Biodiesel

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Índice viii Índice Geral Índice de Figuras ............................................................................................................ xi Índice de Tabelas ......................................................................................................... xiii Capítulo I - Introdução .................................................................................................. 16 1.1 - Motivação ......................................................................................................... 16 1.2 - Objectivo .......................................................................................................... 17 1.3 - Apresentação do trabalho ................................................................................ 17 Capítulo II - Óleos vegetais como fonte de energia alternativa.................................... 20 2.1 - Introdução ........................................................................................................ 20 2.2 - Matérias-primas ............................................................................................... 22 2.3 - Composição química de gorduras e óleos vegetais......................................... 22 2.4 - O que é o biodiesel .......................................................................................... 24 2.5 - Processo de produção de biodiesel ................................................................. 25 2.5.1 - Processo clássico de produção de biodiesel ........................................... 25 2.5.2 - Catalizadores utilizados na produção de biodiesel .................................. 27 2.5.2.1 - Processos homogéneos ..................................................................... 27 2.5.2.2 - Processos heterogéneos.................................................................... 28 2.6 - Métodos de caracterização de biodiesel .......................................................... 29 2.7 - Parâmetros de qualidade do biodiesel ............................................................. 30 2.7.1 - Parâmetros específicos ............................................................................ 30 2.7.2 - Parâmetros gerais .................................................................................... 31 2.7.2.1 - Viscosidade ........................................................................................ 33 2.7.2.2 - Densidade .......................................................................................... 33 2.7.2.3 - Ponto de inflamação........................................................................... 33 2.7.2.4 - Ponto de turvação e ponto de fluxão.................................................. 34 2.7.2.5 - Número de cetano .............................................................................. 34 2.7.2.6 - Número de neutralização ................................................................... 35 Capítulo III - Materiais de mudança de fase................................................................. 36 3.1 - Introdução ........................................................................................................ 36 3.2 - Propriedades dos PCMs .................................................................................. 37 3.3 - PCMs inorgânicos ............................................................................................ 39 3.4 - PCMs orgânicos ............................................................................................... 40 3.4.1 - Ceras parafínicas ..................................................................................... 41 3.4.2 - Ácidos gordos........................................................................................... 42 3.5 - Incorporação de PCMs em materiais de construção ....................................... 44

Transcript of Biodiesel

  • ndice

    viii

    ndice Geral

    ndice de Figuras............................................................................................................xi

    ndice de Tabelas ......................................................................................................... xiii

    Captulo I - Introduo.................................................................................................. 16

    1.1 - Motivao......................................................................................................... 16

    1.2 - Objectivo .......................................................................................................... 17

    1.3 - Apresentao do trabalho ................................................................................ 17

    Captulo II - leos vegetais como fonte de energia alternativa.................................... 20

    2.1 - Introduo ........................................................................................................ 20

    2.2 - Matrias-primas ............................................................................................... 22

    2.3 - Composio qumica de gorduras e leos vegetais......................................... 22

    2.4 - O que o biodiesel .......................................................................................... 24

    2.5 - Processo de produo de biodiesel ................................................................. 25

    2.5.1 - Processo clssico de produo de biodiesel ........................................... 25

    2.5.2 - Catalizadores utilizados na produo de biodiesel .................................. 27

    2.5.2.1 - Processos homogneos..................................................................... 27

    2.5.2.2 - Processos heterogneos.................................................................... 28

    2.6 - Mtodos de caracterizao de biodiesel .......................................................... 29

    2.7 - Parmetros de qualidade do biodiesel ............................................................. 30

    2.7.1 - Parmetros especficos............................................................................ 30

    2.7.2 - Parmetros gerais .................................................................................... 31

    2.7.2.1 - Viscosidade ........................................................................................ 33

    2.7.2.2 - Densidade .......................................................................................... 33

    2.7.2.3 - Ponto de inflamao........................................................................... 33

    2.7.2.4 - Ponto de turvao e ponto de fluxo.................................................. 34

    2.7.2.5 - Nmero de cetano.............................................................................. 34

    2.7.2.6 - Nmero de neutralizao ................................................................... 35

    Captulo III - Materiais de mudana de fase................................................................. 36

    3.1 - Introduo ........................................................................................................ 36

    3.2 - Propriedades dos PCMs .................................................................................. 37

    3.3 - PCMs inorgnicos ............................................................................................ 39

    3.4 - PCMs orgnicos............................................................................................... 40

    3.4.1 - Ceras parafnicas ..................................................................................... 41

    3.4.2 - cidos gordos........................................................................................... 42

    3.5 - Incorporao de PCMs em materiais de construo ....................................... 44

  • ndice

    ix

    3.6 - Aplicaes de PCMs ........................................................................................ 46

    3.6.1 - Paredes de edifcios ................................................................................. 46

    3.6.2 - Deslocamento de picos de consumo........................................................ 47

    3.6.3 - Armazenamento de calor latente por contacto indirecto com energia solar48

    3.6.4 - Outras aplicaes ..................................................................................... 50

    Captulo IV - Reviso das caractersticas das diversas espcies a estudar ................ 53

    4.1 - Introduo......................................................................................................... 53

    4.2 - leo de mamona/rcino (Ricinus communis).................................................... 57

    4.3 - Manteiga de kpangnan (Pentadesma butyracea)............................................. 59

    4.4 - Manteiga de karit (Butyrospernum parkii)....................................................... 60

    4.5 - Manteiga de cacau (Theobroma cacao)........................................................... 61

    4.6 - leo de coco (Cocos nucifera) ......................................................................... 61

    4.7 - leo de palma (Elaeis guineensis)................................................................... 62

    4.8 - leo de soja (Glycine maxima) ........................................................................ 64

    4.9 - leo de colza (Brassica napus)........................................................................ 65

    4.10 - leo de girassol (Helianthus annus) .............................................................. 65

    Captulo V - Materiais e mtodos ................................................................................. 67

    5.1 - Materiais ........................................................................................................... 67

    5.2 - Mtodos............................................................................................................ 69

    5.2.1 - Preparao das amostras......................................................................... 69

    5.2.1.1 - Transesterificao dos leos vegetais................................................ 69

    5.2.1.2 - Derivatizao do leo de coco............................................................ 69

    5.2.1.3 - Amostras de biodiesel ........................................................................ 70

    5.2.1.4 - Ceras parafnicas................................................................................ 70

    5.2.1.5 - Padro ASTM D5442.......................................................................... 70

    5.2.2 - Caracterizao.......................................................................................... 70

    5.2.2.1 - GC-MS dos leos e gorduras transesterificadas ................................ 70

    5.2.2.2 - GC-MS do leo de coco ..................................................................... 71

    5.2.2.3 - DSC dos leos e gorduras vegetais ................................................... 71

    5.2.2.4 - GC-MS das amostras de biodiesel ..................................................... 71

    5.2.2.5 - GC-MS das ceras parafnicas............................................................. 72

    5.2.2.6 - GC-FID do padro ASTM D5442........................................................ 72

    Captulo VI - Resultados e discusso........................................................................... 74

    6.1 - Anlise dos leos vegetais transesterificados.................................................. 74

    6.2 - Anlise da composio do leo de coco .......................................................... 78

    6.3 - Anlise calorimtrica de leos e gorduras vegetais ......................................... 84

  • ndice

    x

    6.4 - Identificao dos cidos gordos nas amostras de biodiesel ............................ 85

    6.5 - Identificao e quantificao de ceras parafnicas........................................... 87

    6.6 - Anlise do padro ASTM D5442...................................................................... 90

    Captulo VII - Concluso .............................................................................................. 92

    Captulo VIII - Bibliografia............................................................................................. 93

  • ndice de Figuras

    xi

    ndice de Figuras

    Figura 1. Possvel cenrio das fontes de energia ao longo dos prximos anos [2]..........20

    Figura 2. Reservas de petrleo em bilies de barris em 2003. ........................................21

    Figura 3. Estruturas qumicas dos cidos gordos predominantes nos leos e gorduras vegetais. (I) - cido lurico; (II) - cido oleico; (III) - cido linoleico; (IV) - cido linolnico.

    ...........................................................................................................................................23

    Figura 4. Processo de produo de biodiesel...................................................................25

    Figura 5. Equao geral de transesterificao de triglicerdeos, utilizando como lcool o metanol [39]. ......................................................................................................................26

    Figura 6. Curva de temperatura durante o processo de mudana de fase [77]. ..............37

    Figura 7. Curva de temperatura registada numa casa solar passiva com e sem PCM incorporados nas paredes de edifcios [100]. ....................................................................46

    Figura 8. Esquema de uma unidade de armazenamento de calor latente em contentores ou tubos planos que contm PCMs encapsulados [102]...................................................48

    Figura 9. Esquema simples de uma unidade de armazenamento trmico com dois tipos de PCMs [111]. ..................................................................................................................49

    Figura 10. Estrutura qumica do cido ricinoleico (cido 12-hidroxi-9-octadecenoico).....58

    Figura 11. Estrutura qumica do estigmasterol. ................................................................59

    Figura 12. Estruturas qumicas de dois dos lcoois triterpnicos presentes na manteiga de karit. (I) - - Amirina; (II) - - amirina..........................................................................60 Figura 13. Fruto da Elaeis guineensis. .............................................................................62

    Figura 14. Estrutura molecular dos tocoferis (vitamina E). .............................................64

    Figura 15. Espectro de massa do hexadecanoato de metilo, Mw = 270. .........................75

    Figura 16. (I) formao do io acilo e (II) formao do pico base m/z =74 pelo rearranjo de McLafferty. ....................................................................................................................75

    Figura 17. Formao do fragmento m/z = 87. ..................................................................76

    Figura 18. Cromatograma do leo de coco analisado por GC-MS...................................78

    Figura 19. Formao do io [R2CO + 74]+ num diglicerdeo.............................................79

  • ndice de Figuras

    xii

    Figura 20. Espectro de massa do derivado TMS da 1,3-dilauritina, com Tr = 21.30 min, para R1 = R3 = C11H23 e Mw = 528. ................................................................................... 80

    Figura 21. Formao do fragmento [RnCO + 74]+ num triglicerdeo. ................................ 81

    Figura 22. Espectro de massa do triglicerdeo C35H66O6 com Mw = 582 presente na amostra de leo de coco. .................................................................................................. 81

    Figura 23. Espectro de massa de dois triglicerdeos com Mw = 694. .............................. 82

    Figura 24. Curvas de DSC das amostras de leos e gorduras. ....................................... 84

    Figura 25. Cromatograma da amostra escravos_v e ampliao do pico com Tr = 17.51 min pristano (C19H36) e do pico com Tr = 18.61 min fitano (C17H40). ................................. 89

    Figura 26. Espectro de massa do biomarcador da famlia dos norhopanos com m/z = 191. ................................................................................................................................... 89

    Figura 27. Cromatograma do padro ASTM D5442......................................................... 90

