Boas práticas agrícolas Sistemas Silvipastoris · Portanto, o dimensionamento correto dos SSPs é...

6
Boas práticas agrícolas Sistemas Silvipastoris

Transcript of Boas práticas agrícolas Sistemas Silvipastoris · Portanto, o dimensionamento correto dos SSPs é...

Page 1: Boas práticas agrícolas Sistemas Silvipastoris · Portanto, o dimensionamento correto dos SSPs é premissa para a obtenção de sucesso do sistema. ... J. I. de. Comportamento de

B o a s p r á t i c a s a g r í c o l a s

Sistemas Silvipastoris

Page 2: Boas práticas agrícolas Sistemas Silvipastoris · Portanto, o dimensionamento correto dos SSPs é premissa para a obtenção de sucesso do sistema. ... J. I. de. Comportamento de

RESUMO

Sistemas silvipastoris (SSPs) são sistemas de produção nos quais forrageiras e/ou animais e árvores são cultivados simultaneamente, na mesma unidade de área. A introdução de árvores em áreas de pastagens a céu aberto protege o rebanho dos extremos climáticos e ainda possibilita obter serviços ambientais e diversificar a produção. O plantio de árvores é um investimento de longo prazo, sendo os SSPs uma boa alternativa para conciliar e garantir a produção simultânea de animais, madeira, frutos e outros bens e serviços.

Os SSPs diminuem os impactos ambientais negativos, inerentes aos sistemas convencionais de criação de ruminantes, por favorecerem a restauração de pastagens degradadas e melhorar as condições para o desenvolvimento da forrageira, incrementando a produtividade animal por meio de aumentos no ganho de peso e maior sobrevivência de embriões. Também reduz a dependência por insumos externos (como postes e mourões), permitindo e intensificando o uso sustentável do solo, além de outros benefícios. Podem ainda fornecer alimento para pessoas e para o gado, madeira, lenha, frutos e castanhas, resinas, pasto apícola, entre outros produtos. A utilização das árvores para a produção de madeira envolve planejamento e conhecimento das opções, disponibilidade de mão de obra e/ou treinamento de pessoal, produção esperada, custos, taxas, mercado e riscos envolvidos.

Outro aspecto positivo da exploração de madeira na propriedade pecuária é a possibilidade do corte da madeira ser realizado de acordo com a oportunidade da época, da rentabilidade da floresta, entre outros, de forma que a idade ótima de rotação, desbaste ou talhadia, não é necessariamente pré-determinado como na agricultura. Assim, os plantios florestais permitem flexibilidade no corte de modo a maximizar os lucros, aumentando assim a resiliência da propriedade rural.

Em termos ecológicos, os SSPs têm papel importante no estabelecimento de corredores ecológicos, que favorecem o intercâmbio de genes entre populações de espécies, pela polinização e dispersão de sementes, interligando fragmentos florestais dispersos e isolados. Além disso, as árvores auxiliam a conservação do solo de várias maneiras: reduzem a erosão, aumentam a matéria orgânica, melhoram a estrutura do solo e

Sistemas Silvipastoris

Boa prática aplicável em Áreas de Uso Restrito; em áreas de Uso Alternativo do Solo e em áreas consolidadas em Áreas de Preservação Permanente, respeitadas as áreas mínimas para recomposição e adoção de boas práticas de conservação de água e solo.

Page 3: Boas práticas agrícolas Sistemas Silvipastoris · Portanto, o dimensionamento correto dos SSPs é premissa para a obtenção de sucesso do sistema. ... J. I. de. Comportamento de

aceleram a ciclagem de nutrientes. As árvores ajudam a reduzir a erosão pela redução do fluxo do vento e de água, mantendo o solo agregado e aumentando a infiltração. A recuperação de áreas degradadas pode ser auxiliada pela deposição de restos vegetais, incluindo tocos, galhos e liteiras, ao longo de curvas de nível, onde eles podem segurar matéria orgânica e sementes. O aumento nos teores de matéria orgânica do solo e de liteira das árvores ajuda a melhorar a estrutura do solo e aumenta a infiltração da água pluvial.

A sombra proporcionada pelas árvores afeta diretamente a produtividade, por meio da proteção direta das plantas e animais (bem-estar animal), por alterações do microclima, pela competição e pela redução das perdas de solo. Portanto, o dimensionamento correto dos SSPs é premissa para a obtenção de sucesso do sistema.

O ambiente térmico, geralmente engloba os efeitos da radiação solar, temperatura (Tar), umidade relativa (UR) do ar e velocidade do vento (Var), sendo a combinação Tar - UR o principal condicionante para conforto térmico e o funcionamento geral dos processos fisiológicos dos animais.

O estresse prolongado conduz a uma resposta complexa no animal, que se traduz em menor desempenho. O estresse leva à perda de peso, reduz a resistência às infecções, reduz o crescimento tanto pela menor produção de hormônios como pela redução da ingestão de alimento e inibição geral do trato gastrintestinal.

