Biodiesel
Transcript of Biodiesel
-
ndice
viii
ndice Geral
ndice de Figuras............................................................................................................xi
ndice de Tabelas ......................................................................................................... xiii
Captulo I - Introduo.................................................................................................. 16
1.1 - Motivao......................................................................................................... 16
1.2 - Objectivo .......................................................................................................... 17
1.3 - Apresentao do trabalho ................................................................................ 17
Captulo II - leos vegetais como fonte de energia alternativa.................................... 20
2.1 - Introduo ........................................................................................................ 20
2.2 - Matrias-primas ............................................................................................... 22
2.3 - Composio qumica de gorduras e leos vegetais......................................... 22
2.4 - O que o biodiesel .......................................................................................... 24
2.5 - Processo de produo de biodiesel ................................................................. 25
2.5.1 - Processo clssico de produo de biodiesel ........................................... 25
2.5.2 - Catalizadores utilizados na produo de biodiesel .................................. 27
2.5.2.1 - Processos homogneos..................................................................... 27
2.5.2.2 - Processos heterogneos.................................................................... 28
2.6 - Mtodos de caracterizao de biodiesel .......................................................... 29
2.7 - Parmetros de qualidade do biodiesel ............................................................. 30
2.7.1 - Parmetros especficos............................................................................ 30
2.7.2 - Parmetros gerais .................................................................................... 31
2.7.2.1 - Viscosidade ........................................................................................ 33
2.7.2.2 - Densidade .......................................................................................... 33
2.7.2.3 - Ponto de inflamao........................................................................... 33
2.7.2.4 - Ponto de turvao e ponto de fluxo.................................................. 34
2.7.2.5 - Nmero de cetano.............................................................................. 34
2.7.2.6 - Nmero de neutralizao ................................................................... 35
Captulo III - Materiais de mudana de fase................................................................. 36
3.1 - Introduo ........................................................................................................ 36
3.2 - Propriedades dos PCMs .................................................................................. 37
3.3 - PCMs inorgnicos ............................................................................................ 39
3.4 - PCMs orgnicos............................................................................................... 40
3.4.1 - Ceras parafnicas ..................................................................................... 41
3.4.2 - cidos gordos........................................................................................... 42
3.5 - Incorporao de PCMs em materiais de construo ....................................... 44
-
ndice
ix
3.6 - Aplicaes de PCMs ........................................................................................ 46
3.6.1 - Paredes de edifcios ................................................................................. 46
3.6.2 - Deslocamento de picos de consumo........................................................ 47
3.6.3 - Armazenamento de calor latente por contacto indirecto com energia solar48
3.6.4 - Outras aplicaes ..................................................................................... 50
Captulo IV - Reviso das caractersticas das diversas espcies a estudar ................ 53
4.1 - Introduo......................................................................................................... 53
4.2 - leo de mamona/rcino (Ricinus communis).................................................... 57
4.3 - Manteiga de kpangnan (Pentadesma butyracea)............................................. 59
4.4 - Manteiga de karit (Butyrospernum parkii)....................................................... 60
4.5 - Manteiga de cacau (Theobroma cacao)........................................................... 61
4.6 - leo de coco (Cocos nucifera) ......................................................................... 61
4.7 - leo de palma (Elaeis guineensis)................................................................... 62
4.8 - leo de soja (Glycine maxima) ........................................................................ 64
4.9 - leo de colza (Brassica napus)........................................................................ 65
4.10 - leo de girassol (Helianthus annus) .............................................................. 65
Captulo V - Materiais e mtodos ................................................................................. 67
5.1 - Materiais ........................................................................................................... 67
5.2 - Mtodos............................................................................................................ 69
5.2.1 - Preparao das amostras......................................................................... 69
5.2.1.1 - Transesterificao dos leos vegetais................................................ 69
5.2.1.2 - Derivatizao do leo de coco............................................................ 69
5.2.1.3 - Amostras de biodiesel ........................................................................ 70
5.2.1.4 - Ceras parafnicas................................................................................ 70
5.2.1.5 - Padro ASTM D5442.......................................................................... 70
5.2.2 - Caracterizao.......................................................................................... 70
5.2.2.1 - GC-MS dos leos e gorduras transesterificadas ................................ 70
5.2.2.2 - GC-MS do leo de coco ..................................................................... 71
5.2.2.3 - DSC dos leos e gorduras vegetais ................................................... 71
5.2.2.4 - GC-MS das amostras de biodiesel ..................................................... 71
5.2.2.5 - GC-MS das ceras parafnicas............................................................. 72
5.2.2.6 - GC-FID do padro ASTM D5442........................................................ 72
Captulo VI - Resultados e discusso........................................................................... 74
6.1 - Anlise dos leos vegetais transesterificados.................................................. 74
6.2 - Anlise da composio do leo de coco .......................................................... 78
6.3 - Anlise calorimtrica de leos e gorduras vegetais ......................................... 84
-
ndice
x
6.4 - Identificao dos cidos gordos nas amostras de biodiesel ............................ 85
6.5 - Identificao e quantificao de ceras parafnicas........................................... 87
6.6 - Anlise do padro ASTM D5442...................................................................... 90
Captulo VII - Concluso .............................................................................................. 92
Captulo VIII - Bibliografia............................................................................................. 93
-
ndice de Figuras
xi
ndice de Figuras
Figura 1. Possvel cenrio das fontes de energia ao longo dos prximos anos [2]..........20
Figura 2. Reservas de petrleo em bilies de barris em 2003. ........................................21
Figura 3. Estruturas qumicas dos cidos gordos predominantes nos leos e gorduras vegetais. (I) - cido lurico; (II) - cido oleico; (III) - cido linoleico; (IV) - cido linolnico.
...........................................................................................................................................23
Figura 4. Processo de produo de biodiesel...................................................................25
Figura 5. Equao geral de transesterificao de triglicerdeos, utilizando como lcool o metanol [39]. ......................................................................................................................26
Figura 6. Curva de temperatura durante o processo de mudana de fase [77]. ..............37
Figura 7. Curva de temperatura registada numa casa solar passiva com e sem PCM incorporados nas paredes de edifcios [100]. ....................................................................46
Figura 8. Esquema de uma unidade de armazenamento de calor latente em contentores ou tubos planos que contm PCMs encapsulados [102]...................................................48
Figura 9. Esquema simples de uma unidade de armazenamento trmico com dois tipos de PCMs [111]. ..................................................................................................................49
Figura 10. Estrutura qumica do cido ricinoleico (cido 12-hidroxi-9-octadecenoico).....58
Figura 11. Estrutura qumica do estigmasterol. ................................................................59
Figura 12. Estruturas qumicas de dois dos lcoois triterpnicos presentes na manteiga de karit. (I) - - Amirina; (II) - - amirina..........................................................................60 Figura 13. Fruto da Elaeis guineensis. .............................................................................62
Figura 14. Estrutura molecular dos tocoferis (vitamina E). .............................................64
Figura 15. Espectro de massa do hexadecanoato de metilo, Mw = 270. .........................75
Figura 16. (I) formao do io acilo e (II) formao do pico base m/z =74 pelo rearranjo de McLafferty. ....................................................................................................................75
Figura 17. Formao do fragmento m/z = 87. ..................................................................76
Figura 18. Cromatograma do leo de coco analisado por GC-MS...................................78
Figura 19. Formao do io [R2CO + 74]+ num diglicerdeo.............................................79
-
ndice de Figuras
xii
Figura 20. Espectro de massa do derivado TMS da 1,3-dilauritina, com Tr = 21.30 min, para R1 = R3 = C11H23 e Mw = 528. ................................................................................... 80
Figura 21. Formao do fragmento [RnCO + 74]+ num triglicerdeo. ................................ 81
Figura 22. Espectro de massa do triglicerdeo C35H66O6 com Mw = 582 presente na amostra de leo de coco. .................................................................................................. 81
Figura 23. Espectro de massa de dois triglicerdeos com Mw = 694. .............................. 82
Figura 24. Curvas de DSC das amostras de leos e gorduras. ....................................... 84
Figura 25. Cromatograma da amostra escravos_v e ampliao do pico com Tr = 17.51 min pristano (C19H36) e do pico com Tr = 18.61 min fitano (C17H40). ................................. 89
Figura 26. Espectro de massa do biomarcador da famlia dos norhopanos com m/z = 191. ................................................................................................................................... 89
Figura 27. Cromatograma do padro ASTM D5442......................................................... 90
-
ndice de Tabelas
xiii
ndice de Tabelas
Tabela 1. Parmetros especficos dos leos vegetais para a qualidade do biodiesel [11]............................................................................................................................................31
Tabela 2. Parmetros gerais para a qualidade do biodiesel [11]. .....................................32
Tabela 3. Caractersticas importantes dos materiais que armazenam energia [78]. ........38
Tabela 4. Vantagens e desvantagens de materiais orgnicos e inorgnicos para armazenamento de calor [78]. ...........................................................................................39
Tabela 5. Dados termofsicos de alguns PCM inorgnicos [80, 81]..................................40
Tabela 6. Dados termofsicos de alguns PCM orgnicos [80, 81]. ...................................41
Tabela 7. Dados termofsicos de alguns cidos gordos usados como PCMs [80, 81]. ....43
Tabela 8. Valores de temperaturas de fuso tericas (Ti) e experimentais (Tm) e calor de fuso (Hm) para alguns cidos gordos e misturas [94]...................................................44
Tabela 9. Mtodos de incorporao dos PCMs. ...............................................................45
Tabela 10. Nome cientfico das plantas das quais se extraem as gorduras/leos a estudar...............................................................................................................................53
Tabela 11. Propriedades qumicas e fsicas dos leos e gorduras vegetais a analisar. ...55
Tabela 12. Percentagens de cidos gordos presentes nos leos/gorduras vegetais a analisar. .............................................................................................................................56
Tabela 13. Propriedades fsico-qumicas do biodiesel (steres metlicos) dos leos e gorduras vegetais a estudar. .............................................................................................57
Tabela 14. Caractersticas das fraces do leo de palma [111, 120, 137-139]. .............63
Tabela 15. leos e gorduras vegetais estudadas e sua origem. ......................................67
Tabela 16. Composio e origem das amostras de biodiesel estudadas. ........................68
Tabela 17. Ceras parafnicas estudadas...........................................................................68
Tabela 18. Percentagens de cidos gordos, identificados como steres metlicos dos triglicerdeos dos leos vegetais obtidos por transesterificao........................................77
Tabela 19. Glicerdeos presentes na amostra de leo de coco e a sua percentagem para os respectivos tempos de reteno (Tr) e massa molecular (Mw). ...................................83
-
ndice de Tabelas
xiv
Tabela 20. Temperatura e entalpia de fuso dos leos e gorduras vegetais. .................. 85
Tabela 21. Percentagem em rea de cada um dos steres metlicos dos cidos gordos nas amostras de biodiesel................................................................................................. 86
Tabela 22. Percentagens em rea dos n-alcanos presentes em amostras de ceras parafnicas......................................................................................................................... 88
Tabela 23. Factores de resposta mssica mdios relativos ao eicosano (C20) dos n-acanos presentes no padro ASTM D5442. ..................................................................... 91
-
Captulo I - Introduo
16
Captulo I - Introduo
1.1 - Motivao
Actualmente, a comunidade mundial empenha-se na utilizao de recursos
renovveis como fonte de energia e de novos materiais em substituio dos recursos
fsseis, de modo a diminuir a dependncia destes bem como a poluio e degradao do
meio ambiente resultantes da sua utilizao.
