Biofísica - Universidade de São Paulo | Escola Superior ... · A principal função da membrana...

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do

Jr.

Biofísica

Membrana celular

Prof. Dr. Walter F. de Azevedo Jr.

1

Como é a estrutura da membrana celular?

Como funcionam os venenos de vespas?

Como funcionam os venenos de serpentes?

O que é o potencial de membrana?

Fonte: http://www.kurzweilai.net/ azevedolab.net 2

Membrana

celular

Interação com

a membrana

Bomba de

Na+ / K+

Testes

clínicos Material

adicional

azevedolab.net 3

A principal função da membrana celular é

manter moléculas, tão diversas como

proteínas e pequenos solutos, no interior

da célula. A membrana funciona para

regular seletivamente sua permeabilidade,

ou seja, a facilidade com a qual moléculas

e íons atravessam a membrana. O

estudo da composição da membrana faz

uso de diversas técnicas e metodologias

físicas, discutiremos a seguir os principais

modelos da membrana e iniciaremos o

estudo de fenômenos elétricos na célula.

No livro de Oparin, “A Origem da Vida”,

ele propôs que para qualquer forma de

vida é necessária a presença de uma

barreira, que separe a parte “viva” do

meio que a cerca. Esse trabalho destaca

a necessidade de uma membrana para

isolar, até mesmo as formas de vida mais

simples, do meio exterior.

Modelo computacional da bicamada fosfolipídica

da membrana celular.

4

O modelo de bicamada lipídica para

membrana celular foi proposto

originalmente por Gorter & Grendel em

1925, o estudo de eritrócitos indicou que o

conteúdo lipídico das membranas

ocupava uma área duas vezes maior que

a superfície da célula. Nesse estudo os

autores detalhavam a retirada dos lipídios

das membranas dos eritrócitos, usando-

se acetona como solvente. A solução,

contendo lipídio, foi colocada numa cuba

com água. A área total ocupada pelo

lipídio foi determinada usando-se uma

barreira móvel inserida na cuba, tal

barreira agregava toda superfície onde

estava o lipídio, como mostrado no

diagrama esquemático ao lado.

Água

Monocamada lipídica

Balança

Superfície

sem filme

Flutuadores

Cuba

Cuba para experimentos com filmes de monocamada lipídica

5

A monocamada lipídica é formada por

fosfolipídios. Cada um apresenta uma

cabeça polar (esfera azul), que fica em

contato com a água, e duas caudas

hidrofóbicas, que não entram em contato

com a água. A área total do filme de

lipídio, sobre a superfície da água, foi

determinado com sendo

aproximadamente igual ao dobro da área

do eritrócito. Tal observação levou à

hipótese da bicamada lipídica (indicada

abaixo), com uma parte polar voltada para

os meios intracelular e extracelular e a

parte hidrofóbica voltada para o interior da

membrana, escondida do solvente.

Podemos pensar na bicamada lipídica

como um cobertor dobrado, com as

caudas hidrofóbicas no meio do cobertor,

e as cabeças polares formando a parte

externa.

Água

Monocamada lipídica

Balança

Superfície

sem filme

Flutuadores

Cuba

Cuba para experimentos com filmes de monocamada lipídica

Bicamada lipídica

Cabeças

polares Caudas

hidrofóbicas

6

Modelo de Robertson (1957).

Posteriormente Schmitt e colaboradores,

a partir de estudos de polarização da luz,

propuseram que eritrócitos apresentavam

lipídios perpendiculares ao plano da

membrana, como espera-se de uma

bicamada (Schmitt et al., 1937, 1938).

Outros cientistas identificaram a presença

de proteínas nas membranas celulares

(Danielli & Davson, 1935), com a

participação protéica estendendo-se até

60 % da membrana. Baseado nessas

informações, Robertson (1957, 1981)

propôs que as proteínas estivessem

distribuídas sobre a superfície da

membrana.

Referências:

Danielli, J. F. & Davson, H. (1935). J. Cell. Comp. Physiol., 5:495-508.

Robertson, J. D. (1957). J. Biophys. Biochem. Cytol., 3:1043-1048.

Robertson, J. D. (1981). J. Cell Biol. 91(3 Pt 2):189s-204s. Review.

Schmitt, F. O., R. S. Bear, and E. Ponder. (1937) . J. Cell. Comp. Physiol 9: 89-92.

Schmitt, F. O., R. S. Bear, and E. Ponder. (1938) . J. Cell. Comp . Physiol. 11 :309-313.

Proteína

globular

Bicamada

lipídica

Modelo de Robertson para membrana celular

7

O modelo de Robertson era coerente com

a informação sobre a presença de

proteínas nas membranas, bem como

com a presença da bicamada lipídica,

contudo falhava ao colocar proteínas

globulares na superfície da membrana de

forma contínua. A presença de uma

camada de proteína na membrana celular

forma uma blindagem na superfície, o que

dificulta a comunicação entre os meios

intracelular e extracelular. O modelo não é

satisfatório, pois não explica a

permeabilidade da membrana celular.

Proteína

globular

Bicamada

lipídica

Modelo de Robertson para membrana celular

Referências:

Robertson, J. D. (1957). J. Biophys. Biochem. Cytol., 3:1043-1048.

Robertson, J. D. (1981). J. Cell Biol. 91(3 Pt 2):189s-204s. Review.

8

Proteína intrínseca, ou

transmembrana

Proteína extrínseca

O modelo de mosaico fluido indica duas proteínas inseridas

na bicamada lipídica (elipsóides cinzas). A proteína da

esquerda é uma proteína extrínseca e a da direita uma

proteína intrínseca. Os fosfolipídios são indicados com a

cabeça polar em preto e a cauda hidrofóbica pelas linhas que

saem da esfera preta.

Referência : Singer SJ, Nicolson GL. Science. 1972 ;175(23):720-

31.

