Biomas Brasileiros
-
Upload
adele-maria-erquiaga -
Category
Documents
-
view
374 -
download
0
Transcript of Biomas Brasileiros
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
SSUUMMÁÁRRIIOO
Biomas brasileiros 01 Introdução 02 Amazônia 03 Introdução 04 Desmatamento 05 Elementos que compõem o bioma 07 Fauna 07 Vegetação 08 Solo 08 Relevo 09 Água 09 Clima 10 Unidade de conservação existente no Bioma 11 Atividades importantes no município 11 Experiências de ecoturismo no Bioma 12 Caatinga 13 Introdução 14 Localização 15 Caracterização 15 Clima e Hidrologia 16 Geologia, Relevo e Solos 18 Vegetação 20 Fauna 21 Curiosidade 22 Importância Econômica 22 Uso Sustentável Integrado da Biodiversidade 24 Cerrado 29 Introdução 30 Solo 30 Clima 31 Topografia 31 Hidrografia 32 Vegetação 32 Recursos Naturais de Importância Econômica 33 Paisagens fortemente Antropizadas 33 Mata Atlântica 35 Introdução 36 Características 39 Flora 42 Fauna 44 A Mata Atlântica e sua Importância 46
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva Exploração da Mata 48 Extinção 50 Unidades de Conservação 50 Pampas 53 Introdução 54 Solo 55 Clima 56 Topografia 56 Hidrografia 56 Cobertura Vegetal 57 Fauna 58 Bioma em Risco 58 Capincho é alternativa econômica 62 Considerações 63 Pantanal 64 Introdução 65 Geologia 67 Clima e Solo 68 Elementos da Paisagem 69 Vegetação 70 Hidrografia 73 Fauna 73 Flora 74 Ocupação e Atividades Econômicas 75 Pesca 76 Turismo 77 Mineração 78 Agricultura 78 Ameaças 79 Soluções e Projetos 81 Áreas Protegidas 82 Corredor Maracaju‐Negro 82 Projetos 83 Corredor Miranda‐Serra da Bodoquena 85 Projetos 87 Corredor de Biodiversidade Cuiabá–São Lourenço 87 Proteção de Espécies 90 Arara‐Azul 91 Onça‐Pintada 91 Conciliação de conservação e pecuária 93 Pecuária Orgânica 93 Artesanato 94 Referências Bibliográficas 96
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
1
BBIIOOMMAASS BBRRAASSIILLEEIIRROOSS
Figura 1 ‐ Mapa dos Biomas Brasileiros
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
Introdução
Bioma é um conjunto de vida (vegetal e animal) constituído pelo agrupamento de tipos de
vegetação contíguos e identificáveis em escala regional, com condições geoclimáticas similares e
história compartilhada de mudanças, o que resulta em uma diversidade biológica própria.
Mapa de Biomas: resultado da parceria entre IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística) e MMA (Ministério do Meio Ambiente), iniciada em agosto de 2003.
O bioma Amazônia ocupa a totalidade de cinco unidades da federação (Acre, Amapá,
Amazonas, Pará e Roraima), grande parte de Rondônia (98,8%), mais da metade de Mato Grosso
(54%), além de parte de Maranhão (34%) e Tocantins (9%).
O bioma Caatinga se estende pela totalidade do estado do Ceará (100%) e mais de
metade da Bahia (54%), da Paraíba (92%), de Pernambuco (83%), do Piauí (63%) e do Rio Grande
do Norte (95%), quase metade de Alagoas (48%) e Sergipe (49%), além de pequenas porções de
Minas Gerais (2%) e do Maranhão (1%).
O bioma Cerrado ocupa a totalidade do Distrito Federal, mais da metade dos estados de
Goiás (97%), Maranhão (65%), Mato Grosso do Sul (61%), Minas Gerais (57%) e Tocantins (91%),
além de porções de outros seis estados.
O bioma Mata Atlântica ocupa inteiramente três estados ‐ Espírito Santo, Rio de Janeiro e
Santa Catarina ‐ e 98% do Paraná, além de porções de outras 11 unidades da federação.
O bioma Pampa se restringe ao Rio Grande do Sul e ocupa 63% do território do estado.
O bioma Pantanal está presente em dois estados: ocupa 25% do Mato Grosso do Sul e 7%
do Mato Grosso.
2
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
3
AAMMAAZZÔÔNNIIAA
Figura 2 e 3 ‐ Amazônia
CCAARRLLOOSS AALLBBEERRTTOO FFEERRNNAANNDDEESS
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
Introdução
A floresta amazônica é conhecida como abrigo da maior biodiversidade do mundo, pois
nela podem ser encontradas milhares de espécies animais, vegetais e micro‐organismos. Além da
variedade de seres biológicos, a região conta com muitos rios, os quais formam a maior reserva
de água doce de superfície disponível no mundo.
O clima que caracteriza a região é o equatorial úmido. Potencial de biodiversidade
abrigado no bioma Amazônia explorando a fauna e flora, aspectos da vegetação, solo, águas e
climas, abrangendo as características do bioma, quantidades de UC´s, Estados brasileiros que
fazem parte, municípios significante, bem como, experiências de ecoturismo na região e
culminando com a visão da equipe.
Figura 4 ‐ Território do Bioma Amazônia
O bioma Amazônia ocupa cerca de 40% do território nacional. Nele estão localizados os
estados do Pará, Amazonas, Amapá, Acre, Rondônia e Roraima e algumas partes do Maranhão,
Tocantins e Mato Grosso. Também inclui terras de países próximos ao Brasil, como as Guianas,
Suriname, Venezuela, Equador, Peru e Bolívia.
A área da Amazônia brasileira abrange 4.871.000Km2, apesar de sua riqueza de habitats e
diversificada biodiversidade ainda há profundas lacunas de conhecimentos por parte do homem
4
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
sobre algumas espécies existentes no bioma de modo que o processo de conservação ambiental
torna‐se um desafio.
Duas linhas metodológicas presente para que haja a preservação na Amazônia, são: uma
baseada na distribuição de espécies e outra com base nos ecossistemas.
Desmatamento
O processo é resultado de desmatamento, mudanças climáticas e queimadas. As
queimadas têm acelerado o processo de formação de área de savana em região que compreende
o Mato Grosso e sul do Pará. Cerca de 70% da área anteriormente coberta por floresta, e 91% da
área desmatada desde 1970, é usada como pastagem. Além disso, o Brasil é atualmente o
segundo maior produtor global de soja (atrás apenas dos EUA), usada sobretudo como ração para
animais.
À medida que o preço da soja sobe, os produtores avançam para o norte, em direção às
áreas ainda cobertas por floresta. Pela legislação brasileira, abrir áreas para cultivo é considerado
"uso efetivo" da terra e é o primeiro passo para obter sua propriedade.
Áreas já abertas valem 5 a 10 vezes mais que áreas florestadas e por isso são
interessantes para proprietários que tem o objetivo de revendê‐las. Segundo Michael Williams, "O
povo brasileiro sempre viu a Amazônia como uma propriedade comunal que pode ser livremente
cortada, queimada e abandonada."
A indústria da soja é a principal fonte de divisas para o Brasil, e as necessidades dos
produtores de soja têm sido usados para validar muitos projetos controversos de infraestrutura
de transportes na Amazônia.
As duas primeiras rodovias, Belém‐Brasília (1958) e Cuiabá‐Porto Velho (1968), eram, até
o fim da década de 1990, as duas únicas rodovias pavimentadas e transitáveis o ano inteiro na
Amazônia Legal. Costuma‐se dizer que essas duas rodovias são o cerne de um ‘arco de
desmatamento’".
A rodovia Belém‐Brasília atraiu cerca de 2 milhões de colonizadores em seus 20 primeiros
anos. O sucesso da rodovia Belém‐Brasília em dar acesso à Amazônia foi repetido com a
construção de mais estradas para dar suporte à demanda por áreas ocupáveis.
A conclusão da construção das estradas foi seguida por intenso povoamento das
redondezas, com impactos para a floresta. Cientistas usando dados de satélites da NASA
constataram que a ocupação por áreas de agricultura mecanizada tem tornado‐se, recentemente,
5
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
uma força significativa no desmatamento da Amazônia brasileira. Essa modificação do uso da
terra pode alterar o clima da região e a capacidade da área de absorver dióxido de carbono.
Pesquisadores descobriram que em 2003, então o ano com maiores índices de
desmatamento, mais de 20% das florestas no Mato Grosso foram transformadas em área de
cultivo. Isso sugere que a recente expansão agrícola na região contribui para o desmatamento.
Em 2005, o preço da soja caiu mais de 25% e algumas áreas do Mato Grosso mostraram
diminuição no desmatamento, embora a zona agrária central tenha continuado com o
desmatamento.
A taxa de desmatamento pode retornar aos altos níveis de 2008 à medida que a soja e
outros produtos agrícolas voltam a se valorizar no mercado internacional.
O Brasil tornou‐se um líder mundial na produção de grãos, incluindo a soja, que totalizam
mais de um terço do PIB brasileiro. Isso sugere que as altas e baixas dos preços de grãos, carne e
madeira.
Figura 5 ‐ Mapa do desmatamento da Amazônia brasileira, divulgado em agosto de 2009
6
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
7
Elementos que compõem o Bioma
Fauna
Pesquisas indicam que na Amazônia existem
cerca de trinta milhões de espécies animais. Dá para
acreditar? E isso porque nem todas as espécies foram
encontradas e estudadas pelos cientistas. Lá existem
homens.
alguns animais que ainda são desconhecidos pelos
es. Mais de mil espécies de
já foram
Bom, mas uma coisa é certa: são muitos animais convivendo neste grande ecossistema.
Talvez os mais famosos deles sejam os macacos. Eles são numerosos: coatás, guaribas,
barrigudos...
Uma infinidade de primatas pode ser encontrada nos galhos das árvores amazônicas.
Além deles existem outros mamíferos característicos da região. São mamíferos terrestres, como
onças, tamanduás, esquilos, e mamíferos aquáticos, como peixes‐boi e botos.
Os répteis também têm território garantido. Em um passeio pela região podem ser vistos
lagartos, jacarés, tartarugas e serpentes. Entre os anfíbios, existem variados tipos de rãs, sapos e
pererecas.
Uma grande coleção de peixes é outro fato digno de nota: nas águas amazônicas estão
85% das espécies de peixes de toda a América do Sul. Todos os anos milhares deles migram
tentando encontrar locais adequados para reprodução e desova. É o que se chama Piracema.
Outros seres ainda menores têm grande importância no equilíbrio deste ecossistema: os
insetos. Eles são numerosos. Besouros, formigas,
mariposas e vespas fazem parte do grupo que é
maioria na fauna amazônica. Na terra, na água e no
ar.
Há grande variedade também de aves na
floresta. Araras, papagaios, periquitos e tucanos
colorem as copas das árvor
aves catalogadas.
Figura 6 ‐Macaco guariba
Figura 7 ‐ Tucano
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
8
Vegetação
ção do bioma Amazônia se apresenta em três categorias:
são constantes e se
ndosas árvores, as de grande
como a castanheira do Pará.
os, cipós e
usgos. A vitória mata.
ge
que se forma a partir da decomposição de folhas, frutos e animais mortos. Esta
A vegeta
Matas de várzea: São matas que sofrem com
as constantes enchentes, partes delas estão localizadas
em terras altas onde ocorre inundação apenas em
determinado período do ano. Enquanto que nas
regiões baixas as inundações
assemelham as matas de igapó.
Matas de terra firme: Estas se localizam em partes altas
e por esse motivo não sofrem com as costumeiras enchentes,
nestas estão localizadas as mais fro
porte
Matas de igapó: Localizada em locais baixos, sua
vegetação se caracteriza por pequenos arbust
m régia brasileira conhecida mundialmente é encontrada nesse tipo de
Solo
O solo da floresta amazônica é em ral bastante arenoso. Possui uma fina camada de
nutrientes
Figura 8 – Matas de várzea
Figura 9 – Matas de terra firme
Figura 10 – Matas de Igapó Figura 11 – Matas de Igapó
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
9
c é rica em húmus, matéria orgânica
muito importante para algumas espécies de
plantas da região.
Em áreas desmatadas, as fortes chuvas
"lavam" o solo, carregando seus nutrientes. É o
14% de todo o território
amada
chamado processo de lixiviação, que deixa os
solos amazônicos ainda mais pobres. Apenas
pode ser considerado
rtil pa
rar nutrientes para
nriquecimento do solo. Trata‐se de uma constante reciclagem de nutrientes.
Relevo
as baixas) e
ícies são constantemente inundadas pela
gua do
algumas serras,
omo a
alto que se encontra o Pico da Neblina, ponto mais
lto do Brasil, com cerca de 3.015 metros.
Água
fé ra a agricultura.
Mas se apenas essa pequena parte é fértil, como existem tantas árvores? Aqui está um
dos pontos essenciais para o equilíbrio do ecossistema. Neste processo a camada de húmus tem
um papel fundamental. Além disso, os poucos nutrientes presentes no solo são rapidamente
absorvidos pelas raízes das árvores, e estas plantas, por sua vez, tornam a libe
e
Compõem o bioma Amazônia: planícies (terrenos
com pouca variação de altitude), depressões (tipo de
relevo aplainado, onde são encontradas colin
planaltos (terrenos com superfície elevada).
As plan
á s rios.
Na região de planaltos existem
c s de Taperapecó, Imeri e Parima.
Ficam na Amazônia as formações de relevo mais baixa ‐ planície Amazônica ‐ e mais alta
planalto das Guianas ‐ do país. É nesse plan
a
A água é um importante componente em um ecossistema. Isto porque a água é
fundamental para a vida. No caso da floresta amazônica, a água doce é abundante: trata‐se da
Figura 12 – Região da Amazônia em época de seca
Figura 13 – Serra do Imeri
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
10
maior bacia hidrográfica do planeta. Seu principal rio é o Amazonas, que possui mais de mil
afluentes (rios menores que nele deságuam), é o mais largo do mundo e grande responsável pelo
ção da
gua va
o próprio Amazonas, têm a cor
a água
m
água barrenta, desta forma
prese
. O mais conhecido
águas pretas é o rio Negro.
Clima
o
a
ssas áreas podem ser mais ou menos adequadas à vida de determinados vegetais e animais.
desenvolvimento da floresta.
Os rios influenciam a vida dos animais e a vegetação do lugar. De forma geral, são
classificados em três tipos: rios de águas barrentas, de águas claras e águas pretas. A colora
á ria de acordo com determinadas substâncias que podem ser encontradas nos rios.
Os chamados rios de águas barrentas, como o Madeira e
d modificada por serem ricos em sedimentos e nutrientes.
o o Xingu, o Tapajós e o Trombetas possuem muitos trechos de
corredeiras e cachoeiras. Estes rios não banham tantos terrenos
ricos em nutrientes como os de
Os de águas claras, co
a ntam água mais cristalina.
Por fim, os rios de águas pretas são assim denominados
por nascerem em terrenos de planície e carregarem a areia e o
húmus que caracterizam o solo de tais terrenos. O húmus é o
grande responsável pela cor escura das águas
rio amazônico de
Na região amazônica chove bastante
e a temperatura é elevada, normalmente
variando entre 22°C e 28°C. É chamado
clima equatorial úmido, que caracteriza
algumas áreas próximas à linha do Equador.
De acordo com a intensid de das
chuvas sobe o nível dos rios; com o
aumento do nível dos rios algumas áreas
podem ser alagadas e, uma vez alagadas,
e
Figura 14 – Rio Negro
Figura 15 – Onça Pintada
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
11
Unidade de conservação existente no Bioma
regiões ocupam áreas maiores de
0% do
s
gral; 77 unidades de conservação de
as apresentando mais de 20% de suas áreas em unidades de
ainda é insuficiente para garantir
versidade de ecossistema existente no mesmo.
es importantes no município
ipe, possui imensas áreas
amirauá e as populações tradicionais ajudam na preservação,
estão em extinção são elas: Uacari‐de‐
abeça‐ ri negro.
O bioma Amazônia é formado por 23 ecorregiões, onde os interflúvios são a principal
causa de separação dessas ecorregiões, existindo uma grande variante em relação à porcentagem
que cada ecorregião ocupa do bioma, onde apenas três ecor
1 bioma, enquanto que a maioria ocupa menos de 10%.
Tratando‐se das unidades de conservação existentes no bioma, estima‐ e a existência de
51 unidades de conservação de proteção inte
desenvolvimento sustentável e 259 terras indígenas.
As 51 unidades de conservação integral existentes no bioma não são divididas de forma
igual entre as ecorregiões que compõem o mesmo, seguindo tal forma de distribuição: Doze das
23 ecorregiões apresentam menos de 5% de sua extensão em unidades de conservação de
proteção integral, cinco entre 5% a 20% de suas áreas em UC´s, três não apresentam nenhuma
UC´s e somente três são privilegiad
conservação de proteção integral.
Desta forma contata‐se que o sistema de UC´s no bioma,
a proteção da di
Atividad
Em 1996, Mamirauá, foi transformada em reserva de desenvolvimento sustentável é uma
área de 1.124.000 hectares, corresponde a metade do estado do Serg
florestais alagadas, se constituindo na maior área protegida de várzea.
A reserva diferentemente dos parques nacionais incentivam a presença de moradores do
local que servem como uma espécie de guardiões dentro da reserva. Algumas espécies de
madeiras tropicais estão em M
pesquisa e manejo da unidade.
A reserva possui 300 espécies de peixes, 400 de aves, aproximadamente 45 espécies de
mamíferos. Há uma espécie de mamífero‐macaco que está em extinção é o Uacari‐branco
(Cacajão Calvus) que andam em bando aproximadamente, 50 criaturas, pesam quatro quilos,
comem frutos imaturos e andam muitos quilômetros por dia. O Uacari‐branco é característico de
mamirauá, contudo, as outras, três espécies também
c vermelha, Uacari‐de‐cabeça‐preta, Uaca
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
12
Experiências de ecoturismo no Bioma
ação ambiental, o ecoturismo comunitário e a produção integrada de
istema
ara a preservação do meio ambiente desenvolvimento econômico e
integração da comunidade.
Silves é um município do estado do Amazonas com sede administrativa em uma ilha
fluvial do Urubu, tendo sua comunidade sentindo‐se ameaçada pela exploração predatória de
recursos pesqueiros, por pescadores comerciais das grandes cidades, uniram‐se em uma
organização não governamental, ASPAC, Associação de Silves pela Preservação Ambiental e
Cultural, com objetivo de defesa, preservação e recuperação do meio ambiente, manejo de
lagos, associada à educ
s agro‐florestais.
A ASPAC desenvolveu um projeto de ecoturismo em Silves, um projeto de Ecoturismo
Comunitário na Amazônia Brasileira, buscou parcerias e conseguiram apoio técnico da WWF e
financiamento do governo da Áustria. Criando a pousada ecológica Aldeia dos Lagos, que se
tornou o primeiro empreendimento comunitário de ecoturismo da Amazônia, cuja renda foi
revertida para a conservação do sistema de lagos de pesca da região e para melhorar a qualidade
de vida dos ribeirinhos do município de Silves, pois, a implantação do ecoturismo de forma
adequado pode contribuir p
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
13
CCAAAATTIINNGGAA
Figura 16 e 17 ‐ Caatinga
AANNTTÔÔNNIIOO AAPPAARREECCIIDDOO BBOORRGGEESS JJÚÚNNIIOORR
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
Introdução
A caatinga é uma formação vegetal que podemos encontrar na região do semi‐árido
nordestino. Está presente também nas regiões extremo norte de Minas Gerais e sul dos estados
do Maranhão e Piauí. O bioma Caatinga é o principal ecossistema existente na Região Nordeste,
estendendo‐se pelo domínio de climas semi‐áridos, numa área de 73.683.649 ha, 6,83% do
território nacional; ocupa os estados da BA, CE, PI, PE, RN, PB, SE, AL, MA e MG.
O termo Caatinga é originário do tupi‐guarani e significa mata branca.
É um bioma único, pois, apesar de estar localizado em área de clima semi‐árido,
apresenta grande variedade de paisagens, relativa riqueza biológica e endemismo. A ocorrência
de secas estacionais e periódicas estabelece regimes intermitentes aos rios e deixa a vegetação
sem folhas. A folhagem das plantas volta a brotar e fica verde nos curtos períodos de chuvas.
A Caatinga é dominada por tipos de vegetação com características xerofíticas – formações
vegetais secas, que compõem uma paisagem cálida e espinhosa – com estratos compostos por
gramíneas, arbustos e árvores de porte baixo ou médio (3 a 7 metros de altura), caducifólias
(folhas que caem), com grande quantidade de plantas espinhosas (exemplo: leguminosas),
entremeadas de outras espécies como as cactáceas e as bromeliáceas. Levantamentos sobre a
fauna do domínio da Caatinga revelam a existência de 40 espécies de lagartos, sete espécies de
anfibenídeos (espécies de lagartos sem pés), 45 espécies de serpentes, quatro de quelônios, uma
de Crocodylia, 44 anfíbios anuros e uma de Gymnophiona.
A Caatinga tem sido ocupada desde os tempos do Brasil ‐ Colônia com o regime de
sesmarias e sistema de capitanias hereditárias, por meio de doações de terras, criando‐se
condições para a concentração fundiária.
De acordo com o IBGE, 27 milhões de pessoas vivem atualmente no polígono das secas. A
extração de madeira, a monocultura da cana‐de‐açúcar e a pecuária nas grandes propriedades
(latifúndios) deram origem à exploração econômica.
Na região da Caatinga, ainda é praticada a agricultura de sequeiro.
Os ecossistemas do bioma Caatinga encontram‐se bastante alterados, com a substituição
de espécies vegetais nativas por cultivos e pastagens. O desmatamento e as queimadas são ainda
práticas comuns no preparo da terra para a agropecuária que, além de destruir a cobertura
vegetal, prejudica a manutenção de populações da fauna silvestre, a qualidade da água, e o
equilíbrio do clima e do solo. Aproximadamente 80% dos ecossistemas originais já foram
antropizados.
14
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
Localização
A caatinga ocupa uma área de 734.478 km2 e é o único bioma exclusivamente brasileiro.
Isto significa que grande parte do patrimônio biológico dessa região não é encontrada em outro
lugar do mundo além de no Nordeste do Brasil.
A caatinga ocupa cerca de 7% do território brasileiro. Estende‐se pelos estados do
Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Sergipe, Alagoas, Bahia e
norte de Minas Gerais. A área total é de aproximadamente 1.100.000 km².
Figura 18 ‐ Região da Caatinga
Caracterização
A caatinga tem uma fisionomia de deserto, com índices pluviométricos muito baixos, em
torno de 500 a 700 mm anuais. Em certas regiões do Ceará, por exemplo, embora a média para
anos ricos em chuvas seja de 1.000 mm, pode chegar a apenas 200 mm nos anos secos.
A temperatura se situa entre 24 e 26 graus e varia pouco durante o ano. Além dessas
condições climáticas rigorosas, a região das caatingas está submetida a ventos fortes e secos, que
contribuem para a aridez da paisagem nos meses de seca.
As plantas da caatinga possuem adaptações ao clima, tais como folhas transformadas em
espinhos, cutículas altamente impermeáveis, caules suculentos etc. Todas essas adaptações lhes
15
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
conferem um aspecto característico denominado xeromorfismo (do grego xeros, seco, e morphos,
forma, aspecto). Duas adaptações importantes à vida das plantas nas caatingas são a queda das
folhas na estação seca e a presença de sistemas de raízes bem desenvolvidos. A perda das folhas
é uma adaptação para reduzir a perda de água por transpiração e raízes bem desenvolvidas
aumentam a capacidade de obter água do solo.