Assim, a procura de fontes alternativas de energia de suma importncia, sendo
muito vasto o leque de recursos cuja utilizao vem sendo estudada. Os leos e gorduras
vegetais so um desses recursos, e sobre os quais incidir esta dissertao, e em
particular em duas vertentes: como fonte de energia e como material para acumulao de
energia trmica.
A utilizao directa de leos e gorduras vegetais so uma alternativa para
substituir o diesel convencional. Mas o biodiesel, obtido por transesterificao de leos e
gorduras vegetais apresenta-se como a melhor opo, visto que o processo de produo
relativamente simples e as propriedades deste so semelhantes s do diesel
convencional.
Por outro lado, as gorduras vegetais so atractivas como material de mudana de
fase uma vez que fundem e solidificam numa larga gama de temperaturas. O
armazenamento de calor latente a forma mais eficiente de armazenar energia trmica e
esta nova tecnologia ainda em crescimento pode tambm ajudar a minimizar o problema
das emisses de gases de efeito de estufa.
-
Captulo I - Introduo
17
1.2 - Objectivo
Este trabalho tem como principal objectivo analisar detalhadamente a composio
qumica de alguns leos e gorduras vegetais, como potenciais candidatos produo de
biodiesel e como possveis materiais de mudana de fase.
Atendendo s consideraes referidas atrs, os dois principais objectivos deste
trabalho so:
Caracterizar por GC-MS os leos e gorduras vegetais transesterificadas, de modo a identificar e quantificar os steres metlicos dos cidos gordos que constituem as
diferentes amostras;
Analisar por DSC os leos e gorduras vegetais que fundem acima da temperatura ambiente para se determinar a temperatura e entalpia de fuso.
No entanto, este trabalho tem os seguintes sub-objectivos:
Caracterizar por GC-MS a amostra de leo de coco de modo a determinar-se a sua composio;
Caracterizar por GC-MS algumas amostras de biodiesel para se identificar e quantificar os steres metlicos dos cidos gordos presentes em cada uma das
amostras;
Caracterizar por GC-MS algumas amostras de ceras parafnicas extradas de crudes, de modo a se identificar e quantificar os hidrocarbonetos presentes em cada amostra;
Desenvolver um mtodo por GC-FID para quantificar misturas n-alcanos.
1.3 - Apresentao do trabalho
A dissertao ser apresentada em oito captulos, onde o primeiro captulo
introduz o trabalho, apresenta-se a motivao e o objectivo do trabalho realizado. No
segundo captulo mostra-se a importncia de leos e gorduras vegetais como fonte
alternativa de combustvel, define-se biodiesel e descrevem-se os processos de produo
e caracterizao e ainda alguns parmetros de qualidade. No terceiro captulo mostra-se
a importncia dos materiais de mudana de fase como armazenadores de calor latente,
propriedades, exemplos de vrias aplicaes. No quarto captulo faz-se ainda uma
-
Captulo I - Introduo
18
reviso das caractersticas das diversas espcies de leos e gorduras estudadas. Os
materiais e mtodos so apresentados no captulo cinco, descrevendo as tcnicas
analticas utilizadas e explicando a metodologia de trabalho aplicada. A anlise dos leos
e gorduras vegetais transesterificadas e do leo de coco, assim como, a identificao de
cidos gordos nas amostras de biodiesel e de n-alcanos nas amostras de ceras e ainda o
mtodo desenvolvido para quantificar misturas de n-alcanos so discutidos no captulo
seis. As concluses e a bibliografia utilizada so apresentadas no captulo sete e oito,
respectivamente.
-
Captulo II - leos vegetais como fonte alternativa de energia
20
Captulo II - leos vegetais como fonte de energia alternativa
2.1 - Introduo
Actualmente, a maior parte da energia necessria no Mundo fornecida por
fontes petroqumicas, carvo e gases naturais. Todas estas fontes so finitas e ao actual
ritmo de consumo sero rapidamente esgotadas como se mostra na Figura 1 [1].
Figura 1. Possvel cenrio das fontes de energia ao longo dos prximos anos [2].
As reservas mundiais de petrleo convencional totalizam 1147.80 bilies de barris
(Figura 2) e o consumo deste combustvel fssil estimado em 80 milhes de barris por
dia, conclui-se daqui que as reservas mundiais de petrleo convencional iro esgotar-se
por volta do ano 2046. Todavia, este clculo no tem em conta a tendncia do
crescimento do consumo pelo que, se no existirem novas reservas de petrleo
convencional, esse limite temporal encurtado [3]. Por outro lado, de prever que, antes
das reservas se esgotarem, o preo do petrleo ser to elevado que a sua utilizao
-
Captulo II - leos vegetais como fonte alternativa de energia
21
como combustvel deixar de ter interesse, o que leva necessidade de obteno de
novas alternativas de fornecimento energticos que permitam a sua substituio [4].
O consumo de combustveis fsseis representa actualmente, uma ameaa sria
para o equilbrio ambiental, dada a forte contribuio das emisses de dixido de carbono
(CO2) para o aquecimento global, (a cada 3.8 litros de gasolina que um automvel
queima, so libertados 10 kg de CO2 na atmosfera).
Figura 2. Reservas de petrleo em bilies de barris em 2003.
Assim, a procura de novas fontes de energia alternativa de vital importncia.
Novos combustveis alternativos e renovveis tm potencial para resolver muitos dos
problemas sociais correntes, desde a minimizao da poluio do ar e a reduo do
aquecimento global, a outros problemas ambientais e de sustentabilidade [5].
As gorduras animais e vegetais tm vindo a ser estudadas como substituintes
para combustveis fsseis lquidos. Em particular, os steres etlicos e metlicos de cidos
gordos, conhecidos genericamente por biodiesel, so excelentes combustveis para
motores a diesel [6].
A directiva da Unio Europeia 2003/30/EC define o biodiesel como um ster
metlico produzido a partir de leo vegetal ou animal, e que tenha qualidade para ser
usado como biofuel. Nestes termos, a directiva estabelece um mnimo de 2 a 5.75% de
biofuel para todos os transportes a gasolina e a diesel, de 31 de Dezembro de 2005 a 31
de Dezembro de 2010 [7].
Os combustveis derivados de leos vegetais so ainda cerca de duas vezes mais
caros que os derivados do petrleo. Contudo, o recente aumento dos preos do petrleo
-
Captulo II - leos vegetais como fonte alternativa de energia
22
e os incentivos fiscais tm aumentado o interesse em combustveis preparados a partir
de leos vegetais (principalmente para motores a diesel) [8-11].
2.2 - Matrias-primas
As gorduras e os leos so constituintes de todas as formas de vida animal e
vegetal. Contudo, as plantas e os animais que produzem leo em quantidade suficiente
para serem comercializadas so muito poucas [12].
A utilizao dos leos provenientes de frutos, nozes e sementes de oleaginosas
tem crescido, nomeadamente para usos culinrios. Hoje so conhecidas mais de 100
variedades de plantas produtoras de leos a partir de sementes. Uma segunda fonte de
leo vegetal o leo de frutos e nozes de rvores oleaginosas tais como o coco e a
palma [12]. O teor de leo vegetal pode variar entre 3 a 70% do peso total da semente ou
do miolo [13]. Para uma combinao satisfatria de uma ou mais fontes de leo torna-se
essencial conhecer as propriedades qumicas e fsicas de cada uma das matrias-primas.
Assim, nos prximos pargrafos dada uma perspectiva geral da composio dos leos
vegetais bem como dos processos de obteno de biodiesel.
2.3 - Composio qumica de gorduras e leos vegetais
Quimicamente, as gorduras e os leos so steres de glicerol com cidos gordos.
O comprimento das cadeias de carbono nas gorduras e leos alimentares variam entre 4
e 24 tomos de carbonos podem conter at trs ligaes duplas, representadas
genericamente por C-n:p, sendo n o nmero de tomos de carbono da cadeia e p o
nmero de ligaes duplas. Os cidos gordos saturados predominantes so os cidos
lurico (C-12:0), mirstico (C-14:0), o palmtico (C-16:0), o esterico (C-18:0), araqudico
(C-20:0), o behnico (C-22:0) e o linhocrico (C-24:0). Os cidos gordos mono-
insaturados mais importantes so o cido oleico (C-18:1) e o ercico (C-22:1). Os cidos
gordos poli-insaturados mais importantes so o cido linoleico (C-18:2) e o linolnico (C-
18:3) (Figura 3). Fisicamente, as gorduras e os leos so diferentes na medida em que
as primeiras so slidas temperatura ambiente e os leos so lquidos. A diferena de
-
Captulo II - leos vegetais como fonte alternativa de energia
23
propriedades , geralmente, determinada pela composio em cidos gordos e pelo grau
de insaturao destes. Estes aspectos so relacionados pelo comprimento da cadeia
carbonada e pelo nmero, posio e configurao das duplas ligaes nas referidas
cadeias. Geralmente, as gorduras slidas caracterizam-se por uma predominncia de
cidos gordos saturados, enquanto que nos leos lquidos comum um teor elevado de
cidos gordos insaturados.
