Boas Práticas Produção Leite em Propriedades Rurais

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1 Lucas Fernando Link BOAS PRÁTICAS NA PRODUÇÃO DE LEITE EM PROPRIEDADES RURAIS Relatório de Estágio apresentado à disciplina de Estágio do Curso de Engenharia Agrícola da Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC. Orientadora: Prof.ª Débora Chapon Galli Santa Cruz do Sul, novembro de 2011

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Lucas Fernando Link

BOAS PRÁTICAS NA PRODUÇÃO DE LEITE EM PROPRIEDADES RURAIS

Relatório de Estágio apresentado à disciplina de

Estágio do Curso de Engenharia Agrícola da

Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC.

Orientadora: Prof.ª Débora Chapon Galli

Santa Cruz do Sul, novembro de 2011

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, que me conduziu em todos os momentos de minha

vida.

Aos meus familiares, pelo carinho, apoio, incentivo durante minha formação

acadêmica.

À professora Débora, a quem admiro pela dedicação, competência e profissionalismo

no exercício de sua função, por acreditar em meu potencial e ter aceito ser minha orientadora.

Aos meus colegas e amigos, que de uma forma ou outra ajudaram nesta caminhada.

A minha noiva Ticiane, pelo incentivo e paciência nos momentos críticos da execução

do presente trabalho.

Aos agricultores familiares, que me acolheram e permitiram que o trabalho fosse

realizado, a quem admiro muito, mesmo passando por sérias adversidades, não desistem

jamais de seu objetivo, que é a produção de alimento para esta nação.

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RESUMO

O leite é considerado de extrema importância para os seres humanos, sendo que, um

dos mais nobres alimentos, por sua composição rica em proteínas, gorduras, carboidratos, sais

minerais e vitaminas, proporcionando nutrientes e proteção imunológica. Para produzir um

leite de qualidade e seguro, é necessário tomar diversos cuidados durante a produção, desde o

local adequado, com condições higiênicas e sanitárias rigorosas, além da conservação e

transporte do mesmo, pois uma vez que contaminado, o mesmo não pode ser recuperado. No

presente trabalho objetivou-se diagnosticar as condições higiênico-sanitárias e operacionais na

obtenção leite em propriedades rurais frente aos requisitos legais da IN 51. Foram visitadas

oito propriedades rurais do município de Paraíso do Sul, localizadas na região central do

estado do Rio Grande do Sul, onde aplicou-se uma lista de verificação (check-list) a fim de

avaliar as condições específicas. As informações coletadas eram referentes às características

das propriedades e de recursos humanos; aspectos de instalações e saneamento; caracterização

do manejo do rebanho e da ordenha. Os resultados obtidos mostram que as propriedades na

média possuem 20 ha, onde predomina a mão de obra familiar, sendo que 87% nunca, ou uma

única vez, receberam um treinamento de higiene e boas práticas. No aspecto de instalações e

saneamento, 62% das propriedades possuem materiais estranhos ao processo de produção, e

75 e 62% das mesmas não possuem um curral de espera e uma sala de ordenha,

respectivamente. No manejo do rebanho, 100% das propriedades conduzem os animais de

forma adequada e descartam o leite de vacas em tratamento, onde a produção média das

mesmas é de 14,25 litros animal/dia. No manejo de ordenha, 87,5 e 75% das mesmas realizam

a higienização correta dos membros superiores e dos utensílios respectivamente. O teste da

caneca de fundo preto não é realizado em 63% das propriedades, em relação CMT (Califórnia

Mastitis Test), 100% das mesmas realizam. Quanto ao pré-dipping 63% não realiza este

procedimento, já em relação ao pós-dipping, 63% realizam o processo. Outro fator que chama

atenção é que 100% das propriedades não possuem um acompanhamento técnico, e pelos

resultados obtidos da indústria, em relação à CBT e CCS, apenas 12,5% das propriedades

estarão em conformidade com a IN 51 e IN 32 a partir de 01º/01/2012. Tais resultados são

preocupantes, pois se observa que com um acompanhamento técnico nestas propriedades,

facilmente algumas questões relacionadas às boas práticas poderiam ser adotadas de maneira

simples e sem elevados gastos, apenas com uma melhor orientação.

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LISTA DE FIGURAS

1 Mastite clínica .....................................................................................................................

2 Mastite subclínica ...............................................................................................................

3 Teste caneca ........................................................................................................................

4 Lavagem dos tetos ...............................................................................................................

5 Pré-dipping ..........................................................................................................................

6 Secagem dos tetos ...............................................................................................................

7 Fluxograma do processo de obtenção leite .........................................................................

8 Localização das propriedades .............................................................................................

9 Principal atividade das propriedades ...................................................................................

10 Raças dos animais .............................................................................................................

11 Escolaridade dos produtores .............................................................................................

12 Material estranho ...............................................................................................................

13 Sala de ordenha nos parâmetros ........................................................................................

14 Curral de espera ................................................................................................................

15 Curral de espera nos parâmetros .......................................................................................

16 Curral de espera fora parâmetros ......................................................................................

17 Sala de ordenha .................................................................................................................

18 Tipos de ordenha mecanizada ...........................................................................................

19 Ordenha balde ao pé ..........................................................................................................

20 Sala de alimentação dos animais .......................................................................................

21 Sala de armazenamento do leite ........................................................................................

22 Materiais estranhos ...........................................................................................................

23 Sala aberta .........................................................................................................................

24 Descarte dos dejetos ..........................................................................................................

25 Descarte inadequado dos dejetos ......................................................................................

26 Pré-dipping realizado ........................................................................................................

27 Pós-dipping realizado ........................................................................................................

28 Higienização dos equipamentos ........................................................................................

29 Filtração do leite nas propriedades ...................................................................................

30 Permanência do leite na propriedade ................................................................................

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31 Assistência técnica nas propriedades ................................................................................

32 CBT do leite por propriedade ............................................................................................

33 CCS do leite por propriedade ............................................................................................

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LISTA DE TABELAS

1 Localidade de cada propriedades e suas respectivas áreas .................................................

2 Treinamento recebidos e ações de conduta pessoal.............................................................

3 Aspectos gerais das instalações e saneamento ....................................................................

4 Abastecimento, tratamento e armazenamento de água nas propriedades ...........................

5 Produção média de leite por animal, quantidade animais e alimentação oferecida ............

6 Manejo do rebanho ..............................................................................................................

7 Procedimentos realizados na obtenção do leite ...................................................................

8 Demais procedimentos na obtenção do leite .......................................................................

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LISTA DE QUADROS

1 Relação entre a temperatura de armazenamento e o crescimento bacteriano .....................

2 CCS e CBT permitidas ........................................................................................................

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ......................................................................................

2.1 A produção de leite bovino ..............................................................................................

2.2 Leite .................................................................................................................................

2.2.1 Qualidade do leite .........................................................................................................

2.3 Requisitos para a produção de leite cru com qualidade e segurança ...............................

2.3.1 Instalações .....................................................................................................................

2.3.2 Cuidados pré-ordenha ...................................................................................................

2.3.3 Controle da mastite .......................................................................................................

2.3.4 Sanidade animal e zoonoses ..........................................................................................

2.3.4.1 Tuberculose ................................................................................................................

2.3.4.2 Brucelose ...................................................................................................................

2.3.5 Ordenha .........................................................................................................................

2.3.5.1 Ordenha manual .........................................................................................................

2.3.5.2 Ordenha mecânica ......................................................................................................

2.3.6 Resfriamento e armazenagem do leite ..........................................................................

2.3.7 Higienização das instalações dos equipamentos ...........................................................

2.3.8 Qualidade da água .........................................................................................................

2.3.9 Coleta e transporte para unidade de beneficiamento ....................................................

2.4 Controle de qualidade de leite cru ....................................................................................

3 MATERIAIS E MÉTODOS ..............................................................................................

3.1 Descrição da área de estudo .............................................................................................

3.2 Atividades realizadas .......................................................................................................

3.2.1 Coleta de dados .............................................................................................................

3.2.2 Sugestões para adequação das não conformidades .......................................................

3.2.3 Elaboração de material informativo para os produtores rurais .....................................

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ......................................................................................

4.1 Dados obtidos nas propriedades avaliadas .......................................................................

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4.1.1 Caracterização das propriedades ...................................................................................

4.1.2 Recursos humanos da propriedade ................................................................................

4.1.3 Aspectos gerais de instalação e saneamento .................................................................

4.1.3.1 Curral de espera .........................................................................................................

4.1.3.2 Sala de ordenha ..........................................................................................................

4.1.3.3 Sala de alimentação animais ......................................................................................

4.1.3.4 Sala de armazenamento do leite .................................................................................

4.1.3.5 Abastecimento e armazenamento da água .................................................................

4.1.3.6 Manejo resíduos .........................................................................................................