O mês do período seco é agosto e a temperatura do solo chega a 60ºC. O sol forte acelera
a evaporação da água das lagoas e rios que, nos trechos mais estreitos, secam e param de correr.
Quando chega o verão, as chuvas encharcam a terra e o verde toma conta da região.
Mesmo quando chove, o solo raso e pedregoso não consegue armazenar a água que cai e
a temperatura elevada (médias entre 25ºC e 29ºC) provoca intensa evaporação. Por isso, somente
em algumas áreas próximas às serras, onde a abundância de chuvas é maior, a agricultura se
torna possível.
Na longa estiagem, os sertões são, muitas vezes, semi‐desertos e nublados, mas sem
chuva. O vento seco e quente não refresca, incomoda. A vegetação adaptou‐se ao clima para se
proteger. As folhas, por exemplo, são finas, ou inexistentes.
Algumas plantas armazenam água, como os cactos, outras se caracterizam por terem
raízes praticamente na superfície do solo para absorver o máximo da chuva.
Os cerca de 20 milhões de brasileiros que vivem nos 800 mil km2 de Caatinga nem sempre
podem contar com as chuvas de verão. Quando não chove, o homem do sertão e sua família
sofrem muito. Precisam caminhar quilômetros em busca da água dos açudes. A irregularidade
climática é um dos fatores que mais interferem na vida do sertanejo.
O homem complicou ainda mais a dura vida no sertão. Fazendas de criação de gado
começaram a ocupar o cenário na época do Brasil colônia. Os primeiros a chegar pouco
entendiam a fragilidade da Caatinga, cuja aparência árida denuncia uma falsa solidez. Para
combater a seca, foram construídos açudes para abastecer de água os homens, seus animais e
suas lavouras. Desde o Império, quando essas obras tiveram início, o governo prossegue com o
trabalho.
Clima e Hidrologia
Enquanto que as médias mensais de temperatura variam pouco na região, sendo mais
afetadas pela altitude que por variações em insolação, as variações diárias de temperatura e
16
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
umidade são bastante pronunciadas, tanto nas áreas de planície como nas regiões mais altas do
planalto.
No planalto, os afloramentos rochosos mais expostos, sujeitos à ação dos ventos e outros
fatores, podem experimentar temperaturas muito baixas e próximas ou abaixo de zero grau
durante as noites mais frias do ano, enquanto que a temperatura pode ser bastante elevada
durante os dias quentes e ensolarados do verão. Esta grande variação local de temperatura e
umidade durante o dia influencia bastante a vegetação destas áreas, e é um forte fator a
determinar sua composição.
As variações em temperatura são muito menos extremas durante a estação chuvosa, e
também durante certos períodos quando a neblina se forma, especialmente à noite nas áreas de
maior altitude, durante a estação seca.
Não é incomum se observar pesadas formações de nuvens ou neblina nas regiões mais
altas no início da manhã, durante a estação seca, o que resulta em menos de cinco horas de
insolação por dia no planalto, enquanto que as áreas de planície circunvizinhas possuem uma taxa
mais alta de insolação diária, sete horas ou mais.
Ao amanhecer, pode‐se observar a presença de orvalho em abundância cobrindo o solo,
as rochas e a vegetação nos locais mais altos. Isto fornece certa umidade ao solo mesmo durante
a estação seca, e contribui para a manutenção da vegetação da área.
As áreas de planície estão sujeitas a um período de seca muito mais longo e severo que as
áreas planálticas mais elevadas, período que normalmente dura sete meses, mas que às vezes
pode chegar a até doze meses em um ano. Não só a taxa de precipitação anual é mais baixa,
como também as temperaturas são em geral mais altas. Estas áreas têm clima semi‐árido tropical,
com temperaturas médias mensais ficando acima de 22°C.
Quando chove, no início do ano, a paisagem muda muito rapidamente. As árvores
cobrem‐se de folhas e o solo fica forrado de pequenas plantas. A fauna volta a engordar.
Através de caminhos diversos, os rios regionais saem das bordas das chapadas, percorrem
extensas depressões entre os planaltos quentes e secos e acabam chegando ao mar, ou
engrossando as águas do São Francisco e do Parnaíba (rios que cruzam a Caatinga).
Das cabeceiras até as proximidades do mar, os rios com nascentes na região permanecem
secos por cinco ou sete meses no ano. Apenas o canal principal do São Francisco mantém seu
fluxo através dos sertões, com águas trazidas de outras regiões climáticas e hídricas.
17
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
Geologia, Relevo e Solos
Geologicamente, a região é composta de vários tipos diferentes de rochas. Nas áreas de
planície as rochas prevalecentes têm origem na era Cenozóica (do fim do período Terciário e início
do período Quaternário), as quais se encontram cobertas por uma camada de solo bastante
profunda, com afloramentos rochosos ocasionais, principalmente nas áreas mais altas que
bordejam a Serra do Tombador; tais solos (latossolos) são solos argilosos (embora a camada
superficial possa ser arenosa ou às vezes pedregosa) e minerais, com boa porosidade e rico em
nutrientes.
Afloramentos de rocha calcária de coloração acinzentada ocorrem a oeste, sendo
habitados por algumas espécies endêmicas e raras, como o Melocactus azureus.
A região planáltica é composta de arenito metamorfoseado derivado de rochas
sedimentares areníticas e quartzíticas consolidadas na era Proterozóica média; uma concentração
alta de óxido férreo dá a estas rochas uma cor de rosa a avermelhada.
Os solos gerados a partir da decomposição do arenito são extremamente pobres em
nutrientes e altamente ácidos, formando depósitos arenosos ou pedregosos rasos, que se tornam
mais profundos onde a topografia permite; afloramentos rochosos são uma característica comum
das áreas mais altas. Estes afloramentos rochosos e os solos pouco profundos formam as
condições ideais para os cactos, e muitas espécies crescem nas pedras, em fissuras ou depressões
da rocha onde a acumulação de areia, pedregulhos e outros detritos, juntamente com o húmus
gerado pela decomposição de restos vegetais, sustenta o sistema radicular destas suculentas.
A Serra do Tombador possui um relevo montanhoso que se destaca das regiões mais
baixas que o circundam ‐ sua altitude fica em geral acima de 800 metros, alcançando
aproximadamente 1000 m nos pontos de maior altitude, enquanto que a altitude nas planícies ao
redor variam de 400 a 600 m, embora sofram um ligeiro aumento nas bordas do planalto.
O planalto age como uma barreira às nuvens carregadas de umidade provenientes do
Oceano Atlântico que, ao ascenderem à medida que se encontram com a barreira em que o
planalto se constitui, se condensam e fornecem umidade na forma de neblina, orvalho e chuvas,
mesmo no pico da estação seca. Isto resulta em um clima moderado e úmido que difere
enormemente do clima das regiões mais baixas. Porém, o lado ocidental do planalto é mais seco,
com condições comparáveis às encontradas nas áreas de planície, porque a altitude das
montanhas desviam as nuvens de chuva que vêm do Atlântico.
18
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
Climatogramas de locais de altitude similar, mas localizados em lados opostos do planalto,
claramente indicam a maior umidade do lado oriental. Um resultado da barreira formada pelas
montanhas são nuvens carregadas de umidade provenientes do Oceano Atlântico, que produzem
uma maior quantidade de chuvas no lado oriental.
A precipitação no planalto normalmente excede os 800 mm anuais, com picos de até
1.200 mm em determinados locais, enquanto que a média de precipitação nas áreas de planície
fica em torno de 400 a 700 mm.
A precipitação é freqüentemente bimodal nas regiões mais altas, com um máximo de
chuvas no período de novembro a janeiro, e um segundo período chuvoso, menor, no período de
março a abril.
A altitude elevada do relevo da Serra do Tombador conduz a um clima mesotérmico em
que a média mensal da temperatura, pelo menos durante alguns meses, permanece abaixo dos
18°C.
Os meses mais frios ocorrem no período do inverno (de maio a setembro, que coincide
com a estação seca), quando o sol está em seu ponto mais baixo.
As médias mensais de temperaturas do período mais quente do ano normalmente não
excedem 22°C, sendo que os meses mais quentes do ano ocorrem entre outubro, um pouco antes
do início da estação chuvosa, e fevereiro, quando as chuvas estão começando a se tornar raras.
O sertão nordestino é uma das regiões semi‐áridas mais povoadas do mundo. A diferença
entre a Caatinga e áreas com as mesmas características em outros países é que as populações se
concentram onde existe água, promovendo um controle rigoroso da natalidade.
No Brasil, entretanto, o homem está presente em toda a parte, tentando garantir a sua
sobrevivência na luta contra o clima. A caatinga é coberta por solos relativamente férteis. Embora
não tenha potencial madeireiro, exceto pela extração secular de lenha, a região é rica em recursos
genéticos, dada a sua alta biodiversidade. Por outro lado, o aspecto agressivo da vegetação
contrasta com o colorido diversificado das flores emergentes no período das chuvas.
Os grandes açudes atraíram fazendas de criação de gado. Em regiões como o Vale do São
Francisco, a irrigação foi incentivada sem o uso de técnica apropriada e o resultado tem sido
desastroso. A salinização do solo é, hoje, uma realidade. Especialmente na região onde os solos
são rasos e a evaporação da água ocorre rapidamente devido o calor, a agricultura tornou‐se
impraticável.
19
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
Outro problema é a contaminação das águas por agrotóxicos. Depois de aplicado nas
lavouras, o agrotóxico escorre das folhas para o solo, levado pela irrigação, e daí para as represas,
matando os peixes.
Nos últimos 15 anos, 40 mil km2 de Caatinga se transformaram em deserto devido à
interferência do homem sobre o meio ambiente da região. As siderúrgicas e olarias também são
responsáveis por este processo, devido ao corte da vegetação nativa para produção de lenha e
carvão vegetal.
Vegetação
A vegetação do bioma é extremamente diversificada, incluindo, além das caatingas, vários
outros ambiente associados.
São reconhecidos 12 tipos diferentes de Caatingas, que chamam atenção especial pelos
exemplos fascinantes de adaptações aos habitats semi‐áridos. Tal situação pode explicar,
parcialmente, a grande diversidade de espécies vegetais, muitas das quais endêmicas ao bioma.
Estima‐se que pelo menos 932 espécies já foram registradas para a região, sendo 380
endêmicas. A caatinga é um tipo de formação vegetal com características bem definidas: árvores
baixas e arbustos que, em geral, perdem as folhas na estação das secas (espécies caducifólias),
além de muitas cactáceas.
A caatinga apresenta três estratos: arbóreo (8 a 12 metros), arbustivo (2 a 5 metros) e o
herbáceo (abaixo de 2 metros).
Contraditoriamente, a flora dos sertões é constituída por espécies com longa história de
adaptação ao calor e à seca, é incapaz de reestruturar‐se naturalmente se máquinas forem usadas
para alterar o solo. A degradação é, portanto, irreversível na caatinga.
O aspecto geral da vegetação, na seca, é de uma mata espinhosa e agreste. Algumas
poucas espécies da caatinga não perdem as folhas na época da seca. Entre essas destaca‐se o
juazeiro, uma das plantas mais típicas desse ecossistema.
Ao caírem as primeiras chuvas no fim do ano, a caatinga perde seu aspecto rude e torna‐
se rapidamente verde e florida. Além de cactáceas, como Cereus (mandacaru e facheiro) e
Pilocereu (xiquexique), a caatinga também apresenta muitas leguminosas (mimosa, acácia,
emburana, etc.).
Algumas das espécies mais comuns da região são a emburana, a aroeira, o umbu, a
baraúna, a maniçoba, a macambira, o mandacaru e o juazeiro.
20
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
No meio de tanta aridez, a caatinga surpreende com suas "ilhas de umidade" e solos
férteis. São os chamados brejos, que quebram a monotonia das condições físicas e geológicas dos
sertões. Nessas ilhas, é possível produzir quase todos os alimentos e frutas peculiares aos
trópicos.
As espécies vegetais que habitam esta área são em geral dotadas de folhas pequenas,
uma adaptação para reduzir a transpiração. Gêneros de plantas da família das leguminosas, como
Acacia e Mimosa, são bastante comuns. A presença de cactáceas, notavelmente o cacto
mandacaru (Cereus jamacaru), caracterizam a vegetação de caatinga; especificamente na caatinga
da região de Morro do Chapéu, é característica a palmeira licuri (Syagrus coronata).
Fauna
Quando chove na caatinga, no início do ano, a paisagem e seus habitantes se modificam.
Lá vive a ararinha‐azul, ameaçada de extinção. Outros animais da região são o sapo‐cururu, a asa‐
branca, a cotia, a gambá, o preá, o veado‐catingueiro, o tatu‐peba e o sagui‐do‐nordeste, entre
outros.
A situação de conservação dos peixes da Caatinga ainda é precariamente conhecida.
Apenas quatros espécies que ocorrem no bioma foram listadas preliminarmente como ameaçadas
de extinção, porém se deve ponderar que grande parte da ictiofauna não foi ainda avaliada.
São conhecidas, em localidades com feição características da caatinga semi‐áridas, 44
espécies de lagartos, 9 espécies de anfibenídeos, 47 de serpentes, quatro de quelônios, três de
crocolia, 47 de anfíbios ‐ dessas espécies apenas 15% são endêmicas. Um conjunto de 15 espécies
e de 45 subespécies foi identificado como endêmico. São 20 as espécies ameaçadas de extinção,
estando incluídas nesse conjunto duas das espécies de aves mais ameaçadas do mundo: a
ararinha‐azul (Cyanopsitta spixii) e a arara‐azul‐de‐lear (Anodorhynchus leari).
Levantamentos de fauna na Caatinga revelam a existência de 40 espécies de lagartos, 7
espécies de anfibenídeos (lagartos sem patas), 45 espécies de serpentes, 4 de quelônios, 1 de
crocodiliano, 44 anfíbios.
Também constituída por diversos tipos de aves, algumas endêmicas do Nordeste, como o
patinho, chupa‐dente, o fígado, além de outras espécies de animais, como o tatu‐peba, o gato‐do‐
mato, o macaco prego e o bicho preguiça.
Destaca‐se também a ocorrência de espécies em extinção, como o próprio gato‐do‐mato,
o gato‐maracajá, o patinho, a jararaca e a sucuri‐bico‐de‐jaca.
21
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
A Caatinga possui extensas áreas degradadas, muitas delas incorrem, de certo modo, em
risco de desertificação. A fauna da Caatinga sofre grande prejuízos tanto por causa da pressão e
da perda de hábitat como também em razão da caça e da pesca sem controle. Também há grande
pressão da população regional no que se refere à exploração dos recursos florestais da Caatinga.
A Caatinga carece de planejamento estratégico permanente e dinâmico com o qual se
pretende evitar a perda da biodiversidade do seu bioma.
Curiosidade
Durante o período de seca, o gado da região alimenta‐se do mandacaru (rico em água). Já
algumas espécies de bromélias (exemplo da caroá) são aproveitadas para a fabricação de bolsas,
cintos, cordas e redes, pois são ricas em fibras vegetais.
Figura 19 ‐ Mandacaru
Importância Econômica
A dependência econômica da região Nordeste em relação à vegetação da Caatinga é hoje
inegável, quer se trate do abastecimento com energéticos florestais para indústrias e domicílios,
quer se trate de comércio e beneficiamento de produtos não‐madeireiros, como frutos e palhas,
por exemplo.
O Nordeste brasileiro tem a maior parte de seu território ocupado por uma vegetação
adaptada às condições de aridez (xerófila), de fisionomia variada, denominada “Caatinga”.
22
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
Geograficamente, a Caatinga ocupa cerca de 11% do território nacional, abrangendo os
estados da Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí e
Minas Gerais. Na cobertura vegetal das áreas da região Nordeste, a Caatinga representa cerca de
800.000 km2, o que corresponde a 70% da região.
Este ecossistema é extremamente importante do ponto de vista biológico, pois é um dos
poucos que tem sua distribuição totalmente restrita ao Brasil. De modo geral, a Caatinga tem sido
descrita na literatura como pobre e de pouca importância biológica. Porém, levantamentos
recentes mostram que este ecossistema possui um considerável número de espécies endêmicas,
ou seja, que ocorrem somente nesta região, e que devem ser consideradas como um patrimônio
biológico de valor incalculável.
Quanto à flora, foram registradas até o momento cerca de 1000 espécies, estimando‐se
que haja um total de 2000 a 3000 plantas.
Com relação à fauna, esta é depauperada, com baixas densidades de indivíduos e poucas
espécies endêmicas. Apesar da pequena densidade e do pouco endemismo, já foram identificadas
17 espécies de anfíbios, 44 de répteis, 695 de aves e 120 de mamíferos, pouco se conhecendo em
relação aos invertebrados.
Descrições de novas espécies vêm sendo registradas, indicando um conhecimento
botânico e zoológico bastante precário deste ecossistema, que segundo os pesquisadores é
considerado o menos conhecido e estudado dos ecossistemas brasileiros.
Além da importância biológica, a Caatinga apresenta um potencial econômico ainda
pouco valorizado. Em termos forrageiros, apresenta espécies como o pau‐ferro, a catingueira
verdadeira, a catingueira rasteira, a canafistula, o mororó e o juazeiro que poderiam ser utilizadas
como opção alimentar para caprinos, ovinos, bovinos e muares.
Entre as de potencialidade frutífera, destaca‐se o umbu, o araticum, o jatobá, o murici e o
licuri e, entre as espécies medicinais, encontra‐se a aroeira, a braúna, o quatro ‐ patacas, o
pinhão, o velame, o marmeleiro, o angico, o sabiá, o jericó, entre outras. Porém, este patrimônio
nordestino encontra‐se ameaçado.
A exploração feita de forma extrativista pela população local, desde a ocupação do semi‐
árido, tem levado a uma rápida degradação ambiental.
Segundo estimativas, cerca de 70% da Caatinga já se encontram alterados pelo homem e,
somente 0,28% de sua área se encontra protegida em unidades e parques de conservação.
Estes números conferem à Caatinga a condição de ecossistema menos preservado e um
dos mais degradados. Como conseqüência desta degradação, algumas espécies já figuram na lista
23
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
das espécies ameaçadas de extinção do IBAMA. Outras, como a aroeira e o umbuzeiro, já se
encontram protegidas pela legislação florestal de serem usadas como fonte de energia, a fim de
evitar a sua extinção.
Quanto à fauna, os felinos (onças e gatos selvagens), os herbívoros de porte médio (veado
catingueiro e capivara), as aves (ararinha azul, pombas de arribação) e abelhas nativas figuram
entre os mais atingidos pela caça predatória e destruição do seu habitat natural.
Para reverter este processo, estudos da flora e fauna da Caatinga são necessários. Neste
sentido, a Embrapa Semi‐Árido, UNEB e Diretoria de Desenvolvimento Florestal da Secretaria de
Agricultura da Bahia aprovaram o projeto “Plantas da Caatinga ameaçadas de Extinção: estudos
preliminares e manejo”, junto ao Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA), que tem por
objetivo estudar a fenologia, reprodução e dispersão da aroeira do sertão, quixabeira, imburana
de cheiro e baraúna na Reserva Legal do Projeto Salitre, Juazeiro‐BA. Este projeto contribuirá com
importantes informações sobre a biologia destas plantas e servirá de subsídios para a elaboração
do plano de manejo destas espécies na região.
Além desses estudos, é necessária a criação de mais áreas de preservação, unidades de
conservação e reservas para que possamos preservar o pouco que ainda resta da Caatinga e,
assim, assegurar a proteção deste patrimônio biológico, que num futuro bem próximo poderá ser
a maior riqueza do Nordeste brasileiro.
Uso Sustentável Integrado da Biodiversidade
Estamos vivendo a preocupação do aquecimento global, todos procurando fontes
alternativas e clamando por fontes renováveis de energia.
A Caatinga, com vegetação de rara biodiversidade, vem sustentando a economia da
região Nordeste ao longo dos anos por meio de duas vertentes: (a) pelo fornecimento de energia:
33% da matriz energética da região é oriunda da lenha obtida por meio da exploração não
sustentável e 70% das famílias da Região utilizam lenha para suas demandas domesticas; (b) pelo
fornecimento de uma série de produtos florestais não madeireiros.
O recurso florestal está presente na vida do nordestino de maneira direta ou indireta
desde o homem rural do sertão que usa a floresta da Caatinga como pasto para o gado e para a
produção de mel, passando pelas mulheres artesãs que obtém seu sustento com a fabricação de
artesanatos e da comercialização de plantas medicinais, até as cerâmicas e as grandes indústrias
de gesso, que geram divisas para o país usando a lenha como suprimento de energia.
24
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
No semi‐árido a área de cobertura florestal varia de 30% a 50%, e as terras utilizadas para
fins agrícolas representam de 5% a 10%. As demais terras foram transformados em pastagens
naturais ou vegetação rasteira. A agricultura permanente de subsistência, não irrigada é
encontrada somente em vales de aluvião e representa menos de 8% da área total.
O Sistema de Pousio, praticado pelos pequenos e médios produtores, é baseado na
alternância de terras florestais para agricultura, pastagem e posterior retorno para cobertura
florestal. Esse modelo é quem assegura a manutenção da fertilidade (matéria orgânica e
nitrogênio) nos solos e dar sustentabilidade ao modelo agropecuário que vem sendo praticado
pelos pequenos e médios produtores.
A presença do homem no meio Rural e as praticas inadequadas vem fazendo com que os
“ciclos” sejam cada vez menores, impedindo a natureza de repor os elementos necessários e
continue contribuindo para a sustentação da economia local.
Assim, é importante termos ações que assegurem o papel de “insumo ambiental” que o
recurso florestal exerce nos sistemas produtivos (agricultura e pecuária).
Um estudo realizado recentemente pelo PNF/MMA em cooperação técnica com as
Nações Unidas, na região Nordeste, mostra que a dinâmica da cobertura florestal na Região é
resultado da relação de confronto entre pressões antrópicas e processos de regeneração natural.
Este processo é pauta de preocupação pública já desde o século XVII: “O avanço das
fronteiras agropecuárias somado à exploração de madeira para diversos usos, colocaram em
questão a capacidade das florestas regionais para continuar fornecendo seus produtos e serviços
ambientais vitais para as atividades produtivas e a qualidade de vida da população” ‐ Riegelhaupt.
A cada momento nos deparamos com vivências que nos demonstram que a relação do
homem com a biodiversidade pode e deve ser a saída para um amplo processo de conservação
ambiental.
As Escolas modernas do desenvolvimento sustentável – como a do Prof. Ignácio Sachs
Ecosocioeconomista da Escola de Altos Estudos em Ciências Sócias em Paris que dirige o Centro
de Estudos sobre o Brasil Contemporâneo – afirma “O desafio da inclusão social, da
sustentabilidade e do desenvolvimento eco socioeconômico no campo é reunir biodiversidade,
biomassa e biotecnologias” e “O reflorestamento deve ser feito dentro do conceito de florestas
econômicas consorciadas com outras atividades agropecuárias, com corredores ecológicos e
recondicionamento das matas ciliares”.
Esses conceitos modernos frutos do amadurecimento do processo de conservação na
terra vem complementar conceitos passados de estudiosos como o professor Vasconcelos
25
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
Sobrinho que em seu trabalho “Processos de Desertificação Ocorrentes no Nordeste do Brasil: Sua
gênese e sua contenção 1982”, já chamava atenção, afirmando: “As ações requeridas para sustar
a desertificação consistem fundamentalmente no comportamento correto do Homem …
mediante sábio manejo dos seus recursos naturais”; …”No entanto não será necessário esperar o
resultado de demoradas experimentações”. “A silvicultura para o semi‐árido nordestino terá por
finalidade o combate à desertificação e ao mesmo tempo a promoção de uso mais adequado para
a ecologia regional. Não hesitamos em afirmar que a vocação ecológica do semi‐árido nordestino
é a silvicultura. Principalmente uma silvicultura voltada para a implantação de florestas
energéticas”.
