Bioética e Reflexões sobre Espiritualidade

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A pessoa humana é profundamente complexa, no sentido de ser possuidora de uma considerável e rica gama de dimensões.

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São Paulo 2010

Bioética e reflexões sobre espiritualidade

Carlos Roberto de Oliveira Costa

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Copyright © 2010 by Editora Baraúna SE Ltda

CapaAF Capas

Projeto GráficoAline Benitez

Revisão Priscila Loiola

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

________________________________________________________________C87b Costa, Carlos Roberto de Oliveira Bioética e reflexões sobre espiritualidade / Carlos Roberto de Ol-iveira Costa. - São Paulo : Baraúna, 2010. ISBN 978-85-7923-216-9 1. Bioética. 2. Biologia - Aspectos religiosos. 3. Religião e ciência 4. Religião e ética. I. Título.

10-4484. CDD: 174.28 CDU: 174:57

09.09.10 23.09.10 021590

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O autor rejeita, de imediato, tudo o que contraria a Sã Doutrina da Santa Igreja Católica Apostólica Romana e a ela submete-se integralmente.

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Apresentação

É para mim uma grande honra o convite para apresentar o trabalho do mestre Carlos Roberto de Oliveira Costa, fruto de sua pesquisa de mestrado em Bioética a Universidade do Vale do Sapucaí (Pouso Alegre, MG), sob a douta orientação de seu Reitor, Prof. Dr. Virginio Cândido Tosta de Souza. Nos limites de texto de apresentação ouso fazer algumas reflexões a respeito do ressurgimento da espiritualidade neste início de século XXI. Isto servirá de um mapa-guia para que o caro leitor (a) seja introduzido na temática desta publicação.

Ao traçar uma radiografia da modernidade e pós-modernidade, o renomado teólogo italiano Bruno Forte (2003) diz que a época moderna coincide com o processo que vai do triunfo da “razão adulta”, caracterizada pelas maiores ambições, à experiência difusa da fragmentação do sem-sentido que se seguiu à queda dos horizontes da ideologia. O sonho que inspira os grandes processos de emancipação da época moderna empurra o homem mo-derno a querer uma realidade totalmente iluminada pelo conceito, na qual se expresse o poder da razão.

A realidade deve inclinar-se sob o poder do pensa-mento. Se a razão iluminada pretende explicar tudo, a pós-modernidade se oferece como o tempo que está para

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além da totalidade luminosa da ideologia, tempo pós-ide-ológico. Se para a razão adulta tudo tinha sentido, para o pensamento débil da condição pós-moderna já nada mais parece ter sentido. A crise de sentido passa a ser a característica peculiar da pós-modernidade.

Neste tempo de pobreza, que, como observa Martin Heidegger (2006), “é noite no mundo”, não por causa da falta de Deus, mas porque os homens já não sofrem com essa falta, a doença mortal é a indiferença, a perda do gosto por procurar as razões últimas pelas quais valha a pena viver e morrer, a falta de “paixão pela verdade”, exis-tem alguns sinais de esperança. Existe uma procura do sentido perdido. Não se trata de um mero saudosismo, mas de um esforço de reencontrar o sentido para além do naufrágio, de reconhecer um horizonte último sobre o qual medir o caminho daquilo que é penúltimo.

Eis algumas implicações desta procura do sentido perdido: em primeiro lugar, a redescoberta do outro. O próximo, pelo simples fato de existir é razão do viver e do viver juntos, porque o desafio é o sair de si, a viver o êxo-do sem retorno do compromisso pelos outros, do amor. Em segundo lugar, o assinalar de uma renovada “nos-talgia do Totalmente Outro”. Para Horkheimer (2002), uma espécie de redescoberta do último: desperta-se uma necessidade que se poderia definir como religiosa, neces-sidade de alicerces, de sentido, de horizonte último, de uma pátria final que não seja aquela sedutora, manipu-ladora e violenta da ideologia. Reacende-se a sede de um horizonte de sentido pessoal, capaz de fundar a relação ética como uma relação de amor.

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Neste início do século XXI, quando tudo aparentemen-te convergia para o silêncio da religião, eis que esta explode com uma força nunca imaginada, em expressões plurais e ori-ginais. Agora tudo é religião! Estamos cansados dos profetas da morte da religião, que, sob diversos sentidos, repetiram a frase hegel-nietzscheniana de que “Deus morreu”. O ilumi-nismo considerava a religião e os tempos medievais com o desprezo com que a luz olha para a escuridão, a inteligência para o obscurantismo, a razão para os mitos, a consciência para a sonolência alienada, a crítica adolescente para a pieda-de infantil. O que sobrou de todo esse embate no momento atual? O que acontece com este sujeito pós-moderno, que mistura ateísmo com religião, conjuga fé com superstição, goza hedonisticamente do gosto místico do transcendente e que deixa os sociólogos da religião desarmados?

