Birman & Damião (Coord) - Psicanálise - Ofício Impossível

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érie Teoria e Prática Psicaaítica N. 7

MICHEL SCHNEDER EUA SANTO SOUA

EGINA ER ZÉLIA VILAR ANIELA OPAMARIA LARA ELLEGRINO JOEL BRAN

MARCEl ARQUE AIÃO

PiCANÃLISEOfício Impossvel?

JOEL BRAN MARCEl ARQUE AÃO (COORDEADORES)

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bloteca igital

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Série Teoria da Páica Psicanalíica

© 199. Et u U

Toos os ireios esevados podos la 5988 de 42/3Nenhma pare dese livro m auizaço via po esco daeiora, pode se eprodida ou ansmida sejam qais forem

os meios emprados: el6ic, mcc oogfcos gravaço

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ComposiçãoJL Compaçã Grica

RevisãoHeque aaposky

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,

 APRESENTAÇAO

O Impossível em Psicanálise

O impossível constitui a matériaprima por excelência do saber e da eeriência psicanalítica sendo

com o território sem fronteiras constituído por estamatéria bruta que convive cotidinmente o nista emsua clínica. Antes da constituição da psicanálise, esteterritório de grande mobilidade e de múltiplas congurações era denominado universo do irracional e mundoda loucura sendo até mesmo considerado comopertencente à ordem do sagrado Contudo, com oadvento da psicanálise o impossível foi reenviado àtópica do inconsciente e ao inamismo das pulsões, demaneira que a lógica do fantasma e as estratégiasinnitas do sujeito para obtenção do gozo passarm acircunscrever a dimensão desejante que perpassa a ex-periência do impossível.

Evidemente, a psicanálise é a perspectiva teóricaque orienta nossa escuta do impossível. Porém, ao

apresentr o campo psicanalítico como sendo aqueledenido pelo vor do impossível nossa preocupaçãomaior é não apenas enfatizar a dimensão ética implicada no ato psicanítico mas principalmente subli-nhar que é na transformação do 1mpossível em possívelque se funda a eeriência da psicanálise Portanto, aproposição primordial da psicanálise é aquela que

enuncia como sendo sua egência básica a metafori-zação das pulsõs onde a pulsão como força se inscreveno universo da representação

É por esta trnsformação radicl que reordena asssibilidades da representação no psiquismo, que a

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exeriência psicanítica é destacada como sendo pro-priamente um pocesso, pois é um movimento funda-mental da subjetividade que se encontra em causaPorém, pra que se realize esse movimento na estrutura

psíquica do anlisante, é necessário que seja colocada,em pau ta a estrutura mental do psicanalista. Contudo,isso não sigca que estejmos flando aqui apenas emcontratrnsferência, mas sim de transferência propria-mente dita, pois esta implica na inserção radical dagura do nlista na exeriência psicanalítica

Assim, sem essa implicação radical da gura do

anlista na exeriência nalítica, a trsferência não seinstaura, pois esta, apesar de ser um dos conceitosndaments da psicanálise, não é, entretnto, umconceito de ordem trnscendental, mas um conceito deordem operatória Desta maneira, sem a implicação dagura do nalista não se constitui o eo fundamentalda transferência, e o psicanlista estaria empreen-

dendo a transferência contr, colocndo, então, umobstáculo intransponível ao processo psicanalíticoPor isso mesmo a psicanlise é ma exeriência

passionl e ética pra á gura do analista, pois, que-rendo ou não, ele tem de prestar contas a si mesmo dosacassos que incidem e sua exeriência clínica,mesmo que esta se relize a quatro pedes, sem aintrusão de olhos e ouvidos outros, além dos participn-tes diretos dessa exeriência de ordem intersubjetivaEntão, ao psicnalista não pode bastar a imputação deresistência e nãoanlisibilidade à figura do analisantedite dos reveses que a exeriência psicanalítica inevi-tavelmente impõe a qulquer um de nós

Lamentavelmente, é a política o bode exiatório eda culpabilização da gura do nlisnte que se encon-tra instituída em várias tendências da psicanlisecontemporânea. Com efeito, encontrase atualmentecristlizad em vastos domínios da psicanlise umaverdadeira nosogra das estruturas psicopatológicasde acordo com sua analisibilidade, isto é, quais estru

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turas psíquicas são analisáveis e quais não são, e,dentre estas, a pergunta que se impõe é até onde sãoanalisáveis. Contudo, se essa nosografia da anlisibili-dade se construiu baseandose por um lado, na e-

periência psicanalítica, é inegável que este ao ladoisso uma inequívoca tendência para imputar à

resistência da figura do analisante os possíveis fracassos do processo nlítico, pelo outro, retirando ququerresponsabilidade da figura do analista no ato de psicanalisar. Constituise, então, um sinistro e mortíferoprocesso de cupabiização da figura do anisnte

qundo o narcisismo do nalista fica ferido por seusreveses

Nessa perspectiva, perdese de vista que o fundamental da exeriência psicanalítica se reliza na trnsferência, e que é em torno das vicissitudes desta que sedefinem os critérios básicos pa o início e para otérmino da análise, de forma que na eterioridade da

eeriência da trnsferência não este qulquer critérionosográco que pertença de fato e de direito ao discursopsicanalítico Enm, é a exeriência da transferênciaque norteia a indicação de análise e os critérios denalisibilidade, considerando as estruturas neurótica,perversa, psicótica e os denominados estados limites.

Entretnto nós sabemos também que a instau-

ração da transferência não é algo automático, apes deestir no psiquismo uma "disposição pra a transferência, como já nos ensinou Freud num de seusrtigos dos Escritos técnicos. Assim, para a instauraçãoda denominada neurose de transferência, é necessioum processo de transformação, um trabho psíquico,no qul é fundmentl que a gura do anlista seja umade suas condições de possibilidade. Por isso mesmo,ainda em seus Escritos técnicos, Freud formulou aegência de um exeriência prévia ntes de se es-tabelecer o contrato psicalític,' ustamente paraexin as possibilidades da exeriência da trans-ferência Da mesma forma, Lac ressuscitou recente

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mente este procedimento metodológico, com as entre-vistas prelimines prolongadas

Além disso, a história da exeriência psicanalíticanos ensina que a instauração da transferência se reiza

de formas múltiplas caracterizandose de maneiamais complicada e sutil em algumas estuturas men-tais, quando comparadas às denominadas neurosesclássicas Nessas novas modalidades de transferência,é egida uma maor paticipação da figura do analistapara a instauração do processo psicanalítico.

A pretensão desta obra é tematizar algumas dasquestões inseridas no universo do impossível questõesestas de ordem clnica e de ordem teórica. Por issomesmo a prmeira parte deste livo é um mapeamentoincompleto de algumas exeriências psicanalíticas comestruturas mentais situadas no limite do impossívelNestes tetos, seus autores dão provas de como de-saa o território sagrado do impossível destacandoseus interditos e seus impasses, de forma a tornarpossível a escuta psicanalítica Na segunda parte o im-possível é tematizado em torno de algumas problemáti-cas cruciais: o silêncio o fantasma, a tadução, e osdestinos atuais da psicanise

J Birman

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SUMRIO

 PRTE IO IMOSSÍVL NA CLÍNICA

Capítulo

Morte Depravada . . . . . . . 3Michel Schneider

Capítulo 2

Palaa na Pscose ... 37Neuza Santos Souza

Capítulo 3

Eu Não Exsto, Logo Penso ... . ... . ... 49Dniela Ropa

Capítulo 4

utsmo e Castração.. ...... 103Regina Ner

Capítulo 5

Quando a Análse da Crinça Revela o Inconscentedos Ps 115Zlia Vllar

 PRTE 11

 PROBLEMÁTICAS DO IMPOSSEL .

Capítulo 6

O Silênco do Anlsta ... .... . 129aria Clar Pellegrno

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Capítulo 7Fantasma, Verdade e Crueldade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17Joel Brman

Capítulo 8O Antropóogo Iudido ou a Tradução Impossíve . . . . . . . . . 179Marcelo Marques Damião

Capítulo 9Freud e os Destinos da Psicnáise .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 205Joel Birman

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PARTE I

O MOSSÍVL NCLÍNC

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1I

A MORTE DEPVADAMichel Schneider

Tadução: Marcelo Marques Damião•

Sabe-se o destino de ArmandJean Le Bouthillier,Senhor de Rancé e abade reformador do monastéro deNotre Dame de la Trappe.4 Nascido em 1626, tendo aosdoze anos publicado um Anacréon grego do qual havaescrto o comentáro e as escólas ele se torna abade aos vinte aos por possur em comenda uma abada deoisé ordenado padre Mas e sso é sem dúvida apenas umaço de época sua dileção é a vda mundana, as roupasde dalgo Os amores volentos, as seduções quntessenciadas M 1 1e de Scudéry e sua geogra ternarbreosõ-to suas . Füenas ruelas e apece na Corte E depos aos trnta e doisanos é a conversão enigmátca e sem apelação. Odeserto Rancé se retra ncialmente em seu castelo de

Véretz:

Ele acretava encona na solidão consolações que nãoenconava em nenhuma criatua. O  etiro não fez senãoaumentar sua dor; uma nea melancolia tomou o lugar de

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 sua aleia, oites lhe er isuportávis ele passava os a correr os bosques, ao logo dos rios, à beira dos lagoschado por seu ome aquela que ã lhe podia respoderescreve Chateaubrand.

Denro em reve se lemra ue é aade de LaTrappe, decide a preencher suas nções e reformar a vida monásica Jejuns macerações de odo ipo peniências humilhações volunárias, cilício e carnesrompidas Chaeauriand dirá com pavor: ódio da vidaE Dom Pierre Le Nain religioso e prior da abadia de

La Trappe fará de Rancé como do "perfeio espelhoda peniência Esa peniência, esa regra que fará deLa Trappe um nome comum não é ualquer uma: voode uma more no mundo amoralhameno da linguagem no silêncio morticação da palavra reduzida à prece

Já Mme A gosava de falar, e foi o conulório do

analisa- outro traço de uma oura época- ueescolheu para se reformar Após er reeido umaesria educação crisã e endo uma mãe disane eeüenemene afasada por prováveis acessos dedepressão Mme A era uma mulher extremameneadapada, ue traalhava em uma grande sociedade deinformáica e ue havia levado uma vida familiar aparenemene feliz Dinheiro lhos, sucesso nada lhefalava Era seu marido que não ia em e era dele ueela conava me falar Depressivo, endo já feio váriasenaivas de suicídio ele lhe ornava a vida impossívelopondose a seus deseos de deixálo e a seu háio deenganálo sisemaicamene com homens ocasionais eue não inham seu valor fazendo conínuas ameaças de pôr m de uma vez por odas a seus próprios

dias Ela aliás não lhe poupava o relao de seuadulério.

Não vendo nesa "demanda de análise outra coisasenão uma omada como esemunha em um processoinerminável (chanagens provocações dilacerações)

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de um esss casais indefectivelmente unidos por anosde desruição mútua, recusei comear um tratamentoque, aliás, ela não considerava seriamente.

Três anos mais tare, Mme. A. telefonou quereno,

me isse ela, falar e seu mario "Aina!, pensei,aceitano no entanto uma entrevista que, esta vez,esperaa ser a ocasião e Mme A me fal ela mesmaEu ão compreendia então que falar e seu mario era,até aquele momento, sua única maneira e falar de simesma Após um silêncio, ela acrescentou: "É precisolhe dizer que ele morreu Depois, novamente um

tempo, e "suicíoEla veio, grande dama em visita Fou pouco ado-tando, de saída uma posição que julguei perversa nãotinha naa a dizer, não desejava nem esperava nada,mas procurava me levar a me exor, quase como se medissesse: "Por que me fez vir, o que você quer de mim?Disse gumas palavras sobre seu marido, muito cal-

mamente. Seu suicídio datava de guns meses Fava-me num tom por assim izer técnico, sem nenhumaemoção, como se relata um fato O rosto era istte,por momentos quase raante, mas como que voltaopara outra coisa além do que dizia "Isto não se passando como deveria, pensei Nem a sessão, que ela desenrolava como se não se ratasse ela e onde perma-necia por cortesia, nem suas reações à morte, ao sui-cío, e um homem com quem havia vivo quasequinze anos e que tto a tinha atormentao com seusesejos de morte Constatei que ela sequer izia "Acon-teceu o que evia acontecer, perguntanome se algoavia acontecio nesta morte, ou em torno ela, quefazia com que ela não ouvesse ocorrio

Propusle que voltasse Camemos isso e curio

siae Por que o luto ão se esenrolava como evo:esgosto, sofrimento, elaboração e superação estesoimento? Não ava luto como não hava reaçãomelancólica, e eu não sabia por quê Pareceume entãoque não ra preciso considerar as coisàs assim; em vez

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e me ergunar o que não nconava, eu devera rocurar que em Mme A., ncnava "em seu lug É clo, eu esava na armadlha que sua eesão me hava rearado, a do saber, e ocuava o únc  lugar que ela me hava desgnado, o de umaesemunha muda de seu gz: era ela, desde o começ,o sueo suos saber Ela não se engaou e ncou asére de algumas enrevsas que vemos or um o queé que você quer saber? mundano e enedado Por queé que você vem agora?" resondlhe "Fa mesesque seu mdo se matou Por que somente hoje

 você deseou me f sobre sso? Mnha questão erasemre: o que se assou a artir deste sucído? O quê,no  lugar do luo? Suresa e dverida, as muto à

 vonade, ela me conou enão que hava conhecdo,medaamene após a morte do mdo, um homemmuto sádco; ele a arrava em dversas osções,chcteavaa, batalhe Deos um segundo homem,

mas brual, hava suceido o rmer, e nas semanasque se seguram, alguns ouros, nsumenos substuíves de uma mesma hsóra: ela amrada e humlhada or vezes na colea, cadela se deslocandoem quar  atas , ele desemenhando o pael demesre, em suma, oda a besera reeva do sadomasoqusmo

Mme A voltou e reomou suas lanas Pa inerromer a curosdade cúmlce ou a fascnação eno ada, eu não nha ouro recurso senão o de tentnão mas ver as cenas complacenemene evocaase cua narrava, ao f de duas ou rês sessões, oface-aface rnava dlmene suorável de tentrelgálas à quesão dessa more que aarenementenã lhe zera nada ou que não lhe dssera nada. Euacredava er mnha resosa Es o que nha vndo no lug do lu o: uma eloração ssemáca da perversãousa

Eu quera ensaem udo sso Não se or quê, emmeo a esa erlexdade, Rancé me veo à memóra. A

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 conversão mística de um, a perversão masoquista do outro ode se poe ver tmbém uma conversão uma busca a verade apresentmse a mim como retor- nos Mas a quê? A quem?

No caso de Rncé, a conversão intriga, corta, inclu- sive cronologicamente, a vida em duas Do mudo à clausura há mais do que um retorno à  religião que ele nunca deveria ter deixao e do que uma relização das vrtudes cristãs A Igreja não peia tnto Os testemu- nhos e as elicações esrrm ou se contradizemA rória hiótese sicnltca de uma contiuidade

 econômica entre o rzer e a or, e um masoquismo erógeno é um pouco insatisfatória O que se tornou, noRncé exenuao elos exerccios e que tortura seu coro e homem, o gosto pel crne das mulhe- res? Como a eloqüência, o escrever bem, a pxão e- las lavras, a relação de um homem enorado ela linguagem, aquelas e aqueles que por esta via

 reuziaà

 sua mercê puderam se perer no slêncio cisterciense?Mis út  seria a aboragem metasicoógica em

 termos e luto Porque há um evento na vida de Rncé sore o qual Chateauriand não se enganou e que provavelmente causou sua fuga do mundo: a morte da duquesa de Montbazon sua mante Ainda que não

 arentasse ter seus trinta e dois nos qundo encon-ou o abade (iade de Rcé quando de sua conversão) ou seja, quinze anos mais velha do que ele, era uma mulher tão ela que "derrotava toas as outras no baile No entnto, esse briho pece se ter certas vezes embaciao por conssões mis surdas, melancólicas:"Aos trinta anos não se é mais boa para nada Quero que nesta idade me joguem o rio. A morte de Mare deMontbzon sobreveio guns meses após quase ter de- saarecio, carregada pelas águas, quando da traves- sia justmente de um rio Rncé, mometeete searado dela, não sabia e sua morte quno retornouàs suas terras

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Quanto ao duque que era o migo deLe Bou thiller pai, um dia ao presidir um assto escolástico em que o abade era eosto a duras provas havia dado a Rancé este conselho: contr verbosos verbis non dimices ulta. 5

Bem mis tarde em La Trappe este aviso dado sem intenções se tornou a regra da comundade: não se faOu, pelo menos não para flr

A morte da duquesa SintRamon a atrbui ao sa- rampo e frma que o abade estava ao seu lado, que não a abndonou jamas e que a vu receber os últimos sacrmentos. "O abade Le Bou er, acrescenta prtu

 depois pra sua casa de Véretz o que foi o começo de sua sepração do mundo Rcé com certeza, só se enterra emLa rappe após a morte de Mre cuja causa gnoramos tvez acdente ou sucídio

Mas um segundo elemento vem f a imagnação e atiçar a reexão: as crcunstâcas nas quais Rncé teria visto sua amante morta e ldo seu própro nada em

 seus olhos desertados trnsdos pelo horror desse sorriso voltado para dentro que parecem ter por vezes os mortos Es aqu, segundo o relato de Lroque, como ele soube da morte de Mme de Montbzon

Subindo diretamente ao apartento da duquesa, onde lheera permitido entrar a qualquer hora em lugar das doçurasquea esperava gozar, viu como primeiro objetou caixo que

 julgou ser o de sua ante ao perceber sua cabeça todaensangüentada que, por acaso, caíra do lençol que a cobrianeigentemente e que fora sepada do corpo a f de seaproveitar o comprimento do pescoço e, assim evitar aencomenda deu novo caixo que fosse mais longo que outilizado.

A  vida de Rncé como a de Mme A.,  mudou de curso iante daquilo que não deveria ter sto o outro morto e mutilado pela morte Desta imagem, um quer se desfazer pelo silêncio, o outro pelo relato A eforma deMme A (vinha ela a mim como a um confessor que perdoasse seus pecados ou a um dretor de consciênca

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 que guiasse sua vida?) ão me covecia mais do que os rios de Mosieur de la Trappe queredo redimir sua lma ao preço de seus laços. O luo de mbos omou a forma esraha da ausêcia de luo. Para que a more

 ão eha ido lugar, ou pelo meos ão desa maeira, foi-lhes ecessrio o egajameo em um irsigee desmeido, em uma iexiguível moricaão. Como ela se exercia? Sobre o que ele icida?

A morificação é ao mesmo empo desmeido e e gação, o desmento prolongado o saber a egação que concere o ver. Quais são os exercícios da mori

 cação? A mesma pavra desiga o deleie e o púrido, evoca a Crne e as carnes. Na pxão de servr, um a umDeus ciumeno, outro a um mestre de dor, Racé eMme A. se dedcam ceramee à paixão do iútl, à vaade de udo, mas de udo o que ão é goz e, sobreudo, o gozo de repeir a liaia das vadades abndonaas e dos laços decliados. A moricação é

 uma paxão loquz que precisa omar o ouro como esemunha e covencer da verdade da causa que de fede. Apesar das aparêcias miséria e aição), ela é uma edificação.

Ela efica o corpo, leamee emperado. E a lma sobreudo, consruída dor após dor. Mme. A. quer retcar seu ser, dar-lhe uma regra e, domdo seu corpo, edurecer e elev sua lma pela disciplia cosetida Seu masoquismo perverso a faz reeco rar a ascese espiriul de Racé. Ela se covere à dorsica como ele ao silêcio: como deleie.

Ese efemee um or que vem reforçr a es capaória perversa ao luo ãorealizado o lugar que ocupa o corpo a morticação. As práicas masoquisas de Mme. A parecem er cosiuído pa ela um ecaz

 aidepressor. O corpo do depressivo é eqüeemee apagado, iesee ou irreal. Fazer ese corpo viver esões, iigir-lhe iesidades, rupuras, é lembr lhe, ada que sob um modo cruel e doloroso, que ele ese, que se iscreve o empo (ritmos, espera dos

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 golpes), no espaço (aqui, depois lá), e que é sujeito às diferenças (prazerdesprazer, quente-io) Certa vez,Mme A descrevia seu perseguidor como glacial, todo em suário"6 diz ela, sem se dar conta do lapso Em re

 lação a isso, a mortificação é uma garantia: eu estou bem vivo, já que meu corpo grita Cada golpe diz ao masoquista que seu corpo não morre A força desta compulsão ao masoquismo se deve ao fato de que ela sasfz ao mesmo tempo a um de demnda de mor regressiva lguém se ocupa de meu corpo, mesmo se é pra lhe fzer ml; lgéms iga a mim, já que me gm

 por amrras) e ao masoquismo primário não ser nada, retornr ao inanimado de uma coisa mnipulável à vontade)

Todos os elementos sicos da mortificação são a materiliação ou a metáfora dos traços que foram insuportáveis na eeriência da morte do outro As maceraçõs do snto negm o aprecmento do cadáver; os laços que subjugam o corpo do masoquista atestam que este corpo não pode se mexer, escorregar para fora da presença; a eosição dos sofrimentos esconde o corpo invisível para sempre desaparecido. A morti cação faz recuar o império da morte, subtrailhe províncias fazendo-a entrar na praça-forte Uma vida já morta não derá morrer A morcação é seguramente uma decomposição D  co, macerado", mas mm, e nós o veremos, das palavras desertadas, envelopes vzios, pútridos A mesma pavra designa, até o séculoX,  os exercícios reigiosos pelos quis se confere um certo tipo de morte ao corpo e o estado, constatado pela medicina, das carnes gangrenadas ou da caça pu tre facta Mas tratase de uma decomposição lenta, regu lada, querida, que evita a outra, a inelutável Ao lado da

 negação, outros mecanismos de defesa contribuem a reforçar o ritu da morticação A projeção no outro (os perseguidores, para Mme A ; a vontade divina, paraRncé), sobretudo das partes más do eu (eles querem minha morte, eu não quis a sua), ajuda a ivi o eu, já

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 por demais engajado na luta contra a realidade das exgências inapsíquicas conituosas. De mneira mis geral a regressão de um eu diferenciado do corpo a um eu corporl se acompanha de uma projeção de estados

 dolorosos do eu sobre os estados sucessivos do corpo(fome io queimaduras) e singulrmente sobre a su rcie o envelo cuneo (agelações ces queima das desnudamentos sob o olhar do outro).

Assim a mortcação defensiva da morte contra a morte protege contra a angústia de morte. A perversão masoquista faz economia de um luto e previne contra a

 perda do objeto A isaparição do objeto morto e odiado morto porque odado e lrgado odiado porque morte e abandonante é conjurada pela inscrição no próprio corpo deste ódio e deste abandono. O corpo desabitado é então o fetiche que nega a ausência do morto mas que deve incessantemente ser evocado a apresentarse e por golpes e humlhações dizer que está realmente lá.

O retorno sobre si mesmo implicado na morti- cação (é o outro que em nós mesmos humilhamos) se acompanha de uma desumanização. O corp ou uma de suas partes se torna uma espécie de autofetiche inanimado que se há de utilizr como desforra. Ele não escapará como o morto. Triunfo da morte aproxmada como possessão sobre a morte sofrida como perda.

O que se torna neste deserto amado neste desvio

 e neste esqutejamento a imgem de si próprio?Rc é radicl "o recluso só o é para ser homem de opróbrio e de abjeção. Ego sum verms et non homo,  assim Rncé lança sua culpa. Retenhmos aqui a imagem: eu sou verme não o que os vermes devoram o corpo abandodo à  terra. Uma testemunha, migo deRc,  o pareL Nin o descreve assim

Quem teria podido acreditar, se não o tivéssemos visto comnossos próprios olhos! este homem que parecia viver somentede sofimentos e de penas como se tivesse um corpo dediante e totalmente insesível.

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Novamente, a imagem fala por ela mesma: um corpo de diante, a mais dura das matérias para a ms corruptível das almas. A mais ia, a mais cor tante, aquela que não derá arecer, morrer lguma

 coisa é mostrada para esconder uma outra. As macerações de Rancé, as sevícias de Mme A., são apotropicas no duplo sentido da plavra: provo cando o horror e desiando do horror, suscitandoo no outro para afastálo de si próprio Mas talvez não seja o mesmo horror A morte mostrada, posta em ce na e enganada, sobretudo em seu rosto violento, não

 é o horror último que, este sim, concerne a carneNão tanto a crne rompida, queimada, mas a carne se desfazendo Se há lguma coisa a que Mme A e Rancé, com toda a sua retórica de eiação dese- jada, se recusam, não é à  morte roçada, mas à  ve lhice. Mme A., aos trinta e cinco anos, é obcecada pe- lo corpo ácido Faz várias horas por dia do que

 chos de body-building,  edicação do corpo desti nada a conjurar os decaimentos do tempo, a retardar a rede de rugas, escrita em que o corpo se torna tempoO tempo que do interior desgasta, desfaz, mói esta imagem resplandecente que Mme A prefere oferecer à abjeção, à  imobilização petricada, e delimitar pela incidência dos golpes que se abatem. Quando Rancé se sepulta, ele é jovem, no ápice de seu vigor, brilhante como um metal, izse, e quer sem dúvida impeir que este esplendor se ofusque aos olhos do mundo. Aban donemos o mundo antes que ele nos deixe, avivemos o encarnado doloroso da cne ntes que ela se corrompa por si mesma

Assim, a morticação não é a procrastinação do obcecado Morticarse não é fazerse de morto, mas

 fazerse de morte. É  um ato reetido nos dois sentidos do termo: gir da morte no morrer. Tentativa de onipotência sobre o corpo, o deseo e a linguagem, ela é negação e deso Seu desmentido pode ser analisado em quatro elementos: culpabilidade do sobrevivente,

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 luta contra a meancoia, civagem do sujeito e re bmento da linguagem.

Como elic em primeiro lugar, que não houveablho de luto, mas recurso a uma deesa perversa?

A morte cujo reconhecimento orma o ponto de parida do trabalho de uto é negada, mas sobretudo a culpa bildade eerimentada diante desta morte. Para aquee que se encontra de uto a morte do outro ocorreu e ele não pode ignorála. Aqui, ao contrário, como na mean colia anda que sob ormas ierentes, o morto não é reconhecido na relidade de sua morte; ele é mantdo no

 nterior do sobrevivente objeto indecável do tormento melancóico ou do gozo perverso Uma das razões que elicam que o trabho do luto seja assim evtado ou bloqueado concerne o óio que ligava o sujeito ao morto.A satisfação do sentimento de culpa inconsciente é aqui essenci Culpabldade pavorosa cujo imento ime- diato em caso de morte iolenta é a recriminação de não

 ter sabido impedr o ouro de morrer, e de morrer de seu desejo de morrer mas cujo motivo inconsciente é o desejo de que o ouo morra. Na la de um abho que traga à consciência o desejo de morte destinado ao morto um voto de morte de si mesmo vem nimar a mortcação. É  exatamente o que azem os cristãos estes sobreviventes que devem segundo a órmua de um teóogo "carregar a morticação de Jesus Cristo sobre seu próprio corpo Só se pode reconhecer que o morto está remente morto se se admite que se desejou maáo. Mas qundo estes votos or ortes demis ou quando a morte se acomphou de circunstâcias cupabzantes (acidente doença nsmida suicídio), ees não podem vir à consciência e permanecem rec cados e mesmo clivados Racé e Mme A não puderm manter em vida o amado e se acusam inconsciente mente de que ele esteja morto porque ees mesmos o desejaram

Culpabldade de Rancé libertino antes da hora?Será que após tantos neores he era necessário cess

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 de olha atás de si os anos pondos e se sepaa  como a caça cota do co que a govevad paxões de outoa? A moticação é antes de tudoiação "Espeo com uma humlde paciência o felz

 momento que deve me imola paa sempeà  justiça deDeus z Rancé que fala de La Tappe como "Reino das eiações ve consagado ao aependimento"tea do esquecimento Eia sob o ccio, como outroa, sob a seda exenuada de paze seviase a outos deuses; pantea sua fagldade, que a juven- tude anuncava estepitosamente sob as amas de uma

 vda pouco confome Rancé se afasta, se afunda, se abandona ele mesmo Chateauband esceve:

. desde a morte de madame de Montbazon jamais o nome

desta muher, exceto em seu primeiro desespero havia saídode sua boca Sentia-se nee uma paixão abada que atiravasobre suas menores ações o interesse de um combate desconhecido

Estas embranças da terra eram um ódio da da que nele

se toara uma verdadeira obsessão.

Incontestavelmente este sob este masoquismo moal e povavelmente também eógeno paa etomar as categoias de Feud uma culpabldade bem cuel"Minha possão que que eu me olhe como um vaso quebado que só é bom paa se pisoteado E, na

 vedade se os homens me tomm po lados po onde não sou tl qu eles aceditam há em mim inqüidades que não são conhecida por ninguém  e sobe as quais não se diz nada. Assim só posso ce que as injustiças que me vêm do mundo sejam justças secetas e ve- dadeias da pate de Deus e considea nisso os homens como executoes de suas vinganças Estas palavas de

Rcé eu as veia ainda melho ponunciadas poMme A acoentada à  ineiável falta de que se i- menta um supeego tiâico com os taços de umxecuto cheio de ódio

Ainda que tudo apaentemente sepae o intatável contempto da cane que foi Rcé da voluptuosa Mme

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A  entregue a seus amantes, a paio ordinária da muher enna, para ém do sécuo, a reforma mísca do reigioso em uma mesma oucura

Eis aqui como se reizava em La Trappe o Capítulo

das Culpas:

Opadre abade de La Tappe reúne o capítulo da culpa duas veze por emana quartafeira e ábado, e não enconaalguma falta coniderávei. De todo modo ninguém deixade e acuar no ouo dia quando cometeram alguma falta coniderávei eja perante o Superior ou aquele que le terão obervado

Não e ecua nunca teae ou não cometido a falta permanecendo-e proteado até que o uperior o faça e levantar e le tea ordenado ua penitência.7

A  cena de mortcação assim descrita decca sobre o plano da reidade eerna as forças in- trapsíquicas. A  exstência ou não de uma fta só se aprecia na reidade psíquica e aos olhos do sentimento de cupabiidade inconsciente. Notarseá a que ponto a própria tópica é trnsposta: egopenitente, idpecador, superegosuperior

No entanto, este ódio de viver que escandizaChateaubriand não é a morte Ee é apaionadamente, morosamente acariciado e faz com que Rancé diga Na verdade, não sou ms deste mundo" vinte e quatro

 nos antes de deir esta terra e de nea abandonar seus despojos. A  morticação, esta morte domesticada, amadurecida no seio da vida, este ódio de si mesmo que se proclama amor do outro, mascra na verdade seu contrário: o amor por si mesmo e o ódio do outro Ó dio amado, ee foi tmbém um amor odiado, um amor decepcionado Mme A .  igava a si, indefectivemente,

 seus perseguidores, não menos igados do que ela aos entraves coocados a seus membros, enquanto que Rancé, renunciando ao mundo, soube também se cercar, por sse retiro, de uma corte assídua e de uma devoção que vaiam bem as incertezas de um sucesso

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 mudao Afastadose do mudo e ecerrdose emL Trappe, esperava talvez o que se produziu: que o mudo viesse a ele Preados, des dmas, prícis, soberanos, todos o visitaram O outro, reduzido à mercê

 pea morticação da qua é tomado como testemuha, ão ftrá mais, ão morrerá mais. A morticação é etão, ates de tudo, evitameto da morte do outro

Um fator secudário vem reforçar este evitameto.Com o morto, morre o ódio que se tiha por ele e em certos casais patológicos, o sobrevivete, se corre o rico de ser privado ão somete do objeto de seu ódo, mas do próprio ódio, prefere cotorar esta perda pela egação e pelo desmetido e mater o mais freqüete mete detro dele (melacolia) ou fora dele (defesa perversa) este objeto e este feto

Em seguo ugar, a morticação aparece como um meio de utr cotra a morte intera, a depressão.

Se o tio os ataca, acoselhava Racé à Superior da abadia de Maubuisso, pesai que Jesus Cristo vos espera; toda a vossa carreira e sua duração vos pare- cerão apeas um vapor este poto em que ela se termiará ecessariamete"

A morticação é o avesso de um luto. O uto cosiste, em se desligado do morto e em se deseca

 tado do feitiço da morte, a costatação da morte ocorrida Fazedo de si mesmo um morto, ão mais reaizando os gestos da vida seão como se só se estivesse um corpo morto, com pesametos mortos e plavras mortas a morticação é o desmetido da vida Comer com os ábios da morte, dormir em uma mortalha (que vossos corpos saiam de vossas camas

 como de vossas tumbas"), far uma ígua de ciza e de imudície Aiás, Racé teme ser demasiado vivo para atigir o estado de vivo morto: Não posso compreeder que eu teha a audácia de empreeder uma prossão que só requer mas despredidas e que, mihas

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s sendo em mim tãova  qunto são, ouse enar em um estado de verdadeira morte.

Mas nessa tensão, que é tmbém a de Mme. A na ireção da coisa innimada, o sentido de estar vvo,

 longe de se diluir, se concentra A morticação é ódio do desejo, mas tbém amor por este óio do deseo. Pois vver somente em vista e no desejo da morte é estar inda em vida e ser ainda presa do desejo A morti- cação conserva. Ser nada é ainda ser qulquer coisaTlvez mesmo ser tudo. Oferecida a seus donos, MmeA atinge o ponto que ela denomina "o imenso. A

 mortificação é a morte ddo vida à vidaO masoquista perverso brinca de morte Não como se brinca de boneca (y), inventndo a linguagem de sua paixão, mas como se joga arez (), no interior de uma linguagem regulndo sem ambigüidades odos os deslocmentos lícitos. No caso do y, Winnicott o mostrou, a elaboração (representações e afetos) gira em torno de um ou vários objetos trnsicionais. No , que não admite jogo com o jogo, o cóigo não dei espaço a nenhuma partilha, a nenhum entremeio (o tabuleiro não é um objeto trsicional) Entre um e outro, nada. Nada senão o ódio. E porque não há nada entre eles, um é demis. Para o masoquista que reativatolocmente uma morte lo rirento sitação rel em que foi o outro que partiu, é ele mesmo que, de agora em iante, é demais. Ele v se abricar ou suscitr um obeto que o odeie como ele odiava o morto, e que o transorme em uma coisa morticada na qu reencontra a coisa morta do outro, seu cadáver.

Mme. A izia de suas eeriências masoquistas que elas constituím uma espécie de "lise (ela era matemática de formação) na qu tendia sempre para

 um limite: o innito do soimento O "outro, o parceiro, ela o sabia muito bem, não era nada para ela: um"insrumento "O coitado izia ela, "pára sempre

 ntes. Não era jamais ela que interrompia a cadeia dos encadeamentos; ela aclmava as feridas sob as eridas.

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A  cada vez o outo tivea medo Do quê? Da mote é cao, de uma conseqüência médicoeg da po vountia de MmeA. Ea, não Soente o medo de ve o outo fh e esta ceteza de que sempe guma

aqueza eteia o gesto na Sem dúvida, ea se aceditava, como Rancé, lvez atitude muito pouco cistã, mesmo se pesente em muitos místicos, mais fote do que a mote capaz de apomr indenida- mente de si o limite Mis um gope, apenas mis fote do que o precedente ou simplesmente porque vindo após todos os outros, e sua vida cedeia como uma

 corda demasiado tensa Mas este golpe não vinha nunca O outro não estava "à tua. Pa Mme A,  só estavm à ltura a more e a busca assintótica de sua possibilidade e, onde ela seria por sua vez, como seu maido, morta e casrad, testemunha de um desmen-ido de sua impotância simbólica

Em teceiro lug a moticação desmente a civagem do sujeito

Cetmente pode prece supreendente f de desmentido a propósito de vidas onde a conssão e aepesentação da conssão, a penitên  ia, ocup tnto espaço É  que a conssão está pesente apenas pra cr outra coisa O desmentido incide sobe o sabe que o sujeito possui sobe seu pópio soimento, mas apece tmbém em sua conversa ou no ato de se dirigio ouo O mecanismo, nós o sabemos, é próprio às pvesões O perverso desmente o ouo enqunto difeente de si, mas também enquanto outo dee mesmo, mcado pea flta submetido à teidadeadic do desejo

Mme A  fava fava mas não fava nem dea, nem vedadeirmente a mim Recitante de um mtírio do qu se quisea executo e testemunha ao mesmo tempo que vítima, ea mntinha uma intrnsponíve baeia entre ea pópia e mim

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Posteriormente, eu eria de bom grado neste muro de imagens (a fascinação afasta impede a penetração nítica) os traços de Racé que Chateaubriand des cree: "Jamais uma conssão; ms ee fa do que fez

 de seus erros, de seu rrependimento. Apresenta-se diante do púbico sem se digr a dizer o que ee é: a criatura não merece que nos eliquemos diante delaFecha em si mesmo sua história que he reci sobre o coraão . "Não te queixes tu és feito pra a cruz tu és preso nela, tu não descerás dela Vai à morte Mme A  ela tmém oservaa à sua meira a regra dos re

usos de La Trap "Ser sem lemrnça sem memória sem ressentimento "Crucicado ao mundo Um de seus rituis constituía-se em fzerse mrr os raos em cruz, aos gonzos de uma porta dupla Postura lasematória que esta antiga católica fervorosa haia naturlmente elegido em rzão de seu vor de paródia do símolo sagrado Seu enredo ressexulizava de mneira perversa a imagem da Pão: os membros aertos do Cristo imagem que foi tez, com um deslocmento pra o to sacrlizada pelos primeiros cristãos em rzão mesmo de sua importância sexual.

Essa "indiferença (não há lugr pra o eitor nos escritos de Rncé, nem ugr pra o nista de Mme. A) autentica uma relação perersa. O pererso não tem necessidade de um outro. De um espelho de um

 instrumento sim, mas não de um sueito Não que não peça nada ao outro: pede-lhe para não saer que ele não sae. Mas o desmentido é inicilmente interno JenClavreul mostrou "a impossibilidade pra o pererso de ocupr a posição daquele que não sabe inte de um"sujeito suposto saer posião que é mesmo aquea da"conssão isto é posição em que nós nos reco

 nhecemos como o "auditor daquele que sabe sobre o ojeto de seu próprio desejo o que não podemos saer nós mesmos"8

Ao "faça como se ocê não soubesse no qu ee quer encerrr o parceiro de seu ogo,9  exato inerso do

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faça como se você soubesse" da demanda de saber do neurótico, responde, sobre o plno intrapsíquico, o fazer como se eu não soubesse o que nima minha conssão, a coisa horrível em mim, a ferida, a flta, o

 or mortoA conssão desmente, em primeiro lugar, porque

 soa flso Mentira da penitência que mantém afastada a verdadeira pena Tratase de destruir o mal tnto no sentido de soimento, como de infração) ou de controlá lo? Mesma fsidade sob a conssão: tanta afetação na austeridade, tanta complacência nos rigores, e este

único afeto verdadeiro, religando as duas vidas morti- cadas: o orgulho E portanto, uma mesma feição secreta, mal apagada, mantémse sob as cinzas das humilhações: a chma do amado morto

Mas mentra, fsidade e desmentido não signi- cam que a conversão de Rancé e a perversão de MmeA.  não sejm verdadeiras A confissão não é mis

 verdadeira que o desmentido Tudo aqui é apenas nrrativa destinada a edicar o outro (Que não se espere aqui o caso médico de Mme A como não se encontrrá em Chateaubriand a verdadeira vida dermandJean Le Bouthllier de Rancé) Não procurei, liás, conhecer, segundo os trablhos históricos recen- tes e objetivos, o que foi a vida de Rancé, e só conheço a Vida de Rancé  de Chateaubriand, narrativa ctícia edificando literarimente os motivos da conversão do abade Da mesma forma, não assegurarei que Mme A viveu relmente o que me conou. Tlvez sua cossão tenha sido destinada somente a produzir em mim certos efeitos, como uma cção que retia sua verdade apenas de sua destinação A verdade da narrativa de Mme A me escapa Não posso estabelecêla, mas não me é impossível inventála, sem procurr desintrincr nestes horrores os que foram realmente inigidos dos que só aprecem na evocação que me era destinada Só pude encontrar a verdade de Mme. A no ponto onde ela não sabia que suas dissimulações ou suas invenções a

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 descobriam com mais exatidão na paixão passa a relat a história de sua Po Escolhi tomar este relato como verdade, exatmente como Chateaubriand preferia como motivo de isolamento, a versão de Lrro

 que (a cabeça cortada) porque esta lhe tocava mais prondamenteQuero crer na verdade desses relatos porque eles

 flm da morte e mortmente Se a verdade passa como espero entre as linhas semeadas de mentira e fsidade isto vem do comércio de meus personagens com o horror de estr vvo Nada de verdadeiro neles senão essa necessidade de ngir a morte, de pô-la em cena e ao mesmo tempo de  engná-la Nada os des creve melhor, nessa com da morticação que as lavras de Chateaubriand: "Debatendo-se dolorosa mente contra um caos onde o céu e o inferno, o ódo e o mor a indferença e a paixão se misturam em uma confusão pavorosa

Vê-se aqui como lá em lugar do trabho do luto

(reconhecer que o morto está morto consideraro morto nele mesmo), a pecadora e o devoto considerara  morte neles mesmos e simular sua máscra

Quis são os mecanismos de defesa assim ati vmente moblizados no registro da defesa mníaca?O desmentido que oera ao mesmo tempo na psicose e na perversão. Bem suceido, ele dá acesso à  segun

 da; insuciente, ele dexa o cmpo livre à  primeira(da  mesma forma que o fracasso do recalcmento desemboca na neurose) Sobre o que ele incide nos dois casos evocados? Sobre a morte do objeto Ao mesmo tempo sobre o fato (a representação a idéia) desta morte e sobre os afetos que o cercm (sofrimen to, culpabilidade legria) O equivente da reidade

 negada deverá então (como o equivente do afeto e da representação reclcados) fornecer uma representação ntelectualmente plausível (não há nem alucinação nem delírio) e   a série de afetos insuportáveisA regressão masoquista satisfaz a uma e outra

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 destas condições: não pranteio o morto, tornome um morto (morticação no sentido próprio, do lado da representação) e disso retiro, ém do mais, a dor redentora e o heroísmo de quem sofre e morre sem falr(do lado do afeto).

