BIOMAGNIFICAÇÃO DE MERCÚRIO NO PANTANAL, BRASIL

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1 BIOMAGNIFICAÇÃO DE MERCÚRIO NO PANTANAL, BRASIL LUIZ MARQUES VIEIRA 1 e CLEBER J. R. ALHO 2 RESUMO: O mercúrio é intensivamente utilizado na extração de ouro na imediações do Pantanal. A sua oxidação nos ecossistemas aquáticos pode levar à formação de metilmercúrio, que é biotóxico, bioacumulável e com elevado potencial de concentração nas cadeias alimentares. É também cancerígeno, mutagênico e teratogênico. O objetivo deste estudo foi avaliar a biomagnificação do mercúrio partir dos níveis de contaminação nos sedimentos, moluscos, peixes (carne e fígado) e aves (penas e fígado) no Pantanal. O mercúrio foi analisado por espectrofotometria de absorção atômica com geração de vapor frio. Os níveis de mercúrio nos sedimentos e nos moluscos foram baixos, embora com maior contaminação nos moluscos. As maiores freqüências de peixes contaminados acima do nível crítico para consumo humano pela Organização Mundial de Saúde ocorreram nos carnívoros dos rios Cuiabá e Bento Gomes. Os teores de mercúrio nas aves (penas e fígado) também evidenciaram contaminação.As aves piscívoras apresentaram níveis mais elevados do que as que se alimentam de moluscos. Os resultados sugerem a ocorrência de biomagnificação do mercúrio, pois os organismos de níveis tróficos mais elevados apresentaram teores mais altos. 1 Ph.D. Ecologia e Recursos Naturais – CPAP/Embrapa - Rua 21 de setembro, 1.880 – Caixa Postal 109 - 79320-900 Corumbá, MS. Tel.: (67) 231-1430 Fax: (67) 231- 1011. Correio eletrônico: [email protected] 2 Ph.D. Fundação Pró-Natureza – Brasília, DF. Tel.: (61) 365-3142 Fax: (61) 365-3852. Correio eletrônico: [email protected]

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BIOMAGNIFICAÇÃO DE MERCÚRIO NO PANTANAL, BRASIL

LUIZ MARQUES VIEIRA1 e CLEBER J. R. ALHO2

RESUMO: O mercúrio é intensivamente utilizado na extração de ouro na imediações do

Pantanal. A sua oxidação nos ecossistemas aquáticos pode levar à formação de

metilmercúrio, que é biotóxico, bioacumulável e com elevado potencial de concentração

nas cadeias alimentares. É também cancerígeno, mutagênico e teratogênico. O objetivo

deste estudo foi avaliar a biomagnificação do mercúrio partir dos níveis de

contaminação nos sedimentos, moluscos, peixes (carne e fígado) e aves (penas e fígado)

no Pantanal. O mercúrio foi analisado por espectrofotometria de absorção atômica com

geração de vapor frio. Os níveis de mercúrio nos sedimentos e nos moluscos foram

baixos, embora com maior contaminação nos moluscos. As maiores freqüências de

peixes contaminados acima do nível crítico para consumo humano pela Organização

Mundial de Saúde ocorreram nos carnívoros dos rios Cuiabá e Bento Gomes. Os teores

de mercúrio nas aves (penas e fígado) também evidenciaram contaminação.As aves

piscívoras apresentaram níveis mais elevados do que as que se alimentam de moluscos.

Os resultados sugerem a ocorrência de biomagnificação do mercúrio, pois os

organismos de níveis tróficos mais elevados apresentaram teores mais altos.

1 Ph.D. Ecologia e Recursos Naturais – CPAP/Embrapa - Rua 21 de setembro, 1.880 – Caixa Postal 109 -79320-900 Corumbá, MS. Tel.: (67) 231-1430 Fax: (67) 231- 1011. Correio eletrônico:[email protected] Ph.D. Fundação Pró-Natureza – Brasília, DF. Tel.: (61) 365-3142 Fax: (61) 365-3852. Correioeletrônico: [email protected]

III Simpósio sobre Recursos Naturais e Sócio-econômicos do Pantanal Os Desafios do Novo Milênio De 27 a 30 de Novembro de 2000 - Corumbá-MS
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BIOMAGNIFICATION OF MERCURY IN THE PANTANAL, BRAZIL

ABSTRACT: Mercury is intensively used for gold extraction around the Pantanal

region. Its oxidation in aquatic ecosystems can lead to the formation of metilmercury,

that is biotoxic, bioaccumulable and with high potential of concentration in the food

chain. It is also cancerigenic, mutagenic and teratogenic. This study aimed to evaluate

the biomagnification of mercury considering the levels of contamination in the

sediments, clams, fishes (meat and liver) and birds (feather and liver) in the Pantanal.

Atomic absorption espectrofotometry with cold vapor generation was used for mercury

analysis. Mercury levels were low in the sediments and clams but slighty higher in

clams than in sediments. The highest frequencies of fish, contaminated above the

critical level for human consumption, according to World Health Organization, had

occurred in carnivorous fishes from Cuiaba and Bento Gomes rivers. The mercury

levels in the birds (feather and liver) also had shown contamination. The piscivorous

birds had shown higher levels than those feed on clams. The results suggest mercury

biomagnification along the food chain since high mercury content is found in the

organisms of high trophic levels.

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INTRODUÇÃO

A atividade garimpeira de ouro laterítico na Baixada Cuiabana, Mato Grosso,

apesar de se reportar ao século XVIII, foi reiniciada nos anos 1980, agravada pela

utilização indiscriminada de mercúrio. Mais de uma centena de garimpos instalou-se

em microbacias localizadas nos municípios de Poconé e Nossa Senhora do Livramento

(Vieira, 1996), nas bordas do Pantanal. Este é uma imensa planície alagável (140 mil

km2) que funciona como um grande reservatório de deposição de sedimentos e metais

pesados provenientes dos planaltos adjacentes. A quantidade de mercúrio metálico

lançada no ambiente pelos garimpos, em 1989, foi estimada em 1,5 tonelada (Vieira,

1996), considerando que, para 1 kg de ouro produzido, utilizam-se 2 kg de mercúrio

(Malas e Bendicto, 1986; Lacerda et al., 1995). O mercúrio é usado para agregar as

partículas de ouro durante a lavagem do cascalho e na “bateia”. Em vista disso, grandes

quantidades de mercúrio perdem-se para os sistemas aquáticos e, posteriormente, para a

atmosfera durante a queima da amálgama na purificação do ouro. O mercúrio atingindo

o sistema aquático pode se ionizar, transformando-se em metilmercúrio por ação de

microorganismos (Campeau e Bartha, 1985) e contaminar os peixes (Westoo, 1968).

Em função disso, o risco de contaminação dos ecossistemas do Pantanal (Alho e Vieira,

1997) e da Bacia Platina constitui uma das principais preocupações da sociedade pelas

graves ameaças de afetar a biodiversidade do Pantanal e a sustentabilidade dos recursos

naturais (Brazaitis et al., 1996; Schoeny, 1996). O Pantanal, além de produzir grandes

quantidades de peixes de expressão socioeconômica (pintado, cachara, dourado,

curimba, piranha, traíra e outros), abriga muitas espécies de aves, mamíferos e répteis

com elevado potencial ecológico e econômico. Além disso, essa região é uma das

principais rotas de migração de aves que usam a planície como área de pouso ou

permanência temporária (Silva, 1995). Também a saúde do homem pode ficar

gravemente comprometida pela ingestão de peixe contaminado (Gaggi, et al., 1996; Eve

et al.,1996; Bioschio e Henshel, 1996; Bidone et al., 1997; Castilhos et al., 1998).

Os principais efeitos e impactos do mercúrio no homem ocorrem no sistema

nervoso central (Marsh et al., 1980) e rins (Bakir et al., 1973). Apesar disso, o risco de

contaminação somente se tornou evidente após a elucidação dos incidentes

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epidemiológicos de Minamata e Niigata no Japão nas décadas de 1950 e 1960, quando

ocorreram centenas de lesões e mortes humanas (Matsumoto et al., 1965; Kitamura,

1968; Harada, 1978). O mercúrio é comprovadamente cancerígeno, mutagênico e

teratogênico (Eisler, 1987; Klekowski et al., 1999; Choi, 1989; Mayers, et al.,1995). A

concentração de 0,5 µg de mercúrio total por grama de carne de peixe (0,5 µg.g-1 na

base de peso úmido = ppm) foi estabelecida como o limite crítico tolerável para

consumo humano pela Organização Mundial de Saúde (WHO, 1990), Agência de

Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA, 1972) e legislação brasileira (Brasil,

1977).

A metilação do mercúrio pode ocorrer no sedimento (Jensen e Jernelöv, 1969),

na coluna d’água (Furutani e Rudd, 1980) e no intestino dos peixes (Rudd, et al., 1980).

No entanto, esse processo de oxidação é controlado por variáveis físicas, químicas e

biológicas que atuam no sistema aquático. No sedimento vivem as comunidades

bentônicas mais ativas (Ossanai, 1980), que por ingestão de detritos, adquirem carga

corporal de mercúrio com potencial de transferi-la aos peixes (EPA,1972). O sedimento

uma vez contaminado tem potencial de trocar sua carga de mercúrio com a água e

transferi-la para a biota por dez a cem anos (Braile e Cavalcanti, 1979), mesmo com a

paralisação da fonte emissora. Avaliações experimentais demostraram que a

concentração de mercúrio acumulada nos peixes proveniente do sedimento foi nove

vezes maior do que da coluna d’água (Kodo e Mortimer, 1979).