OH
O
(I)
OH
O
(II)
OH
O
(III)
O
O H (IV)
Figura 3. Estruturas qumicas dos cidos gordos predominantes nos leos e gorduras vegetais. (I)
- cido lurico; (II) - cido oleico; (III) - cido linoleico; (IV) - cido linolnico.
As propriedades fsicas das gorduras e dos leos naturais variam muito, como
resultado da sua composio qumica. Entre os factores que afectam a composio
qumica destacam-se a origem vegetal, mas tambm as condies climticas, o tipo de solo, estao de crescimento, a maturidade e a sade da planta, e ainda a variao
gentica da planta.
-
Captulo II - leos vegetais como fonte alternativa de energia
24
2.4 - O que o biodiesel
H cerca de 100 anos, Rudolph Diesel inventou o motor a diesel e testou pela
primeira vez o leo de amendoim em motores de ignio por compresso [14], tendo
afirmado que: Actualmente, a utilizao de leos vegetais para motores a diesel pode
parecer insignificante, mas com o decorrer do tempo estes leos podero vir a ser to
importantes como o petrleo, o carvo e os produtos de alcatro, o so hoje. Contudo,
com o baixo preo dos produtos petrolferos ao longo do sculo XX, os combustveis de
origem vegetal nunca se implantaram. De um modo geral, o leo vegetal pode ser
utilizado adaptando o motor ou adaptando o combustvel (por exemplo por
transesterificao) [15]. O biodiesel o nome dado a estes compostos, quando utilizados
como combustvel [16].
O biodiesel ento produzido a partir de leos vegetais puros e de gorduras
animais atravs de transesterificao de triglicerdeos com lcoois de cadeia curta
(metanol ou etanol), obtendo-se o glicerol como subproduto [17, 18]. A reaco de
transesterificao catalisada por um cido ou uma base, dependendo das
caractersticas do leo e/ou gordura utilizados [16].
Existem muitos tipos de leos vegetais, com diferentes composies qumicas,
que podem ser utilizados para a preparao de biodiesel. Contudo, os mais estudados
so os leos de soja [19-22], colza [23-25], girassol [26] e palma [27, 28].
O biodiesel um combustvel biodegradvel, no txico, com um elevado ponto
de inflamao, o que o torna seguro, e alm disso tem boas propriedades lubrificantes, o
que reduz o desgaste dos motores. O biodiesel puro ou misturado com diesel
convencional em certas propores pode ser usado em motores a diesel sem qualquer
modificao [29, 30].
O biodiesel apresenta algumas vantagens ambientais quando comparado com o
diesel convencional, principalmente no que respeita a emisses de gases dos motores
[31-33]. Nabi et al. [34] constataram que nas misturas de diesel e biodiesel existe uma
reduo na emisso de monxido de carbono, CO2 e enxofre, no entanto, h um ligeiro aumento de xidos de azoto [31]. A emisso dos gases resultantes da combusto dos
motores, que utilizam biodiesel, no contm xidos de enxofre, que so os principais
causadores da chuva cida. As matrias-primas utilizadas para a produo do biodiesel
captam o CO2 da atmosfera durante o perodo de crescimento e s parte deste
-
Captulo II - leos vegetais como fonte alternativa de energia
25
libertado durante a combusto no motor, o que pode ajudar a controlar o efeito de estufa
(causador do aquecimento global do planeta). Assim, o uso de biodiesel como
combustvel proporciona um ganho ambiental, pois contribui para a fixao do CO2,
diminuio da poluio e do efeito estufa [35].
2.5 - Processo de produo de biodiesel
Comercialmente, os steres metlicos de cidos gordos podem ser produzidos
quer por esterificao de cidos gordos, quer por transesterificao de triglicerdeos.
Actualmente, a transesterificao o processo mais utilizado para a produo de
biodiesel. O processo de transesterificao consiste na transformao do leo vegetal em
biodiesel com remoo do glicerol como esquematizado na Figura 4 [36].
Figura 4. Processo de produo de biodiesel.
2.5.1 - Processo clssico de produo de biodiesel
A transesterificao dos triglicerdeos constituintes dos leos utilizados como
matria-prima a reaco principal envolvida na produo do biodiesel [1, 37, 38]. Este
procedimento importante na medida em que reduz a elevada viscosidade e o ponto de
ebulio dos triglicerdeos, permitindo a sua utilizao como combustveis sem
adaptaes dos motores.
A transesterificao de triglicerdeos representada pela equao geral descrita
na Figura 5.
LEO VEGETAL
METANOL ou ETANOL
Reaco de TRANSESTERIFICAO
CATALISADOR
GLICEROL
BIODIESEL
-
Captulo II - leos vegetais como fonte alternativa de energia
26
CH2 -OCOR1 + +Catalisador
Triglicerdeo Metanol Glicerol steres Metilicos
3CH3OH
CH -OCOR2
CH2 -OCOR3
CH2 -OH
CH -OH
CH2 -OH
R1COOCH3
R2COOCH3
R3COOCH3
Figura 5. Equao geral de transesterificao de triglicerdeos, utilizando como lcool o metanol [39].
Se o metanol for usado neste processo designa-se por metanlise; o triglicerdeo
reage com o metanol, na presena de um cido ou de uma base forte, produzindo uma
mistura de steres dos cidos gordos e glicerol [19, 40].
Na prtica, usa-se um excesso de metanol para garantir o mximo deslocamento
do equilbrio no sentido da formao dos steres metlicos [41-43].
O rendimento da reaco de transesterificao afectado pelo tipo e proporo
do lcool, a natureza e quantidade do catalisador, pela agitao da mistura e pelo tempo
de reaco [38, 44].
importante referir que, na transesterificao de leos e gorduras vegetais com o
objectivo de produzir biodiesel apenas podem ser usados lcoois primrios, como o
metanol, o etanol, o propanol, o butanol e o lcool amlico, por razes fsicas e qumicas
(comprimento da cadeia e polaridade) [20, 45]. O metanol e o etanol so os mais usados,
sendo o primeiro prefervel porque mais barato e tem menor percentagem de gua
(uma vez que esta leva formao de cidos gordos, atravs da hidrlise dos steres
presentes, dificultando a separao do glicerol dos steres metlicos) [46].
O uso de etanol pode ser atractivo do ponto de vista ambiental, uma vez que este
pode ser produzido a partir de fontes renovveis e no levanta tantas preocupaes de
toxicidade como o metanol. Contudo, a utilizao de etanol implica que este seja isento
de gua [20, 35, 47].
A reaco de transesterificao dos triglicerdeos pode ser catalisada por cidos
ou bases (que aceleram a converso) [41], em processos homogneos ou heterogneos
[19]. No entanto, a transesterificao catalisada por um cido (e.g. cido clordrico, cido
sulfrico) [46] muito mais lenta do que a catalisada por uma base, alm de requerer
temperatura e presso mais elevadas. Os catalisadores mais usados so os bsicos
nomeadamente, os hidrxidos de sdio ou de potssio, uma vez que so relativamente
-
Captulo II - leos vegetais como fonte alternativa de energia
27
baratos e muito activos [41]. Alm disso, permitem obter um maior rendimento, uma
maior selectividade, e surgem menos problemas relacionados com a corroso dos
equipamentos [35, 48].
2.5.2 - Catalizadores utilizados na produo de biodiesel
2.5.2.1 - Processos homogneos
A transesterificao de triglicerdeos catalisada por uma base rpida, de elevada
converso e facilmente executada a temperaturas entre os 40 e 65C. No entanto, esta
reaco tem algumas desvantagens, tais como, a dificuldade de recuperao do glicerol,
a necessidade de remover o catalisador dos produtos de reaco, e o facto dos cidos
gordos livres e da gua interferirem com a reaco [49]. Nos processos homogneos, os
catalisadores bsicos so, geralmente, alcxidos, hidrxidos ou carbonatos de sdio ou
potssio. Os alcxidos so catalisadores mais caros que os hidrxidos de metais
alcalinos e mais difceis de manipular porque so muito higroscpicos.
Posteriormente, em 1995, um estudo demonstrou a actividade e a eficcia de
guanidinas como catalisadores na transesterificao do leo de colza [50]. O melhor
resultado mostrou que a guanidina 1,5,7-triazabiciclo[4,4,0]deca-5-eno (TBD) a mais
activa uma vez que, se obtm uma converso acima de 90% de steres metlicos aps 1
hora de reaco usando apenas 1% em mol de catalisador[43, 50].
Em 2003, complexos metlicos do tipo M(metil-4-pirona)2(H2O) 2, onde M = Sn, Zn,
Pb e Hg foram utilizados na metanlise do leo de soja [51]. Os complexos de Sn e Zn
mostraram grande actividade neste tipo de reaco, obtendo em 3 horas rendimentos at
90 e 40% respectivamente numa proporo molar de 400:100:1
(metanol:leo:catalisador). Estes catalisadores tambm foram testados noutras fontes de
triglicerdeos, como por exemplo, nos leos de coco e de palma, sendo que, com o
complexo de Sn obteve-se uma maior converso comparativamente aos outros
complexos [52].
-
Captulo II - leos vegetais como fonte alternativa de energia
28
2.5.2.2 - Processos heterogneos
Na catlise heterognea o catalisador e o substrato no esto na mesma fase, o
que facilita a remoo do catalisador. Para minimizar os problemas que se verificam com
o processo homogneo, utilizaram-se catalisadores em sistemas heterogneos na
transesterificao de triglicerdeos, o que simplifica muito o processo de separao e
purificao dos produtos da reaco, pois podem ser recuperados e reutilizados no fim da
reaco.
A reaco de transesterificao de leos vegetais por catlise heterognea
constitui um mtodo eficiente para a produo do biodiesel, uma vez que este apresenta
um elevado rendimento e pureza. Alm disso, elimina as etapas de neutralizao e
purificao, e o glicerol extrado puro [43].
Existe um grande nmero de catalisadores heterogneos referidos na literatura,
como as guanidinas suportadas em polmeros orgnicos, enzimas, xidos, zelitos,
resinas de troca inica, e alguns dos resultados obtidos na transesterificao de leos
so sumariados seguidamente.
A actividade da guanidina suportada em polmeros foi comparada actividade dos
seus anlogos homogneos na transesterificao do leo de soja com metanol [53]
tendo-se concludo que para garantir a baixa viscosidade da reaco, a proporo
metanol:leo trs vezes maior nas reaces com guanidina contida em polmeros.
