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Universidade de Lisboa
Faculdade de Farmácia
Bioquímica Clínica em Geriatria
Maria Regina Nolasco Martins Viseu
Relatório de estágio orientado pela Professora Doutora Maria João Monteiro dos Santos Ferreira da Silva e coorientado pela Professora Doutora Maria Cristina
Crespo Ferreira Silva Marques.
Mestrado em Análises Clínicas
2017
Resumo
O estágio no âmbito do VIII Mestrado em Análises clínicas decorreu no período de 1
de março de 2016 a 31 de agosto de 2016, em dois laboratórios diferentes, pelo que
este relatório está dividido em duas partes.
Na primeira parte irei descrever a atividade desenvolvida no laboratório de Imunologia
e Biologia Molecular (LIBM) do Centro Hospitalar de Setúbal que decorreu em regime
laboral de 35 horas semanais, sob a orientação da Dr.ª Maria João Peres, assistente
principal da carreira dos técnicos superiores de saúde e farmacêutica especialista,
compreendendo as áreas laboratoriais Pré-analítica, Imunologia e Biologia Molecular.
A segunda parte corresponderá à atividade desenvolvida no Dr. Joaquim Chaves,
Laboratório de Análises Clínicas (JCLAC) em regime pós-laboral e que abrangeu o
core laboratorial - área de Hematologia e Química Clinica, sob a orientação do
farmacêutico especialista Dr. Carlos Cardoso.
Na globalidade, este estágio permitiu realizar e observar metodologias desenvolvidas
em diferentes plataformas analíticas, para determinação de uma enorme variedade de
parâmetros laboratoriais. Neste relatório irei dar uma explicação resumida das
metodologias utilizadas, dos parâmetros analíticos e do seu valor semiológico.
Palavras-chave: bioquímica, biologia molecular, hematologia, imunologia
Abstract
The internship for the 8th Master’s in clinical analysis took place between 1st March
and 31st August 2016, in two different laboratories, which is why the report is divided
into two parts.
In the first part, I will describe the work undertaken in the immunology and molecular
biology laboratory of Setúbal Hospital, during a 35-hour weekly schedule, under the
guidance of Dr. Maria João Peres, health and pharmaceutical specialist in the pre-
analytical, immunology and molecular biology laboratory areas.
The second part focusses on the work done at the Dr. Joaquim Chaves clinical
analysis laboratory after working hours, which included the laboratory core areas of
hematology and clinical chemistry, under the guidance of the specialist pharmacist, Dr.
Carlos Cardoso.
Overall, this internship allowed the observation and practice of methodologies that
were developed with different analytical platforms, to determine a wide variety of
laboratory parameters. In this report, I will give a brief explanation of the methodologies
used, analytical parameters and their diagnostic value.
Key words: biochemistry, hematology, molecular biology, immunology
ÍNDICE
I. Lista de abreviaturas 1
II. Índice de figuras 5
III. Índice de tabelas 6
Parte I – Laboratório de Imunologia e Biologia Molecular 7
Introdução 7
A – Imunoquímica 7
1. Sistemas analíticos e metodologias 8
1.1 ImmunoCAP250® 8
1.2 Microarray ImmunoCAP ISAC® 9
2. Parâmetros analíticos e valor semiológico 10
2.1 Doseamento IgE total 10
2.2 Doseamento de IgE específica 10
2.3 Phadiatop® e phadiatop® infant 11
2.4 Triptase 11
2.5 ImmunoCAP ISAC 12
B. Imunidade Celular 12
1. Subsecção Citometria de Fluxo 12
1.1 Sistemas analíticos e metodologias 13
1.1.1 Citómetro de Fluxo BD FACSCanto II
e BD Sample Preparation Assistent III 13
1.2. Parâmetros analíticos e valor semiológico 14
1.2.1 Imunofenotipagem Linfocitária 14
1.2.2 Tipagem HLA B27 14
1.2.3 Teste de ativação de basófilos 15
2. Subsecção Cultura Celular
15
2.1 Sistemas analíticos 15
2.1.1 Leitor de radiação Beta Microbeta 1450 Plus
e Cell Harvester Wallac 15
2.2 Parâmetros analíticos e valor semiológico 17
2.2.1 TTL - fármacos 17
2.2.2 TTL- antigénios de memória e mitogénios 18
C. Biologia Molecular 19
1. Sistemas analíticos e metodologias 19
1.1 COBAS AmpliPrep/COBAS TaqMan 19
1.2 PCR/RT-PCR e CLART® – Clinical Array Technology 20
1.3 RT-PCR e Autoblot 3000 21
2. Parâmetros analíticos e valor semiológico 22
2.1 Carga Viral do HIV-1 22
2.2 Carga Viral do HCV 22
2.3 Carga Viral do HBV 23
2.4 Pesquisa e Tipagem do DNA do Vírus do
Papiloma Humano (HPV) 23
2.5 Pesquisa de vírus Herpes e Neurotrópicos 24
2.6 Pesquisa de vírus Respiratórios 24
2.7 Genotipagem do vírus da hepatite C 25
D. Controlo de Qualidade 25
Parte II – Dr. Joaquim Chaves, Laboratório de Análises Clínicas (JCLAC) 29
Introdução 29
A - Química Clínica 29
1. Sistemas analíticos e métodos gerais 30
1.1 ADVIA® 2400 Chemistry System 30
1.2 ADVIA Centaur® Immunoassay System 32
1.3 IMMULITE® 2000 33
1.4 CLINITEK Atlas® Automated Urine Chemistry Analyzers 34
1.5 UF1000i Sysmex 35
1.6 CAPILLARYS™ 2 FLEX Piercing – Sebia 36
1.7 Cobas e-411 37
2. Parâmetros analíticos e valor semiológico 37
2.1 Metabolismo das proteínas 37
2.2 Metabolismo dos lípidos 40
2.3 Metabolismo dos hidratos de carbono 41
2.4 Metabolismo fosfo-cálcico 43
2.5 Metabolismo do ferro 44
2.6 Avaliação da função renal 45
2.7 Estudo do equilíbrio hidro-eletrolítico e ácido-base 47
2.8 Estudo da função hepática 48
2.9 Estudo da função pancreática 50
2.10 Marcadores bioquímicos da doença cardiovascular 51
2.11 Endocrinologia 52
2.12 Urina e outros líquidos biológicos 55
B- Hematologia Clínica 59
1. Sistemas analíticos, metodologias, parâmetros analíticos e valor
Semiológico 60
1.1 ADVIA® 2120i Hematology System / ADVIA® 2120i Hematology System With autoslide 60
1.1.1 Hemograma 61
1.1.2 Validação analítica do hemograma 61
1.1.3 Morfologia do sangue periférico 66
1.2 VES-Matic Cube-200 70
1.2.1 Velocidade de sedimentação glomerular 70
1.3 BCS® XP System 71
1.3.1 Testes de rastreio para o estudo da coagulação 71
Bibliografia 73
VIII Mestrado em Análises Clínicas Regina Viseu
1
Lista de abreviaturas
AEQ – Avaliação externa da qualidade
ACTH – Hormona adrenocorticotrópica (adrenocorticotropic hormone)
ADH – Hormona antidiurética (antidiuretic hormone)
ALP – Fosfatase alcalina (alkaline phosphatase)
ALT – Alanina aminotransferase
APO – Apolipoproteínas
aPTT – Tempo de Tromboplastina Parcial Ativada (activated partial
thromboplastin time)
ASCUS – Células escamosas atípicas de significado indeterminado
(Atypical Squamous Cells of Undetermined Significance)
AST – Aspartato aminotransferase
BCIP/NBT – 5-Bromo-4-chloro-3-indolyl phosphate disodium salt/ nitro blue tetrazolium
BNP – Péptido natriurético tipo B (Brain Natriuretic Peptide)
CAR – Clinical Array Reader
CHKS – Programa de Acreditação Internacional para organizações prestadoras de cuidados de saúde (Caspe Healthcare Knowledge System)
CHS – Centro Hospitalar de Setúbal, E.P.E.
CIN – Neoplasia cervical intraepitelial (Cervical intraepithelial neoplasia)
CK-MB – Creatina cinase fração MB (creatine kinase-MB)
CMV – Citomegalovírus
Con A – Concanavalina A
cp/mL – Cópias por mililitro
CPM – Cintilações por minuto
CQI – Controlo de Qualidade Interno
CRH – Hormona de libertação de corticotropinas (Corticotropin-releasing
hormone)
CRL – CORE laboratorial
CRP – Proteína C reativa (C reactive protein)
cTnT – Troponina T cardíaca
CV – Coeficiente de variação
DGS – Direção Geral de Saúde
DNA – Ácido desoxirribonucleico (Deoxyribonucleic acid)
EA – Éster de acridina
EAM – Enfarte agudo do miocárdio
VIII Mestrado em Análises Clínicas Regina Viseu
2
EBV – Vírus Epstein Barr (Epstein–Barr vírus)
ECZ – Eletroforese capilar de zona
EDTA – Ácido etilenodiamino tetra-acético (Ethylenediaminetetraacetic acid)
EQL – Electroquimioluminescência
Eta – Erro Total admissível
FEIA – Ensaio imunofluorenzimático (Fluoro-Immuno-Enzymatic method)
FSH – Hormona folículo estimulante (Follicle-stimulating hormone)
GH – Hormona do crescimento (growth hormone)
γGT – Gama-glutamiltransferase
3H – Trítio
HbA1c – Hemoglobina A 1 glicada
HBV – Vírus da hepatite B (hepatitis B virus)
HCV – Vírus da hepatite C (hepatitis C virus)
HDL – Lipoproteína de alta densidade (High-density lipoprotein)
HGB – Hemoglobina
HHV – Herpes vírus humano (Human herpesvirus)
HIV – Vírus da imunodeficiência humana (human immunodeficiency vírus)
HLA – Antigénio Leucocitário Humano (human leukocyte antigen)
HPV – Vírus do Papiloma Humano (Human Papiloma Virus)
HSV – Vírus Herpes Simplex (Herpes simplex vírus)
HCT – Hematócrito
IgA – Imunoglobulina A
IgE – Imunoglobulina E
IGF1 – Fator de crescimento semelhante à insulina 1 (Insulin-like growth
factor 1)
IgG – Imunoglobulina G
IgM – Imunoglobulina M
INR – Índice internacional normalizado (International normalized ratio)
ISE – Elétrodo seletivo de iões (ion-selective electrode)
ISU – ISAC Standardized Units
ITA – Instruções de Trabalho Analítico
JCLAC – Dr. Joaquim Chaves, laboratório de Análises Clínicas
LAS – Liquido ascítico
LCR – Líquido cefalorraquidiano
VIII Mestrado em Análises Clínicas Regina Viseu
3
LDH – Lactato desidrogenase
LDL – Lipoproteína de baixa densidade (Low-density lipoprotein)
LH – Hormona luteinizante (Luteinizing hormone)
LIBM – Laboratório de Imunologia e Biologia Molecular
LIEBG – Lesão intra epiteliais de baixo grau
MCH – Hemoglobina globular média (Mean corpuscular hemoglobina)
MCHC – Concentração de hemoglobina globular média (Mean corpuscular
hemoglobin concentration)
MCV – Volume globular médio (Mean corpuscular volume)
MN – Mononucleares
MPV – Volume médio das plaquetas (Mean platelet volume)
NADH – Dinucleótido de nicotinamida e adenina reduzido (Nicotinamide adenine
dinucleotide reduced)
NADPH – Fosfato de dinucleótido de nicotinamida e adenina reduzido (Nicotinamide adenine dinucleotide phosphate reduced)
NK – Natural killer
NT-proBNP – Propéptido natriurético tipo B fração N terminal (N-Terminus Pro Brain
Natriuretic Peptide)
QL – Quimioluminescência
QLC – Quimioluminescência competitivo
QLNC – Quimioluminescência Não Competitivo
QS – Padrão de Quantificação (quantification standart)
PCR – Reação em cadeia da polimerase (Polimerase chain reaction)
PDW – Variação da distribuição do volume plaquetário (Platelet distribution
width)
PHA – Fitohemaglutinina (Phytohaemagglutinin)
Plt – Plaquetas
PMN – Polimorfonucleares
PTH – Paratormona (Parathyroid hormone)
PWM – Pokeweed mitogen
RBC – Eritrócitos (Red blood cell)
RDW – Variação da distribuição do volume eritrocitário (Red cell distribution
width)
RLU – Unidades relativas de luz (Relative Luminescence Units)
RNA – Ácido ribonucleico (Ribonucleic acid)
RT – Transcriptase reversa (reverse transcriptase)
SCID – Imunodeficiência combinada grave (Severe combined immunodeficiency)
VIII Mestrado em Análises Clínicas Regina Viseu
4
SIDA – Síndrome da imunodeficiência adquirida
T3 – Hormona triiodotironina
T4 – Hormona tiroxina
TAB – Teste de ativação de basófilos
TCR – Recetor dos linfócitos T (T cell receptor)
TFG – Taxa de Filtração Glomerular
TP – Tempo de protrombina
TRH – Hormona libertadora de tirotrofina (Thyrotropin-releasing hormone)
TSH – Hormona estimuladora da tiroide (Thyroid-stimulating hormone)
TTL – Teste de Transformação Linfoblástica
UI/mL – Unidades internacionais por mililitro
UTR – Região não transcrita (Untranslated region)
UV – Ultravioleta
VLDL – Lipoproteína de muito baixa densidade (Very Low-density lipoprotein)
VSG – Velocidade de sedimentação globular
VZV – Vírus Varicela Zoster (Varicella zoster vírus)
WBC – Leucócito (White blood cell)
VIII Mestrado em Análises Clínicas Regina Viseu
5
Índice de figuras
Figura 1 – ImmunoCAP250 8
Figura 2 – LuxScan 10K-B microarray scanner 9
Figura 3 – FACSCanto II 13
Figura 4 – SPAIII 13
Figura 5 – Microbeta 1450 Plus 16
Figura 6 – Cell Harvester 16
Figura 7 – COBAS AmpliPrep 19
Figura 8 – COBAS TaqMan 19
Figura 9 – Tecnologia TaqMan 19
Figura 10 – Termociclador Biometra 20
Figura 11 – CAR (Clinical Array Reader) 20
Figura 12 – Tira CLART®CS 20
Figura 13 – Termociclador Biometra 21
Figura 14 – Autoblot 3000 21
Figura 15 – Versant HCV Genotype 21
Figura 16 – Advia®2400 30
Figura 17 – ADVIA Centaur® Immunoassay System 32
Figura 18 – IMMULITE® 2000 33
Figura 19 – CLINITEK Atlas 34
Figura 20 – UF1000i Sysmex 35
Figura 21 – CAPILLARYSTM 2 FLEX 36
Figura 22 – Cobas e-411 37
Figura 23 – ADVIA® 2120i 59
Figura 24 – ADVIA® 2120i autoslide 59
Figura 25 – Diferentes apresentações dos resultados do hemograma
no equipamento ADVIA®2120 61
Figura 26 – Citograma gerado no canal de basófilos 62
Figura 27 – Histograma gerado no canal de basófilos 62
Figura 28 – Histograma gerado no canal da peroxidase 63
Figura 29 – Histograma do volume da célula 64
Figura 30 – Histograma da concentração em hemoglobina 64
Figura 31 – Citograma volume da célula/hemoglobina 65
Figura 32 – Citograma do volume de plaquetas/ índice de refração 65
VIII Mestrado em Análises Clínicas Regina Viseu
6
Figura 33 – histograma da concentração em hemoglobina 65
Figura 34 – Citograma da maturação/tamanho da célula 66
Figura 35 – VES-Matic 70
Figura 36 – BCP ® XP Cube-200 71
Índice de tabelas
Tabela 1 – Parâmetros instalados no equipamento ImmunoCAP250 9
Tabela 2 – Parâmetros efetuados no Citómetro de Fluxo BD FACSCanto II 14
Tabela 3 – Parâmetros efetuados na subsecção de cultura celular 17
Tabela 4 – Parâmetros efetuados no COBAS AmpliPrep/COBAS TaqMan 20
Tabela 5 – Parâmetros efetuados pela tecnologia PCR/RT-PCR e
Clinical Array Technology 21
Tabela 6 – Parâmetros efetuados por RT-PCR/Reverse dot-blot 22
Tabela 7 – Plano de controlo de qualidade do LIBM 28
Tabela 8 – Alguns parâmetros instalados no equipamento ADVIA®2400 31
Tabela 9 – Alguns parâmetros instalados no equipamento ADVIA®Centaur 33
Tabela 10 – Alguns parâmetros instalados no equipamento IMMULITE® 2000 34
Tabela 11 – Princípio das tiras reativas: Multistix 10SG 35
Tabela 12 – Parâmetros instalados no equipamento CAPILLARYS™ 2
FLEX Piercing 36
Tabela 13 – Alguns parâmetros instalados no equipamento Cobas e-411 37
Tabela 14 – Exemplo de critérios de alarmes por parâmetro 66
Tabela 15 – As alterações morfológicas das diferentes linhagens celulares 68
VIII Mestrado em Análises Clínicas Regina Viseu
7
PARTE I – Laboratório de Imunologia e Biologia Molecular
Introdução
O Laboratório de Imunologia e Biologia Molecular (LIBM) faz parte do Serviço de
Imunoalergologia do Centro Hospitalar de Setúbal, EPE. e desde 2013 está integrado
no Departamento de Medicina.
Este laboratório iniciou a sua atividade em janeiro de 1994, sob a direção do Professor
Doutor Filipe Inácio, Diretor de Serviço de Imunoalergologia.
Atualmente está atribuída a responsabilidade técnica do LIBM à Dr.ª Maria João
Peres, farmacêutica, técnica superior de saúde e especialista em análises clínicas,
tendo sido a orientadora deste estágio.
As áreas de interesse são a Imunoalergologia, na vertente de Imunoquímica e
Imunidade Celular, e a Biologia Molecular, dando resposta às necessidades da
consulta de Imunoalergologia, Infeciologia, Pneumologia, Pediatria, Gastrenterologia,
Dermatologia e Ginecologia, serviços com os quais mantém relações prioritárias.
Estabelecendo-se uma colaboração com o Serviço de Patologia Clínica, no sentido de
otimização dos recursos dos dois laboratórios na área da autoimunidade.
Em 2008 iniciou o Programa de Acreditação Internacional para organizações
prestadoras de cuidados de saúde - CHKS, implementado no CHS tendo desde 2010
obtido o título de Acreditado pelo CHKS- Healthcare Acreditation and Quality Unit
assim como a “Certificação pela ISO 9001:2008 - Departamento de Patologia” e que
tem mantido nas auditorias de monitorização anuais subsequentes.
Em 2013 integrou a Rede Portuguesa de Laboratórios para o Diagnostico da Gripe
uma vez que no LIBM se efetua o Diagnostico Molecular Diferencial de Vírus
Respiratórios, incluindo o vírus da gripe A, B e C e sua sub-tipagem.
O LIBM está dividido em três áreas distintas: a Imunoquímica, a Imunidade celular
(citometria de fluxo e cultura celular) e a biologia molecular.
A – IMUNOQUÍMICA
Esta área está maioritariamente vocacionada para o diagnóstico da doença alérgica
mediada por IgE. A maioria dos parâmetros analíticos são efetuados no aparelho
automatizado ImmunoCAP250.
VIII Mestrado em Análises Clínicas Regina Viseu
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1. Sistemas analíticos e metodologias
1.1 ImmunoCAP250
Auto analisador concebido para efetuar todos os passos, desde a distribuição de
amostras, reagentes, poços de diluição; ao processamento de todas as etapas:
incubação, lavagem, leitura, cálculo e impressão dos resultados. Permite a realização
de cerca de 250 testes por dia.
Fig. 1 – ImmunoCAP250 (www.thermofisher.com)
Princípio do método: (ensaio imunofluorenzimático – FEIA) O método FEIA é um
imunoensaio não competitivo de duplo anticorpo (tipo sandwich) em que o anticorpo
monoclonal anti-IgE permite capturar as IgE humanas. A fase sólida do ImmunoCAP
consiste numa celulose integrada numa cápsula (CAP). Este polímero hidrofílico,
altamente ramificado, promove a base ideal para os alergénios se ligarem de forma
irreversível e manter a sua forma nativa. Os alergénios ligados covalentemente à fase
sólida reagem com as IgE presentes na amostra biológica. Após lavagens é
adicionado à mistura, um anticorpo anti-IgE marcado com β-Galactosidade. É
adicionado o substrato-4-metilberil-β-D-Galactosidase (solução de desenvolvimento) e
a reação desencadeada é parada pela adição de uma solução de Carbonato de Sódio
(solução stop). Forma-se um produto fluorescente que é medido num Fluorímetro,
quanto maior a fluorescência, mais elevados são os níveis de IgE específica. A
organização mundial de saúde estabeleceu um padrão internacional para a IgE,
expresso em unidades internacionais por mililitro (UI/mL).
VIII Mestrado em Análises Clínicas Regina Viseu
9
Tabela 1 – Parâmetros instalados no equipamento ImmunoCAP250
Parâmetro Método Amostra
IgE total FEIA Soro/plasma
IgE específica FEIA Soro/plasma
Phadiatop® FEIA Soro/plasma
Phadiatop® infant FEIA Soro/plasma
Triptase FEIA Soro
1.2 Microarray ImmunoCAP ISAC®
Fig.2 LuxScan 10K-B microarray scanner
(www.phadia.com/en-US/Products/Products/ImmunoCAP-ISAC/Test-Principle-ImmunoCAP-ISAC)
Princípio do método: A metodologia baseia-se na imobilização de pequenas
quantidades dos componentes alergénicos purificados numa matriz sólida (biochip). O
biochip, no qual as diferentes moléculas nativas e recombinantes estão fixadas numa
determinada disposição, forma um array microscópico. Isto permite a monitorização
simultânea e em paralelo das interações biológicas com pequenas quantidades
amostra e de reagente. Num ensaio de duas fases, os anticorpos do soro do doente
ligam-se aos componentes de alergénios imobilizados. A reação é evidenciada pela
presença de um fluoróforo ligado ao anticorpo secundário. O laser do scanner vai
excitar o fluoróforo que emite radiação luminosa a um determinado comprimento de
onda. O sinal é transformado pelo software numa imagem. Atualmente, esta técnica
permite avaliar a sensibilização a mais de 100 componentes correspondendo a cerca
de 50 alergénios. O ImmunoCAP ISAC é um teste semi-quantitativo e os resultados
são reportados em ISU (ISAC Standardized Units), dando indicações dos níveis de IgE
específica num intervalo de valores entre 0.3-100 ISU.
VIII Mestrado em Análises Clínicas Regina Viseu
10
2. Parâmetros analíticos e valor semiológico
2.1 Doseamento IgE total
A IgE é uma classe de anticorpos muito importante na defesa contra infeções
provocadas por parasitas, especialmente helmintes e alguns protozoários. No entanto,
níveis baixos ou não detetáveis de IgE, não predispõem o individuo às infeções
parasitárias graves. Esta imunoglobulina não tem um papel importante nas infeções
bacterianas, porque não ativa o sistema do complemento, tendo por isso a sua maior
relevância clínica na doença alérgica. A IgE é um monómero que medeia as reações
de hipersensibilidade imediata (tipo I). O diagnóstico da doença alérgica tem como
finalidade identificar o alergénio implicado e estabelecer uma relação de causa-efeito.
A anamnese é fundamental neste processo, assim como os testes de diagnóstico in
vitro, principalmente em situações clinicas em que as provas in vivo, nomeadamente,
testes cutâneos e prova de provocação, estão contraindicadas.
Valor semiológico: As indicações clínicas para a determinação da IgE total são o
diagnóstico da síndrome de Híper IgE, no seguimento de doentes com Aspergilose
broncopulmonar alérgica uma vez que em episódios agudos há um aumento
considerável desta imunoglobulina; no estudo de famílias atópicas, e no seguimento
de doentes em tratamento com anticorpos monoclonais anti-IgE (Omalizumab).
2.2 Doseamento IgE específica
A determinação da IgE específica permite dar informação sobre o estado de
sensibilização de um individuo a um determinado alergénio e que poderá reagir a ele
em caso de exposição. Com um teste quantitativo e preciso, a presença de anticorpos
IgE pode ser detetada precocemente, permitindo a definição da melhor estratégia de
abordagem do doente alérgico. Existe disponível uma elevada variedade de alergénios
comerciais: pneumoalergénios (pólen, fungos, animais, ácaros, etc.), alimentos,
veneno de himenópteros, ocupacionais e fármacos. Indivíduos com níveis elevados de
IgE específica tem maior probabilidade de desenvolver sintomatologia alérgica, do que
os indivíduos com níveis de IgE baixos. No entanto, é de salientar que resultados
negativos, em histórias clínicas muito sugestivas de alergia, não excluem a doença
alérgica.
A introdução da biologia molecular e da proteómica permitiu desenvolver, para alguns
alergénios, mais do que uma molécula alergénica dentro de cada extrato alergénico e
alergénios recombinantes. O estudo alergológico molecular permite outro nível de
compreensão da sensibilização a um determinado alergénio, que varia
VIII Mestrado em Análises Clínicas Regina Viseu
11
significativamente de indivíduo para indivíduo. Dá informação mais precisa sobre as
proteínas alergénicas e o perfil de reconhecimento do doente, que confere diferentes
características clínicas. A presença de IgE pode ser detetada em estadios precoces,
indicando uma sensibilização antes de se desenvolver sintomatologia clínica. Ajuda a
elucidar e acompanhar a marcha alérgica e permite determinar o grau de
sensibilização, ou seja, os alergénios que contribuem para os sintomas. Auxilia na
orientação e monitorização da terapêutica.
Valor semiológico: A determinação da IgE especifica é indicada em indivíduos com
dermografismo ou dermatite grave; doentes em terapêutica com anti-histamínicos;
doentes com níveis de sensibilização extremos, nos quais os testes in vivo poderão
desencadear reações anafiláticas e avaliação de sensibilização a alergénios tóxicos.
Nunca será uma alternativa à história clínica e aos testes cutâneos, mas poderá
acrescentar valor diagnóstico na interpretação de provas cutâneas duvidosas. É
importante no diagnóstico de alergia a veneno de himenópteros, alergia alimentar,
estudo dos doentes polissensibilizados, no seguimento da evolução clínica e
monitorização do tratamento.
2.3 Phadiatop® e phadiatop® infant
Teste de rastreio que permite a diferenciação entre atópicos e não atópicos. É o
primeiro passo quando se suspeita de uma etiologia alérgica perante sintomas típicos
como problemas gastrointestinais, eczema, rinite ou asma. Phadiatop Inalante é um
teste utilizado no rastreio da doença alérgica. Demonstra a presença de anticorpos IgE
específicos aos alergénios mais comuns do meio ambiente (ácaros, gato, cão, barata,
fungos, gramíneas, árvores, ervas infestantes).
Valor semiológico: Um resultado positivo confirma a presença de alergia, o estudo
deve prosseguir com a identificação específica dos alergénios causais. Um resultado
negativo indica que os sintomas não são causados por alergénios comuns e devem
ser exploradas outras possibilidades.
2.4 Triptase
Os mastócitos desempenham um papel chave nas reações alérgicas e o seu número
aumenta sob condições inflamatórias. Quando ativados, eles libertam uma grande
variedade de mediadores que conduzem a sinais e sintomas das reações alérgicas,
tais como a anafilaxia. Um desses mediadores é a triptase. A triptase é armazenada
nos grânulos dos mastócitos em repouso. Quando o mastócito é ativado, quer seja por
mecanismos IgE mediados ou não, a triptase é libertada na corrente sanguínea. O
VIII Mestrado em Análises Clínicas Regina Viseu
12
aumento transitório da triptase sérica, num paciente que sofreu uma reação anafilática,
ajuda a identificar e a perceber a gravidade da reação.
Valor semiológico: Valores basais de triptase persistentemente elevados podem ser
indicativos de mastocitose ou de neoplasias hematológicas. Aumentos transitórios de
triptase sérica permitem avaliar o risco de uma reação anafilática num paciente. É
particularmente útil nas reações graves aos venenos de himenópteros e nas reações
perioperatórias.
2.5 ImmunoCAP ISAC
Permite avaliar simultaneamente anticorpos IgE específicos frente a múltiplos
alergénios, utilizando pequenos volumes de amostra de soro. Esta ferramenta
diagnóstica oferece um diagnóstico personalizado, porque num só ensaio, se obtém o
perfil alergénico do doente.
Valor semiológico: Importante na interpretação dos fenómenos de reatividade
cruzada; doentes com sensibilização a mais de 3 alergénios; quando o volume de
amostra é insuficiente para um estudo alergológico mais completo, devido à gravidade
da alergia (em crianças principalmente); é preditivo das reações graves, e dá
indicações precisas para a decisão da imunoterapia específica, para cada doente.
B – IMUNIDADE CELULAR
Esta área está dividida na subseção de citometria de fluxo e cultura celular. Dá
resposta aos pedidos solicitados por vários serviços do CHS, nomeadamente,
Infeciologia, Pediatria, Imunoalergologia e Medicina Interna, e também a solicitações
de outros hospitais.
1. Subsecção Citometria de Fluxo
Os parâmetros imunológicos determinados nesta secção são efetuados por citometria
de fluxo, em plataformas semi-automáticas.
VIII Mestrado em Análises Clínicas Regina Viseu
13
1.1 Sistemas analíticos e metodologias
1.1.1 Citómetro de Fluxo BD FACSCanto II e BD Sample Preparation Assistent III
Fig.3 FACSCanto II Fig.4 SPAIII
(www.bdbiosciences.com/anz/instruments/facscanto/index.jsp / www.bdbiosciences.com/anz/instruments/spa/index.jsp)
Princípio do método: A citometria de fluxo é um método multiparamétrico que
permite analisar de forma individual e simultânea, os componentes estruturais das
células. É composto por 3 sistemas principais: fluidos, ótico e eletrónico. O sistema de
fluidos move as células numa suspensão salina, através de uma câmara de fluxo.
Cada célula passa individualmente, devido à focagem hidrodinâmica da suspensão de
células e é atravessada por um feixe de luz, perpendicularmente ao fluxo. O feixe de
luz ao intercetar a célula, sofre dispersão na direção frontal (forward scattering), que
se correlaciona com o tamanho das células, e da luz lateral (side scattering), que se
correlacionada com a complexidade ou granularidade das células. A luz dispersa é
detetada, filtrada e convertida em sinais elétricos pelos detetores.
As populações celulares, marcadas com anticorpos conjugados com corantes
fluorescentes (fluorocromos), quando são atravessadas pelo laser, geram diferentes
sinais fluorescentes, de acordo com o fluorocromos a que se tenham ligado. Os
fluorocromos podem absorver fotões (energia) e passar a um estadio de excitabilidade
elétrica, libertando energia, maioritariamente sob a forma de luz (fluorescência). As
linhagens celulares são separadas de acordo com os diferentes sinais gerados,
possibilitando a determinação do grau de maturação e/ou ativação, pela análise da
expressão de diferentes moléculas intracelulares ou da superfície celular, classificados
como “cluster of differentiation” (CD). As diferentes linhagens celulares no sangue
periférico apresentam antigénios específicos na superfície das membranas que
permitem a sua contagem e fenotipagem.
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Tabela 2 – Parâmetros efetuados no Citómetro de Fluxo BD FACSCanto II
Parâmetro Reagentes/Kits Amostra
Imunofenotipagem Linfocitária:
TBNK
Multitest 6-color da BD
Lise/sem lavagem
Sangue total (EDTA)
Tipagem HLA B27 BD- HLAB27 kit
Teste de Ativação de basófilos kit Flow CAST® da Buhlmann
1.2. Parâmetros analíticos e valor semiológico
1.2.1 Imunofenotipagem Linfocitária
A imunofenotipagem linfocitária constitui um parâmetro de avaliação do sistema
imunitário do indivíduo. Os linfócitos humanos podem ser divididos, com base na sua
função biológica e na expressão de antigénios de superfície celular, em três
populações principais: linfócitos T, linfócitos B e linfócitos Natural killer (NK). Os
linfócitos supressores/citotóxicos são um subconjunto de linfócito T (CD3+) que são
CD8+. Os linfócitos helper/indutores são um subconjunto de linfócitos T (CD3+) que são
CD4+. Os linfócitos B são CD19+ e os linfócitos NK são CD16+ e CD56+.
As percentagens ou as contagens de linfócitosCD3+CD8+ e CD3+CD4+ são utilizadas
para caracterizar e monitorizar algumas formas de doenças como imunodeficiência e
doenças autoimunes.
Valor semiológico: A determinação das percentagens ou contagens dos linfócitos T
helper/indutores pode ser útil na monitorização de indivíduos infetados com o vírus da
imunodeficiência humana (HIV). Geralmente, os indivíduos com infeção pelo HIV
exibem uma diminuição constante das contagens de linfócitos T helper/indutores, à
medida que a infeção progride. A percentagem dos linfócitos supressores/citotóxicos
situa-se fora do intervalo de referência normal nalgumas doenças autoimunes. A
percentagem relativa do subconjunto CD8+ está aumentada em muitos doentes com
deficiências imunitárias congénitas ou adquiridas, tais como a imunodeficiência
combinada grave (SCID) ou a síndrome da imunodeficiência adquirida (SIDA).
1.2.2 Tipagem HLA B27
A sigla HLA (antigénio leucocitário humano) refere-se a um grupo de genes
localizados no cromossoma 6, os quais codificam para a síntese de vários marcadores
de superfície celular, moléculas apresentadoras de antigénios e outras proteínas do
sistema imunológico. O HLA-B27 é uma molécula apresentadora de antigénio
encontrada na superfície de várias células imunitárias. A presença dos alelos que
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15
codificam o HLA-B27 está fortemente associada ao desenvolvimento de algumas
patologias autoimunes.
Valor semiológico: A pesquisa do antigénio HLA-B27 constitui um parâmetro de
rastreio de espondilite anquilosante, já que a sua presença está fortemente associada
a esta patologia (90% dos indivíduos com ES e 8% dos indivíduos saudáveis). O
antigénio HLA-B27 está também presente noutras patologias: síndrome de Reiter,
uveíte anterior aguda, doença inflamatória do intestino e artrite reumatoide juvenil.
1.2.3 Teste de Ativação de Basófilos
O teste de avaliação da ativação de basófilos (TAB) é utilizado para o diagnóstico in
vitro de reações alérgicas de tipo imediato e hipersensibilidade a alergénios suspeitos.
O teste faz a deteção in vitro da expressão do marcador de superfície CD63 (gp53) em
basófilos no sangue total, por citometria de fluxo, após a estimulação antigénica.
