BIBLIOTECA POPULAR UMA PARADA PARA LER E PENSAR - … · Aprendi coisas que levarei para o resto da...

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GLÁUCIA PEREIRA DE SOUZA BIBLIOTECA POPULAR? UMA PARADA PARA LER E PENSAR? Brasília 2007 Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Letras da Universidade Católica de Brasília, como requisito para a obtenção de título de Licenciado em Letras, Habilitação Português e Respectivas Literaturas. Orientadora: Profa. Dra Mariza Vieira da Silva

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GLÁUCIA PEREIRA DE SOUZA

BIBLIOTECA POPULAR? UMA PARADA PARA LER E PENSAR?

Brasília

2007

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Letras da Universidade Católica de Brasília, como requisito para a obtenção de título de Licenciado em Letras, Habilitação Português e Respectivas Literaturas.

Orientadora: Profa. Dra Mariza Vieira da Silva

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BANCA EXAMINADORA

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Profa. Dra. Mariza Vieira da Silva - Orientadora

______________________________________________

Profa. MSc. Deise Ferrarini

______________________________________________

Prof. Dr. Maurício Lemos Izolan

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Aos meus pais

Manoel e Gladys

Está dedicatória compreende os caminhos percorridos,

As dificuldades compartilhadas

E as vitórias comemoradas.

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Agradecimentos

O momento do agradecimento é um dos momentos mais importantes, pois é o

momento que lembramos com carinho daqueles que sempre estiveram presentes de alguma

forma em nossa vida. Nesse momento, eu posso, portanto, agradecer de coração a todas essas

pessoas a quem tanto estimo.

Agradeço a Deus por ter alimentado a minha força de vontade e a minha fé diante das

dificuldades que surgiram no caminho e que fui capaz de vencê-las.

Ao meu pai e a minha mãe, eu agradeço a vida e todos os obstáculos que, de mãos

dadas comigo, conseguimos ultrapassar.

Agradeço aos meus amigos do coração: Gabriela Godoy, Mary Gomes, Sonia Dias,

Simone Pádua, Luciana Arruda.

Agradeço a minha orientadora, Mariza Vieira da Silva, pela orientação segura, pelo

apoio, incentivo, paciência e dedicação. Aprendi coisas que levarei para o resto da vida.

Agradeço aos colegas e professores do Curso de Letras pelas constantes trocas de

experiência que contribuíram para nossa evolução no campo profissional, mas também como

ser humano.

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Existem momentos na vida onde a questão de saber se se pode pensar, diferentemente do que se pensa, e perceber

diferentemente do que se vê, é indispensável para se continuar a olhar ou a refletir.

Foucault, 1984.

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Resumo

Este presente trabalho tem como objetivo saber como funciona e se estrutura em termos de produção de sentidos e de sujeitos uma biblioteca popular no espaço urbano de Brasília. É uma proposta reflexiva sobre as novas maneiras de leitura e como os processos de individualização do sujeito são produzidos nessa realidade: uma biblioteca popular construída em uma parada de Ônibus. Em uma perspectiva histórica e breve das bibliotecas vamos analisar, utilizando o referencial teórico da Análise de Discurso, compreender como elas significam de maneiras diferentes e em diferentes momentos da história para o sujeito leitor, a partir de sua função na sociedade. Observar as relações entre a cidade urbana, os sujeitos e a “Parada Popular”.

Palavras-chave: 1.Bibliotecas – 2.Biblioteca Popular – 3.Análise de Discurso – 4. sujeito-leitor

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Abstract

This work has as goal to know how work and structure meaning sense and subjects a popular library in the space urban of Brasília. It’s a reflexive propose about news reading’s manners and how the individualization’s processes are produced in this reality: a popular library built in the bus stop. In the historic perspective of the library, we are going to analyze using the theoric referential of Discourse Analyze, understanding how it means in different manners and different historic’s time to reading subject and yours functions in the society. In addition, to observe the relations between urban city, subjects and “Stop Bus Popular”

Key words: 1.Librarys – 2.Popular Library – 3.Discourse Analyze – 4.Subject Reader

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Sumário

Resumo _________________________________________________________________________________ 6

Abstract _________________________________________________________________________________ 7

Introdução ______________________________________________________________________________ 10

Capítulo 1 Biblioteca: memória e história_______________________________________________________ 12

Capítulo 2 O discurso: uma nova prática de leitura______________________________________________ 24

Capítulo 3 Sujeito leitor: passageiro________________________________________________________ 36

Conclusão ______________________________________________________________________________ 44

Referências Bibliográficas __________________________________________________________________ 45

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Introdução

O nosso contato com a Análise do Discurso (AD), no primeiro semestre do Curso de

Letras, participando de uma pesquisa, revelou-nos um mundo novo na forma de conceber e

compreender a linguagem, a língua, os sentidos e os sujeitos que nela se constituem.

Começamos aí a nos interessar pelas novas possibilidades de leitura que a AD inaugurava.

Ao ter que decidir sobre o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), resolvemos

trabalhar de forma mais aprofundada com AD, principalmente na questão da leitura e do

sujeito leitor. Na disciplina do Estágio Supervisionado II, desenvolvemos um trabalho de

observação no Centro de Educação Fundamental do Lago Norte (CELAN), Brasília, Distrito

Federal, sobre a biblioteca ali existente. Com isso demos mais um passo na delimitação deste

TCC: trabalhar com bibliotecas: um objeto simbólico que produzia sentido.

A Análise do Discurso não é uma disciplina positiva, tendo, portanto, métodos

próprios de desenvolvimento do trabalho científico (o que iremos mostrar em um Capítulo

específico). Nesse sentido, a construção do objeto de estudo se faz passo a passo, no contato

com a bibliografia sobre o tema e com o dispositivo teórico da AD.

Nesses contatos – temático e teórico -, fomos lendo e observando o que acontecia em

Brasília no campo de bibliotecas. Tomamos, então, conhecimento de uma biblioteca recém

inaugurada numa parada de ônibus da quadra 712/713 da W3 Norte, chamada de Parada

Popular, No Plano Piloto, o que despertou muito nosso interesse. Decidimos, finalmente,

trabalhar com o tema de biblioteca popular, ou quem sabe de uma biblioteca de rua, pensando

no que isso poderia trazer de compreensão nova sobre os modos de ler e os processos de

individualização do sujeito: um sujeito-leitor passageiro de ônibus. Uma nova relação do

sujeito escolarizado urbano com o livro parecia aí se constituir.

Esses passos dados foram criando condições para que delimitássemos o nosso tema –

bibliotecas populares em Brasília -, o nosso objetivo – compreender as representações e

práticas em funcionamento e os processos de subjetivação que ali se dão na relação entre

livros e espaço urbano –, e a constituição de nosso corpus – a biblioteca “Parada Popular”.

Uma questão norteadora pôde então ser formulada. Como se estrutura e funciona em termos

de produção de sentidos e de sujeitos uma biblioteca considerada popular criada em um

espaço urbano especifico, a cidade de Brasília?

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Iniciamos este TCC com um Capitulo sobre as bibliotecas em uma perspectiva

histórica e discursiva, buscando compreender as condições de produção deste espaço-tempo

de leitura e de formação de leitores, em seu contexto mais amplo, enquanto elemento

estruturante da produção de sentidos da biblioteca “Parada Popular”.

Em seguida, no Capítulo 2, fazemos uma apresentação e discussão do referencial

teórico e metodológico adotado neste TCC: a Análise do Discurso criada por Michel Pêcheux,

na França na década de 60, e desenvolvida no Brasil, principalmente através dos trabalhos de

Eni P. Orlandi. A Análise do Discurso é uma teoria e um instrumento de leitura e

interpretação de textos, em que a história, a língua e o inconsciente estão em seus

pressupostos.

No terceiro Capítulo, fazemos a descrição e análise de nosso corpus, refletindo e

discutindo sobre o modo como a leitura acontece em uma biblioteca instalada em uma parada

de ônibus de uma cidade como Brasília, ou seja, como se aliam espaço urbano, leitura e

sujeito leitor, produzindo, talvez, um novo efeito sujeito leitor. Os resultados mostraram que

....................................................................................

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Capitulo 1

Biblioteca: memória e história

O universo (que os outros chamam biblioteca) constuí-se de um número indefinido, e quiçá infinito, de galerias hexagonais, com vastos poços de ventilação no centro, cercados por varandas baixíssimas. De qualquer hexágono, vêem-se os pisos inferiores: Interminavelmente. A distribuição das galerias é invariável. Vinte estantes, em cinco longas prateleiras por lado, cobrem todos os lados menos dois; sua altura, que é a dos andares, excede apenas a de um bibliotecário normal. Uma das frentes livres leva a um saguão estreito, que desemboca em outra galeria, idêntica a primeira e a todas. À esquerda e à direita do saguão, há dois sanitários minúsculos, um permite dormir em pé; outro satisfaz as necessidades fecais. Por ai passa a escada espiral, que se abisma e se eleva para o longe. No saguão há um espelho, que duplica as aparências finalmente... (BORGES, 1986).

