bioenergia

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14 Brasil Econômico Terça-feira, 25 de maio, 2010 BRASIL sileira. Baseada historicamen- te nas hidrelétricas, que res- pondem por 67% de toda a energia elétrica gerada no país, o Brasil já tem uma das matrizes mais limpas do mun- do. Em tempos de sustentabi- lidade, no entanto, seu desafio é reduzir a dependência que ainda possui das termelétricas movidas a combustível fóssil, como gás e diesel, que respon- dem por 15% do consumo. As energias de fontes alternati- vas, por outro lado, como bio- massa e eólica, embora este- jam ganhando espaço rápido, possuem ainda 5,6% de parti- cipação, sendo 4,2% advinda da cana-de-açúcar. A biomassa também tem a vantagem competitiva de, vin- culada à indústria sucroalcoo- leira, concentrada em São Paulo e no Centro-Oeste, estar mais próxima aos grandes centros de consumo do país — diferente- mente das novas hidrelétricas que, embora erguidas na região Norte, têm praticamente toda sua capacidade destinada ao Sudeste, o que exige a constru- ção de linhas de transmissão que chegam a ultrapassar 2 mil quilômetros de extensão. Por ironia, é justamente aí que está uma das maiores difi- culdades em ampliar o aprovei- tamento da cana como fonte de energia. “Ao contrário das gran- des hidrelétricas, em que o cus- to das linhas de transmissão é pago pelo sistema, no caso das usinas de biomassa quem tem que arcar é o investidor”, pon- tua Silvestrin. “Como estamos no centro-sul do país, no cora- ção do consumo, são distâncias pequenas, de 20 a 50 quilôme- tros, mas chegam a 30% do in- vestimento total”, explica. No caso das hidrelétricas do Rio Madeira, em Porto Velho, e de Belo Monte, em Altamira (PA), as linhas chegam até a 2,4 mil quilômetros e o custo foi diluído no preço final do megawatt. COMÉRCIO Superávit na balança comercial é de US$ 546 milhões na terceira semana de maio A balança comercial brasileira registrou superávit de US$ 546 milhões na terceira semana de maio, com exportações de US$ 3,9 bilhões e importações de US$ 3,4 bilhões, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. No mês, a balança comercial acumula superávit de US$ 2 bilhões. No ano, o saldo está positivo em US$ 4,18 bilhões, com média por dia útil de US$ 43,6 milhões SETOR ENERGÉTICO Novo superintendente na Câmara de Comercialização de Energia Elétrica Luiz Eduardo Barata Ferreira, eleito o novo superintendente da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), assumirá seu cargo no dia 7 de junho. O executivo, ex-diretor de operações no Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), tem experiência de mais de 25 anos no setor elétrico, período em que exerceu cargos técnicos, de gestão e diretivos em empresas como Furnas, Itaipu Binacional, Eletrobras, ONS e a CCEE. Juliana Elias [email protected] A geração de energia a partir do bagaço de cana é um negó- cio que não tem por que não crescer no Brasil. Além de se tratar de uma fonte limpa e re- novável que pode aos poucos substituir o uso das térmicas movidas a combustíveis fós- seis, é ao mesmo tempo uma solução para os resíduos que sobram da produção de açúcar e álcool, depostos e queimados quando não aproveitados. Ainda assim, mais de dois terços de todo o bagaço produ- zido vai para o lixo. Se todo o resíduo que sobra da cana-de- açúcar utilizada hoje, ao ano, fosse aproveitado para geração de energia, haveria capacidade para fornecer 3,3 mil mega- watts — o equivalente a uma hidrelétrica de Jirau, do Rio Madeira (RO). Disto, no entan- to, serão gerados apenas mil megawatts, segunda a previsão para 2010 da União da Indús- tria de Cana-de-açúcar (Uni- ca). Os outros 2,3 mil mega- watts irão para o lixo junto com o restante dos resíduos. E isso leva em consideração ape- nas o que pode ser produzido em energia excedente, para ser vendida ao sistema. Já exclui o que as usinas utilizam para auto-consumo. “A maior parte das usinas de açúcar e álcool que geram energia hoje produzem 10 me- gawatts, que é o que conso- mem. Se aproveitassem todo o potencial que têm (a partir do bagaço que sobra de seu pro- cesso industrial), poderiam produzir até 50 megawatts, e vender os 40 excedentes”, di- mensiona o presidente da As- sociação da Indústria de Coge- ração de Energia (Cogen), Car- los Roberto Silvestrin. Além de renda extra para o usineiro, seria mais energia limpa entrando na matriz bra- Usineiros têm dificuldade de aumentar produção pelo custo da construção de linhas de transmissão O bagaço produzido hoje seria suficiente para fornecer 3,3 mil megawatts, equivalente a uma hidrelétrica de Jirau PROJEÇÃO Mais que uma Belo Monte em biomassa Mesmo com as dificuldades, a geração a partir da biomassa está crescendo rápido, colada às safras recordes destinadas ao etanol e a políticas de incentivos. A fonte, em 2008, passou a ter leilão próprio nas rodadas de venda de energia ao mercado promovidas pelo governo. No total, já vendeu 887 megawatts, e cadastrou outros 3,5 mil megawatts para a próxima rodada, agendada para agosto, referentes a projetos a entrarem em operação até 2013. E o potencial futuro é grande: com o incentivo pesado ao etanol, a previsão da Unica é que a colheita de cana mais que dobre em 10 anos. “Estamos moendo 600 milhões de toneladas ao ano. Em 2020, este volume deve chegar a 1,3 bilhão”, dimensionou o assessor de bioeletricidade da Unica, Zilmar Souza. Com este volume, há bagaço suficiente para gerar 13,1 mil megawatts — mais que a usina de Belo Monte (11,3 mil MW). “A meta é acrescentar 1.000 megawatts por ano, até ultrapassar os 10 mil em capacidade instalada em 2020”, disse Souza. J.E. Evandro Monteiro DISTRIBUIÇÃO Fontes de energia elétrica no brasil Fonte: Aneel Hidrelétricas 67,70% Termelétricas (gás, óleo e carvão) 17,23% Biomassa 5,60% Nuclear 1,70% Outros 7,80% T Fonte: Aneel TOTAL 116,7 gigawatts Geração de energia da cana só utiliza um terço do potencial Usina de açúcar e álcool da Cosan, em Piracicaba. Nas chaminés, ao fundo, é feita a cogeração