Recentemente vivenciamos na 13ª Conferência das Partes da Convenção sobre Mudança
do Clima um avanço considerável ao, como país, assegurarmos o reconhecimento e a necessidade
de um novo modelo de desenvolvimento que assegure a manutenção da floresta em pé. Esses
três momentos demonstram que a compreensão para o uso sustentável dos recursos florestais
vem sendo modelado.
A cada momento somos forçados pela história a avançarmos nessa meta. Felizmente
começamos a ter no manejo sustentável dos recursos florestais um instrumento de gestão
ambiental, que além de promover um desenvolvimento sustentável com inclusão social assegura
a manutenção dos serviços ambientais e colabora firmemente para a conservação da
biodiversidade.
Estudos realizados na região com apoio das Nações Unidas permitem uma melhor
visualização do potencial da Caatinga, muitos já conhecidos de forma empírica pelos sertanejos:
‐ A Caatinga apresenta em sua fisiologia mecanismos interessante para sua regeneração,
o que potencializa e simplifica seu manejo Florestal (utilização sustentável);
‐ Tem no potencial “forrageiro” seu produto florestal mais nobre, fundamental para
manutenção da pecuária extensiva no semi‐árido, com uma capacidade de produção forrageira na
ordem de 4 ton./ha.a, salvação dos rebanhos nas épocas de estiagem;
‐ A lenha é o segundo energético da região – que além de ter um custo por Kcal, menor
que os derivados de petróleo, é um bio‐combustível de grande inclusão social – gerando mais de
700 mil posto de trabalho e renda na época da “estiagem”, contribuindo para a fixação do homem
no campo, sem concorrer com outras atividades econômicas rurais. Por outro lado, adotando‐
se as práticas de manejo florestal sustentável, ficamos na pauta do Tratado de Kyoto, na busca
das fontes energéticas renováveis;
26
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
‐ Os sistemas agro florestais na Caatinga hoje é uma realidade que permite segurança
alimentar para muitas famílias;
‐ A Caatinga, tem ciclos muito curtos de 10 a 20 anos, comparativamente com os ciclos
dos países temperados;
‐ A Caatinga dispõe de uma Rede de Manejo e de uma Rede de Sementes Florestais
apoiadas pelo MMA/PNF/IBAMA, onde profissionais da região buscam cada vez mais qualificação
para as práticas de utilização integradas e sustentáveis.
Outro ponto importante diz respeito aos aspectos sócios econômicos, existem
experiências com a perspectiva de integração do recurso florestal na matriz produtiva dos
Projetos de Assentamentos da Reforma Agrária visando a utilização múltipla e sustentável dos
recursos naturais/florestais, permitindo que esse manejo integrado do recurso florestal gere
rendas de até 1,5 Salários Mínimos por família, contribuindo para tornar os Projetos de
Assentamento da Reforma Agrária na Zona Semi‐Árida do Brasil, empreendimentos de
Desenvolvimento Local Sustentável e de fortalecimento e reprodução da Agricultura Familiar,
com aumento da Segurança Alimentar, Energética e Hídrica; Geração de Emprego e Renda e
construção de novas e justas Relações de Gênero e Gerações.
Novas relações de usos sustentáveis estão sendo estabelecidas com a biodiversidade da
Caatinga, principalmente no tocante ao potencial dos produtos florestais não madeireiros.
Atualmente mais de 20 comunidades formam a Bodega da Caatinga, uma Rede de
Produtos sustentáveis da Caatinga com mais de 20 mil pessoas envolvidas na produção e
processamento de fibras, cascas, frutos, sementes e pequenos artefatos, embasados em uma
Carta de Princípios onde são assegurados a sustentabilidade na coleta e obtenção dos produtos
da biodiversidade da Caatinga e o associativismos no beneficiamento e comercialização.
Diante deste quadro, o manejo florestal sustentável é uma das poucas alternativas de
promoção de desenvolvimento local que reconhece o recurso florestal como ativo ambiental e
permite assegurar uma relação de equilíbrio entre a demanda e a oferta de energéticos florestais,
em base sustentável, contribuindo para a conservação da biodiversidade e assegurando a
manutenção do serviços ambientais.
As Caatingas vêm atendendo essas necessidades da nossa sociedade. Alcançar o uso
sustentável da biodiversidade é uma necessidade para a sobrevivência do homem. Ainda somos e
seremos dependentes ambientais.
Assim, o Manejo Florestal Sustentável Integrado da Caatinga é uma das alternativas, que
possibilita viabilizar de forma sinérgica as atividades produtivas na região Nordeste.
27
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
Assegurando que a demanda pelos produtos da biodiversidade, seja na forma de energia
da biomassa florestal estimada em mais de 25 milhões de metros de lenha para atender os
diversos setores da agroindústria, em especial os setores do gesso e cerâmico, seja na forma de
alimentos para as escolas, como é o caso do beneficiamento do Umbu em Uauá, na região possa
ser viabilizada de forma sustentável sem agressão ambiental. Por outro lado, o manejo
sustentável da Caatinga possibilita a realização das atividades para uma pecuária extensiva
integrada com as atividades de apicultura e coleta de produtos não madeireiros, evitando os
processos de desertificação por sobre – pastoreio.
28
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
29
CCEERRRRAADDOO
Figura 20 e 21 ‐ Cerrado
RRÚÚBBIIAA AALLMMEEIIDDAA GGOONNÇÇAALLVVEESS
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
Introdução
O Cerrado é o segundo maior bioma brasileiro, sendo superado em área apenas pela
Amazônia. Ocupa 21% do território nacional e é considerado a última fronteira agrícola do
planeta (Borlaug, 2002).
Conforme Mário Guimarães Ferri "em sentido genérico, o cerrado é um grupo de formas
de vegetação que se apresenta segundo um gradiente de biomassa”. (Os cerrados, um grupo de
formas de vegetação semelhantes às savanas. Revista do Serviço Público, FUNCEP, Brasília, 1981.)
O Cerrado ocupa originariamente cerca de um quarto do território brasileiro e é um dos
mais ricos ecossistemas da terra.
Solo
Os solos do Bioma do Cerrado são geralmente profundos, azonados, de cor vermelha ou
vermelha amarelada, porosos, permeáveis, bem drenados e, por isto, intensamente lixiviados.
Em sua textura predomina, em geral, a fração areia, vindo em seguida a argila e por
último o silte. Eles são, portanto, predominantemente arenosos, areno‐argilosos, argilo‐arenosos
ou, eventualmente, argilosos. Sua capacidade de retenção de água é relativamente baixa.
O teor de matéria orgânica destes solos é pequeno, ficando geralmente entre 3 e 5%. Sua
microflora e micro/mesofauna são ainda muito pouco conhecidas.
São bastante ácidos, com pH que pode variar de menos de 4 a pouco mais de 5. Esta forte
acidez é devida em boa parte aos altos níveis de Al3+, o que os torna alumino tóxicos para a
maioria das plantas agrícolas. Níveis elevados de íons Fe e de Mn também contribuem para a sua
toxidez. Baixa capacidade de troca catiônica, baixa soma de bases e alta saturação por Al3+,
caracterizam estes solos profundamente distróficos e, por isto, impróprios para a agricultura.
braquiária, por exemplo.
Em parte dos Cerrados, o solo pode apresentar concreções ferruginosas ‐ canga ‐
formando couraças, carapaças ou bancadas lateríticas, que dificultam a penetração da água de
chuva ou das raízes, podendo às vezes impedir ou dificultar o desenvolvimento de uma vegetação
mais exuberante e a própria agricultura. Quando tais couraças são espessas e contínuas, vamos
encontrar sobre estas superfícies formas mais pobres e mais abertas de Cerrado.
30
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
Clima
O clima predominante no Cerrado é o Tropical sazonal, de inverno seco. A temperatura
média anual fica em torno de 22‐23°C, sendo que as médias mensais apresentam pequena
estacionalidade. As máximas absolutas mensais não variam muito ao longo dos meses do ano,
podendo chegar a mais de 40°C. Já as mínimas absolutas mensais variam bastante, atingindo
valores próximos ou até abaixo de zero, nos meses de maio, junho e julho. A ocorrência de geadas
no Domínio do Cerrado não é fato incomum, ao menos em sua porção austral.
Em geral, a precipitação média anual fica entre 1200 e 1800 mm. Ao contrário da
temperatura, a precipitação média mensal apresenta uma grande estacionalidade, concentrando‐
se nos meses de primavera e verão (outubro a março), que é a estação chuvosa. Curtos períodos
de seca, chamados de veranicos, podem ocorrer em meio a esta estação, criando sérios
problemas para a agricultura. No período de maio a setembro os índices pluviométricos mensais
reduzem‐se bastante, podendo chegar a zero. No início deste período a ocorrência de nevoeiros
é comum nas primeiras horas das manhãs, formando‐se grande quantidade de orvalho sobre as
plantas e umedecendo o solo. Já no período da tarde os índices de umidade relativa do ar caem
bastante, podendo baixar a valores próximos a 15%, principalmente nos meses de julho e agosto.
Ventos fortes e constantes não são uma característica geral do Domínio do Cerrado.
Normalmente a atmosfera é calma e o ar fica muitas vezes quase parado. Em agosto costumam
ocorrer algumas ventanias, levantando poeira e cinzas de queimadas a grandes alturas, através de
redemoinhos que se podem ver de longe. Às vezes elas podem ser tão fortes que até mesmo
grossos galhos são arrancados das árvores e atirados à distância.
A radiação solar no Domínio do Cerrado é geralmente bastante intensa, podendo reduzir‐
se devido à alta nebulosidade, nos meses excessivamente chuvosos do verão. Por esta possível
razão, em certos anos, outubro costuma ser mais quente do que dezembro ou janeiro. Como o
inverno é seco, quase sem nuvens, e as latitudes são relativamente pequenas, a radiação solar
nesta época também é intensa, aquecendo bem as horas do meio do dia.
Topografia
A topografia da região varia entre plana e suavemente ondulada, favorecendo a
agricultura mecanizada e a irrigação. Estudos recentes indicam que apenas cerca de 20% do
Cerrado ainda possui a vegetação nativa em estado relativamente intacto.
31
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
Hidrografia
A rede hidrográfica dos Cerrados apresenta características bastante diferenciadas, em
função da sua localização, extensão territorial e diversidade fisiográfica. Situada sobre o grande
arqueamento transversal que atravessa o Brasil Sudeste e Central, a região abrange um grande
divisor de águas, que separa os maiores sistemas hidrográficos do território brasileiro. Ao sul,
abrange parte da bacia do Paraná; a sudeste, o Paraguai; ao norte, a Bacia Amazônica; a nordeste,
Parnaíba e a leste, o São Francisco.
O regime fluvial dos rios da região encerra, nestas condições, notáveis diferenças nas
características físicas de suas bacias de drenagem e nas diversas influências climáticas a que estão
submetidas. Com relação às águas subterrâneas, os mesmos fatores físico‐climáticos influenciam
sua ocorrência.
Vegetação
Na natureza o Bioma do Cerrado apresenta‐se como um mosaico de formas fisionômicas,
ora manifestando‐se como campo sujo, ora como cerradão, ora como campo cerrado, ora como
campo limpo. Quando percorremos áreas de cerrado, em poucos km podemos encontrar todas
estas diferentes fisionomias.
Este mosaico é determinado pelo mosaico de manchas de solo pouco mais pobres ou
pouco menos pobres, pela irregularidade dos regimes e características das queimadas de cada
local (freqüência, época, intensidade) e pela ação humana. Assim, embora o Bioma do Cerrado
distribua‐se predominantemente em áreas de clima tropical sazonal, os fatores que aí limitam a
vegetação são outros: a fertilidade do solo e o fogo.
O clímax climático do Domínio do Cerrado não é o Cerrado, por estranho que possa
parecer, mas sim a Mata Mesófila de Interflúvio, sempre verde, que hoje só existe em pequenos
relictos, sobre solos férteis tipo terra roxa legítima. As diferentes formas de Cerrado são,
portanto, pedoclímaces ou piroclímaces, dependendo de ser o solo ou o fogo o seu fator
limitante. Claro que certas formas abertas de cerrado devem esta sua fisionomia às derrubadas
feitas pelo homem para a obtenção de lenha ou carvão.
De um modo geral, podemos distinguir dois estratos na vegetação dos Cerrados: o estrato
lenhoso, constituído por árvores e arbustos, e o estrato herbáceo, formado por ervas e
subarbustos. Ambos são curiosamente heliófilos. Esses dois estratos não comporiam
32
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
comunidades harmoniosas e integradas, como nas florestas, mas representariam duas
comunidades antagônicas, concorrentes. Tudo aquilo que beneficiar a uma delas, prejudicará,
indiretamente, à outra e vice‐versa. Elas diferem entre si não só pelo seu espectro biológico, mas
também pelas suas floras, pela profundidade de suas raízes e forma de exploração do solo, pelo
seu comportamento em relação à seca, ao fogo, etc., enfim, por toda a sua ecologia.
Troncos e ramos tortuosos, súber espesso, macrofilia e esclerofilia são características da
vegetação arbórea e arbustiva, que de pronto impressionam o observador. O sistema
subterrâneo, dotado de longas raízes pivotantes, permite a estas plantas atingir 10, 15 ou mais
metros de profundidade, abastecendo‐se de água em camadas permanentemente úmidas do
solo, até mesmo na época seca.
A vegetação herbácea e subarbustiva, formada também por espécies
predominantemente perenes, possui órgãos subterrâneos de resistência, como bulbos,
xilopódios, sóboles, etc., que lhes garantem sobreviver à seca e ao fogo. Suas raízes são
geralmente superficiais, indo até pouco mais de 30 cm. Os ramos aéreos são anuais, secando e
morrendo durante a estação seca. Formam‐se, então 4, 5, 6 ou mais toneladas de palha por
ha/ano, um combustível que facilmente se inflama, favorecendo assim a ocorrência e a
propagação das queimadas nos Cerrados. Neste estrato as folhas são geralmente microfilas e seu
escleromorfismo é menos acentuado.
Recursos Naturais de Importância Econômica
O pequizeiro é uma espécie arbórea, nativa do cerrado brasileiro, considerada de
significativa importância econômica, principalmente devido ao uso de seus frutos na culinária,
como fonte de vitaminas e na extração de óleos para a fabricação de cosméticos. Os frutos são
utilizados na alimentação humana e na indústria caseira para extração de óleos e produção de
licores. O caroço, com a polpa (mesocarpo), é cozido com arroz; feijão; carnes; batido com leite;
usado para o preparo de licor e para extração de manteiga.
Paisagens Fortemente Antropizadas
As áreas mais antropizadas do Cerrado brasileiro encontram‐se no Triângulo Mineiro e
Sudoeste de São Paulo, segundo dados da EMBRAPA. Essas áreas foram intensamente devastadas
e preparadas para dar lugar à agricultura mecanizada.
33
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
As porções ainda bem conservadas estão em três regiões com mais de 48% de cerrado
não antropizado e são: a) divisa entre os estados de Piauí, Maranhão e Bahia; b) divisa entre
Tocantins, Mato Grosso e Goiás; c) divisa entre Tocantins, Goiás e Bahia.
Os setores fortemente antropizados apresentam solos bastante descaracterizados, com
áreas de culturas agrícolas, florestais ou de pastagens implantadas, assim como de vegetação
queimada e áreas urbanizadas.
Alguns produtos agrícolas, tais como a soja, o milho, o café e o arroz necessitam de
insumos e de uma topografia favorável que possibilite utilização da mecanização. Sendo a soja e o
milho um dos principais cultivos regionais, estão associados a produtores tecnificados e com
melhor capacidade de gerenciamento. Foram desenvolvidas tecnologias de correção da baixa
fertilidade natural do solo. Assim, os níveis de tecnicidade e de uso de insumos nessas duas
culturas tendem a se intensificar devido à constante procura por maiores rendimentos.
Já o cultivo do arroz em sequeiro foi a principal atividade agrícola no início do
desbravamento do Cerrado.
De acordo com a EMBRAPA Cerrados (1999:11), o cultivo do arroz esteve associada à
braquiária (capim usado na criação do gado), com o intuito de reduzir os custos de formação de
pastagens. Contudo, com a extinção do crédito de incentivo à formação de pastagens e com o
elevado risco de perdas por estiagem, houve a redução da área cultivada com arroz.
O café, que outrora era tradicionalmente cultivado na região sudeste e Norte do Paraná,
revelou um considerável crescimento no Cerrado. A EMBRAPA Cerrados (1999:12) afirma que "a
topografia plana, o menor risco de geadas, a seleção de cultivares adaptadas e o desenvolvimento
de práticas de manejo, permitiram sua expansão em mais de 400 mil hectares, ou 18% da área
cultivada e 21% da produção do Brasil.
Um outro fator que possibilitou a descaracterização da paisagem física do Cerrado foi a
implantação de atividade florestal a partir de 1970. Atingindo aproximadamente 1,9 milhões de
hectares, segundo o órgão anteriormente citado (op. cit.), "o cultivo foi realizado com espécies
exóticas de Eucalyptus spp. E Pinus spp., com o objetivo de produzir carvão vegetal para as
siderurgias, indústria de cimento etc.
34
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
35
MMAATTAA AATTLLÂÂNNTTIICCAA
Figura 22 e 23 ‐ Mata Atlântica
SSAAMMAANNTTAA RREEGGIINNAA MMOOGGNNOONN NNAAKKAATTAA
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
36
Introdução
Em termos gerais, a Mata Atlântica pode ser vista como um mosaico diversificado de
ecossistemas, apresentando estruturas e composições florísticas diferenciadas, em função de
diferenças de solo, relevo e características climáticas existentes na ampla área de ocorrência
desse bioma no Brasil.
A Mata Atlântica é composta por um conjunto de ecossistemas que incluem as faixas
litorâneas ao longo da costa Atlântica, com seus manguezais e restingas, florestas de baixada e de
encosta da Serra do Mar, florestas interioranas, as matas de araucárias e os campos de altitude.
Quando os primeiros europeus
chegaram ao Brasil, em 1500, a Mata Atlântica
cobria 15% do território nacional, área
equivalente a 1.306.421 km². Estendia‐se do
Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul e
percorria o litoral brasileiro de ponta a ponta.
Tratava‐se da segunda maior floresta tropical
Atualmente, abrange total ou parcialmente 1
úmida do Brasil, só comparável à Floresta
Amazônica.
7 Estados brasileiros e 3.411 municípios.
cupa
ordeste abrange também os
ncrave b
s i.
a que era
Figura 24 ‐ Mata Atlântica em 1500 x Mata Atlântica em 2007
(o inteiramente três estados ‐ Espírito Santo, Rio de Janeiro e Santa Catarina e 98% do
Paraná). Está reduzida a aproximadamente
7,84% de sua área original, restando cerca de
102.000 km².
No N
e s florestais e rejos interioranos, no
Sudeste alcança parte dos territórios de Goiás
e Mato Grosso do Sul e no Sul estende‐se pelo
interior, alcançando inclusive parte dos
território da Argentina e Paragua
A maioria da área litorâne
coberta pela Mata Atlântica é ocupada hoje
por grandes cidades, pastos e agricultura.
Porém, ainda restam manchas da floresta na Figura 25 ‐ Mata Atlântica Atualmente
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
37
Serra do Mar e na Serra da Mantiqueira, no sudeste do Brasil.
O grande destaque da mata original era o Pau‐Brasil, que deu origem ao nome do nosso
aís. Al
um percentual de
de
le ta p
d Ecologia
ma mais ameaç
África.
cam que a região abriga 849
p guns exemplares eram tão grossos que três homens não conseguiam abraçar seus troncos.
O pau‐brasil hoje é quase uma relíquia, existindo apenas alguns exemplares no Sul da Bahia.
Um mapeamento recente feito pelo Ministério
do Meio Ambiente (2006) aponta
27% remanescentes, incluindo os vários estágios de
regeneração em todos os remanescentes da Mata
Atlântica, sejam: florestas, campos naturais, restingas e
manguezais. Entretanto, o percentual de
remanescentes bem conservados, gira em torno apenas
de 7%, índice aferido pelo van mento feito ela
Fundação SOS Mata Atlântica, do Instituto
Socioambiental, do Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais e a Sociedade Nordestina de (2005).
ado de extinção do mundo, perdendo apenas para as
quase extintas florestas da ilha de Madagascar, na costa da
É o segundo Bio
A Mata Atlântica possui aproximadamente 20 mil espécies de flora (entre 33% e 36% das
existentes no País). Em relação à fauna, os levantamentos indi
espécies de aves, 370 de anfíbios, 200 de répteis, 270 de mamíferos e cerca de 350 de peixes. Das
472 espécies brasileiras ameaçadas de extinção, 276 são da Mata Atlântica.
com a legislaç do Domínio d seguintes
rmações florestais nativas e ecossistemas associados:
De acordo ão fazem parte a Mata Atlântica as
fo
Figura 26 ‐ Árvore Pau Brasil
Figura 27 – Arara Azul Figura 28 – Preguiça Figura 29 – Onça Pintada
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
38
Floresta Ombrófila Densa: Estende‐se do Ceará
ao Rio Grande
nsa: Estende‐se do Ceará
ao Rio Grande do Sul, localizada principalmente nas
encostas da Serra do Mar, da Serra Geral e em ilhas
ituada
de Araucária, pois o pinheiro brasileiro (Araucaria
angustifolia) constitui o andar superior da floresta, com
sub‐bosque bastante denso. Reduzida a menos de 3% da
área original sobrevive nos planaltos do Rio Grande do Sul,
Santa Catarina e Paraná, e em maciços descontínuos, nas
partes mais elevadas de São Paulo, Rio de Janeiro e Sul de
Minas Gerais.
Floresta Ombrófila Aberta: A vegetação é mais
aberta, sem a presença de árvores que fechem as copas no
alto, ocorre em regiões onde o clima apresenta um
uatro meses secos, com
édias entre 24°C e 25°C. É encontrada, por
xemp
Sua vegetação ocorre em locais com duas estações bem
demarcadas: uma chuvosa, seguida de longo período seco.
das árvores perdem as folhas na época de
estiagem. Alguns encraves ocorrem no nordeste, nos
estad
do Sul, localizada principalmente nas
encostas da Serra do Mar, da Serra Geral e em ilhas
ituada
de Araucária, pois o pinheiro brasileiro (Araucaria
angustifolia) constitui o andar superior da floresta, com
sub‐bosque bastante denso. Reduzida a menos de 3% da
área original sobrevive nos planaltos do Rio Grande do Sul,
Santa Catarina e Paraná, e em maciços descontínuos, nas
partes mais elevadas de São Paulo, Rio de Janeiro e Sul de
Minas Gerais.
Floresta Ombrófila Aberta: A vegetação é mais
aberta, sem a presença de árvores que fechem as copas no
alto, ocorre em regiões onde o clima apresenta um
uatro meses secos, com
édias entre 24°C e 25°C. É encontrada, por
xemp
Sua vegetação ocorre em locais com duas estações bem
demarcadas: uma chuvosa, seguida de longo período seco.
das árvores perdem as folhas na época de
estiagem. Alguns encraves ocorrem no nordeste, nos
estad
s s no litoral entre os estados do Paraná e do Rio de
Janeiro. É marcada pelas árvores de copas altas, que
formam uma cobertura fechada.