O objetivo deste Capítulo é refletir, numa perspectiva histórica e discursiva sobre a

função da Biblioteca na sociedade, buscando compreender as condições de produção de

sentidos no espaço-tempo que a faz significar, de maneiras diferentes em diferentes momentos

da história. Propomos uma discussão sobre como se a relação poder-saber em uma biblioteca

e as conseqüências na a formação de leitores, refletindo como a posição de sujeito leitor aí se

constitui, e procurando conhecer melhor a capacidade do homem significar e significar-se no

mundo (ORLANDI,2000).

Para o nosso trabalho, trouxemos algumas definições de biblioteca para essa

discussão. Num primeiro momento, buscamos relacionar a idéia de uma biblioteca fantástica,

nomeada por Borges de “Biblioteca de Babel” que traz com ela a concepção das grandes

bibliotecas arquitetônicas, que tomam dimensões de um labirinto e simbolizam os vários

caminhos que possibilitam desvelar o conhecimento. A metáfora de Borges nos possibilita

compreender um mundo impregnado de linguagem, levando-nos acreditar que a própria

realidade pode ser considerada como uma grande biblioteca.

A biblioteca é ou não infinita e interminável, com suas inúmeras galerias hexagonais?

Para Borges sim, ela era eterna ab aeterno, pois não era obra de um acaso, mas de um deus.

Para os incrédulos, a biblioteca significava apenas desordem “Biblioteca febril, cujos fortuitos

volumes correm o incessante risco de se transformarem noutros e que tudo afirmam, negam e

confundem como uma divindade que delira” (BORGES, 1986). Podemos pensar aqui a

linguagem com suas múltiplas maneiras de significar no mundo. Ela só faz sentido porque

está inscrita na história. A linguagem, na compreensão de AD, antecede o sujeito, pois quando

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nascemos à língua (gem) já está estruturada, funcionando e significando na sociedade.

A intertextualidade em Borges está presente, quando, por exemplo, refere-se à Torre

de Babel para simbolizar os vários caminhos (livros) que a linguagem propõe para ser

decifrada e para se pensar no sujeito que pudesse decifrá-la, correspondente a um deus dono

do saber. A busca desse deus decifrador estaria também nos descendentes de Noé, que

tentaram construir uma torre que chegasse ao céu. Acreditava-se que chegando lá seria

possível descobrir os mistérios da humanidade. Na época, existia um só povo e uma só língua.

Mas, a intenção do homem era ultrapassar os limites divinos. A construção da Torre é

interrompida. A audácia trouxe conseqüências para o homem, fazendo com que cada um

falasse uma língua diferente, confundindo-lhes a comunicação. Deus inviabilizou a obra

coletiva (BIBLIA, Gênesis, 9: 11).

Segundo o livro da Biblia Sagrada, a idéia principal da Torre seria atingir a plenitude

humana por seus próprios méritos, por isso, Deus, como castigo, interfere, e os homens não

mais se entendem. A obra fica inacabada. A Torre e a Biblioteca têm em comum os fatos

misteriosos que marcaram suas histórias, caminhos incertos, não-lineares que dificultam o

acesso ao conhecimento. A biblioteca se aproxima do mito da Torre de Babel quando é

pensada como um objeto que tem como definição ser o lugar onde existe a possibilidade de

ultrapassar os limites do poder e da sabedoria, mas para isso, os códigos, deveriam ser

decifrados, ou seja, a leitura se tornava o centro do poder e da sabedoria para o homem. A

leitura, portanto, precisava ser controlada. Os livros não poderiam, então, os livros serem

acessíveis a todos os homens.

A biblioteca, a Torre e o labirinto aparecem no lugar da possibilidade de ultrapassar os

limites humanos pelo poder e pela sabedoria. A biblioteca com seu “livro total”, que

responderia a todas as perguntas da humanidade. A Torre, que venceria as fronteiras entre o

céu e a terra. O labirinto e os seus vários caminhos, que trariam uma única saída para o saber.

Estas proposições nos levam a refletir sobre essas construções monumentais que

simbolizavam os caminhos que levariam a romper a barreira entre o humano e o divino. E

mais uma vez podemos dizer que a leitura e a interpretação eram ai questões fundamentais

para romper essa barreira.

Outro discurso que pode nos ajudar nessa reflexão sobre a noção e o papel das

bibliotecas em uma sociedade, é o dos dicionários. O dicionário é um instrumento lingüístico

que descreve e normatiza uma língua, mas também é um objeto histórico e discursivo que nos

mostra a relação existente entre a produção de sentidos e o contexto histórico. Assim,

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tomamos o Dicionário do Aurélio, um dos mais utilizados pelos brasileiros para observarmos

como se dá ali a produção de sentidos sobre a biblioteca.

Biblioteca (Do Gr. Bibliothéke pelo lat. Bibliotheca.) s.f. 1. Coleção pública ou privada de livros ou documentos, congêneres, organizada para estudo, leitura e consulta. 2. Edifício ou recinto onde se instala essa coleção. 3. Estante ou outro móvel onde se guardam e/ou ordenam livros. 4. Proc. Dados coleção ordenada de modelos ou de rotinas ou de sub-rotinas, por meio da qual se podem resolver os problemas e suas partes. Biblioteca circulante. Aquela cujos livros se destinam a empréstimos domiciliares. (FERREIRA, 1986; p.202)

Como podemos observar a “biblioteca”, tal como conceituada no dicionário é uma

coleção pública ou privada para o “estudo”, para a “leitura” e para “consulta” : o lugar onde é

disseminado o conhecimento em uma sociedade. Quando falamos em disseminação de

conhecimento estamos falando de administração, de gestão do mesmo, logo, de controle.

Foucault, em seu livro “A Ordem do Discurso” (1996, p.8), diz que em “toda sociedade a

produção do discurso é ao mesmo tempo controlada, selecionada, organizada e redistribuída

por certo numero de procedimentos que tem por função conjurar seus poderes e perigos,

dominar seu acontecimento aleatório, esquivar sua pesada e temível materialidade”.

Voltando ao verbete do dicionário, observamos que ele também traz como definição a

biblioteca relacionada à edificação. Encontramos também outro termo interessante para o

nosso trabalho: o de Biblioteca circulante, que traz a possibilidade de se pensar essa

disseminação de outro modo, ou seja, os livros podem andar, não precisam ficar trancados em

um prédio. Com isso, as noções de leitura e de leitor mudariam? A leitura se tornaria menos

perigosa pelo fato de ser uma circulante? A biblioteca circulante parece ter outra função

social, pois não ocupa um lugar sagrado e monopolizado (ou tenta não ocupar); ela procura

ocupar um lugar de democratização da leitura.

Quando nos deparamos com uma biblioteca que não está mais no lugar onde sempre

esteve em nosso imaginário, outros sentidos e outras representações sobre a leitura e o leitor

podem ser construídos. É nesse ponto que procuramos trabalhar com AD: buscar os sentidos

estabilizados, mas também a possibilidade de novos sentidos, ou seja, o movimento dos

sentidos, o movimento da ideologia.

A Análise de Discurso, referência teórica do nosso trabalho, nos permite pensar o

lugar que ocupa a biblioteca como aparelho ideológico do Estado, na sua relação social e

política entre saber e poder. Alem disso, nos permite pensar como ela significa no imaginário

do sujeito e da sociedade, seja na perspectiva de uma memória coletiva e arquivista das

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informações, seja na perspectiva da memória interdiscursiva que está ligada ideologicamente

ao inconsciente.

Clarice M. de Souza, em seu artigo “Biblioteca – uma trajetória” (2005), diz que:

No sentido contemporâneo, a palavra biblioteca, se refere a qualquer compilação de dados registrados em muitas outras formas e não só em livros. Caso seu acervo esteja em meio eletrônico, digital ou virtual o conceito se amplia e o acesso ao seu acervo e serviços pode ser universal. Há basicamente duas espécies de acervos em bibliotecas. Os acervos de conservação que se referem a todo tipo de documento raro e/ou de valor que interessam especialmente aos especialistas, e os acervos de consumo, abertos a todos e destinados a leitura e a difusão do conhecimento. (SOUZA,2005; p.5. grifos nossos)

Encontramos nessa outra definição duas novas questões para se pensar a biblioteca em

uma sociedade. Primeiro a de sua universalização considerando o desenvolvimento das

tecnologias digitais. Temos, pois, de pensar novamente nas noções de leitura e de leitor nessas

circunstâncias. O que estará realmente mudando em termos de produção de sentidos e de

constituição da posição de sujeito leitor? E as relações entre saber e poder estarão realmente

se alterando? E em que direção? O leitor dispõe de maior número de informações,

indiscutivelmente. Mas o que fazer com tanta informação? Como desenvolver outras

estratégias de selecionar o que é verdadeiramente produtivo, inovador? Como se livrar do que

é lixo cultural, estético?

Souza fala ainda em duas espécies de acervos: os que interessam aos especialistas e os

abertos a todos. Há, portanto, uma divisão entre os sujeitos que terão acesso a um ou a outro

tipo. Pêcheux, em seu artigo “Ler o Arquivo Hoje” (1994, p.58), diz que numa sociedade há

“uma divisão social do trabalho da leitura, inscrevendo-se numa relação de dominação política: a alguns, o direito de produzir leituras originais, logo, ‘interpretações’, constituindo, ao mesmo tempo, atos políticos (sustentando ou afrontando o poder local): a outros, a tarefa subalterna de preparar e de sustentar, pelos gestos anônimos do tratamento ’literal’ dos documentos, as ditas ‘interpretações’...”