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14 Brasil Econômico Terça-feira, 25 de maio, 2010

BRASIL

sileira. Baseada historicamen-te nas hidrelétricas, que res-pondem por 67% de toda aenergia elétrica gerada nopaís, o Brasil já tem uma dasmatrizes mais limpas do mun-do. Em tempos de sustentabi-lidade, no entanto, seu desafioé reduzir a dependência queainda possui das termelétricasmovidas a combustível fóssil,como gás e diesel, que respon-dem por 15% do consumo. Asenergias de fontes alternati-vas, por outro lado, como bio-massa e eólica, embora este-jam ganhando espaço rápido,possuem ainda 5,6% de parti-cipação, sendo 4,2% advindada cana-de-açúcar.

A biomassa também tem avantagem competitiva de, vin-culada à indústria sucroalcoo-leira, concentrada em São Pauloe no Centro-Oeste, estar maispróxima aos grandes centros deconsumo do país — diferente-mente das novas hidrelétricasque, embora erguidas na regiãoNorte, têm praticamente todasua capacidade destinada aoSudeste, o que exige a constru-ção de linhas de transmissãoque chegam a ultrapassar 2 milquilômetros de extensão.

Por ironia, é justamente aíque está uma das maiores difi-culdades em ampliar o aprovei-tamento da cana como fonte deenergia. “Ao contrário das gran-des hidrelétricas, em que o cus-to das linhas de transmissão épago pelo sistema, no caso dasusinas de biomassa quem temque arcar é o investidor”, pon-tua Silvestrin. “Como estamosno centro-sul do país, no cora-ção do consumo, são distânciaspequenas, de 20 a 50 quilôme-tros, mas chegam a 30% do in-vestimento total”, explica. Nocaso das hidrelétricas do RioMadeira, em Porto Velho, e deBelo Monte, em Altamira (PA),as linhas chegam até a 2,4 milquilômetros e o custo foi diluídono preço final do megawatt. ■