Floresta Ombrófila Mista: Conhecida como Mata
s s no litoral entre os estados do Paraná e do Rio de
Janeiro. É marcada pelas árvores de copas altas, que
formam uma cobertura fechada.
Floresta Ombrófila Mista: Conhecida como Mata
período de dois a, no máximo, qperíodo de dois a, no máximo, q
temperaturas mtemperaturas m
e lo, em Minas Gerais, Espírito Santo e Alagoas.
Floresta Estacional Decidual: É uma das mais
ameaçadas, com poucos remanescentes em regiões da
Bahia, Minas Gerais, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Mais de 50%
e lo, em Minas Gerais, Espírito Santo e Alagoas.
Floresta Estacional Decidual: É uma das mais
ameaçadas, com poucos remanescentes em regiões da
Bahia, Minas Gerais, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Mais de 50%
os do Piauí e da Bahia. os do Piauí e da Bahia.
Figura 30 – Floresta Ombrófila Densa
Figura 31 – Floresta Ombrófila Mista
Figura 32 – Floresta Ombrófila Aberta
Figura 33 – Floresta Estacional Decidual
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
39
Floresta Estacional Semidecidual: Conhecida como
Mata de Interior, ocorre no Planalto brasileiro, nos estados
de São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul,
Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Alguns encraves
no Nordeste, como nos estados da Bahia e Piauí.
l,
subtropical ou temperado, caracterizando‐se por
comunidades florísticas próprias.
Restinga: Ocupam grandes extensões do litoral,
sobre dunas e planícies costeiras. Iniciam‐se junto à praia,
com gramíneas e vegetação rasteira, e tornam‐se
gradativamente mais variadas e desenvolvidas à medida
que avançam para o interior, podendo também apresentar
brejos com densa vegetação aquática. Abrigam cactos e
orquídeas.
rios com a do mar. É uma
vegetação muito característica, pois tem apenas sete
de árvores, mas abriga uma diversidade de
icroa
uatorial ao norte
e a sempre úmida ao sul, tem temperaturas médias elevadas durante o ano
ocorrem
Campos de Altitude: Vegetação típica de ambientes
montano e alto‐montano, com estrutura herbácea ou
herbáceo/arbustiva, que ocorre geralmente nas serras de
altitudes elevadas e nos planaltos, sob clima tropica
Manguezais: Formação que ocorre ao longo dos
estuários, em função da água salobra produzida pelo
encontro da água doce dos
espécies
m lgas pelo menos dez vezes maior.
a região costeira do Brasil. Seu clima é eq
Características
A Mata Atlântica compreende
quente temperad
Figura 34 – Floresta Estacional Semidecidual
Figura 35 – Campos de Altitude
Figura 36 – Restinga
Figura 37 – Manguezais
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
40
todo e não apenas no verão. A alta pluviosidade nessa região deve‐se à barreira que a serra
onstitui para os ventos que sopram do mar. Seu solo é pobre e a topografia é bastante
mata, devido à densidade da vegetação, a luz é reduzida.
Há uma importante cadeia de montanhas que acompanham a costa oriental brasileira,
esde o
s. Em certos
echos
umidade para sustentar as florestas
luz e
a
as muitos diversos e que
Os t
m
ntos da floresta chega ao solo
das superiores se
quece
c
acidentada. No interior da
d nordeste do Rio Grande do Sul até o sul do estado da Bahia. Ao norte as maiores altitudes
se encontram mais para o interior do país, mas, nas regiões do norte do estado de Alagoas, todo
estado de Pernambuco e da Paraíba, e em pequena parte do Rio Grande do Norte temos altitudes
de 500 a 800 metros que estão próximas ao mar. Em São Paulo é conhecida como Serra do Mar e
em outros estados tem outros nomes. Sua altitude média fica ao redor dos 900 metro
tr é bastante larga, mas em outros é muito estreita. Afasta‐se do mar em alguns pontos, se
aproximando dele em outros.
Os ventos úmidos que sopram do mar em direção ao interior do continente ao subirem
resfriam‐se e perdem a umidade que possuem; o excesso condensa‐se e se precipita,
principalmente nas partes mais altas da
serra, em forma de nevoeiro ou chuvas.
Assim esses ambientes contêm bastante
costeiras, densas, com árvores de 20 a 30
metros de altura.
Devido à densidade da vegetação
arbórea, o sub‐bosque é escuro, mal
ventilado e úmido. Próximo ao solo existe
que consegue ch gar aí.
riam muito, dependendo do local estudado,
a geral, há microclim
pouca vegetação, devido à escassa quantidade de
As condições físicas na floresta atlântica v
assim, apesar de a região estar submetida a um clim
variam de cima para baixo nos diversos estratos.
temperatura são bem diferentes dependendo da ca
eores de oxigênio, luz, umidade e
ada considerada.
500 vezes menos luz do que nas copas das
árvores altas. A temperatura também varia bastante, as copas das cama
Em certos po
a m durante o dia, porém perdem calor rapidamente à noite. Ao contrário nas camadas
inferiores, a temperatura varia muito pouco, já que as folhas funcionam como isolante térmico.
Nas camadas mais altas, mais expostas, a ventilação tem valores consideravelmente maiores que
Figura 38 ‐ Serra do Mar
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
n ares inferiores da mata. Em resumo, os microclimas nos diversos andares de uma floresta
pluvial podem ser muito diferentes, embora o clima geral (macroclimas) seja um só.
Os solos da floresta são, via de regra, pobres em minerais. A grande quantidade de
matéria orgânica em decomposição sobre o solo dá à mata fertilidade suficiente para suprir toda
a rica vegetação. Um solo pobre mantém uma floresta riquíssima em espécies, graças à rápida
reciclagem da enorme quantidade de matéria orgânica que se acumula ao húmus.
Esses minerais uma vez liberados pela decomposição de folhas e outros
41
Figura 40 ‐ Fungos
os and
detritos, são
u d e
umidade o ano todo e desta vizinhança decorre a
uras é que garante o caráter de vegetação perenifólia (cujas folhas não caem antes de as
ovas e
prontamente reabsorvidos pelo grande número de raízes existentes, retornando ao solo quando
as plantas caem. Fecha‐se, assim, o ciclo planta‐solo, que explica a manutenção de florestas
exuberantes, em solos nem sempre férteis.
A reciclagem dos nutrientes é m os aspectos mais importantes para a r vivência da
floresta.
A expressão dada à floresta: Mata Atlântica indica sua vizinhança com o Oceano Atlântico,
trata‐se de floresta sempre verde, cujos componentes em geral possuem folhas largas,
característica de lugares onde há bastante
umidade transportada pelos ventos que sopram do mar, esta umidade constante, aliadas às altas
temperat
n starem já desenvolvidas).
Na Mata Atlântica convivem lado a lado desde árvores grandiosas como o jequitibá,
figueiras e guapuruvas e até liquens, musgos e minúsculas hepáticas. Existem muitas espécies de
árvores com troncos duros e pesados, uma grande quantidade de cipós se apóia nas árvores.
Encontram‐se no chão da mata uma grande quantidade de fungos, plantas saprófitas, sementes e
plântulas.
Figura 39 ‐ Jequitibá
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
42
Figura 41 ‐ Orquídea Figura 42 ‐ Bromélia Figura 43 ‐ Palmeira
a Atlântica é semelhante fisionomicamente e em composição florística à Floresta
ma absoluta
m 35°C
Floresta Atlântica guarda, apesar de séculos de destruição, a maior biodiversidade por
ectare
Flora
A Florest
Amazônica. São igualmente densas, com árvores altas em setores mais baixos do relevo, apesar
de as árvores amazônicas apresentarem em média um maior desenvolvimento.
Na Mata Atlântica, as temperaturas médias variam 14‐21°C, chegando à máxi
e .
A
h entre as florestas tropicais. Isso é devido a sua distribuição em condições climáticas e em
altitudes variáveis, favorecendo a diversificação de espécies que estão adaptadas às diferentes
condições topográficas de solo e umidade.
ata Atlântica c espécies de pla orquídeas,
, recentemente, a maior diversidade botânica do
undo
fim d
as de orquídeas, bromélias, cactáceas,
u seja,
Existem na M erca de 20 mil ntas, tais como
bromélias, samambaias, palmeiras, pau‐brasil, jacarandá‐da‐bahia, cabreúva, ipês, palmito. Das
quais 8 mil delas só ocorrem na Mata Atlântica.
Somente no sul da Bahia, foi identificada
m para plantas lenhosas, ou seja, foram registradas 454 espécies em um único hectare.
As árvores do interior da mata são adaptadas à sombra, desenvolveram grande área foliar
a e captar o máximo de luminosidade possível nessas condições. Tem espécies que passam
toda a vida sombreadas e mesmo assim, são capazes de produzir flores, frutos e sementes.
Muitas árvores são esguias, sem ramos, a não ser na parte superior. É que devido ao
sombreamento, os ramos inferiores foram eliminados.
Sobre os troncos das árvores encontram‐se dezen
o epífitas perfeitamente adaptadas a vida longe do solo. Como as epífitas não mantêm
contato com o solo muitas vezes possuem problemas de nutrição. Nada retiram das árvores
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
apenas buscam uma maior luminosidade e ainda retribuem o abrigo atraindo animais
polinizadores, como o beija‐flor.
Nos troncos onde as águas das chuvas escoam rapidamente, as epífitas tiveram que se
adaptar a secas periódicas, mesmo vivendo num ambiente úmido. Bromélias possuem folhas que
formam um reservatório de água, na forma de um copo. Nesses reservatórios aquáticos podem
viver algas, protozoários, vermes, lesmas e até pererecas constituindo uma pequena comunidade.
As orquídeas, cactáceas guardam em suas suculentas folhas a água que necessitam para a
sobrevivência.
Ainda é possível ver o jequitibá‐rosa, o gigante da floresta, as flores roxas das
quaresmeiras e até alguns sobreviventes do pau‐brasil.
Há plantas que começam como epífitas e terminam como plantas terrestres. Suas
sementes germinam sobre forquilhas de ramos ou axilas de folhas, onde foram depositadas por
pássaros em suas fezes; suas raízes crescem em torno do caule da hospedeira, em direção ao solo,
onde penetram e se ramificam; com seu crescimento em espessura acabam concrescendo umas
com as outras formando uma coluna vigorosa, capaz de suportar sua copa, quando a hospedeira,
com seu caule asfixiado no interior, morre e se desfaz.
O exemplo típico é o Ficus, conhecido como mata‐pau. Certas espécies nascem no solo,
atingem com seu eixo principal ou com alguns ramos um suporte e nele se fixa; se porventura se
desfizer a ligação, por qualquer motivo, com o solo, por exemplo, por morte de parte do eixo em
contato com ele, essas plantas passam a viver epifiticamente.
Na mata existe uma planta que abriga formigas, a embaúba, a única planta que fora da
região amazônica se associa com formigas. A formiga protege a planta contra a ação de
predadores e essa árvore serve de abrigo às formigas.
No chão da floresta alguns fungos, as micorrizas, formam‐se junto às raízes das árvores
onde auxiliam na absorção de nutrientes.
Plantas saprófitas evoluídas a ponto de dispensar a clorofila, deixando de fazer a
fotossíntese, vivem à custa de matéria orgânica em decomposição. São plantas esbranquiçadas
que crescem em meio as folhas no chão da floresta.
Nessas matas são comuns as raízes tabulares e as raízes de escoras, que são dispositivos
para se coletar oxigênio do ar, uma vez que a taxa de oxigênio do solo é pequena. Além disso,
solos muito úmidos não proporcionam boa fixação, assim as raízes tabulares aumentam a base de
sustentação da planta. Devido à densidade da vegetação ser muito grande, os ramos nas copas
das árvores se entrelaçam e as plantas assim se suportam reciprocamente.
43
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
O chão da floresta é um verdadeiro berçário de plantas recém germinadas ou em vida
latente dentro das sementes. Muitas dessas plantas podem passar anos aguardando que uma
árvore caia, abrindo uma clareira para que tenham luz suficiente para crescer. Outras suportam
até a passagem do fogo das queimadas para depois germinar. Algumas espécies como os
manacás‐da‐serra e quaresmeiras produzem milhares de minúsculas sementes que o vento
carrega e deposita sobre as áreas abertas onde rapidamente crescem.
Na floresta temos plantas que emitem odores atraentes ou até mesmo simulando uma
fêmea de algum animal com a função de atrair polinizadores, tais como abelhas, vespas, moscas,
besouros, borboletas, mariposas, aves ou até morcegos.
Durante o inverno, ipês e suinãs exibem suas flores nos altos das copas ao mesmo tempo
em que derrubam todas as folhas, tornando as flores visíveis a seus polinizadores a longa
distância.
Na dispersão das sementes tem plantas que produzem frutos ou sementes com asas ou
longos pêlos, valendo‐se dos ventos para distribuí‐las. Outras produzem frutos explosivos, que ao
secarem lançam suas sementes a longas distâncias. Diversas plantas produzem frutos suculentos
e coloridos que se prestam à alimentação de vários animais. Depois da digestão, estes seres
defecam as sementes prontas para germinar.
As folhas são muitas vezes brilhantes e recobertas por cera, tendo superfícies lisas e
pontas em forma de goteira. Todas essas características facilitam o escoamento da água das
chuvas impedindo sua permanência prolongada, o que seria inconveniente sobre a superfície
foliar porque pode obstruir estômatos, além de servir para, em suas gotas, se desenvolverem
microorganismos que podem determinar doenças. Outros mecanismos são conhecidos tais como:
caules e folhas pendentes, folhas de limbo em pedúnculos delgados e longos, que se curvam ao
peso da água fazendo com que a ponta do limbo se incline para baixo, o que determina o escoar
da água por ação da gravidade e com isso o peso do limbo diminui e volta à posição anterior.
Fauna
44
Figura 44 – Furão Figura 45 – Arara Vermelha Figura 46 – Borboleta
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
45
Rica em diversidade de espécies, na Mata Atlântica existem 1.361 espécies da fauna
brasileira e está entre as cinco regiões do mundo com maior número de espécies endêmicas, ou
seja, espécies que não existem em nenhum outro lugar do planeta, sendo os animais divididos em
generalistas ou especialistas.
Os generalistas apresentam hábitos alimentares variados, alta taxa de crescimento e
dispersão; vivem em áreas de vegetação aberta e secundária, tolerantes e capazes de aproveitar
diferentes recursos oferecidos pelo meio ambiente. Os animais especialistas são mais exigentes
em relação aos habitats nos quais vivem, com dieta específica, uma alteração no meio ambiente
exige dos animais especialistas a procura de novos habitats.
Estima‐se que no Bioma existam 1,6 milhões de espécies de animais, incluindo os insetos.
Sendo eles:
Mamíferos – A Mata Atlântica possui cerca de
250 espécies de mamíferos, das quais 55 são endêmicas.
Os mamíferos são os que mais sofrem com o
desmatamento.
Aves – Possui cerca de 1020 espécies de aves,
sendo 188 espécies endêmicas e 104 ameaçadas de
e papagaios.
Anfíbios – Com hábitos predominantemente
o que os torna pouco visíveis em
os anfíbios representam um dos
grupos. Exploram praticamente todos
disponíveis. Apresentam formas de
camente diversificada. Na Mata
de
endêmicas.
Figura 47 – Mico Leão Dourado
extinção em virtude da destruição dos habitats, da caça
predatória e do comércio ilegal, entre as mais
ameaçadas estão as aves de rapina (gaviões por
exemplo) e outras espécies quase se extinguiram pela
caça, é o caso das ararasFigura 48 – Tucano
4
noturnos e discretos,
seu ambiente natural,
mais fascinantes
os habitats
reprodução estrategi
Atlântica há cerca 370 espécies de anfíbios, sendo 90 Figura 9 – S po a
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
46
Figura 52 – Região da Mata Atlântica Figura 53 – Região da Mata Atlântica Figura 54 – Região da Mata Atlântica
‐amarelo ou Caiman
atirost
s que
Peixes – A Mata Atlântica possui cerca de 350
spécie
ies da fauna são bem conhecidas
pela p
Brachyteles, respectivamente.
s animais estão vários morcegos destacando‐se uma espécie branca. Habitam
mbém
rados também na mata tamanduás‐mirins, preguiças, e tatus, com destaque a
reguiç
s; répteis como
s lagar
A Mata Atlântica e sua importância
Répteis – O jacaré‐de‐papo
l ris (nome científico), é uma das espécies
endêmica da Mata Atlântica, possui 150 espécies
de répteis, das quais 43 também são encontradas na
Amazônia.
e s de peixes, sendo 113 endêmicas. O endemismo
é justificado pelo isolamento da área em relação das
demais bacias hidrográficas.
Várias espéc
opulação, tais como os micos‐leão e muriquis,
espécies de primatas dos gêneros Leontopithecus e
Dentre este
ta a mata diferentes sagüis, os sauás, os macacos‐prego e o guariba que está se
extinguindo. O cachorro‐do‐mato é um dos predadores mais comum juntamente com o guaxinim,
o coati, o jupurá, os furões, a arara, o cangambá, e felinos, como gatos‐do‐mato que se alimentam
de animais como o tapiti, diferentes ratos‐do‐mato, caxinguelês, cotias, ouriço‐cacheiro, o raro
ouriço‐preto, etc.
São encont
p a‐de‐coleira que hoje em dia está tão escassa e já ameaçada de extinção.
Encontramos marsupiais, como o gambá e a cuíca; vários tipos de macaco
o tos, jabutis, cágados e cobras; borboletas e uma rica variedade de aves.
Figura 50 – Jacaré‐de‐papo‐amarelo
Figura 51 – Simpsonichthys constaciae
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
47
A floresta:
Protege e regula o fluxo dos mananciais hídricos que abastecem as cidades, dentre elas
as principais metrópoles brasileiras;
Controla o clima;
Abriga rica e enorme biodiversidade;
É a floresta mais rica do mundo em diversidade de árvores;
a beleza paisagística;
e quilombolas, que constituem a genuína identidade
florestas são responsáveis por 56 % da umidade
responsável pelas
tempo diminui o poder de captura do CO2 atmosférico.
tem sido introduzida nessas áreas grande quantidade de inseticidas e
mar,
sua Os que existentes
do Sul, antigamente tinham águas cristalinas ou tingidas de preto
folhas
tão
A importância da preservação da região vai além da conservação de espécies da fauna e
e das
a a
abastecem as cidades e comunidades do interior, ajudam a regular o
Preserva
Preserva também um patrimônio histórico de valor inestimável, abrigando várias
comunidades indígenas, caiçaras, ribeirinhas
cultural do Brasil.
No que tange as mudanças climáticas as
local. Sua destruição elimina essa fonte injetora de vapor de água na atmosfera,
condições climáticas regionais. Ao mesmo
As monoculturas implantadas em área de mata são mais sensíveis a pragas e doenças. O
ecossistema sob estresse tem tolerância menor ao ataque de parasitas e doenças;
conseqüentemente
agrotóxicos para atacar as pragas, o que destrói ainda mais a diversidade de espécies e contamina
os ecossistemas aquáticos.
Sem a floresta, a umidade é insuficiente para provocar as chuvas. E os ventos que sopram
do não encontrando a barreira da floresta, levam o sal natural para a região do agreste,
prejudicando vegetação. ventos deslocam as dunas, assoreiam as lagoas no
litoral.
Os grandes rios que cortam a área original da Mata Atlântica, o Paraíba, o São Francisco,
Jequitinhonha, Doce e Paraíba
pelas em decomposição da floresta. Hoje suas águas são barrentas por causa dos
sedimentos arrastados pela erosão do solo desprotegido de vegetação, ou poluídas que são
um perigo para a saúde.
flora paisagens naturais.
Cerca de 120 milhões de pessoas vivem na área do Bioma da Mata Atlântica, o que
significa que qualidade de vida de proximadamente 70% da população brasileira depende da
preservação dos remanescentes, os quais mantêm nascentes e fontes, regulando o fluxo dos
mananciais d´água que
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
48
c temperatura, a umidade, as chuvas, asseguram a fertilidade do solo e protegem escarpas
e encostas de morros.
lima, a
o efetiva das matas ciliares e dos recursos hídricos da ecorregião.
no Código Florestal.
A Mata Atlântica é considerada atualmente um dos mais importantes conjuntos de
ecossistemas do planeta e é classificada como o segundo conjunto de ecossistemas mais
Madagascar, na África.
desde a chegada dos portugueses ao Brasil, cujo interesse
era a exploração do pau‐brasil. O processo de desmatamento prosseguiu durante os
iclos d
, com o surgimento das maiores capitais do país, como São Paulo, Rio de
neiro
s. Além disso, homogeneíza o ecossistema
uando
Um estudo do WWF (2003) constatou que mais de 30% das 105 maiores cidades do
mundo dependem de unidades de conservação para seu abastecimento de água. Seis capitais
brasileiras foram analisadas no estudo, sendo cinco na Mata Atlântica: Rio de Janeiro, São Paulo,
Belo Horizonte, Salvador e Fortaleza.
Importante também para diversas atividades produtivas de três grandes regiões do País
que depende da proteçã
Além disso, inúmeras Áreas de Preservação Permanente (APPs) da Mata Atlântica ‐ que
incluem todas as formas de vegetação situadas nas margens de corpos d'água, topos de morro,
encostas íngremes, manguezais e nascentes ‐ correm o risco de sofrer mais degradação com as
alterações que podem ser promovidas
Exploração da Mata
ameaçados de extinção do mundo, perdendo apenas para as quase extintas florestas da Ilha de
Sua exploração vem ocorrendo
primordial
c a cana‐de‐açúcar, do ouro, da produção de carvão vegetal, da extração de madeira, da
plantação de cafezais e pastagens, da produção de papel e celulose, do estabelecimento de
assentamentos de colonos, da construção de rodovias e barragens, e de um amplo e intensivo
processo de urbanização
Ja , e de diversas cidades menores e povoados.
Apesar de ser uma das regiões ecológicas mais ricas do Planeta em termos de
biodiversidade, o desmatamento, a exploração madeireira, a agricultura, as obras de infra‐
estrutura e a ocupação inadequada de áreas de preservação permanente, dentre outros fatores,
ocasionaram uma perda de quase 92% de sua cobertura vegetal original.
A destruição da biodiversidade e o desmatamento eliminam de uma só vez grande
contingente de espécies muitas vezes desconhecida
q se implanta a monocultura.
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
49
A destruição do solo e a retirada da floresta rompem com o sistema natural de ciclagem
de nutriente. A remoção da cobertura vegetal fará com que a superfície do solo seja mais
quecid
pelas chuvas. Estudos da Embrapa constatam que, dos 3,5
ilhões
seus remanescentes
para várias populações tradicionais. Além disso, nela estão localizados
a a. Esse aquecimento aumentará as oxidações da matéria orgânica que se transformará
rapidamente em materiais inorgânicos, solúveis ou facilmente solubilizados. Os solos deixam
também de ser protegidos da erosão
m de hectares de pastagens que substituíram a floresta, 500 mil se degradaram num
intervalo de tempo de 12 anos, além das queimadas e carvoeiros instalados.
O desmatamento leva a um rápido empobrecimento dos solos, já que as águas da chuva
levam os minerais através da lixiviação. Freqüentemente, os solos são de composição argilosa e
após desmatamentos sofrem erosão rápida ou então endurecem, formando crostas espessas de
difícil cultivo.
A sua área atual encontra‐se altamente reduzida e fragmentada com
florestais localizados, principalmente, em áreas de difícil acesso. A preservação desses
remanescentes vem garantindo a contenção de encostas, propiciando oportunidades para
desfrute de exuberantes paisagens e desenvolvimento de atividades voltadas ao ecoturismo, além
de servir de abrigo
mananciais hídricos essenciais para abastecimento de cerca de 70% da população brasileira.
