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Biobibliografia de Rousseau por Olga Pombo 1712 - 28 de junho - Jean-Jacques Rousseau nasce em Genebra, Grand rue, 40. Nasci em Genebra, (...) de Isaac Rousseau, cidadão, e de Suzanne Bernard, cidadã”. - 4 de julho - Baptismo de Jean-Jacques no templo de Saint-Pierre. - 7 de julho - Morte de sua mãe. O meu nascimento custou a vida de minha mãe e foi a primeira das minhas infelicidades. Nunca soube como meu pai suportou semelhante perda (...) Quando me dizia: Jean-Jacques, falemos de tua mãe; eu respondia: pois bem meu pai, vamos então começar a chorar”. - Jean-Jacques é educado por uma tia, Suzanne Rousseau. 1717 - Isaac Rousseau, relojoeiro, é obrigado a vender a sua casa e vai instalar- se no bairro pobre de Saint-Gervais. Eu não passava de um garoto de Saint-Gervais”. 1718/9 - Primeiras leituras. Jean-Jacques lê romances, historiadores e moralistas na companhia do pai. Minha mãe tinha deixado alguns romances; após o jantar, meu pai e eu, pusémo-nos a lê-los (...) algumas vezes; meu pai, ouvindo de manhã as andorinhas, dizia, envergonhado: vamo-nos deitar; ainda sou mais criança do que tu”.

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Biobibliografia de

Rousseau

por

Olga Pombo

1712 - 28 de junho - Jean-Jacques Rousseau nasce em Genebra, Grand rue, 40.

“Nasci em Genebra, (...) de Isaac Rousseau, cidadão, e de Suzanne

Bernard, cidadã”.

- 4 de julho - Baptismo de Jean-Jacques no templo de Saint-Pierre.

- 7 de julho - Morte de sua mãe.

“O meu nascimento custou a vida de minha mãe e foi a primeira das

minhas infelicidades. Nunca soube como meu pai suportou semelhante

perda (...) Quando me dizia: Jean-Jacques, falemos de tua mãe; eu

respondia: pois bem meu pai, vamos então começar a chorar”.

- Jean-Jacques é educado por uma tia, Suzanne Rousseau.

1717 - Isaac Rousseau, relojoeiro, é obrigado a vender a sua casa e vai instalar-

se no bairro pobre de Saint-Gervais.

“Eu não passava de um garoto de Saint-Gervais”.

1718/9 - Primeiras leituras. Jean-Jacques lê romances, historiadores e

moralistas na companhia do pai.

“Minha mãe tinha deixado alguns romances; após o jantar, meu pai e eu,

pusémo-nos a lê-los (...) algumas vezes; meu pai, ouvindo de manhã as

andorinhas, dizia, envergonhado: vamo-nos deitar; ainda sou mais

criança do que tu”.

“Plutarco (...) foi a primeira leitura da minha infância e será a última de

minha velhice”.

1722 - Outubro - Isaac Rousseau deixa Genebra e instala-se definitivamente em Nyon.

“Meu pai teve uma altercação com um tal M. Gautier, capitão de França

aparentado no Conselho... preferiu sair de Genebra e expatriar-se para

o resto da sua vida, do que ceder num ponto em que a honra e a

liberdade lhe pareciam comprometidas”.

Jean-Jacques e o seu primo Abraham Bernard, ficam instalados em casa

do pastor Lambercier, em Bossey (a alguns Kms de Genebra).

“Puseram-nos os dois como pensionistas em casa do pastor Lambecier,

em Bossey, para aí aprendermos, com o latim, toda a quinquilharia de

que, sob o nome de educação, o fazem acompanhar”.

1724 - De regresso a Genebra, Jean-Jacques vai viver para a casa do tio,

Gabriel Bernard. Entra como aprendiz no escritório de Masseron,

advogado e escrivão da cidade “para que com ele aprendesse... o útil

ofício do rato da justiça”.

- Despedido do cartório, Jean-Jacques é posto como aprendiz na oficina

de um gravador – Abel du Commen.

“homem novo, boçal e violento, que, em pouco tempo, conseguiu apagar

o viço da minha infância, embrutecer-me o carácter afável e vivo”.

1726 - O pai de Jean-Jacques casa pela segunda vez.

1728 - “Cheguei assim aos dezasseis anos, inquieto, descontente de tudo e de

mim, sem gostar da minha profissão, sem os prazeres próprios da minha

idade, devorado por desejos cujo objecto ignorava, chorando sem

motivos para lágrimas, suspirando sem saber de quê; enfim, acariciando

ternamente as minhas quimeras por nada ver, à minha volta, que as

merecesse”.

- 14 de março - Ao regressar de um passeio, Jean-Jacques encontra fechadas as portas

da cidade. Decide não voltar a casa do seu patrão.

“Vagueei durante alguns dias nas imediações da cidade, hospedando-me

em casa de gente do campo minha conhecida”.

- Alguns dias depois, vai Ter com Cofignon que o aconselha a ir até

Annecy.

“lá encontrei uma excelente senhora muito carinhosa”.

- 21 de Março - Jean-Jacques chega a Annecy e apresenta-se em casa de Madame de

Warens com uma carta de recomendação do prior de Cofignon.

“disseram-me que tinha acabado de sair para ir à Igreja. Era o dia de

Ramos de 1728. Corro para a seguir: Vejo-a, alcanço-a, falo-lhe...

Tenho que recordar o local; frequentemente o molhei depois com as

minhas lágrimas e o cobri com os meus beijos (...) Mme de Warens volta-

se ao ouvir a minha voz (...) vejo um rosto “repleto de encantos, uns

lindos olhos azuis cheios de doçura, uma tez fascinante (...) Nada

escapou ao rápido golpe de vista do jovem prosélito; porque, no mesmo

instante, tornei-me seu (...) Ela, sorrindo, recebe a carta que com mão

trémula lhe estendo”.

- 24 de Março - Por sugestão do director espiritual de Mme de Warens, Jean-Jacques

parte a pé para Turim onde entra no hospício de catecúmenos do Saint-

Esprit.

- 21 de Abril - Jean-Jacques abjura do protestantismo e converte-se ao catolicismo,

sendo baptizado dois dias mais tarde.

“Suficientemente instruído e suficientemente preparado a contento dos

meus mestres, levaram-me processionalmente à igreja metropolitana de

S. João para que aí fizesse a abjuração solene (...) houve que ir em

seguida à Inquisição receber a absolvição pelo crime de heresia”.

- Verão - Jean-Jacques vagueia por Turim.

“Via-me no meio de uma grande cidade (...) e os vinte francos que

guardava na algibeira pareciam-me um tesouro inesgotável”

- Outono - Jean-Jacques arranja trabalho como lacaio de Mme de Vercellis e, em

seguida, entra ao serviço do Conde de Gouvon, como secretário do seu

filho.

1729 - Jean-Jacques volta a Annecy para casa de Mme de Warens que o recebe

com ternura.

“deu-me o nome de filho; o dela era: maman”

d’Aubonne, parente de Mme de Warens, escreveu uma comédia queJean-

Jacques leu.

“Agradou-me e despertou em mim a fantasia de fazer também uma, para

experimentar se, com efeito, eu era tão estúpido como o autor o tinha

declarado; só em Chambéry é que executei esse projecto quando escrevi

“L’Amant de lui même”

- Agosto - Jean-Jacques passa dois meses no seminário dos Lazaritas de Annecy.

“Como é triste um seminário, sobretudo quando se sai de casa de uma

mulher gentil”.

- Inverno - Jean-Jacques é pensionista do compositor Le Maître e trabalha como

músico na capela da catedral de Annecy.

1730 - Abril - Jean-Jacques acompanha a Lyon N. Le Maître, abandonando-o depois.

- De regresso a Annecy não encontra Mme de Warens que “tinha partido

para Paris”.

- Julho - Jean-Jacques acompanha até Friburgo a criada de quarto de Mme de

Warens. Vai a Genebra, visita o pai em Nyon.