4.1.4 Manejo do rebanho ........................................................................................................

4.1.5 Manejo da ordenha ........................................................................................................

4.1.6 Armazenamento do leite nas propriedades ...................................................................

4.1.7 Assistência técnica às propriedades ..............................................................................

4.1.8 Qualidade do leite ........................................................................................................

4.2 Sugestões para adequação das não conformidades ..........................................................

4.3 Material informativo para os produtores rurais ................................................................

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..............................................................................................

REFERÊNCIAS .....................................................................................................................

ANEXO A – Check list aplicado nas propriedades ...............................................................

ANEXO B – Cartilha de boas práticas na produção leiteira ..................................................

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1 INTRODUÇÃO

O leite é considerado de extrema importância para os seres humanos, sendo que, é um

dos mais nobres dos alimentos, por sua composição rica em proteínas, gorduras, carboidratos,

sais minerais e vitaminas, proporcionando nutrientes e proteção imunológica. Todavia, as

mesmas características que tornam o leite um alimento completo, também o fazem um

excelente meio para o desenvolvimento de diversos microrganismos, muitos deles com

potencial patogênico. Além destes perigos, as contaminações químicas e físicas podem torná-

la impróprio ao consumo.

Para produzir um leite de qualidade e seguro, é necessário tomar diversos cuidados

durante a produção, desde o local adequado, com condições higiênicas e sanitárias rigorosas,

sanidade e manejo dos animais, rotina de ordenha, higiene do manipulador e dos

equipamentos, além da conservação e transporte do mesmo, pois uma vez que contaminado, o

mesmo não pode ser recuperado. Estes cuidados são conhecidos como boas práticas

agropecuárias.

Com o intuito de melhorar a qualidade e segurança do leite produzido e consumido no

Brasil, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) publicou a Instrução

Normativa nº 51 (IN 51), com importantes requisitos em relação à produção, conservação,

coleta e transporte do leite cru, além de estabelecimento de um padrão de qualidade para essa

matéria-prima, a ser implantado em diferentes prazos nas distintas regiões do país, a partir de

2005 (BRASIL, 2002).

Frente a tais exigências são necessárias ações que evitem a exclusão dos produtores

que ainda não se adaptaram a esta Instrução Normativa. A detecção dos principais pontos de

estrangulamento nesta etapa da cadeia produtiva poderá fornecer subsídios para implantação

de procedimentos necessários e compatíveis com a realidade das propriedades leiteiras,

garantido a sua sustentabilidade.

O presente estudo de caso teve como objetivo geral avaliar as condições higiênico-

sanitárias e operacionais na obtenção do leite, tendo como objetivos específicos:

- Diagnosticar a situação das propriedades rurais frente aos requisitos legais da IN 51;

- Aplicar uma lista de verificação (check-list) adaptado às propriedades rurais;

- Apontar as conformidades e as não conformidades;

- Apresentar sugestões para adequação das possíveis não conformidades;

- Elaborar um material informativo de boas práticas na produção de leite em

propriedades rurais.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 A produção de leite bovino

Segundo Gomes (2001), citado por Müller (2002), o Brasil é o sexto maior produtor de

leite do mundo, com cerca de 21 bilhões de litros/ano, segundo dados do Departamento de

Agricultura dos Estados Unidos (USDA) de 1998, apresentando uma evolução média de 3,3 %

ao ano no período de 1980 a 1998, com destaque para os anos de 1995 e 1996, em que o

crescimento da produção foi de 9 e 11%, respectivamente.

Dados de 2010 apontam uma produção de 29 bilhões de litros de leite. Cada brasileiro

consome, por ano, 148 litros, ou seja, 24 a mais que há 10 anos, mas há margem para

aumentar essa média, visto que para cada 1% de acréscimo da renda, o consumo de lácteos no

País amplia-se em 0,5% (CAMPOS, 2010).

O Rio Grande do Sul pode assumir a liderança da produção de leite no País em 2013.

Para concretizar a meta, o setor industrial aposta num crescimento de pelo menos 3,5 bilhões

de litros anuais de forma gradativa (ROCHA, 2007). SEBRAE (2010) salienta que o Rio

Grande do Sul está em segundo lugar no ranking nacional com uma produção anual de 3,3

bilhões de litros.

Para Agapto et al. (2010), as maiores produções de leite do Brasil provêm de pequenas

propriedades rurais, com cerca de 1,47 milhões de estabelecimentos trabalhando somente com

a atividade leiteria. Campos (2010) destaca que a agricultura familiar é responsável por 56%

do leite produzido no Brasil. No Rio Grande do Sul a produção de leite é uma atividade

predominante de pequenas propriedades, com áreas aproximadas de 20 ha (CASTRO et al.,

1998).

A Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul (FETAG, 2011)

coloca que 47,1% dos 121 mil produtores gaúchos têm uma produção diária de até 100 litros

de leite, e que, atualmente, 90% dos municípios do Estado produzem leite.

Segundo Finamore e Montoya (2010), a cadeia láctea gaúcha responde com 7% do

Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio do Rio Grande do Sul.

A produção de leite do Rio Grande do Sul é caracterizada por ser uma atividade em

que os produtores atuam há mais de 15 anos e onde a escolaridade média não ultrapassa os 5

anos, o que dificulta o processo de inovação tecnológica. Outro fator que chama a atenção é

que em 71% das propriedades, as esposas executam a produção de leite, a ordenha, o manejo

do rebanho e o controle das receitas e despesas. Outra consideração de grande importância é

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que os produtores dedicam a maior parte do tempo em outras atividades agrícolas, mas

consideram a produção leiteira importante no ponto de vista econômico (FINAMORE e

MONTOYA, 2010).

2.2 Leite

Segundo Behmer (1984), o leite é uma emulsão de cor branca, ligeiramente

amarelada, de odor suave e gosto adocicado. É um produto secretado pelas glândulas

mamárias e alimento indispensável para os mamíferos nos primeiros meses de vida. Para

Brasil (2002) o leite é um produto oriundo da ordenha completa e ininterrupta, em condições

de higiene, de vacas sadias, bem alimentadas e descansadas. O leite de outros animais deve

denominar-se segundo a espécie que proceda.

O leite é rico em proteína, gordura, carboidratos, sais minerais e vitaminas A e D,

dentre outros. Oferece, também, elementos anticarcinogênicos, presentes na gordura, como o

ácido linoléico conjugado, esfingomielina, ácido butírico e betacaroteno (MENDES, 2006).

De acordo com Zafalon et al. (2008), o leite pode impregnar-se facilmente de odores e

sabores estranhos. Constituintes opacos em suspensão dão ao leite a sua coloração branca por

meio da reflexão da luz. A existência de poucas partículas de grande tamanho em suspensão

faz com que o mesmo apresente tonalidade azulada, que é mascarada com a presença de

pigmentos carotenóides.

2.2.1 Qualidade do leite

Conforme Nascimento et al. (2001), citados por Galvão (2009), as características de

um leite de qualidade devem ser as seguintes: isento de microrganismos patogênicos,

sedimentos e matérias estranhas; livre de resíduos de antibióticos, desinfetantes ou

adulterantes; baixa contagem de células somáticas; um sabor levemente adocicado, livre de

sabores e aromas estranhos; estar de acordo com os padrões legais, para o mínimo de gordura,

sólidos totais e sólidos desengordurantes.

Para Tronco (1996), uma vez que a matéria-prima estiver contaminada, jamais poderá

se obter um produto de qualidade. A excelência de um derivado lácteo sempre vai depender da

qualidade do leite.

Para Winck e Thaler Neto (2009) as normas de qualidade do leite e derivados sofreram

uma adequação devido às exigências do mercado interno e externo.

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Segundo Nero et al. (2005) e Agapto et al. (2010) várias pesquisas relatam que a

cadeia produtiva do leite é ineficiente em diversos setores, apresentando baixas produtividades

e, em muitas situações, qualidade insatisfatória. Considerando tais evidências o Ministério da

Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) iniciou há cerca de 10 anos uma discussão

nacional, envolvendo os âmbitos científicos e econômicos do setor leiteiro, buscando

alternativas para melhorar a qualidade do leite brasileiro. Primeiramente foi estabelecido um

grupo de trabalho para analisar e propor um programa de medidas visando o aumento da

competitividade e modernização da cadeia. Tal grupo desenvolveu uma versão do Programa

Nacional de Melhoria da Qualidade do Leite (PNMQL), projeto que já vinha sendo

desenvolvido desde 1996. A versão definitiva das novas normas de produção leiteira foi

publicada na Instrução Normativa nº 51 (IN 51), de 18 de setembro de 2002 (NERO et al.,

2005).