  • ndice de Tabelas

    xiii

    ndice de Tabelas

    Tabela 1. Parmetros especficos dos leos vegetais para a qualidade do biodiesel [11]............................................................................................................................................31

    Tabela 2. Parmetros gerais para a qualidade do biodiesel [11]. .....................................32

    Tabela 3. Caractersticas importantes dos materiais que armazenam energia [78]. ........38

    Tabela 4. Vantagens e desvantagens de materiais orgnicos e inorgnicos para armazenamento de calor [78]. ...........................................................................................39

    Tabela 5. Dados termofsicos de alguns PCM inorgnicos [80, 81]..................................40

    Tabela 6. Dados termofsicos de alguns PCM orgnicos [80, 81]. ...................................41

    Tabela 7. Dados termofsicos de alguns cidos gordos usados como PCMs [80, 81]. ....43

    Tabela 8. Valores de temperaturas de fuso tericas (Ti) e experimentais (Tm) e calor de fuso (Hm) para alguns cidos gordos e misturas [94]...................................................44

    Tabela 9. Mtodos de incorporao dos PCMs. ...............................................................45

    Tabela 10. Nome cientfico das plantas das quais se extraem as gorduras/leos a estudar...............................................................................................................................53

    Tabela 11. Propriedades qumicas e fsicas dos leos e gorduras vegetais a analisar. ...55

    Tabela 12. Percentagens de cidos gordos presentes nos leos/gorduras vegetais a analisar. .............................................................................................................................56

    Tabela 13. Propriedades fsico-qumicas do biodiesel (steres metlicos) dos leos e gorduras vegetais a estudar. .............................................................................................57

    Tabela 14. Caractersticas das fraces do leo de palma [111, 120, 137-139]. .............63

    Tabela 15. leos e gorduras vegetais estudadas e sua origem. ......................................67

    Tabela 16. Composio e origem das amostras de biodiesel estudadas. ........................68

    Tabela 17. Ceras parafnicas estudadas...........................................................................68

    Tabela 18. Percentagens de cidos gordos, identificados como steres metlicos dos triglicerdeos dos leos vegetais obtidos por transesterificao........................................77

    Tabela 19. Glicerdeos presentes na amostra de leo de coco e a sua percentagem para os respectivos tempos de reteno (Tr) e massa molecular (Mw). ...................................83

  • ndice de Tabelas

    xiv

    Tabela 20. Temperatura e entalpia de fuso dos leos e gorduras vegetais. .................. 85

    Tabela 21. Percentagem em rea de cada um dos steres metlicos dos cidos gordos nas amostras de biodiesel................................................................................................. 86

    Tabela 22. Percentagens em rea dos n-alcanos presentes em amostras de ceras parafnicas......................................................................................................................... 88

    Tabela 23. Factores de resposta mssica mdios relativos ao eicosano (C20) dos n-acanos presentes no padro ASTM D5442. ..................................................................... 91

  • Captulo I - Introduo

    16

    Captulo I - Introduo

    1.1 - Motivao

    Actualmente, a comunidade mundial empenha-se na utilizao de recursos

    renovveis como fonte de energia e de novos materiais em substituio dos recursos

    fsseis, de modo a diminuir a dependncia destes bem como a poluio e degradao do

    meio ambiente resultantes da sua utilizao.

    Assim, a procura de fontes alternativas de energia de suma importncia, sendo

    muito vasto o leque de recursos cuja utilizao vem sendo estudada. Os leos e gorduras

    vegetais so um desses recursos, e sobre os quais incidir esta dissertao, e em

    particular em duas vertentes: como fonte de energia e como material para acumulao de

    energia trmica.

    A utilizao directa de leos e gorduras vegetais so uma alternativa para

    substituir o diesel convencional. Mas o biodiesel, obtido por transesterificao de leos e

    gorduras vegetais apresenta-se como a melhor opo, visto que o processo de produo

    relativamente simples e as propriedades deste so semelhantes s do diesel

    convencional.

    Por outro lado, as gorduras vegetais so atractivas como material de mudana de

    fase uma vez que fundem e solidificam numa larga gama de temperaturas. O

    armazenamento de calor latente a forma mais eficiente de armazenar energia trmica e

    esta nova tecnologia ainda em crescimento pode tambm ajudar a minimizar o problema

    das emisses de gases de efeito de estufa.

  • Captulo I - Introduo

    17

    1.2 - Objectivo

    Este trabalho tem como principal objectivo analisar detalhadamente a composio

    qumica de alguns leos e gorduras vegetais, como potenciais candidatos produo de

    biodiesel e como possveis materiais de mudana de fase.

    Atendendo s consideraes referidas atrs, os dois principais objectivos deste

    trabalho so:

    Caracterizar por GC-MS os leos e gorduras vegetais transesterificadas, de modo a identificar e quantificar os steres metlicos dos cidos gordos que constituem as

    diferentes amostras;

    Analisar por DSC os leos e gorduras vegetais que fundem acima da temperatura ambiente para se determinar a temperatura e entalpia de fuso.

    No entanto, este trabalho tem os seguintes sub-objectivos:

    Caracterizar por GC-MS a amostra de leo de coco de modo a determinar-se a sua composio;

    Caracterizar por GC-MS algumas amostras de biodiesel para se identificar e quantificar os steres metlicos dos cidos gordos presentes em cada uma das

    amostras;

    Caracterizar por GC-MS algumas amostras de ceras parafnicas extradas de crudes, de modo a se identificar e quantificar os hidrocarbonetos presentes em cada amostra;

    Desenvolver um mtodo por GC-FID para quantificar misturas n-alcanos.

    1.3 - Apresentao do trabalho

    A dissertao ser apresentada em oito captulos, onde o primeiro captulo

    introduz o trabalho, apresenta-se a motivao e o objectivo do trabalho realizado. No

    segundo captulo mostra-se a importncia de leos e gorduras vegetais como fonte

    alternativa de combustvel, define-se biodiesel e descrevem-se os processos de produo

    e caracterizao e ainda alguns parmetros de qualidade. No terceiro captulo mostra-se

    a importncia dos materiais de mudana de fase como armazenadores de calor latente,

    propriedades, exemplos de vrias aplicaes. No quarto captulo faz-se ainda uma

  • Captulo I - Introduo

    18

    reviso das caractersticas das diversas espcies de leos e gorduras estudadas. Os

    materiais e mtodos so apresentados no captulo cinco, descrevendo as tcnicas

    analticas utilizadas e explicando a metodologia de trabalho aplicada. A anlise dos leos

    e gorduras vegetais transesterificadas e do leo de coco, assim como, a identificao de

    cidos gordos nas amostras de biodiesel e de n-alcanos nas amostras de ceras e ainda o

    mtodo desenvolvido para quantificar misturas de n-alcanos so discutidos no captulo

    seis. As concluses e a bibliografia utilizada so apresentadas no captulo sete e oito,

    respectivamente.

  • Captulo II - leos vegetais como fonte alternativa de energia

    20

    Captulo II - leos vegetais como fonte de energia alternativa

    2.1 - Introduo

    Actualmente, a maior parte da energia necessria no Mundo fornecida por

    fontes petroqumicas, carvo e gases naturais. Todas estas fontes so finitas e ao actual

    ritmo de consumo sero rapidamente esgotadas como se mostra na Figura 1 [1].

    Figura 1. Possvel cenrio das fontes de energia ao longo dos prximos anos [2].

    As reservas mundiais de petrleo convencional totalizam 1147.80 bilies de barris

    (Figura 2) e o consumo deste combustvel fssil estimado em 80 milhes de barris por

    dia, conclui-se daqui que as reservas mundiais de petrleo convencional iro esgotar-se

    por volta do ano 2046. Todavia, este clculo no tem em conta a tendncia do

    crescimento do consumo pelo que, se no existirem novas reservas de petrleo

    convencional, esse limite temporal encurtado [3]. Por outro lado, de prever que, antes

    das reservas se esgotarem, o preo do petrleo ser to elevado que a sua utilizao

  • Captulo II - leos vegetais como fonte alternativa de energia

    21

    como combustvel deixar de ter interesse, o que leva necessidade de obteno de

    novas alternativas de fornecimento energticos que permitam a sua substituio [4].

    O consumo de combustveis fsseis representa actualmente, uma ameaa sria

    para o equilbrio ambiental, dada a forte contribuio das emisses de dixido de carbono

    (CO2) para o aquecimento global, (a cada 3.8 litros de gasolina que um automvel

    queima, so libertados 10 kg de CO2 na atmosfera).

    Figura 2. Reservas de petrleo em bilies de barris em 2003.

    Assim, a procura de novas fontes de energia alternativa de vital importncia.

    Novos combustveis alternativos e renovveis tm potencial para resolver muitos dos

    problemas sociais correntes, desde a minimizao da poluio do ar e a reduo do

    aquecimento global, a outros problemas ambientais e de sustentabilidade [5].

    As gorduras animais e vegetais tm vindo a ser estudadas como substituintes

    para combustveis fsseis lquidos. Em particular, os steres etlicos e metlicos de cidos

    gordos, conhecidos genericamente por biodiesel, so excelentes combustveis para

    motores a diesel [6].

    A directiva da Unio Europeia 2003/30/EC define o biodiesel como um ster

    metlico produzido a partir de leo vegetal ou animal, e que tenha qualidade para ser

    usado como biofuel. Nestes termos, a directiva estabelece um mnimo de 2 a 5.75% de

    biofuel para todos os transportes a gasolina e a diesel, de 31 de Dezembro de 2005 a 31

    de Dezembro de 2010 [7].

    Os combustveis derivados de leos vegetais so ainda cerca de duas vezes mais

    caros que os derivados do petrleo. Contudo, o recente aumento dos preos do petrleo

  • Captulo II - leos vegetais como fonte alternativa de energia

    22

    e os incentivos fiscais tm aumentado o interesse em combustveis preparados a partir

    de leos vegetais (principalmente para motores a diesel) [8-11].

    2.2 - Matrias-primas

    As gorduras e os leos so constituintes de todas as formas de vida animal e

    vegetal. Contudo, as plantas e os animais que produzem leo em quantidade suficiente

    para serem comercializadas so muito poucas [12].

    A utilizao dos leos provenientes de frutos, nozes e sementes de oleaginosas

    tem crescido, nomeadamente para usos culinrios. Hoje so conhecidas mais de 100

    variedades de plantas produtoras de leos a partir de sementes. Uma segunda fonte de

    leo vegetal o leo de frutos e nozes de rvores oleaginosas tais como o coco e a

    palma [12]. O teor de leo vegetal pode variar entre 3 a 70% do peso total da semente ou

    do miolo [13]. Para uma combinao satisfatria de uma ou mais fontes de leo torna-se

    essencial conhecer as propriedades qumicas e fsicas de cada uma das matrias-primas.

    Assim, nos prximos pargrafos dada uma perspectiva geral da composio dos leos

    vegetais bem como dos processos de obteno de biodiesel.

    2.3 - Composio qumica de gorduras e leos vegetais

    Quimicamente, as gorduras e os leos so steres de glicerol com cidos gordos.