A utilizao de biguanidinas ligadas ao poliestireno como catalisador reciclvel foi
testada na transesterificao de alguns leos vegetais [54], obtendo-se rendimentos
superiores a 90% em menos de 15 minutos. Estes catalisadores foram muito mais
reactivos e estveis do que a guanidina contida em poliestireno.
Foram tambm utilizados sais de aminocidos como catalisadores na metanlise
de triglicerdeos [55]. O arginato de zinco foi utilizado como catalisador da metanlise do
leo de palma, obtendo-se um elevado rendimento com uma proporo molar metanol e
leo de 6:1, e a 130C atingem-se razoveis velocidades de reaco. O carbonato de
clcio foi utilizado como catalisador na transesterificao do leo de soja obtendo-se uma
converso acima de 95%, de steres etlicos a 260C.
De acordo com Monteiro e Cruz [6] que estudaram a utilizao de misturas de
xidos (ZrO2-SiO2, KOH/ZrO2-SiO2, CoO3-SiO2, La2 O3 (10%)-MCM-41, Na2O-SiO2 ,CaO,
entre outros) como catalisadores na transesterificao do leo de soja, na proporo
mssica de 4.5:6.0:0.3 (metanol:leo de soja:catalisador), a 70C, durante 8 horas. Os
-
Captulo II - leos vegetais como fonte alternativa de energia
29
melhores resultados foram obtidos com o La2 O3 (10%)-MCM-41, o Na2O-SiO2 e o CaO,
com converses de 81, 76 e 67%, respectivamente.
A utilizao de resinas de troca inica comerciais de natureza sulfnica tambm
foi estudada na produo de biodiesel. Comparou-se a metanlise do leo de soja
utilizando como catalisador a resina Amberlyst-15 e o cido sulfrico e verificou-se que a
resina de troca catinica mostrou maior actividade que o catalisador homogneo [6].
A metanlise do leo de soja foi testada usando como catalisadores os zelitos,
zircnio-alumina dopado com tungstnio (WZA), o xido de estanho sulfatado (STO) e o
zircnio sulfatado sobre alumina (SZA) [56], sendo o primeiro o mais eficiente, aps 20
horas e uma temperatura acima dos 250C, foi conseguida uma converso superior a
90%.
Os processos biolgicos e/ou enzimticos de produo de biodiesel ainda no se
encontram comercializados, mas existem estudos que incidem, principalmente, na
optimizao das condies de reaco (temperatura, proporo molar lcool:leo, tipo de
microrganismo e/ou enzima, etc.) de modo a estabelecer caractersticas de aplicao
industrial [57, 58].
2.6 - Mtodos de caracterizao de biodiesel
Como j foi referido, o biodiesel constitudo por steres alqulicos de cidos
gordos e pode ser sintetizado por transesterificao com lcoois de cadeia curta ou por
esterificao dos cidos gordos.
A anlise da composio de cidos gordos o primeiro procedimento para uma
avaliao preliminar da qualidade do leo bruto e/ou ou dos seus produtos
transformados. Existe uma grande variedade de tcnicas analticas para a deteco,
caracterizao e quantificao dos cidos gordos no biodiesel. As tcnicas
cromatogrficas hifenadas mais utilizadas so a cromatografia gasosa (GC) [59] e a
cromatografia lquida de alta eficincia (HPLC) [60] associadas a sistemas de deteco.
A GC uma tcnica de separao, de elevada fiabilidade, muito utilizado na
separao de cidos gordos em leos e gorduras e steres [61-64]. Geralmente, o
procedimento experimental de anlise de leos ou gorduras inclui uma etapa de
preparao da amostra, em que os cidos gordos so isolados. A GC permite separar
directamente os cidos gordos de cadeia curta. No caso dos cidos gordos de cadeia
-
Captulo II - leos vegetais como fonte alternativa de energia
30
longa, dado que apresentam baixas volatilidade e estabilidade trmica, necessria uma
etapa adicional de derivatizao, para converter os grupos carboxilicos em grupos mais
volteis, como steres trimetilsillicos (sililao) ou steres metlicos (transesterificao)
[63, 65]. A utilizao de steres trimetilsillicos permite a anlise de diferentes compostos
lipdicos, tais como os esteris, cidos gordos e glicerdeos [66].
As maiores vantagens da HPLC em relao GC so a utilizao de baixas
temperaturas durante a anlise, o que reduz o risco de isomerizao das duplas ligaes
dos steres metlicos [67, 68], e o facto de no ser necessrio derivatizar a amostra
diminuindo assim o tempo de anlise [69].
2.7 - Parmetros de qualidade do biodiesel
A ustria foi o primeiro pas no mundo a definir e a aprovar padres para a
utilizao de combustvel de steres metlicos derivados do leo de colza. Para a
introduo do biodiesel no mercado necessrio que existam padres ou linhas
directivas para a qualidade do biodiesel.
Os parmetros que definem o biodiesel podem ser divididos em dois grupos: os
parmetros gerais, que so tambm usados para os leos fsseis baseados no fuel, e
outros que descrevem particularmente a composio qumica e a pureza dos steres
alqulicos dos cidos gordos [70]. Em funo da importncia do biodiesel e da futura
regulamentao da sua utilizao, importante estabelecer padres de qualidade para o
biodiesel.
2.7.1 - Parmetros especficos
As especificaes do biodiesel destinam-se a garantir a sua qualidade, os direitos
dos consumidores e a preservao do meio ambiente [15, 71]. Na Tabela 1 so
apresentados alguns parmetros especficos dos leos vegetais, de acordo com as
normas utilizadas (que especificam valores para as propriedades e caractersticas do
biodiesel e os respectivos mtodos para a sua determinao) em cada um destes pases.
-
Captulo II - leos vegetais como fonte alternativa de energia
31
Tabela 1. Parmetros especficos dos leos vegetais para a qualidade do biodiesel [11].
Parmetros ustria
(ON)
Republica
Checa
(CSN)
Frana
(Jornal
Oficial)
Alemanha
(DIN)
Itlia
(UNI)
Estados
Unidos da
Amrica
(ASTM)
Metanol/etanol (%massa) 0.2 - 0.1 0.3 0.2 -
Teor de steres (%massa) - - 96.5 - 98 -
Monoglicerdeos (%massa) - - 0.8 0.8 0.8 -
Diglicerdeos (%massa) - - 0.2 0.4 0.2 -
Triglicerdeos (%massa) - - 0.2 0.4 0.1 -
Glicerol livre (%massa) 0.02 0.02 0.02 0.02 0.05 0.02
Total de glicerol (%massa) 0.24 0.24 0.25 0.25 - 0.24
Nmero de iodo 120 - 115 115 - -
NOTA: CSN - Czech Standard National; DIN - Deutsches Institut fr Normung; UNI -
Unification National Italian; ASTM - American Society for Testing and Materials.
A concentrao de glicerol livre um parmetro de qualidade importante, uma vez
que as elevadas concentraes de glicerol no biodiesel podem trazer problemas de
armazenamento, como tambm provocar o entupimento do bico do injector do motor [70].
Aps a reaco completa de transesterificao, o biocombustvel no dever
conter cidos gordos livres e, para que tenha uma elevada pureza, a presena de
glicerol, de catalisador e de lcool deve ser apenas vestigial, de modo a cumprir as
normas de qualidade.
2.7.2 - Parmetros gerais
Sabe-se que, quanto maior for a cadeia alqulica, maior o nmero de cetano e a
lubricidade do combustvel, tal como os pontos de turvao e de fluxo. Assim, molculas
-
Captulo II - leos vegetais como fonte alternativa de energia
32
grandes (por exemplo steres alqulicos saturados maiores que o palmitato) tornam o
combustvel de difcil de utilizao em regies com baixas temperaturas. Por outro lado,
um elevado nmero de insaturaes torna as molculas quimicamente menos estveis, o
que pode ser um inconveniente devido oxidao, degradao e polimerizao do
combustvel, se for inadequadamente armazenado ou transportado.
Significa que, tanto os steres alqulicos de cidos gordos saturados (palmtico,
esterico), como os poli-insaturados (linoleico, linolnico) possuem alguns
inconvenientes. Assim, o biodiesel que apresenta melhores resultados aquele que
resulta da combinao de cidos gordos saturados com mono-insaturados.
Na Tabela 2 so apresentados valores de alguns dos principais parmetros
gerais, para a qualidade do biodiesel impostos por alguns pases.
Tabela 2. Parmetros gerais para a qualidade do biodiesel [11].
Parmetros ustria
(ON)
Republica
Checa
(CSN)
Frana
(Jornal
Oficial)
Alemanha
(DIN)
Itlia
(UNI)
Estados
Unidos da
Amrica
(ASTM)
Densidade (15C g/cm3) 0.85-0.89 0.87-0.89 0.87-0.89 0.875-0.89 0.86-0.90 -
Viscosidade (40 mm2/s) 3.5-5.0 3.5-5.0 3.5-5.0 3.5-5.0 3.5-5.0 1.9-6.0
Ponto de inflamao (C) 100 110 100 110 100 130
Ponto de turvao (C) 0/-5 -5 - 0-10/-20 - -
Ponto de fluxo (C) - - -10 - 0/-5 -
Nmero de cetano 49 48 49 49 - 47
Nmero de neutralizao (mgKOH/g)
0.8 0.5 0.5 0.5 0.5 0.8
Resduos de carbono (%) 0.05 0.05 - 0.05 - 0.05
A seguir so descritos mais em pormenor alguns destes parmetros:
-
Captulo II - leos vegetais como fonte alternativa de energia
33
2.7.2.1 - Viscosidade
Entre os parmetros gerais para o biodiesel, a viscosidade controla as
caractersticas de injeco, para o injector a diesel. A viscosidade dos steres metlicos
dos cidos gordos pode atingir nveis muito altos (em relao ao diesel convencional, os
leos vegetais apresentam teores de viscosidade elevados, podendo exced-lo em at
100 vezes) [72], sendo por isso importante o seu controlo dentro de nveis aceitveis de
modo a evitar impactos negativos no desempenho do sistema de injector a diesel.
Contudo, as especificaes propostas so quase as mesmas que as do diesel
convencional [11]. Esta propriedade tambm se reflecte no processo de combusto, cuja
eficincia depende da potncia mxima desenvolvida pelo motor.