A IN 51 do MAPA, implantada em julho de 2005 nos estados do Sul, Sudeste e

Centro-Oeste, e em agosto de 2007 nos estados do Norte e Nordeste, foi elaborada para

melhorar e padronizar a qualidade do leite cru produzido no País, definindo novos critérios

técnicos de produção, identidade e qualidade dos leites tipo A, B, C, Pasteurizado, leite cru

refrigerado, além de regulamentar a coleta e o transporte a granel do leite cru refrigerado.

(BRASIL, 2002).

Castro et al. (1998) afirmam que usualmente problemas relacionados com a qualidade

têm origem na propriedade, seja devido à precariedade das instalações, equipamentos

utilizados na ordenha e armazenamento do produto, ou pelos descuidos com a higiene.

2.3 Requisitos para a produção de leite com qualidade e segurança

A IN 51 preconiza que devem ser seguidos os preceitos de Boas Práticas

Agropecuárias (BPA) referentes às condições higiênico-sanitárias gerais para a obtenção da

matéria-prima. As condições específicas são descritas nos seus regulamentos técnicos em

função do tipo de leite (BRASIL, 2002).

2.3.1 Instalações

Para Behmer (1984), as vacas devem estar alojadas em um lugar espaçoso, bem

iluminado, arejado, com acomodações adequadas aos serviços e que permitam higiene

completa. O local deve possuir água de boa qualidade, em quantidade suficiente para

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higienização, e longe de locais com mau cheiro ou que favoreçam o desenvolvimento de

pragas (EMBRAPA, 2005).

Segundo Zafalon et al. (2008) os cuidados do correto manejo de ordenha não devem

estar restritos ao local de obtenção do leite, mas também àqueles em que os animais

permanecem antes e depois da ordenha. A sala de espera ou curral de espera deve ser

sombreado ou coberto, com disponibilidade de 1,7 a 2m² por animal.

As instalações de uma exploração leiteira, de qualquer tipo, devem apresentar certos

requisitos: sala de espera ou curral de espera: deve ser bem acabado, com piso concretado,

blocos de cimento ou pedras rejuntadas, com declive não inferior a 2%, provido de canaletas

sem cantos vivos, e de largura, profundidade e inclinação suficientes, de modo a permitirem

fácil escoamento das águas e de resíduos orgânicos, devem estar devidamente cercados com

tubos galvanizados ou réguas de madeiras sem cantos vivos, possuir manjedouras ou cochos

de fácil sanitização e sem cantos vivos, e água para limpeza do local; sala de ordenha: a

ordenha pode ser manual ou mecânica (permite-se a ordenha no estábulo, desde que à mesma

seja mecânica), pé direito de no mínimo três metros (3,00 m), quando a ordenha for manual as

paredes devem ter dois metros (2,00 m) de altura mínima, afastadas de fontes produtores de

maus cheiros e/ou construções que venham causar prejuízos à obtenção higiênica do leite,

deve haver boa iluminação e ventilação, foro, piso impermeabilizado, paredes

impermeabilizado numa altura não inferior a dois metros (2,00 m) com azulejos ou outro

material aprovado, e possuir mangueiras com água sob pressão, é facultativo a instalação de

telas e basculantes; boxes dos bezerros: destinado apenas para à contenção durante a

ordenha, o bezerro poderá estar localizado ao lado do estábulo ou sala de ordenha, desde que

isolado por paredes e com acesso indireto; sala de alimentação ou curral de alimentação:

deve ser bem acabado, com piso concretado, blocos de cimento ou pedras rejuntadas, com

declive não inferior a 2%, provido de canaletas sem cantos vivos, de modo a permitirem fácil

escoamento das águas e de resíduos orgânicos, devem estar devidamente cercados com tubos

galvanizados ou réguas de madeiras sem cantos vivos, possuir cochos de alimentação de fácil

sanitização, com espaçamento de 60 a 80 cm para cada animal, e água para limpeza do local;

sala de leite: deverá ter iluminação e ventilação adequada, forro pode ser dispensável caso a

cobertura for de fibrocimento, alumínio ou PVC, o piso e paredes deverão ser

impermeabilizados com azulejos ou outros materiais aprovados, as janelas e basculantes

deverão ser providos de telas a prova de insetos, o equipamento de refrigeração do leite deverá

estar localizado nesta dependência, e servir para guarda e sanitização de utensílios e

equipamentos, os quais não deverão ter contato direto com o piso, e ter o mínimo de

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condições básicas para transferência do leite refrigerado para o caminhão tanque (BRASIL,

2002; RODRIGUES FILHO e AZEVEDO, 2005; SÃO PAULO, 2009).

Trabalho de Bolzan, Link e Dickow (2011) revelou que 60% das pequenas

propriedades rurais da região central do RS avaliadas pelos autores possuem um curral de

espera dentro dos parâmetros e 100% das mesmas possuem uma sala de ordenha específica;

outro dado importante é que em 100% das propriedades possuem um estábulo de alimentação

ou os animais são estimulados para ficarem em pé.

2.3.2 Cuidados pré-ordenha

Tronco (1996) e Gonçalves (2007) explicam que o produtor deve adotar o princípio de

que a vaca gosta de rotina e de uma série de estímulos positivos, tais como: cheiro do

alimento, sons normais (ausência de grito, maus tratos) e massagem no úbere. Estes estímulos

vão através do sistema nervoso do animal e indicam que tudo se encontra bem, com isso, a

glândula hipófise libera na corrente sanguínea o hormônio ocitocina que vai agir na ejeção do

leite.

A ocorrência de maus tratos aos animais acarretará em estresse, que momentos antes

da ordenha, leva à liberação da adrenalina, cuja ação é antagônica à da ocitocina. A adrenalina

impede a liberação da ocitocina ou evita a chegada desta às células que envolvem os alvéolos.

A falta ou a redução da liberação da ocitocina faz com que a quantidade leite seja diminuída

(ZAFALON et al., 2008).

2.3.3 Controle da mastite

Para a obtenção de matéria-prima de qualidade os animais devem ser livres de

quaisquer enfermidades, principalmente de infecções no úbere (GALVÃO, 2009).

A mastite é uma enfermidade que atinge 40% do rebanho leiteiro (GALVÃO, 2009).

Battiston (1977) e Cani e Frangilo (2008) definem mastite ou mamite como uma inflamação

do úbere, o qual se apresenta endurecido e com temperatura aumentada. A inflamação traduz-

se por presença de células somáticas em quantidades elevadas e alteradas na composição do

leite (GONÇALVES, 2007).

A mamite causa o aumento da contagem das células somáticas no leite, que na maioria

dos casos, é causado por uma infecção bacteriana (BRITO e BRITO, 2000).

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Cani e Frangilo (2008) citam que existem duas formas de manifestação de mamite, a

clínica e a subclínica. A primeira é possível de ser observada a olho nu, pois quando se retiram

os primeiros jatos na caneca de fundo preto, verifica-se a presença de grumos, pus ou aspecto

aquoso do leite (Figura 1). A forma subclínica da infecção não pode se observar a olho nu e

para identificá-la usa-se o teste conhecido como Califórnia Mastitis Test (CMT) (Figura 2).

Este teste deve ser realizado mensalmente, e quando houver ocorrência de mastite clinica, de

quinze em quinze dias.

Figura 1 – Mastite clínica. Figura 2– Mastite subclínica.

Fonte: Cani e Frangilo, 2008. Fonte: Cani e Frangilo, 2008.

Para Portugal et al. (2002), a adoção de um programa de prevenção e controle de

mastite deve priorizar procedimentos adequados de higiene antes, durante e após a ordenha,

como cuidados higienização e manutenção de equipamentos de ordenha, desinfecção dos

tetos, tratamento da vaca seca e tratamento adequado dos casos clínicos.

Na região Sudeste do Brasil, o monitoramento da mastite clínica e da forma subclínica

é realizado em 80% e 60%, respectivamente, considerando que as propriedades são de

pequeno a médio porte (BRITO et al., 2004).

Bolzan, Link e Dickow (2011) avaliaram 5 pequenas propriedades rurais da região

Central do RS e observaram que 100% das mesmas realizam o Califórnia Mastitis Test

(CMT) em seus rebanhos ordenhados.

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2.3.4 Sanidade animal e zoonoses

Mendes (2006) salienta que o controle sanitário está diretamente ligado à

produtividade e lucratividade do rebanho, bem como é ponto fundamental para o controle

efetivo da saúde pública.

De acordo com Krug et al. (1992) citado por Mendes (2006), um bom estado geral de

saúde dos animais permite que o rebanho seja produtivo, tornando-se, um fator decisivo e

determinante na viabilidade econômica da exploração. Um rebanho enfermo é oneroso não só

para o produtor, mas também para a saúde pública, transformando lucros em prejuízos e

despesas em controle de zoonoses.