    O comprimento das cadeias de carbono nas gorduras e leos alimentares variam entre 4

    e 24 tomos de carbonos podem conter at trs ligaes duplas, representadas

    genericamente por C-n:p, sendo n o nmero de tomos de carbono da cadeia e p o

    nmero de ligaes duplas. Os cidos gordos saturados predominantes so os cidos

    lurico (C-12:0), mirstico (C-14:0), o palmtico (C-16:0), o esterico (C-18:0), araqudico

    (C-20:0), o behnico (C-22:0) e o linhocrico (C-24:0). Os cidos gordos mono-

    insaturados mais importantes so o cido oleico (C-18:1) e o ercico (C-22:1). Os cidos

    gordos poli-insaturados mais importantes so o cido linoleico (C-18:2) e o linolnico (C-

    18:3) (Figura 3). Fisicamente, as gorduras e os leos so diferentes na medida em que

    as primeiras so slidas temperatura ambiente e os leos so lquidos. A diferena de

  • Captulo II - leos vegetais como fonte alternativa de energia

    23

    propriedades , geralmente, determinada pela composio em cidos gordos e pelo grau

    de insaturao destes. Estes aspectos so relacionados pelo comprimento da cadeia

    carbonada e pelo nmero, posio e configurao das duplas ligaes nas referidas

    cadeias. Geralmente, as gorduras slidas caracterizam-se por uma predominncia de

    cidos gordos saturados, enquanto que nos leos lquidos comum um teor elevado de

    cidos gordos insaturados.

    OH

    O

    (I)

    OH

    O

    (II)

    OH

    O

    (III)

    O

    O H (IV)

    Figura 3. Estruturas qumicas dos cidos gordos predominantes nos leos e gorduras vegetais. (I)

    - cido lurico; (II) - cido oleico; (III) - cido linoleico; (IV) - cido linolnico.

    As propriedades fsicas das gorduras e dos leos naturais variam muito, como

    resultado da sua composio qumica. Entre os factores que afectam a composio

    qumica destacam-se a origem vegetal, mas tambm as condies climticas, o tipo de solo, estao de crescimento, a maturidade e a sade da planta, e ainda a variao

    gentica da planta.

  • Captulo II - leos vegetais como fonte alternativa de energia

    24

    2.4 - O que o biodiesel

    H cerca de 100 anos, Rudolph Diesel inventou o motor a diesel e testou pela

    primeira vez o leo de amendoim em motores de ignio por compresso [14], tendo

    afirmado que: Actualmente, a utilizao de leos vegetais para motores a diesel pode

    parecer insignificante, mas com o decorrer do tempo estes leos podero vir a ser to

    importantes como o petrleo, o carvo e os produtos de alcatro, o so hoje. Contudo,

    com o baixo preo dos produtos petrolferos ao longo do sculo XX, os combustveis de

    origem vegetal nunca se implantaram. De um modo geral, o leo vegetal pode ser

    utilizado adaptando o motor ou adaptando o combustvel (por exemplo por

    transesterificao) [15]. O biodiesel o nome dado a estes compostos, quando utilizados

    como combustvel [16].

    O biodiesel ento produzido a partir de leos vegetais puros e de gorduras

    animais atravs de transesterificao de triglicerdeos com lcoois de cadeia curta

    (metanol ou etanol), obtendo-se o glicerol como subproduto [17, 18]. A reaco de

    transesterificao catalisada por um cido ou uma base, dependendo das

    caractersticas do leo e/ou gordura utilizados [16].

    Existem muitos tipos de leos vegetais, com diferentes composies qumicas,

    que podem ser utilizados para a preparao de biodiesel. Contudo, os mais estudados

    so os leos de soja [19-22], colza [23-25], girassol [26] e palma [27, 28].

    O biodiesel um combustvel biodegradvel, no txico, com um elevado ponto

    de inflamao, o que o torna seguro, e alm disso tem boas propriedades lubrificantes, o

    que reduz o desgaste dos motores. O biodiesel puro ou misturado com diesel

    convencional em certas propores pode ser usado em motores a diesel sem qualquer

    modificao [29, 30].

    O biodiesel apresenta algumas vantagens ambientais quando comparado com o

    diesel convencional, principalmente no que respeita a emisses de gases dos motores

    [31-33]. Nabi et al. [34] constataram que nas misturas de diesel e biodiesel existe uma

    reduo na emisso de monxido de carbono, CO2 e enxofre, no entanto, h um ligeiro aumento de xidos de azoto [31]. A emisso dos gases resultantes da combusto dos

    motores, que utilizam biodiesel, no contm xidos de enxofre, que so os principais

    causadores da chuva cida. As matrias-primas utilizadas para a produo do biodiesel

    captam o CO2 da atmosfera durante o perodo de crescimento e s parte deste

  • Captulo II - leos vegetais como fonte alternativa de energia

    25

    libertado durante a combusto no motor, o que pode ajudar a controlar o efeito de estufa

    (causador do aquecimento global do planeta). Assim, o uso de biodiesel como

    combustvel proporciona um ganho ambiental, pois contribui para a fixao do CO2,

    diminuio da poluio e do efeito estufa [35].

    2.5 - Processo de produo de biodiesel

    Comercialmente, os steres metlicos de cidos gordos podem ser produzidos

    quer por esterificao de cidos gordos, quer por transesterificao de triglicerdeos.

    Actualmente, a transesterificao o processo mais utilizado para a produo de

    biodiesel. O processo de transesterificao consiste na transformao do leo vegetal em

    biodiesel com remoo do glicerol como esquematizado na Figura 4 [36].

    Figura 4. Processo de produo de biodiesel.

    2.5.1 - Processo clssico de produo de biodiesel

    A transesterificao dos triglicerdeos constituintes dos leos utilizados como

    matria-prima a reaco principal envolvida na produo do biodiesel [1, 37, 38]. Este

    procedimento importante na medida em que reduz a elevada viscosidade e o ponto de

    ebulio dos triglicerdeos, permitindo a sua utilizao como combustveis sem

    adaptaes dos motores.

    A transesterificao de triglicerdeos representada pela equao geral descrita

    na Figura 5.

    LEO VEGETAL

    METANOL ou ETANOL

    Reaco de TRANSESTERIFICAO

    CATALISADOR

    GLICEROL

    BIODIESEL

  • Captulo II - leos vegetais como fonte alternativa de energia

    26

    CH2 -OCOR1 + +Catalisador

    Triglicerdeo Metanol Glicerol steres Metilicos

    3CH3OH

    CH -OCOR2

    CH2 -OCOR3

    CH2 -OH

    CH -OH

    CH2 -OH

    R1COOCH3

    R2COOCH3

    R3COOCH3

    Figura 5. Equao geral de transesterificao de triglicerdeos, utilizando como lcool o metanol [39].

    Se o metanol for usado neste processo designa-se por metanlise; o triglicerdeo

    reage com o metanol, na presena de um cido ou de uma base forte, produzindo uma

    mistura de steres dos cidos gordos e glicerol [19, 40].

    Na prtica, usa-se um excesso de metanol para garantir o mximo deslocamento

    do equilbrio no sentido da formao dos steres metlicos [41-43].

    O rendimento da reaco de transesterificao afectado pelo tipo e proporo

    do lcool, a natureza e quantidade do catalisador, pela agitao da mistura e pelo tempo

    de reaco [38, 44].

    importante referir que, na transesterificao de leos e gorduras vegetais com o

    objectivo de produzir biodiesel apenas podem ser usados lcoois primrios, como o

    metanol, o etanol, o propanol, o butanol e o lcool amlico, por razes fsicas e qumicas

    (comprimento da cadeia e polaridade) [20, 45]. O metanol e o etanol so os mais usados,

    sendo o primeiro prefervel porque mais barato e tem menor percentagem de gua

    (uma vez que esta leva formao de cidos gordos, atravs da hidrlise dos steres

    presentes, dificultando a separao do glicerol dos steres metlicos) [46].

    O uso de etanol pode ser atractivo do ponto de vista ambiental, uma vez que este

    pode ser produzido a partir de fontes renovveis e no levanta tantas preocupaes de

    toxicidade como o metanol. Contudo, a utilizao de etanol implica que este seja isento

    de gua [20, 35, 47].

    A reaco de transesterificao dos triglicerdeos pode ser catalisada por cidos

    ou bases (que aceleram a converso) [41], em processos homogneos ou heterogneos

    [19]. No entanto, a transesterificao catalisada por um cido (e.g. cido clordrico, cido

    sulfrico) [46] muito mais lenta do que a catalisada por uma base, alm de requerer

    temperatura e presso mais elevadas. Os catalisadores mais usados so os bsicos

    nomeadamente, os hidrxidos de sdio ou de potssio, uma vez que so relativamente

  • Captulo II - leos vegetais como fonte alternativa de energia

    27

    baratos e muito activos [41]. Alm disso, permitem obter um maior rendimento, uma

    maior selectividade, e surgem menos problemas relacionados com a corroso dos

    equipamentos [35, 48].

    2.5.2 - Catalizadores utilizados na produo de biodiesel

    2.5.2.1 - Processos homogneos

    A transesterificao de triglicerdeos catalisada por uma base rpida, de elevada

    converso e facilmente executada a temperaturas entre os 40 e 65C. No entanto, esta

    reaco tem algumas desvantagens, tais como, a dificuldade de recuperao do glicerol,

    a necessidade de remover o catalisador dos produtos de reaco, e o facto dos cidos

    gordos livres e da gua interferirem com a reaco [49]. Nos processos homogneos, os

    catalisadores bsicos so, geralmente, alcxidos, hidrxidos ou carbonatos de sdio ou

    potssio. Os alcxidos so catalisadores mais caros que os hidrxidos de metais

    alcalinos e mais difceis de manipular porque so muito higroscpicos.

    Posteriormente, em 1995, um estudo demonstrou a actividade e a eficcia de

    guanidinas como catalisadores na transesterificao do leo de colza [50]. O melhor

    resultado mostrou que a guanidina 1,5,7-triazabiciclo[4,4,0]deca-5-eno (TBD) a mais

    activa uma vez que, se obtm uma converso acima de 90% de steres metlicos aps 1

    hora de reaco usando apenas 1% em mol de catalisador[43, 50].

    Em 2003, complexos metlicos do tipo M(metil-4-pirona)2(H2O) 2, onde M = Sn, Zn,

    Pb e Hg foram utilizados na metanlise do leo de soja [51]. Os complexos de Sn e Zn

    mostraram grande actividade neste tipo de reaco, obtendo em 3 horas rendimentos at

    90 e 40% respectivamente numa proporo molar de 400:100:1

    (metanol:leo:catalisador). Estes catalisadores tambm foram testados noutras fontes de

    triglicerdeos, como por exemplo, nos leos de coco e de palma, sendo que, com o

    complexo de Sn obteve-se uma maior converso comparativamente aos outros

    complexos [52].