O sombreamento proporcionado pelas árvores é considerado como o de melhor qualidade, pois combina a proteção da luz solar e o resfriamento devido à umidade que evapora das folhas, além de beneficiar o crescimento e a qualidade das pastagens. Em condições tropicais, a temperatura sob a copa das árvores é cerca de 2 a 3°C menor que sob céu aberto, havendo registro de reduções de até 9°C. A sombra, pela interceptação da luz solar, pode reduzir a carga de exposição à radiação em pelo menos 30%.

As gramíneas produzidas em ambientes sombreados mostram geralmente maior teor de proteína bruta, maior teor de nitrogênio não protéico, cutículas mais finas, lâminas mais largas, elongação estimulada e desenvolvimento vascular diminuído. Entretanto, à medida que o nível de sombra aumenta, a concentração de carboidratos solúveis na planta diminui e pode haver um declínio concomitante de conteúdo de parede celular.

As árvores também constituem uma barreira que impede a formação de geadas, resultando em pastagens verdes durante um maior período no inverno. Algumas das gramíneas mais usadas para a formação de pastagens no Brasil, como Brachiaria decumbens, B. brizantha e cultivares de Panicum maximum apresentam tolerância parcial ao sombreamento.

Page 4: Boas práticas agrícolas Sistemas Silvipastoris · Portanto, o dimensionamento correto dos SSPs é premissa para a obtenção de sucesso do sistema. ... J. I. de. Comportamento de

Além de vantagens ecológicas, os SSPs proporcionam vantagens econômicas pela diversificação da renda da propriedade, melhor distribuição na demanda por mão-de-obra durante o ano e uso mais intensificado da terra.

A escolha correta da espécie arbórea para compor o sistema é fundamental, pois influencia sobremaneira no sucesso do SSP. Dentre os problemas associados ao plantio de espécies agronomicamente inadequadas podemos citar a suscetibilidade futura a doenças e pragas, potencial invasivo, efeito deletério que podem causar à pastagem (e.g., excesso de sombreamento, deposição excessiva de serapilheira, ou efeito alelopático). Ademais, haveria ainda o risco associado ao plantio de espécies que pudessem se tornar economicamente desinteressantes com o passar do tempo. Isso ocorreria devido mudanças no potencial de comercialização de seus produtos (mudanças na preferência de mercado), ou até mesmo devido a eventuais restrições ambientais para a exploração dessas espécies.

Responder à pergunta “quais espécies são adequadas para o uso em sistemas silvipastoris” ainda é muito difícil, considerando as peculiaridades regionais, as modalidades de SSP e a fitogeografia. A necessidade de pesquisas neste campo é grande, em todas as regiões geográficas do Brasil.

Contudo, para um menor risco de insucesso, deve-se buscar espécies adequadas às condições ecológicas da propriedade rural; espécies compatíveis com outros componentes do sistema (por exemplo, evitar árvores que produzam frutos tóxicos aos bovinos); espécies adequadas à prática agroflorestal que se deseja implantar (por exemplo, raízes profundas para as espécies de barreiras quebra-vento, leguminosas quando se deseja aumentar a fertilidade do solo); espécies de silvicultura conhecida, entre outros.

O arranjo espacial utilizado deve ser criteriosamente escolhido, uma vez que pode afetar a qualidade da madeira e da forrageira. Para obter crescimento satisfatório do fuste das árvores, a competição entre árvores próximas deve ser reduzida a medida que as árvores crescem. O arranjo espacial também influencia na quantidade e qualidade do sombreamento, que como visto anteriormente, modifica as características das forrageiras.

A adoção dos sistemas silvipastoris deve ser estudada e planejada pelo proprietário rural e um técnico responsável, que possua conhecimentos suficientes para promover o aumento da rentabilidade da propriedade rural por meio dos ganhos em produtividade dos componentes envolvidos no sistema.

Page 5: Boas práticas agrícolas Sistemas Silvipastoris · Portanto, o dimensionamento correto dos SSPs é premissa para a obtenção de sucesso do sistema. ... J. I. de. Comportamento de

Normalmente a implantação de tais sistemas ocorre em áreas de pastagens já es-tabelecidas e que apresentam algum grau de degradação, visando a recuperação do potencial produtivo das mesmas. Após avaliação das atividades necessárias à recuperação da espécie forrageira já implantada, tais como roçada, aplicação de calcário e adubação de cobertura, é realizada a marcação das covas para implan-tação das linhas de árvores. Deve ser adotado o cultivo mínimo, com a abertura de covas e controle de matocompetição apenas nas faixas de plantio das árvores. A depender da condição do terreno, é possível a abertura de sulcos nas linhas de plantio, sempre no sentido transversal ao do escoamento natural do terreno. As árvores devem ser estabelecidas em linhas dispostas no sentido transversal ao do escoamento natural do terreno, acompanhando as curvas de nível (Figura 1)