- Em Lausana, fez-se passar por professor de música parisiense, sob o

nome de Vassoure de Villeneuve.

- Inverno - Dá lições de música em Neuchâtel.

1731 - Abril - Torna-se intérprete de um pretenso arquimandrita que se dizia

“Encarregado de fazer um peditório na Europa para a restauração do

Santo Sepulcro”.

- Junho - Primeira estadia de Jean-Jacques em Paris como preceptor.

“Tinham-me gabado tanto Paris, que a imaginava como a antiga

Babilónia (...) o mesmo me sucedeu com a ópera (...) e o mesmo (...) em

Versalhes; depois, ainda, ao ver o mar. O mesmo me sucederá sempre

(...) porque é impossível aos homens e difícil à própria natureza

ultrapassar em riqueza a minha imaginação”.

- Setembro - Jean-Jacques abandona Paris e procura Mme Warens que acaba por

encontrar em Chambéry.

- Mme Warens arranja-lhe trabalho no cadastro real.

- É neste período que Rousseau escreve a comédia Narcisse ou L’Amant

de lui-même.

1732 - Jean-Jaques é surpreendido pela ligação existente entre Mme Warens e

Claude Anet.

“Nem sequer tinha pensado em desejar tal lugar para mim, mas era-me

doloroso vê-lo ocupado por outrem (...) contudo, em vez de odiar quem

ma tinha roubado, senti estender-se a Claude a dedicação que eu tinha

por Maman”.

- Jean-Jacques dá lições de música às suas “belles écolières”.

1733 - Pequena viagem a Besançon onde recebe lições de harmonia.

- Jean-Jacques torna-se amante de Mme Warens.

“Assim se estabeleceu entre nós três (J-J, Mme de Warens e Claude

Anet) uma sociedade sem exemplo na Terra (...) Apesar das nossas

relações particulares, as práticas a sós eram para nós menos doces do

que reunirrmo-nos todos”.

1734 - 13 de Março - Morte de Claude Anet.

“Apesar dos infinitos cuidados que lhe dispensámos, a sua boa ama e eu,

morreu nos nossos braços, ao quinto dia, após a mais cruel agonia”.

- Amante e homem de confiança de Mme de Warens, Jean-Jacques fez

pequenas viagens a Lyon e Grenoble.

1735/6 - Estadia de Jean-Jacques e Mme de Warens no vale das Charmettes.

“Começa aqui a breve felicidade da minha vida; os tranquilos mas

rápidos momentos que me deram o direito de dizer que vivi, momentos

preciosos (...) Ah! recomeçai para mim o vosso agradável curso, deslizai

se é possível mais lentamente ainda na minha memória! Que devo fazer

para prolongar à minha vontade esta simples e tocante narrativa”?

Como direi o que não foi dito, nem feito, nem mesmo pensando, mas

saboreado, sentido (...)?”

Levantava-me com o sol e era feliz; passeava, e era feliz, via “maman” e

era feliz; (...) percorria os bosques, os outeiros, vagueava pelo vale, lia,

(...) colhia frutos, ajudava nos trabalhos da casa, e a felicidade seguia-

me por toda a parte”.

1737 - Jean-Jacques lê Prèvost, Marivaux e tragédias de Voltaire e escreve

duas óperas-tragédias, intituladas Iphis et Anaxarète e La Découverte du

Nouveau Monde.

- 27 de Julho - Após um acidente que põe a sua vida em perigo, Jean-Jacques faz o seu

testamento.

- 28 de Julho - Rousseau atinge a maioridade segundo a lei de Genebra.

- Julho - Incógnito, Rousseau vai a Genebra reclamar a herança de sua mãe.

- Setembro - Rousseau vai a Montpellier a fim de consultar um médico célebre.

Encontro e breve aventura com Mme Larnage. Rousseau faz-se passar

por um jacobita inglês sob o nome de M. Dudding.

1738 - Fevereiro - Rousseau resolve voltar para junto de Mme de Warens, em Chambéry.

“De bem longe procurava descobri-la no caminho; o meu coração batia

cada vez mais à medida que me aproximava (...) Entro; Tudo tranquilo;

os trabalhadores ceavam na cozinha (...) Numa palavra, encontrei

ocupado o meu lugar”.

Rousseau, sozinho na Charmettes, estuda à maneira de um autodidata

Port- Royal, Locke, Malebranche, Leibniz, Descartes.

“Eu repetia a mim mesmo; comecemos por organizar um armazém de

ideias, verdadeiras ou falsas mas claras, e esperemos que a minha

cabeça esteja suficientemente fornecida delas para que as possa

comparar e escolher”.

“Desta maneira, com as minhas desgraças, começaram a germinar em

mim as virtudes que trazia no fundo da minha alma e que, cultivadas

pelo estudo, só esperavam, para desabrochar, o fermento da

adversidade”.

1740 - Rousseau abandona a casa de Mme de Warens.

“Senti que a presença e o afastamento de uma mulher que me era tão

querida aumentavam a minha dor e que, se deixasse de a ver me sentiria

menos cruelmente separado dela”.

- Vai para Lyon, como preceptor em casa de M. de Mably.

- Escreve o Projet pour l’éducation de M. de Sainte-Marie.

- Depressa descobre a sua pouca vocação para preceptor e abandona o

serviço.

“Só sabia empregar três armas, sempre inúteis e frequentemente

perniciosas para as crianças: o sentimento, o raciocínio, a cólera”.

1741 - Rousseau regressa a Chambéry para junto de Mme de Warens.

“Recebeu-me com aquele sempre excelente coração que com ela havia

de morrer; eu, porém, vinha recuperar um passado que já não existia e

que não podia ressuscitar”.

1742 - Rousseau continua a estudar e trabalha num novo processo de notação

musical.

“Há muito que tinha pensado em notar a escola por meio de algarismos,

evitando assim ter que traçar constantemente linhas e pontos quando era

preciso notar a mais insignificante aria”.

- 10 de Julho - Rousseau termina o Epître à Parisot.

- Fim de Julho - Parte para Paris, deixando definitivamente Mme de Warens.

“Só pensava em partir para Paris, sem duvidar de que, apresentando o

meu projecto à Academia, iria provocar uma revolução”.

- 22 de Agosto - Apresentação e leitura à Academia das Ciências de Paris do seu Projet

concernant de nouveaux signes pour la musique.

- Mostra a Marivaux a sua comédia Narcisse.

- 8 de Setembro - Após o parecer de vários comissários sobre o projecto de notação

musical, a Academia atribui a Rousseau um certificado.

“A Academia outorgou-me um certificado cheio de amabilíssimos

cumprimentos, mediante o qual esclarecia que, no fundo, não julgava o

meu sistema nem novo nem útil”.

1743 - Janeiro - Rousseau publica a sua Dissertation sur la musique moderne e o Epître

à Monsieur Bordes.

- Rousseau conhece Diderot.

- Rousseau torna-se secretário em casa de Mme Dupin.

“Mme Duppin... era ainda, quando a vi pela primeira vez, uma das

mulheres mais belas de Paris (...) falou-me do meu projecto como pessoa

instruída que era, cantou, acompanhou-se ao cravo, reteve-me para o

jantar, sentou-me à mesa ao seu lado; não era preciso tanto para me

enlouquecer”.

- Primavera - Roussseau começa a escrever uma ópera, Muses Galantes.

“O primeiro acto, num género de música forte, era o Tasso; o segundo,

com música terna, era Ovídeo; e o terceiro, Anacreonte, deveria respirar

a alegria do ditirambo”.

- Junho - O conde de Montaiçu, nomeado embaixador em Veneza, procura um

secretário. Rousseau aceita.

- Setembro - Chegada a Veneza. Estadia na embaixada, no palácio Toma Quirini.

- Rousseau contacta com a música italiana, dispondo de um camarote em

cada um dos cinco teatros de Veneza.