O escritor Lima Barreto, em “O Triste fim de Policarpo Quaresma” (1981, p. 58),

mostra bem esse funcionamento da divisão do trabalho da leitura em uma sociedade, da

relações de poder que estão aí envolvidas, em um dos diálogos sobre a loucura de Policarpo.

__ Nem se podia esperar outra cousa, disse o doutor Florêncio. Aqueles livros, aquela mania de leitura... __ Para que ele lia tanto? Indagou Caldas. __ Telha de menos disse Florêncio. Genelício atalhou com autoridade: __ Ele não era formado, para que meter-se em livros? __ É verdade, fez Florêncio.

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__ Isto de livros é bom para os sábios, para os doutores, observou Sigismundo. __ Devia até ser proibido, disse Genelício, a quem não possuísse um titulo “acadêmico” ter livros. Evitavam-se assim essas desgraças. Não acham?

Há, no entanto, um movimento na sociedade contemporânea, principalmente face as

tecnologias de escrita, de discutir e pensar sobre essa divisão do trabalho de leitura e a

democratização efetiva do ato de ler. Segundo Cândido e Oliveira (2005), há uma

preocupação em mudar o lugar que a biblioteca ocupa na sociedade.

A biblioteca constitui o passaporte para institucionalizar e pluralizar o direito da sociedade a informação, preservar e respeitar a cultura de um povo e democratizar a obtenção do conhecimento. [...] a biblioteca como centro de convivência, onde a sociedade poderá usufruir da leitura, do lazer, do entretenimento, informação e conhecimento; desvanecer a concepção de que a biblioteca é um ambiente restrito.” (CANDIDO&OLIVEIRA, 2005; p.3).

É importante também pensar que a biblioteca é uma das instituições das sociedades

letradas centrada na memória coletiva, institucional: ela, como os museus, por exemplo, é um

lugar de guardar o que determinada sociedade considera como legítimo, verdadeiro,

importante para a identidade e a cultura de um povo, de uma Nação. Ela ajuda a construir o

memorável, o que não pode se perder no esquecimento. È um lugar de educação das novas

gerações de um país.

E se pensarmos no grande desenvolvimento do mundo digital, podemos observar que a

biblioteca é o lugar de uma das várias modalidades da “memória metálica” no âmbito das

novas tecnologias de linguagem. É a mesma linguagem da automação, da informática, a

memória que estabiliza e cristaliza como se refere Orlandi (2001); é o dizer presentificado

continuamente que produz efeitos como se fosse uma memória de arquivo, o conservado para

não ser esquecido. Para Borges (1983) a biblioteca e ilimitada e periódica, e se repete como

uma memória: “Se um eterno viajante a atravessasse em qualquer direção, verificaria ao cabo

dos séculos que os mesmo volumes se repetem na mesma desordem (que repetida seria uma

ordem: a ordem) (BORGES, 1983).

A biblioteca investe no mesmo, mas desliza no diferente, onde é possível observar a

ruptura de sentido, criando, portanto, a ilusão do ser diferente Orlandi (2005). Segundo

Orlandi essa “memória metálica” (re) atualizada, cria a ilusão de uma memória interdiscursiva

que é a memória que produz sentidos verticalmente, ou seja, é o que a Análise do Discurso

chama de interdiscurso, que se estrutura pelo esquecimento:

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(...) Esquecemos como os sentidos se formam de tal modo que eles aparecem como surgindo em nós. Este dispositivo ideológico da interpretação funciona no espaço da relação linguagem / mundo. Os sujeitos são submetidos ao acaso e ao jogo mas também à memória e à regra. Face a imprevisibilidade da relação do sujeito aos sentidos, toda formação social tem formas de controle da interpretação institucionalmente (mais ou menos) desenvolvidas que são historicamente determinadas (ORLANDI, 2005).

Segundo Lucas, em sua tese de doutorado (1996), que trata do trabalho do

bibliotecário como elemento estruturante da construção da memória de uma Nação, “os

séculos XVIII e XIX assistem na Europa ao aparecimento dos depósitos centrais de arquivo,

principalmente daqueles destinados a fornecer a memória coletiva das nações os monumentos

da lembrança” (p. 32). No Brasil, a criação da Biblioteca Nacional, no século XIX, foi

fundamental para a construção dessa memória social. “Pierre Nora (1984) definiu a memória

coletiva como “o que fica do passado no vivido dos grupos, ou o que os grupos fazem do

passado” (apud Lucas, 1996, p. 34).

Segundo Pollak (1989), em seus estudos sobre memória e esquecimento, a análise da

memória coletiva enfatiza os diferentes pontos de referências empíricos que estruturam nossa

memória, compondo uma memória coletiva. Esses pontos estruturantes seriam os

monumentos históricos que fazem parte de um patrimônio nacional. “O patrimônio

arquitetônico e seu estilo, que nos acompanham por toda vida, as paisagens, as datas e

personagens históricas cuja importância somos incessantemente relembrados, as tradições e

costumes, certas regras de interação, o folclore e a música”.

A construção de bibliotecas é, pois, uma forma de democratizar o acesso dos cidadãos

de um país a sua memória coletiva. Vejamos, contudo, essa argumentação de Lucas (1996, pp.

35-36).

De nossa parte, temos a observar que, se por um lado a memória foi sendo cada mais tornada pública, esta mesma característica contribuiu, contraditoriamente, para torná-la mais sagrada, intocável. Explico-me. Se concordarmos com Le Goff e com Pierre Nora que a memória é reveladora de esquecimentos e silêncios dos senhores que zelam pela sua construção, o fato de torná-la pública, amplia o número dos indivíduos que terão acesso a essa memória, desterrritorializada e globalizada pela infovia de informações (este grande latifúndio virtual que é a internet).

As mais antigas das bibliotecas são registradas na Mesopotâmia e no Egito, formadas

por coleções de documentos escritos inicialmente em placas de argila e depois em papiros e

pergaminhos. O surgimento da biblioteca na história do mundo ocidental se dá a partir da

invenção da escrita, criada por necessidades econômicas, mas também pela necessidade

humana de registrar sua história. E essa história nos mostra que esses monumentos da

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memória, em que a leitura tem lugar central, sempre foram objeto de controle dos governos

dominantes sob diferentes aspectos: o que guardar, como guardar, para quem guardar, para

que guardar.

Na Alta Idade Média, as bibliotecas eram restritas aos mosteiros e conventos onde se

dava a preservação dos manuscritos. O saber era algo sagrado e era destinado aos sacerdotes,

de acordo com Chartier & Hébrard (1995), inacessíveis aos leigos. Para a Igreja, ler

significava uma prática perigosa e cabia apenas ao clero o acesso ao conhecimento.

Não cabe, portanto, ao leitor ordinário discriminar entre os bons e maus livros: assim como o espectador ingênuo se encanta ou se espanta com os monstros que vê no teatro, sem procurar conhecer o artifício que lhes dá vida, assim também o leitor se abandona ao livro que excita sua imaginação ou toca os seus sentimentos. (CHARTIER E HÉBRARD, 1995, p.21).

O livro de Umberto Eco, “O Nome da Rosa” (198 ), tem como cenário uma biblioteca

de uma abadia da Itália e o seu enredo se constrói em torno de um livro de Aristóteles sobre o

riso, que não podia ser lido/conhecido pelos copistas que trabalhavam na biblioteca, indicando

que nem todos os livros deveriam estar disponíveis para todos, pois certos livros eram

considerados perigosos se caíssem em mãos erradas. Aqui podemos observar formas de

subjetivação do sujeito pela Igreja, via leitura.

O riso era considerado uma ação demoníaca e aqueles que infringiam a lei eram

assassinados de forma brutal. A expressão “o nome da rosa” era usada na Idade Média para

referir-se ao infinito poder das palavras (www.bibliotecafolha.com.br), que deveriam ser

guardadas num templo, vigiadas por aqueles, que de fato, tinham o poder sobre elas, ou que se

consideravam os únicos donos da verdade. O homem sempre querendo romper barreiras e

limites com e pela leitura.

Lucas (1996, p. 28) diz que na Idade Média há

a cristianização da memória e da mnemotécnica, havendo uma repartição entre uma memória litúrgica e uma memória laica; o desenvolvimento do culto à memória dos mortos, principalmente dos santos; a articulação do oral com o escrito no ensino; e o aparecimento dos tratados de memória (artes memoriae).