Podem ser detetadas reações IgE mediadas e não-IgE mediadas.
Valor semiológico: Útil no diagnóstico de reações imediatas a diferentes grupos de
fármacos (ex.: β-lactâmicos, anti-inflamatórios não esteroides). Alternativa aos testes
de provocação oral, nomeadamente, nas alergias alimentares nas crianças (ex.:
alergia ao amendoim), tendo uma boa sensibilidade e especificidade na discriminação
entre tolerância e alergia. Permite ajudar na decisão clinica de quando reintroduzir um
determinado alimento num doente alérgico (ex.: reintrodução do leite em crianças
alérgicas a este alimento), resultados muito elevados nos TAB correlacionam-se muito
bem com a gravidade das reações clinicas. Permite selecionar a imunoterapia nos
indivíduos alérgicos a venenos de himenóptero, assim como, monitorizar o sucesso
dessa imunoterapia.
2. Subsecção Cultura Celular
Esta secção do laboratório envolve a manipulação de fontes radioativas não seladas,
sendo por isso licenciado como laboratório de radioisótopos pela Direção Geral de
Saúde.
2.1 Sistemas analíticos
2.1.1 Leitor de radiação Beta Microbeta 1450 Plus e Cell Harvester Wallac
Estes equipamentos permitem executar o teste de Transformação Linfoblástica por
incorporação do nucleósido radioativo 3H-Timidina.
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Fig. 5 Microbeta 1450 Plus Fig. 6 Cell Harvester
Princípio do método: O teste de transformação linfoblástica (TTL) por incorporação
do nucleósido radioativo [3H] – Timidina no DNA celular, permite a deteção de
linfócitos sensibilizados a um antigénio, avaliando a sua resposta proliferativa quando
em presença desse antigénio. Este teste baseia-se no facto dos linfócitos ativados se
dividirem e desta divisão celular requerer síntese de DNA. Aos linfócitos previamente
separados por gradiente de densidade, é fornecida uma fonte exógena de nucleósidos
marcados com trítio, que irão entrar da célula, sofrer fosforilação e incorporar-se no
DNA durante a replicação cromossómica. Após a incubação com os nucleósidos
marcados, os linfócitos são fixados numa membrana (cell harvester). Os nucleósidos
livres são removidos pelas lavagens, enquanto os que estão incorporados no DNA
permanecem no suporte sólido. A quantidade de radionucleósido presente é
determinada por contagem de cintilações (Microbeta 1450 Plus), por transformação da
radiação beta de baixa emissão em fotões. O resultado do teste é dado por cintilações
por minuto (CPM), sendo determinado um índice de estimulação que deve ser
comparado com os valores de referência de cada laboratório.
A resposta imune dos linfócitos inicia-se com um processo de proliferação linfocitária
induzida por sinais específicos. Os ensaios de proliferação linfocitária são um meio in
vitro simples e semi quantitativo que permite medir a capacidade que os linfócitos têm
de responder a um ligando particular. É uma variável útil na imunologia clinica, porque
os resultados se correlacionam com a imunidade mediada por células, ou seja,
reações de hipersensibilidade do tipo IV.
No LIBM este teste está aferido para medir a proliferação linfocitária em resposta a
fármacos, mitogénios e antigénios de memória.
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Tabela 3 – Parâmetros efetuados na subsecção de cultura celular
Parâmetro Reagentes Amostra
TTL – Fármacos Fármacos com formulações solúveis
ou suspensões homogéneas
Sangue total (heparinato sódio) TTL – Antigénio de memória Extrato de Candida albicans
TTL – Mitogénios Fitohemaglutinina
Concanavalina A
Pokweed
2.2 Parâmetros analíticos e valor semiológico
2.2.1 TTL - fármacos
As reações alérgicas representam um terço das reações adversas a fármacos (RAF).
São consideradas eventos raros, mas com elevada morbilidade e mortalidade. Na
prática clínica, é muito difícil a correlação de sinais e sintomas das reações alérgicas a
fármacos com o mecanismo imunológico envolvido, sem o auxílio de testes
laboratoriais. Alguns fármacos podem afetar diretamente o sistema imunitário inato
e/ou células efetoras tais como os basófilos (reações pseudoalérgicas ou de
hipersensibilidade não-imunomediada), sem envolvimento demonstrado do sistema
imunitário especifico. Os sintomas são muito semelhantes. A reação pode ocorrer por
mecanismos diferentes (anticorpos ou células T mediada), criando dificuldade na
interpretação. Diferentes fármacos podem induzir sintomas muito diferentes. Algumas
vezes é o metabolito ou algum componente (excipiente) do fármaco que induz a
reação. É praticamente impossível haver testes validados e padronizados disponíveis
para todos os fármacos existentes no mercado. A vantagem principal dos sistemas in
vitro, que medem as reações celulares T mediadas, é o potencial de detetar o
fármaco, mas também comprovar o envolvimento do sistema imunitário. O TTL mede
a proliferação dos linfócitos T de memória frente a um fármaco particular, ao qual o
doente tenha sido exposto, dando informação sobre o mecanismo patofisiológico
subjacente à reação adversa. Tem uma especificidade elevada para vários grupos
farmacológicos, incluindo, β-lactâmicos, sulfonamidas e anticonvulsivantes.
Valor semiológico: Particularmente útil nas reações não imediatas graves, nas quais
os testes in vivo estão contra indicados (testes cutâneos e a prova de provocação
oral), nomeadamente, necrólise epidérmica tóxica, síndrome Stevens-Johnson,
exantema generalizado agudo pustuloso, síndrome de hipersensibilidade a fármacos
com eosinofilia e sintomas sistémicos, vasculite e hepatite). Útil no diagnóstico da
síndrome de alergia múltipla a fármacos e nos doentes polimedicados.
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2.2.2 TTL - antigénios de memória e mitogénios
Os antigénios, tais como, a Candida albicans e a toxina tetânica, têm sido
frequentemente utilizados, como forma de avaliar a resposta celular T específica a
antigénios de memória. Os antigénios que são selecionados para avaliar a resposta
imunitária, são os mais representativos da maioria da população, quer pela exposição
natural (ex.: Candida albicans) quer pela vacinação (ex.: Toxina tetânica). O estímulo
com antigénios de memória parece ser mais revelador do grau de comprometimento
da resposta imunológica mediada por células, do que o estimulo com mitogénios. Uma
vez que os mitogénios conseguem induzir uma resposta proliferativa T, mesmo em
linfócitos incapazes de responder adequadamente a estímulos antigénicos (resposta
fisiológica). Uma resposta celular T anormal a antigénios, é considerada mais sensível,
mas menos específica, no diagnóstico de alterações na função dos linfócitos T. O TTL
efetuado tendo como estímulo antigénico a Candida albicans, mede a capacidade das
células T de responder, quando o recetor dos linfócitos T (TCR) reconhece esse
antigénio, após ser processado e apresentado pelas células apresentadoras de
antigénio. Linfócitos T ativados in vitro após exposição a antigénios específicos,
confirma que existe um estadio de sensibilização a esse antigénio e que a capacidade
de reconhecimento específico de antigénio está intacta.
Os mitogénios são potentes estimuladores da ativação e proliferação dos linfócitos T,
independentemente da especificidade antigénica dos linfócitos. Os mitogénios ativam
os linfócitos T de forma policlonal, por isso a resposta proliferativa induzida por
mitogénios é considerada menos sensível mas mais especifica no diagnóstico de
alterações na resposta celular T. Foi demonstrado que as lectinas são mitogénios que
se ligam ao TCR, que é glicosilado na sua porção carbohidrato, ativando os linfócitos T
quiescentes. Foi demostrado que o estimulo com mitogénios aumentam o cálcio
intracelular nos linfócitos T, que é essencial para a proliferação destas células. A
fitohemaglutinina (PHA) e a concanavalina A (Con A) são fortes estimuladores dos
linfócitos T, e o Pokeweed (PWM) é um mitogénios fraco para os linfócitos T mas
induz também a ativação e proliferação dos linfócitos B.
Valor semiológico: É útil na avaliação da função dos linfócitos T em doentes em
terapia imunossupressora, incluindo doentes transplantados e em doentes com
suspeita de alterações na imunidade celular. Na avaliação da função dos linfócitos T
em doentes com suspeita de imunodeficiências primárias, quer de linfócitos T (Ex.:
Síndrome DiGeorge, SCID) ou imunodeficiências combinadas de linfócitos T e B (Ex.:
sindrome Wiskott Aldrich, Imunodeficiência comum variável) em que a função dos
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linfócitos T pode estar alterada. Na avaliação da função dos linfócitos em doentes com
imunodeficiência secundária, de causa conhecida (Ex.: Infeção por HIV) ou
iatrogénica. Avaliação da recuperação da função dos linfócitos T e a sua competência
após transplante de medula óssea ou de células estaminais hematopoiéticas.
C – BIOLOGIA MOLECULAR
A aplicação da biologia molecular ao diagnóstico clínico, na área da infeciologia,
desenvolveu-se a partir da técnica de reação em cadeia da polimerase (PCR), que é
baseada na estabilidade térmica da enzima Taq polimerase e em 3 ciclos de
temperatura sequenciais, para desnaturar e amplificar sequencias especificas de
ácidos nucleicos. É um método simples e rápido, que permite criar um número
ilimitado de cópias de DNA, a partir de uma cadeia original. O DNA amplificado pode
posteriormente ser utilizado numa série de aplicações, desde o rastreio, diagnóstico e
monitorização de doenças. Permite avaliar as decisões clinicas e a terapêutica
implementada e aceder às taxas de cura de determinadas patologias.
1. Sistemas analíticos e metodologias
1.1 COBAS AmpliPrep/COBAS TaqMan
Fig.7 COBAS AmpliPrep Fig. 8 COBAS TaqMan Fig.9 Tecnologia TaqMan
(https://molecular.roche.com/assays/cobas-ampliprep-cobas-taqman-hiv-1-test-v2/)
Princípio do método: tecnologia de PCR em tempo real, num ensaio multiplexado,
através do Instrumento COBAS AmpliPrep, para processamento automatizado das
amostras, e do Analisador COBAS TaqMan 48, para amplificação e deteção
automatizadas. Permite a amplificação e deteção simultânea do RNA/DNA em tempo
real. Fornece resultados quantitativos, de forma rápida, com elevada exatidão e
sensibilidade, numa gama alargada de valores. A quantificação ocorre na fase
exponencial da amplificação. Na deteção são utilizadas sondas marcadas com
flourocromos (sondas TaqMan/ 5’ Nuclease). A redução do número de manipulações
permite reduzir os riscos de contaminação. Para uma quantificação mais rigorosa é
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20
usado um Padrão de Quantificação Interno (QS), que compensa os efeitos de inibição
e controla o processo de extração do RNA e de amplificação.
Tabela 4 – Parâmetros efetuados no COBAS AmpliPrep/COBAS TaqMan
Parâmetro Amostra Limite de deteção Intervalo de linearidade
Carga viral HIV-1 Plasma, LCR 20 cp/mL 20 - 10.000.000 cp/mL
Carga viral HCV Plasma, soro
11 UI/mL 15 - 100.000.000 UI/mL
Carga viral HBV Plasma 20 UI/mL 20 – 170.000.000 UI/mL
1.2 PCR/RT-PCR e CLART® – Clinical Array Technology
Fig.10 Termociclador Biometra Fig.11 CAR (Clinical Array Reader) Fig.12 Tira CLART®CS
(http://www.biometra.de/index.php/home.html / http://genomica.es/en/in_vitro_diagnostics_products_clart.cfm)
Princípio do método: tecnologia que permite a amplificação de DNA/RNA por PCR
multiplex, qualitativo. Esta tecnologia permite a deteção simultânea de marcadores
moleculares múltiplos incluindo a presença de controlos que garantem a fiabilidade
dos resultados. O sistema de deteção CLART baseia-se na precipitação de um
produto insolúvel naquelas zonas da Tira CLART CS nas quais se produz a
hibridização dos produtos amplificados por sondas específicas. Durante a RT-
PCR/PCR, os produtos amplificados são marcados com biotina. Após a amplificação,
hibridizam-se com as respetivas sondas específicas que estão imobilizadas em locais
conhecidos e concretos da Tira CS, após o qual são incubadas com conjugado
estreptavidina-peroxidase. O conjugado liga-se através da estreptavidina com a biotina
presente nos produtos amplificados (que também se encontram ligados às suas
sondas específicas) e a atividade da peroxidase provoca o aparecimento de um
produto insolúvel na presença do substrato o-dianisidina, que precipita no local de
hibridização da tira CS. A análise do material amplificado é efetuada pela leitura no
CAR, dos microarray de baixa densidade, que permite capturar, processar a imagem e
interpretar automaticamente cada amostra. Elabora um relatório único para cada
amostra analisada.
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Tabela 5 – Parâmetros efetuados pela tecnologia PCR/RT-PCR e Clinical Array
Technology
Parâmetro Método Controlo interno Produto biológico
CLART® Papillomavirus
Humano 2
PCR multiplex DNA amostra (gene
CFTR)
reação de amplificação
Controlo de deteção
Citobrush do colo do útero, anais e
faríngeos
Suspensões celulares
Biopsias e tecidos parafinados
CLART® Entherpex RT-PCR e PCR
multiplex
reação de amplificação
reação de deteção
LCR
Soro/plasma
Zaragatoas
Biopsias
CLART® PeunomoVir RT-PCR e PCR
multiplex
reação de amplificação
reação de deteção
Exsudados nasofaríngeos
Lavados Bronco-alveolares
Lavados Nasais
1.3 RT-PCR e Autoblot 3000
Fig.13 Termociclador Biometra Fig.14 Autoblot 3000 Fig.15 Versant HCV Genotype
(http://www.biometra.de/index.php/home.html / https://www.healthcare.siemens.pt/molecular.../versant-HCV-genotype-
2-assay-lipa)
Princípio do método: RT-PCR /Reverse dot-blot. O RNA viral é isolado a partir do
soro ou plasma por lise de partículas virais com um agente caotrópico, ao que se
segue a precipitação do RNA com álcool. O RNA extraído é ressuspendido em
diluente da amostra. O RNA extraído é submetido à transcrição reversa e amplificação
do cDNA por PCR, sequencialmente num único tubo (RT-PCR, Reverse
Transcriptase-Polimerase Chain Reaction). A incubação à temperatura ambiente antes
da etapa de transcrição reversa, remove as bases uracilo de eventuais produtos de
amplificação contaminantes, que possam existir na mistura de reação. A identificação
dos genótipos é conseguida por hibridização reversa do amplificado biotinilado com
sondas de oligonucleotidos imobilizadas em tiras, especificas das regiões 5’UTR e
Core. Após a etapa da hibridação, o produto da PCR não ligado é removido da tira por
lavagem e a estreptavidina marcada com fosfatase alcalina (conjugado) liga-se ao
híbrido biotinilado. O cromogéneo BCIP/NBT (substrato) reage com o complexo de
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estreptavidina-fosfatase alcalina formando um precipitado de cor púrpura/ castanha,
que produz um padrão de bandas visível na tira.
Tabela 6 – Parâmetros efetuados por RT-PCR/Reverse dot-blot
Parâmetro Método Produto biológico
Genotipagem HCV RT-PCR /Reverse dot-blot Soro
Plasma EDTA
2. Parâmetros analíticos e valor semiológico
2.1 Carga Viral do HIV-1
Este teste destina-se a ser utilizado em conjunto com a apresentação clínica e com
outros marcadores laboratoriais indicadores da progressão da doença, para o
acompanhamento clínico de doentes infetados pelo HIV-1 grupo M (subtipos A-H) e
HIV-1 grupo O. Os genes alvo selecionados neste teste são o gag e LTR, porque não
são alvos terapêuticos, aumenta a inclusividade dos genótipos, deteta variantes do
HIV-1, cria redundâncias no teste e diminui a subquantificação.
Valor semiológico: útil no diagnóstico da infeção por HIV-1 para esclarecimento de
resultados ambíguos e nas infeções agudas (detetável após 10 dias de contacto). No
prognóstico da progressão da doença, cargas virais elevadas na infeção aguda,
correlacionam-se com uma progressão mais rápida para SIDA. Na prevenção da
transmissão da doença, cargas virais mais baixas correlacionam-se com menor risco
de transmissão. Na decisão terapêutica, cargas virais inferiores a 100000cp/mL em
doentes naive, podem ter regimes terapêuticos variados, enquanto CV superiores
limitam os regimes terapêuticos disponíveis. Na monitorização terapêutica: determinar
o valor basal (antes do inicio da terapêutica); avaliar a sua eficácia; monitorizar as
alterações que possam estar associadas com resistências aos antirretrovirais (blips
transientes, virémias baixas persistentes ou cargas virais superiores a 200 cp/mL
persistentes)
2.2 Carga Viral do HCV
O teste destina-se a ser utilizado juntamente com a apresentação clínica e com outros
marcadores laboratoriais indicadores da infeção por HCV, no seguimento clínico de
pacientes com infeção crónica pelo HCV. O teste foi desenvolvido para dar uma
resposta equivalente para os genótipos 1 a 6 do HCV. A região alvo selecionada é a 5'
não traduzida do genoma do HCV (5’-NTR) e é utilizada a tecnologia dual-probe.
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Valor semiológico: Útil no rastreio da infeção por HCV, confirmando a infeção nos
doentes com anticorpos anti-HCV positivos. No diagnóstico das infeções agudas, no
período janela (menor ou igual a 2 semanas) e nas infeções crónicas (mais de 6
meses com anti-HCV positivos). Na decisão terapêutica, pela determinação do valor
basal da carga viral, avaliação da eficácia da terapêutica posteriormente instituída e na
avaliação da clearance espontânea do vírus nas infeções agudas. Na monitorização
durante a terapêutica (adesão, cinética de resposta e pós-terapêutica). Este teste
permite avaliar se ocorreu a cura pós terapêutica e monitorizar os doentes com
comportamentos de risco (possíveis reinfeções).
2.3 Carga Viral do HBV
Os resultados do teste deverão ser interpretados, tendo em consideração todos os
achados clínicos e laboratoriais. O teste produz resultados equivalentes para os oito
genótipos do HBV de A a H, e para o HBV com mutações mais comuns do pré-core.
Os genes alvo são na região altamente conservada do pré-core e core. Não se destina
a ser utilizado como um teste de rastreio para a presença do HBV no sangue ou em
produtos derivados do sangue, nem como um teste de diagnóstico visando confirmar a
presença de infeção pelo HBV.
Valor semiológico: A monitorização dos níveis de DNA do HBV pode predizer o
desenvolvimento de resistência aos fármacos. Uma descida rápida e mantida dos
níveis de DNA do HBV, em doentes submetidos a tratamento, correlaciona-se com
uma resposta favorável ao tratamento. A quantificação do DNA do HBV tem valor
prognóstico da progressão da hepatite aguda ou crónica por HBV, assim como é o
marcador mais fiável da replicação viral. Útil na decisão terapêutica, com base nos
valores da carga viral e outros marcadores (presença de antigénio HBe, níveis de ALT
e grau de fibrose), de iniciar ou não os antivirais. Determinar o valor basal e
monitorizar a resposta mantida à terapêutica.
2.4 Pesquisa e Tipagem do DNA do Vírus do Papiloma Humano (HPV)
A infeção persistente pelo HPV é a principal causa de cancro do colo do útero e da
neoplasia cervical intraepitelial (CIN) e, em menor frequência, do cancro anal,
particularmente nos imunodeprimidos. Os genótipos do HPV associados ao cancro
cervical são designados por alto risco, enquanto os genótipos de baixo risco estão
geralmente associados a lesões intraepiteliais de baixo grau (LIEBG) ou condilomas
benignos. O teste destina-se a ser aplicado a diferentes produtos biológicos sem
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necessidade de extração, devido à sua elevada sensibilidade que permite a deteção
de quantidades mínimas de DNA viral. No entanto, amostras de biopsias e cortes
histológicos nos quais há suspeita clínica da presença do HPV são submetidas a
extração prévia.
Valor semiológico: As aplicações clínicas do teste de tipagem do HPV incluem a
avaliação da aquisição e o desaparecimento de tipos específicos de HPV;
monitorização da persistência de genótipos específicos de tipos associado a risco
oncogénico; esclarecimento de citologias ambíguas (ASCUS); avaliação da eficácia
excisional, radioterapia, quimioterapia para lesões associadas ao HPV (comprovação
de cura) e fornece dados importantes na investigação epidemiológica sobre a história
natural das infeções pelo HPV.
2.5 Pesquisa de vírus Herpes e Neurotrópicos
Identificação molecular qualitativa de vírus Herpes e Enterovirus responsáveis por
infeções em diferentes órgãos, com particular relevância ao nível do sistema nervoso
central. O dispositivo CLART® ENTHERPEX é capaz de identificar em amostras
clinicas os 8 vírus Herpes humanos: HSV-1, HSV-2, VZV, CMV, EBV, HHV-6, HHV-7 e
HHV-8. São também detetados os três Enterovirus humanos clinicamente mais
relevantes: Poliovirus, Echovirus e Coxsackievirus. Tem como vantagens uma elevada
sensibilidade e especificidade, e a deteção simultânea de múltiplos vírus.
Valor semiológico: útil no diagnóstico da etiologia viral de doenças ou alterações do
sistema nervoso central, nomeadamente, encefalites, meningites e estados
confusionais. Em lesões cutâneas e mucocutâneas sugestivas de uma possível
etiologia viral, por uma primoinfeção ou reativação por vírus Herpes.
2.6 Pesquisa de Vírus Respiratórios
Caracterização de vírus que causam infeções respiratórias humanas, através da
identificação genómica para diagnóstico in vitro. Os vírus pesquisados são: Vírus
Influenza A (Subtipos H1N1sazonal, H1N1 2009 e H3N2), B e C; Vírus Parainfluenza
1, 2, 3 e 4 (subtipo A e B); Vírus Sincicial Respiratório tipo A e B; Rinovirus (deteta os
subtipos 1 (A e B), 2-4, 6, 7, 9, 10, 11, 15, 16, 18, 19-25, 28-31, 33, 34, 36, 38-40, 43,
44-46, 47, 49, 50, 51, 53-60, 62, 63, 65, 67, 68, 71, 74-76, 80-82, 85, 88-90, 93, 95, 98,
99); Metapneumovirus (subtipos A e B); Enterovirus (Enterovirus 68-71; Coxackievirus
A: 2-10, 12, 14; Coxackievirus B:1-6; Echovirus: 1-9, 11-21, 24-27, 29-33); Adenovírus;
Coronavirus 229E e Bocavirus.
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Valor semiológico: útil no diagnóstico diferencial da etiologia das infeções
respiratórias nas crianças e nos adultos, nomeadamente, bronquiolites, pneumonias e
síndrome de dificuldade respiratória. Fornece dados epidemiológicos nos surtos de
gripe em meio hospitalar e na comunidade. Permite implementar medidas preventivas
de transmissão em meio hospitalar.
2.7 Genotipagem do Vírus da Hepatite C
Este teste é utilizado para determinar o genótipo do vírus HCV em amostras com
carga viral do HCV detetável. Permite determinar os genótipos do HCV 1-6 e quinze
subtipos incluindo o 1a e 1b. Este ensaio não se destina a ser utilizado como um teste
de rastreio para o HCV, nem como teste para confirmar a presença do HCV.
Valor semiológico: Clinicamente é pedido antes do início da terapêutica da infeção
crónica pelo HCV e utiliza-se como marcador de prognóstico de resposta e do tempo
de duração da mesma, uma vez que os diferentes genótipos apresentam respostas
diferentes às terapêuticas antivirais disponíveis.
D – Controlo de Qualidade
A seleção e organização dos programas de Controlo de Qualidade Interno (CQI) e
avaliação externa da qualidade (AEQ) são efetuadas pelos responsáveis das secções.
A seleção dos programas de controlo de qualidade é feita segundo critérios como:
experiência anterior do laboratório, experiência de outros laboratórios, disponibilidade
dos programas ou a referência em revistas técnico-científicas, e depende de fatores
que incluem:
- Tipo de ensaio (qualitativo, quantitativo ou semi-quantitativo);
- Grau de automatização do método;
- Frequência de utilização (rotineiro ou esporádico);
- Recomendações do fornecedor;
- Disponibilidade de materiais de controlo interno ou de programas de AEQ;
- Características do método.
Os programas de CQI e de AEQ aplicados a cada um dos testes são descritos em
cada uma das Instruções de Trabalho Analítico (ITA), no ponto Controlo de Qualidade
no qual se define a periodicidade de cada tipo de controlo, quais os níveis de controlo,
quais os critérios de aceitação, análise e validação, registo e medidas a tomar quando
os resultados de controlo são não conformes. Quando não há programas de controlo
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26
adequados são estabelecidos mecanismos para decidir da aceitabilidade de
procedimentos não avaliados doutro modo. Quando não for efetuado controlo de
qualidade aos resultados de um exame laboratorial, na respetiva ITA tal é também
mencionado e justificado.
As amostras controlo são analisadas como amostras biológicas e não têm qualquer
tratamento especial, para que os seus resultados possam ser avaliados como controlo
do processo analítico. Sempre que possível, são utilizadas amostras controlo com uma
matriz idêntica à da amostra biológica e são selecionadas em número e concentração
que permita monitorizar os níveis de decisão médica e o intervalo de linearidade do
método, no que se refere ao CQI.
Controlo de qualidade interno
O CQI é efetuado com base nos resultados das amostras controlo e construção das
cartas de controlo. Cada secção definiu limites de controlo ou regras de controlo e os
critérios de aceitação, com base nas características de desempenho do método.
A analise do CQI permite efetuar uma avaliação periódica da imprecisão através do
cálculo do coeficiente de variação CV% pela fórmula:
Os resultados acumulados do CV% de períodos definidos de acordo com o nº de
amostras controlo ensaiadas, são colocados em gráfico e utilizados como indicadores
de imprecisão e avaliados com metas retiradas de referências ou definidos pelos
responsáveis da qualidade e de sector.
Controlo de qualidade externo
A participação em AEQ é um requisito essencial para controlar e evidenciar a
qualidade dos resultados. O LIBM participa regularmente, em programas de Avaliação
Externa da Qualidade, organizados por entidades idóneas, para os parâmetros
disponíveis, sendo uma ferramenta considerada essencial como garantia da exatidão
e validade dos métodos aplicados pelo laboratório. O desempenho de um ensaio pode
ser analisado pelos índices fornecidos pelos relatórios da AEQ de acordo com os
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critérios definidos pela entidade promotora. O relatório cumulativo do laboratório
poderá ser um meio útil de evidenciar o seu desempenho ao longo do tempo.
Os relatórios da AEQ devem ser devidamente analisados de forma a detetar situações
não conformes ou tendências de resultados, sendo a análise comprovada pela
assinatura do responsável da secção.
Para cada programa é avaliado o desempenho do laboratório pelo score obtido em
cada distribuição e calculada a inexatidão (Bias %) através da AEQ em cada
distribuição:
O desempenho do LIBM em relação aos objetivos definidos pelo promotor do AEQ nos
vários parâmetros é avaliado como indicador de Inexatidão, sendo definida uma meta
anual de % de adequação, como objetivo a atingir pelo LIBM.
Erro total e avaliação de desempenho
Para os ensaios qualitativos que dispõem de dados de CQI e AEQ, são efetuados
estudos de forma a avaliar o desempenho em confronto com especificações da
qualidade analítica, nacionais ou internacionais, ou baseadas no estado da arte para
parâmetros para os quais não existam dados publicados. A especificação da qualidade
Erro Total admissível (ETa) de um ensaio define a variação máxima aceitável, num
determinado resultado laboratorial, gerada a partir dos efeitos combinados dos erros
aleatórios (imprecisão/CV%) e sistemáticos (inexatidão/Bias). A análise da estimativa
do erro com base no CQI (imprecisão-CV%) e na AEQ (inexatidão/Bias) permite
determinar o desempenho real do processo e avaliar a sua estabilidade ao longo do
tempo. O ET associado a um método de ensaio é determinado de acordo com a
equação:
Bias%- medida da inexatidão do método (calculado a partir da AEQ, valor médio do
período em analise, se possível n≥5).
CV% – estimativa da imprecisão do método (calculado a partir do CQI, valor médio do
período em analise).
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z-factor multiplicativo da imprecisão que depende do nível de confiança desejado para
o ET (1.96, 95%).
O laboratório considera o desempenho do método conforme, quando o ET≤ ETa. Os
valores de ETa são estabelecidos com base em recomendações nacionais ou
internacionais. Quando não disponíveis, estes são estabelecidos pelo responsável da
qualidade e da secção, com base no seu julgamento profissional ou desempenho do
método em AEQ. Os resultados obtidos também possibilitam a construção de gráficos
de avaliação de método que permite classificar o desempenho do método analítico,
anualmente, frente às características de inexatidão e imprecisão obtidas e a
especificação da qualidade a ser atendida e classificá-lo em excelente, bom, conforme
ou não conforme.
Tabela 7 – Plano de controlo de qualidade do LIBM
Teste Equipamento CQI Critério AEQ
Doseamento de IgE
total e específica
ImmunoCAP250 Controlo UniCAP IgE Regras de westgard Quality Club Phadia
Imunofenotipagem
linfocitária
FACSCanto Sangue total
estabilizado (immune-
trol/low cells)
Regras de westgard UK NEQAS Immune
Monitoring Scheme
CV HIV-1 COBAS Ampliprep
COBAS TaqMan
Controlo positivo
baixo - ACC
Objectivos/InterQC UK NEQAS for
Microbiology – HIV-1
RNA Quantification
CV HCV COBAS Ampliprep
COBAS TaqMan
Controlo positivo
baixo - ACC
Objectivos/InterQC UK NEQAS for
Microbiology – HCV
RNA Detection
CVHBV COBAS Ampliprep
COBAS TaqMan
Controlo positivo
baixo - ACC
Regras de
westgard/InterQC
UK NEQAS for
Microbiology – HBV
DNA Quantification
Genotipagem HCV Biometra T
professional
Thermocycler
Autoblot 3000
Não efetuado UK NEQAS for
Microbiology- HCV
RNA Detection
Tipagem do HPV Biometra T
professional
Thermocycler
Leitor CAR
Controlo negativo
Controlo positivo
(amostra testada
anteriormente)
Não detetável
HPV positivo (tipo
testado
anteriormente)
UK NEQAS for
Microbiology-
assessment for
Molecular Detection
of Papillomaviruses
Diagnóstico
Molecular de vírus
respiratórios
Biometra T
professional
Thermocycler
Leitor CAR
Controlo negativo
Controlo positivo
(amostra testada
anteriormente)
Ausência de
amplificado
Positivo (vírus
detetádo
anteriormente)
Programa de
controlo de
qualidade INSA
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PARTE II – Dr. Joaquim Chaves, Laboratório de Análises Clínicas (JCLAC)
Introdução
O JCLAC é um laboratório que presta serviços de diagnóstico laboratorial à
comunidade, inserido numa Instituição de saúde privada e que se baseia nos
princípios da qualidade e melhor serviço ao utente.
É dotada de recursos humanos altamente qualificados, funcionando num espaço físico
totalmente adequado à atividade laboratorial e equipado com sistemas analíticos de
elevada qualidade, permitindo dar resposta fiável e atempada, à comunidade ou
entidades de saúde. O laboratório é constituído por vários departamentos, tendo um
único piso no edifício reservado à área técnica. Cada departamento está à
responsabilidade de um especialista na área das análises clinicas (patologista clínico
ou farmacêutico com o grau de especialista). Os departamentos compreendem a
Triagem, CORE laboratorial, Microbiologia, Química analítica, Radioimunoensaio,
Biologia Molecular, Imunologia e Genética Médica.
Este estágio decorreu na área do CORE laboratorial (CRL), cujo responsável técnico é
o Dr. Rui Pimentel, sob a orientação do responsável técnico do laboratório o Dr. Carlos
Cardoso, especialista em análises clínicas. Nesta área laboratorial determinam-se os
parâmetros analíticos mais representativos do funcionamento fisiológico e/ou
fisiopatológico dos diversos sistemas orgânicos, numa grande variedade de amostras
biológicas. O CRL compreende duas áreas distintas, a Química Clínica e a
Hematologia. É constituído por um sistema modular da Siemens (Sistema Modular
Advia Labcell) que permite, numa única plataforma, transportar e recolher as amostras
aos sistemas analíticos acoplados e outros equipamentos individualizados.
A – QUÍMICA CLÍNICA
Esta área é composta por uma série de equipamentos bastante automatizados, onde
são processados a maioria dos parâmetros da rotina do laboratório, permitindo uma
resposta rápida e eficiente aos pedidos solicitados. Acompanhei como observadora a
manutenção, calibração e execução das amostras e controlos, dos sistemas analíticos,
assim como a validação biopatológica de boletins de análises pelos especialistas da
área. Irei abordar as metodologias aplicadas por equipamento e os parâmetros
analíticos mais requisitados na rotina laboratorial e o seu interesse clínico.
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1. Sistemas analíticos e métodos gerais
1.1 ADVIA® 2400 Chemistry System
Fig.16 Advia®2400
(www.healthcare.siemens.com/clinical-chemistry/systems/advia-2400-chemistry-system)
Sistema analítico multicanal, acoplado ao sistema modular, que realiza ensaios
espectrofotométricos, imunoturbidimétricos e de potenciometria indireta. Permite
determinar parâmetros bioquímicos em vários tipos de amostras biológicas (soro,
plasma, LCR, urina, derrames de serosas). Este sistema analítico permite a
determinação dos índices de hemólise, icterícia e lipémico das amostras, com
relevância na validação de analítos que sofrem a interferência por estes fatores.
Espectrofotometria- A espectrofotometria é uma metodologia que utiliza a luz como
meio de medição da concentração de espécies químicas. Baseia-se na interação
(absorção e/ou emissão) da matéria com a energia radiante, ou seja, radiação
eletromagnética quando os eletrões se movimentam entre níveis energéticos. A
espectrofotometria permite identificar e quantificar substâncias com base no seu
espectro, uma vez que diferentes substâncias têm diferentes padrões de absorção e a
quantidade de luz absorvida está relacionada com a concentração da substância (Lei
de Lambert-Beer).
Imunoturbidimetria- O decréscimo da intensidade de um raio de luz que atravessa
uma solução de partículas é causado pela dispersão, reflexão ou absorção dessa luz.
A quantidade de luz absorvida por uma solução de partículas depende da sua
concentração e do seu tamanho (turvação). A turvação pode ser medida da mesma
maneira que as medidas de absorvência nos espectrofotómetros. A turbidimetria
associada aos imunoensaios relaciona a formação de imunocomplexos, que se
formam pela ligação antigénio/anticorpo, com a quantidade de luz dispersa, permitindo
quantificar o analito de interesse, presente na amostra.
