise revistas devem ter espaço privilegiado. Resenhas,lançamentos do mercado editorial, informações so-

b) Pôsteres de escritores

Em geral, reconhecemos diversas figuras públi-cas mesmo sem termos a oportunidade de conhecê-las pessoalmente, isso porque há uma circulação deimagens na mídia, seja ela impressa ou televisiva.Em muitos casos, há uma valorização excessiva dealgumas figuras públicas, ligadas ao esporte, porexemplo, em detrimento de figuras importantes daliteratura nacional e internacional.

Fotos e retratos de escritores são encontrados emobras autobiográficas, nas contracapas dos livros. Emmuitos casos, é possível retirar a imagem da Internet,consultando sites de busca. Crianças e adolescentespodem ser convidados a fazer desenhos de observa-ção do autor, ou mesmo pinturas, selecionando al-gumas dessas produções para colocar na biblioteca,que deve sempre contar com um espaço reservadoàs imagens.

No caso de autores que têm fotos em diversosmomentos da vida, pode-se relacionar a data da fotocom trechos do que escreveu, compondo um painelcronológico da obra no decorrer da sua vida.

Com o tempo, é provável que se tenha muitasimagens dos autores. Será importante separar pas-tas grandes, do tipo sanfonada, para guardá-las, ex-pondo-as em sistema de rodízio, conforme o projetode apresentação dos autores à comunidade.

Quando a biblioteca promove semanas específi-cas para divulgar um autor, é interessante que se te-nha mais de uma imagem sua, em diferentes contex-tos: com a família, com os amigos, trabalhando, etc.

Algumas bibliotecas têm uma forma particular dehomenagear autores de livros ou mesmo composito-res, fazendo bonecos de pano, com rosto de papelmachê, que retratem o artista em questão.

Uma outra possibilidade é fotocopiar o retrato 3x4do artista, em tamanho A3, e colar, em papelão, paraque as crianças completem o resto do corpo e o dis-ponha de forma que fique em pé na biblioteca. É acon-selhável introduzir essas imagens no momento em quese apresenta a obra da pessoa homenageada.

Uma biblioteca deve promover ações paraque os usuários também conheçam a

imagem dos autores.

Biblioteca Ativa 17

bre feiras de livros, ações sociais que promovam acomunidade leitora, entrevistas com determinadosautores, lei de incentivo à publicação, indicação deprogramas televisivos que entrevistam autores, etc. –todos estes são assuntos que se somam ao conheci-mento mais amplo da literatura e seu contexto deprodução e divulgação. Considerar esse aspecto é con-tribuir para a formação de leitores críticos.

Outra forma de atualização da biblioteca é soli-citar às livrarias e editoras o recebimento de bole-tim informativo de lançamentos e novidades. As-sim, pode-se ampliar o uso da biblioteca local paraalém de seu espaço. Sabemos que diversas livrariaspromovem hora do conto, histórias, conversas comautores, etc. Nesse caso, divulgar o evento contribuipara que os usuários da biblioteca conheçam outroscentros de difusão literária.

e) Disponibilizar livros de jogoscom regras e história

O espaço da biblioteca, com cadeiras, mesas emesmo com área de chão livre, é propício para par-tidas de jogos. Como citamos, muitas bibliotecasoferecem espaço para o jogo de xadrez, por exem-plo. Aproveitar o imenso interesse dos jovens e mes-mo dos adultos pelo jogo é uma forma de trazê-lospara freqüentar o espaço da biblioteca. Nesse caso,é importante um local destinado aos jogos que favo-reça a sua prática. Assim, a biblioteca serve, tam-bém, como fonte de informação, divulgando as re-gras dos jogos, seu histórico, sua origem e dadosque podem ser encontrados tanto em revistas e li-vros especializados como na Internet (confira, emanexo, a relação de alguns sites e livros).