Anne-Marie Chartier e Jean Hébrard, em um livro que resulta de pesquisas exaustivas

sobre o a leitura na França de 1880 a 1980, e feito a partir de uma solicitação do Ministério da

Cultura a o Serviço de Estudos e Pesquisa da Biblioteca Pública de Informação (Centro

Georges Pompidou) (1989/1995), encontramos vasto material para reflexão e análise que,

infelizmente, não pudemos explorar completamente dado o tempo disponível. A estruturação

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de suas Partes, já nos dá uma idéia do que importa nessa história da leitura. Ele está dividido

em “Os discursos da Igreja”, “Os discursos dos bibliotecários” e “Os discursos da escola”. Na

Introdução, os autores dizem que:

Os bibliotecários contribuíram com um elemento decisivo para compreendermos a evolução dos outros discursos sobre a leitura. Até 1990, suas proposições são aquelas dos pedagogos, mas sua emancipação profissional se faz por um enunciado original, que rompe o modelo de leitura de formação predominante. Tal enunciado permitia ver sob um outro ângulo o aparente conflito entre Igreja e escola. As posições discursivas são dinamizadas não por duas mas por três instituições: a Igreja católica, a leitura pública, que valoriza em primeiro lugar as práticas de consumo do livro e do texto impresso, e a escola, que procura assumir ao mesmo tempo a modernidade e o passado. (p. 16)

Sabemos que há vários tipos de bibliotecas, no entanto, considerando o nosso objetivo,

objeto de estudo e corpus deste TCC, em relação ao tempo disponível, resolvemos trazer aqui

alguns dados sobre as bibliotecas ditas populares, que trazem também a questão da leitura

pública e seus efeitos leitor. Segundo Chartier e Hébrard (1995), as primeiras bibliotecas ditas

“populares” nascem na França, no século XIX, nos primeiros anos da Restauração, quando a

Igreja sofre rupturas em suas bases tradicionais, sendo obrigada a buscar novos meios de

alcançar as massas populares que estavam dispersas num momento em que o texto impresso

tomava espaço na sociedade como status. Buscava-se criar espaços para uma leitura

disciplinarizadora que convertesse mais fiéis das camadas mais baixas (agora alfabetizados)

que estavam sendo instruídas pelo mercado editorial, objetivando a construção de futuros

leitores: leitores que deveriam sempre serem assessorados em suas leituras, tanto na escolha

do que ler quando no como ler.

Quaisquer que sejam as intenções que presidiram ao seu nascimento, a biblioteca é um dispositivo evidente de controle das leituras populares; controle conservador, reformista ou revolucionário, conforme o caso, controle privado ou público, conforme o Estado esteja ou não presente, mas sempre um controle daqueles que ainda não sabem ler bem, ou escolher seus livros; daqueles que não se deveria deixar sós para enfrentar os perigos de certas leituras no universo cada vez mais amplo do texto escrito. Portanto, as palavras que justificam sua existência se relacionam menos com o dispositivo em si mesmo do que com as finalidades de uma estratégia mais global (o acompanhamento da leitura popular), desenvolvida por todas as instâncias do poder ou do contrapoder, a serviço dos seus valores e ideais. (pp. 119-120)

Segundo Lucas (1996), no Brasil, as bibliotecas públicas surgem, apenas, no século

XIX com a vinda da Família Real portuguesa. Neste período foram inauguradas duas

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bibliotecas no Brasil, uma biblioteca Real para a Corte e, outra biblioteca, destinada ao povo,

que foi abandonada por falta de manutenção e de público–leitor, uma vez que a maioria da

população era analfabeta. Nesta época, de acordo com Moraes (1979), as pessoas que não

faziam parte da Corte, não freqüentavam bibliotecas. Quando o Brasil passou a ser

independente negociou a compra da Biblioteca Real de Portugal, que passou a se chamar

Biblioteca Nacional.

O livro era para ser preservado, de acordo com Suaiden (2000), e não para ser

consumido. A leitura de livros e a ostentação de uma biblioteca particular significavam status,

coisa para poucos brasileiros. Com isso ia-se formando um imaginário sobre a leitura, sobre

sujeito autor de livro e o sujeito leitor no Brasil. Os novos espaços criados para a prática de

leitura (re)atualizam essas formações imaginárias em solo brasileiro. Sabemos que são

representações ideológicas que produzem sentidos e sujeitos, já que os sentidos estão “aquém

e além das palavras” como afirma Orlandi (2002). É a memória produzindo diferentes efeitos

de sentidos.

Quando observamos alguém com um livro nas mãos, logo criamos a imagem de

alguém inteligente: que lê muito, que passa maior parte do tempo trancada em bibliotecas,

estudando, que não é sociável. Estes mecanismos de funcionamento do discurso são

chamados de formações imaginarias como define Pêcheux (2002), quando os sujeitos

empíricos deslocam-se do lugar já inscrito na sociedade para a posição de sujeito no discurso:

Assim não são os sujeitos físicos, nem os seus lugares empíricos como tal, isto é, como estão inscritos na sociedade, e que poderiam ser sociologicamente descritos, que funcionam no discurso, mas suas imagens que resultam de projeções. São essas projeções que permitem passar das situações empíricas – os lugares dos sujeitos - para as posições do sujeito no discurso (ORLANDI, 2002, p.40).

Naquele diálogo anteriormente transcrito do livro de Lima Barreto, fica evidente qual

era o significado da leitura para a sociedade: algo para poucos. Uma pessoa que não tinha

títulos acadêmicos não poderia ter em sua casa uma biblioteca particular, não saberia fazer

uma boa leitura dos livros que tinha e ainda acabaria ficando louco como aconteceu com

Policarpo. O lugar do sentido, da memória funcionando, discursivamente, quando se “decide”

quem pode e quem não podem freqüentar uma biblioteca: o individuo se movimentando no

espaço das ideologias.

Miranda, em seu artigo “A missão da Biblioteca pública no Brasil” (1978), trata dessa

relação saber-poder, quando afirma que:

20

A ideologia motivadora de nossas bibliotecas é tipicamente de classe média – a mesma dos nossos bibliotecários – e a cultura que eles pretendem divulgar está mais para os valores universais e perenes, do que para o reconhecimento de nossa própria cultura emergente, do nosso folclore e artes populares. A biblioteca parece querer, muitas vezes, impor um modelo de cultura estranho ao próprio habitat (Portanto, alienadamente), em vez de hastear-se na dinâmica mesma dos valores culturais em germinação da comunidade.

Ao fazer essa reflexão sobre alguns aspectos de uma biblioteca como uma instituição

de uma sociedade dada, não quisemos esgotar o assunto, mas procurar entender como esses

espaços são constituídos de sentidos para e por sujeitos e como os sentidos. Uma biblioteca na

Parada de Ônibus é uma novidade, algo inusitado, mas é também o já-lá marcado na história,

o que sempre esteve registrado em nossa memória e é, esse já-lá, que dá sentido as nossas

palavras quando nos referimos a uma biblioteca, mesmo que esta vista uma roupagem

diferente.

21

Capítulo 2

O discurso: uma outra prática de leitura

Neste Capítulo, fazemos uma apresentação e discussão do referencial teórico e

metodológico adotado neste TCC: a Análise do Discurso (AD) criada por Michel Pêcheux, na

França, na década de 60, e desenvolvida no Brasil, principalmente, através dos trabalhos de

Eni P. Orlandi. A Análise do Discurso é uma teoria e um instrumento de interpretação de

textos, em que a história, a língua e o inconsciente estão em seus pressupostos. A AD trabalha

com a língua no mundo e suas diferentes maneiras de significar, considerando o homem na

sua história. A proposta coloca no centro de seu trabalho a leitura e os seus modos de

produção, tendo como base teórica a Lingüística, o Materialismo Histórico e a Psicanálise,

trazendo um novo modo de estudar a linguagem.

Em uma proposta em que o político e o simbólico se confrontam, essa nova forma de conhecimento coloca questões para a lingüística, interpelando-a pela historicidade que ela apaga, do mesmo modo que coloca questões para as Ciências Sociais, interrogando a transparência da linguagem sobre a qual elas se assentam. Dessa maneira, os estudos discursivos visam pensar o sentido dimensionado no tempo e no espaço das praticas do homem, descentrando a noção de sujeito e relativizando a autonomia do objeto da lingüística.” (ORLANDI, 2002, p. 16).

O objeto da AD é o discurso, que procura compreender a língua, parte constitutiva do

homem, do social e da história, fazendo sentido. Trata-se de um objeto teórico, logo, não é

sinônimo de fala, nem de texto. O texto, a fala são as materialidades lingüísticas, a partir das

quais podemos chegar aos processos discursivos. O texto é a unidade concreta de análise e o

discurso, segundo Pêcheux (1990), é “efeito de sentidos entre locutores”. Isso significa que o

sentido não está no locutor A, nem no locutor B, nem naquilo sobre o qual A e B falam, mas

na relação entre eles.

O discurso não é apenas transmissão de informação. Pêcheux (1990), a partir do

esquema de comunicação, irá mostrar que existem mais coisas entre o emissor e receptor, ou

seja, processos que os constituem como sujeitos para a produção de sentidos, podendo aí,

observarmos a relação entre língua e ideologia. Assim, a proposta é compreender a partir dos

processos de produção do discurso, como se dá a formulação e a circulação dos sentidos

através da linguagem, que para a AD não é transparente, mas mediação entre sujeito e mundo.

Isso significa que precisamos de uma teoria forte para atravessarmos essa opacidade

22

de linguagem, e que o texto, unidade material de análise, do qual partimos para chegar aos

processos discursivos, constitui apenas o resultado de condições de produção do discurso.

Fazem parte dessas condições os interlocutores (eu/tu), o contexto imediato (aqui/agora) e o

contexto histórico mais amplo, do qual a memória faz parte.em relação ao discurso: uma

memória discursiva que denominamos de “interdiscurso”. As palavras ditas, no momento em

que a dizemos, são formulações de um discurso “já–dito” que retornam, para que nossas

palavras façam sentidos. É nesse jogo da língua entre memória e atualidade que todo dizer

produz sentidos, não nos esquecendo de que o sujeito não tem controle sobre essas

determinações do discurso.