Esse desmentido não é jmais completamente bemsucedido, e deve ser mtido por constantes esforços (as gradações das torturas, os reforços da regra monástca) sem o que o desabamento psicótico se torna eaçador sob a forma de depressão (o desmentido dá lugar à introjeção) ou de panóia (ele cede à projeção)Mas enquanto ele é mntido (até a morte no caso deRancé), o sujeito se encontra cortado da realidade. Ao mesmo tempo em sua relação intelectul com o que se passou e, na mea em que queira amitir que lgo se passou, no acordo entre seus afetos e esta relidaeDonde a necessidade e materilizar esse corte em lugares fechados, fora do "mundo, qutos de hotel onde a identidade se desfz, anonimato silencioso deLa

Trappe, e de repetir esse isolamento entre o interno ex- ternalizado (os rituais de morticação) e o verdadeira- mente externo (a reidade soci) Donde este des- prendimento mundano que Mme A deixava ver em relação à reidade exerior (a morte sica do objeto), mas também, desde então clivada da primeira: essa ausência de emoção, esse martírio aceito sem reação

(Freud mostra como a negação da realidade pelo ego se acompha de uma clivagem do próprio ego ) Evocano suas cenas sadomasoquistas, Mme A izia: "Eu não sentia dor Era como se eu me visse recebendo as pcadas

Deserto, desafeição, tudo é preferível à defecção. O que há a ser negado na morte do morto é certamente sua

 morte,  mas enquanto emblema de sua castração, de sua fta de pênis Evidentemente, considerr Rancé como despossuído de si mesmo diante do corpo decapi- tado de sua bem  ada não é sem signicação. Quto a Mme. A , obstinada a "castrar, primeiro seu mido,

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 provocdoo pelo relato de suas aveturas exracoju- gs, depois seus mates jmais à  atura ela estava certamete cativa, até em suas exravagâcias heróicas e erócas, de uma idção de si mesmo como muher

 castrável O que é mrrado, batido, assassiado em simulacro, é o flo, este fo decomposto evocado peo corpo do morto e que se queria ão ter visto Racé se reduz a este falo de pedra mudo e imort, sob o exerior de uma lenta popedêutca ao trespasse e à corrupçãoMme A.  imita o fo mrrado humilhado, mas assim tornado insepáve daquele que o humilha ou amrraUm e outo ecanm este fo cuja fta e morte são desmentidas Indestutível ao abrigo do soimento como do desejo

Esquecese feqüentemete que a vida etea pometida ao cistão arependido é ão somente umatória sobre a morte, mas tmbém uma liberação em relação à  diferença dos sexos pois, segundo a plavra de Mateus (XII 30) "na ressurreição os homes ão

 terão mulher ema  mulhees marido: ees serão como jos no céu O eredo perverso é assim, apesar das apaências, uma dessexuização, o corpo masoquista sedo  tão assexuado quato o do místico Como a ausêcia de pênis matero, a morte ão estu Nós sabemos, mas é preciso ão saber Nem da morte do outro, em do que ela diz da ossa Isso pode acote-

 ce,  parecia dizer Mme A.  de um resultado mortl de seus jogos, sem na verdade acreitar isso Ela procu- rava o homem sem agústia, aquee que estaia ao abrigo da castração e que poderia matála Não o encontou por uma simpes rzão é que tmbém pa o homem, quado bate ou martiriza uma mulher, é o pêis  que ele mltrata e i  até o poto de matáa o

 forçaria a perceber ela a fta e, em retoro, a morte da coisa destacável e ág ele mesmo

Em últmo lugr, a morticação é uma maeira de depravr a liguagem.A  morticação assim etedida é  perversa, ão somete pelo lugar cetr que ea

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 ocupa esmei mas pea meira com ea zomba a Lei. Quem é mricao? O quê? O our moro assassia ma segua vez e verae em si a fog bra? O eão si mesm como outro sjeio

 marca pea fa? N mu a peiêcia cse ia a ei, por mais severs que sejm ses artigos ãé a Lei Só a ei esej serve e pricípio ao  game

 masoquisa os ecos e Mme. A  como vez aos capíus a iscipia coveual de Racé. Nehuma outra ei seão a que o morticado se iija segu seu desej e em sua forma mais eigmáica: desejo e maar em si mesmo o esejo.

Fazer er a more ierior e si mes- mo (Rancé) ea erar a cada isane mais aie(Mme A.)  sica ecr mnera ceebrr a mre a iguagem. O u rmal só ibera da gúsia da more e da cupabilidade do assassiao a medida em que é rablh e iguagem. Ee ea fr o moro izer a more. Tvez ã se fe jamais seão disso. Da more a more os prómos iss que ão se poe dizer: eu quis ua more. O uo é a mre faaa(o iermiáve); a moricação peversa é a more assassiada o caaa (o impossve). A  perversão é ao seão mais egação a more qun a ife- reça s sexos Mme. A.,  a mesma maneira que ão me falra mais o moro em parece a niém mis

 esde que ee morrera havia se recsa a ver os preprativos eerro e a assisir à cerimôia. Essa more jmais visa (Mme A.  o visa m excess de horror (Rancé) ao um como o ouro dea escarrega- ram o mro. Mas como os moros que ão eerramos ero e ós mesmos pavra após paavra êm ma via oga eses moricaos tiveram e fazer a caa

 ia a eeriêcia e suas próprias mores ea fazer a coição e suas vias. Quotidie morior,  izia Bossue que ão via a úima oeça seão como uma "repi cação e com úim acesso o m que rzemos ao mo ao ascer 10

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Abramos aqui um parêntese para colocar umaquestão. A morcação,t qul acabamos de descrevêla não encontra uma certa concepção da cura ticaa de Lacan que fla de "cadaverização do anista e

evoca o sicutpalea de S. Tomás?11 Pode o nalista nãoser perverso? Ele não obedece, sem o saber, à injunçãoá citada do pare de La Trappe "Sem ser lembrnçasem memória e sem ressentimento? Seu "deser 12

go além de uma dessubjetvação mortificnte? Nestecaso a mortiicação ão atge ievitavelmete opaciete? "A arte do ista deve ser suspeder as

certezas do sujeito até que se consumam as últimasmirages 13 escrevia Lacan As certezas? Mesmo seLac tivesse somete to "as creças sua parade ordem não seria de modo gum aceitável impreg-ada ue é de remiiscências da ascese cristã

Mas ir até as certezas a de estar vivo cotíuo notempo e o espaço stinto das coisas inanimadasseprado dos outros cosumilas num fogo redutor dasmagens da ma? Programa totmente rceano quevemos aorr em outras formulações de Lac, comoesta: "Se se formam aalistas é para que haa sujeitostas que neles o eu esteja ausente. Não há nunca sueitosem eu sujeito plenmente reizado porém é us-tamente o que sempre se visa obter do sujeito emaise. 14

Perinde ac cadaver, a cura?Aprentemente tudo opõe Mme. A e o abade de

Bouthllier. Os séculos o sexo o uso das pavras,sobretudo que no deserto de La Trappe se apagcomo se a linguagem se contivesse apenas em um nomeimprouciável Deus enquanto que Mme. A se liraao recitatvo de uma paixão profuso brilhante feito

pra encantar. Ele não fla mais e se aige em umsilêncio acerado; ela só fz flar e se retemperanas vagas da plavra sedutora. No entnto, nela comonele uma mesma depravação. Ascetas ·penitentes ecotinentes se eles querem mat o orpo, é sobretudo

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a linguagem que um e outro querem depravar, mltrat. Querem dessexulizála, purifcála, pela prece oupela oensa, azêla sair do prazer como do desprazer, econduzila a só dizer o gozo, a despossessão. Porque,

pra a mortifcação, tratase menos de separr a lmado corpo do que o sujeito da linguagem. Não há pãomais cruel que a de ter de l em meio à perturbação,à incerteza, à perda E este sorimento inelutável (esca-par eim à noite das pavras que dizem o qe quereme ão o que qeremos que igm), o sorimeto eridovem reimilo

Mme A. se encerra em laços, Racé se eclasraem La Trape Um qer lar, o outro asira a se crpra a eteridade, mas tto m como o outro queremcurar se da lara, morticr a ligagem ao oto dereduzila a m úico eciado ue diz a morte. Fercom qe ão haja mais jogo a liguagem é o e tetazer Mme A , iterpodo metaoricamete se corocomo suorte dos ecademetos sigifctes Asplaras do outro não lhe dizem ada mais que: vocêão é ada A eosição de ses desvios, tão sesata,tão sujeita à ordem de um discrso qunto seus embros ao cotrole dos homens, cojurava ao mesmotempo a ssociação da idetidade corporl e a disersão ieitável das sigiicações Sua liguagem eracomo que tocada pela morte, imobilizada no icome

surável téo de seus relatos (É preciso ser echado àsplavras para ver em Sade, na isípida repetição dosgrdes eitos acreitarnosíamos ante do nãosaber preciso, agudo, o qual os ez tombar a mortevioleta do ser mado.

Há um perigo maior do que a morte: a lavra.Ates a morte que o icosciete. Antes nada izer ou

dizer o nada que não saber o que se diz. A liguagem: eiscom o que não se pode brincr. As regras do devoto,como a imutável narrativa dos tasmas, garantem aomenos isso asência de ato lho, de lapso Aqui seeli tvez a comtência de Mme. A. em iormática,

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oe o proceimento subordia a mensagem e one aiguagemd rápio e sem erro o que se quer que eadiga

A morticação é uma essubjetivação consetia,

tato para aquee que se mortica como para seuparceiro (pois há sempre um outro a quem a morticação é edicaa, mostraa). O perverso se essubjetiva ee mesmo ao se armar ão cocerio peafta. Sem meóra, sem esejo, puro sgicate?Aquee que se mortfca quer matar, em s mesmo,meos o que fez, sse ou amou, que seu própro seresejo tto ser esqueco, que ão se pese sequerque est, esera Racé. Mas a mortifcação essubjetva também o outro: reuznoo a um sgncte,ee he retra a va. Assi, o esio e Racé (o estioassa sere uma certa reação ao etor, a seueseo, Chateaubra os dz que ee é "sem primavera, que nee se ecotra ququer coisa e iexpcáve, que sera horríve se ão fosse admráve. Essehorror poo, tabém no setio e brhte, egeao, eu o eerimetava cruemente em mihaserevstas e "espectaor aôimo (Joyce McDougaco Me A. Necessário à sua emostração, eu ãoha avras, ão por métoo, mas porque veraeirete espojao e iguagem peo efeto e suaavra, quase esmetio em miha codição e ser

fteA guagem era assim atiga tmbé em miha

própria eaboração ítica Eu não tha outro ugarseão aquee, muo, a criça ohao as ceaspriivas sácas, ineamete vriaas, ieiamete as mesmas. Bem rápio meus recursos associatvos se esgotram e não pue manter um trabho

nítico que aquee emprego morticate as pavrasvsava conjurr Se a perversão ão se aisa, não é porquestão e gosto ou e moral, mas e estrutura, isto é,e reação com a guagem como recohecer que se ésubmeto às caeas sigcates se se utiza a lin-

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gugem pens como um meio de submissão do outro?Querendo exirpar o dizer "o que vem o pensmento,Mme A consegui reduzir em mim tenção utuanteSem dúvid, seri necessrio distinguir o perverso

msoquist que permece quém d ingugem domístico que está pr aém ds pavrs O "sentimentooceânico de um difere d percepção de si como umponto de estênci levdo à su exrem singuliddeque descreve o outro. Ms um e outro gozo não podemse dizer Não por interdito ou censur, nem porquefatam s palvrs, ms porque far sep e porque o

êxse morcante reiz com o seio ess são pré-verb que dá o perverso como o scet, o sentimentode pertencer sem medição à verdde Não há dúvidque, no próprio momento em que se ndi n imunície,Mme A cedi à eção, o triunfo, extamente comoRncé tingi, no deserto uz d ft irremissíve.

Sobre esse vitamento d ingugem ns insti

tuições de Rancé hveri muito dizer. De resto,Lrroque desde 1685, em Les véritables mots de laconversion del 'abbéede la Trppe , o mesmo tempo quedv versão d cbeç cortd, notv perdamenteque Rancé, em seus Devoirs de la vie monastique nãohvi verddeiramente renuncido às pavrs Porexempo, ee a citi com demsid freqüênci eextidão Aristófes: "Tenho dicudde em creditarque ee se lembre tão extamente de um leitur feit hámais trint anos Assim, parentemente, foi em seuretiro que ee se divertiu com este cômico Ms quandoMbilon endereç um crític rme Rncé, seudesprezo pelo estudo, seu ódio pelos texos, e recomend os monges, peo contrio, o do do estudo ed erudição, o mor pe íngu, Rancé repic: "Que

qulidde par um soitrio de ser poet! Bossuet, noentnto, com o dscernimento que se lhe conhece hvioposto o estdo do soitário o do cenobit. Rncé erpor demais enordo d língu de seu século pr nãodeixr trás de si um obr mgnicente escrit

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A lenda quer que, tendo agrupado seus discursos econferências endereçados a seus irmãos em solidão,ncé se teria deixdo levr pela prece de um religiosodoente que o conjurava a reunir estas plavras num

opúsculo. E foi sob este ttulo de Devoir de la viemontique que várias cópias foram feitas em La Trappee Bossuet, que recebeu uma delas, quis fêla im-primir. Ora, Rancé, escre Chateaubrid, havia jogadoa obra no fogo, mas dele retirado os cadernos meioquedos "or ua dessas covrdias comuns aosautores, Rancé havia retomado os restos do incêndio e

os havia retocado .

Já no incio de seu nociado, elehavia ordenado a queima de t a sua corresndênciaEsse smento das letras que erimentava Rncénão era senão o desprezo por um objeto longente pro-curado Rancé escreveu uito, nota durenteChateaubrind. Essa obstinação a fzer clr em simesmo a língua, consumir as plavras, mascra mo fato de que Rncé, antes de La Trappe, se quiserasobretudo letrado, homem de plavras. Mesmo recluso,ele não havia renunciado à plavra: pregava e confes-sava seus irmãos e suas únicas distrações eram aspavras que recolhia dos moribundos sobre seus leitosde cinzas

Mesmo desejo de convencer, pela narrativa dasmorticações ou pelas obras de penitência o impor-

tte é persuadir o leitor ou o ouvinte. Há o proselitismona perversão que quer converter o outro a seu própriogozo. Mesmo rrebatento, mesma retórica do exem-plo e, no centro, o gosto pela pavra. Mas se a plavra, aviltando a carne, corrompendo os amores, s-solvendo os deveres, é a única coisa que nela mesmanão amolece, a única coisa em que acreditam cé e

Mme A é uma plavra em que se celebre a morte dal-guagem, uma plavra depravada Pois, para retomnovamente avisa rnceana, ser "sem lembrça, semmemória e sem ressentimento não é antes de tudo sersem palavras?

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Nos dois casos o relato da mortcação é em simesmo uma morticação. A Vie de Rancé foi, aliás, parahateaubriand, também uma morticação, imposta ecomposta pa obedecer às ordens de seu iretor de

consciência, M Seguin hateaubriand nela eica suaúltima másca, não a do bom cristão, mas a do grandeescritor que desce em sua tumba, a mão escritora áansida pela mão do tempo Mme. A espera do elatode suas práticas perversas a humhação e ter e exordinte e um esconhecido a culpaae exerimentada após o suicíio e seu mrio, mascraa por estaoutra, ligada a suas práticas de fustigação Certmente,o ouvnte ou leitor é tmbém o estinatrio humlhado da conssão ou o relato Mas o fato e contr ea mneira de fzê-lo proporcionm, pelo prazer de izer, uma revnche sobre a humhação As gressõesde Chateaurin (a amirável página sore as crtasde mor, ou sobre a velhice, "viajnte a noite) mostr que o autor poe em vão se mortc, prepr

se por sua narratva à consolação da morte, que oescritor mntém e a as armas de seu gozo de escritura; Mme. A , pretendendo humemente querer seconr e ser absolvia procura ntes e tuo seuzirseu conente e confessor (nem por um instteela diferencia o nlista dessas guras cristãs do pecado, a reduzi-lo a uma gura impotente e ataa, transida

de gozoQue mortcação me imponho escrevendo a mor

cação de Mme A? O que procuro ecr? Quem?Que se me permita aqui de não exor minha resposta ede colocar a questão de mneira enviesada É a morticação que é ecnte? Todo relato seria então go queem da morte, mas de uma morte ngida: o escritor fz

o elato de sua morte no turo anterior da cção. Ounto é a eicação que é morticante? Comohateaubrind se enteia com sua história de devotoue suscita sua repugnância! Como Mme A me apagacom a edicante história que pretende me contar!

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Eu considerava então a possibilidade de pôr umtermo ao que só havia durado gumas entrevistasEu não havia feito o luto de não ter podo engajarcom ela uma anlise, e não aceitava facilmente a morte

de minhas palavas, que realizava o desvio peversoda situação analítica Restavame um porquê Oque se passara então, recentemente, para fêla merecontactar af de falar de uma morte da qual, aliás,ela nunca havia fado? De novo, se ela não espera-va esta questão, me esperava exatamente neste ponto:este, como os outros só pode me coloc questões paa

quais eu sou a resposta Fez então o relato de umaúltima sessão com um parceiro sáico, e foi com esterelato que nossa última sessão terminou, depois deconstat, sem compreender, e desta vez verda-deiramente inigada, que, após aquele último merlhono masoquismo eenuado, ela havia praticamentecessado de a ele se entregar Naquele dia, o mestre,

um homem idoso e prticularmente violento, após umalonga reclusão comum em um quarto de hotel euma lenta gradação de sevícias, teve de fugir para obheiro e se tranc, sem dúvida excedido pela apromação do momento em que o jogo da morte selariaa morte do jogo (0 marido de Mme A tinha sido en-contrado inanimado no banheiro.) O homem lá couum ia inteiro. Mme A lhe havia fado durante mui-to tempo, do outro lado da porta, enumerando as no-vas torturas, atiçando seu próprio gozo, excitando emseu crasco a tentativa espavorida de controle Ohomem lhe havia suplicado: "Estou peindo, pare! medexe! Foi neste momento que as coisas "vire, pouco a pouco, Mme A etomou o pé na vida de antesdo suicídio (em sua vida anterior, tenho vontade de

dizer, como Chateaubriand de Rancé), a ptirdo momento em que o homem falndo do émmorte,do outro lado da breira, morto vivo como seu mido, enclausurado nela, havia declaado que aban-donava a ptida.

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Sem dúvida Mme A havia eeimentado oasionmente gumas pácas masoquists geias comum ou dois parceios de passagem antes da mote deseu marido Havia mesmo eeimentado a necessi-

dade de acompanh o elato que lhe fazia po umabição das macas das pancadas ecebidas Tvez elatenha continuado gum tempo após esse momento delu to patológico, a se enteg po vezes a excessos destaodem Mas a foça que lhe tinha atiado na tavessia dohoo não he havia nteiomente jmis dominado aeste ponto e jamis depois Éque a culpablidade ligada

ao suicío do maido e ao lugr que nele talvez houvessem tomado os elatos complacentemente naadosv efoç uma tendência já pesente ao masUismoeógeno Fzendose agedi ea ao mesmo tempo deseu mido que ela se fzia apnh e ea a si mesmaque punia po lhe have mltatado Amrada peloslaços ea o moto que ela não queia pede mas

também ela mesma que não podia mis abandonálo àsua depessão e à sua mote Tlvez o esmoecmento doouto homem e sua incapacidade de ev a temo seupópio ódio fom pa Mme A o signo iecusávelinegável do defeito do outo O homem pela conssãode seus limites podia se econhecido como motdexndo de se o peseguido onipotente de quem elase tinha sevido para exeioiza seu óio pelo maridomoto e etonálo conta si mesma.

A questão que pemanece é sabe como Mme. A.pôde evita uma vez esgotada essa pojeção cai nadepessão ou na melancolia. Pois, se a depessão é umtipo de evitamento do ódio de antióio um ódio doódio invesamnte o óio ou sua foma atenuada, odespezo pelo outro, é uma pojeção ecaz contra a

depessão.

Moticação ou moticações? Toda convesão éum desmentido? Todo desmenido uma manoba

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perversa? Rancé era perverso? Esta última questão nãoteria sentido e atravessria legremente três séculos decultura em uma retrospecção nacrônica Rncé foimístico e Mme A. perversa porque tais er as sídas

socis que seu tempo de um e de outro oferecia alguma coisa que eles têm em comum: o luto impossívelrevirado em morticação Cada época dá ao sintoma ouà história de um sujeito um tipo de legitmação que ostorna inteligíveis, conferindo-lhes um sentido aceitável.A cada um sua reclusão a cada um seus laços

Tvez hoje Racé não acabasse seus das em La

Trappe e sim ms sordidamente no bomundo,onde a morte se maquia e vi até o ponto de se dzerdvertida, que as grndes cidades oferecem ao desejorrepressível de não ser nada. Tlvez não Mme A pelas últimas notícias vive um tipo de retro místico e,se busca sempre o limite chamao de Deus. Quemsabe?

NOTAS

1 Tradução do texo: Schneider, M "La mort dépravée InNouvelle Revue de Psychanalyse n 33. L'amour de la

haine Paris, Gllimard 1906 (N do T)

2 No presente artigo, o autor emprega de maneira reiterada os termos "désaveu e "déni, que traduzimosrespectivmente por "desmentido e "negação Emníve conceitual, ambos os termos se referem à "Verleugnung freudina (e não à "Verneinung, como otermo "negação poderia levar a crer)

Cabe ainda observar ue:1 O termo "désaveu fo proposto em 1966 por GuyRosolato3 (In L désr et la perverson, Seuil, p. 9- 1 0)como tradução de "Verleuung (traduzido por "dénno Vocabulário de Laplanche-Pontlis) "Desmentido,

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única tradução de "désaveu que nos prece possível,possui o inconveniente de fzer alusão a entira (o quenão está e causa aqui) e não a "aveu (conssão, doreligioso, do culpado, etc.)

2 O tero "déni aprece traduzido e português naedição do Vocabulare de Laplnche-Pontlis coo"recusa, o que nos prece ipróprio (deveria ser reservado para a tradução da "Versang freudina, "refusou "represeent e francês). A tradução, provisóriacoo todas, de "déi por "negação prece convir se seevitaa encontr a "Verneinung de Freud oente oestabeleciento sisteático do cpo semtico do

verbo negr na obra de Freud poderá nos peritiropções ais clras a este respeito (consultr, por eeplo, a "terinooge risonnée de J. Laplnche emTradure Freud, PUF, 18 p. 122) É a flta destasisteatização e português que justica esta longanota cuo gosto duvidoso pedios ao leitor escusr.

O essenci a reter aqui é que os dois termos, negação

e desentido, se referem, neste rtigo, ao eso ecaniso descrito por Freud coo "Verleugnung. (N. do . )

3 Cf. tbé, de G Rosolato, a contribuição recente "Lanégatif et son lexque, in Le négat:fgures et modalités coletivo, Dunod, 18. (N. do T

4 Soente o essenci de sua vida será aqui evocado; apósaint-ion e Chateaubrind, coo us ua Vida de

Rancé?

5. Para cobater os que fl des, não utilize aspavras.

6 Jogo de plavras entre "suaire (sudário) e "sueur(suor), quase hoófonos e frcês. (N. do .)

7.  Legenda de ua avura publicada por N Bonnrt (se

data), Bibliothque Natione, cabinet des Estpes.8. Clavreul, J. "Le couple pervers, inL désr et la perver-

sion Coletânea, Le Seuil, 167 p 1 1 1

9 er-seá reconhecido a fórula ue Proust atribui à suaãe, a que quer eor seu "étodo. "Faça coo se eu

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não o soubesse responde el Fórmula e bem peraser emblemáca da relação peers A mães de peersos são freqüentemente consideradas como não sabe-doras e partcularmente a mãe do homosseu, que

não sabe da homossealidade de seu lho De umamaneira mais geral aele que f como se não soubesseencurrala o outro em um jogo (cara eu gho coroavocê perde) que Freud aproxma para em seguidarejeitar com pavor sua proxmidade da cura anítica.Mas esta é uma outa questão a propósito da qual melmtae a ndca que se não se anisa a peversãoa peversão podera muto bem analisa" certos

funconamentos analíticos1O. Bossuet Oraison funbre de MarieThérse d'Autiche.

1 1 . C J Lacan Proposition du 9 octobre 1967"

12 . desêtre (N do T.)

13. J Lacan Éct, Le Seuil p. 2 5 1 (Trad bras. p 116 . )

14. J Lacan Le Séminaire Le Seuil p 287. (Trad. bras.p. 300)

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A PAVA NA PSICOSENeuza Santos Souza

. com que palavras nomeá-las,minhas nomnáves alavas?

Bket

A lingugem ta ela at consigo uma históriade sexo e or". 1

Pode-se pensar que a saa edípica isto é, o enfrenento de dois desejos tão intensos quanto proibidoss enconra seu ermo ditoso quando uma faa que dizeu e amo" advém no ugar desse impossíve amor

Intimado a responder ao desejo da Mãe a criança o fazcom sua fa uma paavra uma promessa é coocadano ugar do impossíve ao; um dio uma voz substituia impossíve satisfação Fa é amar e amar é sobredo ma deação de or2

As paavras e sua avenra conam uma históriade or e são a fora de conenaento consigo

esmo3 Na psicose enreano a aegria cede ugar àústia e as pavras ao perdere sua capacidade dedesignar e sinicar deide contar história. Eu nãosei faar d uma paciene psicóica as paavras enro a ene ão sei eicar"

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Na exeriência psicótica, as plavras passam pormetamorfoses sucessivas que as transformam emcoisas,4 coisas que serão, por sua vez, tratadas comoobjetos parcis fragmentos, restos impossíveis de

totiz, pedaços que representam pedaços, obetos deasco e horror, abjetos. Palava e coisa se imbricam, seencaim Rompendo suas relações convencionais dedesignação e signicação, plavra e coisa crim para sium novo modo de estência onde se interpenetrmoentmente ums nas ouas, louca imagem de Eros.5

Aboida a signicação, as pavras são reduzidas à

sua materiidade sonora, ganhm substância, teturasica tornse sons penetrantes, letras cortantes,fras que fetm, invadem o corpo A plavra setransforma em som e o som, em coisa Uma pacientequese, ita: Doutora, as vozes ficam me sacane-do Eas cam fando assim: mrajá, ador,feliz novo!" Um outro, após a enfermeira terlhetirado a pressão, colocase numa postura corpor decompeto reaento. Ao he perguntarem o porquêdessa osição, responde Você não tirou minha pres-são?" Wofson, que se autointitula um jovem esquizoênico estudnte de línguas" fa e escreve sobre suaaergiaàíngua materna e sobre o acirrado combate queava para defenderse e destruir essa mldita língua,o inglês". Assim é que se dedicou a estudar línguas

estrangeiras para traduzir automaticamente, o maisrápido possel", as plavras ouvidas na a mateaÉque ele não suporta ouvir sua mãe flar Cada palavraque ela pronuncia o fere, o penetra, ecoa em sua cabeçaUma voz terrível, com um timbre triunfal, triunfo deaniquilação. É ele quem escreve, sempre em terceirapessoa e de modo impessol esse tom de tiunfo que

ela teria pensando penetar seu lho esquizoênicocom pavras inesas precendo toda cheia de umaespécie de legria macabra pela oportunidade de inetarde gum modo as palavras inesas que saem de suaboca nos ouvidos de seu lho, seu lho único ou, como

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ela lhe dizia de vez em qundo sua única posseprecendo muito feliz em fazer vibrr o tímpno dessaúnica posse e em conseqüência os ossinhos do ouvidomédio da dita posse em uníssono quase exato com suas

cordas vocais, a despeito dele"6

Pra Wolfson as plavras da mãe eram essa coisanociva causa de "reações agudas que lhe tornavmdoloroso escutála se não pudesse converter rapida-mente seus vocábulos em pavras estrngeiras oudestruílas no espírito "7

Dizer que a pavra se trnsformou em coisa é dzerque ela perdeu o sentido essa fronteira que sepracoisa e plavra corpo e linguagem profunidade e su-percie ruído e voz Essa fronteira se acha rompida napsicose Aqui tudo se mistura se interpenetra seenca Vozes "espíritos pavras invadem o corpoUma paciente fa de lmas que entrm numa máquinade desmaterilização e avanç sobre ela atraves-sndo seu corpo Um outro é encontrado na enfermriandndo a passos rápidos aticulndo sons inintelgíveis ora com voz fina ora com voz rouca Seu corpose confundia com os ruídos gwtescos que lnçava e,como um possuído estava à mercê daquela força que ocoa a fr sem prr ous pavras loucs pavrreduzidas a uma pura materilidade sonora ou ainda deoutra ordem Foi ele próprio quem disse mis trde

qundo pôde se comunicr " . . . elas [as vozes] fm porminha boca eu sou coagido por elas E sobre aquelacom timbre feminino: "É uma voz que evapora podreU m outro vaga pelas ruas torturado pelo asséio deletras que saem da boca dos passntes e formmplavras ruidosas que " entrm em minha mente ec lá Veado!' Veado

Artaud nos fa de uma eeriência radicl ondepalavra e corpo se trespassam letra e órgão se interpenetram "O que sa do baço ou do gado vinha emforma de letras de um antiqüíssimo e misterioso fabeto mastigado por uma boca enorme mas assustado

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ramente pressionada orgulhosa iegível ciosa de suainisibilidade . . . do lado de meu baço foi cavado um vazioimenso que se coloriu de cinza e rosa como a beiramr.E no fundo do vazio surgiu a forma de uma raiz que dava

à costa espécie de J que tinha no to três ramos enci-mados por um E triste e brilhante como um olho. Da oreha esquerda doJ saír chamas e ao passr r ásdele, parecim empurrar todas as coisas para a dreita,para o lado de meu gado mas muito para além dele. "8

Uma outra conseqüência da transformação dapalavra em coisa é a produção de uma plara que não

remete a nenhuma outra o neologismo. Um pacienteao conversar comigo, falava palavras absolutamenteoriginais. Tomei uma das que mais me impressionou edisse: "A . , não enteni essa paara, FLESCÍFICAS, oque quer dizer? E ele, rme respondeu: É isso mesmo."

O neologismo é uma palavra valise": plavraesotérica que detém em si mesma todo o sentido esentimento do mundo.9 Encontrar uma plavra assimum signicante absoluto que diria tudo por intuição tal era a ambição de Schreber. 10

Temos inda um outro efeito advindo da plavraque perdeu o sentido. Como ta, ela é uma pavra quetiraniza obriga a pensar, a procurr uma signicação.O mundo se trnsforma num vasto lençol de hieróglifos. A plavra que perde o sentido tornase signo,representa algo para guém, algo enigmático que épreciso interpretr algo que violenta, coage obriga ansar deci. Enetnto, ·na psicose está em fênciaa propriedade de signic. Nenhuma signicação édotada de consistência suciente pa barrar omovimento incessante que obriga compulsivente apensar. Aqui uma pavra remete continuamente a

outra, na busca sempre mograda de signicação. Eunão paro de pensar dz E. penso demais . . . tudoqualquer coisa. Tenho de tomar Hadol pra pr depensar"Essa paavra que reenia incessantemente aoutra, numa verdadeira cascata de signicações, é

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esposável por um feômeo isóito que os psiquiatras cássicos descrever e nomearam como verborragia: um faar iiterrrupto, uma digressão ifiita,uma torrete de palavras que se sucedem ad nauseam.

Éovete A. que os testemuha essa exeriêcia:"Das pinhoridades das ihdas das operações das

escoptr Das pihoridades das coviver das instituites das recociliações das ezeticais das operaçõesdas idiretas das lâmpadas das maravilhosas Dasreticeciais das irregular das recocladas das reco-medações das irrelrd ireguardad rece-

ciais das operações das escoptar das pihoridades dosecais dos atametos. Das receciais d lâmpa-das das maravilhosas das terras Das reticeciis dasgermiias das pihoridades das irretagudas doscheiros dos cadáveres Das reticeciais das pihori-dades das âmpadas das as terras. Das reticenciaisdas pihoridades das irretaguarda das terras Dasezetificais das germiárias da fumaça das germiáriasdas cavidades Tudo isto é dito um fôlego só, respi-ração ofegte, voz terada, com tropeços ocasioaisas palavras que parecem rolar umas sobre as outras

Tato a pavra que remete icesstemete aouta sem um poto de basta, quto aquea que sefecha em si mesma sem edereçarse a ehuma outra,são palavras sem setido sem setido, sem destio

Não são as paavras "sentido e "destio aagrasuma da outra?

Os feômeos cruciais da psicose atestam o fra-casso do setido sentdo que é froteira e limite NÃOque barra a procura isaa de uma palavra totalizte,NÃO que impede o ifiito desdobrar de pavras, puradispersão sigicate, cascata icesste de sigi

cações.A psicose é deúcia e testemuho do fracasso do

NOMDUPRE, 12 NÃO do PAI/NOME do PAI, umoperao que vem produzir uma ruptura um estadoaterior de coisas, estado ebuoso ode o ho "as

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sujeito se enconta inteirente assujeitado a umdesejo obscuro, mistério indeciável, o Desejo da Mãe.

ONome-do-Pai é o signicante novo que, ao substituir o signicante enigmático do desejo da Mãe

metáfora paterna vai permitir ler e signicar a trado desejo do Outro, antes impossível de deslindr Como Nome-doPi, o que era inominado se cphallus"termo genérico que designa o objeto desconhecido dademnda do Outro 13 O phallus, podese armar, éntes de tudo signicação, e a signicação é, em últimainstcia, flica

A signicação flica pode, entretanto, não advir Éeste o princip efeito da Foraclusão do Nomedo-Pi,flência do signicnte agente da metáfora paternaIvn esquizofrênico, oferece-nos em sua fa exemplolapidr desse não-advento da signicação fálica, dnomior da Foraclusão do Nome-doP, esse acidenteestruturl pleno de conseqüências: "Eu ouvia banana·,

'bnna e não compreendia . . sabia que era limentação, mas não compreendia. Depois Deus me botou apedrinha na cabeça a eu tive a compreensão, a eucompreendi: 'bna!

A ausência de signicação fica cria, no iscurso,um vácuo de conseqüências destadoras pra o sujeoque, sem prumo nem rumo, vem perder-se num torvelinho, verdadeira avalnche de signicações sem quenenhuma lhe baste. Nesse redemoinho, os signicntesdisseminados numa proliferação impotente são reduzidos a signos vzios de sentido, meros estilhaços aoléu Excesso e fta aqui são termos homogêneos que seenrelaç cúmplices, fendose testemunhos de umacatástrofe que se abateu sobre a relação do sujeito coma linguagem. Dessa catástrofe de efeitos letis emergeum sujeito lacerado por sentimentos de perição eerrância, um sujeito à deriva, sem arrimo do signicnte, um ser desvalido de todo porto, de todo ponto dereferência É desse sujeito em seu sofrer que nos flartaud O icl é encontrar seu lugr e reencontrr a

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comunicação consigo O todo está numa certa ocuação das coisas, na reunião de toda essa perarament em torno de um ponto que é justamente para serreencontrado Vocês sabem o que é a sensibilidade

suspensa esta espécie de vitidade terríca e cindidaem duas, esse ponto de coesão necessário ao qu o sernão se eeva mais, esse ugar meaçador esse ugaraterrador?14

A catástrofe de que se trata, fruto de um mau en-contro encontro ftoso, foracuído se passa numugar onde o NomedoPai é chamado e não responde,

numa região em que a seu chamado responde no Outroum puro e simpes buraco. A este acidente, slenciosonas origens, mas de conseqüências sempre ruidosasLacan nomeou Foracusão do Nomedoi Acidente degraves impicações, todas eas girando em torno daência da Lei ei  d smlzação ei eípica, ei icaque esquarinha os sujeitos, prtilha os sexos, regua

o gozo. É assim que, na ausência da ei, surpreendemosa inquietação dos cops, o tumuto das fas, a anarquia do gozo A fência da sgncação fáica prouzmpre, em úma insncia, um mesmo efeito genércoassujeitmento rac e sem recurso ao Desejo doOutro, esse desejo inominado e inomináve Desejofat, mortífero gozo.

É desse fat que Wofson procura escap com seuproceimento ingüísco afogr s pavrs  d ínamaterna, o inglês, "idioma dooroso transformandoasem vocábuos de outras ínguas. Wofson nos f vertodo o seu empenho, esforço ineugnáve, para cons-truir um intervo, uma geograa de distância, umpincípio de imitação que possa resguardarhe dessaexcessiva presença, ameaça sinistra, rondando sempre

r rto, demsiado perto: " . . . o jovem homem psicócose achava muito incomodado, porque sua triã, suaMãe, poia aprecer a qulquer momento em seugabinete de trabaho onde ee cava a maior parte dotempo e em cuja única porta ee não podia pôr um

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rrlh qu medra a sua mãe a seu adrast o lvrecss de su órgã de seu tlvsor tlvz lassss váras alaas em nês, à vezs tã horrível l, anda or! tlvz as ssesse om um tom de

un, lavras que lh trarm trríves roblmasvos le nã sabra, al omo onvrtr ssas alavras de sua arnta mas róma m lavrasestrangras assm . destruílas d lgum modo: lons, era a voz qu area, r uma razã qualquer,rturbálo mas que nenhuma outa15

Ente as psoses Prnóa e Esquzofrena nos

dtêm, de modo rlegado or suas mlações lngüístas. Nelas s lê a lêna da nção da lnguagem sus fetos m nível da fa do oro do juízo

Na esquzoenia, as lavras erdem sua relação lngüísta relação d ura ferença e artulação Ao volenta o orpo da língua léo e gramta- osquzoêno rompe os rmeros e dentvos gr

 lhões qu nos atam àLe àOrdem, e deste ato soe asonsqüênas no próro oro Um smularo decro m que os elos oram aboldos oro em edaçosnde s órgãos não ormam organsmo, servem anustadas funções e à derva habtam o exterorCntra orpo omo totlidade, organsmo rtaudlta um utro, sangue ssos, oro sem órgãos:

. . .para ser alguém preciso ter OSSOSNão ter medo de mosar os ossose de ciho perder a ce.O homem sempre gostou mais da crnedo que da terra dos ossos.

Para ter merda,

quer dizer cea ode só o que havia era sanguee u ferro-veho de ossadas

r . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. !6

E., qu não faz poesa, d aenas: "o mole Ed angústa do mundo aree a oagularse

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O corpo esquzoênco é um corpo extraornárioe prado feto de "buracos de vácuo, órgãos que seestilhaçam e se acaso se recompõem, o fem numcorpo ouro, "um corpo que não se toca nunca 17 Trata

se de um corpo raclmente verso daquele que nos édado pela linguagem, corpo dos reles mortas, corpo dosenso-comum É Artaud quem grita: "A reldade ndanão está de pé porque os verdaderos órgãos do corpohumno nda não estão formados e devdmente colocados18

Ao prnóde cabe pôr em pé a "verdadeira rel

dade reconstrur os órgãos num corpo oroso, refzero homem crir "uma nova raça reordenar o mundoTrefa de um grnde Presdente, o memorável Schreber!

Dferente da esquzofrena a pranóia não crecede totlização ela é "loucura sistematzada como anomeia Kaepelim A desordem essencl aqu concerne

às capacidades de julgmento inda que não demido ro o co soa cissitudes em conseqüênciado desrnjo da linguagem. Schreber não nos deamentir estômago volatilizado esôfago e ntestinosrasgados pulmões absovdos "prtes gents trnsomadas membrovi retrído e às vezes lqueeito, costelas desuídas tempormente, ta a estaturacorpor reduzda, ca torácica oprimda 19 es í seucorpo Um corpo despedaçado repasto de um Deusrno e urro que não sabe nada dos vivos e só serelacona com cadáveres.2 Enetnto, esse us schreberino é sobretudo voz e la O Deus de Schreber "éessenclmente linguagem . 21 Lnguagem enigmátca,desregrada e obscena que volenta o corpo e a "Ordemdas Coisas , que o despedaça prmeiro pra trnsmutálo em mulher depos

É certo que é à custa de muta devastação e sofrmento mas na pranóa tratase de reconstrução.Dentva nesse processo é a nvenção de um sentdo,uma signcação pra o mundo um sentdo sempre

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ntástco eraordnáro e nustado delíro metáforadelrante metfora da metáfora paterna.

A que viveu nos atrás num mundo de mortosvvos e destrução nos fla hoje de raos solares

chuvas "lavações da terra para que os mortos re-nasçm, agora como seres imortais: "É o nascmento daterra lavada pelos raos solares Das lavações msercordosas o mortl va nascer A lavação é feita pelosros solres que lavam a terra purcm o espírto desuas cosas runs ele germna e nasce mortl Es um momento prvlegdo de organzação e establ

zação da exerênca pscótca Os que logrrm chegar mam seu delro como a s mesmos. Habtavam umcaos dentro de s e como o prea Netzsche deram à luza estrela blarna22

NOTAS

1 Deeuze, G Schizologe, inL Schizo et les LanguesWoson, L. , Ed. Gaimard, Paris, 1970 p 22

2. Nasio, J. D Comnicação or

3 Beckett, S Joal do Brasil, caderno Idéias, 47-1987

4 Fred, S "O Inconsciente ( 1915) n Edição StandardBrasileira das Obras Completas de S Fred, Ed Imago,Rio de Janeiro, vol X, 1969

5 Deleze, G. A Lica do Senido Ed Perspectva, SPalo, 1975

6 Wolfson, L L Schzo et les Langues Ed Gmard,Pars, 1970 p 15

7 Ibidem, p. 33

8 Artad, A Os Tarahumaras elóo D'Áa Ed,Lsba, 1985 -p 24

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9 Deeuze, G ALógica do Sentido Ed Perspectiva, SãoPauo, 1975 pp 4550

10 Pommier G. D'une Logique de la Psycose Point HorsLe Paris 1983, p 105

1 1 Deeuze G Prouste os signos, Forense-Universitária, J 1987, p 100

12 Lacan, J Les Formations de l'Inconscent seminárionédito.

13 Pommier G. Dune Logique de la Psychose Point HorsLie Paris, 1983 p 10.

14 Artaud, A. Oeuvres Compltes voume I GaimardParis 1925, p 90

15 Wofson, L Le Schizo et les Langues Ed Galimard,Paris 1970, pp 32133

16 Artaud A. Para acabar de vez com o juízo de DeusEdição & etc . p. 30

17 bidem p. 4418. bidem, p. 149

19. Schreber, D. P. Memórias de um doente dos neros, EGraa Rio de Janeiro, 1984 pp 49-150

20. bidem, p. 1 4 1 .