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31
Potenciometria- Uma reação eletroquímica é a transformação química que sofre uma
substância, na interfase elétrodo/solução, pela passagem de uma corrente elétrica. A
potenciometria é a medida da diferença de potencial elétrico entre dois elétrodos numa
célula eletroquímica. Os elétrodos seletivos de iões (ISE) determinam a concentração
dos iões numa solução pela medição da voltagem, determinando a diferença de
potencial entre um elétrodo de referência e o seletivo, cujo valor é diretamente
proporcional à sua concentração na amostra biológica, previamente diluída numa
solução eletrolítica tamponada.
Tabela 8 – Alguns parâmetros instalados no equipamento ADVIA®2400
Parâmetro Método Amostra
Albumina Complexométrico (verde de
bromocresol/BCG)
Soro, serosas
Imunoturbidimetria (intensificada por PEG) Urina
Alanina aminotransferase (ALT) IFCC modificado Soro
Amónia Enzimático (GLDH/NADPH) Plasma
Apolipoproteína A-1 (APO-A1) Imunoturbidimetria (intensificada por PEG) Soro
Apolipoproteína B (APO-B) Imunoturbidimetria (intensificada por PEG) Soro
Aspartato aminotransferase
(ASP)
IFCC modificado Soro
Fosfatase alcalina (ALP) IFCC modificado Soro
Creatinina cinase (CK) IFCC modificado Soro
Gama-glutamiltransferase (γ-GT) IFCC modificado Soro
Ácido úrico Enzimático (uricase/peroxidase) Soro, urina
Amilase Enzimático (α-amilase/α-glucosidase) Soro, urina, serosas
Bilirrubina total Espectrofotométrico (Oxidação vanadato) Soro
Bilirrubina direta Espectrofotométrico (Oxidação vanadato) Soro, serosas
Bicarbonatos/CO2 total Enzimático (PEPC/MDH) Soro, urina
Cálcio total Complexométrico (Arsenazo III) Soro, urina
Colesterol total Enzimático (esterase/oxidase) Soro
Colesterol da lipoproteína de alta
densidade (cHDL)
Enzimático cinético
(Catalase/HDAOS/peroxidase)
Soro
Colesterol da lipoproteína de
baixa densidade (cLDL)
Enzimático cinético
(Catalase/TOOS/peroxidase)
Soro
Creatinina Jaffé, picrato alcalino, cinético
compensado com o branco
Soro, urina
Fosforo inorgânico Complexométrico (fosfomolibdato) Soro, urina
Frutosamina Colorimétrico (Azul de Nitrotetrazólio NBT) Soro
Glicose Enzimático (Hexocinase/G6PD) Soro, urina, LCR
Ionograma (sódio, potássio, Cloro) Potenciometria indireta (ISE) Soro, urina
Lactato desidrogenase (LDH) Enzimático (Piruvato/NADH) Soro
Lipase Enzimático/Colorimétrico (Metil-Resorufina) Soro, urina
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Tabela 8 – Alguns parâmetros instalados no equipamento ADVIA®2400 (cont.)
Parâmetro Método Amostra
Proteínas totais Enzimático (Biureto) Soro
Colorimétrico (vermelho de pirogalhol) Urina
Proteína C Reactiva (PCR) Imunoturbidimetria (intensificada por PEG) Soro
Transferrina Imunoturbidimetria Soro
Triglicéridos Enzimático (GPO/Trinder sem branco da
amostra)
Soro, urina
Ureia Enzimático (urease/GLDH) Soro, urina
1.2 ADVIA Centaur® Immunoassay System
Fig. 17 ADVIA Centaur ® Immunoassay System
(www.healthcare.siemens.com/immunoassay/systems/advia-centaur-xpt)
Equipamento automático acoplado ao sistema modular e que realiza ensaios de
quimioluminescência.
Quimioluminescência- A quimioluminescência corresponde a uma reação química
que emite energia sob a forma de luz. As reações de quimioluminescência direta
medem a energia da luz diretamente a partir de uma reação de oxidação-redução.
Neste equipamento é utilizado o éster de acridina (EA) como marcador
quimioluminescente, que não exige a adição de um catalisador ou de um substrato.
Por alteração de um ambiente ácido para básico, o éster de acridina é oxidado e
posteriormente reduzido, originando emissão de luz (unidades relativas de luz – RLU).
A quantidade de RLU é diretamente proporcional à concentração do analíto na
amostra nos ensaios competitivos, ou inversamente proporcional nos ensaios não
competitivos. A captura dos imunocomplexos antigénio-anticorpo ocorre através de
partículas paramagnéticas como fase sólida, por separação magnética, conferindo
uma maior área de reação. Aplica os princípios de ligação dos anticorpos do
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33
imunoensaio, utilizando diversos formatos (imunoquimioluminescência): Tipo
sanduíche, partículas paramagnéticas revestidas com anticorpo (AC) especifico para o
antigénio (AG) presente na amostra (ou vice-versa) formando a ligação AC-AG-fase
sólida, adiciona-se o substrato quimioluminescente EA que se liga a este complexo
proporcionalmente à concentração do analíto na amostra; tipo competitivo, o AG livre
marcado com EA compete com o AG presente na amostra, pelo local de ligação ao
AC-fase sólida, ou, AG da amostra e AG-fase sólida competem pelo AC ligado ao EA;
tipo captura de anticorpos, AC presentes na amostra ligam-se a anticorpos
monoclonais específicos ligados à fase sólida.
Tabela 9 – Alguns parâmetros instalados no equipamento ADVIA® Centaur
Parâmetro Método Amostra
Cortisol livre QLC Soro, urina
Ferritina QLNC Soro
Foliculoestimulina (hFSH) QLNC Soro
Mioglobina QLNC Soro
Paratormona intacta (hPTHi) QLNC Soro
Prolactina QLNC Soro
Tireoestimulina (hTSH) QLNC Soro
Tiroxina livre (T4L) QLC Soro
Tiroxina Total (T4T) QLC Soro
Triiodotironina livre (T3L) QLC Soro
Triiodotironina total (T3T) QLC Soro
QLC= Quimioluminescência competitivo; QLNC = Quimioluminescência Não Competitivo
1.3 IMMULITE® 2000
Fig. 18 IMMULITE® 2000
(www.healthcare.siemens.com/immunoassay/systems/immulite-2000-immunoassay-ystem)
Instrumento automático acoplado ao sistema modular, que utiliza o método de
imunoquimioluminescência para ensaios em amostras de soro, plasma e urina. A fase
sólida é constituída por esferas de poliestireno revestidas por anticorpo ou por
antigénio, consoante o analito em estudo.
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34
O imunocomplexo ligado à fase sólida é incubado com um anticorpo marcado com
fosfatase alcalina. A este complexo é adicionado um substrato quimioluminescente,
que na presença da fosfatase alcalina emite luz que é detetada por um tubo
fotomultiplicador. A quantidade de luz emitida é proporcional à concentração do analíto
presente na amostra.
Tabela 10 – Alguns parâmetros instalados no equipamento IMMULITE® 2000
Parâmetro Método Amostra
Adrenocorticoestimulina (ACTH) QL Plasma
Somatotrofina (hGH) QL Soro
Tiroglobulina (hTg) QL Soro
NT-proBNP (N-terminal do
precursor do Péptido Natriurético
tipo B)
QL Soro
1.4 CLINITEK Atlas® Automated Urine Chemistry Analyzers
Dispositivo totalmente automatizado que efetua a análise química de um grande
volume de amostras de urina, num formato de tiras de reagente fixa num suporte
plástico e analisadas por um espectrómetro de reflectância.
Fig. 19 CLINITEK Atlas (www.healthcare.siemens.com/urinalysis/systems/clinitek-atlas-auto-urine-chem-analyzer-rack)
A refratometria determina o grau de desvio de um feixe de luz que atravessa uma
solução (índice de refração), que é diretamente proporcional à concentração dos
solutos (densidade), presentes numa amostra de urina. A cor é determinada pela
medição da reflectância, a diferentes comprimentos de onda e a densidade através do
índice de refração. A medição da alteração da cor por reflectometria (intensidade da
luz refletida das áreas de reagente especificas das tiras reativas), permite determinar o
pH, detetar a presença e semi-quantificar a glicose, os nitritos, os pigmentos biliares
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(bilirrubina) e urobilinogénio, corpos cetónicos, hemoglobina, proteínas e esterases
leucocitárias (granulócitos).
Tabela 11 – Princípio das tiras reativas: Multistix 10SG
Parâmetro Método
pH determinação da concentração hidrogeniónica utilizando dois indicadores: o
vermelho de metil e o azul de bromotimol
Glicose reações enzimáticas glicose oxidase – peroxidase- cromogéneo iodeto de
potássio
Proteínas principio do erro proteico dos indicadores de pH
Corpos cetónicos reação ácido acetoacético - nitroprussiato de sódio, em meio alcalino
Pigmentos biliares reação da bilirrubina com o sal diazónio de diacloroanilina
Urobilinogénio reação de Ehrlich (dietilaminobenzaldeído, em meio ácido)
Esterases hidrolise do éster de aminoácido pirrólico formando-se 3-hidroxi-5-fenipirrol -
reação com sal diazóico
Nitritos reacção de griess (ácido arsanílico - composto diazóico, -1,2,3,4-
tetrahidrobenzoquinolina-3-ol)
1.5 UF1000i Sysmex
Fig.20 UF1000i Sysmex
(www.sysmex.com/us/en/Products/Urinalysis/Pages/UF1000-Urinalysis-Analyzer.aspx)
Equipamento automático equipado com um laser vermelho semicondutor que analisa,
identifica e quantifica os elementos figurados presentes nas amostras de urina, através
da citometria de fluxo. Este equipamento combina a dispersão lateral da luz,
relacionada com a complexidade (conteúdo intracelular), com a dispersão frontal,
relacionada com o volume e a emissão de fluorescência das células marcadas com
corantes fluorescentes, permitindo a quantificação de cada elemento figurado
detetado. Este equipamento utiliza duas marcações diferentes para discriminar as
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bactérias. O software incluído permite validar automaticamente as amostras com
exceção das que apresentam elementos figurados patológicos através da emissão de
alertas.
1.6 CAPILLARYS™ 2 FLEX Piercing – Sebia
Fig.21 CAPILLARYSTM 2 FLEX (www.sebia.com/en-EN/produits/capillarys-2-flex-piercing)
Sistema analítico que utiliza o método de eletroforese capilar de zona (ECZ) e
processa amostras de sangue, soro e urina. É composto por um conjunto de capilares
de sílica fundida, uma fonte de alimentação de alta voltagem, dois reservatórios de
tampão e um detetor ligado a uma unidade de aquisição de dados. Permite separar
proteínas em função do pH da solução eletrolítica e do fluxo electro osmótico. Após a
introdução da amostra (na extremidade anódica do capilar) é aplicada uma corrente de
alta voltagem às extremidades desse capilar, separando os iões presentes na amostra
através do fluxo electro osmótico. Este fluxo resulta do excesso de iões positivos na
superfície capilar interna que se movem no sentido da extremidade catódica. As
moléculas carregadas positivamente presentes na amostra emergem mais cedo, pois
seguem no mesmo sentido que o fluxo electro osmótico, as moléculas com carga
negativa também migram, mas a uma velocidade mais lenta. Na extremidade catódica
do capilar estão instalados diferentes detetores (ex. fotómetros de UV/visível) que
determinam as concentrações relativas de cada grupo de proteínas.
Tabela 12 – Parâmetros instalados no equipamento CAPILLARYS™ 2 FLEX Piercing
Parâmetro Método Amostra
Eletroforese das Hemoglobinas ECZ Sangue total (EDTA, heparina
ou citrato)
Eletroforese das Proteínas Séricas ECZ Soro
Eletroforese das Proteínas urinárias ECZ Urina
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1.7 Cobas e-411
Fig.22 Cobas e-411 (www.labwrench.com/?equipment.view/equipmentNo/14908/Roche/cobas-e-411/)
Sistema analítico automatizado que utiliza o método de electroquimioluminescência
(EQL). A reação de quimioluminescência, que conduz à emissão de luz a partir de
complexos de ruténio (substância eletricamente ativa), é estimulada eletricamente. O
imunocomplexo, formado pela ligação do analíto da amostra com um anticorpo
monoclonal biotinilado específico do analíto e um anticorpo marcado com ruténio, é
incubado com micropartículas revestidas com estreptavidina. À mistura é adicionada
uma segunda substância eletricamente ativa, a tripropilamina. Aplicando uma
voltagem à mistura, estas substâncias eletricamente ativas reagem e libertam luz. A
emissão de luz é diretamente proporcional à quantidade de imunocomplexos formados
e à concentração do analíto em estudo.
Tabela 13 – Alguns parâmetros instalados no equipamento Cobas e-411
Parâmetros Método Amostra
Troponina-T (cTnT) EQL Soro
2. Parâmetros analíticos e valor semiológico
2.1 METABOLISMO DAS PROTEÍNAS
Proteínas totais, Albumina, Proteína C Reativa, Eletroforese de proteínas
As proteínas são fundamentais para o organismo humano porque estão envolvidas na
maior parte dos processos que ocorrem nas células. Na determinação das proteínas
podemos obter informação que reflete o estadio da doença em muitos sistemas
orgânicos. As duas principais causas de alterações na concentração plasmática das
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38
proteínas totais é o volume de água no plasma e a concentração de uma ou mais
proteínas específicas. Os doseamentos mais frequentemente pedidos, na rotina
laboratorial, são as proteínas totais, a albumina e a proteína C reativa.
Proteínas totais
A determinação das proteínas totais no soro permite avaliar o estado nutricional,
alterações metabólicas, ou a presença de doença orgânica grave, envolvendo
nomeadamente o fígado, o rim e a medula óssea. As proteínas presentes na urina
podem ser provenientes do plasma, filtradas pelo glomérulo e não reabsorvidas pelos
túbulos proximais, e proteínas secretadas pelos túbulos renais (ex.: glicoproteína de
Tamm-Horsfall) e outras glândulas anexas. A proteinúria pode resultar do aumento da
permeabilidade glomerular, permitindo a passagem de proteínas de elevado peso
molecular (ex.: albumina na glomerulonefrite ou na síndrome nefrótica), da reabsorção
tubular incompleta de proteínas de baixo peso molecular (ex.: nefrite intersticial), do
aumento da concentração plasmática de proteínas (mieloma múltiplo ou
mioglobinúria), da libertação das células tubulares por lesão ou à exsudação do
epitélio do aparelho urinário inferior (inflamação do trato urinário ou neoplasias).
Valor semiológico: A classificação das proteinúrias permite uma avaliação da doença
renal e o rastreio das gamapatias monoclonais. Aumentos ligeiros estão associados a
estados inflamatórios, doença hepática terminal e infeções. Aumentos moderados a
muito elevados ocorrem no mieloma múltiplo e noutras paraproteinémias. A
hipoproteinémia pode ocorrer por expolição proteica ou em deficiências congénitas. A
diminuição ou o aumento do volume de água no plasma
(hemoconcentração/hemodiluíção) são causa de hipoproteinémia e hiperproteinémia
relativa, respetivamente.
Albumina
A albumina é a proteína mais abundante no espaço extracelular, correspondendo a
50-65% das proteínas totais no plasma. É extremamente importante na manutenção
da pressão oncótica, entre os compartimentos extra e intracelulares; no transporte e
armazenamento de uma grande variedade de substâncias endógenas (ex.: hormonas)
e exógenas (ex.: fármacos), e é uma fonte endógena de aminoácidos. A albumina
encontra-se em pequenas quantidades na urina em indivíduos saudáveis; a sua
excreção excessiva está associada a patologias renais glomerulares. A albumina é o
marcador renal mais precoce de lesão renal associada a um aumento da
permeabilidade glomerular (microalbuminúria: 30-300 mg/dia).
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39
Valor semiológico: O doseamento da albumina no soro ou plasma permite avaliar o
estado de nutrição, capacidade de síntese hepática e perda de função renal do
individuo. A hipoalbuminémia pode ter, como causa primária, uma síntese diminuída
por lesão hepática ou, como causa secundária, uma diminuição do aporte proteico. A
monitorização da microalbuminúria em doentes diabéticos, com potencial para
desenvolver doença renal, permite uma intervenção clinica precoce que, com
terapêutica adequada, pode retardar ou mesmo prevenir a nefropatia.
Proteína C Reactiva (CRP)
A CRP é uma das proteínas de fase aguda mais sensíveis, sendo o marcador de
inflamação mais requisitado em laboratório. A CRP é sintetizada no fígado e tem
capacidade para ativar a via clássica do sistema do complemento, iniciando o
processo de opsonização, posterior fagocitose e lise dos microorganismos
patogénicos, assim como ligar-se a substâncias tóxicas provenientes dos tecidos
lesados, permitindo a sua eliminação da circulação sanguínea. Na reação aguda, a
CRP é a proteína que se eleva mais precocemente (6 a 8 horas), após o início da
inflamação e normaliza após a sua resolução (aproximadamente 48 horas).
Valor semiológico: O aumento da CRP não é específico, mas pode dar informação
sobre a origem desse aumento, no contexto da história clínica. Em situações de
enfarte agudo do miocárdio, trauma, infeção, inflamação, cirurgia e em neoplasias, a
CRP pode aumentar 1000x em relação ao nível basal e esse aumento é proporcional
ao grau de lesão dos tecidos. Valores moderadamente aumentados (5 a 10mg/L)
correlacionam-se com a presença de infeção ou inflamação, sendo geralmente mais
elevados nas infeções bacterianas do que nas infeções virais. Valores de CRP mais
ligeiros (<3mg/L) tem maior valor semiológico na avaliação do risco e prognóstico na
doença coronária aguda. Valores superiores a 10mg/L são importantes na deteção,
prognóstico, monitorização da evolução clinica e resposta ao tratamento de infeções
e/ou processos inflamatórios ativos.
Eletroforese de proteínas
Este teste permite separar e semi-quantificar 5 frações eletroforeticamente distintas,
de proteínas presentes em fluidos biológicos: albumina, alfa-1, alfa-2, beta e gama
globulina. Se a amostra testada for plasma, em vez de soro, aparece uma sexta fração
entre as frações gama e beta que corresponde ao fibrinogénio. É necessário o
doseamento das proteínas totais no soro para a semi-quantificação das frações.
Eletroforeses com perfis sugestivos de situações patológicas, são auxiliares de
diagnóstico, de prognóstico e monitorização terapêutica da doença.
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40
Valor semiológico: Uma das aplicações clinicas mais relevantes é na deteção de
gamapatias. Existem duas situações a considerar: a hipogamaglobulinémia (associada
a estados de imunodeficiências) e a hipergamaglobulinémia que pode ser mono ou
biclonal, policlonal e oligoclonal. Um pico anormal, observado maioritariamente na
região gama, normalmente está associado a mieloma múltiplo (predomínio de IgG e
IgA), a macroglobulinémia de Waldestrom (IgM), as gamapatias monoclonais
secundárias e idiopáticas. A proteinémia de Bence-Jones também se caracteriza por
um pico monoclonal, assim como a amiloidose primária e a doença de cadeias
pesadas. Na síndrome nefrótica observa-se a diminuição das frações albumina, alfa-1,
beta e gama, e elevação da alfa-2, devido à acumulação de alfa-2-macroglobulina, por
perda seletiva de proteína pelo rim. Quando a função hepática está diminuída, a fração
albumina, alfa e beta globulinas estão diminuídas. Adicionalmente, observa-se a
“ponte cirrótica” (fusão das bandas beta e gama) devido ao aumento de IgA. O
aumento das frações alfa-1 e alfa-2, quase sempre acompanhadas de diminuição da
albumina ocorre na resposta inflamatória devido ao aumento de proteínas de fase
aguda (ex.: doenças inflamatórias, infeciosas e neoplásicas). O aumento isolado da
alfa-1 pode corresponder a hepatites crónicas, reações de fase aguda com hemólise,
gravidez, estrogenoterapia; enquanto uma diminuição pode estar associada a uma
deficiência genética da proteína alfa-1- antitripsina. O aumento predominante da alfa-2
está associado a patologias como a artrite reumatóide ou doenças por
imunocomplexos. Na imunodeficiência comum variável, a deficiente síntese de
imunoglobulinas revela uma diminuição marcada da banda gama.
2.2 METABOLISMO DOS LIPIDOS
Avaliação do perfil lipídico: Colesterol, Triglicerídeos, cHDL, cLDL
Os lípidos são compostos orgânicos que desempenham diversas funções no
organismo; são elementos estruturais e funcionais das membranas celulares, atuam
como hormonas, auxiliam na digestão, são uma importante fonte e forma de
armazenamento de energia. O estudo dos lípidos em bioquímica clinica inclui o
doseamento de colesterol, triglicerídeos, lipoproteínas e apolipoproteínas. O colesterol
é um esteroide sintetizado maioritariamente no fígado e no intestino, circulando no
plasma ligado a lipoproteínas, divididas em quatro classes de acordo com as suas
propriedades físico-químicas: lipoproteínas de baixa densidade (LDL), lipoproteínas de
alta densidade (HDL), lipoproteínas de muito baixa densidade (VLDL) e quilomicras. O
metabolismo de depuração dos lípidos é regulado diretamente pelas apolipoproteínas.
A APO A-1 é a principal proteína constituinte das HDL e a APO B das LDL. A APO A-1
VIII Mestrado em Análises Clínicas Regina Viseu
41
é um catalisador da reação de esterificação do colesterol, o que aumenta a
capacidade de transporte de lípidos pelas lipoproteínas. Os triacilgliceróis são os
ésteres do glicerol mais prevalentes da alimentação humana e constituem cerca de
95% do armazenamento tecidular das gorduras. A sua concentração sérica relaciona-
se diretamente com a das lipoproteínas ricas em triglicerídeos, que têm origem no
intestino (quilomicras) e no fígado (cVLDL).
Valor semiológico: A determinação laboratorial do perfil lipídico permite a avaliação
do risco cardiovascular, principalmente em indivíduos com fatores de risco para
doença cardiovascular, diabetes e doença renal crónica. O diagnóstico das
dislipidémias realiza‐se pela avaliação laboratorial, no sangue e em jejum de 12 horas,
do colesterol total, triglicerídeos, colesterol das HDL (c‐HDL) e colesterol das LDL
(c‐LDL) e confirmado por uma segunda avaliação laboratorial realizada com um
intervalo mínimo de 4 semanas, antes de se iniciar qualquer terapêutica. O cálculo das
lipoproteínas não HDL obtido por subtração da c-HDL ao colesterol total é considerado
como a porção de colesterol que causa mais danos nas artérias (aterosclerose). O
colesterol de lipoproteína de muito baixa densidade (c-VLDL), cujo valor é calculado
pela divisão do valor dos triglicéridos por 5, tem sido associado ao processo de
formação das placas de ateroma. Uma razão colesterol/cHDL elevada indica maior
risco de doença coronária. Baixos níveis de colesterol são encontrados em patologias
como o hipertiroidismo, síndrome de má-absorção e deficiências genéticas de
apolipoproteínas.
2.3 METABOLISMO DOS HIDRATOS DE CARBONO
Glicose, Hemoglobina Glicada (HbA1c), Frutosamina
Os hidratos de carbono são uma importante fonte de energia do organismo, tendo
funções estruturais importantes, são fonte de riboses dos ácidos nucleicos e tem
capacidade de modificar a função de proteínas por glicosilação. A principal fonte de
energia utilizada pelas células é a glicose e a sua concentração no plasma é
controlada por várias hormonas, sendo a insulina a mais importante. A Diabetes
mellitus é a patologia mais frequente associada ao metabolismo dos hidratos de
carbono e engloba um grupo de doenças metabólicas de etiologia múltipla.
Caracterizada por uma hiperglicemia crónica, com alteração dos metabolismos
glucídico, lipídico e proteico que resulta de alterações na secreção, na ação da
insulina ou de ambas.
VIII Mestrado em Análises Clínicas Regina Viseu
42
Glicose
A glicose é um monossacarídeo proveniente da metabolização dos hidratos de
carbono da dieta, das reservas orgânicas sob a forma de glicogénio
(glicogénese/glicogenólise), ou da síntese endógena a partir de proteínas ou do
glicerol dos triglicerídeos (gluconeogénese). Os níveis sanguíneos de glicose variam
dentro de limites muitos estreitos e a sua determinação em jejum fornece melhor
informação sobre os mecanismos homeostáticos reguladores.
Valor semiológico: A demonstração de uma situação de hiperglicemia, com
determinados critérios faz o diagnóstico de Diabetes mellitus, nomeadamente valores
de glicemia no soro em jejum (8 horas) ≥ 126 mg/d; glicemia ocasional ≥ 200 mg/dl ou
glicemia ≥200 mg/dl às 2h, na prova de tolerância à glicose oral (PTGO) com 75g. É
importante como rastreio da diabetes em doentes com fatores de risco,
nomeadamente obesidade, doenças cardiovasculares ou mulheres que tenham tido
diagnóstico de diabetes gestacional; na identificação de doentes pré-diabéticos; na
monitorização da evolução clínica e resposta ao tratamento (ajuste da dose de
insulina) e no estudo das hipoglicemias.
Hemoglobina Glicada (HbA1c)
Os níveis intracelulares elevados de glicose, numa situação de hiperglicemia,
promovem a ligação não enzimática de glicose a proteínas, esse processo de glicação
é proporcional à concentração de glicose no sangue (glicemia). A formação de
hemoglobina irreversivelmente glicada é consequência da exposição dos eritrócitos,
ao longo do tempo (vida média do eritrócito são 120 dias), a níveis elevados de glicose
e representa os valores integrados da glicemia, para as 6 a 8 semanas que antecedem
a sua determinação.
Valor semiológico: É critério de diagnóstico de Diabetes mellitus quando o valor de
HbA1c ≥ 6,5% (plasma). A monitorização dos níveis de glicemia média dos doentes
diabéticos, permite avaliar o risco de desenvolver complicações crónicas e avaliar a
resposta à terapêutica; identifica doentes em risco de desenvolver diabetes (HbA1c
≥5,7%). Em indivíduos com hemoglobinopatias ou condições hematológicas que
alteram o tempo de vida médio dos eritrócitos, diminuem o valor semiológico deste
parâmetro.
Frutosamina
A frutosamina é a denominação do produto da ligação da glicose a proteínas
plasmáticas (principalmente a albumina), resultando em cetoaminas estáveis. O tempo
VIII Mestrado em Análises Clínicas Regina Viseu
43
de vida médio das proteínas plasmáticas é de cerca de 20 dias. O processo de
glicação está dependente da concentração plasmática da glicose e reflete o nível
médio da glicemia nas últimas 1 a 3 semanas.
Valor semiológico: Permite a monitorização dos doentes diabéticos de uma forma
mais rápida e em doentes com patologias hematológicas que interferem com o tempo
médio de vida dos eritrócitos, como por exemplo, anemias hemolíticas, variantes de
hemoglobina ou hemoglobinopatias.
2.4 METABOLISMO FOSFO-CALCICO
O cálcio (Ca) e o fósforo (P) constituem 70% dos minerais (hidroxiapatite) depositados
sobre a matriz orgânica do osso, conferindo-lhe rigidez. O osso é o principal
reservatório de cálcio e fósforo do organismo e os níveis séricos destes minerais são
mantidos dentro de níveis restritos. Existe um complexo sistema regulador que
mantêm a quantidade total de cálcio e fósforo no organismo, pela ação de várias
hormonas (Ex.: Paratormona (PTH), Calcitonina e 1,25(OH)2 vitamina D). Estas
hormonas atuam em três órgãos alvo: o intestino, regulando a absorção de cálcio; o
rim, regulando a excreção de cálcio e fósforo, e o osso, regulando a taxa de
reabsorção e formação óssea. A absorção do Ca e do P ocorre no intestino,
maioritariamente por transporte ativo e transporte passivo, respetivamente. A
excreção/reabsorção renal de ambos é regulada principalmente pela ação da PTH.
Cálcio total
O cálcio é o quinto elemento mais comum e o catião mais prevalente do organismo. A
sua concentração afeta a contractilidade do músculo cardíaco e esquelético, é
essencial no funcionamento do sistema nervoso e desempenha um papel muito
importante na coagulação sanguínea, na mineralização do osso e em muitos
processos intracelulares. Os níveis de Ca no espaço extracelular refletem o equilíbrio
dinâmico com o cálcio existente no osso. Metade do Ca que circula no plasma está na
forma fisiologicamente ativa (forma ionizada ou livre (Ca2+) e 40 % circula ligado a
proteínas plasmáticas. Estas formas são interconvertíveis e dependentes do pH, da
concentração de proteínas e de aniões, e de alterações na concentração de cálcio
total ou ionizado.
Valor semiológico: útil no diagnóstico e monitorização de doenças metabólicas do
osso (ex.: raquitismo, osteomalacia), rim (ex.: insuficiência renal), glândula paratiroide
(ex.: híper e hipoparatiroidismo) e trato gastrointestinal (ex.: síndrome de má-
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44
absorção). O nível de cálcio pode refletir os níveis anormais de vitamina D e das
proteínas.
Fósforo inorgânico (fosfatos)
O fósforo encontra-se maioritariamente no osso, cerca de 85%, sob a forma inorgânica
(hidroxiapatite), e os restantes 15% estão envolvidos no metabolismo dos hidratos de
carbono e na composição dos fosfolípidos, ácidos nucleicos e adenosina trifosfato. O
fósforo doseado na rotina laboratorial é a forma de fosfatos inorgânicos (H2PO4-,
HPO42, PO4
3- e ácidos correspondentes). A concentração plasmática está dependente
do aporte diário e da secreção de PTH, podendo ser muito variável.
Valor semiológico: útil no diagnóstico e tratamento de uma variedade de distúrbios,
incluindo doenças ósseas, da glândula paratiroide e na doença renal.
2.5 METABOLISMO DO FERRO
Ferro sérico, transferrina, ferritina
O ferro é um elemento essencial para a hemóstase celular. É utilizado na síntese da
hemoglobina nos eritrócitos, mioglobina nos músculos e citocromos no fígado.
Qualquer alteração no equilíbrio entre a sua concentração e a biodisponibilidade
conduz a situações de deficiência e excesso de ferro, sendo a sua deficiência uma das
principais causas de anemia e o seu excesso tóxico para o organismo. O ferro pode
ser adquirido na dieta alimentar ou no turnover dos eritrócitos senescentes. O ferro é
armazenado no fígado, ligado à proteína ferritina e sempre que solicitado, o ferro é
transportado no plasma ligado à proteína de transporte, a transferrina, que no seu
estado normal fixa um terço do ferro que lhe é possível transportar. A percentagem de
saturação da transferrina pode ser calculada, indiretamente, pela razão do
doseamento de ferro total no plasma pela capacidade total de fixação do ferro x100.
Valor semiológico: O doseamento de ferro no plasma, capacidade de fixação do ferro
e a percentagem de saturação da transferrina são um importante meio de diagnóstico
diferencial de causas de deficiência de ferro (ex.: anemia ferropénica, infeções,
neoplasias) e de excesso de ferro (ex.: hemocromatose hereditária ou idiopática). A
ferritina parece ser o marcador mais sensível e especifico na avaliação de deficiência
de ferro.
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45
2.6 AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO RENAL
Creatinina, Ácido Úrico, Amónia, Ureia
A doença renal é maioritariamente assintomática, manifestando sintomas clínicos em
fases muito avançadas da doença. Os testes laboratoriais são de suma importância na
deteção, prognóstico e estadiamento da doença renal. Os compostos nitrogenados
não proteicos, nomeadamente a creatinina, amónia, ácido úrico e ureia, são produtos
formados no organismo que resultam do catabolismo de ácidos nucleicos,
aminoácidos e proteínas. A excreção destes compostos é uma importante função do
rim.
Creatinina
A creatinina é formada por hidrólise não enzimática da fosfocreatina (sintetizada nos
músculos e cérebro) e apenas 1 a 2% tem origem na conversão direta da creatina. A
taxa de produção da creatinina é relativamente constante durante o dia e está
diretamente relacionada com a massa muscular, atividade muscular, ingestão
alimentar de carne e consumo diário total de proteínas, e varia com a idade, sexo e
raça. A creatinina é filtrada pelo glomérulo e não é reabsorvida pelos túbulos renais.
Os níveis de creatinina plasmática são inversamente proporcionais ao grau de filtração
glomerular, a relação inversa da creatinina com a Taxa de Filtração Glomerular (TFG)
não é direta, os níveis de creatinina plasmática só aumentam após a TFG ter decaído
cerca de 50%-60% do seu nível normal. A excreção de creatinina na urina é
relativamente constante tendo um coeficiente de variação de 10%, quando mantida o
mesmo tipo de dieta pelo indivíduo.
Valor semiológico: A determinação da concentração de creatinina no sangue permite
o despiste da doença renal, a monitorização da evolução clinica e a resposta ao
tratamento. A sua determinação em amostras de urina é útil como referência para a
determinação de outros analítos, melhorando a exatidão dos resultados em relação às
variações da diurese e como meio de avaliação da adequabilidade da colheita em
urinas de 24 horas. Uma diminuição da taxa de filtração glomerular acompanhada de
uma diminuição da depuração da creatinina pode ser indicativa de uma doença renal
progressiva ou de outras situações reversíveis, tais como a desidratação grave.
Permite avaliar o grau de incapacidade funcional renal e monitorizar a evolução clínica
e a resposta ao tratamento da glomerulonefrite aguda.
Ácido úrico
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O ácido úrico é o principal produto do catabolismo das purinas (bases púricas dos
nucleótidos adenosina e guanina). As purinas resultantes do catabolismo dos ácidos
nucleicos de origem alimentar são transformadas diretamente em ácido úrico,
contribuindo com aproximadamente 300mg por dia e a síntese diária de ácido úrico é
aproximadamente 400mg. A sua excreção é efetuada maioritariamente pelo rim. A
produção excessiva de ácido úrico pode ter origem no aumento da síntese de purinas
precursoras ou em tratamentos por quimioterapia (síndrome de lise tumoral pós
quimioterapia, pela lesão celular e libertação de ácidos nucleicos).
Valor semiológico: Estudo e monitorização da resposta ao tratamento dos doentes
com gota; doentes com neoplasias, nomeadamente doenças mielo e linfoproliferativas
devido ao aumento do turnover dos ácidos nucleicos; doentes com litíase úrica e
monitorização da hiperuricemia nos doentes com insuficiência renal.
