BIOLIXIVIACÃO DE REJEITO DE CARVÃO PARA A PRODUÇÃO DO ...

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XXIII Encontro Nacional de Tratamento de Minérios e Metalurgia Extrativa BIOLIXIVIACÃO DE REJEITO DE CARVÃO PARA A PRODUÇÃO DO COAGULANTE SULFATO FÉRRICO Angéli V.Collingl, Jean Cario S. dos S. Menezes 1 , Gelsa E.N. Hidalgo 2 & Ivo André H. Schneider 1 Universidade Fed eral do Rio Grande do Sul Programa de Pós- Graduação em Engenharia de Mina s, Metalúrgica e Materiais 1 LEAMET - Laboratório de Estudos Ambi entais para a Metalurgi a 2 LAPROM - Laboratório de Process amento Mineral - Meio Ambi ente e Corrosão Induzida por Microrgan is mo s UFRGS, Centro de Tecnologi a, Av. Bent o Gonçalves, 9500. Bairro Agron om ia. CEP: 91501 - 970. Porto Alegre - RS Tel. (O xx ) 51 3308 7104, Fa x. (Oxx) 51 3308 7116 . E-mails: angeli. colling@ufrgs. br; jean. menezes @ufr gs. br, gelsaed ith@ufrgs . br, ivo . andre@ufrgs. br RES UMO A da pirita (FcS,) cm depósit os de rcjcitos de carvão oco rre na presença de ox igénio c água. result ando cm uma dre- nagem com baixo pi I c altas conn:ntraçôcs de metais c íons As rcaç ôcs de oxid a ção são intensificadas na presença de bactérias acidofílicas. O objctivo do presente trabalho foi avaliar a relação entre a qu antidade de bactérias c a velocid ade de oxidação da pirita com a conscqiicnh.: pro dw;<lo de sullitt o férri co para uso potencial como coagulante cm tratamento de ág uas c efluentes. Experimentos de li xivi açào lixam reali zados cm laboratório com um rejeito da miner ação de carv ão da Região Ca r- bonífera de Santa Ca tarina, ri co cm pirita (h:S,), cm colunas de kito empac ota do, con siderando as seguintes situaçôes: (a) con- diçôcs estére is. (h) condiçiics não estéreis. (c) meio inoculado wm bactérias ac idotlli cas c (d) meio inoculado com bactér i as acidolllicas c propicia das as co ndiç ôcs ótimas de te mperatu ra c micronutrientes. A fonte de inóc ul o das bacté ri as foi uma dre- nagem ácida de minas local. As amostras de úgua foram rccirculadas c colet adas semanalmente para análise de ferro total, sul- fato, pH. Eh c o número mais provúvcl dc bactérias (NMP) Thiohucillusjámox idans. O maior número de mi cro rganismos, a ta xa mais alta de oxid ação da pirita c a conseqüente produção de sulfato férrico foram ob tidos na coluna inoculada onde fo ra m propiciadas as condiçôcs ótimas dc temperatura c mi cro nulricntcs. Nes ta situação, chegou-se a uma solução aquosa rica cm sul- férrico apta para ser empre g ada como matéria-p rima para produção de um coagulante comcrc ia l. PALAVRAS-CHAVE: ThiohacillusjiTmo ritlans. oxidação da pirita, lc rri co. c inética ABSTRACT Thc pyritc (FcS,) oxidation rcac ti o ns in coa i tailíng dcposits occur in th c prcsc ncc uf atmospheric oxygc n and wa ter, rcsulting in a drainagc with low pi I and hi gh conccnlrations ofmctals and sulphatc. Thc oxidation rcactions are cnhanccd in thc prcscnc c ofacid op hilic bactc r ia. Thc objcctivc ofthis study was to cvaluatc thc rclationship bctwcc n the quantity ofbactcria and the rate of pyritc oxidation with lhe conscqucnl production of fcrric sulphatc li.1r potcntialusc as a coagulanl ti.u wa lcr and was tcwa tcr trcatmcnt. Leaching c.xpcrimcnts wc n.: car ricd out at labo ratory scale with a coa i tailing from Santa Ca tar ina mining si te, rich in pyritc. cons idcring thc following situations: (a) slcrilc conditions. (b) non stcrilc conditions, (c) in ocu lation with acidofilic bac- tcria, (d) inoculati on with acid ofilic bact cr ia and optimal conditions of tcmp craturc and nutricnt s. Thc source of bact er ia was an acid mine drainugc collcctcd fromlh c mining si te . Watcr samplcs wc rc co llcctcd wcck ly for ana lys is oftotal iron. sulphatc, pll, Eh and mo st probablc numbcr (MP N) o fbach:ria Thiohacil/usfcrroo.ridans. Thc quantity of bacteria, thc pyritc oxidation rate and the production of sulphalc wcrc hi g hcr in thc column inoculatcd with bactcria and provid cd thc optimal conditions of tempcratun; and nutricnts. li was possiblc to producc an aqucous so lution ri ch in fcrric sulphate able to bc uscd as a raw mate- ri al for thc production of co mmercial coag ulant. KEY WORDS: Thiohacil/u. ,fámo.ritlans . pyrilc oxidation, fcrric sulphatc, kinctics. 309