“Tinha trazido de Paris o preconceito que lá existe contra a música

italiana; mas tinha também recebido da natureza aquela sensibilidade de

tacto contra a qual não há preconceitos que resistam. Bem depressa

senti, por esta música, a paixão que ela inspira àqueles que são feitos

para a julgar”.

1744 - Rousseau escreve uma comédia Les Prisionniers de Guerra.

- Agosto - Violento litígio com o embaixador na sequência do qual Rousseau

abandona a embaixada e regressa a Paris.

1745 - Em Paris, continua a trabalhar na sua ópera e liga-se a Thérèse

Levasseur, natural de Orléans, com vinte e três anos de idade.

“Precisava do dar uma sucessora a Maman: uma vez que não viveria

mais com ela, precisava de alguém que vivesse com o seu discípulo”

- 9 de Julho - Rousseau termina a ópera Muses Galantes.

- Setembro - Rousseau consegue fazer executar parcialmente a sua ópera em cassa de

M. de La Ponplinière, mecenas de Remeau, que considerou que:

“uma parte do que acabava de ouvir era de um homem consumado na

arte, e, o resto, de um ignorante que nem sequer sabia música”.

- Rousseau executa a peça na presença do duque de Richelieu que,

entusiasmado afirma: “Nunca ouvi nada mais belo”.

- Rousseau convive com Diderot e Condillac.

- Novembro - Por proposta do duque de Richelieu, Rousseau é encarregado de fazer a

revisão da ópera Fêtes de Ramire com texto de Voltaire e música de

Rameau.

- Dezembro - Troca de correspondência respeituosa e cortês entre Voltaire e

Rousseau.

1746 - Rousseau ajuda Mme Dupin a preparar uma obra sobre as mulheres e

uma refutação do L’esprit des lois.

- Em Chenonceaux, propriedade de M. Dupin, Rousseau escreve, em

quinze dias, uma comédia em três actos L’engagement téméraire e

também uma fantasia Arlequin amoureux malgré lui.

- Inverno - Nascimento do seu primeiro filho.

“Enquanto eu engordava em Chenonceaux, a minha pobre “Thérèse”

engordava em Paris de uma outra maneira (...) a criança (...) foi

depositada pela parteira na roda”

“Decidi-me sem cerimónia e sem o menor escrúpulo, e o único que tive

de vencer foi o de “Thérèse”, a quem foi extremamente difícil fazer

aceitar aquele único processo de salvar a sua honra”

“No ano seguinte, o mesmo inconveniente e o mesmo expediente”.

1747 - Rousseau frequenta assiduamente a Comédie Française, a Ópera e o

Théâtre des Italiens.

1748 - Rousseau conhece Mme d’Epinay.

“Mme d’Epinay era amável, tinha espírito, talentos: era seguramente

uma boa relação a cultivar”.

- Rousseau janta todas as semanas com a equipa da Encyclopédie.

“Reuníamo-nos três vezes por semana no Palais-Royal e íamos jantar

juntos ao hotel do Panier-Fleuri”.

- Nascimento do segundo filho de Rousseau, igualmente depositado na

Roda.

- D’Alembert encarrega Rousseau de escrever artigos sobre música para

a Encyclopédie.

1749 - Janeiro - Rousseau redige esses artigos.

“Muito à pressa e muito mal, nos três meses que me haviam dado, assim

como a todos os autores que deviam concorrer para a dita empresa”.

- 24 Julho - Diderot é preso no castelo de Vincennes.

“Nada poderá jamais descrever a angústia que me causou a desgraça do

meu amigo (...) Escrevi a Mme de Pompadour, rogando-lhes que o

mandasse soltar ou que conseguisse que me encarcerassem junto dele”.

- Agosto - Rousseau trava conhecimento com Grimm.

- Outubro - No caminho para “Vicennes”, quando ia visitar Diderot, Rousseau lê no

Mercure de France a questão proposta pela Academia de Dijon para o

prémio de moral do ano de 1750, a saber “Si le rétablissement des

sciences et des arts a contribué à épurer les moeurs”.

“Logo que tal li, vi outro universo e transformei-me noutro homem”.

“Se alguma vez alguma coisa se assemelhou a uma inspiração súbita, foi

o movimento que se deu em mim a essa leitura (...) Oh! Meu Deus, se eu

tivesse podido escrever a Quarta parte de tudo o que vi e senti (...) com

que clareza teria revelado as contradições do sistema social, com que

força teria exposto todos os abusos das nossas instituições, com que

simplicidade teria demonstrado que o homem é naturalmente bom e que

é por causa das instituições que os homens se tornam maus. Tudo o que

pude reter dessa multidão de grandes verdades (...) encontra-se disperso

(...) nos meus três principais escritos, a saber; o primeiro Discurso, o da

Desigualdade e o Tratado de educação, os quais são inseparáveis e

formam todos um único todo”.

“Eis portanto como me tornei autor quase sem dar por isso”.

- Rousseau redige o Discours sur les Sciences et Les Arts.

“Consagrei-lhe as insónias das minhas noites”.

1750 - Janeiro - Rousseau começa a viver com Thérèse Levasseur.

- Julho - A Academia de Dijon atribui o primeiro prémio ao Discours de

Rousseau.

- Dezembro - Publicação do seu Discours sur les Sciences et les Arts.

“Enquanto o poder estiver só de um lado e as luzes e a sageza só do

outro, os sábios pensarão raramente grandes coisas, o príncipes farão,

mais raramente ainda, belas coisas, e os povos continuarão a ser vis,

corruptos e infelizes”.

1751 - Março - Caixa do Recebedor-Geral de Impostos, Rousseau resolve abandonar o

lugar.

“Resolvido a passar, com independência e pobreza, o pouco tempo que

me restava de vida, empreguei todas as forças da minha alma a quebrar

as algemas da opinião e a fazer corajosamente o que melhor me parecia

(...) imaginei um meio muito simples: copiar música a tanto por página”.

- Primavera - Nascimento do seu terceiro filho.

“O meu terceiro filho foi posto na roda, como os primeiros, e o mesmo

sucedeu com os dois seguintes; porque, ao todo, tive cinco”.

“Ao entregar os meus filhos à educação pública, (...) ao destiná-los a

serem operários ou camponeses em vez de aventureiros ou caçadores de

fortuna, julgava praticar um acto de cidadão e de pai; e considerava-me

membro da república de Platão. De então para cá, os remorsos do

coração ensinaram-me que me tinha enganado”.

- 20 Abril - É desta data a amargurada carta a Mme de Francueil, na qual Rousseau

explica as razões pelas quais pôs os seus filhos nos “Enfants-Trauvés”.

- Setembro - Refutação anónima do Discours sur les Sciences et les Arts de

Rousseau no Le Mercure de France (pelo rei da Polónia).

- Outubro - Nova refutação pelo abade Gautier.

- Rousseau responde ao rei da Polónia.

- Novembro - Rousseau publica Lettre a Grimm, sur la réfutation de son Discours par

M. Gautier.

1752 - Abril - Rousseau publica Réponse à M. Bordes.

- Primavera - Rousseau compõe a ópera Le Devin du Village.

- Rousseau é retratado por La Tour.

- Verão - Rousseau passa o verão em casa de Mme d’Epinay.

- 18 Outubro - Le Devin du Village é representado em Fontainebleu, diante da corte e

do próprio rei, obtendo grande sucesso.

“A peça foi muito mal representada no que diz respeito aos actores, mas

bem cantada e bem executada quanto à música. Logo na primeira cena,

que era de uma ingenuidade verdadeiramente comovente, ouvi levantar-

se nos camarotes um murmúrio de surpresa e de aplauso”.

- 19 Outubro - Rousseau deixa Fontainebleau sem comparecer à audiência real que lhe

tinha sido marcada.

“É verdade que perdia a pensão que, de certo modo, me era oferecida;

mas também me livrava do jugo que esta me imporia”.

- 21 Outubro - Diderot censura Rousseau por ter deixado fugir a pensão real.