O ressurgimento do fenômeno religioso neste início de milênio não deixa de ser surpreendente. O itinerário teológico de Harvey Cox (1968) reflete muito bem a mu-dança do secular para o religioso em seu livro The Secular City, que ganhou notoriedade mundial com inúmeras tra-duções. Trata-se de um texto programático do fenômeno da secularização. Antes de terminar o milênio, Cox (2001) escreveu outro texto no polo oposto: Fire from Heaven: the Pentecostal Spirituality and the reshaping of religion in the twenty-first century – “Fogo do céu: a espiritualidade pente-costal e a reconfiguração da religião no século XXI”. Vemos a relevância da religião depois do longo período de margina-lização, a que a submeteu a razão iluminista.

Um dos ditos mais recorrentes vem do teólogo ale-mão Rahner (1998): “Já se disse que o cristão do futuro ou

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será um místico ou não o será”. Para não confundirmos “mística”, Rahner citado em Vernette (1999) acrescenta: “Desde que não se entendam por mística, fenômenos parap-sicológicos raros, mas uma experiência de Deus autêntica que brota do interior da existência. Pois esta frase é real-mente correta e se tornará na sua verdade e no seu peso mais claramente a espiritualidade do futuro”.

Um testemunho interessante que soa até estranho é o do literato francês André Malraux. Aqui não se trata de ne-nhum teólogo, mas de alguém que lutou entre a escuridão do agnosticismo e os lampejos de esperança no ser huma-no. Em sua juventude, Malraux recusara terminantemente aderir à fé cristã; via nela um apaziguamento a que não aspirava. Em vez da fé tranquilizante, solução de conveni-ência, preferia a ávida lucidez. Levantou-se a pergunta do absurdo, embora não tenha aderido à resposta niilista. Lu-tando ao lado de muitos sistemas, não aderiu a nenhum.

Percebia que o século XX entrara em terrível crise es-piritual. Ironicamente perguntava: “Para que ir à lua, se é para suicidar-se lá!”. Aos 26 anos, escrevia: “Nossa civiliza-ção, desde que perdeu a esperança de encontrar nas ciências o sentido do mundo, viu-se privada de todo fim espiritual”. A ele foi atribuída a afirmação de que “O século XXI será o mais religioso da história”. Malraux, citado em Le Point, 10 nov.1975, afirma ainda o mais incerto: “Não excluo a possibilidade de um evento espiritual em escala planetária. “O problema capital do fim do século será o problema reli-gioso”. (Malraux citado em Preuves, mar. 1955). “Trata-se exatamente de reintegrar os deuses em face da mais terrível ameaça que a humanidade jamais conheceu” (Malraux ci-

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tado em L´express, 21 mar. 1991). André Frossard teste-munha: “Em seu escritório, Malraux me confiou: este próxi-mo século será místico ou não será. Para ele como para mim, o estado místico é o que permite ter acesso direto a Deus pela experiência” (Paris Match, 29 ago. 1991).

Leonardo Boff, teólogo brasileiro de renome inter-nacional, que tem escrito muito sobre esta temática, as-sinala que talvez uma das transformações culturais mais importantes no século XXI será a volta da dimensão es-piritual na vida humana. Diz Boff (2003): “O século XXI será um século espiritual que valorizará os muitos caminhos espirituais e religiosos da humanidade ou criará novos. Esta espiritualidade ajudará a humanidade a ser mais co-respon-sável com seu destino e com o destino da Terra, mais reveren-te diante do mistério do mundo e mais solidária para com aqueles que sofrem.”

Ainda em Boff, encontramos: “talvez uma das trans-formações culturais mais importantes do século XXI seja a volta da dimensão espiritual da vida humana. O ser humano não é somente corpo, parte do universo material. Não é também apenas psique, expressão da complexidade da vida que se sente a si mesma, torna-se consciente e responsável. O ser humano é também espírito, aquele momento da consciência no qual ele se sente parcela do Todo, ligado e re-ligado a todas as coisas. É próprio do espírito colocar questões radicais sobre nossa origem e nosso destino e se perguntar nosso lugar e pela nossa missão no conjunto dos seres do universo. Pelo espírito, o ser humano decifra o sentido da seta do tempo ascendente e se inclina reve-rente, face àquele mistério que tudo coloca em marcha. Ouso chamá-lo por mil nomes ou simplesmente Deus” (L. BOFF,

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Ethos Mundial: um consenso mínimo entre os humanos. Rio de Janeiro: Sextante, 2003.

Aliando o clima de início de um novo século, que busca revalorizar a dimensão espiritual da vida humana, o aprofundamento da relação entre saúde e religiões destaca-se como de suma importância. Entendemos aqui religião na sua essência de espiritualidade e não a partir de expres-sões “concretas” atribuídas ao longo da história humana, que tem variado significativamente no correr do tempo. Neste sentido, a espiritualidade e a mística são as grandes gestoras da esperança, dos grandes sonhos, de um futuro transcendente do ser humano e do universo. Reafirmam o futuro da vida, contra a violência cruel da morte.