Nesse sentido, temos afirmado que o texto pode ser considerado como uma “peça” no sentido de engrenagem. É uma peça que tem um jogo, jogo que permite o trabalho da interpretação, do equívoco. Há um espaço simbólico aberto – possibilidade do sujeito significar e se significar indefinidamente – que joga no modo com a discursividade se textualiza. A leitura trabalha, realiza esse espaço, esse jogo do sentido (memória) sobre o sentido (texto, formulações), conformando essas relações. (ORLANDI, 2001, p. 65)

Para AD, essas condições de produção do discurso são importantes, pois nos mostram

a incompletude da linguagem, mostram-nos que nem os sujeitos nem os sentidos estão

completos definitivamente, mas que são nessas falhas e equívocos que eles vão sendo

constituídos. Por outro lado, mesmo sendo incompleto, os processos de significação são

administrados, ao mesmo tempo, pela historicidade que os determinam e pela transformação.

Esses limites da linguagem entre o mesmo e o diferente que são pensados como processos de

funcionamento da linguagem e que repousam na “paráfrase” e na “polissemia”, o que

possibilita a ruptura, o diferente.

Outra questão da Análise de Discurso é esclarecer que não somos origem do que

dizemos e, sim, retomamos discursos já–ditos e esquecidos, nos dando a ilusão de que tudo o

que falamos só pode ser dito dessa forma, pois nos iludimos e acreditamos ter total controle

sobre os processos de significação de nossas palavras. Pêcheux trata desses processos, em

seus trabalhos, como “esquecimentos” constitutivos do discurso:

O esquecimento número dois, que é da ordem da enunciação: ao falarmos, o fazemos de uma maneira e não de outra, e ao, longo de nosso dizer, formam-se famílias parafrásticas que indicam que o dizer sempre poderia ser outro.(...) esquecimento numero um, também chamado de esquecimento ideológico: ele é da instancia do inconsciente e resulta do modo pelo qual somos afetados pela ideologia. Por esses esquecimentos temos a ilusão de ser origem do que dizemos quando, na realidade, retomamos sentidos pré-existentes. (ORLANDI, 2002, p. 34).

23

Esses esquecimentos são necessários para que o sujeito “estabeleça um lugar possível

no movimento da identidade e dos sentidos: eles não retornam apenas, eles se projetam em

outros sentidos, constituindo outras possibilidades dos sujeitos se subjetivarem” (ORLANDI,

2005, p.54). Assim, tentar compreender como são constituídos os processos de subjetivação

na relação entre sujeitos e espaço público foi um dos pontos escolhidos para delimitação do

tema deste TCC e para a constituição do corpus.

Um ponto fundamental para compreensão deste trabalho é entender, no processo

discursivo, as formações imaginárias que são constituídas pelas relações de força submetidas

ás representações formadas sobre, determinadas, posições ocupadas pelo sujeito na sociedade;

pelas relações de sentido que nos permitem compreender que todo Discurso se filia a outros já

existentes; pelo mecanismo de antecipação, que permite, no jogo da linguagem, acreditar que

é possível, a partir do que falamos, prevê os sentidos que essas palavras produzirão para o

nosso interlocutor. Segundo Orlandi (2002), todas essas noções nos possibilitarão a

compreender a não-transparência da linguagem, do sujeito e do sentido nos processos

discursivos presentes, em termos de significação de um espaço urbano, ou melhor, de uma

biblioteca em um espaço urbano.

Em AD, há um deslocamento da noção de indivíduo para a noção de sujeito. O

individuo é interpelado em sujeito pela ideologia: um trabalho do simbólico que significa no

sujeito e faz com que a língua faça sentido. Assim não são os sujeitos físicos, nem seus

lugares empíricos como tal, isto é, como estão inscritos na sociedade, e que poderiam ser

sociologicamente descritos, que funcionam no discurso, mas suas imagens que resultam de

projeções. São essas projeções que permitem passar das situações empíricas – “os lugares dos

sujeitos – para as posições dos sujeitos no discurso” (PÊCHEUX, 1990).

A interpelação, o chamamento do indivíduo ao mundo da linguagem, do simbólico, da

ideologia é, pois, constitutivo de todo sujeito falante. Uma vez sujeito, em um momento

histórico determinado, esse sujeito irá se individualizar, adquirir características,

comportamentos, realizar ações, que lhe darão uma subjetividade específica; mas uma

subjetividade construída na relação com o Estado e suas instituições, como uma biblioteca. A

isso chamamos de processos de individualização do sujeito.

Ainda em relação ao sujeito, é importante falar da função-autor que, segundo Orlandi

(2001, p. 65), “constrói uma relação organizada – em termos de discurso – produzindo um

efeito imaginário de unidade (com começo, meio, progressão, não contradição e fim). E a isto

chamo de textualidade. Toda vez que tenho isso, tenho a função autor, colocando

24

imaginariamente o sujeito na origem do sentido e sendo responsabilizado pela sua produção.

Faz parte, como sabemos, de nossa ideologia [um sociedade de direito], que o sujeito seja

responsabilizado pelo que diz”.

Com o dispositivo teórico em mãos, partimos para observar a cidade produzindo

sentidos, através de “flagrantes”, como formas de significação. Foram nesses flagrantes

significativos que buscamos um lugar de análise, onde introduzimos escutas que nos

permitiram compreender além das evidencias, como os modos de significar a cidade afeta o

sujeito urbano e como esse sujeito “afetado” produz sentidos. Como ler esses flagrantes:

Sabemos que leitura pode ter vários sentidos: decodificar, leitura do mundo,

alfabetização, ato simbólico de participação do homem no mundo etc. Em AD, partimos da

noção de que a leitura é produzida e tanto quanto a escrita faz parte de um processo de

instauração de sentidos pelos interlocutores, considerando que o sujeito – autor e leitor – e o

sentido são determinados histórica e ideologicamente.

Colocamos algumas questões, que a Análise de Discurso nos permite levantar, a fim

de apreender os sentidos que são produzidos no espaço urbano da cidade que recebe uma

nova configuração, mas, que apesar disso, não abre mão da sua configuração antiga. Como se

subjetivam esses sujeitos que freqüentam uma biblioteca que fica em uma Parada de Ônibus,

agora, não apenas para pegar o ônibus, mas também para pegar livros? Quais são as condições

de produção dos discursos desses sujeitos?

O sujeito leitor que enquanto espera o ônibus pode escolher qual livro o acompanhará

na viagem até o ponto de destino ou, não escolher livros, apenas esperar o ônibus.

Quando pensamos em relacionar os modelos de bibliotecas antigas às bibliotecas

atuais, buscávamos aqui trabalhar com a noção de esquecimento proposta pela AD, a partir

dos estudos de Orlandi (2002) no campo da memória. Entender como os esquecimentos fazem

parte constitutiva dos processos de significação do sujeito.

Esses esquecimentos estão presentes nos mecanismos de funcionamento do discurso.

Quando falamos algo, temos a impressão de sermos realmente donos do nosso dizer e não nos

damos conta do sentido que ali retomamos, sentidos esses inscritos na história, que voltam

para dar sentido ao que estamos dizendo.

Durante os procedimentos de análise do texto – considerado para AD como forma

material do discurso – buscaremos, adiante, colocar, em evidencia, o dito em relação ao não

dito, e ao já- dito, para que assim, possamos compreender os processos discursivos em

25

funcionamento. Decidimos construir o corpus a partir dos discursos construídos de uma

entrevista (empírica) a Parada Popular, buscando observar como se davam os processos de

significação do sujeito face ao objeto simbólico. E então, através dessas discursividade

mostrar como um discurso funciona. Nossa atenção, portanto, estará voltada para a não-

transparência da linguagem sujeita a equívocos e falhas, buscando conhecer os discursos

produzidos sobre os espaços da cidade.

26

Capítulo 3

Sujeito leitor: passageiro

Como se estrutura e funciona em termos de produção de sentidos e de sujeitos uma

biblioteca considerada popular criada em um espaço urbano especifico como a cidade de

Brasília? Uma biblioteca localizada em uma parada de ônibus. Uma biblioteca pública ou/e

uma biblioteca popular?

Vejamos o que nos diz o Dicionário do Aurélio (1986).

Po.pu.lar [Do lat. Populare ] adj2g.1. Do, ou próprio do povo: hábitos populares 2. Feito para o povo: casas populares 3. Agradável ao povo; que tem as simpatias do povo. 4. Democrático: governo 5. Vulgar, trivial, ordinário. ~v.aura -, casa -, democracia -, economia -, edição – e nome -. S.m.6. homem do povo: um popular foi ferido no choque de automóveis.~v. populares. (p.1115)

Pú. bli. Co [Do lat. Publicu] adj.1. Relativo pertencente ou destinado ao povo, a coletividade: opinião pública: bem estar público, movimento público 2.relativo ou pertecente ao governo de um pais: repartição pública: cargo público 3.que é do uso de todos; comum: hospital público; passeio público 4. Aberto a quaisquer pessoas: exposição pública, concurso público 5. Conhecimento de todos; manifesto notório: o escândalo publico 6. Que se realiza em presença de testemunhas; que não é secreto; em público: sessão pública; votação pública. Etc. (p.1156)

Podemos iniciar, lembrando que na França do século XIX, as bibliotecas populares –

base necessária para uma “leitura republicana” – visavam fornecer livros àqueles que não

podiam comprá-los, mas precisavam deles para se instruírem. Segundo Chartier e Hébrard

(1995, pp. 131-132),

Fundar uma biblioteca popular é criar no espaço urbano ou rural um lugar de encontro e de intercâmbio em torno dos livros, lugar apropriado para compartilhar valores, emoções e referências culturais, graças a que os grupos políticos que estão no poder ou na oposição penetram em círculos cada vez mais amplos de eleitores potenciais.