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BIOLIXIVIACÃO DE REJEITO DE CARVÃO PARA A PRODUÇÃO DO COAGULANTE SULFATO FÉRRICO

Angéli V.Collingl, Jean Cario S. dos S. Menezes1, Gelsa E.N. Hidalgo2

& Ivo André H. Schneider1

Universidade Fed eral do Rio Grande do Sul Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Minas, Metalúrgica e Materiais

1 LEAMET - Laborat ório de Estudos Ambientais para a Metalurgia

2 LAPROM - Laboratório de Processamento Mineral - Meio Ambiente e Corrosão Induzida por Microrganismos UFRGS, Centro de Tecnologi a, Av. Bento Gonçalves, 9500. Bairro Agronom ia. CEP: 91501 -970. Porto Alegre - RS Tel. (Oxx ) 51 3308 7104, Fa x. (Oxx) 51 3308 7116 . E-mails : angeli. colling@ufrgs. br; jean. menezes@ufrgs. br, gel saed ith@ufrgs. br, ivo . andre@ufrgs. br

RESUM O A oxidaç~o da pirita (FcS,) cm depósitos de rcjcitos de carvão ocorre na presença de ox igénio c água. resultando cm uma dre­

nagem com baixo pi I c altas conn:ntraçôcs de metai s c íons sull~tto. As rcaçôcs de oxidação são intensificadas na presença de

bactérias acidofílicas. O objcti vo do presente trabalho foi avaliar a relação ent re a quan tidade de bactérias c a ve locidade de

oxidação da pirita com a conscqiicnh.: prodw;<lo de sull itto férri co para uso potencial como coagulante cm tratamento de águas c

efluentes. Experimentos de li x ivi açào lixam reali zados cm laboratório com um rejeito da mineração de carvão da Regi ão Car­

bonífera de Santa Catarina, ri co cm pirita (h:S,), cm co lunas de kito empacotado, considerando as seguintes situaçôes: (a) con­

diçôcs es téreis. (h) condiçiics não estéreis . (c) meio inocu lado wm bactérias ac idotllicas c (d) meio inoc ulado com bac térias

ac ido lll icas c propic iadas as condiçôcs ótimas de temperatura c micronutrientes. A fo nte de inóculo das bactérias foi uma dre­

nagem ácida de minas local. As amostras de úgua foram rccirculadas c coletadas semanalmente para análise de ferro tota l, sul­

fato, pH. Eh c o número mais provúvcl dc bactérias (NMP) Thiohucillusjámoxidans. O maior número de microrganismos, a

ta xa mais alta de oxidação da pirita c a conseqüente produção de sulfato férrico foram obtidos na coluna inocu lada onde fo ram

propiciadas as condiçôcs ótimas dc temperatura c micronulricntcs. Nes ta s ituação, chegou-se a uma solução aquosa rica cm sul­

l~tto fé rrico apta para ser empregada como matéria-prima para produção de um coagul ante comcrc ia l.