Modelo de mosaico fluido. Experimentos

mais detalhados mostraram deficiências

nos diversos modelos de membrana. Em

1972 Singer e Nicolson propuseram um

novo modelo para a membrana, chamado

de modelo de mosaico fluido. Nesse

modelo temos a bicamada lipídica, onde

encontram-se inseridas proteínas. O

modelo prevê duas formas de proteínas

inseridas na membrana, uma que

atravessa toda a membrana, chamada

proteína intrínseca, ou transmembranar. A

segunda forma de proteína localiza-se

sobre a membrana, sendo encontrada

tanto no exterior como voltada para o

citoplasma. Tal forma de proteína é

chamada extrínseca.

9

Representação artística da membrana celular, com a bicamada fosfolipídica e as proteínas extrínsecas e intrínsecas.

Fonte da imagem: http://www.sciencephoto.com/media/95226/enlarge

Acessada em 20/03/2012

Proteína extrínseca

O modelo de mosaico fluido prevê a passagem seletiva de íons pelas proteínas

intrínsecas, que são chamadas de canais ou bombas, como veremos no estudo do

potencial de membrana. Outra característica do modelo é liberdade de movimentação

das proteínas na bicamada lipídica. De acordo com características básicas do modelo,

mosaicismo e difusão, previu-se a liberdade lateral e rotatória, assim como a

distribuição aleatória de componentes moleculares na membrana celular.

Proteína intrínseca

10

CH2 CH CH2 O P O X

O

O-O

C

R1

O

O

C

R2

O

Biomembranas são baseadas

principalmente em lipídios, com

predominância de fosfolipídios. A estrutura

química geral de uma molécula de

fosfolipídio é mostrada ao lado (figura a).

Tal molécula é basicamente um glicerol

(figura b), sobre a qual foram ligadas as

cadeias de ácidos graxos (R1 e R2). O

grupo fosfato permite a ligação de

qualquer molécula, designada na figura

por pelo grupo X. Um dos ácidos graxos

típicos, encontrados nos fosfolipídios, é

chamado ácido palmítico (figura c) .

a)

b)

HO CH2 C CH2 OH

OH

H

Fosfolipídio

c) Glicerol

Ácido palmítico

11

A molécula de ácido palmítico (ou ácido

hexadecanóico) apresenta 16 carbonos e

31 hidrogênios. Tal ácido graxo é dito

saturado, pois apresenta o maior número

de possível de hidrogênios ligados. A

presença de ligações duplas na cadeia de

ácido graxo indica que o mesmo é não

saturado. As duas cadeias R1 e R2 não

precisam ser homogêneas, ou seja,

podem apresentar cadeias de tamanhos

distintos. Nos fosfolipídios, uma parte da

molécula é polar, a cabeça hidrofílica, e a

parte apolar é composta pelas duas

cadeias de ácidos graxos. O diagrama

esquemático ao lado ilustra uma molécula

de fosfolipídio. Moléculas que apresentam

parte polar e parte hidrofóbica são

chamadas anfipáticas. Na figura da

abaixo temos a representação CPK do

fosfolipídio.

Cabeça polar

Caudas hidrofóbicas

Caudas hidrofóbicas

Cabeça polar

12

Diversos modelos computacionais de

biomembranas foram construídos e

submetidos à simulação de dinâmica

molecular. Na dinâmica molecular,

aspectos sobre a mobilidade dos sistemas

moleculares são simulados, de forma que

a interação da bicamada fosfolipídica com

moléculas de água pode ser verificada.

Tais modelos usam diferentes

componentes para a formação da

bicamada, no exemplo ao lado foram

usadas de moléculas de 1-palmitoil-2-

oleoil-sn-glicerol-3-fosfatidilcolina,

formando uma caixa retangular, onde

temos moléculas de água interagindo com

a parte polar da bicamada. No modelo

computacional, vemos claramente que as

caudas hidrofóbicas não interagem com

as moléculas d’água.

Hid

rofílic

a H

idro

fóbic

a H

idro

fílic

a

Modelo computacional da membrana

Diagrama esquemático da membrana

Hid

rofílic

a H

idro

fóbic

a H

idro

fílic

a

13

Podemos pensar que o modelo

computacional representa um fatia da

membrana celular, sem a presença de

proteínas. É como se tivéssemos cortado

uma fatia em formato de cubo da

biomembrana. Na simulação

computacional da membrana, as

moléculas de água posicionam-se nas

regiões polares, como era de se esperar. A

vantagem da simulação computacional é

que uma vez confirmada a capacidade de

simulação de aspectos conhecidos, como

a interação com água, podemos adicionar

moléculas aos sistemas e prever seu

comportamento. Por exemplo, podemos

prever qual o comportamento de fármacos

com a bicamada. Tal simulação é de

interesse no desenvolvimento de

fármacos, visto que para que possam agir

a maioria dos fármacos têm que

atravessar a membrana.

Hid

rofílic

a H

idro

fóbic

a H

idro

fílic

a

Modelo computacional da membrana

Diagrama esquemático da membrana

Hid

rofílic

a H

idro

fóbic

a H

idro

fílic

a

14

As estruturas de proteínas

transmembranares indicaram que átomos

da cadeia principal tinham que participar

ligações de hidrogênio, protegendo-se do

contato com as cadeias polares da

membrana. Uma estrutura secundária de

proteína, com características de proteger

os átomos da cadeia principal de

participarem de ligações de hidrogênio, é

a hélice alfa, mostrada ao lado.

Peptídeo de 14 resíduos de aminoácidos, destacando

as cadeias laterais na figura da esquerda, que estão

expostas ao solvente, na direita um diagrama

esquemático da hélice alfa do mesmo peptídeo.