“Disse-me que, se por mim era desinteressado, não me era permitido sê-

lo em relação a Mme Levasseur”.

- 18 Dezembro - Representação na Comédie Françase da sua comédia Narcisse ou

L’Amant de lui-même. Rousseau redige um importante prefácio para esta

peça.

1753 - Março - Representação do Devin du village na Ópera de Paris.

“O Devin du Village acabou por me pôr na moda, e em breve não houve

em Paris homem mais procurado do que eu”.

- Novembro - Le Mercure de France publica o tema do concurso proposto pela

Academia de Dijon.: “Quelle est l’origine de l’inégalité parmi les

hommes, et si elle est autorisée par la loi naturelle”?

Rousseau passa oito dias em Saint-Germain para meditar sobre esta

questão, passeando pelas florestas.

- Rousseau publica a Lettre sur la musique française.

“A carta foi tomada a sério e levantou contra mim toda a nação, que se

julgou ofendida na sua música”.

- Início da redacção do Discours sur l’origine de l’inégalité parmi les

hommes”

“O primeiro que, tendo murado um terreno, se lembrou de dizer: isto é

meu e encontrou pessoas suficientemente simples para o acreditarem, foi

o verdadeiro fundador da sociedade civil. Quantos crimes, quantas

guerras, quantos assassínios, quantas misérias e horrores não teria

evitado ao género humano aquele que, arrancando as pedras ou tapando

o fosso, gritasse aos seus semelhantes: “Tende cuidado, não escuteis

esse impostor; estais perdidos se esqueceis que os frutos são de todos e a

terra não é de ninguém”.

- Dezembro - Como resposta à sua Lettre sur la musique Française, os músicos da

ópera de Paris enforcam, em efígie, Rousseau e recusam-lhe entrada na

Ópera.

“Deram a um boneco de palha a figura e o vestuáio de Jean-Jaques,

puseram-lhe na mão uma espada bem luzidia e passearam-no, com

grande pompa, pelas ruas de Paris”.

1754 - Junho - Rousseau e Thérèse partem para Genebra, passando no caminho por

Chambéry para visitarem Mme de Warens.

“Chegado a esta cidade, entreguei-me ao entusiasmo republicano que lá

me tinha levado. O acolhimento que me foi feito fez aumentar ainda mais

esse entusiasmo”.

- Agosto - Rousseau revonverte-se ao protestantismo e torna-se “Citoyen de

Genève”

“Festejado, acarinhado em todos os estados, entreguei-me inteiramente

ao zelo patriótico e, envergonhado por me achar excluído dos meus

direitos de cidadão em virtude da adopção de um culto diferente do dos

meus pais, resolvi retomar abertamente este último”.

- Setembro - Em Genebra, Rousseau trabalha sobre as instituições políticas, prepara

a Histoire du Valais, a tragédia em prosa Lucrèce e traduz o primeiro

livro da História de Tácito.

- Outubro - De regresso a Paris, envia ao editor Marc-Michel Rey de Amesterdão o

manuscrito do seu segundo Discurso.

1755 - 24 Abril - Publicação Discours sur l’origine de l’inégalité parmi les hommes.

“Enquanto os homens se contentaram com as suas cabanas rústicas,

enquanto se limitaram a cozer o seu vestuário com espinhas de árvores

ou de peixes, a adornar-se de plumas e de conchas, pintar o corpo de

diversas cores (...) viveram livres, sãos, bons e felizes”.

- 30 Agosto - Carta de Voltaire a Rousseau.

“Recebi, caro Senhor, o vosso Livro contra o género humano; agradeço-

vos... Nunca se utilizou tanto espírito em querer torna-nos animais; tem-

se vontade de caminhar a quatro patas quando se lê o vosso livro.

Todavia, como perdi esse hábito há mais de sessentas anos, sinto,

infelizmente, que me é impossível retomá-lo”.

- 10 Setembro - Resposta amável de Rousseau a Voltaire.

“Sou eu, caro senhor, que vos estou grato por tudo (...) vede que não

desejo restabelecer-nos na nossa animalidade, ainda que, pela minha

parte, tenha muita pena do pouco que dela perdi (...) Não tenteis pois

regressar às quatro patas; ninguém haveria no mundo menos capaz para

isso do que Vós”.

- Publicação na Enciclopédie do artigo Economie Politique no qual

Rousseau preconiza:

“Uma educação pública segundo regras prescritas pelo governo”.

- Serão em casa de Mme Geoffrin.

“Em Paris, no turbilhão da grande sociedade, na sensualidade dos

jantares, no brilho dos espectáculos, nos fumos da glória, sempre a

recordação dos meus bosques, dos meus regatos, dos meus passeios

solitários, me distraía, contristava, arrancava suspiros e desejos”.

- Palissot faz representar uma comédia na qual Rousseau é caricaturado

como “um homem que, de pena em punho, ousara medir-se com um rei”.

O rei da Polónia, que assistiu à representação, pretende castigar Pallisot.

Rousseau intercede junto do rei e obtém o perdão para Pallisot.

1756 - Mme d’Épinay oferece a Rousseau asilo no Hermitage.

“Mme d’Épinay tinha mandado fazer as obras em segredo e com pouca

despesa, desviando alguns materiais e alguns operários das do castelo”.

- Abril - Rousseau e Thérèse Levasseur instalam-se no Hermitage.

“Achava delicioso ser hóspede de uma amiga numa casa da minha

escolha que ela tinha mandado construir propositadamente para mim”.

- No Hermitage, Rousseau compila os manuscritos do abade de Saint-

Pierrre e redige o seu Jugement sur la Paix perpétuelle e Jugement sur la

Polysynodie.

- Rousseau devaneia, passeia e sonha nos bosques de Montmorency.

“Eis agora o austero Jean-Jacques, com aproximadamente quarenta e

cinco anos, transformado repentinamente num pastor extravagante”.

- 18 Agosto - Rousseau envia a Voltaire a Lettre sur la Providence relativamente à

qual Voltaire considera .

“Impressionado por ver esse pobre homem, acabrunhado, por assim

dizer, pela prosperidade e pela glória, declamar amargamente contra as

misérias desta vida e pensar que tudo ia mal, concebi o insensato

projecto de o fazer regressar a si mesmo, e de lhe provar que tudo ia

bem”

- Outono - Rousseau imagina os personagens da Nouvelle Heloise, Claire e Saint-

Preux.

“A impossibilidade de alcançar os seres reais, lançou-me no país das

quimeras, e, como não visse nada de existente que fosse digno do meu

delírio, alimentei-o num mundo ideal que a minha imaginação criadora

em breve povoou de seres selon mon coeur (...) Esquecendo

completamente a raça humana, arranjei sociedades de criaturas

perfeitas, tão celestiais na virtude como na beleza, amigos seguros,

ternos, fiéis, como nunca encontrei na terra”.

- Rousseau escreve cartas esparsas e decide

“dar-lhes uma certa ordem para fazer uma espécie de romance”

1757 - Janeiro - Primeira visita de Mme d’Houdetot ao Hermitage.

“Semelhante visita teve vagamente o ar de um começo de romance”.

- Março - Rousseau lê a obra de Diderot Le Fils naturel onde, cena 3, acto IV, se

lê “só o mau está só” passagem que o perturba muito e que provoca uma

querela entre os dois amigos. Rousseau escreve:

“O mau pode meditar os seus crimes na solidão, mas não é na solidão

que os executa”.

- Abril - Reconciliação entre Rousseau e Diderot. Este mostra a Rousseau o

plano da sua obra Le père de famille e Rousseau lê-lhe um dos cadernos

da sua La Nouvelle Heloise

- Primavera - Paixão de Rousseau pela condessa d’Houdetot.