Ao parabenizarmos o autor da presente obra por tocar num tema deste quilate, que procura refletir sobre questões que sempre acompanham nossas indagações (de onde vie-mos? Para onde vamos? Qual o sentido de nossas vidas? Do Universo? Que podemos esperar para além desta vida?), fazemos votos que esta reflexão sobre Bioética e Espiritua-lidade tenha uma ampla acolhida e seja também um fator de construção de uma sociedade mais fraterna, equânime e sintonizada com a realização do ser humano.

Prof. Dr. Leo PessiniProfessor Doutor no programa de pós-graduação (mestrado e

doutorado do Centro Universitário São Camilo - SP)

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Prefácio

A sociedade contemporânea, denominada por al-guns de pós-modernidade, apresenta como paradigma fundamental um avanço científico e tecnológico impen-sável há pouco mais de meio século.

As ciências biomédicas aliadas à tecnologia per-mitem manipular o ser humano em todas as fron-teiras da vida, surgindo questões éticas que vão de encontro aos valores profundos do ser humano, que é a sua espiritualidade.

No momento em que exercemos uma reflexão inte-rior diante da racionalidade lógica da sociedade que nos circunda, estamos em busca de decisões éticas que define a nossa posição como pessoa humana.

Quando assumo um compromisso ético com a dig-nidade do ser humano naquilo que há de mais nobre, que é a vida, estou também estabelecendo uma interde-pendência com o meio ambiente que me cerca. É esta pluralidade de valores em defesa da vida que identifica a Bioética, que nada mais é que um neologismo da ética criado pelo oncologista Van Renssealer Potter em 1970 na Universidade de Wisconsin (USA).

Qualquer área do conhecimento que aborda a ética

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em defesa da vida no que concerne ao indivíduo, a socie-dade e ao meio ambiente é bioética.

Qualquer ação que valoriza a interioridade do ser humano em oposição à superficialidade efêmera da socie-dade é espiritualidade.

Este é o valor e o objetivo da proposta em tela do professor Carlos Roberto de Oliveira Costa.

Prof. Dr. Virgínio Cândido Tosta de SouzaReitor da Univás

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Considerações iniciais

A pessoa humana possui uma considerável e rica gama de dimensões, entre as quais podem ser citadas as seguintes: a sensitiva, a intelectiva, a volitiva, a liberta-dora, a cultural, a religiosa, a do amor, a da linguagem, a do trabalho, a do jogo, a da sexualidade e a espiritual. Nesta obra, contempla-se a dimensão espiritual da pessoa na ótica da Bioética. Apresentamos o resultado de uma pesquisa realizada em nível de mestrado em Bioética.

A espiritualidade, seus significados e sua contri-buição para a vida das pessoas é a temática abordada. Foram entrevistados 30 líderes religiosos cristãos, os quais foram indagados acerca de questões relacionadas à espiritualidade. O método utilizado foi o Discurso do Sujeito Coletivo (DSC), que faz parte da Teoria das Re-presentações Sociais.

A Bioética trata das questões cruciais em relação à vida. Ora, ao considerarmos a complexidade da vida hu-mana, é fundamental discutirmos as questões relaciona-das à vivência espiritual da pessoa humana. A espiritua-lidade, um tema de fronteira, debatido pelos filósofos e pelos teólogos, é, recentemente, um tema abordado pelos mais variados pesquisadores, tanto das ciências da saúde

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quanto das ciências humanas. Este trabalho, cujo funda-mento bioético é a pessoa humana e cujo paradigma é a espiritualidade, apresenta-se como uma singela contri-buição científica diante da grandiosidade da temática.

O Autor.

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Dedicatória

À minha querida esposa Gislene, pelos sonhos realiza-dos e a serem realizados, pelo companheirismo, compreen-são e pelo amor que me tem dedicado ao longo dos anos de nossa convivência, fidelidade, perseverança e solidariedade.

Aos meus queridos filhos, sem dúvida os dons mais excelentes de nosso matrimônio, Carlos José, Gisele Maria, (...), Carlos Felipe, Carlos Eduardo, Graciela Maria, Carlos Antônio, Carlos Gabriel, Gabriela Ma-ria, Giuliana Maria, Carlos Roberto. Muito obrigado por existirem e por serem quem são...

Ao meu querido pai José, in memorian, pela sua re-ligiosidade, firmeza e docilidade.

À minha querida mãe Santa Inácia, pela sua auten-ticidade, caridade e dedicação.

Aos meus irmãos Fernando, Vera Lúcia e André Luís, e suas famílias.

Aos meus amigos, Padre Adelmo, Padre Renato, Renan, César, Rafael, Marcelo, Renato, Maria Zilda, José Vitor, Elias e tantos outros, e suas famílias.