2.3.4.1 Tuberculose

Para Mendes (2006) a tuberculose é uma doença infecciosa caracterizada pela sua

grande importância quanto à saúde humana e por afetar os animais domésticos, entre eles, em

especial, o gado leiteiro.

A transmissão da tuberculose causada pelo Mycobacterium bovis de bovinos para o

homem ocorre pela ingestão do leite cru. O controle da tuberculose bovina é feito através de

uma série de medidas, que incluem na certificação do rebanho livre, médicos veterinários para

diagnóstico em campo, certificação de laboratórios e campanhas públicas de educação

sanitária (GALVÃO, 2009).

No rebanho bovino a tuberculose pode ser disseminada pela descarga nasal, leite,

fezes, urina, pelas secreções nasais, vaginal, uterina e sêmen (GALVÃO, 2009).

2.3.4.2 Brucelose

A brucelose é uma doença infecciosa causada pelo bactéria Brucella abortus. Sua

principal característica é induzir aborto nos estágios finais da gestação (MENDES, 2006).

Galvão (2009) salienta que além dos abortos em estágios finais, esta doença também

acaba causando a infertilidade do rebanho, influenciando na sua produtividade, na

lucratividade do produtor e na saúde pública.

Mendes (2006) frisa que a transmissão da brucelose para os humanos se dá através da

manipulação de carcaças contaminadas ou quando há a ingestão de leite cru. A disseminação

entre os animais ocorre via ingestão de pastos, rações e água contaminada pelas secreções,

Page 18: Boas Práticas Produção Leite em Propriedades Rurais

18

fetos abortados e pelas membranas fetais das fêmeas infectadas, por meio da contaminação do

úbere durante a ordenha (GALVÃO, 2009).

2.3.5 Ordenha

O leite é extraído da glândula mamária mediante a ordenha (estímulos). Esta operação

é bastante delicada e de sua correta execução depende a obtenção da maior quantidade de leite

e a sanidade do úbere da vaca (TRONCO, 1996).

De acordo com Cani e Frangilo (2008) o comportamento do ordenhador exerce

significativa influência na produção de leite. O mesmo deve ser cauteloso no manejo das

vacas e realizar a mesma rotina durante todas as ordenhas, além de adotar alguns

procedimentos importantes para ajudar a obter leite de qualidade como: bons hábitos higiene

(roupa limpa, botas de borracha, cabelos e unhas cortadas), lavar as mãos antes e durante a

ordenha.

Durante a ordenha alguns cuidados devem ser tomados para garantir a qualidade do

leite, a saúde animal e o bom funcionamento dos equipamentos. Tais procedimentos são

comuns tanto na ordenha mecânica como na manual (PORTUGAL et al., 2002).

Segundo Müller (2002), a ordenha é o momento importante da atividade leiteira por

constituir-se na medida mais essencial no controle da mastite e possibilitar a melhoria da

qualidade do leite. A ordenha deve ser realizada por pessoas treinadas, com tranquilidade,

obedecendo a uma rotina preestabelecida.

Para Gonçalves (2007), a rotina deve englobar os seguintes passos: teste da caneca:

para detectar mastite clínica, no qual se retiram os três primeiros jatos de leite, que são os mais

contaminados, dos quatro tetos (Figura 3); limpeza dos tetos: os tetos devem ser lavados e

enxugados sempre que apresentarem sujeira (Figura 4). Somente o teto sujo deve ser lavado e

secado, nunca o úbere todo; pré–dipping: é a desinfecção do teto com solução sanitizante

própria a essa finalidade (à base de cloro ou de iodo) (Figura 5) para manter os tetos limpos e

evitar a mastite. Deve-se imergir os tetos por inteiro na solução, um por um, por meio de um

aplicador próprio; secagem dos tetos: os tetos devem ser enxugados com papel toalha

descartável (Figura 6). Esse passo é importante, pois evita contaminações do leite por

desinfetantes e a ocorrência de deslizamentos de teteiras, que podem provocar infecções

intramamárias. Nunca utilizar panos coletivos; pós-dipping: é a imersão de cada teto em

solução desinfetante imediatamente após a retirada da teteira ou da ordenha manual. É

importante que a vaca não se deite depois desse processo, para não minimizar o efeito da

Page 19: Boas Práticas Produção Leite em Propriedades Rurais

19

solução; ordem de ordenha: estabelecer uma ordem, deixando as vacas infectadas ou em

tratamento para o final e descartar este leite.

Figura 3 – Teste caneca. Figura 4 - Lavagem dos tetos.

Fonte: Gonçalves, 2007. Fonte: Gonçalves, 2007.

Figura 5 – Pré-dipping. Figura 6 – Secagem dos tetos.

Fonte: Gonçalves, 2007. Fonte: Gonçalves, 2007.

Winch e Thaler Neto (2009) entrevistaram 166 produtores nas regiões do Meio-Oeste e

Alto Vale do Itajaí do Estado de Santa Catarina e observaram que o pré e pós-dipping só eram

realizados em 13,4 e 36% das propriedades, respectivamente. Pelos resultados analíticos

obtidos os autores concluíram que dentre as técnicas de manejo de ordenha, o emprego da pré-

Page 20: Boas Práticas Produção Leite em Propriedades Rurais

20

imersão das tetas em desinfetante destaca-se na melhoria da qualidade microbiológica do leite

nas propriedades estudadas.

Em 32 propriedades rurais do município de Luz (MG) estudadas por Araújo et al.

(2009) 68,8% não realizam teste da caneca antes da ordenha, 65,6% não lavam os tetos das

vacas, 90,6% dos ordenhadores não higienizam as mãos entre uma ordenha e outra e 71,9%

não realizam o pré-dipping. Do sistema usado para secagem, nas 11 propriedades que realizam

a lavagem dos tetos das vacas antes da ordenha, 72,7% usam toalha de papel, 18,2% usam

pano único e 9,1% não secam os tetos das vacas.

Em pequenas propriedades do município de Toledo – PR foi constatado que em

84,62% das pequenas propriedades não é realizada a desinfecção dos tetos, e em 84,62%

dessas também não é feito o teste de mastite (BIEGER, 2010).

Dados de 2011 apontam que em 5 propriedades rurais da região Central do RS, 60%

dos produtores realizam o teste da caneca e 60% realizam a higienização dos tetos, mas

somente 40% fazem a secagem dos tetos com papel toalha. Outro fator que chama a atenção é

que 80% das propriedades realizam o pós-dipping (BOLZAN, LINK e DICKOW, 2011).

2.3.5.1 Ordenha manual

Os cuidados relacionados com a higiene durante a obtenção do leite mediante a

ordenha manual são os mesmos que os recomendados para a ordenha mecânica. Na retirada

manual do leite, a ordenha pode ser feita com ou sem bezerro ao pé. Além das práticas

tradicionais, deve-se dar uma atenção especial para o balde em que o leite será colocado, para

evitar a caída de água suja enquanto é feita a lavagem dos tetos (ZAFALON et al., 2008).

Para Tronco (1996), se a ordenha for realizada manualmente, nenhum vácuo é aplicado

na extremidade do teto. O leite é forçado a sair com a alta pressão aplicada no teto. Deve-se

ordenhar os tetos de modo cruzado: uma mão pega o teto anterior direito e a outra o teto

posterior esquerdo, enquanto, em seguida, uma mão pega o teto anterior esquerdo e a outra o

posterior direito (ZAFALON et al., 2008).

2.3.5.2 Ordenha mecânica

Para Tronco (1996), a ordenha mecânica é a retirada do leite de forma a aplicar vácuo

na extremidade do teto.

Page 21: Boas Práticas Produção Leite em Propriedades Rurais

21

Quando a obtenção do leite for feita por meio de ordenhadeira mecânica, a colocação

das teteiras nas vacas é considerado o momento crucial. Caso não seja bem feita, pode

comprometer todas as etapas posteriores, inclusive a qualidade do leite. Outro fator

fundamental é o tempo que o animal entra na sala de ordenha até a colocação das teteiras, o

qual deve ser o menor possível: da estimulação até a colocação das unidades de ordenha seja

de aproximadamente um minuto, pelo fato de a meia-vida da ocitocina ser curta (no máximo

oito minutos). A ocitocina atinge o pico na corrente sanguínea cerca de um a três minutos após

o início da estimulação (ZAFALON et al., 2008).

2.3.6 Resfriamento e armazenagem do leite

A Figura 7 a seguir demonstra o fluxograma do leite pós-ordenha.

Figura 7 – Fluxograma do processo de obtenção do leite.

Fonte: São Paulo, 2009.