A determinação dos teores de mercúrio no sedimento é uma das formas mais

utilizadas de se avaliar o grau de contaminação por mercúrio de um sistema aquático

(Lacerda et al., 1991; Marins et al., 1998; Alonso et al., 2000), apesar de não ser

suficiente para se determinar o potencial de disponibilidade. No Pantanal, o sedimento

de rios e lagoas de água doce foi também investigado por muitos pesquisadores na

última década (Lacerda et al., 1991; Hylander et al., 1994; Rodrigues Filho, 1995;

Tümpling et al., 1995; Rodrigues Filho e Maddock, 1997; Guimarães et al., 1998;

Hylander et al., 1999; Guimarães et al., 2000; Hylander et al., 2000a; Simmers e

Gottens, 2000).

Apesar de o sedimento ser um dos substratos empregados para se avaliar a

contaminação ambiental, a utilização de bioindicadores tem a vantagem de fornecer

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uma estimativa do potencial de disponibilidade de mercúrio para as biomassas de

diferentes regiões (Phillips, 1977). Estudo recente mostrou que os moluscos são

bioindicadores sensíveis e que podem refletir pequenas diferenças no “background” de

mercúrio em áreas inundáveis (Malley et al., 1996). A investigação de Eisemann et al.

(1997), utilizando moluscos (Pomaceae paludosa) como monitores, detectou diferenças

geográficas de contaminação por mercúrio no sul da Flórida. Além disso, os moluscos

oferecem um bom material para comparação de fatores de concentração, embora as

espécies que vivem sobre material vegetal em decomposição apresentem fatores mais

baixos (Hanners, 1968). Em função disso, muitos autores utilizaram diferentes espécies

de moluscos para monitorar a contaminação de água doce e salgada em muitas regiões

(Micak et al., 1985; Di Giulio et al., 1988; Klers e Weis, 1987). Além do potencial

acumulador, os moluscos são organismos sedentários, abundantes e com larga

distribuição geográfica nos sistemas aquáticos do Pantanal. Também há forte correlação

entre a concentração de mercúrio total nos moluscos e no sedimento (Micak et al.,

1985, apud Hildebrand et al., 1980). Um outro aspecto importante e de relevância

ecológica é a relação trófica existente entre os moluscos e as aves. Os moluscos

constituem uma expressiva fonte de alimento para determinadas aves que vivem nas

proximidades de áreas alagadas do Pantanal. Desse modo, eles desempenham um papel

de relevância no processo de transferência de resíduos de mercúrio dos sistemas

aquáticos para algumas espécies de aves nessa região que têm a sua dieta constituída,

principalmente, de moluscos. Dois exemplos são o gavião-caramujeiro, que se alimenta

das partes moles de moluscos gastrópodos (Pomaceae), e o carão, que tem a maior parte

de sua dieta constituída de gastrópodos da família Ampularidae e de Marisa planogira.

O metilmercúrio, além de ser tóxico, é bioacumulável nos tecidos e apresenta

elevado potencial de se concentrar com a elevação do nível trófico nas cadeias

alimentares. Dessa forma, os tecidos dos peixes também apresentam elevada habilidade

de acumular metilmercúrio proveniente da água e do alimento, pois é rapidamente

absorvido e vagarosamente eliminado (Pentreath, 1976). Hanners (1968) constatou uma

meia-vida biológica do mercúrio no tecido muscular de peixes de 65 a 70 dias. Na carne

destes, aproximadamente, 90% do mercúrio total é metilmercúrio (Allen-Gill et al.,

1995) associado a radicais sulfidrílicos das proteínas (Akagi et al., 1994). Os

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ecossistemas aquáticos são os mais susceptíveis e vulneráveis à ação do metilmercúrio.

Assim, a presença de mercúrio na carne dos peixes é um bom indicador de sua

biodisponibilidade nos sistemas aquáticos. Em função disso, muitos pesquisadores têm

utilizado os peixes como indicadores de contaminação ambiental em muitas regiões

(Malm et al., 1990; Chen et al., 1996; Neumann et al., 1997; Bidone et al., 1997;

Moraes et al. 1997; Olivero et al., 1997; Olivero et al., 1998; Castilhos et al., 1998;

Marins et al., 1998; Alonso et al., 2000). No Pantanal, poucos investigadores avaliaram

a contaminação de peixes (Hylander et al., 1994; Hylander et al., 2000b, Simmers e

Gottens, 2000). A contaminação nos peixes pode afetar o crescimento, o

comportamento e a reprodução (Devlin e Mottet, 1992; Friedmann et al., 1996).

Além do sedimento, moluscos e peixes, as aves que se alimentam de moluscos e,

principalmente, aquelas que têm a sua dieta alicerçada em peixes acumulam altos níveis

de mercúrio em seus tecidos, por isso são também muito empregadas no

monitoramento. Em função disso, as penas e o fígado são tecidos muito utilizados

como indicadores de contaminação ambiental (Kim et al., 1996; Thompson et al., 1998).

A utilização de penas, além da vantagem de não precisar abater o animal, o mercúrio

encontra-se numa forma estável (Applequiat et al., 1984) e que se correlaciona com os

níveis existentes em outros órgãos e tecidos internos (Furness e Hutton, 1979). A

concentração de mercúrio nas penas reflete muito bem os níveis existentes na dieta

alimentar (Lewis e Furnees, 1991), embora haja grande variação dentro de uma mesma

população (Thompson et al., 1998). É o único metal pesado com boas evidências de

biomagnificação na cadeia alimentar (Thompson et al., 1998. Apesar disso, no Pantanal

ninguém ainda avaliou sistematicamente a avifauna com relação aos níveis de mercúrio

(Sick, 1985). Existem apenas informações pontuais sobre teores de mercúrio em número

reduzido de penas de poucas espécies de aves carniceiras (Ferreira et al., 1987;

Hylander et al., 1994).

Além de penas, a literatura registra que o fígado é um dos substratos mais

amplamente empregados no diagnóstico de contaminação ambiental por metais pesados

(Hoffman e Curnov, 1979; Honda et al., 1986; Scheuhmmer, 1987; Kim et al., 1996).

Ainda que outros órgãos sejam também usados com muita freqüência no monitoramento

de mercúrio em aves, o fígado apresenta maior potencial de concentração, embora haja

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uma nítida diferença entre espécies e entre níveis tróficos (Fimreite, 1974). O fígado é

um órgão de bom tamanho e com quantidade suficiente de tecido para viabilizar as

análises laboratoriais, mesmo quando se trata de aves de pequeno porte, é acessível e

rapidamente extraído na dissecação. Além disso, o conteúdo de mercúrio no fígado

espelha muito bem a carga de mercúrio existente no corpo do animal e,

conseqüentemente, sugere o nível de contaminação que ave está ingerindo por meio de

sua dieta (Parslow, 1973). Apesar de as penas e do fígado apresentarem-se como bons

indicadores de contaminação, o processo de acumulação e de distribuição de mercúrio

nos tecidos e órgãos pode ser influenciado por diferenças entre as espécies, habilidade

de retenção de mercúrio no organismo, posição na cadeia alimentar, padrão de muda,

migração, idade, estádio metabólico de crescimento e reprodução.

A crescente preocupação com os efeitos e impactos de longo prazo causados

pelo mercúrio, principalmente na reprodução, crescimento e comportamento de aves,

pode ser aquilatada pelo expressivo número de investigações realizadas nas últimas

décadas (Peakall, 1985; Scheuhammer, 1987; Eisler, 1987). Os efeitos tóxicos do

mercúrio nas aves refletem-se na redução do consumo de alimento e, em conseqüência,

na perda de peso, progressiva fraqueza nas asas e pernas com dificuldade de voar,

caminhar e ficar de pé (Scheuhammer,1987). O principal impacto negativo da ingestão

de mercúrio ocorre sobre o sucesso reprodutivo, ocasionado por atresia gonadal,

decréssimo na fertilidade de ovos, aumento do número de ovos sem casca, reduções no

peso dos ovos, e da taxa de eclosão por causa da alta mortalidade precoce de embriões e

aumento de ovos inférteis (Scheuhammer,1987). Esses efeitos estão associados a

concentrações de mercúrio no fígado de 2 µg.g-1, o qual reflete exposição crônica das

aves, enquanto que níveis mais elevados (30 a 130 µg.g-1), a completa mortalidade

(Scheuhammer, 1987).

O presente estudo teve como objetivos determinar os níveis de contaminação por

mercúrio total numa cadeia trófica, a partir da concentração no sedimento, moluscos,

peixes (carne e fígado) e aves (penas e fígado) como indicador de sua biomagnificação

em sistemas aquáticos do Pantanal, e verificar se os peixes estão concentrando mercúrio

total na carne acima do nível crítico estabelecido para consumo humano.

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MATERIAL E MÉTODOS

Estudo realizado na região do Pantanal, Estados de Mato Grosso e Mato Grosso

do Sul, na Bacia Hidrográfica do Alto Paraguai (BAP). Os pontos de amostragem de

sedimento foram definidos após sobrevôo da Bacia Hidrográfica do Rio Bento Gomes.