No verbete “público”, podemos observar o funcionamento de um discurso

administrativo. Quanto ao verbete “popular”, observamos uma outra significância que nos

afasta da possibilidade de estarmos falando do mesmo referente. O termo popular aqui está

mais próximo do que se refere a classes sociais. As casas populares, por exemplo, são

destinadas às camadas pobres da população, são casas construídas pelo Governo e vendidas

por um preço razoável para o bolso do assalariado. Examinando os verbetes, vemos ainda,

27

que a coisa pública “pertence”, “destina-se” ao povo, enquanto a coisa popular “emana” do

povo, mas também é “feita” para ele; e é “vulgar”, “trivial”, “ordinário”. Uma biblioteca

popular será feita para o povo como as casas populares? Quais os sentidos de popular que

temos funcionando na memória social dos brasileiros? Algo de valor? O acesso ao livro, à

leitura é algo “agradável ao povo” ou um “direito”? Quem o sujeito leitor desta biblioteca?

Podemos trazer aqui, para reflexão, a noção que AD tem de sujeito-de-direito (sujeito

jurídico), o sujeito moderno construído sob o capitalismo e que se movimenta no caso da

Biblioteca Parada Popular, em meio as posições de sujeito-leitor, sujeito-do-conhecimento,

sujeito-passageiro, sujeito-cidadão, sujeito-consumidor, sujeit-eleitor. Qual dessas posições

será a dominante? São posições que se aliam ou que se confrontam? Como pensar a relação

entre sujeito de direito e sujeito consumidor, entre sujeito-do-conhecimento e sujeito cidadão?

Segundo Barroso (2007), a materialidade dos espaços públicos é marcada pela

presença fugidia dos habitantes da cidade. Os espaços públicos em Brasília são lugares em

que a socialização para não se dar, pois a rua é destinada a automóveis. Uma parada de

ônibus, onde todo mundo é “passageiro”, é o lugar de encontros fortuitos e informais que

marcam a vivência urbana, podendo revelar aspectos da construção social e histórica de uma

cidade.

Resolvemos também ocupar, em parte, o lugar de passageiro e embarcarmos nessa

viagem deste TCC. Nessa viagem, procuramos alguns conceitos sobre a cidade de Brasília e,

no meio do caminho, percebemos que Brasília não é só uma cidade, mas duas “Brasílias”. A

primeira que nasceu sob o discurso da modernidade: uma cidade projetada, de dimensão

política, sede do poder central. Uma cidade que nascia, segundo Barroso (2007), para dar uma

nova cara para o Brasil e atender aos apelos da modernidade. A segunda, a Brasília voltada

para o mítico. É a cidade onírica que ficou no papel, a Brasília que não se realizou. Uma

cidade, segundo Nicolas Behr1, em seu Livro “Porque construí Braxília” (1993), sonhada, que

só existe na formação imaginaria coletiva, numa significação simbólica, e que não foi criada

para abrigar o poder, mas para ser berço de uma nova civilização.

1 Nicolas Behr é escritor de Brasília. Nasceu em Cuiabá, 1958. Mudou-se para a capital aos 10 anos de idade. Autor do livro : Porque construí Braxília (1993).

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Braxília é a cidade dos homens bons. É a cidade das pessoas de poder, e não das do poder, como diz Bené Fonteles. Brasília inspirou Braxília, Brasília criou Braxília. Criar uma Brasília não-capital, uma Brasília não-poder, sempre foi o objetivo (alcançado?) de toda uma geração que principalmente a partir dos anos 70, cantou encantou Brasília. Asas e Eixos, Liga tripa, concerto cabeças... como tudo isso foi importante para a formação do inconsciente coletivo (e do consciente coletivo também!) da nossa cidade.

Brasília como objeto simbólico e mítico, onde tudo é possível, e a Brasília real.

Buscamos observar como essas filiações imaginárias produzem diferentes efeitos de sentidos,

como diz Almino (2007).

Ao lidar como o dia-a-dia, com a cidade real, uma literatura que retratasse Brasília podia, a meu ver, se beneficiar não apenas de sua história e de sua geográfica, mas também de sua dimensão mítica, o mito entendido como uma narrativa de significação simbólica. (p.299).

Segundo Freitag (2003), a Brasília imaginada (sonhada) tinha no seu projeto ser a

capital de decisões políticas. Seria o centro inovador do pensamento crítico. Trazia consigo a

esperança da “Terra prometida”2 de sociedade mais justa; mas ela não suportou tantas

expectativas e tornou-se outra, moldada pela realidade, o confronto entre o utópico e o real:

Recebeu em seu espaço urbano todos os problemas da sociedade brasileira sem correções previas. Não é de admirar”, e ainda, “que neste verdadeiro ‘laboratório a social’ vejamos a olho nu e convivamos de forma mais direta com os problemas globais da sociedade brasileira como um todo” (FREITAG,2003, p.75).

Esse confronto nos permite apreender sentidos produzidos na discursividade urbana. A

contradição dos discursos sobre Brasília, ou seja, falar sobre a cidade apenas no possível da

realidade, que Brasília nasceu de um projeto moderno, não é suficiente, para descrevê-la, é

necessário falar das narratividades utópicas constituídas em sua história para que qualquer

definição sobre Brasília faça sentido.

Maria Luisa Dias da Silva, defendeu no primeiro semestre de2007, um Trabalho de

Conclusão de Curso, denominado “Brasília: uma cidade em movimento”, em que toma como

corpus o ônibus para apreender e compreender esses processos de individualização do sujeito

urbano brasiliense, capturar a produção de sentidos de sujeitos que se narram através de

fragmentos de suas vidas e, que, neste mesmo movimento do ir e vir, estão em constante

construção. Brasília tem um modo singular de se narrar e essa narrativa é observada através

de vários pontos de materialização, como, por exemplo, por meio de um ônibus que circula

2 Segundo a Bíblia, a Terra Prometida (Canaã) era a terra entregue por Deus a seu povo, a terra “onde corre leite e mel”.

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pela cidade nos remetendo a imagens de monumentos que narram histórias e memórias da

cidade, de um sonho que não se completou. E, mesmo, tão jovem, quando pensamos em

cidades antigas do Brasil, a cidade de Brasília traz na sua narrativa cotidiana “o peso

histórico” de significações. Essa narratividade urbana, trabalhada por Silva (2007), nos

auxiliou a entender como se materializa essa narratividade num espaço público da cidade.

O TCC de Silva foi construído tomando como referência um texto de Orlandi (2004),

que busca entender como a cidade é narrada em suas significações para produzir diferentes

sentidos. A cidade produz sentidos como flagrantes, materializados na forma da cidade em

vários pontos urbanos.

A cidade produzindo sentidos. Como funciona? Como flagrantes. São formas de significar com sua poética, por assim dizer, incluídas na própria forma material da cidade. Não se destacam senão como lembretes para o exterior. São flagrantes do que chamarei de narratividade urbana. A cidade não tem um seu narrador, um seu contador de historias (como o cego nordestino, o violeiro, o velho indígena, etc.). A narratividade urbana tem vários pontos de materialização. (ORLANDI, 2004, p.31)

Em vista dos processos uma narratividade da cidade, o nosso interesse, como analista

do discurso, é, então, compreender como os modos de significar a cidade afeta o sujeito

urbano, para, então, chegarmos ao ponto, onde, talvez, seja possível compreender como esse

sujeito- de- direito se relaciona com os espaços da cidade. Podemos refletir sobre isto a partir

de Silva (2003):

A cidade é o lugar do homem moderno, do sujeito de direito – fonte do seu dizer e responsável pelo que diz – e do sujeito do conhecimento – capaz de conhecer e legitimar sua verdade, de ser autor e leitor -, que habita um espaço privado e, ao mesmo tempo, circula em um espaço público juntamente com outros homens, também livres e racionais, mas econômica e socialmente desiguais. Aí se constitui o que podemos chamar de sujeito urbano, um sujeito que produz uma realidade estruturada pelo modo como esse espaço o afeta. (SILVA,2003;p.35)

Em meio à utopia e a realidade, propomos uma viagem com parada certa para observar

o nosso corpus de análise que compõe esse TCC: A Parada Biblioteca Cultural. “Uma parada

pra pensar”, expressão utilizada pelo jornal Correio Brazieliense, vinculada no caderno de

cultura “Pensar”, em 01/09/2007, propondo ao leitor pensar e repensar sobre a iniciativa da

criação da biblioteca em uma parada de ônibus. Uma Iniciativa privada que serve de exemplo

para a sociedade.