COMÉRCIO

Superávit na balança comercial é deUS$ 546 milhões na terceira semana de maioA balança comercial brasileira registrou superávit de US$ 546 milhõesna terceira semana de maio, com exportações de US$ 3,9 bilhõese importações de US$ 3,4 bilhões, segundo o Ministério doDesenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. No mês, a balançacomercial acumula superávit de US$ 2 bilhões. No ano, o saldo estápositivo em US$ 4,18 bilhões, com média por dia útil de US$ 43,6 milhões

SETOR ENERGÉTICO

Novo superintendente na Câmarade Comercialização de Energia ElétricaLuiz Eduardo Barata Ferreira, eleito o novo superintendente da Câmarade Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), assumirá seu cargo no dia7 de junho. O executivo, ex-diretor de operações no Operador Nacionaldo Sistema Elétrico (ONS), tem experiência de mais de 25 anos no setorelétrico, período em que exerceu cargos técnicos, de gestão e diretivosem empresas como Furnas, Itaipu Binacional, Eletrobras, ONS e a CCEE.

Juliana [email protected]

A geração de energia a partirdo bagaço de cana é um negó-cio que não tem por que nãocrescer no Brasil. Além de setratar de uma fonte limpa e re-novável que pode aos poucossubstituir o uso das térmicasmovidas a combustíveis fós-seis, é ao mesmo tempo umasolução para os resíduos quesobram da produção de açúcare álcool, depostos e queimadosquando não aproveitados.

Ainda assim, mais de doisterços de todo o bagaço produ-zido vai para o lixo. Se todo oresíduo que sobra da cana-de-açúcar utilizada hoje, ao ano,fosse aproveitado para geraçãode energia, haveria capacidadepara fornecer 3,3 mil mega-watts — o equivalente a umahidrelétrica de Jirau, do RioMadeira (RO). Disto, no entan-to, serão gerados apenas milmegawatts, segunda a previsãopara 2010 da União da Indús-tria de Cana-de-açúcar (Uni-ca). Os outros 2,3 mil mega-watts irão para o lixo juntocom o restante dos resíduos. Eisso leva em consideração ape-nas o que pode ser produzidoem energia excedente, para servendida ao sistema. Já exclui oque as usinas utilizam paraauto-consumo.

“A maior parte das usinas deaçúcar e álcool que geramenergia hoje produzem 10 me-gawatts, que é o que conso-mem. Se aproveitassem todo opotencial que têm (a partir dobagaço que sobra de seu pro-cesso industrial), poderiamproduzir até 50 megawatts, evender os 40 excedentes”, di-mensiona o presidente da As-sociação da Indústria de Coge-ração de Energia (Cogen), Car-los Roberto Silvestrin.

Além de renda extra para ousineiro, seria mais energialimpa entrando na matriz bra-

Usineiros têm dificuldade de aumentar produção pelocusto da construção de linhas de transmissão

O bagaço produzidohoje seria suficientepara fornecer3,3 mil megawatts,equivalente a umahidrelétrica de Jirau

PROJEÇÃO

Mais que uma Belo Monte em biomassa

Mesmo com as dificuldades, ageração a partir da biomassa estácrescendo rápido, colada às safrasrecordes destinadas ao etanol e apolíticas de incentivos. A fonte, em2008, passou a ter leilão próprionas rodadas de venda de energia aomercado promovidas pelo governo.No total, já vendeu 887 megawatts,e cadastrou outros 3,5 milmegawatts para a próxima rodada,agendada para agosto, referentesa projetos a entrarem em operaçãoaté 2013. E o potencial futuro égrande: com o incentivo pesado ao

etanol, a previsão da Unica é quea colheita de cana mais que dobreem 10 anos. “Estamos moendo600 milhões de toneladas ao ano.Em 2020, este volume deve chegar a1,3 bilhão”, dimensionou o assessorde bioeletricidade da Unica, ZilmarSouza. Com este volume, há bagaçosuficiente para gerar 13,1 milmegawatts — mais que a usina deBelo Monte (11,3 mil MW). “A metaé acrescentar 1.000 megawattspor ano, até ultrapassaros 10 mil em capacidade instaladaem 2020”, disse Souza. J.E.