As amostras de sedimento foram coletadas com amostrador “core”, em três épocas:

agosto/1989, dezembro/1989 e junho/1990. As estações de coleta foram localizadas na

nascente do rio Bento Gomes, ponte da Cotia, Porto do Morrinho, entroncamento do rio

Bento Gomes com o rio Piranema, estação de captação de água de Poconé, córregos dos

Padres, Piraputanga e no entroncamento do rio Bento Gomes com a estrada

Transpantaneira. As amostras foram acondicionadas em sacos de plástico de polietileno

etiquetados e transportadas em gelo até o laboratório, onde a secagem inicial foi

realizada ao ar livre e complementada em estufa a 500C. As amostras foram passadas

em peneira inoxidável com malhas de 0,27 µm e a fração grosseira descartada. O

sedimento fino foi armazenado em sacos de plástico de polietileno etiquetados, onde

permaneceram até o momento das análises de mercúrio total. Aquelas com peso

aproximado de 1 g foram digeridas com 5 ml de uma mistura (1:1) de H2SO4: HNO3,

concentrados, conforme recomenda AOAC, em balões de vidro de 250 ml com juntas

esmerilhadas, acoplados a condensadores de vidro com circulação de água sob refluxo.

Após digestão a frio de, no mínimo, 30 minutos, introduziu-se aquecimento de cerca de

1000C. Após completos a digestão e esfriamento, adicionaram-se 20 ml de H2SO4 9N e,

em seguida, KMnO4 sólido em quantidades suficientes para manter a cor púrpura.

Depois da adição de 10 ml de água deionizada, procedeu-se um novo aquecimento por

quinze minutos para garantir a completa oxidação do mercúrio. Após esfriamento das

amostras, adicionou-se solução saturada de cloreto de hidroxilamina até a solução se

tornar incolor. As amostras de sedimento foram transferidas dos balões de destilação

para balões volumétricos de 50 ml e completado o volume com água bideionizada e

transferidas para frascos de polipropileno e armazenadas. Alíquotas de 5 ml foram

retiradas das soluções, introduzidas em frascos adaptados com tampas de polietileno

equipadas com septos. Adicionar-se 1 ml de SnCl2 a 10% em H2SO4 18N e quando todo

o mercúrio se reduzir a mercúrio metálico (vapor), um volume do vapor de mercúrio

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metálico foi introduzido, por meio de uma seringa, numa célula de vidro com janelas de

quartzo acoplada num espectrofotômetro de absorção atômica, marca Schimadzu,

modelo AA-660, equipado com lâmpada de catodo ôco de mercúrio, ajustado no

comprimento de onda de 253,7 nm. Maiores detalhes da técnica usada podem ser

encontrados em Ponce et al. (1990). As leituras de mercúrio expressas em µg.g-1 foram

registradas após terem sido ajustadas numa curva padrão de calibração. As curvas de

calibração, levando-se em consideração quatro diluições, foram feitas diariamente,

partindo-se de uma solução estoque de mercúrio contendo 1.000 µg.g-1. Os resultados

dos teores de mercúrio no sedimento foram expressos em µg.g-1 (=ppm) na base de

peso seco, após descontados os brancos.

Os moluscos das espécies Ampullaria canaliculata, Ampularia escalaris e

Marisa planogira foram coletados manualmente no córrego Piraputanga e no

entroncamento do rio Bento Gomes com a estrada Transpantaneira nas mesmas épocas

em que foram coletadas as amostras de sedimento. As amostras de moluscos foram

acondicionadas em sacos de plástico etiquetados e conservadas em gelo até o

laboratório. Após descongelamento, apenas as partes moles dos moluscos foram

submetidas às determinações de mercúrio total, seguindo-se a mesma técnica

empregada para a determinação de mercúrio no sedimento. Os resultados de mercúrio

nos moluscos foram expressos em µg.g-1 de peso úmido.

Os peixes foram capturados nos rios Bento Gomes e Cuiabá, em Mato Grosso, e

no rio Paraguai, em Mato Grosso do Sul, quadrimestralmente, durante o ciclo anual

abril/1989 a junho/1990. Na captura foram utilizadas linhadas com anzóis, redes de

arraste e espera, tarrafas e tarrafões. No rio Cuiabá, as capturas de peixes foram

efetuadas numa extenção de 60 km acima e abaixo de Porto Cercado. No rio Bento

Gomes, as capturas de peixes ocorreram desde a sua confluência com o rio Piranema até

o seu cruzamento com a estrada Transpantaneira, região onde ele desagua no Pantanal

baixo de Poconé. No rio Paraguai, os peixes foram capturados, numa extensão de 40 km

acima e abaixo da cidade de Corumbá. As espécies avaliadas foram: bagre (Pimelodus

maculatus), cachara (Pseudoplatistoma fasciatus) curimba (Prochilodus lineatus),

dourado (Salminus maxillosus), pintado (Pseudoplatistoma corruscans), peixe-cachorro

(Acestrorhynchus altus), piranha (Serrassalmus nattereri) e traíra (Hoplias

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malabaricus). Essas espécies foram selecionadas por serem de expressão ecológica,

socioeconômica, abundantes e por se enquadrarem em diferentes estratégias de captura

de presas. Cada exemplar, após captura e identificação, foi embalado em saco de

plástico etiquetado, acondicionado em caixa térmica contendo gelo e, posteriormente,

levado ao laboratório. Após limpeza e lavagem com água deionizada, foi avaliado o

comprimento total (cm) e padrão (cm), bem como o peso total (kg). Em seguida, as

vísceras foram retiradas e amostrados o fígado e o tecido muscular. Este foi retirado na

lateral e abaixo da nadadeira dorsal, utilizando-se facas, tesouras, pinças e bisturis

inoxidáveis para evitar contaminação. As amostras de tecido muscular de,

aproximadamente, 80 a 100 g e o fígado foram envolvidos em papel de alumínio,

introduzidos em sacos de plásticos de polietileno etiquetados e armazenados em

congelador regulado para a temperatura de – 210C, onde permaneceram até o momento

das análises laboratoriais.

A técnica de digestão e os procedimentos de análise de mercúrio total no tecido

muscular e fígado dos peixes foram praticamente os mesmos descritos para o

sedimento. Os teores de mercúrio no tecido muscular e no fígado foram expressos em

µg.g-1 na base de peso úmido. Foram selecionadas quatro espécies de aves: biguá

(Phallacrocorax olivacens), garça-branca-grande (Casmerodius albus), carão (Aramus

guarauna) e gavião-caramujeiro (Rhosthramus sociabilis). As aves foram capturadas

com rifles calibre nº 22, em propriedades de particulares localizadas nas imediações da

estrada Transpantaneira. Após o abate, cada exemplar foi acondicionado em saco de

plástico de poletileno etiquetado e conservado em gelo até o laboratório. No laboratório,

cada ave foi pesada, retiradas as penas primárias e necropsiada para extração do fígado.

As amostras de fígado foram envolvidas em papel de alumínio, acondicionadas em

sacos de plástico de polietileno e conservadas em congelador a – 210C até o momento

das análises. As penas primárias foram armazenadas em sacos de plástico de polietileno

etiquetados.

Os procedimentos de digestão e análise de mercúrio no conteúdo estomacal,

fígado e penas foram praticamente os mesmos descritos para o sedimento, exceto a

secagem que não foi realizada. Os resultados de mercúrio nas penas e no fígado estão

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expressos em µg.g-1 na base de peso úmido. Os teores de mercúrio nas penas referem-

se a toda estrutura da pena.

As médias dos níveis de mercúrio nas penas e no fígado foram submetidas à

análise de variância levando-se em consideração o fator espécie, época de captura e o

sexo. Embora essa análise esteja baseada num conjunto de pressuposições que nem

sempre ocorrem nos estudos conduzidos, existem na literatura muitos procedimentos

para verificar se essas hipóteses são aceitáveis. Entre eles está a análise das ordens,

estudada por Conover (1980). No caso dos teores de mercúrio nas penas, como os

valores de “F” das duas análises realizadas com os dados originais e das ordens foram

semelhantes, decidiu-se pela análise de variância com os dados originais. Quanto ao

fígado, como isso não ocorreu, procedeu-se a análise de variância das ordens. As

diferenças entre as médias dos níveis de mercúrio das aves (penas e fígado) foram

testadas pelo teste de “t” de Student.

Para cada tipo de matriz (sedimento, moluco, peixe - tecido muscular e fígado) e

aves (pena e fígado), foi feita uma curva de calibração com adição padrão para se

detectar possíveis interferências de matriz. Os resultados, com base nos valores de “a”,

evidenciaram inexistência de aparentes efeitos de matriz. Para avaliar a exatidão e

precisão da técnica, na ausência de padrões de referência, foram realizados alguns testes

de recuperação de mercúrio com o objetivo de avaliar a técnica analítica nas atuais

condições de trabalho e, consequentemente, validar os resultados. Nesse sentido, uma

amostra de peixe, após descongelamento, foi homogeneizada em almofariz.

Subamostras de, aproximadamente, 1g, em triplicatas, foram pesadas. As amostras de

peixe que não receberam mercúrio foram digeridas e analisadas com cinco repetições.

As adições das soluções contendo 100 ng, 200 ng e 400 ng de mercúrio foram

realizadas antes da digestão das amostras. Os resultados dos testes de recuperação

evidenciaram boa exatidão e precisão, com recuperação média de 94,30%.