Amónia
A amónia origina-se, maioritariamente, pelo catabolismo dos aminoácidos no intestino
por ação das bactérias da flora intestinal e em seguida é transformada em ureia no
fígado. O aumento da amónia no plasma pode ser causado por uma diminuição da
síntese hepática de ureia em casos de doença hepática grave e como entra no
sistema nervoso central por difusão passiva pode ser potencialmente tóxica.
Valor semiológico: Monitorização da evolução clínica e da resposta ao tratamento da
encefalopatia hepática e na avaliação do prognóstico da Síndrome de Reye.
Ureia
A ureia é o principal produto do catabolismo das proteínas e ácidos nucleicos:
Proteínas → Aminoácidos → Amónia → Ureia, responsável por cerca de 75% do azoto
não proteico excretado. A biossíntese da ureia a partir da amónia ocorre
exclusivamente no fígado. Mais de 90% da ureia é excretada no rim, sendo os outros
10% excretados ao nível da pele e trato gastrointestinal, razão pela qual a doença
renal está associada ao aumento de ureia no sangue. Uma grande variedade de
doenças renais, com diferentes tipos de lesão glomerular, tubular ou vascular, pode
causar um aumento da ureia no sangue. Mas a clearance da ureia é um mau indicador
da taxa de filtração glomerular porque o seu aumento pode ser devido a fatores não
renais, tais como, a dieta e a atividade das enzimas do ciclo da ureia.
Valor semiológico: A determinação da ureia é utilizada como análise de rotina na
avaliação da função renal e da eficácia da diálise. A principal utilidade clinica da
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47
determinação da ureia é a sua utilização conjunta com a determinação da creatinina,
no plasma, e na discriminação de azotemia pré-renal e pós-renal.
2.7 ESTUDO DO EQUILIBRIO HIDRO-ELETROLÍTICO E ÁCIDO-BASE
Ionograma e Bicarbonato
O ionograma envolve o doseamento dos eletrólitos sódio (Na+), Potássio (K+) e Cloro
(Cl-) nas amostras biológicas. A sua determinação permite a avaliação do equilíbrio
hidro-electrolítico e ácido-base.
O Sódio (Na+) é o principal catião do fluido extracelular representando cerca de 90%
dos catiões inorgânicos do plasma, é responsável pela manutenção da distribuição
normal de água e da pressão osmótica nos compartimentos extracelulares, as suas
variações refletem movimentos hídricos, sendo por isso um notável reflexo da
hidratação celular. O Na+ é livremente filtrado no glomérulo, entre 70-80% do filtrado é
reabsorvido no túbulo proximal juntamente com Cl- e água, 20-25% é reabsorvido na
ansa de Henle. Na reabsorção ao nível dos túbulos contornados distais, a reabsorção
de Na+ está dependente da aldosterona adrenal e dos sistemas de troca Na+- K+ e
Na+- H+.
Valor semiológico: A determinação do sódio permite avaliar o equilíbrio ácido-base,
equilíbrio hídrico, intoxicação por água e desidratação.
O Potássio (K+) é o principal catião do fluido intracelular e intervém num grande
número de processos bioquímicos da célula, sendo indispensável à manutenção da
pressão osmótica. O K+ absorvido ao nível do trato gastrointestinal é rapidamente
distribuído, uma pequena parte é absorvido pelas células mas a maior parte é
excretado pelos rins. O K+ filtrado através do glomérulo é quase totalmente
reabsorvido nos túbulos proximais e secretado nos túbulos distais por troca com o Na+,
com intervenção da aldosterona.
Valor semiológico: o doseamento de K+ é útil na avaliação de arritmias cardíacas,
fraqueza muscular, encefalopatia hepática, insuficiência renal, monitorização do
tratamento de determinadas patologias tais como cetoacidose diabética e em qualquer
terapia endovenosa para reposição de líquidos.
O Cloro (Cl-) é o anião mais abundante no fluido extracelular, a sua função é manter a
correta distribuição de água no corpo, pressão osmótica e o normal balanço anião-
catião nos fluidos extracelulares.
VIII Mestrado em Análises Clínicas Regina Viseu
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O Cl- existente proveniente dos alimentos é quase totalmente absorvido no trato
gastrointestinal, é filtrado no glomérulo e posteriormente reabsorvido passivamente,
juntamente com o Na+, nos túbulos proximais. No ramo ascendente da ansa de Henle
é ativamente absorvido pela bomba de cloro, que permite também a reabsorção de
Na+. O Cl- restante é eliminado na urina e no suor.
O bicarbonato é a segunda maior fração de aniões no plasma. O dióxido de carbono
total no plasma apresenta-se maioritariamente sob a forma de bicarbonato (HCO3-),
iões carbonato (CO3-2), dissolvido numa solução aquosa (dCO2) e ácido carbónico
(H2CO3). Alterações do bicarbonato e do CO2 dissolvido no plasma traduzem
desequilíbrios acido-base, mas não são por si só informativos da natureza desse
desequilíbrio.
Valor semiológico: O doseamento de bicarbonato sérico, conjuntamente com a
determinação do pH, é útil no diagnóstico e tratamento de patologias associadas ao
desequilíbrio ácido-base nos sistemas respiratórios e metabólicos.
2.8 ESTUDO DA FUNÇÃO HEPÁTICA
O fígado é o órgão interno mais complexo responsável por diversas funções
essenciais à vida. É responsável, nomeadamente, pela síntese da maioria das
proteínas plasmáticas e ácidos biliares; local de entrada, processamento e
armazenamento de substâncias absorvidas a partir do trato gastrointestinal;
catabolismo de hormonas, armazenamento de açúcares simples (glicose/glicogénio),
processamento e excreção de substâncias endógenas e exógenas na bílis ou na urina.
A alteração da função hepática manifesta-se com sinais e sintomas relacionados com
qualquer uma destas funções. A avaliação laboratorial da função hepática baseia-se
no doseamento de determinados componentes no sangue, que fornecem uma pista
para a existência, a extensão e o tipo de lesão. Os hepatócitos são células
metabolicamente complexas e contem um elevado nível de enzimas. Quando há lesão
hepática, a concentração dessas enzimas no plasma aumenta e são uma ferramenta
muito útil no diagnóstico e monitorização dessas lesões.
Bilirrubina total, bilirrubina direta e bilirrubina indireta
A bilirrubina é formada a partir da degradação das moléculas de hemoglobina e circula
no sangue ligada à albumina sérica. No fígado é conjugada com ácido glucurónico
(bilirrubina conjugada ou direta), para solubilização e subsequente transporte pelo
canal biliar, e eliminação através do aparelho digestivo. Quando o metabolismo da
bilirrubina está comprometido ocorre acumulação de bilirrubina no plasma
VIII Mestrado em Análises Clínicas Regina Viseu
49
(hiperbilirrubinemia) e tecidos, a icterícia (coloração amarelada de pele, membranas
mucosas e escleróticas), constituindo um sinal clínico importante, tendo três causas
principais: hemólise, incapacidade do mecanismo de conjugação no interior do
hepatócito e obstrução no sistema biliar (colestase).
Valor semiológico: A determinação da concentração da Bilirrubina total e da fração
conjugada são necessárias para o diagnóstico diferencial das icterícias. Na hemólise
ocorre um aumento da degradação da hemoglobina que resulta numa produção de
bilirrubina mais rápida do que a capacidade de metabolização do fígado, verifica-se
então um aumento dos níveis de bilirrubina não conjugada. Este aumento também se
verifica na imaturidade hepática ou em patologias onde o mecanismo de conjugação
da bilirrubina está alterado. Nas patologias hepatobiliares, a entrada, armazenamento
e excreção de bilirrubina no fígado estão alteradas. As bilirrubinas direta e indireta
estão aumentadas nas hepatites e nas lesões que ocupam espaço. A
hipobilirrubinemia pode ocorrer na anemia aplástica e anemias secundárias à
quimioterapia antineoplásica.
Enzimas que refletem danos nos hepatócitos
As enzimas citoplasmáticas e mitocondriais são os principais marcadores de lesão
celular. As transaminases catalisam a transferência do grupo amina de um aminoácido
para uma α-cetoglutarato (reações de síntese e/ou degradação de aminoácidos). As
transaminases incluem a AST ou transaminase glutâmica-oxalacética (GOT) e ALT ou
glutâmica-pirúvica (GPT), amplamente distribuídas nos tecidos humanos. A AST
encontra-se na mitocondria (isoenzima mAST) e no citoplasma (isoenzima cAST) das
células do coração, fígado, músculo-esquelético e rins, e em casos de lesão
hepatocelular leve a forma predominante é cAST, enquanto em lesões graves há
libertação da mAST.
A ALT é uma enzima exclusivamente citoplasmática e encontra-se particularmente no
fígado e rins. A enzima lactato desidrogenase (LDH) é uma enzima ubiquitária, por
isso a sua determinação isolada não é específica de qualquer patologia. No entanto,
em paralelo com a determinação de outras enzimas pode ser útil na monitorização da
evolução clínica e da resposta ao tratamento das doenças parenquimatosas hepáticas.
A LDH muito elevada com AST e ALT ligeiramente aumentadas sugere lesão num
órgão ou tecido, enquanto a LDH pouco elevada com AST e ALT elevadas é sugestivo
de danos hepáticos.
Valor semiológico: A determinação das transaminases tem maior valor semiológico
no diagnóstico e monitorização de doenças hepáticas. A razão ALT/AST (índice de
VIII Mestrado em Análises Clínicas Regina Viseu
50
Ritis) pode ajudar no diagnóstico diferencial das hepatopatias. Índices inferiores a 1
observam-se em hepatite alcoólica, hepatite tóxica, cirrose hepática, colestase, lesões
hepáticas que ocupam espaço (ex.: neoplasias e doenças granulomatosas), e índices
superiores a 1 observam-se em doenças inflamatórias (ex.: hepatites virais).
Enzimas que refletem danos hepato-biliares
A fosfatase alcalina (ALP) é uma enzima que se encontra amplamente distribuída nos
tecidos, mas cuja função é desconhecida. Encontra-se predominantemente ligada às
membranas celulares, especialmente na mucosa intestinal, rim, fígado, ossos e
placenta. O aumento de ALP na doença hepática é o resultado de um aumento da
síntese dessa enzima pelas células que revestem os canalículos biliares, geralmente
em resposta à colestase. A gama-glutamiltransferase (γGT) está presente nas
membranas celulares em todo o organismo, mas em maior quantidade ao nível do rim,
fígado e células pancreáticas. A sua função é promover a hidrólise de péptidos para
formar aminoácidos ou péptidos menores.
Valor semiológico: Os valores da ALP tendem a ser mais elevados na obstrução
biliar extra-hepática, mais especifica das doenças obstrutivas, (ex.: litíase, carcinoma
da cabeça do pâncreas) do que das obstruções intra-hepáticas, e quanto maior for o
grau de obstrução maior o aumento sérico. O doseamento da γ-GT é um dos
indicadores mais sensíveis de colestase porque os níveis séricos desta enzima são os
primeiros a subir quando ocorre obstrução dos ductos biliares. É mais elevado nas
lesões que ocupam espaço e nas obstrutivas do que nas lesões dos hepatócitos. Tem
sido utilizada para esclarecer a origem hepática ou não hepática nos casos em que os
níveis de ALP estão aumentados.
2.9 ESTUDO DA FUNÇÃO PANCREÁTICA
O pâncreas é um órgão de grande importância pelas suas funções exócrinas e
endócrinas. A pancreatite é uma patologia do pâncreas exócrino, caracterizado por
uma dor abdominal intensa, acompanhada muitas vezes por vómitos e náuseas,
podendo evoluir para condições clinicas muito graves. Em situações agudas ou
crónicas, de causas muito variadas, há a libertação das enzimas pancreáticas, por
necrose tecidular. As mais relevantes em termos laboratoriais são a α-amílase e a
lípase. O seu doseamento conjunto é muito útil no diagnóstico de pancreatites agudas.
No entanto, o pâncreas é muito sensível a situações inflamatórias ou metabólicas no
peritoneu e em órgãos adjacentes.
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51
α- amílase total e amílase pancreática
As amílases são uma classe de hidrólases que decompõem os hidratos de carbono
poliméricos e são produzidas, maioritariamente, nas glândulas salivares e no pâncreas
exócrino. O doseamento de α-amílase total no soro é um dos parâmetros analíticos
mais pedidos para esclarecimento de quadros clínicos de pancreatite aguda e fases
inflamatórias da pancreatite crónica. Não sendo específica do pâncreas, tem menor
especificidade do que a determinação da isoenzima amílase pancreática (p-amilase).
Valor semiológico: aumentos superiores a 600x o valor de referência, são muito
sugestivos de pancreatite. Aumenta no soro após 6 a 48h do início dos sintomas e
permanece elevada por cerca de 3 a 5 dias. A concentração sérica não é proporcional
à gravidade, mas a sua monitorização laboratorial permite avaliar a evolução da
doença, uma vez que a persistência dos valores elevados sugere necrose continuada
dos tecidos.
Lipase
As lípases são enzimas que hidrolisam os ésteres do glicerol e conjuntamente com as
colipases e sais biliares, digerem os lípidos, exercendo maior atividade no pâncreas,
sendo por isso mais específica que a α-amílase, na avaliação da função pancreática.
Valor semiológico: Na pancreatite aguda, a lípase tende a elevar-se no soro ao
mesmo tempo que a α-amilase e mantém-se elevada por 7 a 10 dias. Valores muito
elevados não são prognósticos de gravidade e a normalização dos valores não
significa que tenha havido a resolução do quadro clinico.
2.10 MARCADORES BIOQUIMICOS DA DOENÇA CARDIOVASCULAR
Marcadores de lesão miocárdica: CK-MB; mioglobina e troponina
A creatina cinase fração MB (CK-MB) é uma isoenzima que se encontra em maior
quantidade no citoplasma do músculo cardíaco, sendo por isso um bom marcador de
lesão de necrose do miocárdio (ex.: enfarte agudo do miocárdio). Inicia a sua subida 2-
3 horas após início dos sintomas, atinge um pico às 12h e normaliza os valores ao fim
de 2 a 3 dias. Elevações acentuadas de CK-MB podem estar associadas a situações
clinicas em que há um elevado turnover do músculo-esquelético (ex.: miosites e
rabdomiolise) e não a lesão do miocárdio.
A troponina é um complexo de 3 subunidades proteicas, presentes no músculo
cardíaco e no músculo estriado, com função de regular o mecanismo de contração
muscular. A isoforma cardíaca troponina T (cTnT) encontra-se livre no citoplasma ou
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ligada a proteínas, e nas fases precoces de lesão do miocárdio é libertada a forma
livre. Eleva-se 3 a 12h após a lesão do miocárdio, tem um pico entre as 12 e 48h e
normaliza ao fim de 7 a 14 dias. Para além do valor diagnóstico no enfarte agudo do
miocárdio (EAM), a troponina T tem valor como marcador de prognóstico de morte por
causas cardíacas e de eventos isquémicos recorrentes em casos de EAM com e sem
elevação do segmento ST.
A mioglobina é uma proteína presente no músculo estriado (esquelético e cardíaco) e
no músculo liso. Tem alta afinidade para o oxigénio, tendo a função de reservatório e
transporte de oxigénio aos miócitos. Quando há lesão do miocárdio a mioglobina é
libertada mais precocemente, iniciando-se entre 1 e 5h, tendo o pico entre as 4 e as
12h e normalizando por volta das 24h.
Valor semiológico: O aumento do CK-MB, cTnT e a mioglobina tem valor no
diagnóstico do EAM no contexto clinico de isquemia, no prognóstico (proporcional ao
valor máximo observado), na monitorização da eficácia da reperfusão do miocárdio ou
após terapêutica médica ou cirúrgica.
Marcador de stress hemodinâmico
O péptido natriurético tipo B (BNP, brain natriuretic peptide), secretado
predominantemente pelos ventrículos cardíacos, tem como função regular a pressão
arterial.
Valor semiológico: O BNP e o seu precursor NT-proBNP são marcadores
bioquímicos importantes na deteção precoce e no diagnóstico de insuficiência
cardíaca. No entanto, estes marcadores não são específicos da insuficiência cardíaca
e os seus níveis séricos são afetados por vários fatores (idade, sexo, etnia) e
condições patológicas não cardíacas (Ex.: renais, pulmonares e sistémicas).
2.11 ENDOCRINOLOGIA
O sistema endócrino é composto por um conjunto de órgãos com função de regular o
metabolismo, crescimento, fertilidade e responder às alterações no equilíbrio
homeostático. Os principais órgãos são: hipotálamo, hipófise, tiroide, paratiroide,
suprarrenais e órgãos reprodutores. O hipotálamo segrega diferentes hormonas que
estimulam a hipófise. A hipófise por sua vez segrega hormonas que estimulam outros
órgãos endócrinos. A doença endócrina pode ser descrita como a híper ou a
hipossecreção de uma hormona, e é diagnosticada laboratorialmente através da
quantificação direta das hormonas, nas amostras biológicas.
VIII Mestrado em Análises Clínicas Regina Viseu
53
Função hipofisária (eixo hipotálamo-hipófise)
A disfunção da função hipofisária deve-se normalmente ao excesso de produção
hormonal ou ao seu défice. A hiperplasia celular é a principal causa de excesso de
produção hormonal enquanto o deficit pode ter diversas causas.
Prolactina – é uma hormona produzida na hipófise anterior e controlada pelo
hipotálamo que atua ao nível da glândula mamária, sendo responsável pelo controlo e
manutenção da lactação. A dopamina inibe a libertação da prolactina pela hipófise,
enquanto a sua secreção é estimulada pela hormona libertadora de tirotrofina (TRH).
Valor semiológico: útil na avaliação e diagnóstico de tumores hipofisários,
amenorreia, galactorreia, infertilidade e hipogonadismo.
Hormona do crescimento (GH) – Segregada pela hipófise anterior em resposta a
estímulos como o exercício, hipoglicémia, sono profundo e ingestão proteica. Estimula
os hepatócitos a sintetizar o fator de crescimento semelhante à insulina tipo 1 (IGF-1)
e mobiliza as reservas hepáticas de ácidos gordos.
Valor semiológico: útil na monitorização e diagnóstico de alterações do crescimento
(ex.: acromegália nos adultos e nanismo/gigantismo nas crianças).
Função tiroideia (eixo hipotálamo-hipófise-tiroide)
As disfunções da glândula tiroideia (hipo e hipertiroidismo) são situações muito
prevalentes na população geral. O hipotálamo segrega TRH que estimula a hipófise
anterior a segregar TSH. O principal mecanismo de regulação da ação biológica das
hormonas da tiroide é a libertação da TSH pela hipófise, cujo ritmo de secreção é
circadiano. A TSH estimula a tiroide a sintetizar e segregar as hormonas tiroxina (T4) e
triiodotironina (T3), que circulam no sangue sob duas formas (total e livre). As frações
livres da T4 (T4L) e da T3 (T3L) são biologicamente ativas. A avaliação da função
tiroideia é realizada pelo doseamento de TSH juntamente com a T4L. Em casos
complexos (maior dificuldade diagnóstica ou maior gravidade clínica) avalia-se com a
determinação da TSH, T4L e T3.
Valor semiológico: rastreio de patologias da tiroide, monitorização do hipotiroidismo e
do hipertiroidismo, situações específicas, tais como, tiroidectomizados, doentes
submetidos a irradiação do pescoço, doentes medicados com fármacos que podem
afetar a função tiroideia, ou na confirmação do diagnóstico de hipotiroidismo
congénito.
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54
Função supra-renal (eixo hipotálamo-hipófise-supra-renal)
As glândulas supra-renais são fundamentais para os mecanismos adaptativos do
organismo humano ao meio ambiente, bem como na regulação de diferentes
processos fisiológicos, estando interrelacionados os outros órgãos endócrinos e com o
sistema nervoso autónomo. A hormona adrenocorticotrópica (ACTH) é produzida na
hipófise anterior e a sua libertação é estimulada diretamente pela hormona
hipotalâmica de libertação de corticotrofinas (CRH) e indiretamente pela hormona
antidiurética (ADH). A ACTH estimula a secreção de glucocorticoides (Ex.: cortisol)
mineralocorticóides (Ex.:aldosterona) e de androgénios no córtex da supra-renal.
Avaliação da relação entre hipotálamo-hipófise-supra-renal é baseada na medição da
ACTH e das hormonas adrenais em condições basais e após estimulação. Na área
Core são doseados a ACTH e o Cortisol, tendo em consideração, na fase pré-
analítica, o ritmo circadiano de libertação do Cortisol e ACTH, na avaliação da função
do córtex supra-renal.
Valor semiológico: O doseamento do Cortisol total conjuntamente com a ACTH
permite o rastreio da insuficiência adrenal (Ex.: Doença de Addison); o diagnóstico
diferencial da síndrome de Cushing, auxiliando na discriminação entre causas
primárias (adenoma, carcinoma, ou hiperplasias nodulares) ou secundárias por
excesso de ACTH (tumores hipofisário ou ectópico).
Função das Gónadas (eixo hipotálamo-hipófise-gónadas)
As gonadotrofinas FSH e LH, produzidas na hipófise, estimulam o funcionamento das
gónadas masculinas (testículos) e femininas (ovários). Nas mulheres, são libertadas
de forma pulsátil e atuam dentro do circuito regulador hipotálamo-hipófise-ovários para
controlar o ciclo menstrual. A FSH é responsável pela maturação do folículo
germinativo, pela secreção de estrogénios (estradiol, estriol e estrona) e pelo
amadurecimento do óvulo durante a fase folicular. Na fase intermédia do ciclo a LH
aumenta para estimular a ovulação, a libertação e migração do óvulo para as trompas
de Falópio e para o útero. Na fase lútea a LH estimula a secreção de progesterona.
Nos homens a FSH estimula a espermatogénese e a LH estimula a produção de
testosterona pelas células de Leydig dos testículos.
Valor semiológico: O doseamento da FSH e da LH tem o seu maior valor
semiológico no diagnóstico etiológico do hipogonadismo e no estudo da amenorreia,
mas também no diagnóstico de doenças congénitas com anomalias cromossómicas
(ex. síndrome de Turner), ovários poliquistícos e síndrome de menopausa.
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55
2.12 URINA E OUTROS LÍQUIDOS BIOLÓGICOS
A maioria dos fluidos corporais são ultrafiltrados do sangue que passaram por
determinados processos em tecidos específicos ou são produzidos por transporte
ativo. Nesses fluidos podem ser encontrados marcadores bioquímicos que não estão
presentes no sangue ou então se encontram em concentrações diferentes. A sua
análise pode ser útil no diagnóstico, no prognóstico e no grau de severidade de
algumas patologias.
Exame sumário de urina
O exame sumário de urina (urina tipo II) é um teste não invasivo de rotina que consiste
num exame físico-químico e do sedimento de uma amostra de urina. Permite detetar
patologias intrínsecas do sistema urinário de diferentes origens (ex.: infeções,
glomerulonefrite, perda de capacidade de concentração da urina), quer fisiológicas
quer anatómicas; patologias extra-renais (ex.: glicosúria na diabetes, proteinúria nas
gamapatias monoclonais, bilirrubinúria nas doenças hepáticas); permite monitorizar a
evolução clínica e a resposta ao tratamento.
No exame físico-químico da urina é determinada a densidade e o pH, e semi-
quantificados as esterases leucocitárias (granulócitos), nitritos, glicose, corpos
cetónicos (acetoacetato), proteínas, hemoglobina, pigmentos biliares e urobilinogénio.
No exame do sedimento procede-se à identificação, caracterização e quantificação
dos elementos figurados clinicamente mais significativos (ex.: células epiteliais,
leucócitos, eritrócitos, cilindros e cristais), por citometria de fluxo (UF1000i).
O exame microscópico do sedimento urinário efetua-se quando há discordâncias entre
o exame físico-químico e a citometria de fluxo, se o resultado acrescentar valor ao
diagnóstico clinico, se a citometria de fluxo não puder ser realizada por alguma razão
(ex.: volume de amostra insuficiente) ou se houver necessidade de identificar a
presença de acantócitos (eritrócitos dismórficos).
Valor semiológico: Útil na abordagem de patologia nefrológica, urológica e sistémica.
Permite detetar patologias intrínsecas do sistema urinário de diferentes origens, quer
fisiológicas quer anatómicas; patologias extra-renais, monitorizar a evolução clinica e a
resposta ao tratamento. Os principais elementos patológicos que podem ser
observados são hemácias, leucócitos e cilindros, e os menos importantes são
leveduras, cristais ou células epiteliais.
A Cor é um parâmetro muito variável e pouco confiável (sangue, hemoglobina,
bilirrubina, corantes alimentares, medicamentos), e a Turvação pode ser devida à
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56
precipitação de fosfatos não tendo relevância clinica, por quilúria, leucocitúria ou
hematúria. Ambos apresentam baixa sensibilidade e especificidade.
A Densidade correlaciona-se com a osmolalidade urinária, ajudando a definir o estado
de hidratação do doente e reflete a capacidade do rim em concentrar a urina.
As alterações do pH urinário geralmente são produzidas em resposta às variações do
pH sérico, com exceção dos doentes com acidose tubular renal, nos quais ocorre uma
incapacidade de acidificar a urina para um pH inferior a 5.5. A determinação do pH é
ainda útil no diagnóstico e abordagem da litíase renal e infeções urinárias.
A hemoglobina positiva na tira de teste acompanhada de observação de hematúria no
sedimento, pode ser de origem renal quando associada à presença de proteinúria; ser
de origem glomerular quando associada à presença de proteinúria, cilindrúria e
eritrócitos dismórficos, ou de origem urológica quando não se observa cilindros,
eritrócitos dismórficos e muitas vezes sem proteinúria. Nas infeções do trato urinário a
hematúria é acompanhada geralmente por leucocitúria e clínica de infeção.
Na proteinúria é necessário efetuar o diagnóstico diferencial para esclarecimento da
sua causa. Pode ser transitória ou intermitente e as proteínas existentes são
maioritariamente as de baixo peso molecular, como a albumina, a proteína de Tamm-
Horsfall (produzida no trato urinário), as microglobulinas, as proteínas presentes nas
secreções prostática e seminal; podem ocorrer em situações de síndromes febris,
exercício físico intenso, ingestão proteica excessiva, desidratação e ortostatismo. A
proteinúria persistente pode ser por causas não renais (Insuficiência cardíaca
congestiva, Diabetes mellitus, proteinúria de Bence-Jones, ou renais (glomerulares ou
tubulares) e pós-renais (processos inflamatórios, infeciosos ou não, neoplasias,
prostatite e uretrite).
A glicosúria ocorre quando a quantidade de glicose filtrada ultrapassa a capacidade de
reabsorção do rim (180 a 200 mg/dL), observa-se em situações de hiperglicemia (ex.:
Diabetes mellitus) ou em situações de normoglicémia (ex.: nefropatias com disfunção
do tubo contornado proximal ou na gravidez).
A Cetonúria é detetada em casos de cetoacidose diabética, mas também quando há
jejum prolongado, vómitos ou exercício físico extremo.
A presença de nitritos significa a presença de bactérias em quantidades significativas
(conversão dos nitratos pelas bactérias).
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57
A presença de esterase leucocitária é um sinal de piúria, sendo a cistite a causa mais
frequente. Observação de leucócitos no sedimento pode significar infeção urinária alta
ou baixa; inflamação por glomerulonefrite, nefrite intersticial ou litíase.
A presença de bilirrubina na urina representa bilirrubina conjugada e indica possível
colestase, o urobilinogénio aumenta em situações de hemólise e doença hepatocelular
(permitindo diferenciá-las das obstruções biliares, nas quais o urobilinogénio não é
detetado).
As células tubulares quando presentes em número elevado podem estar associadas a
patologias relacionadas com lesão dos túbulos renais (ex.: necrose tubular aguda ou
nefrite intersticial aguda). As células do epitélio de transição em número elevado estão
relacionadas com a lesão epitelial associada a diversos processos inflamatórios,
infeciosos ou não, degenerativos ou neoplásicos. As células epiteliais pavimentosas
não têm significado clínico.
Os cilindros hialinos são constituídos quase exclusivamente por proteínas (proteína de
Tamm-Horsfall e albumina) e estão aumentados quando há proteinúria, mas presentes
em indivíduos normais. Existem também cilindros granulosos, constituídos por
proteínas plasmáticas ou fragmentos celulares, que são observados na presença de
glomerulonefrite crónica. Cilindros cerosos representam a degeneração dos cilindros
celulares, ocorrem na necrose tubular aguda e na doença renal crónica. Os cilindros
eritrocitários indicam uma lesão renal glomerular. Cilindros leucocitários são muito
sugestivos de pielonefrite. Os cilindros céreos refletem a fase final da dissolução dos
grânulos de cilindros granulosos e estão associados a estase muito grave nos túbulos
renais. Os cilindros gordurosos são característicos de lesão tubular renal e são
constituídos por colesterol e triglicéridos.
A presença de cristais pode constituir uma evidência de formação de cálculos e de
certas doenças metabólicas. São formados pela precipitação dos sais da urina e estão
diretamente ligados ao pH. Numa urina ácida pode-se observar cristais de ácido úrico,
cistina e oxalato de cálcio, enquanto numa alcalina podem-se encontrar cristais de
fosfato.
Exame bioquímico do Líquido Cefalorraquidiano (LCR)
O LCR é um líquido incolor que preenche o espaço entre as meninges, assim como o
canal central da espinal medula. O seu volume total é aproximadamente 125-150mL
no indivíduo adulto e a cada hora são produzidos cerca de 20mL. O LCR tem várias
funções, nomeadamente a proteção do cérebro das alterações súbitas de pressão,
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58
manutenção do ambiente químico e eliminação dos produtos do metabolismo cerebral.
Alterações no sistema nervoso central, causadas por mecanismos patológicos
próprios, podem refletir-se em diversas alterações macroscópicas, microscópicas e
químicas do LCR.
O exame laboratorial do LCR pode ser útil no diagnóstico de uma grande variedade de
patologias neurológicas. Os parâmetros laboratoriais mais pedidos na rotina são a
contagem de células, exame cultural e, como parâmetros bioquímicos, o doseamento
de proteínas totais e glicose.
Proteínas: O LCR é um ultrafiltrado do plasma, pelo que, em situações normais
predominam proteínas de baixo peso molecular (ex.: pré-albumina, albumina e
transferrina). A permeabilidade da barreira hematocefálica às proteínas plasmáticas
pode sofrer alterações em situações clinicas que aumentam a pressão intracraniana.
O doseamento das proteínas no soro deve ser determinado simultaneamente para
diferenciar entre o aumento da permeabilidade da barreira e a produção aumentada
nas meninges.
Valor semiológico: Ocorrem aumentos significativos nas meningites bacterianas,
aumentos mais discretos são compatíveis com quadros clínicos de outras doenças
inflamatórias, neoplásicas ou hemorrágicas.
Glicose: A concentração de glicose no LCR é mantida por difusão simples e por
transporte facilitado, nos capilares e vilosidades aracnoides, ou por consumo pelas
células do tecido nervoso circundante. O equilíbrio com a concentração do plasma
leva tempo a atingir e a razão LCR/plasma é normalmente 0.6 em condições normais.
Os níveis de glicose no LCR podem estar alterados em várias condições patológicas.
Valor semiológico: Concentrações baixas de glicose no LCR estão associadas a
infeções do sistema nervoso central por micobactérias e fungos. Valores <1.0 mmol/L
são fortemente preditivos de meningites bacterianas. Nas infeções virais os níveis de
glicose encontram-se tipicamente normais, embora possa haver exceções (ex.: vírus
herpes e enterovirus.
Exame bioquímico do Liquido Ascítico (LAS) /peritoneal
A ascite é um sinal clínico que designa a acumulação anormal de fluido dentro da
cavidade peritoneal e a sua produção depende da permeabilidade vascular e da
pressão hidrostática e oncótica. O fluido pode ser um transudado ou um exsudado.
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59
O transudado é um ultrafiltrado do plasma que atravessa os capilares sanguíneos e é
drenado pelo sistema linfático (acumula menos de 5mL em situações normais), o seu
acúmulo resulta do aumento da pressão hidrostática ou da diminuição da pressão
oncótica do plasma.
O exsudado resulta do aumento da permeabilidade capilar ou da diminuição da
reabsorção linfática, que ocorre em processos de inflamação e é rico em proteínas e
células (ex.: leucócitos).
Vários processos patológicos estão na origem do acúmulo de liquido ascítico,
nomeadamente, hipertensão portal, hipoalbuminémia, aumento da permeabilidade
capilar e neoplasias. Clinicamente é importante distinguir o transudado do exsudado.
Cerca de 80 % das amostras de LAS são do tipo transudativo e de causa hepática. Os
testes laboratoriais mais úteis para distinguir entre transudado e exsudado num LAS
incluem o doseamento das proteínas totais, que quando superior a 3 g/dL sugere que
o líquido é um exsudado, podendo ter uma causa inflamatória ou neoplásica.
A presença ou ausência de hipertensão portal é estabelecida calculando a diferença
entre o doseamento de albumina no soro e no LAS (SAAG, serum-ascites albumin
gradient), numa colheita simultânea, o gradiente é elevado no transudado
(Hipertensão portal) e diminuído no exsudado.
Valor semiológico: Esclarecimento das causas de ascite.
B – HEMATOLOGIA CLÍNICA
Esta área é composta por uma série de equipamentos bastante automatizados, uns
ligados ao sistema modular e outros independentes, que permitem o estudo da
hematologia geral (hemograma, velocidade de sedimentação globular e estudo da
hemóstase) e da imunohematologia.
Neste estágio, acompanhei, como observadora, a manutenção e calibração diária dos
equipamentos, e a execução dos parâmetros de hematologia geral. O
acompanhamento da validação analítica dos hemogramas deu-me a oportunidade de
aplicar os conhecimentos adquiridos na frequência das disciplinas de hematologia,
comparando a minha observação dos esfregaços de sangue, ao microscópio óptico,
com o relatório do aparelho automático e a respetiva validação biopatológica efetuada
pelo especialista da área. Irei abordar as metodologias aplicadas e os parâmetros
analíticos mais requisitados.