  • Captulo II - leos vegetais como fonte alternativa de energia

    28

    2.5.2.2 - Processos heterogneos

    Na catlise heterognea o catalisador e o substrato no esto na mesma fase, o

    que facilita a remoo do catalisador. Para minimizar os problemas que se verificam com

    o processo homogneo, utilizaram-se catalisadores em sistemas heterogneos na

    transesterificao de triglicerdeos, o que simplifica muito o processo de separao e

    purificao dos produtos da reaco, pois podem ser recuperados e reutilizados no fim da

    reaco.

    A reaco de transesterificao de leos vegetais por catlise heterognea

    constitui um mtodo eficiente para a produo do biodiesel, uma vez que este apresenta

    um elevado rendimento e pureza. Alm disso, elimina as etapas de neutralizao e

    purificao, e o glicerol extrado puro [43].

    Existe um grande nmero de catalisadores heterogneos referidos na literatura,

    como as guanidinas suportadas em polmeros orgnicos, enzimas, xidos, zelitos,

    resinas de troca inica, e alguns dos resultados obtidos na transesterificao de leos

    so sumariados seguidamente.

    A actividade da guanidina suportada em polmeros foi comparada actividade dos

    seus anlogos homogneos na transesterificao do leo de soja com metanol [53]

    tendo-se concludo que para garantir a baixa viscosidade da reaco, a proporo

    metanol:leo trs vezes maior nas reaces com guanidina contida em polmeros.

    A utilizao de biguanidinas ligadas ao poliestireno como catalisador reciclvel foi

    testada na transesterificao de alguns leos vegetais [54], obtendo-se rendimentos

    superiores a 90% em menos de 15 minutos. Estes catalisadores foram muito mais

    reactivos e estveis do que a guanidina contida em poliestireno.

    Foram tambm utilizados sais de aminocidos como catalisadores na metanlise

    de triglicerdeos [55]. O arginato de zinco foi utilizado como catalisador da metanlise do

    leo de palma, obtendo-se um elevado rendimento com uma proporo molar metanol e

    leo de 6:1, e a 130C atingem-se razoveis velocidades de reaco. O carbonato de

    clcio foi utilizado como catalisador na transesterificao do leo de soja obtendo-se uma

    converso acima de 95%, de steres etlicos a 260C.

    De acordo com Monteiro e Cruz [6] que estudaram a utilizao de misturas de

    xidos (ZrO2-SiO2, KOH/ZrO2-SiO2, CoO3-SiO2, La2 O3 (10%)-MCM-41, Na2O-SiO2 ,CaO,

    entre outros) como catalisadores na transesterificao do leo de soja, na proporo

    mssica de 4.5:6.0:0.3 (metanol:leo de soja:catalisador), a 70C, durante 8 horas. Os

  • Captulo II - leos vegetais como fonte alternativa de energia

    29

    melhores resultados foram obtidos com o La2 O3 (10%)-MCM-41, o Na2O-SiO2 e o CaO,

    com converses de 81, 76 e 67%, respectivamente.

    A utilizao de resinas de troca inica comerciais de natureza sulfnica tambm

    foi estudada na produo de biodiesel. Comparou-se a metanlise do leo de soja

    utilizando como catalisador a resina Amberlyst-15 e o cido sulfrico e verificou-se que a

    resina de troca catinica mostrou maior actividade que o catalisador homogneo [6].

    A metanlise do leo de soja foi testada usando como catalisadores os zelitos,

    zircnio-alumina dopado com tungstnio (WZA), o xido de estanho sulfatado (STO) e o

    zircnio sulfatado sobre alumina (SZA) [56], sendo o primeiro o mais eficiente, aps 20

    horas e uma temperatura acima dos 250C, foi conseguida uma converso superior a

    90%.

    Os processos biolgicos e/ou enzimticos de produo de biodiesel ainda no se

    encontram comercializados, mas existem estudos que incidem, principalmente, na

    optimizao das condies de reaco (temperatura, proporo molar lcool:leo, tipo de

    microrganismo e/ou enzima, etc.) de modo a estabelecer caractersticas de aplicao

    industrial [57, 58].

    2.6 - Mtodos de caracterizao de biodiesel

    Como j foi referido, o biodiesel constitudo por steres alqulicos de cidos

    gordos e pode ser sintetizado por transesterificao com lcoois de cadeia curta ou por

    esterificao dos cidos gordos.

    A anlise da composio de cidos gordos o primeiro procedimento para uma

    avaliao preliminar da qualidade do leo bruto e/ou ou dos seus produtos

    transformados. Existe uma grande variedade de tcnicas analticas para a deteco,

    caracterizao e quantificao dos cidos gordos no biodiesel. As tcnicas

    cromatogrficas hifenadas mais utilizadas so a cromatografia gasosa (GC) [59] e a

    cromatografia lquida de alta eficincia (HPLC) [60] associadas a sistemas de deteco.

    A GC uma tcnica de separao, de elevada fiabilidade, muito utilizado na

    separao de cidos gordos em leos e gorduras e steres [61-64]. Geralmente, o

    procedimento experimental de anlise de leos ou gorduras inclui uma etapa de

    preparao da amostra, em que os cidos gordos so isolados. A GC permite separar

    directamente os cidos gordos de cadeia curta. No caso dos cidos gordos de cadeia

  • Captulo II - leos vegetais como fonte alternativa de energia

    30

    longa, dado que apresentam baixas volatilidade e estabilidade trmica, necessria uma

    etapa adicional de derivatizao, para converter os grupos carboxilicos em grupos mais

    volteis, como steres trimetilsillicos (sililao) ou steres metlicos (transesterificao)

    [63, 65]. A utilizao de steres trimetilsillicos permite a anlise de diferentes compostos

    lipdicos, tais como os esteris, cidos gordos e glicerdeos [66].

    As maiores vantagens da HPLC em relao GC so a utilizao de baixas

    temperaturas durante a anlise, o que reduz o risco de isomerizao das duplas ligaes

    dos steres metlicos [67, 68], e o facto de no ser necessrio derivatizar a amostra

    diminuindo assim o tempo de anlise [69].

    2.7 - Parmetros de qualidade do biodiesel

    A ustria foi o primeiro pas no mundo a definir e a aprovar padres para a

    utilizao de combustvel de steres metlicos derivados do leo de colza. Para a

    introduo do biodiesel no mercado necessrio que existam padres ou linhas

    directivas para a qualidade do biodiesel.

    Os parmetros que definem o biodiesel podem ser divididos em dois grupos: os

    parmetros gerais, que so tambm usados para os leos fsseis baseados no fuel, e

    outros que descrevem particularmente a composio qumica e a pureza dos steres

    alqulicos dos cidos gordos [70]. Em funo da importncia do biodiesel e da futura

    regulamentao da sua utilizao, importante estabelecer padres de qualidade para o

    biodiesel.

    2.7.1 - Parmetros especficos

    As especificaes do biodiesel destinam-se a garantir a sua qualidade, os direitos

    dos consumidores e a preservao do meio ambiente [15, 71]. Na Tabela 1 so

    apresentados alguns parmetros especficos dos leos vegetais, de acordo com as

    normas utilizadas (que especificam valores para as propriedades e caractersticas do

    biodiesel e os respectivos mtodos para a sua determinao) em cada um destes pases.

  • Captulo II - leos vegetais como fonte alternativa de energia

    31

    Tabela 1. Parmetros especficos dos leos vegetais para a qualidade do biodiesel [11].

    Parmetros ustria

    (ON)

    Republica

    Checa

    (CSN)

    Frana

    (Jornal

    Oficial)

    Alemanha

    (DIN)

    Itlia

    (UNI)

    Estados

    Unidos da

    Amrica

    (ASTM)

    Metanol/etanol (%massa) 0.2 - 0.1 0.3 0.2 -

    Teor de steres (%massa) - - 96.5 - 98 -

    Monoglicerdeos (%massa) - - 0.8 0.8 0.8 -

    Diglicerdeos (%massa) - - 0.2 0.4 0.2 -

    Triglicerdeos (%massa) - - 0.2 0.4 0.1 -

    Glicerol livre (%massa) 0.02 0.02 0.02 0.02 0.05 0.02

    Total de glicerol (%massa) 0.24 0.24 0.25 0.25 - 0.24

    Nmero de iodo 120 - 115 115 - -

    NOTA: CSN - Czech Standard National; DIN - Deutsches Institut fr Normung; UNI -

    Unification National Italian; ASTM - American Society for Testing and Materials.

    A concentrao de glicerol livre um parmetro de qualidade importante, uma vez

    que as elevadas concentraes de glicerol no biodiesel podem trazer problemas de

    armazenamento, como tambm provocar o entupimento do bico do injector do motor [70].

    Aps a reaco completa de transesterificao, o biocombustvel no dever

    conter cidos gordos livres e, para que tenha uma elevada pureza, a presena de

    glicerol, de catalisador e de lcool deve ser apenas vestigial, de modo a cumprir as

    normas de qualidade.

    2.7.2 - Parmetros gerais

    Sabe-se que, quanto maior for a cadeia alqulica, maior o nmero de cetano e a

    lubricidade do combustvel, tal como os pontos de turvao e de fluxo. Assim, molculas

  • Captulo II - leos vegetais como fonte alternativa de energia

    32

    grandes (por exemplo steres alqulicos saturados maiores que o palmitato) tornam o

    combustvel de difcil de utilizao em regies com baixas temperaturas. Por outro lado,

    um elevado nmero de insaturaes torna as molculas quimicamente menos estveis, o

    que pode ser um inconveniente devido oxidao, degradao e polimerizao do

    combustvel, se for inadequadamente armazenado ou transportado.

    Significa que, tanto os steres alqulicos de cidos gordos saturados (palmtico,

    esterico), como os poli-insaturados (linoleico, linolnico) possuem alguns

    inconvenientes. Assim, o biodiesel que apresenta melhores resultados aquele que

    resulta da combinao de cidos gordos saturados com mono-insaturados.

    Na Tabela 2 so apresentados valores de alguns dos principais parmetros

    gerais, para a qualidade do biodiesel impostos por alguns pases.

    Tabela 2. Parmetros gerais para a qualidade do biodiesel [11].

    Parmetros ustria

    (ON)

    Republica

    Checa

    (CSN)

    Frana

    (Jornal

    Oficial)

    Alemanha

    (DIN)

    Itlia

    (UNI)

    Estados

    Unidos da

    Amrica

    (ASTM)

    Densidade (15C g/cm3) 0.85-0.89 0.87-0.89 0.87-0.89 0.875-0.89 0.86-0.90 -

    Viscosidade (40 mm2/s) 3.5-5.0 3.5-5.0 3.5-5.0 3.5-5.0 3.5-5.0 1.9-6.0

    Ponto de inflamao (C) 100 110 100 110 100 130

    Ponto de turvao (C) 0/-5 -5 - 0-10/-20 - -

    Ponto de fluxo (C) - - -10 - 0/-5 -

    Nmero de cetano 49 48 49 49 - 47

    Nmero de neutralizao (mgKOH/g)

    0.8 0.5 0.5 0.5 0.5 0.8

    Resduos de carbono (%) 0.05 0.05 - 0.05 - 0.05

    A seguir so descritos mais em pormenor alguns destes parmetros:

  • Captulo II - leos vegetais como fonte alternativa de energia

    33

    2.7.2.1 - Viscosidade

    Entre os parmetros gerais para o biodiesel, a viscosidade controla as

    caractersticas de injeco, para o injector a diesel. A viscosidade dos steres metlicos

    dos cidos gordos pode atingir nveis muito altos (em relao ao diesel convencional, os

    leos vegetais apresentam teores de viscosidade elevados, podendo exced-lo em at

    100 vezes) [72], sendo por isso importante o seu controlo dentro de nveis aceitveis de

    modo a evitar impactos negativos no desempenho do sistema de injector a diesel.