Todas as análises de mercúrio total foram realizadas no laboratório de Química

Eletroanalítica e Ambiental da Universidade de Brasília (UnB), em Brasília, e no

Laboratório de Análises de Tecidos do Centro de Pesquisa Agropecuária dos Cerrados

(CPAC), Planaltina, DF.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

Sedimento - Os níveis de mercúrio total no sedimento µg.g-1 (peso seco) das drenagens

do rio Bento Gomes foram de modo geral baixos, embora em alguns pontos de

amostragem situaram-se acima do valor de referência. Nessa mesma região de Poconé,

Tümpling et al. (1995) também encontraram baixos níveis de mercúrio no sedimento de

duas microbacias que recebem águas de mineração de ouro. Constatou-se nesse estudo

que de um total de 69 amostras de sedimento avaliadas, apenas 26% apresentaram

níveis detectáveis e seis delas situaram-se acima do nível considerado natural (0,100

µg.g-1 de peso seco), que reflete as condições ambientais de áreas não contaminadas

(Lacerda, 1987). Por outro lado, dezesseis amostras de sedimento evidenciaram

concentrações acima de 0,02 µg.g-1, nível este citado como referencial de rios

amazônicos não contaminados (Lacerda, 1990). Os teores mais elevados (0,2415 µg.g-1e

0,2545 µg.g-1 ), que representam 2,5 vezes o limite normal de contaminação natural no

sedimento, ocorreram nas drenagens do córrego Piraputanga e Tanque dos Padres,

respectivamente, as quais se caracterizam como depósitos de rejeitos de mineração mais

próximos das áreas de garimpo. No geral, as concentrações de mercúrio detectadas no

sedimento das demais estações de coleta estão muito próximas das encontradas por

Lacerda, (1990) - não detectáveis a 0,18 µg.g-1 - em estudo de dispersão de mercúrio no

sedimento da bacia de drenagem do Tanque dos Padres, em Poconé. O nível de

mercúrio no sedimento detectado na estação de captação de água dessa cidade, no rio

Bento Gomes, embora não evidencie contaminação (0,1259 µg.g-1), serve de alerta para

as autoridades responsáveis pela preservação da saúde humana e ambiental. Segundo

Lacerda et al. (1987), os rios amazônicos não contaminados possuem teores de mercúrio

no sedimento entre 0,05 a 0,28 µg.g-1, enquanto que os contaminados oscilam entre 0,21

µg.g-1 a 19,80 µg.g-1. Os estudos de Guimarães et al. (1998) também detectaram

baixos níveis de mercúrio no sedimento (0,071 µg.g-1 a 0,116 µg.g-1) de uma lagoa na

fazenda Ipiranga, às margens do rio Bento Gomes e a jusante dos garimpos de Poconé.

Hylander et al.(2000a) também detectaram baixas concentrações de mercúrio no

sedimento (0,010 µg.g-1 a 0,050 µg.g-1) de lagoas situadas no Pantanal alto de Poconé,

onde os níveis mais elevados foram detectados nos horizontes superficiais. No entanto,

Page 13: BIOMAGNIFICAÇÃO DE MERCÚRIO NO PANTANAL, BRASIL

13

a média (0,0889 µg.g-1) das concentrações de mercúrio encontradas no horizonte

superficial do sedimento do rio Bento Gomes, detectada por Hylander et al. (2000a) foi

menor do que a concentração mais elevada observada no presente estudo (0,2545

µg.g-1). Por outro lado, nível de mercúrio mais elevado (0,3480 µg.g-1) e que também

indica contaminação foi encontrado na fração fina de sedimento na bacia hidrográfica

do rio Bento Gomes nas proximidades de mineração de ouro, em Poconé (Hylander et

al., 2000a). No entanto, teores de mercúrio mais baixos (0,0230 µg.g-1 a 0,1980 µg.g-1

de peso seco) foram também detectados (Tömpling et al., 1995) em Poconé. Rodrigues

Filho e Maddock (1997) chegaram a detectar concentração de mercúrio no sedimento no

Pantanal de Poconé (fração < 74 µm) de 1,850 µg.g-1 de peso seco, nível este oito vezes

mais elevado do que o encontrado neste estudo. No entanto, concentração de mercúrio

mais baixa foi detectada no sedimento (0,30 µg.g-1) por Rodrigues Filho e Maddock

(1997), em pontos após o rio Bento Gomes ter alcançado área alagadiça no Pantanal

baixo de Poconé. Lacerda et al. (1991), embora tenham também encontrado baixos

teores de mercúrio no sedimento de lagoas nessa região, observaram níveis mais

elevados nos horizontes superficiais (0,062 µg.g-1 a 0,080 µg.g-1) do que nos mais

profundos (0,012 µg.g-1 a 0,030 µg.g-1), chegando supor um enriquecimento

antropogênico. Por outro lado, Alonso et al. (2000) encontram média mais elevada de

mercúrio no sedimento (1,876 µg.g-1 ± 0,578 µg.g-1 com variação de 0,094 µg.g-1 a

10,293 µg.g-1 de peso seco ) num sistema aquático contaminado da Colômbia. Estudo

de datação de mercúrio (210Pb e 137Cs) no sedimento de lagoas no Pantanal evidenciou

uma taxa média de deposição comparável à de regiões remotas antes da utilização do

metal (1940) e média de 55,0 µg.g-1 ± 11,3 µg.g-1, valor esse 1,5 vez mais elevado do

que o detectado após o início da atividade garimpeira em 1980 e 2,2 vezes mais elevada

que a taxa de deposição global durante aquele período (Simmers e Gottens 2000). Essa

constatação de Simmers e Gottens, (2000) reforça a hipótese de que a contaminação de

mercúrio encontrada na presente investigação se deve-se, em grande parte, ao mercúrio

utilizado nos garimpos nas proximidades do Pantanal.

O significado dos níveis de contaminação de mercúrio no sedimento varia entre

países e instituições de proteção ambiental. A United States of Environmtal Protection

Page 14: BIOMAGNIFICAÇÃO DE MERCÚRIO NO PANTANAL, BRASIL

14

(USEPA) considera que os sedimentos não poluídos devem apresentar teores menores

do que 1 µg.g-1. No entanto, o Ministério de Meio Ambiente de Ontário, no Canadá,

considera o nível básico de 0,3 µg.g-1, acima do qual os sedimentos são considerados

contaminados (Hamdy e Post, 1985).

Moluscos – Os níveis de contaminação por mercúrio detectados nas três espécies de

moluscos da bacia hidrográfica do rio Bento Gomes podem ser considerados baixos,

porém mais elevados do que os detectados nos sedimentos. Nos moluscos, os níveis de

mercúrio variaram de não detectáveis a 1,1585 µg.g-1 em Ampularia canaliculata,

capturada em 11/12/1989 no entroncamento do rio Bento Gomes com a estrada

Transpantaneira. Foram também constatados teores de 0,5922 µg.g-1 em Marisa

planogira e de 0,8821 µg.g-1em Ampullaria escalaris. Esses valores acima de 0,5 µg.g-

1são preocupantes, pois estão acima do nível crítico estabelecido para preservação da

vida aquática (EPA, 1972). De um total de 54 amostras de moluscos avaliadas, em

apenas 30% (n=16) constataram-se níveis de mercúrio detectáveis. Entre aqueles com

níveis detectáveis, 18,75% (n=3) apresentavam concentrações de mercúrio acima de 0,5

µg.g-1 de peso úmido. A ocorrência de níveis mais elevados nos moluscos, em relação

aos encontrados nos sedimentos, pode já significar o início de um processo de

biomagnificação de mercúrio no Pantanal. Os níveis de mercúrio total em moluscos

registrados na literatura são extremamente variáveis em função da espécie indicadora,

carga poluidora e distância da fonte emissora. No entanto, os teores aqui constatados

nas três espécies de moluscos situam-se bem próximos (não detectáveis a 0,93 µg.g-1)

dos encontrados por Lacerda (1987), em Ampullaria sp. na bacia de drenagem do

Tanque dos Padres, em Poconé. As concentrações de mercúrio encontradas nos

moluscos foram, de modo geral, mais elevadas do que a média (0,020 µg.g-1 de peso

úmido) detectada por Sarkka (1979) em 23 amostras de moluscos gastrópodos

herbívoros e detritívoros, embora menores do que as registradas por Hornung et al.

(1984), em moluscos gastrópodos carnívoros das espécies Arcularia circuncinta e

Arcularia gibbosula (18,20 µg.g-1 e 38,70 µg.g-1).

Page 15: BIOMAGNIFICAÇÃO DE MERCÚRIO NO PANTANAL, BRASIL

15

Peixes - Foi realizado um total de 475 análises de mercúrio total na carne e no fígado

de peixes. Deste total , 30,85% (n=147) das amostras foram provenientes de peixes

capturados no rio Bento Gomes, 24,62% (n=116) no rio Cuiabá e 44,53% (n=212) no

rio Paraguai. Destas 475 análises, 88,84% (n=422) apresentaram níveis detectáveis. Do

total detectável, 27,48% (n=116) apresentaram níveis de contaminação acima do nível

crítico (0,5 µg.g-1) permitido para consumo humano (WHO, 1990; EPA, 1972; Brasil,

1977). Foi constatado que a proporção de peixes contaminados diminui à medida que se

afasta das fontes de contaminação (garimpos). Assim, as maiores proporções de tecido

muscular e fígado com concentrações de mercúrio acima do nível crítico foram

detectadas nos peixes capturados nos rios Cuiabá (carne 55,13% e fígado 50%), Bento

Gomes (carne 32,89% e fígado 38,60%) e Paraguai (carne 9,40% e fígado 7,81%), em

ordem decrescente, respectivamente.