“Vi a minha “Julie” em Mme d’Houdetot e em breve não vi senão Mme

d’Houdetot mas revestida de todas as perfeições com que acabava de

embelezar o ídolo do meu coração. Para rematar, falou-me de Saint-

Lambert como amante apaixonada (...) eu bebia a grandes tragos a taça

envenenada de que, por agora, apenas sentia a doçura (...) e, sem que

ela se apercebesse e sem que eu me apercebesse, Mme d’Houdetot

inspirou-me tudo o que exprimia pelo seu amante”.

- A redação de Nouvelle Heloise atinge a 4ª parte.

- 31 Agosto - Querela com Mme d’Épinay. Rousseau acusa Mme d’Épinay de ter

querido, servindo-se de si, desunir Mme d’Houdetot e Saint-Lambert.

- 1 Setembro - Reconciliação com Mme d’Épinay.

- Outubro - Querela com Grimm, amante de Mm d’Épinay. Reconciliação com

Grimm que lhe propõe: “Le baiser de paix”.

- 15 Outubro - Carta a “Sophie” (Mme d’Houdetot).

- Novembro - Projecto de uma “sociedade a três” com Mme d’Houdetot, Saint-

Lambert e Rousseau.

- Mme d’Épinay parte para Genebra e Rousseau recusa acompanhá-la.

“Vendo-a escoltada pelo seu amante, pelo preceptor de seu filho, por 5

ou 6 criados, ir consultar um médico seu amigo, e percebendo que a

minha companhia lhe era totalmente inútil, sentindo além disso, como

me seria impossível suportar, com a minha doença (...) um assento de

carruagem até Genebra (...) não aceitei a viagem e Mme d’Épinay

aceitou as minhas razões”.

- Mme d’Houdetot despede-se de Rousseau tendo-lhe manifestado o seu

desejo de que Rousseau tivesse acompanhado a Genebra Mme d’Épinay

pois previa que a sua recusa a comprometesse a ela.

- Carta de rompimento de Grimm com Rousseau.

- Novembro - Rousseau começa a trabalhar nas Lettres Morales.

- 5 Dezembro - Visita de Diderot a Rousseau no Hermitage.

“Era o meu mais antigo amigo, era quase o único que me restava”.

- Rousseau recebe o tomo VII da Enciclopédia, ficando indignado com o

artigo Genève da autoria de D’Alembert e decide responder-lhe.

- 10 Dezembro - Mme d’Épinay escreve a Rousseau fazendo-lhe sentir que o não quer

mais no Hermitage.

“Considerei um dever retirar as minhas coisas, disposto a deixá-las em

pleno campo”.

- 15 Dezembro - Rousseau deixa o Hermitage.

“Apesar do gelo e da neve, mudei-me em dois dias e a 15 de Dezembro

entreguei as chaves do Hermitage depois de ter pago a soldada do

jardineiro, visto não poder pagar o aluguer da casa”.

- Rousseau instala-se com Thérèse em Montmorency, numa pequena casa

do jardim de Montlouis.

1758 - Fevereiro - Doente, Rousseau crê a sua morte para breve.

- Escreve, em 3 semanas, a sua Lettre à d’Alembert sur les Spectacles

que só será publicada em Outubro.

“Durante um inverno bastante duro (...) ia passar duas horas todas as

manhãs (...) num torreão completamente aberto que se situava no fundo

do jardim onde se encontrava a minha habitação... Foi nesse lugar,

então gelado, que, sem abrigo contra o vento e a neve e sem outro fogo

que o do meu coração, compus, no espaço de três semanas, a minha

Lettre à d’Alembert sur les Spectacles”.

- Rousseau redige a 1ª versão da Profession de foi du Vicaire Sayoyard.

- Março - Indiscrição de Diderot. Rousseau acusa-o de traição. Ruptura com

Diderot.

“Devo, meu querido Diderot, escrever-vos ainda uma vez mais na minha

vida”.

- 13 Setembro - Rousseau anuncia ao editor Rey que o seu romance Julie ou La

Nouvelle Heloise, em 6 partes, se encontra acabado.

1759 - Voltaire publica o Candide que constitui uma resposta indirecta à Lettre

sur la Providence de Rousseau.

- Vida tranquila em Mont-Louis. Rousseau conhece M. de Malesherbes e

os duques de Luxemburgo.

- A Marechala de Luxemburgo propõe a Rousseau a sua entrada para a

Academia Francesa. Rousseau recusa.

- Maio - A convite do Marechal de Luxemburgo, Rousseau instala-se no Petit

Chateau de Montmorency, enquanto se faziam obras na sua casa de

Mont-Louis.

“Dignai-vos, Senhor Marechal, dizer algumas vezes: Vive, no património

dos meus pais, um solitário (...) que me honra, não porque eu sou

grande, mas porque sou bom”.

- É nessa demeure enchantée que Rousseau escreve o Émile.

1760 - Rousseau trabalha no Émile e no Contrat Social.

- Rousseau lê a Nouvelle Heloise a Mme de Luxembourg.

“Todas as manhãs, pelas dez horas, me dirigia aos seus aposentos; M. de

Luxembourg vinha também; fechava-se a porta. Punha-me a ler ao lado

do leito (...) o êxito de tal expediente ultrapassou a minha expectativa.

Mme de Luxembourg apaixonou-se por Julie e pelo seu autor”.

- Rousseau regressa a Mont-Louis.

“Logo que a casa de Mont-Louis ficou pronta, mandei-a mobiliar

decentemente, com simplicidade, e voltei a instalar-me nela, pois não

podia renunciar àquela lei que, depois de abandonar o Hermitage, a

mim me impusera: de ter sempre uma casa minha”.

- Rousseau toma conhecimento de que Voltaire tinha publicado a sua

carta Sur le Désastre de Lisbonne. Rousseau escreve a Voltaire (17 de

Junho).

“Não pensava, Senhor, vir a reatar correspondência convosco. Sabendo,

contudo, que a carta que vos escrevi em 1756 foi impressa em Berlim,

devo prestar-vos contas da minha conduta a este respeito (...) Essa carta,

tendo-vos sido realmente dirigida, não era destinada a ser impressa (...)

Já vos não estimo pois, Senhor (...) odeio-vos mesmo porque assim o

quisestes”.

- Setembro - Rousseau recebe a visita do príncipe de Conti.

“Recebi a maior honra que as letras me valeram, e aquela a que fui mais

sensível, com a visita que o Senhor Príncipe de Conti se dignou fazer-me

por duas vezes (...) Quis que eu tivesse a honra de jogar com ele o xadrez

(...) apesar das caretas dos assistentes, que fingi não ver, ganhei as duas

partidas que jogámos. Ao terminarmos, disse-lhe num tom respeitoso,

mas grave: Senhor, prezo de mais Vossa Alteza Sereníssima para lhe não

ganhar sempre ao xadrez. Este grande príncipe, cheio de espírito e de

luzes (...) percebeu (...) que ali, só eu o tratava como homem, e tenho

boas razões para crer que verdadeiramente me ficou grato”

- Dezembro - Julie ou la Nouvelle Heloise é posta à venda em Londres.

“Quem se decidir a ler estas cartas deve armar-se de paciência para

com os erros de linguagem, para com o estilo enfático e medíocre, para

com os pensamentos comuns expressos em termos empolados; deve

dizer-se desde já que aqueles que as escrevem não são franceses, nem

espíritos bem pensantes, académicos, filósofos, mas provincianos,

estrangeiros, solitários, jovens, quase crianças (...)”

“Dois amantes amam-se um ao outro? Não; tu e eu são palavras na sua

língua: já não são dois, são apenas um”

“Quem não idolatrar a minha Julie não sente o que é preciso amar”.

- Rousseau oferece à Marechala de Luxemburgo, em manuscrito, a

versão definitiva do Émile e Les Aventures de Milord Édouard.

“as ideias com que a minha falta encheu o meu espírito contribuíram em

grande parte para me fazer meditar o Tratado de educação onde

encontrareis, no livro primeiro, uma passagem que vos pode claramente

indicar essa disposição”

(Rousseau refere-se à seguinte passagem do Émile: “Aquele que não quer

cumprir os seus deveres de pai, não tem o direito de o ser. Não há

pobreza, nem trabalhos, nem respeito humano que dispensem ninguém de

alimentar os seus filhos...