2.7.2.2 - Densidade
A densidade, definida como a massa por unidade de volume, outra propriedade
importante do biodiesel, ou seja razo entre a densidade deste e a densidade da gua
varia entre 0.87 e 0.89 kg/m3 [73].
2.7.2.3 - Ponto de inflamao
O ponto de inflamao a temperatura mnima qual o biodiesel, ao ser aquecido
pela aplicao de uma chama sob condies controladas, gera uma quantidade de
vapores que se inflamam. Este parmetro indicativo no estabelecimento dos
procedimentos de segurana a serem tomados durante o uso, transporte,
armazenamento e manuseamento do biodiesel [11]. O ponto de inflamao do biodiesel,
se for completamente isento de metanol ou de etanol, superior temperatura ambiente,
o que significa que o combustvel no inflamvel nas condies normais.
-
Captulo II - leos vegetais como fonte alternativa de energia
34
2.7.2.4 - Ponto de turvao e ponto de fluxo
O ponto de turvao e fluxo so parmetros importantes quando o combustvel
utilizado a temperaturas baixas, uma vez que, o fuel pode espessar e no fluir, afectando
o desempenho das linhas de fuel, bombas e injectores. O ponto de turvao a
temperatura qual comeam a ser visveis os primeiros cristais de ceras quando o
combustvel arrefecido. O ponto de fluxo a temperatura qual uma quantidade de
cera fora da soluo suficiente para gelificar o combustvel, ou seja, a temperatura
mnima a que o combustvel pode fluir. O biodiesel tem elevados pontos de turvao e
fluxo quando comparados com o diesel convencional [72]. Para diminuir o ponto de
turvao do biocombustvel podem ser utilizados aditivos (aminas e amidas tercirias de
cidos gordos) apropriados ao leo vegetal de modo a conferir-lhe maior fluidez [74].
2.7.2.5 - Nmero de cetano
A facilidade de um combustvel entrar em ignio por compresso expressa pelo
nmero de cetano (CN). Nmero de cetano elevado facilita a inflamao do combustvel
quando injectado no motor, e quanto mais elevado for maior a eficincia do
combustvel. O biodiesel tem um CN superior ao diesel convencional devido ao elevado
teor de oxignio, o que faz com que os motores sejam mais silenciosos. O nmero de
cetano baseado em dois compostos: o hexadecano, com CN de 100, e o
heptametilnonano, com CN igual a 15. A escala de CN mostra que uma cadeia longa de
hidrocarbonetos saturada tem maior CN quando comparada com uma cadeia ramificada,
ou aromtica, de compostos de peso molecular e nmero de tomos de carbono
semelhantes. O CN do biodiesel de gordura animal maior que o de origem vegetal [75].
O ndice de cetano mdio do biodiesel 60, enquanto que para o diesel
convencional a cetanagem situa-se entre 48 a 52, bastante menor, sendo esta a razo
pelo qual o biodiesel queima muito melhor num motor diesel que o prprio diesel
convencional [76].
-
Captulo II - leos vegetais como fonte alternativa de energia
35
2.7.2.6 - Nmero de neutralizao
O nmero de neutralizao especificado para assegurar propriedades de
envelhecimento adequadas do biodiesel e/ou um bom processo de produo. Este
nmero reflecte a presena de cidos gordos livres, ou cidos usados na produo de
biodiesel, e tambm a degradao do biodiesel devido a efeitos trmicos.
-
Captulo III - Materiais de mudana de fase
36
Captulo III - Materiais de mudana de fase
3.1 - Introduo
Um sistema de aquecimento com baixo consumo de energia e/ou utilizando um
sistema energtico regenerativo seria ideal, mas para que isto resultasse seria
necessrio uma enorme capacidade de armazenamento de energia. Com a incorporao
de um adequado material armazenador de calor latente, tambm designado de material
de mudana de fase (Phase Change Material - PCM), as unidades de armazenamento
compactas com elevada capacidade de armazenamento de calor seriam uma
possibilidade para muitas aplicaes industriais de aquecimento e ventilao.
Quando um PCM slido aquecido e atinge o ponto de fuso, vai mudar da fase
slida para a fase lquida e, durante este processo, o material absorve uma certa
quantidade de calor (designada por calor latente de fuso). A temperatura do material fica
a uma temperatura relativamente constante at que se complete a mudana de fase
(Figura 6).
-
Captulo III - Materiais de mudana de fase
37
Figura 6. Curva de temperatura durante o processo de mudana de fase [77].
A utilizao de PCMs para o armazenamento de energia pode ter assim um papel
importante na conservao de energia e no melhoramento da sua utilizao, visto que
muitas fontes de energia so intermitentes. O armazenamento de energia por apenas
algumas horas suficiente para a maior parte das aplicaes em que se podem utilizar
os PCMs.
O mtodo de armazenamento de energia sob a forma de calor latente tem atrado
um vasto nmero de aplicaes, uma vez que permite um armazenamento com uma
maior densidade energtica, e numa gama de temperatura mais estreita, quando
comparado com o mtodo de armazenamento de calor sensvel. Contudo, as dificuldades
prticas da aplicao do mtodo do calor latente surgem devido baixa condutividade
trmica dos materiais, alterao da densidade nas mudanas de fase, estabilidade
das propriedades fsico-qumicas, quando submetidos a um grande nmero de ciclos de
temperatura, e por vezes, tambm devido segregao dos PCMs e ao seu sub
arrefecimento e dificuldade de cristalizao.
3.2 - Propriedades dos PCMs
A utilizao de um PCM como armazenador de energia trmica deve obedecer a
um certo nmero de critrios tais como: possuir um elevado calor de fuso, elevada
condutividade trmica, ter elevado calor especfico, sofrer pequena variao de volume
na transio de fase, no ser corrosivo nem txico e ser quimicamente estvel [78]. As
principais caractersticas dos materiais de mudana de fase esto indicadas na Tabela 3.
Sensvel
Temperatura/T
Energia trmica/Q
Lquido
T2
Tf
T1
Sensvel Latente
Fuso Slido
-
Captulo III - Materiais de mudana de fase
38
Tabela 3. Caractersticas importantes dos materiais que armazenam energia [79].
Trmicas Fsicas Qumicas Econmicas
Mudana de fase
adequada para
aplicaes
Baixa variao de
densidade
Estabilidade Barato e abundante
Elevada densidade No h separao de
fase, compatibilidade
com os materiais de
suporte
Elevada entalpia,
prxima da
temperatura de
utilizao Pouco ou nenhum
sub arrefecimento
No txico, no
inflamvel, no
poluente
Elevada
condutividade
trmica nas fases
lquida e slida
Nos ltimos 40 anos tm sido estudados vrios compostos inorgnicos e
orgnicos como PCMs. A comparao de vantagens e desvantagens de materiais
orgnicos e inorgnicos feita na Tabela 4. Os PCMs devem ser escolhidos com base na
sua temperatura de fuso. Assim, os materiais que fundem abaixo de 15C so usados
para armazenamento de frio em sistemas de ar condicionado, enquanto que os materiais
que fundem acima dos 90C so usados para refrigerao por absoro. Todos os outros
materiais, que fundem entre estas duas temperaturas, e constituem a classe de materiais
mais estudada, podem ser aplicados no aquecimento solar e no nivelamento de calor.
-
Captulo III - Materiais de mudana de fase
39
Tabela 4. Vantagens e desvantagens de materiais orgnicos e inorgnicos para armazenamento de calor [79].
Orgnicos Inorgnicos
Vantagens: Vantagens:
No corrosivos Grande entalpia de mudana de fase
Pouco ou nenhum sub arrefecimento
Estabilidade qumica e trmica
Desvantagens: Desvantagens: Baixa entalpia de mudana de fase Sub arrefecimento
Baixa condutividade trmica Corrosivos
Inflamveis Separao de fase
Segregao de fase
3.3 - PCMs inorgnicos
As propriedades de alguns PCMs inorgnicos (sais hidratados) so mostradas na
Tabela 5. Estes materiais tm algumas propriedades atractivas como o elevado calor
latente por unidade de volume, a sua elevada condutividade trmica (~0.5 W/mC), o
facto de no serem inflamveis e, ainda, a elevada percentagem de gua que os torna
baratos. Contudo, tm outras caractersticas menos vantajosas que levam os
investigadores a optar pelos PCM orgnicos, uma vez que so corrosivos para muitos
metais, so instveis, imprprios para re-solidificarem e tendem a sofrer
sobrearrefecimento, o que pode afectar as propriedades de mudana de fase. Alm
disso, como requerem um suporte, so considerados imprprios para serem impregnados
em materiais porosos utilizados na construo civil.
A aplicao de PCMs inorgnicos necessita de agentes de nucleao e
espessamento para minimizar o sobrearrefecimento e a fase de segregao [80].
-
Captulo III - Materiais de mudana de fase
40
Tabela 5. Dados termofsicos de alguns PCM inorgnicos [81, 82].
Compostos Inorgnicos
Temperatura de fuso (C)
Calor de fuso (KJ/Kg)
Condutividade trmica (W/m.K)
Densidade (Kg/m3)
MgCl2.6H2O 117 168.6
0.570 (lquido, 120C)
0.694 (slido, 90C)
1450 (lquido, 120C)
1569 (slido, 20C)
Mg(NO3)2.6H2O 89 162.8
0.490 (lquido, 95C)
0.611 (slido, 37C)
1550 (lquido, 94C)
1636 (slido, 25C)
Ba(OH)2.8H2O 48 265.7
0.653 (lquido, 85.7C)
1.225 (slido, 23C)
1937 (lquido, 84C)
2070 (slido, 24C)
Zn(NO3)2.6H2O 36.4 147
Na2HPO4.10H2O 35 281
Na2SO4.10H2O 32.4 254
CaCl2.6H2O 29 190.8
0.540 (lquido, 38.7C)
1.225 (slido, 23C)
1562 (lquido, 32C)
1802 (slido, 24C)
KF.4H2O 18.5 231
O sal de Glauber (Na2SO4.10H2O), constitudo por 44% de sulfato de sdio e 56%
de gua (em massa), tem sido estudado desde 1952 como PCM [83, 84]. Possui uma
temperatura de fuso de 32.4C, elevado calor latente (254 KJ/kg) e um dos materiais
mais baratos usado para armazenamento de energia trmica. No entanto, os problemas
de segregao e sub arrefecimento da fase tm limitado as suas aplicaes.