15

Como exemplo de proteína

transmembranar, temos o complexo

proteico, centro de reação fotossintético

da bactéria púrpura R. viridis, que é o

local da etapa inicial da captura de

energia luminosa na fotossíntese. Tal

complexo proteico é composto de quatro

cadeias polipeptídicas (tetrâmero),

indicadas na figura ao lado, nas cores

azul, vermelha, cinza e dourado. Há

também quatorze cofatores de baixo peso

molecular, indicados em amarelo. Entres

os cofatores temos cromóforos, que

absorvem a energia de excitação, que é

convertida em potencial eletroquímico,

através da membrana.

Referência: Deisenhofer, J. & Michel, H. (1989) EMBO J.

8:2149-2170.

16

Nesta representação, os resíduos de

aminoácidos hidrofóbicos estão em cinza,

os polares em verde, os ácidos em

vermelho e os básicos em azul. Átomos

pertencentes aos cofatores estão em

ciano. Vemos claramente uma

heterogeneidade na distribuição de

cargas na superfície das proteínas. No

centro temos uma região

preponderantemente hidrofóbica, e nas

partes superior e inferior uma

concentração de resíduos de aminoácidos

carregados e polares, o que caracteriza

uma região hidrofílica.

Referência: Deisenhofer, J. & Michel, H. (1989) EMBO J.

8:2149-2170.

132 Å

72 Å

Hid

rofí

lica

Hid

rofó

bic

a

Hid

rofí

lica

17

A representação à direita indica os

elementos de estrutura secundária,

notadamente: hélices alfa, fitas beta e

regiões de alças, conectando as hélices e

fitas. As cadeias L e M (estruturas do

meio) apresentam preponderantemente

hélices, enquanto o citocromo (estrutura

de cima) e a cadeia H (estrutura da parte

debaixo) apresentam outros elementos de

estrutura secundária.

Observação: As coordenadas atômicas

usadas para representar a estrutura do

centro de reação fotossintético estão

depositadas no banco de dados de

estruturas PDB (Protein Data Bank), com

código de acesso: 1PRC. O endereço do

PDB é www.rcsb.org/pdb .

Cadeia H

Cadeia M Cadeia L

Citocromo

18

Citoplasma

Interação das cadeias L e M (vermelho e cinza) do

centro de reação fotossintético com a bicamada lipídica.

Hélice alfa é a estrutura secundária

comumente encontrada em segmentos

transmembranares de proteínas de

membranas. Normalmente temos a

combinação de vários segmentos de

hélice, formando feixes de hélices

transmembranares, como nas estruturas

das cadeias L e M da estrutura do

centro de reação fotossintético mostrada

ao lado. A partir da análise da estrutura

do centro de reação fotossintético,

podemos propor um modelo para

interação da proteína com a membrana.

No modelo temos que a parte

hidrofóbica, formada por hélices alfa,

interage com a membrana celular,

conforme indicado no diagrama

esquemático ao lado.

Meio extracelular

19

Muitas das proteínas, que interagem com

a membrana celular, apresentam regiões

em hélice alfa. Para entendermos esta

interação proteína-membrana, vamos

olhar alguns detalhes da estrutura da

hélice alfa. Uma hélice alfa, como

mostrada na figura a, tem as cadeias

laterais apontando para fora da hélice

(indicadas com setas). Tal hélice alfa pode

ser representada como um cilindro (figura

b). Nas figuras c e d temos a visão de

cima de cada uma das representações da

hélice alfa. As visões facilitam a

identificação das regiões hidrofóbicas e

hidrofílicas das hélices alfa, como nas

figuras c e d.

a) b)

c) d)

Cadeias laterais

Cadeias laterais

20

Nas estruturas de feixes de hélices

transmembranares, verifica-se que a parte

da hélice, que toca os lipídios, é

relativamente mais hidrofóbica que a

parte que participa do contato hélice-

hélice. No diagrama esquemático à

direita, temos um feixe de 4 hélices (figura

b), onde vemos que a região entre as

hélices é mais hidrofílica que a região em

contato com a bicamada lipídica. A região

das hélices alfa, em contato com as

caudas hidrofóbicas da bicamada

fosfolipídica, estão indicadas por setas.

a) Hélice transmembranar

b) 4 hélices transmembranares

Superfície mais hidrofóbica

Superfície mais hidrofílica 21

Outra estrutura possível, para proteínas

transmembranares, é a folha beta. Um

arranjo onde a folha beta fecha-se sobre

si forma um arranjo similar a um barril,

sendo denominado barril beta. A estrutura

em barril proporciona as características

físico-químicas desejáveis para uma

proteína transmembranar, tal como

blindagem dos átomos da cadeia principal

que participam de ligações de hidrogênio.

A figura ao lado mostra a estrutura de

uma porina. As porinas criam canais na

membrana permitindo a passagem de

moléculas de baixa massa molecular

(inferior a 700 D), tais como molécuolas

de água, íons, glucose e outros

nutrientes.

Barril beta da porina de Rhodopseudomonas blastica.

Código de acesso PDB: 8PRN

22

Toxinas da vespa solitária Anterhynchium

flavormarginatum micado. Essa vespa

injeta seu veneno em lagartas e deposita

seus ovos próximos à vítima. Devido à

ação tóxica de seu veneno, a lagarta fica

paralisada, mas viva. Ao eclodirem, as

jovens vespas terão um banquete fresco e

vivo. Tal comportamento indicou que o

veneno da A. flavormarginatum micado,

poderia ser uma fonte rica de moléculas

com atividades antimicrobianas. Podemos

imaginar o veneno das vespas como um

coquetel de moléculas. A questão é: qual

ou quais moléculas apresentam as

atividades biológicas de interesse? Foto: Cortesia do Dr. K. Konno.

23

Referência: Sforça, M. L., Oyama, S. Jr., Canduri, F., Lorenzi,

C. C., Pertinhez, T. A., Konno, K., Souza, B. M., Palma, M. S.,

Ruggiero Neto, J., Azevedo, W. F. Jr., Spisni, A. (2004).