Logo após a ordenha, o leite está em uma temperatura de 35ºC a 37ºC. Embora tenha

sido ordenhado corretamente, ele possui microrganismos que podem causar acidez, pois a esta

temperatura eles se multiplicam com muita facilidade (TRONCO, 1996).

A refrigeração do leite pode acontecer por sistemas de latões ou em tanques de

refrigeração; o primeiro na prática é mais utilizado em transporte de leite para tanques

comunitários. Os tanques de refrigeração são de aço inox, e podem ser verticais ou horizontais

(EMBRAPA, 2005).

Cani e Frangilo (2008) salientam que a temperatura do leite deve atingir 4ºC em, no

máximo, 3 horas após ter sido colocado no resfriador, e este leite poderá permanecer

conservado na propriedade no máximo em até 48 horas. Quando o leite de uma ordenha for

misturado ao leite do resfriador, a temperatura não deve ultrapassar os 10ºC, e num prazo de 2

horas, deve voltar a 4ºC.

A IN 51 indica padrões para a qualidade do leite, sendo o tipo A aquele produzido,

beneficiado e envasado em estabelecimento denominado granja leiteira. O leite cru tipo B

deve ser refrigerado na propriedade rural produtora e nela mantido pelo período de, no

máximo, 48 horas e em temperatura igual ou inferior a 4ºC, e ser transportado para

Page 22: Boas Práticas Produção Leite em Propriedades Rurais

22

estabelecimento industrial para ser processado. O leite cru tipo C transportado em vasilhame

adequado e individual de capacidade até 50 litros e entregue em estabelecimento industrial ou

em posto de refrigeração até as 10 horas do dia de sua obtenção, e o leite obtido na segunda

ordenha deve sofrer refrigeração na propriedade e ser entregue no dia seguinte até as 10 horas

com a temperatura máxima de 10ºC. O leite cru refrigerado tipo C após a ordenha deve ser

entregue até as 10 horas do dia de sua obtenção, em posto de refrigeração de leite e nele ser

refrigerado e mantido em temperatura igual ou inferior a 4ºC e permanecer pelo período

máximo de 24 horas, sendo remitido em seguida a estabelecimento beneficiador. Já o leite cru

refrigerado deve ser refrigerado e mantido em temperatura máxima de 7ºC na propriedade

rural ou em tanque comunitário, ser transportado em carro tanque isotérmico da propriedade

rural para um posto de refrigeração de leite ou estabelecimento industrial para ser processado

(BRASIL, 2002).

De acordo com Portugal et al. (2002), quando o leite for mantido em temperatura

acima de 4ºC este perde a qualidade (Quadro 1). Assim sendo, deve-se resfriá-lo,

imediatamente após a ordenha, em torno daquela temperatura dificultando-se desta maneira a

multiplicação bacteriana com a deterioração do produto.

Quadro 1 – Relação entre a temperatura de armazenamento e o crescimento bacteriano

Fonte: Adaptado de Portugal et al., 2002.

Winch e Thaler Neto (2009) salientam que a aquisição de equipamentos (ordenhadeira

Page 23: Boas Práticas Produção Leite em Propriedades Rurais

23

mecânica e resfriadores), sem mudança na atitude do produtor quanto à adoção de técnicas

adequadas de higiene de ordenha, não é estratégia para a melhoria da qualidade

microbiológica do leite.

2.3.7 Higienização das instalações e dos equipamentos

O leite que permanece em utensílios e em equipamentos cria uma excelente

oportunidade para o desenvolvimento de microrganismos. De modo a evitar este problema,

todos os utensílios que tenham contato com o leite devem ser muito bem higienizados,

imediatamente após o término da ordenha, primeiramente com enxágüe bem feito, para

facilitar a limpeza química, e por fim, o uso de sanitizantes, completa o processo da boa

higienização (ZAFALON et al., 2008).

A limpeza do equipamento conforme salienta Müller (2002) é muito importante quanto

ao manejo e higiene da ordenha, e também interfere na qualidade do leite. As etapas para uma

correta lavagem dos equipamentos devem atender alguns requisitos: um enxágue com água

morna (32 a 41°C), limpeza com água e detergente alcalino clorado (71 a 73°C), enxágue

ácido.

Para Cani e Frangillo (2008) a higienização consiste em uma limpeza e desinfecção

dos utensílios e equipamentos, e para estes procedimentos deve-se possuir água de qualidade e

potável, ou seja, livre de micróbios, matéria orgânica e outros contaminantes, em quantidades

suficientes para atender o trabalho diário de higienização dos animais, dos equipamentos e das

instalações.

A sala de ordenha deve estar higienizada e ser um local tranqüilo, limpo e que ofereça

conforto aos animais, e os utensílios necessários para realizar a ordenha como as soluções

desinfetantes, papel toalha, caneca de fundo preto, frasco de imersão dos tetos, devem estar na

sala de ordenha de forma organizada e prontas para serem utilizadas (CANI e FRANGILO,

2008).

Cani e Frangilo (2008) colocam ainda que a higienização da ordenhadeira deve ocorrer

antes da ordenha, com uma solução clorada de 200 ppm de cloro, sendo aproximadamente

dois mililitros de cloro em 10 litros de água durante 5 minutos, e realizar uma drenagem

completa para não ficar resíduos, este procedimento deve ocorrer 30 minutos antes de

começar o procedimento. E após a ordenha, com um enxágüe água morna de 35º a 40ºC

durante 5 minutos, sem recircular a água, e circular uma solução de sanitizante alcalino

clorado em temperaturas de 65º a 70ºC na concentração indicada pelo fabricante do produto

Page 24: Boas Práticas Produção Leite em Propriedades Rurais

24

durante 10 minutos, após este procedimento deve-se realizar uma enxágue com água à

temperatura ambiente por 5 minutos, e por ultimo um enxágüe com detergente ácido em água

morna, na concentração indicada pelo fabricante do produto durante 10 minutos.

Portugual et al.(2002) concluíram que para um leite de qualidade e seguro, todos os

equipamentos e utensílios utilizados na ordenha devem receber uma limpeza adequada, que

envolvem processos físicos e químicos. Os primeiros consistem na retirada dos resíduos de

leite da superfície dos equipamentos, e os processos químicos, compreendem a emulsificação

e saponificação das gorduras, degradação das proteínas e dissolução dos minerais constituintes

do leite.

A pesquisa de Winch e Thaler Neto (2009) revelou que em 71% das propriedades

avaliadas são usados detergentes específicos para higienização das ordenhadeiras, no entanto

apenas 30,9% dos produtores afirmam que desmontam periodicamente o equipamento de

ordenha para higiene profunda.

Outro fator que se deve observar é a manutenção dos equipamentos. Após a ordenha é

necessário checar o filtro de linha e os coadores, se há rachaduras nas borrachas e mangueiras,

no funcionamento adequado dos pulsadores que deve ser de 60 batidas por minuto, inibindo

lesões no úbere, inspecionar os orifícios de entrada de ar dos coletores, trocar os insufladores a

cada 2.500 animais ordenhados e as mangueiras do leite anualmente e substituir os

componentes que entram em contato com o leite a cada seis meses ou de acordo com a

recomendação do fabricante da ordenhadeira (CANI e FRANGILO, 2008).

2.3.8 Qualidade da água

Segundo EMBRAPA (2005) a água é a base para uma produção de um alimento

seguro. Na obtenção do leite é utilizada na lavagem dos tetos, instalações, utensílios e

equipamentos que entram em contato com o leite.

De acordo com Mendes (2006) grande parte das fazendas leiteiras utiliza fontes de

água no processo de produção sem algum tipo de tratamento prévio, sendo que estas podem

estar contaminadas com microrganismos de origem fecal, sujidades e outros materiais

estranhos.

Para a utilização da água de poços e nascentes devem-se tomar alguns cuidados como:

cercar o local para evitar a entrada de animais, manter o local limpo ao seu redor. Quando a

água for proveniente de poços, estes devem permanecer tampados e ter uma pequena calçada

com canaletas ao redor, para evitar a contaminação das chuvas. Os reservatórios de água

Page 25: Boas Práticas Produção Leite em Propriedades Rurais

25

devem estar sem defeitos, sem rachaduras, tampados para evitar a entrada de animais

estranhos e sujeiras, receber uma higienização logo após a instalação e de 6 em 6 meses, na

ocorrência de acidentes, como enxurradas que posam contaminar a água. Outro fator que deve

ser observado é a análise da água, que deve ser feita com regularidade (EMBRAPA, 2005).

A EMBRAPA (2005) coloca ainda que as águas de açudes ou córregos são impróprios

para a limpeza dos equipamentos, utensílios e para higiene pessoal, pois as chuvas podem

contaminar esta fonte de água, levando sujeiras dos pastos para os reservatórios ou córregos.