PALAVRAS-CHAVE: ThiohacillusjiTmoritlans. oxidação da pirita , sull~tto lc rrico. c inética

ABSTRACT Thc pyritc (FcS,) oxidation rcac tio ns in coa i tailíng dcposits occur in thc prcscncc uf atmospheric oxygcn and water, rcsulting

in a drainagc with low pi I and hi gh conccnlrations ofmctals and sulphatc. Thc oxidation rcactions are cnhanccd in thc prcscncc

ofacidophilic bactcria. Thc objcctivc ofthis study was to cvaluatc thc rclati onship bctwccn the quan tity ofbactcria and the rate

of pyritc oxidation with lhe conscqucnl production of fcrric sulphatc li.1r potcntialusc as a coagulanl ti.u walcr and wastcwatcr

trcatmcnt. Leaching c.xpcrimcnts wcn.: carricd out at laboratory sca le with a coai tailing from Santa Catarina mining si te, rich in

pyritc. cons idcring thc following situations: (a) slcrilc conditions. (b) non stcrilc conditi ons , (c) inoculation with acidofilic bac­

tcria, (d) inoculation with acidofilic bactcr ia and optimal conditi ons of tcmpcraturc and nutricnts. Thc source of bacteria was

an acid mine drainugc collcctcd fromlh c mining s i te . Watcr sa mplcs wcrc co llcctcd wcck ly for ana lys is oftotal iron . sulphatc,

pll, Eh and most probablc numbcr (MPN) o fbach:ria Thiohacil/usfcrroo.ridans. Thc quantity of bacteria, thc pyritc oxidation

rate and the production of sulphalc wcrc hi ghcr in thc column inoc ulatcd with bactcria and providcd thc optima l conditions of

tempcratun; and nutricnts. li was possiblc to producc an aqucous solution ri ch in fcrri c sulphate ab le to bc uscd as a raw mate­

ria l for thc production of commercial coagulant.

KEY WORDS: Thiohacil/u.,fámo.ritlans. pyrilc oxidation, fcrri c sulphatc, kinctics.

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L INTRODUÇÃO

A coagulação é um processo físico-químico que faz com que as partículas coloidais presentes em meio aquo­so sejam agregadas, facilitando a sua remoção. Esse processo é largamente empregado no tratamento de águas de abastecimento público e no tratamento de efluentes industriais. Os principais reagentes empregados são o sultà­to de alumínio, o cloreto de alumínio, o sulfato férrico c o cloreto férrico (Bratby, 19XO; Mctcalf c Edddy, 2003 ). Atualmentc, há uma tendência da substituição dos sais de alumínio pelos sais de ferro como agentes coagulantes, pois a ingestão de níveis elevados de alumínio está sendo relacionada com algumas doenças neurológicas (ACWA 2000). O cloreto fén-ico é um reagente altamente corrosivo. Assim, o sulfato férrico aparece como uma opção para ser empregado como coagulante.

O sulfato férrico, de modo geral, é produzido pela dissolução de sucata ferrosa cm ácido sulfúrico. Neste pro­cesso, caso haja a falta de cuidado na scleção da sucata, pode haver a produção de reagentes contaminados com metais indesejados, tais como chumbo, cromo, níquel, cobre c zinco. Sendo assim, a produção de sultàto fén-ico a partir da pirita contida nos rcjcitos de mineração do carvão pode ser uma alternativa viável para a produção de sul­fato férrico de qualidade competitiva no mercado.

Pesquisas recentes demonstraram que é possível produzir coagulantes férr·icos a partir da lixiviação da piri­ta presente em rejeitos de carvão (Menezes e Schneidcr, 2007). O processo ocorre por via hidromctalúrgica, onde

são propiciadas as condições para que ocon-a a oxidação da pirita cm meio aquoso, gerando uma lixívia rica Fc ' ' c SO/. Nos estudos conduzidos por esses autores, empregando o método de lixiviaçào em células úmidas (ASTM, 1996), chegou-se a uma solução com 15 g/L de ferro total. Esse valor está aquém do exigido para comercializa­ção, que é da ordem 120 g/L. Ainda, no trabalho inicial, não foram controladas as condições microbiológicas en­volvidas no processo.