    Contudo, as especificaes propostas so quase as mesmas que as do diesel

    convencional [11]. Esta propriedade tambm se reflecte no processo de combusto, cuja

    eficincia depende da potncia mxima desenvolvida pelo motor.

    2.7.2.2 - Densidade

    A densidade, definida como a massa por unidade de volume, outra propriedade

    importante do biodiesel, ou seja razo entre a densidade deste e a densidade da gua

    varia entre 0.87 e 0.89 kg/m3 [73].

    2.7.2.3 - Ponto de inflamao

    O ponto de inflamao a temperatura mnima qual o biodiesel, ao ser aquecido

    pela aplicao de uma chama sob condies controladas, gera uma quantidade de

    vapores que se inflamam. Este parmetro indicativo no estabelecimento dos

    procedimentos de segurana a serem tomados durante o uso, transporte,

    armazenamento e manuseamento do biodiesel [11]. O ponto de inflamao do biodiesel,

    se for completamente isento de metanol ou de etanol, superior temperatura ambiente,

    o que significa que o combustvel no inflamvel nas condies normais.

  • Captulo II - leos vegetais como fonte alternativa de energia

    34

    2.7.2.4 - Ponto de turvao e ponto de fluxo

    O ponto de turvao e fluxo so parmetros importantes quando o combustvel

    utilizado a temperaturas baixas, uma vez que, o fuel pode espessar e no fluir, afectando

    o desempenho das linhas de fuel, bombas e injectores. O ponto de turvao a

    temperatura qual comeam a ser visveis os primeiros cristais de ceras quando o

    combustvel arrefecido. O ponto de fluxo a temperatura qual uma quantidade de

    cera fora da soluo suficiente para gelificar o combustvel, ou seja, a temperatura

    mnima a que o combustvel pode fluir. O biodiesel tem elevados pontos de turvao e

    fluxo quando comparados com o diesel convencional [72]. Para diminuir o ponto de

    turvao do biocombustvel podem ser utilizados aditivos (aminas e amidas tercirias de

    cidos gordos) apropriados ao leo vegetal de modo a conferir-lhe maior fluidez [74].

    2.7.2.5 - Nmero de cetano

    A facilidade de um combustvel entrar em ignio por compresso expressa pelo

    nmero de cetano (CN). Nmero de cetano elevado facilita a inflamao do combustvel

    quando injectado no motor, e quanto mais elevado for maior a eficincia do

    combustvel. O biodiesel tem um CN superior ao diesel convencional devido ao elevado

    teor de oxignio, o que faz com que os motores sejam mais silenciosos. O nmero de

    cetano baseado em dois compostos: o hexadecano, com CN de 100, e o

    heptametilnonano, com CN igual a 15. A escala de CN mostra que uma cadeia longa de

    hidrocarbonetos saturada tem maior CN quando comparada com uma cadeia ramificada,

    ou aromtica, de compostos de peso molecular e nmero de tomos de carbono

    semelhantes. O CN do biodiesel de gordura animal maior que o de origem vegetal [75].

    O ndice de cetano mdio do biodiesel 60, enquanto que para o diesel

    convencional a cetanagem situa-se entre 48 a 52, bastante menor, sendo esta a razo

    pelo qual o biodiesel queima muito melhor num motor diesel que o prprio diesel

    convencional [76].

  • Captulo II - leos vegetais como fonte alternativa de energia

    35

    2.7.2.6 - Nmero de neutralizao

    O nmero de neutralizao especificado para assegurar propriedades de

    envelhecimento adequadas do biodiesel e/ou um bom processo de produo. Este

    nmero reflecte a presena de cidos gordos livres, ou cidos usados na produo de

    biodiesel, e tambm a degradao do biodiesel devido a efeitos trmicos.

  • Captulo III - Materiais de mudana de fase

    36

    Captulo III - Materiais de mudana de fase

    3.1 - Introduo

    Um sistema de aquecimento com baixo consumo de energia e/ou utilizando um

    sistema energtico regenerativo seria ideal, mas para que isto resultasse seria

    necessrio uma enorme capacidade de armazenamento de energia. Com a incorporao

    de um adequado material armazenador de calor latente, tambm designado de material

    de mudana de fase (Phase Change Material - PCM), as unidades de armazenamento

    compactas com elevada capacidade de armazenamento de calor seriam uma

    possibilidade para muitas aplicaes industriais de aquecimento e ventilao.

    Quando um PCM slido aquecido e atinge o ponto de fuso, vai mudar da fase

    slida para a fase lquida e, durante este processo, o material absorve uma certa

    quantidade de calor (designada por calor latente de fuso). A temperatura do material fica

    a uma temperatura relativamente constante at que se complete a mudana de fase

    (Figura 6).

  • Captulo III - Materiais de mudana de fase

    37

    Figura 6. Curva de temperatura durante o processo de mudana de fase [77].

    A utilizao de PCMs para o armazenamento de energia pode ter assim um papel

    importante na conservao de energia e no melhoramento da sua utilizao, visto que

    muitas fontes de energia so intermitentes. O armazenamento de energia por apenas

    algumas horas suficiente para a maior parte das aplicaes em que se podem utilizar

    os PCMs.

    O mtodo de armazenamento de energia sob a forma de calor latente tem atrado

    um vasto nmero de aplicaes, uma vez que permite um armazenamento com uma

    maior densidade energtica, e numa gama de temperatura mais estreita, quando

    comparado com o mtodo de armazenamento de calor sensvel. Contudo, as dificuldades

    prticas da aplicao do mtodo do calor latente surgem devido baixa condutividade

    trmica dos materiais, alterao da densidade nas mudanas de fase, estabilidade

    das propriedades fsico-qumicas, quando submetidos a um grande nmero de ciclos de

    temperatura, e por vezes, tambm devido segregao dos PCMs e ao seu sub

    arrefecimento e dificuldade de cristalizao.

    3.2 - Propriedades dos PCMs

    A utilizao de um PCM como armazenador de energia trmica deve obedecer a

    um certo nmero de critrios tais como: possuir um elevado calor de fuso, elevada

    condutividade trmica, ter elevado calor especfico, sofrer pequena variao de volume

    na transio de fase, no ser corrosivo nem txico e ser quimicamente estvel [78]. As

    principais caractersticas dos materiais de mudana de fase esto indicadas na Tabela 3.

    Sensvel

    Temperatura/T

    Energia trmica/Q

    Lquido

    T2

    Tf

    T1

    Sensvel Latente

    Fuso Slido

  • Captulo III - Materiais de mudana de fase

    38

    Tabela 3. Caractersticas importantes dos materiais que armazenam energia [79].

    Trmicas Fsicas Qumicas Econmicas

    Mudana de fase

    adequada para

    aplicaes

    Baixa variao de

    densidade

    Estabilidade Barato e abundante

    Elevada densidade No h separao de

    fase, compatibilidade

    com os materiais de

    suporte

    Elevada entalpia,

    prxima da

    temperatura de

    utilizao Pouco ou nenhum

    sub arrefecimento

    No txico, no

    inflamvel, no

    poluente

    Elevada

    condutividade

    trmica nas fases

    lquida e slida

    Nos ltimos 40 anos tm sido estudados vrios compostos inorgnicos e

    orgnicos como PCMs. A comparao de vantagens e desvantagens de materiais

    orgnicos e inorgnicos feita na Tabela 4. Os PCMs devem ser escolhidos com base na

    sua temperatura de fuso. Assim, os materiais que fundem abaixo de 15C so usados

    para armazenamento de frio em sistemas de ar condicionado, enquanto que os materiais

    que fundem acima dos 90C so usados para refrigerao por absoro. Todos os outros

    materiais, que fundem entre estas duas temperaturas, e constituem a classe de materiais

    mais estudada, podem ser aplicados no aquecimento solar e no nivelamento de calor.

  • Captulo III - Materiais de mudana de fase

    39

    Tabela 4. Vantagens e desvantagens de materiais orgnicos e inorgnicos para armazenamento de calor [79].

    Orgnicos Inorgnicos

    Vantagens: Vantagens:

    No corrosivos Grande entalpia de mudana de fase

    Pouco ou nenhum sub arrefecimento

    Estabilidade qumica e trmica

    Desvantagens: Desvantagens: Baixa entalpia de mudana de fase Sub arrefecimento

    Baixa condutividade trmica Corrosivos

    Inflamveis Separao de fase

    Segregao de fase

    3.3 - PCMs inorgnicos

    As propriedades de alguns PCMs inorgnicos (sais hidratados) so mostradas na

    Tabela 5. Estes materiais tm algumas propriedades atractivas como o elevado calor

    latente por unidade de volume, a sua elevada condutividade trmica (~0.5 W/mC), o

    facto de no serem inflamveis e, ainda, a elevada percentagem de gua que os torna

    baratos. Contudo, tm outras caractersticas menos vantajosas que levam os

    investigadores a optar pelos PCM orgnicos, uma vez que so corrosivos para muitos

    metais, so instveis, imprprios para re-solidificarem e tendem a sofrer

    sobrearrefecimento, o que pode afectar as propriedades de mudana de fase. Alm

    disso, como requerem um suporte, so considerados imprprios para serem impregnados

    em materiais porosos utilizados na construo civil.

    A aplicao de PCMs inorgnicos necessita de agentes de nucleao e

    espessamento para minimizar o sobrearrefecimento e a fase de segregao [80].

  • Captulo III - Materiais de mudana de fase

    40

    Tabela 5. Dados termofsicos de alguns PCM inorgnicos [81, 82].