No entanto, a maior parte dos rios encontra‐se degradada, principalmente pela
eliminação das matas ciliares, erosão, assoreamento, poluição e represamento.
A conservação da Mata Atlântica tem sido buscada por setores do Governo, da sociedade civil
organizada, instituições acadêmicas e setor privado.
1 ‐ Desmatamento da Mata Atlântica (2005 ‐ 2008) (em ha). Tabela
Estado Área desmatada no Período Área desmatada por ano Bahia 24.148 8.049 Espírito Santo 573 191 Goiás 733 244 Minas Gerais 32.728 10.909 Mato Grosso do Sul 2.215 738 Paraná 9.978 3.326 Rio de janeiro 1.039 346 Rio Grande do sul 3.117 1.039 Santa Catarina 25.953 8 .651São Paulo 2 .455 818
Total 102.938 34.313 09). Fonte: SOS Mata Atlântica (20
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
50
Extinção
o a grande devastação, a M lântica abriga hoje dentre espécies, 383 Devid ata At 200
animais ameaçados de extinção, fora aqu já se extinguiram, meta vivas elas que de das espécies
hoje poderão estar extintas até o final do próximo século.
O mico‐leão dourado é uma das espécies mais ameaçadas do mundo. Ele só é encontrado
em uma pequena área de Mata Atlântica no Rio de Janeiro. Para evitar sua extinção, é preciso
g habitat suficiente para abrigar uma população de 2000 animais até o ano 2025. arantir
Alguns animais ameaçados de extinção: Onça‐pintada, bicho‐preguiça, capivara,
tamanduá‐bandeira, tatu‐peludo, jaguatirica, e o cachorro‐do‐mato, estes são alguns dos mais
c idos animais que vivem na Mata Atlântica. onhec
O mesmo acontece com os pássaros, répteis, anfíbios e peixes. A garça o tiê‐sangue, o
tucano, as araras, os beija‐flores e periquitos. A jararaca, jacaré‐de‐papo‐amarelo, cobra‐coral,
s ruru, perereca‐verde. Peixes co hecidos como dourado, o pacu e a traíra. apo‐cu n o
As causas para o desaparecimento de espécies e indivíduos são a caça e a pesca
predatórias, a introdução de seres exóticos aos ecossistemas da Mata Atlântica, mas
p lmente a deterioração ou supressão dos habitats dos animais, causados pela expansão da rincipa
agricultura e pecuária, bem como pela urbanização e implementação mal planejada de obras de
infra‐estrutura.
A proteção da fauna está diretamente ligada à proteção dos ambientes. Em paralelo,
outras medidas importantes são a fiscalizações da caça, da posse d animais em cativeiro, do e
comércio ilegal de espécies silvestres, fiscalizações efetiva da atividade pesqueira e realização de
programas de educação ambiental junto à população.
Unidades de Conservação
Parque das Dunas em Natal é uma das maiores unidades de conservação da mata
atlântica do Brasil.
No domínio da Mata Atlântica existem 131 unidades de conservação federais, 443
privadas, distribuídas por dezesseis estados, com exceção
destacam‐se, de norte a sul:
ara, federal, Ceará
estaduais, 14 municipais e 124
de Goiás. Entre elas
Parque das Dunas, estadual, Rio Grande do Norte
Jericoaco
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
51
Chapada do Araripe, Pernambuco, Piauí e Ceará
Jardim Botânico Benjamim Maranhão, João Pessoa, Paraíba
Reserva Biológica Guaribas, Mamanguape, Paraíba
ba
Diamantina, federal, Bahia
nto
e
Espírito Santo
atarina
a, federais, e Barra da Tijuca, municipal, Parque
lo
o Paulo
lo
s e São Paulo
a Taquara, Rio de Janeiro
imada Grande, federal, Parque da
nchieta, estaduais, São Paulo
Serra Geral, estadual, Rio Grande do Sul
APA da Barra do Rio Mamanguape, Rio Tinto, Paraí
Parque Nacional da Chapada
Parque Marinho dos Abrolhos, federal, Bahia
Parque Estadual do Rio Doce, estadual, Minas Gerais
Parque Estadual da Pedra Azul, estadual, Espírito Sa
Parque Estadual Paulo César Vinha, estadual, Espírito Santo
Mosteiro Zen Morro da Vargem, municipal, Espírito Santo
Santuário do Caraça, privada, Minas Gerais
Parque Nacional da Serra de Itabaiana, federal, Sergip
Serra do Cipó, federal, Minas Gerais
Serra da Bodoquena, federal, Mato Grosso do Sul
Parque Estadual dos Três Picos, estadual, Rio de Janeiro
Reserva Natural Vale do Rio Doce, Linhares,
Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, estadual, Santa C
Serra dos Órgãos e Parque da Tijuc
Estadual da Serra da Tiririca, Rio de Janeiro
Parque Municipal da Grota, municipal, Mirassol, São Pau
Parque do Itatiaia, Minas Gerais e Rio de Janeiro
Parque do Sabiá, Uberlândia‐Minas Gerais
Serra da Bocaina, Rio de Janeiro e São Paulo
Serra da Cantareira, São Paulo, Sã
Parque Estadual Morro do Diabo, Teodoro Sampaio, São Pau
Serra da Mantiqueira, Rio de Janeiro, Minas Gerai
APA Petrópolis, Parque Natural Municipal d
Ilha Queimada Pequena e Ilha Que
Cantareira, Estação Ecológica da Juréia‐Itatins e Ilha A
Parque Estadual da Serra do Mar, São Paulo
Parque Iguaçu, federal, Foz do Iguaçu, Paraná
Ilha do Mel, estadual, Paraná
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
52
Parque Nacional da Serra do Itajaí, federal, Santa Catarina
RPPN Rio das Lontras, Reserva Particular do Patrimônio Natural, Santa Catarina
Parque Municipal de Maceió, Alagoas
Estação ecológica de Murici, Alagoas
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
53
PPAAMMPPAASS
SSIILLVVIIOO FFRRAANNCCIISSCCOO DDAA SSIILLVVAA
Figura 55 e 56 ‐ Pampas
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
Introdução
Os campos sulinos são também denominados pampas, palavra de origem indígena que
significa “região plana”.
Os pampas são apenas um pedaço das terras dos campos sulinos. O bioma engloba
também campos mais altos e algumas áreas semelhantes, as savanas abrangem parte do
território do Rio Grande do Sul e se estendem até o Uruguai e a Argentina. São cerca de 176.496
Km², correspondendo cerca de 2% território nacional.
A vegetação predominante é de gramíneas e leguminosas, com a presença de alguns
arbustos. Existem também pequenas regiões de florestas estacionais e, próximo aos planaltos, os
campos tem o aspecto de savanas abertas.
A biodiversidade concentra‐se especialmente na fauna, contando com espécies
endêmicas, raras, ameaçadas de extinção e migratórias. O endemismo em mamíferos chega a
39% das espécies.
O impacto humano nos campos sulinos é grande. A pecuária é forte, e as queimadas nas
pastagens impedem o crescimento da vegetação. Além disso, as culturas de milho, trigo, arroz e
soja cresceram rapidamente, diminuindo a fertilidade dos solos e aumentando a erosão.
Unidades de conservação vêm sendo implantadas ultimamente para a proteção desse
bioma.
Os campos caracterizam‐se pela presença de uma vegetação rasteira (gramíneas) e
pequenos arbustos distantes uns dos outros. Pode‐se encontrar esta formação vegetal em várias
regiões do Brasil (sul do Mato Grosso do Sul, nordeste do Paraná, sul de Minas Gerais e norte do
Maranhão), porém é no sul do Rio Grande do Sul, região conhecida como Pampas Gaúchos, que
encontramos em maior extensão.
O Pampa é composto basicamente de gramíneas, herbáceas e algumas árvores. Serão
graves os impactos da transformação no ecossistema atual em monocultura de árvores, cujo
estágio de sucessão é bem diferente.
Toda monocultura provoca um desequilíbrio ambiental, que corresponde com a
diminuição de algumas espécies e aumento de outras, além de alteração nas funções ecológicas
básicas do ecossistema mapeados pela primeira vez, os seis biomas continentais brasileiros ‐
Amazônia, Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica, Pantanal e Pampa.
Abaixo se encontra a localização do Bioma Pampa no mapa brasileiro:
54
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
Figura 57 – Bioma Pampa
Na tabela pode‐se visualizar a área aproximada de cada bioma:
Tabela 2 ‐ Área dos Biomas Brasileiros
O Bioma Pampa se restringe ao Rio Grande do Sul e ocupa 63% do território do estado.
Solo
Na região dos pampas o solo é fértil. Por isso, estes campos são normalmente procurados
para desenvolvimento de atividades agrícolas. Ainda mais férteis são as áreas com solo do tipo
"terra roxa", batizado assim devido ao nome que receberam dos italianos que vieram para o Brasil
trabalhar na lavoura. Por causa de sua cor avermelhada, eles chamavam o solo de terra
rossa, pois em italiano, rosso é vermelho, mas as pessoas que começaram a chamar de terra roxa
não sabiam italiano e acabaram confundindo rosso com roxo por conta do som da palavra.
Em áreas de planalto os solos são também avermelhados, mas não possuem a fertilidade
da terra roxa. Na planície litorânea o solo é bastante arenoso.
55
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
Nas áreas de contato com o arenito Botucatu, ocorrem os solos podzólicos vermelho‐
escuros, principalmente a sudoeste de Quaraí e a sul e sudeste de Alegrete, onde se constata o
fenômeno da desertificação. O solo, em geral, é de baixa fertilidade natural e bastante suscetível
à erosão.
Clima
O clima da região é o subtropical
úmido. Isso quer dizer que, nos campos sulinos,
os verões são quentes, os invernos são frios e
chove regularmente durante todo o ano. No
inverno são registradas temperaturas que
podem registrar menos 0°C. Já no verão registram‐se temperaturas que chegam a 35°C. É a região
com a maior amplitude térmica do país, isto é, onde há maior variação de temperatura.
Figura 58 ‐ Neve no Rio Grande do Sul
Não existe estação seca. Nos tempos de frio podem ocorrer geadas. Na época fria chega
mesmo a nevar em alguns locais do sul do país. O clima é quente durante o verão, enquanto no
inverno as temperaturas são baixas e chove mais.
Topografia
O relevo nos campos sulinos é
suavemente ondulado. Predominam planícies,
mas podem ser encontradas algumas colinas, na
região conhecidas como “coxilhas”.
Além das coxilhas existem também
alguns planaltos. Cavernas e grutas são comuns.
A pedra do Segredo, em Caçapava do Sul, tem
160 metros de altura e três cavernas em seu interior.
Figura 59 – Vista da Pedra do Segredo
Hidrografia
Destacam‐se como rios importantes deste bioma o Santa Maria, o Uruguai, o Jacuí, o
Ibicuí e o Vacacaí. Estes e outros da região se dividem em duas bacias hidrográficas: a Costeira do
56
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
Sul e a do rio da Prata. Trata‐se de rios que
apresentam boas condições para navegação,
constituindo verdadeiras hidrovias na região.
Próximos ao litoral existem muitos lagos e
lagoas. A Lagoa dos Patos, localizada no município
de São Lourenço do Sul, é a maior laguna do Brasil e
a segunda maior da América Latina, com 265 km de
comprimento. Figura 60 – Lagoa dos Patos vista por satélite
Cobertura vegetal
São chamados de pampas os campos mais planos que estão localizados ao sul do estado
do Rio Grande do Sul. Neles existe uma vegetação campestre, que parece um imenso tapete
verde. Nos pampas predominam espécies que medem até um metro de altura. São comuns as
gramíneas, que às vezes transformam os campos em grandes capinzais.
Nos pampas a vegetação pode ser considerada rala e pobre em espécies. Ela vai se
tornando mais rica nas proximidades de áreas mais altas. Nas encostas de planaltos, existem
matas com grandes pinheiros e outras árvores, como a cabreúva, a grápia, a caroba, o angico‐
vermelho e o cedro. Nestas regiões, chamadas de campos altos é encontrada a Mata de
Araucária, onde a espécie vegetal predominante é o pinheiro‐do‐paraná.
Figura 61 – Região dos Pampas Figura 62 – Pinheiro‐do‐Paraná
Próximo ao litoral, a paisagem é marcada pela presença de banhados, ambientes alagados
em que aparecem juncos, gravatás e aguapés. O mais conhecido banhado é o de Taim, onde foi
criada, em 1998, uma estação ecológica administrada pelo IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) para preservação de tão importante ecossistema.
57
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
58
Figura 63 – Gato‐do‐Pampa
Figura 64 – Coruja‐buraqueira
Fauna
A fauna desse Bioma é composta por diversos
integrantes.
No grupo dos mamíferos estão o tatu, o
guaxinim, o zorrilho, o cachorro‐do‐mato e outras
duas espécies em risco de extinção: o gato‐do‐pampa
e a preguiça‐de‐coleira.
Entre as aves mais comuns estão o cisne‐de‐
pescoço‐preto, o marreco, a perdiz, o quero‐quero, o
pica‐pau do campo e a coruja‐buraqueira, que ganhou este nome por fazer seus ninhos em
buracos cavados no solo.
Há 50 espécies de peixes catalogadas,
entre elas: o lambari‐listrado, o lambari‐azul, o
tamboatá, o surubim e o cação‐anjo.
Existem também répteis e insetos. No
primeiro grupo está a tartaruga‐verde‐e‐amarela,
a jararaca‐do‐banhado, a cobra‐cipó e o cágado‐
de‐barbicha. Entre os insetos, podemos destacar a
também chamado traça‐das‐frutas.
vespa da madeira e o conhecido bicho‐da‐maçã,
Bioma em risco
As atividades de silvicultura demonstram um alto grau de “impactos adversos”, que se
manifestam no solo, através da redução da fertilidade, incremento de erosão e a redução de
permeabilidade de água. A presença desses cultivos a “maior oferta de combustível, o que
permitiu que o fogo alcance maiores proporções, multiplicando as possibilidades de danos aos
ecossistemas”
No Brasil, cerca de 50% do PIB, depende diretamente do uso de bens da biodiversidade,
sendo que o valor econômico dos serviços ambientais associados é estimado em mais de duas
vezes do valor do PIB mundial.
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
Nunca se perdeu tanta biodiversidade em tempos históricos no mundo como nos últimos
50 anos, com taxas de extinção de 100 a 1000 vezes acima do nível natural.
A degradação biótica, que está afetando o planeta, encontra raízes na condição humana
contemporânea, agravada pelo crescimento explosivo da população humana e pela distribuição
desigual da riqueza.
A perda da biodiversidade biológica envolve aspectos sociais, econômicos, culturais e
científicos. Infelizmente, o Brasil é o campeão mundial de perda da biodiversidade e,
conseqüentemente, vem sendo cobrado nos fóruns internacionais para adotar medidas efetivas
para conter esta perda brutal do que é percebido como patrimônio global da humanidade,
inclusive com riscos crescentes de retaliação comercial.
No Rio Grande do Sul, em função de sua diversidade de clima, solos, relevo, há a
formação de distintos ecossistemas; estas distintas características também possibilitam que haja
uso de antrópicos extremamente diversificados, sejam eles tanto em áreas urbanas quanto rurais.
A metade norte do estado é caracterizada por alta concentração antrópica e utilização
intensa do solo com agricultura, que resultou na descaracterização do bioma Mata Atlântica,
exceto em áreas de preservação ambiental e UCs.
A vegetação e animais presentes na metade sul e região sudoeste do estado, ocupando
63% da área total (176.496 km²), constituem o bioma pampa.
O pampa ocupa uma área de aproximadamente 700 mil km², compartilhada pela
Argentina, Brasil e Uruguai, sendo que no território brasileiro distribui‐se pela metade sul do
estado do Rio Grande do Sul, abrangendo cerca de 176 km², equivalendo a 64% do território
gaúcho e as 2,07% do território do país (destaca‐se que entre outros biomas do Brasil, o bioma
pampa é o único cuja ocorrência é restrita a somente um estado).
Avaliando‐se tendências mundiais de modificações ambientais e considerados os aspectos
atualmente em vigor, é identificada uma matriz altamente preocupante, que se caracteriza em
termos de cenários e tendências futuras e expansão da degradação, no que tange ao bioma
pampa.
A discussão sobre processos de desenvolvimento global, e considerando‐se o modelo
econômico que vem sendo implantado para a região, pode levar à conclusão de que está sendo
utilizado o pressuposto de benefícios imediatos, e muitas vezes não sustentáveis a médio/longo
prazos, sob aspectos socioeconômico‐culturais e ambientais.
A discussão em torno do bioma pampa é adequada, pois este se caracteriza por alguns
aspectos fundamentais, destacando‐se que é o mais desconhecido de todos os biomas no Brasil,
59
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
motivo de grande preocupação, à medida que tem especificidades que devem ser consideradas
em qualquer projeto de expansão/desenvolvimento que se proponha implantar. Neste contexto,
podem‐se ressaltar como fundamentais as questões relacionadas com disponibilidade de água,
tipologia de ambientes naturais e modelo de utilização da terra, que tem permitido, até agora, a
manutenção das condições ambientais da região e que o tornam tão importante em escala global.
Recentemente, começou a ser implantado na região um novo modelo de
“desenvolvimento”, que vem desconsiderando, muitas vezes, especificidades locais (sociais,
ambientais e culturais), o que poderá conduzir a graves conseqüências, também de cunho
econômico.
Os cultivos de Eucalyptus spp e Pinus spp em áreas inadequadas poderão conduzir a
graves conflitos, que tenderão a ser cada vez mais acentuados, seja pelo uso de recursos escassos,
seja pela posse da terra ou ainda pela própria perda da identidade cultural regional.
Inúmeros estudos em vários países, destacando‐se Chile, Argentina, Uruguai, que estão
mais próximos da realidade do Rio Grande do Sul, vem demonstrando o alto grau de impactos
adversos, que surgem em decorrência deste tipo de uso de solo, destacando‐se que surgem
conflitos pela água. Além disso, solos passam a apresentar maior acidez, redução na sua
fertilidade, incremento de erosão, em função da alteração da estrutura do solo e redução de
permeabilidade de água.
Surge, também, o constante risco de incêndios. Igualmente, um aspecto pouco discutido,
mas amplamente conhecido, e inclusive já sendo observado no Rio Grande do Sul, refere‐se à
expansão da invasão de espécies exóticas, que passam a ser consideradas como verdadeiras
“pragas” junto a alguns setores de cultivos agrícolas, destacando‐se caturritas, lebres e javalis,
que encontram nestes novos nichos (os plantios de espécies arbóreas) ampla possibilidade de
vida.
A problemática envolvendo a introdução de espécies exóticas é imensa e vem sendo
mundialmente discutida, por ser considerada uma das principais causas de ameaças à
biodiversidade nativa e também por criar formas de conflitos entre distintos usos que se fazem
em cada região. Destaca‐se que, nestes casos, as atividades humanas passam a transformar os
ecossistemas modificando sua estrutura e seu funcionamento. Desta forma, é alterada a
capacidade de promover serviços e bens.
A introdução de alguns cultivos poderá levar à perda de outros potenciais usos, tais como
produção ecologicamente correta (agroecologica, orgânica etc.), turismo, entre outros. Aqui é
importante ter‐se claramente presente de que, até agora, o modelo da matriz produtiva do Rio
60
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
Grande do Sul é bastante diversificado e dependente do campo, sendo fonte de matéria prima
para muitos outros setores (ramos alimentares, coureiro/calçadista etc.).
Também se deve ter presente que as atividades de silvicultura levam a uma série de
impactos indiretos, que normalmente não são internalizados no computo dos processos
produtivos como efeitos adversos, tais como danos causados às estradas e rodovias por onde
transitam caminhões e máquinas agrícolas (cuja restauração e manutenção são realizadas com
recursos públicos, que poderiam ser direcionados para outros fins com muito maior abrangência e
importância social), além do monitoramento ambiental para acompanhar a evolução das
mudanças nos ecossistemas. Estes custos acabam sendo socializados pela população em geral, e o
recurso financeiro dispendido para redução destes impactos acaba sendo retirado de outras
finalidades de interesse comum a toda sociedade.
Inúmeros trabalhos vêm sendo desenvolvidos em muitos países do mundo, com destaque
para a região do MERCOSUL, sendo que muitos autores referem aos riscos decorrentes de
plantações de Eucalyptus e Pinus e à ocorrência de incêndios.
Estas ocorrências podem existir em áreas de campos freqüentemente e causam alguns
danos. Entretanto, com a presença de cultivos florestais há uma maior oferta de “combustível”, o
que permite que o fogo alcance maiores proporções, multiplicando as possibilidades de danos aos
ecossistemas e erosão do solo.
Adicione‐se a estes aspectos o fato de que o incêndio atinge camadas de matéria orgânica
do solo. Desta forma, é enviado à atmosfera não apenas o carbono seqüestrado pelas plantações,
mas também aquele que estava fixo no solo.
Assim, no caso do pampa gaúcho, há que se ressaltar que a implantação de atividades no
meio rural, destacando‐se os projetos silviculturais, de forma ampla, sem observância às
recomendações técnicas específicas que contemplem fragilidades ambientais de estudos, já
efetuados por inúmeros órgãos ambientais (Fepam, MMA, IBAMA, FZB) e universidades, poderá
conduzir a riscos reais em relação a outros usos possíveis e inclusive recomendados para a região.
É altamente preocupante a situação identificada a partir de uma análise mais
aprofundada do momento atual em implantação para a região do bioma pampa, onde se
identifica uma clara contradição entre o modelo em expansão no Rio Grande do Sul e aqueles
referidos como sendo de importância de investimentos futuros visando um planejamento e
desenvolvimento estratégico do país, pois as mudanças que vem ocorrendo em todo Planeta
estão surgindo com uma velocidade que não condiz, na maior das vezes, com as condições que
61
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
permitam se fazer uma gestão ambiental adequada, visto que esta, muitas vezes, depende de
fatores legais, administrativos e políticos.
Capincho é alternativa econômica
A conservação da biodiversidade nativa no Bioma Pampa depende além das ações de
preservação e estabelecimento de áreas de proteção, também do fomento à criação racional e
sustentável dos animais silvestres com potencial de aproveitamento econômico. A criação de
capivaras tem despertado o interesse dos produtores, tanto pelo elevado preço de venda dos
animais, quanto pelo seu potencial produtivo.
A criação contribui para a conservação das populações naturais, por desestimular a caça
clandestina, oferecendo uma alternativa. A capivara é o maior roedor vivo, atingindo 105 kg, e
não se encontra ameaçada de extinção.
A Venezuela abate em média 27.000 capivaras / ano, desde a década de 70,
comercializando a carne na forma de charque, por meio de manejo extensivo. Na Argentina, são
exportados em torno de 10.000 couros / ano (98% dos couros vão para o mercado interno),
através de caça ilegal e legalizada (na Província de Corrientes).
O Brasil se caracteriza por estimular a implantação de criadouros, sendo a capivara o
animal silvestre nativo mais criado no país. Sua prolificidade, plasticidade alimentar,
aproveitamento de fibra (celulose) e amido, boa taxa de ganho de peso, rusticidade e tamanho de
Cortes adequados ao mercado, somados ao elevado preço do kg vivo, permite equipará‐la com a
criação tradicional de ovinos.