A comunidade pode ajudar a confeccionar ostabuleiros de madeira ou papelão com peças fei-tas de sucatas. Há uma série de jogos de diferen-tes países. Saber suas origens é uma forma de apri-morar o conhecimento para além do jogo em si.Saber que o faraó egípcio Tutankamon, há 4.300anos, jogava o Senet, um jogo de tabuleiro feito depapiros e peças de pedra e marfim; que os impera-dores e soldados romanos distraíam-se com parti-das de dados de 14 faces feitos de chumbo; que osgregos e outros povos mais antigos jogavam cotidia-namente; que o jogo africano Mancala é o pai de

todos os jogos, tendo mais de 7.000 anos de exis-tência, e que hoje está disponível tanto na Internetcomo em celulares. Estes são apenas alguns exem-plos de como uma biblioteca pode contribuir parao enriquecimento cultural.

f ) Marcadores de livros com indicaçãode leitura pelos usuários da biblioteca

Um bom convite à leitura são as indicações deamigos e pessoas em cujo gosto literário confiamos.Em outros casos, resenhas competentes e convida-tivas, que encontramos em jornais e revistas, nosinstigam a conhecer um livro. É desejável que osfreqüentadores das bibliotecas tenham contato comessas indicações. Assim como na locadora, ondemuitas vezes um filme é escolhido pela leitura desua resenha na capa, seria interessante que os lei-tores pudessem ter o hábito de folhear o livro parasaber do que se trata. Esse convite é incentivado,quando chamamos a atenção para a obra e a ofere-cemos à leitura e quando há ações pontuais de in-dicação de leitura, via escrita feita pelos própriosusuários da biblioteca.

Para estimular esse trabalho, o bibliotecário dei-xa disponível aos freqüentadores marcadores de li-vros com espaço para que os leitores escrevam omotivo de suas respectivas indicações e assinem seunome. Tal indicação é colocada logo abaixo do li-vro, com a parte escrita para fora da estante. Esta éuma prática que chama a atenção para um livro quepoderia passar despercebido na estante, além do quefavorece o encontro de leitores da mesma obra paratrocarem opiniões a respeito.

g) Caixa de empréstimosde livros da comunidade

Uma forma de aumentar o número de livros dis-poníveis, principalmente em bibliotecas que não têmum acervo muito extenso, é separar uma estante oucaixa para livros emprestados pela própria comunida-de. Nesse caso, é preciso que os livros estejam com onome do dono e com a respectiva ficha de retirada eentrega, ampliando, assim, a rede de relações e trocas.Vale sugerir, ainda, que, quem emprestar, coloque ummarcador com recomendação de leitura.

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h) Pastas com textos retirados da Internet

A montagem de pastas com textos retirados daInternet é uma solução para o contato dos usuáriosda biblioteca com diferentes autores: colunistas dejornais, poetas, cronistas, cartunistas, etc.

Cada biblioteca deve encontrar uma forma dearquivar essas pastas para circulação. Podem organi-zar por autores, quando estes escrevem com uma

certa sistemática para algum jornal, ou mesmo sele-cionar as pastas por gêneros literários.

Esta prática contribui para que a comunidadeleitora acompanhe a produção de um mesmo autore possa criar opinião sobre textos ou autores dos quaismais gosta. Pode incentivar, também, a busca autô-noma por autores interessantes. Por isso, é semprebom fornecer a fonte de pesquisa (de que site foiretirado o texto).

Paulo Gomes Eugênio

Biblioteca Ativa 19

Ampliação do acervo

A construção de uma biblioteca equipada, como centro de pesquisas e referênciasliterárias, depende de um trabalho sistemático de constituição permanentedo acervo e de propostas de uso do mesmo

Gustavo Faustino

20 Biblioteca Ativa

té aqui, procuramos dar sugestõesde como potencializar as situaçõesde leitura, dando ênfase ao traba-lho com textos literários prioriza-dos no acervo doado pela Gerdau.

É interessante, entretanto, que uma biblioteca tam-bém seja composta por textos de diferentes áreas doconhecimento, tanto das ciências como das artes,ampliando o acervo literário.

A seguir, orientações para a ampliação do acervo.

a) Incrementando a biblioteca

A biblioteca comporta outras mídias: CD-ROM,vídeos, CDs de música, acervo de imagens, etc. Valea pena entrar em contato com instituições culturaisque ofereçam materiais desse tipo para verificar apossibilidade de doação ou compra.

Para a ampliação do acervo de uma biblioteca, éindispensável planejar um cronograma de ações pon-tuais e eficazes, estabelecendo prioridades de aquisi-ção. Uma alternativa é centrar esforços em campa-nhas para melhoria de acervos que estejam articula-dos com projetos desenvolvidos pela biblioteca oupelas salas de aula da escola. Caso um grupo estejadesenvolvendo um projeto com histórias em qua-drinhos, a biblioteca pode organizar campanhas paraarrecadar gibis, solicitar doações às editoras, convi-dar cartunistas para um debate, selecionar textossobre o tema na Internet e selecionar filmes basea-dos em HQ, sempre lembrando que o mundo dosquadrinhos ganha mais e mais status de gênero lite-rário, além da vantagem de falar a mesma lingua-gem praticada por muitos jovens.