Biochemistry 43:5608-5617.

Foto: Cortesia do Dr. K. Konno.

Mastoparanos são peptídeos isolados em

vespas e abelhas, muitos deles

apresentam atividade biológicas, tais

como, degranulação de mastócitos,

atividades antimicrobiana e hemolítica.

Essas moléculas atuam principalmente na

membrana celular, provavelmente

rompendo a integridade da bicamada

lipídica. O mastoparano, identificado no

veneno da A. flavormarginatum micado

(EMP-AF), apresenta atividade hemolítica

e de degranulação de mastócitos (Sforça

et al., 2004).

24

Abaixo temos as estruturas primárias (sequência de resíduos de aminoácidos) de um

mastoparano típico e do EMP-AF, os resíduos Asn, Lys e Ser são polares. Ambos

peptídeos apresentam 14 resíduos de aminoácido. Uma das características de tais

peptídeos é que eles apresentam o terminal C amidado, como pode ser visto no final

da estrutura primária. A numeração acima da sequência indica o número do resíduo de

aminoácido. As sequências são indicadas com o código de três letras, com o código de

uma letra entre parênteses abaixo do código de três letras.

Referência: Sforça, M. L., Oyama, S. Jr., Canduri, F., Lorenzi, C. C., Pertinhez, T. A., Konno, K., Souza, B. M., Palma, M. S.,

Ruggiero Neto, J., Azevedo, W. F. Jr., Spisni, A. (2004). Biochemistry 43:5608-5617.

Mastoparano típico

EMP-AF

25

Abaixo temos as estruturas secundárias de um mastoparano típico e do EMP-AF, os

resíduos de asparagina Asn (N) e serina Ser (S) são indicados em rosa. Os resíduos

de lisina Lys (K) indicados em vermelho. Os peptídeos apresentam estrutura em hélice

alfa, com o resíduos polares de um lado da hélice e resíduos apolares do lado oposto,

o que dá um caráter anfipático ao peptídeo.

Referência: Sforça, M. L., Oyama, S. Jr., Canduri, F., Lorenzi, C. C., Pertinhez, T. A., Konno, K., Souza, B. M., Palma, M. S.,

Ruggiero Neto, J., Azevedo, W. F. Jr., Spisni, A. (2004). Biochemistry 43:5608-5617.

Mastoparano típico EMP-AF

26

Toxinas da vespa solitária Anoplius

samariensis. Essa vesta injeta seu

veneno em aranhas e deposita seus ovos

próximos à vítima, da mesma forma que a

A. flavormarginatum micado. A ação

tóxica de seu veneno paralisa a aranha,

que será comida viva pelas vespas ao

eclodirem.

Referência: Konno, K., Hisada, M., Fontana, R., Lorenzi, C. C., Naoki, H., Itagaki, Y., Miwa, A., Kawai, N., Nakata, Y.,

Yasuhara, T., Ruggiero Neto, J., de Azevedo, W. F. Jr., Palma, M. S., Nakajima, T. (2001). Bioch. Biophys. Acta. 1550:70-80.

Foto: Cortesia do Dr. K. Konno.

27

Anoplin. O veneno da A. samariensis é

uma possível fonte de moléculas com

atividades biológicas. O peptídeo Anoplin,

um decapeptídeo (10 resíduos de

aminoácido) com o terminal C amidado e

sequência, GLLKRIKTLL, foi identificado

no veneno da A. samariensis. Testes de

atividade biológica mostraram ação

antimicrobiana desse peptídeo, sendo o

menor peptídeo que se tem notícia a

apresentar tal ação. A versão com o

terminal C não-amidado apresenta

atividade antimicrobiana reduzida, quando

comparada com o Anoplin-NH2. Tal

observação pode ser usada como guia

para o desenho de peptídeos

antimicrobianos, visto que a atividade está

relacionada com a presença do grupo

amida no terminal C.

Foto: Cortesia do Dr. K. Konno.

28

A membrana apresenta uma bicamada de aproximadamente 60 Å de espessura, o que

possibilita que proteínas, como os canais iônicos, atravessem a membrana, contudo

peptídeos, como os mastoparanos e o anoplin, possuem comprimento de 21 e 15 Å,

respectivamente, não permitindo que esses peptídeos atravessem a membrana

isoladamente. Resta a questão sobre a forma de ação desses peptídeos, visto que

evidências experimentais indicam que os mesmos atuem na membrana,

desestabilizando-a. Abaixo temos uma visão em escala dos peptídeos e da bicamada.

60

Å Mastoparano EMP-AF

Anoplin

21

Å

15

Å

Bicamada lipídica 29

Uma possível forma de ação dos peptídeos, é por meio do desmonte da camada

externa da membrana, o que levaria à sua desestruturação e consequente quebra da

membrana celular. A interação do peptídeo com a membrana é um fenômeno

complexo, que não é possível acessarmos a partir exclusivamente da estrutura 3D.

Contudo, baseado nas estruturas 3D dos peptídeos e da membrana, foi possível

propor diversos modelos para interação do peptídeo mastoparano com a membrana.

Um dos modelos propõe que esta interação é um processo de diversas etapas

(indicadas abaixo e no esquema do slide seguinte).

1) Ancoragem do peptídeo na membrana celular;

2) Início da desestabilização da membrana celular;

3) Início da desmontagem da primeira camada lipídica;

4) Início da desmontagem da segunda camada lipídica;

5) Desmontagem da bicamada lipídica;

6) Fluxo de substâncias para o interior e exterior da célula leva à morte da célula.