Sabe-se que as bactérias acidofílicas têm a capacidade de intensificarem as rcações de oxidação da pirita, au­mentando a taxa de oxidação do mineral (Kontopoulos, 199X). A bactéria Thiohaci//usji!rrooxidans é uma espécie acidofílica presente em ambientes de mineração que age na oxidação de sul fetos metálicos (como o caso da pirita) para a obtenção de energia para o seu metabolismo (Kelly c Wood, 1996). Essa bactéria apresenta-se na forma de bastonetes gram negativos com dimensões médias de 0,5-0,X 1-1111 de largura c 0 ,9-1,5 ~~~n de comprimento. A repro­dução destas bactérias é por divisão binária. A tàixa de temperatura de seu crescimento está entre 5 e 40° C, sen­do 30°C a temperatura ótima para o seu crescimento. Estes organismos são aeróbicos estritos c o seu pH ótimo é de 2,0. A espécie utiliza substratos inorgânicos para o seu desenvolvimento, necessitando basicamente como fonte energética, Fe2

' , convertendo-o para Fe3', e outras formas de enxofre reduzido. Necessita também de suprimentos de alguns nutrientes, tai s como nitrogênio, fósforo c magnésio . Uma característica importante destas bactérias é a sua generalizada resistência a altas concentrações de metais (Johnson c Hallbcrg, 2003; Brctt c Jillian, 2003).

Assim, neste trabalho estudou-se a taxa de oxidação da pi ri ta presente cm rcjcitos de carvão considerando di­ferentes condições para o crescimento da bactéria Thiohaci//usferrooxidans. Avaliou-se cm relação ao tempo o pH e o potencial redox do meio, a quantidade de bactérias acidofílicas c a quantidade de ferro e sultàto dissolvido. O objetivo foi aperfeiçoar a produção de uma lixívia apta a ser processada para a produção de sultàto férrico para uso como coagulante em tratamento de águas e efluentes.

2. REAÇÕES DE OXIDAÇÃO DA PI RITA

A oxidação da pirita se dá por uma série de rcações, envolvendo processos químicos c biológicos. O processo pode ocon-er de forma di reta e/ou de fonna indireta, gerando ácido sulfúrico, sul fato férrico c sult~1to fen-oso (Kon­topoulos, 1998). A seguir estão as principais reaçõcs.

A pirita, na presença de oxigênio atmosférico c água, se oxida pelo mecanismo dircto:

(0 I)

A rcação O I produz acidez, se o potencial de oxidação for mantido, a ox idnçào do íon Fc2 para F e)· ocon-erá, consumindo parte da acidez da pirita pelos íons H

4Fc2' +O + 4H ' --7 4Fe ' ' + 2H O

2( a,J) 2 (02)

A reação 02 ocon-e abioticamcnte cm valores de pH mais elevados (acima de 4,5) c diminui à medida que o pH decresce. Em valores de pH menores que 3,5, a oxidação do íon férrico (Fc ')somente cm presença de oxigcnio passa a ser muito baixa. Entretanto, a rcação pode ser acelerada pela ação de bactérias quimiolitotróficas acidófilas do gênero Thiohaci/lus. Essas bactérias catalisam a reação 02, que pode ser acelerada em até I x I O" vezes.

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O Fel , gerado na reação 02, também oxida a pirita (FeS2), dando origem ao mecanismo indircto:

(03)

O Fe 2 resultante da reação será oxidado para Fe'3 pela rcação 02 e estará novamente disponível para oxidar a pirita, entrando o fenômeno em um ciclo crescente conhecido como autocatálise. O ciclo permanece até que toda a pirita acessível aos agemes de reação tenha sido consumida. O baixo pll da água aumenta a solubilização de me­tais. No caso da mineração de carvão, além do ferro, os lixividados podem apresentar altos teores de alumínio, va­lores significativos de Mn e Zn e traços de Cu, Ni, Cr, Pb, entre outros metais.