Rio Cuiabá - Foi observado que os peixes de maior porte, como cachara, pintado e

dourado, de modo geral, eram adultos, pois as médias de comprimento total estão

acima do limite mínimo permitido para captura (cachara e pintado >0,80 m e dourado>

0,55 m). A variação do comprimento total e padrão situou-se abaixo de 20% para todas

as espécies, evidenciando que os peixes capturados no rio Cuiabá tiveram uma variação

de 20% em relação às suas respectivas médias. As piranhas apresentaram um

coeficiente elevado de variação de peso (40,36%), o que demonstra que na amostra

havia indivíduos extremamente jovens (0,064 kg) e adultos (0,897 kg). Em linhas

gerais, quanto maior o peso e o comprimento do peixe maior a probabilidade de

acumular mercúrio na sua biomassa, embora alguns autores não encontraram essas

relações (Scott, 1974; Lloyd et al., 1977). No entanto, no Pantanal de Poconé foram

também detectados teores de mercúrio na carne de duas espécies de piranha, capturadas

em sistema aquático próximos às áreas de mineração 1,3 a 1,8 vez mais elevado do que

o encontrado na fazenda Acurizal localizada à distância (Simmers e Gottens, 2000).

Além disso, esses níveis de mercúrio mostraram-se correlacionados com o comprimento

das piranhas (Simmers e Gottens, 2000). Investigação recente (Hylander et al., 2000b)

também detectou concentrações de mercúrio acima do nível crítico (0,843 µg.g-1 e

1,114µg.g-1) na carne de cacharas capturadas no rio Cuiabá, abaixo de Porto Jofre e em

Page 16: BIOMAGNIFICAÇÃO DE MERCÚRIO NO PANTANAL, BRASIL

16

Barão de Melgaço (baía Siá Mariana), respectivamente. Nível de mercúrio quatro vezes

maior do que o nível crítico (2,048 ug.g-1) foi também encontrado na carne de piranha

capturada no rio Cuiabá nas imediações da Baía Siá Mariana (Hylander et al., 2000b).

Os resultados dos níveis de mercúrio no tecido muscular dos peixes capturados no rio

Cuiabá, na presente investigação, evidenciaram claramente a existência de

contaminação, pois praticamente todos os bagres (iliófagos) analisados e 70% das

piranhas (carnívoras) apresentaram níveis acima de 0,5 µg.g-1 . Os cacharas chegaram a

apresentar nível de mercúrio de 9,76 µg.g-1, valor esse quase vinte vezes maior do que o

limite máximo permitido para consumo humano (EPA, 1972; Brasil, 1977; WHO,

1990). As médias dos níveis de mercúrio na carne das espécies carnívoras (piranha,

dourado, pintado e cachara), que possuem nível trófico mais elevado, com exceção da

traíra (0,11 µg.g-1), foram altas, variando de 0,64 µg.g-1 nas piranhas a 2,94 µg.g-1 nos

cacharas. Acredita-se que a maior proporção do mercúrio detectado na carne das

espécies piscívoras, que se situam no topo de cadeia trófica, é de metilmercúrio,

proveniente da metilação de mercúrio inorgânico no sedimento e do acúmulo na cadeia

trófica, pela ingestão de alimento e pelas guelras (Parks et al., 1994). O baixo nível de

mercúrio detectado na carne das traíras, possivelmente, pode ser explicado pela

presença de indivíduos muito jovens e, consequentemente, menos contaminados na

amostra. A curimba, conforme era esperado, por ser um consumidor secundário

(onívora), que ocupa nível trófico mais baixo, apresentou média de mercúrio na carne

de 0,16 µg.g-1, valor considerado como natural de contaminação ambiental. Esses níveis

elevados de contaminação detectados na carne dos peixes capturados no rio Cuiabá

situam-se muito acima das concentrações de mercúrio encontradas por Martinelli et al.,

1988; Pfeifer et al., 1989 e Malm et al., 1990, em rios amazônicos, onde a atividade

garimpeira é intensa e indiscriminada a utilização de mercúrio. É interessante constatar

que Olivero et al. (1997), encontraram concentrações de mercúrio abaixo do nível

crítico (WHO, 1990; EPA, 1972; Brasil, 1977) no tecido muscular de curimba e cachara

capturados no rio Magdalena, na Colômbia, a jusante de garimpos que também utilizam

mercúrio há mais de dez anos. No entanto, Olivero et al. (1998), apesar de terem

constatados baixos teores de mercúrio na carne de peixes na Colômbia, observaram

evidente diferença entre as espécies carnívoras e fitoplanctônicas capturadas em áreas

Page 17: BIOMAGNIFICAÇÃO DE MERCÚRIO NO PANTANAL, BRASIL

17

pantanosas afetadas por resíduos de mineração de ouro com utilização de mercúrio. Em

função desses resultados, Olivero et al. (1998) também suspeitaram de ocorrência de

biomagnificação de mercúrio nesses corpos d’água da Colômbia. No rio Paraná, divisa

do Estado de Mato Grosso do Sul com São Paulo, Moraes et al. (1997) também

encontraram teores de mercúrio na carne abaixo do nível crítico (0,5 µg.g-1) em pintados

e curimbas, capturados em região poluída por efluentes industriais e esgotos urbanos.

As médias de mercúrio na carne mais elevadas foram detectadas em pintado (0,2944

µg.g-1) e em curimba adulta (0,3105 µg.g-1), porém mais baixas do que os níveis

individuais observados no presente estudo. Bidone et al. (1997), no rio Tapajós, Pará,

onde a utilização de mercúrio é também intensa, de um total de 238 peixes avaliados,

muitos deles carnívoros, tais como pintado, traíra, peixe-cachorro e piranha, detectaram

médias de mercúrio na carne acima do nível crítico (WHO, 1990; EPA, 1972; Brasil,

1977) em apenas 27 indivíduos (11,3%). As investigações de Hylander et al. (1994)

também detectaram teores de mercúrio (0,56 µg.g-1 e 0,95 µg.g-1) acima do máximo

permitido para consumo humano (WHO, 1990; EPA, 1972; Brasil, 1977) na carne de

pintados capturados em Porto Cercado e Porto Jofre no rio Cuiabá, respectivamente.

Concentrações de mercúrio no limiar do nível crítico (0,5 µg.g-1) foram também

encontradas na carne de piranhas capturadas em Porto Jofre no rio Cuiabá no Pantanal

(Hylander et al., 1994). Esses níveis de mercúrio detectados na carne de dos peixes

capturados no presente estudo evidenciam claramente contaminação ambiental, pois os

teores de mercúrio estão bem acima do “background” considerado como natural.

Os resultados obtidos na presente investigação mostram também a ocorrência de

contaminações de mercúrio elevadas no fígado dos peixes capturados no rio Cuiabá,

pois cerca de 50% dos peixes com níveis detectáveis apresentaram teores maiores do

que 0,5 µg.g-1. Níveis da ordem de 7,5 µg.g-1 e 12,31 µg.g-1 foram encontrados no

fígado de piranhas; no entanto, apresentaram média de 1,63 µg.g-1 ± 0,65 µg.g-1,

(n=21), nível este três vezes mais elevado do que o nível crítico (WHO, 1990; EPA,

1972; Brasil,1977). Tais resultados evidenciam que as condições toxicológicas do rio

Cuiabá, nas imediações de Porto Cercado, são preocupantes por causa da elevada

freqüência de peixes com níveis de mercúrio acima do nível crítico, o que pode ser

explicado pela maior proximidade do rio Cuiabá das áreas de garimpo e maior

Page 18: BIOMAGNIFICAÇÃO DE MERCÚRIO NO PANTANAL, BRASIL

18

concentração de mercúrio nas presas dos peixes. Em função disso, as populações de

baixa renda e que consomem maior quantidade de piranhas são as mais vulneráveis e

que apresentam maior risco de se contaminarem.

Rio Bento Gomes – Os peixes capturados no rio Bento Gomes, de modo geral,

apresentaram menores médias de peso total em relação às mesmas espécies capturadas

no rio Cuiabá, o que reflete maior freqüência de indivíduos mais jovens nas amostras.

Os resultados encontrados também evidenciaram elevados níveis de contaminação de

mercúrio na carne dos peixes do rio Bento Gomes. Concentrações da ordem de 2,29;

7,92 µg.g-1; 10,25 µg.g-1 e 12,7829 µg.g-1 de peso úmido foram detectadas em peixe-

cachorro, traíra, piranha e cachara, respectivamente. Esses elevados níveis demonstram

que as espécies carnívoras e que ocupam nível trófico mais elevado são mais

susceptíveis a acumularem mercúrio em seus tecidos. A corimba onívora e o bagre

(iliófago) apresentaram níveis de mercúrio expressivamente mais baixos do que o grupo

anterior, conforme era esperado. Segundo Parks et al. (1994), nas espécies piscívoras, a

maior proporção do mercúrio na carne encontra-se como metilmercúrio resultante da

metilação do mercúrio inorgânico no sedimento e o seu acúmulo na cadeia trófica

ocorre pela ingestão de alimento e pelas guelras. A traíra apresentou média de mercúrio

na carne de 1,09 µg.g-1de peso úmido, refletindo muito bem as condições locais de

contaminação, pois além de carnívora é sedentária. Essa média de mercúrio encontrada

na carne da traíra capturada no rio Bento Gomes é 1,2 vez superior às médias detectadas

em oito espécies de peixes na bacia hidrográfica do rio Owyhee, em Oregon (Nenmann

et al., 1997). Foi detectada diferença estatística (Student’s t-test; p> 0,001) sete vezes

maior entre as médias de mercúrio na carne de peixes carnívoros e não carnívoros no rio

Tapajós, no Pará, onde a atividade garimpeira utiliza mercúrio (Bidone et al., 1997). Os

teores de mercúrio encontrados na presente investigação também evidenciaram muito

bem esse maior potencial dos peixes carnívoros de concentrarem teores mais elevados

de mercúrio em seus tecidos.