3.4 - PCMs orgnicos
Os PCMs orgnicos apresentam algumas caractersticas que os tornam teis para
armazenar o calor latente em determinados materiais de construo. So quimicamente
mais estveis do que os inorgnicos, no so corrosivos, o sobrearrefecimento no um
problema significativo, tm um elevado calor latente por unidade de massa e baixa
presso de vapor.
-
Captulo III - Materiais de mudana de fase
41
Contudo, estes materiais orgnicos tm algumas propriedades indesejveis,
sendo as mais problemticas, o facto de serem inflamveis e eventualmente gerarem
fumos txicos por combusto. O envelhecimento trmico oxidativo, o cheiro, a mudana
aprecivel de volume na transio de fase e, ainda, a baixa condutividade trmica so
outras das desvantagens destes materiais. Muitas destas caractersticas indesejveis tm
sido eliminadas por seleco e modificao apropriada dos compostos e formulaes
[80].
Tabela 6. Dados termofsicos de alguns PCM orgnicos [81, 82].
Compostos Orgnicos
Temperatura de fuso (C)
Calor de fuso (KJ/kg)
Condutividade trmica (W/m.K)
Densidade (kg/m3)
Ceras
parafnicas 64 173.6
0.167 (lquido, 63.5C)
0.346 (slido, 33.6C)
790 (lquido, 65C)
916 (slido, 24C)
Poli(etilenoglicol)
E600 22 127.2
0.189 (lquido, 38.6C)
---
1126 (lquido, 25C)
1232 (slido, 4C)
Octadecanoato
de butilo 19 140
1-Dodecanol 26 200
1-Tetradecanol 38 205
45% c.
decanico 55%
c. dodecnico
21 143
Tetradecanoato
de propilo 19 186
3.4.1 - Ceras parafnicas
Dos PCM orgnicos mais estudados destacam-se as ceras parafnicas, referidas
tambm como misturas parafnicas, alcanos com frmula geral CnH2n+2, n>14 [85]. O
ponto de fuso destes compostos aumenta com o comprimento da cadeia, tal como o
calor latente.
-
Captulo III - Materiais de mudana de fase
42
As ceras parafnicas comerciais so baratas, tm densidades trmicas de
armazenamento apreciveis (~200 KJ/kg), no so txicas nem corrosivas, apresentam
uma ampla gama de temperaturas de fuso, sendo ainda compatveis com muitos
materiais de construo. As parafinas sofrem um sub arrefecimento insignificante, so
quimicamente inertes e estveis, no apresentando segregao de fase. No entanto, tm
baixa condutividade trmica (~0.2 W/mC), grandes alteraes de volume quando ocorre
mudanas de fase, o que limita as suas aplicaes [86]. Contudo, para melhorar a
condutividade trmica podem ser usadas estruturas de armazenamento de matriz
metlica, tubos finos e lminas de alumnio [87].
As ceras parafnicas comerciais mais estudadas so as que fundem por volta dos
55C [88-90]. Farid et al. [91] tm usado trs ceras comerciais com temperaturas de fuso
de 44, 53 e 64C e com calores latente de 167, 200 e 210 kJ/kg, respectivamente, para
melhorar o desempenho de algumas unidades de armazenamento. O P-116 uma cera
parafnica comercial, utilizada por muitos investigadores, que funde por volta dos 47C e
tem um calor latente de fuso de 210 kJ/kg [80].
3.4.2 - cidos gordos
Outro tipo de PCMs so os cidos gordos, de origem animal ou vegetal, que so
baratos, renovveis e de rpida acessibilidade. Os diferentes tipos de cidos gordos tm
diferentes pontos de fuso o que permite a sua utilizao como armazenadores de
energia trmica, so um biomaterial alternativo s parafinas e aos sais hidratados e
podem ser purificados para serem utilizados como PCMs, ou convertidos em steres.
Hasan [92] investigou o cido palmtico como PCM para armazenamento de
energia. Os estudos incluram tempo de transio de fase e intervalo de temperatura,
assim como o intervalo de fluxo de calor caracterstico utilizado em sistemas de
armazenamento de tubo circular.
As propriedades trmicas de alguns cidos gordos (cido cprico, lurico,
palmtico e esterico) e das suas misturas binrias mostram que estes podem ser muito
atractivos para armazenamento de energia trmica, sob a forma de calor latente, em
aplicaes de aquecimento de espaos. A gama de fuso dos cidos gordos varia de 30
a 65C, enquanto que o calor latente da transio varia de 148 a 183 KJ/kg [93].
-
Captulo III - Materiais de mudana de fase
43
Tabela 7. Dados termofsicos de alguns cidos gordos usados como PCMs [81, 82].
Compostos cidos gordos
Temperatura de fuso (C)
Calor de fuso (KJ/Kg)
Condutividade trmica (W/mK)
Densidade (Kg/m3)
cido palmtico 64 185.4 0.162 (lquido, 68.4C)
---
850 (lquido, 65C)
989 (slido, 24C)
cido cprico 32 152.7 0.153 (lquido, 38.5C)
---
878 (lquido, 45C)
1004 (slido, 24C)
cido caprlico 16 148.5 0.149 (lquido, 38.6C)
---
901 (lquido, 30C)
981 (slido, 13C)
Dimaano e Escoto [94] estudaram uma mistura de cidos cprico e lurico, para
armazenamento de baixas temperaturas. A mistura funde a 14C e tem um calor latente
de fuso que varia entre 113 e 133 kJ/kg, consoante a sua composio. A mistura destes
dois cidos um potencial material de armazenamento de energia solar em aplicaes
de aquecimento de baixas temperaturas. O estudo de cidos gordos e as suas misturas
binrias de composio euttica, como PCM para o armazenamento de calor latente,
muito recente, no havendo ainda dados experimentais das caractersticas trmicas em
sistemas de armazenamento trmico.
Algumas propriedades trmicas de vrias misturas binrias de cidos gordos so
apresentadas na Tabela 8 [95].
-
Captulo III - Materiais de mudana de fase
44
Tabela 8. Valores de temperaturas de fuso tericas (Ti) e experimentais (Tm) e calor de fuso (Hm) para alguns cidos gordos e misturas [95].
cidos gordos X (%massa) Ti (C) Tm (C) Ti Tm (C) Hm
(KJ/kg)
Cprico-lurico 61.5-38.5 18.5 19.1 -0.6 132
Cprico-miristico 73.5-26.5 23.5 21.4 2.1 152
Cprico-palmtico 75.2-24.8 24.6 22.1 2.5 153
Cprico-esterico 86.6-13.4 27.6 26.8 0.8 160
Cprico 100 31.5 30.1 1.4 158
Lurico-miristico 62.6-37.4 31.8 32.6 -0.8 156
Lurico-palmtico 64.0-36.0 33.0 32.8 0.2 165
Lurico-esterico 75.5-24.5 37.0 37.3 -0.3 171
Miristico-palmtico 51.0-49.0 40.0 39.8 0.2 174
Lurico 100 42.0-44.0 41.3 0.7-2.7 179
Miristico-esterico 65.7-34.3 45.1 44.0 1.1 181
Palmtico-esterico 64.9-35.1 46.7 50.4 -3.7 179
Mirstico 100 54.0 52.1 1.9 190
Palmtico 100 63.0 54.1 8.9 183
Esterico 100 70.0 64.5 5.5 196
3.5 - Incorporao de PCMs em materiais de construo
Quando definido o PCM a utilizar numa determinada aplicao bem como o
material de construo, deve escolher-se ento, o mtodo de incorporao mais
adequado. A incorporao de PCMs, em paredes de edifcios, pode ser feita de vrias
formas, entre os mtodos que tm vindo a ser estudados e testados, os mais promissores
so apresentados na Tabela 9.
-
Captulo III - Materiais de mudana de fase
45
Tabela 9. Mtodos de incorporao dos PCMs.
Mtodo usado
Mtodo de incorporao Paredes
(12.7 mm)
Blocos de cimento
(200x200x100 mm)
Incorporao directa
(durante a mistura)
Adicionar o PCM lquido
mistura
Adicionar o PCM em p
mistura
Adicionar pequenos PCM
cilndricos mistura
Adicionar agregados pr-
impregnados mistura
Imerso Imergir a placa no PCM lquido a 80C durante alguns minutos
Imergir o bloco no PCM lquido a
80C durante o perodo
necessrio
Encapsulamento Microencapsulamento Macroencapsulamento
Entre os vrios meios de incorporao que podem ser usados em paredes, a
incorporao directa parece ser o procedimento mais econmico, uma vez que as
caractersticas padro dos PCMs no so significativamente alteradas. Um factor
determinante neste processo o uso das quantidades adequadas dos vrios agentes
dispersantes. No caso dos blocos de cimento, quer a imerso, quer a incorporao
directa, so um meio prtico para incorporar os PCM.
O processo de imerso para encher as paredes com ceras tem sido adaptado
com sucesso para pequenas amostras e em placas de gesso de tamanho real. Os PCMs
podem ser incorporados em placa de gesso quer pela ps-manufacturao, embebendo
os PCM lquidos em espaos porosos da placa de gesso, ou por adio numa etapa
hmida do fabrico da placa de gesso [96, 97].
-
Captulo III - Materiais de mudana de fase
46
3.6 - Aplicaes de PCMs
3.6.1 - Paredes de edifcios
A incorporao de materiais de mudana de fase em paredes um exemplo de
aplicao interessante de PCMs, em que estes integram materiais de construo que
armazenam calor e regulam o ambiente trmico do edifcio.
A utilizao de PCMs em paredes uma forma menos dispendiosa e de
substituio fcil da massa trmica padro (por exemplo, alvenaria) usada para
armazenar calor solar. O armazenamento trmico suportado pelos PCMs na parede pode
ser suficiente para activar a captura de grandes quantidades de energia solar [98, 99].
Os PCMs permitem que a energia solar seja armazenada durante o dia e depois
libertada durante a noite, quando a temperatura ambiente mais baixa. A temperatura
interior ser mais agradvel, menos varivel e diminui o consumo de energia, quer do ar
condicionado quer do aquecimento (Figura 7). Isto pode reduzir alguns custos e
limitaes no design de casas solares passivas, tornando-as mais acessveis. Alm
disso, torna mais fcil a produo em larga escala de casas solares.