Neste contexto, se o pH da solução for maior do que 3, devido a condições ambientais ou adição de alcalini­dade por via antrópica, o Fe-3 irá hidrolisar precipitando na forma de hidróxido e gerando acidez, conforme equa­ção 04:

Fe3 ' + 3Hp -7 Fe(OH)3(Sl + 3H- (04)

Ainda, parte do Fe1 pode precipitar como sulfato férrico ou hidróxidos férricos conforme a reação 05.

feJ- + SO/· + 7Hp-+ Fe(OH)S04{sl + H• (05)

Entretanto, se o pH estiver menor do que 3, o ferro, bem como os outros metais, permanecem solúveis. Os al­tos valores de ferro (tanto na forma trivalente como bivalente) e de alumínio sugerem que a DAM possa ser uma fonte destes metais para a produção de agentes coagulante.

3. MATERIAIS E MÉTODOS

O experimento de lixiviação foi realizado utilizando rejeito de carvão, rico em pirita (cerca 23% de enxofre pirítico), proveniente da Carbonífera Criciúma S.A., da sua Unidade de Mineração UM-TI, Verdinho - Município de Forqui lhinha, SC. O material foi britado c peneirado para atingir granulometria entre 2 e 6 mm para a execu­ção dos ensaios de lixiviação.

Os estudos de lixivação foram conduzidos em escala laboratorial com quatro colunas cilíndricas de vidro, com 30 cm de altura e 7 cm de diâmetro, recheadas com l kg rejeito de carvão (Figura l ). Cada coluna atuou como um reator de leito empacotado, contando com um sistema de aspersão e um sistema de coleta do lixiviado, em circuito fecbado. A recirculação nas colunas foi realizada por uma bomba pcristáltica SarJe modelo 180 c mangueiras fle­xíveis de látex, ambos materiais resistentes à acidez do meio.

Todo o material utilizado na montagem do estudo experimental foi previamente esterilizado em autoclave a 120°C por 20 minutos e montado da seguinte forma: coluna 1 -rejeito de carvão esterilizado; coluna 2- rejeito de carvão não esterilizado e utilizado "in natura" assim como é disposto na área industrial; coluna 3- rejeito de car­vão não esterilizado e na qual foi adicionado um inóculo das bactérias acidofilicas; coluna 4- rejeito de carvão não esterilizado na qual foi adicionado um inóculo de bactérias acidofllicas c proporcionadas as condições ideais de temperatura e nutrientes para o crescimento microbiano (componentes da solução A do meio 9K). O inóculo adi­cionado foram I O mL de lixívia ácida obtida do módulo de rejeito de carvão da Carbonífera Criciúma S. A, conten­do 6,8 x I 05 células.mL·' de bactérias da espécie Thiobacillus ferrooxidans.

Figura I. Colunas empregadas no e:<pcrimento de lixiviação.

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Após a montagem completa do experimento, colocou-se I litro de água destilada/deionizada estéril no siste­ma. O sistema de recirculação permaneceu ligado 24 horas ao dia por todo o período do experimento. Ao final de cada semana, amostras foram coletadas para análise c a !ração evaporada de água foi completada até um litro.

As amostras de água coletadas semanalmente foram analisadas cm relação ao pH c Eh (pHmctro Digimcd DM­PH-2), concentração de ferro total (espectrometria de absorção atómica no equipamento Varian modelo AA240-FS), concentração de sulfato (técnica 4500E - método turbidimétrico) e o número mais provável (NMP) de Thio­hacillusferrooxidans (APHA, 2005).