    Compostos Inorgnicos

    Temperatura de fuso (C)

    Calor de fuso (KJ/Kg)

    Condutividade trmica (W/m.K)

    Densidade (Kg/m3)

    MgCl2.6H2O 117 168.6

    0.570 (lquido, 120C)

    0.694 (slido, 90C)

    1450 (lquido, 120C)

    1569 (slido, 20C)

    Mg(NO3)2.6H2O 89 162.8

    0.490 (lquido, 95C)

    0.611 (slido, 37C)

    1550 (lquido, 94C)

    1636 (slido, 25C)

    Ba(OH)2.8H2O 48 265.7

    0.653 (lquido, 85.7C)

    1.225 (slido, 23C)

    1937 (lquido, 84C)

    2070 (slido, 24C)

    Zn(NO3)2.6H2O 36.4 147

    Na2HPO4.10H2O 35 281

    Na2SO4.10H2O 32.4 254

    CaCl2.6H2O 29 190.8

    0.540 (lquido, 38.7C)

    1.225 (slido, 23C)

    1562 (lquido, 32C)

    1802 (slido, 24C)

    KF.4H2O 18.5 231

    O sal de Glauber (Na2SO4.10H2O), constitudo por 44% de sulfato de sdio e 56%

    de gua (em massa), tem sido estudado desde 1952 como PCM [83, 84]. Possui uma

    temperatura de fuso de 32.4C, elevado calor latente (254 KJ/kg) e um dos materiais

    mais baratos usado para armazenamento de energia trmica. No entanto, os problemas

    de segregao e sub arrefecimento da fase tm limitado as suas aplicaes.

    3.4 - PCMs orgnicos

    Os PCMs orgnicos apresentam algumas caractersticas que os tornam teis para

    armazenar o calor latente em determinados materiais de construo. So quimicamente

    mais estveis do que os inorgnicos, no so corrosivos, o sobrearrefecimento no um

    problema significativo, tm um elevado calor latente por unidade de massa e baixa

    presso de vapor.

  • Captulo III - Materiais de mudana de fase

    41

    Contudo, estes materiais orgnicos tm algumas propriedades indesejveis,

    sendo as mais problemticas, o facto de serem inflamveis e eventualmente gerarem

    fumos txicos por combusto. O envelhecimento trmico oxidativo, o cheiro, a mudana

    aprecivel de volume na transio de fase e, ainda, a baixa condutividade trmica so

    outras das desvantagens destes materiais. Muitas destas caractersticas indesejveis tm

    sido eliminadas por seleco e modificao apropriada dos compostos e formulaes

    [80].

    Tabela 6. Dados termofsicos de alguns PCM orgnicos [81, 82].

    Compostos Orgnicos

    Temperatura de fuso (C)

    Calor de fuso (KJ/kg)

    Condutividade trmica (W/m.K)

    Densidade (kg/m3)

    Ceras

    parafnicas 64 173.6

    0.167 (lquido, 63.5C)

    0.346 (slido, 33.6C)

    790 (lquido, 65C)

    916 (slido, 24C)

    Poli(etilenoglicol)

    E600 22 127.2

    0.189 (lquido, 38.6C)

    ---

    1126 (lquido, 25C)

    1232 (slido, 4C)

    Octadecanoato

    de butilo 19 140

    1-Dodecanol 26 200

    1-Tetradecanol 38 205

    45% c.

    decanico 55%

    c. dodecnico

    21 143

    Tetradecanoato

    de propilo 19 186

    3.4.1 - Ceras parafnicas

    Dos PCM orgnicos mais estudados destacam-se as ceras parafnicas, referidas

    tambm como misturas parafnicas, alcanos com frmula geral CnH2n+2, n>14 [85]. O

    ponto de fuso destes compostos aumenta com o comprimento da cadeia, tal como o

    calor latente.

  • Captulo III - Materiais de mudana de fase

    42

    As ceras parafnicas comerciais so baratas, tm densidades trmicas de

    armazenamento apreciveis (~200 KJ/kg), no so txicas nem corrosivas, apresentam

    uma ampla gama de temperaturas de fuso, sendo ainda compatveis com muitos

    materiais de construo. As parafinas sofrem um sub arrefecimento insignificante, so

    quimicamente inertes e estveis, no apresentando segregao de fase. No entanto, tm

    baixa condutividade trmica (~0.2 W/mC), grandes alteraes de volume quando ocorre

    mudanas de fase, o que limita as suas aplicaes [86]. Contudo, para melhorar a

    condutividade trmica podem ser usadas estruturas de armazenamento de matriz

    metlica, tubos finos e lminas de alumnio [87].

    As ceras parafnicas comerciais mais estudadas so as que fundem por volta dos

    55C [88-90]. Farid et al. [91] tm usado trs ceras comerciais com temperaturas de fuso

    de 44, 53 e 64C e com calores latente de 167, 200 e 210 kJ/kg, respectivamente, para

    melhorar o desempenho de algumas unidades de armazenamento. O P-116 uma cera

    parafnica comercial, utilizada por muitos investigadores, que funde por volta dos 47C e

    tem um calor latente de fuso de 210 kJ/kg [80].

    3.4.2 - cidos gordos

    Outro tipo de PCMs so os cidos gordos, de origem animal ou vegetal, que so

    baratos, renovveis e de rpida acessibilidade. Os diferentes tipos de cidos gordos tm

    diferentes pontos de fuso o que permite a sua utilizao como armazenadores de

    energia trmica, so um biomaterial alternativo s parafinas e aos sais hidratados e

    podem ser purificados para serem utilizados como PCMs, ou convertidos em steres.

    Hasan [92] investigou o cido palmtico como PCM para armazenamento de

    energia. Os estudos incluram tempo de transio de fase e intervalo de temperatura,

    assim como o intervalo de fluxo de calor caracterstico utilizado em sistemas de

    armazenamento de tubo circular.

    As propriedades trmicas de alguns cidos gordos (cido cprico, lurico,

    palmtico e esterico) e das suas misturas binrias mostram que estes podem ser muito

    atractivos para armazenamento de energia trmica, sob a forma de calor latente, em

    aplicaes de aquecimento de espaos. A gama de fuso dos cidos gordos varia de 30

    a 65C, enquanto que o calor latente da transio varia de 148 a 183 KJ/kg [93].

  • Captulo III - Materiais de mudana de fase

    43

    Tabela 7. Dados termofsicos de alguns cidos gordos usados como PCMs [81, 82].

    Compostos cidos gordos

    Temperatura de fuso (C)

    Calor de fuso (KJ/Kg)

    Condutividade trmica (W/mK)

    Densidade (Kg/m3)

    cido palmtico 64 185.4 0.162 (lquido, 68.4C)

    ---

    850 (lquido, 65C)

    989 (slido, 24C)

    cido cprico 32 152.7 0.153 (lquido, 38.5C)

    ---

    878 (lquido, 45C)

    1004 (slido, 24C)

    cido caprlico 16 148.5 0.149 (lquido, 38.6C)

    ---

    901 (lquido, 30C)

    981 (slido, 13C)

    Dimaano e Escoto [94] estudaram uma mistura de cidos cprico e lurico, para

    armazenamento de baixas temperaturas. A mistura funde a 14C e tem um calor latente

    de fuso que varia entre 113 e 133 kJ/kg, consoante a sua composio. A mistura destes

    dois cidos um potencial material de armazenamento de energia solar em aplicaes

    de aquecimento de baixas temperaturas. O estudo de cidos gordos e as suas misturas

    binrias de composio euttica, como PCM para o armazenamento de calor latente,

    muito recente, no havendo ainda dados experimentais das caractersticas trmicas em

    sistemas de armazenamento trmico.

    Algumas propriedades trmicas de vrias misturas binrias de cidos gordos so

    apresentadas na Tabela 8 [95].

  • Captulo III - Materiais de mudana de fase

    44

    Tabela 8. Valores de temperaturas de fuso tericas (Ti) e experimentais (Tm) e calor de fuso (Hm) para alguns cidos gordos e misturas [95].

    cidos gordos X (%massa) Ti (C) Tm (C) Ti Tm (C) Hm

    (KJ/kg)

    Cprico-lurico 61.5-38.5 18.5 19.1 -0.6 132

    Cprico-miristico 73.5-26.5 23.5 21.4 2.1 152

    Cprico-palmtico 75.2-24.8 24.6 22.1 2.5 153

    Cprico-esterico 86.6-13.4 27.6 26.8 0.8 160

    Cprico 100 31.5 30.1 1.4 158

    Lurico-miristico 62.6-37.4 31.8 32.6 -0.8 156

    Lurico-palmtico 64.0-36.0 33.0 32.8 0.2 165

    Lurico-esterico 75.5-24.5 37.0 37.3 -0.3 171

    Miristico-palmtico 51.0-49.0 40.0 39.8 0.2 174

    Lurico 100 42.0-44.0 41.3 0.7-2.7 179

    Miristico-esterico 65.7-34.3 45.1 44.0 1.1 181

    Palmtico-esterico 64.9-35.1 46.7 50.4 -3.7 179

    Mirstico 100 54.0 52.1 1.9 190

    Palmtico 100 63.0 54.1 8.9 183

    Esterico 100 70.0 64.5 5.5 196

    3.5 - Incorporao de PCMs em materiais de construo

    Quando definido o PCM a utilizar numa determinada aplicao bem como o

    material de construo, deve escolher-se ento, o mtodo de incorporao mais

    adequado. A incorporao de PCMs, em paredes de edifcios, pode ser feita de vrias

    formas, entre os mtodos que tm vindo a ser estudados e testados, os mais promissores

    so apresentados na Tabela 9.

  • Captulo III - Materiais de mudana de fase

    45

    Tabela 9. Mtodos de incorporao dos PCMs.

    Mtodo usado

    Mtodo de incorporao Paredes

    (12.7 mm)

    Blocos de cimento

    (200x200x100 mm)

    Incorporao directa

    (durante a mistura)

    Adicionar o PCM lquido

    mistura

    Adicionar o PCM em p

    mistura

    Adicionar pequenos PCM

    cilndricos mistura

    Adicionar agregados pr-

    impregnados mistura

    Imerso Imergir a placa no PCM lquido a 80C durante alguns minutos

    Imergir o bloco no PCM lquido a

    80C durante o perodo

    necessrio

    Encapsulamento Microencapsulamento Macroencapsulamento

    Entre os vrios meios de incorporao que podem ser usados em paredes, a

    incorporao directa parece ser o procedimento mais econmico, uma vez que as

    caractersticas padro dos PCMs no so significativamente alteradas. Um factor

    determinante neste processo o uso das quantidades adequadas dos vrios agentes

    dispersantes. No caso dos blocos de cimento, quer a imerso, quer a incorporao

    directa, so um meio prtico para incorporar os PCM.

    O processo de imerso para encher as paredes com ceras tem sido adaptado

    com sucesso para pequenas amostras e em placas de gesso de tamanho real. Os PCMs

    podem ser incorporados em placa de gesso quer pela ps-manufacturao, embebendo

    os PCM lquidos em espaos porosos da placa de gesso, ou por adio numa etapa

    hmida do fabrico da placa de gesso [96, 97].

  • Captulo III - Materiais de mudana de fase

    46

    3.6 - Aplicaes de PCMs

    3.6.1 - Paredes de edifcios

    A incorporao de materiais de mudana de fase em paredes um exemplo de

    aplicao interessante de PCMs, em que estes integram materiais de construo que

    armazenam calor e regulam o ambiente trmico do edifcio.