Figura 7. Curva de temperatura registada numa casa solar passiva com e sem PCM incorporados
nas paredes de edifcios [77].
A incorporao de PCMs em paredes de edifcios vantajosa, dado que deste
modo se obtm uma grande rea de transferncia de calor [100]. A BASF j produz e
comercializa parafinas microencapsuladas dispersas em rebocos de revestimento ou
utilizadas em placas de pladur. A primeira aplicao com sucesso foi efectuada na
recuperao de uma zona industrial com o objectivo de reduzir o consumo de energia de
Tempo/horas
sem PCM
com PCM
Temperatura/C
Temperatura/C
-
Captulo III - Materiais de mudana de fase
47
25 para 3 litros de combustvel de aquecimento por m2 por ano, reduzindo em 80% as
emisses de CO2.
No entanto, o desenvolvimento de sistemas de armazenamento de energia
trmica baseados em PCMs, fiveis e prticos, ainda enfrentam alguns obstculos, tais
como as incertezas relativas ao comportamento trmico de longo prazo e o reduzido
nmero de PCMs adequados para aplicao na gama de temperaturas necessrias em
edifcios.
3.6.2 - Deslocamento de picos de consumo
O consumo de energia varia durante o dia e a noite, consoante a exigncia das
actividades industriais, comerciais e domsticas. A variao na exigncia de electricidade
leva a um sistema diferencial de preos nos perodos de grande e baixo consumo. O
deslocamento de picos de grande consumo de electricidade para perodos de baixo
consumo iria melhorar significativamente os benefcios econmicos. Uma das estratgias
possveis para atingir este deslocamento seria o desenvolvimento de um sistema de
armazenamento de energia. Estes sistemas iriam activar a energia excedente para ser
armazenada e depois libertada quando necessrio.
O armazenamento de calor no Inverno directo e de aplicao simples e tem sido
usado em muitos pases. O aquecedor de calor domstico mais comum de
armazenamento utiliza tijolos cermicos e estruturas de cimento [87] aquecido com o
aquecimento de fios elctricos ou por transferncia de calor de fluidos (tal como na gua
quente) durante a noite. Durante o dia o calor extrado do aquecedor por conveco
natural e radiao ou por conveco forada usando um ventilador elctrico. Os autores
Farid e Husian [88] introduziram uma nova concepo no design destes aquecedores,
atravs da substituio dos tijolos cermicos por ceras parafnicas encapsuladas em finos
contentores metlicos. Durante o carregamento de calor, a cera armazena uma grande
quantidade de calor, sob a forma de calor latente de fuso, que posteriormente
descarregado continuamente durante os outros perodos. Foi feito um estudo em quatro
unidades individuais de armazenamento, cheias com ceras parafnicas, que possuem
uma temperatura de fuso de cerca de 55C. Um aquecedor elctrico foi fixado em cada
eixo da unidade de armazenamento de modo a melhorar o baixo fluxo de calor, mas
apenas o suficiente para fundir toda a cera dentro de 8 horas. A utilizao do mtodo de
-
Captulo III - Materiais de mudana de fase
48
mudana de fase de armazenamento de calor pode conduzir a uma significativa reduo
de peso nos armazenadores de calor domsticos. Tais unidades ainda no foram
comercializadas devido a problemas de custos econmicos.
3.6.3 - Armazenamento de calor latente por contacto indirecto com energia solar
Tm sido desenvolvidos mltiplos esforos no sentido de aplicar o mtodo de
armazenamento de calor latente a sistemas de energia solar, em que o calor
armazenado durante o dia para ser usado durante a noite.
Os vrios estudos desenvolvidos tm em conta os aspectos fundamentais da
transferncia de calor e os PCMs foram testados em unidades de armazenamento de
calor de tamanho real.
Muitos dos PCMs tm baixa condutividade trmica, sendo necessria a sua
encapsulao, de modo a prevenir grandes diminuies de taxa de transferncia do calor
durante as transies entre os estados slidos e lquidos. Os PCMs so usualmente
introduzidos em contentores planos e finos, semelhantes a permutadores de calor de
placas [88, 101, 102].
Figura 8. Esquema de uma unidade de armazenamento de calor latente em contentores ou tubos
planos que contm PCMs encapsulados [101].
Em alternativa, os PCMs podem ser introduzidos em pequenos tubos, com
transferncia de calor nos fluidos ao longo ou atravs dos tubos (Figura 8) [88, 103].
A velocidade de transferncia de calor pode ser melhorada por uma estrutura em
favo parcialmente cheia com o PCM [95]. Esta disposio tambm pode eliminar as
grandes tenses induzidas pela expanso do volume dos PCMs. A utilizao de materiais
com elevada condutividade trmica sugerida para aumentar a condutividade trmica
Contentor/tubo plano
Isolamento
Entrada do fluido
Sada do fluido
-
Captulo III - Materiais de mudana de fase
49
aparente [104], assim como a ideia de usar tubos alhetados em que os PCMs so
colocados entre as alhetas [105-107]. Embora haja uma significativa melhoria na
velocidade de transferncia de calor, os elevados custos destes tubos podem torn-los
economicamente inviveis. Note-se, contudo, que esta melhoria apenas se verifica no
caso de se utilizar um lquido como fluido operante. Em sistemas baseados em ar, os
coeficientes de transferncia de calor, tanto do ar como dos PCMs, so baixos.
Por encapsulamento dos PCMs em pequenas esferas de plstico, de modo a
formar uma unidade de armazenamento de leito fixo, obtm-se uma melhoria significativa
na velocidade de transferncia de calor [108, 109]. As maiores desvantagens destas
unidades so a elevada queda de presso atravs do leito e o seu custo inicial.
Muitos PCMs sofrem grandes mudanas de volume (~10%) durante a fuso, o
que pode causar uma elevada tenso na troca de calor nas paredes. A contraco de
volume durante a solidificao pode no reduzir apenas a rea de transferncia de calor,
mas tambm separar os PCMs da superfcie de transferncia de calor, aumentando
drasticamente a resistncia transferncia de calor. O problema geralmente
minimizado por propostas de seleco de recipientes que podem ser parcialmente cheios
com PCMs. O encapsulamento em esferas pode ser uma boa soluo para este
problema.
Figura 9. Esquema simples de uma unidade de armazenamento trmico com dois tipos de PCMs
[110].
Numa tentativa de melhoramento do desempenho das unidades de
armazenamento de mudana de fase foi sugerido o uso de mais do que um PCM com
diferentes temperaturas de fuso em contentores planos e finos (Figura 9) [110]. Esta
ideia tambm foi aplicada numa unidade de tubos cheios com trs tipos de ceras com
diferentes temperaturas de fuso [91, 103]. Durante as trocas de calor, o fluxo de ar
passa primeiro atravs dos PCMs com maior temperatura de fuso de forma a assegurar
Isolamento
Fluido frio
Fluido quente
n-octadecano | P-116 cera
-
Captulo III - Materiais de mudana de fase
50
a continuidade da fuso dos outros PCMs, e a direco do ar tem que ser invertida
durante as descargas.
3.6.4 - Outras aplicaes
A RUBITHERM desenvolveu um novo sistema de transporte de sangue que
incorpora um PCM. Os acumuladores so arrefecidos e modulados no meio onde
colocado o saco de sangue, depois so empilhados num contentor especial para serem
transportados. Estes acumuladores mantm o sangue entre 2 e 10C por um mnimo de
12 horas, com uma temperatura ambiente de 35C (a temperatura de cada saco
monitorizada durante o transporte).
Entre as muitas aplicaes de PCMs, a ideia de melhorar a temperatura dos
alimentos durante o perodo de preparao e distribuio, tem recebido alguma ateno.
A RUBITHERM tem elementos de calor latente (RUBITHERM GR 80 e FB 80)
incorporados em caixas e sacos isoladores para manter as refeies quentes durante o
transporte (60-70C). Estes PCMs vo melhorar o tempo de reteno da temperatura
atravs do processo de armazenamento de calor latente.
Existem muitas marcas (e.g. Timberland, Puma, Pierre Cardin) que j
comercializam roupa feita de fibras que incorporam PCMs, no caso ceras que fundem por
volta dos 37C. Assim, num ambiente aquecido as ceras armazenam calor em excesso
at uma temperatura prxima da do corpo, no permitindo que este aquea, num espao
frio a roupa liberta o calor armazenado para aquecer o corpo.
Os PCMs so actualmente utilizados em baterias de armazenamento de calor
latente, disponveis opcionalmente em automveis BMW da Srie 5, cujo princpio de
funcionamento bastante simples. O PCM encontra-se ligado ao radiador, armazenando
calor quando o motor est em funcionamento e libertando esse mesmo calor aquando do
arranque a frio seguinte, de modo a aquecer rapidamente o motor (melhorando a
eficincia do mesmo, em termos de consumo) ou a aumentar o conforto trmico no
interior do habitculo. Graas ao seu excelente isolamento, a bateria pode manter a
energia armazenada durante dois dias a uma temperatura exterior de -20C. Este tipo de
aplicao pode ser estendido ao aquecimento dos conversores catalticos dos escapes,
mantendo-os sua temperatura ptima de funcionamento e reduzindo deste modo
emisses poluentes.
-
Captulo III - Materiais de mudana de fase
51
-
Captulo IV - Reviso das caractersticas das diversas espcies a estudar
53
Captulo IV - Reviso das caractersticas das diversas espcies a estudar
4.1 - Introduo
Neste ponto, sero descritas as principais caractersticas, propriedades qumicas
e fsicas, e a composio qumica, das diferentes espcies de leos e gorduras vegetais
a estudar.
Os leos e gorduras vegetais estudadas encontram-se na Tabela 10, assim como
a designao cientfica da planta da qual se extrai a respectiva gordura/leo.
Tabela 10. Nome cientfico das plantas das quais se extraem as
gorduras/leos a estudar.