Evandro Monteiro

DISTRIBUIÇÃO

Fontes de energia elétrica no brasil

Fonte: Aneel

Hidrelétricas67,70%

Termelétricas (gás, óleo e carvão)

17,23%

Biomassa5,60%

Nuclear1,70%

Outros7,80%

T

Fonte: Aneel

TOTAL

116,7 gigawatts

Geração de energiada cana só utiliza umterço do potencial

Usina de açúcar eálcool da Cosan, em

Piracicaba. Naschaminés, ao fundo,é feita a cogeração

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Terça-feira, 25 de maio, 2010 Brasil Econômico 15

ACORDO ENERGÉTICO

Brasil e Peru assinam em junho acordo deintegração para construção de hidrelétricasBrasil e Peru assinam em junho acordo de integração energética que darábases legais para a construção de hidrelétricas em território peruanoe venda de energia nos dois países. A informação é do vice-ministrode Energia do Peru, Daniel Cámac, que esteve ontem no Rio. Segundo ele.“99,9%” do tratado já está pronto e definirá limite máximo de 6 mil MWpara obras bilaterais - a primeira usina, de 2 mil MW, já está em avaliação

CERTIDÃO

Nova campanha nacional pelo registro civilterá Ronaldo como garoto-propagandaA menos de um mês do início da Copa do Mundo, o craque Ronaldoreestreia campanha nacional em rádio e TV pelo registro civil e peladocumentação básica. Além do jogador, a cantora baiana MargarethMenezes participa da mobilização e canta o jingle da campanhada Secretaria de Direitos Humanos (SDH). Sem a certidãode nascimento, o cidadão não tem direito a outros documentos básicos.

Robson Fernandjes/AE

Álcool estará em 78% da frota em 2019Hoje 37% dos carros são flex,mas 95% dos veículos novos jápossuem a tecnologia

Enquanto a cana-de-açúcarainda procura consolidar seulugar ao sol como fonte deenergia elétrica, como com-bustível já é protagonista e nãohá pré-sal que desbanque o in-centivo ao uso do etanol noposto de gasolina.

A estimativa é que, em dezanos, a produção de álcool nopaís mais que dobre, segundo oPlano Descenal de Energia, ela-borado pelo Ministério de Minase Energia (MME) para o períodode 2009 a 2019 e aberto a consul-ta pública no início deste mês.Em 2009, foram produzidos 22,8bilhões de litros do combustível.

Em 2019, para se estar emcompasso com a demanda es-perada, deverão ser 52 bilhõesde litros, 130% a mais. Só nesteano, a alta na produção deveser de 27%, encerrando 2010com 29 bilhões de litros.

“O crescimento é muito rá-pido, porque o álcool conti-nua mais competitivo que agasolina, e a penetração decarros flex é muito forte”, ex-plica Maurício Tolmasquim,presidente da Empresa dePesquisa Energética (EPE),vinculada ao MME. Estestambém terão a frota quasedobrada no período em ques-tão: dos 23 milhões de veícu-los flex rodando atualmenteno país, o país saltaria para 40milhões em 2019. “Hoje (este

tipo de veículo) representa 37%da frota existente, e passará a78%”, de acordo com Tolmas-quim. “E quem tem carro flex,opta pelo etanol.”

O cálculo é feito com baseno ritmo com que os veículosflex fuel vêm ganhando espaçointernamente. Hoje, 95% dosautomóveis novos vendidos nopaís são flex – ou, mais preci-samente, toda a fabricaçãobrasileira. “Apenas os impor-tados não são, que respondempelos 5% restantes”, pontuaTolmasquim. É um salto bemgrande em relação a sete anosatrás, quando os primeiroscarros do gênero saíram daslojas. Naquele ano, a tecnolo-gia respondeu por apenas 4%das vendas. ■ J.E.

EM ALTA

Produção de etanol, em bilhões de litros

Fonte: PDE/ MME

20

30

40

50

60

2009 2019

22,8

52,4

“O crescimentoé rápido, pois o álcoolé mais competitivoque a gasolina, e apenetração de carrosflex é muito forte.E quem tem carro flexopta pelo etanol

Maurício Tolmasquim,presidente da EPE