Os resultados das análises de fígado dos peixes do rio Bento Gomes também

evidenciam a ocorrência de contaminação ambiental, pois 38,6% das amostras

apresentaram níveis de mercúrio acima de 0,5 µg.g-1, nível a partir do qual podem

Page 19: BIOMAGNIFICAÇÃO DE MERCÚRIO NO PANTANAL, BRASIL

19

ocorrer sérios comprometimentos na biota aquática (EPA,1972). Foram detectados

níveis individuais de mercúrio no fígado de 0,7 µg.g-1; 0,84 µg.g-1; 0;88 µg.g-1; 1,68

µg.g-1; 10,29 µg.g-1 e 13,28 µg.g-1 de peso úmido, em dourado, bagre, cachara, corimba,

peixe-cachorro e piranha, respectivamente. O peixe-cachorro, um exímio carnívoro,

apresentou a maior média de nível de mercúrio no fígado (2,56 µg.g-1 ± 1,95 µg.g-1 de

peso úmido, (n=5) e, em segundo lugar, a piranha (1,19 µg.g-1 ± 0,63 µg.g-1 de peso

úmido (n=21), que também é carnívora. Essa tendência dos peixes carnívoros de

apresentarem, de modo geral, concentrações mais elevadas do que os onívoros e

herbívoros, tem sido citada na literatura (Fimreite et al., 1971; Annet et al., 1972;

Hattula et al., 1978). A existência de contaminação de mercúrio em peixes, mesmo em

níveis ligeiramente acima de 0,3 µg.g-1 e abaixo de 0,5 µg.g-1 de peso úmido, embora

possa não refletir diretamente na saúde do homem, pelo do consumo de peixes, já indica

contaminação ambiental.

Tais níveis de contaminação detectados na carne e fígado dos peixes, capturados

no rio Bento Gomes, sugerem que o mercúrio utilizado nos garimpos está atingindo o

sistema aquático do Pantanal.

Rio Paraguai – Os pesos totais dos peixes capturados nesse rio apresentaram larga

amplitude de variação, o que foi constatado nos altos coeficientes de variação. As

médias de peso total das espécies de maior porte, tais como cachara, pintado e dourado

foram baixas, o que também evidencia a presença de grande número de indivíduos

jovens nas amostras. A mesma tendência foi observada para as de menor porte como é

o caso do bagre, traíra e piranha. O comprimento total e padrão das espécies de menor

porte apresentaram menor variação. Os bagres apresentaram o menor coeficiente de

variação, em torno de 9%, o que evidencia uma certa homogeneidade dos indivíduos na

amostra. As demais espécies apresentaram coeficiente de variação em torno de 20%, o

que significa que os indivíduos dessas amostras apresentaram variações de comprimento

total e padrão duas vezes maior do que os bagres. Os pintados apresentaram o maior

coeficiente de variação (50%).

Foram realizadas 212 análises em peixes capturados no rio Paraguai, sendo 65%

(n=139) no tecido muscular e 35% (n= 73) no fígado. De 117 amostras de carne com

Page 20: BIOMAGNIFICAÇÃO DE MERCÚRIO NO PANTANAL, BRASIL

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níveis de mercúrio detectáveis, apenas 9,40% (n=11) delas se situaram acima do limite

considerado crítico (0,5 µg. g-1) para consumo humano (WHO, 1990; EPA, 1972;

Brasil, 1977). Os resultados dos peixes avaliados no rio Paraguai mostram claramente a

existência de níveis de mercúrio anormais, em aproximadamente 10% (n=11) dos

peixes com níveis detectáveis, muito embora todas as médias situaram-se abaixo do

nível crítico. Os pintados e as cacharas foram os peixes que apresentaram os níveis mais

elevados, com 1,36 µg.g-1 e 1,21 µg.g-1, respectivamente. As piranhas, embora tenham

apresentado nível de mercúrio mais baixo que os detectados nos cacharas e pintados, foi

a espécie que apresentou o maior número de indivíduos com teores de mercúrio na

carne acima do nível máximo permitido para consumo humano e conservação da biota

aquática (WHO, 1990; EPA, 1972; Brasil, 1977). Piranhas capturadas no Pantanal do

rio Paraguai, nas imediações de Descavados, também apresentaram teor de mercúrio na

carne acima (0,51 µg.g-1) do nível crítico para consumo humano (Hylander et al., 1994).

Em investigação recente, Hylander et al. (2000b) encontraram níveis de mercúrio acima

do teor crítico na carne de pintado (0, 812 µg.g-1) e de piranha (0,704 µg.g-1) caturados

no rio Paraguai, nas imediações de Acurizal e da Baía do Amolar, respectivamente. Os

resultados do presente estudo mostram uma certa tendência de que os mais altos níveis

de mercúrio registrados ocorreram em espécies que ocupam níveis tróficos mais

elevados (carnívoros), como é o caso do cachara, pintado e piranha, enquanto que os

bagres, que são consumidores secundários, não apresentaram níveis de mercúrio

superiores a 0,45 µg.g-1. Alonso et al. (2000) constataram, na Colômbia, que a espécie

onívora (Eugerres plumieri), que ocupa o nível trófico mais elevado na cadeia

alimentar, apresentou 7,3 vezes mais mercúrio na carne do que a detritívora (Mugil

incilis), embora 77 a 80% das duas espécies tenham apresentado teores na carne abaixo

do nível crítico (WHO, 1990; EPA, 1972; Brasil, 1977). Moraes et al. (1997) detectaram

médias de mercúrio na carne mais baixas de 0,082 µg.g-1 a 0,310 µg.g-1 em curimba e

0,068 µg.g-1 a 0,294 µg.g-1 em pintado, capturados no rio Paraná, entre os rios

Paranapanema e Guaíra na fronteira com Mato Grosso do Sul.

Page 21: BIOMAGNIFICAÇÃO DE MERCÚRIO NO PANTANAL, BRASIL

21

Aves – A análise de variância da média de peso das aves revelou que as espécies

apresentam biomassas diferenciadas (P > F 0,0001), o que pode ser se atribuído como

uma característica intrínsica das espécies avaliadas. As médias das determinações de

mercúrio no conteúdo estomacal (n=19) das aves variaram de 0,024 µg.g-1 a 0,871

µ.g-1, com teores individuais que oscilaram entre não detectável a 1,419 µg.g-1 na base

de peso úmido no biguá. De um total de 127 aves capturadas, foram analisados os teores

de mercúrio em 118 amostras de pena e 126 de fígado.

Penas – Todas as amostras de penas dos biguás (n=24) apresentaram níveis de mercúrio

acima de 0,5 µg.g-1 e, em dezoito delas, teor superior a 2 µg.g-1. O biguá foi a ave que

apresentou a maior média de mercúrio nas penas (2,787 µg.g-1± 0,298 µg.g-1) e o nível

individual mais elevado(4,180 µg.g-1).A média dos níveis de mercúrio nas penas das

garças foi 1,845 µg.g-1 ± 0,442 µg.g-1. Em todas as amostras de penas de garças (n=29),

os níveis de mercúrio foram acima de 0,5 µg.g-1: em treze amostras, maior do que 2

µg.g-1 e, em duas, superior a 4 µg.g-1. A média, o teor mais elevado e o mais baixo nível

de mercúrio detectados nas penas do gavião-caramujeiro foram: 1,194 µg.g-1 ± 0,239

µg.g-1, 3,616 µg.g-1 e 0,546 µg.g-1, respectivamente. Entre as aves estudadas, a menor

média (0,528 µg.g-1 ± 0,129 ug.g-1) e o mais baixo nível (0,270 ug.g-1) de mercúrio

foram encontrados em penas de carão. Foi detectada diferença significativa nos níveis

de mercúrio detectados nas penas (P > 0,0001) entre espécies. Esse resultado mostra

que essas aves avaliadas têm dietas alimentares diferenciadas. Os biguás e garças são

extremamente oportunistas em ralação à estratégia de capturas de presas, mas se

alimentam, principalmente, de peixes de diferentes níveis tróficos. Isso foi constatado

no exame visual de conteúdos estomacais dessas espécies. Por outro lado, o carão tem a

sua dieta alicerçada, principalmente, das partes moles de moluscos da família de

Ampularidae do gênero Marisa, o qual é herbívoro. Essa informação, embora esteja

registrada na literatura, foi também confirmada no exame de conteúdos estomacais. O

gavião-caramujeiro e o carão têm a sua dieta baseada nas partes moles de diferentes

espécies de gastrópodos, que são também herbívoros.

Page 22: BIOMAGNIFICAÇÃO DE MERCÚRIO NO PANTANAL, BRASIL

22

A análise de variância também detectou diferenças nos níveis de mercúrio nas

penas conforme a época de captura, o que sugere que essas espécies apresentam

diferentes padrões de muda de penas, pois a maioria dos autores concordam que o nível

de mercúrio detectado nas penas reflete o nível de mercúrio existente no organismo do

animal por ocasião em que a matriz foi formada. A análise de variância também

evidenciou uma certa tendência de existir interação entre espécie x época de captura (P

> F 0,1282), o que demonstra que os níveis de mercúrio nas penas dessas quatro

espécies de aves comportam-se de modo diferente dependendo da época de captura.