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1. Sistemas analíticos, metodologias, parâmetros analíticos e valor semiológico
1.1 ADVIA® 2120i Hematology System / ADVIA® 2120i Hematology System With autoslide
Fig. 23 ADVIA® 2120i Fig.24 ADVIA® 2120i autoslide
(www.diamonddiagnostics.com/equipment/Hem/Siemens_Advia_2120.htm)
Equipamento totalmente automatizado contendo um módulo autosampler onde as
amostras são transportadas, homogeneizadas, identificadas e aspiradas diretamente
do tubo de colheita fechado. Possui uma parte mecânica, denominada circuito
unificado de fluídos, que contem 5 câmaras de reação ou canais: canal de
hemoglobina (HGB), canal de eritrócitos/plaquetas (RBC / Plt), canal de reticulócitos
(retic), canal de peroxidase (perox) e canal de basófilos (baso). A parte óptica é
constituída por uma lâmpada de tungsténio-halogénio (leitura do canal de peroxidase),
um fotocolorimetro (leitura do canal de hemoglobina) e um díodo com um laser como
fonte de luz (leitura dos canais RBC/Plt, reticulócitos e basófilos).
Este equipamento permite a contagem completa dos elementos figurados do sangue.
Os parâmetros hematológicos medidos quantitativamente são os leucócitos (WBC), os
eritrócitos (RBC), a concentração de hemoglobina (HGB), os reticulócitos e as
plaquetas (Plt), e são calculados matematicamente, a partir deles, os seguintes
índices: o hematócrito (HCT), o volume globular médio (MCV), a concentração de
hemoglobina globular média (MCHC), a hemoglobina globular média (HCM), o volume
médio de plaquetas (MPV), o coeficiente de variação da distribuição do volume
eritrócitário (RDW) e das plaquetas (PDW).
O sistema informático apresenta os resultados finais em tabelas, histogramas e
citogramas. Sempre que haja valores fora do previamente estabelecido como normal
(ex.: valores de referência, deltacheck), o equipamento emite alertas, para que o
resultado seja revisto pelo operador.
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1.1.1 Hemograma
O hemograma consiste num conjunto de parâmetros resultantes da contagem das
diferentes linhagens celulares e dos índices hematológicos calculados. O hemograma
normal traduz a normalidade anatomofisiológica dos órgãos hematopoiéticos e o
equilíbrio do turnover dos diferentes elementos figurados do sangue. É um dos
exames laboratoriais mais solicitados pelos clínicos, porque tem elevado valor
semiológico no rastreio e na monitorização de diferentes patologias, de causa
hematológica e não hematológica. Alterações no hemograma expressam alterações
fisiológicas e patológicas do organismo.
Fig. 25 Diferentes apresentações dos resultados do hemograma no equipamento ADVIA®2120.
1.1.2 Validação analítica do hemograma
Na validação analítica do hemograma é importante observar os resultados numéricos,
os histogramas (nº de eventos) e os citogramas (distribuição do nº de eventos nas
diferentes áreas), para esclarecer as possíveis causas dos alertas gerados pelo
equipamento e aferir a necessidade de avaliar a morfologia do sangue periférico. Para
interpretar as informações dadas pelo equipamento é necessário compreender as
especificações das reações citoquímicas, nos diferentes canais de reação, e os
parâmetros determinados e calculados em cada um.
Canal basófilos
As reações citoquímicas neste canal compreendem, numa primeira fase, a lise dos
eritrócitos e das plaquetas, e numa segunda fase a lise do citoplasma de todos os
leucócitos com exceção dos basófilos. Podemos observar no citograma a distribuição
dos basófilos e dos núcleos dos restantes leucócitos, numa combinação do seu
tamanho e complexidade, e classificar os leucócitos como mononucleares (MN) ou
polimorfonucleares (PMN) baseado no tamanho, forma e complexidade dos núcleos
(fig.2). Os basófilos intactos podem distinguir-se facilmente dos núcleos pequenos. (4)
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62
Fig. 26 Citograma gerado no canal de basófilos.
Os eritroblastos podem aparecer misturados na população de PMN, mas como vão ser
identificados no método da peroxidase, o equipamento gera um alarme e corrige a
contagem dos leucócitos totais (WBC).
Fig. 27 Histograma gerado no canal de basófilos.
A partir deste histograma o equipamento calcula o índice de lobularidade que nos dá
uma indicação da normalidade da amostra. É calculado pelo valor do pico das PMN no
eixo do x (2) a dividir por 14, valores inferiores a 1.9 são normalmente indicativos de
situações anómalas.
Canal peroxidase
A reação citoquímica neste canal ocorre em 3 passos sequenciais: os eritrócitos são
lisados (dodecil sulfato de sódio e Brij-35 e temperatura 58°C -72.1°C), os leucócitos
são fixados (formaldeído) e posteriormente corados (4-cloro-1-naftol é o substrato e
juntamente com o peroxido de hidrogénio formam um precipitado escuro pela ação da
peroxidase existente nas granulações dos leucócitos).
Os leucócitos são identificados com base no seu tamanho e intensidade da reação de
coloração. Os neutrófilos, eosinófilos e monócitos são corados de acordo com a
atividade da peroxidase no citoplasma. Os linfócitos e basófilos não coram porque não
tem atividade da peroxidase.
1 restos celulares
2 núcleos de blastos
3 leucócitos mononucleares MN (núcleos de
linfócitos e monócitos)
4 basófilos
5 basófilos suspeitos
6 saturação (artefactos)
7 leucócitos polimorfonucleares PMN
(núcleos de neutrófilos e eosinófilos)
1 mononucleares
2 polimorfonucleares
3 separação das duas populações
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Fig. 28 Histograma gerado no canal da peroxidase.
Os eritroblastos (2) são de pequenas dimensões e não têm peroxidase, a sua
contagem neste canal, juntamente com o obtido no canal baso, é subtraída ao total de
leucócitos. Os agregados plaquetários (3) não entram nas contagens celulares, mas
geram um alerta pelo sistema informático. Os linfócitos e basófilos aparecem na
mesma região (4) porque têm o mesmo tamanho e não têm peroxidase. As células de
grandes dimensões não coradas (5), classificadas como LUC (large unstained cells),
correspondem a linfócitos atípicos, blastos ou outras células anormais, e geram um
alerta quando o seu número é elevado. Os monócitos, neutrófilos e eosinófilos ficam
em regiões separadas devido ao diferente tamanho e conteúdo em peroxidase. Os
eosinófilos têm dimensão semelhante aos neutrófilos, mas com maior conteúdo em
peroxidase, no entanto aparecem no citograma separados dos neutrófilos pelo
tamanho, como se fossem mais pequenos, porque coram tão intensamente que
absorvem a luz que deveria ser refletida. Neste canal são gerados alertas referentes
aos valores absolutos dos leucócitos totais ou das diferentes linhagens, inferiores ou
superiores ao valor de referência; presença de eritroblastos (> 1%); presença de
agregados plaquetários; bastonetes (≥10%), linfócitos atípicos (>10%); presença de
blastos (>1%) e presença de granulócitos imaturos (>1).
Canal hemoglobina
A reação citoquímica inicia-se com a lise dos eritrócitos com a consequente libertação
da hemoglobina, o ferro do grupo heme da hemoglobina é oxidado (ião ferroso para
ião férrico) e conjugando-se com um ião hidróxido e uma molécula de água formam o
monoaquomonohudroxiferri-porfirina como produto final, que é lido no fotocolorímetro
a 546nm. O cálculo da hemoglobina pode ser efetuado usando os índices HCM e o
MCHC, ambos representam a concentração globular média da hemoglobina na
amostra. O HCM é um parâmetro medido diretamente pela análise célula a célula,
enquanto o MCHC é um parâmetro calculado com base na concentração de
hemoglobina, volume globular médio e número de eritrócitos. Se estes dois índices
1 restos celulares, plaquetas
2 eritroblastos
3 agregados plaquetários
4 linfócitos e basófilos
5 grandes células não coradas
6 monócitos
7 neutrófilos
8 eosinófilos
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diferirem mais de 1,9 g/dL, o aparelho emite um alerta. Uma das possíveis causas
para essa diferença pode ser a lipémia que interfere com o doseamento da
hemoglobina, levando a resultados falsamente elevados nos métodos colorimétricos.
Canal eritrócitos/plaquetas
A reação citoquímica ocorre em dois passos distintos: primeiro os eritrócitos e as
plaquetas vão adquirir a forma isovolumetricamente esférica pela ação dos reagentes
dodecil sulfato de sódio (SDS) e glutaraldeido, eliminando a forma como fator de
variação, e posteriormente são fixados.
O método de contagem dos eritrócitos e das plaquetas baseia-se na teoria de Mie
sobre a dispersão da luz em esferas homogéneas. Células esféricas ao passarem
individualmente num fluxo contínuo são atravessadas por dois feixes de luz com
ângulos diferentes. Nos eritrócitos, a dispersão da luz correspondente ao ângulo
menor (2º-3º) correlaciona-se com o volume da célula e a dispersão da luz do ângulo
maior (5º a 15º) correlaciona-se com o conteúdo em hemoglobina. Os mesmos
ângulos são usados para analisar as plaquetas, mas os sinais são ampliados (30 x no
ângulo menor e 12 x no ângulo maior).
Fig. 29 Histograma do volume da célula.
A partir deste histograma é calculado o volume globular médio (MCV) e o coeficiente
de variação da distribuição do volume eritrocitário (RDW). O MCV permite classificar a
população de eritrócitos numa amostra como microcítica, normocítica ou macrocítica
(fig.5), pela percentagem de células em cada região. O RDW dá informação sobre o
grau de anisocitose e o equipamento emite um alerta quando a percentagem excede
os 16%.
Fig. 30 Histograma da concentração em hemoglobina.
1 região microcítica
2 região normocítica
3 região macrocítica
4 linha 60fL
5 linha 120fL
1 região hipocrómica
2 região normocrómica
3 região hipercrómica
4 linha 28g/dL
5 linha 41g/dL
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A partir deste histograma obtém-se o valor da concentração de hemoglobina média e a
classificação da amostra como hipocrómica, normocrómica ou “hipercrómica” (fig.6).
Valores de hemoglobina média superiores a 3,4 g/dL emitem um sinal de alerta.
Fig.31 Citograma volume da célula/hemoglobina.
As linhas no citograma separam morfologicamente os eritrócitos em 9 áreas distintas.
O eixo do x corresponde à concentração de hemoglobina e o eixo do y corresponde ao
volume dos eritrócitos. É possível avaliar simultaneamente a cor e o tamanho dos
eritrócitos na amostra (fig.7).
Fig.32 Citograma do volume de plaquetas/ índice de refração.
Este citograma permite distinguir 5 áreas, morfologicamente diferentes, com base no
volume e índice de refração (fig.8). O índice de refração depende do conteúdo interno
das plaquetas (granulação). É calculado o coeficiente de variação da distribuição do
volume plaquetário (PDW).
Canal de reticulócitos
A reação citoquímica neste canal inicia-se pela esferificação isovolumétrica dos
eritrócitos e plaquetas (detergente zwitterionic) e posteriormente os reticulócitos são
caracterizados (fig.9) pela marcação do seu conteúdo em RNA (corante Oxazina 750).
Fig. 33 histograma da concentração em hemoglobina.
1 linha 60fL
2 linha 120fL
3 linha 28g/dL
4 linha 41g/dL
1 plaquetas
2 plaquetas gigantes
3 eritrócitos
4 fragmentos de eritrócitos
5 sombras de eritrócitos
Eritrócitos (vermelho)
Reticulócitos (azul)
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Fig.34 Citograma da maturação/tamanho da célula.
As células passam individualmente num fluxo contínuo e são atravessadas pela luz,
em dois ângulos diferentes. A dispersão da luz do ângulo menor e do ângulo maior
são proporcionais ao tamanho e concentração em hemoglobina, respetivamente. A
absorção da luz é proporcional ao conteúdo de RNA da célula. Os reticulócitos
absorvem mais luz do que os eritrócitos maduros.
1.1.3 Morfologia do sangue periférico
O equipamento ADVIA® 2120i com autoslide efetua, de forma automática, a
preparação dos esfregaços de sangue periférico pelo método de coloração de May-
Grünwald-Giemsa. Os resultados, quantitativos e qualitativos, obtidos no contador
automático de hematologia, que não cumprem os critérios de validação automática
emitem alarmes. Na tabela 14 estão descritos exemplos de alarmes, que fazem
ponderar a necessidade de executar e observar o esfregaço de sangue periférico.
Tabela 14 – Exemplo de critérios de alarmes por parâmetro:
Parâmetro/alarme
Unidades
Adultos
Recém-nascidos
(1ª semana)
Δ % valores ou
alteração/analises
anteriores
(deltacheck)
Hemoglobina g/dL <7 ou >19 <14 ou >26 >1g/dL em
menos de 30
dias
MCV fL <70 ou >110 <90 ou >130 >10% ou 3DP
em menos de 30
dias
CHGM g/dL >36
RDW % >20 >10% ou 3DP
em menos de 30
dias
Reticulócitos 109/L >250
Fragmentos de eritrócitos
(esquistócitos)
≥1%
Eritrócitos maduros
Reticulócitos
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Tabela 14 – Exemplo de critérios de alarmes por parâmetro (cont.)
Parâmetro/alarme
Unidades
Adultos
Recém-nascidos
(1ª semana)
Δ % valores ou
alteração/analises
anteriores
(deltacheck)
Eritroblastos %
(leucócitos)
>1% (presentes) RN termo >1,9%
RN pré-termo >5,5%
Plaquetas 109/L <100 ou >600 ↓ ≥ 50% em 3
dias
Plaquetas gigantes fL >10% (>1 em 10)
Agregados plaquetários Presentes
Leucócitos totais 109/L <2 ou >30
Neutrófilos 109/L <1 ou >20
Bastonetes
(↓ do vale de MN e PMN
no canal Baso)
% ≥10%
Eosinófilos 109/L >2 ou ≥1,5 durante 6
meses
Basófilos 109/L 0,5 ou ≥4%
Linfócitos 109/L >5 (>12 anos)
>7 (até 12anos)
Linfócitos atípicos % >10% ou >5% se
linfocitose significativa
Monócitos 109/L >1,5 (adultos)
>3 até 12 anos
Blastos % >1% (presentes)
Granulócitos imaturos % >1% promielócitos/mielócitos
≥2% metamielócitos
As alterações morfológicas observadas nos esfregaços de sangue periférico, com
interesse clínico, que devem ser reportadas no relatório estão descritas na tabela 15.
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Tabela 15 – As alterações morfológicas das diferentes linhagens celulares:
Eritrócitos
Anisocitose (RDW >20%) Acentuada
Poiquilocitose (se houver anemia) Moderada
Se houver uma forma predominante reportar
Eliptócitos/ovalócitos e estomatócitos
≥20% ou ≥1 em 5 eritrócitos
Acentuada
Macrócitos ovais
≥1 em 50 eritrócitos
Acentuada
Dianócitos
Acantócitos
Equinócitos
Dacriócitos
Esferócitos
>1 em 20 eritrócitos
Drepanócitos presentes
Policromatofilia ≥ 1 em 20 Eritrócitos – moderada
Reticulócitos >250x109/L - acentuada
Aglutinação
Rouleaux
População dismórfica
Eritroblastos
Presentes
Leucócitos
Linfócitos atípicos Se <10% OU >5% se linfocitose
Granulócitos imaturos
Corpos de Dohle Se presentes em >2% dos neutrófilos
Granulações tóxicas e vacuolização Se presentes em >10% dos neutrófilos
Neutrófilos hipersegmentados
(≥ 5 lóbulos em >3% dos neutrófilos ou
≥ 1/30 com 6 lóbulos)
Presentes
Displasia Se presente em ≥10% dos granulócitos
Corpos ou bastonetes de Auer Presentes
Blastos Plasmócitos Presentes
Plaquetas
Plaquetas gigantes Se ≥10% das plaquetas
Plaquetas desgranuladas
Plaquetas hipogranuladas
Plaquetas com granulações anormais
Se ≥10% das plaquetas
Agregados plaquetários
Satelismo plaquetar
Presente
Anisocitose (PDW > 70%) Acentuada
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Valor semiológico: O estudo da série vermelha é crucial para o diagnóstico das
anemias e eritrocitoses. As anemias são as alterações hematológicas mais frequentes
e manifestam-se clinicamente de formas muito variadas e com variadíssimas causas.
A classificação morfológica da anemia tem por base o conteúdo dos eritrócitos em
hemoglobina (hipocrómica, normocrómica e hipercrómica) e o seu tamanho
(macrocítica, normocítica ou microcítica).
A classificação fisiopatológica é com base na perda, diminuição da produção ou
aumento da destruição dos eritrócitos. A contagem de reticulócitos é importante para
diferenciar as anemias regenerativas das não regenerativas. As alterações
quantitativas e qualitativas, objetivadas no hemograma e na morfologia do sangue
periférico, apontam para as possíveis causas da anemia e orientam o clinico para
outros exames complementares de diagnóstico, que ajudem no diagnóstico definitivo e
orientem para a terapêutica correta.
O estudo da série branca inclui a avaliação das alterações qualitativas, quantitativas e
a fórmula leucocitária. Os leucócitos são células envolvidas na resposta imune e
inflamatória. As alterações nos leucócitos podem estar associadas a estados
infeciosos (pode ser índice de gravidade) e neoplasias dos tecidos hematopoiéticos e
linfoide.
Nos estados infeciosos é possível obter informação que nos orienta para o tipo de
agente infecioso. No estudo dos tumores hematopoiéticos e do tecido linfoide, os
critérios morfológicos são importantes, porque muitas patologias têm morfologias
características, e orientam para os testes genéticos, imunohistoquímicos e/ou
imunofenotípicos subsequentes para confirmar o diagnóstico.
O estudo das plaquetas é importante para avaliar a hemóstase primária. As alterações
podem ser qualitativas, afetando a função plaquetária (doenças congénitas, adquiridas
ou doença de von Willebrand), ou quantitativas (trombocitopenias ou trombocitose).
Alterações na contagem automática de plaquetas no hemograma, deve ser confirmada
pela morfologia do sangue periférico, para detetar as alterações morfológicas e de
distribuição, que ajudam a orientar para o diagnóstico.
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1.2 VES-Matic Cube-200
Fig.35 VES-Matic Cube-200
(www.menarinidiag.es/Productos/Hematologia/Velocidad-de-eritrosedimentacion/Ves-Matic-Cube-200)
O Ves-Matic Cube™ 200 é um equipamento automático para a determinação da
velocidade de sedimentação globular, pelo método de Westergren modificado. Os
resultados são equivalentes aos obtidos pelo método Westergren (1 hora) em apenas
28 minutos, incluídos todos os passos desde a agitação, leitura (sensor digital) e
apresentação dos resultados. A técnica está aferida para amostras de sangue total em
tubos de EDTA.
1.2.1 Velocidade de sedimentação globular (VSG)
A VSG é um parâmetro laboratorial que corresponde à velocidade a que, na
suspensão de plasma, os elementos figurados do sangue sedimentam, num tubo
vertical (tubo de Westergren), em condições controladas. Corresponde aos milímetros
de plasma no topo do tubo após 1 hora (mm/h). A VGS depende de fatores
plasmáticos e fatores eritrócitários (ex.: número de eritrócitos e aglutinação). Pode
estar aumentada em casos de anemia e diminuídos nas policitemias. Nos processos
inflamatórios há a formação de rouleaux (agregados de eritrócitos), que por serem
mais densos do que os eritrócitos separados, se depositam no fundo do tubo mais
rapidamente. A velocidade de deposição é proporcional ao grau da resposta
inflamatória do sistema imunitário. A VSG correlaciona-se com os níveis de
fibrinogénio (marcador de inflamação), proteínas de fase aguda e imunoglobulinas. É
um marcador de inflamação pouco específico porque indica um processo inflamatório,
mas não direciona para a sua origem, por outro lado, pode estar aumentado em
condições não inflamatórias.
Valor semiológico: Útil no diagnóstico de doenças inflamatórias. Está aumentada nas
infeções, neoplasias e paraproteinémias (Ex.: mieloma múltiplo). É importante na
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monitorização de crises e reativações em doenças autoimunes e doenças
inflamatórias crónicas e na monitorização da terapêutica (Ex.: Lúpus eritematoso
sistémico). Deve sempre ser interpretada num contexto clínico e não deve ser
prescrito em indivíduos saudáveis.
1.3 BCS® XP System
Fig. 36 BCP® XP (www.healthcare.siemens.com/hemostasis/systems/bcs-xp-system)
O BCS® XP System é um equipamento automático para o estudo da hemóstase.
Executa, numa só plataforma, ensaios coagulimétricos, cromogénicos,
imunoturbidimétricos e aglutinação. Os ensaios coagulimétricos medem o tempo de
coagulação pelo aumento da turvação na amostra de plasma citratado, detetado
fotometricamente, resultante da conversão de fibrinogénio em fibrina, após a adição de
um reagente.
1.3.1 Testes de rastreio para o estudo da coagulação (hemóstase secundária)
Tempo de Protrombina (TP) e International normalized ratio (INR)
O TP corresponde ao tempo de formação do coágulo de fibrina após a adição de
tromboplastina e cálcio ao plasma citratado. O fator tecidual, presente no reagente,
liga-se ao fator VII e inicia a cascata da coagulação pela via extrínseca. A protrombina
é uma proteína produzida no fígado, dependente da concentração de vitamina K e
indispensável à formação do coágulo.
O TP pode ser dado em tempo (segundos), taxa de protrombina (%) e/ou INR. Os
resultados laboratoriais do TP variam significativamente consoante a atividade do fator
tecidual, isolado em diferentes fontes pelos diferentes fabricantes e difere de lote para
lote. O cálculo do INR permite uma uniformização dos resultados de forma a
estabelecer valores de referência utilizáveis em todo o mundo. A fórmula para o
cálculo do INR:
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72
O ISI corresponde ao índice de sensibilidade internacional de cada tromboplastina
(alguns laboratórios utilizam o ISI dado pelo fabricante do reagente), PT é o tempo
protrombina e o MNPT corresponde à média de valores de TP obtidos em amostras
normais, pelo método de referência e utilizando o reagente de tromboplastina
referenciado pela Organização Mundial de Saúde.
Valor semiológico: O TP é um teste de rastreio para detetar o défice de fatores da
coagulação implicados na via extrínseca e comum da cascata da coagulação (I, II, V,
VII ou X), de causa hereditária ou adquirida, doença hepática, défice de vitamina K ou
presença de inibidores da coagulação (ex.: anticorpos antifosfolípidos). Uma das
principais aplicações do TP é a monitorização da terapêutica com anticoagulantes
orais (ex.: Varfarina), de forma a ajustar a dose e avaliar o risco de hemorragia
espontânea vs trombose. No grupo dos anticoagulantes antagonistas da vitamina K é
necessário uma avaliação laboratorial periódica (4 a 6 semanas).
Tempo de Tromboplastina Parcial Ativada (aPTT)
O tempo de tromboplastina corresponde ao tempo de formação do coágulo, de um
plasma citratado, após a adição, primeiramente, de cefalina (composto que substitui os
fosfolípidos da membrana plaquetária) e de um composto que serve de superfície ativa
de contato (sílica ou caulino), e posteriormente cálcio. Esta reação ativa a via
intrínseca da coagulação e via comum. Este teste reflete a atividade da maioria dos
fatores de coagulação, incluindo o fator XII e outros fatores de contato importantes
(precalicreina e quininogénio). É sensível há presença de inibidores específicos (ex.:
anticorpo específico do fator VIII) e não específicos (ex.: anticoagulante lúpico) da via
intrínseca e da via comum, prolongando o tempo de aPTT.
Valor semiológico: Útil no diagnóstico e monitorização de patologias genéticas ou
adquiridas dos fatores da coagulação VIII, IX, XI, XII, fibrinogénio, protrombina, V e X;
hemofilia, coagulação intravascular disseminada; Lupus eritematoso sistémico, e
tromboses.
VIII Mestrado em Análises Clínicas Regina Viseu
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VIII Mestrado em Análises Clínicas Regina Viseu
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Universidade de Lisboa
Faculdade de Farmácia
Monografia
Bioquímica Clínica em Geriatria
Maria Regina Nolasco Martins Viseu
Orientadora: Professora Doutora Maria João Monteiro Ferreira da Silva
Mestrado em Análises Clínicas
2017
VIII Mestrado em Análises Clínicas Regina Viseu
79
Resumo
O envelhecimento da população mundial é um dos principais desafios das sociedades
modernas. Ao nível da saúde, torna-se cada vez mais necessário adotar estratégias,
para que o envelhecimento ocorra de forma saudável e ativa. Os custos com a saúde
têm aumentado substancialmente, nos países desenvolvidos, e têm sido relacionados
com o aumento das necessidades de cuidados de saúde, nos indivíduos mais idosos.
Essa consciencialização tem permitido maior investimento na investigação dos
processos biológicos de envelhecimento.
A perda de capacidades, muitas vezes associada ao envelhecimento, tem uma fraca
relação com a idade cronológica dos indivíduos. Apesar das necessidades de
cuidados de saúde nos indivíduos idosos e das suas incapacidades não serem
aleatórias, não há uma pessoa idosa “típica”. Depende do seu percurso de vida e
podem ser modificadas por intervenções adequadas e precoces, do ponto de vista
social, psicológico e de saúde.
O conhecimento dos mecanismos fisiológicos do envelhecimento normal pode levar à
descoberta de novos biomarcadores de envelhecimento, de forma a determinar a
idade biológica dos indivíduos. Sabendo de que forma o envelhecimento afeta os
diferentes sistemas orgânicos e as possíveis alterações nos parâmetros bioquímicos,
será possível detetar precocemente as alterações que conduzam a condições
patológicas, incapacidade ou fragilidade. Por outro lado, é também fundamental
diferenciar entre uma alteração decorrente do normal processo de envelhecimento e
uma alteração potencialmente patológica, de forma a minimizar procedimentos
médicos desnecessários e avaliar corretamente o risco.
Este trabalho consiste numa pequena revisão dos aspetos biológicos do
envelhecimento e as suas implicações na bioquímica clínica.
Palavras-chave: idoso, bioquímica clínica, geriatria, biomarcador.
VIII Mestrado em Análises Clínicas Regina Viseu
80
Abstract
The ageing of the world’s population is one of modern societies’ greatest challenges,
making the need to adopt new strategies crucial to facilitate healthy and active ageing.
Health costs have risen in developed countries, primarily due to the health care needs
of elderly people and being aware of this has allowed greater investment in research
regarding the biological processes of ageing.
Knowledge of the physiological mechanisms of normal ageing may lead to the
discovery of new biomarkers, thus determining the biological age of individuals.
Knowing how ageing affects the different organ systems and how biochemical markers
vary, it will be possible to detect changes that lead to pathological conditions, disability
or frailty at an earlier stage.
Furthermore, it is crucial to differentiate between changes that stem from the normal
ageing process and those that are potentially pathological, in order to minimise
unnecessary clinical procedures and assess risk correctly.
This work consists of a short review of the biological aspects of ageing and its
implications in clinical biochemistry.
Key words: elderly, clinical biochemistry, geriatrics, biomarker
VIII Mestrado em Análises Clínicas Regina Viseu
81
ÍNDICE
I. Índice de tabelas 82
II. Lista de abreviaturas 83
1. Introdução 85
2. Teorias do envelhecimento 86
3. Processo biológico de envelhecimento 89
3.1. Mecanismos de envelhecimento dos sistemas orgânicos 89
3.2. Biomarcadores do envelhecimento 91
3.3. Conceito e fenótipo de fragilidade 93
4. Alterações metabólicas relacionadas com a idade 94
4.1. Função pulmonar 95
4.2. Metabolismo ósseo 95
4.2.1 Marcadores bioquímicos do metabolismo ósseo 96
4.3. Massa muscular e composição corporal 97
4.3.1. Marcadores bioquímicos da sarcopenia 98
4.4. Função cardiovascular 99
4.4.1. Marcadores bioquímicos da função cardíaca 100
4.5. Função hepática 103
4.5.1. Marcadores bioquímicos da função hepática 105
4.5.2. Perfil lipídico em idades avançadas 106
4.6. Função renal 107
4.6.1. Marcadores bioquímicos da função renal 108
4.7. Função endócrina 109
4.7.1. Hormonas sexuais - menopausa e andropausa 109
4.7.2. Hormonas suprarrenais 110
4.7.3. Hormonas da tiroide e paratiroide 111
4.7.4. Eixo Hormona do crescimento (GH)/ Fator de crescimento
semelhante à insulina 1 (IGF-1) 112
4.7.5 Função endócrina e tecido adiposo 112
4.7.6. Alterações hormonais, idade e saúde 113
4.8. Metabolismo da glicose 115
5. Bioquímica clínica em geriatria 116
5.1. Variabilidade biológica no subgrupo da população geriátrica 117
5.2. Valores de referência 118
5.3. Seleção de indivíduos de referência para uma determinada
população 119
5.4. Importância dos valores de referência na população 120
VIII Mestrado em Análises Clínicas Regina Viseu
82
5.5. Valores de referência na população geriátrica: estudos
populacionais recentes 121
6. Conclusão 123
7. Bibliografia 126
I. Índice de tabelas
Tabela I: Alterações fisiológicas que ocorrem com a idade 90
Tabela II: Biomarcadores fisiológicos em estudo 93
Tabela III: Marcadores bioquímicos do metabolismo ósseo 96
Tabela IV: Biomarcadores endócrinos relacionados com o envelhecimento
e o seu grau de associação à mortalidade e à fragilidade 115
VIII Mestrado em Análises Clínicas Regina Viseu
83
II. Lista de abreviaturas
ALP – Fosfatase alcalina (ALkaline Phosphatase)
ALT – Alanina aminotransferase
AST – Aspartato aminotransferase
BDNF – Brain derived neurotropic factor
BMP – Bone Morphogenetic Protein
BNP – Péptido natriurético cerebral (Brain Natriuretic Peptide)
BTM – Marcador do metabolismo ósseo (Bone Turnover Markers)
CG – Cockcroft-Gault
CK-MB – Creatina cinase fração MB (Creatine Kinase-MB)
CTx-I – Telopéptido C-terminal do colagénio I (Telopeptide of Type I Collagen)
cTnI – Troponina I cardíaca
cTnT – Troponina T cardíaca
DEXA – Absormetria radiológica de dupla energia (Dual-Energy X-ray
Absorptiometry)
DHEA – Desidroepiandrosterona (Dehydroepiandrosterone)
DHEAS – Sulfato de desidroepiandrosterona (Dehydroepiandrosterone Sulfate)
DNA – Ácido desoxirribonucleico (Deoxyribonucleic Acid)
DPD – Deoxipiridinolina
E2 – Estradiol
EAM – Enfarte agudo do miocárdio
fT3 – Hormona triiodotironina livre (free Triiodothyronine)
fT4 – Hormona tiroxina livre (free Thyroxine)
FEV1 – Volume expiratório máximo no 1º segundo (Forced Expiratory Volume in
1second)
FST – Follistatin
γGT – Gama-Glutamiltransferase
GH – Hormona do crescimento (Growth Hormone)
GHRH – Hormona de libertação da hormona de crescimento (Growth Hormone-
Releasing Hormone)
HbA1c – Hemoglobina A 1 glicada
HDL – Lipoproteína de alta densidade (High-Density Lipoprotein)
Hs-cTn – Troponina cardíaca ultra sensível (High-sensitive Cardiac Troponin)
IFCC – International Federation of Clinical Chemistry and Laboratory Medicine
IGF1 – Fator de crescimento semelhante à insulina 1 (Insulin-like Growth Factor 1)
IMC – Índice de massa corporal
LDH – Lactato desidrogenase
VIII Mestrado em Análises Clínicas Regina Viseu
84
LDL – Lipoproteína de baixa densidade (Low-Density Lipoprotein)
LSEC – Células do endotélio sinusoidal hepático (Liver Sinusoidal Endothelial Cells)
MDRD – Modification of Diet in Renal Disease
NCCLS – National Committee for Clinical Laboratory Standards
NT-proBNP – Propéptido natriurético tipo B fração N terminal (N-Terminus Pro Brain
Natriuretic Peptide)
NTx-I – Telopeptido N-terminal do colagénio I (Cross Linked N-Telopeptide of Type I)
OMS – Organização Mundial de Saúde
PICP – Propeptido C-terminal do colagénio I (Procollagen I Carboxyterminal
Propeptide)
PINP – Propeptido N-terminal do colagénio I (Procollagen I Intact N-terminal
Propeptide)
PYD – Piridinolina (Pyridinoline)
T3 – Hormona triiodotironina
T4 – Hormona tiroxina
TGF-β – Fator de crescimento tumoral β (Tumor Growth Factor β)
TFG – Taxa de filtração glomerular
TRH – Hormona libertadora de tirotrofina (Thyrotropin-Releasing Hormone)
TSH – Hormona estimuladora da tiroide (Thyroid-Stimulating Hormone)
TRAP – Fosfatase ácida tártaro-resistente (Tartrate-Resistant Acid Phosphatase)
VLDL – Lipoproteína de muito baixa densidade (Very Low-Density Lipoprotein)
VIII Mestrado em Análises Clínicas Regina Viseu
85
1 – INTRODUÇÃO
O envelhecimento da população mundial é um dos problemas emergentes do século
XXI. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que em 2050 haverá,
aproximadamente, 2 bilhões de indivíduos com mais de 60 anos e cerca de 20% da
população mundial terá mais de 65 anos (WHO, 2015). Um dos fatores que contribui
para o envelhecimento crescente da população mundial é o aumento da longevidade.
A diminuição da população jovem, pela taxa de fertilidade reduzida, juntamente com o
aumento da esperança média de vida, consequência da redução da taxa de
mortalidade, conduziu ao aumento de pessoas idosas no total da população mundial.
O aumento da esperança média de vida, embora desejável, coloca inúmeros desafios
às sociedades modernas, nomeadamente ao nível da saúde (Veloso, 2015).
A definição de pessoa idosa, com base em critérios cronológicos, é pouco precisa e
não expressa a diversidade biológica, física e psicológica do ser humano sendo, no
entanto, necessária para definir o subgrupo da população geriátrica. Nos países
desenvolvidos, no qual Portugal se incluí, define-se como população geriátrica ou
idosa, indivíduos com mais de 65 anos. Este valor de referência foi baseado em dois
critérios principais: é nesta idade, ou próxima dela, que as alterações fisiológicas se
tornam mais evidentes e é a idade de reforma mais frequente, nos países
desenvolvidos (Arseneau, 2014; veloso, 2015).
O conceito de envelhecimento biológico foi definido por Goldsmith como “a
deterioração progressiva, que inclui a fraqueza, aumento da suscetibilidade à doença
e às condições ambientais adversas, perda de mobilidade e agilidade e alterações
fisiológicas relacionadas com a idade, que ocorrem na maioria dos seres vivos”
Arseneau, 2014). À medida que as pessoas envelhecem aumenta a probabilidade de
aparecerem comorbilidades e a necessidade de utilização dos serviços de saúde (INE,
2002). Com o aumento gradual da população geriátrica, os custos relacionados com a
saúde têm vindo a aumentar, fazendo com que as organizações governamentais
considerem de grande importância o estabelecimento de estratégias para a promoção
do envelhecimento ativo, valorizando a autonomia, a aprendizagem ao longo da vida e
manutenção da saúde na pessoa idosa (DGS, 2008).