2 1 Lacan J O Seminário ivro 3 As Psicoses Jorge Zahar

Editor, Rio de Janeiro, 1985 p. 1 1 9 22 Nietzsche F. Asimfalava Zaatustra Próogo V

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EU NÃO EXSTO, LOGO PENSODaniela Ropa

Je n'atme pas la créaton déachée. Je ne conçots pas non plusL Esprt comme déaché de lu-même. Je so4re que L Espr ne

 so pas dans la ve e que la ve ne sot pas dans L Esprt Je soufre de L Esprtorgane, de L Esptraducton ou de L Esprttntmtdaton des choses pour les jare enrer dans L Espr.

Antonn ud

Lombltc des Ltmbes

Meus agradecimenos a Jurandtr Fere Cosa e a Joel Btrman que ano me auaram lendo aenamene e discuindo comgoese rabalho Agradeo ambém a Chatm S. Kaz pelo ncenoe po me ceder preciosa biblograa sobre o assuno.

I -OATIGOLEM

"Em determnados momentos tenho a sensaçãode que meu copo some desaprece de que vou derde exsti. Isto ocorre ms eqüentemente qundoestou na ua Preciso então c me tocndo pegndo

em pates de meu corpo pra sent-las e saber que estãoa. Ou então na rua pegunto as hoas ou umainfomação qulquer a lguém, pois só assm ao meesponderem tenho certeza de que estão me vendo deque não sumi Tenho medo de me olhr num espelho ou

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no reexo de uma vitrine e não me ver Isto á aconteceu . Foi terrível!"

Com estas palavras e muita gústia Z, nas primeiras entrevistas descreve seu mal-estar

Ao ongo dos os de anise a seguir, ouvirímoso relato, bastante ramático de toda uma série dedistúrbios de sua imagem corpor onde predominavm as sensações de fragmentação, descorporicação eas ucinações negativas de partes de seu corpo ou detodo ele

Z. tinha vinte e poucos nos quando nos procurou

pra análise. Pela gravidade dos sintomas e pela estência de um surto delirante com cracterísticas pranóides, ocorrido há cerca de 3 anos, agnosticmos umquadro de psicose

É eremamente dicil escrever sobre um casoclínico, sobretudo quando j se passrm tantos anosdesde seu início (mais de quatro) Uma das diiculdades

reside no fato de que não só o próprio paciente sernsorma, como também todo o nosso aprelho conceitul e escuta pessol de seus problemas, zendonos, por vezes, como no presente caso, até quesionrnosso diagnóstico inicil de psicose Nesse cleidoscópio em constante mutação sintomas que ntes ermdescritos e vivenciados de determinada orma passmatravés de todo um processo de elaboração secundria(fruto da análise e da história trsferencil) a apresentar outras eições No caso de Z. por exemplo, ossintomas relativos à imagem corporal orm progressivamente sendo substituídos pelo medo de desmair oude perder a memória no meio da rua assumindo oquadro em determinada fase, nítidas cracterísticas defobia ou obsessão antes de vir a se tornar praticamenteassintomático

Oura diculdade encontrada no relato de um casoestá em sua própria compledade e extensão É impossível retranscrever todos os aspectos e desenvolvimentos evidenciaos ao longo dos anos Para ns

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ositivos veo-nos obrigados a efetuar u recortenítico, eso sabendo que este corre sepre o riscode ser u tanto redutivo no caso clínico e si

Otos aqui a nli das lterações da iage

corpor vivenciadas por Z Não só por estas nifesçs aprentre coo as s ruidoss e rácas dentro do quaro clínico as tbé por constituíre a nosso ver vias de acesso a ua copreensãoestruturl ais profunda do caso

Etretnto deveos adiir que o otivo aissigiicativo que nos levou a querer aproundr ua

iscussão teóri-ca sobre este caso foi se dúvidaa presença nele do fenôeno da alucinação ngatva.Pensos que este ecaniso apesar de insis

tenteente sinlizado por algus autores tais cooFerenczi nunca foi sucienteente investigado oudesvendado No entanto a nosso ver ee pode cosituir a chave para a copreensão de uitos quaros

psicóticos não elicáeis exclusimete peo ecanso da foraclusão quaros estes que por apresentre u funcioneto e ua evoução tão atípicas(coo oi o caso de nosso paciete) nos fze questor as roteiras do diagstico da psicose Atravésda aise do ecaniso da luciação negatia quetoaos a liberdade de denoinr tabé de recusada rprsntação intolrávl, esperos poder apontarpara ua dierenciação clínica entre duas foras deestrutura psicótica

Mas tes de enveredaros por esta iscussãoteóricoclíica vaos acopnhar ais de perto o casode Z seus sintoas sua história clínica e faiiar

A sesação de inestência, de desapareciento docorpo ou de partes de seu corpo acoetia Z. co ais

eqüência quando estava na rua Dizia sentir "fios invisíveis que o ligva à sua casa e que deliitava ucerto períetro pra alé do qual surgia o estar ea ipossibilidade de prosseguir. Precisava sepre estaracopanhado de gué que lhe rearasse pelo

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olhar, sua própra presença Decorrdo certo tempo detratamento, começou a aventurarse soznho pelasruas; porém, só consegua fazê-lo traçando um percurso bem precso a lgr ponto de partda a ponto de

chegada, percurso do qul não poda desvar-se emnenhuma crcunstânca sob o rsco de se ver submergdo pelo pânco. Se mesmo apesar de todas estasprecauções ncdssem os dstúrbos da magem corporl precsava de medato regar-se em espaçosecdos tais como o crro, ou cmn rspndo aspedes dos prédios, ou anda annar-se no enquadra

mento de uma porta. Estes locs ou superces parecm unconar no momento como substtutos para seuprópro contorno corporl desvanescente. No entnto,estes mesmos regos podim tornr-se pergosos",imobilzndo-o mis nda, pos Z. senta que entregav um prte de seu corpo ao locl": Eu não conseguamis andr, pos era como se uma pte mna casse

l e a out prossegusse. A sensção era a de ceslado um braço aqu, uma perna l, despedaçadopelo cmno, confuso, em pânco, sem sber onde eurelmente estav."

Ests stuções erm, de lguma form repetçõesmenzds da relção com a casa dos pais, da qul leera aind mis dcil sar Lá senta-se protegdo, pos,segundo suas próprs plavras, a casa era um grandeorgansmo do qul fza parte".

Como j observamos, Z precsava sempre sersustentado ou reconhecdo pelo olhar de outrem parasentrse exstndo Qundo acometdo pelo ml-estrem locs amplos ou anônmos", procurava logo drgra palavra a alguém ou, então gestcular de modobastante bzrro e estranho até captar o olhar de umpassante Dza que a análie era um dos poucoslugares onde se senta presente, ntero, com substânca, exstndo corporlmente. Flar de seu corpo, servsto, ser reconhecdo por mm nconava para elecomo se eu pouco a pouco estvesse jogando tnta sobre

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seu corpo e fazendo, com minhas palavras, "com queseus contornos e formas aparecessem.

No entnto a relação com o olhar de outrem nãoera sempre tão protetora ou confortante. Em deter

minados moments, assumia cacterísticas nitidamente persecutórias que se manifestr por diversasvezs também na relação transferencial, e cuja análiseé de grande interesse pa a compreensão do caso,como veremos na seqüência do trabalho.

Durte o silêncio das sessões, ou qundo percebia o olhr mis direto de lguém, surgia uma série desensações extremamente agustiantes, que descreveua posteriori, apromadmente, nos seguntes termos:Dizia sentir-se perdendo progressivmente o controlesobre seu corpo Este começava a realiz movimentosesquisitos como os de um "boneco ou "robô, como sea outra pessoa o estivesse controlando através do olharPelo olhr, esta pessoa ia se "aditando, avnçndo,ghando cmpo, domínio e ele ia "recundo cadavez mis até chegr um momento em que "tinha de sar

de seu corpo e se esconder atrás dele. Deva, porassim dizer, seu corpo "fzendo sa pra a outra pessoa, numa espécie de pntomima pa distr-la e poderentão pensar. Sentia que precisava cr lndo semparar pois só assim conseguiria "debilitar o domíniodo outro sobre seu corpo e retomar o controle Com as

palavras, "desviava a atenção de seu corpoEfetivamente, Z., no início do tratamento, mal

conseguia par de falar para respir. Encadeava asases ums atrás das outras, deseneadmente, qusesem inexão ou pontuação, fechando qualquer brechapara uma possível intervenção minha.

Z parecia soer de uma verdadeira "compulsão

pa pensar. Precisava sempre manter a mente ocupada e com pensamentos bem objetivos. Divagações eincertezas lhe erm intoleráveis Possuía um verdadeiroarsenal de elicações e interpretações pa tudo o quelhe ocorra, assim como uma constate necessidade de

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prever e antecipr, através do pensento, qualquerpossível ocorrência Mntinha a atenção sempre dirida sobre coisas bem especícas, tais como: o trajetoa seguir na rua, as tarefas a cumprir durnte o dia e,

mais freqüentemente, o próprio corpo Armava precisar car "pensando em sua respiração, senão elaparia Com o pensamento, izia poder "criar um olhrsobre si mesmo, que o fazia sentir-se mais protegido.

Voltaremos a nisar esta função desempenhadapelo pensamento, mas, por ora, é importnte apenasnotar que tnto o surto psicótico qunto as terações

da imagem corporl que, cronologicamente, sucederm-se a este, ocorrerm após um episóio em que Z.

sofreu, em suas plavras, "um ataque a seu pensamento e a suas crenças por prte de um grupo decolegs. Enconava-se em ouo ps, numa comunadede jovens, onde havia permanecido por mais de um anoLá conseguira, tvez pela primeira vez, crir migos,senir-se adulto e independente de sua fmia. Noento, mais ou menos repennente, resolveu volrpra casa Acreitou ter reetido e madurecido bastnte sua decisão, mas, ao comunicála ao grupo,deprou-se com fortíssima desaprovação. Face a todasas objeções e recriminações feitas em bloco pelos colegas, que o acusaram de "irresponsável, nfantil, de"querer voltar ara a mãe, diz ter se sentido "enlou

quecer: "Não sabia mais onde eu estava, quem eu erae nem o que estava pensando. Nada mais me peciaverdadeiro Entrei em pâico Saí correndo daquelelug Tudo estava muito quieto estranho, diferenteNão sei como consegui chegar até a praa Sei apenasque, de repente, eu estava lá e haa um objeto estranhoe muito luminoso no céu. Vendoo tive, subitamente, a

certeza absoluta de que tudo o que eu havia pensado eraverdadeiro A luz me dizia que eu era um ser especil,privilegiado e que deva lutar contra os exércitos doml Dividi o mundo em exércitos do bem, que lutava meu favor e exércitos do m, formados de bruxas e

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pessoas velhas que queriam meu m Em todos oslugares ouvia dilogos estranhos e cheios de subentendidos As pessoas sabim de meus pensmentosOlhavm pra mim e cochichavam dizendo: 'Agora ele já

sabe Sentava-me na praia dia após dia, sempre nomesmo lugar na mesma pedra, e cava horas tando osol Só lá me sentia exstindo e podendo pensar"

Este episódio delirante parece ter tido uma remissão espontânea com seu retorno ao Brasil No entnto,significativmente, logo em seguida desenvolveu osistúrbios da imagem copoal já referidos

Há ainda outra peculiaidade, ligada a essas sensações coporais, que merece ser mencionada, tntopor sua estrnheza qunto por sua relevância pra acompreensão do cso Z. construíra uma imagem de seuquado na qul se comprava com um antigolem. Namitologia religiosa judica, o  golem é uma ciatuamonstuosa feita de baro, apessadamente fabricadanos momentos de crise ou guera e que tem po função

defende seu criador conta os inimigos. O  golem sóexste enquanto corpo não tem lma e obedececegmente às odens de seu senho Com esta imagemdo antigolem, Z procuava repesentr sua sensação deflta de corporeidade, mas revelava, no mesmomovimento myito da relação com seu criador" comoveremos adiante

De sua infância Z fla pouo Lembra de feqüentes visitas a médicos, desde muito pequeno por causade doenças que eram, quase sempre, agnosticadascomo somatizações e tratadas com cmantes

A morte do avô paterno que Z presenciou qundotinha 6 os, parece tê-lo marcado profundamenteLogo em seguida, desenvolveu um grave sintoma respi

ratório de origem nervosa, que se assemelhava bastante à insuciência respiratória do avô e que perduroupor gns meses

Desde criança Z. praticava um verdadeiro cultodos avôshomens pelos quais parecia ter profunda

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veneçã. Gudv td ste de pequens petencesds mesms ttnds cm ulets e ceditdque lhe cneii pteçã e pdees sbentuis.N dlescênci cmeç esceve um espécie demncesgépic sbe vô mten que vie deum pís distnte em que este peci dtd de tdss quliddes ds gndes heóis.

Z tinh tmbém um scíni p áves geneógics e pssv dis e dis tentnd etç sigens e s nmes de su i e de uts cnhecids Este inteesse estendise à histói em gelpecend cnstitui em mei à su cnus eçã

mili um busc de sentid p su pópi igeme histói

E sem dúvid, s peculiiddes d eçã mili meecem que nel ns detenhms:

P inicitiv d mãe s pis hvim decidid ds lhs um educçã mden libe bsed emvnçds peceits pedgógics. Os pincípis dest

educçã eqüentemente eimds pels pis cnsistim em jmis sb hipótese lgum pinsbe qulque decisã se tmd pels lhs Estesdeveim quse que p um pcess eg de es ecets pende ze e decidi tud szinhsRepeensões e inteeêncis diets nã devei esti nesse cnvívimdel nde se petendi que nd

sse impst e que tud sse exustivmente elicd Pmvise imgem de um fmi eliz equilibd mden sem cnits u bigs nde tdsmuit pndeds e justds sbeim utmticmente seus devees e espnsbiliddes

Dunte s pimeirs ns de su tepi Z. nãcnsegui l de su mi e muit mens mul

qulque queix cnt mesm As queixas de imeit, suscitvm um culp e siedde intenss e fível intejeiçã ms eles sã tã bns!" O quesonento dess imgem fmilir-mdel que sugiossivamente em sus sscições gev em

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determinados momentos, uma gústia tão intolerávela ponto de acarretr breves episódios confusionais,quase delirates, e uma nítida eacerbação de seussintomas corpors Foi somente numa fase bem ms

trdia de sua análise que Z conseguiu descrever me-lhor seu malestar em relação ao ambiente de sua casa:dizia ter a sensação de estar sempre imerso numa verdadeira gelatina", onde tudo precia ambíguo, abafado,indenido, nãoelícito. A uma liberdade aprentemente mitada, conrapunhamse exgncias veladas ea impressão de uma reprovação ria e slenciosa a

acompanhar todos os seus gestos Neste jogo de claroobscuro, nesta atmosfera uida, na qual tornavasempossvel discernir de onde ptiam as injunções, Z.

perdia todo e qulquer referencial. Parecia debaterseem busca de lguma denição, de agm posicionmentomis clro e, neste desespero, procurava rmrsituaçõeslimite: em certa ocasião, chegra a esbofetervolentmente a mãe, recebendo, como resposta imediata pa seu ato, um abraço, um sorriso compreensivo e um beijo. Ficara profundamente abado com aeerincia.

O pi aprece na história de Z como uma iguraágil, omissa e dependente da esposa De comportamente infntil e lgo irresponsável, sempre arquitetandoplanos mirabolntes, que nunca eecutava, davaaos

lhos a impressão de ser mais coleguinha" do que paiA mãe, veladamente, detinha todo o poder Traba

lhando numa instituição benecente, apresentavasesocialmente como um eemplo de abnegação e ltruísmo Em casa predominava o retrato da mãeperfeita" que, por seu eterno sacricio e dedicação,deiava pouca margem a uma possível crítica por parte

dos lhos. No entto, algo em sua atitude sempresoara falso e ambíguo aos ouvidos de Z (uma certacontradição entre o dito materno e seu próprio vividoafetivo), sem que ele conseguisse relmente detectar oquê, e fendoo sentirse prondamente culpado ao

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etr encontrr uma resposta Havia lgo como umacerta frieza e metodização nos cuidados maternos quefazim dela mais enfermeira do que mãe. Precia desenvolver essas tarefas antes por dever do que por prazer

exceto nos momentos em que os lhos adoeciamNestas ocasiões parecia ficr particularmente felizsegundo Z. , "maternalmente excitada desdobrndose em eficientes cuidados mécos. Z. devido às suaseqüetes doenças constituíra-se em objeto privilegiado destas ateções

Certo ia Z um misto de horror e fascinação

relatou-nos uma conversa que tivera recentemente coma mãe. Estava doente na ocasião de cma quando amãe apromou-se e abraçado-o fortemente codenciou -lhe ser ele seu lho predleto Ainda fortementeabraçada "colada disse-lhe que sempre o sentira tãoprmo tão perto que chega a desejr que ele ucatvee sído de seu vetre e sussurrou-lhe que de fatozera de tdo pa icultr seu nascimeto Cotoule qe seu rto hava durado mais de 20 horasorque, a cada cotração ao invés de fazer forçarelaxva prooilmete o corpo pa que ele fosse ovmete sgado a detro a fim de poder senti-lo pormais tempo dentro dela.

Z. cou sensivelmente ngustiado com esta conversa e notamos uma volta de seus sintomas corporis

que nessa época já havim praticamente desaparecido No período que antecedeu a conversa Z. vinha sedistancindo da mãe criando uma mior autonomiasindo sozinho na ra. Havia tmbém deciddo casrse mudar de prossão e até de pís. A mãe demonstrava estar profundmente abada com todas estasmudanças e o que é mis sgnicatvo (como veremos

aiante) quexava-se de não conseguir mis conversar com sua própria mãe de quem precia ser muito dependente. Nunca tomava decisões ates de consultressa velha senhora que segndo Z. era extremmentedomnadora e autoritária

f H

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O tatamento de Z estendeuse po um peíodo deapomadamente 4 anos e meo Pogessos mas sg-nicativos foam obtdos a pat do momento em queconseguimos aboda o matea efeente à sua fma

e mas patcuamente a eação com a mãe Ces-saram os distúbos da magem copo assm como omaesta na ua (que vez po outa, anda se manfestava mas agoa sob a foma de uma igea e contoávefobia a espaços abetos) Ganhou autonoma e nde-pendência em divesos setoes de sua vda obtendotambém uma nítida mehoa no pano afetivosexl.

Mudo de possão, pasndo a se hstoiado (escolhasinicatva)Sabemos que a mehoa sntomátca peduou até

o pesente momento pois Z pocuounos ecentemente paa uma beve enlse em sua útima viagemde érias ao Basil

U- ESTRTÉGIS: 66EU NÃO EXISTO,LOGO PENSO."

Da mesma forma que paa a apeciação de umapintua ou pasagem é pecso um ceto ecuo o apro-ndmento das eexs teós be umc cíco

eque a dstânca obtda com a naização do pocessoteapêutico. Como na pntua, aguns detahes tuvam-se com a dstância mas sobess a vsão de conjuntoassm como o espaço necessáio pa o sugimento deconsdeações e nteogações. E, neste caso em paca foam númeas as questões suscitadas, ouseja:

Como entende os dvesos dstúbos da magemcopoa 'vencados po Z? Qu a nção desempe-nhada pea aucinação negatva neste caso? Qua aeação entre as ateações da magem cpo e o tpo d nonmento de mento e o pacente

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apresentava? E nda, qul a relação entre estesdstúrbios e a realidade histórica de Z? Tentando responder a estas questões elaboramos lgumashpóteses.

Ao ongo de todos esses anos de terapia, pudemosobservar que Z apresentava três derentes pos de alteração da imagem corpor que podiam ocorrer sejaisoladamente, seja seqüencialmente Para a compreensão do caso, achamos importante diferenciar clamente cada um destes dstúrbios, que consistiam em:

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1 .Exeriências de fragmentação cooral

-

quando, por exemplo, sentia seu corpo feito depedaços, fragmentos que ora se esplhavampelo camho, ora desaprecim bruscmente,deixando-o em pâico a se aplpr para certicr-se de que continuava inteiro, de que nãofltavam partes

2. Eeriências de descooricação - utlizmosaqui proposimente o termo desooricaçãopara descrever estas vvências com o ntito dediferenciá-las do fenômeno da despersonalização. Não se ratava neste caso de sentimentos de perda, ransformação ou estranheza doeu, como classicmente descritos pela psiquiatria, mas, sobretudo, de um sentimentode estrnheza do coo (lembrndo Gregório, opersonagem kakiano de A Metamoose), emque seu eu precia subitmente sentir-se esrgeiro àquele habitat que, fora desses momentos, ele contnuava a habit e investir como sendo seu lugar seu espaço, não sepá

vel de si mesmo Durte os episódios de descorporicação, Z tinha a níida sensação de"sair fora de seu orpo de abndoná-lo arasitu-se em outro ugr, distante dele, numaespécie de conguração ctesiana do duis-

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o corpo-aa, ou ainda coo e certosdesenhos niados e que a ala se destacado corpo pra, oentaneaente vagar pora. É iportante notar que nesta odalidade

de distúrbio, diferenteente da descrita aseguir, persistia a iage corpor se beque dssociada de seu eu

3 . A terceira fora de lteração da iage corporl consistia na alucinação ngativa durante a qu tinha subitmente a sensação deque seu corpo desapecia por inteiro Estasanifestações podia tanto assuir a foras atenuada de vagos sentientos de inestência corr quanto apresentr a dracidade de ua aucinação negativa propriaente dita e que por rações de segundo(t coo na lenda de Drácua) acreditava nãoenerg sua iage no espeho

A náise s inuciosa do cso a oservçãodos oentos e que icdiam as terações da magecorpor be coo as associações subseqüentes dopaciente pertirmnos perceber a estreita assocaçãoque estas anifestações guardav co o quepoderíos quaic de violência matrna à qul Z.,

desde cedo, ora subetido Coo vereos cada uadestas lterações precia consuir ua diferente foraou esttégia para lid co o coo co a ralidad eco a mã.

Ao far e volência aterna é preciso prieiroexlicitr elhor o que entedeos por este conceitoento do capo psicanalco É tabé iportante

lebr que, ebora na oria dos casos estudados avolência atera seja u fato deduzvel a postriori,não se trata de u siples tefato ou construçãoteórica O corpo os sintoas e as lebranças de Z. sãou testeunho vvo e dtco esta realidade Pe

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smos ainda, como P Aulagnier, 1 que a psicose nuncaé redutível a um simpes jogo fantasmático ou pulsionalprojetado sobre uma realidade neutra é neste sentidoque ela se diferencia da neurose Na causalidade da

psicose sempre exstem o peso e os efeitos de umarealidade histórica efetivamente vivida, realidade estaque porta em si a mrca de uma violência A violência,para ser quaificada como tl, não precisa manifestarse aberta e ruidosamente Encontrmos formas deviolência que, por serem veadas e ambíguas, são tntomais opressivas quanto mais diceis de nomer ecombater.

Freire Costa, em Violência e Psicanálise 2 avançauma nova concepção de violência psíquica, diferente dausualmente encontrada na literatura anlítica sobre otema As acepções correntes, baseadas em critéos predominantemente econômicos e quantitativos, e desenvoidos a ptir da noção de trauma, definem comovioência" toda eeriência que, por sua intensidade oureetição, utrapassa a capacidade de absorção doaeho psíuico Freire Costa, no entanto, observaue esta concepção economicista tende a obscurecer aquestão da natueza da vioência. Não é apenas aintensidade do estímuo que conta, mas, sobretudo, anatureza da representação que lhe está associadaBasedo-se nos trabalos de P. Aulagnier, ele rerma

que a violência deve ser definida não só como coerção,mas, sobretudo, como desrespeito a uma lei ou a umcontto, implicando na estência de um uso arbio,gratuito e desnecessário da força e do poder

P Aulagnier, a partir das ipóteses de Lacan, ressltou por diversas vezes em seus trabalos3 o aspecto

fora da lei das mães de psicóticos Seriam muleres

que, por algum motivo, nunca puderam aceitar, ou atémesmo compreender, as leis ue regem um determinado sistema simico ou cultrl Colse acimae ora destas eis Elas são a lei uma ei rbitrária quevaria segndo seus capricos que não tem nen

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suporte ou referente na orem cultural, e cuja únicanaliae é a conrmação a onipotência materna. Sãomães que, não teno conseguio recalcar satisfatoria-mente sua relação primáia com a própria mãe, nunca

asceneram à simbolização o conceito e junçãomaterna. Desta forma, nunca pueram se inserir ouinserir seus lhos entro e uma caeia simbólica queviesse lhes conferir um lugar na história, na ordem das

 gerações ou a derença de sexos O lho não é viviopor elas enquanto "outro, um novo ser, um novo eloentro a caeia e geações, mas apenas enqunto

reeição elas mesmas Por conta isso, ocorre umaconstante esqualicação, esrespeito e espossessãoe tuo o que, no lho, venha a lhes lembrr que se tratae uma nova via

A mãe e Z. , infelizmente , pece confirmar estashipóteses. Trasgessão e violência caacterizm,ese o início, sua relação com Z. A representação o

parto, a oposição ao nascimento o lho, a tentativa eretêlo ento e si como objeto unicamente seu apreenchêla, taduzem bem seu desejo e neglheuma exstência pópia, autônoma, sepaaa e seupróprio copo de negarlhe a via, enfim. A violênciafoi continumente retomaa em outros níveis, seja narelação pedagógica (one a uiez e a ausência elimites claros pareciam ter por única função permitir-lhe rein soberana sobre too o campo e possibi-aes) ou, ina, na relação e enfermagem que man-teve com o corpo e seu lho Sua incessante preocu-pação com oenças, os cuiaos obsessivos com alimentação e a estrita aplicação e preceitos higiênicos(fatos que marcaram, e moo claramente torturantes,as lembranças e Z. sobre sua infâcia) revelam clara

mente o tipo e investimento que fazia o corpo e seulho um investimento frgmentário parci, estecorpo enquanto conjunto e funções e órgãos em bomncionmento, conforme os moelos mécos e hiê-cos que lia e seguia à risca. O corpo e Z nunca parece

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tr sido invstdo por ela como um todo unicado emnção de um projeto turo, pois só assim, fragmendo, como pts, pdaços, máquina em ncionmento,é qu l poderia sr mntido sob su rígido controle ecomo tstmunho d sua onipotência.

V. Tausk4 chamou a atenção paa um fenômenoqünt m pacints squizofrênicos, qu é o delíriodo corpo enqunto máquina controlada a distância, ecuja gênse pod sr comprndida por ess tipo dinvstmnto fragmntário, que a mã faz do corpo dacrança. Z aprsntava sintomas qu lmbravm o caso

d Tausk, tis como, a imprssão d os invisíveis aconctarm su corpo com sua casa, ou a snsação dsr um robô um boneco rtculado, controlado adistância plo olhr do outro

Da msma forma, as snsaçõs d fragmentaçãocorporl que frqüntmnte o acomtm, bm como aipossibilidade d constituir uma imagm corporl

uniada indpndnt do olhr d outrm, guardmrlação co st dsinvstimnto dspossssão dsu corpo ftivados pla violência matrna.

Sabos qu o stágio do spelho, momno dci-sivo na constituição d uma imagm corpor unicada,é, na ridad, um ponto de chgada pa todo umprocesso qu s inicia antes msmo do nascimento do

próprio sujito, plo lugar que ele vm ocupar no mitofmili e, mas partculmente, no desejo da mãe5Pois o que prmite o processo d identcação com aimagm d si msmo é o rconhecimento que o outo fdsta imagm. É somnt na mdda em qu este outo(a mã), dsde o início, já reconheceu o sujeito com umcoro imaginado, idealizado copo completo, uni

cado sexado e autônomo que ele va poderv

tbém a s rconhecer nesta magem do espelho,vendo nela su go ideal. Nas mães de psicótcos pareceft este corpo imaginado"6 do lho a criança nãoé sta como um outo, mas apnas como um pedaçoorgânico do corpo da mãe. Elas só vêem o corpo rel,

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anatômicobiológico um conjunto de músculos, oss órgãos que rerm sua subsncia do mateoE é exatamente esta imagem que o espelho reenvia aopsicótico Como ele não possui um outro signicante de

si mesmo que lhe permita projetarse neste "corpoimaginado "sua imagem no espelho lhe aprece peloque ela é num certo níve de reidade nua e crua umaconstelação de carne ossos órgãos uma montagemsioógica.7

Em Z , as sensações de fragmentação e despedaçamento denunciam bem a flta desse olhar uni

cador e integrador da mãe a ausência de um investimento libidinal materno que lhe permitisse vivenciar-se como totalidade e unidade designável. Sua procuraconstante e aita pelo olhr de ou trem como garntia dereconhecimento e estência constituía, a nosso ver,tentativas desesperadas e a cada vez renovadas dereconstruir o estágio do espelho que ftou Pela frag

mentação, Z parece responder ao desejo materno d�qe ele nunca tivesse m corpo próprio, aônomoseparado Fragmenado, depenene, ele enconra mgr na dilética, ou melhor, na asência de diléicamaterna Exorciza o perigo de morte e rejeição estindocomo parte do grande organismo que é sua casa

No entanto (e este é, sem dúvida, o ponto centrem torno do qual pretendemos desenvolver as principais contribuições de nosso trablho), nem tudo em Zé resposta e submissão ao desejo materno. O casoclínico acompanha e conrma a teoria somente no quese refere à compreensão das sensações de agmentação corporal Os outros sintomas a descorporicação e a ucinação negativa do corpo remetem , anosso ver a uma outra ordem, uma ordem defensiva

que nos faz questionar o absoutismo das concepçõessobre a psicose que procuram reduzila unicente auma resposta passiva e forjada pelo desejo, o iscursoou oucura dos ouos Pemos aqui traçaru prlelocom as anises socis sobre o poder. Estas germente

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imitamse a anaisr os efeitos do poder sobre o socia,reendo para um seundo pano as utas e formas deresistência do oprimido Ao semehante parece ocorrer em certos scursos nlíticos sobre a psicose

Nees, maior ênfase costuma ser dada aos efeitos devas-tadores de uma voência sobre o psiquismo do que aosrecursos defensivos ricos em inventvdade e cria-idade, de que o psicótico às vees, conseue nçrmão paa fzer face a esta voência. 8

O caso de Z. exempica bem a presença desses re-cursos defensivos na psicose 9 A nosso ver, seus sinto

mas de descoporicação e aucinação neativa docorpo consituíram duas importantes estratéias de-fensivas na uta contra a voência materna. Ambassinicrm uma recusa em habtar neste corpo mutiado que a mãe e deu. Fuindo do corpo, abndo-nandoo como na descoorcação ou nundoo,através da alucnação negativa, ee procurou preservum esao paa seu próprio pensmento, que não podiase d dento dese continente tão devastado. É impor-te emr qe as erações da imaem corporasuriam oo após o surto que foi por sua ve, desen-cadeado por um ataque a seu pensamento Temos aimpessão de que Z, antes do surto, hava de aumaforma conseuido construir uma espécie de refúioatravés de todo um sistema de racioniações que hepermitia em ou m, incorporr a voência materna eao mesmo tempo continuar nvestndo e estndodentro de seu corpo. Era um ág regio e Z o sabiaDiia sentir que, durante toda a sua vda havafabricado uma capa de certeas em torno de um vaioe sempre temera que, aum da, toda a construçãodesabasse. A mesma comovente sensação e a-

ilidade nos era transmitda por outra metfora àqu freqüentemente recorria pa denrse. ia:"Sou como um íquido em torno de uma boha Eesta boha parece ter se rompido durte a crise noexterior

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Z conseguiu si do suto, mas isto só pôde se dràs custas de um sacicio de seu copo O copo pecete sido eigido, neste momento, como última e de-sespeada beia defensiva, qundo se deu o colapso

de seu sistema de acionizações. Z ofeeceu poassim dize, seu copo em holocausto paa pode conti-nua estindo pelo menos no pensamento. "Cuousedo suto ou do delíio desta meia: desaparecendopaa poder existir delindo com o coo para preservar o pensamento.

Essa miseenscne trágica pece tese epetido

a cada eenconto com o olh pesecutóio do outoComo nas situações de fuga em que a pesa abandonaum engodo ou ofeenda paa engn ou aplac a iado peseguido, Z livase do copo pa pode conti-nu estindo no pensento. Reiza de foma inve-tida damática a fmosa fase de Descrtes. Ao invésde "eu penso, logo esto, eplica "eu não existo logopenso

A elação desss esaté com a violência mteaé exemplamente confimada atavés da imgem mi-tológica do goZem É também notável como esta imgemtansmite, de modo clao, a pecepção aguda e dooosaque Z. tinha do ug impossível e inviáve em que suamãe quisea coocáo: enquanto goZem seu copo(massa infome, sem ma, sem vida, fabicada às pes-sas paa a defesa do criador) tinha cetmente ponção colmata uma becha e defende a ciadoa deuma angústia de peda e sepação em eação à suapópia mãe. (Lembos como a mãe de Z se viaimpossibitada de continua a comunicação com apópia mãe a pti do momento em que Z adquiiuceta autonomia) Enquanto antigolem, ma sem co,

Z recusa-se à mãe, ecusa este pape, e eleva suainsubstância paa ém destes conitos, emandoum espaço de vida e ibedade

Mas o que pemite a Z. imagina que ele possa fun-ciona psiquicmente sem o copo? Como consegue ele

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desctarse do corpo desta maneira e inda contnudizendo "eu?

Introduziremos neste ponto de nosso trabho umbreve gancho teórico visndo eucida mehor a relação

mentecorpo em sua inâmica com a questão mismpla da identdade

Na teoria psicnaítica, o corpo é reconhecida-mente tido como uma das principais fontes de identi-dade. Diversos autores, entre os quis evita, Greena-cre e Fiser10 vêem no corpo, nas sensações que emer-gem do corpo, na imagem corpor ou ainda no sen-

timento de sepação ou alteridade sica o funda-mento da identidade pesso Outos autores (P Auag-nier, Mgoles, M Kh)1 consider que, ao ado docorpo o pensmento e, sobretudo a criação de segre-dos pessois, são primordiis pa a constituição dosenmento de identidade Esrim, rtnto segndoa teora, duas prncps fontes de identidade nor-

mmente insepráveis: o coro e o pensamento.Ms Z. prece desctse do corpo para constrursua dentdade uncmente em cima do pensmento.Este passa a funconar como um novo solo de identi-dade Com o pensmento Z fabrica um novo corpo, umcorpo desencrnado, um corpotecido de idéias umcoro "ideal para ém da vida e da morte e da violênciamaterna

Penetemos então um pouco mais na questão daidentidadecorpo pra entender qua o mecanismo quepermitiu a Z abolir o corpo na base de sua identidade

A obsevação de casos cínicos tem mostado queo investimento do coro proriamente dito não é algo deimediato ou preestabeecido. A possibiidade de o corpotornarse efetivamente base ou esteio pa a identidade

depende de uma série de fatores compexos e prmor-dis, cuja nãoresoução satisfatória podev a comprometer denitivamente o projeto identcatório

Winnicott considera que o processo de habitaçãoda psyché no nterior do copo (ndwelling) é uto de

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uma aquisição pogessiva. Este pocesso, designadopo ele como personalização, teia suas aízes "nacapacidade matena de junta um engajamento afetivoao engajamento oiginimente sico e siológico . 12É

a mãe que, continuadamente, apesenta o copo de seulho à suapsyché. Potanto, é somente na medida emque esta mãe aceita integlmente a ciança em seucopo foma e funções, que a ciança podeá poges-sivamente também econhece e aceita este copo,vindo a habitar dento dele

P Aulagnie apofunda esta eexão, pemitindo

uma maio elucidação da elação eu copo e do papel damãe neste investimento Segundo ela13 a elação quetodo sujeito mantém com seu copo é, desde a oigem,macada po uma dimensão conitiva, po uma ambivlência jamais supeada Isto decoe do fato de quese po um lado o corpo é fonte de paze, po outo eeé fonte de sofimento; se ele é condição de ida, ele é

também passível de mote Como pode então o euinvesti um objeto que paa ele possa signica umsofimento ou a pópia mote? Pa que isto sejapossível, paa que o eu aceite o cáte motl e doloosodo copo e apesa disto continue a investilo, eledeveá pode cia a epesentação da inocência destecopo A causa da mote ou do sofimento seá, po-

tnto, sempe extapolada paa fatoes extínsecos aopópio copo como, po exemplo, a doença, um eoa vontade de Deus, etc. Caso contrio, caso o euvivencie o copo como sendo o esponsável dieto posua nitude, ele podev a desinvestilo pondo aí emisco, efetivamente, sua pópia estência.

O papel da mãe é fundental no sentido de evitaeste desinvestimento Pa ue o eu consiga inocentaeste copo e habita dento dele, é essenci que eleenconte na cena do eal a pesença de um mediado,de um potavoz ue lhe conme o veedito de nãoculpabilidade de seu copo Em última instâcia, são odiscuso mateno e o apote de novas signicações que

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este iscurso oferece ue permitem atribuir o soi-mento a outras causas, emindo o corpo desta respon-sabilidade, desculpabilizandoo

Mas o ue ocorre se, como no caso de Z a mãe

vivencia o corpo da criança como tendo sido efetivamente culpado por um sofrimento inigido a ela mãe?Para a mãe de Z assim como para tantas outras mãesde psicótcos ue vivem o corpo do lho como umpedaço orgânco de seu próprio corpo, o parto freüen-temente pode adquirir o signicado de uma amputação,de um esvaziamento de seus próprios conteúdos corpo-

rais Nestes casos o corpo do lho em sua estênciasica visível separada corre o risco de se tornar paraa mãe um obeto de óo, um perseguidor a ser abatidoiuilado castigado por representar a prova in-suportável de uma fantasia de mutilação do corpomaterno Percebese que, nestas circunstâncias, o tra-balho de aceitação e desculpabilização normalmente

propiciado pelo dscurso materno tornase inviáve. Emas grave anda, à guisa de retaliação como ocorreucom Z. e com tantos outros será inigido a este crpoculpado um "a mais de sofrimento impossível de serassimiado pelo eu da criança pois não remete anenhum deseo a não ser o de um uerer evr à morteou ao aniuilamento

Na reação com seu corpo com a mãe e com arealidade Z viuse conontado com uma situaçãodupamente parado: a de vivenciar seu corpo comocausa de sofrimento, representação ue, evada àsútimas conseüências, implicaria num risco de desinvestimento e morte; ou a de vivenciar seu corpo comotima de um desejo de more e soimento por parte damãe representação tbém inaceitáve pois a mãet

como o corpo, é fonte de vida e condição de sobrevivência, objeto primoril ue não pode ser desinvestido se uiser se preservar vivo

Restavmlhe poucas aternativas para idar comestes paradoxos: ou a morte ou o apeo a uma causi

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dade deirante através da atribuição do soimento a umperseguidor eerno, como última manobra que lhermitisse, ao mesmo tempo, inocentar seu corpo epresear a mãe como suporte libiinl necessário

Como bem o demonstra P Auler, o delírio é a úlmae desesperada tentativa de dar um outro sentido à

iolência comeda po rtavoz: Aavés desta criação,o eu preserva um acesso ao campo de signicações,criando um sentido onde o discurso do outro o conon-tou com uma flta de sentido ou com um sentido incom-patível com sua própria exstência 14

Apesar de Z. ter, em certo momento, recorrido aodelírio, e apesar de sempre rondar o fantasma dodesinvestimento corporal, ele parece ter encontradouma terceira saída para seu conito a alucinação negativa, mecanismo por meio do qual ele, por assimdizer, aboliu" as duas representações intoleráveis: ado coo Hculpado e a da mãe odient.

Vamos então deternos aqui para ex

inar, maisatentamente, esse mecanismo da ucinação negativacentrl para a compreensão do caso.

m -A ALUCINAÇÃO NEGATA: S(XS) VRSS FS).

Ferenczi foi um dos primeiros autores a assinlara orrêna dee fenômeno mo uma resta ela um choque traumático 1 5 Descreveu vários casos cínicos nos quais, em decorrência a um trauma, sobreiham estados de palisação mental seguidos por umaclivagem do ego ou da personalidade Para Ferenczi,

atavase de um fenômeno completamente derentedaquele do recalque, tanto no que se refere a seumecanismo quanto a seus efeitos sobre o psiquismo.

Em seu artigo "Violência e Identidade 16 FreireCosta retoma as concepções fernczias, aron

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dando a reexão sobre o fenômeno Propõe uma eli-cação da ucinação negativa enquanto representaçãoque por ser portadora de uma iolência, induz suaprópria anulação: "Ou seja, haveria um tipo de repre

sentação cujo traço cracterístico seria o de induzir aabolição de sua própria estência psíquica. No en-tanto se pelo ponto de vista clínico e nâmico estaeicação mostrase brilhantemente inovadora e ricaem desenvolvimentos, sentimos fta no texto de umamaior compreensão metapsicológica da questão Qu oestatu to da representação anulada? Qul o mecanismo

especíco de anulação? Como isolar melhor estefenômeno que pensmos estar na base de tntasmanifestações psicóticas, a nosso ver dificilmente ex-plicáveis por outras vias? E ainda, de que modo diferen-ciálo mais nitidamente de outros mecanismos, sobre-tudo o da foraclusão?