O potencial para o uso em pecuária orgânica é evidente, por ser um animal pastador por
natureza. Hoje a capivara é cotada em até R$ 6,00 / kg de peso vivo e a carne chega a R$ 44,00 /
kg. No entanto, não se pode compará‐la em produtividade aos suínos, que apresentam o
quádruplo do crescimento ponderal e maior prolificidade, com o detalhe de que a capivara ainda
não foi submetida ao melhoramento genético.
Capivaras têm uma vasta e antiga
tradição como animal de caça no Rio Grande do
Sul, ainda que de forma ilegal. No entanto, sabe‐
se que a carne proveniente desses animais, na
sua maioria, apresenta problemas de sabor e
aroma o que a torna repudiada por grande parte
62
Figura 65 – Capivaras em sistema de criação consumindo aveia cortada
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
das pessoas. Por outro lado, capivaras de criação, sob regime alimentar com grãos/ração e
forragem cultivada, mesmo adultas, de ambos os sexos, apresentam sabor e aroma excelentes.
Não seria exagero dizer que se encontra entre as melhores carnes que temos. Além disso,
a carne de capivara apresenta características qualitativas em harmonia com as novas demandas
dos consumidores, tais como baixa quantidade de gordura intramuscular, baixa quantidade de
gorduras saturadas, elevada quantidade de gorduras poliinsaturadas e relação mais adequada
entre as gorduras do tipo ω6 e ω3, quando comparada a carnes vermelhas tradicionais.
O óleo de capivaras apresenta excepcional quantidade de ácido α‐linolênico, um dos
ácidos graxos ômega‐3 essenciais para o organismo. Ou seja, não são sintetizados pelo corpo,
devendo ser providos pela alimentação, estando envolvidos em funções como regulação da
pressão arterial, redução de processos inflamatórios e do colesterol/LDL.
O couro de capivaras é bastante valorizado,
chegando a US$ 16,00 / unidade o in natura e US$ 50,00 o
curtido (na Argentina), tendo ampla utilização na produção
de artefatos sofisticados e na linha crioula. A Itália é um dos
maiores importadores.
Figura 66 – Artigos de vestuários feitos com couro de capivara Considerações
Enfim, os Pampas, até pouco tempo, não era visto como um bioma. Os campos eram
tratados como um ecossistema menor. Se a Caatinga era vista com menosprezo, como algo de
pouco valor, com o Pampa era pior, pois ele sequer era visto. Todos os campos do Rio Grande do
Sul eram denominados Campos Sulinos abrangendo as mais diversas formações rupestres,
campos associados a floresta com araucárias e os campos de altitude e o Pampa. A preocupação
em preservar o Pampa é bastante recente. Por outro lado, o Pampa tem grande reconhecimento
por ser a base da cultura gaúcha.
63
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
64
Figura 67 e 68 – Pantanal
PPAANNTTAANNAALL
FFEERRNNAANNDDAA SSTTÉÉPPHHAANNIIEE RRIIBBEEIIRROO DDEE CCAARRVVAALLHHOO
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
Introdução
O Pantanal é uma planície inundável peculiar e sensível, com altitudes variando de 80 a
150 metros, inserida na parte central da bacia hidrográfica do Alto Paraguai. É uma depressão
geográfica circundada pelos planaltos da bacia. As partes altas têm altitudes entre 200 e 1.000
metros. Os solos são predominantemente arenosos (Podzól Hidromórfico), revestidos com
forrageiras nativas.
Está localizado no coração da América do Sul, entre os paralelos 16 e 22 graus de
longitude sul e os meridianos 55 e 58 graus de longitude oeste.
É o segundo maior sistema hídrico da América do Sul ‐ o primeiro é Amazonas ‐ e uma das
maiores reservas de água doce do mundo.
Ao todo, a bacia internacional, abrange uma área de 624.320 km2, sendo
aproximadamente 62% no Brasil, 20% na Bolívia e 18% no Paraguai. Ocupa uma área na região
Centro Oeste do Brasil de 189 mil quilômetros quadrados, conforme o Dicionário Geográfico do
IBGE, dos quais 63% em Mato Grosso do Sul e 37% em Mato Grosso.
Figura 70 – Região Internacional do Pantanal
Figura 69 – Planaltos e Planícies do Pantanal
O Pantanal é circundado, do lado brasileiro (norte, leste e sudeste) por terrenos de
altitude entre 600‐700 m, estende‐se a oeste até os contrafortes da cordilheira dos Andes e se
prolonga ao sul pelas planícies pampeanas centrais. As terras latas do entorno, muitas delas de
65
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
origem sedimentar ou formadas por rochas solúveis e friáveis, continuamente erodidas pela ação
do vento e das águas, fornecem enorme quantidade de sedimentos que são depositados na
planície, num processo contínuo de entulhamento. Formam‐se assim terrenos de aluvião, muito
permeáveis, de composição argilo‐arenosa.
Na planície, a declividade é aproximadamente de 1 a 2 centímetros por quilômetro no
sentido norte‐sul e 6 a 12 centímetros por quilômetro no sentido leste‐oeste.
O equilíbrio desse ecossistema depende, basicamente, do fluxo de entrada e saída de
enchentes que, por sua vez, está diretamente ligado à pluviosidade regional.
De forma geral, as chuvas ocorrem com maior freqüência nas cabeceiras dos rios que
deságuam na planície. Com o início do trimestre chuvoso nas regiões altas (a partir de novembro),
sobe o nível de água dos rios, provocando as enchentes.
Na paisagem pantaneira, a fisionomia altera‐se profundamente nas duas estações bem
definidas do ano: a seca e a chuvosa. Durante a seca, nos campos extensos cobertos
predominantemente por gramíneas e vegetação de cerrado, a água de superfície chega a
escassear, restringindo‐se aos rios perenes, com leito definido, às grandes lagoas próximas a esses
rios e a algumas lagoas menores e banhados em áreas mais baixas da planície. Em muitos locais
torna‐se necessário recorrer aos estoques subterrâneos, utilizando‐se bombas manuais e
moinhos de vento para garantir o fornecimento às casas e bebedouros de animais domésticos.
A natureza repete, anualmente, o espetáculo das cheias, proporcionando ao Pantanal a
renovação da fauna e flora local. Esse enorme volume de água forma um verdadeiro mar de água
doce onde milhares de peixes proliferam. Peixes pequenos servem de alimento a espécies
maiores ou a aves e animais.
Quando o período da vazante começa, uma grande quantidade de peixes fica retida em
lagoas ou baías, não conseguindo retornar aos rios. Durante meses, aves e animais carnívoros
(jacarés, ariranhas e outros) têm, portanto, um farto banquete à sua disposição.
Os tons pardo‐acinzentados da vegetação ressequida não só são substituídos pelo verde
nos terrenos próximos à água superficial ou abastecidos pelo lençol freático. As primeiras chuvas
da estação caem sobre um solo seco e poroso e são facilmente absorvidas. Com o constante
umedecimento da terra, a planície rapidamente se torna verde devido ao rebrotamento de
inúmeras espécies resistentes à falta d’ água dos meses precedentes.
Em poucos dias o solo se encharca e não consegue mais absorver a água da chuva que
passa a encher os banhados, as lagoas e transbordar dos leitos mais rasos, formando cursos de
localização e volume variáveis.
66
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
67
Esse grande aumento periódico da rede hídrica no Pantanal, a baixa declividade da
planície e a dificuldade de escoamento das águas pelo encharcamento do solo, são responsáveis
por inundações nas áreas mais baixas, o que confere à região um aspecto de imenso mar interior.
Somente os terrenos mais elevados e os morros isolados sobressaem como verdadeiras ilhas
cobertas de vegetação, onde muitos animais se refugiam à procura de abrigo contra a subida das
águas.
Devido a sua importância ambiental, o bioma foi decretado Patrimônio Nacional, pela
Constituição de 1988, e Patrimônio da Humanidade e Reserva da Biosfera, pelas Nações Unidas,
em 2000. Essas reservas, declaradas pela Unesco, são instrumentos de gestão e manejo
sustentável integrados que permanecem sob a jurisdição dos países nos quais estão localizadas.
R (1988), em um extenso trabalho sobre a origem do Pantanal Matogrossense,
se se caracteriza por extensas planícies de acumulação, com
otas in
go dos trabalhos de mapeamento geomorfológico realizados através do Projeto
Geologia
AB'SABE
desenvolve a idéia de que o que hoje é uma depressão teria sido no passado uma vasta abóbada
de escudo, que funcionava como área de fornecimento detrítico para as bacias sedimentares do
Grupo Bauru (Alto Paraná) e Parecis.
Hoje o Pantanal Matogrossen
c feriores a 200 metros. Sua evolução pretérita, atual e futura está submetida às condições
das áreas elevadas que o rodeiam, pois estas constituem sua fonte de água e sedimentos (Godói
Filho, 1986).
Ao lon
RADAMBRASIL (Franco & Pinheiro, 1982) foram identificadas nove unidades geomorfológicas na
região, destacando‐se a unidade denominada Planícies e Pantanais Matogrossense, que os
Figura 71 – Pantanal
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
68
autores descreveram como sendo um enorme anfiteatro voltado para oeste. Esta unidade foi
subdividida em oito Pantanais, individualizados por suas características morfogenéticas (altimetria
relativa, litologia e pedologia) e botânicas: Pantanal do Corixo Grande‐Jauru‐Paraguai, do Cuiabá‐
Bento Gomes‐Paraguaizinho, do Itiquira‐São Lourenço ‐ Cuiabá, do Taquari, do Negro, do
Miranda‐Aquidauana, do Jacadigo‐Nabileque, e de Paiaguás.
Toda a discussão relativa à incorreção do uso do termo Pantanal (uma vez que não se
ata de
esteja submetida a uma gênese comum,
Clima e Solo
No Pantanal, o clima predominantemente tropical, apresenta características de
ontine d dife a
seca ou inverno, com chuvas raras e temperatura
lo, que é alagado no
erão e
tr uma área com características pantanosas) e às diferentes propostas de sub‐divisões da
região foi extensamente relatada por da Silva (1990).
O principal fato é que embora toda a área
caracterizada pelo processo de acumulação, a diferente disposição dos sedimentos confere
características distintas a cada subunidade.
c ntali ade, com renças bem marcantes entre s estações seca e chuvosa. Localizada na
porção centro‐sul do Continente Sul‐Americano, a região não sofre influências oceânicas, mas
está exposta à invasão de massas frias provenientes das porções mais meridionais, com
penetração rápida pelas planícies dos pampas e do chaco. A temperatura usualmente alta, pode
baixar rapidamente e até haver ocorrências de geadas, ficando as mínimas ao redor de 0°C
enquanto as máximas atingem quase 40°C. As médias anuais registradas, em torno de 25°C, têm
como mínima 15°C e máxima 34°C.
De abril a setembro é a estação
bastante agradável. Durante o dia pode fazer calor, mas as noites são frescas ou frias. Com o
início das chuvas, geralmente em outubro, começa o verão que se prolonga até março. A
temperatura, bastante elevada, só cai durante e logo após as pancadas fortes, voltando a subir
até que novamente as grossas massas d’ água desabem sobre a região. A partir de março o nível
das águas vai baixando e o Pantanal começa a secar. No ápice da seca, entre julho e setembro, a
água fica restrita aos leitos dos rios ou aos banhados e lagoas localizadas em porções baixas da
planície, em permanente comunicação com os rios ou com o lençol freático.
O regime de chuvas determina uma alternância nas condições do so
v seco no inverno. Há regiões altas que nunca são atingidas pelas cheias, regiões baixas que
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
ficam quase sempre submersas e regiões de altitude intermediária, que se apresentam secas a
maior parte do ano e alagadas durante alguns meses.
A umidade relativa do ar varia de 50% à 60% no inverno e em torno de 80% no verão.
Por sua composição predominante argilo‐arenosa os solos do Pantanal são caracterizados
como pobres em sua parte mais profunda, mas como muito férteis na camada superficial, graças à
deposição de matéria orgânica resultante da decomposição de restos animais e vegetais.
Elementos da Paisagem
A paisagem do Pantanal é caracterizada por terrenos muito vastos e planos, onde se
sobressaem elevações como as “cordilheiras”, os morros isolados e as serras, e depressões pouco
profundas, a maioria preenchida durante grande parte do ano por água dos rios, lagoas e
banhados. A altitude média de toda essa imensa planície é pouco superior a 100 m. Sua cobertura
vegetal predominante é aquela característica dos campos limpos, campos cerrados e das matas.
Campos: São as formações mais freqüentes no Pantanal, podendo se apresentar sob dois
aspectos diferentes: em regiões não inundáveis, de solo ácido e pobre, onde a vegetação pouco
densa é representada por espécies permanentes e efêmeras. Entre as permanentes, encontram‐
se arbustos e árvores de porte médio, caracterizados por troncos e galhos tortuosos, casca grossa
e folhas coriáceas ou cobertas de pelos. O grupo das efêmeras compreende inúmeras ervas e
gramíneas.
Em regiões mais baixas, sujeitas a inundações, os campos cerrados são substituídos por
campos limpos ou campinas sem árvores, onde raras plantas lenhosas arbustivas ocorrem em
meio a um tapete de capins. São excelentes pastagens naturais para o gado e para muitos
herbívoros silvestres.
Matas: Sobressaindo por entre a vegetação dos campos vêem‐se conjuntos muito
diversificados de vegetais, formados por árvores de grande porte, arbustos, vegetação rasteira e
trepadeiras. Podem se apresentar sob dois aspectos: Matas ciliares ou galerias, encontradas
margeando os rios e se estendendo por áreas mantidas úmidas pelos cursos d’ água; Capões, ou
manchas de vegetação de porte alto, encontradas nas partes elevadas das ondulações da planície,
onde o solo é rico e o abastecimento da água garantido pelo lençol subterrâneo.
Serras: São as elevações de maior altitude na região, chegando a 1000m de altitude como
o Maciço do Urucum, formadas por terrenos rochosos, calcários e secos. A cobertura vegetal é
constituída por espécies comuns do cerrado, entremeadas por vegetação típica de caatinga, tanto
69
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
mais freqüente quanto mais elevado e pobre for o terreno. Podem apresentar manchas de
pastagens naturais em suas encostas.
Morros isolados: Espalhados em alguns pontos da planície, como elementos isolados,
encontram‐se elevações de pequena altura, com 150 a 200m em média e formato geralmente
arredondado. São também chamados de inselbergues, pois durante a época das cheias destacam‐
se nas áreas inundadas, como verdadeiras ilhas cobertas de vegetação. No sopé desses morros
isolados a vegetação é semelhante a dos capões e do cerrado. Nas proximidades do topo, o
terreno cada vez mais pedregoso e seco é coberto por espécies típicas de caatinga, como ocorre
nas serras.
Cordilheiras: São pequenas elevações em forma de cordões que variam de 1 a 6m de
altura, constituídos por areias finas e pouco compactas, provenientes da erosão de arenitos e
levadas pelo vento para a planície do Pantanal. Funcionam como barreiras entre as depressões
naturais, represando as águas durante as inundações. São comparáveis a dunas, cobertas por
vegetação, a qual atua como elemento de fixação.
Rios: São cursos d’ água de leito definido, de volume bastante variável conforme a época
do ano, limitados por praias arenosas, barrancos, campos firmes ou alagadiços. Com águas
geralmente barrentas, que não correm com muita velocidade, esses rios de planície apresentam
numerosos meandros e afluentes, onde são comuns os bancos de areia e raras as corredeiras e os
leitos rochosos. Suas margens são cobertas por vegetação de campo limpo, de cerrado, de mata
ou de brejo. No Pantanal são conhecidos como corixos os cursos d’ água menores, de volume e
leito variáveis conforme a época do ano, mas que correm o ano todo, alimentados por um rio de
grande porte. Durante a estação seca podem se reduzir a filetes d’ água, enquanto que na cheia
ficam tão volumosos que se confundem com os rios principais. Nesta época, também nas
vazantes como são conhecidos os canais de comunicação ou de drenagem entre os rios e lagoas,
encontra‐se grande quantidade de água.
Vegetação
A diversidade de condições ambientais determina uma grande variedade de tipos de
vegetação, designada por alguns autores com “complexo do Pantanal” por considerarem que essa
denominação exprime o “complexo de condições e de tipos de vegetação ali existentes” (Ferri,
1980). Na verdade, “o Pantanal se nos afigura como o lugar aonde todos os tipos de vegetação do
70
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
continente vêm fundir‐se, aparecendo na vasta área amostras de cada um deles e, em certos
pontos, verdadeira mistura” (Gonzaga de Campos, 1912).
Nas regiões de altitude intermediária, onde o solo é arenoso e ácido e a água é retida
apenas no sub‐solo, encontra‐se vegetação típica de cerrado. Os elementos predominantes neste
tipo de formação são as árvores de porte médio, de casca grossa, folhas recobertas por pelos ou
cera e raízes muito profundas. Elas se distribuem não muito próximo uma das outras,
entremeadas de arbustos e plantas rasteiras, representadas por inúmeras espécies de ervas e
gramíneas. Na época da seca, como proteção contra a dessecação, muitas árvores e arbustos
perdem totalmente os ramos e folhas; outros limitam‐se a derrubar as folhas, mas os ramos
persistem e podem florescer. Nessa época é comum a prática de queimadas nas fazendas, para
limpar o campo das partes secas da vegetação. Realizada de maneira controlada, a queimada, não
é de todo prejudicial, como seria em outros ambientes, pois estimula o rebrotamento de muitas
plantas do cerrado. No entanto, se o fogo se alastrar repentinamente por outras áreas, muitos
animais e vegetais poderão ser inutilmente sacrificados. Assim, essa prática só será aconselhável
se puder ser executada com bastante cuidado.
Em regiões mais baixas e úmidas, onde as gramíneas predominam, encontram‐se os
campos limpos, pastagens ideais para a criação do gado que lá convive em harmonia com muitas
espécies de animais silvestres.
Em pequenas elevações, quando o solo é rico, encontram‐se capões de mato formados
por árvores de porte elevado, como aroeira, imbiruçu, angico, ipês.
Com o objetivo analisar as mudanças de ocupação do solo na Bacia do Alto Paraguai, um
grupo de ONGs que atuam no Pantanal realizaram em 2008 e 2009 um estudo sobre a cobertura
vegetal do Pantanal.
O trabalho foi feito pelas ONGs Ecoa‐Ecologia e Ação, Conservação Internacional,
Fundação Avina, SOS Pantanal e WWF‐Brasil e teve o apoio técnico da Embrapa Pantanal e
publicado em junho de 2010.
O diagnóstico mostra um Pantanal ainda conservado se comparado a outros biomas,
como Mata Atlântica, mas vulnerável, principalmente em razão dos impactos ocorridos na parte
alta da Bacia do Alto Paraguai. Enquanto a planície inundável mantém 86,6% da sua cobertura
vegetal natural, no planalto da Bacia do Alto Paraguai, apenas 43,5% da área possui vegetação
nativa.
O mapeamento apontou diferenças na ocupação do solo entre o planalto e a planície,
onde está localizado o Pantanal. Enquanto o planalto caracteriza‐se pela forte ocupação da
71
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
agricultura e pecuária, na planície, a pecuária de caráter mais extensivo exerce menor pressão
sobre a cobertura vegetal original.
Figura 72 ‐ Mapa de vegetação natural e uso do solo
72
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
73
Hidrografia
O regime de inundações é o responsável pelo ciclo da vida no Pantanal, garantindo as
condições para que animais e plantas se desenvolvam em toda a sua plenitude.
Por isso, a preservação das nascentes nas partes altas da Bacia e a adoção de práticas de
produção econômica que não agridam ao meio ambiente são fundamentais para a conservação
da planície inundável.
Embora a maior parte da área inundável esteja no Mato Grosso do Sul, é no Mato Grosso
onde nascem os principais rios da Bacia Pantaneira.
O chamado Arco das Nascentes contorna os divisores de água da Bacia e está presente em
uma área extensa que vai de Rondonópolis, passando pela Chapada dos Guimarães, Diamantina,
até Cárceres.
Essa região – onde estão as nascentes dos rios Paraguai, Sepotuba, Cabaçal, Jauru, Cuiabá,
São Lourenço, Manso, Rio dos Bugres, Coxim e Taquari – é responsável pelo fornecimento de 70%
da água que corre para o Pantanal. Por isso, a preservação das cabeceiras dos rios é fundamental
para a conservação do bioma.
A principal bacia hidrográfica é a do rio Paraguai com 1400km de extensão. Os principais
afluentes do rio Paraguai são: São Lourenço (560km), o Miranda (264km) e Taquari (850km). A
Bacia Hidrográfia do Alto Paraguai tem, como base a cota de 200m acima do nível do mar.
Compreende uma área de 107.400 km², o que corresponde a 24% da área total do Estado.
Fauna
A região concentra uma rica biodiversidade. Já foram registradas no Pantanal, pelo
menos, 4.700 espécies, incluindo plantas e vertebrados. Desse total, entre as quais estão
3.500 espécies de plantas (árvores e vegetações
aquáticas e terrestres), 325 peixes, 53 anfíbios, 98
répteis, 656 aves e 159 mamíferos.
A fauna pantaneira é muito rica,
provavelmente a mais rica do planeta. Há 650
espécies de aves (no Brasil inteiro estão
catalogadas cerca de 1800). A mais espetacular é a
arara‐azul‐grande, uma espécie ameaçada de Figura 73 – Tuiuiu – Símbolo do Pantanal
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
74
extinção. Há ainda tuiuiús (a ave símbolo do Pantanal), tucanos, periquitos, garças‐brancas,
jaburus, beija‐flores (os menores chegam a pesar dois gramas), socós (espécie de garça de
coloração castanha), jaçanãs, emas, seriemas, papagaios, colhereiros, gaviões, carcarás e
curicacas.
No Pantanal já foram catalogadas mais de 1.100 espécies de borboletas. Contam‐se mais
e 80 e
também é extremamente piscosa, já tendo sido catalogadas 263 espécies de
eixes:
ipal o jacaré (jacaré‐do‐pantanal e jacaré‐de‐
oroa),
Flora
São aproximadamente 1500 espécies de plantas estimadas pela EMBRAPA.
ica, cerrado e
haco (
getação do Pantanal não é homogênea e há um padrão diferente de flora de acordo
om o
,
d spécies de mamíferos, sendo os principais a onça‐pintada (atinge a 1,2 m de comprimento,
0,85 cm de altura e pesa até 200 kg), capivara, lobinho, veado‐campeiro, veado catingueiro, lobo‐
guará, macaco‐prego, cervo do pantanal, bugio (macaco que produz um ruído assustador ao
amanhecer), porco do mato, tamanduá, cachorro‐do‐mato, anta, preguiça, ariranha, suçuarana,
quati, tatu etc.
A região
p piranha (peixe carnívoro e extremamente voraz), pacu, pintado, dourado, cachara,
curimbatá, jaú e piau são as principais encontradas.
Há uma infinidade de répteis, sendo o princ
c cobras (sucuri, jibóia, cobras‐d’água e outras), lagartos (camaleão, calango‐verde) e
quelônios (jabuti e cágado).
A vegetação pantaneira é um mosaico de três regiões distintas: amazôn
c paraguaio e boliviano). Durante a seca, os campos se tornam amarelados e não raro a
temperatura desce a níveis abaixo de 0°C, influenciada pelos ventos que chegam do sul do
continente.
A ve
c solo e a altitude. Nas partes mais baixas, predominam as gramíneas, que são áreas de
pastagens naturais para o gado. A vegetação de cerrado, com árvores de porte médio
entremeadas de arbustos e plantas rasteiras, aparece nas alturas médias. A poucos metros acima
das áreas inundáveis, ficam os capões de mato, com árvores maiores como angico, ipê e aroeira.