Essa tendência de interação entre espécie e época vem, possivelmente, a confirmar que

essas espécies possuem diferentes padrões de épocas de muda. Além disso, a análise de

variância também evidenciou uma certa tendência de existir interação entre espécie e

sexo (P > F 0,0723), o que mostra que as espécies não responderam da mesma maneira

com relação ao sexo. Os demais fatores considerados no modelo não evidenciaram

influências relevantes, o que foi caracterizado pelos baixos valores de “F” obtidos na

análise de variância. Aplicando-se o teste de “t”, constatou-se que a média dos níveis de

mercúrio nas penas dos biguás capturados na primeira época de captura (0,9287 µg.g-1,

n=6) foi diferente da média dos níveis de mercúrio nas penas dos carões (0,768 µg.g-1,

n=11) e da média dos níveis de mercúrio nas penas dos gaviões-caramujeiros (1,172

µg.g-1), capturados nessa mesma época, ao nível de 1% de significância. Essa diferença

pode ser explicada com base nas diferenças existentes nas dietas alimentares entre essas

espécies. Os biguás alimentam-se de peixes, o carão, de crustáceos e moluscos, e o

gavião-caramujeiro, somente de moluscos. Além disso, detectou-se que a média dos

níveis de penas das garças (2,494 µg.g-1, n=10), capturadas nessa mesma época, foi

mais elevada que a média dos níveis nas penas do carão (0,768 µg.g-1, n=11 e do

gavião-caramujeiro (1,172 µg.g-1, n=12) com 15 de erro do tipo I. Essas diferenças aqui

encontradas podem também ser explicadas pelas diferenças na dieta alimentar, pois a

garça, além de ser oportunista, alimenta-se, principalmente, de peixes, e as outras duas

espécies (carão e gavião-caramujeiro), de moluscos, conforme já citados. Na segunda

época de captura, a média dos níveis de mercúrio nas penas dos biguás, embora tenha

decrescido (1,949 µg.g-1, n=11), ainda se situou mais elevada que aquela encontrada nas

Page 23: BIOMAGNIFICAÇÃO DE MERCÚRIO NO PANTANAL, BRASIL

23

penas do carão (0,675 µg.g-1, n=13), pelo teste de “t” com 1% de significância, mas não

diferiu da média detectada nas garças (1,207 µg.g-1, n=5). Na terceira época de captura,

foi constatado que a média dos níveis de mercúrio nas penas dos biguás elevou-se para

(2,064 µg.g-1, n=7), mas se situou abaixo da detectada na primeira época de captura

(2,787 µg.g-1, n=6). O teste de “ t ”, ao nível de 1% de erro do tipo I, evidenciou que a

média dos níveis de mercúrio nas penas dos biguás (2,064 ug.g-1, n=7) foi mais elevada

do que a detectada no carão (0,599 µg.g-1, n=10), mas não diferiu da média observada

nas garças (2,214 µg.g-1, n=13). Entretanto, a média dos níveis de mercúrio nas penas

dos biguás (2,064 µg.g-1, n=7), mostrou-se diferente da média dos gaviões-

caramujeiros (1,336 µg.g-1, n=20), somente com 5% de probabilidade de erro do tipo I.

Nessa mesma época, as médias dos níveis de mercúrio nas penas das garças (2,214

µg.g-1, n=13) foram mais elevadas que a média nas penas do carão (0,599 µg.g-1, n=10)

e do gavião-caramujeiro (1,336 µg.g-1, n=20) com 1% de probabilidade de erro do tipo

I. Essas diferenças entre as médias podem, ser explicadas pelas diferenças existentes na

dieta da garça em relação ao carão e o gavião-caramujeiro. A análise de variância das

médias dos níveis de mercúrio nas penas, também, detectou que o sexo das aves não foi

um fator importante com força suficiente para alterar os níveis de mercúrio das espécies

estudadas. No entanto, a interação entre espécie x sexo foi singnificativa (P > F 0,0723),

o que mostra que as espécies se comportam de maneira diferente dentro de um mesmo

sexo. O teste de “ t “ aplicado ao nível de probabilidade de erro do tipo I, com relação às

fêmeas, demonstra que a média dos níveis de mercúrio nas penas dos biguás foi mais

elevada que nas penas do carão e do gavião-caramujeiro. Com relação aos machos, a

tendência das diferenças de comportamentos das médias dos níveis de mercúrio nas

penas detectadas pelo teste de “t “ foi praticamente a mesma encontrada na análise das

fêmeas.

Em 67% das amostras de penas dos biguás (n=16), os níveis de mercúrio

situaram-se entre 2,0 µg.g-1 e 4,0 µg.g-1 e nenhum indivíduo apresentou nível abaixo de

0,5 µg.g-1. Com relação ao carão, constatou-se que 43% dos níveis de mercúrio nas

penas (n=15) foram inferiores a 0,5 µg.g-1 46% (n=16) situaram-se entre 0,5 µg.g-1 e 1

µg.g-1. Em 43% das amostras de penas de garças analisadas (n=12) os níveis de

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mercúrio situaram-se entre 1 µg.g-1 e 2 µg.g-1, e 37% (n=10) entre 2 µg.g-1 e 4 µg.g-1, e,

nas penas do gavião-caramujeiro, 45% dos níveis de mercúrio (n=14) entre 0,5 µg.g-1 e

1 µg.g-1 e 38% (n=12) entre 1 µg.g-1 e 2,0 µg.g-1.

As penas têm sido largamente utilizadas no monitoramento dos níveis de

mercúrio em aves e consideradas como um bom indicador de contaminação ambiental,

pois espelham muito bem as condições existentes nos diferentes hábitats (Furness e

Lewis, 1990). Além disso, 70% da carga de mercúrio existente no corpo da ave

encontra-se depositada nas penas na forma orgânica e reflete muito bem as

concentrações existentes na corrente sangüínea por ocasião de formação das penas.

Alterações nos níveis de mercúrio no sangue das aves não afetam as penas. Os

resultados encontrados mostram que as duas espécies de aves aquáticas que se

alimentam de peixes, como o biguá e a garça, foram as que apresentaram os mais

elevados níveis de mercúrio nas penas, 4,2 µg.g-1 e 4,8 µg.g-1, respectivamente,

enquanto que as aves que se alimentam, principalmente, de moluscos, como o carão e o

gavião-caramujeiro, evidenciaram níveis mais baixos (2,1 µg.g-1 e 3,6 µg.g-1,

respectivamente). Essa tendência das aves aquáticas que se alimentam de peixes

apresentarem concentrações de mercúrio mais elevadas do que aquelas que consomem

moluscos, evidencia que as aves que estão num nível trófico mais elevado (Cahill et al.,

1998), como é o caso do biguá e da garça, apresentam maior potencial de se

contaminarem. Ressalta-se que as espécies de moluscos estudadas, que constituem o

principal item alimentar da dieta do carão e do gavião-caramujeiro, são basicamente

herbívoras em condições naturais. Essa maior característica das aves predadoras, que se

alimentam de peixe, de apresentarem os mais altos níveis de mercúrio nas penas em

relação aos outros grupos de aves que se situam em níveis tróficos mais baixos, tem

também sido constatada por outros autores. Assim, Doi et al. (1984), avaliando aves de

diferentes níveis tróficos nas imediações de Minamata, encontraram teores de mercúrio

nas penas daquelas que se alimentam de peixes (7,1 µg.g-1 ± 3,7 µg.g-1, n=14), nas

onívoras (5,5 µg.g-1 ± 5,6µg.g-1, n=17), nas predadoras de aves (3,6 µg.g-1± 2,9 µg.g-1

n=16), nas onívoras terrestres (1,5 µg.g-1 ± 1 µg.g-1 n=31) e em aves aquáticas

herbívoras (0,9 µg.g-1 ± 0,4 µg.g-1 n=17). Correlações entre nível trófico e

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bioacumulação de mercúrio nas penas têm sido encontradas na literatura (Doi et al.,

1984; Honda et al., 1986;). Em função disso, a garça (Egretta alba modesta) que ocupa

um nível trófico elevado foi proposta por Honda et al. (1986), como uma boa espécie

indicadora, pois apresentou alto nível de mercúrio nas penas (2,65 µg.g-1 ± 0,95 µg.g-1

de peso úmido, n=5). A correta interpretação dos níveis de mercúrio em penas de aves

deve levar em consideração os níveis considerados como característicos de

contaminações naturais. No entanto, os altos níveis de mercúrio detectados nas penas

das quatro espécies de aves, avaliadas na presente investigação, evidenciam

contaminação por mercúrio no Pantanal. Os níveis encontrados nos diferentes

substratos, além de se situarem acima dos níveis considerados naturais, apresentam-se

bem próximos dos encontrados em aves piscívoras e carniceiras de áreas contaminadas

por organomercuriais e efluentes industriais em outras regiões. Por outro lado, são bem

mais elevados do que os teores de mercúrio encontrados em penas de aves que se

alimentam de grãos em locais contaminados (Doi et al., 1984). Observa-se que

Hylander et al. (1994) constataram teores de mercúrio em penas de urubu (C. atratus) e

de caracará (P. plancus) de 6,23 µg.g-1 e 6,75 µg.g-1, respectivamente, capturados em

Porto Jofre, às margens do rio Cuiabá no Pantanal, níveis esses bem mais elevados que

os obtidos na presente investigação.

Fígado – Cerca de 96% das amostras de fígado dos biguás evidenciaram concentrações

de mercúrio superiores a 0,5 µg.g-1, embora alguns indivíduos tenham apresentado

teores entre 3 µg.g-1 e 4 µg.g-1. No entanto, 46% das amostras de fígado dos biguás

revelaram concentrações de mercúrio entre 1 µg.g-1 e 2 µg.g-1. A média mais elevada

(1,610µg.g-1 ± 0,903 µg.g-1, n=4) e a concentração individual mais alta (4,309 µg.g-1)

dos níveis de mercúrio no fígado das aves foi detectada nos biguás. Por outro lado, 73%

dos gaviões-caramujeiros, 52% das garças e 40% das amostras de carão evidenciaram

concentrações de mercúrio no fígado abaixo de 0,5µg.g-1. Além disso, 40% das

amostras de fígado de carão evidenciaram níveis de mercúrio ≥ 0,5 µg.g-1 e < 1 µg.g-1.