Prosseguindo nesta direção, pensamos que a

conasição das noções de Recusa e Foraclusão eriaconstituir uma estratégia útil para claricar algumasdas questões acima delineadas. Evidentemente, nãotemos com isto a pretensão de desenvolver uma eli-cação metapsicológica completa da alucinação nega-tiva mas apenas apontar para alguns aspectos que nospermitam isolar melhor o fenômeno e relançar assim odebate

Reportandonos ao Vocabulário de Psicanálise en-contramos sob o termo recusa o seguinte verbete:Recusa (da realidade) (Verleugnung déni disa-vowal): termo usado por Freud num sentido especíco:modo de defesa que consiste numa recusa peloindivíduo de reconhecer a reidade de uma percepção taumatizante, 17 essencimente a ausência do pê-

nis na mulher. Este meanismo é evocado por eudem particular para elicar o fetichismo e as psi-coses.18

Sob o termo reeição (Verweung jorclusionrepúdio) resumidamente, encontrmos:

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teo inoduzido por Jacques Lacan: mecanismo especcoque estaria na origem do fato psicótico; consistiria numarejeição primordial de um wsicante fundental (porexemplo, o falo enquanto signicante do complexo de casação) para fora do universo simbólico do invíduo.

A rejeição distinguir-seia do recalcamento em dois senidos

. Os sicantes reitados não são inteados noinconsciente do indivíduo

2 Não retoam do 'interior mas do seio do real

espealmente no fenômeno alucinatório19

Prossegindo com o verbete: "Jacqes Lacan invoca a tilização qe Fred faz por vezes do termoVeeung em reação com a psicose e propõe-hecomo eqivalente francês o termo jorclusion." émdisso segundo Lapanche, os textos edianos sobreos qais Lac se apóia para derivar se conceito deforaclsão são basicamente dois: "As psiconeuroses deDefesa onde Fre escreve a propósito da psicose:"Ese ma espécie de defesa mito mais enérgica emito mais ecaz qe consiste no fato de o ego rejeitar(vet) a representação nsuportável e ao mesmotempo se afeto e se condzir como se a representação

nnca tivesse chegado ao ego E na seginte passagemdo "Homem dos Lobos: " . a terceira corrente a maistiga e a mais pronda qe simplesmente tinharejeitado (vewoen) a castração e na qal ainda não seatava de ajzar a realidade dela era certamentereavável Referime nm oto texo a ma alcinaçãoqe este paciente tvera com a idade de 5 anos . . " .

Neste nto cabem das precises absoltamentevosas pa o desenvolvimento de nosas hipóteses:ma de odem teminológica apontada no próprio verte por aplanche e otra bem mais importte deodem cnceitual, qe abordaremos em segida.

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Laplanche, após um inquérito terminológico aoconjunto de texos freudinos, deca ter encontradooutros termos lém de Verweung" num sentido queparece autorizar, segundo o contexto, uma apro-

mação com o conceito de rejeição: ABH (afastar,declin) AUHB suprimir , abolir , RUG(renegr, recusar) A partir deste fato, Laplnche ques-tiona a liação freudiana, invocada po Lacn, e ex-pressa pela equivalência VRWRGFOCLSÃO,dizendo que "do ponto de vsta terminológico, o uso dotermo VRWRUG não abrange sempre a idéia

eressa por FOCLSO e que inversente ouasformas freudinas designam o que Lacan procuraevidencir20

Essa questão terminológica, em si, não deteriatanto nossa atenção não fosse pelo fato de acredtar-mos que por detrás dela escondese uma confusãoconceitual bem ms grave Neste sentido, uma crítica

que Nasio dirige a Lacn a respeito do conceito deforaclusão foinos de grande auio 21 Nasio apontapara o fato de que, quando Lacan procura fzer derivrsua concepção de foraclusão dos texos freudianos, quea equipam a uma rejeição22 incorre em erro e impre-cisão, pois a foraclusão seria antes de ms nada umaausência de rejeição , uma abolição simbólica, e nunca

uma rejeição do simbólico:"A

operação foraclusiva nãoge breu emento, m mata, no oo,ummentoesperado. "A foraclusão não é uma rejeição, mas, aocontrário, a abolição de uma rejeição que deveria ter seproduzido ( . . O foracluído é, sobretudo, um 'non-arrivé, e não lgo que foi rejeitado; e a foraclusão, umaimpotência em estir, ms do que uma rejeição 23 Ouseja, é a própria ndamentação sobre os teos euda-nos acima citados e seu correlato acniano, derivdo deo que é rejeitado do simbóico reapece no rea, quelevaàduvida eàconsão, pois nesta acepção ca dicientender como se pode rejeitr ago que nunca entrouem nós? E ainda, como esta coisa pode retornar se ela

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nunca estiu? Mudemos os termos. No reclque, osujeito nada quer saber de ua casação que tee lugre que ele atravessou, mas na foraclusão como aceitrque o sujeito nada queira saber de uma eerência que

ele nunca conheceu por nunca ter tido acesso a ela?Naso prossegue em seu trablho de nlise dos

ntecedentes do conceito de foraclusão, sinlizndo aosclação conceitu de ambos os autores tnto Freudquanto Lacn, que ora remetem o conceito de fora-clusão à déia de non-arrivé, ora à de rejeição . De fato,Freud e Lacan percorrem camnhos dmetrlmente

inversos na abordagem do conceito: enquto Freudcomeça acentudo a noção de rejeção, há um teoonde segundo Nasio, "ele rompe as mrras e propõeabandonr a hipótese da eulsão e sustentr aquelada abolição dentro. É o texo sobre Schreber, ondeFreud firma que "Foi incorreto zer que a percepçãosuprmida internmente é projetada pra o exerior; a

verdade, pelo conrrio, como agora percebeos é queaqulo que fo internente abolido retorna de fora24n, pr sua vez a umciho nvers equntFreud corrige a déa de reeição e conc c a deiçã, Lc procede de outra nera ee iugra(em 1954) o conceito de foraclusão coo sed oprocesso de uma nãovinda no smbólico da afirmaçãoprimord, 25 mas progressivente é a idéia de rejeiçãoque já presente nos prmeros texos toma a dinteirae se mpõe na comundade anlítca sob a forma docélebre dte "o que é rejetado do simbólco . . .. Oaparecmento na obra laca, deste outro concetoirmão da foraclusão aquele de sicnte do NomedoP, vrá assentar, inda ms, esta perspectiva.Enqunto não havia um elemento precso sobre o qula foraclusão operasse ela podia sem dculdade consistir uma abolição no ovo26

Pa nós, o que mporta não é tto essa déaprivegiada por Naso de uma evolução, conclusão,ponto de chegada, na apreensão euna ou lacia

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do conceito Pensamos que muito mais signicativa é aprópria oscilação conceitual de ambos os autores, reveladora, a nosso ver da possível estência de doisprocessos ou mecanismos diferentes no campo das

psicoses um que fla de ua abolição e outro que dizrespeito a uma exulsão.A foraclusão propriamente ita refere-se a uma

abolição, a um nonarrvé; é esta a sua acepção maisprecisa, e para ela pensamos que deveria ser exclusivamente reservado o equilente eudino de AHEBEN(suprimir abolir) e não o de VRWERUNG Freud,significativamente, utiliza o termo AUFHEBEN apenasem referência a um caso de esquizoeia panóide, oso Screr,Z enqunto que os termos VRWERUNGe VRLEUGNUNG são empregados inisntamente pratoda uma ga de quadros que vão desde a normalidade (a recusa nas crianças em perceber a diferençasexal), passando pela neurose (o caso do Homem dosLobos) , o feticiso, e até as psicoses. (Talvez houvesse

a intuição e Freud e dois mecanismos iferentes, oda abolição e o da eulsão, diferenciação esta obscurecida, posteriormente, pela apropriação lacniana doconceito de VRWERUNG para designr a foraclusão. )

O termo eeung (que, como assinlos Feuutiliza superposto ou indistintamente em relação ao deerleugnung) deve ser reservado a um mecanismo que

fa de uma exulsão-reeiçãorecusa É este mecanismo que pensmos estar na base (ou pelo menos muitoprómo em termos de conguração etiológica) dofenômeno da lucinação negativa ou, em nossa terminologia, da "recusa da representação intolerável. Nelenão se trata como joraclusão (ebung), e umaabolição ou ausência de simbolzação (ou seja e uma

representação que nunca estiu ou se inscreveu), assim de um processo e "exulsão ativa e uma representação para fora dos circuitos associativos seguia euma cisão ou clivagem do ego que vide a psique emdois cmpos estques. Ou seja supoos que em

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lgum momento houve lgo (uma percepção umavivência) que oi eetivmente reconhecido, simbolizado,mas que por ser portador de uma violência incom-patível com o ncionmento do psiquismo, teve de ser

ativamente exulso recusado2- exulsão necessria evitl pois só assim o sujeito consegue preservr umacesso ao campo de signifcações A representaçãointolerável é por assim dizer neutrlizada enquantopersistir o mecismo de clivagem

Mas exinemos agora em termos clínicos edinâmicos os eeitos dierenciados destes dois proces

sos: Na recusa, dierentemente da oraclusão, observa-mos que não há nenhum retorno a prtir do rel Z nãoucina sivente seu coo ou prte dele-ucinanegativamente o corpo como um todo (o que nos azpensar que em algum momento já houve uma represen-tação do coo total mas que esta não pôde ser mantida) representação intolerável corpo culpadomãe oen

ta prece ter sido barrada isolada exulsa Ela nãoretorna a prtir do rel através da lucinação positivacomo na oraclusão e nem através de qulquer ormação sintomática como no reclque.

O processo assemelhase sob muitos aspectos aodo etichismo 29 (É neste sentido também que pensmospoder justifcar a indistinção freudiana entre R-

WUNGeVEUGUNG).

Tl como na Verleugnungdo etichista houve inicilmente o reconhecimento delgo que teve de ser subseqüentemente recusadoenquanto que a oraclusão implica ntes de mis nadaem go que nunca entu nunca foi reconhecido ousimbolizado.

Recorrendo ainda a Freud numa tentativa dedierenciar melhor recusa e oraclusão pinçamos umparlelo açado numa discussão ene Freud e Lorguea respeito da escotomização30 Em suas precisões aespeito do conceito de Verleugnung Freud, discordando de Lorgue volta a insistir sobre a importciado elemento perceptivo na base da recusa: "Este termo

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de] escoomização preceme picularmene inapro-priado por sugerir que a percepção é ineieneapagada de maneira que o resulado é o mesmo quesucede quando uma impressão visul incide sobre o

pono cego da reina Freud clarene rea a ese deque eria havido uma obusão originria e o: "Nasiuação que esamos considerando pelo conrriovemos que a percepção coninuou e que uma ação muitoenérgica foi empreendida para maner a recusa

Ainda que mal comparando poderímos dizer quea foraclusão remee à idéia de uma obusão originária

e oal (pela ausência de inscrição ou seja escoomi-zação de um significe) enquano que a concepçãode recusa insise no fao de que algo eria sido inicilmene reconhecido e secundriamene eulso.

- JLGAMENTO DE ATRIBUIÇÃO EJLGMENTO DE EXISTÊNCIA

Uma oura via de abordagem desa vez para umaenaiva de disinção meapsicológica enre recusa eforaclusão passa lo mio das origens da subjevidadearavés de uma nálise diferenciada do funcionamenodo julgamento de atribuição e do julgamento de exis-tência, como descrios por Freud em seus esudosDieVeeinung.31 Nese exo, Freud rmaque "anção do jgmenoet relacionaa m duas esciesde decisões: ela rma ou desarma a posse em umacoisa de um aribuo pariculr ulgeno dearibuição) e assevera ou discue que uma represen-ação enha uma esência na realidade ulgameno deesência)

eud deriva esas duas operações dos momenos

inaugurais da consiuição do sujeio Por trás dojulgmeno de aibuição há um primeiro mio do denroe do fora "O atribuo sobre o qual se deve deci podeoriginalmene er sido bom ou mau ú ou prejudiciEresso na linguagem dos ms anigos mpulsos

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nstintus os ors , o julgmento é: gostaria ecomer isso' ou gostaria e cuspilo fora' ou colocao emoo ms gerl, gostaria e botar isso pa entro emim e mnter aquilo fora' ( . ) O egoprazer originleseja ntrojetr pra entro e si tuo quanto é bom eejetar e si tuo quanto é mau Aquilo que é mau queé estrho ao ego, e aqulo que é exerno são, pacomeç, iênticos.

Na origem o julgmento e estência está arelação entre a representação e a reliae: "Agora nãose trata mais e uma questão e saber se aquilo que foipercebio (uma coisa será ou não ntegrao ao ego, mas

uma questão e saber se lgo que está no ego comorepresentação poe ser reescoberto também na percepção (reliae)

Um comentio e J. Hyppolyte32 a respeito estasuas operações é sintético e esclreceor: "Aqulo eque se tratava no julgmento e atribuição era eeulsar ou e introjetr. No julgmento e estência,

tratase e atribuir ao ego ou melhor ao sujeito umarepresentação à qul não correspone ms, mas jácorresponeu num retorno pra trás seu objeto

Muito já foi ito sobre esse tempo logicmenteprimeiro o processo e estruturação o sujeito presente na origem o julgmento e atribuição Sabemosinclusive que é sobre ele que Lac, em sua primeira e

a nosso ver, ms correta acepção sobre foraclusão,situa a inciência o processo foraclusivo enquntonão-Bejahung , ou nãointrojeção e um primeiro corpoe significntes, exclusão esta responsável pela não enraa o sujeito no universo simbólico No entanto, osegundo tempo, o que está na origem o julgamento eestência, tem sio, a nosso ver, pouco comentao ou

ressaltao em sua especiciae, seno gerlmenteconsierao apenas enquanto ecorrência naturl oueiata o primeiro. Tentaremos então, em seguiaestacar lógica e historicmente a importâcia e especi-ciae este segno tempo, na meda em que

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acreditamos que este recorte nos fornece uma chavepara a diferenciação entre duas formas de estruturapsicótica que procuraremos evidenciar: 1 . psicoses quedecorrem de um processo joraclusão-abolição (aueben) e que se remetem às formas itas esquizofrênicas

e 2 essas outras cuja fenomenologia nos resta ndadescrever melhor para ém do caso de Z (ver ItemV),

mas em relação às quais já podemos armar que omecanismo central seria um processo de recusa e nãoumajoclusão. Passaremos de agora em diante parans eositivos e na fta de um termo melhor, adesignálas psicoses por recusa

Nossa hipótese é que nas primeiras nas formasesquizofrênicas não haveria constituição do primeirotempo correspondente ao do julgmento de atribuiçãoNas outras este primeiro tempo se reliza, mas oprocesso pára a, não havendo prosseguimento pra osegundo tempo aquele que normmente resultaria nojulgamento de exstência 33 Teríos então nestes

casos umjuncionamento psíquico clivado no qu hájulgamento de atribuição mas sem o concomitantejulgamento de exstência Como decorrência congura-se um quadro no qul os signicantes exstemestão introjetados pertencem ao universo simbólico dosujeito mas ele não consegue utizá-los articulá-lospela impossibilidade de apropriar-se deles como sendo

efetivmente seus Clinicamente isto se traduz comono caso de Z pelaalucinação negativa na qu exsteuma representação do corpo, mas uma impossibilidadedo sujeito de atribuir, nomear, qualcar este corpo demodo a torná-lo plenamente seu integrandoo ao conjunto das representações3

Mas como entender melhor a ticulação destas

duas nções de atribuição e exstência na relaçãocom o primeiro Outro materno?Podemos dizer que o julgamento de atribuição

corresponde ndamentmente a uma primeiraatribuição vinda do Outro. A mãe, ao interpretar os

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gritos do bebê designndoos enqunto fome sede, frio,etc cria um primeiro acesso à negatvidade necessáiaà introdução no cmpo simbólico. Neste movimento deatribuição, lgo da Coisa é afastada, permitindo um

recorte no cmpo do exstente.O julgamento de exstência, por sua vez, dependeagora de uma atribuição, não mais vinda do Outro, masdo próprio sujeito Pra que isto seja possível, é precisoque o sujeito possa antes de mais nada negar a origemda primeira atribuição vinda do Outro

Citemos G Pommier35 a respeito destas duas

negações:

A prtir desta primeira atribuição, que já é uma negação aestência de um sueito é problemática. De fato, ele está agoralienado ao campo de m Outro do qual depende toda equaquer significação.

Que condições de estência podem então advir a prtr

dsto?l Tal sujeito pode neg3 estes signicntes (nega-

smo)2. Ele pode também negr apenas sua origem. Eles serão

ssim marcados por uma segunda negação, que os deixaprontos para o uso. . . . Deste modo, aquio que foi atribuídoermanece com sua plena ecácia, mas sob a condição de quea mca de origem isto é, o deseo do Outro, sea denegado.

Àprmeia negação inerente ao processo de represenaçãova

se untr um segunda que autoriza o erego dos signfcantes

atribudos . . . ). A duas negações em sua sucessão têm comoefeito seprr o sujeito e sua temporidade corresponde aoslgentos de aibuição e estência eudanos.

Mas nossa questão agora é: quis as condições quetornam impossível esta segunda negação primordil

pra que o juízo de exstência se estabeleça, com-pletndo o processo de constituição do sujeito? Pen-mos que se houver um excesso de atrbuição por parte

do Outro, um Outro que não considera plenmente olho em sua alteridade, ou seja, um Outro que não

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revela sua própria falta ou castração, torna-se impossível para o turo sujeito negar a origem destessignictes para poder torná-los seus, ao metorizrneles a marca do desejo do outro (Lembremos o que

Freud diz a respeito do encontro do objeto: é preciso queo objeto tenha sido preiamete perdido - acrescentaríamos enquanto totalidade do Outro para que elepossa ser reencotrado.) Se houver uma atribuiçãoeaustiva por parte do Outro, deixa de haver espaçopara uma atribuição vinda por parte do próprio sujeito.Neste caso, ou ele fica preso, lienado à atribuição do

Outro, ou então, para se constituir, precisará de umprocesso bem mais enérgico que o de uma simplesnegação de origem é neste momento que itervém arecusa ou expusão como forma de exstir na ausênciada possiilidade de negr o desejo do Outro, comoúltima e dramática tentativa de dizer não ao gozomortífero do Outro37 drmática porque, neste mesmomovimento, o sujeito eusa conjuntamente parte de simesmo à qul o Outro estava colado", como fez Z. emrelação a seu corpo (0 processo da recusa pode incidirsore outras representações, seja no nível do corpo dopensmento, do afeto ou da história, vriando a cadacaso)

acan j á ficara intrigado desde o relato de Aimée 38com a ausência de reação agressiva do psicótico à

intruso do Outro. Procurou responder a esta questoquatro anos ms trde, em sua primeira teorizaçãosore o estágio do espelho. Retomemos esta elaboraçãopois é rica em intuições para a compreensão de nossashpóteses. Em outros tetos, Lacn complementaráesta vsão, mas seus elementos básicos permanecem 39no psicótico haveria uma ausência da identicaço

resolutiva de uma fase psíquica chmada fase doespelho". Esta opera uma metmorfose das relações doindvduo com seu semelhnte", graças a este modo deidenticaço especular segundo o qual o ego encontrasua própria origem na imagem do outro que fez nção

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de espelho. Esta imago constitui a própria imageespeculr. É uma relação de identicação porque libidnl, e a jubiação é seu signo.

Mas se se permanecesse só nisto, não haveria nem

constituição egóica e nem, a bem dzer, imagem especuar. Pra que não haja ienação absoluta no Outro,pa que ha gum grau de sepração é preciso queeste outro especulr permneça remente um outro dimensão agressiva é fundmental pr que não hj

fusão e cousão "É por isto que à captação erótica sejunta sempre, estruturlmente, uma tensão agressivaEsta é o signo de que a identicação nrcísica qundobem suceda, funda uma lógica de exclusão: ou sou euou é um outo ( ) a identificação imaginária é positivamente resolutiva pela mnutenção, ao mesmo tempo,da intusão do outro e de sua excusão sem quenenhuma das duas se sobreponha a ponto de supriirseu contrário. 40 É preciso então (correlacionndo agoraestas duas "fases do espelho aos dois tempos do

julgmento de atribuição e de estência) que haa ummovimento de atribuição e, conuntmente outro deexclusão, que desta vez venha do própio sujeito destadmensão agressiva que ele possui Pra que ele efetivamente possa se constituir, estir, terá de expusexclui este primeiro outro é o que não sou eu . "Estemomento agressivo de sepração é constitutivo desta

formação que se chma ego"41Podemos pensr em casos de psicose onde fltam

tnto a identicação especulr qunto a dmensãogressiva seprativa, e a haveria "um décit do egouma ausência de Selbsgeühl" como dz Lacn emrelação aAimée E tmbém em outros casos de psicose,como o de Z , onde houve a identicação especulr, mas

o momento seprativo só pôde se dr às custas de umaexpulsão concomitnte de prte do próprio ego e de prteda imagem especuar que teve de ser bnida sob o mododa recusa, da não-tribuição. Pra excuir o outro, doqu ee efetivmente não conseguiu se separr to-

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tmente paa se constitui, Z. teve de exulsa uapate de si mesmo, que pemanece não-eu.42 É po istoque em Z. este co, esta iagem e ste, asnão pode se plenente atibuída daí seu apaeci

mento sob a foa da alucinação negativa.

V-OS DIFERENTES OUTROS:

AGRSSDE FUSION E

DESISTIMENTO LIBIDINAL

Connuos com nos tentava de ifeenciaçãoentre as duas fomas de estutua psicótica. Mas antesépeciso uma pequena esslva. Em outo momento denosso tabalho (pp 65-66), insistmos na impotânciade evoiza a pesença de ecusos defensivos napsicose, dos quais a ecusa fazia pate queendo comisto acentur que nem tudo na psicose seia edutível a

uma esosta passiva e esignadaà

violência do Outo.Entretnto agoa somos obigados a ecohece queestem condições de possibilidade o que não que zeconições sne qua non) que faciit ou favoece aticulação desses ecusos Adiscussão que se segue,a espeito dos ifeentes Ouos que a cinça podeenconta, não invlida aquela anteio efeente aosecusos defensivos. No entanto, elativza-a no sentidode uma melho compeensão do univeso intesubjetvo43 no qul a ciança se insee, abindo assi aisuma via de exlicação paa a difeenciação ene duasfomas de psicose.

O desenvolvimento de nossas hipóteses nos leva aaceitar que na oigem de esquizoenia haveia, naelação do pimeio Outo co a ciança, u quase

absoluto desnvestmento lbdnal, enquanto que, nas"psicoses po ecusa o pao de ndo da elação seiao de uma intensa agressvdadejusional4

omecemos pelas últimas. Há mães que estabelecem com seus lhos uma elação de ódio e

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rejeção como contrapartda de um desejo fusonalntenso demais para ser metabolzado Mães que nãosuportam qulquer sepação e que vivem o nascimento do lho como uma mutilação em seu próprocorpo algo que hes foi arrancado. Quanto maior odesejo sonal mais volento será o óo e a rejeçãodite de qualquer esboço de alterdade ou autonomapor parte da criança, que venha sinaliz à mãe que elanão é única e exclusvamente uma possessão sua.

Pensamos ter descrto suficientemente este modode relação quando falamos da história de Z O quegostaríamos de sublinhar agora é que bem ou m esta

relação de são-rejeição é indicativa de que houve por· parte da mãe, um investimento libidinal no lho, nem

que seja sob o modo do sadismo que, como sabemos éuma primeira tentativa de ntrincação de Eros com apulsão de morte. Este amor-ódio aponta ainda para ofato de que não só a crnça ocupa um lug naeconomia libina materna, mas de que, a partir sto,

também entra na diaética flica na medida em que,mesmo ncipientemente, é de algum modo reconhecdapela mãe enquanto Outro (nem que seja enquantoOutro que a fz sofrer) pois é justmente este reconhecimento que procura ser subseqüentemente negado,numa tentativa de rencorporação e despossessão dacrça.

Bem diferente a nosso ver são os "prmerosparágrafos da históra dos esquzofrênicos para usaruma eressão tomada de empréstmo a Piera Aulaer. Eles justamente precem não estir nuncaterem sido escrtos. Serama hstóras fetas de silêncoà quas ele se refere Nestes casos parece não haverquaquer nvestmento lbidina no lho; aqu não

podemos f nem em ódo nem em rejeção. Tratasemas de um vazio de uma ausência, de umajalta deinscriç. É como se a crança comou to tvess sido'Joracluída", abolida do psqusmo materno.45 Não sensere portto dentro de uma daética fca que

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lhe permite encontr um lugar, uma origem e umsentido para sua estência.

S a questão nas "psicoses por recusa passa porser ou não o falo materno (se bem que seja um flo em

negativo, esvaziado de seus atributos - diríamos um"nlogon dofetichepa diferenciálo da problemáticaperversa), no caso das psicoses esquizoênicas faltaesta meiação. O esquizoênico não soe apenas deuma falta de imagem no espelho, ele também se encontra desprovido de lugr, cando, portanto, àderiva, forado espaço libinl, fora do tempo, fora da história

Atítulo de exemplo comparativo, tomemos a psicose do Homem dos Lobos e a de Schreber Não há

dúvida de que a "foraclusão não é a mesma nos doiscasos, e nem o estatuto do sujeito Se o Homem dosLobos não cessa de se rmar e se aprisionar dentro deum lugar jálco (fo do Outro, flo de Freud, flo daPsicanáise), por outro lado questionamos se Schreberteria tido acesso a este lugar de inscrição no desejo doOutro, ou se não permaneceu para sempre aquém,enquanto obeto-cois de Schreberpai, criatura decída, abndonada por Deus.

rosseguindo em nossa dferenciação, diríamosentão que se no caso das "psicoses por recusa há umafha ou desarticulação no nível dajunção ptern, nasesquizofrenias o que flta é a inscrição da própria

junção mtern. 47 No primeiro caso, é o excesso deatribuição por pte da mãe que pece impedir oucultar o pleno acesso à dimensão separativa e constta do sujeito representada pela metáfora patna.Citando G. ommier: "Se há uma possiblidade delgação entre essas três instâncias (rel, sbólico eimaginário) da paternidae na neurose é na meida em

que, na neurose, o sujeito vai ser capaz de dar uqualificativo a seu pai. ara que isto seja possível, épreciso que sua mãe e diga qul é o lugar do pai, quea mãe não precise quaicar o pai a que a ligação sedê, é preciso que o próprio sujeito contibua para isso.

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A ligação é um ato do sueito49 não é dada por go quea mãe lhe diga. A única coisa que a mãe tem a azer édeixar um espaço uma possibilidade para que a crinçaqulifque seu p. "5°

Esta qualcação que por nossa vez correlacionamos ao tempo de ulgamento de existência enquantopossibilidade de atribuição vinda do prprio sujeito, é oque parece alhar nestes casos. Em seu lug, surge arecusa como última e desesperada tentativa de rompero cerco materno, abrindo uma brecha para a exstênciado sujeito. A igura do antigolem, no caso de Z. , pareceapont para esta draática tentativa de constituiçãoda metáora paterna (ou sea, de uma dmensão separa-tiva, assim como busca pra encontrar, através dasárvores genelógicas, uma outra lei que não a damãe.

Nas esquizorenias, como á dissemos, é a próprianção materna que ta (Poderímos dizer que alta amãe sedu tora da ntasia originária. )51 Não há inscrição

da criança no deseo parent! e , portanto, tmpouco háprimeira atribuição vinda do Outro, ndamental parainiciar o processo de constituição do sueito. Para estescasos é que julgamos que deva ser reservado o termo

joraclusão em sua primeira e, a nosso ver mais corretaacepção laciana, enquanto abolição simbólica"(aueben.

Sabemos o quanto é dicil atumente lr emnção materna sem automaticmente remetêla ànção paterna ou à inscrição da lei e do NomedoPina mãe. No entanto, pensmos que, para estabeleceruma dierenciação mais clara quanto à raiz etiológicaas psicoses, seria nmentl um estudo mis rme-norizado (que não pretendemos desenvolver aqui, tnto

por alta de espaço quanto de competência) destanção materna, sua especifcidade e característicaspróprias, que tem sido, a nosso ver, algo obscurecidapela primazia lacaniana dada à questão da unçãopaterna

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V- "ESTA ASSISTÊNCIA NÃO ME

ASSISTE . . ."

JC Maleval é outro autor que procura operar umadisinção no seio de patologias que vêm sendo confun-ddas com a esquizofrenia Em seu último livro 52 elepropõe uma diferenciação estrutural entre as psicosesdssociaivas (conceito que engloba a esquizofrenia e aparanóia) e a loucura histérica. Para nalizar discutimos enão suas eses pois se por um lado discorda

mos de sua exlicação eiológica e estuural da loucuraisérica por outo, a descrição fenomenológica que eleraça dese quadro parece coincidir em muios aspectoscom aquela que caracerizamos como psicoses porrecusa

Maleal cassica no rol das loucuras hiséricascasos conhecidos ais como o de Dominique (pacienede F Dolto) Natia (V. Tausk) Renée (M Sechehaye)Suzane (M. Milner). Resumidamene os sinomas daloucura hisérica consisiriam em quadros delirantesacompanhados por vezes de alucinações vsuas e audiivas ms onde, à diferença dos delírios ssociados5há uma metajorização dos conteúdos cuo sentido éinegrável nas associações do sueito o que os tornariaacessíveis às psicoerapias de orientação analíticaOura caacterística é a presença neles da sgncaçãofálica, que não se inscreve nas psicoses dissociatvas

Quando o NomedoPai é chamado e neste lugarno Ouo resnde um puro e simples buraco a carênciado efeio meafórico provocará um buraco correspondente no lugar da signicação flica." No delíriohistérico o significane fálico nunca falta Segundo

Maleval Tausk percebe isto no discurso de Natia aosublinhar que o aparelho de inuenciar é uma projeçãodo corpo próprio cosiderado em seu todo como órgãogenital" 55 Esta falicização do corpo próprio estiaambém associada a fenômenos de desidenticação e

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agmentação copoal, pois "m dos aspectos msimporntes da eessão obsevadan locra istéicareside no fato de qe ela condz eqüentemente osjeito a m estado anteio àqele da assnção do

copo pópio.5

O desencadeento desses qaos,à iferença tbém daqilo qe se obseva nas psicoses issociativas "não é o enconto com a encarnaçãoda lei mito pelo contáio: é o desaparecimento detodos os limites qe sscita a angústia "loca ( )57 EisMaleval fdo de ma paciente sa: "Ela não seencontra em pesença do vazio da foaclsão do NomedoPai qe a condziria a tenta colmata este braco;mito pelo contáio, ela encona o pleno opreenchimento a "perfeição Dito de otra maneira,

falta ajalta ( . . ..58 Em conclsão às sas hióteses,Maleval afirma qe, no fndamento das sicoses disso-ciativas, encontamos ma petrbação da inserção dosueito no niveso scsivo, na dmensão simbó-lca enquanto qe a loca histéica tem origem

nm décit da fnção especla da dimensão imaginária59

Até aqi excetando algmas das ariclaçõesfeitas por Maleval6 concordos com se ecote edescrição fenomenológica desses qadros e com asinfeências qe deles se podem exai. De fato, em Z. ,

também obsevamos a peeminência da posição e signi-

cação jálica, os distúrbios da imagem cooral, aproblemáca da falta da falta (po cesso de aibiçãoinda do Oo), o décit dajunção imaginária (tanto emelação à imagem especla qanto à impossiblidadede aibir signica, da sentido a ma eeiênciaqe, no entanto, se insceve em nível simbólico) e aesposta bastante ápida e favorável à teapia anítica

(pela elativa facilidade de reintegração da represen-tação ecsada) .

Nosso gde ponto de discodância é qdoMeval proca elica esses qaos única e exclsivamente pelo mecanismo do ecalqe, não es

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tabelecendo nenhma dierença, nem etiológica e nemestrtrl, com os qaros da histeria comm. PraMleval a locra hstérica não passaria de masimples nerose, representndo apenas ma eacer

bação de taços encontrados em qlqer histeriabn: O termo locra histérica possi um vordescritivo, e não estrtrl a passagem da histeriacomm ao qadro delirnte e deste pa a primeira seobserva com ma eqüência qe não é ra Elescolocm o problema da escolha do sintoma, e não o daesclha da doença"61

Vias são as nossas obeções a esta concepçãoEm primeiro lgr, parece-nos qe o mecanismo doreclqe é absoltmente nsujcente e inadeqadopra exlic qaos qe apresentm delrios, inclsive persectórios e de inência, cinações visaise adtivas, acentados enômenos de ragmentação edesestrtração da imagem corporl e até mesmoneologismos. Toda esta sintomatologia aponta a nossover pa m ncionmento psqico dierente, qe nãopode ser redzido a ma simples qestão de escolha dosintoma e para o ql nosso conceito de recusa pareceoerecer ma excação m mis sasatória A própriagmentação de Mlevl, qndo procra inserir estasintomatologia dentro do qadro das neroses revelasa raglidade em vários pontos. Por eemplo pa

jstic a presença de neologismos na nerose (qestão bastante espinhosa) Mlevl z qe não há razãopra espanto pois estes não seriam "verdadeirosneologismos, já qe, à dierença dos psicóticos, serimcompreensíveis, remetendo a ma signicação latenteE pra coror sa hipótese cita como eemplo de mneologismo compreensível (e, portnto, "nerótico) o

termo calbne 62 criado por ningém menos do qePierre Rire (qe então, aos olhos de Mlev, nãopassaria de m simples nerótco!) Sabemos também o qnto este critério de compreensibldade éfalacioso pa derenci entre nerose e psicose, já

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que, sendo subjetivo e, portanto, variável, dependeantes de mais nada da escuta e aparelho conceitu doterapeuta

Os equívocos e impasses prosseguem, pois Me

v, para sustentar suas hipóteses, é eqüentementelevado a adotar uma postura por demais rígida e atémesmo contraditória:

• Por um lado, para fazer ver sua concepção deloucura neurótica", é obrigado, como contra-ponto, a caricaturizar, no sentido mis negaivoe desolador possível, as psicoses dissociativas,izendo tratarse de patologias incuráveis,6cuja fenomenologia é incompreensível, semqualquer sentido ou articulação com a históriado sujeito. Ou seja, a necessdade de esabelecerum tranchant rígdo fz com que a visão deMevl a reseto das esquizofrenas beire asraas das mas arcaicas (e prépsicanítcas

conceções organicistas Ele chega inclusiveem certo momento, a afirmr que os delírios deSchreber não teram qualquer referente his-tórico, sendo meros subprodutos de uma puraderiva metonímca" sem qualquer sentdo

• Por outro lado, ao procurar, em nome de uma

delidade a Lacn, manter a foraclusão doNomedoPai como único mecanismo passívelde exlicar as psicoses, Mev se vê obrigadoa estender a um t ponto o campo das neurosesque passa a incluir nele manifestações (taiscomo os fenômenos elementares) tidas comondamentais (inclusive pelo próprio Lacan

para estabelecer um diagnóstico de psicose

Outra diculdade reside no fato de que Mevatrela a foracusão não só ao signicante do Nomedo-Pai,6 mas tmbém esta ao signicante fico, es

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tabeecendo que sua ausência assinla o fato psicóticoenquanto que a presença revea tratr-se indubitavemente de uma problemátca neurótica Vários autores,entre os quis O Mannoni, D Nasio67 e M. Sfoun,6

apontm pra o fato de que a foracusão pode incidirsobre outrs signcantes que não o do NomedoPi eque, portnto, psicose e sigcação flica não serimutumente excudentes

Se, por um lado, Mev, sensível a diferençaestente entre as oucuras histéricas e à esquizofrenia,procura reduzi-as à neurose, por outro, Soun, aten

to à mesma questão (por exempo, ao observr tambéma derença entre o uncionento psíquico do Homemdos Lobos e o de Schreber) , procura resovê-a propondouma modaidade de partição dajoraclusão: estabeeceuma dnção enre a foraclusão enqunto mecnismode deesa, t como ea é perceptível no Homem dosLobos da oracusão enqunto fta primord do

smbco esa úma consindo a esutura esccada psicose "69Todava pensmos que nossa hipótese se mostra

mis econôica e viáve do que as de Mev ou a deSoun, pois, ao invés de negr a diferença ou tentareicála dssocindo um mesmo mecismo numa face defensiva e em outra estrutur (o que torna dicil entder como um meso prsps esr nab depatoogias tão diversas), propomos um terceiro mecanismo a recusa dierente do reclque e da foraclusão

O conceito de recusa é capz, a nosso ver, de darconta, tnto no nível dosmnismos defensivos quntono nível do modo de estruturação do sueito, de outraforma de patoogia psicótica, não exlicável pelajora-clusão, e que ora tem sido conndida com a esquizoe

nia, ora engobada no rol das neuroses Pensamos incusive que este tena sido o destino das psicosesitricas, 0 conceito que, na fta de uma licaçãoilgc de uma denção estrutur mis precisa, nd cniderado um contrasenso por muitos

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pscalistas. Gostíamos então de ao propor a recusa como base etológca para esses quados con-ibur pa devolveres um reito de cdadia dentroda nosograa psicnlítica das pscoses

No entnto sabemos que o maor obstáculo pra oestudo e delimitação desse outr campo d psicoses

reside no fato de que mutos nstas em nome de umasuposta obedênca a Lacn não acetm que a pscosepossa ser pensada fora dos estretos e imobilzntespâetros da foraclusão Pa estes só nos restaentão podindo o própro Mlev voltr a ctr

Lac que, no último congresso da E.FP. em 1978,dza: "Esta assstência devo dizer não me assstepois contriente ao que fzem os nlsndos elanão procura apontar o que não se ajusta. 71

NOTAS

1 Auaer, P La Volence de L'Interétaton, Pars,PUF, 1975, p 2 2 1 .

2. Costa, Juradir Freire Violêcia e Idetdade i Vio-lência e Psicanálise Rio, Graa, 1984, pp. 95, 96

3 Aulager, P Observações sobre a Estrutura Psicótcai Psicose: Uma Leitura Psicanalítica org Chm SKt, Belo Horizote Iterliros, 1979, pp 17, 18

4 Tausk, V De la Gése de 'Lappareil à Ifluecer auCours de la Schizophrénie i V Tausk, Oeuvres Psy-chanalytques Paris, Payot, 1975.

5. Aulaer, P "Obserções sobre a Estrutura Psicóca,op cit p 1 4

6. Aulaer, P Idem p 16.

7 Waelhes, A LaPsychose Louvai, Nauwelaerts, 1972,p. 5 1

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8 Evidentemente não estamos com sto nos referndo aestratégas conscentes ou panejadas mas sm a mesmos defensvos nconscentes desencadeados parafazer face à angústa proveniente da nusão do Outro

9 Estar mas atento à presença destes recursos defensvosn pscose parece-nos também de fundamental mportânca para repensr determnadas questões técncas (que não teremos ocasão de desenvover aqu} quese apresentm durante a pscoterapa destes pacentesMecansmos como resstênca e defesa podem ganharconotações e sentdos ntermente dversos quando serata de neurose ou pscose Nesta útma mutas vezes

representmse aspectos tas dentro de uma uta efeva pe sobrevênca psíquca sua abordagem soctndo então todo um cudado e tratamento dferentes.

0 Ctado por Costa Jurandr Frere Voênca e Identdade n Vioêcia e Psicaise op ct pp 83-84

Ctado por Costa Jurndr Frere dem pp 85-86

2. Wnnicott D.W Le Corps et e Se' n Nouvele Revuede Psychaayse n 3 Pars Gmrd 97 p 40

3 Auagner P A Fação Persecutóra n Tempo Psicaaítico Ro, Inst Med Pscológca vol III n , 980pp. - 2

4 Auagner P olence de L'Interétation, op. ctp 224

1 5 Ferencz S Prncpe de elaton et Néocathss"( 929 n Psychanalyse 4, Oeuves Completes, tomo I,

Pars Payot 982

16 osta Jurandr Frere Volênca e Identidade" op ctp 98

17. Os fs a segur são nossos

18 Lapanche J; Ponis B bulo de Psinálise,Pars PUF 967 p 562

19 Laplanche, Pontalis Idem p 5 7 1

20 aplanche, Pontals Idem 57

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2 1 Nasio J D La Focluson Locale" inLs Yeuxde LaureAubie Pais 1987, pp 120-121

22 Vide os textos acma citados

23. A tadução é nossa

24. Feud S. Notas Psicaníticas sobe um Relato Autobioco de um Caso de Paanóia (Caso Schebe ( 19 1 1 )citado po Nasio J. D op cit. p 122

25 Lacan J. L Seminaire, Lve III Les Psychoses (1955-1956) Ed Seuil 1 98 1 , cit po Nasio J D . op. cit.p. 122.

26. Nasio J D. La Foclusion Locae op. cit. p. 1 23

2 Feud S . Notas Pscanaíticas sobe um Relato Autoboáco de um Caso de Paanóa in Feud S. ObasCompletas. Rio de Janeio Imago. Vol. XII.

28. Dfeencamos também esta foma de expulsão de qualque mecanismo pojetvo neuótco decoente de umanegação de um não querer saber sobe uma expeênca

assimilada e integada em nível inconscente.No caso da ecusa popiamente dta trata-se sobe

tudo de um não querer ser com a conseqüente eulsãosob o modo de uma peção psicótica de uma vivênciaque foi econhecda mas não assmlada po se potadoa de uma violênca e sofmento ncompatível como funcionamento psíquco e potanto não integávelao pojeto identicatóio do sujeito Mais adiante(pp. 8082) analisaemos o pocesso esponsável poeste reconhecimento/ não-integrção Po oa apenasquisemos assnala as difeenças deste pocessotanto em elação ao recalque (negação quanto emelação à joraclusão (na qual não haveia nem estemovimento de ecusa po se tata (como já dissemosde algo que nunca entrou.) Aliás J C Maeval apesa

de não desenvolve a questão faz uma beve efeênciaao fato de que ente a foaclusão do Nome-do-Pa e apojeção pecisa-se-ia talvez destaca um mecanismode defesa snla a ecusa conceto do qual nãoignoamos que constituía a tadução inici de Verwer

jung" (ve p 87)

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29 Se bem que ambém guarde em relação a ese diferençasfundamenais, que analisaremos adiane Por ora, apenas quisemos insisir no elemeno comum "reconhecimeno-eulsão

30 Freud, S. O Feichismo ( 927) in Freud, S , içãoStandard Brasileira Obas Completas , vol RJ!mago, 969 pp 8-8

3 1 Freud, S A Negação ( 925 ) n Freud, S , EdiçãoStandardBrasleirObras Completas. vo X. op cip 295

2 Hyppolyte, J Commenaire parlé sur la 'Veeinung de

Freud, in Lacan, J É, Paris, Ed Seuil, 966,p. 885

33 O recalque originário bem-sucedido, que inroduz nocampo da normalidade ou das neuroses, implica nacomplemenariedade deses dois processos de aibuiçãoe de esênciaAjoraclusão espécie de negaivo do recalque originário,

responsável pela esquizofrea, implica em que nenhumdeses dois processos se efeivou Não houve nem a ªaribuição nda do OuroA recusa revela ese funcionameno clivado no qual h ouve julgameno de aribuição, mas sem o conseqüenejulgameno de esência Abre-se assim a possibiidadede pensar um ouro campo das psicoses disino da esquizofrenia, ano pelo mecanismo quano pela eolo

a34 Lembramos aqui de traçar um pelo com o que Freud

disse, em seu exo "O Inconsciene, a respeio daariculação enre representação de coisa e represen-tação de palavra. Enquo que na neurose haveria,com o recalque, uma rupura da ligação entre a represenação de coisa e a represenação de palaa (sendo

que o invesimeno e ambas se maném no nívelpsíquico e é redistribuído, nas esquzofrenias haveraum desinvesimeno absoluo da represenação de coisano seio do próprio nconsciene (Seria esa aboliçãonerna à qual Freud se refere em Schreber, dizendo queo esquizofrênico busca renvesir as coisas e, não con-

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segundo sobrenveste as avras) Nas scoses orrecusa ensamos que havera também um desinves-tmento absoluto não no nível da reresentação decosa mas no nvel da representação de palavra o queresulta nesta mossbldade de atrbur qualcarnomer à qul nos reermos Podemos dzer que stocogura um buraco não no nível do smbólco comonas esquzorenas mas no nível do manáro (veradnte tem V).