Para se poder intervir preventivamente nas patologias mais associadas à idade, é
necessário o conhecimento dos processos biológicos do envelhecimento ou
senescência. O processo biológico de envelhecimento é responsável por alterações
fisiológicas no organismo. Em muitos órgãos é observada a diminuição gradual da sua
função, mesmo na ausência de doença. Um dos desafios da bioquímica clínica é a
diferenciação entre as alterações bioquímicas e fisiológicas que são consequência do
VIII Mestrado em Análises Clínicas Regina Viseu
86
envelhecimento e os fatores que indicam a presença de doença ativa. O resultado de
um parâmetro bioquímico num indivíduo idoso, embora diferente de um indivíduo
jovem, não significa que haja uma patologia associada (Arseneau, 2014; WHO, 2015).
A utilização de valores de referência obtidos na população adulta jovem, pode não ser
apropriada para a interpretação de testes laboratoriais nos indivíduos idosos, podendo
conduzir ao não diagnóstico de uma determinada patologia, ao aumento do risco de
mortalidade e/ou à prescrição de exames ou procedimentos diagnósticos
desnecessários (Arseneau, 2014).
É muito importante o conhecimento dos mecanismos de senescência, da variabilidade
biológica e das alterações fisiológicas de cada sistema orgânico, bem como a
determinação dos parâmetros bioquímicos que sofrem alterações com a idade e o
estabelecimento de valores de referência para a população geriátrica.
2 – TEORIAS DO ENVELHECIMENTO
Existem várias teorias para explicar o processo normal de envelhecimento. As teorias
biológicas do envelhecimento baseiam-se na degeneração da função e estrutura dos
sistemas orgânicos e das células (Farinatti, 2002). Estas teorias podem ser,
genericamente, classificadas em duas categorias: teorias estocásticas e teorias
programadas. Os processos que podem explicar estas teorias a nível celular, incluem
mecanismos e sinais intrínsecos do tempo, acontecimentos acidentais ao acaso, sinais
genéticos programados que tornam um organismo mais suscetível a eventos
acidentais, danos ou mutações no DNA nuclear ou mitocondrial, proteínas danificadas
ou anómalas, cross-linkage, glicação, acumulação de resíduos, desgaste molecular
generalizado, formação de radicais livres e componentes celulares específicos, tais
como, genes, cromossomas, mitocôndrias ou telómeros. Os processos fisiológicos que
podem explicar o envelhecimento incluem o stress oxidativo, mecanismos
imunológicos, neuro endócrinos, metabólicos, vias de sinalização da insulina e
restrição calórica (Farinatti, 2002).
As teorias estocásticas baseiam-se na acumulação de danos moleculares e celulares,
aleatórios e progressivos, devido à exposição a fatores exógenos adversos, sendo
necessário recorrer a cálculos de probabilidade para serem estudados (Teixeira &
Guariento, 2010). Incluídas nesta categoria estão a teoria do stress oxidativo, das
mutações somáticas, restrição calórica e autoimune (Ibeas, 2006).
A teoria do stress oxidativo tem sido muito popular nas últimas décadas, envolvendo
investigação massiva na avaliação do uso de vitaminas antioxidantes, tais como as
vitaminas B12, A, C, D, E e ácido fólico, e o seu papel no retardar dos efeitos do stress
oxidativo. Colocou-se a hipótese que bloqueando a produção de radicais livres,
VIII Mestrado em Análises Clínicas Regina Viseu
87
resultantes dos mecanismos de oxidação-redução pela exposição do organismo
humano às toxinas do meio ambiente, nomeadamente, pela exposição excessiva à luz
solar (cancro de pele), por inalação (cancro do pulmão e doença pulmonar crónica),
e/ou por ingestão (carcinoma do estômago e trato intestinal, degeneração macular e
catarata, cancro da próstata e doença de Alzheimer), se pode abrandar o normal
processo de envelhecimento. A teoria pressupõe que espécies altamente reativas,
derivadas do oxigénio (radicais livres), conduzem à acumulação de danos nas
proteínas, lípidos e DNA, como resultado da hipotermia e do metabolismo. Foi
postulado que as espécies reativas de oxigénio podem ser sinal de envelhecimento e
os seus níveis nos tecidos podem determinar o processo de envelhecimento e o tempo
de vida do organismo. As mutações nas vias de stress oxidativo, parecem prolongar o
tempo de vida e têm sido um suporte desta teoria. De facto, têm surgido evidências
que mutações de genes nestas vias resultaram no aumento da longevidade e numa
melhoria da resistência ao stress e danos oxidativos (Lucas et al., 1999). No entanto, a
maioria das pesquisas na redução deste processo, envolvendo vitaminas
antioxidantes, não apresentaram ainda resultados positivos (Sasaki et al., 2010).
A teoria das mutações somáticas está, em parte, relacionada com a teoria do stress
oxidativo e com alterações a nível dos cromossomas. As deleções, mutações,
translocações e poliploidia são instabilidades cromossómicas adquiridas com a idade,
que podem contribuir para o silenciamento de genes ou expressão de genes
específicos, cuja função alterada conduz ao aparecimento de determinados tipos de
cancro. A prevalência de múltiplos fatores de risco e as taxas de incidência de
diferentes tipos de cancro aumentam na meia-idade, sendo por isso, a idade um dos
fatores de risco mais estudado na epidemiologia do cancro (White et al., 2014). A
suportar esta teoria estão pesquisas que indicam que mutações de genes no DNA
mitocondrial e nas vias de sinalização do stress oxidativo, podem contribuir para a
redução da resistência ao stress oxidativo (Mathers, 2012).
A teoria da restrição calórica associada a mutações nas vias de sinalização da
insulina, resultam em alterações no tamanho e composição do corpo, no aumento da
resistência ao stress oxidativo e prolongamento da longevidade da vida numa grande
variedade de espécies (leveduras, vermes, moscas e roedores). Esta teoria tem ganho
notoriedade, permitindo explicar o normal processo de envelhecimento nos humanos,
uma vez que as pesquisas nestas espécies demonstraram uma correlação entre a
restrição calórica e a sarcopenia, doença cardiovascular, doença de Alzheimer e o
cancro, mais prevalentes em idades mais avançadas (Morgan et al., 2007).
A teoria autoimune tem ganho visibilidade nos últimos anos e baseia-se na evidência
de que o corpo humano começa a produzir anticorpos para os seus próprios tecidos
VIII Mestrado em Análises Clínicas Regina Viseu
88
(autoanticorpos) e/ou adquire, com o tempo, deficiências na função dos linfócitos T.
Estas alterações predispõem os idosos para o desenvolvimento de infeções, doenças
crónicas e cancro e, particularmente, doenças autoimunes, tais como, artrite
reumatoide e lúpus eritematoso sistémico (Farinatti, 2002).
As teorias programadas são baseadas em eventos programados e pressupõem a
existência de “relógios biológicos” que regulam o crescimento, a maturidade, a
senescência e a morte. Englobam os fenómenos que se descrevem por um
determinado número de variáveis concretas e conhecidas, que ocorrem sempre da
mesma maneira quando o fenómeno é estudado, não recorrendo a cálculos de
probabilidade. São inatas e estão programadas no genoma do indivíduo. Este grupo
inclui as teorias neuro-endócrina, genético desenvolvimentista e do encurtamento dos
telómeros (Ibeas, 2006; Teixeira & Guariento, 2010).
A teoria neuro-endócrina propõe que a forma pulsátil de secreção do cortisol, ou a sua
elevação, relacionada com o stress crónico pode conduzir, no decorrer dos anos, ao
normal processo de envelhecimento. Como exemplos disso inclui-se uma reposta mais
lenta às infeções, perda de memória relacionada com a idade, função muscular
reduzida e doenças inflamatórias crónicas. Colocou-se a hipótese de que controlando
mais eficientemente a doença inflamatória crónica, numa base neuro-endócrina-
imunológica, se poderia diminuir os efeitos do processo de envelhecimento. Mas ainda
não há evidências concretas nos estudos em curso (Best test, 2012).
Baseada numa longevidade fixa nos humanos, a teoria genético desenvolvimentista,
relacionada em parte com a teoria das alterações cromossómicas, propõe que ocorra
a indução geneticamente programada da senescência, resultando na ativação ou
supressão de genes específicos do envelhecimento (Mota et al., 2004).
A teoria do encurtamento dos telómeros pressupõe que as células somáticas normais
tenham uma longevidade finita e que perdem o DNA telomérico em função do
envelhecimento, quando se dividem, como demostrado em estudos in vitro (Artandi,
2006). Os telómeros são sequências de DNA localizadas nas extremidades dos
cromossomas protegendo-as, sendo que a adição dessas sequências teloméricas é
efetuada através de telomerases. O encurtamento crítico do DNA telomérico, que
ocorre devido à perda da enzima telomerase, é o sinal para o inicio da senescência
celular (Cefalu, 2011). Estudos in vitro provaram que restituição da telomerase e o
aumento do comprimento do DNA telomérico, resultam no prolongamento da vida das
células humanas (Farinatti, 2002).
VIII Mestrado em Análises Clínicas Regina Viseu
89
3 – PROCESSO BIOLÓGICO DE ENVELHECIMENTO
O envelhecimento é um processo natural, não patológico, dinâmico e progressivo,
caraterizado por uma série de alterações morfológicas, fisiológicas, bioquímicas e
psicológicas que determinam a perda da capacidade de adaptação do indivíduo ao
meio ambiente, ocasionando maior vulnerabilidade e maior incidência de processos
patológicos que culminam na morte (Arseneau, 2014). As manifestações clínicas
resultam das alterações bioquímicas dos tecidos, da função diminuída dos sistemas
orgânicos e da capacidade de adaptação reduzida ao stress fisiológico. A variabilidade
fisiológica interindividual aumenta com a idade e cada indivíduo envelhece ao seu
ritmo, ao mesmo tempo que desenvolve diferentes processos patológicos (Hanlon et
al., 2014). O termo envelhecimento refere-se a todos os eventos que ocorrem num
organismo, ao longo do seu tempo de vida (The biology of Aging). A senescência
resulta do somatório das interações orgânicas, funcionais e psicológicas próprias do
envelhecimento (Arseneau, 2014).
3.1- Mecanismos de envelhecimento dos sistemas orgânicos
Os mecanismos de envelhecimento dos sistemas orgânicos, podem ser vistos no
contexto celular e nas características clínicas que ocorrem durante o processo. As
alterações celulares presentes no decurso de um envelhecimento “normal” incluem a
diminuição da capacidade proliferativa e potencial de células específicas, como
linfócitos e fibroblastos, associada à diminuição da secreção de interleucina-2 e
expressão diminuída na população de linfócitos T, que adquirem uma afinidade
alterada para esta citocina (Cefalu, 2011).
As alterações na composição bioquímica dos tecidos incluem o aumento da lipofucsina
e matriz extracelular, oxidação proteica e taxas alteradas de transcrição génica
(Cefalu, 2011).
Alterações na fisiologia incluem a estabilidade postural e da marcha, a pressão
sanguínea ortostática, a termorregulação, a reserva cognitiva, a função intestinal e a
coagulação (Arseneau, 2014).
VIII Mestrado em Análises Clínicas Regina Viseu
90
Tabela I: Alterações fisiológicas que ocorrem com a idade
Sistema orgânico Manifestação
Equilíbrio e marcha ↓ comprimento do passo e marcha mais lenta
↓ balanço dos braços
↑balanço do corpo quando em pé
Composição corporal ↓ da agua total do corpo
↓ da massa corporal magra
↔ ou ↓da albumina sérica
↑ α1-glicoproteina ácida (↔ ou ↑ em estadios de várias
doenças)
Cardiovascular ↓ da resposta cardiovascular ao stress
↓ da atividade dos barorrecetores conduzindo a um ↑ da
hipotensão ortostática
↓ do output cardíaco
↑ da resistência vascular sistémica com perda de
elasticidade e disfunção dos sistemas na manutenção
do tónus vascular
↓ das taxas máximas e de repouso do coração
Sistema nervoso central ↓ do tamanho do hipocampo e lóbulos frontal e temporal
↓ do número de recetores de todos os tipos e ↑ da
sensibilidade dos recetores que permanecem
↓ da memória de curto prazo, codificação, recuperação
e execução de funções
Alteração dos padrões de sono
Endócrino ↓ dos níveis de estrogénios, testosterona, TSH e DHEA-
s
Sinalização da insulina alterada
Gastrointestinal ↓ da motilidade do intestino grosso
↓ da absorção de vitaminas por mecanismos de
transporte ativo
↓ do fluxo sanguíneo visceral
↓ da área de superfície do intestino
Geniturinário Atrofia da vagina com a diminuição do estrogénio
Hipertrofia prostática com alterações nas hormonas
androgénicas
Hiperatividade do músculo Detrusor que pode predispor
para a incontinência
Hepático ↓ do tamanho do fígado
↓ do fluxo sanguíneo hepático
↓metabolismo de fase I (oxidação, redução, hidrolise)
Imunitário ↓ da produção de anticorpos em resposta a antigénios
↑ da autoimunidade
Oral Alteração da dentição
↓ do paladar para o salgado, doce, amargo e azedo
↓ da capacidade vital
↓ da capacidade respiratória máxima
↑ do volume residual
VIII Mestrado em Análises Clínicas Regina Viseu
91
Tabela I: Alterações fisiológicas que ocorrem com a idade (cont.):
Sistema orgânico Manifestação
Pulmonar ↓ da força do musculo respiratório
↓ compliance da parede torácica
↓ da oxigenação e eliminação do dióxido de carbono
alterada
Renal ↓ taxa de filtração glomerular
↓ do fluxo sanguíneo renal
↓ da fração de filtração
↓ função secretora tubular
↓ massa renal
Sensorial Presbiopia (diminuição da capacidade de focar os objetos
de perto)
↓ da visão noturna
Presbiacusia (perda de audição de tons altos e alta
frequência)
↓ do sentido do olfato e paladar
Esqueleto ↓ da massa óssea (osteopenia)
Enrijecimento das articulações causado pela redução do
conteúdo em água dos tendões, ligamentos e cartilagens
Pele/Cabelos Diminuição do estrato córneo
↓ das células de Langerhans, melanócitos e mastócitos
↓ da espessura e extensão da camada adiposa
subcutânea
Cabelo mais fino e cinzento causado por mais cabelos
estarem na fase de repouso e encurtamento da fase de
crescimento, assim como alterações nos melanócitos
capilares
Adaptado de Cefalu, 2011.
3.2 Biomarcadores do envelhecimento
Nos últimos 50 anos, houve várias tentativas para encontrar biomarcadores do
processo de envelhecimento, mas a complexidade dos fenótipos levanta dificuldades
conceptuais e práticas. Atualmente não existe uma definição universal de
biomarcadores do envelhecimento ou critérios para a sua seleção, o que resulta numa
falta de robustez e de ferramentas validadas, para caraterizar o envelhecimento
saudável (Arseneau, 2014).
VIII Mestrado em Análises Clínicas Regina Viseu
92
A Federação Americana para a Investigação do Envelhecimento (American Federation
for Aging Research) propôs os seguintes critérios a cumprir, na definição de
biomarcador do envelhecimento:
1 – Predizer a taxa de envelhecimento, ou seja, informar, exatamente, em que fase da
sua vida útil a pessoa se encontra, devendo ser melhor preditor do seu tempo de vida
do que a idade cronológica;
2 – Monitorizar os processos básicos subjacentes ao processo de envelhecimento e
não o efeito da doença;
3 – Ser testado repetidamente sem causar danos à pessoa (ex. análise ao sangue, ou
exame imagiológico).
Num contexto mais amplo, os marcadores biológicos, ou biomarcadores, são
moléculas que caracterizam um sistema ou processo biológico. São doseados numa
grande variedade de situações e podem ser indicativos de normalidade fisiológica,
identificativos de estadios patológicos ou ser usados na monitorização de uma
resposta terapêutica. Idealmente, os biomarcadores irão influenciar a terapia, na
medida em que identificam os doentes que podem beneficiar de uma intervenção
terapêutica ou os que necessitam de uma estratégia diagnóstica mais agressiva
(Rains et al., 2014).
Nas últimas décadas têm surgido vários candidatos a biomarcadores de
envelhecimento, mas nenhum provou ser universalmente apropriado ou robusto, na
medição ou na predição do grau de envelhecimento, quer a nível da comunidade quer
a nível do indivíduo (Mathers, 2012).
Como já foi dito, o envelhecimento engloba alterações variadas e complexas a nível
estrutural, funcional e molecular da maioria das células, tecidos e sistemas orgânicos e
a perda gradual dos mecanismos homeostáticos necessários à manutenção da função
do tecido e capacidade fisiológica. Esta perda de função pode traduzir, eventualmente,
uma desregulação metabólica que conduz ao desenvolvimento de sinais precoces de
pré-doença que, se não identificada e tratada, irá resultar na perda de função, doença
crónica e finalmente na morte. Os Biomarcadores que têm sido investigados na
avaliação da função pulmonar, saúde óssea, composição corporal, função
cardiovascular e metabolismo da glicose estão descritos na tabela II.
VIII Mestrado em Análises Clínicas Regina Viseu
93
Tabela II: Biomarcadores fisiológicos em estudo
Teste /Metodologia Viabilidade na utilização Previsão de resultados
Função pulmonar FEV1
Espirometria
+++ Mortalidade
Eventos cardiovasculares,
fraturas, saúde funcional
e cognição
Saúde óssea Densidade óssea
Massa óssea do quadril
Imagiologia
++ Mortalidade, fraturas,
doença cardiovascular
Composição corporal Massa muscular estimada
da perna
Imagiologia
++ Incerto
Massa muscular do corpo
estimada
Impedância
+++ Mortalidade
Perímetro abdominal
Antropométrico
+++ Mortalidade, eventos
cardiovasculares
Massa corporal
Índice de massa corporal
Peso corporal
Antropométrico
+++ Mortalidade, eventos
cardiovasculares
Função cardiovascular Pressão sanguínea
sistólica
Esfigmomanómetro
+++ Doença cardiovascular,
mortalidade
Perfil lipídico: colesterol
total, LDLc, HDLc,
triglicéridos
Ensaios bioquímicos
++ Doença coronária
Metabolismo glicídico Hemoglobina glicada
Glucose em jejum
Ensaios bioquímicos
++ Mortalidade, doença
cardiovascular
Grau de viabilidade: +++ alto, ++ moderado, + baixo (adaptado de Guidelines for biomarkers of healthy ageing)
3.3 Conceito e fenótipo de fragilidade
O termo fragilidade é caraterizado pelo aumento da vulnerabilidade para o
desenvolvimento de eventos adversos nos indivíduos idosos, incluindo hospitalização,
incapacidade e morte. Com o envelhecimento crescente da população, a fragilidade
está a tornar-se uma epidemia silenciosa (Michel et al., 2015).
Um estudo observacional europeu, denominado SHARE (Survey of Health, Aging and
Retirement in Europe), envolvendo 19 países incluindo Portugal, concluiu que a
prevalência de fragilidade alcançava os 17% e a média de indivíduos em condição de
pré-fragilidade era ainda superior, nos indivíduos com 65 ou mais anos de idade
(Borsh-Supan, 2013). Um outro estudo, americano, publicado em 2001 por Fried e
colaboradores, com 5317 indivíduos de ambos os sexos e com idades a partir dos 65
anos, inclusivé, teve como objectivo definir os fenótipos de fragilidade. A fragilidade foi
VIII Mestrado em Análises Clínicas Regina Viseu
94
definida como sindrome clínica quando estão presentes três ou mais dos seguintes
critérios: pouca energia auto declarada, locomoção lentificada, atividade física
reduzida, força manual reduzida e perda de peso não intencional (Fried et al., 2001).
Um estadio pré-fragilidade foi estabelecido quando estão presentes um ou dois destes
critérios e identifica os indivíduos em risco de progredirem para a sindrome de
fragilidade (Xue, 2011).
A fragilidade associa-se a características clínicas atribuídas ao envelhecimento, tais
como, a diminuição da massa e da força muscular, exaustão, alteração da marcha e
do equilíbrio, anorexia ou perda de peso progressiva (Borsh-Supan, 2013; Certo et al.,
2016). Muitos destes fatores estão relacionados e podem ser unificados no
denominado ciclo de fragilidade e estão associados a um declínio na energia e reserva
do organismo. A fragilidade envolve o declínio da função fisiológica ou de reserva dos
sistemas orgânicos, conduzindo a uma perda de capacidade homeostática de resposta
ao stress, com a consequente vulnerabilidade do organismo (Fried et al., 2001).
A fragilidade corresponde a uma cascata complexa de eventos que envolvem
alterações fisiológicas, cujos mecanismos são complexos e pouco compreendidos.
Mesmo assim, a fragilidade tem sido associada com a desregulação de vários
sistemas fisiológicos, incluindo o sistema imunitário, endócrino, musculo-esquelético,
doenças metabolicas e doenças especificas, tais como as doenças cardiovasculares e
a doença renal crónica (Schoufour et al., 2016).
Os biomarcadores envolvidos nestes mecanismos estão associados com a
prevalência e incidência da fragilidade. Embora haja vários estudos que demostraram
forte associação entre alguns marcadores bioquimicos e incidência da fragilidade, não
há ainda nenhum biomarcador que consiga identificar adequadamente esta síndrome.
No entanto, a determinação de alguns analitos bioquímicos dão informação útil sobre
os processos fisiológicos que conduzem à fragilidade, sendo que os seus níveis
séricos poderão ajudar a identificar os indivíduos em risco de atingir esse estadio
(Schoufour et al., 2016).
4 – ALTERAÇÕES METABÓLICAS RELACIONADAS COM A IDADE
Embora o processo de envelhecimento não cause a morte, os indivíduos idosos
parecem ter uma predisposição para uma grande variedade de doenças e, dessa
forma, se assume que o envelhecimento facilita o estabelecimento e/ou progressão de
muitas patologias (Schmucker, 2005). É importante perceber de que forma a idade
afeta e altera as funções metabólicas e orgânicas e como se reflete nos parâmetros
bioquímicos.
VIII Mestrado em Análises Clínicas Regina Viseu
95
4.1 Função pulmonar
O sistema respiratório sofre alterações imunológicas, estruturais e fisiológicas no
decorrer do envelhecimento normal. A partir dos 25 anos a função pulmonar, avaliada
pelo FEV1 (Volume expiratório máximo no 1º segundo) decai, aproximadamente,
32mL/ano nos homens e 25mL/ano nas mulheres (Sharma & Goodwin, 2006). Muitos
estudos populacionais documentaram uma associação inversa entre o FEV1 e o
aparecimento futuro de condições relacionadas com a idade, tais como, mortalidade
total, morbilidade cardiovascular, função cognitiva e fraturas (Moayyeri et al., 2009). A
espirometria é o método utilizado para determinar o FEV1 e este é o parâmetro de
eleição na determinação da função respiratória (Sharma & Goodwin, 2006).
4.2 Metabolismo ósseo
O osso é um tecido vivo que está continuamente sujeito a mecanismos de reabsorção
e formação, numa ação coordenada dos osteoclastos e osteoblastos, na superfície
dos ossos trabeculares e nos canais de Havers. Nos indivíduos saudáveis, cerca de
10 % do esqueleto sofre remodelação por ano, permitindo que o esqueleto se ajuste à
força, ao stress mecânico e à reparação de qualquer dano. A remodelação do tecido
ósseo é, também, necessária para manter a função metabólica do esqueleto e a
homeostase do cálcio (Janata, 2015).
A massa óssea reduz-se com a idade, quer no homem quer na mulher, o que pode ter
um impacto muito significativo na qualidade de vida dos indivíduos idosos. A avaliação
da saúde óssea, relacionada com o envelhecimento, tem sido focalizada nas
alterações da massa óssea e da sua estrutura, e associada ao risco aumentado de
fratura. Com a idade, o equilíbrio entra as taxas de formação e de reabsorção óssea
sofrem perturbações, conduzindo a uma diminuição da massa óssea, remodelação e
perda de espessura do osso cortical. O pico máximo de densidade óssea ocorre pelos
30 anos de idade e, posteriormente, a reabsorção óssea ocorre a um ritmo de 1% e
0,7% ao ano, em indivíduos do sexo feminino e masculino, respetivamente (Mathers,
2012).
Após os 40 anos, a absorção óssea começa a predominar sobre a formação. Nas
mulheres, a absorção óssea é acelerada nos primeiros anos após a menopausa,
devido à diminuição dos estrogénios. As mulheres pós-menopausa perdem densidade
óssea a uma taxa de 2 a 5% ao ano. Os indivíduos que perdem massa óssea de forma
muito acelerada podem desenvolver osteoporose e correm o risco de sofrer fraturas,
em idades ainda jovens (Janaka, 2015). Para além das alterações no metabolismo do
cálcio, na regulação hormonal e na composição da matriz, a idade está também
VIII Mestrado em Análises Clínicas Regina Viseu
96
associada à perda de força de tração, compressão, torção e resistência à flexão
(Cefalu, 2011; Mathers, 2012).
4.2.1 Marcadores bioquímicos do metabolismo ósseo
Os testes mais utilizados para a avaliação do metabolismo ósseo são imagiológicos,
nomeadamente, a absormetria radiológica de dupla energia ou DEXA (Dual-Energy X-
ray Absorptiometry), para medir a densidade dos ossos (Cefalu, 2011; Mathers, 2012).
No entanto, existem atualmente dois grupos de marcadores bioquímicos em estudo.
Estes biomarcadores são proteínas ou fragmentos de proteínas do tecido ósseo, ou
enzimas libertadas durante o turnover na remodelação óssea (Szulc, 2011). Na tabela
III estão alguns dos marcadores atualmente em estudo.
Tabela III: Marcadores bioquímicos do metabolismo ósseo
Formação óssea
Osteocalcina
Fosfatase alcalina óssea
Propeptido N-terminal do colagénio I (PINP)
Propeptido C-terminal do colagénio I (PICP)
Absorção óssea
Telopeptido C-terminal do colagénio I (CTx-I),
Telopeptido N-terminal do colagénio I (NTx-I)
Hidroxiprolina
Deoxipiridinolina (DPD)
Piridinolina (PYD)
Fosfatase ácida tártaro-resistente (TRAP)
Os marcadores bioquímicos do metabolismo ósseo (BTM, bone turnover markers)
permitem uma melhor compreensão da relação entre a remodelação do osso, a
densidade mineral óssea, a fragilidade do osso e o efeito das terapêuticas anti
osteoporose (efeito metabólico e eficácia na prevenção das fraturas) (Szulc, 2011).
Alguns estudos mostraram que a taxa de remodelação óssea (espontânea ou
modificada pela terapêutica) é importante na determinação da fragilidade do osso, nas
mulheres pós-menopausa e nas mulheres idosas (Lenora et al., 2010; Lenora, 2013).
Dados preliminares mostraram que estes marcadores podem ser eficazes e mais
económicos, na monitorização dos tratamentos da osteoporose. Do ponto de vista
clínico, o doseamento destes marcadores bioquímicos pode ajudar a identificar as
mulheres em fase de pós-menopausa, que estão em risco de ocorrência de fraturas e
implementar o tratamento. No entanto, não estão ainda definidas normas de
orientação clínica, para o tratamento nestas mulheres (Lenora, 2015).
Nos homens, valores elevados dos marcadores do metabolismo ósseo, estão
associados a baixos valores de densidade mineral óssea e perda rápida de massa
VIII Mestrado em Análises Clínicas Regina Viseu
97
óssea. Nos homens idosos, a remodelação óssea acelerada é, provavelmente, o maior
determinante da perda de massa óssea e osteoporose. Do ponto de vista científico, o
desenvolvimento de marcadores que refletem as propriedades qualitativas do osso
poderá ajudar na compreensão dos mecanismos de fragilidade óssea, nos homens
idosos. Do ponto de vista prático, estes marcadores não melhoraram a identificação
dos homens em risco de perda acelerada de massa óssea ou de fraturas (Szulc,
2011).
Os marcadores bioquímicos do metabolismo ósseo têm uma grande limitação, a
variabilidade analítica e pré-analítica, que tem um forte impacto na determinação dos
seus níveis séricos. A variabilidade analítica (coeficiente de variação intra e inter
ensaio) depende do marcador a dosear, do método utilizado e da experiência do
técnico analista. Por outro lado, a variabilidade pré-analítica engloba vários fatores
que, muitas vezes, coexistem no mesmo indivíduo, nomeadamente existência de
artrite reumatoide, doenças ósseas, corticoterapia e mobilidade limitada. O ritmo
circadiano tem um impacto significativo, principalmente nos marcadores de absorção
óssea, o que implica condições de colheita padronizadas (Szulc et al., 2009). A
remodelação óssea é influenciada pelos níveis individuais de vitamina D e cálcio,
principalmente nos idosos. Os indivíduos institucionalizados e os idosos com défices
de vitamina D têm, tendencialmente, um aumento dos níveis de BTM. A variação
sazonal da exposição solar conduz, no inverno, a uma diminuição da vitamina D.
Consequentemente, os níveis de paratormona e BTM são mais elevados no inverno e
refletem-se, principalmente, na população idosa. A história clínica de fraturas
influencia os níveis de BTM, principalmente nos primeiros 4 meses após esse evento
adverso (Szulc, 2011).
4.3 Massa muscular e composição corporal
O envelhecimento está associado a alterações na composição corporal, incluindo
aumento da massa gorda, redução da massa muscular e, com exceção do coração,
redução da massa dos órgãos. O aumento acentuado de tecido adiposo no abdómen
é um fator de risco para o envelhecimento e doenças associadas, com menor risco de
mortalidade para perímetros abdominais abaixo dos 94 e 77 cm, para homens e
mulheres, respetivamente. O risco relativo de mortalidade duplica, para quem tem
perímetro abdominal superior a 132 e 116 em homens e mulheres, respetivamente
(Mather, 2012).
O índice de massa corporal (IMC) é uma forma útil de medição da gordura total, uma
vez que cada 5Kg/m2 de aumento está associado a 30% de aumento do risco de
mortalidade geral, 40% de aumento de mortalidade relacionada com a doença
VIII Mestrado em Análises Clínicas Regina Viseu
98
vascular, 60-120% de aumento da mortalidade relacionada com a diabetes, doença
renal e hepática (Hollander et al., 2012). O IMC elevado, independentemente do
género ou outros fatores confusionais, é um fator de risco para o declínio cognitivo
(Gallucci et al., 2013). O aumento de peso nas mulheres de meia-idade está associado
com a diminuição acentuada da sobrevida com saúde, após os 70 anos (Sun et al.,
2009).
A massa muscular pode ser medida usando técnicas de imagem, como ressonância
magnética e análise de impedância. Há evidências de que a massa muscular,
nomeadamente, a massa muscular das pernas, diminui com a idade (Koster et al.,
2011). Alguns estudos mostraram que existe uma relação entre a massa muscular per
se e o estado de saúde. Reportaram que um baixo índice de massa muscular (massa
muscular esquelética/percentagem de massa corporal), está associado ao aumento de
alterações funcionais e incapacidade. Com a idade ocorre a perda de fibras
musculares, particularmente de fibras contráteis do tipo II, diminuição na síntese de
proteínas contráteis e redução da massa mitocondrial (Janssen et al., 2002; Koster et
al., 2011; Rossi et al., 2011).
A perda de força muscular nos idosos saudáveis é o fator limitante que determina as
suas hipóteses de viverem uma vida independente, até morrer. O enfraquecimento do
músculo pode ser causado pelo envelhecimento das fibras musculares e da sua
inervação, pela dor relacionada com osteoartrites ou por doenças crónicas
debilitantes. O estilo de vida sedentária, a diminuição da atividade física e a não
utilização da massa muscular, parecem ser determinantes para o declínio da força
muscular, uma vez que a prática de exercício físico, mesmo em idades muito
avançadas, demonstrou uma reversão significativa do declínio da capacidade física
(Lamberts et al., 1997).
4.3.1 Marcadores bioquímicos da sarcopenia
A sarcopenia, definida como a perda involuntária de força e massa muscular
esquelética, relacionada com o processo de envelhecimento, começa precocemente
na quarta década de vida e ocorre de forma constante, estimando-se que na oitava
década de vida se tenha perdido cerca de 50% da massa muscular. Tendo em conta
que a massa muscular corresponde a 60% da massa total do organismo, a ocorrência
de alterações patológicas neste tecido metabolicamente ativo, pode ter consequências
profundas nos idosos. A perda de força e o declínio da função muscular, associada à
sarcopenia, pode contribuir para a ocorrência de eventos adversos, tais como a
incapacidade e a fragilidade. A sarcopenia está também associada a estadios de
VIII Mestrado em Análises Clínicas Regina Viseu
99
doença crónica e aguda, aumento da resistência à insulina, fadiga, quedas e
mortalidade (Walston, 2015).
Devido à elevada prevalência da sarcopenia e da sua relação com a fadiga, declínio
funcional e doenças crónicas, tornou-se imprescindível o desenvolvimento de
estratégias de intervenção na população geriátrica. A sarcopenia passou a ser um dos
maiores problemas de saúde pública em idades geriátricas. No entanto, ainda estamos
muito longe de compreender os mecanismos moleculares que conduzem à sua
presença. É crucial o conhecimento desses mecanismos, para poder desenvolver
marcadores bioquímicos de identificação da sarcopenia e criar bases científicas para
uma intervenção terapêutica (Kalinkovich & Livshits, 2015).
Existem alguns marcadores biológicos em investigação, envolvidos nos mecanismos
da patogénese da sarcopenia: os reguladores negativos do crescimento muscular,
nomeadamente, TGF-β, miostatina, activina A e B e os reguladores positivos, em
particular, BMPs (Bone Morphogenetic Protein), BDNF (Brain-derived Neurotropic
Factor), irisina, e FST (Follistatin). No entanto, os dados disponíveis, que
correlacionam os níveis séricos destes marcadores e a manifestação e progressão
clínica da sarcopenia, ainda são escassos (Kalinkovich & Livshits, 2015).
4.4 Função cardiovascular
Existe uma série de fatores que ligam o envelhecimento à insuficiência cardíaca e que
gradualmente reduzem a quantidade de reserva funcional do coração, até ao ponto de
ser mais provável a falência do órgão (Strait & Lakatta, 2012).