Estas águas devem sofrer um rigoroso processo de tratamento a fim de serem utilizadas nas

operações de higienização.

Atualmente a qualidade da água tem sido considerada determinante na busca por

melhores resultados na produção leiteira, contribuindo para o bem estar dos animais,

tornando-os mais sadios e produtivos. Ademais, impacta positivamente na qualidade do leite,

auxiliando na redução da contagem total de bactérias, deixando de ser veículo de

contaminação durante a ordenha e conservação do leite ordenhado. A cloração da água em

propriedades rurais é simples e de baixo custo, podendo ser usados produtos à base de cloro

líquidos (hipoclorito de sódio e outros) e sólidos (cloro granulado ou pastilhas) (OTENIO et

al., 2010).

Estudo de João et al. (2011) indicou que em propriedades rurais do Meio Oeste

Catarinense, 73% das águas utilizadas nas propriedades rurais eram provenientes de

nascentes/fontes (onde 33% eram oriundas de fontes protegidas, 15% de fonte caxambu, 25%

de fontes desprotegidas) e 27% de poços artesianos. Outro fator relevante é que 90% e 100%

das propriedades que utilizam água de fontes desprotegidas e de poços artesianos,

respectivamente, não realizavam qualquer tipo de tratamento prévio para o uso na ordenha

e/ou na higienização de utensílios e equipamentos, e nem mesmo para consumo próprio.

2.3.9 Coleta e transporte para a unidade de beneficiamento

Para Gonçalves (2007), a sala do resfriador deve ser de fácil acesso para o caminhão

tanque, a uma distância de no máximo 5 metros do registro de saída do leite.

No transporte a granel, o responsável pela coleta deve ser uma pessoa treinada para

coletar amostras, realizar teste de acidez e em boas práticas de higiene e de transporte

(EMBRAPA, 2005).

Page 26: Boas Práticas Produção Leite em Propriedades Rurais

26

2.4 Controle de qualidade do leite cru

O controle de qualidade do leite deve começar no local de produção, pois a IN 51

determina que, pelo menos uma vez por mês, amostras do leite de cada propriedade devem ser

enviadas pelas indústrias para serem analisadas na Rede Brasileira de Laboratórios de

Controle de Qualidade do Leite (RBQL). Os resultados das análises são entregues para os

produtores, a fim de que saibam onde deverão atuar para eliminar o problema encontrado

(CANI e FRANGILO, 2008).

A contagem de células somáticas (CCS) e contagem bacteriana total (CBT) devem ser

realizadas mensalmente em amostras de leite de tanque de todas as propriedades, em

laboratórios credenciados (WINCK e THALER NETO, 2009).

O Quadro 2 apresenta as CCS e CBT permitias pela legislação brasileira.

Quadro 2 – CCS e CBT permitidas

Fonte: Adaptado de Brasil, 2002.

Segundo Brasil (2011), a Instrução Normativa nº 32 (IN 32) do MAPA, coloca que os

parâmetros na IN 51 foram prorrogados por seis (6) meses a vigência dos prazos estabelecidos

para adoção de novos limites microbiológicos e de células somáticas para leite cru refrigerado,

que entrariam em vigor a partir de 1º de julho de 2011, para as regiões Sul, Sudeste e Centro-

Oeste.

Em pequenas propriedades rurais do município de Fernandes Pinheiro e Teixeira

Soares – PR, os produtores desconhecem que a qualidade do leite favoreça o aumento da

produção, esquecendo-se também de garantir a segurança alimentar dos consumidores. E um

dos fatores é caracterizado com a baixa escolaridade, e o que dificulta na busca por

informações pertinentes a esse tema, ou até mesmo na compreensão do mesmo (MATTIODA,

BITTENCOURT e KOVALESKI, 2011).

Page 27: Boas Práticas Produção Leite em Propriedades Rurais

27

Marques et al. (2009) concluíram que no município de Pelotas – RS, em pequenas

propriedades familiares, com um acompanhamento e orientações técnicas nas propriedades, é

possível reduzir em média 45% da contagem de bactérias e, em média, 54% da contagem

células somáticas, sendo que estes dois parâmetros são de fundamental importância para a

qualidade leite.

Page 28: Boas Práticas Produção Leite em Propriedades Rurais

28

3 MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 Descrição da área de estudo

O presente trabalho foi realizado em oito (8) propriedades rurais do município de

Paraíso do Sul, no período de agosto a novembro de 2011, sendo uma na Boa Vista Sul, duas

na Linha Sinimbu, uma na Vila Paraíso, uma na Linha Contenda, uma na Linha Patrícia e duas

na Linha Brasileira.

As propriedades foram selecionadas em virtude de que seus proprietários, ao serem

contatados e questionados sobre a respectiva pesquisa, mostraram interesse em saber sobre as

boas práticas e qualidade do leite proveniente de suas propriedades e aceitaram colaborar com

este estudo de caso exploratório descritivo.

3.2 Atividades realizadas

3.2.1 Coleta de dados

A coleta de dados para elaboração do presente estudo de caso foi realizada através de

visitas às propriedades escolhidas, com pré-agendamento e de acordo com a disponibilidade

de tempo dos proprietários.

Durante as visitas realizadas a cada propriedade, foi feito um acompanhamento das

atividades na produção de leite, onde foi preenchida uma lista de verificação (check-list)

adaptado pelo autor (EMBRAPA, 2005; SILVA e SANCHES, 2010) (Anexo A) e realizados

registros fotográficos com o consentimento de cada proprietário, objetivando a coleta de dados

referentes às características das propriedades, e de recursos humanos; aspectos de instalações

e saneamento; caracterização do manejo do rebanho e da ordenha.

Ainda foram coletados dados de análises da qualidade do leite de cada produtor

referentes à Contagem Bacteriana Total (CBT) e Contagem de Células Somáticas (CCS),

salientando-se que estes são fornecidos pelas empresas aos proprietários, onde sete (7)

produtores comercializam sua produção para uma empresa “X”, e um (1) produtor

comercializa a sua produção a empresa “Y”, salientando que ambas estão localizadas na

região do Vale do Taquari.

Page 29: Boas Práticas Produção Leite em Propriedades Rurais

29

3.2.2 Sugestões para adequação das não conformidades

Os dados obtidos no diagnóstico foram analisados comparando-se os requisitos legais

com aqueles encontrados nas avaliações realizadas. A partir das não conformidades

encontradas no processo produtivo foi realizado um trabalho com os itens críticos à segurança

dos alimentos, indicando-se medidas possíveis e econômicas para os proprietários.

3.2.3 Elaboração de material informativo para os produtores rurais

Foi organizado um material informativo aos produtores rurais contendo as informações

técnicas sobre a produção de leite de boa qualidade.

Page 30: Boas Práticas Produção Leite em Propriedades Rurais

30

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 Dados obtidos nas propriedades avaliadas

4.1.1 Caracterização das propriedades

As propriedades avaliadas apresentam áreas e localizações distintas, conforme

apresenta a Tabela 1.

Tabela 1 – Localidade de cada propriedade e suas respectivas áreas

Fonte: Autor, 2011.

Das propriedades avaliadas, é possível verificar que todas são relativamente pequenas,

com uma área média de 20 ha, predominando a agricultura familiar, onde as próprias famílias

são proprietárias de terras. A Figura 8 ilustra suas localizações.

Localidades

Proprie-

dade

Área de

cada

proprieda

de (ha)

Área

utilizada na

produção

leiteira (ha)

Boa

Vista

Sul

Linha

Sinimbu

Linha

Patrícia

Linha

Contenda

Linha

Brasileira

Vila

Paraíso

A 6 5 X

B 30 5 X

C 19 4,5 X

D 14 4 X

E 24 8 X

F 18 8 X

G 15 6 X

H 34 12 X

Média 20

Page 31: Boas Práticas Produção Leite em Propriedades Rurais

31

Figura 8 – Localização das propriedades.

Fonte: Google Earth, 2011.

Conforme a Figura 8, as propriedades A e C se encontram no relevo plano, as

propriedades D, E, F e G se localizam em um relevo ondulado e as propriedades B e H em um

relevo acidentado. Como observamos acima, quanto mais difícil o acesso e o releve destas

propriedades, mais dificuldades os agricultores passam para produção do produto e o

escoamento da mesma.

A Figura 9 apresenta a principal atividade das propriedades rurais.

Page 32: Boas Práticas Produção Leite em Propriedades Rurais

32

0.00%

10.00%

20.00%

30.00%

40.00%

50.00%

60.00%

70.00%

Tabaco

Arroz

Leite

Figura 9 – Principal atividade das propriedades.