30

~60 Å

~60 Å

~60 Å

~60 Å

~60 Å

~6

0 Å

1) 2)

3) 4)

5) 6)

31

Fosfolipase A2 de venenos de

serpentes. Venenos de serpentes podem

ser pensados como coquetéis de

proteínas e peptídeos, que apresentam

um vasto espectro de atividades

biológicas, entre elas muitas de interesse

farmacológico. Há dois objetivos

principais nos estudos dos componentes

dos venenos de serpentes. Um focado

nos soros e possíveis inibidores para os

acidentes ofídicos, que ainda ocorrem no

Brasil e no resto do mundo. Outro foco

está centrado nas propriedades

farmacêuticas dos componentes dos

venenos.

Fonte da imagem: http://www.cobrasbrasileiras.com.br/bothrops_jararacussu.html

Acessado em 19/03/2012 32

Entre as proteínas, identificadas nos

venenos, destacam-se as

metaloproteases e as fosfolipases A2

(discutidas aqui). As fosfolipases A2 são

enzimas que catalisam a clivagem de

fosfolipídios, componentes da membrana.

Tal enzima foi intensivamente estudada e

está presente no veneno de diversas

serpentes. Entres suas atividades,

destacam-se a atividade miotóxica,

apresentada pelo veneno das serpentes

do gênero Bothrops. A ação miotóxica é

responsável por danos extensos no tecido

muscular, se não tratada. A fosfolipase A2

apresenta 122 resíduos de aminoácidos

em sua estrutura primária, e sua

estrutura 3D foi elucidada por técnicas de

difração de raios X. A estrutura apresenta

6 hélices principais, indicadas por

cilindros azuis e duas fitas em amarelo.

C

N

Estrutura da fosfolipase A2 de Bothrops jararacussu.

33

Estudos estruturais das fosfolipases A2

lançaram as bases moleculares para o

entendimento da atividade miotóxica. O

modelo mais aceito propõe que, a

clivagem dos fosfolipídios da membrana

celular levam à ação miotóxica. Modelos

computacionais da interação da

fosfolipases A2 com a membrana

identificaram detalhes da interação, como

mostrado ao lado. A fosfolipase A2 , uma

proteína rica em hélices (indicadas como

cilindros azuis), apresenta interações

eletrostática e hidrofóbica com a

membrana, o que possibilita a

desestruturação desta e a consequente

atividade tóxica. A simulação

computacional indicou que a ligação da

fosfolipase A2 à membrana, desloca

moléculas de água, o que pode facilitar a

interação da enzima com os fosfolipídios.

Fonte da imagem:

http://www.ks.uiuc.edu/Research/smd_imd/pla2/

Acessada em 19/03/2012

Modelo computacional da interação da fosfolipase A2 com a

monocamada da membrana. Os fosfolipídios são indicados

com caudas hidrofóbicas em verde.

34

A bomba de sódio e potássio é uma proteína intrínseca com atividade enzimática. Ela

catalisa a clivagem de ATP (adenosina trifosfato), atividade de ATPase. ATP (mostrado

nas figuras abaixo) é um nucleotídeo contendo 3 grupos fosfatos. ATP é uma reserva

de energia química para o metabolismo celular.

a) ATP (Estrutura 2D) b) ATP (estrutura 3D)

35

A ação da bomba de Na+/K+ segue as seguintes etapas:

1) A bomba de Na+/K+ , com ATP ligado, liga-se a 3 íons de Na+ intracelulares.

2) ATP é hidrolisado, causando a fosforilação de um resíduo de Asp, da bomba de

Na+/K+ com a liberação de ADP.

3) A mudança conformacional, da bomba de Na+/K+ , expõe os íons de Na+, que por

apresentarem baixa afinidade pela bomba de Na+/K+, são liberados para o meio

extracelular.

4) A bomba de Na+/K+ liga-se a 2 íons de K+ extracelulares, isto causa a

desfosforilação da bomba, trazendo-a de volta à sua conformação anterior,

transportando K+ para dentro da célula.

5) A forma desfosforilada da bomba de Na+/K+ apresenta afinidade mais alta por íons

de Na+, os íons de K+ são liberados, a molécula de ATP liga-se à bomba.

6) O sistema está pronto para um novo ciclo.

36

ATP PI ADP

PI

PI

PI

ATP

ATP

Na+

Na+

K+

1 2

3

4 5

6

Meio intracelular

Meio extracelular Meio extracelular Meio extracelular

Meio extracelular Meio extracelular Meio extracelular

Meio intracelular Meio intracelular

Meio intracelular Meio intracelular Meio intracelular

37

PI

Na+

Meio extracelular

Meio intracelular

K+

Canais de K+ são os canais usualmente abertos na membrana plasmática de

neurônios em repouso. Assim, ocorre saída de íons K+, o que deixa um excesso de

carga negativa no interior da célula e, como resultado, um potencial negativo. A ação

conjunta da bomba de Na+/K+ e do canal de K+ leva a um acúmulo de carga positiva

no meio extracelular. Tal situação, tem como conseqüência, uma diferença de

potencial negativa do meio intracelular com relação ao meio extracelular. Se

colocarmos um eletrodo no interior de um neurônio em repouso, teremos um potencial

elétrico de algumas dezenas de milivolts negativos, tal potencial é chamado potencial

de repouso.

Bomba de Na+/K+ canal de K+

38

Aproximadamente um terço de todo ATP

da célula é usado para o funcionamento

da bomba de Na+/K+, o que indica a

importância para o metabolismo celular da

bomba de Na+/K+. Em 2007 foi elucidada

a estrutura tridimensional da Na+/K+,

mostrada na figura ao lado (Morth et al.,

2007). A análise da estrutura indicou uma

divisão clara de regiões hidrofóbicas e

hidrofílicas, que sugerem a inserção na

bomba de Na+/K+ na membrana,

conforme o modelo mostrado no próximo

slide.

Referência: Morth JP, Pedersen BP, Toustrup-Jensen MS,

Sørensen TL, Petersen J, Andersen JP, Vilsen B, Nissen P.