Se a escola está realizando uma Feira das Nações,a biblioteca pode atuar colecionando uma série demateriais: livros, revistas, folhetos informativos eCDs de várias partes do mundo. Caberia também aobibliotecário selecionar histórias características de de-terminadas culturas, ampliando o conhecimento.

As possíveis ações da biblioteca, para incrementaro trabalho e oferecer um maior número de infor-mações sobre o mundo, seriam:

• fazer assinatura de jornal, disponibilizando-oaos usuários;

• formar uma hemeroteca com informações do

jornal, organizando os países de A a Z;• arquivar, em caixas, folhetos informativos de

turismo/viagem de vários países, bem como car-tões-postais de diferentes regiões do mundo;

• colecionar guias turísticos de diferentes países;• comprar diferentes revistas que tragam infor-

mações sobre diversos países, como NationalGeographic, Revista Terra, etc.;

• separar, em pastas grandes, cartazes de váriaspartes do mundo adquiridos via consulados eembaixadas;

• ter mapas-múndi e globo terrestre à disposição.

Ações como estas, atreladas ao projeto específi-co, respondem mais objetivamente às necessidadesdos usuários, dando continuidade à formação dacomunidade leitora. O que importa é incrementar oacervo e a possibilidade de leitura. Nem todas as ativi-dades de incremento da biblioteca visam a ampliaçãodo acervo. Algumas objetivam trazer o público paradentro do espaço. É o caso de eventos, como a reali-zação de banca de troca de livros. Segundo este pro-jeto, cada usuário leva um ou mais livros para umencontro de permuta que vai gerar maior circula-ção dos livros.

b) Envolvendo o público naconstrução do acervo

Sabemos da dificuldade que é montar um bomacervo, sobretudo mantê-lo e aprimorá-lo. Portan-to, ações que envolvam o público, na melhoria dascondições, são sempre muito bem-vindas, mas preci-sam ser estrategicamente planejadas para que amelhoria se traduza em benefício a toda a comuni-dade. Vejamos algumas possibilidades:

� Pedido de livros às editorasÉ interessante solicitar catálogos de livros às edi-toras e verificar a possibilidade de doação de obraspara o acervo.

� Aquisição de acervo bibliográfico em sebosOs sebos oferecem uma grande oferta de títulosde qualidade a preços muito mais acessíveis. Paratanto, o pedido de auxílio financeiro à comunida-de torna-se uma necessidade. Uma possibilidade

A

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seria fazer parcerias com o comércio local para aju-dar na constituição do acervo. Os alunos podemcriar placas de papelão nas quais explicitam as ini-ciativas de apoio à biblioteca.

� Promoção de eventos para aquisição de livrosCampanhas feitas para doação podem surgir comoiniciativa da biblioteca, através da organização defestas e eventos cuja entrada seja contribuir comlivros ou verba destinada à sua compra.

� Promoção de campanha de ampliação do acer-vo de livros em diferentes instituiçõesEntrar em contato com a direção de escolas pri-vadas para uma campanha que ajude a equipar abiblioteca por meio de doações; solicitar junto agrandes empresas uma contribuição, seja através

de doação de revistas, livros, assinaturas anuaisde periódicos para a biblioteca, seja através deverba destinada para compra de livros.

� Cartas-ofício para solicitação de materiais de pes-quisa a instituições públicas e privadas que ofere-çam publicaçõesMuitos órgãos públicos e privados disponibilizammateriais, como informativos, vídeos, livros, ma-nuais, etc. Grande parte oferece, gratuitamente, omaterial que produz mediante análise da necessi-dade de uso e aproveitamento do material, como éo caso do Instituto Cultural Itaú que tem uma sériede publicações, como CDs, fitas de vídeos e mate-riais impressos sobre arte, literatura e história.Em todos os casos de solicitação pública de mate-rial, a biblioteca deve agradecer, enviando cartas,

Willian S. B. da Silva

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materiais ou boletins informativos de como o ma-terial está sendo usado.

� Organização de feira de livrosCombinar com livreiros e editoras a organização de

estandes para exposição e venda de livros no espaçoda biblioteca, com a possibilidade de receber umaporcentagem da venda em títulos novos para o acer-vo. Essa feira pode fazer parte do calendário de ativi-dades da escola (realizada anualmente).

Irisvalda de Souza Barros

Biblioteca Ativa 23

Livros

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