Para a contagem de bactérias suspensas foi utilizado o meio "9K", específico para a contagem de Thioha­cillus ferrooxidans. O meio apresenta a seguinte composição: solução A: 3,0g (NH)S0

4; 0,5g K,HP0

4; 0,5g

MgS04.7Hp; O,lg KCI. O pH da solução A foi ajustado a 2,8 com H,S0

4 c esterilizado cm autoclave durante 20

minutos a 120°C. A solução B foi composta de 44,8 g de FcS04.7Hp, o pH final foi ajustado para 2,8 c a solução

foi filtrada cm membrana (0,45J.lm de diâmetro de poro). No momento do uso, misturaram-se as soluções A e B na proporção de 7:3, respectivamente (APHA , 2005). O meio foi colocado cm tubos de ensaio onde foi adicionado o lixiviado em vários níveis de diluição. O crescimento do Thiohacillusji.•JTooxidans foi considerado positivo pela mudança de cor no meio, que passava de levemente esverdeada para um castanho-avermelhado com precipitados. Tais mudanças são indicativas de oxidação completa de íon Fc' ' a Fc'' pela ação microbiana.

Uma análise de microscopia cletrônica de varredura (MEV) foi cfctuada após a quinta semana do experimen­to. Colctou-sc uma amostra do rejeito de carvão da coluna 4 (onde foi adicionado inóculo c micronutrientes) para observação das bactérias aderidas ao sólido. Para a confecção das imagens foi utilizado o equipamento de MEV Jeol - JSM 5800 Scanning Microscopc do Centro de Microscopia Elctrônica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

As Figuras 2(a) e 2(b) mostram a evolução do pH c do Eh cm função do tempo na água de lixiviaçào nas qua­tro colunas ao longo das 8 semanas do experimento. Pode-se observar que o pH do meio decaiu cm todas as colu­nas com o passar do tempo. Porém, houve um decréscimo maior na coluna onde as condições de crescimento bac­teriano foram tàvorecidas. Em relação ao Eh, foi possível observar que houve um aumento com o decorrer do tem­po nas quatro colunas , porém maior na coluna onde as bactérias estavam presentes. Ambos comportamentos indi­cam que a oxidação da pirita tenha acontecido cm maior intensidade na coluna com inóculo c micronutrientes.

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:r: c.

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-r- Natural --lnúculn

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Scnmnas

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Figura 2. Comportamento do pH c Eh cm funç;Jo do tempo nos cxpcrimcntos de li xiviaçào.

120 ,...--- - - - - --- -------,

IIHI

!i 60 o ... ~ 411 ...

20

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Semanas

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150 .-------- --- ------,

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Sl'mamis

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Figura 3. Compo11amcnto de ferro c sulfato cm função do tempo nos experimentos de lixiviaçào.

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Na Figuras 3(a) e 3(b) pode~se verificar que a concentração de ferro e sulfatos aumentou substancialmente no decorrer das semanas, em especial a partir da 4~ semana. O acréscimo foi muito maior na coluna onde os micror­ganismos estavam presentes, confirmando a importância destes no processo de biolixiviação. Por exemplo, na 6a semana, a concentração de ferro e sulfatos na coluna com inócuJo e nutrientes é 4 a 5 vezes maior do que naco­luna estéril.

Em relação ao crescimento de Thiobacil/usferrooxidans, na coluna estéril nilo foi detectada a presença de bac­térias. Nas colunas onde o rejeito de carvão não foi esterilizado e onde houve a inoculação, o crescimento bacteria­no ocorreu. A Figura 4 apresenta o número de bactérias em suspensão na lixívia nas colunas inoculadas cm função do tempo. Na coluna de inóculo c micronutrientes, as bactérias se desenvolverem, o crescimento foi substancial, prin­cipalmente a partir da 4n semana. Deve-se considerar, porém, que os números contabilizados não levam em conta as bactérias aderidas ao rejeito de carvão, que se mostram em grande quantidade como ilustra a Figura 5. A fotografia mostra um grão de pirita presente na coluna com inócuJo e micronutrientes na 4" semana do experimento.

1,00Etl2

l,OOE!-10 -M-In6culo

--ln6culo e Micronutrientes

~ 1,00Et08

g -I,OOEt06

ª l,OOEt04

1,00Et02

l.OOEtOO 2 3 4 5 6 7 8

Semanas

Figura 4. Número de bactérias (NMP. I 00 mL 1) 71ziobacillusferrooxidans cm suspensão cm função do tempo no experimento de lixiviação.