Nature. 2007;450(7172):1043-9.

39

Meio extracelular

Citoplasma

Referência: Morth JP, Pedersen BP, Toustrup-Jensen MS,

Sørensen TL, Petersen J, Andersen JP, Vilsen B, Nissen P.

Nature. 2007;450(7172):1043-9.

A bomba de Na+/K+ apresenta um domínio rico em hélices, que estão em contato com

a parte hidrofóbica na bicamada, como indicado abaixo.

40

Diferentes formas de estudo de sistemas

biológicos.

In silico. Usa simulação computacional

para o estudo de sistemas biológicos. Tem

como principal vantagem o baixo custo, e

a possibilidade de testarmos diversos

sistemas diferentes em computador. O

principal problema é a confiabilidade dos

sistemas simulados. Nem sempre é

possível obtermos modelos

computacionais realísticos para um

sistema biológico. A abordagem in silico é

comum no estudo de novos fármacos. É

uma forma de acelerar o processo de

descoberta e desenvolvimento de

fármacos, adicionando inteligência e ética

ao desenvolvimento de novos fármacos. Fármaco contra tuberculose em estudo in silico.

Fonte: Bio-Inspired Algorithms Applied to Molecular Docking

Simulations. Heberlé G, De Azevedo WF Jr. Curr Med Chem

2011; 18 (9): 1339-1352. 41

Adicionamos inteligência, pois podemos

testar milhares de sistemas em

computador. No caso específico do

desenho de fármacos in silico, podemos

testar em computador milhares, até

mesmos milhões de moléculas, que

apresentam potencial de se tornarem

fármacos.

Adicionamos uma abordagem ética ao

desenvolvimento de fármacos, pois ao

invés de sacrificarmos milhões de cobaias

em testes pré-clínicos, focamos os testes

pré-clínicos nas moléculas mais

promissoras.

Muitos testes pré-clínicos são feitos em camundongos e em

cachorros. 42

In silico (uma história de sucesso).

Algumas décadas atrás ocorreu a primeira

grande epidemia de AIDS. O HIV foi

identificado como o causador da AIDS. No

estudo da biologia do vírus foi identificado

que o vírus apresenta uma poliproteína,

que precisa ser clivada para que o HIV

seja ativo. As partes clivadas da

poliproteína formam o vírus maduro que

infecta as células. Se a clivagem for

inibida, o vírus é impedido de atingir sua

forma madura. A elucidação de estrutura

tridimensional da protease do HIV

permitiu que, o modelo chave fechadura

fosse usado para investigar in silico o

potencial de novos fármacos contra o HIV.

Estrutura tridimensional da protease do HIV resolvida por

cristalografia por difração de raios X. Código PDB: 7HVP

43

In vitro. Usa experimentos de laboratório

sem envolvimento direto de cobaias

(testes em tubos de ensaios). Tem um

custo relativamente mais alto que a

simulação computacional, mas é mais

realista, visto que os experimentos são

realizados em situações próximas às

encontradas no ser vivo.

In vivo. É o experimento mais realista,

visto que é feito em seres vivos. Tem

como principais problemas o custo

elevado, quando comparado com as

outras abordagens, e os aspectos éticos

envolvidos.

Fonte da imagem: http://www.vivopharm.com.au/us/in_vitro.php

Acessada em 08/04/2012

Cientistas demonstram a eficácia de nanopartículas para

entrega de droga anticancerígena (doxorubicin) nas células

alvos.

Fonte da imagem:

http://newsroom.ucla.edu/portal/ucla/srpview.aspx?id=138683

44

O teste mais avançado e realista dos

estudos in vivo é o testes clínico. Em tais

testes, moléculas com potencial

farmacológico são aplicados em

humanos. Os testes visam verificar se o

fármaco em potencial apresenta eficácia e

toxicidade tolerável. Normalmente, são

realizados testes pré-clínicos, onde os

fármacos em potencial são testados in

vitro e in vivo, com animais não humanos.

Classicamente os testes clínicos são

divididos nas seguintes fases: Fase 0. Tal

denominação é recente ("Guidance for

Industry, Investigators, and Reviewers".

Food and Drug Administration).

Consultado em 04/09/ 2011.) e visa testar

o fármaco em potencial em humanos em

doses sub-terapêuticas, onde é testado se

o fármaco em potencial comporta-se

como esperado.

Pílulas de óleo de Salvia officinalis (ou placebo) usada em

testes clínicos como remédio para memória. Fonte da

imagem:http://www.sciencephoto.com/media/281222/enlarg

e . Acessada em 08/04/2012 45

Fase I. Nesta fase um grupo

relativamente pequeno de indivíduos

(entre 100 e 200) são testados. A fase I

testa a tolerância da droga e usa

indivíduos saudáveis. As regras para a

participação nos testes variam de país

para país, nos EUA pagam para

indivíduos participarem de tais testes.

Fase II. Nesta fase é testada a eficácia da

droga, bem como sua toxidade. O número

de indivíduos pode chegar a 300.

Fase III. Nesta fase é realizado um

estudo multicentro e com um número

maior de pacientes, até 3000.

Fase IV. É a fase pós-mercado, ocorre

depois do fármaco ter sido liberado para

comercialização.

Seriado Two and half men. Alan foi convencido a participar

de um teste clínico.

Fonte da imagem:

http://www.youtube.com/watch?v=8ypYeK8L-DQ

Acessada em 08/04/2012 46

As regras de Lipinski (Lipinski et al., 1997,

2001) são parâmetros usados para

avaliação do potencial, que uma molécula

apresenta de ser absorvida pelo

organismo humano. Apesar de terem sido

publicadas em 1997, essas regras já eram

usadas há muito tempo pelo laboratório

farmacêutico Pfizer. O seu sucesso na

avaliação do potencial farmacológico

deve-se às seguintes razões:

Fácil aplicação;

Fácil memorização;

São evidentes do ponto de vista físico-

químico;

São baseadas em pesquisa básica

sólida e funcionam efetivamente. Lipinski, C.A., Lombardo, F., Dominy, B.W., Feeney, P.J.. Adv

Drug Deliv Rev. 1997, 23(1-3):3-25.