Com a idade ocorrem alterações estruturais e funcionais, nomeadamente, os vasos
sanguíneos tornam-se mais rijos, a parede do ventrículo esquerdo torna-se mais fina
(dentro de limites normais) e aumenta a fibrose, conduzindo à disfunção diastólica,
aumento da pós-carga e insuficiência cardíaca, mas com a fração de ejeção
preservada. Estas alterações são responsáveis pelo desenvolvimento da hipertensão
arterial, hipertrofia ventricular e pelo comprometimento da capacidade de adaptação
do coração às situações de sobrecarga. Devido às modificações no endotélio, a
vasodilatação diminui progressivamente com a idade, conduzindo ao aparecimento de
doenças cardiovasculares. Embora o débito cardíaco se mantenha normal quando em
repouso, em exercício a frequência cardíaca máxima nos idosos é menor do que nos
indivíduos jovens, contribuindo para a redução da capacidade física e associando-se a
uma maior morbilidade e mortalidade nos idosos (Strait & lakatta, 2012; Wajngarten,
2010).
Uma das principais causas de morte por doença vascular, em todo o mundo, é a
arteriosclerose e resulta de danos vasculares, que culminam num afinamento
VIII Mestrado em Análises Clínicas Regina Viseu
100
progressivo e perda de resistência das paredes dos vasos. A aterosclerose refere-se
especificamente ao afinamento das paredes das artérias, devido a placas
caracterizadas pela acumulação de gordura (placas de ateroma), na camada íntima e
acumulação de tecido adiposo, na camada subíntima. Embora a aterosclerose não
seja necessariamente concomitante ao envelhecimento, em muitos países há dados
que associam o envelhecimento às alterações do endotélio vascular e ao aumento da
aterosclerose. Como consequência, há maior risco de comprometer o suprimento
vascular dos órgãos vitais, incluindo o coração (doença coronária), o cérebro (doença
vascular cerebral) e órgão periféricos, tais como, os rins e membros inferiores
(Herrington et al., 2016; Mathers, 2012; Wajngarten, 2010).
A incidência de doenças cardiovasculares aumenta com a idade e é uma das
principais causas de morte nos países desenvolvidos. A nível populacional, são
aplicadas tabelas de risco maioritariamente baseadas na fórmula de Framingham, que
consiste num algoritmo para estimar o risco individual e para cada género, de
desenvolver doença cardiovascular, tendo os 75 anos como limite de idade (Franklin &
Wong, 2013). O risco continua a ser avaliado acima dos 75 anos, mas é calculado
utilizando os valores do risco associado à faixa etária dos 65-74 anos (Pasupathi et al.,
2009).
4.4.1 Marcadores bioquímicos da função cardíaca
Os primeiros marcadores bioquímicos utilizados na avaliação da lesão do miocárdio
foram os marcadores enzimáticos alanina aminotransferase (AST), lactato
desidrogenase (LDH) e creatinina cinase (CK), que embora estejam associados a
danos nos miócitos, têm baixo valor de diagnóstico pela sua falta de especificidade
tecidular (Pasupathi et al., 2009). Surgiram posteriormente os marcadores séricos
mioglobina e isoenzima MB da creatinina cinase (CK-MB), que melhoraram a
especificidade na avaliação da lesão do miocárdio e diminuíram o tempo para o
diagnóstico (Rains et al., 2014).
A troponina é o biomarcador de eleição na deteção de lesão do miocárdio. As
troponinas cardíacas I e T (cTnl, cTnT) têm sido consideradas o Gold standard, no
diagnóstico do enfarte agudo do miocárdio (EAM), pela sua elevada sensibilidade e
especificidade quando ocorrem lesões nos miócitos. A cinética de libertação precoce
das troponinas, após o enfarte agudo do miocárdio, é semelhante ao CK-MB. No
entanto, dos marcadores cardíacos atuais, as troponinas são as mais específicas do
tecido cardíaco e oferecem uma maior janela temporal de diagnóstico (Pasupathi et
al., 2009).
VIII Mestrado em Análises Clínicas Regina Viseu
101
Em doentes com EAM, qualquer elevação das troponinas cardíacas é indicativo de
danos no miocárdio. Com a implementação de testes com limites de deteção mais
sensíveis, elevações mínimas da troponina tornaram-se detetáveis, mesmo em
indivíduos sem sinais de isquemia e aparentemente saudáveis. Os estudos que
estabeleceram a troponina como o padrão para o diagnóstico do EAM envolveram
indivíduos jovens, com uma probabilidade elevada e preestabelecida de EAM (Morrow
et al., 2000; Rains et al., 2014). Apesar de já terem sido publicados alguns estudos
efetuados na população idosa, os resultados não são consensuais e o valor
diagnóstico dos ensaios de troponina permanece por determinar para este subgrupo
da população (Rains et al., 2014).
No estudo DHS (Dallas Heart Study), efetuado nos Estados Unidos, que incluiu 3557
doentes com idades entre 30-65 anos submetidos à avaliação dos níveis de troponina
T cardíaca (cTnT), encontraram apenas 1% dos indivíduos adultos jovens com níveis
de troponina detetáveis (Wallace et al., 2006).
Um estudo prospetivo suíço, PIVAS (Prospective Investigation of the Vasculature in
Uppsala Seniors), testou os níveis de troponina I cardíaca (cTnI) em 1005 indivíduos
com 70 anos de idade, sem história de doença coronária arterial instável. Os autores
verificaram o aumento dos níveis de cTnl em 21.8% dos indivíduos, sendo que, os
fatores preditivos foram o género masculino, a presença de fatores de risco
cardiovascular e a função sistólica ventricular alterada (Eggers et al., 2008; Zethelius
et al., 2006).
Um outro estudo, efetuado por Eggers e colaboradores (2013), avaliou 940 homens
com 71 anos de idade, dos quais 379 tinham diagnóstico de doença coronária arterial
e 561 eram, aparentemente, saudáveis. Foram determinados os níveis de cTnT, por
ensaios ultrassensíveis (hs-cTnT), tendo sido encontrados níveis detetáveis em 92,8%
dos indivíduos. Neste estudo, os níveis de cTnT foram associados ao risco de doença
cardiovascular e preditivos de eventos adversos nos homens que tinham maior
prevalência de doença cardiovascular, indicando um valor prognóstico baixo nos
indivíduos sem história de doença cardíaca (Eggers et al., 2013). Num outro estudo
efetuado pelo mesmo grupo, efetuou-se o follow-up numa população com mais de 70
anos em que se observou que os níveis de hs-cTnI aumentavam gradualmente ao
longo do tempo e eram, em média, 45% mais elevados nos mesmos indivíduos 5 anos
mais tarde (Eggers et al., 2013a).
Mais recentemente, o estudo MESA (Multi-Ethnic Study of Atherosclerosis), publicado
em 2017, avaliou 6814 indivíduos de ambos os sexos, incluindo 4 etnias diferentes
com idades entre os 45 e os 84 anos e consistiu na determinação de Troponina T de
alta sensibilidade (hs-cTnT), com um follow-up de 10 anos. Os autores concluíram que
VIII Mestrado em Análises Clínicas Regina Viseu
102
pequenas elevações de hs-cTnT estão associadas à incidência de insuficiência
cardíaca na população geral, por mecanismos ainda não determinados. Este estudo
demonstrou ainda um aumento linear de hs-cTnT em função da idade, com um
aumento de 4 vezes da quarta década para a oitava década de vida. Este estudo
relacionou a determinação de hs-cTnT com a identificação de indivíduos em risco de
desenvolver insuficiência cardíaca ou outra doença do foro cardíaco, podendo ser um
parâmetro bioquímico útil nas estratégias de prevenção dos indivíduos em risco,
nomeadamente dos mais idosos (Seliger et al., 2017).
Os péptidos natriuréticos são hormonas natriuréticas, produzidas pelos miócitos e
inicialmente identificadas no cérebro. A libertação destas neuro-hormonas equilibra os
efeitos do sistema renina-angiotensina-aldosterona, da endotelina e da ativação
simpática, causando vasodilatação e natriurese. Em resposta à tensão ou dilatação
crescente da parede do miocárdio é libertada uma pró-hormona, cuja clivagem na
circulação, liberta o péptido natriurético tipo B (BNP) e o seu fragmento N-terminal
mais estável (NT-proBNP). A concentração plasmática de ambos está elevada em
doentes com disfunção ventricular esquerda sistólica e diastólica e são,
frequentemente, usados no diagnóstico clínico de insuficiência cardíaca (Marques,
2009).
Apesar dos níveis de NT-proBNP e BNP estarem elevados numa grande variedade de
situações associadas à disfunção cardíaca, tais como, embolismo pulmonar, sepsis e
enfarte agudo do miocárdio, eles emergiram como indicadores precoces de
prognóstico da mortalidade, após um evento coronário agudo. Muito recentemente, a
concentração sérica dos péptidos natriuréticos foi relacionada com o risco de eventos
cardiovasculares e morte em pessoas assintomáticas, mas a sua importância na
prática clínica é ainda discutível (Rains et al., 2014). Sabe-se que a concentração
plasmática de NT-proBNP e BNP aumenta em idades avançadas, e que a idade
parece ser a variável independente mais importante para explicar os níveis
plasmáticos de NT-proBNP e BNP, não se sabendo ainda por que razão ocorre este
aumento. As primeiras pesquisas sugeriram como possível explicação, alterações na
estrutura cardíaca (ex.: o aumento da massa ventricular esquerda ou o aumento do
volume atrial esquerdo) e a redução da depuração renal dos péptidos natriuréticos,
que ocorre com a idade (Raymond et al., 2003). No entanto, num estudo com mais de
700 indivíduos, sem história clínica de doença cardíaca, renal, pulmonar ou diabetes,
sem medicação cardíaca e com função cardíaca normal, verificou-se que a idade se
manteve como um fator preditivo independente dos níveis séricos de BNP. Nesta
população, os níveis de BNP aumentaram com a idade e foi mais elevado em
mulheres do que em homens, no subgrupo de indivíduos com doença cardiovascular
VIII Mestrado em Análises Clínicas Regina Viseu
103
desconhecida ou doença coronária estrutural indetetável. A influência dos fatores pré-
analíticos como a idade e o género nos valores séricos de BNP, no subgrupo de
indivíduos normais, sugere que devem ser considerados quando se faz a interpretação
clínica deste parâmetro analítico (Redfield et al., 2002).
A aterosclerose está associada a um processo inflamatório, como tal, os marcadores
de inflamação têm vindo a ser investigados como potenciais ferramentas da predição
do risco cardíaco. Muitos estudos sugerem que a determinação da proteína C reativa
por métodos ultrassensíveis (hs-CRP) pode ser útil na predição do risco
cardiovascular. No entanto, este marcador apresenta grande limitação, devido à
elevada variação intraindividual da sua concentração plasmática, que pode conduzir a
uma má classificação do risco e, por outro lado, faltam estudos dos valores de
referência na população idosa (Pasupathi et al., 2009; Rifai & Ridker, 2001; Strait &
Lakatta, 2012).
A Mioglobina é um marcador de lesão cardíaca com baixa especificidade, uma vez
que está presente não apenas no miocárdio, mas também nas células dos músculos
esqueléticos. Dessa forma, qualquer dano nos músculos esqueléticos, também, causa
um aumento plasmático da sua concentração (Pasupathi et al., 2009). Um estudo
realizado em Itália comparou a variabilidade biológica da mioglobina entre 18
indivíduos idosos aparentemente saudáveis (idades 74-97 anos) e 14 indivíduos
jovens (idades 25-31 anos), de ambos os sexos. Embora seja uma amostra pequena,
os resultados mostraram valores de mioglobina mais elevados na população idosa do
que na população jovem. Os autores defendem que este aumento não é justificado
pela diferença na massa muscular, uma vez que esta tende a diminuir com a idade,
por uma menor atividade física no subgrupo dos mais idosos, mas poderia estar
relacionado com a diminuição da função renal. Este estudo mostrou que a variação
intraindividual não é diferente entre os indivíduos idosos e os jovens, e que essa
variação se mantém constante ao longo do tempo. A imprecisão dos métodos
analíticos, na determinação da mioglobina, é idêntica na população jovem e na
população idosa, não sendo uma causa para justificar as diferenças encontradas nos
dois grupos (Anesi et al., 2000).
4.5 Função Hepática
A percentagem de mortes atribuídas a doenças hepáticas aumenta, dramaticamente,
nos indivíduos com mais de 45 anos de idade. Dados de um estudo californiano de
1997 mostraram um aumento 4 vezes superior na mortalidade relacionada com
causas hepáticas, em homens e mulheres com idade entre os 45 e os 85 anos (Siegel
& Franklin, 1997). Um estudo anterior, efetuado também nos Estados Unidos da
VIII Mestrado em Análises Clínicas Regina Viseu
104
América, em 1993, mostrou que a doença hepática foi a nona causa de morte neste
país e que a taxa de mortalidade, por doença hepática crónica, era maior nos
indivíduos entre os 65 e os 74 anos de idade (Siegel & Franklin, 1997). Estes dados
sugerem que os idosos parecem ter uma maior suscetibilidade para a doença hepática
do que os indivíduos jovens (Schmucker, 2005).
Muitos estudos têm sido efetuados, tendo como objetivo relacionar o envelhecimento
do tecido hepático com as alterações no fígado, que se observam em situações
normais ou quando há patologia ativa. O envelhecimento está associado a alterações
graduais da estrutura e funções hepáticas, podendo aumentar o risco de incidência de
várias patologias e ser um fator de mau prognóstico, causando um aumento da taxa
de mortalidade (Kazuto & Shimizu, 2013; Kima et al., 2015; Regev & Schiff, 2001).
O volume e o fluxo sanguíneo hepático diminuem gradualmente com a idade (Kima et
al., 2015; Wynne et al., 1989). Foi determinado por exames de ultrassons, que o
volume do fígado diminui 20-40% à medida que envelhecemos, podendo relacionar-se
com a diminuição do seu fluxo sanguíneo e, consequentemente, com uma diminuição
de cerca de 35% no volume de sangue no fígado, que se verifica nos indivíduos com
65 anos de idade ou mais, quando comparado com os indivíduos adultos jovens
(Wynne et al., 1989).
A nível celular, a senescência dos hepatócitos incluem alterações do volume,
poliploidia (núcleos poliploides), acumulação de corpos densos (lipofucsina) dentro das
células, diminuição da área do reticulo endoplasmático liso e um declínio no número e
função das mitocôndrias (Wynne et al.,1989).
Assim, o volume das células hepáticas aumenta gradualmente, à medida que estas
alcançam a maturidade, mas começa a diminuir devido ao processo de
envelhecimento. A lipofucsina é constituída por agregados de proteínas de ligação
cruzada, não degradáveis, e formando-se quando as proteínas estão danificadas,
quando desnaturam devido ao stress oxidativo e não são degradas dentro das células
hepáticas. Estas lipofucsinas aumentam a formação de espécies reativas de oxigénio,
diminuindo a sobrevida das células (Hohn & Grune, 2013). A poliploidia dos
hepatócitos tende a ocorrer com mais frequência à medida que os indivíduos
envelhecem. É acompanhada pela diminuição do número e função das mitocôndrias,
resultando no declínio dos níveis de ATP nas células (Sastre et al., 1996). A área do
reticulo endoplasmático liso diminui, causando uma redução na formação do reticulo
endoplasmático e, consequente, redução da síntese de proteínas microssomais, no
fígado. Atualmente, sabe-se pouco sobre o efeito do envelhecimento nas células do
endotélio sinusoidal hepático (LSECs), nas células de Kupffer e nas células hepáticas
estreladas (HSCs) (Kima et al., 2015).
VIII Mestrado em Análises Clínicas Regina Viseu
105
Alguns estudos sugerem que o envelhecimento influencia negativamente a função do
fígado, por que causa alterações morfológicas substanciais no sistema vascular
sinusoidal. Com o envelhecimento, a espessura das LSEs é alargada em 50%,
enquanto o número e o diâmetro dos poros (fenestras) sinusoidais são reduzidos. A
defenestração das células endoteliais pode causar a deposição de lipoproteínas do
tipo quilomicras no fígado, influenciando negativamente a remoção efetiva de
substâncias depositadas em excesso e criando condições que permitem o
desenvolvimento de doenças autoimunes, pela interferência na interação entre
linfócitos T e hepatócitos (Warren et al., 2006). À medida que a endocitose das LSE se
torna disfuncional, com o avançar da idade, aumenta a deposição extra-hepática de
produtos circulantes na forma de macromoléculas. Subsequentemente, aumenta o
risco de doenças relacionadas com a idade incluindo a diabetes, aterosclerose, artrite
e doenças neuro degenerativas (Baynes, 2001).
As alterações relacionadas com a idade, incluindo o aumento do stress oxidativo, o
aumento da resposta inflamatória, a senescência celular acelerada e a disfunção
orgânica progressiva afetam, significativamente, a resposta celular ao dano. No
subsequente processo de lesão e regeneração, o envelhecimento diminui a
capacidade regenerativa, atrasando a recuperação da função hepática. A fibrose é a
consequência dessa resposta regenerativa e excessiva, desencadeada por danos
hepáticos crónicos (Sanz et al., 1999). A idade avançada tem sido considerada como
um fator de risco para a progressão de fibrose na hepatite C e a explicação para não
haver melhorias significativas nas hepatites alcoólicas, após cessar o consumo de
álcool, nos indivíduos idosos (Poynard et al., 2001).
4.5.1 Marcadores bioquímicos da função hepática
A atividade das enzimas hepáticas parece manter-se inalterada com a idade, mas os
níveis séricos de gama-glutamilaminotransferase (γ-GT) e de fosfatase alcalina (ALP)
estão mais elevados nas idades mais avançadas (Tajiri, 2013). Um estudo reportou
uma diminuição da concentração de alanina aminotransferase (ALT) com a idade, em
homens e em mulheres, independentemente da presença de síndrome metabólica,
sugerindo a necessidade de identificar um limite de corte (cut-off) adequado para os
valores normais de ALT, nos indivíduos idosos (Dong et al., 2010).
No processo natural de envelhecimento, a concentração de albumina sérica mantém-
se ou sofre uma ligeira diminuição e a bilirrubina tende a diminuir, devido à perda de
massa muscular e da diminuição da concentração de hemoglobina (Tajiri, 2013). Foi
reportada uma associação entre a idade e uma diminuição modesta da concentração
de albumina e um aumento da concentração de bilirrubina, após os ajustes para o
VIII Mestrado em Análises Clínicas Regina Viseu
106
género, uso de álcool e componentes da síndrome metabólica, sugerindo que a função
hepática pode estar diminuída nestes indivíduos (Tietz et al., 1992).
4.5.2 Perfil lipídico em idades avançadas
O colesterol no plasma tem três origens distintas: absorção intestinal a partir da dieta,
secreção de ácidos biliares pelo fígado e, subsequente, reabsorção no intestino, e
síntese hepática. A capacidade fisiológica de absorção intestinal do colesterol e a sua
síntese são determinadas geneticamente e adaptam-se às necessidades do
organismo. O colesterol é transportado no plasma pelas lipoproteínas, que são
macromoléculas compostas de éster de colesterol, triglicéridos, fosfolípidos e
proteínas (apoproteínas) polares que promovem a solubilidade necessária para o
transporte no plasma e são a chave para o seu metabolismo. As cLDL transportam a
maioria do colesterol no plasma (cerca de 60%) e são responsáveis pelo transporte do
colesterol do fígado para os tecidos periféricos e pelo seu depósito na camada íntima
das artérias sob certas condições, iniciando o processo de aterosclerose. As cHDL
podem remover o excesso de colesterol das células, incluindo dos macrófagos
carregados de colesterol das lesões ateroscleróticas e transportá-lo para o fígado.
Transportam cerca de 30% do colesterol no plasma. O balanço destas duas
lipoproteínas determina o iniciar, a progressão e as complicações das placas de
ateroma e, consequentemente, a doença associada (Francisco et al., 2013).
A concentração plasmática do colesterol aumenta com a idade, desde a puberdade
até aos 45 ou 55 anos de idade, no homem, e depois começa a diminuir. Na mulher,
continua a aumentar durante mais de 10 anos em relação ao homem, começando,
posteriormente, a diminuir. Esta diminuição pode ser explicada pela alteração da
função hepática com a idade, mas pode, também, resultar de uma seleção positiva de
sobrevida dos indivíduos com níveis baixos de colesterol. Os níveis séricos de cHDL
variam menos, quando comparado com a cLDL, especialmente nos homens. Nas
mulheres há estudos que mostram uma maior flutuação pós-menopausa. Os fatores
que determinam a concentração plasmática do colesterol são variados e dependem de
circunstâncias específicas do indivíduo idoso, incluindo a dieta, exercício físico,
alterações metabólicas e presença de comorbilidades (hipotiroidismo, obesidade,
diabetes tipo 2, nefropatia e medicação) (Francisco et al., 2013; Mathers, 2012; Tajiri,
2013).
Não está determinado o valor ótimo de colesterol no sangue nos indivíduos com mais
de 80 anos, e não está clarificada a relação entre os níveis de lípidos no sangue e o
aumento do risco de mortalidade por doença cardiovascular, nessa população mais
idosa (Mathers, 2012). Apesar da concentração plasmática de colesterol tender
VIII Mestrado em Análises Clínicas Regina Viseu
107
fisiologicamente a diminuir com a idade, a prevalência de hipercolesterolemia é muito
elevada nos idosos, devido à associação entre os fatores ambientais, genéticos e as
comorbilidades descritas anteriormente. A maioria das doenças cardiovasculares
também é mais prevalente neste subgrupo da população, tendo sido demonstrada, em
vários estudos, a associação entre os níveis elevados de colesterol no sangue e
algumas dessas doenças. As Estatinas são uma terapêutica de prevenção de doenças
cardiovasculares que tem mostrado ser efetiva, sendo positivo o balanço do risco
benefício, na população idosa. Para os indivíduos com mais de 80 anos não há
evidências de que a terapia com as Estatinas seja benéfica, estando descritos mais
efeitos secundários a partir desta idade (Francisco et al., 2013).
Considera-se que avaliar, repetidamente, o perfil lipídico em pessoas com mais de 65
anos e com valores basais normais, tem um valor semiológico limitado. No entanto,
sabe-se que concentrações séricas baixas de lípidos podem indicar um défice
nutricional ou a presença de uma patologia oculta numa pessoa idosa, e refletir um
risco aumentado de morbilidade e mortalidade (Di Angelantonio et al., 2012).
4.6 Função Renal
Durante o processo de envelhecimento, o rim sofre alterações estruturais e fisiológicas
que incluem, a nível celular, uma diminuição da capacidade de proliferação, uma
tendência para o aumento da apoptose, alterações no perfil dos fatores de
crescimento, alterações no potencial das células progenitoras totipotenciais e das
células imunitárias. As alterações estruturais incluem a perda de massa glomerular e
tubular (Cefalu, 2011).
O envelhecimento do rim é um processo multifatorial envolvendo o género, raça e
background genético. Os mediadores chave, tais como inflamação crónica, stress
oxidativo, sistema renina-angiotensina-aldosterona e história de doença
cardiovascular, alteram a capacidade fisiológica do rim e têm um papel muito
importante neste processo. O rim idoso responde de forma mais lenta à diurese ou à
conservação do volume dos fluidos, resultando num risco aumentado de hipervolémia
e hipovolémia (Cefalu, 2011).
Para uma correta avaliação do risco de desenvolver doença renal crónica na
população idosa, é fundamental o estudo assertivo dessa mesma função renal,
principalmente quando há concomitantemente comorbilidades, tais como, a diabetes
ou a doença hipertensiva, que aceleram o decaimento da taxa de filtração glomerular
(TFG). A função renal, medida pela TFG, diminui a partir dos 40 anos a um ritmo de
1% ao ano, sendo mais acelerado nas últimas décadas de vida (Bolignano et al.,
2014; Cefalu, 2011).
VIII Mestrado em Análises Clínicas Regina Viseu
108
A avaliação da função renal, no quadro do envelhecimento, é problemática e a
questão de saber se o envelhecimento renal deve ser considerado como um processo
fisiológico ou patológico, continua a ser uma questão muito debatida (Bolignano et al.,
2014).
4.6.1 Marcadores bioquímicos da função renal
As fórmulas tradicionais, para estimar a TFG, baseada na creatinina sérica, podem ser
inapropriadas para os idosos, porque a sarcopenia e a perda de peso corporal, que
estão associadas ao processo de envelhecimento, reduzem a produção diária de
creatina, cujos níveis são, também, influenciados pelo aporte de proteínas e pela
hidratação (Fliser, 2008).
O intervalo de referência para a creatinina, considerado para os jovens saudáveis, é
inapropriadamente elevado para os idosos. Se os seus valores séricos, embora dentro
dos valores normais, se situarem perto do limite superior, podem esconder uma
disfunção renal precoce, no idoso. Se a função renal estiver comprometida ocorrerá o
aumento da creatinina no plasma, mas se a produção de creatinina estiver diminuída,
como acontece nos indivíduos com mais idade, esse aumento será muito mais lento
(Musso et al., 2009).
Nos indivíduos idosos, a TFG é sistematicamente subestimada pela fórmula de
Cockcroft–Gault (CG), sendo a equação Modification of Diet in Renal Disease (MDRD)
mais adequada, apesar de não estar validada para este grupo etário. A discordância
de valores na estimativa da TFG, entre estas duas fórmulas, é de tal forma que a
MDRD pode ser quase 60% mais elevada do que a CG, em indivíduos com mais de 65
anos (Berman & Hostetter, 2007).
O estudo Chronic Kidney Disease Epidemiology Collaboration (CKD-EPI) comparou as
3 fórmulas mais recentes utilizando a creatinina (CKD-EPI Cr), a cistatina C (CKD-EPI
Cys), ou ambas (CKD-EPI Cr-Cys), em 394 indivíduos idosos com média de idades de
80 anos. Os resultados mostraram que estas fórmulas têm menor desvio e maior
precisão na estimativa da TFG, quando comparadas com o método padrão (TFG
medida pelo Iohexol), do que as fórmulas anteriores (Kilbride et al., 2013).
O doseamento sérico de cistatina C é um marcador promissor na avaliação da função
renal, especialmente quando o resultado é comparado com os valores de referência
ajustados à idade. As fórmulas baseadas na cistatina C são melhores preditores de
morbilidade e mortalidade, provavelmente pelo facto deste marcador refletir um
processo inflamatório em curso, podendo ser preditivo de eventos clínicos futuros
nesses indivíduos (Bolignano et al., 2014; Ognibene et al., 2006).
VIII Mestrado em Análises Clínicas Regina Viseu
109
As guidelines do KDIGO (Kidney disease improving global outcomes) estabeleceram
como linha de corte (cut-off) para a TFG os 60 mL/min/1.73 m2, valor abaixo do qual a
função renal deve ser considerada claramente alterada, no entanto, este valor não tem
em consideração a idade (K/DOQI, 2002). Não é consensual que indivíduos idosos,
sem história clínica prévia de doença renal, com TFG entre 45-60 mL/min/1.73 m2,
particularmente na ausência de proteinuria ou de outros parâmetros laboratoriais com
significado clínico na urina, devam ser diagnosticados como tendo uma patologia renal
(Stein et al., 2012). O sobre diagnóstico de doença renal crónica em idosos de baixo
risco, pode resultar em danos para os indivíduos e aumento dos custos económicos
(Bolignano et al., 2014).
4.7 Função endócrina
O envelhecimento afeta a função neuro-endócrina influencia a estrutura e função dos
órgãos endócrinos periféricos, sendo acompanhado por alterações no número e
sensibilidade dos recetores hormonais, podendo, assim, alterar a resposta dos tecidos
alvo, às hormonas e aos neurotransmissores (Gesing et al., 2012).
As alterações do sistema endócrino relacionadas com a idade estão bem
estabelecidas e existem inúmeros estudos que ajudaram a estabelecer uma relação
causal, principalmente no que se refere ao envolvimento das hormonas sexuais
(Mathers, 2012). Muitos sinais e sintomas, observados em indivíduos jovens com
deficiências hormonais seletivas, são semelhantes às alterações observadas durante o
processo de envelhecimento, sendo que a reposição dessas hormonas nesses
indivíduos jovens reverteu, quase sempre, a situação, ajudando a estabelecer essa
relação (Lamberts et al.,1997).
As principais alterações endócrinas relacionadas com a idade incluem a diminuição
das hormonas sexuais, estrogénio e testosterona. A nível do eixo hipotálamo-pituitária-
adrenal, ocorre a redução da síntese de desidroepiandrosterona (DHEA) e sulfato de
desidroepiandrosterona (DHEAS), num processo denominado adrenopausa, que
ocorre nos homens e nas mulheres por volta dos 20-30 anos, bem como a redução da
produção de hormona do crescimento e IGF-1, processo reconhecido como
somatopausa (Baulieua et al., 2000; Forti, 2012; Junnila et al., 2013).
4.7.1 Hormonas sexuais – menopausa e andropausa
A menopausa é a alteração mais repentina e dramática, que ocorre na mulher por
volta dos 50 anos de idade, em que o ciclo de produção de Estradiol (E2), pelos
folículos no ovário, atinge a exaustão e o período fértil termina. O E2 produzido no
tecido não endócrino (ex.: no tecido adiposo) mantém-se permanentemente em níveis
VIII Mestrado em Análises Clínicas Regina Viseu
110
muito baixos. A queda abrupta dos níveis de estrogénio e a perda total de
menstruação é acompanhada por reações vasomotoras, perturbações do sono,
alterações na pele e na composição corporal, e comportamento depressivo (Araújo &
Wittert, 2011; Lamberts et al., 1997). No entanto, há autores que referem que a
diminuição da produção de estrogénios ocorre um a dois anos antes da menopausa
(Mathers, 2012).
No homem, o hipogonadismo, associado à idade, não se desenvolve de forma tão
evidente. A principal diferença da andropausa para a menopausa é a diminuição
gradual, muitas vezes subtil, dos níveis de androgénios. A concentração sérica de
testosterona no homem começa a diminuir por volta dos 40 anos de idade, a um ritmo
anual de 0.4% e 1.2% de testosterona total e livre, respetivamente (Morley et al.,
1997). Alguns autores relacionam o maior declínio dos níveis de testosterona livre,
com o aumento das globulinas de ligação às hormonas sexuais (SHBG) que ocorre
com a idade (Araújo & Wittert, 2011; Morley et al., 1997).
A andropausa é caracterizada pela diminuição do número e capacidade secretora das
células Leydig nos testículos, e uma diminuição da produção e estímulo da secreção
de gonadotrofina. No entanto, não está totalmente esclarecido se as alterações na
atividade da testosterona são responsáveis pelas alterações biológicas que ocorrem
durante o envelhecimento do homem, tais como, a redução da atividade sexual, da
massa e força muscular, e da mineralização óssea (Lamberts et al., 1997; Plas et al.,
2000).
4.7.2 Hormonas suprarrenais
O córtex adrenal secreta elevada quantidade de precursores esteroides, a
desidroepiandrosterona (DHEA) e o seu derivado sulfato de desidroepiandrosterona
(DHEAS). A concentração sérica de DHEAS no homem e na mulher, na idade adulta,
é mais de 100 vezes superior à testosterona e mais de 1000 vezes superior ao
estradiol. Nos indivíduos saudáveis, a concentração sérica de DHEA e do seu sulfato
atingem o seu pico por volta 30 anos de idade. A partir dai, a concentração de ambos
começa a diminuir, gradualmente, atingindo entre os 70 e 80 anos de idade, apenas
20% e 30%, do valor mais alto atingido aos 30 anos de idade no homem e na mulher,
respetivamente. A DHEA e a DHEAS parecem ser precursores inativos que, por vias
enzimáticas, são transformados em androgénios e/ou estrogénios nos tecidos
(Lamberts et al., 1997).
Nas mulheres pós-menopausa, cerca de 100% das hormonas esteroides são
sintetizadas nos tecidos periféricos, a partir de precursores de origem adrenal e
apenas uma pequena parte é sintetizada no ovário. Pode assumir-se, virtualmente,
VIII Mestrado em Análises Clínicas Regina Viseu
111
que nas mulheres pós-menopausa, quase todas as hormonas sexuais esteroides
ativas são sintetizadas nos tecidos alvo, onde vão exercer o seu efeito, sem serem
libertadas para o espaço extracelular e para a circulação sistémica. O mesmo
acontece na produção de androgénios no homem idoso, em que menos de 50% dos
androgénios são produzidos nos testículos (Lamberts et al., 1997).
O Cortisol é uma hormona que influencia uma grande variedade de processos
biológicos e está implicada em vários eventos com impacto na saúde humana. Os
estudos efetuados mostram uma grande variabilidade no ritmo circadiano da secreção
do cortisol relacionada com a idade, mas há uma crescente evidência de que a idade
avançada pode estar associada com níveis de secreção diurna mais elevados em
reposta ao stress (Lupien et al., 2005; Otte et al., 2005; Wrosch et al., 2009).
4.7.3 Hormonas da tiroide e paratiroide
Durante o processo de envelhecimento ocorrem inúmeras alterações morfológicas e
fisiológicas na tiroide. Apesar de não se observarem alterações significativas no
tamanho da glândula, a sua densidade aumenta e a absorção de iodo mantém-se
inalterada ou diminui ligeiramente (Atzmon et al., 2009).
A especificidade das patologias da tiroide, nos idosos, difere das observadas nos
indivíduos jovens, sobretudo pela presença mais subtil dos sintomas e que são, muitas
vezes, atribuídas ao envelhecimento, influenciando negativamente as suas funções
físicas e cognitivas. O hipertiroidismo, o hipotiroidismo e as neoplasias da tiroide, são
mais prevalentes com o aumento da idade e requerem especial atenção nos
indivíduos com mais de 65 anos (Gesing et al., 2012).
O envelhecimento saudável é caracterizado por um aumento da secreção e,
consequentemente, dos níveis séricos da hormona estimulante da tiroide (TSH),
sugerindo um declínio na função da glândula, ou uma alteração no seu valor basal,
como consequência de uma menor atividade biológica desta hormona (Atzmon et al.,
2009; Gesing et al., 2012). Concomitantemente, ocorre uma ligeira diminuição da
concentração da hormona triiodotironina (T3) e de T3 livre (fT3) e um aumento dos
níveis de T3 reversa (rT3). A síntese de tiroxina (T4) também diminui com a idade,
mas os níveis de T4 e T4 livre (fT4) permanecem inalterados, uma vez que o seu
tempo de semivida em circulação é superior (Jonas et al., 2015).
Num estudo efetuado em indivíduos centenários observou-se uma baixa atividade das
hormonas tiroideias, o que é consistente com numerosos dados que indicam que o
hipotiroidismo ligeiro ou subclínico, nos idosos, está associado ao aumento da
longevidade e a uma melhor saúde (Atzmon et al., 2009; Gesing et al., 2012).