35 Pommer G D'une Logique de la Psychose, Pars PontHors Lgne 1983 37

36 Acredtamos que aqu o uso do termo negar" é raco einarorado O negatvsmo roramente dto reenvaàs ormas esquzorêncas nas quas o rocesso é o deuma abolção/nãosmbolzação destes sgncntes enão aquee de uma smles negação

37. A rtr do texto de Freud sobre A Verneinung",avnçmos a hótese de que os dferentes m ecansmos

como a negação o reclque e a recusa constturamdiversas modalidades ou gradações de dizer não ao gozomortero do Out, assegurndo a estênca do sujetor intermédo de uma negação Dno desta rsecaforaclusão ode ser vsta como a mossbldade debarr este gozo a lênca deste rmero não necessáro à estênca do ser enquanto sujeto A recusaaesar de seu custo elevado (a mutação de arte de seu

cata deco e antasmátco) assna uma vtóra deEros os ermte abrr um esaço de vda e estêncasíquca ara o sujeto (No nal de nosso trablhoercebemos que a escolha da etra Z ara desgnarnosso acente não ora ortuta os Z em gregosgnca vida).

38 Lacn J De lapsychose parnoiaque dans ses rpporavec la personnalté,

Pars Seul 1975, 23039 Lacan J Proos sur la causalté sychque n Écrits,

o ct 188.

40 Juen P Lacan et la sychose n Littoral IdenttéPsychotque n 2 1 , oct 86, pp 1 0- 1 1

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4 1 Idem p Mais adite voltaemos a aboda estadmensão agressiva/ sepaativa sob o âgulo da funçãopatena confome posteioes elaboações de LacanPo oa apenas quisemos enatza a questão da intu

são-expulsão pesente no estágio do espelho42 Pensamos também que este pocesso guda elação

com o que Tausk desenvolveu a espeito da descobetada ealidade do copo pópio estabelecendo uma difeença ente as noções de escolha do objeto e encontro do objeto. (Ve também o excelente artigo de Chaim S Kt,

Tausk e o Aparelho de Inluenciar na Psicose Ed.

Escuta 199043 É ainda esta intesubjevdade que to compeensível

a dupla face da ecusa enquanto pocesso constuvoe enquanto mecanismo de defesa (ve adiante).

44 P Aulagnie paece aludi a estas duas fomas deelação quando menciona históias de pacientes feitasde silêncio ou de ódio No entanto não apofunda a

questão no sentido de uma deivação etiológica. Aulae P L'Aprenti-Hstoren er le Matre-Sorcier, ParisPUF 984, pp. 4 786

Quanto a nós ao lemos texos sobe psicose sempecamos intigados paa sabe se se tratava de umapoblemática fusional ou de uma ausência de investimento Talvez este emetimento a duas fomas distintas de psicose ajude a esclaece a questão.

45 Ébem vedade que se a ciça conseguiu se pesevarviva, foi poque encontrou agum supote na ealidadeque lhe pemitiu mante um mínimo de investimento ede sobeida psquica (Seia também impotante tentaestabelece uma eenciação ene ausmo e esqzoenia questão que ultrapassa os objetivos de nosso trabho)

46 Uma das vetentes paa aboda a questão da difeençaente a ecusa na psicose e a ecusa na pervesão passapela distinção da economia psíquica que ege cada umdestes pocessos. Aceditamos que se a ecusa (dacastação) no peveso está situada no egsto de umaeconomia lbdnal (LustUnlust) , a ecusa (da epesen

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tação intolerável na psicose pertence a algo que é daordem de uma economia da dor (Schmertz Estas diferentes economias psíquicas representam a nosso verum nítido divisor de águas ene neurose e perversão

por um lado e psicose por outro Não é o insolúvelenia do przer que se coloca como questão para opsicótico é a questão da própria existência do seu serque o atormenta (0 paciente de um colega dizia eunão estou aqui pra aprender a ter mais prazer na vida;eu só quero éjazer par a dor". ) Neste sentido acreditamos que se a recusa no perverso tem por funçãoessencialmente assegurr um a mais de prazer" ao

driblar o interdito do incesto e a proibição da lei arecusa na psicose destina-se antes de mais nada aevitar um a mais de dor" psíquica uma efração intolerável resultante de uma transgressão da lei mas nestecaso sobrevinda por parte de um Outro não-lei doOutro que não só inringe o interdito do incesto mas quesobretudo desrespeita o direito mínimo à sobrevidapsíquica do sujeito A recusa na psicose é desen

cadeada portanto pela dor e tem por nidade tentarfazer barreira ao gozo mortífero do Outro É a recusa darecusa da lei no Outro

7 AG Cabas em seu recente livro Ajunção do falo naloucura (Cmpinas Papirus 1 988), aborda a necessidade deu disnção semelhnte entre nção maternae função paterna. Só que à diferença de nossas hipó

teses ele situa esta distinção na origem da esquizofreniae da prnóia

48 Ousríamos até falar em oscilação da metora paternapara descrever estes casos já que este termo nos parecetraduzir melhor o ponto-limite presente no processo deconstituição destes sujeitos cuja manifestação fenomenológica se revela neste funcionamento psíquico atípico

que ora lembra o das neuroses ora o das psicoses (veritem V).

49 Sobre a questão do ato em sua ticulação com a constituição do sujeito ver tmbém o instignte artigo de JoelBirman A Palavra entre Atos" (publicado in Cadeosde Psicanálise, n2 1O, SPCRJ 1988)

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50 Pommier G. "Observações sobre a Psicose conferênciaproferida na Clínca Social de Psicnâlise (RJ), p 6 -mímeog

5 1 Sendo ms precisos no que di respeito às fantasias

originárias, podemos avnçar a hipótese de que osferenes distúrbios seja da ordem da neurose daperversão ou da psicose, estariam estritmene artculados à coguração ou melhor, à possibilidade deesruturação das 4 principas fantasias orináriasdescrias por Freud sublinhandose o fato de que odasse referem às  ogens: a cena nta-utena e a cenapmáa (que diem respeio diretamente à origem do

sujeio assegurndo sua possibilidade de esência nodesejo do Ouro) a cena da sedução (que artcula aorigem do aprecimeno da sexulidade) e a cena dacastação (enquno origem da diferença sexul

Se as duas primeiras delimim uma froneira entrea vida e a more as duas outras uma ve asseguradoese prmeiro ível da esência poderão rticulr os

desinos do przerIdesprzer em sua relação com aquestão da sexuação

Pensamos que é a diculdade ou impossibilidade deesruuração das duas primeiras protofntasias que demrca o campo das psicoses

52. Mlevl, JC Foles Hysteques et Psychoses Dssocatves. Paris, Payot 1985

53 Os delírios issados, sendo Malel se nermneiramente no exo metonímico tornando seus elemenos nãodiletáveis

54 Lacn J "D'une Question Preliminare à Tout Traemene Possible de la Psychose ( 1 99) n Ér, EdSeuil 1 966 (ciado por Mleval op cit p 93)

55 Tausk V "La Génse de l'Apparel à Inuencer -op ci p 216 (ciado por Mleval p 45)

56. Mlevl JC op. cit p 1 00

7 Idem p 20

58 Idem p 2 1

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59 Idem p 1 1 2

60 Nomedmene, qundo Mlevl privilegi forclusãoem su segund cepção lci (enqunto rejeiçãodo simbólico) rticulndo então com questão do

sicnte do Nome-do-Pi Pensmos ter sucientemente insistido, em outro momento de nosso texo (p75), sobre o qunto est perspectiv conribui prflser denição ms precis d forclusão enquntobolição (Aujebe) simbólic (Ver tmbém dite.)

61 idem p. 14 1

62 Idem p 88

63 Idem p 1 1 3 É freqüene observrmos os nistscírem n esprre de rmr que se é curável, não épsicose O monoliismo eórico do conceio de forclusão p eicr s psicoses ssim como o pessimismo e imoiismo erpêutico dee decorrenesprecemnos ser em grde pte responsáveis por espostur

64 Idem pp 8688. Como conrponto ess leitur ver oexcelene livro de M Schzmn L'Esprit Assssiné(Pris, Ed. Sock, 1 974), que demonstr com sensibilidde e clrez o qunto os delírios de Schreber-lhoestão quse que pono--ponto remeidos à pedgogisádic de Schreber-pi

65 Diculdde que já discutimos nteriormente, o ssi

nlr o qunto est concepção de forclusão remetemis à idéi de um rejeição do que à de um bolição

66. Mnnoi, O (Discussão com) Sobre o Ateísmo de FreudMiscelâne 3 Suplemento nº 7, Ornic? ( 1 976)

67 Nsio, JD "L Forclusion Locle in Les Yeux de Laure,op cit pp 107148

68 Sfoun, M Etudos sobre o Édipo, R, Zhr, 1979

69 Idem Citdo por Mlevl, JC i D Recus d Cstrção no Homem dos Lobos in Malsun-45, BoletimPeriódico do Coléo Freudio do Rio de Janeiro, oS p 2066

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70 E tvez de outras mnifestações que vêm sendo enqua-dradas na categoria confusa de .borderlnes".

71 Lacan J Conclusões. Cartas da Escola Freudiana,

1 979, n2 5 , vol li. Citado por Mlevl, JCi.Da Recusa

da Castração . . ", op cit p. 065

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AUTISMO E CASTRAÇÃORegtnaNert

Àue do Hospital de Da �Entr'ade Unverstare"e, em particular a Fanne Kein e Rone Creme.

I - PSICALISTA OU ESPECIALISTA?

Pontalis, em seu artigo "Limites ou onteirs 1interrogndose sobre os limites do nalisável, comparaa história da psicanálise à de um povo nômade Ao con-trário de um Estado que visa delimitar suas onteirasa m de precisar cada vez mais seu território esse povonômade não se instlaria Jmais numa província e sóencontria seu espaço nos limites seu motivo de exs-tir numa vizinhança sem nome com uma linha que elemesmo estaria traçando, fora de todo mapa Já exstenteD fato, com a descoberta do inconsciente a obra

de Freud traça uma nova cartograa da vida psíquica,abolindo a onteira Já estabelecida entre o norml e opatológico. No processo de elaboração de sua teoria a

cada momento em que esbarrou em uma dculdade(fosse ela a transferência ou a reação terapêutica nega-va) Freud sempre encontrou na confrontação o mo-vo desencadeador de um novo progresso terico.Podersea dizer que ele submete sua ciência ao

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pricípio mesmo que a fez nascer: nunca recus oirracional, o icoerene o nquieae por exclusão emermos negaivos, mas pesar o que não consegumosnsar, o que se apresena a cada um como esando

lém do lmie do olerável.2Enreano, ness número da Nouvelle Revue de

Psychanalyse iiciado pelo aigo de Ponais e dedi-cado à quesão do campo do nalisáve não encontra-mos nenhuma referêcia ao auismo Como pensar areação Psicalise/auismo? Esaria o auismo excluído dssa problemáica? Seria ele em nção de sua

especicidad, um assuno de "especialisas? Ou, en-tão, esaria ee em sua picuaridade no coraçãomesmo dessa discussão do que é passível ou não de seranisado?

Nesse sentido, alvez de forma um pouco poêmica,correndo o risco de decepcionar aqueles que esperavamum artigo de "especilisa do autsmo, eu preenda

jusamene questonar esse lugar à pe esse discursoespeciizado iso porque em meu enender ornar oauismo um assuno de "especialisa seria apenas umaforma sfçada de exclusão que nos afasia ssimda démarche eudiana

Tlvez porque meu enconro com o autismo ehase dado por acaso no sedo de que não procurava,paricularmene uma práca de analisa de criança oude psicóco, diria que eles aravessam meu camihoem reção à psicanise e que esa eeriência muioconribuiu para miha formação como psicanlisa.

U-O AUTISMO, DESAFIO À CASTRÇÃO?

Tomia enão como o coduor para abord oausmo não ma quesão esca, mas uma quesãoal da ical, a aã, a qu meuender não pdemos nsar analcamene o aumo

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À primeira visa, poderíamos pensar na inadequação da práia psianalíia om o auisa: o auoeroismo, o fehameno sobre si mesmo, a inaessibilidade do onao, a pobreza da omuniação verbal, para

não fala da ausênia de linguagem, diam lugar aquesões sobre a possibiidade da ansferênia, dopapel da inerpreação, e Sem deixar de lado esasquesões, penso que uma oua leiura ou esua seriapossível

"A riança auisa deém essa surpreendene apaidade de fasinar o adulo que dela se aproma de

susiar um desejo de omuniação; ela mobiza noadulo a fanasia de uma riança fora do mundo, ina-essvel, fanasia onde se misura o error face a essasolidão e a aração diane desse universo inaessel eodopoderoso. "3

Um parelo aqui seria possvel entre esse error efasinação que despera o auisa e o horror e medo que

susciam a isão da abeça da Medusa represenandoos rgãos geniais femininos desprovidos de pênis Aabeça da Medusa revelaria a asração, e o auisa, 4 emsua inacessibiidade e onipoênia, evoaria o desaotiunfane à asração, reabrindo em ns, assim, nossaprpria angúsia de astação, ao deixarnos enre horrorizados e fasinados ane daquele que desa riun

fane esse limie que ão duramene aeiamosCom efeio, o onvívio om a riança auisa nosleva a ser espeador de u gozo aiivo, provoane: ogozo do que se basa a si esmo, daquele que nãopede nada, que não preisa de nada, que está ão enegue a seu prazer auoeróio, exiado om suasmnipulações repeivas de objeos ausas, que aofde algum empo omeçamos a duvid de nossa própriaesênia Freqüenemene, omo que para nos reassegura, somos omados por um impulso de reagir, sejafendo lgo, agindo, sej espndo, indo ebor

A imensão do desespero, do soimeno, só vem aapeer quando alguma breha oase ssível nessa

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forteza. A então podemos saber do terror qe fo paessa crança a eerênca da ruptra da separação

No momento, estamos somente mobzados omobzados por esse gozo que nos desaa.

primera reação, agr o se afastar, reaparece,a me ver, nas dscssões em torno da ndcação deanse para o atsta, e sera uma repetção dessasreações poarzadas. O agr o o se afastar sbsttemse ao ncí-o o excío do cpo da pscáseEssa questão assm coocada sera conseqüênca danão-eaboração dessa poarzação qe nos permtra

formá-a, não em termos absoutos de ncusão e excusão, mas em termos do possíve, sto é, daquo quepode pertencer ao campo do sáve.

Só o reconhecmento de nosso mte, de nossa castração, nos mpedra de car no ogo atsta, queconsstra em tentar ser tão onpotente (o mpotente)qanto ee.

A eerênca de város os em ma eqpe qetraaha com craças atstas nos permt eaborar a

posteriori movimentos qe, por sa repetção, se mostravam reveadores dessa probemática.

Feqüentemente, em torno de ma mesma crança, a eqpe se dda entre os portadores de mdscrso negativo de mpotênca o m dscrso de

ascnaçãoOtro fenômeno constatado er as scssõesacrradas e contuosas na formação de m projetoterapêtco. Qa a ndcação ms adeqada deamento? Terapa aní terapa corpor abordagem préanalítca dsptavam a preferênca. gumasvees a receta encontrada era o "arsen terapêticocmpeto

Em certas ocasões, ms pecíos cranças at em nossas sóldas fortezas manpdo nos t tistas d momnto.

Et scssões qe se apresentavam sob a m scoha da técnica ms adaptada, nos

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remetem novamente à questão do fzer, do agir. Pa apsicanáise, tratase sobretudo de não intervir, nãoagir, mas eaborr, pens, interpret, cabendo a nós,nistas, em vez de disputr um ug ao so em reação

ao autismo, cooc nosso saber anlítico a serviço daeaboração: seja do agir, seja do discurso técnico, sejadessa rividade imagináia instaurada, coocando, emevidência, assim, as mnifestações defensivas por nósutiizadas pra nos proteger da provocação autista

m -DE QUE CASTÇÃO SE TRATANO AUTISMO

Do ponto de vista teórico, o que singuiza o au-tismo é a formação de um modo de defesa pticurnuma fase muito precoce do reacionmento mãecri

aça SegundoF.

Tustin 5 o autismo seria um processodefensivo que se instia em conseqüência de umaruptura demasiadamente precoce da continuidadeprimeira do bebê bocaseio

A propósito da depressão psicótia, Winnicott6 expica que, qundo a sepração ocorre muito rapida-mente, antes que o desenvovimento etivo do bebêesteja sucientemente avnçado para que ee possaenfrent essa perda, a perda pode ser de um pedaço daboca que, pra o bebê, desapreceria ao mesmo tempoem que a mãe e o seio guns meses ms tarde, essamesma perda da mãe seria apenas uma perda do objeto,sem perda de uma prte do sujeito

Para utar contra essa perda catastróca, a crinçatem de mnter a iusão de ma continuidade entre secorpo e o corpo do outro. Desta forma, a tiização doobjeto autista restabeeceria de mneira deirante acontinidade perdida com o corpo da mãe

D. Metzer eabora o conceito de identicação adesiva, 7 mecanismo que seria anterior à introjeção e à

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projeção pois estas já supõem a exstênia do "dentroe do fora A identiação adesiva seria, assim, umaidentiação em olaem na qul a exstênia separadado objeto não é reonheida

Podemos onstatar que a astação apaee aquiomo equivente de sepação do opo materno, e queo autismo seria a neação dessa sepaação

O autismo seria, assim em sua estnheza emsua aberração a ilustração desse esândo do serhumano a saber, sua etrema dependênia dos idados maternos nos primeiros meses de vida mos-

trdo a ravidade dos efeitos de um desfunionamentodessa relação.

O ser humo nase não só bioloimente prematuro no sentido de sua possibilidade da sobrevivêniabiolóia mas tmbém psiquimente prematuro praapreender interar a sepação que oorreu em seunasimento ou seja, a separação de fato do orpo

materno, a primeira astraçãoEle viverá assim um lono momento de ilusãosão, simbiose, e somente uma ombinação satisfatória de eeriênias de ilusão/desilusão rati-açãoIfrustração ontinuidadeIdesontinuidade lhepermitirá tornrse apaz de suporta a ustação queé para ele o reonheimento da sepação.

A ontribuição de autores de líua inlesa omoWiniott, Tsti Meltzer, Bion e Esther Bik é pularmente ria no que onerne à eloração dessesprimeiros momentos da relação mãeriança destaadose em espei a ontribuição sobre os menis-mos psíquios próprios deste momento, bem omo análise do papel da nção maternante oneituadasomo Holdin8 por Winniott e Capaidade de Sonhae de Pensa9 por Bion e que seriam determinantes pacapaita ou inapaitar adativamente o bebê a elabo- epação

No entanto essas ontribuições podem degem a uma leitura inorreta que nos levaia a

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caracterzar essa prmera relação mãe-crança apenascomo uma relação du. Dos comentáros aqu, sefazem necessáros

1 . A relação apresentada como dual, fuson esmbótica sera a descrção de como estarelação é vda ou percebda pelo bebê. Ela é,

portnto, como sabemos uma lusão.

2 A própra função maternante é exercda numbnho de sgncntes elaé fada, ela é um

dscurso que a mãe endereça à crança.

Esta suposta díade está nserda necessentenum unverso cultul e smbólco, regdo por essale pmordl que, regrando a lnça, sobepõe o reno da cultura ao reno da natureza: a pobção doncesto. 10

A

castraçãosepação do corpo materno estaassm ndssocavelmente lgada à castração edipana,peça-chave na teora freudina, e a contrbução daobra de Lacan é essencl para ticulação desses dosníves da castração

Como artcular esses dos níves de castração noautsmo? A constatação de que essa díade é lusóraque elaé uma tríade nscrta num sstema de sgncantes que a ordena e a determna, mpede-nos de car noequívoco sobre o pretexo de r ao encontro da regressãoautsta para reproduz na relação anítca essa fusãomortífera. Só a elaboração da separação abrrá à crança autsta o cmnho que passando pela dor e pelomento a torá tão mseravelmente humna comonós

Mas por outro lado resta a tarefa de tentar formul essa nscrção ão pculr do ausmo no smlcona medda em que constatamos o uão longe ele seencontra da denticação smbólca perdido nos labrntos "do corpo despedaçado, sem mesmo ter conhe

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cido essa jubilação que é o reconheciento imagináriodo corpo próprio no Estado do Espelho.

W- DO CORPO DESPEDAÇO ÀCASTÇÃO SIMBÓLICA

Se os primeiros texos de Lac fazem ausão aessa reação iicia mãe-criaça abre-se depois umaacua o que cocere ao aprondeto dessauesão

No Compexo do Desmame e Imago do SeioMaero 1 ee afirma: "O estudo do comportameno daprimeira ifâia os permie rmar que as sensaçõesexero próprio e ierocepivas não são ainda, depoisdo sexo mês suieemene coordenadas para queesea ermiado o reconhecimento do corpo próprio.

e deomina essa reação inici mãe-bebê decibismo fusio Nós não faremos como Freudde auoeroismo porque o Ego não está costituídoem de rcisismo porque não há imagem do Ego; bemmeos aida de eroismo ora cibaismo, e simciismo fusioa ao mesmo tem ativo e passivo.

O compexo do desmame inauguraria nesse ciismo sio uma crise, onde, a primeira vez,uma esão via se resoveria em itenção menta

1 o

OEstado do Espelho faz aparecer reoavamente o fanamado corpo despedaçado nesse drama cujo impulso nteo eprecipita da insuciência anecipação e que, para o ujeioapanhado na armadiha da identicação maquina o  fanamas que se sucedem de uma imagem do co deaçdoa ua oa que ós chamaremos de ortopédica em uatotaidade - eàarmadura enm assumida e uma idenidadeaieate que vai marcar com ua esuura rígda o odesenovimento metal. 12

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Para os que , em sua clínica com autismo, se depa-ravam com a foraclusão do NomedoPai, não soba forma de mefora deante, e sim como uma ausênciade inguagem ou um iscurso ecolálico, era como se se

instalasse um hiato no caminho ente esse corpo desaçado e esse sujeio da cadeia de signicantes.

Anny Corié, em livo publicado recentemente,coloca de início essa problemática: "Se a criança édesde o início inscria m sistema signicane faasedela bem antes que ela nasça, ela não é puro signi-cante, tampouco puro corpo biológico Nós procuramos

aqui ver a articuação dos dois. Como o Outro se colocacomo presça ra e lugar do signican?3

Aalsdo essa rlação inici mãebbê a costata que

1 . As ncssidads do corpo e a aiidad sio-lógica do bbê esão desde o incio arcuadas

aos signicantes do Ouro A criança temfome, grita, e a mãe aparece com o alimntoEsse grio começa enão a tr para a criançavalor de apelo, de signicant Mas esse signi-cante esá nas mãos do Outro que dá senidoa esse apelo É a isso que se refere Lacan aoizer que é do Imaginário da mãe que vdepender a estutura subjetiva da criça. 4

2 Esse primeiro corpo despedaçado em nçõessiológicas, uma espécie de corpo quebra�cabeça, sustenta seu início de unicação napermanência do Outo. A continuidade doscuidados, o retorno ao idênico, a repetiçãoos mesmos índices, são indispensáveis paa

assegurar a coesão desse primeiro sueio epermitir a instalação o que será sua base, ouseja, seus objetos sobre os quais se apóia aprimeira cadeia signicante, a primeira inscrição simbólica.15

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Ora, essas formuações de um autor acanio mpecem ir na mesma direção que a eaborações deWinnicott e Bion em torno da função maternante queseria assim determinante para possibiitar ao bebê

eaborar a separaçãoPermitirmeia acrescentar que o conceito de "mãe

sucientemente boa de Winnicott para nomear anção maternante adequada, embora não exicitadopeo autor, vem assinaar a dimensão da castraçãosimbóica já intervindo nessa primeira reação, a saber,que é a mãe ques imiada, submeda à ei

ação, não tendo tudo mas apenas o suciente Osuiente para que a criça possa confront atrnavmente a exriência de graicação/ustração,continuidade/desconinuidade, assim estabeecendocom ea um diogo que a evará a pensar a ausência ea frusração evocados por Bion como "caacidade desonhar e de pensar, não permitindo que ea que na

posição de objeto fico da mãe, o que he impossibiiria a entrada na castração simbóicaA prática de nny Cordié com crianças psicóticas

a evará a gumas reeões sobre a questão do objetoe da foracusão do NomedoPai na psicose infanti. Eatenta no interior da teoria acaniana, responder a doispontos evantados no decorrer desse artigo em reaçãoao autismo. 1 . Como se articuaria a castração - separação do corpo materno e a castração simbóica? 2

Como se daria a foracusão do NomedoPai?Sobre o primeiro ponto, a autora ma que, na psi

cose infani, ea seguirá o cinho inverso de Lac,parindo do objeto para num segundo tempo, abordaro fenômeno da inguagem "Com efeito parece que aseparação do objeto é necessária para que a criança

ssa encinhar o processo de ienação signicantecom o processo de recque que se dá inda queesas duas operações de causação do sujeito - aienação separação andem juntas, as terações dalinguagem no psicótico só podem ser compreendidas se

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nós o ecolocmos no impossível da sepação doobjeto. Esse mpossível é tmbém o estatuto do el emque o objeto se mteâ16 Paa tto ela cita nocapítulo "Clínica do Objeto uma fomulação de Lacan

no cuso intitulado "Do sintoma ao fantasma e etono(1982-83, inédito): "O sujeito só se lnça na ienaçãose ele se complementa do gnho a se que a sepaçãocompota Tatase aqui de uma ticulação mínimaente o signcnte e o objeto." 17

Sobe a foaclusão do NomedoPai, ela citica umavsão simplista que consista em pocu a foaclusão

a metáora patena o lao e uma edae o p,pois Lacn fou mis tde de NomesoP 8 "Essantegração impossível a lei não pode com efeito seencontaa unicmente na flha o elemento terceoue ba o desejo materno

Nessa lna e racocíno, Anny Coré se propõe aeenc o impossível a castração smbólca na

pscose inntl, hipótese que me pece problemátcaPa ela ao contáio o psicótico adulto, que pode

ter atavessado sem muitos pejuízos a pimea estu-tuação do copo e assumido, mesmo com dculdade,sua imagem especul, no "sujeito Infns a castaçãosmbólica inteessia mas especicmente ao corpo,ifeentemente do adulto, cuja poblemática vi gavi

t em tono das questões de vida de moteda dentidade se 9

As hipóteses levntadas pela autoa, longe deesgotem as questões, têm, a meu ve, o méito deaze elementos pa eexo e debate que nos estmum a ela o que s apesenta como ncompeensvela pens o que não foi pensado

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NOTAS

L Pontlis, J B "Bornes ou Conns In: Nouvelle Revuede Psychanalyse Paris, Galimard, 1974

2 bid, p. 7

3 Marcelli, D L Positon Autstque In: Psychaede lEant. Pis, PUF, 1983

4 Ferenczi, S Symbolisme de la tête de Méduse In:Oeuvres Compltes, Tome III Paris, Payot, p 200

5 Tustn, F Autsme etPsychose de l 'Enjant. Paris, Seui,

1975

6 Ibid, p 14

7 Meltzer, D. Le monde de l 'Autsme Paris, ayot, 1975.

8 Wiicott, D. W D la Péare à la Psychanalyse.aris, ayot, 1969

9 ion, W R A sources de l'expérence. aris, UF,

1979

10 Lacan, J "Foncton et champ de l parole et du ln-guage In Érs. Pris, Seuil, 1966, p 277

1 1 Lacan, J "L Complexe du Séage et l'Imago du SeinMternel In: Les Complexes Famlax. Pris, Navarin,1984

12 Lcn, J "L stade de miroir comme formateur de lafoncton du je In: Ér Paris, Seui, 1966, p 97

13 Corié, A Un Enjant evint Psychoue. Paris, Nan,1987, p 5 1

14 bid, p 5 1

1 5 bid, p 79

16 bid, p 8317. bid, p 82

1 bid, p 215

19. bid, p 216

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QUANDO A ANÁLISE DACRÇA REVELA O

INCONSCIENTE DOS PAIS!Zélia Vllar

I- INTRODUÇÃO

Tds sabems qe a prática ntica cm cri-anças tem agmas peciaridades qe a fazem diferirda anise de adut Estas peciaridades se devemsbretd a fatres de rdem técnica:

mdnça de "settng e pstra d anista;

• dierentes mds de exressã da criança jg,dratizaçã, s da paavra, etc;

• a demanda qe é feita pes pis.

A exeriência clínica n trabah cm criançasevme a interessarme particmente pea qestãda demanda: pr qe os pais prcram analit om ees stmm ver psicóg nstas preiminres passaram prgressivamente a cpr

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um espaço maior, a ser objeto de uma investigação noque diz respeito às noções de

1 . Dmnda a que que e se nstuir em

sintoma orgizado ou apresentarse sob aforma de distúrbios do comortamento, dediculdades escolares ou unicamente sob aforma de um estado de angústia;

2 A noção de sofrimento psquico na criança;

3. A pertinência ou não da indicação da psi-coteraia ou nálise da crinça, dependendoda axa etária.

A priira entrevista pode por si só, ser indica-dra de uma ticulação entre a demanda e o sintomaou dtro apresntado. Costumo, na mioria das

vezes, solicitr a presença da criança desde essa primeira entrevita. Éaque podemos perceber em algunscasos o que ela tem a dizer; sua linguagem se dá namioria das vezes através de seu corpo ou de atos.

Creio que todo analista de criança considere a pre-sença dos ps e memo de outros familiares como inerente à prática anltica. Este contato com os pais antesdo tratamento da crinça, e também durante não sig-ca a meu ver, nenhuma forma de atenmento quese constitua em práticas como: orientação dos s,terapia familiar e outras. O analista pode manter rigoro-samente uma posição anltica junto à criança, aquelada qual ele resolveu se ocupar, e relacionse com osps ou familires.

Foi priilegiando essa escuta que passei a intro-

duzir o que se pode nomear de "sessão conjunta.Nestas sessões, a criança e o filiar mais diretamenteimplicado com sua problemática vêm juntos Sua in-cidência é punctu e deende de situações especí-cas.

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Muito provavemente nem sempre podemos considerar que toda criça em atendimento é passíve deuma álise As circunstcias e possibiidades podemser as mais dversas e variadas. Mas com muita

eqüência podemos far de um verdadeiro processoanaítico Form essas náises que inspirram a investigação que junto com agumas coaboradoras vimosdesenvovendo tendo em vista uma tentativa de eabo-ração teóricocínica seja do processo anítico seja daticuação entre a orgnização ment da crinça e suancuação com a dnâmica psíquica dos pais

n - ENTREVISTAS PRELIMINARES

LATO E COMENTÁRO DAS SETEPMEIS SESSÕES DA ANÁLISE DEU CRNÇA EM IDADE PRECOCE

A mãe de Gui teefona à anista soicitando umaorientação pa seus dois hos Gui ão tem três anos;o irmão é três anos mis veho A entrevsta se orientana direção do probema atu suscitado por Gui ee fazbirras, é capz de cr três horas chorndo e gritandoqundo cotrriado reagindo vivmente a ququertentativa de controe ou de imposição por prte do piou da mãe Ee tmbém gagueja

O dscurso da mãe chama a atenção pra o períodoprénata A gravidez se desenvovia satisfatorimente,e era desejado o nascimento de uma meina Porém nodecorrer do peútimo mês de gestação um exmemédico identicou um bebê do sexo mascuino e,steriomente reveou uma anormdade: o feto nhaum pequeno aumento na dmensão crnia Aém da

decepção provocada peo fato de ão ser o segundo fihouma meia esta reveação dexa a mãe desesperada;ea poderia estr gerdo um ho "débi ment; agravidez perde todo o seu encanto A imagem é a de um"fantasma atormentador agustinte que é mantido

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em segredo pelo casal Os pis percorrem vários especilistas na eectativa de um esclrecimento pa oque se trnsformou no terror de ter um lho "débil men-t" no izer da mãe, um lho "sem cérebro segundo o

pai; este levta a hipótese de "eutásia ou "assassinato. Como ter um lho com uma vida apenas "vegetativa? Drama e ilema de muitos pis quando conontados com o risco de uma anomlia congênitaDepois de ter aitido em princípio a hipótese de"eutásia, Lís resolve assumir este ho, mesmocorreno o risco e que nascesse defeituoso

Estmos no início a nlise de Gui e, desde asentrevistas preliminres, a ista tem sua atençãoirigida pra o que se poderia chmar de representações verbais no discurso dos pis:

cabeça grandesumiço

A mãe associa "cabeça grnde ao desaprecimento súbito do irmão mais novo, o irmão que nuncamis voltou Pra o pi, a idéia insuportável é a de terum lo "sem cérebro Esta eaça é associada àsrepresentações de "assassinato e "eutásia, cujoconteúdo latente estaria ligao a um desejo de morte

Desde o nascimento de Gui, há uma divisão implícita: Gui é da mãe, o irmão é do pai Idéia de posse quenos levria à questão do estatuto do flo no desejo dospais Uma questão complexa O que Gui vem nosrevelr?

Gui entra em cena: em torno dos dois nos deidade, ele apresenta o que psicologicamente seria considerado uma reação caracteril Os pis procuram a

nlista pra se queix das birras do lho; ele temciúmes do irmão e gagueja. Os encontros com a anlistase sucedem durte um mês, lternadmente com acriça e os pais São três meses de intervo entre aprimeira entrevista e aquela que precede o início do

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ramento Ese empo de espera possibilitou umapercepção dferene das primeiras manifesações diascomporenas desa crinça O que era nomeadobirra se apresena agora como um estado de gúsia

Jorge e Laís volam situação é descria como insuportável; Gui esá grudado na mãe: nos momenoslongos de choro, é rancado em seu quro, ou então éa mãe que se isola, enquo ele gria e bae à poraJorge, o p ena conquisar o lho, gh suaconfinça O irmão tem ciúmes, toda a famia esámobilizada dine de uma siuação de conio Embora

Gui ocupe a maior pare do empo do discurso dos paise da escua da analisa, Jorge permnece com umademanda relacionada à imidez do lho mas velho

As birras recrudescerm com o desprecimenosúbio da babá, que esava grávida

sumiço sumiço do irmão maeo (o irmão que em

cab€ça grande)sumiço da babá (subsituo materno para Gui)a mãe em vonade de sumiro pai sugere que a mãe saia de casa para que o lhose habiue e saiba que não pode er a mãe odo oempo a seu lado

As birras de Gui não parecim ser ão iniferenciadas em relação ao pai e àmãe como fora colocado deinício O conio se exacerba entre ele e a mãe ís nãoconsegue se desigar numa deerminada ocasião, osilêncio que se seguira aos grios e choros do filhoprovoca a emergência de uma fanasia de more (umdesejo morífero) Seu devneio fora de que seu hosalaia pela jnela, podendo cr e morrer Podemos

aqui supor que Gui agencia esta fanasia; Laís corre aoenconro dele, que nha passado pela janela enreabera, pa uma área conígua Gui se enconrava sobos cuidados da babá. O cáer fóbico dessas manifesações prece evidenciar-se, supondo-se a possibili

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dade da ognização em sintoma neuótico Isto nosevaia a pensa no conceito de neuose na ciança, oque não constitui aqui objeto de nossas eeões.

Joge não pece tão conitado com a situação

quanto Laís Esta considea que ee cede e satisfz todosos desejos e pedidos do ho. Mas ee se dispusea aconquistáo, a se ocup ms dele.

Gui vem acompnhado pela mãe à sua pimeiaentevista e ca só com a anaista Ele passa imeia-amente sua mensagem dois bocos de madeia epe-sentam pai e mãe; um é coocado em cima do outo

Desde a segunda entevista, e posteiomente no decoe de sua teapia, ee v egi a pesença da mãeInstauase o pocesso anaíico que já se penun

cia no decoe das entevistas peiminaes. Desde oinício estabeecese uma eação tiangua: Gui fazuma dupa com a mãe É ea que é soicitada a bince desen com ee, a nlista cando apaentementeexcuída Ee aia epesentado gacamente a simesmo sustentado pea gua do copo do p, pa eenão cai Ao desenha seu pópio copo, diigese àmãe pa dize que menino é ifeente de menina e meesponde que a difeença está nas duas coes. Laís ésoicitada peo ho a desenha os ohos da gua que oepesenta e diz que não sabe Diijome a Gui, e digohe amãe faou que não sabe faze os ohos, é com os

ohos que a gente vê" A anaista intevém evocando oepisódio em que Gui, choando em seu quto, se claae a mãe coea assustada, pensando que ee pudessesta da janea e moe. Ee vai então desenha a mãedizendo que ea tem um cabeção Ee faa em seguidade monso Laís comenta que seu ho não que i paaseu quarto à noite, poisd que á tem um monso. Gui

me diz agoa que ee pópio é um monsto e, no na,todos os membos da famia se tansfomam emmonstos Na sessão seguinte, a mãe comenta que seulho viea dute a noite pa a cma dos pscolocandose ente os dois.

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Após a intervenção da anlista evocando a fantasida mãe qe se pode articlar com as representaçõesverbais do scrso dos pais: "etanásiaassassinatoesta criança parece nitdamente fer ma associação

e inca a fantasi estente em sas origens. A mãetem m "cabeção. Srge a ftasia do monstro verblizada pela mãe depois pelo peqeno paciente o qe denovo nos leva a pensar na fntasia do nascimento:cabeça grandebebê defeitosomonstro Estas representações esti fortemente sobredeterminadas:smiço do irmão mãe desaprecimento qe eqveà

idia de morte.É

clro qe a ftasia do monstro podesuscitr ma otra letra se a consdermos inserdno conto edpno com o ql est crnça se cononta

As sessões seguintes são mrcds pela irrpçãode um forte angústia pos Gu chea aos prntosrtdo e espernendo reprodzndo as cens de

birr qe costuma ter em casa ele regeà

mnhtentativa de apromção me bte e me morde Dápontaps n caxa de brnqedos qe lhe ofereço leissera à mãe qe não qeria qe a anist flsse"Não qero ir porqe el fla le vi tentar impeir amãe de flar com a analista e termina por verblizentre gritos e choro a fntasia sbjcente: "Vão comerela. Qem? indag anlista E Gi responde: "Oladrão Antes de sspender a sessão tento diogcom Ls, qe consider qe se lho me mostraracomo ele se comporta em cas

No mesmo dia, rece m telefonema. É a mãe qediz não ter podo esper: ao sir da sessão Gi seaclmara imediatmente e qando ela lhe pergntopor qe gritava assim ele lhe responde: E tenho m

cano qe é mito bravo (pavra sada eqüente-mente por ele paa signica qe estava zangado). Meirmão tem m qe é mito bonzinho; qdo algémmexe na gola do me tco e co mito assstado Lís se diz mito asstada tambm daí por

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ue não pudera esperar a próma sessão e meperguna se deve azer o lho mesmo que ele se recusea vir

Gui chega clmo Trouxe e casa umas oos suas

e de seus amliaes paa me mos Inicia enão umogo de sedução com is, feno mãe umcúmplice De novo ele vai desenha solicindo comones a auda da mãe Pede-lhe paa azer um papagoe ele mesmo acrescena um taço dizendo ue é o "perudo papagaio Sugiro a Laís ue reome o logo quevéramos ao eleone e uando ela la do ucano, Gui

inerrompe pra me dizer ue o ucano em umanmorada A mãe comena que ele não dissera iso e, apedido do ho, vi desenhr o uco e sua nmoradaO uo é zul e rosa anamorada, rosa Gui iz à mãe:Pine você, ãe de or-de-rosa, porue é cor deenina e eu sou enino, voê é menina Eu não possopinar E resposa a ua inervenção da nisa, ue

lhe signiira seu desejo incesuoso pela mãe e o emorde ameaça por pre da analisa (no lugar do pai}, Guid beijos sôregos na mãe Desa eia, ele não uer irebora, sai grido e espernendo nos braços da mãeMas na sessão seguine, chega de novo em crise Nãoh coo drigir-lhe a plavra; desa vez, ele enamorder e baer na mãe Diz que inha um ucano velho

ue vnha aac-lo Ao mesmo empo em que se dirigeà pora de saída não uer ir embora Ficamos as uasimpoenes dne desa suação A "balha em muando Gui, rnspirando, pede à mãe paa enxgaseus cabelos Ele se aalma enroscando sua cabeça nopeio da mãe; esa é omada por uma emoção conida eslenciosa Ao percebê-la, Gui se enernece e os oiscomo que se consolam muuamne

Gui vera chorando e griando urane odo oaeo Na enaiva de onvencê-lo, a mãe propõe olho a mudça "de psicólogo. Gui recusa a proposaLís pode agora verbaliza seu esao e ensão Ela nãosupora mais seu lho esá oo o empo colao nela

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impendo-a de ficar sozinha um momento sequer, deatender às suas necessidades mais básicas Ela seemociona fortemente, está tentando segurr tudo pranão rrbar o riod casa Enqunto a mãe fla, Gui

está atento a tudo, se inquieta, faz crinhos nela.Quando remeto Ls à sua própria anise, ela iz

não flr de outra coisa e o comentário é o de que seulho está tiranizndo todo o mundo. Ela ssera ao lho,ainda quando tentava contornr sua reação de angústiaao vir à sessão: A gente vi desenhr o tucno Mas eerespondera: "Não, ele vi me bicr, ao que ela retru

cra: A gente desenha uma espada e mata o tucnoE Gui rgumenta: "Papai não vi deixar matar o tucno . Após o relato deste logo, Gui convida analista a brincar com ele e a mãe Este jogo consiste,mais uma vez, na representação de uma cena famiirna qual o irmão é incluído É neste momento queproponho uma entreista com os pis

As produções desta criança inicm sua ligaçãocom as fantasias originárias de cena primitiva e decastração, que sabemos ligadas à questão da origem dosujeito e à ferença de sexo. Pode-se fazer uma novaarticulação: quando Gui inca sua percepção da ferença de sexo, tem-se como resposta uma negação damesma por parte da mãe Encontrmo-nos rapidamente inte de uma outra situação A anista passaa ser objeto de trnsferência fóbica, enqunto que a mãedesempenha uma função contrafóbica.