Nome comum da gordura/leo
vegetal
Designao cientifica das
plantas a partir das quais se
extraem as gorduras vegetais
leo de mamona/rcino Ricinus communis
Manteiga de kpangnan Pentadesma butyracea
Manteiga de karit Butyrospernum parkii
Manteiga de cacau Theobroma cacao
leo de coco Cocos nucifera
leo de palma Elaeis guineensis
leo de soja Glycine max
leo de colza Brassica napus
leo de girassol Helianthus annus
-
Captulo IV - Reviso das caractersticas das diversas espcies a estudar
54
Para cada um dos leos ou gorduras estudadas apresenta-se na Tabela 11 o
ponto de fuso, nmero de iodo e fraco de cidos gordos livres, saturados, mono-
insaturados e poli-insaturados.
Na Tabela 12 apresenta-se a composio qumica de cada um dos leos ou
gorduras estudadas.
-
Captulo IV - Reviso das caractersticas das diversas espcies a estudar
55
Tabela 11. Propriedades qumicas e fsicas dos leos e gorduras vegetais a analisar.
Propriedades leo de
mamona/rcino [13, 111-113]
Manteiga de
kpangnan [114, 115]
Manteiga de
karit [111, 116]
Manteiga de
cacau [111] leo de coco [111, 117-119]
leo de palma [111, 120-122]
leo de soja [123, 124]
leo de colza [125-127]
leo de
girassol [128-130]
Ponto de fuso C -18 - -10 38 - 40 29 - 34 29.0 - 31.1 23.0 - 28.0 36.0 - 45.0 -23.0 - -20.0 -15 - 0 -18.0 - -15.0
Ponto de inflamao
C 260 >300 >200 100 254 254 246 274
Ponto de turvao C 8 -3.9 - 3.9 7.2
Ponto de fluxo C -31.7 -12.2 -31.7 -15.0 Nmero de cetano 38 - 42 36 - 39 37.6 37.1
Viscosidade (38C) 297 32.6 37.0 33.9 - 37.1
ndice de iodo 84 - 85 37 - 47 50 - 70 33 - 42 8 - 12 46 - 56 124-139 94 - 126 110 - 143
c. gordos livres % 0.65 1.0 1.75 0.09
-
Captulo IV - Reviso das caractersticas das diversas espcies a estudar
56
Tabela 12. Percentagens de cidos gordos presentes nos leos/gorduras vegetais a analisar.
cidos Gordos leo de
mamona/rcino [13, 111-113, 131] %
Manteiga de kpangnan [114, 115] %
Manteiga de karit [111,
116] %
Manteiga de cacau [111, 132, 133] %
leo de coco [112,
117, 122, 134-136] %
leo de palma [111, 120, 137-139]
%
leo de soja [111, 140] %
leo de colza [141,
142]%
leo de girassol [117,
128] %
C8:0 5 - 9 C10:0 6 - 11 C12:0 42 - 52 0 - 0.4 0.1 C14:0 0.20 13 - 20 0.5 - 2.0 0.2 0 - 2 0.1 C16:1 0 - 0.6 0 - 0.2 0.1 C16:0 0.8 - 1.3 3.10 3 - 9 20.0 - 30.0 8 - 14 32.0 - 45.0 9.9 - 12.2 1.0 - 5.0 3 - 9 C18:3 0 - 0.3 5.0 - 10.0 8.5 - 9.3
-
Captulo IV - Reviso das caractersticas das diversas espcies a estudar
57
Alguns dos leos a estudar j so utilizados como matria-prima para a produo
de biodiesel. Na Tabela 13 so apresentadas algumas das propriedades fsico-qumicas
dos steres metlicos preparados a partir destes leos e gorduras vegetais.
Tabela 13. Propriedades fsico-qumicas do biodiesel (steres metlicos) dos leos e gorduras
vegetais a estudar.
steres metlicos Nmero de cetano
Calor de combusto
kJ/kg
Viscosidade mm2/s a
40C
Ponto de
turvao C
Ponto de
fluxo C
Ponto de inflamao
C
leo de mamona/rcino [140]
2160 21.6 (37.8C) -30 208
leo de coco [143] 7.34 5 -8
leo de palma [144] 56.2 39070 4.5 (37.8C) 8 6 19
leo de soja [145] 46.2 39800 4.08 2 -1 171
leo de colza [146] 54.4 40449 6.7 -2 -9 84
leo de girassol [147] 46.6 39800 4.22 0 -4
4.2 - leo de mamona/rcino (Ricinus communis)
A mamona a semente da mamoneira (Ricinus communis), o seu principal
derivado o leo de mamona, tambm chamado leo de rcino. Os principais pases
produtores so a ndia, a China e o Brasil.
Este leo pode ser usado como base na produo de cosmticos e em muitos
produtos farmacuticos. Tambm utilizado em vrios processos industriais, como no
fabrico de corantes, anilinas, desinfectantes, germicidas, leos lubrificantes de baixa
temperatura [148], colas e aderentes, bases para fungicidas e insecticidas, tintas de
impresso [149] e vernizes, nylon [150] e matrias plsticas [151].
Actualmente, o leo de mamona tambm utilizado como matria-prima para a
produo de biodiesel. O biodiesel de mamona tem uma viscosidade que se mantm
-
Captulo IV - Reviso das caractersticas das diversas espcies a estudar
58
constante numa ampla gama de temperaturas e a sua lubricidade 30% superior ao
biodiesel oriundo dos demais leos [152], isto principalmente devido presena no leo
de elevado teor de cido ricinoleico [140].
Todavia, uma das grandes dificuldades encontradas na produo de biodiesel,
atravs da transesterificao do leo de mamona, a separao do glicerol do biodiesel,
de forma a cumprir as especificaes das normas de qualidade.
A semente de mamona constituda por cerca de 75% de miolo e 25% de casca.
A sua composio qumica depende da variedade e da regio de cultivo, assim como
todos os leos vegetais. O teor global de leo nas sementes situa-se entre os 35% e os
55% [113]. A semente txica principalmente devido presena de rcina, uma protena
cuja ingesto pode ser mortal mesmo em pequenas doses, trs sementes so suficientes
para provocar a morte de um indivduo [117]. O teor de insaponificveis de 1.2 % e
correspondem essencialmente a -sitosterol. um leo bastante estvel em diferentes
condies de presso e temperatura. Algumas das propriedades qumicas e fsicas do
leo de mamona/rcino so apresentadas na Tabela 11. Tal como em outros leos, as
propriedades fsicas e qumicas variam com o mtodo de extraco.
O
OHHO
Figura 10. Estrutura qumica do cido ricinoleico (cido 12-hidroxi-9-octadecenoico).
Na Tabela 12 podem ser observados os principais cidos gordos que constituem
o leo de mamona. O cido ricinoleico o componente maioritrio (cerca de 90%) dos
triglicerdeos deste leo. Este cido um cido gordo mono-insaturado com 18 carbonos
com um grupo funcional OH no carbono 12 (Figura 10), o que confere caractersticas
raras, para um cido gordo biolgico, como a elevada viscosidade e grande solubilidade
em lcoois [153, 154]. O leo de mamona tem ainda pequenas quantidades dos cidos
di-hidroxiestrico, linoleico, oleico e esterico.
-
Captulo IV - Reviso das caractersticas das diversas espcies a estudar
59
4.3 - Manteiga de kpangnan (Pentadesma butyracea)
A kpangnan (Pan-ya) o leo extrado das sementes de Pentadesma butyracea,
uma rvore que cresce ao longo dos rios e ribeiros no Togo central e na costa Oeste
Africana.
A manteiga de kpangnan muitas vezes chamada tambm de "golden shea", mas
no deve ser confundida com "shea butter, uma vez que provem de espcies distintas
[155].
A manteiga de kpangnan usada como agente gordo em produtos de cosmtica,
pomadas, cremes e loes [156].
Esta manteiga diferente das outras gorduras vegetais devido composio dos
seus constituintes insaponificveis, principalmente devido sua fraco de esteris
(espinasterol e estigmasterol). O estigmasterol o esterol mais abundante neste leo
(44.7% do total de esteris) [157] (Figura 11). Este esterol insaturado pode encontrar-se
em plantas gordas como o leo de soja, o leo de colza e a manteiga de cacau, usado
como material precursor na sntese de progesterona, alm de possuir outras
propriedades interessantes, como diminuir os riscos de alguns cancros e de actuar como
agente anti-inflamatrio local. Outras propriedades qumicas e fsicas esto descritas na
Tabela 11.
HO
Figura 11. Estrutura qumica do estigmasterol.
Na Tabela 12 so descritas as percentagens dos cidos gordos que constituem a
manteiga de kpangnan. Esta constituda essencialmente por cido esterico (C18:0) e
pelo cido oleico (C18:1) que representam cerca de 95% do total dos cidos gordos.
-
Captulo IV - Reviso das caractersticas das diversas espcies a estudar
60
4.4 - Manteiga de karit (Butyrospernum parkii)
A rvore de shea (Butyrospernum parkii), tambm conhecida por rvore de karit,
produz um fruto designado por shea. uma rvore indgena do Sul de Sahel, zona que
se estende a 16 pases da frica central [154]. Como o fruto s pode ser colhido apenas
aps 15 anos, esta cultura no economicamente vivel [133].
O miolo de shea tem cerca de 55% de leo [122]. O miolo processado para
obter o leo de shea, que solidifica e forma a designada manteiga de karit. A manteiga
de karit um produto de luxo usado como matria-prima em cosmticos, em alimentos
e na indstria farmacutica. Em muitos pases da Europa usada como substituinte da
manteiga de cacau no fabrico de chocolates, uma vez que doce e oleosa [115]. A
elevada percentagem de insaponificveis atribui-lhe propriedades curativas [121].
A manteiga de karit essencialmente constituda por triglicerdeos e uma
elevada fraco de insaponificveis. Na fraco de insaponificveis, 27% correspondem
a steres do cido cinmico, 65% a lcoois triterpnicos ( e - amirina) (Figura 12) e 8% a esteris ( - sitosterol, - estigmasterol e colesterol) [116, 158]. Na Tabela 11 so apresentadas outras propriedades fsicas e qumicas da manteiga de karit.
(I) HO
CH3H3C
CH3 CH3 CH3
CH3
H3C CH3
HO
CH3H3C
CH3 CH3 CH3
H3C
CH3
CH3
(II)
Figura 12. Estruturas qumicas de dois dos lcoois triterpnicos presentes na manteiga de karit.
(I) - - Amirina; (II) - - amirina.
A composio qumica da manteiga de karit, tal como na manteiga de kpangnan,
essenci