Lipinski, C.A., Lombardo, F., Dominy, B.W., Feeney, P.J.. Adv

Drug Deliv Rev. 2001, 46(1-3):3-26

Fonte da imagem:

http://www.sciencephoto.com/media/268423/view

Acessada em 04/05/2012)

47

As regras de Lipinski são baseadas nas

propriedades físico-químicas de

compostos que formam a base de dados

USAN (United States Adopted Names

Directory), que apresentam moléculas que

passaram a fase 1 de testes clínicos.

Estudos de fase 1 envolvem

determinação de aspectos relacionados à

toxidade e farmacocinética. Compostos

que chegam à fase 2 são aqueles que

apresentam absorção e toxidade

tolerável, o que sinaliza que investimentos

podem ser realizados em mais testes. As

regras de Lipinski analisam :

Doadores e aceitadores de ligação de

hidrogênio;

LogP;

Massa molecular.

Fonte da imagem:

http://www.sciencephoto.com/media/268488/view

Acessada em 04/05/2012)

48

As regras de Lipinski baseiam-se em

critérios físico-químicos que as drogas

devem apresentar para serem absorvidas

pelo organismo humano. A absorção está

relacionada à solubilidade e à presença

de ligações de hidrogênio. Para um dado

composto, é avaliado o número total de

potenciais átomos que podem estar

envolvidos nessas ligações, aqui

separados em duas classes na análise.

1) Número de doadores de ligação de

hidrogênio (hydrogen-bond donors)(HBD).

Indica o número de hidrogênios presentes

na molécula, que podem fazer ligação de

hidrogênio, principalmente ligados aos

oxigênio e nitrogênio.

2) Aceitadores de ligação de hidrogênio

(hydrogen-bond acceptors)(HBA). Indica o

número de aceitadores de ligação de

hidrogênio, na maioria das vezes átomos

de oxigênio e nitrogênio.

Fonte da imagem:

http://www.sciencephoto.com/media/350658/view

Acessada em 04/05/2012)

49

A aplicação das regras de Lipinski baseia-se na avaliação da solubilidade do composto

em água, o aumento do número de ligações de hidrogênio contribui para esta

solubilidade, mas dificulta a passagem pela membrana, visto que aumenta o número

de ligações de hidrogênio que devem ser quebradas para a passagem da bicamada

fosfolipídica. Vamos ver um exemplo de como contar os doadores e aceitadores de

ligação de hidrogênio. Usaremos a molécula código CID2244, disponível no site:

http://pubchem.ncbi.nlm.nih.gov/summary/summary.cgi?cid=2244&loc=ec_rcs.

Indicaremos o número de doadores como HBD e o de aceitadores como HBA. Na

molécula usaremos a seguinte notação:

Aceitador de ligação de hidrogênio

Doador de ligação de hidrogênio

50

Aceitador de ligação de hidrogênio

Doador de ligação de hidrogênio

HBA: 4

HBD: 1

51

Definimos a lipofilicidade de um composto, como a tendência deste para uma

partição numa matriz lipídica apolar contra uma matriz aquosa. Uma forma de

determinarmos experimentalmente a lipofilicidade de um composto é a partir da

partição deste entre fases imiscíveis, tais como octanol (fase apolar) e um tampão

aquoso (fase polar). Os valores de partição podem ser expressos em termos de Log P,

que é o coeficiente de partição de um composto entre octanol e uma fase aquosa

(tampão onde a molécula está neutra),

onde [Composto]octanol é a concentração do composto na fase apolar, e

[Composto]aquosa é a concentração na fase aquosa. Há algoritmos estabelecidos para

determinarmos o Log P de um composto (Hansch et al., 1995; Cheng et al., 2007).

aquosa

octanol

Composto

CompostologP Log

Hansch, C., Leo, A. and Hoekman, D. (1995) Exploring QSAR. Fundamental and applications in chemistry and biology, volume

I. Hydrophobic, electronic and steric constants, volume 2. New York: Oxford University Press.

Cheng, T.; Zhao, Y.; Li, X.; Lin, F.; Xu, Y.; Zhang, X.; Li, Y.; Wang, R.*; Lai, L. "Computation of Octanol-Water Partition

Coefficients by Guiding an Additive Model with Knowledge", J. Chem. Inf. Model. 2007, 47, 2140-2148.

52

Um guia geral para absorção gastrointestinal, após administração oral da droga,

propõe que o Log P deve estar na faixa de 0 a 3 para uma situação ótima, como

indicado na figura abaixo.

Bio

dis

ponib

ilida

de o

ral

Log P

Baixa

Alta

-4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4 5 6 7

Faixa ótima

Baixa permeabilidade

da bicamada lipídica

Baixa solubilidade aquosa

Figura baseada em Kerns, E. H. e Di, L. Drug-like properties; Concepts, structure, design and methods. Academic Press,

Elsevier, London, 2008. (pg. 45)

53

Regras de Lipinski. A partir da estrutura

de um composto podemos avaliar

características da estrutura, tais como

ligações de hidrogênio, Log P e MW. Uma

absorção e permeabilidade adequadas

são esperadas para moléculas que

apresentem as seguintes características:

HBD 5

HBA 10 (5x2)

Log P 5

MW 500 (5x100)

Todos os aspectos considerados são

múltiplos de 5, por isso tal regra é

também chamada de regra dos 5 (rule of

five).