Leitores, podeis acreditar-me!”)

- Pallisot representa na Comédie-Française a sua comédie “Philosophes”

na qual Rousseau é ridicularizado e Diderot maltratado.

1761 - Julie ou la Nouvelle Heloise (edição Rey) é posta à venda em Paris,

onde obtém um imenso sucesso. Pelo contrário, em Genebra, a obra

encontra “um grande número de censores”.

- Fevereiro - Publicação no Entretien sur les Romans no qual Rousseau diz:

“São precisos espectáculos para as grandes cidades e romances para o

povo corrompido”.

- 12 de Julho - Acreditando estar iminente a sua morte, Rousseau recomenda Thérèse

Levasseur a Mme de Luxemburgo a quem pede, igualmente, que mande

procurar aos Enfants-Trouvés os seus filhos”.

- Setembro - Rousseau submete à apreciação de M. de Malesherbes o seu Essai sur

l’origine des langues.

- Negociações para a publicação do Émile e do Contrat Social.

- Inverno - Rousseau está doente.

“Passei todo o inverno sofrendo quase sem parar. O mal físico acrescido

de mil inquietações (...) recebi cartas anónimas bastante singulares e até

cartas assinadas que não o eram menos”.

1762 - Janeiro - Num estado de “abatimento extremo” que sucede à crise do outono e

inverno precedentes, Rousseau escreve a M. de Malesherbes quatro

importantes cartas autobiográficas.

“Estas quatro cartas, escritas sem rascunho, de uma vez só, sem as ter

relido sequer, são porventura a única coisa que, em toda a minha vida,

escrevi com facilidade (...) Sentindo-me desfalecer, gemia ao pensar que

deixava no espírito das pessoas de bem uma opinião tão pouco justa a

meu respeito (...) tratava-se, de certo modo, de suprir às memórias que

tinha projectado”.

“Pintar-me-ei sem vaidade nem modéstia; mostrar-me-ei a vós tal como

me vejo e tal como sou, porque, tendo passado a minha vida comigo, é

natural que me conheça”.

- Abril - O Contrat Social está impresso e Rey envia para Paris um pequeno

número de exemplares.

“Perguntar-me-ão se sou príncipe ou legislador para escrever sobre

política. Respondo que não é por esse motivo que escrevo sobre política.

Se fosse príncipe ou legislador não perderia o meu tempo a dizer o que é

preciso fazer – agiria ou então calar-me-ia”.

“Nunca o forte é bastante forte para se manter sempre como senhor, se

não converter a força em direito e a obediência em dever”.

“Haverá sempre uma grande diferença entre submeter uma multidão e

governar uma sociedade”.

- 27 de Maio - O Émile é posto à venda.

“A natureza quer que as crianças sejam crianças antes de serem homens.

Se prevertermos esta ordem, produziremos frutos precoces sem

maturidade e sem sabor que não tardarão a corromper-se. Teremos

jovens doutores e crianças velhas. A infância tem modos próprios de ver,

de pensar, de sentir. Nada há menos sensato do que querer substituí-los

aos nossos”.

“É a ti que me dirijo, mãe terna e previdente que soubeste afastar-te dos

caminhos públicos e proteger o arbusto nascente do choque das opiniões

humanas. Cultiva, rega a jovem planta antes que ela pereça”.

“Tudo está bem quando sai das mãos do autor das coisas, tudo degenera

entre as mãos do homem que (...) mistura e confunde os climas, os

elementos, as estações; mutila o cão, o cavalo, o escravo, tudo preverte,

tudo desfigura”

- 3 de Junho - A polícia confisca o Émile.

- 7 de Junho - O Émile é denunciado na Sorbone.

- 9 de Junho - O Parlamento condena o Émile.

- Rousseau é alvo de um mandato de captura. Foge nessa mesma tarde

para a Suíça.

“A senhora Marechala abraçou-me por várias vezes com um ar muito

triste (...) O senhor Marechal não abria a boca; estava pálido como um

morto (...) o nosso abraço foi longo e mudo; ambos sentimos que tal

abraço era um derradeiro adeus”.

- 11 de Junho - O Émile é queimado em Paris.

- 19 de Junho - O Émile e o Contrat Social são queimados em Genebra e é decretado

ordem de prisão para Rousseau.

“Todas as gazetas, todos os jornais, todas as brochuras tocaram a rebate

da maneira mais terrível (...) Eu era um ímpio, um ateu, um exaltado, um

furioso, um animal feroz, um lobo”.

- Rousseau foge de novo.

“A dificuldade era saber para onde ir, agora que Genebra e Paris me

estavam interditas e que previa sem dificuldade que (...) cada qual se

apressaria a imitar o vizinho”.

- 2 de Julho - Carta de David Hume a Rousseau oferecendo-lhe os seus serviços e

amizade.

- 10 de Julho - Rousseau refugia-se em “Môtiers” no principado Prussiano de

Neuchâtel.

“A casa que ocupo (...) é grande, bastante cómoda; tem uma galeria

exterior onde passeio quando faz mau tempo; e, o que vale mais que tudo

o resto, é que é um asilo oferecido pela amizade...”

“Tenho em frente das minhas janelas uma soberba cascata que, do alto

da montanha, cai pelo escarpado de um rochedo no vale, com um

barulho que se faz ouvir ao longe”.

- Rousseau escreve a Frederico II, rei da Prússia, pedindo-lhe asilo nos

seus estados.

“Ele respondeu-me com a generosidade que todos lhe conhecem e que eu

esperava dele”.

- 29 de Julho - Morte de Mme de Warens, em Chambéry.

“Levei “maman” a viver no campo. Uma casa isolada no declive de um

vale foi o nosso asilo, e foi aí que, no espaço de quatro ou cinco anos, eu

vivi um século de vida e gozei de uma felicidade pura e plena que cobre

ainda com o seu encanto tudo o que a minha sorte tem, no presente, de

terrível”.

- 28 Agosto - Publicação do Mandement de Christophe de Beaumont, Arcebispo de

Paris, condenando o Emilio.

- Setembro - Rousseau passa a vestir-se com trajes Arménios.

“Tomei pois a túnica, o cafetão, o boné de peles, a cinta (...) e nunca

mais voltei a usar outro fato”

- 14 Novembro - A Sorbonne publica uma censura do Émile.

- 14 Dezembro - O editor Rey insiste junto de Rousseau para que este escreva a sua

biografia.

1763 - Fevereiro - Rousseau envia ao editor Duchesne o seu Dictionnaire de Musique.

- Março - Publicação da Lettre à Christophe de Beaumont.

- Abril - Rousseau recebe a naturaliddade de Neuchâtel

- Junho - Cidadãos e burgueses de Genebra defendem Rousseau.

- Setembro - Publicação das Lettres écrites de la campagne do procurador geral

Tronchin, contra Rousseau.

1764 - Maio - Morte do amigo e protector de Rousseau, o Marechal de Luxemburgo.

“ O único amigo verdadeiro que eu tinha em França, sendo tal a doçura

do seu carácter que me havia feito esquecer completamente a sua

categoria para a ele me afeiçoar como um igual”.

- Julho - Rousseau está apaixonado pela botânica.

“Entretenho a minha velha infância a fazer uma pequena colecção de

frutos e grãos”.

“Eis-me, de repente, tão botanista quanto tem necessidade de o ser

aquele que não quer estudar a natureza senão para descobrir

constantemente novas razões para a amar”

- Agosto - Buttafoco escreve a Rousseau pedindo-lhe um projecto de Constituição

para a Córsega.

- 18 Dezembro - Rousseau responde a Tronchin com as Lettres écrites de la Montagne

que provocaram

“uma terrível explosão contra esta infernal obra e contra o seu

abominável autor”.