Fruto dessa iniciativa privada surgiu o projeto, num espaço público da cidade. Uma

biblioteca que disponibiliza de todo o seu acervo para empréstimos. Uma biblioteca sem

paredes, livre e instalada em um ponto de ônibus onde qualquer pessoa que por ali passe, no

30

mínimo, possa observá-la. É um projeto totalmente “inovador” falando em bibliotecas

populares. A crônica3 da escritora Ana Miranda que foi publicada no Correio Braziliense

descreve esse espaço:

São cerca de 6 mil livros organizadamente dispostos em suas estantes, debaixo de dois pequenos toldos, no próprio ponto de ônibus, junto aos bancos do pretensos passageiros, serenamente postos em um e outro lado, uma biblioteca capaz de comover Borges, Kafka, Tolstoi, Virginia Woolf e todos os fantasmas de escritores no mundo, livros encadernados em couro, livros novos, livros velhos, enciclopédias, livros bons, de bons autores... parece algo de uma fada, de um mago com sua vara de condão.” (Publicada originalmente no Correio Braziliense, caderno de Cultura, em 04/08/2007.)

Os livros expostos, sem correntes, sem autoridades do saber, o que deve ou não deve

ser lido. Eles estão livres para quem quiser pegá-los emprestado. No local tem um atendente

(bibliotecário?) que esclarece duvidas, depois os livros ficam sós. À noite, permanecem sós.

Outros são raros e clássicos, são guardados em um armário, trancados com cadeados, que se

encontra na parada, pensando em preservá-los. Houve a inauguração de um novo

acontecimento do espaço cultural da Parada de Ônibus. A Parada virou noticia, varias

reportagens foram divulgadas na mídia sobre a Biblioteca. Não era algo normal aos olhos de

quem por ali passava, ou aguardava a sua condução. Pensando nessa perspectiva discursiva é

que pretendemos, através do objeto simbólico, no caso a Biblioteca na parada de ônibus,

observar como produz sentidos, para e por sujeitos, segundo Orlandi (2002), observar os

deslocamentos que são remetidos a memórias, ao mesmo tempo que se relaciona com o real

do mundo.

Percebemos aqui o que Oralndi (2004) chama de “flagrante”, a construção de uma

biblioteca popular em ponto de ônibus da cidade de Brasília, como uma nova forma de

significar a cidade. A partir disso, iremos perceber como funciona de acordo com Silva

(2003), “Os processos de subjetivação nas relações dos sujeitos com as formas dos espaços da

cidade de Brasília” (p.33). Nesse contexto falaremos sobre a nova relação entre o homem e o

mundo, mediada pela materialização de uma biblioteca popular e tentaremos compreender

como, num plano simbólico, se constitui mais uma possibilidade de leitura da cidade.

Segundo o Instituto Nacional do Livro (INL), uma das primeiras bibliotecas populares

na cidade de Brasília foi a “Biblioteca Volante”, em 1996, da Universidade de Brasília (UnB),

instituída sob o impulso da renovação do ensino superior no Brasil. Tinha no seu projeto levar

3 Crônica publicada no jornal Correio Braziliense: Próxima Parada: Livros.

31

o conhecimento através da leitura. Como seu próprio nome já diz, a biblioteca se dirigia ao

povo e com isso inaugurava aqui em Brasília novo modelo de biblioteca. O acervo inicial de

2.000 livros e dois funcionários que trafegavam pela cidade em busca de novos leitores. É

instituída nessa época uma nova maneira de tratar os livros e os sujeitos. Os livros saíram de

um lugar fechado para serem alcançados por todos. Os livros foram para as ruas e passaram a

significar em outros lugares da cidade.

Pensando nessa iniciativa de “cidadania”, dentro de um contexto social, surge uma

provocação diante do papel que o individuo “comum” desempenha dentro de sua comunidade.

Não é mais o homem que vive coletivamente, mas aquele que se desloca do lugar individual

de analfabeto para as posições de sujeitos: intelectual, amante dos livros; e de administrador,

proporcionando meios para que cidadãos simples, como ele foi um dia, tenham a chance de se

tornarem sujeitos-leitores. Ele se acomoda na falta do Estado, que deveria facilitar o acesso à

leitura, para construir na comunidade em que vive bibliotecas populares nas paradas de

Ônibus. Procura oferecer aos outros um contato mais fácil com os livros “Com isso quero

propor uma discussão sobre os novos modelos de bibliotecas públicas. Temos que discutir o

acesso à cultura. A idéia é uma grande provocação mesmo” (AMORIM, 2007).

Segundo Enriquez, em seu artigo “Caminhos para o outro, caminhos para si” (1994),

nos evidencia, através do argumento freudiano, que as conseqüências da ideologia da

identidade unitária cujo processo de idealização, tem a “sublimação” como um processo em

funcionamento, permite ao sujeito encontrar o reconhecimento de si e dos outros. O que

pressupõe a necessidade de alguém proporcionar aos outros, aquilo que ele, em certo

momento, não teve. Ele pode ver naquelas pessoas a sua própria imagem, pessoas carentes de

conhecimento. O individuo procura construir um lugar idealizado que rompa com a desilusão

do passado de não saber ler e escrever, buscando uma alternativa para uma questão importante

para a nossa sociedade, o fim do analfabetismo (sua condição anterior), “o interesse por si

comanda então o interesse pelo outro que é ele também, um em- si e um para- si” (p.95).

Podemos, então, compreender melhor como se constitui esse sujeito na falta do Estado frente

às questões de grande importância para a sociedade. Ele passa a significar na cidade de outra

posição sujeito.

Em suma, buscamos aqui refletir sobre as condições de produção que se dão na

construção do Sujeito, não apenas Leitor, mas também Passageiro. Para saber como são

constituídos esses sujeitos- leitores em suas discursividade “o modo como as palavras fazem

sentido tem a ver com a língua, com o sujeito, com a história” (ORLANDI, 1996; p.137).

32

Resolvemos, em primeira instancia recolher, informalmente, alguns dados empíricos de

observação, a partir de uma entrevista entre aqueles passageiros que ali transitavam e

construir um dispositivo de interpretação que colocasse o dito em relação ao não dito,

segundo Orlandi (2002):

A proposta é a da construção de um dispositivo da interpretação. Esse dispositivo tem como característica colocar o dito em relação ao não dito, o que o sujeito diz em algum lugar com o que é dito em outro lugar, o que é dito de um modo com o que é dito de outro, procurando ouvir, naquilo que o sujeito diz aquilo que ele não diz, mas que constitui igualmente os sentidos de suas palavras.” (ORLANDI, 2002; p.59)

A entrevista foi realizada no dia 15 de novembro de 2007, na parada de Ônibus da W3

Norte do Plano Piloto, na cidade de Brasília-DF. Entre os entrevistados foram coletadas

informações dos moradores da Asa Norte, de passageiros que aguardavam o ônibus para

Águas Lindas (GO), sobradinho, Taguatinga e ceilândia. Profissionais, pedreiro, comerciante,

estudante, diarista, terapeuta. As mesmas perguntas foram feitas a todos os entrevistados: O

que acha do projeto Biblioteca na Parada? Você acha que o objetivo está sendo alcançado?

Você costuma pegar livros emprestados aqui? Como você ficou sabendo da Biblioteca e o que

achou da idéia?

1º Entrevistado: Acho que o projeto funciona. Acredito que as pessoas estão lendo mais. Eu quando venho pegar ônibus sempre estou disposto a dar uma olhada nos livros que estão expostos na aqui na parada. A iniciativa é muito boa, mas é preciso de alguém disponível que arrume os livros nas estantes.

2º entrevistado: Uma ótima idéia. A iniciativa veio do açougue, não sei muito sobre o projeto, mas sei que a iniciativa de colocar livros na parada é a do mesmo homem que colocou livros no açougue. Não sei o que tem a ver livros e carnes, mas é legal ter livros na parada de ônibus. De vez em quando costumo pegar livros. Acho que o acervo precisa melhorar são muitos livros, mas são antigos.

3º entrevistado: Excelente o projeto na parada. Acho que está sendo alcançado o objetivo de levar cultura ao brasileiro. Promove o hábito a leitura. A comunidade reclama dos preços dos livros que são caros e a biblioteca oferece gratuitamente. Os livros devem ser mais organizados e zelados. A sociedade tem que ter mais consciência e cuidar mais dos livros que estão aqui. Os livros poderiam ser mais atualizados, porém não é preciso tanto já que são de graça. Quando preciso de livros para pesquisas costumo vir aqui.

4º entrevistado: fiquei sabendo da parada pelo Açougue T-Bone. Acho que o objetivo está sendo alcançado, os livros são bem conservados... A organização dos livros precisa melhorar. É como uma Biblioteca pública, com todos mexendo fica difícil organizar. Essa é a primeira vez que pego livros emprestados, geralmente uso a internet para fazer pesquisas.

5º entrevistado: fiquei sabendo da biblioteca na parada por uma entrevista que vi, não lembro onde! Mas a idéia é muito boa. A parada contribui para a sociedade, pois de certa forma ela conscientiza o povo... Podemos observar a diminuição do vandalismo nas

33

paradas. A idéia é educar a sociedade. Sempre que passo por aqui dou uma olhada nos livros pra ver se encontro alguma coisa interessante de literatura e política brasileira.

6º entrevistado: a idéia de uma biblioteca na parada de ônibus é positiva, pois oferece o acesso a leitura para aqueles que não tem condições para comprar livros. O projeto traz público para o local e não só passageiros.