    A utilizao de PCMs em paredes uma forma menos dispendiosa e de

    substituio fcil da massa trmica padro (por exemplo, alvenaria) usada para

    armazenar calor solar. O armazenamento trmico suportado pelos PCMs na parede pode

    ser suficiente para activar a captura de grandes quantidades de energia solar [98, 99].

    Os PCMs permitem que a energia solar seja armazenada durante o dia e depois

    libertada durante a noite, quando a temperatura ambiente mais baixa. A temperatura

    interior ser mais agradvel, menos varivel e diminui o consumo de energia, quer do ar

    condicionado quer do aquecimento (Figura 7). Isto pode reduzir alguns custos e

    limitaes no design de casas solares passivas, tornando-as mais acessveis. Alm

    disso, torna mais fcil a produo em larga escala de casas solares.

    Figura 7. Curva de temperatura registada numa casa solar passiva com e sem PCM incorporados

    nas paredes de edifcios [77].

    A incorporao de PCMs em paredes de edifcios vantajosa, dado que deste

    modo se obtm uma grande rea de transferncia de calor [100]. A BASF j produz e

    comercializa parafinas microencapsuladas dispersas em rebocos de revestimento ou

    utilizadas em placas de pladur. A primeira aplicao com sucesso foi efectuada na

    recuperao de uma zona industrial com o objectivo de reduzir o consumo de energia de

    Tempo/horas

    sem PCM

    com PCM

    Temperatura/C

    Temperatura/C

  • Captulo III - Materiais de mudana de fase

    47

    25 para 3 litros de combustvel de aquecimento por m2 por ano, reduzindo em 80% as

    emisses de CO2.

    No entanto, o desenvolvimento de sistemas de armazenamento de energia

    trmica baseados em PCMs, fiveis e prticos, ainda enfrentam alguns obstculos, tais

    como as incertezas relativas ao comportamento trmico de longo prazo e o reduzido

    nmero de PCMs adequados para aplicao na gama de temperaturas necessrias em

    edifcios.

    3.6.2 - Deslocamento de picos de consumo

    O consumo de energia varia durante o dia e a noite, consoante a exigncia das

    actividades industriais, comerciais e domsticas. A variao na exigncia de electricidade

    leva a um sistema diferencial de preos nos perodos de grande e baixo consumo. O

    deslocamento de picos de grande consumo de electricidade para perodos de baixo

    consumo iria melhorar significativamente os benefcios econmicos. Uma das estratgias

    possveis para atingir este deslocamento seria o desenvolvimento de um sistema de

    armazenamento de energia. Estes sistemas iriam activar a energia excedente para ser

    armazenada e depois libertada quando necessrio.

    O armazenamento de calor no Inverno directo e de aplicao simples e tem sido

    usado em muitos pases. O aquecedor de calor domstico mais comum de

    armazenamento utiliza tijolos cermicos e estruturas de cimento [87] aquecido com o

    aquecimento de fios elctricos ou por transferncia de calor de fluidos (tal como na gua

    quente) durante a noite. Durante o dia o calor extrado do aquecedor por conveco

    natural e radiao ou por conveco forada usando um ventilador elctrico. Os autores

    Farid e Husian [88] introduziram uma nova concepo no design destes aquecedores,

    atravs da substituio dos tijolos cermicos por ceras parafnicas encapsuladas em finos

    contentores metlicos. Durante o carregamento de calor, a cera armazena uma grande

    quantidade de calor, sob a forma de calor latente de fuso, que posteriormente

    descarregado continuamente durante os outros perodos. Foi feito um estudo em quatro

    unidades individuais de armazenamento, cheias com ceras parafnicas, que possuem

    uma temperatura de fuso de cerca de 55C. Um aquecedor elctrico foi fixado em cada

    eixo da unidade de armazenamento de modo a melhorar o baixo fluxo de calor, mas

    apenas o suficiente para fundir toda a cera dentro de 8 horas. A utilizao do mtodo de

  • Captulo III - Materiais de mudana de fase

    48

    mudana de fase de armazenamento de calor pode conduzir a uma significativa reduo

    de peso nos armazenadores de calor domsticos. Tais unidades ainda no foram

    comercializadas devido a problemas de custos econmicos.

    3.6.3 - Armazenamento de calor latente por contacto indirecto com energia solar

    Tm sido desenvolvidos mltiplos esforos no sentido de aplicar o mtodo de

    armazenamento de calor latente a sistemas de energia solar, em que o calor

    armazenado durante o dia para ser usado durante a noite.

    Os vrios estudos desenvolvidos tm em conta os aspectos fundamentais da

    transferncia de calor e os PCMs foram testados em unidades de armazenamento de

    calor de tamanho real.

    Muitos dos PCMs tm baixa condutividade trmica, sendo necessria a sua

    encapsulao, de modo a prevenir grandes diminuies de taxa de transferncia do calor

    durante as transies entre os estados slidos e lquidos. Os PCMs so usualmente

    introduzidos em contentores planos e finos, semelhantes a permutadores de calor de

    placas [88, 101, 102].

    Figura 8. Esquema de uma unidade de armazenamento de calor latente em contentores ou tubos

    planos que contm PCMs encapsulados [101].

    Em alternativa, os PCMs podem ser introduzidos em pequenos tubos, com

    transferncia de calor nos fluidos ao longo ou atravs dos tubos (Figura 8) [88, 103].

    A velocidade de transferncia de calor pode ser melhorada por uma estrutura em

    favo parcialmente cheia com o PCM [95]. Esta disposio tambm pode eliminar as

    grandes tenses induzidas pela expanso do volume dos PCMs. A utilizao de materiais

    com elevada condutividade trmica sugerida para aumentar a condutividade trmica

    Contentor/tubo plano

    Isolamento

    Entrada do fluido

    Sada do fluido

  • Captulo III - Materiais de mudana de fase

    49

    aparente [104], assim como a ideia de usar tubos alhetados em que os PCMs so

    colocados entre as alhetas [105-107]. Embora haja uma significativa melhoria na

    velocidade de transferncia de calor, os elevados custos destes tubos podem torn-los

    economicamente inviveis. Note-se, contudo, que esta melhoria apenas se verifica no

    caso de se utilizar um lquido como fluido operante. Em sistemas baseados em ar, os

    coeficientes de transferncia de calor, tanto do ar como dos PCMs, so baixos.

    Por encapsulamento dos PCMs em pequenas esferas de plstico, de modo a

    formar uma unidade de armazenamento de leito fixo, obtm-se uma melhoria significativa

    na velocidade de transferncia de calor [108, 109]. As maiores desvantagens destas

    unidades so a elevada queda de presso atravs do leito e o seu custo inicial.

    Muitos PCMs sofrem grandes mudanas de volume (~10%) durante a fuso, o

    que pode causar uma elevada tenso na troca de calor nas paredes. A contraco de

    volume durante a solidificao pode no reduzir apenas a rea de transferncia de calor,

    mas tambm separar os PCMs da superfcie de transferncia de calor, aumentando

    drasticamente a resistncia transferncia de calor. O problema geralmente

    minimizado por propostas de seleco de recipientes que podem ser parcialmente cheios

    com PCMs. O encapsulamento em esferas pode ser uma boa soluo para este

    problema.

    Figura 9. Esquema simples de uma unidade de armazenamento trmico com dois tipos de PCMs

    [110].

    Numa tentativa de melhoramento do desempenho das unidades de

    armazenamento de mudana de fase foi sugerido o uso de mais do que um PCM com

    diferentes temperaturas de fuso em contentores planos e finos (Figura 9) [110]. Esta

    ideia tambm foi aplicada numa unidade de tubos cheios com trs tipos de ceras com

    diferentes temperaturas de fuso [91, 103]. Durante as trocas de calor, o fluxo de ar

    passa primeiro atravs dos PCMs com maior temperatura de fuso de forma a assegurar

    Isolamento

    Fluido frio

    Fluido quente

    n-octadecano | P-116 cera

  • Captulo III - Materiais de mudana de fase

    50

    a continuidade da fuso dos outros PCMs, e a direco do ar tem que ser invertida

    durante as descargas.

    3.6.4 - Outras aplicaes

    A RUBITHERM desenvolveu um novo sistema de transporte de sangue que

    incorpora um PCM. Os acumuladores so arrefecidos e modulados no meio onde

    colocado o saco de sangue, depois so empilhados num contentor especial para serem

    transportados. Estes acumuladores mantm o sangue entre 2 e 10C por um mnimo de

    12 horas, com uma temperatura ambiente de 35C (a temperatura de cada saco

    monitorizada durante o transporte).

    Entre as muitas aplicaes de PCMs, a ideia de melhorar a temperatura dos

    alimentos durante o perodo de preparao e distribuio, tem recebido alguma ateno.

    A RUBITHERM tem elementos de calor latente (RUBITHERM GR 80 e FB 80)

    incorporados em caixas e sacos isoladores para manter as refeies quentes durante o

    transporte (60-70C). Estes PCMs vo melhorar o tempo de reteno da temperatura

    atravs do processo de armazenamento de calor latente.

    Existem muitas marcas (e.g. Timberland, Puma, Pierre Cardin) que j

    comercializam roupa feita de fibras que incorporam PCMs, no caso ceras que fundem por

    volta dos 37C. Assim, num ambiente aquecido as ceras armazenam calor em excesso

    at uma temperatura prxima da do corpo, no permitindo que este aquea, num espao

    frio a roupa liberta o calor armazenado para aquecer o corpo.

    Os PCMs so actualmente utilizados em baterias de armazenamento de calor

    latente, disponveis opcionalmente em automveis BMW da Srie 5, cujo princpio de

    funcionamento bastante simples. O PCM encontra-se ligado ao radiador, armazenando

    calor quando o motor est em funcionamento e libertando esse mesmo calor aquando do

    arranque a frio seguinte, de modo a aquecer rapidamente o motor (melhorando a

    eficincia do mesmo, em termos de consumo) ou a aumentar o conforto trmico no

    interior do habitculo. Graas ao seu excelente isolamento, a bateria pode manter a

    energia armazenada durante dois dias a uma temperatura exterior de -20C. Este tipo de

    aplicao pode ser estendido ao aquecimento dos conversores catalticos dos escapes,

    mantendo-os sua temperatura ptima de funcionamento e reduzindo deste modo

    emisses poluentes.

  • Captulo III - Materiais de mudana de fase

    51

  • Captulo IV - Reviso das caractersticas das diversas espcies a estudar

    53

    Captulo IV - Reviso das caractersticas das diversas espcies a estudar

    4.1 - Introduo

    Neste ponto, sero descritas as principais caractersticas, propriedades qumicas

    e fsicas, e a composio qumica, das diferentes espcies de leos e gorduras vegetais

    a estudar.

    Os leos e gorduras vegetais estudadas encontram-se na Tabela 10, assim como

    a designao cientfica da planta da qual se extrai a respectiva gordura/leo.

    Tabela 10. Nome cientfico das plantas das quais se extraem as

    gorduras/leos a estudar.