Fonte: Autor, 2011.

Como atividade principal destaca-se a cultura do tabaco em 62% das propriedades e

com apenas 12% de participação à produção de leite C refrigerado (Figura 9). Um fator

levantado por Finamore e Montoya (2010) é que os produtores dedicam a maior parte do

tempo em outras atividades agrícolas, mas consideram a produção leiteira importante no ponto

de vista econômico.

As raças dos animais presentes nas propriedades podem ser observadas na Figura 10 a

seguir.

0.00%

5.00%

10.00%

15.00%

20.00%

25.00%

30.00%

35.00%

40.00%

45.00%

Holandês

Mestiço

Jersey

Zebu

Figura 10 – Raças dos animais.

Fonte: Autor, 2011.

Segundo dados da Figura 10, a raça Holandesa é predominante nas propriedades, mas

com o tipo de relevo que estão presentes os animais, os produtores estão parando de investir

Page 33: Boas Práticas Produção Leite em Propriedades Rurais

33

na raça, e implementando a raça Jersey e os animais Mestiços, pela sua rusticidade e produção

satisfatória.

4.1.2 Recursos humanos da propriedade

A mão-de-obra empregada nas propriedades é inteiramente familiar, onde o grupo

familiar, na média, é composto por 3 pessoas.

A Figura 11 apresenta a escolaridade das pessoas presentes nas propriedades.

0.00%

10.00%

20.00%

30.00%

40.00%

50.00%

60.00%

Ens. Fundamental Incompleto

Ens. Fundamental Completo

Ens. Médio Completo

Ens. Técnico

Figura 11 – Escolaridade dos produtores.

Fonte: Autor, 2011.

No aspecto educação, observa-se que 54% dos produtores rurais não possuem o ensino

fundamental completo, concordando com o exposto por Finamore e Montoya (2010), os quais

enfatizam que a escolaridade dos produtores não ultrapassa os 5 anos de estudo, o que

dificulta o processo de inovação tecnológica.

A Tabela 2 apresenta os dados obtidos através da avaliação dos requisitos de

treinamentos em boas práticas higiênicas, ações de conduta pessoal, bem como capacitações

em técnicas conservacionistas.

Page 34: Boas Práticas Produção Leite em Propriedades Rurais

34

Tabela 2 – Treinamentos recebidos e ações de conduta pessoal

Fonte: Autor, 2011.

Conforme a Tabela 2, 87% dos produtores nunca, ou uma única vez, receberam um

treinamento de boas práticas higiênicas; já em relação à conduta, 87% dos manipuladores se

apresentam de forma apropriada. No quesito higienização das mãos 13% dos proprietários não

executam de forma correta e 62% não utilizam roupas e EPI’s adequados para as atividades

realizadas. Outro fator que chama atenção é que em 100% das propriedades nunca foi

realizado algum treinamento de práticas de conservação de solo e água, pois neste processo há

grande produção de dejetos que podem contaminar o solo e a água. Cani e Frangilo (2008)

salientam que o comportamento do ordenhador exerce significativa influência na produção de

leite. O mesmo deve ser cauteloso no manejo das vacas e além de adotar alguns

procedimentos importantes para ajudar a obter leite de qualidade como: bons hábitos higiene

(roupa limpa, botas de borracha, cabelos e unhas cortadas), lavar as mãos antes e durante a

ordenha.

4.1.3 Aspectos gerais de instalação e saneamento

O aspecto das instalações e saneamento pode ser observado na Tabela 3.

Requisitos

Propriedade Recebem

treinamento de

boas práticas

higiênicas

Apresentam

conduta

adequada

Higienização

correta das

mãos

Utilizam

roupas limpas e

EPI’s

Recebem

treinamento em

práticas de

conservação do solo

e água

A Nunca Sim Sim Sim Nunca

B 1 vez (empresa) Sim Sim Sim Nunca

C 1 vez (empresa) Não (adornos) Sim Não Nunca

D 1 vez (empresa) Sim Sim Não Nunca

E 1 vez (empresa) Sim Sim Não Nunca

F Nunca Sim Sim Não Nunca

G Nunca Sim Não Não Nunca

H Sim (SENAR – RS) Sim Sim Sim Nunca

Page 35: Boas Práticas Produção Leite em Propriedades Rurais

35

Tabela 3 – Aspectos gerais das instalações e saneamento

Fonte: Autor, 2011.

Pela análise da Tabela 3 observa-se que 62% das propriedades não estão livres de

materiais estranhos (Figura 12) e que 87% das áreas de ordenha e armazenamento do leite não

possuem proteção contra entrada de animais e pragas. Tais resultados são preocupantes, sob

aspectos de contaminação física e biológica, e em desacordo às recomendações de Behmer

(1984) e Embrapa (2005). As condições estruturais nas áreas de ordenha (Figura 13) e

armazenamento e as instalações elétricas estão 50% e 87% conformes, respectivamente.

Figura 12 – Material estranho. Figura 13 – Sala ordenha nos parâmetros.

Fonte: Registro fotográfico do autor, 2011. Fonte: Registro fotográfico do autor, 2011.

Requisitos

Propriedade O curral/sala

ordenha é livre de

materiais

estranhos

Proteção contra

entrada de pragas

ou animais nas

áreas de ordenha

e armazenamento

Boas condições

estruturais das

áreas ordenha e

armazenamento

Instalações

elétricas

adequadas

Procedimentos

para controle

de pragas

A Sim Não Sim Sim Não

B Não Não Não Não Não

C Não Sim Sim Sim Não

D Sim Não Sim Sim Não

E Não Não Não Sim Não

F Não Não Não Sim Não

G Não Não Não Sim Não

H Sim Não Sim Sim Não

Page 36: Boas Práticas Produção Leite em Propriedades Rurais

36

4.1.3.1 Curral de espera

As características dos currais de espera são demonstradas na Figura 14.

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

Não possui

Possui dentro dos parâmetros

Possui fora dos parâmetros

Figura 14 – Curral de espera.

Fonte: Autor, 2011.

Com os resultados ilustrados na Figura 14, observa-se que 75% das propriedades não

possuem um curral de espera específico e somente 12,5% das mesmas possuem um curral de

espera dentro dos requisitos exigidos (Figura 15). Os 12,5% restantes possuem um curral de

espera fora dos parâmetros devido às sujidades (Figura 16). Tais resultados são negativos se

comparados com os relatados por Bolzan, Link e Dickow (2011).

Figura 15 – Curral nos parâmetros. Figura 16 – Curral fora parâmetros.

Fonte: Registro fotográfico do autor, 2011. Fonte: Registro fotográfico do autor, 2011.

Page 37: Boas Práticas Produção Leite em Propriedades Rurais

37

4.1.3.2 Sala de ordenha

A Figura 17 apresenta dados das salas de ordenhas das propriedades.

0.00%

10.00%

20.00%

30.00%

40.00%

50.00%

60.00%

70.00%

Não possui

Possui dentro dos parâmetros

Possui fora dos parâmetros

Figura 17 – Sala de ordenha.

Fonte: Autor, 2011.

Analisando-se os dados da Figura 17, 62% das propriedades não possuem uma sala de

ordenha, sendo este procedimento realizado no curral. Somente 25% das mesmas possuem

uma sala de ordenha dentro dos requisitos, e os 13% que possuem uma sala, mas fora dos

critérios exigidos. As inconformidades encontradas foram o estado de conservação e

manutenção. Trabalho de Bolzan, Link e Dickow (2011) revelou que 100% das mesmas

possuem uma sala de ordenha específica.

A Figura 18 demonstra os tipos de ordenha realizados nas propriedades.

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

Balde ao pé

Circuito semi-fechado

Figura 18 – Tipos de ordenha mecanizada.

Fonte: Autor, 2011.

Page 38: Boas Práticas Produção Leite em Propriedades Rurais

38

Nas oito propriedades visitadas a ordenha é 100% mecanizada, sendo75% realizada

através do sistema balde ao pé (Figura 19), tipo mais simples e mais barato, de uso mais

frequente em rebanhos pequenos (ZAFALON et al., 2008). Estudo de Bieger (2010) também

revelou que aproximadamente 85% dos pequenos produtores rurais optaram por tal sistema.

Figura 19 – Ordenha balde ao pé.

Fonte: Registro fotográfico do autor, 2011.

4.1.3.3 Sala de alimentação dos animais

As salas de alimentação encontradas nas propriedades são apresentados na Figura 15.

0.00%

10.00%

20.00%

30.00%

40.00%

50.00%

60.00%

70.00%

Não possui

Possui fora dos parâmetros

Possui dentro dos parâmetros

Figura 20 – Sala de alimentação dos animais.

Fonte: Autor, 2011.