Figura 1. Sistema silvipastoril: linhas de árvores estabelecidas em sentido trans-versal ao escoamento superficial natural do terreno. Foto: Marcelo Dias Müller

Escolha da Essência FlorestalA escolha da espécie florestal a ser utilizada deve obedecer a alguns critérios básicos, tais como: adaptação climática, finalidade do plantio, crescimento rápido, copa alta e pouco densa, possibilidade de mercado, dentre outros. Além disso, o nível de conhecimento técnico sobre a silvicultura da espécie deve ser consider-ado, bem como a disponibilidade de mudas a preços acessíveis e a existência de assistência técnica local qualificada.A produção madeireira, na maioria das vezes, tem sido o principal fator na escolha da espécie. Neste sentido, em função de suas características de rusticidade, adap-tação a diversos ambientes, facilidade no manejo cultural, conhecimento técnico disponível, disponibilidade de mudas e material genético, crescimento rápido e multiplicidade de usos, atendendo a diversos mercados, as espécies do gênero Eucalyptus têm sido as mais utilizadas.Outras espécies, tais como Acacia mangium (acácia), Grevilea robusta (gravílea), Khaya ivorensis, K. senegalensis (mogno-africano), Schizolobium amazonicum (paricá), Tectona grandis (teca) e Toona ciliata (cedro australiano), têm sido apon-tadas como potenciais. Entretanto, devem ser observadas as limitações edafo-climáticas na seleção destas alternativas.

Bibliografia

ALMEIDA, R. G. de; RANGEL, J. H. de A.; CAVALCANTE, A. C. R.; ALVES, F. V. Sistemas silvipastoris: produção animal com benefícios ambientais. In: CONGRESSO NORDESTINO DE PRODUÇÃO ANIMAL, 9., 2014, Ilhéus. Produção animal: novas diretrizes; trabalhos apresentados. Ilhéus: SNPA, 2014. 3 f.

URL http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/114901/1/aac-Sistemas.pdf

BERNARDINO, F. S.; GARCIA, R. Sistemas silvipastoris. Pesquisa Florestal Brasileira, Colombo, n. 60, p. 77-87, dez. 2009. Edição Especial.

URL http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/37617/1/Sistema-silvipastoris.pdf

CASTRO, A. C.; LOURENÇO JÚNIOR, J. de B.; SANTOS, N. de F. A. dos; MONTEIRO, E. M. M.; AVIZ, M. A. B. de; GARCIA, A. R. Sistema silvipastoril na Amazônia: ferramenta para elevar o desempenho produtivo de búfalos. Ciência Rural, Santa Maria, v. 38, n. 8, p. 2395-2402, nov. 2008.

URL http://www.scielo.br/pdf/cr/v38n8/a50v38n8.pdf

FRANKE, I. L.; FURTADO, S. C. Sistemas silvipastoris: fundamentos e aplicabilidade. Rio Branco, AC: Embrapa Acre, 2001. 51 p. (Embrapa Acre. Documentos, 74).

URL http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/CPAF-AC/8708/1/doc74.pdf

OLIVEIRA, T. K. de; FURTADO, S. C.; ANDRADE, C. M. S. de; FRANKE, I. L. Sugestões para implantação de sistemas silvipastoris. Rio Branco, AC: Embrapa Acre, 2003. 28 p. (Embrapa Acre. Documentos, 84).

URL http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/CPAF-AC/9680/1/doc84.pdf

PORFIRIO-DA-SILVA, V.; MEDRADO, M. J. S.; NICODEMO, M. L. F.; DERETI, R. M. Arborização de pastagens com espécies florestais madeireiras: implantação e manejo. Colombo: Embrapa Florestas, 2009. 48 p.

URL http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/132912/1/2014-reimp-Cartilha-Arborizacao-2014.pdf

Page 6: Boas práticas agrícolas Sistemas Silvipastoris · Portanto, o dimensionamento correto dos SSPs é premissa para a obtenção de sucesso do sistema. ... J. I. de. Comportamento de

RODRIGUES, M. M.; SANTOS, M. S. dos; LEAL, T. M.; OLIVEIRA, M. E. de; MOURA, R. L. de; ARAÚJO, D. L. da C.; RODRIGUES, F. N.; VASCONCELOS, J. I. de. Comportamento de ovinos em sistema silvipastoril com cajueiro. Revista Científica de Produção Animal, Fortaleza, v. 14, n. 1, p. 1-4, 2012.

URL h t t p s : / / w w w . e m b r a p a . b r / b u s c a - d e - p u b l i c a c o e s / - /publicacao/1017789/comportamento-de-ovinos-em-sistema-silvipastoril-com-cajueiro

Autores: Valdemir Antônio Laura e André Dominghetti Ferreira - Embrapa Gado de Corte