    Nome comum da gordura/leo

    vegetal

    Designao cientifica das

    plantas a partir das quais se

    extraem as gorduras vegetais

    leo de mamona/rcino Ricinus communis

    Manteiga de kpangnan Pentadesma butyracea

    Manteiga de karit Butyrospernum parkii

    Manteiga de cacau Theobroma cacao

    leo de coco Cocos nucifera

    leo de palma Elaeis guineensis

    leo de soja Glycine max

    leo de colza Brassica napus

    leo de girassol Helianthus annus

  • Captulo IV - Reviso das caractersticas das diversas espcies a estudar

    54

    Para cada um dos leos ou gorduras estudadas apresenta-se na Tabela 11 o

    ponto de fuso, nmero de iodo e fraco de cidos gordos livres, saturados, mono-

    insaturados e poli-insaturados.

    Na Tabela 12 apresenta-se a composio qumica de cada um dos leos ou

    gorduras estudadas.

  • Captulo IV - Reviso das caractersticas das diversas espcies a estudar

    55

    Tabela 11. Propriedades qumicas e fsicas dos leos e gorduras vegetais a analisar.

    Propriedades leo de

    mamona/rcino [13, 111-113]

    Manteiga de

    kpangnan [114, 115]

    Manteiga de

    karit [111, 116]

    Manteiga de

    cacau [111] leo de coco [111, 117-119]

    leo de palma [111, 120-122]

    leo de soja [123, 124]

    leo de colza [125-127]

    leo de

    girassol [128-130]

    Ponto de fuso C -18 - -10 38 - 40 29 - 34 29.0 - 31.1 23.0 - 28.0 36.0 - 45.0 -23.0 - -20.0 -15 - 0 -18.0 - -15.0

    Ponto de inflamao

    C 260 >300 >200 100 254 254 246 274

    Ponto de turvao C 8 -3.9 - 3.9 7.2

    Ponto de fluxo C -31.7 -12.2 -31.7 -15.0 Nmero de cetano 38 - 42 36 - 39 37.6 37.1

    Viscosidade (38C) 297 32.6 37.0 33.9 - 37.1

    ndice de iodo 84 - 85 37 - 47 50 - 70 33 - 42 8 - 12 46 - 56 124-139 94 - 126 110 - 143

    c. gordos livres % 0.65 1.0 1.75 0.09

  • Captulo IV - Reviso das caractersticas das diversas espcies a estudar

    56

    Tabela 12. Percentagens de cidos gordos presentes nos leos/gorduras vegetais a analisar.

    cidos Gordos leo de

    mamona/rcino [13, 111-113, 131] %

    Manteiga de kpangnan [114, 115] %

    Manteiga de karit [111,

    116] %

    Manteiga de cacau [111, 132, 133] %

    leo de coco [112,

    117, 122, 134-136] %

    leo de palma [111, 120, 137-139]

    %

    leo de soja [111, 140] %

    leo de colza [141,

    142]%

    leo de girassol [117,

    128] %

    C8:0 5 - 9 C10:0 6 - 11 C12:0 42 - 52 0 - 0.4 0.1 C14:0 0.20 13 - 20 0.5 - 2.0 0.2 0 - 2 0.1 C16:1 0 - 0.6 0 - 0.2 0.1 C16:0 0.8 - 1.3 3.10 3 - 9 20.0 - 30.0 8 - 14 32.0 - 45.0 9.9 - 12.2 1.0 - 5.0 3 - 9 C18:3 0 - 0.3 5.0 - 10.0 8.5 - 9.3

  • Captulo IV - Reviso das caractersticas das diversas espcies a estudar

    57

    Alguns dos leos a estudar j so utilizados como matria-prima para a produo

    de biodiesel. Na Tabela 13 so apresentadas algumas das propriedades fsico-qumicas

    dos steres metlicos preparados a partir destes leos e gorduras vegetais.

    Tabela 13. Propriedades fsico-qumicas do biodiesel (steres metlicos) dos leos e gorduras

    vegetais a estudar.

    steres metlicos Nmero de cetano

    Calor de combusto

    kJ/kg

    Viscosidade mm2/s a

    40C

    Ponto de

    turvao C

    Ponto de

    fluxo C

    Ponto de inflamao

    C

    leo de mamona/rcino [140]

    2160 21.6 (37.8C) -30 208

    leo de coco [143] 7.34 5 -8

    leo de palma [144] 56.2 39070 4.5 (37.8C) 8 6 19

    leo de soja [145] 46.2 39800 4.08 2 -1 171

    leo de colza [146] 54.4 40449 6.7 -2 -9 84

    leo de girassol [147] 46.6 39800 4.22 0 -4

    4.2 - leo de mamona/rcino (Ricinus communis)

    A mamona a semente da mamoneira (Ricinus communis), o seu principal

    derivado o leo de mamona, tambm chamado leo de rcino. Os principais pases

    produtores so a ndia, a China e o Brasil.

    Este leo pode ser usado como base na produo de cosmticos e em muitos

    produtos farmacuticos. Tambm utilizado em vrios processos industriais, como no

    fabrico de corantes, anilinas, desinfectantes, germicidas, leos lubrificantes de baixa

    temperatura [148], colas e aderentes, bases para fungicidas e insecticidas, tintas de

    impresso [149] e vernizes, nylon [150] e matrias plsticas [151].

    Actualmente, o leo de mamona tambm utilizado como matria-prima para a

    produo de biodiesel. O biodiesel de mamona tem uma viscosidade que se mantm

  • Captulo IV - Reviso das caractersticas das diversas espcies a estudar

    58

    constante numa ampla gama de temperaturas e a sua lubricidade 30% superior ao

    biodiesel oriundo dos demais leos [152], isto principalmente devido presena no leo

    de elevado teor de cido ricinoleico [140].

    Todavia, uma das grandes dificuldades encontradas na produo de biodiesel,

    atravs da transesterificao do leo de mamona, a separao do glicerol do biodiesel,

    de forma a cumprir as especificaes das normas de qualidade.

    A semente de mamona constituda por cerca de 75% de miolo e 25% de casca.

    A sua composio qumica depende da variedade e da regio de cultivo, assim como

    todos os leos vegetais. O teor global de leo nas sementes situa-se entre os 35% e os

    55% [113]. A semente txica principalmente devido presena de rcina, uma protena

    cuja ingesto pode ser mortal mesmo em pequenas doses, trs sementes so suficientes

    para provocar a morte de um indivduo [117]. O teor de insaponificveis de 1.2 % e

    correspondem essencialmente a -sitosterol. um leo bastante estvel em diferentes

    condies de presso e temperatura. Algumas das propriedades qumicas e fsicas do

    leo de mamona/rcino so apresentadas na Tabela 11. Tal como em outros leos, as

    propriedades fsicas e qumicas variam com o mtodo de extraco.

    O

    OHHO

    Figura 10. Estrutura qumica do cido ricinoleico (cido 12-hidroxi-9-octadecenoico).

    Na Tabela 12 podem ser observados os principais cidos gordos que constituem

    o leo de mamona. O cido ricinoleico o componente maioritrio (cerca de 90%) dos

    triglicerdeos deste leo. Este cido um cido gordo mono-insaturado com 18 carbonos

    com um grupo funcional OH no carbono 12 (Figura 10), o que confere caractersticas

    raras, para um cido gordo biolgico, como a elevada viscosidade e grande solubilidade

    em lcoois [153, 154]. O leo de mamona tem ainda pequenas quantidades dos cidos

    di-hidroxiestrico, linoleico, oleico e esterico.

  • Captulo IV - Reviso das caractersticas das diversas espcies a estudar

    59

    4.3 - Manteiga de kpangnan (Pentadesma butyracea)

    A kpangnan (Pan-ya) o leo extrado das sementes de Pentadesma butyracea,

    uma rvore que cresce ao longo dos rios e ribeiros no Togo central e na costa Oeste

    Africana.

    A manteiga de kpangnan muitas vezes chamada tambm de "golden shea", mas

    no deve ser confundida com "shea butter, uma vez que provem de espcies distintas

    [155].

    A manteiga de kpangnan usada como agente gordo em produtos de cosmtica,

    pomadas, cremes e loes [156].

    Esta manteiga diferente das outras gorduras vegetais devido composio dos

    seus constituintes insaponificveis, principalmente devido sua fraco de esteris

    (espinasterol e estigmasterol). O estigmasterol o esterol mais abundante neste leo

    (44.7% do total de esteris) [157] (Figura 11). Este esterol insaturado pode encontrar-se

    em plantas gordas como o leo de soja, o leo de colza e a manteiga de cacau, usado

    como material precursor na sntese de progesterona, alm de possuir outras

    propriedades interessantes, como diminuir os riscos de alguns cancros e de actuar como

    agente anti-inflamatrio local. Outras propriedades qumicas e fsicas esto descritas na

    Tabela 11.

    HO

    Figura 11. Estrutura qumica do estigmasterol.

    Na Tabela 12 so descritas as percentagens dos cidos gordos que constituem a

    manteiga de kpangnan. Esta constituda essencialmente por cido esterico (C18:0) e

    pelo cido oleico (C18:1) que representam cerca de 95% do total dos cidos gordos.

  • Captulo IV - Reviso das caractersticas das diversas espcies a estudar

    60

    4.4 - Manteiga de karit (Butyrospernum parkii)

    A rvore de shea (Butyrospernum parkii), tambm conhecida por rvore de karit,

    produz um fruto designado por shea. uma rvore indgena do Sul de Sahel, zona que

    se estende a 16 pases da frica central [154]. Como o fruto s pode ser colhido apenas

    aps 15 anos, esta cultura no economicamente vivel [133].

    O miolo de shea tem cerca de 55% de leo [122]. O miolo processado para

    obter o leo de shea, que solidifica e forma a designada manteiga de karit. A manteiga

    de karit um produto de luxo usado como matria-prima em cosmticos, em alimentos

    e na indstria farmacutica. Em muitos pases da Europa usada como substituinte da

    manteiga de cacau no fabrico de chocolates, uma vez que doce e oleosa [115]. A

    elevada percentagem de insaponificveis atribui-lhe propriedades curativas [121].

    A manteiga de karit essencialmente constituda por triglicerdeos e uma

    elevada fraco de insaponificveis. Na fraco de insaponificveis, 27% correspondem

    a steres do cido cinmico, 65% a lcoois triterpnicos ( e - amirina) (Figura 12) e 8% a esteris ( - sitosterol, - estigmasterol e colesterol) [116, 158]. Na Tabela 11 so apresentadas outras propriedades fsicas e qumicas da manteiga de karit.

    (I) HO

    CH3H3C

    CH3 CH3 CH3

    CH3

    H3C CH3

    HO

    CH3H3C

    CH3 CH3 CH3

    H3C

    CH3

    CH3

    (II)

    Figura 12. Estruturas qumicas de dois dos lcoois triterpnicos presentes na manteiga de karit.

    (I) - - Amirina; (II) - - amirina.

    A composio qumica da manteiga de karit, tal como na manteiga de kpangnan,

    essenci