- 27 Dezembro - Voltaire lança contra Rousseau um panfleto anónimo - Sentiment des

citoyens – no qual denuncia ao público o abandono, por Rousseau, dos

seus filhos.

- 31 Dezembro - Rousseau recebe o panfleto que atribui erradamente ao pastor Vernes.

- Rousseau decide escrever as suas confissões.

“Soe a trombeta do juízo final quando lhe aprouver; irei com este livro

na mão apresentar-me ao juiz supremo. Direi em voz alta: Eis o que fiz,

o que pensei, aquilo que fui”

1765 - Janeiro - As Lettres écrites de la Montagne são condenadas em Haia e depois em

Paris. A calúnia, a agitação aumentam em torno de Rousseau.

“Apesar dos repetidos escritos do Rei, das frequentes ordens do

Conselho de Estado, dos cuidados do Castelão e dos magistrados do

lugar, o povo, olhando-me como o Anti-cristo (...) pareceu querer chegar

enfim a vias de facto”.

- 6 de Setembro - Dia de feira em Môtiers. À noite os paroquianos apedrejam a casa de

Rousseau.

“À meia-noite ouvi um grande barulho (...) Uma chuva de pedras,

atiradas contra a janela e a porta (...) caíram com tal fragor, que o cão,

que dormia (...) se calou com medo e refugiou-se num canto, começando

a roer e a arranhar o sobrado para procurar fugir”.

- 12 Setembro - Rousseau foge para a ilha de Saint-Pierre no lago de Bienne.

“Parecia-me que, nesta ilha, me acharia mais separado dos homens,

mais ao abrigo dos seus ultrajes, mais esquecido deles, mais entregue às

doçuras da ociosidade e da vida contemplativa”.

- No lago de Bienne, Rousseau sonha, passeia.

“Amei sempre a água com paixão e, vê-la, sempre me lançou num

devaneio delicioso embora, frequentemente, sem objecto determinado

(...) compreendo como é que os habitantes das cidades, vendo apenas

paredes, ruas e crimes, têm pouca fé; mas não compreendo como a não

podem ter os camponeses, e, sobretudo, os solitários”.

- 16 Outubro - Rousseau é expulso da ilha pelo “Petit-Conseil” de Berna.

- 22 Outubro - D. Hume escreve a Rousseau, oferecendo-lhe asilo em Inglaterra.

“Uma carta extremamente lisonjeira na qual, aos maiores cumprimentos

sobre o meu génio, juntava o restante convite para que o acompanhasse

a Inglaterra”.

- 25 Outubro - Rousseau deixa a ilha de Saint-Pierre e parte com destino a Berlim.

- 2 Novembro - De passagem por Estrasburgo, assiste ao Devin du Village que é tocado

em sua honra.

- 9 Dezembro - Rousseau deixa Estrasburgo em direcção a Paris.

- 16 Dezembro - Chega a Paris onde se instala em casa do príncipe de Conti.

“Todo o Paris me veio ver”.

1766 - 4 Janeiro - Rousseau deixa Paris na companhia de David Hume e parte para a

Inglaterra.

- 13 Janeiro - Rousseau chega a Londres.

- 28 Janeiro - Rousseau instala-se em Chiswick.

“Não posso ainda gozar das maravilhas do campo porque este país se

encontra coberto de neve, mas, enquanto espero, repouso das minhas

grandes corridas (...) gozo de mim mesmo e rendo-me homenagem

porque, se durante quinze anos tive a infelicidade de exercer o triste

ofício de homem de letras, não contraí nenhum dos vícios próprios de tal

estado: a inveja, o despeito, o espírito de intriga”

- 19 de Março - Rousseau parte para Wootton onde trabalha nas Confissões.

“A ocupação para os dias de chuva, frequentes neste país, é escrever a

minha vida (...) farei o que nenhum homem fez antes de mim (...) direi

tudo, o bem, o mal, tudo enfim: sinto-me uma alma que se pode

mostrar”.

- Abri - Carta de Voltaire ao “Dr. J.J. Pansophe”.

- 10 de Julho - Carta de ruptura de Rousseau com D. Hume.

- 20 Outubro - Aparece em Paris um libelo de Hume contra Rousseau Exposé Succinct

onde o filósofo inglês torna públicos os detalhes da sua querela com

Rousseau.

- Novembro - Artigos favoráveis a Rousseau em vários jornais ingleses.

1767 - 18 de Março - O rei George III atribui a Rousseau uma pensão anual de 100 libras

esterlinas.

- 1 de Maio - Rousseau e Thérèse deixam Wootton.

- 25 Maio - Rousseau chega a Amiens. Pernoita como hóspede em casa do

economista Marquês de Mirabeau, em Fleury-sous-Meudon.

- 21 de Junho - Rousseau esconde-se no castelo de Trye do príncipe de Conti, fazendo-

se passar por Jean-Joseph Renou, irmão de Thérèse Levasseur.

- Outubro - Rousseau, doente, julga estar a ser envenenado.

- 26 Novembro - Publicação do seu Dictionnaire de Musique.

1768 - Rousseau julga-se vítima de um “Complot” universal.

“Caso único desde que o mundo existe”.

“O mais espantoso empreendimento que jamais foi feito”.

- 14 de Junho - Rousseau parte para Lyon com o seu herbário e a sua biblioteca.

“de erva em erva, de planta em planta, para as examinar, comparar os

seus diversos caracteres, (...) observar a organização vegetal de modo a

seguir a marcha e o jogo dessas máquinas vivas, a procurar, algumas

vezes com sucesso, as suas leis gerais, a razão e o fim das suas diversas

estruturas”

- 7 de Julho - Rousseau parte para uma tournée botânica na região da “Grande-

Chartreuse”.

“A botânica, tal como sempre a encarei, e tal como ela começava a

tornar-se para mim uma paixão, era precisamente um estudo ocioso,

indicado para preencher todo o vazio dos meus lazeres, sem consentir

lugar para o delírio da imaginação nem para o aborrecimento de uma

total ociosidade”.

- 25 de Julho - Rousseau vai a Chambéry onde faz uma peregrinação ao túmulo de

Mme de Warens: “a melhor das mulheres”.

- 30 Agosto - Casamento civil de Rousseau com Thérèse Levasseur na presença do

prefeito de Bourgoin.

“Sempre a amei e honrei como minha mulher, em virtude do seu bom

coração, da sua sincera afeição, do seu desinteresse sem exemplo e da

sua fidelidade sem mancha”.

- Outubro - Rousseau encara a possibilidade de se retirar para a Grécia, Chipre ou

Minorca.

1769 - Rousseau instala-se em Monquin, acima de Bourgoin onde prossegue as

Confissões (Livros sete a décimo primeiro).

1770 - 22 Janeiro - Rousseau renuncia ao pseudónimo e assina de novo o seu nome.

- 26 Fevereiro - Carta autobiográfica de Rousseau a M. de Saint-Germain.

- 10 de Abri - Rousseau deixa Monquin e vai a Lyon onde um grupo de mercadores

lioneses faz representar em sua honra, Le Devin du Village e Pigmalion –

poema de Rousseau com música composta na época por Cognet.

- Junho - Rousseau regressa a Paris – rua Platriêre. Subscreve uma estátua a

Voltaire e acaba as Confessions: “Disse a verdade”.

- Retoma o seu trabalho de copista e continua a herborizar.

“Em seis anos copiou mais de 6.000 páginas de música”.

- Dezembro - Acabadas as Confissões, Rousseau faz leituras confidenciais da obra em

casa do Marquês de Pezay e do poeta Dorat.

- Fevereiro - Leitura das Confissões na presença do príncipe real da Suécia.

“Quem quer que sejais, vós a quem o meu destino ou a minha confiança

fizeram árbitro deste caderno, pelos meus infortúnios, pelas vossas

entranhas, e em nome de toda a espécie humana, conjuro-vos a não

destruir essa obra útil e única (...) e a não roubar à honra da minha

memória o único documento seguro do meu carácter que não foi

desfigurado pelos meus inimigos”

- 4-8 de Maio - Leitura da obra em casa da Condessa de Egmont.