Em altitudes maiores, o clima árido e seco torna a paisagem parecida com a da caatinga
apresentando espécies típicas como o mandacaru, plantas aquáticas, piúvas (da família dos ipês
com flores róseas e amarelas), palmeiras, orquídeas, figueiras e aroeiras.
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
75
Ocupação e atividades econômicas
A ocupação do Pantanal por europeus e seus descendentes foi iniciada no século 18 com
a introdução da pecuária na região, e continua sendo a principal atividade econômica. A atividade
econômica tornou‐se a mais significativa e se estende do planalto das bordas da bacia até a
planície alagável.
Com um rebanho estimado em 3,2
milhões de cabeças de gado, é responsável
por cerca de 65% da atividade econômica
nos estados do Mato Grosso e Mato Grosso
do Sul.
Segundo estudos da Embrapa
Pantanal, a pesca constitui a segunda maior
atividade econômica do Pantanal, gerando
recursos da ordem de 40 milhões de reais
ao ano.
A pesca de subsistência é integrada à cultura regional e constitui importante fonte de
proteína para as populações ribeirinhas. A pesca esportiva se tornou o principal atrativo do
turismo regional, especialmente no Mato Grosso do Sul.
O turismo é outra atividade econômica no Pantanal. Esta atividade, quando desenvolvida
de maneira responsável, pode contribuir para a sustentabilidade econômica da região.
Desmatamento, queimadas e assoreamento de rios são alguns dos problemas
relacionados com a pecuária, quando não é praticada com responsabilidade.
Nas últimas décadas, aumentou a pressão pela instalação de projetos de desenvolvimento
com sérios impactos ao meio ambiente, entre eles, a instalação de hidrelétricas nas cabeceiras
dos rios e a construção de hidrovia no rio Paraguai. O crescente número de usinas hidrelétricas
modificará o ciclo hidrológico; a hidrovia em discussão e a produção de carvão ameaçam a
cobertura vegetal da região.
Os recentes esforços de redução das emissões de CO2 pela expansão da produção de
álcool e biocombustíveis em geral aumentam a preocupação a respeito de seus impactos sobre o
Pantanal, tendo em vista a crescente demanda por terra agricultável e água para irrigação de
lavouras e processamento destes combustíveis, o que provocará o aumento da liberação de
agrotóxicos e rejeitos, além da sedimentação.
Figura 74 – Rebanho bovino no Pantanal
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
76
O resultado da destruição do solo é o assoreamento dos rios, fenômeno que tem mudado
a vida na região. Áreas que antes ficavam alagadas nas cheias e completamente secas quando as
chuvas paravam, agora ficam permanentemente sob as águas. Também causaram grande
impacto, nos últimos anos, o garimpo, a construção de hidrelétricas, o turismo desorganizado e a
caça, empreendida principalmente por ex‐peões que, sem trabalho, passaram a integrar
verdadeiras quadrilhas de caçadores de couro.
Depois de 1989, o risco de um desequilíbrio total do ecossistema pantaneiro ficou mais
próximo de se tornar uma triste realidade. A razão dessa ameaça era o megaprojeto de
construção de uma hidrovia de mais de 3.400 km nos rios Paraguai (o principal curso de água do
Pantanal) e Paraná ‐ ligando Cáceres, no Mato Grosso, a Nova Palmira, no Uruguai. Apesar de o
Governo ter abandonado a idéia de alterar (com a construção de diques e trabalhos de dragagem)
o percurso do Rio Paraguai, a navegação ainda apresenta riscos. A degradação das matas ciliares,
barrancos, meandros e leito do rio, em conseqüência da forma como a navegação está sendo
executada atualmente, exigem medidas imediatas de recuperação e regulamentação das
embarcações e de controle de tráfego.
Pesca
O crescente desmatamento na região do Pantanal e no Planalto, com a retirada de matas
ciliares e a substituição da vegetação natural por pastagens e culturas de grãos tem afetado
negativamente as populações de peixes.
A situação é ainda mais grave quando se considera que os grandes estoques pesqueiros
constituem um dos maiores compartimentos de reserva viva de nutrientes e energia no Pantanal,
garantindo a sobrevivência de inúmeras outras espécies e o equilíbrio do sistema. Os peixes,
entre outras funções, atuam como dispersores de sementes e constituem a alimentação básica
para muitos componentes da fauna.
Nos períodos de seca a mortalidade dos peixes aumenta: as populações são obrigadas a
concentrarem‐se nas lagoas e canais
permanentes, constituindo presas fácies
para aves e outros animais, além de ficarem
ainda mais suscetíveis à pressão da pesca.
a i
O turismo pesqueiro está
consolidado no P ntanal e atra cerca de 80
mil pescadores por ano. São desenvolvidas Figura 75 – Pesca no Pantanal
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
três modalidades principais de pesca: a de subsistência, integrada na cultura regional, que
constitui importante fonte de proteína para as populações ribeirinhas; a pesca esportiva, que se
tornou o principal atrativo do turismo regional, especialmente no Mato Grosso do Sul; e a pesca
profissional, a qual viabiliza a subsistência de pelo menos 3.500 pescadores em toda a região. As
espécies de peixes mais capturadas pelos pescadores profissionais são consideradas espécies
nobres, como pintado, cachara, jaú, dourado e pacu. Curimbatá e piavuçu também são
capturados e possuem um menor valor comercial.
A partir do final da década de 1970, em decorrência das facilidades de acesso e
implantação gradativa de infra‐estrutura, o turismo pesqueiro teve um crescimento considerável
no Pantanal Mato‐grossense. A demanda dos pescadores esportivos por "iscas vivas" (pequenos
peixes e crustáceos) que servem de alimento para as espécies nobres, incrementou o comércio
dessas espécies, mobilizando centenas de famílias de trabalhadores de baixa renda para atuar na
atividade de coleta, estas pessoas, conhecidas como "Isqueiros" ou coletores de iscas, foram
gradativamente se estabelecendo às margens dos rios e lagoas pantaneiras, criando novos pólos
de exclusão social.
A pesca no Pantanal, no sentido mais amplo, é uma atividade extrativista. Apesar das
limitações impostas ao pescador amador e proibição na época da piracema, a cada ano são
retiradas cerca de 3000 toneladas de peixes da região. Ainda assim, trata‐se de um volume muito
grande para um ecossistema tão frágil. O resultado é que em muitas regiões, os peixes estão
ficando menores e cada vez mais escassos. Ao longo dos anos constata‐se que o número de
pescadores aumentou e os peixes diminuíram tanto no seu tamanho quanto na quantidade. Esse
é o principal indicativo de que a espécie não é mais tão farta hoje quanto era antigamente.
Turismo
Na última década, a atividade turística cresceu muito, melhorou a infra‐estrutura e
aperfeiçoou os serviços, especialmente para o turismo ecológico, rural e de pesca, com
importante desenvolvimento para o artesanato. No entanto, paralelos a esse crescimento,
surgiram alguns problemas do ponto de vista ecológico devido à falta de políticas sustentáveis,
como a venda de iscas coletadas do ambiente natural de forma indiscriminada nas temporadas de
pesca. A grande maioria dos turistas que procuram o Pantanal é formada de pescadores
amadores, mas o ecoturismo já atrai o visitante pelas belezas naturais da região e pela tradição
cultural.
77
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
Para receber o ecoturista, o Pantanal está passando por uma transformação profunda.
Fazendas estão sendo adaptadas para funcionar como pousadas. Hotéis pesqueiros que até então
só atendiam turistas pescadores, voltam a sua atenção aos ecoturistas. Peões pantaneiros e
piloteiros pescadores que sempre viveram do trato do gado e da pescaria, estão recebendo cursos
de formação de guias turísticos.
Por enquanto, a maioria dos visitantes ecoturistas verdadeiros ainda vem de fora do
Brasil. "O ecoturismo é uma atividade muito profissional lá fora", conta Marherval Cortes Sigaud,
um ex‐industrial do Rio de Janeiro que há vinte anos tem uma pousada às margens do rio Cuiabá,
no município de Barão de Melgaço, onde cobra 100 dólares a diária, e 95% dos turistas são
estrangeiros. "Eles pagam tudo adiantado e adoram isso aqui", diz Marherval.
Em alguns anos de funcionamento, o Hotel Recanto Barra Mansa, situado às margens do
rio Negro, uma das regiões mais bonitas do Pantanal, recebeu turistas de trinta países diferentes.
Atender toda essa gente exige uma operação logística complicada.
Hoje existem acomodações para todos os gostos e orçamentos no Pantanal. Muitos deles
são lugares rústicos, sem grande conforto, mas onde se pode contemplar a natureza em todo o
seu esplendor e na companhia de gente que conhece bem a região.
Mineração
São explorados o ferro, o manganês e o calcário no Pantanal sul, e ouro e diamante no
Pantanal norte. A mineração encontra‐se em dois complexos na periferia do Pantanal: Maciços do
Urucum e de Cuiabá‐Cáceres. No Urucum, município de Corumbá, situa‐se uma das maiores
jazidas de manganês da América Latina, com mais de 100 bilhões de toneladas; e as de ferro estão
estimadas em 2 bilhões de toneladas. Todo manganês é extraído de minas subterrâneas e o ferro
de mina a céu aberto.
As atividades de mineração subterrâneas podem afetar os lençóis freáticos que
abastecem rios, córregos e poços, contaminando a água. Impactos negativos da mineração já
foram evidenciados no córrego Urucum, município de Corumbá e poderão se repetir caso não
seja realizados estudos adequados para se conhecer o ambiente a ser explorado, bem como
medidas adequadas para minimizar impactos.
Agricultura
A agricultura é praticada no Pantanal, embora tenha pouca expressão como atividade
78
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
econômica. Isto ocorre devido ao alagamento sazonal das planícies e dos solos pobres das áreas
mais altas.
A cultura do arroz foi tradicionalmente utilizada para reformar as pastagens ou para
abertura de áreas, em especial para a soja. Hoje, a soja é um dos produtos que está expandido
sua área cultivada na Bacia do Alto Paraguai. A construção de barragens e a crescente demanda
de irrigação para as plantações têm sido responsável por alterações na dinâmica hidrológica local,
interferindo no equilíbrio do sistema.
Na região do Planalto, a agricultura é praticada em larga escala com a utilização de grande
quantidades de agrotóxicos que são carreados para os cursos de água, atingindo a planície do
Pantanal. Uma vez na planície, os impactos ambientais desta contaminação são agravados: a
baixa velocidade de escoamento dos rios da região prolonga o tempo de permanência dos
poluentes e, conseqüentemente, favorece o efeito cumulativo.
Ameaças
Figura 76 – Animal morto em rodovia
Quando se fala em Pantanal, a imagem que se tem é de um santuário preservado e
intocado, repleto de água, com belas paisagens formadas por rios, lagoas e uma grande variedade
de animais e plantas. Mas o Pantanal belo e diverso que conhecemos é também uma região
sensível e vulnerável a ameaças tanto de dentro quanto de fora e pode desaparecer se não for
preservado. O Pantanal depende da manutenção do ciclo hidrológico, que permite o subir e
baixar das águas e a inter‐relação entre as espécies. Qualquer mudança nesse ciclo pode
comprometer os ecossistemas e modificar toda essa paisagem.
A pecuária não sustentável, a monocultura da cana‐de‐açúcar e da soja e a
contaminação de solos e dos recursos hídricos com insumos agrícolas são pontos de alerta.
79
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
Qualquer impacto negativo nas nascentes e cabeceiras dos rios pode, por exemplo, alterar de
forma drástica toda a planície inundável.
Embora boa parte da região continue inexplorada, muitas ameaças surgem em
decorrência do interesse econômico que existe sobre essa área. A situação começou a se agravar
nos últimos 20 anos, sobretudo pela introdução de pastagens artificiais e pela exploração das
áreas de mata. O Pantanal tem passado por transformações lentas, mas significativas, nas últimas
décadas. O avanço das populações e o crescimento das cidades são uma ameaça constante. A
ocupação desordenada das regiões mais altas, onde nasce a maioria dos rios, é o risco mais grave.
Principais ameaças na planície:
⋅ Assoreamento
⋅ Queimadas
⋅ Desmatamento
⋅ Mudança de pastagens
⋅ Caça e pesca predatória
⋅ Pólo minero‐siderúrgico e gás químico
⋅ Efluentes líquidos urbanos e industriais
⋅ Resíduos sólidos urbanos e industriais
⋅ Projeto de hidrovia cortando o Pantanal
⋅ Grandes projetos de infra‐estrutura de
interligação entre países vizinhos.
Principais ameaças no planalto:
⋅ Uso inadequado e excessivo de
pesticidas Figura 77 – Desmatamento entre 2002 e 2008 no Pantanal
⋅ Desagregação e erosão dos solos
⋅ Uso inadequado e degradação de águas superficiais e do subsolo
⋅ Efluentes líquidos urbanos e industriais
⋅ Resíduos sólidos urbanos e industriais
⋅ Projetos de usinas de açúcar e álcool
⋅ Pólo minero‐siderúrgico e gás químico
80
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
Tabela 3 ‐ Comparação dos desmatamentos ocorridos nos biomas no período de 2002 a 2008
Soluções e projetos
O Programa Pantanal para Sempre é desenvolvido por meio de parcerias com os governos
estaduais e municipais de Mato Grosso e de Mato Grosso do Sul, universidades, ONGs, WWF‐
Bolívia, além de proprietários de terra e empresários, que partilham da construção de um modelo
de desenvolvimento sustentável para o Pantanal e para a toda bacia hidrográfica transfronteiriça
do Alto Paraguai.
O objetivo é promover a conservação da biodiversidade por meio da criação e
implementação de unidades de conservação, preservação de espécies, incentivo a atividades
econômicas de baixo impacto ambiental e promoção do desenvolvimento sustentável.
Estimular a criação de reservas particulares em toda a bacia do Pantanal, proteger
animais silvestres, apoiar iniciativas econômicas ecologicamente corretas e promover o uso
racional dos recursos naturais renováveis, o turismo responsável e a educação ambiental são
algumas das ações do Programa Pantanal para Sempre, que quer um futuro saudável para toda a
região.
Atuação:
⋅ Apoio à criação e implementação de áreas protegidas
⋅ Estímulo a boas práticas ambientais na pecuária
⋅ Ampliação do conhecimento científico sobre a área
⋅ Apoio a projetos de conservação de espécies
⋅ Apoio e capacitação para geração de renda e boas práticas ambientais
81
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
⋅ Treinamentos em educação ambiental para professores
⋅ Incentivo à participação da sociedade nos debates ambientais
⋅ Apoio à definição de políticas públicas para a conservação
⋅ Articulação com instituições da Bolívia e do Paraguai para estudos e conservação do
bioma
Áreas Protegidas
As Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN) são áreas de conservação da
natureza em terras privadas. O proprietário da terra é quem decide se quer fazer de sua
propriedade, ou parte dela, uma reserva particular. Essa é uma forma de contribuir para a
preservação do meio ambiente. Não há perda do direito de propriedade. O proprietário precisa
estar consciente de que está tomando uma decisão importante para o benefício do meio
ambiente que se estende para as gerações futuras.
Uma vez criada, a reserva é para sempre. Ela até pode ser vendida, mas o novo dono tem
que assumir as obrigações previstas na lei. Por isso, a tomada de decisão é lenta na maioria das
vezes. Entretanto, além da satisfação por estar contribuindo para a preservação do meio
ambiente, o proprietário pode obter outros benefícios com a reserva, desenvolvendo atividades
de pesquisa científica, educação ambiental e turismo, a partir do plano de manejo.
Em toda estratégia de conservação de biomas, a criação de unidades de conservação é
fundamental para proteção de áreas naturais e conseqüente manutenção dos processos
ecológicos. O Pantanal apresenta uma condição peculiar: 95% das terras pertencem a
particulares. Assim, os proprietários rurais com sua iniciativa voluntária de criar uma reserva
particular desempenham importante papel na conservação do meio ambiente.
O apoio e fomento à criação de Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs) é
uma das principais estratégias para se conservar paisagens naturais do Pantanal, garantindo
espaço e condições suficientes para a manutenção da biodiversidade.
Corredor Maracaju‐Negro
Região central do Mato Grosso do Sul, área de 3,6 milhões de hectares. A biodiversidade
do Corredor Maracaju‐Negro é a mais estudada do Pantanal. Se destaca pela ocorrência de
populações saudáveis de espécies ameaçadas que, em outras regiões, estão desaparecendo,
como a onça‐pintada, a ariranha e a arara‐azul. A vegetação da região é constituída
82
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
predominantemente por diferentes formações de cerrado, além de campos úmidos, veredas,
florestas de encosta, matas ciliares e vegetação de afloramentos rochosos, além de formações
secundárias e de terras cultivadas, com culturas temporárias e/ou perenes.
Há dez unidades de conservação no corredor, distribuídas em um Parque Estadual e
nove Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs):
Parque Estadual do Pantanal do Rio Negro
Tabela 4 – RPPNs no Corredor Maracaju‐Negro
RPPN Município Área (ha) Âmbito Criação
Lageado Dois Irmãos do Buriti (MS) 12.550 federal 1990
Fazendinha Aquidauana (MS) 9.619 federal 1994
Fazenda Nhumirim Corumbá (MS) 862,7 estadual 1999
Santa Sofia Aquidauana (MS) 7.387 estadual 1999
Fazenda Rio Negro Aquidauana (MS) 7.000 estadual 2001
Fazenda Paculândia Corumbá (MS) 8.232 federal 2002
Reserva Ecológica Vale do Bugio Corguinho (MS) 81,8 estadual 2003
Gavião de Penacho Corguinho (MS) 77,7 estadual 2006
Alegria Corumbá (MS) 800 estadual 2008
Barranco Alto Aquidauana (MS) 841 estadual em criação
Ariranha Aquidauana (MS) 450 estadual em criação
Fazenda Igrejinha Rio Verde (MS) 88 estadual em criação
Fazenda Quinta do sol Taboco / Corguinho (MS) 10 estadual em criação
Trilha do Sol Rio Negro (MS) 50 estadual em criação
Na região do corredor, onde vivem mais de 223 mil pessoas, a pecuária extensiva e a
agricultura representam as principais atividades econômicas.
Projetos
O projeto Municípios do Corredor de Biodiversidade (MCB) foi implementado entre
2004 e 2007. O objetivo do projeto foi disseminar nos municípios de Rio Verde do Mato Grosso
(MT), Corguinho (MS), Rio Negro (MS), Corumbá (MS) e Aquidauana (MS), a idéia do corredor e
assegurar a sua implementação. O projeto mobilizou e certificou 180 técnicos das prefeituras e de
83
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
organizações estaduais, como da Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural (Agraer),
da Secretaria de Estado do Meio Ambiente, das Cidades, do Planejamento, da Ciência e
Tecnologia (Semac‐MS) e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (Ibama), além de outras instituições que atuam na região com geoprocessamento,
legislação ambiental e educação ambiental.
Criação da Associação das Pousadas Pantaneiras (Appan), que tem como objetivo
discutir com representantes de pousadas no Pantanal as propostas para o ecoturismo da região.
Criação da Associação do Vale do Rio Negro (AVRN), que reúne proprietários de
fazendas localizadas na bacia do rio Negro com o objetivo de somar esforços para aliar as
atividades produtivas à proteção da natureza.
Criação e o fortalecimento da Associação de Preservação do Meio Ambiente de Rio
Negro (Apremarine), que surgiu a partir do Projeto Municípios dos Corredores de Biodiversidade,
e orienta proprietários rurais para a adequação de suas propriedades às exigências legais, além de
mobilizar diversos públicos do município de Rio Negro (MS) para temas relacionados ao meio
ambiente e à conservação da natureza.
O incentivo à criação de unidades de conservação públicas e privadas é feito por meio
de parcerias com ONGs e órgão públicos. As propriedades privadas são apoiadas pelo Programa
de Incentivo às Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs) do Pantanal, desenvolvido
em parceria com a Associação de Proprietários de RPPNs de Mato Grosso do Sul (Repams). Desde
2003, nove RPPNs foram criadas para proteger, no total, 844.788 hectares no estado. Outras
quatro reservas particulares receberam recursos para o planejamento, gestão, elaboração de
plano de manejo e desenvolvimento de pesquisas.
Criação do Parque Estadual do Pantanal do Rio Negro (MS) ‐ a maior área de
conservação pública do corredor.
Programa de Adequação Ambiental da Microbacia do Córrego Café, em Rio Negro
(MS), o objetivo é adequar as propriedades rurais da região à legislação ambiental, auxiliando os
proprietários a proteger as Áreas de Preservação Permanente (APPs), a restaurar as áreas
degradas e a legalizar as reservas legais nas propriedades que ainda não mantêm 20% de sua área
protegida.
84
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
Corredor Miranda‐Serra da Bodoquena
Com cinco milhões de hectares, o Corredor de Biodiversidade Miranda‐Bodoquena ocupa
uma área privilegiada no continente sul‐americano, na confluência de três biomas ‐ o Cerrado, o
Pantanal e o Chaco, o que lhe confere alta relevância para a conservação. O corredor abriga
partes significativas das bacias dos rios Miranda, Apa e Nabileque, que estão entre os principais
rios formadores da planície pantaneira. A serra da Bodoquena (MS) é uma importante zona de
recarga do Aqüífero Guarani, a maior reserva de água doce da América do Sul, de onde nascem os
rios Salobra, Prata, Formoso, Perdido e Sucuri, que representam atrativos turísticos dos
municípios de Bonito, Jardim e Bodoquena, no Mato Grosso do Sul. Os municípios de Porto
Murtinho, Corumbá, Miranda, Nioaque, Bela Vista, Aquidauana, Anastácio, Maracajú, Guia Lopes
da Laguna, Caracol e Ponta Porá pertencem também à área coberta pelo corredor.
Na região há uma grande concentração de espécies ameaçadas, cuja conservação está
muito comprometida devido ao avanço das fronteiras do agronegócio e do baixo número de áreas
protegidas na região. Parques e reservas privadas protegem apenas 1,7 % do território do
corredor.
Estudos realizados com a fauna no corredor já registraram pelo menos 353 espécies de
aves e 77 de mamíferos, que representam, respectivamente, cerca de 20% e 14% das espécies
encontradas no Brasil. Vinte e um animais desses grupos estão ameaçados de extinção, conforme
as listas vermelhas do Ministério do Meio Ambiente (2003) e da União Mundial para a Natureza
(IUCN 2007). O cervo‐do‐pantanal (Blastocerus dichotomus) e a ariranha (Pteronura brasiliensis)
são exemplos de mamíferos que estão sob risco. Aves como o socó‐boi‐escuro (Tigrissoma
fasciatum) e o caboclinho‐de‐chapéu‐cinzento (Sporophila cinnamomea) também correm perigo
de extinção.
As principais ameaças à biodiversidade no corredor são a destruição de seu hábitat
natural devido à agropecuária e a captura de animais silvestres para comércio ilegal.
As 12 unidades de conservação do corredor contribuem para a proteção de mais de 85
mil hectares. Essas unidades estão distribuídas em dois Monumentos Naturais, nove RPPNs e
no Parque Nacional da Serra da Bodoquena (MS). São elas:
Parque Nacional da Serra da Bodoquena ‐ Criado em setembro de 2000, com 77.231
hectares, o Parque Nacional da Serra da Bodoquena, localizado no sudoeste do Mato Grosso
do Sul. Inclui territórios dos municípios de Bonito, Bodoquena, Jardim e de Porto Murtinho. A
serra da Bodoquena abriga a maior extensão de florestas naturais do estado, tratando‐se de
85
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
um dos mais importantes remanescentes de florestas estacionais no Centro‐Oeste, tendo
ainda porções representativas de cerrado e de campos inundáveis.