Gui se sente meaçadoEle pede a proteção do pai. Por quê? Pra quê?Qu a moção pulsion em jogo?

O pequeno paciente e sua mãe se dizem assustados Logo mis, ele vi introduzir a fantasia originária desedução, ligada ao surmento da sexudade A nlist tinha se dado conta do investimento da ordem datrnsferência por prte da crinça, que se mostrava

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ambivaente Sas palavras chmm a atenção qandosa resistência é assinalada pelo medo da faa daanalista. Dentro deste contexo, não são totlmentesrpreendentes as mniestações de ambivaência e de

resistência por parte da mãe. O qe Gi não poiaesctar?

O movimento qe vai se deinear posteriormente éo de m jogo de sedção, com manifestações eróticasvisando ao corpo da mãe o do p

111 - CONCLUSÃO

Esta proposta de trabho nos fria pensar naarticação possível entre o desejo inconsciente dospis e a ormação do sintoma o reação patogênica dacriça Isto nos indz a ter em conta a estrtrapsíica da crinça, evando inevitavemente em con

sideração a niversaidade reconhecida por Fred aocompexo de Éipo, compexo ncear e de cáteresrtrnte de toda nerose

Essa rticação passa necessrimente peademnda eita peos pais e nos condz a indagr sobrea demanda da crinça, o e motiva se investimentotranserencil

Uma vez iniciado o processo aníico na crinça,demos nos coontr com a nserência, resistênciae ambivência dos pais Ocorre ma rptra noeiíbrio precário qe vinha sendo mnido pea pre-sença do sintoma o mniestações patogênicas dacriça, ma qebra na economia psíqica fmiirEsta reexão nos condz a das hipóteses:

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1 . Em determinados casos o qe a criança reveaé da ordem das representações inconscientesdos pis, de sa orgzação neuróca Qndoestes mesmos pais estão em anlise, podesespor qe estas representações se consitam

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em focos de esistência no pocesso íticodos pais. Nestes casos a análise da ciança éqe ncionaia como desencadeado de mssível pocesso de elaboação po pate dos

ps qe bsca ma análise;

2. Em decoência podemos nos enconta empesença de m deso o deslocamento domateial qe deveia se destinado a sesanalistas graças à tansfencia lateal estabelecida com o analista da ciança

A análise de Gui (tal como vem sendo condzida)nos levaia nesta direção.

Qando a anista assinala no decoe de maentrevista com os pais o papel qe o pai teia apeenche aqele do teceio da inteição e do limiteeste lhe diz isto e deixo paa você" ele escapaia

assim ao cononto com se pópio conito edipianoSe tentamos avança no desenvolvimento da idéiaesboçada na Intodução auela da vinclação ente oconito psíqico dos pais e o sintoma da ciançapoemos chega a algmas hipóteses:

• m conito identiatóio dos pais incidindo nafomação do sintoma desta ciança. A cisãoimplícita qe foi assinalada no elato das enteistas peliminaes nos faia pensa nma di-cldade efeente à epesentação da intesbjetvidade

O pai se encontaia na impossibilidade de es-tabelece m cote ao mesmo tempo em qe a mãe

paece não te conições de se sepaa desta ciança,

• os elementos do pocesso nos levaia a pensno isco da posição incestosa da mãe face aeste lho Po enqanto Gi choa gita e

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esperneia; prece edente seu nvestimentotransferencial que o eva utar por seu espaçoe a fzer um opção própr dnte de seusentimento ambvente e o d mãe. Dríamos

que se trata de uma demanda viver" desvencilhar-se do círcuo fechdo do quaparece prisoneiro

Um outro dado reforçaria compreensão da idéiaque estmos tentando desenvover.

É quando Laís, favorecida por essa eeriênciasingular de ser testemunha das mnifestações decorrentes dos conitos internos de seu lho que lhe sãodiretaente dirigidas, fz um ssocação com ummomento de sua própria anáise em que toma consciência da forte ligação amorosa exstente entre seu paie ela, o que fz romper com o mesmo.

Pode-se supor aqui um deslocamento par o filhode seu próprio desejo edipiano.

Não nos cabea uma armação nesse sentido maspodemos estabelecer um parleo, pois a emergênciadas prieras manifesações de rtação e neosismo"de Gui, qudo ele tinha 2 os, concdem com adecisão da mãe de afastrse do p.

NOTA

1 Texto apresentado no VI Forum nternacional de Psi-canáise.

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PROBLEMÁTICAS DOIMPOSSÍEL

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O SILÊNCIO DO ANALISTAMarta Clara Pellegrtno

a Helio Pellrno, meu p.

Fal do silêncio é, po denição, uma taefa pa

adol O silêncio não fala, o silêncio cla Poém,o que seá peciso ao silêncio cl paa que a plava possa fla? Poque a plava só exste na eida em que há um silêncio que a supe E em quemedida fla é silencia e, contaiamente, silencia éfla?

Silêncio e pava são insepáveis Poém, a

plava, apesar de pluívoca, nomeia e cicunsceve umespaço O silêncio ao contáio, emete ao to. Foitamente essa assimetia que me levou a quee pensa o silêncio

Deontada, entetanto, com sua iedutível polismia i obrig ailu de us actos - o queemete à situação anlítica. Se o silêncio emete ao

innito ele seia, em pincípio, senão impensável, pelomenos indcável no que efee à ao ícaPorém, vejmos:

O silêncio da situação analítica não é um silêncioulue No espaço em que se desenola o pocesso

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naítco, e em função dos exos segundo os qus eopera, o sênco se torna uma cração Cração dess s-paço que na medda em que nverte os parâmetroshabtus da comuncação humana constró uma

stuação artc, onde o que dto ou fado gnhauma sgncação partcuar. O sênco não escapa aessa regra

Mas, anda assm, por qu o sênco? Se a ps-canáse fundada no dscurso, por que escoher comotema de rexão essa stuação quase mrgn" doponto d vsta teórco, que o sênco? Exatmente por

seu crátr d aprente mrgndade Aprnte"porque atras das concpções e mnos tccos dosênco podese aprendr a rtcuaçã das duasla essncs do procsso co em sua drácaprópra: do ado do nsta o qu o sta sae(refrênca a do da tra) e o qu stareresta (rrênca ao suto suost sar") D

ado do nsndo, os exos que dtrmnm suaposção enqunto sdo: a trnsfrêca e aresstêca Toda refrênca à resstênca d srconsdrada não nqunto momento nte do suetopscoógco" mas sm rtcuada a um scurso quecooca em ogo o suto suposto saber, a trnsrêncae a ntrpretação O sênco enquanto crte no uxoassocatvo (sênco do pacente), ou enqunto traçoque crcunscre um lugr (sênco do ansta) sópode ter sentdo dentro das mahas desse tecdo pr-ticur que o espaço nlítco, cujos os são a trans-ferênca e as formas como ea se mnfesta: enquntoresstênca, repetção e sugestão

Isto posto, recooco a pergunta: mas por que osilênco? Porque a hstóra do sênco, ao ongo dastória pscnse, surpreende. O siênco, enquntobjeto de reeo, fo íma de uma eloqüente civgem:até recentemente, o siênco da stuação anítca sóha sdo pensado em termos do sênco do pacenteté ecentemente, o siênco do anlsta mas hava se

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constitído em objeto de reexão. Esta foi a rzão qeme evo a preferir abordr o siêncio do naista edeir de ado o silêncio do paciente

O gr do sêncio do nsta, na técnica íca,

também impica ma história. Esta história não determina sa significação nem sa fnção pois a signicação do qe se insto no início da psicanáise só foiconhecida a posteriori, mito tempo depois de o primeiro ista Fred terse cado devido a m fecndo acidente. Foi ma paciente de Fred, na época dométodo catártico qndo ee nda tizava a hipnose

e a sgestão qe he pedi qe se casse m pocopra ovir o qe ea tinha a dizer. Fred consideroegtima t demanda e, poco a poco começo adescobrir a importância e os efeitos técnicos de maatitde mis sienciosa (inda qe os reatos cínicos deFred não nos permitam rmr qe ee fosse mnista siencioso

Aprimeira razão (cronoógica) da importânciatécnica do siêncio do nista era simpes: o anista

precisava conhecer sficientemente se paciente tesde poder se rriscar a far sobre ee. A esta razão ogose acrescento ma otra, qando Fred tendo abandonado a hipnose e a sgestão, se de conta de qejstamente o nista não deve sgerir nada e todapavra sgere. Foi assim qe se insto, na démarcheeiana o vor da posição de reserva do naista.

A sna rãod inção do silêno enqntomeida técnica se deve ao fato de qe Fred se tornonda mais reservado depois de sa operação qandoincomodado por sa prótese passou a ter certa dicdade pra far.

A terceira razão do silêncio do analista se deve à

metáfora do espeho bem-poido", utilizada para representar a posição do anista no processo anítico

Todas essas rzões entretnto são inscientes precárias pra elicr ma postra qe s dstaca porse caráter de estrnheza e de sbversão, com respeito

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os pâmetos hbituais que egem comunicçãohuman

Ess é gande supes que nos esev históido silêncio n psicnáise: há pens 18 anos o siêncio

do psicanist se conveteu em objeto de eeoSomente pti dos nos 70 é que semelhante postu fundmental poque supote do luga do naistpssou inteess o pensamento nítico Se o econhece-se enqunto naist é o utoiza-se ocupt lug como eic que justamente este luga oluga do nlist não tenh sido pensdo desde o

início d psicanáise?Antes que ess eexão tomsse copopotanto,no peíodo que pecede os nists dotvam umpostu mis ou menos silencios não em função deum escoh teóico-técnic ms em função do quepdeímos chmr o "estio pessol de cd pticante As azões d escoh de cd nlist es

peito de como utilizar o silêncio enqunto postu,em tão etóis quanto impecis é noção de"estio A igo manei de cd anaist usa seudieito o siêncio dependi, em útim (e únic) instânci dos spectos singures d pesonalidde decd um e d concepção gob que cd um tinh espeito do que e o pocesso anítico e de sunalidde

Até décd de 70, não se encont nenhum tigoque fe do silêncio do nalist. Tod podução teóic espeito do tem nteio ess décd só tt dosilêncio do pciente

É vedde que em alguns dos tigos sobe osilêncio do pciente estes tamm es encontm-se obsevções sobe o silêncio do alist 1 ms

são beves obsevções técnics sempe efeids osiêncio do pciente ou sej ssinalndo como oanalist deve egi dinte do silêncio de seu pciente(mntendo seu pópio silêncio ou não ou então emque medid o silêncio do analist indu o silêncio do

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paiene, iso qudo o sênio era inerpreado omodefesa marada por aspeos superegóios.

Como eliar, enão o súbio e reene inereseda psianáise em pensar o siênio do analisa?

T ineresse prenniou o iníio da indagação arespeio do esa o da eoria em relação ao oneio deientidade Esa indaação levou à onsaação deque a imporânia e o ineresse da eoria residem no faode que ea ese para ser desonsuída Sua nção naprátia aníia, é a de riar uma rede sienemenempa para que alisa e isando, aavés da trans-

ferênia possam desobrir suas próprias miologias Eo ráer univers da eoria esbarra no fao de que aoadoar a eoria de um ouo, o anlisa o fz paraproduzir sua eoria própria, na meida em que adanisa (re)ê a eoria do ouro a prir da dinâmiasferenil que se esabeee enre o saber eório jáproduzio e seus próprios fnasmas e desejos É nessa

meia que a eoia lía não ese jmais omo umsaber "aabado, ou aprioríso Ea só ese a poste-

ror, pois a eoria opera ndamenamene om o qeinvena, no ao mesmo da invenção E ela só ese paraser inessanemene reriada

Foi examene a patir do quesionameno oesauo ienío da eoria e da quesão a respeio de

sua rsmissibilidade, que surgiu a reeo so

re osiênio ugar do lisa É na práia íia qea eoria ao mesmo empo se onstói e se desonsói,e é a parti do luga do anlisa que se opera eseproesso Pensa o silênio lga do anlisa épensa não apenas de que modo opera a eoria, mas émbém pensa o modo de sua produção, enquoformizada num saber eório

A pi daí, oouse clo qe o silênio dolisa não era apenas o silênio de lguém qe ove,numa aiude de preensa "nelidade O silênio doanisa é o siênio da esa e, enquot, ele opama nção deisiva e espeía, qe aena sa

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iesão iquiette, ao eso tepo que estuuate deto do pocesso alítico.

Poé essas azões que avaçaos paa elicao súbito iteesse da psicálise pelo silêcio do alis

t são efeitos da podução de setido a posteror. Nooeto eso do sugieto do iteesse pelo tea,o que pedoiou coo azão deteiate fom osovos apotes à cocepção de espaço alítico.

Refaeos, a segui o pecuso da históia dosilêcio a pati de ua pespectia coológica.

Equato o espaço nltico ea costitudo po al

gué que falava e po um outo que el à metáfoa do"espelho be-polido, apeas ouvia a posição sileciosa do anlista podia prece atul. De acodo comessa ótica, toda a aeção do aaista se volavaecessaiamete pa o paciee posto ue ao aistasó caia eevir ao lisdo o eexo e sua pópiaimem.

A prti da década de 50, poé começase a flada cotaransfeêcia, ão mais e apeas como umelemeto obsuo do pesso nlico as como umistrumeo teapêutico pecioso (cotiuiçes daescola iglesa). Através da cotatrsfeêcia e de suautiização, o nista, equto pessoa passou a estriplicado o pocesso, o qual esta edida, ão ais

se deseolava ete u paciete e u "ouvi especula astação feita da pessoa do aista pa seda euato u pocesso ete duas pessoas:ua que fla e outa que escuta (difeido, potato dacocepção teio que ea a de ua que fala e outaque ouve)

Foi soete a pti do oeto em que os doispaceios da situação altica passaa a se cosidedos igulete ipicados o pocesso que se iiou efetete ua eeo soe o espaço coe sobre o silêcio do lista

Quais seia o sigicado e o efeito sobe ociete de ua situação a qul ele ea coidado ão

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apenas a se deitar, mas, e principalmente, a associar li-emente, a it suas fss e a remontar o cur-s de sua história pessoal dite de um outro invisvele siencioso? E de que maneira apreender tais efeitos?

Aprimeira ressta, precipitada, foi a de conside-rar o silêncio enquanto o agente indutor da ustraçãonecessária ao estabelecimento do processo transferen-cial

Porém , logo cou demonstrao que a stalação datransferência não se nava na ustração Muito pelocontrário, observouse que ela se estabeece sobretudo

como demnda de amor, veicuando o desejo que tem oanalisando de se tornar o objetocausa o desejo dooutro. Esta concepção, mais abrangente, obrigou osnistas a ampiar a reexão sobre o silêncio, posto queee não podia mais ser reduzido a simples agente daustração.

Essa ampiação se manifestou através da con-

cepção de um "campo ou espaço analtico, suportador uma matiz tansferencial, iferentemente concebida pelos anistas, em nção de suas concepçõesiversas a respeito do que pretende uma ise

O silêncio do nlista parte inteante e consti-tutiva do espaço anaítico anhou uma nção maisprecisa, que diferia de acoro com a matriz transferen-ci a partir da qua era pensado Ele passou a serconsiero:

• como tendo uma ção de reparação, o que inuía o restaementod "bicia primáae a recuperação dos "momentos de ilusão(escoa inesa);

em sua nção de marcar a falta, remetendo aorestro da castração (escoa ancesa)

A elaboração da noção de um espaço coenquanto "campo intersubjetivo, teve repercussões nacncepã e no mnejo da transferência

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Para Freud, num primeiro tempo, a trsferênciafoi concebida como uma repetção de paões fetivos,devdo ao estado de incompletude dos conitos reclcados ("A Dinâmica da Trnsferência, Freud, 1912) .

Num segundo tempo, a partir de "Ms lém doPrincípio do Prer ( 1920), Freud postula que ofenômeno nsferencil tem su rzes numa tendênciams originl que a tendência ao przer e o conitodeixa de ser considerado uma situação que perduradedo a seu estado de incompletude Segundo ele aeeriência sexal infntil deve ser considerada como

tendo sido uma eeriência dolorosa - um fracasso euma ferida nrcísica. Seu reclcmento pelo ego é conforme o princípio do prazer; sua repetção na trnsferência - o que engaja as pulsões reclcadas - écontrria ao princípio do przer e veicula a nterioridade e o poder da compulsão à repetição, enuntomnifestação da pulsão de morte

Colocadas essas duas visões sobre a trnsferênciapodemos izer que enunto a nise se processa noregisto da intersubjetividade a tansferência é manejada e utilizada como instrumento capz de apontarao paciente o cáter repetitivo e inadequado de seucomportmento Ao silêncio do nista é atribuída aqulidade de promover a criação de um espaço originl

e novo no funcionmento psíquico do paciente, interrompendo seus padrões repetitivos através da criaçãoprodução de uma eeriência afetiva mis vivda anteriormente A esse silêncio - reprador é atribuídauma nção mutata, a qul [nção] ele mntém desdeentão (referência à escola inglesa)

A contribuição da escola ncesa oi mis inovadora com a ntrodução do conceito de Sueito supostoSaber (SsS) O anlista, enqunto SsS, é auele quesustenta a trnerência em eu pecto de nmentosenomênco da relação anlítca O lista(enqunto SsS) é um dado d esutura do nconscienteAo nuncir a regra de associação livre ele rma e

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conrma a exstência do inconsciente "isso associa-e conseqüentemente do saber que o paciente detémsem saber que sabe O anlisando supõe que o anlistasb e este aavés de u slêno, rmite a emerncia

deste saber que o anlisdo detém sobre si mesmo ecujo acesso se encontra barrado

Sem a pretensão de anlisar todos os escrtossobre o tema os artigos sobre o silêncio do analistacitados a seguir ilustrarão esse longo trajeto percorridopelo siêncio do analista, no qul de simples posturatécnca, quase acidentl tornouse ndamentl do

espaço anlítico capaz de promover a mudnça •••

m nomeálo elcitamente Bion inclui o silêncioem sua fmosa fórmula o lista deve renuciar àmemória, ao desejo e mesmo à compreensão. Esta

aolição de toda e qualquer representação mental(enqunto postura do anlista), obtida através de umaisciplina permanente e de um ato sivo aponta prao siêncio interior gura do vazio

Qunto mais oat cosgr sup: o dejo a móriae a compreensão, mais apto ele estará para se dear invadirpor um estado de sono próxmo do estupor.2

Bion indica a forma de alcançar esse estado devacuidade nterna através de um termo aproxmativo:

A "fé em uma relidade e em uma verdade últmas(cuja notação é "O - zero) relidade psíquica incooscível no que ele considera ser o sentido kanto e quesó pode ser apreendida através de suas transformações- o desconhecido o napreensível o to nforme

A nlidade da anlise é lcançar a maturação e odesenvolvmento do ncionamento entl considerado um conjunto de operações ments que conduzem ao conhecimento despojado das impressõessensoriais

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Enquanto o apelho mental estiver préocupadopor elementos perceptíveis aos sentidos, ele será inca-p de pens pensmentos com cero grau de absação

O pensamento, enqunto estrutura, apresentaduas congurações:

• a préconcepção cujo mode é a exectativainata do seio;

• as concepções produtos da conjunção entre a

préconcepção e as realizações que dela seapromam.

O alista deve canç o estado da préconcepção, no qual o sujeito é substituído por um aparelhod pensar pensamentos ste apeho, que se situa noregisro do pensamento primitivo (associadoà coisa em

si) é a exressão do mais alto níve de astraão que opensamento pode atingirO analista deve tornarse innito através da

supressão da memória, do desejo e da compreensão Oestado emocional das sformações em zero se aproma do horror Bion o representa através da metáforado "demônio aterrorizante

Ete demôno aterorizante repreenta ndferentemente abuca da verdade ou as defea atva contra eta verdade,egundo o vértce. 3

O vértice é o ponto de vista a perspeciva a partirda qual tentase inicialmente compreender e depoiscomunicar uma exeriência

A démarchebionia consiste em operar uma desintegração na ilusão que sustenta o sentimento de

identidade e continuidade do sujeito Segundo ele

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. não há nenhuma razão para que o anando acredte queo analta é a mema peoa que o anata da vépera T

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convicção é suspeita, pois ela é o sinl de a relaçãocolsóa prevista para impedir a apação de um vziodesconhecido incoerente e oe.4

Bion não considera o silêncio do ponto de vista

fenomênico, em relação ao que ocorre durante a sessãoPara ele, o silêncio é praticamente sinônimo do queconstitui a "identidade do analista, enqunto devr eutuação permnentes O "ser anlista bionino é umestado de vacuidade interna- estado de silêncio - quenciona como "continente do funcionamento mentldo paciente

Pra ele, o silêncio - gura do vio - é umacondição indispensável pa que a intuição (que elesubstitui à compreensão e ao saber anlítico) - únicoinstrumento terapêutico vlido - possa emergir permitindo a atribuição de uma signicação aos elementosprimitivos e informes que surgem no campo mentl nãosaturado pelos elementos capturados pelo registro dos

sentidos.A démarche bionina tem uma coloração nitida

mente epistemológica, e é a partir dessa perspectiva queele considera o siêncio, ou seja, enquanto condiçãoconstitutiva e indispensável para a exeriência doconhecimento.

O artigo de Green5 sobre o silêncio se artcula emtorno de duas questões

1 Pese atribuir ao silêncio do psicanlista umestatu to metapsicológico?

2. Será que o silêncio do psicnalista relmenteste?

A posição teórica e omática que ele adota paaresponder à primeira questão é denida como segue:

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O stlêncio do analisa só pode se compreendido enquanopae ineane do espaço analico. Seu senido só se elucidanmedida em que ele é incluído no conjuno das condiçõesque denem ese espaço e que consiuem o a o dapsicanálise, ou desa apicação do méodo psicanicoà cura

analica6

Ele observa que o silêncio do analista se situa nomesmo nível dos outros pâmetros que denem asituação anítica O anlista, vsível no início da ses-são, desaprece durante a mesma, pa só reaparecerno nl; o paciente se confronta cm esse slêncio,

deitado no dvã, posição que restringe sua motricidade;esse conjnto de conçs das quis o slêncio fz prteinduz a movimentos do pensamento, endereçados aoobjeto inacessível (o nlista, os qus retornam pao anlisando, encadeandose a outos, sem relaçãoaparente com os precedentes; esse silêncio se torna,então, uma tela de fundo na qual se desenrola o

pensmento associativo que mimetiza o regime daenergia lveSe o iscurso do paciente é feito de paras, ele

desperta no anlista múltiplas representações Todosesses elementos da exeriência analítica, tão fmiliesao praticnte, podem, num certo grau de abstação,evocar uma comparação com o sonho E ele anuncia a

fórmula:

a mesma forma que o sonho é o guardião do sono oanalisa é o guadião do espaço anaico, cujo slêncio é o prin-cipal parâeo 7

Green demonstra a homologia do modelo do sonhoe do modelo do espaço anítico Durante a sessão, não

há o desligmento do pólo perceptio, mas o anlistaoferece ao anlisando uma percepção constante (a queele vê do divã) e se coloca fora de seu campo de vsão.Tmbém não há abolição do pólo motor, mas a motrdde ca restringida devdo à posição horizontl

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ta tem a nção de elaborar Da mesma forma, o ana-lisando pode sentir o silêncio do alista de maneiracorrespondente, em função de sua atitude interpreta-va

Em todo caso, o silêncio é a condição paraestaelecer igações entre os diferentes tipos de signi-ctes, ou entre signicantes da mesma naturezaAssim, o silêncio é o espaço potenci do trablho doanista, mas de nada serve prescrevêlo como uma re-a imperativa

O silêncio do lista não é uma meiação, é umaescuta A atenção utunte só d uma imensão parcida aitude do analista, pois podese izer que o sêncioé o equivente vigil do sono do nalista Em siêncio eleescuta sua própria escuta, ao mesmo tempo emque, sobre a cena do iscurso emiido pelo pacienteformmse as associações do anista, tempo neces-sário à formação que precede a formulação da interpre-

taçãoIsso mosra a que ponto o siêncio do nista

siêncio que acolhe suas próprias associações, sênciode espera, siêncio povoado, é, sobretudo, o siêncio "deuma egência de rablho do psiquismo do anlista, emconseqüência de sua ligação com o corporal do ani-sando "9 Partindo dessa formulação, o autor exlcita

sua concepção da relação anítica:

a idéia que deve prevecer é a da ógica do casl anatico, representada pe gção de dois aprehos no outroseparados por uma diferença de potencial signicativo. 10

Fnalmente, Green postula que o ndento do

ilêncio do alista é a emergência (a renovação) dapesentação O trabho anlíico consiste na análiseda representações do paciente (no sentido conceitualma amplo) paa substtulas por um outro sistemaepeentativo, através do qu emerge o sujeito. É port azão que o silêncio do anlista é o meio privilegiado

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pelo qul ele recusa a representação do mifestoSilencioso, ele pode se deir absorver por seu próprioslêncio, para fzer emergir a representação psíquica dapulsão.

• ••

Pra Mannonni, 1 se estem anistas que semantêm num slêncio tot - e estem guns , osoutros (não todos), inda que não obedecendo a umaregra tão estrita, admitem, entretanto, que esta seria a

attude ielUma anlise se onstitui a partir de dois pólos o datrsferência, no que se refere ao paciente e o dosaber, no que se refere ao nista Mas como é sabidoque a transferência se produz de ququer manera,meso nte de um nsta sem nehuma eriênciae sem nenhum conhecimento teórico, é preciso reetrsobre a função da exeriência e do saber teórico aolngo de uma lse na qul o anlista permnecemudo

Mnnonni faz um parelo entre o saber do psiquiatra e o saber do psicanlista, para zer:

O  silêncio do psquiaa - ou mesmo o do médico não se impõe da mesma forma que o silêncio do analista Po

dersea dizer, num sentido ao mesmo tempo muito amplo e muito preciso, que ele é mais político. O  psiquiaa consea para si o saber que ele tem sobre o paciente, porque este saber o constitui como psiquiaa na mesma medda em que onãosaber do paciente o coloca no lugar de paciente Da

 resulta que a relação médicopaciente funciona como uma relação de poder 12

Na relação antica o que efetivamente ncionanão é o saber do nlista, mas o saber que o pacientesupõe ao analista Isto é menos agradável para o anista do que para o méico, pois o méico se sentereconhecido graças ao saber que possui a respeito do

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que o paciene não sabe. No caso do alisa, porém, osaber que o paciene lhe aribui não corresponde aosaber que ele deém Anal, o saber que ele possui éinaplicável. E essa impossibilidade se orna ainda mais

elícia no caso da análse muda, cujo rigor exremadoexclui oda e qualquer adad inerpreava Ese é opaadoxo que susena a nção do saber do alista:ele sabe para calar. Mesmo que, ao longo de umaanálise, o analisa seja cononado, a cada nse,ma provas ireáveis da verdade da eora ca,esa conrmação não serve absolumene ao paciene.

Pois o que o paciene precisa é alcança a via de acessoà sua verdade, e não à verdade da eoria, a qual consuio paimônio do nalisa. E ese acesso só ocorre aravésda ransferência, poso que o único saber que produzefeio é aquele veiculado pela ransferência e na ransferência

O silêncio do analisa - na visão de Mannonni -não é o silêncio de quem reserva para si o monopólio do saber a m de aplicálo no paciene Aravésde seu silêncio, o analisa não visa criar uma brreirapaa proeger sua posição e seu poder Na verdade, osilêncio do analisa é um silêncio de reseva e, sobreudo, de ignorância, já que, a igor, o maerial com oqu ele abalha é a ignorcia do paciene sobre simesmo.

• • •

Leclre faz uma pequena observação sobre oema:

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Peo, ncalmente, no famoso slênco do anasta: ele é cal

culado, nãohá dúvida, e prudene, é verdade. Mas, em úlimanstânca, ele é sobreudo slênco consando, porque,se o pscanalsta não é absolutamente neóto ou nteiramentengênuo, ele não sabe mais o que dzer, nem, sobretudo, comozê-lo, por não saber, com certeza, o que falar quer dzer e deonde se proferem as palaas enuncadas. l3

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A respeito do silêncio, z Lacan: 14

Nessa partda a quatro (na stuação nalítica há dos sujetospresentes, mas cadaudeles provdo de dos objetos que sãoo moi e o ouo, esse ouo com o índce deu pequeno a

autre - nc), o ansta agrá sobre as resstêncas scatvas que retrdm, em e desvm a plavra, ao inclurnesse "quatuor o sgno prmordal da exclusão, conotndo oou - ou bem - da presença ou da ausênca, que destaca formlment a morte ncuída na Bldung narcísca

) Isso snfca que o ansta ntevém concretamente nadétca da anlse fazendo o morto, cadaverzando" suaposção, como dzem os cneses, seja aavés de seu sênco,

l onde ele é o Outro comu

ande A (Autre), seja anulandosua própra resstênca, lá onde ele é o ouo comupequenoa (autre). Nos dos casos, e sob as ncdêncas respectvas dosmbóco e do magnro, ele presentca a morte.

É convenente que ele recoeça e, portnto, dstnga, suaação em um e outro desses dos regsos, pra saber por queele nteém, em que nstnte a oasão para ntervr seoferece, e como agr dnte delaA condço prmordal é a de que ele seja penetrado pela

derença radcl do Ouo a quem sua plavra deve seendereçr, e por esse segundo ouo que é aquele que ele vê,e pelo qul o prmero le fla, aavés do discrso que ele nãocessa de emtr. Porque só assm ele saberá ser aquele a quemt dscurso se endereça

•••

. ) se a ansferênca se torna muto ntensa, produ�seufenômeno crítco que evoca a resstênca so a forma masaguda pela qual ela se mfesta: o slênco . . . ). É precso dzertmbém que, se este momento chega em tempo oportuno, oslênco toma todo o seu valor de slênco - ele não é smplesmente negatvo, mas ve comou para além da pavraCertos momentos de slênco na ansferênca representm aapreenso mas aguda da presença do ouo enquanto t. 15

•••

Volteos a nossos planetas. Por que eles não flam? ( ) Fzesta pergunta au emnente lósofo A questão não pareceuembaraçálo Ele me respondeu: Porque eles não têm boa 6

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É n medid em que o nalist é esse semblante de dejeto(aqe ele inteém no vel do sujeito$, ie, do que é condiondo:

lo que ele nnci;

2 lo que ele não d.

. . . ) O silêncio corresponde o semblte de dejeto17

•••

Qndo perceberão que o que prero é um discurso semplrs? (26 de setembro 68.) 1

•••

O Es prece a sob a fo que lhe dâ Freud, n medidae qe ele o distingue do inconsciente, a saber logisticamente disjunto e subjetivamente silencioso (o silêncio dspusões 19

•••

Mosemos que não hâ pl sem respost, mesmo queel só encone o silêncio, se ela tem m ouvinte ( Ai, o nlist nlisa o comportmento do sujeito pra

enconar nele o que ele não Ms pr conseguir

cossão, é preciso que ele fle Ele recupera, então apr, ms tod suspeit r só ter respondido dinte dderrot de se silêncio, dinte do eco percebido de seu própriond 20

Perguntemos de onde vem est usção? Serâ do silêno do nist? Um respost, mesmo e sobretdo provdor, com m pvr vzi, mos eqüentementer su efeitos que el é mito mis snte qe oêncio

•••

orqéo qe fz o t l plvr do sjeito, mesmo n coê- no silêncio do qe ct Porque esse

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slênco comporta a palavra como se vê na eressão Mguardaro sênco" que pa f do slnco do ansta não querdzer apenas que ele não faz brulho mas que ele se cala aonvés de responder22

•••

Éna medda em que o ansta fz car em s o dscrso ntermedáro para se abrràcadea das verdaderas paaas, queele pode colocar sua nterpretação reveladora.23

•••

O ser do ansta está em ação mesmo em seu slênco e é naestagem da verdade que o sustenta que o sujeto proferrá suaplavra. 24

•••

Donde a mportnca da ndcação dada por Freud a prtr desua eerênca: qundo o sujeto nterrompe seu dscrsopode-se estar certo de que o pensamento que o ocupa se refereao anasta25

( . . ) o que espermos da resposta do sujeto, quando lhecoocmos a pergunta estereotpada, que eqüentementeo berará do slênco que assnala pa o pscanstaesse momento prvlegado da resstênca é que ele mosequem fala e a quem: o que consttu ma únca e mesma

questão. 26

••• 

O sgncante que se clou no sujeto fz de sua note, brotrncalmente m fexe lmnoso de scação sobre a face dorel depos faz o rel se lmnar de ma gurnca projetada de sob seu embasmeno de nada�7

•••

Rosto fechado e boca calada não têm aqu a mesma ndadeque no bridge. Por essa via o ansta lança mão do ue se

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chama neste jogo, o morto, mas pra fazer srr o quarto,aqele que, de anisando, vai se tor aqui o pceiro e cuoista vai, aavés de ss manobras, tentar fzer com quele ae o qe tem na mão.2

•••

E me calo Todo o mundo cocorda que com isso eu usoquem me fala, ele em primeiro lugr, e eu tmbém Por quê?

Se eu o so, é porque ele me demanda guma coisa 29

•••

De reso, o sentimento mis aguo de sa preseça (preseçado aista) está ligado a um momento no qu o sueito sópode se car, i e , no qul ele recua mesmo diate a sombrada emaa3

A terceira rmação se iere os aforismos o lusco-fuscoos quais teia o estuo sobre o Ego e o I ( ) surgio sobo temo do siêcio o que as puões e morte frim reir oIsso31

••

Um reseatório, sim, se quiseos, eis o que é o Isso, e mesmouma resea, mas o que se prouz ele de prece, eúcia,aiso, vem e fora e, se ele se acmula é pra domir Aquise dissipa a opaciae o teo euciao o Isso, oe osilêcio reia: pois que ão se ata e ma metáfora, ms e ma atítese a ser perseuia a reação do sueito com osicante que nos é exressmente desiada como pusãoe morte

••

Ela só encona esta qestão (sobre o Isso) à q o sueitonta o sicante , ela só ecoa o eco do silêncio daplsão de morte ( ). 3

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•••

Uma éca se anuncia, convertida ao silêncio, pela avenida nãodo temor mas do desejo: e a quesão é sabe como a via datageice da exeriência analca conduz a ela.

Nós nos calemos aqu sore sua dreção práca3

•••

Ciaremos gor um trecho d ul do di 12 debril de 1967 do seminário inédito A lógic do an-tsm", ranscrito e comentdo por A. Frini,3 noqual Lac algums obserções sore o silêncio.Eas se sium no conteo d eborção d órmul: Areção seal não exste" Ee retom disnçãoere tacere e slere3 e se pói n denição do sujeitoem su relção cm linguagem. Há portnto, o cl-se e o sêncio. Crse é ributo do sujeito d mesmforma qe nção d pavr Mais ind, no to docrse cmin essênci do sujeito: Qundo

deada se cal d Lcan, comenando o lgoritmoS< D, a pusão começ" Ms, se o sujeit é um eeito(ou m fao) d lingugem, o o de calse não o liberdel.37

nes de evoc o slere, depois o tcere, cnot culdde d o ene um e ouo ontrobscur, d ele, eni do tacere, eni d presenç

do mudo animal onde, por muito tempo, situos osdeuses Enigms cujos eeitos orm pouco pucdesprecendo em nção d parição d ciênci ,s dendo como resíduo contemporâneo obi dosnimais

Atulmente, o slêncio eteo só nos ntl mede, porue ciênci uls sujeit d

lngem El cr sus órmulas com um nueesvid do sujei e, crescent cn, ess rejeiçãodo sujeito par or do simbólico e su repição noreal têm um eeito n histór d ciênci. Este eeito é nov lingüístic

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Mas, se consideramos um momento no qu ainagem é desarrimada" do sujeito, devemos entãoconsiderar que a inguagem fa? Sim, diz Lacan, a purangagem fa, fa uma ase cuja questão é sempre

ber uem a iz. Este momento é o inconsciente Estapaavra da inguagem, este momento no qu fa ainguagem, um siêncio a acompnha. Este silêncio é oato se O siêncio na pavra da inguagem" é o atos

Ora, de que fa a inguagem qundo ela se encona assim desrrimada" do sujeito? Ela fa de sexo e

ea não fa das coisas sexis, mas se ela fa de sexo,diz o sexo a verdade? Podemos fr para nada dizer, ouizer coisas sem far, mas não é o caso do inconsciente,diz Lac A verdade fa Ela não precisa dizer averdade Este curto desnvovimento encontra-se emuma das fórmulas que Lac emprega nessa aula do dia12 de abri de 1967: "Alinguagem fa de sexo, com uma

pavra tenz, obstinada a forçr o silêncio que aqui érepresentado peo ato sexl"

•••

Todos os rtgos citados são atavessados por umaidéiaprnceps sobre o siêncio do nista ee é um dos

eixos rticuadores do espaço nítico e um elementoestrutur deste espaço

A prática nítica se desenroa, portnto, nosimites de um espaço suportado por um slêncioescuta" ugr do nista o qu tem, segundo aopinião dos autores, duas nções distintas:

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o siêncio tem como nção a constituição doobjeto trnsferenci" ou do cas nítico",representado pea igação de dois aparelhospsíquicos, um no outro, separados por umadiferença de potenci signicativo (cf Green);

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• o slêno evide a "cadaveração a siçãodo lista (cf Lacn) ou o estado de vacuidadeiterna (cf Bion) ou, inda, aponta pra anção da ausência que o nista deve encr-

nr (cf Mnnonn

O que constitui o divisor de águas a respeito damneira pela qul é pensado o silêncio (e a iterpre-tação), como fenômeno raicmente singulr da ex-riência nlítica, é a dimensão do desejo enquntolastendo a direção da cura e como ndmento dafltaemser.

Pra os nlistas qe, como Green, considermqe o slêncio tem como ção a constituição do "objetonsferencil ou do "casl lítico, representadopela ligação de dois aprelhos psíquicos, um no outro,seprados por uma dferença de potencil signcativo,a fnção da intepretação é a da duplicação do discursodo sndo Há uma coautoria no abo líco,

e a renovação das representações psíqucas equntoorientadoras da ireção do processo tem se lastro naconcepção proposta pela escola inesa (Winnicott eBlint, sobretudo), que considera a nlise uma ee-riêcia de reparação Neste sentido, podemos apro-mr o desejo do nlsta à posição do primero Outro,que nomeia pra o aquilo que, até então, não ti

ha sentido e ão era reconhecido como próprio suamgem eslr É oS considerdo em sua vertentemaginria

Pa os que cosiderm o anlista (enqunto SsS),como um dado da estrutura do inconsciente, ie, o SsStomado em sua dmensão simbólica, o slêncio, atraves-sado pelo inomeável do desejo, dei de ser o eniático

vio que sustenta a posição do ista pra se torno próprio do desejo do nsta É o desejo do anlistaque sustenta o processo ítico Desejo este bastnteprticular: não é desejo de silêncio, mas desejo derepetição Enqanto o anlisndo rete o desejo o

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lsta dsja a rptição i. o dsjo do lista édesejo d anlsta dsjo d fzr mrgir no outro(aalsndo) o sabr suposto ao outro da cna o analsta), por suposto passível d sr suprimido. Sabr

e sujito são mantdos o qu ca, como djto, éa suposição O silêncio, como simulacro do objto aé o silêncio da suposição d sabr imputada ao ana-sta

Entr tacere silere o anlista xrc sua funçãoNão função d silêncio inoprant mas função d atonqunto plavra intrprtativa a qul por sua vz

rmt ao slêncio Porqu o silêncio só est porqu aplavra o circunda, vicvrsaO nlista na vrdade cla ao interprtr, pois a

ntrprtação não diz nada; ela apnas sobrtudo r-vla. Rvelr. Rvr vlr, sta é a função da intrpr-tação Rcolocr m cna o smpr sabido o dsde sm-pr lá eatriado pla força do rclqu vlr nosnido d qu o ato nlíico inova ao rpir o qu dopensmnto infntil qur prmncr assim, qu pors rconhcr nqunto tl, produz um novo signi-cant

O pnsento infntl aponta pra os objtos pul-sionis a intrprtação funciona como brra porqusfoma o corpo pulsionl m dscurso O rl do corpo é atavssado plo qu dl s pod dizr: corpo sim-

bólico, fito signicnt corpo incorpóro ainda qupara smpr coisa corporal, indizívl dtrminnt

A intrprtação só é produção signicnt porquela s torna objto voz uma das máscras do objto a)A intrprtação é voz nutra qu não prtnc nm aonlista nm ao nlisndo mas é produção dsspaço trciro qu é a mnifstação do Ouo nqunto

articulador de setdo tanto para o anlista quanto parao lisndo

O silêncio, tanto quanto a interprtação remt aomesmo regisro: o da flta A plavra ntrprtatvadvém quando não é esperada la ocorr qudo nã

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é chmada Portanto, ela é menos plavra renovadora ems revelação inovadora Nada precisa ser criado,porque tudo já está lá, dito em silêncio na outra cena,desde sempre.