“Acabei a leitura e todos se calaram. Mme d’Egmont foi a única pessoa

que me pareceu comovida; estremeceu visivelmente mas depressa se

refez e guardou silêncio, assim como toda a companhia. tal foi o fruto

que retirei desta leitura e da minha declamação”.

- 10 de Maio - Mme d’Épinay pede à polícia que proíba a leitura de as Confissões.

- Julho - Início das relações de Rousseau com Bernardin de Saint-Pierre.

“Deve julgar-se um homem pela sua utilidade... Rousseau, foi um dos

maiores porque aproximou o homem da Natureza”.

- Outono - Rousseau trabalha nas Considerations sur le Gouvernement de Pologne

que só acabará em 1772.

1772 - Começa a escrever os Dialogues ou Rousseau juge de Jean-Jacques.

“É preciso que eu diga por que olhos, se eu fosse outro, veria um homem

tal como eu sou”.

“Não se trata de encontrar razões em favor dos meus sentimentos, mas

de imaginar as contrárias”.

1773 - Rousseau continua a dividir o seu tempo entre a cópia da música, o

passeio e a botânica.

- Continua a escrever os seus Dialogues.“É um trabalho amargo” ao

qual não consegue dedicar mais do que quinze minutos diários.

“Escrevendo cada ideia quando me vem (...) escrevendo dez vezes a

mesma ideia quando ela chegou dez vezes (...) sem me recordar nunca do

que escrevi antes”.

1774 - Maio - Rousseau escreve a introdução ao seu Dictionnaire des termes d’usage

en botanique.

- Julho - Rousseau compõe a música do 1º acto de Daphnis et Cloé com poema

de Corancez.

1775 - Outubro - Pigmalion é representado na Comédie Française, sem autorização de

Rousseau, obtendo grande sucesso.

1776 - 24 Fevereiro - Os Dialogues estão prontos e Rousseau tenta depôr o manuscrito no

altar-mor da Catedral de Notre-Dame.

“Protector dos oprimidos, Deus da justiça e da verdade (...) recebe este

depósito que um estrangeiro, só, sem apoio, sem defensor na terra,

ultrajado, troçado, difamado, traído por toda uma geração (...) confia à

tua providência”.

- Mas Rousseau encontra um obstáculo a esse gesto.

“Ao entrar, os meus olhos foram surpreendidos por uma grade que

jamais tinha visto”.

- Abril - Rousseau distribui na rua, aos transeuntes anónimos, uma

mensagem manuscrita: “A tous François aimant encore la justice et la

vérité”.

“Se, entre aqueles que lerem estas folhas, existir ainda um coração de

homem – isso me basta!”

“Que os homens façam o que quiserem, eu fiz o que devia e ninguém me

impedirá de morrer em paz”.

- Outono - Rousseau começa a escrever as Rêveries du Promeneur Solitaire.

“Para ser fiel ao título desta recolha deveria ter começado há 60 anos

porque toda a minha vida não foi mais do que uma longa rêverie

dividida em capítulos pelos passeios de cada dia. Começo hoje, ainda

que tarde, porque nada mais me resta fazer neste mundo”.

- 24 Outubro - No regresso de um passeio, empurrado por um cão, Rousseau dá uma

queda que lhe provoca lesões graves.

“Não sabia quem era nem onde estava; não sentia nem dor, nem medo,

nem inquietude. Via correr o meu sangue como poderia ter visto correr

um regato, sem sequer pensar que esse sangue de algum modo me

pertencia. Perguntaram-me onde habitava; foi-me impossível responder.

Habitava onde estava”.

- Dezembro - Le Courrier d’Avignon anuncia falsamente a morte de Rousseau.

1777 - Primavera - Rousseau continua a redacção das Rêveries.

“Enquanto os homens foram meus irmãos, só podia ser feliz na

felicidade pública; a ideia de uma felicidade particular apenas tocou o

meu coração quando vi os meus irmãos procurar a sua felicidade na

minha miséria. Então, para os não odiar, obriguei-me a fugir deles;

refugiando-me na mãe comum, procurei nos seus braços subtrair-me aos

golpes dos seus filhos, tornei-me solitário, ou, como dizem, insociável e

misantropo, porque a solidão mais selvagem me parece preferível à

sociedade dos malvados, que se alimenta de traições e ódio”.

1778 - Março - Rousseau compõe a 8ª Promenade.

“Sempre demasiado afectado pelos objectos sensíveis, e sobretudo por

aqueles que trazem a marca do prazer ou da dor, da benevolência ou da

aversão, deixo-me arrastar por essas impressões exteriores, sem poder

nunca livrar-me a não ser pela fuga. Um sinal, um gesto, um olhar de um

desconhecido bastam para perturbar os meus prazeres ou acalmar as

minhas dores. Pertenço-me apenas quando estou só, para além disso,

sou joguete de todos os que me rodeiam”.

- 20 de Maio - Rousseau instala-se em Ermenonville em casa do marquês de Girardin,

com o seu médico Le Bégne de Presle.

“Não respiro senão no meio dos prados e dos bosques; sufoco num

quarto, numa sala, numa casa, numa rua, na praça “Vendôme”, o

empedrado das ruas, o cinzento dos muros e dos tectos fazem-me

pesadelos”.

- 2 de Julho - Após um passeio no parque, Rousseau almoça com Thérèse e a criada.

Morre às 11 horas da manhã deixando inacabada a sua 10ª Promenade na

qual evoca o seu 1º encontro com Mme de Warens.

“Hoje, dia de Páscoa florida, há precisamente cinquenta anos que

conheci Mme de Warens. Ela tinha então vinte e oito anos, uma vez que

nascera com o século. Eu não tinha ainda dezassete (...) Não há dia em

que não recorde com alegria e ternura esse único e breve momento de

minha vida no qual fui eu plenamente, sem mistura e sem obstáculo e, em

relação ao qual posso dizer com verdade, ter vivido”.

- Nas costas de uma carta de jogar, pouco antes de morrer, Rousseau

havia escrito:

“Se há algum homem verdadeiramente feliz sobre a terra, ninguém o

citará como exemplo, porque ninguém senão ele o saberá”.

- 3 de Julho - Houdon faz a máscara mortuária de Rousseau.

- 4 de Julho - Rousseau é enterrado na ilha dos Peupliers às 11h. da noite.

1794 - 9-11 Outubro - Transladação dos restos mortais de Rousseau para o Panteão.

“Entre aqueles que, na época de que vos falo, se salientaram na carreira

das letras e da filosofia, um homem houve que, pela elevação da sua

alma e pela grandeza do seu carácter, se mostrou digno do ministério de

preceptor do género humano (...) A pureza da sua doutrina, haurida na

natureza e no ódio profundo do vício, assim como o seu desprezo

invencível pelos sofistas intrigantes que usurpavam o nome de filósofos,

concitaram o ódio e a perseguição dos rivais e dos falsos amigos. Ah! se

ele tivesse testemunhado esta revolução de que foi precursor e que o

levou para o Panteão, quem duvidará de que a sua alma generosa teria

abraçado com transporte a causa da justiça e da igualdade”.

(Robespierrre)

“Demasiado honesto e demasiado grande para a terra” (Schiller)

“O seu amor era a essência de paixão – como uma árvore. Incendiada

pelo relâmpago, com chama etérea se ateou e consumiu” (Byron)

“Necessito ler e reler Rousseau até que a beleza da sua expressão deixa

de me cativar e possa analisar a sua obra somente com a razão” (Kant)

“Cada geração descobre um novo Rousseau no qual encontra o exemplo

do que ela quer ser ou do que recusa apaixonadamente” (Starobinsky).

Maravilhoso site de apoio iconográfico: http://www.unige.ch/cite-

uni/rousseau/captab1.html