As médias dos níveis de mercúrio no fígado do carão oscilaram entre 0,387

µg.g-1 ± 0,066 µg.g-1, n=5 a 1,545µg.g-1, n=3, e ocorreram nas fêmeas na segunda e

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terceira épocas de captura. As médias dos teores de mercúrio no fígado das garças

oscilaram entre 0,505 µg.g-1 ± 0,109 µg.g-1, n=4 a 1,001 µg.g-1 ± 0,276 µg.g-1, n=3). Nos

gaviões-caramujeiros, as médias dos níveis de mercúrio no fígado oscilaram entre 0,175

µg.g-1 ± 0,034 µg-1 , n=12 a 0,849 µg.g-1 ± 0,272 µg.g-1, n=11.

Em se constatando diferenças entre as médias dos níveis de mercúrio no fígado

das quatro espécies de aves, foi decidido submeter esses dados a uma análise de

variância. Essa análise (das ordens) evidenciou que as espécies se comportaram de

maneira diferente com relação aos níveis de mercúrio no fígado, o que foi caracterizado

pelo elevado nível de significância (P > F0,0001). Além disso, embora os níveis de

mercúrio no fígado não tenham variado com a época em que as aves foram capturadas, a

análise de variância também detectou a existência de interação entre espécie e época (P

> F0,0001), evidenciando que as espécies avaliadas apresentaram comportamentos

diferenciados dentro de uma mesma época de captura. A comparação dos contrastes de

médias dos níveis de mercúrio no fígado, proveniente da interação espécie e época de

captura, foi realizada pelo teste de “t”. Esse teste, aplicado às médias dos níveis de

mercúrio no fígado, resultante da interação espécie e época de captura, ao nível de 1%

de significância, revelou que, na primeira época de captura, as espécies apresentaram

comportamentos distintos, com exceção do biguá, cuja média (1,267 µg.g-1, n=6) não

diferiu daquela (1,129 µg.g-1, n=12) detectada no carão. Esse resultado reflete que, de

modo geral, as espécies apresentam diferentes potenciais de acumular mercúrio no

fígado dentro de uma mesma época de captura. Foi também investigada uma possível

associação entre os níveis de mercúrio nas penas e no fígado, por meio de uma análise

de correlação parcial, levando-se em consideração os efeitos de espécie, época de

captura e sexo, em conjunto. O coeficiente de correlação parcial foi cerca de 0,30

(n=76), com um nível de significância de 1,89%. Quando se investigou a referida

associação sem levar em consideração o efeito de espécie, época de captura e sexo, pelo

coeficiente de Pearson, obteve-se um valor de “r” igual a 0,3641 (n=76), P>F 0,0011.

Esses resultados mostram que a associação entre essas duas variáveis (nível de mercúrio

nas penas e no fígado) é pouca influenciada pelos efeitos de espécie, época de captura e

sexo. Isso significa que a correlação entre os níveis de mercúrio nas penas e no fígado

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independe da espécie e época de captura. Verifica-se que os níveis de mercúrio nas

penas refletem os teores existentes no organismo do animal por ocasião em que a matriz

da pena foi formada, embora as espécies apresentem diferenças de nível trófico, padrões

e época de muda (Berg et al., 1966; Westermark et al., 1975). De acordo com o

esperado, as análises de fígado das aves estudadas refletiram altos níveis de mercúrio

existentes no ambiente, confirmando que o fígado é o órgão que armazena e metaboliza

esse elemento ingerido pelas aves. Em função dessa sua característica, tem sido muito

utilizado no monitoramento de aves em locais suspeitos de contaminação (Newton et

al., 1993; Kim et al., 1996a; Kim et al., 1996b). Os elevados níveis de mercúrio

detectados no fígado das quatro espécies de aves sugerem que o mercúrio, proveniente

dos garimpos de ouro e lançado no Pantanal está contaminando as aves. O biguá

(piscívora) foi a espécie que bioacumulou a mais alta taxa de mercúrio (4,309 µg.g-1)

apresentou a mais alta média (1,610 µg.g-1 ± 0,903µg.g-1, n=4). As diferenças

significativas detectadas entre as espécies demonstram, como era esperado, que os

níveis de mercúrio no fígado das aves estão, de modo geral, relacionados com o seu

nível trófico.

Embora fosse esperado diferenças entre espécies com relação à época de captura

(sazonalidade), a análise das ordens não detectou discrepâncias relevantes. Esse

resultado, possivelmente, indica que a época de captura não foi um fator importante

para determinar flutuações nos níveis de mercúrio. As espécies estudadas,

provavelmente, apresentaram o mesmo potencial de bioacumulação de mercúrio em

todas as três épocas avaliadas. No entanto, dentro de uma mesma época, as espécies

apresentaram comportamentos diferenciados, refletindo que as grandes diferenças entre

espécies foram suficientes para promover tal interação, o que pode ser confirmado pelo

alto valor de F (18,47). Flutuações sazonais nos níveis de mercúrio no fígado de aves,

com altas taxas antes da muda e mais baixas logo após, foram encontradas por Goede

(1985), evidenciando que a muda de penas é um importante fator de dissipação de

mercúrio nas aves.

A literatura mostra que aves criadas em cativeiro e expostas exclusivamente a

níveis normais de mercúrio, de modo geral, apresentam níveis no fígado abaixo de 0,2

µg.g-1 de peso úmido (Pass et al., 1973; Heinz, 1976). Além disso, aves silvestres,

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28

vivendo em ambiente com pouca contaminação industrial, têm evidenciado níveis de

mercúrio no fígado oscilando entre 1 µg.g-1 a 10 µg.g-1 de peso úmido, e que os mais

altos níveis estão associados com aves carniceiras e piscívoras (Fimreite et al., 1974).

Observa-se, nesses, registros da literatura que aves que vivem em hábitats contaminados

por mercúrio apresentam, em geral, níveis elevados de mercúrio no fígado, o que

explica a ocorrência de elevados níveis nas aves avaliadas no Pantanal.

Níveis de mercúrio no fígado de aves em torno de 2 µg.g-1 (peso úmido) estão

associados com o decréscimo na taxa de eclosão, por causa da precoce mortalidade

embrionária, e no incremento do número de ovos inférteis, podendo evidenciar sérios

distúrbios na reprodução (Borg et al., 1970). Segundo Scheuammer (1987), níveis de

mercúrio no fígado em torno de 2 µg.g-1, refletem exposição crônica das aves, enquanto

que concentrações mais elevadas, tais como 30 µg.g-1 a 130 µg.g-1, estão associadas com

completa mortalidade. Nesse sentido, Heinz (1979) detectou alterações no

comportamento e reprodução de patas (Anas platyrhynchos) que receberam ração com

0,5 µg.g-1 de metilmercúrio. Esse resultado de Heinz (1979) está associado com a

constatação de teores de mercúrio no fígado de 1,62 µg.g-1, 0,89 µg.g-1 e 1,49 µg.g-1 em

três gerações de patos selvagens. Com base nos resultados, supõe-se que a reprodução

dessas quatro espécies de aves no Pantanal aqui estudadas pode estar sendo afetada.

CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

Os níveis de mercúrio detectados neste estudo mostram que o mercúrio utilizado

nos garimpos está atingindo os ecossistemas aquáticos do Pantanal. Embora o

sedimento e os moluscos tenham evidenciado relativamente baixos níveis de mercúrio,

os peixes e as aves apresentaram expressivas contaminações, sugerindo que o mercúrio

está se biomagnificando nessa região. As espécies que possuem nível trófico mais

elevado evidenciaram, de modo geral, concentrações mais elevadas do que as de nível

trófico inferior. As concentrações de mercúrio no tecido muscular, principalmente em

algumas espécies de peixes carnívoros, situaram-se acima de 0,5 µg.g-1 (peso úmido),

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29

que é o nível crítico permitido para consumo humano. A situação é mais crítica nos rios

Cuiabá e Bento Gomes, pois estão mais próximos dos garimpos. No rio Paraguai,

embora tenham sido detectadas contaminações, os níveis de mercúrio e a freqüência de

ocorrência foram bem mais baixos. A piranha, que é carnívora, demonstrou elevado

potencial de bioacumulação de mercúrio na carne e no fígado. O biguá e a garça

(piscívoras) distinguiram-se do carão e do gavião-caramujeiro por apresentarem

concentrações mais elevadas de mercúrio tanto nas penas quanto no fígado, ainda que a

freqüência de concentrações mais elevadas tenha ocorrido nos biguás.

Embora o perfil da atividade garimpeira de Poconé e Nossa Senhora do

Livramento tenha se alterado na última década, o mercúrio continua sendo utilizado

apenas na etapa final do processo de extração (bateia) e na sua recuperação (queima da

amálgama) em retortas com circuito fechado, evitando que esse elemento incremente o

nível de mercúrio na atmosfera. É preciso maior sensibilidade e ação das autoridades

responsáveis pela saúde pública e preservação/conservação dos recursos naturais. O

Pantanal, além de ser patrimônio nacional pela Constituição Federal de 1988, foi,

recentemente, decretado patrimônio da humanidade pela Organização das Nações

Unidas.

Page 30: BIOMAGNIFICAÇÃO DE MERCÚRIO NO PANTANAL, BRASIL

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