Esse silêncio da revelação presenica a flta queordena o simbólico e possibilita a produção de novossigniicantesA se situa a nção mutativa do silêncio.Porque o silêncio aponta para a escassz, para aausência de certezas, condição da cadeia em sua polis-semia signicante

Toda a dialética da anlise se processa entre otacere e o silere. O tacere é o silêncio daquele que nãosabe o que dizer, e, portnto, acredita num dito por vir,e o silere é o silêncio que aponta pra a verdade, esta,r dção, idzíel. O anista começa na posição dotacere (a posição do SsS) e termina em silere: ele nadapode dizer, pois a verdade de seu desejo remete a seusabr sobre a lta/castração/dierença sexul

O silere a verdade indizível é o que az danise o que ela é: aventura terminável e interminável,i.e., aventura que termina qundo começa, porque éitrminávl começo Começo como tentatva semprereitrada de tecer sobre nada véus que realcem esigniquem os contornos imaginados para nada.

Cada um, para se constituir se torna porta-voz; em seguida

para se aperfiçoar se torna porta-silêncio e nmene,consaação suprema do ser humano se torna portanada(Caude Lae).

NOTAS

1 . A esse respeito, coerir as observações de:

Reich, W. 1 933, Analyss dei caracter, ed PidosBuenos Aires 965.

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Glover Edward 1938, Tchnqu d la Psychanalysed PUF Pis 1958.

2 Bion W. R, 1970, L 'Attnton t L 'ntrétaton PayotParis 1974

3 Op cit p 48

4 Op. cit p. 67

5 Green André. Le Silence du Psychanayste" in Topqunº 23, ed pi aris 1979

6

7

8

9. 

Op. cit p. 7

Op cit. p. 12

Op cit. p. 19

Op. cit p. 22

Green usa o termo ligação (branchmnt) no sentidolitera que essa palavra tem em francês ou seja: pas-sagem de uma corrente de energia que fz funcionar umapreho (a igação de um apreho eléco numa tomadaé um branchmnt").

10 Op cit. p. 23

1 1 Mannonn Octave Le Silence" in Psychanalys tPoltiqu ed. Seui Paris 197 4, pp 188- 191

12 Op. cit. p. 190

13 Leclre Serge. Démasqur l Rél ed. Seui Paris1971 .

14 Lacan Jacques Chos Frudnn" in Éri ed.Seuil Paris pp. 430-431

15 L Sminair livre I , Ls écri tchniqus d FrudParis Seuil 1975, pp 312-313

16 Le Sminair v 11, L moi dans la théor d Frud tdans la tchniqu d la psychnalys Paris Seuil 1978,

pp. 234-235

1 Silicet 6/7, Paris Seuil pp. 6263

5

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18 Note de Jacques Lacan i Enjance aliénée, númeroespecial de Recherches, dez. 68 p. 152

19. Seminaire sur "La lettre volée, p. 55.

20.Função e campo da palavra e da linguagem em psicanálise, i , Paris, Seuil, 1966 pp. 247-248.

2 1 . Função e campo da palavra e da linguagem em psi-canálise, in , Paris, Seuil, 1966 p. 249.

22. Variantes da cura tipoiÉ, Paris, Seuil, 1966 pp.350-351

23. Variantes da cura tipo in , Paris, Seuil, 1966 p.353.

24. Variantes da cura tipo in É, Paris, Seuil, 1966 p.359.

25. Introdução ao comentário de J. Hyppolite sobre "ANegação de Freud, in , Paris, Seuil, 1966 p. 373.

26. Introdução ao comentário de J. Hyppolite sobreA Negação de Freud, in , Paris, Seuil, 1966

p. 375.

27. De uma questão preliminar a todo tratamento possívelda psicose, iÉ, Paris, Seuil, 1966, p. 561

28. A direção da cura e os princípios de seu poder, in É,

Paris, Seuil,1966

p.589.

29. A direção da cura e os princípios de seu poder, iÉ,Paris, Seuil, 1966 p. 617.

30. A direção da cura e os princíios de seu poder, in É,Paris, Seuil, 1966 p. 618.

3 1 . Observação sobre o relatório de O. Lagache "Psycha

nalyse et structure de la personnalité, in , Paris,Seuil, 1966 p. 658.

32. Observação sobre o relatório de O. Lagache: "Psychanyse et structure de la personnaité, iÉ, Paris,Seuil, 1966 p. 659.

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33 Observação sobre o relatório de D Lagache: Psychanalyse et sructure de la personnalité, in Ért, Paris,Seuil, 1 966, p 667

34 Observação sobre o relatório de D. Lagache "Psycha

nalyse et structure de la personnalité, in Ért, Paris,Seuil 1 966 p 668

35 Lacan, J. "A Lógica do Fantasma, seminrio inéditocitado por A Franzini, no artigo Une aphonie éloquente inL Silence en Psychanalyse sob a direção deJ. D. Nasio, ed Rivages Paris, 1 987

36 Nasio, J. D in L'inconscientà

venir, Burgois, 1 980,p 32, lembra que esa disinção esá presene nos enunciados da escoa céica pirroniana " o caar-se comoreserva diane daquilo que não se compreende e osilêncio como efeio da própria verdade

37 De reso o senimeno mais agudo da presença doanaisa esá ligado a um momento no qual o sujeio sópode se caar, ie no qual ee recua mesmo diane dasombra da demanda Lacan, in A direção da cura Ed Seuil, p 68

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FTASM, VERDADE

E REALIDADEJoel Brman

I- DO ALISMO TRUMÁTICO AOFANTASMA

Qul o lugr do ntasma na esutura psíquica,nteoria e no processo psicanlíticos? Essas questõesestão evidentemente articuladas, mas não pretendemos respondêlas em sua totlidade Para sto, serianecessário retomar em detalhes o conjunto do percursoeuno e u deobrmentonhistória do mentopsicanlítico Limitarnosemos a ndicar lguns pon-

tos relevantes sobre o lugar do fantasma na teoriaeuana.

O momento decisivo para a consttuição do conceito de fantasma se rea em torno da crítica eudiana da teoria traumática das neuroses udo Freudrevela a Fliess, em 1897, que não acredito mas emminha neurotca", 1 ele retoma de forma sistemática a

desmontagem de sua formulação anteror sobre o lugarda sedução sexal e de seus efeitos traumáicos nagênese da histeria e demais psiconeuroses Com sso,eud supera uma concepção realista" das neuroses epassa a postular que as cenas sexais descritas pelos

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histéricos não terim acontecido dejato, mas serimproduçõe de seu espaço psíquico

Nessa inexão, Freud reiza a construção teóricado espaço psíquico considerndo sua relativa autono-

mia dos acontecimentos Assim, o capítuo metapsico-lógico de A interpretação dos sonho" foi a primeira sis-tematização teórica desta autonomia atribuída ao espa-ço mentl do sujeito, 2 no qu a questão do fntama seencontra presente como eixo que permeia a totlidadeda obra, através da formulação de que o sonho seria areização alucinatória do deejo3 Com io a cena de

sedução hitérica marca origináia do fantasma nodscurso freudino se transforma numa cena fn-tamática, pela qu se reliza o desejo do sujeito

Nos Trê ensaios sobre a teoria da sexidade,em 1905, Freud indicou como a estrutura mentndada no deejo se centra no corpo ibidin doueito No que concerne à teoria do fntasma, cabe

subinh, nete contexo, que Freud não abandonasipesmente a idéia de sedução, mas retomaa emoutros tero Co efeito Freud agora conidera n-dment pa a erotização do corpo do infante a presença dos cuidados maternos, de forma que a guramaterna peverteria" necessriente a ingenuidadenatur do corpo infnti para que o infante se constitua

como sexuado4

Evdentemente, com a ruptura teórica assinada,Freud estava reordenando a interpretação que relizavade sua eeriência clínica e, com isso, procurava traba-h com conceitos mis rigoros, já que nesse momento crítico é fundament considerr eu egado terior.A iusão aqui estaria em pens que essa reformuaçãoteórica pudesse se reizr sem conferir o devido reevos intuições anteriores ou, o que vem a dar no mesmo,como se Freud recomeçasse outro cminho após tertrihado uma via errada" Enm, a formuação sobre odesejo e o fantasma teri coocado Fred na trilhacorreta"

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Entetnto, isto não coesponde absolutamente àvedade históica, nem exinndose etospectivamente a tajetóia feudiana, nem considendose posteiomente este pecuso Com efeito, na mesma carta

em que asseguava a Fliess sua descença na neuo-tica", Feud amava, como intodução ao assunto: énecessário que eu te cone em seguida o gnde segedoque, no co dos últimos meses, se revelou lentamente. "5Contudo, este segedo, no qual a teoia da sedução easupeada e o fantasma ea sublinhado como novo eixoque noteava a intepetação clínica, não ea tão seceto

assi, pois a leia cuidadosa da coespondência comFliess indica como a conceituação do ftasma vi sefzendo pesente, em 1896-1897, de foma cescente,como que pa soluciona as contadições colocadaspela hipótese taumática Qunto ao pecuso poste-io, cabe estabelece como o eismo" taumático nãodesaparece face à emegência do fntasma mas pe-

siste tansguado coo uma indagação básica dopensamento feudinoA insistência nesse ponto é impotnte, pois a au-

tonomia confeida à estutua psíquica como objetoteóico e o econhecimento do lua do fantasma nasedução histéica foam consideados, numa epesen-tação coente da históia da psicnálise, uma uptuacom o elismo" ateio Como se, desta mneia,descobindo o campo do fantasma, Feud pecebesse oeo" de seu elismo" e ponto Fiat lux: nasceu apsicnálise Entetanto, sublinhr a distoção destaintepetação não se estinge a uma mea questãoescolásica sobe a históia da psicnálise, pois elaoienta uma leitua do ato psicanítico que cabe pontu

Nessa distoção váias questões estão em pauta.Iicilmente, a tentaa de fze coesnde o unesodo fantasma com a representação do erro, sendo esteconsideado o paadigma da nãovedade, e onde,conseqüentemente, pocuase aticul a poblemática

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da verdade om a da redade Ve dzer cabe ressa a descobera freuda a serção do fasma aprobemáca da verdade e procur esarticu esaprobemáca em pscse de uma reguação pea

ógca do erro so é que se fuda a oposção verdade/erro Aém dsso qu o deso do "resmo opesameo freudo? Ou eão para ode se deso-cou a represeação do rauma o scurso psca-co?

li - REALIDADE PSÍQUICA E VERDADE

A cosução do coceo de faasma codesaduas descoberas mmee arcuadas a qu aprmera é a codção de possbdade da seguda: aesêca do psqusmo como Fantasmante e o es-abeecmeo do psíquco como objeo eórco especco

Pra que esa auooma epsêmca se rezasse foecessro que se fudameasse a desarcuação dopsqusmo com o que é deomado "redade oseso comum

Assm as seduções sexus que eram comumeereveadas peos hsércos o curso da cura caárca6passrm a ser cosderadas por Freud crações for-

jadas peo magáro desses pacees as quas ãocorrespodm a ququer acoecmeo hsórcodemado Do de oura maera: fragmeos de ex-perêcas vvecadas serm rercuadas peaavdade psquca do sujeo que assm hes atrburaum ceáro com persoages e posções deermadas,e precpra o sentido desas eerêcas Eão oacoecmeo ão é em s mesmo raumáico esandoese efeo a depedêca das possbldades de sm-bozação do sujeo. Aém dsso a eerêca org-ára só é raumáica a posteror, qudo sa cogu-ração se choc com outra cea de esrura somorfao que permra que a cea orgára fosse erpre

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tada Portato, o sntoma sera a resultte dessempacto nterpretante, indcando Freud, desde o Pro-jeto de uma Pscologa Centíca", a lógca da duplatemporaldade que articula o sntoma7

Nessa perspectva, mpõese a egênca teórcapara construr uma outra modldade de hstóra, deforma que esta se descole do tempo crnológico e senda numa temrldade que seja d regso de ouaordem lógca: o tempo mítico Neste, o que mporta é angração ornára do sujeto, a nrrava d eade suas orgens, pressuposta por seu fantasmar

Nós sabemos como, posterormente, Freud forjouo conceto defantasmas originários .8Se desartculamosestes do regstro bológco onde Freud os enuncou,lgada à déa de flogena, poderemos apreender admensão mítca suposta por Freud na consttução dosujeto Esta dmensão se artculava desde Totem etabu, com a hpótese mítca da morte do pa da horda

prmtva pelos hos.9

Assm, com estes pressupostos,eud ndmentaa a constução do sujeto no Ouo,em esquemas présubjetvos, e então os fntasmasorgnáros dcavam a mera pela qu o sujetonterpretava derentes engmas undamentas de seuser, tecendo mtos sobre suas orgens fantasma dacenaprimitiva, lgado ao engma da estênca do suje-to fantasma da sedução, voltado para o decramen-to das orgens da sexldade; efantasma da castra-ção, que pretende nterpretr o engma da dferençasexl. 10

Por não consderar essa abertura fundante dosujeto no Outro, representado pelo poder interpretanteda lnguagem, e na qu o sujeto encontra o suporteprésubjetvo para sua constitução, é que o ensao de

Susa Isaacs sobre o fantasma 1 1 revela sua maor frag-ldade teórca Esta ausênca de preocupação com alnguagem se apresenta neste texto tanto de ormalterl, quanto de manera mas orgânca na tculaçãoque a autora pretende relzar da estrutura do an

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tasma Assim, com a insistência de que o fntasma seconstitui num momento préverbl do desenvolvimentoinfani, S Isaacs confunde a possibilidade de o sujeitoreizar o exercício da palavr e o poder que o discurso

do Outro tem em sua ndação enquanto sujeito,mesmo que o infante não seja ainda um agente da fana primera pessoa 1 De forma orgânica, esta concepção tem como correlato a redução do fantasma auma emanação direta da pulsão, como se o ftasmafosse o autoproduto inelicável do corpo erógeno, emque a pulsão se inscreveria no universo da represen-

tação sem que se considerasse o lugar mediador doOutro nesta inserçãoPorém, muito ntes de constituir o conceito dep

tojantasma, Freud já indicava a oposição entre tempocronológico e tempo mítico de outras maneiras Comefeito, a utilização recorrente de agmentos da racio-nidade histórica em grnde ensão no nl do

séculoXIX13

pra interpretar a orgnização dossintomas e a insistência com que aprece em seudiscurso a metáfor da arqueologia são exemplos eloqüentes de como esta problemática se encontrava pre-sente de forma sistemática desde o início do percursoeudiano. Assim, as imagens repetidas sobre as váriascmads" que consm os sintomas, a distribuiçãodestas camadas" em tempos diferentes da história dosujeio e o desaque conferidoànoção de contexo, ondese inseririm os diferentes agmentos da eeriênciapsíquica, abund nos Estudos sobre a histeria"14 ena correspondência com Fiess Posteriormente, estaosição de temporidades v r rada no discursoeudiano no contraponto entre tempo histórico e teopré-histórico, em que se atribui à strutura edípica o

poder na reestruturação na ordem do tempoEntretanto, a essa oposição tempo préhistórico/

tempo histórico se cu váas ouras, que serepetem no texo freudino e procuram tornar consistente a probemática que estamos delineando: processo

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primrio/processo secundrio, representação de coisa/representação de palavra, inestência da negaçãoIestência da negação 5 Estas oposições remetem praa oposição sistemática que funda a tópica psíquica: in-

conscienteIpréconscienteconsciente. Assim, o ncionento psíquico remetera insis-tentemente pra sua constituição enqunto psiquismo,numa reprodução permanente de suas condições deestência. Seria esta ordenação básica da tópica doicosciente que de pra eud a alidade psíuicaproprimente dita A relidade psíquica não corres-

pode ao psiquismo em gerl, tl como foi defiida pelapsicologia conscienciista, mas ao locus que se consti-tui em toro do reclque primário e por seus efeitos.

Desta meira, Freud estabeleceu o cmpo darelidade psíquica como objeto autônomo de investi-gação, cotrapodose à realidade material que consiste a totlidade dos processos físicos e sociis Foicom o cmpo da reidade materil que Freud teve deromper pra constituir o espaço teórico da relidadepsíquica, sedo, então, este realismo" o que estava emquestão no momento decisivo em que formulou o conceito de fntasma e inseriuo na reidade psíquica

Em função dessa diversidade fundmental, a reli-dade psíquica deve ser investigada por um saber que seregule por outros critérios de verdade, diferentes

daqueles que são cosiderados na pesquisa da relidade materil Este é o cmpo das ciências por ex-celêcia e, no tem de Freud, das ciêcias da naturezaNestas, este a suposição de um objeto a ser conhecidoque se situa na exerioridade do sujeito e cujos contor-nos este procura deliner com seus instrumentos ra-onis. Este objeto a ser conhecido e ser considerado

existente em reidade, como na tradição empirista, oupressuposto, construído pelo sujeito do conhecimento 7Esta última tradição se desenvolve principlmente coma revolução copernica de Kt, na qu o sujeito doconhecimento é colocado no centro da constituição do

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aber Aim, extra a mpobildade de e captr acie que nt denomnava de númo , já quea coa omente podera er apreendda atravé darefraçõe produzda pelo apror do ujeto, a começ

por ua ncluão na coordenada do epaço e dotempo Enm, o ujeto podera conhecer apena o

fenômeno e não a coisa em si. 18Sabemo que Hegel procurou uperar a concepção

kntana, que impuha lmte aboluto pra a apreen-ão da coa em , pela colocação em prmero plno dacategora de htóra 9 Com o, o ujeto paa a er

dendo como endo um ujeto htórco e, da memaforma que o ujeto, a coa em perde eu cráteraboluto, remodelndoe pelo tempo htórco Netaperpectva, a htóra recebe a marca do aboluto eda totldade, que vão er devolvdo ao ujeto no -nl da htóra, quando o ujeto atngr o epírtoaboluto

Na egunda metade do éculo XIX a looa lemãpromoveu um retorno teórco a Knt e uma crítcatemátca a Hegel, movmento conhecdo como neokntmo 20 A cênca emã e engaja neta elega eneta opoção, eando com so a relevânca teórcada ruptura Neta conjuntura, o que etá em caua é acrítca de uma concepção totlzante do aber, repre-

entada pela looa hegelna. Am, é ace ao d-curo loóco com a pretenão de er uma vão demundo, uma Weltanschauung, que e retoma a looakta, de mera a conerr a devda epeccdadeao abere prtculare

Fo nea tradção que e neru Sgmund FreudQundo no nl de ua vda, elarou um eno crícoface à tentatva etente de pretender tranormara pcále numa vião de mundo,21 Freud etavarearmando não ua opoção ao dicuro loóco noentdo genérco, ma a uma looa com pretenãototlizante, como hitorcente o repreentada alooa hegelana

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Assim, mesmo não sendo empirista e flindose adição neokantiana, Freud supunha a ciência comosendo um discurso construído sobre um objeto eeriorao sujeito Nestes termos, qualquer saber cientíco

pretende ser um discurso adequado a seu objetoestindo, então uma concepção de verdade nesta modlidade de conhecimento baseado num paradigmadedo pela osição verdade/erro Esta seria tmbéma pretensão da psicanálise qundo esta se coloca comoum saber cientíco e mesmo supondo que não esteseparação absoluta do sujeito e do objeto no campo das

ciências humanas, esta questão epistemológica vai secolocar de modo anlogo no campo destes saberes.Entretnto, a psicanálise freudiana não resolveu

as contradições que coloca a cienticidade de seu saberpor sua inserção no discurso fenomenológico, o qulopunha ciências da natureza/ ciências da cultura e quese fundava nas oposições causa/sentido e elicação/compreensão. Assim a interpretação pressupõe ametapsicologia e viceversa Freud supunha o sujeitondado na interpretação e fadado ao destino da interpretação exatamente porque as pulsões não se inscre-vem totlmente no registro da representação e insistemcomo "restos que demndam uma interpretação inter-minável Com isso colocase em pauta uma outra nãode verdade para o sujeitointerpretação construído pelapsicanálise Ora o sentido destacado pelo deciframentopsicanlítico não se reduz ao sentido delinead pelacompreensão fenomenológica exatamente porque osentdo se constitui e se remodela para o sujeito narelação com o Outro de maneira que o sujeitointerpre-tação do discurso freudiano é ndentalmente umsujeito intersubjetivo

Para circunscrever ainda mais o cpo destaverdade e deste sujeito destacados por Freud vamosretomar novamente o lugar de inserção do sujeito dodiscurso cientíco. Assim, a avidade constittiva destediscurso é articulada por Freud às estruturas mis

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eeriores do psiquismo que se relacionm com arealidade materi A consciência e o ego, nas duastópicas euianas, são as instncias impicadas naconstrução da verdade da realidade materil Portanto

estsitca eso regulads basicente pea busda verdade que se nda na adequação com a supostarepresentação da coisa.

Entretnto, a novidade do pensmento eudianofoi formuar a exstência de um sujeito que transcendea consciência e o ego, que se situa num mais além queo funda. O que equivale a dizer que o sujeito é basi-

camente iviido instaurado por uma civagem(Spaltung) que o constitui e marcado por uma verdadeque trnscende a consciência e o ego Frente a essaverdade, estas instâncias estão assujeitadas e para secontrapor a isso pra manter a cção de autonomia doiniíduo face ao Outro nçm mão de cóigos deveracidade que são adequados à reidade materil

Seria esta verdade sem adequação relista" com acoisa a fornecer consistência à reidade psíquicaconsttuindose dos traços pulsionais e das marcasidentcantes deadas como resíduos da relação com oOutro.

Essa verdade se regula pea oposição ser /não serque a dene deforma absoluta, não exstindo nuancespossíveis entre os póos da stência e da não exs-tência Por isso mesmo esta verdade não é passível decoeção pelos cóigos de adequação da reidade ma-teril, pois não se regua pea oposição verdade/erro, e mntém em sua tessitra indeével ard retóricada persuasão e da voência No cpo da realidadepsíquica o representnterepresentaçãodpusão stede forma absoluta como Freud ncava cin1camente

na onipotência de pensmentos" da neurose obses-siva22 e na compulsão de repetição23 Portanto face asta verdade imperativa que se apresenta de formaagmentária exste somente a possibilidade de fazêaoir nteiramente na cena psíquica e na reação com

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o Outro propcdos pe trsferênc Dest mner, verdde em put pode se evidencr totmente en-qunto dscurso, ectndo sus condições de estênc, de form possbtr geneog do sujeito.

eud eseceu ess verdde sngr que mrca hstór mítc de cd sujeto consderndo o que lhejalado por seus nsndos A verdde se presen-tv n nterocução do sujeto fce um outro, mesmose o que er fdo correspondi o bsurdo de cordocom os crtéros de pertnênc d redde mterAssm, no fr, verdde erditapeo sujeto em gum

momento, mesmo contrrndo s egêncs d cons-cênc e do ego Por sso mesmo, obsessão bsurddo Homem dos Rtos" (que Freud nomev de deíro)z verdde,24 ms est se encontr num outro cenárodo qu cbe esbeecer os contornos, d mesm formcomo o deíro de Schreber, que Freud promv emguns pressupostos com teor pscnítc25 ou,então, nsstênc utogente do mencóco querm um verdde crue o se deprecr 2

Po sso mesmo, o dscurso freuno restbeeceu eerênc d oucur no regstro d verdde, posest eerênc tnh sdo excuíd deste regstrodesde o sécuo XII, qundo começou se rezr onde processo de encusurmento d oucur nsocedde ocdent, e que constituu s condçõesstórcs de possbdde p emergênc d ps-qur no sécuo 27 Est pssgem do Rensc-mento, no qu o ouco z verdde sobre o mundoe sobre s coss, 28 pr Idde Cássc é representdno scurso osóco peo pensmento de Desctes, noqu oucur fo nserd no unverso ddesrazãoe forermd neste ugr pe trdção osóc dos

sécuos XII e XIII 29 O unverso d rzão crtesn,no qu oucur não d ms nd de sensto, é ouniverso d cênc e d reldde mterl. Pr esteuniverso, oucur não present màis ququer verdde, pos é reveção prgmátic d desrzão

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O discurso de Freud se contrapõe a essa tradição apesar de sua egência sobre a cienticidadeda psicise. Esta cienticidade foi fundada em ou-tras bases e colidia com os câones denidos por

essa tradição histórica pois inseria no registroda verdade o que oi excluída pela razão cientíca. Nes-t perspectiva Freud destacou que com a psicaná-lise oi estabelecida a veracidade da "teoria demo-nolóca a Idde Méia aceà conceões da meicnaposivitista:

A teoria demonológica daqueles tempos de trevas venceu f-nalmente todas as concepções somáticas do período da ciência'exata. Os estados de possessão correspondem à nossasneuroses e para a exlicação dos mesmos emos de recorreruma vez mais aos poderes psíquicos. Para nós os demôniossão desejos maus e repreensíveis, derivados de pulsões quefoam epudiadas e ecalcadas3

Da mesma forma Freud vai se reerir à metapsicologa o cume da ciência psiclíca pra os setoresmis "cienticistas da psicanlise como "nossaeiticeira. 31 Enm com o destaque conerido à verdadeda demonologia da feitiçria e das bruxas que sedeslocam da dimensão cósmica do mundo medieval e seinserem na relação do sujeito com o Outro reencontra-mos a problemática do fantasma como constitutivo darealidade psíquica.

É nessa perspectiva que consideros a oposiçãoestabelecida por Lac entre ciência e verdade poisdestacar a verdade da realidade psíquica é se contraporà onga traição que inseriu a verdade no registro dosaber científico e da reidade materia32 Desde 1936,

Lacan já assinava esta preocupação teórica no artigo"Aém do 'princípio de reidade, quando questionavaa cienticidade da psicologia que se centrava na apreensão da verdade da crise cognoscíve e se transformounuma psicologia das nções inteectuais3

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111 - DO FANTASMA AO R

Vos sublinha alguns signos com que Feud

guou ess vedde, pa etom o conceito de fantsm Inicialmente pocuou desvenda o soimentostéico es deonou com s mcsd eiêncisd sedução sexul, moes impossíveis e desejos in-teditos Em seguid, elivizou o peso do contecimento no tum e postulou tividde do sujeito nconstuição de seus cenrios pssionais Est tiidde

subjetiv foi aticuld o copo eógeno e à sexualidde infantil que fonecei o cbouço dquelescenáios. Posteiomente est verdade sexual se inse-iu n estutu edípic, que estbeleceu o qudo deelções intesubjetivs n qual se estbeleci o d-vento do sujeito. Assim est vedde ecebeu o nome dedesejo, de busc de ealizção do desejo pelo fantsm

o qual o sujeito não enunci No nal do ecu-so est vedde é fomuld como compulsão de repe-tição, como o que insiste no sujeito e que o ego nãodomin.

Sei então n tessitu d ealidde psíquicqu se inseem os fantsms, aticuldo o mesmotempo encenção do desejo e su intedição O modelodo fantsm esti n encenção d "stisfção alucintói do desejo como foi fomuldo po Feud em "Aintepetção dos sonhos. A fntsmtizção sei mnei pel qual o desejo oiginrio busc se ealiza,uilizndose p tl ds vis que lhe são possíveis.Potanto, sei montagem fansmác se mteializa n constituição do sintom, como Feud indicou emOs fntsms histéicos e su elção com bissexulidde.3

Poém, no esço psicco, qudo se peso despecimento "milgoso dos sintoms sob oimpcto d trnsfeênci, os fntsms se deslocam destrut do sintom e se inseem n elção com

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n qual sujeit se encnta fascinad O que implicaem ma também que a cnstuçã d ceni f-tasmátic passa fundentmente pels signs ape-sentads pela neuse de tnsfeência, pelas macas

que esta tece n espaç psicanalític.Pém, cnsided essa iedutibilidade dfantasma a sintma, sua aticulaçã as egists dapulsã de mte e d masquism pimdial pdemsetm aga d elism" iginái d discuseudian Assim, a cnfei autnmia a camp dfntasma e estabelece a especicidade d psíquic face

a acnteciment, ist nã implicu paa Feud abandn de uma pecupaçã cm el, pis elecntinuu a pesquis uts egists paa sua exs-tência. Nesta pespectiva, a eidade psíquica vem sep à ealidade mateial cnstituind cmp pati cu-l pa a exstência d psíquic, nde a figua d Outse institui cm cnstituinte fundamentl, seja cm que investe a egeneidade d cp infntil seja cmintépete ist é cm aticulaçã d simbóli nunives d infante. Enfim, é cnsideand este Outque as teias seais infantis e mnce famili dneuótic se denm send face a esta guamatiz,e medite ela, que sujeit aticula suas indagaçõespimdiais

Pdems assinl uts egists dessa pesquisa

d eal n te feudian paa destac essa in-sistência Assim, a gua d pai pimdi e a cena deseu assassinat mític pels lhs4 é um egistimptnte. Fi na busca deste e que Feud pcuuemntar as igens d snh infntil d Hmem dsLbs" e se chcu cm ptfantasma da cenapimitiva.47 Numa inha de investigaçã anga à que

fi ealizada em Ttem e tabu, ainda é a pesquisa del b da dem fnsmáca que eud segueem Misés e mnteísm.48

Pém, encntrams tbém em Feud um utrcaminh cucial paa o ea que se articula n egistr

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do fantasma Ele se encona mesclado nesse nventáioque acabamos de realizr, e daremos aqui algumasindicações Assim o real é o que remete ao silêncio dasimbolização, onde não exste ms fala possível Por

isso mesmo, o real indica o impossível, a ausência derepresentação e o colapso de uma posição identi-catória primordial Quando Freud se refere ao "umbigodo sonho, após a relização insistente do processo delive associação pelo analisdo ele indica este limiteque não se pode ultrapassa49

Exstiria então, uma marca primordil colocando

em movmento as cadeias de simbolização. Atavésdesta mca se realizaria a precipitação do fantasmaEsta marca primordi que compõe a montagem da"realização lucinatória do desejo é o que mantém aença no sujeito de que um dia em tempos imemoiiso desejo se realizou plenmente e que a satsfação seoperou de fato não sendo da ordem da lusão. Sria isto

portnto que o sujeito buscaia de modo insistente narepetição pelo fntasma esta ilusão de um impossívelque nunca ocorreu, mas que pela repetição mantém apretensão da plenitude e o evitamento da castração

NOTAS

1 Carta de Freud a Fliess 21 9 1987 In Freud, S. Lettresà Wilhelm Fliess Notes et Plans 1 887 1 902 In: Freud,S. naissance de la psychanalyse Paris, PressesUniversitaires de France, 1973 p 190

2 eud S. L'interétion des rêves. Paris Presses Unier-sitaires de France 1976 capítulo VII

3 Freud, S. Idem capítulos III e VII

4 Freud, S. Three essays on the theory ofsexuali ( 1 905 )In The Standard Etion of the complete psychological

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works Sigmund Freud Volume VII. Londres HogrthPress 1978, pp. 222-224

5 Carta de Freud a Fliess 21 9 1987 In Freud S Lettresà Wilhelm Fliess Notes et Plans (18871902) In:

naissance de la psychanalyse Op. cit. p. 190 O grifoé nosso.

6 Freud S Breuer J. Études sur l 'hystérie ( 1 895) PisPresses Universitires de Frnce 1 9 7 1

7 Freud S, Esquisse dune psycholoe scientque (1895)2ª parte. In: Freud S naissance de la psycanalyse

Op. cit.8 Freud S Communication d'un cas de prnoia en

contradiction avec la théorie psychnyque ( 1 9 1 5 ) .In: Freud S Névrose Psychose et Perversion PrisPresses Unversitaires de Frnce 1973, pp. 215216

9 Freud S Totem and Taboo ( 1913) 4ª prte. In: TeStandard Edition oj te complete psychological works oj

Sigmund Freud Volume XII. Op. cit.10 Laplanche J. Pontlis J.B. Fntasme originaire

fantasmes des origines origine des fantasmes". In: Lestemps modees Número 2 1 5 Pis 1964, pp. 18331868.

1 1 saacs S A natureza e a função da fantasia. In: KeinM , Heimann P . Isaacs S , Rivire J. Os progressos da

psicanálise ( 1 952) Rio de Jneiro Zr 1969 pp 79135

12 Idem pp. 102-105

13 ufmann P . Freud: lathéorie freudienne de l aculture.In: Châtelet F. Histoire de la philosophie. LexesicleVolume VIII Pris Hachette 1973

14 Freud S Psychothérapie de lhystérie. In: Freud SBreuer J. Études sur l 'hystérie ( 1 895) Op. cit. pp. 205-247

15 Freud S Linconscient ( 1 9 1 5 ) Capítulos VI e VII. In:Freud S Métapsychologie Paris Gllimard 1968

16 Freud S Idem.

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17. Não vamos considerr aqui as questões colocadas pelopositivismo lógico e a reestruturação que introduziu nom d epistemoloa, já e esta osição esquemácaque situamos não apenas é válida para o que pretende

mos indicar, como também coloca as alternativas comque se defrontava Freud em seu contexo histórico

18 Kant, E Critique de la raison pure ( 1781 ) IntroductionParis, Presses Universitaires de France, 1971 , pp 3 1

46

19. Hegel, GWF L phénomenologie de l'esprit (1807)

Volume I Introduction Pais, Aubier, 1941 , pp 65-77

20. Lowt K De HegelàNietzsche ( 1941 )Pris, Gallimrd,1969

2 1 . Freud, S. The question of a Weltanschauung In: Freud,S New Introductory lectures on psychoanalysis ( 1933) In: The Standard Edition oj the complete psychologicalworks ofSigmundFreud VolumeII Op cit , pp 158-

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22; Freud, S. Notes upon a case of obsessional neurosis( 1909) In: The Standard Edition ojthe complete psycho-logical works oj Sigmund Freud Volume X Op cit pp233-236

23 Freud, S. Au-delà du principe de plaisir ( 1920) Capítulos , III e N In: Freud, S sais de Psychanalyse

Pais, Glimd, 1981 .

24 Freud, S . Notes upon a case of obsession neurosis (1909) In: The Standard Edition oj the completepsychological works Sigmund Freud. Volume X Opcit

25 Freud, S Psycho-analyic notes on an autobiographicalaccount of a case of panoia (Demencia Paanoides)

Idem Volume XII, pp 78-79.

26. Freud, S Deuil et mélancolie ( 1917) In: Métapsycholoie Op cit, pp 152154.

2. Foucault, M Histoire de la jolie à lâge classique parte, capítulo 11. Pris, Gallimrd, 1972.

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28 Foucault, M. dem, 1i parte, capítulo .

29. Foucault M . dem pp. 5659 Foucault, M . Mon corps,ce paper ce feu n: Hsore de lajolfe à l 'âge classque

Appendces,11.

Op. ct30. Freud, S. A seventeenthcentury demonolocal neuro-

ss ( 1922) n: The Sandard Edon he complee psy-chologcal work SgmundFreud Op. ct , volumep 72 O grfo é nosso.

3 1 Freud, S. Analyss termnable and ntermnable ( 1937)

dem volume X p. 225

32 Lcan, J La scence et l verité (1965 ) n: Écrf. Prs,Seul, 1966 , pp 855-877

33 Lacan, J Audelà du Prncpe de reté" ( 1936) dem,pp. 73-92

34. Freud, S. Fantsmes hystériques et eur relton à lbiselté ( 1908) n: Freud, S. Névrose, Psychose e

Peverston Op ct , pp 149155

35 Freud, S. L créaton lttéraire et le rêve évellé ( 1908)

In: Freud, S. Essafs de psychanalyse applfquée Pris,Glimrd, 1975

36 Freud, S Les théores sexuelles fntles ( 1 908) nFreud, S. v te sexuelle. Pars, Presses Unverstresde France, 1973

37 eud, S. Le romn famlal des néroses (1909) nFreud, S. Névrose Psychose e Perverson Prs, PressesUverstares de France, 1973.

38 Freud, S. Délfre e rêves dans la "Gradva de Jensen( 1907) Ps, Gallmard 1973

39 Freud, S. A note on he prehstory of he technque ofnyss ( 1920) n: The Sandard Edfon ojhe compleepsychologcal work ojSgmund Freud Op. ct., volume, pp. 263265

40 Freud, S. Un efnt est battu ( 19 19) n: Freud, S.Névrose Psychose e Perverson. Op ct., pp. 219-243

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traduzibiidade" como uma das quidades essenciaisd obra poética}, mas tmbém o inacabmento como in-superável, como inica a necessidade historicmentevericada de retraduzir Em suma, no que se reere a

um certo gênero de escritura, encontrarnosíamosentre a tradução impossível e a tradução innitaUm breve exe retrospectivo9 dessa atividade tão

antiga quanto a humnidade nos permite pôr em evidência duas guras miores da tradução, bem comouma civagem conceitul que assume cracterísticasancamente aporéticas e cujos eeitos são ainda pre-sentes e tlvez o sejm inda por muito tempo

No Ocidente, o primeiro grande movmento cul-turl em que a atidade tadutiva desempenha umpal centrl é a ormação ava d adição romna Emsua enorme empresa de nexção dos valores culturaishelênicos, os romnos não hesit dinte de nenhumaorma de cultura: teoia, mitolo, poesia, mas tmmpintura e escultura são vorzmente incorporadas

meinte a modlidade da translatio latina com ns àprópria constituição da traditio romana. Se, como sepode imaginar, a tadução ocupa um lugar essenci emmeio às atiidades que compõem a translatio, ela não énunca nomeada como tal, jmais sendo dierenciada deoutras relações com os texos, como a imitação, aadaptação, etc Nesta visão etnocêntrica, tudo é

taduzível, ou melhor, tnsladável. Mas o que permiteesta aparente permeabilidade completa entre duasgas tão diverss? Um pressusto que remonta pelomenos a Cícero e a Horácio, mas que se encontra erigidoem cânone por S Jerônimo, patrono da tradução, e que,contrarindo a tradição hebraica, lançase na traduçãode ttos sagrados No De Optimo Genere Interetandi

uma passagem celebérrima arma que a tradução seefetua "non verbum e verbo sed sensum (. .) sensu: 10 acivagem entre letra (verbo) e sentido se encontra deni-tvente instaurada e a atividade tradutiva denidacomo translação do sentido A postulaçã de um logos

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do que simples tanslações de sentido mas sim e-dadeias poduções de obas constitutias das línguasulgaes neste momento nda não coicadas 16

Assim a pati da cliagem ente leta (sign-

cnte) e sentido delineiamse duas fomas históicasd atiidade tadutia tanslação e tradução quenão ms cessarão de se entechoca e de se combinasem que a itóia denitia de uma sobe a outra seanuncie como possíel

Mas se no domínio da tadução das obas em ce-tos momentos a questão da letra se ma e faz ale

sua legitimidade peante o lire comécio do sentidopoposto pela translato (como é o caso po exemplo noenome momento tadutio que faz pate integantedo omantismo lemão) ela acentua o caáte de pedaineitaelmente pesente no ato de traduzi. A peda natadução que pemite situa o taduzi como umaelação de destuição do oiginal é essencimente

lgadaà

leta isto se nela que mais feqüentementeeside o intaduzíel o esto o dejeto que tona patenteos limites deste empeenmento de tansposição É,liás, o que se enconta na z do que podeímoscham de postua melncólica do aduto lo menosdo edadeio taduto e não do simples tanslad"daquele que é sensíelà letra e ao que nela reside de in-taduzíel Mas é também o que esume o sempitenoadágio "traduttore tdtore, já que neste combateconta o anjo que é a opeação mutilante da taduçãonão há "resttuto ad ntegrum, nem eencontonostgico do paíso pébabélco Assim a traduçãomesmo (e sobetudo) aquela que é partcularmenteatenta à tansfeência de fomas (e não só de con-teúdos) pece ineitavelmente pometida ao tristepapel de mal meno": pa aqueles que não têm acessoàpue do onl esta o pido simuaodduo.Como em psicnise o cáte assintótico da taduçãoindca ao longe um hoizonte de inacabamento e de m-ssiblidade.

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Um comentário desse artigo de extrema densidade21 parecenos impossível aqui, e o tomamos, ndaque insistindo sobre sua força geradora de um pensamento novo sobre a atividade tradutiva, por seu vor

iustrativo de uma inversão das posturas tradutivasigadas pea traição: ago como se passássemos deuma invocação de S Jerônimo, como quis V. Larbaud,à proteção de W Benjamin22

l- ÓPER FUDIA: ENT TRUÇÃO

E TSLÇÃOMas em que meda essas considerações, possivel

mente esquemáticas, sobre uma arqueologia" daativdade tradutiva, e que, além do mais, parecemdestinadas às obras literárias (sobretudo poétcas),podem concernir à tradução do corpus freudiano? A

obra de Freud não foi sempre tratada, e isto segundo osvotos do próprio autor, como um corpo de teoscientícos e, assim, eminentemente destnado à trans-missão de sentido? E não foi sempre enquanto ta queela foi vestida nas inúmeras ínguas em que se encontrahoje traduzida? Em suma, por que introduzir em umconteo tradutivo, já tão compicado do ponto de vis

técnico, considerações que poderiam ser ditas lite-rárias"?Efetivamente, até o m dos anos oitenta a obra

ndadora da psicanálise foi traduzida segndo amodidade da so dos signicados, sob os im-perativos da comunicação do sentido àquees que nãopodem ter acesso aos teos na íngua original Estaestratégia tradutiva não só não impediu, mas faciitoua eaborao de uma adução de referêna, a brtâca,veícuo preferenci da transmissão do origin (e isto,mesmo para os leitores brasieiros, graças ao procedimento da tradução de tradução ) , cujos efeitos e nãose deve aqui esquecer que se trata da única eição

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questão da leraldade seja consderada em toda a suaamplude.