A fauna encontrada no parque é muito rica, com a presença de animais como a arara‐
azul (Anodorhynchus hyacinthinus), o gavião‐real (Harpia harpyja), o cachorro‐vinagre
(Speothos venaticus), a jaguatirica (Leopardus pardalis), a ariranha (Pteronura brasiliensis) e a
suçuarana (Puma concolor).
Monumentos Naturais ‐ Localizadas na Serra da Bodoquena, no município de Bonito
(MS), as grutas do Lago Azul e de Nossa Senhora Aparecida foram tombadas pelo Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) em 1978 e reconhecidas em 2001 pelo governo de Mato
Grosso do Sul como Monumentos Naturais estaduais. A região da serra da Bodoquena
representa um importante sítio espeleológico brasileiro porque apresenta várias grutas e
cavernas ainda pouco conhecidas pela ciência.
Em Bonito (MS) encontra‐se ainda o Monumento Natural do Rio Formoso, criado em
2003 para proteger 18 hectares de um remanescente de floresta localizados em uma zona de
encontro entre as vegetações de cerrado e de floresta estacional decidual, cujas folhas caem
na época da seca, entre maio e setembro.
Tabela 5 – RPPNs no Corredor Miranda‐Serra da Bodoquena
RPPN Município Área (hectares) Âmbito Criação
Buraco das Araras Jardim (MS) 29 federal 2007
Cara da Onça Bodoquena (MS) 11 estadual 2007
Dona Aracy Miranda (MS) 5.603 federal 2004
Fazenda da Barra Bonito (MS) 88 estadual 2003
Neivo Pires I Miranda (MS) 161 estadual 2001
Neivo Pires II Miranda (MS) 320 estadual 2001
Fazenda Cabeceira do Prata Jardim (MS) 307 estadual 1999
Fazenda São Geraldo Bonito (MS) 642 estadual 1998
Xodó do Vô Ruy Jardim (MS) 487 estadual 2006
A agropecuária, mais especificamente a pecuária de corte, é a principal atividade
econômica na região, cerca de 70% da área coberta pelo corredor é destinada a pastagens.
O comércio também representa uma importante atividade econômica. Seu
desenvolvimento é fomentado, em grande parte, pelo turismo na região. Outras atividades
86
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
econômicas desenvolvidas em alguns dos 14 municípios que formam o corredor são a indústria e
a prestação de serviços.
Dentre os fatores que pressionam as áreas naturais no corredor estão a implantação de
obras de infra‐estrutura, como a melhoria e a pavimentação de rodovias, a implementação de
gasoduto e a mineração de areia e de calcário.
Projetos
O Projeto de Gestão Integrada da Bacia Hidrográfica do Rio Formoso (GEF‐Rio
Formoso) é composto por um grupo de trabalho que reúne diversas instituições com o objetivo
de desenvolver ações que aliam a conservação da biodiversidade da bacia hidrográfica do rio
Formoso e a sustentabilidade do uso do solo e da água na região.
Organizações que atuam na região desenvolveram uma Avaliação Ecológica Rápida do
Parque Nacional da Serra da Bodoquena (MS) entre 2005 e 2006, visando apoiar a formulação de
seu plano de manejo.
Criação de RPPNs nesse corredor. Em pouco mais de dois anos, o programa contribuiu
para a criação e para a implementação de quase oito mil hectares de reservas privadas no
corredor, assessorando os proprietários na montagem do processo de criação, na formulação de
plano de manejo, no monitoramento da biodiversidade, na aquisição de equipamentos de
prevenção e combate a incêndios, entre outras ações.
Corredor de Biodiversidade Cuiabá–São Lourenço
Com 10.091.600 hectares, o Corredor de Biodiversidade Cuiabá ‐ São Lourenço se estende
por 25 municípios, divididos entre os estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. As
características de vegetação e relevo variam entre áreas de planalto, planícies e morrarias, com
elementos do Cerrado, da Amazônia, da Mata Atlântica e do Chaco, o que lhe confere uma grande
variedade de espécies animais e vegetais. No Corredor, nasce o rio São Lourenço, um dos
principais afluentes da Bacia do Alto Paraguai.
A região possui dois importantes parques nacionais, o PARNA do Pantanal Mato‐
grossense e o da Chapada dos Guimarães, além de cinco parques estaduais.
O incentivo à criação e implementação de Reservas Particulares do Patrimônio Natural é
outra atividade que contribui para aumentar as áreas protegidas neste Corredor. Essa estratégia é
fortalecida pela Associação dos Proprietários de RPPNs do Estado de Mato Grosso, criada em
2006.
87
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
No corredor há 26 reservas distribuídas em 11 parques, duas estações ecológicas, duas
Áreas de Proteção Ambiental (APA) e 11 RPPNs, totalizando 900 mil hectares de áreas
protegidas. São elas:
Parque Nacional do Pantanal Matogrossense ‐ Com 136.028 hectares, o Parque é a
maior unidade de conservação em área alagada do continente americano. Criado em 1981,
com a incorporação da área da antiga Reserva Biológica do Cara‐cará, essa unidade resguarda
parte representativa do ecossistema pantaneiro, com extensas áreas inundadas, lagoas e
riachos. Em 1993, o parque foi reconhecido como Sítio Ramsar, denominação usada para as
mais importantes zonas úmidas do mundo uma vez que abriga uma das maiores
concentrações de animais silvestres da região neotropical, protegendo espécies ameaçadas de
extinção, como a arara‐azul‐grande (Anodorhynchus hyacinthinus) e o jacu‐de‐barriga‐
vermelha (Penelope ochrogaster), além de espécies raras, como a catita (Monodelphis kunsi) e
o macaco zog‐zog (Callicebus donacophilus). O parque recebeu em 2000 o título de Patrimônio
Natural da Humanidade pela Unesco.
Parque Nacional da Chapada dos Guimarães ‐ Além de área fundamental para a
conservação da biodiversidade, o Parque é um importante sítio histórico e arqueológico onde
podem ser encontrados vestígios de assentamentos pré‐históricos, de pinturas e de gravações
rupestres. O parque tem 32.776 hectares e foi criado em 1989. A vegetação é bem variada,
com ocorrência de matas semideciduais e de diferentes tipos de savanas. Fazem parte da
fauna do parque espécies como o lobo‐guará (Chrysocyon brachyurus), o veado‐campeiro
(Ozotocerus bezoarticus), o gato‐palheiro (Herpailurus colocolo), o tamanduá‐bandeira
(Myrmecophaga tridactyla) e o tatu canastra (Priodontes maximus), espécies ameaçadas de
extinção conforme lista elaborada pela União Internacional pela Natureza – IUCN.
Parque Estadual do Guirá ‐ Localizado no extremo sul do estado do Mato Grosso, com
114 mil hectares, o Parque foi criado em 2002 para assegurar a proteção dos recursos naturais
da região. Está localizado entre os corixos Pato Branco e Guirá e a lagoa Uberaba, no município
de Cáceres (MT), na divisa com a Bolívia. O parque garante a proteção de animais e de plantas
nativas, além de amostras significativas dos ecossistemas da região.
Parque Estadual Dom Osório Stöffel ‐ Esse parque tem 6.422 hectares e está
localizado em uma região que abrange tanto a nascente como a calha do rio Ponte de Pedra
até seu encontro com o rio Vermelho, no município de Rondonópolis (MT). Criado em 2002, o
parque é rico em rios, cachoeiras e animais silvestres, além de ser considerado um berçário
para a reprodução de peixes durante a piracema.
88
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
Parque Estadual Encontro das Águas ‐ O Parque foi criado em 2004, com 108.960
hectares, e está localizado entre os municípios do Poconé e de Barão de Melgaço, ao sul de
Cuiabá (MT). A área é cortada por vários rios, como o Cuiabá, o Piquiri, o Pirigara, o Cassange,
o Três Irmãos e o Alegre. Toda essa riqueza hídrica, associada aos diferentes tipos de hábitats,
faz desse local singular no que diz respeito à manutenção da biodiversidade pantaneira.
Parque Estadual Águas Quentes ‐ Criado em 1978, o Parque é a primeira unidade de
conservação do Mato Grosso, com 100% de sua área regularizada quanto à situação fundiária,
ou seja, todos os proprietários rurais que possuíam terras cobertas hoje pelo parque já foram
indenizados. Localizado no município de Santo Antônio do Leverger (MT), o parque protege
1.488 hectares. A única ocupação existente na área é uma concessão do estado até 2041 para
uma empresa de operação hoteleira. Esse parque não tem plano de manejo e nunca foi palco
de pesquisas científicas.
Parque Estadual da Serra de Sonora ‐ Criado em 2001, no município de Sonora (MS), o
Parque é formado por duas áreas, uma com 2.703 hectares e outra com 5.210 hectares,
totalizando 7.913 hectares. Ele está inserido na bacia hidrográfica do rio Correntes, uma região
de alta diversidade de ambientes, abrigando remanescentes de cerradão e de floresta
estacional semi‐decidual ainda conservada. As principais informações sobre a biodiversidade
da região provêm de estudos ambientais realizados para licenciamento de empreendimentos
na região, dentre eles a ampliação de usinas de açúcar e de álcool e de pequenas centrais
hidrelétricas.
Área de Proteção Ambiental da Chapada dos Guimarães ‐ A região abriga um valioso
banco genético devido à junção de diferentes tipos de flora, como as florestas de galeria, os
cerrados e os campos rupestres, além de inúmeras nascentes, como as dos rios Coxipó,
Coxipó‐Açu, Água Fria, Bom Jardim, Cachoeirinha, Aricazinho e Formoso, que formam o rio
Cuiabá. Criada em 1995, com 251.847 hectares, a APA da Chapada dos Guimarães (MT)
abrange os municípios de Cuiabá, da Chapada dos Guimarães, de Campo Verde e de Santo
Antônio de Leverger. Além de garantir a conservação do conjunto paisagístico e da cultura
regional, a APA visa proteger e preservar as cavernas, os sítios arqueo‐paleontológicos, a
cobertura vegetal e a fauna silvestre da região.
Área de Proteção Ambiental do Pontal do Rio Itiquira com o Rio Correntes ‐ Criada
em 2003 com 200 mil hectares, essa APA está localizada no município de Itiquira (MT). Seu
objetivo é proteger a biodiversidade das fozes dos rios Itiquira e Correntes. Embora tenha área
significativa, a unidade ainda não apresenta nenhuma ação de manejo efetivamente
89
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
implementada.
No Corredor Cuiabá‐São Lourenço há onze RPPNs que protegem 1.294,879 hectares:
Tabela 6 – RPPNs no Corredor de Biodiversidade Cuiabá–São Lourenço
RPPN Município Área (hectares) Âmbito Criação
Rumo ao Oeste Corumbá (MS) 990 estadual 2005
Hotel Mirante Chapada dos Guimarães (MT) 19,8 federal 2004
Reserva Jubran Cáceres (MT) 35.531 federal 2001
Reserva Ecológica da Mata Fria Chapada dos Guimarães (MT) 9,9 federal 2000
Fazenda Poleiro Grande Corumbá (MS) 16.530 federal 1998
Estância Dorochê Poconé (MT) 26.518 federal 1997
Fazenda Acurizal Corumbá (MS) 13.200 federal 1997
Penha Corumbá (MS) 13.100 federal 1997
Parque Ecológico João Basso Rondonópolis (MT) 3.624,6 federal 1997
São Luís Cuiabá (MT) 200 federal 1994
SESC Pantanal Barão de Melgaço (MT) 87.871,4 federal 1988/1997
Proteção de Espécies
As espécies animais brasileiras são um valioso recurso e um imenso patrimônio natural e
cultural para o país. A devastação da cobertura vegetal e a destruição dos habitats naturais são a
principal ameaça às espécies da flora e fauna.
Apesar de sido reconhecido, pelas Nações Unidas, como Patrimônio Natural da
Humanidade em 2000, o Pantanal tem vivenciado o desaparecimento de seus habitats naturais,
acelerando o processo de extinção dos animais ao lado da caça predatória e poluição no bioma.
As espécies são importantes indicadores ambientais e, por isso, a conservação do meio
ambiente passa também pela proteção dos animais que vivem nessas paisagens.
No Pantanal, o WWF‐Brasil apoiou, desde 1999, o projeto Arara Azul, que conseguiu
recuperar a população de araras e se tornou referência em conservação.
Em 2008, o Programa Pantanal iniciou outra parceria, desta vez com o Instituto Pró‐
Carnívoro para proteção da onça. O projeto conta com recursos da Fazenda Real (filial São Bento)
90
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
e do Departamento de Agricultura, Natureza e Qualidade dos Alimentos, vinculado à Embaixada
dos Países Baixos.
Arara‐azul
A presença da arara‐azul é um importante
indicador de saúde ambiental. Contudo, essa bela ave
que encanta a todos com sua cor vibrante e som alegre e
barulhento vem sofrendo com a destruição dos habitats
e com a captura ilegal para tráfico de animais silvestres e
quase desapareceu das matas brasileiras. Figura 78 – Arara‐Azul
Mas no Mato Grosso do Sul existe o Projeto Arara Azul, criado pela bióloga Neiva Guedes
para salvar a espécie de extinção.
O trabalho dos pesquisadores envolve:
⋅ Monitoramento, recuperação e manejo dos ninhos naturais e artificiais
⋅ Instalação de ninhos artificiais
⋅ Observação do período de reprodução das aves e seus resultados
⋅ Acompanhamento dos filhotes, com pesagem e coleta de sangue para exames
laboratoriais e identificação genética
⋅ Ações de educação ambiental, com palestras nas escolas da região
⋅ Atividades com as crianças e visitantes à sede do Projeto Arara Azul
Os pesquisadores do Instituto Arara‐Azul instalaram 182 ninhos artificiais e monitora um
total de 367 ninhos cadastrados em 54 fazendas, localizadas no Pantanal de Aquidauana, de
Miranda, de Rio Negro, do Abobral, da Nhecolandia e do Nabileque.
O resultado é que desde 1999, o número de araras‐azuis subiu de 1.500 para 5.000 no
Pantanal. Embora o aumento do número de indivíduos seja significativo, a arara‐azul ainda é uma
espécie considerada ameaçada de extinção devido à caça, ao comércio clandestino e à
degradação em seu habitat natural por conta do desmatamento.
Onça‐pintada
A onça‐pintada é o maior felino das Américas. Espécie
emblemática das matas brasileiras, a onça é importante para as
ações de conservação. Pelo fato de estar no topo da cadeia
alimentar e necessitar de grandes áreas preservadas para
91
Figura 79 – Onça‐Pintada
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
sobreviver, esse animal, ao mesmo tempo temido e admirado que habita o imaginário das
pessoas, é um indicador de qualidade ambiental. A ocorrência desses felinos em uma região
indica que ele ainda oferece boas condições que permitam a sua sobrevivência.
As crescentes alterações ambientais provocadas pelo homem, assim como o
desmatamento, a caça às presas silvestres e às próprias onças são as principais causas da
diminuição da população de onças no Brasil. Reduzir essas ameaças é fundamental para garantir a
sobrevivência da onça‐pintada e a integridade dos ecossistemas.
Originalmente a distribuição deste animal se dava desde o sudoeste dos Estados Unidos
até o norte da Argentina. Atualmente ela está oficialmente extinta nos Estados Unidos, é muito
rara no México, mas ainda pode ser encontrada na América Latina, incluindo o Brasil.
De maneira geral, porém, suas populações vêm diminuindo onde entram em confronto
com atividades humanas. No Brasil ela já praticamente desapareceu da maior parte das regiões
nordeste, sudeste e sul. Ocorre em vários tipos de habitat, desde florestas como a Amazônica e a
Mata Atlântica, até em ambientes abertos como o Pantanal e o Cerrado. São animais de hábitos
solitários, tendo maior atividade ao entardecer e à noite.
O objetivo do projeto, desenvolvido pelo biólogo Fernando Azevedo do Instituto Pró‐
Carnívoros, com o apoio do Programa Pantanal para Sempre do WWF‐Brasil, é usar o
conhecimento científico para orientar os pecuaristas a usarem técnicas de manejo que reduzam o
ataque de onças aos rebanhos, uma das principais causas de atrito.
Devido à predação do gado, a onça acaba sendo vista pelos fazendeiros como uma
ameaça. Minimizar esse conflito é um dos objetivos do projeto Onça Pantaneira, que busca
entender melhor os diferentes fatores envolvidos na predação de animais domésticos e as
possíveis formas de minimizar essas ocorrências.
No final do primeiro semestre de 2008 o WWF‐Brasil e o Instituto Pró‐Carnívoros
organizaram um encontro com os pecuaristas no município de Miranda (MS) para levar
informações sobre a onça e discutir com eles ações de conservação.
O desafio atual é conseguir localizar freqüentemente todas as onças numa extensão
aproximada de 40 mil hectares, extensão baseada na área total em que as onças foram
capturadas.
92
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
Conciliação de conservação e pecuária
Desde 2003, o WWF‐Brasil apóia a Pecuária Orgânica Certificada no Pantanal, por
entender que esse modelo de produção contribui para o desenvolvimento sustentável, seguindo
valores de sustentabilidade ambiental e social.
O objetivo principal da parceria é buscar alternativas que permitam aliar a atividade
produtiva da pecuária e a conservação dos recursos naturais do Pantanal. A parceria com o setor
produtivo é de fundamental importância para que os objetivos de produzir sem destruir a
natureza sejam alcançados, garantindo a sustentabilidade ambiental para as futuras gerações.
Atuação:
⋅ Apoio e fortalecimento da pecuária orgânica certificada no Pantanal
⋅ Apoio às associações de pecuaristas orgânicos na análise e busca de mercados para a
carne orgânica
⋅ Estímulo a boas práticas produtivas na pecuária bovina
⋅ Articulação com os segmentos da cadeia produtiva da carne orgânica
⋅ Divulgação da carne orgânica como alternativa de consumo responsável e alimentação
saudável
⋅ Participação na construção do Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável
Pecuária Orgânica
A pecuária bovina de corte orgânica tem como objetivo uma produção que mantenha o
equilíbrio ecológico englobando os componentes produtivos, ambiental e social, a partir de
normas estabelecidas pelas instituições certificadoras. O manejo orgânico visa o desenvolvimento
econômico e produtivo que não polua, não destrua o meio ambiente e que valorize o homem.
Na criação, o gado orgânico é rastreado desde seu nascimento até o abate, com registro
de peso, alimentação, vacinas, entre outras informações, em fichas individuais.
A alimentação dos animais é observada com especial atenção. Além da pastagem, outros
ingredientes compõem o cardápio do gado orgânico como suplementação alimentar com grãos e
rações isentas de organismos transgênicos. Esses alimentos têm procedência garantida ou são
produzidos pelos próprios pecuaristas de acordo com as normas da certificação.
Outra preocupação é quanto ao bem‐estar dos animais. As fazendas trabalham com
sombreamento das pastagens e currais em formato circular para que o gado não se machuque.
93
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
94
Uma das prioridades das certificadoras é garantir a segurança alimentar. Por isso, é
exigida e monitorada a vacinação, inclusive contra febre aftosa. Em caso de alguma enfermidade,
o gado orgânico é tratado com produtos fitoterápicos e homeopáticos.
Atualmente, apenas pecuaristas dos estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul
produzem carne orgânica certificada no país.
São 26 fazendas, aproximadamente 131 mil hectares em pastagens e cerca de 99 mil
cabeças de gado. Os projetos são certificados e acompanhados pelo Instituto Biodinâmico (IBD).
Artesanato
A riqueza do Pantanal não está somente nas belas
paisagens e na sua biodiversidade de animais e plantas, mas
também nas pessoas que vivem nele.
O projeto da associação de mulheres Amor‐Peixe,
apoiado pelo programa Pantanal para Sempre do WWF‐
Brasil, de 2003 a 2009, em Corumbá (MS), é um exemplo de
geração de renda e conservação ambiental.
O objetivo do projeto é promover a melhoria da
qualidade de vida dos pescadores e de suas famílias, aliada à
conservação dos recursos naturais pesqueiros, aquáticos e
vegetais e à qualidade ambiental.
Com criatividade, trabalho e dedicação, transformam
o que antes ia para o lixo em belos produtos artesanais. Das
mãos habilidosas das artesãs, o couro de peixe se transforma
em bolsas, cintos, carteiras, roupas, agendas, pulseiras,
bijuterias e tudo que a imaginação permite criar.
Além da produção de artesanato, a associação desenvolve atividades sócio‐educativas
para se promover a qualidade de vida e a consciência comunitária. Cursos de capacitação no
curtimento da pele de peixe e na confecção do artesanato foram realizados com apoio de diversas
instituições.
As associadas foram treinadas em diferentes áreas de produção (curtimento, corte,
costura, bordado) e aprenderam técnicas para melhorar a qualidade e o design do artesanato. O
Figura 80 – Logo da Associação Amor Peixe
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
conhecimento adquirido melhorou a atuação das mulheres que passaram a confeccionar
produtos mais atrativos para o mercado, valorizando a icnografia e a tradição do Pantanal.
Na Amor‐Peixe, nada é jogado fora. As escamas se transformam em colares, brincos, e
qualquer retalho do couro serve para produzir algum tipo de artesanato. A experiência da
Associação Amor‐Peixe em estimular a formação das associadas reflete a importância da inclusão
social de mulheres e homens do Pantanal que encontram na pesca e na produção de artesanato o
seu meio de vida.
A associação está agora se preparando para o futuro. Para continuar crescendo, precisam
ampliar a produção. Para formar novas associadas, vão repassar o conhecimento para outras
mulheres, principalmente às filhas de pescadores, para se juntarem à associação.
95
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
Referências Bibliográficas
Braga, Benedito. Introdução a Engenharia ambiental. 2ª Edição. São Paulo: Pearson Prentice Hall,
2005.
Linhares, Sérgio & Gewandsznajder, Fernando. Biologia Hoje. Volume 3. São Paulo: ed. Ática,
1998.
www.achetudoeregiao.com.br/animais/caatinga.htm
www.agronline.com.br/artigos/artigo.php?id=81
www.aoka.com.br
www.apremavi.org.br
www.apremavi.org.br/cartilha‐planejando/a‐mata‐atlantica‐e‐sua‐importancia/
www.biodiversidade.rs.gov.br/portal/index.php?acao=downloads&id=2
www.bonitopantanal.files.wordpress.com
www.chc.cienciahoje.uol.com.br
www.conservation.org.br/onde/pantanal/index.php?id=278
www.cstr.ufcg.edu.br
www.dce.mre.gov.br
www.defender.org.br
www.dialogoflorestal.org.br
www.eco.ib.usp.br
www.ecodebate.com.br
www.educar.sc.usp.br/licenciatura/trabalhos/mataatl.htm
www.embrapa.com.br
www.ib.usp.br
www.ibama.gov.br/ecossistemas/mata_atlantica.htm
www.ibflorestas.org.br
www.ibge.gov.br
www.irpaa.org/banco
www.itamaraty.gov.br
www.mma.gov.br/
www.mochileiro.tur.br
www.pequi.org.br
www.portalbrasil.net/cerrado_vegetacao.htm
96
Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva
97
www.portalpantanal.com.br/dadosgerais.html
www.presenteparahomem.com.br
www.revistaepoca.globo.com
www.riosvivos.org.br
www.rmfc.cnip.org.br/modules.php?name
www.sbs.org.br/destaques_usosustentavel.htm
www.servicos.ibama.gov.br
www.siscom.ibama.gov.br/monitorabiomas/pantanal/pantanal.htm
www.static.infoescola.com
www.vivaterra.org.br
Todos os sites foram acessados no período de 09 de abril a 15 de junho de 2011.