Figura 5. Imagem obtida em microscopia eletrônica de varredura de um grão de carvão da coluna de lixiviação com inóculo c micronutrientes mostrando a presença de bactérias do gênero Thiobacillus.

Na Tabela l estão apresentados os valores de pH, as concentrações de mctâis (Fe, AI, Ca, Mn, c Zn) e sulfato nos extratos lixiviados nas diferentes colunas. Mostra também uma estimativa da quantidade de pirita oxidada bem como as relações entre as concentrações de Fe com outros metais e sulfatos. Propiciada as melhores condições de crescimento bacteriano pode-se observar: (a) um aumento na oxidação da pirita; (b) um aumento na concentração de metais dissolvidos na lixívia; (c) uma redução da concentração Fe/metal (o que indica um aumento na pureza do produto; (d) um aumento na relação molar Fc!SO/".

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Tabela I. Características do li xiv iado na X" semana dos experimentos: pH , concentração de metais, relação mássica

entre metais (m/m), relação mo lar entre ferro c su lfa to (MIM) . Estimativa da porcentagem de pirita oxidada c

número de ciclos para esgotamento da pirita .

Parâmetro Estéril Natural lnócul o lnóculo c

M icronutricntcs

pH 1,4 1,3 1, 1 1.0 Fc Total, g.L-1 28,7 34,5 55,2 97,2

AI , mg.L- 1 3 250 3 250 4 500 5 200 Ca, mg.L- 1 1 580 1 570 1 960 2 300 Mn, mg.L-1 375 425 610 XOO Zn, mg.L- 1 13 13.6 16,3 17, 1

SO/ . g.L- 1 74,9 82,3 106,4 113 , 1

Fe/AI (m/m) 8,8 10, 6 12.26 IX ,7

Fe/Ca (m/m) 18,2 22 2X,2 42,7

Fe/Mn (m/m) 76,5 81 ,2 90,5 121 ,5

Fe/Zn (m/m) 2 207 2 536,8 3 386,5 5 684.2

Fe/ SO/ (MIM) 0,65 0,71 0,88 1,46

% pirita extraída 14,3 17,2 27.6 48,5

Número de ciclos 7,0 5,8 3,6 2,1

Na coluna com inóculo c micronutrientes , ocorreu a oxidação de quase 50'Yo da pirita presente no reJeito de carvão. Nesta condição, dois ciclos de lixiviação seriam suficientes para esgotar a pirita presente no reje ito. Ainda,

a concentração de ferro chegou a 9,7%, quase a concentração necessária para a comercialização do sulfato ferroso

comercial, cuja especificação é de no mínimo 12%. Assim, somente com uma simples c curta etapa de evaporação

seria poss ível obter um coagul ante dentro das especificações comerc iais.

5. CONCLUSÕES

O processo biohidrometalúrgico estudado no presente trabalho possibilitou obter um coagulante rico cm sul­

fa to férrico a partir do rejeito de carvão rico em pirita. Esse coagulante pode ser aplicado no tratamento de águas e

efluentes. A utilização de bactérias acidofílicas intensificou o processo de oxidação da pirita, promovendo benefí­

c ios cinéticos marcantes, com a conseqüente redução no tempo de lixiviação c consumo de energi a. Além do coa­

gu lante produzido, o processo traz benefícios ambientais , pois permite a redução do volume de rcj citos bem como

uma diminuição da concentração de pirita no material, minimizando o potencial de geração de drenagem ácida de

mmas:

6. AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao CNPq pelo auxílio financeiro (Edital Universal MCT/CNPq 2006, processo n"

475990/2006-4) c à CAPES pela bolsa de pesqu isa . Agradecimento ao Laprom-U frgs pelo empréstimo do Labo­

ratório de Microbiologia e aos demais colegas do LEAmet pelo apoio.

7. REFERÊNCIAS

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