Mesmo que se admta, como o fazemos, que aansmssão do sendo é prmord na obra freudana

(o conráro sera um puro absurdo), a relação com aletra do teo, sempre assnóca e frustrte, desempenha um papel essencl numa tradução que leve emconsderação o uso parcular que dela farão os ans-tas30Assm, a evocação do go de Wler Benjnapesar, mas sobretudo por causa, de sua obscurdadeprne como emblemáco de uma oua esaéa

raduva não sgnca de mnra guma que se prvlege Freud como autor lteráro, como representantensgne da grnde Dchtung lemã Aos elogos elo-qüenes de um Waler Muschg, 31 ou do própro EJones, alvez seja preferível a opnão ms moderada deum Thomas Mann32 De todo modo, a quesão aqu nãose reduz a uma scussão esísca, nda que esa seja

muo mportane para a tradução, mas ao papel daradução na relação que os anstas mantêm com oeo de Freud e na sobrevda" da obra pa lém dasmples comuncação das déas do autor3

Nem dscurso ceníco eoso com picularbrho lerro, nem pura leraura apresenada sob odsfarce posvsa de suas inenções, a obra de Freuddetém uma especcade que se manfesa, pelo menosno que nos neressa aqu, sob dos aspectos curosos:a relação da obra com os dems dscursos pscnalítcos e a operação de reorno de que ela é objeo por pedos nstas, smples leores ou auores

O esauto da obra face aos demas teos pscanlíticos não escapou à sagacdade de um auor tãopouco suspeto de sacralzação de textos quanto Mchel

oucault3 Texo ndador, certamene, mas de ma-nera dferente daquele das obras inaugurs lteráras,reigosas ou cencas. oucault dene essa especcdade da obra como função de ndação ou de instauração de dscursvdade", na medda em que o corpus

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eudino constitui a possibilidade e a regra de formção de uma innidade de outros texos que, numa relação de diferença e de semelhnça que com ele mntêm,permnecem n interior do espaço por ele criado Ou

seja, os discursos psicnlíticos, em sua ande iversi-dade (que se pense em M Kein, em Bion ou em Lacn),o são na meida em que se constituem em referência àobra inaugural. Além isso, a obra inauguradora deiscursividde, contrariamente às obras ndadorasns ciêncis, permnece heterogêneaà trnsformaçõssucessivas dos scursos que nel têm origem35 Estsitução de exerioridde do texo fundador suscitanecessrimente um movimento de retorno dos discursos ulteriores ao texo originário. "Por tis retornos, quefazem prte de sua própria trma, os campos discur-sivos de que flo mtêm com seu autor 'fundador emediato uma relação que não é idêntica àquela que umtexo ququer mntém com seu autor imediato p 2 1 ) .

Relação da obra inaugurl com os iscursos que ela

origina, numa constatção da análise discursiva, masque é reduplicada, e, num nível bem ms concreto, poruma relação dos lists com o texo.

Se se admite que a trnsmissão da psicnálise nãose reduz exclusivmente ao que se passa no divã, e queela comporta também uma relação com o texo, isto nãosignica que esta se opere somente sob a forma de um

aprendizado dos princípios teóricos nela contidos Comodiz com propriedade Mrie Moscovici, "é importnte ler

ativmente a obra de Freud, de forma diferente de comose lê um livo fechado, um corpus acabado e desdeentão à nossa sposição pa ser aprendido e possuídode uma vez por todas. Cad uma das empresas deFreud, passo a passo, não reproduz uma vez ms as

tendências em jogo da descobert da psicanálise, e estepróprio movimento de recolocação em jogo destastendências não é nossa herça tlvez inda mis doque os conteúdos proprimente ditos? Pra que amáma de Goethe O que herdaste e teus ps,

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ghao se tu queres possuílo - gnhe toda a imrtância que Freud lhe atribui, é necessário que, paralém de uma simples leitura visando ao sentido, umaatenção particul - se possível "utuante, ou, pra

ser mis literl "igulmente suspensa (gleichschwende) - seja tmbémdao próprio momento dopensmento freudiano, a suas contradições e rugosidades, a tudo aquilo que pode produzir no leitor efeitosde estranheza, de alteridade, que nele relncem o desejode teorizr

Nesta perspectiva de abordagem da obra, de re

curso ao texo que vse pa lém da nformação,somente uma tradução sensível à letra, que proceda aoinverso do que sugeria Anna Freud sobre a aclmataçãotradutiva (as nlogias, as imagens, os significntes,que devem se apagr em prol da constituição da belleinfdéle)37 que não faça concessões nem à "clrezabnalizante da trsmissão de conteúdos, nem ao

vocabuláio já estabelecido pelas traduções precedentes somente uma tl tadução poderá fornecer umaespéce de "nova obra que aberta a uma plurldade depercurso, permita a formação de um estlo próprio queescape ao psitacismo Obedecendo a uma étca tradutva - rigor, deldade à letra, coerência e sistematicidade na totdade do corpus podem ser suas condçõesmínimas38 - a tradução deve oscilar entre a autonomiade uma "nova obra (aqulo que lhe permite desempenhar um papel de "orignl na língua de chegada) e aheteronoma produzida pela lterlidade:39 referêncaautônoma que possblte, por exemplo, uma nálse aolongo da obra, da gênese e da estrutura conceitudelidade à letra que a faça resso como estrnha nanova língua E tlvez seja desnecessário obse que

nem uma nem outra são compatíveis com a "traduçãode tradução, nem com a "tradução servil.40

S essas indicações, forçosamente esquemáticasno espaço deste artigo precem indicar ao longe umatradução "idel,41 isto se deve ao fato de querermos

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o mesmo procedmento o empregdo recentemente ntrdução d correspondênc complet entre Freud e WFless

7.  A sps ndcam qu não scrazção bsurd de

um recurso o texto em alemão, ms necessdde deum trdução sucentemente el, rgoros e coerente,pr que poss desempenhr um ppel de novo orgnln ln de chegd

8. Antoine Bermn, o exnr os textos em que osgndes trdutores temtzam su tvdde, ressalt usênc quse tota de reerênc o prer de trduzr

9 Mounin, G Teoria e stora della traduzione, Einudi,1965 Steiner, G ter Babel, Oord Univ. Press, 1975;

e sobretudo, o excelente artgo de Antoine BermanTrdtion-Transltion-Trducton", n Poesie n2 47,

1988.

10. Ego esim non olum fteor, sed liber voce proteor,me n interprettone Grecorum, bsque Scripturs

Sanet, ubi verborum ordo mysterium est, non verbume verbo, sed sensum erimere de sensu" (Não só digo,ms armo de vv voz, que em minh trdução dosegos, como ds Sants Escrturs, onde ordem dpalvrs é um mistério, não rimo palvr r pal,ms sentdo por sentdo", ctdo sem trduçãopor Vléry Larband, n Sous l'invocation de Saint-Jérôme, Galmard, 1947. Observemos que, como paCícero, nteretatone do texto pode ser trduzid portrdução"

1 1 . Berman, A L'essence pltoncienne de l trducton",Revue d'esthétique n2 12 1986.

12 A trdução vs qu par além do texto, à palvr, stoé, permnece lgd à ordde.

13 . O termo aductio" p denr ente est vddese deve Leonrdo Brun, utor renscentst do DeInterprettone rect" (c. A. Berman, art ct.)

14. A trdução luteran d Bíbl ( 121-34) que oper umgermzção (Vedeuchung) do teo, é reconhecd

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teo de tansmissão do sentido (pelo menos nos teosque nos interessam) ou seja, a literalidade radicalconduziria a uma ilisibilidade (C Ladmiral "Enre lesles entre les langues in Revue desthétque, n 1 ,

1981 e "Sourciers et ciblistes Revue d'esthétque n°12, 1986.)

2 1 G Scholem ndica que este teo um dos primeiros deW Benjamin a ser publicado logo adquiriu uma "reputação de inintelibdade

22. A preância deste autor no que concerne ao debateatual sobre a tradução de Freud é impressionante, e

veremos autores tão diversos quanto Laplanche Grano certos lacanianos R Steiner, etc citaremno insistentemente.

23. A edição completa alemã (Gesammelte Werke) não écrítica, e a edição crítica alemã (Studensausgabe, cuoapareho críico é retirado em ande parte da ediçãoingesa não é completa . .

24. Cf Steiner, Riccardo op. cit.25. O Prêmio Goethe não é absolutamente um prêmio

literário mas uma recompensa a uma "elite do espíritoque trabalha n "espírito de Goethe. Trata-se e umprêmio cultura discernido não só a escritores mas aarquitetos escultores, cientistas, etc (Cf. Cotet, P "Lestyle et son rendu, p. 30 (nota 9), n Tadure Freud,

PUF,1989).

26. Standard Edton, vol. I ( 1966), p. X. Freud não foi umadmirador sem ambigüidades desta perspectva (cfcarta de Freud a Jones 24.21912, sobre a tradução deSeele por mnd).

27. Sob a pena de quem se pode ler que "o que é natural paraum autor de língua alemã alusões anoas magens

etc é muito oreado e naceitável para o leitor nês; nversamente o que se oferece como exressão precisa emnês choca o alemão por sua avide. Freud A Int J. Psych, vol 50, 1969, pp 131 - 132 . Citado por WGrano em Freud écrivan: tradue on standaser?LÉrt du temps, n° 7 1984

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28 Como é o caso das observações de Balnt e de Betteheim, mas sobretudo atualmente do projeto de RiccdoSteiner

29 A observações de J Lacn são também assistemticas,

mas de natureza totalmente dierente, na medida emque sempre visam e aí reside sua riqueza em relaçãoao tédio dos outros literalidade do texto reudiano

30 E pouco importa aqui se nos afastamos neste ponto daperspectiva anticomunicativa de W Benjamin

3 1 Muschg, W Freud als Schristeller" ( 1930), trad r deJ Schotte in Psychanalyse n2 5, 1959 O autor

rma aí que no domínio da língua alemã ele [Freud éhoje tavez o mor exemplo de um triunfo literáriochegado organicamente à maturidade"

32 Freud é o escritor da lucidez, da suspeição serena queleva à cultura da palavra média, sem afetação, e quebusca sua força o comedimeto na modéstia Man,Th , Freud und di e Zukuft" (1936), citado por G A

Goldschmidt em Sle et pesée chez Freud",5e

Assises de la traduction littéraire, Arles, 1988, Actes

Sud, 1989, p . 76 Este último, tradutor eminente,rma que Freud escreve simplesmente bem . ) eseu trabalho não se distingue em nada do de um muitobom jornalista de seu tempo", referindo-se, clro, aoestilo

33 O uso dos manuais, como o de Fechel, ou dos re

sumos, como os de Ch Brenner ou H Sega!, nos paísesanglo-saxões, talvez não seja estrnho ruptura narelação ao texto undador que opera a translação

34 Foucault, M Qu'estce qu'un auteur?", conerênciaproferida na Sieté Françase de Philophie, 222 1969,

texto retomado na revista n2 9, 1983, pp 3-37

35. A obra destes instauradores não se situa em relação ciência e no espaço que ela desenha; mas é a ciência oua discursividade que se reere a suas obras como acoordenadas primeiras" (p 20 ou nda o reexe doteo de Galileu pode mudar o conhecimento que temosda história da mecâca mas jais pode mudar a

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própria mecânica Ao contáio o reexe dos teos deFred modca a própria psicáise . (p 2 1 )

36. Moscovici M Lombre de l objet; s ur l 'nactualté de lapychanalyse, Se 1990. E o to na: "o edis

mo não se aprende nem se gda como oos modosde conhecimento em e o saber cmlatvo pode serado Descoberta perpéta não pode se objetvarre concerne a processos psícos nconscentese pra os psicanistas como para os otros hmanos não cessam de tender ao recalcamento àrecsa aoesecimento ela pode s torna pte do patimônopsíqico de guém nm processo mito lento com ses

avanços e ses recos ativament recondido e semparar pp 84-85)

37 Chamam-se assim as tradções e sacricm a delidade à letra ao objetivo de lisibildade e legância doproddo nal A exressão se deve a Ménage áticodo século XII, qe assim desio as tradções doego realizadas por Perrot d'Ablancort "prince destradcters do classicismo e e no prefácio à satradção de Tcídides declra: "é melhor ser nel naspeenas coisas pa ser el nas andes Ao e sepoderia responder em pleno anacronismo com estasplaas de Fred: "Começase a ceder bre as plarase acaba-se cedendo sobre as coisas.

38. C o projeto de tradção da eipe de J Laplanche emTradure Freud PUF 199

39 Sobre a oscilação atonomaheteronoma c a contribição de A. Berman no Colóio de Arles - 1988,Actes Sud, 199 pp 1 12122

40 Aela qe se sbmete nteiamente ao so da línga dechegada. Uma das fnções da "boa tadção seriajstamente a de fecnd a ínga de cegada

41 E sto nada tem de nietante na medda m e o

destno das tadções é s apagem deindo lga anovas (re)tadções: a tadção dnitva é ma lsão

42 "Pois em sa sobrevida (Fortleben] não merceaeste nome se não osse mtação renovação do é vivo o orginal se modica Benjamn W at ct p 53

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plche, J "Traumatsme, traducon, transfert et aues trs(es), Ve et mo N éditon, Flammaron,99

plnche, . J. "Spéccité es problêmes termnoloques

s la aucon de Freud, Psychan à l'nvesté n5 juillet, 9

Laplche, J "Temralté et traucton, Psychan à

l'nves n 53, jan 99

Mahony, P "Vers une compréhension de la traducton enpsychanalyse Lécrt du temps, n 794 (rad fr deM Moscoci; oril n in META vol27, n Mon

eal)Muschg W "Freud écrivan trad LaPsychanalyse n

5 959

Ornston, D. "Strachey's iuence: a preminary report, Int.Jo oPsych, n 7 94

Rnd, N "Lectures de la traducton, in Cnfontaton n 6

96hultz-Kel, J. "La Standard: une apologue, in Ocr n°

28 94

Stener, G "A note on language and psychoanalysis, InteRev Psych 3 976

Steiner, R "A World-Wide Enterprise ofGenuineness inJPsych 97 n

Stener, R "Cos cnamna, in Psychanalystes n 2297

11 Númeos especas de evistas dedicads ao assnto

L'Éct d temps "La décision de traduire, n 7, 984(Mnuit, Paris)

Ltoal "Traducton de Freud transcripton de Lacan, n2

3 94 (Paris)

MA "Psychanalyse et traducton, vol 27, n l , ms92 (Montreal)

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Préjaces Les enjex de a tradcton avri-mai 988(Paris

Psychanalystes, Cooqe "Langage tradction psychanayse n 22, 987 (Paris

Revue desthétque, no 12, 986 (Privat Touose)

Revue Française de Psychanalyse, Tradre Fred? n261983 (PUF Paris

III Livros

Btne L'Oeuvre de Fr Rabelais, Gaimard 970

Berman ntone L'Épreuve de l 'étranger, Gimard 98Uma referência essncia

Bettehem Br Freud and Man's Soul, Vntage Bks N Y,1984

Cnqumes Asises de la Traducton Ltérare Tradctionde Fred (es 1988), Actes Sd 989

Focchi M La Langue ndscrte: essa sur le transjert coeaducton (trad do itaiano La nga indisreta I 19 81 ] ) ,Ponts Hor Lie 98

Godschmidt GA Quand Freud vot la er: Freud et lalangue allemande, BchetChaste 1988

Grano W.-R JM Lul: obet de lapeudn

ne, PUF 1983 Exempo de tradução em oposição competa às proposições de J Lapanche

Ladmira JR Traduire: theores pour la traducton, Payot1979

Lapche J e coab adure Freud PUF 989 A dereferência ata qto à tradução de Freud

Larbad V Su lnvaton de Sant-érôe, Gallimd97

Mahony P Freud a a wrter, Int Univ Press N Y, 982

Mahony P Psychoanalys and Dscoue Tastk Pubic. 1987.

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mais eloqüente desse equívoco de interpretação. Nesteestudo Freud pretendeu estabelecer em outras bases relações entre os registros do coo e do psqusmo,encontrando na linguagem a mediação ndamental

entre essas dimensões do humao de forma a poderassim descentrar o sujeito da cosciência e ndar opsiquismo no registro do inconsciente O ensaio sobre o "Tratameto psíquico contemporâeo ao estudosobre a afasa indica já os efeitos desse estudo nacrítica da concepção médica de terapêutica e delineiauma nova modalidade de investigação do psíquico

ndado na palavra.7

Nessa rsctva o sendo de um discso teóricosomente pode ser representado pela problemática quedee e regula sua produção como discurso na eerioridade da qual não estem critérios rigorosos paradelimitar a produção da obra freudiana Portanto éapenas neste contexto que podem ser deidos critérios

seguros de periodização para a constituição do discursoeudianoAssim é a articulação entre os registros do corpo

e do psíquico através da iguagem e no contextontersubjetivo, que costitui a problemática central dodiscurso freudiano Por isso mesmo o coceito depulsão é a categoria fundamenta da metapsicologiaeudiana pois denida no imite entre o "psíquico e osomático permite pensar as mpossibilidades e osimpasses colocados pela tculação etre os registrosdo corpo e da representação8A duplicidade de modelosteóricos presentes no discurso eudiano isto é ametapsicologia cunhada uma lguagem posivsta eum método de investigação tersubjetva cetrado apalavra idica esse duplo regstro que o discrsoediano pretendeu arcul uma problemáca ori-nàl É esta direção também qe podemos terreta formlação de J. Hyppolte segdo a qua o scrsoeudiano pretendeu rtclar um únco saber maosoa da atreza e ma losoa do espírito9

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esgotado O que implica em dizer que o discurso eudiano ainda não foi competamente decifrado, na me-dida em que continua a ser lido e reido por diferentesgerações porque soube formu questões e enunci

uma probemática que continuam sendo atus, nãoesgoto pois, sua vvacidade

Contudo, é preciso inserir agora, nesta reexão,uma consideração pela ordem da história, para permitiruma relativização consistente dessas formulações poisnão este hermenêutica que não se inscreva na temporaidade histórica Assim, este um contapont

atual entre a Europa, os Estados Unidos e a AméricLatina face ao interesse pela psicanise, pois instlose um desinteresse crescente na França e nos EstadosUnidos enqunto se verica um interesse irradiantepea psicanise em aguns países da América Latina

Essa é a rzão pela qul se comemora no Brasl ocinqüentenio da morte de Freud, na medida em que,

no Brasl e na América Latina a psicnálise continuasendo um scurso vigoroso e eberante. Então acomemoração dos cinqüenta anos da morte de S Freudé uma homenagem de vida e não de morte, pois celebra-se a vivacidade e o esplendor da psicanáise entre nós,o que certamente não ocorre em outros uges domundo onde a psicanise perdeu de fato a posição

estratégica que desutava anteriormente na culturaAssim se em 1956, pôdese comemorar o cen-tenio de nascimento de Freud em vários quadantesdo mundo onde estia um poeroso movimento psicanítico, ceebrase agora no Brasil o cinqüentenário damorte de Freud como se este fosse de fato, o ato ritual

de nascimento da psicanise. Então, este ato tem umadimensão simbólica e um acance mítico, pois rearma-se agora no Brasi como nunca ocorreu antes o vorteórico cultural e terapêutco da psicanise.

Nesse conteo a psicanise se transformou node mito da modernidade A publicação editoribrasieira dá mostras disso pois não apenas passou a

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incluir a psicanálise em suas linhas editoriais, comombém o tópico psicanálise se eanu muito Assim,a grande maioria das editoras organizou coleções depsicanálise, gumas até com duas séries iferentes, 8

e novas etoras se constituíram publicdo apenastulos em psicanise 19

I-A METÁOR DA GUE

Porém, o que se processou no discurso euino

nos cinqüenta anos que transcorrerm após a morte deSigmund Freud? Responder a esta indagação não écoisa fácil, pois colocamse aqui não apenas inúmerasquestões, mas também uma multiplicidade de discursos a serem anisados. Por isso mesmo, impõese aquia ação de guns critérios pa a seleção de temáticasque se apresentm no momento, mais relevntes do

que outrosAssim este uma crtograa complexa a ser

traçada do movimento e do pensamento psicnítcosdesde a morte de Freud Nesta cartograa do póseudno estem certmente múltiplas linhas de desenvolvimento teórico clínico e político Dentre essasUnhas muitas já se apagram do mapa, lgumas per

mnecem outras nascem e mesmo lgumas outras renascem das cinzas apesar do desaprecimento prcoce O que caracteriza o desenho da cartogra do pós-euino é a quase inestência de superposições poisgerlmente as Unhas são díspres Est disparidadedca a estência de um campo mrcado pela tensãoonde se destcm posições de coon

to

Contudo, é preciso não conundir a experiência deconrontação com a constituição de um campo dederenças, is o conronto pode result tato noniquimento do adversáio como no estabelecimentode dierenças com seu correlato que é o reconhecimentorecíproco . O grupo psicítico racs deomiad

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Conontation" é um exemplo desta segunda possibiidade Então, o resutado da polrização depende daintenção poítica nvestida, das rmas utizadas noembate e da capacidade de ataque/defesa entre os ad-

versáriosPorém, é preciso enfatzr que a consttuição deum cmpo de diferenças pode perfeitamente se em-preender num outro espaç retórico, reguado peoreconhecimento É evdente que a retórica do conontoé medada pela metáfor da guerra, indicndo, pois, quese estabeece uma ta cruci entre vida e morte

Enm, a rividade e a sobrevivência são os vores empauta neste embate, na medida em que a guerra não énecessária pra a constituição de um cmpo de dferen-ças que pode se estabeecer num estilo pacíco.

Contudo, não é no estilo pacífico que se processaa confrontação no cmpo da psicisie, pois nestepredomina a metáfora da guerra e o embate mortl de

posições em que a dscórdia predomina sobre aconcórdia e os confrontos sobre os encontros. O que nosndica também que não nos inserimos aqui num camporegulado peo vaor de verdade do saber pois, se assimfosse, a retórica não recisria ser guerreira Ve dizer,a retórica guerreira nos indca que estos inseridosnum campo teórico onde as pxões dos interocutoresestão envovidas em lrga esca Ficrímos muitoespantados se num outro campo inteectu, dgmosnas ciências naturs e sociis, estsse um debateintelectu permnente onde o que estivesse em pautafosse a vda e a morte dos interocutores Porém, este éo estilo de debate que permnentemente se reiza napsicanálise de maneira curiosa

Qus são condções de possibidade dessa

retór num cm do Esse cononto teórico deposições, singuar e pradox, revea que pxõesndments se encon em pauta denndo assimum estio próprio do cmpo psicítco Porém, permanecer nesta formuação é reconhecer o que é óbvo,

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poisépreciso se perguntar agora sobre os bizamentosdesse estio discursivo que caracteriza a psicise

Assim, nesse coonto, uma questão circua nsis-tentemente como indagação entre os nterocutores: o

que é a psicanálise Esta pergunta se desdobra numaoutra quem é o representante legíimo da herança

freudiana? É em torno dessas ndagações cruciis queo cenário béico é montado e que se mpõe o estoguerreiro dos discursos.

Porém, se essas são as indagações ndmentais,isto signica que o que se encontra em pauta não é

apenas o vaor de verdade de uma teoria, mas princi-pmente o sistema de trnsmissão do discurso psica-nítco Assim, o cononto se estabeece entre dieren-tes tradições históricas e insttucionais da psicanlise,e não entre discursos teóricos

Nesse contexo, o que dene a prticuridade pas-sionl no conronto entre ierentes discursos é que a

psicnlise é um saber no qua a transmissão se regulapla transfrência tendo sido no sistema deliação dasinstituições aníticas que o discurso eudiano sesacrizou em dierentes tendências. É essa marcatrnserencia que ecoa com nsistência no cononto deposições, onde as ndagações sobre o que é a psicanálisee quem é o representante egítimo da herança eudiana

ncidem no anista como uma pergunta nquietantesobre a verdae de sua eeriência anítica. Enmnesse cam, a gura de Freud é sicionada como u-pdo o lugar da trnsferência absoluta, através do quaa totaidade dos nistas pretende reaizar sua ex-periência transerencia e ndar no discurso eudianoa veracidade de seu sistema conceitua.

ém sso, outras quesões se mpõem nessaguerra de posições" pa us metaforicamente umconceito de Gramsci.20 O cononto ndca que os ds-cursos teóricos orm ncorporados em nsttuiçõespsicaíticas e que estas como quaquer nsttuiçãosocia, precisam empreender sua repdução social

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como qulquer instituição.21 Pra isso, essas insti-tuições precisam renovar seus ncionários burocráti-s, seus exércitos e seu sistema simbóico E,cdinstituição se esmera em apresentar sua superioridade

sobre as rivais, destacando suas virtudes ente aosvícios das demaisPorém, a consideração desses dois registros pode

ainda multiplicar em muito seus efeitos, se destacar-mos também que aqueles se inserem num campo sociespecíco, denido pelo mercado social da clínica. steé disputado como sobrevivência econômica dos anlis

tas e da reprodução social das instituições psicaníticas.Portanto, nesse contexto, quem foi Sigmund Freud

e quem é Freud pra a modernidade não são guras quese superpõem Na verdade, constituíramse na moder-nidade diversas versões do discurso freudio e do quepretende a eeriência psicnítica. Com isso, os

enunciados da escritura freudiana permitiram a pro-dução de interpretações diferentes do saber psica-nlítico, que se relacionam com diferentes tradiçõesníticas

Assim, as imagens sobre Freud e o discurso freudino são díspares e incongruentes estindo pois umaverdadeira Babel psicnalítica .É inegável que estaBabel já se inicira no n do percurso de Freud, masposteriormente estas linhas de força se multiplicarm etornaram suas diferenças mais agudas

Não pretendemos reizar aqui uma recomposiçãohistórica rigorosa dessas múltiplas linhas de força, masapenas destacar lguns traços marcantes dessa carto-aa que nos precem cruciais e que apontam tambémpara o futuro da psicanáise Para isso, é preciso

discutir as categorias de legitimidade e esão nomovimento psicanaítico

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especicidade do cmpo psicnlítico era bastantevisível nos registros do discurso teórico e da eeriênciaclínica, indicdo suas ferenças ente aos outrosdiscursos psicológcos e a outras práticas terapêuticas

Cntudo, no contexo dos nos trinta a meiclização e a psiquiatrização da psicanálise se inicir demeira lenta mas segura, e Freud nos fornece indicações isso em sua obra A quesão d náise eig2Esse processo de psiquiatrização da psicanálise foi,hisoricmente, o correlato da modlidade de incorporação e de apropriação do scurso freudiano nos

Estados Unidos25 Além isso, a efetiva disão dapsicnálise na cultura nortemericna promoveu, comoefeito decisivo, o deslocmento da direção política dapsicnálse para os Estados Unidos

Como resultnte desse conjunto de remanejmentos, o movimento piscanalítico se trnsformou em insi-uição psicanlt.' Com isso, as forms nteriormente

eveis de transmissão da psicnálise se codcrmem normas rígidas e padronizadas Então, a seleção decandidatos pra a formação psicanlítica passou a seregulr por critérios psiquiátricos de normlidade soci, introduzindose com isso um contraste agrnteface à geração heróica dos nlistas das primerasdécadas, caracterizados pela criatividade, pela excen-tricidade e mesmo pela loucura27

Nesse espaço soci, a psicnálise se transformoudecisivamente numa mor de regução ds individu-iddes, sendo esta representada como uma tracomplexa de interrelações pessoais28 Nesta morl, ovlor mámo é o sucesso e a ascensão na hierrquiasocil, numa formação socil que permite a mobilidadesocil num pequeno intervlo de tempo, no espaço deuma geração. Com isso, a competição se instaura comoum motocontínuo que regula a morlidade socilEnm, desta forma, a psicálise se transformou numaecnoogi de dpção dos indivíduos num espaçosocil cracterizado por mudças rápidas

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tução da catogaa ftasática do ifte suasfoulações são iedutíveis a qulque ética adapta-tiva o ocio de psicaalisar O debate estabelecidoete M Kei e A Feud, delieado os aos vite,

sobe a estêcia de um capo especíco de psi-caise de cianças e ão de um capo de psicopeda-gogia oietado pela psicaise 33 evela tabém auptua do sistea kleiiao com qualque pespectivaadaptativa sobe a psicaise

Poé, apesa de ivais essas leituas opostas dodiscuso feudiao covive diploaticamete o

bito da istituição psicaítica Os debates eteelas se eizav em cogessos iteacioais e aspublicações, ode cada ua sustetava sua supeioidade e os equívocos da outa sempe e oe daheça feudiaa. Evideteete estia tabéoutas tedêcias a istituição psicalítica, pici-palete a Sociedade Bitâica de Psiclise queea ipotates do poto de vista da pesquisa aseoes o plao da hegeoia política pois eacostelações pequeas o cosos psicalítico ite-acioal E, este cotexo da históia da psicaálise a etóica ea diploática, apesa das estocadas ete os ivais sobe que ea o deteto legítio daheaça feudiaa

Foi a exclusão de J Laca da Associação Ite-acioal de Psicaise, e fução de sua leituaovadoa do scuso feudiao e da epesetação daeeiêcia psicaítica, co a costituição coelatade um podeoso ovieto lacaiao a Faça, queeodeou as lihas de foça que sustetava ite-aciolete a istituição psicaalítica e a difusão dapsicaálise Cotudo os efeitos sigicativos da ea-

são iteacioal do peseto lacaiao soete sezea seti duate os aos seteta, quado etãoteve o pode de desodear o doíio político daAssociação Iteacio de Psicaálise, passdo adivid co ela a hegeoia o campo psicanítico.

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Não pretedemos empreeder aqu a crôca dasperpécas do movmeto lacaano, mrcada pelasmúlplas rpturas e exclusõs nsucos de Lac,3nem a exegese teórca de seu dscurso, que á foram far

tmete relzadas em feretes pesqusas. Porém,queremos apeas sublhar lguns tópcos que nteres-sam retamete a ossa presente scussão

Antes de ms nada, o scurso teórco de Lacarepresetou a costtução de uma versão fracesa doiscurso freudo, quado esta aterormete umaperspectiva psquárca sobre a obra de Freud num

cotexto culturl marcado por uma grnde oposção àpscise35 Assim, pela medação da letura de Lac,o scurso freuo fo nlmente recohecdo aFraça como um acotecmento prmordl na culturacotemporâea, tendo como coseqüêca uma -cdêca rcte os cmpos da losoa ed cê�shumas36 Pra sso, fo necessra a crítca da con-

cepção crtesaa de sujeto, cetrado o regstro dacoscêca, e a scrção do sueto o regsro dosentido e o cmpo tersubetvo da terlocução. Estareovação teórca ecotrou a sua coção de poss-bildade a losoa de Hegel, que, desde os nos trta,era a stâca crítca prvilegada da radção losó:cado cartesasmo a Fraça. 37

Em cotraprtida, case uma easão da ps-cálse a Fraça, que começa, a reur no íco dosos oteta, e que produz posterormente uma poderosa dfusão da letura laca da pscaálse em esclaiternacoal Porém, esta dfusão se relzou prc-plmete ode o pesento pscanalítco não hasuas própras lhas de nvestigação, como ocorreu naEspha, na Itála, no Japão, em Portugl e, parcularmete, na Amérca Lana3

Desta mera, o dscurso pscanlíco de Lacse desenvolveu desde os anos cnqüenta em torno dotema do retorno a Freud, destacando a mporâncaestatégca de retomar a letura dos escrtos euanos,

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medid em que o pesameto psicítico teri sedesvido ds egêcis básics do discurso freudio o se distacir do pardi cetra d eriêcipsicanaític, que se realizri de direito o campo da

linguagem e da fala.39

Este "desvio er represetdopricipalmete pe Psicoogi do Ego que domv istituição ític ms o discurso keiino ertambém criticdo por iserir eeriêci psicítico registro do imgiário e ão o registro do simbólico.

Fialmete como desdobrameto político ievi-tável dess perspectiv psicalític o pesameto

lcaio pretedeu costruir um ovo movimetopsicanalítico cetrdo o "retoro Freud movimetode difusão iterciol pretededo se cotrpor à

egemoi polític d Associção Itercioal de si-se. Assim se tlvez Lca uc te se preocu-pdo retmete com ess qestão ão ste qaerdúvd de que seus erdeiros se voltaram pr costrução meticulos de um istição lcai emescal mudil embor este projeto uc te sidoteirmete recoecido como tal.

Foi pes esse cotexto istórico que metáford guerr se iscreveu o campo psicaalítico ode retóric diplomátic se rompeu e se estbeleceu guerr bert etre os erdeiros do discurso freudiaoPr isso foi ecessário que pel primeir vez

istóri d psicaise, um excomugdo defedesse cus d psicalise em ome de Freud e cotr osdetetores do poder político istiição psicaalític.Assim esse espç bélico posicioamse Associção Itercioa de sicnlise, de um ldo e a

isttuição cia do outro. Pr bs o que sedefede é cus psicalític e heranç egítim do

discurso freudiao Porém como guerr é cotiu-ção d polític com outros meios e com outr li-gugem como dzi Lêi, o que está em put demeir decisiv é hegemoi polític em escintercio o cmpo d psicanálise.

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Potnto, o desenvovmento da psicnise naFança se eizou de fato em tono do discuso deLac, mesmo se consideamos a pesença de outosgupos psicnlíticos vincuados à Associação Inte-

nacion de Psicise e a exstência de vias uptu-as nas instituições acnianas Com efeito, Lacnconstitiu um estlo ncês na psicnse, impimindonesta uma mca oigin, de foma a se constituinuma vedadeia "psicnise à ncesa de acodocom a escecedoa pontuação de Sminof. 40

Entretto, se esse desenvoento psise

na Fnça se eizou de mneia ebente dos oscinqüenta aos nos tenta, anndo então uma eosa esão soci, desde o início da década de oitentaa psicnise começou tbém a ent em descensonFça, evedo sinais seguos de sua etação socilEntão, como nos Estados Unidos, o scuso eudinotmbém foi conjuntumente epesentado na Fnçacomo um dos gdes mitos da modenidade, pa emseguida se destituído desse ug estatégico

Poém é a consideação dessa memóia históicaeativmente ecente bem como a constatação dosuges onde o discuso feudno agoa se ede noc do soci que em um comentáio n beo enigmático futuo da psicáise e o desdobmentodo discuso feudino na viada do sécuo

W- UM FUTURO P O DISCURSO

FREUIAO?

Devemos subinhr que no n dos nos oitenta,exste uma adic eodenação do campo psicítico

em esca intenacion Assim, se até o n dos ostenta a ssiação Inteacion de Psicnáli dea hegeonia poítica no cpo psicnítico, desde onício dos os oitenta esse univeso é tbém pha-do pea instituição acia Então exste um evdente

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É este quadro complexo que impõe algumasquestões fundamentais sobre a estência de umaverdadeira cultura psicanalítica conceito cunhado porS. Turkle na brilhante investigação antropológica que

empreendeu sobre a psicanlise ancesa41 Assim,qus seri as conições de possibilidade sóciopolíti-cas pra se constituir uma disão abrangente dapsicanlise em certas formações sociais, de forma a seorgizar uma cultura psicaníticproprimente ta?No momento, não spomos ainda de respostas satisfatórias para esta indagação, na meida em que são in-

suficientes as nlises históricas em prondidadesobre as diferentes modlidades de movimento psica-nlítico que se constituíram

Porém, lgumas perguntas se coloc, como inda-gaçs crucis pra squis hstóricas ras Ass,qual a relação estente entre a eansão social dapsiclise e a constituição de certas modalidades de

sociedades urbanas? Por outro lado, qul a relaçãoestente entre dfusão social da psiclise e a so-ciedade industrial pois o que podemos constatr noscasos das sociedades america e francesa, em con-traponto com a América atina, é um contraste edente entre sociedades pósindustris e industris, naretração e na eansão socis da psicnlise? Damesma forma, uma outra indagação se impõe: a per-normalização do social, que se estabelece nas siedadespósindustris controla politicente os conitoscis de mneira absoluta e tende a tor homogêneoo nsenso, é um obstáculo eroso ao desenvolvimentoda psicanlise e restringiria seu lugar socil, na medaem que o conito é a matériaprima da psicanlse?

Se essas indagações forem corretas, é possível a

hitese de que a psicse e nda se ndir emlguns píses ms atrasados da Europa, como Portu- e Espnha como est ocorrendo agora na AméricaLatina Da mesma forma, é possível tmbém supor queode acontecer uma disão socil tardia da psicanise

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em algns píses do Leste da Europa, qe se abremagora pra os vlores do Ocidente.

Eidentemente estamos no plano das hipóteses,que egem a reização de investigações minuciosasTvez só o futuro possa seguramente nos responder aessas indagações, num trablho fecundo de pesquisacom a colaboração efetiva da história e das ciênciassocis Porém indicamnos também que é insficientecr apenas na esta dionisíaca do sonho fredianopois devemos nos pergntar igalmente sobre as rzessócio-históricas de sua perenidade e de sa nitdeEnm com isso a questão se impõe novmente: quais

as conçes concretas de possibilidade do discrsoedino e da exeriência psicnlítica? Ql odesdobrmento ftro do discurso freudino?

NOTAS

1 Jones, E. La ve e l oeuve de Sgmund Freud Voume 3 Capuos V eV. Pis Pesses Univesiares de nce1969 Gay P Freud. Uma vida pa o nosso empoCapuo 12 São Pauo Companhia das Leas 1989Schu, M La mot dans a ve de Freud Pis Gi-mad 1975

2 Bonapare, M, eud, A Kis, E Inoducion" Ineud, S La nassance de a psychanalyse PaisPesses Univesiaies de nce, 1973 Nassif, J Feud:'nconscene Pis, Galiée 1977

3 eud S The Sandard Edon oj he compee psycho-ogca work oj Sgmund Freud 24 volumes Londes,Hogarth Press, 1 955.

4 reud, S L'inconscien" ( 1915 ) Capítulo I In: Freud,S Méapsychologe Pis, Gallimd, 1968

5 reud S Pulsions e desins des pusions" ( 1915 ) Idem

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6. Freud S Contrbuition à la conception des apha-sies ( 189 1 ) Pars Presses Unverstaires de France,1983

7. Freud S. Psychca (or menta) treatment ( 1894). In:

The Standad itfon oje colete psycholical wrkoj Sigmund Freud Volume 11. ondres Hogarth Press1978

8. Freud S. Pulsons et destns des pulsons". In FreudS Métapsychologie Op ct, p. 18.

9. Hppolte, J Flosoa e pscanáse ( 1 959). In Hppoite, J Ensaios de psicanálise elosa. Ro de Janero

TaurusTmbre 1989.1O Freud, S. L nterétaton des rêes ( 1 900) Capítulo VII

Pars, Presses Unverstares de France 1976.

1 1 . Feud, S. Pour ntrodure le narcsssme ( 1 9 1 4). InFeud, S. L ie sexuelle Pas, Presses Unverstaresde France, 1973.

1 2. Freud, S. Remémoraton, répétition et élaboraton(1914) In Freud, S L technque psychanalytquePas, Presses Unverstares de France 1 972.

13 Freud, S Au-delà du prncpe de plsr" ( 1 920) . InFeud, S. Essas de Psychanalyse Pars, Payot 1981

1 4 . Freud, S Le mo et 1e ça ( 1 923) Idem

1 5. ettelhem, B Freud and man's soul. New York, Alfred

A Knopf 1983.

1 6. Bourguon A. Cotet P . aplanche J. , Roberto, F.Tradure Freud. Pars Presses Unverstares de France,1989

1 7 Laplanche, J , Pontas J P Vocabulaire de Psycha-nalys Pars, Presses Unverstares de Frce 1 973,4 edção

18. É o caso de Jorge Zahar Edtor do Ro de Janero

19 É o caso da Edtora Escuta, de São Paulo

20. Gramsc A Maquiael, a Política e o Estado ModernoRo de Janero, Clzação Braslera, 1 968

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2 1 Bourdieu, P , Passeron, J C L reproducton. Paris,Minuit, 1970

22 Freud, S Linterétation des rêves Op. cit

23 Sobre isso, vide: Fed, S. Contrbuition à lhistoire

du mouvement psychanalytque. (1914) Pais, Payot1975

24 Freud, SL question de l 'analyse prfane ( 1 926) Paris,Gallmad 1985

25 Brman, J. "Repensando Freud e a constituição daclínica psicanalítica. n: Tempo Brasileiro Número 70o de Janeiro, Tempo Brasileiro, 1 982

26 Birm, J Freud e a experiência psicanalítica. A constituição da psicanálise Rio de Janeiro, Taurus-Timbre,1989

27 Freud, A "Dcultés survenant sur le chemn de lapsychanalyse ( 1968) In: Nouvelle Revue de Psycha-nalyse Número 10 Paris, Gallmard, 1974

28 Brman, J. Enfermidade e loucu Sobre a medicina dasinterrelações Rio de Janeiro, Campus, 1980

29 Hartmann, H. says on Ego Psychology New Yorknternational Uvers Press, 1 976

30 Sobre isso, de: Hartmann, H "Comments onthe psychoanalysis of the ego ( 1948) dempp 3- 1 4 1

3 1 Birman, J Enfermidade e loucura. Sobre a medicina dasinter-relações Op. cit

32 Castel, F. , Castel, R. , Lovell, A la socété psychiatrqueavancée Le modle americain Paris, Grasset, 1979

33 Sobre isso, vide Freud, A O tratamento psicanalítico decançs Rio de Janeiro, Ima 197 1 ; eud, A infância

normal e patológica. Rio de Janeiro, Zaha, 1 97 1 ; Klein,M "Le développement d'un enfant ( 1 92 1 ) n ein, MEssas de Psychanalyse. Pais, Payot, 1976; Klein, M"L'analyse des jeunes enfants ( 1 923) dem; Klein, M"Colloque sur lanalyse des jeunes enfants ( 1 927)dem

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34 Rodnesco E. Htore de la pycanalye en FranceVome 2 Pas, Se 1986

35 Brman J. A osoa e o scrso redano. HyppoUte etor de red In: Hyppote, J � Enao de p-

nále e floofa o de Janero, Tars-Tmbre1989

36 dem

37 dem

38. Sobre a hstóra da nsttção pscítca nestespíses vde: Jaccard, R. Htore· de la pycanalye.Vome 2 Pars Hachete 982

39 Lacan J . Foncton et champ de paroe et d angageen psychanayse ( 1 953) n: Lacan J Ért. ParisSe 1966.

40 Smrnof V De Vena a Ps". n: Nouvll Rvue dPychanalye. Número 20 Pars Gllmd 99.

4. Turke S Jacque Lacan.L rupcón dl pscoanlsis

en Fanca Benos Ares Pados 1983

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O v cá

Psicanáise da Sexuaidade Feminina]uliet Mihell

Freud e WittgensteinPaul-Laurent Assoun

Psicanálise e Conexto Culuraljurandir Freire Costa

A Primeira Entrevista em PsicanáliseMaud Mannoni

Lacan - do Equívoco ao ImpasseFrançois Roustang

• Os Métoos ProjeivosDidie Anzieu

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PsiCANÁLisEOfício Impossvel?