VIII Mestrado em Análises Clínicas Regina Viseu
112
Em relação à paratormona, a sua concentração sérica apresenta-se ligeiramente mais
elevada nos idosos do que nos indivíduos adultos jovens. A causa mais provável é a
diminuição da concentração do cálcio sérico, devido à leve deficiência de vitamina D e
à retenção de fosfatos, causada pelo declínio da função renal (Zjacic-Rotkvic et al.,
2010).
4.7.4 Eixo Hormona do crescimento (GH) / Fator de crescimento semelhante à
insulina 1 (IGF-1)
O envelhecimento humano é acompanhado por uma diminuição gradual da secreção
da hormona do crescimento (GH) e uma diminuição paralela dos níveis de IGF-1,
observado em ambos os sexos (Bartke, 2009).
A secreção de GH no idoso pode ser, apenas, 5 a 10% da secreção observada nos
adultos jovens. A amplitude, a duração do impulso e a quantidade secretada de GH,
diminuem progressivamente com a idade, mas a frequência do impulso de secreção
mantém-se (Zjacic-Rotkvic et al., 2010). Estas alterações são uma consequência da
diminuição dos níveis basais da secreção da hormona de libertação da hormona de
crescimento (GHRH) no hipotálamo, e de uma função secretora somatotrófica
alterada, associadas à idade e ao estilo de vida (sedentarismo e distúrbios do sono)
(Bartke, 2009).
4.7.5 Função endócrina e tecido adiposo
Estudos recentes sugerem que o tecido adiposo desempenha um papel de órgão
endócrino ativo, secretando uma grande quantidade de substâncias bioativas
denominadas adipocinas (Yasumichi et al., 2008). Estas hormonas, recentemente
descobertas, apresentam um papel chave na regulação da inflamação, bem como do
apetite. É importante relembrar que alterações nos níveis plasmáticos de adipocinas
têm sido relacionadas com o risco de obesidade e síndrome metabólico (Ouchi et al.,
2011).
O estudo da relação das adipocinas com a idade está muito no início, mas há
evidências que a concentração da adiponectina parece aumentar com a idade e de
forma mais acentuada no sexo masculino (Kizer et al., 2010). Parece haver evidências
de uma forte ligação entre a adiponectina e a mortalidade, independentemente do
valor basal do índice de massa corporal, mas são poucos os estudos que a relacionam
com a fragilidade, havendo apenas um estudo que reportou que as alterações na
concentração de adiponectina, estão relacionadas com o aumento da incapacidade
física, que é uma das características da síndrome de fragilidade (Kizer et al. 2010;
Kizer et al., 2011).
VIII Mestrado em Análises Clínicas Regina Viseu
113
A leptina é uma adipocina produzida nos adipócitos e responsável pela regulação do
apetite, ocorrendo, com a idade, uma resistência central àquela adipocina (Stenholm
et al., 2011). Num estudo com pessoas com mais de 100 anos, verificou-se que os
indivíduos com menor concentração de leptina apresentavam maior risco de
mortalidade; contudo, estes resultados não foram reprodutíveis com outro estudo, em
que não se encontrou relação entre a leptina e a mortalidade, na população idosa
estudada (Borsch-Supan et al., 2013).
4.7.6 Alterações hormonais, idade e saúde
As alterações endócrinas relacionadas com os mecanismos de tolerância à glicose e à
função tiroideia são dos mais prevalentes e clinicamente relevantes (pela associação a
patologias), durante o envelhecimento (Ascott-Evans & Kinvig, 2004; Lamberts et al.,
1997).
Os resultados dos estudos das hormonas testosterona, estrogénio, DHEAS e GH/IGF-
1, mostraram fortes evidências que suportam a associação entre o sistema endócrino
e o envelhecimento. Contudo, essa relação, entre a idade, as alterações hormonais e
o estado de saúde, parece não ser linear para todos os marcadores endócrinos (Baylis
et al., 2013; Burgers et al., 2011; Mathers, 2012; Mazat et al., 2001).
Assim, o eixo endócrino GH/IGF-1 tem assumido particular interesse no processo de
envelhecimento e no estudo do metabolismo energético muscular. A diminuição da
secreção de GH e IGF-1, com a idade, está associada à perda de capacidade de
efetuar exercício físico e à sarcopenia, que são elementos importantes na
caracterização dos fenótipos de fragilidade (Yasumichi et al., 2008).
Níveis baixos de IGF-1 têm sido relacionados com a redução da força muscular, mas,
por outro lado, tanto teores baixos como elevados, têm sido associados com a
mortalidade (Burgers et al., 2011). As alterações fisiológicas que ocorrem como
consequência da diminuição dos níveis de GH incluem a diminuição da massa
corporal magra, diminuição da densidade mineral óssea e um aumento do tecido
adiposo (especialmente dentro da cavidade abdominal). Todos estes fatores irão
contribuir para o aumento dos distúrbios metabólicos, das doenças cardiovasculares,
de fraturas e, consequentemente, da mortalidade (Lamberts et al., 1997; Zjacic-Rotkvic
et al., 2010).
Foi demonstrado que os níveis de DHEAS diminuem com a idade, mas a relação entre
a mortalidade e a DHEAS tem sido algo discrepante pois cerca de 60% dos estudos
apontam para uma relação linear e 40% apontam para não haver qualquer relação,
mas alguns estudos reportaram não haver relação com o aumento da mortalidade
(Forti, 2012; Kahonen et al., 2000).
VIII Mestrado em Análises Clínicas Regina Viseu
114
O cortisol tem sido associado ao aparecimento de patologias e condições
incapacitantes, relacionadas com a idade. A produção de cortisol parece ter maior
impacto na memória e na cognição. Foi demonstrado, em vários estudos, que os
níveis elevados de cortisol estão associados com pior desempenho e um declínio mais
acentuado da memória, especialmente nas mulheres (Diamond et al., 1996; Kalmijn et
al., 1998; Wrosch et al., 2009). Num pequeno estudo prospetivo holandês, em 189
idosos aparentemente saudáveis, com idades entre os 55 e 80 anos, foi confirmada
uma relação entre a concentração das hormonas esteroides adrenais e a função
cognitiva. O risco aumentado de declínio cognitivo foi associado a uma menor
supressão dos níveis de cortisol, após a administração de dexametasona, e os níveis
de cortisol livre parecem estar associados a um comprometimento cognitivo. Estes
resultados suportam o conceito de que o stress e a ansiedade têm consequências
importantes no que respeita ao grau e à velocidade do declínio da memória e outras
capacidades cognitivas, nos idosos (Kalmijn et al., 1998; O’Brien et al.,1994).
Estudos longitudinais mostraram evidências que, padrões anómalos de secreção do
cortisol estão associados ao aumento da pressão sanguínea, metabolismo alterado da
glicose (insulina em jejum e razão insulina/glicose), e ao aumento da incidência de
doenças cardiovasculares e diabetes tipo 2, no homem (Rosmod et al., 2003; Steptoe
& Kivimaki, 2012). Mais recentemente, foi identificada uma associação entre o
aumento da secreção do cortisol em resposta ao stress e a calcificação das artérias
coronárias, que pode influenciar o risco de doença cardíaca e hipertensão (Hamer et
al., 2012).
A relação entre as hormonas sexuais e a sua diminuição gradual, com a idade, está
bem estabelecida. As evidências da relação causal entre o declínio físico e
psicossocial e o envelhecimento foram encontradas em estudos que envolvem terapia
hormonal de substituição (MacLean et al., 2008). Um estudo envolvendo um grupo de
400 homens idosos, não institucionalizados, com idades entre os 73 e os 94 anos
(média de idades de 78 anos), mostrou uma associação positiva entre a concentração
sérica de testosterona livre e total e a força muscular, assim como uma relação inversa
com a massa gorda (Vermeulen, 2001). Outro estudo, numa população de 856
homens com idades entre os 50 e os 89 anos, concluiu que a baixa biodisponibilidade
da testosterona estava associada a comportamentos depressivos (Vermeulen, 2001).
Os níveis de estrogénio e testosterona têm sido relacionados com a mortalidade, com
forte associação entre níveis baixos de testosterona e a mortalidade por causas
cardiovasculares. Um outro estudo mostrou uma associação entre a testosterona e a
doença cardiovascular, tendo os autores proposto que a testosterona poderia ser um
marcador de ausência de saúde em geral (Ruige et al., 2011). A fragilidade e a perda
VIII Mestrado em Análises Clínicas Regina Viseu
115
de massa óssea, também, têm sido associadas a baixos níveis de testosterona e
estrogénio (Travison et al., 2011).
Tabela IV: Biomarcadores endócrinos relacionados com o envelhecimento e o seu
grau de associação à mortalidade e à fragilidade:
Função
endócrina
Analito Relação com
a idade
Preditor de
mortalidade
Associação
com a
fragilidade
Adiponectina +++ +++++ +
DHEAS: taxa cortisol ++ + ++
DHEAS +++++ ++ ++
Hormona de
crescimento/IGF-1
+++++ ++ ++
leptina ++ + +
Estrogénios +++++ + +++++
Somatostatina + + +
Testosterona +++++ + ++++
Hormonas da tiroide ++ + +++
Adaptado de Guidelines for biomarkers of healthy ageing (Mathers 2012): +++++ Muito alto; ++++ alto, +++ moderado,
++baixo, + muito baixo ou nulo.
4.8 Metabolismo da glicose
No processo de envelhecimento são muito importantes os mecanismos de reparação
dos danos, a nível celular e molecular, o que requer uma elevada quantidade de
energia disponível. A privação de energia, quando as suas reservas estão abaixo de
um determinado nível, tem sido descrita como uma componente importante da
síndrome de fragilidade (Yasumichi et al., 2008).
O envelhecimento pode estar associado a diversos fatores, relacionados com o
metabolismo glucídico, nomeadamente, a alterações nos recetores da insulina, à
diminuição do número de unidades transportadoras da glicose nas células alvo, a
alterações no metabolismo dos hidratos de carbono, incluindo diminuição da massa
muscular corporal, ao aumento da adiposidade, à diminuição da oxidação celular da
glicose e ao aumento da gliconeogénese hepática. Todas estas alterações podem
culminar no que é reconhecido como “Tolerância diminuída à glicose” (Mathers, 2012;
Kalyani & Egan, 2013). A prevalência da diabetes é duas vezes mais elevada em
indivíduos adultos com mais de 60 anos, do que em jovens adultos. Os idosos com
diabetes e/ou alterações no metabolismo da glicose, podem estar em maior risco de
desenvolver eventos adversos e/ou patologias relacionadas com o envelhecimento,
VIII Mestrado em Análises Clínicas Regina Viseu
116
nomeadamente, perda acelerada de massa muscular, incapacidade funcional,
fragilidade e mortalidade precoce. A diabetes tipo 2 é a doença crónica mais comum
nos idosos (Shih & Tseng, 2009).
Nos doentes diabéticos, os biomarcadores da desregulação do metabolismo da
glicose mais comuns, incluem a concentração da glicose em jejum no sangue e a
hemoglobina glicada (HbA1C). No entanto, os seus níveis séricos podem, também,
estar associados à idade, sendo considerados preditores de eventos cardiovasculares
futuros e mortalidade, problemas cognitivos e demência, em pessoas não diabéticas
(Crane et al., 2013; Thompson et al., 2011). Uma diferença de 1% nos níveis de
HbA1c, está associada a uma diferença de 20% a 26% no risco de doença coronária e
mortalidade, respetivamente (Crane et al., 2013).
Estudos efetuados demonstraram que a média dos níveis de glicose no sangue
aumenta com a idade e por década, aproximadamente 2mg/dL e 4mg/dL em jejum e
pós-prandial, respetivamente (Pokorski, 1990; Tietz et al., 1992). Assim se aplicarmos
os valores de referência da população geral aos indivíduos idosos, haverá uma grande
percentagem que serão considerados diabéticos, levantando a questão se o aumento
sérico da glicose com a idade poderá ser fisiológico e não patológico. No entanto,
existem muitos estudos que associam os níveis elevados de glicose no sangue, com
um mau prognóstico e como uma primeira manifestação de doença e não uma
alteração fisiológica normal do processo de envelhecimento (Crane et al., 2013;
Pokorski, 1990; Thompson et al., 2011). Um metabolismo glucídico favorável, tem sido
identificado como um fator central na longevidade de algumas famílias, colocando-se a
hipótese que os indivíduos centenários, terão uma estratégia adaptativa ótima na
manutenção da homeostasia dos níveis de energia metabólica, a partir de vias
regulatórias múltiplas (Rozing et al., 2010).
5 – BIOQUÍMICA CLÍNICA EM GERIATRIA
Os termos idoso, geriátrico e pessoa idosa são usados para descrever o mesmo
subgrupo da população. Uma vez que a idade é um processo muito dinâmico, os
limites cronológicos podem nem sempre ser o método mais preciso para definir este
subgrupo; no entanto, como forma de estabelecer os cálculos de intervalos de
referência, torna-se o mais prático. A necessidade de estabelecer valores ou intervalos
de referência, para este subgrupo da população, prende-se com o aumento da
variabilidade pré-analítica e alterações fisiológicas com o avançar da idade, e que
afetam os parâmetros analíticos (Arseneau 2015; Siber, 2007).
VIII Mestrado em Análises Clínicas Regina Viseu
117
5.1 Variabilidade biológica no subgrupo da população geriátrica
A maioria das variáveis pré-analíticas que afetam a concentração de um determinado
analíto na população adulta, afetam, também, a população idosa e podem ter um
efeito maior ou menor neste subgrupo. Em relação ao género, as diferenças
observadas entre mulheres e homens adultos, podem aumentar ou diminuir com a
idade. A diferença na dieta nos indivíduos idosos em relação aos jovens, pode afetar
os testes laboratoriais, pois sabe-se que muitas pessoas idosas sofrem de má
nutrição, insuficiência proteica e restrição calórica. Alterações nos padrões de sono,
stress, mobilidade, dificuldade na colheita de sangue e efeitos cumulativos de vários
comportamentos associados ao estilo de vida, também, contribuem para aumentar a
variabilidade biológica observada nos indivíduos idosos (CLSI, 2008). O
desenvolvimento de morbilidades e o conceito de idade biológica são uma grande
fonte de heterogeneidade nos indivíduos idosos. É comum, nas pessoas com mais de
65 anos de idade ter pelo menos uma doença crónica e é, também, muito comum que
dois indivíduos, exatamente com a mesma idade cronológica, tenham estadios de
saúde muito diferentes. Devido à dificuldade em definir a idade biológica, a idade
cronológica é tipicamente o método mais usado para classificar os subgrupos etários,
quando se pretende determinar os valores de referência de um determinado analito
(Sieber, 2007).
O aumento da variabilidade biológica tem impacto nos cálculos dos valores de
referência, porque obriga a um aumento do número ou amplitude das faixas etárias
estabelecidas, que por sua vez aumenta, inevitavelmente, o número de indivíduos
necessários para estabelecer os valores de referência, durante o recrutamento e
obtenção de amostras. Um aumento da variabilidade biológica também irá afetar a
validade e a confiança no valor estimado para o intervalo de referência. Por último, o
aumento da variabilidade biológica pode aumentar a imprecisão dos valores de
referência estimados, porque torna os intervalos de confiança maiores (Arseneau,
2015).
Apesar dos inúmeros estudos referidos na literatura que reportam alterações da
concentração de vários analítos associadas à idade, a sua determinação raramente é
efetuada em estudos previamente padronizados, utilizando intervalos de referência
determinados para a faixa etária a que pertencem. Na maioria das vezes, os intervalos
de referência da população geriátrica não são disponibilizados, sendo usados, para a
interpretação de testes laboratoriais de indivíduos idosos, os intervalos de referência
obtidos na população de “jovens” adultos, ou seja, indivíduos com idade compreendida
entre 20 e os 50 anos (Arseneau, 2015).
VIII Mestrado em Análises Clínicas Regina Viseu
118
Os intervalos de referência são, normalmente, estabelecidos pelos laboratórios com
base em resultados obtidos em populações de referência por eles testadas ou
descritos na literatura. Uma população de referência deve ter como critério, ser um
grupo bem definido de indivíduos e ser o mais semelhante possível ao doente em
investigação. Frequentemente, essa população tem sido recrutada a partir de
indivíduos jovens adultos institucionalizados que, na maioria das vezes, não preenche
este critério (Kallner et al., 2000).
Interpretações erradas dos resultados dos testes laboratoriais, devido ao uso
inadequado dos valores de referência, levam a falsos resultados negativos e positivos.
Resultados falsamente negativos são a maior fonte de dano para o paciente. Por outro
lado, procedimentos que consomem tempo e são motivo de preocupação são, muitas
vezes, efetuados na medicina para substanciar (falsos) resultados positivos, sendo,
não só prejudiciais para o doente e família cuidadora, como são a maior causa de
custos económicos desnecessários.
5.2 Valores de referência
O conceito de valores de referência foi inicialmente estabelecido em 1970 por um
grupo escandinavo e desenvolvido por numerosos grupos de trabalho de sociedades
nacionais (francesas e espanholas), assim como a nível internacional, particularmente
pela International Federation of Clinical Chemistry and Laboratory Medicine (IFCC) e
National Committee for Clinical Laboratory Standards (NCCLS, atualmente CLSI), nos
anos oitenta do século XX. Estes grupos estabeleceram e documentaram as
recomendações e padronizações utilizadas, atualmente, pelas diversas sociedades
cientificas nacionais (Alstrom et al., 1993, Sasse, 2002).
Os valores de referência podem ser definidos como o intervalo de valores aceitáveis
para uma população saudável. São selecionados indivíduos referência na população
geral, formando a chamada “população de referência”, com base em critérios de
inclusão e de exclusão. Estes critérios, de exclusão e inclusão, devem assegurar que,
pelo menos, todos os indivíduos sejam “aparentemente” saudáveis, ou que não
tenham nenhuma característica que possa interferir com a determinação do analíto em
estudo. Tipicamente são incluídos dadores de sangue, indivíduos que fazem análises
de rastreio com regularidade, análises de genéticas de rastreio ou que sejam sujeitos
a intervenções cirúrgicas mínimas (Arseneau, 2014; Henny et al., 2016).
É importante e crítico conhecer o intervalo de referência dos testes laboratoriais,
porque este irá corresponder a valores basais que permitem a discriminação de um
resultado na avaliação do valor diagnóstico de um teste, para uma determinada
patologia ou condição clínica específica. Os intervalos de referência devem ser
VIII Mestrado em Análises Clínicas Regina Viseu
119
determinados de uma forma científica e sistemática, de forma a proporcionar um
elevado grau de confiança, no processo de decisão clínica. Devem ter em
consideração os vários fatores e variáveis, introduzidas pelos indivíduos da amostra
de referência específica, ou pelo próprio processo analítico (Arseneau, 2014; Ichihara
& Boyd, 2010; Henny et al., 2016; Sasse, 2002).
A sensibilidade, a especificidade, o valor preditivo e a eficiência diagnóstica, definem a
precisão diagnóstica de um teste laboratorial para uma determinada patologia ou
condição clínica, sob circunstâncias definidas e para uma determinada população de
indivíduos a testar. Estes indicadores são altamente dependentes do limite de decisão
clínica, ou valor de corte de decisão diagnóstica, utilizados na interpretação do
resultado do teste laboratorial e variam com diferentes valores de corte (cut-off). Um
valor de corte é, então, um limite de decisão clínica, ou às vezes, também, chamado
de valor de referência associado à doença, com base na informação médica
relacionada com uma condição médica específica (Sasse, 2002). O melhor valor de
corte, para uma determinada população, é o que permite discriminar os indivíduos com
doença dos indivíduos sem a doença. Estes valores nem sempre são fáceis de
encontrar uma vez que os intervalos ou valores de referência estão associados ao
estado de “saudável” (valores normais), ou seja, não são originados pela informação
clínica associada com uma patologia específica ou condição clínica, mas são
unicamente baseados nos resultados dos testes obtidos em indivíduos saudáveis
(Arseneau, 2014).
5.3 Seleção de indivíduos de referência para uma determinada população
O termo saudável é relativo e não universal, o que torna a definição do que é
considerado saudável, um problema transversal a qualquer estudo. Estabelecer os
critérios de exclusão dos indivíduos não saudáveis da amostra de referência é o
primeiro passo no processo de seleção dos indivíduos que irão integrar essa amostra
(Sasse, 2002). A OMS define saúde como um estadio de bem-estar físico, mental e
social e não apenas a ausência de doença ou enfermidade. Por ser difícil de objetivar,
esta definição não é exequível na determinação dos valores de referência (Arseneau,
2014). Em 1975, o comité escandinavo para os valores de referência tentou fazer uma
lista de condições patológicas que deveriam excluir um indivíduo de ser considerado
saudável (Alstrom et al., 1993). No entanto, estas recomendações também são
impraticáveis, especialmente nos indivíduos idosos, pois significava eliminar 9 em 10
potenciais candidatos a integrar na população de referência (Arseneau, 2014). A
aplicação de critérios restritos para estabelecer os indivíduos como saudáveis, resulta
VIII Mestrado em Análises Clínicas Regina Viseu
120
em coortes muito pequenas e não representativas da população idosa (Carlsson et al.,
2010).
A explicação mais provável para a escassez de valores de referência específicos para
a população idosa, é que os idosos têm uma elevada prevalência de doenças
crónicas, nomeadamente, diabetes, dislipidemia, demência, doença renal e anemia,
assim como elevada incidência de comorbilidades, o que torna muito difícil encontrar
uma população de referência saudável (Marengoni et al., 2008). Por outro lado, uma
grande percentagem dos indivíduos idosos toma medicamentos com regularidade e
são, muitos deles, dependentes nas suas atividades do dia-a-dia (Millán-Calenti et al.,
2010; Nobili et al., 2011).
A utilização de valores de referência determinados a partir de uma população padrão
de indivíduos jovens adultos saudáveis, até poderá ser adequada para a interpretação
dos resultados de alguns analítos, na população geral. No entanto, é necessário
determinar para cada um deles se há diferenças relacionadas com a idade, se essas
diferenças são clinicamente importantes e em quais será, clinicamente mais
apropriado, utilizar valores de referência de um subgrupo etário ao qual o indivíduo
pertence (Arseneau, 2014).
5.4 Importância dos valores de referência na população
Na medicina clínica, as decisões são muitas vezes baseadas na história clínica do
indivíduo e na avaliação dos resultados dos meios complementares de diagnóstico. A
partir dessa informação podem ser estimados o prognóstico, a evolução da doença e
determinada a decisão do tratamento subsequente. Uma das principais preocupações
dos laboratórios de análises clínicas é fornecer uma base para a interpretação dos
testes laboratoriais e dos seus resultados, sendo os intervalos de referência
devidamente validados um dos critérios major a cumprir (Henny et al., 2016). Neste
contexto, a medicina laboratorial fornece, frequentemente, informação de suporte
importante, baseada na qual as decisões clínicas são tomadas. As determinações
laboratoriais têm um papel decisivo no planeamento e monitorização do tratamento
em, aproximadamente, 50 a 79% dos doentes hospitalizados ou em ambulatório
(Arseneau, 2015; Henny et al., 2016; Sasse, 2002). A interpretação inapropriada de
um resultado laboratorial, pode levar ao não diagnóstico de uma doença, ao aumento
do risco de mortalidade e/ou a procedimentos e exames complementares de
diagnósticos desnecessários (Horn & Pesce, 2003).
VIII Mestrado em Análises Clínicas Regina Viseu
121
5.5 Valores de referência na população geriátrica: estudos populacionais
recentes
A importância de construir um intervalo de referência robusto e confiável, para os
parâmetros laboratoriais, tem ganho atenção mais recentemente (Siest & Henny,
2013). Em 2005, a IFCC, criou um grupo de trabalho para estabelecer os valores de
referência em bioquímica clínica e as suas publicações têm liderado a investigação
nesta área (Ichihara & Boyd, 2010; Siest & Henny, 2013). A maioria dos recursos na
saúde são gastos com os idosos e os valores de referência estabelecidos para a
maioria dos parâmetros laboratoriais são escassos. Até agora, são poucos os estudos
que tiveram como objetivo definir os valores normais para os analítos mais comuns,
com exceção do estudo Canadian Health Measures Survey (Adeli et al., 2015), mas
que incluiu menos de 40 parâmetros (Carlsson et al., 2010; Janu et al., 2003; Ryden et
al., 2012; Tietz et al., 1992).
Em 2003 foi publicado um estudo Australiano, cujo objetivo foi determinar os valores
de referência para parâmetros hematológicos e bioquímicos, em mais de 300
indivíduos com idade igual ou superior a 75 anos, residentes na comunidade. Este
estudo mostrou que a maioria dos resultados laboratoriais saía fora do intervalo de
referência estabelecido (31 dos 35 parâmetros laboratoriais analisados). Os autores
concluíram que são poucos os intervalos de referência, para os testes hematológicos e
bioquímicos, que podem ser aplicados diretamente na população idosa não
institucionalizada. No entanto, não encontraram correlação com a variável idade, mas
sim com condições de doença, incapacidade e toma de fármacos. Assumem que as
diferenças intraindividuais podem ter mais validade na população idosa, do que a
interpretação dos resultados dentro do contexto dos valores de referência. Os
resultados deste estudo sugerem que a idade cronológica, só por si, não deve ser a
base para a decisão sobre os testes a realizar, e condicionar a respetiva interpretação
dos resultados. Para cada individuo, deve avaliar-se os fármacos que tomam, as
comorbilidades e as incapacidades existentes, para se decidir que testes efetuar e
como interpretar os resultados (Janu et al., 2003).
Em 2010 foi publicado um estudo Sueco, com 1016 indivíduos caucasianos com 70
anos de idade, tendo sido determinados 27 parâmetros bioquímicos e em que a
população selecionada respondeu a um questionário para determinar a sua condição
clínica. Aproximadamente 10% da coorte reportou história de doença coronária, 4% de
acidente vascular cerebral e 9% diabetes mellitus. Os autores decidiram excluir os
indivíduos com história de diabetes mellitus ou os que tinham valores de glicose em
jejum alterados. Os indivíduos com doença cardiovascular foram incluídos, porque
70% tomavam medicação cardíaca. Se fossem excluídos, a população restante no
VIII Mestrado em Análises Clínicas Regina Viseu
122
estudo seria muito pequena e seria discutível se esse número seria representativo da
população idosa no geral. Os resultados mostraram que nos homens, a albumina,
apolipoproteína A1 e B, cHDL, cLDL, cálcio, creatinina, ácido úrico e ureia tinham
diferenças significativas entre a população total e o subgrupo da população sem
doença cardiovascular (Carlsson et al., 2010).
Um estudo espanhol, publicado em 2012, comparou os valores laboratoriais de alguns
parâmetros hematológicos e bioquímicos de rotina, numa população de 600 indivíduos
não institucionalizados, com idades a partir dos 65 anos, com os valores de referência
usados nos jovens adultos. Observaram uma elevada percentagem de idosos com
valores laboratoriais fora dos intervalos de referência, na maioria dos parâmetros
bioquímicos. A proporção de participantes que desconheciam a possibilidade de sofrer
de alguma patologia foi mais elevada nos que não iam a uma consulta médica há mais
de 6 meses (Millán-Calenti et al., 2012).
Estes estudos acima referidos incluíram um elevado número de indivíduos, com mais
de 65 anos e apresentaram diferenças em relação aos indivíduos adultos jovens. No
entanto, alguns estudos efetuados na população idosa, que incluíram indivíduos com
mais de 60 anos que não sofriam de nenhuma condição clínica grave, mostraram que
os valores de muitos parâmetros bioquímicos de rotina estavam dentro dos valores de
referência convencionados para a população de adultos jovens (Boulat et al., 1998;
Huber et al., 2006).
Bourdel-Marchasson e colaboradores (2010) apresentaram um trabalho de revisão
sobre publicações que reportavam valores de referência para parâmetros bioquímicos
efetuados em indivíduos idosos. Alguns parâmetros bioquímicos de rotina mostraram
ter um intervalo de referência mais alargado nos indivíduos idosos, do que nos
indivíduos adultos jovens, mesmo nos grupos aparentemente saudáveis. A questão
que se levanta é se estas alterações, embora ligeiras, poderão estar associadas a
processos patológicos ou se fazem parte do processo de envelhecimento saudável.
Os autores concluíram que a resposta pode estar em considerar estas alterações
como marcadores de vulnerabilidade dos indivíduos a alterações metabólicas ou
patologias relacionadas com a idade, não devendo ser negligenciadas (Bourdel-
Marchasson et al., 2010).
Iniciou-se recentemente um estudo suíço de coorte prospetivo observacional, que
recrutou 1467 indivíduos, considerados saudáveis, com 60 anos ou mais, propondo
fazer o follow-up destes indivíduos a cada 3-5 anos, para avaliar a sua qualidade de
vida, morbilidade e mortalidade. Foram realizadas medições antropométricas iniciais,
revista a história clínica e feita uma colheita de sangue em jejum em condições pré-
analíticas ótimas. Foram testados mais de 110 parâmetros laboratoriais. O algoritmo
VIII Mestrado em Análises Clínicas Regina Viseu
123
do estudo foi recentemente publicado, em 2017, e segundo os autores representa o
estudo de maiores dimensões até agora publicado. O objetivo principal é estabelecer
intervalos de referência para parâmetros laboratoriais relacionados com a idade. O
objetivo secundário deste estudo é identificar associações entre os diferentes
parâmetros, identificar características para diagnosticar situações diferentes, identificar
a prevalência de doenças ocultas nos indivíduos considerados saudáveis e identificar
fatores prognósticos de ocorrências futuras, incluindo a mortalidade. Os autores têm,
como expectativa, que este trabalho possa esclarecer a influência do fator idade, na
determinação dos parâmetros laboratoriais. Pretendem, também, no final do estudo,
ser capazes de definir a precisão dos intervalos de referência e os limites de decisão,
dos parâmetros laboratoriais mais prescritos nos indivíduos idosos. Do ponto de vista
metodológico pretende estabelecer o follow-up longitudinal, como um critério relevante
para selecionar os indivíduos apropriados a integrar a população de referência.
Segundo os autores, este follow-up poderá ser um passo importante na definição
teórica e prática do estabelecimento dos intervalos de referência na população idosa
(Risch et al., 2017).
6 – CONCLUSÃO
As alterações demográficas têm proporcionado um aumento de pessoas idosas na
população geral, em quase todos os países do mundo. As expectativas são de que a
longevidade nos seres humanos aumente. As intervenções que possam diminuir a
morbilidade na última etapa da vida, com o objetivo de aumentar o número de anos de
vida com saúde e com plena capacidade funcional e mental, tornaram-se cada vez
mais importantes. O reconhecimento de que grande parte dos custos da saúde e
assistência social, nos países economicamente desenvolvidos, está concentrada na
última década de vida, direcionou o foco da pesquisa científica sobre o
envelhecimento. O envelhecimento saudável e o bem-estar são objetivos a alcançar,
nas sociedades modernas. O estudo do envelhecimento saudável engloba: os
processos biológicos; a exposição a fatores socioeconómicos e ambientais ao longo
da vida que modulam o envelhecimento, o risco de fragilidade, a incapacidade e a
doença relacionados com a idade, e o desenvolvimento de intervenções que possam
modular o processo de envelhecimento. O envelhecimento saudável depende do
equilíbrio entre a perda gradual e natural das diversas capacidades individuais,
mentais e físicas e o alcançar dos objetivos a que o indivíduo se propõe. Por estar
interligado ao bem-estar, é importante estudar os vários domínios que o caracterizam
VIII Mestrado em Análises Clínicas Regina Viseu
124
como a condição física, a cognição, a função fisiológica e músculoesquelética, a
função endócrina, imune e sensorial.
É necessário encontrar formas de medir o envelhecimento biológico a nível individual
que, conjuntamente com a idade cronológica, possam caracterizar e quantificar
funções orgânicas ou fisiológicas importantes, que diminuem de forma rápida ou lenta,
durante o processo de envelhecimento humano. Os marcadores bioquímicos poderão,
neste contexto, ser úteis como biomarcadores do processo de envelhecimento e
ajudar a determinar a idade biológica do indivíduo.
Não há nenhum parâmetro até hoje que constitua um padrão de envelhecimento
saudável, com o qual possamos comparar os biomarcadores existentes ou os que
ainda estão em investigação. Se for bem estabelecida a relação entre os marcadores
bioquímicos e os processos fisiológicos de envelhecimento, aqueles poderão ser
parâmetros confiáveis e facilmente mensuráveis do envelhecimento saudável, de
forma a avaliar os resultados dos ensaios clínicos e intervenções sociais, concebidos
para aumentar a saúde da população.
O foco principal da literatura tem sido a morbilidade e a mortalidade, como fenótipos
de envelhecimento. Estão em investigação, mas ainda não estão estabelecidos,
marcadores bioquímicos que sejam enquadrados nos fenótipos da síndrome de
fragilidade e pré fragilidade. A sua determinação será muito importante na deteção dos
indivíduos em risco, permitindo uma intervenção precoce, na população idosa.
Parece ser consensual a importância da determinação dos valores de referência, dos
parâmetros bioquímicos e hematológicos. Enquanto a medicina laboratorial utilizar
intervalos de referência inapropriados para a população idosa, continuará a haver
desperdício de recursos económicos. Por outro lado, o objetivo é limitar ao máximo a
intervenção médica, porque procedimentos desnecessários, nesta fase da vida, são
passíveis de causar danos, a nível físico e/ou psicológico, e podem ser considerados
como não éticos. É de esperar que a utilização de intervalos de referência mais
apropriados reduza a frequência de procedimentos médicos potencialmente
agressivos, nesta população.
São necessários mais estudos, para encontrar marcadores precoces de doença e
estabelecer valores de referência, que permitam diferenciar entre o normal processo
de envelhecimento e uma condição patológica. Apesar do número crescente de
estudos, os resultados são ainda limitados, difíceis de comparar e muitas vezes
contraditórios, tornando difíceis as conclusões sobre as alterações de muitos
parâmetros bioquímicos com a idade. São necessários estudos mais alargados e
comparáveis entre si, que estabeleçam valores de referência para a população idosa,
na bioquímica clínica.
VIII Mestrado em Análises Clínicas Regina Viseu
125
Um objetivo a alcançar é estabelecer um score, que permita determinar a idade
biológica dos indivíduos, a partir de variáveis mesuráveis, onde os parâmetros
bioquímicos poderão ser de suma importância.
VIII Mestrado em Análises Clínicas Regina Viseu
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