Para o analista, a entrevista (discurso) é importante, pois são, a partir das formações

discursivas que podemos observar o jogo dos sentidos através da linguagem, de acordo com

Orlandi (2005):

Esta etapa prepara o analista para que ele comece a vislumbrar a configuração das formações discursivas que estão dominando a pratica discursiva em questão. O que ele faz é tornar visível o fato de que ao longo do dizer se formam famílias parafrasticas relacionando o que foi dito com o que não foi dito, com o que poderia ser dito etc. (p.78).

Nessa entrevista, observamos que todos reclamam da desordem dos livros empilhados

nas estantes. O sujeito não reconhece a biblioteca na parada como uma biblioteca pública, o

que nos coloca questões para pensar no que é e, o que não é público. Todos eles concordam

que os livros são conservados, mas que estão desatualizados, pois são muito antigos. Eles

acreditam que a iniciativa realmente funciona e a, maioria concorda que a iniciativa leva

cultura e incentiva a leitura. Quanto ao uso, eles olham, folheiam e pegam quando precisam

fazer pesquisa. A partir do processo discursivo do sujeito podemos apreender sentidos que

retornam na forma do já- dito. A imagem de biblioteca como lugar destinado a pesquisas e

estudos (imagem reforçada na escola) é retomada no discurso do entrevistado, onde a história

reclama seus sentidos. Observamos que a maior parte de pessoas que procuram a biblioteca

está interessada em pesquisa escolar, são estudantes que procuram livros específicos e apenas

uma pequena parte procuram livros em busca de conhecimento ou informação.

Há uma disciplinarização das formas de leitura, são leitores que lêem o que é exigido

pelas escolas que direcionam, a partir de seus discursos pedagógicos, os saberes. Podemos

observar que esse sujeito escolarizado nos traz sentidos de outro lugar, o constitutivo de que a

biblioteca era um lugar apenas para estudantes e intelectuais é revitalizado nas palavras das

entrevistadas. A noção de biblioteca atrelada à questão da educação.

Pelo processo de identificação, de acordo com Orlandi (2005), o sujeito se inscreve em

uma formação pela qual suas palavras têm um sentido que lhe aparece como natural. É o que

AD chama de esquecimento ideológico, a ilusão de sermos origem do que dizemos. Não

temos consciência de como nossas palavras significam. Pensamos no entrevistado ao propor

essa reflexão, quando ela fala que a biblioteca da Parada Popular é igual a pública por ser

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desorganizada, apreendemos ai alguns gestos de interpretação que nos remete a noção de

público. A parada faz parte do que é publico? Qual é a diferença entre o que é Popular e o que

é Público? É o que vamos buscar no dicionário Ferreira (1986):

Pú. bli. Co [Do lat. Publicu] adj.1. Relativo pertecente ou destinado ao povo, a coletividade: opinião pública: bem estar público, movimento público 2.relativo ou pertecente ao governo de um pais: repartição pública: cargo público 3.que é do uso de todos; comum: hospital público; passeio público 4. Aberto a quaisquer pessoas: exposição pública, concurso público 5. Conhecimento de todos; manifesto notório: o escandalo publico 6. Que se realiza em presença de testemunhas; que não é secreto;em público: sessão pública; votação pública. Etc. (p.1156)

Po.pu.lar [Do lat. Populare ] adj2g.1. Do, ou próprio do povo: hábitos populares 2. Feito para o povo: casas populares 3. Agradável ao povo; que tem as simpatias do povo. 4. Democrático: governo 5. Vulgar, trivial, ordinário. ~v.aura -, casa -, democracia -, economia -, edição – e nome -. S.m.6. homem do povo: um popular foi ferido no choque de automóveis.~v. populares. (p.1115)

A entrevistada compara a Biblioteca à desorganização da cidade, no que se refere a

tudo que é público. Nesse contexto, nos deparamos no espaço urbano da cidade, lugares que

são destinados a todos. Pontos de ônibus, hospitais, escolas, órgãos públicos, estão todos

ligados a uma coletividade que se movimenta na desorganização ao nos depararmos com a

realidade de Brasília. Então a parada é popular e não pública? Percebemos que o popular e o

público se imbricam na noção de paráfrase, falamos da mesma coisa, mas que significam

diferente.

No verbete “público” podemos observar um discurso no campo administrativo de um

governo, quando falamos no contexto atual em cargo público, não quer dizer que ele possa ser

ocupado ou destinado a todos. É necessário passar em um concurso para se ocupar um cargo

público, ou, pelo menos, é isso que se sabe da teoria. Quanto ao verbete “Popular”

observamos uma outra significância que nos afasta da possibilidade de estarmos falando do

mesmo, no mesmo sentido. O Popular aqui está mais próximo do que se refere a classes

sociais. Segundo Aurélio (1986), os hábitos populares, não são os mesmos dos hábitos da

elite, as casas populares são destinadas as camadas pobres da população, são casas construídas

pelo governo e vendidas por um preço razoável ao bolso do assalariado. A própria palavra

Democracia no Aurélio (1986), em sua primeira definição, é o “governo do povo; soberania

popular”, ou seja, significa o governo do Estado olhar também para classe sem fidalguia do

País, no caso do Brasil, um governo que faça do país “um país de todos!”.

Novamente trazemos aqui a noção que AD chama de Sujeito- de - direito (sujeito

jurídico), o sujeito moderno construído sob o capitalismo e movimenta-se sobre as posições -

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sujeitos (leitor, passageiro, consumidor, cidadão) , ele é livre ao mesmo que se submete:

O que aparece ao sujeito como sua definição mais interna e essencial é justamente o que o submete: quanto mais centrado o sujeito, mais cegamente ele está preso a ilusão de autonomia ideologicamente constituída. Quanto mais certezas, menos possibilidades de falhas: não é no conteúdo que a ideologia afeta o sujeito é na estrutura mesma pela qual o sujeito (e o sentido) funciona.” (ORLANDI, 2005;p.104).

O entrevistado nos disse que o projeto contribuiu para a diminuição do vandalismo nas

paradas de ônibus o que nos fez apreender alguns sentidos em relação a parada. O vandalismo

nas paradas de ônibus nos remete as pichações, as destruições em sua estruturas e em orelhões

próximos, fétidas, considerados lugares perigosos. A violência é outro elemento que constitui

esse espaço público. Encontramos em nossas pesquisas fatos policiais que tiveram como

cenário uma parada. A morte de um índio que foi queimado enquanto dormia na parada de

ônibus. A empregada doméstica espancada, quando esperava um ônibus. Esses

acontecimentos marcaram pra sempre na memória das pessoas a ignorância e o preconceito

que sobrevive em nossa sociedade. Esse espaço público da cidade, agora, não é mais o lugar

de vandalismo ou violência, ele foi humanizado para patrocinar as relações sociais e fomentar

o cidadão consciente através dos livros O fato da realidade nos filia aos sentidos produzidos

no discurso do entrevistado, o que nos possibilita compreender através da AD, que o dito

agora nos remete há ouros dizeres que se constituíram em nosso imaginário.

Segundo Barroso (2007), a materialidade dos espaços públicos é marcada pela

presença fugidia. Os espaços públicos são caracterizados em Brasília como lugares que não

parecem existir socialização com o mundo público da rua, pois a rua é destinada a

automóveis. A parada de ônibus, onde todo mundo é “Passageiro” é o lugar de encontros

fortuitos e informais que marcam a vivencia urbana da cidade, o que nos mostra a ausência de

uma construção social e histórica. Mas, apesar de introspecção dos espaços, a cidade nunca

está acabada, já extrapolou do plano original e é reesignificada diariamente pelos seus

habitantes.

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Conclusão

Este TCC me possibilitou refletir sobre as novas ressegnificaçoes dos espaços públicos

nas suas relações com o sujeito. Entender como os objetos simbólicos produzem sentidos

nesse lugar do que é público, do que é urbano na cidade para os sujeitos que se movimentam

de seus lugares empíricos para as posições- sujeitos já constituídos ideologicamente na

história

Observamos que durante todo o percurso histórico e discursivo das bibliotecas, e suas

múltiplas maneiras de significar no campo social, houveram formas de individualização do

sujeito como formas de poder. Desde a antiguidade e seus monumentos históricos até uma

biblioteca popular numa parada de ônibus, pude perceber as várias formas de subjetivação do

sujeito. O controle sobre as leituras da Igreja que julgava o leitor incapacitado para escolher

seus livros. Os modos de alienação utilizados pela imprensa para atrair leitores e

consumidores.

A Análise de Discurso me mostrou os vários modos de significar o mundo através da

história e ideologia e os sentidos apreendidos durante este trabalho foram resultantes das

reflexões entre a teoria e o corpus analisado, entre o real e o simbólico.

Durante este trabalho, a partir de leituras sobre Brasília e seus espaços urbanos, uma

nova maneira de olhar o mundo era inaugurada em mim, não um olhar empírico, mais que

isso, aprendi a olhar os modos de significação que constituem essa cidade de uma forma

menos ingênua. Percebi que a Parada não estava apenas cedendo seu lugar para uma

biblioteca, mas também construído um novo espaço de leitura, e, talvez, um novo tipo de

sujeito – leitor, ao mesmo tempo que não deixava de significar para as pessoas que ali

passavam ou paravam um lugar destinado a parada de ônibus.

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