Fonte da imagem:

http://www.sciencephoto.com/media/350657/view

Acessada em 04/05/2012)

54

Relação com as outras disciplinas

Na aula de hoje vimos detalhes sobre as

membranas celulares, um tópico

relacionado com as disciplinas Biologia

Celular e Tecidual e Biologia molecular.

Vimos a importância farmacológica de

peptídeos tóxicos e dos venenos de

serpentes, as fases dos testes clínicos e

as regras de Lipinski, aspectos

relacionados com a disciplina

Farmacologia, do sétimo semestre do

curso de Biologia. Ao analisarmos os

comportamentos das vespas, temos uma

relação clara com as disciplinas de

Zoologia I e II, do quinto e sexto

semestres, respectivamente. Obviamente,

estamos estudando as bases moleculares

da membrana celular, um tópico de

estudo da Química. O potencial de

repouso da célula é objeto da Física.

Aula de

hoje

Química

Física

Biologia

Molecular

Biologia

Celular e

Tecidual

Zoologia I e II

Farmacologia

55

Artigos indicados

Selecionei 3 artigos que considero trazem resultados interessantes sobre moléculas

que interagem com a membrana.

1) How C-terminal Carboxyamidation Alters the Biological Activity of Peptides from

the Venom of the Eumenine Solitary Wasp. Sforça ML Oyama Jr, S, Canduri F,

Lorenzi CCB, Pertinhez TA, Konno K, Souza BM, Palma MS, Ruggiero Neto J,

Azevedo Jr. WF, Spisni A. Biochemistry 2004; 43(19): 5608-5617. Este artigo

descreve as bases estruturais para a atividade biológicas dos venenos das

vespas.

2) Conformation and lytic activity of eumenine mastoparan: a new antimicrobial

peptide from wasp venom. Cabrera MPS, Souza BM, Fontana R, Konno K, Palma

MS, Azevedo Jr WF, Ruggiero Neto J. J Pept Res 2004; 64(3): 95-103. Este artigo

descreve a atividade antimicrobiana de peptídeos isolados das vespas.

3) Crystallographic and Spectroscopy characterization of a molecular hinge:

conformation change in Bothropstoxin I, a dimeric Lys49-Phospholipase

homologue. Giotto, MTS, Garratt, RC, Oliva, G, Mascarenhas, YP, Giglio, JR,

Cintra, AC, De Azevedo Jr., WF, Arni, RK, Ward, RJ. Proteins. 30(4):442-454,

1998. Este artigo descreve a estrutura da fosfolipase A2 extraída do veneno da

Bothrops jararacussu.

56

Filme indicado

Não conheço um bom filme que possa ter

relação com a aula de hoje, mas há um

filme de TV chamado de “Abelhas

Assassinas”. No filme ocorre a chegada

de abelhas agressivas numa pequena

cidade no estado de Washington-EUA.

Uma nota de interesse. Na década de

1950, na cidade de Rio Claro-SP, estudos

de cruzamentos de abelhas africanas com

abelhas europeias foram realizados, para

o aprimoramento da produção de mel. O

descuido no manejo das abelhas

africanas (muito agressivas) permitiu a

fuga de um enxame. Décadas depois,

abelhas africanizadas chegaram aos

EUA, aumentado o número de acidentes

com picadas de abelhas, o que foi

inspiração para o filme citado acima. Fonte da imagem: http://www.imdb.com/title/tt0353625/

Acessado em 19/03/2012 57

Notícia relacionada

Sempre que possível gosto de destacar a

importância do pensamento inovador no

estudo de biologia. A notícia ao lado

descreve uma empresa de Piracicaba-SP,

que vende enxames de vespa para

controle biológico de pragas em lavouras.

Essa empresa foi considerada entre as

mais inovadoras do mundo.

Fonte da notícia:

http://economia.uol.com.br/ultimas-

noticias/redacao/2012/03/02/empresa-

brasileira-de-agricultura-esta-entre-as-

mais-inovadoras-do-mundo.jhtm

58

Sites indicados

Segue uma breve descrição de dois sites relacionados à aula de hoje. Se você tiver

alguma sugestão envie-me ([email protected]).

1) http://www.susanahalpine.com/anim/Life/memb.htm . Este site mostra animações

flash do modelo de mosaico fluido. O site é em inglês.

2) http://www.brookscole.com/chemistry_d/templates/student_resources/shared_reso

urces/animations/ion_pump/ionpump.html . Este site mostra uma animação com o

funcionamento da bomba de sódio e potássio. O site é em inglês.

59

Referências

Danielli, J. F. & Davson, H. (1935). J. Cell. Comp. Physiol., 5:495-508.

Garcia, E. A. C. Biofísica. Editora Savier, 2000.

Gorter, E. & Grendel, F. (1925). J. Exp. Med. 41:439-443.

Kerns, E. H. e Di, L. Drug-like properties; Concepts, structure, design and methods.

Academic Press, Elsevier, London, 2008.

Lipinski, C.A., Lombardo, F., Dominy, B.W., Feeney, P.J.. Adv Drug Deliv Rev. 1997,

23(1-3):3-25.

Lipinski, C.A., Lombardo, F., Dominy, B.W., Feeney, P.J.. Adv Drug Deliv Rev. 2001,

46(1-3):3-26

Purves, W. K., Sadava, D., Orians, G. H., Heller, H. G. Vida. A Ciência da Biologia. 6a

ed. Artmed editora. 2002.

Schmitt, F. O., R. S. Bear, and E. Ponder. (1937) . J. Cell. Comp. Physiol 9: 89-92.

Schmitt, F. O., R. S. Bear, and E. Ponder. (1938) . J. Cell. Comp . Physiol. 11 :309-313.

Schneider, G. & Baringhaus, K. –H. Molecular Design. Concepts and Applications.

WILEY-VCH Verlag GmbH & Co. KGaA, Weinheim, 2008

http://www1.umn.edu/ships/9-2/membrane.htm

60