Page 39: Boas Práticas Produção Leite em Propriedades Rurais

39

Pela análise da Figura 20 observa-se que apenas 12% das propriedades avaliadas

apresentam uma sala de alimentação considerada adequada em função das recomendações.

Tais resultados estão completamente fora dos dados obtidos por Bolzan, Link e Dickow

(2011), os quais citam que 100% das 5 propriedades analisadas na região central do RS

possuem um estábulo de alimentação ou estimulam os animais a ficarem de pé.

4.1.3.4 Sala de armazenamento do leite

A Figura 21 apresenta os dados obtidos das salas de armazenamento de leite das

propriedades.

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

Possui fora dos parâmetros

Possui dentro do parâmetros

Figura 21 – Sala de armazenamento do leite.

Fonte: Autor, 2011.

Conforme a Figura 21, todas as propriedades possuem uma sala de armazenamento do

leite, mas 75% das mesmas estão em desacordo com os requisitos citados por Brasil (2002),

Rodrigues Filho e Azevedo (2005) e São Paulo (2009), onde as não conformidades

encontradas nas salas consistem na presença de materiais estranhos (Figura 22) ou não

possuem proteção contra a entrada de animais (Figura 23).

Salienta-se que, em relação no armazenamento dos medicamentos, sanitizantes e

produtos químicos, nenhuma propriedade possui sala específica.

Page 40: Boas Práticas Produção Leite em Propriedades Rurais

40

Figura 22 – Materiais estranhos. Figura 23 – Sala aberta.

Fonte: Registro fotográfico do autor, 2011. Fonte: Registro fotográfico do autor, 2011.

4.1.3.5 Abastecimento e armazenamento da água

A Tabela 4 apresenta a forma de abastecimento, tratamento e armazenamento de água,

tanto para consumo humano quanto para utilização na produção de leite.

Tabela 4 – Abastecimento, tratamento e armazenamento de água nas propriedades

Fonte: Autor, 2011.

Analisando a Tabela 4, salienta-se que em 62% das propriedades a água utilizada para

abastecimento das residências e produção de leite de provém de poços rasos, sem que seja

realizada qualquer forma de tratamento. Segundo Otenio et al. (2010) água contaminada pode

veicular bactérias causadoras de mastite e bactérias que contaminam o leite, podendo provocar

acidez e desqualificação ou descarte de matéria-prima.

Parâmetros

Proprie-

dade Origem do

abastecimento água

Recebe algum

tratamento

Reservatórios

em bom estado e

protegidos

Frequência da

higienização dos

reservatórios

A rede municipal Sim Sim 1 vez ao ano

B poço raso Não Sim 1 vez ao ano

C poço raso Não Sim 1 vez ao ano

D rede municipal Sim Sim 1 vez ao ano

E poço raso Não Sim 1 vez ao ano

F poço raso Não Sim 1 vez ao ano

G poço raso Não Sim 1 vez ao ano

H rede municipal Sim Sim 1 vez ao ano

Page 41: Boas Práticas Produção Leite em Propriedades Rurais

41

Em relação ao estado de conservação, 100% estão de acordo e no caso da limpeza dos

reservatórios, todos realizam uma limpeza anual do mesmo.

4.1.3.6 Manejo dos resíduos

A Figura 24, apresenta o destino dos dejetos da produção leiteira.

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

Descarte inadequado

Descarte adequado

Figura 24 – Descarte dos dejetos.

Fonte: Autor, 2011.

Em 87% das propriedades os resíduos da lavagem dos currais, sala de ordenha e outras

instalações possuem descarte inadequado, ou seja, os dejetos são eliminados ao solo, sem

sofrer nenhum tratamento (Figura 25).

As embalagens dos medicamentos utilizados, segundo os produtores, quando utilizam

o mesmo, e quando vazios, armazenam nas propriedades e posteriormente levam nos

estabelecimento onde adquiriram.

Page 42: Boas Práticas Produção Leite em Propriedades Rurais

42

Figura 25 – Descarte inadequado dos dejetos.

Fonte: Registro fotográfico do autor, 2011.

4.1.4 Manejo do rebanho

Na Tabela 5 é apresentada a produção média de leite por animal e caracterizada a

alimentação dos mesmos.

Tabela 5 – Produção média de leite por animal, quantidade de animais e alimentação oferecida

Fonte: Autor, 2011.

Alimentação Propriedade

Produção média

anima/dia (L)

Quantidade

animais em

lactação Ração Silagem Pastagem nativa Pastagem cultivada

A 24 23 Sim

(balanceada 22%) Sim (milho) Não

Sim (aveia preta, azevém,

tifton 85)

B 8 6 Sim

(farelo de trigo) Não Sim

Sim (aveia preta, azevém,

avica)

C 14 16 Não Sim (cana de

açúcar) Não

Sim (azevém,

tifton 85)

D 14 13 Não Sim (milho) Não Sim (azevém, aveia, trevo,

tifton 85)

E 12 13 Sim

(balanceada 22%) Não Sim

Sim (azevém, aveia preta,

tifton 85)

F 10 7 Sim

(balanceada 22%) Não Sim Sim (aveia preta, azevém)

G 16 9 Sim

(balanceada 22%) Não Sim Sim (azevém)

H 16 14 Sim

(balanceada 22%) Sim (milho) Sim Não

Page 43: Boas Práticas Produção Leite em Propriedades Rurais

43

Com relação ao volume diário de produção de leite apresentado na Tabela 5 todos os

produtores avaliados são classificados como pequenos (até 50L/dia), conforme a estratificação

proposta por Bieger (2010).

A suplementação alimentar para o gado leiteiro, em geral é feita através do uso de

ração, silagem e farelo, onde 75, 50 e 13%, respectivamente, se encontram nas propriedades.

O que contraria os resultados de Bieger (2010), onde o uso da ração ou concentrado era menos

empregado.

A pastagem cultivada está presente em 87,5% das propriedades, Bieger (2010) observa

que os produtores com produção de até 50 L/dia, investem na produção de pastagem, presente

em 76,92% das propriedades pesquisadas.

A Tabela 6 apresenta as características gerais do manejo do rebanho nas propriedades

rurais.

Tabela 6 – Manejo do rebanho

Fonte: Autor, 2011.

Requisitos

Proprie-

dade

Animais

conduzidos de

forma

adequada

Ocorrência

de mastite

Exames

(brucelose,

tuberculose,

leptospirose)

Observados

períodos de

carência animais

em tratamento

Identificação

animais sob

medicação

Destino do leite

em tratamento

e do colostro

A Sim Sim Não faz Sim Numeração

(brinco) Descarte

B Sim Sim Não faz Sim Nome ou cor Descarte

C Sim Sim Não faz Sim

Numeração

(brincos) Descarte

D Sim Sim Não faz (vacina 3

vezes ao ano) Sim Nome ou cor Descarte

E Sim Sim Não faz Sim Nome ou cor Descarte

F Sim Sim Não faz Sim Numeração

(brinco) Descarte

G Sim Sim Não faz (vacina 1

vez ao ano) Sim

Numeração

(brinco) Descarte

H Sim Sim Não faz (vacina 3

vezes ao ano) Sim Nome ou cor Descarte

Page 44: Boas Práticas Produção Leite em Propriedades Rurais

44

Pelos resultados da Tabela 6, em 100% das propriedades o rebanho é conduzido à

ordenha de forma adequada. Casos de mastite no rebanho já ocorreram em todas as

propriedades. Os exames de saúde não são realizados, mas alguns produtores realizam

vacinações. Mendes (2006) salienta que o controle sanitário fundamental à produtividade do

rebanho, bem como para a segurança do leite produzido.

O respeito ao prazo de carência das drogas veterinárias ministradas aos animais e o

descarte do leite de animais em tratamento ou com crias novas é praticado por 100% dos

produtores.

4.1.5 Manejo da ordenha

O manejo antes, durante e após a obtenção do leite é apresentado nas Tabelas 7 e 8.

Tabela 7 – Procedimentos realizados na obtenção do leite

Fonte: Autor, 2011.

Pela Tabela 7, em 87,5% das propriedades é realizada a higienização das mãos e

braços corretamente. Estudo de Araújo et al. (2009) realizados em 32 propriedades rurais do

Requisitos

Proprie-

dade Higienização

das mãos e

braços

Higienização

correta

instalações

Lavagem

do úbere

Lavagem dos

tetos

Secagem dos

tetos

Descarte dos

3 primeiros

jatos

A Sim Sim Não Sim (quando

sujo)

Sim (papel

toalha) Sim

B Sim Não Não Sim Não Não

C Sim Sim Não Sim Sim (papel

toalha) Não

D Sim Sim Não Sim Sim (papel

toalha) Sim

E Sim Sim Não Sim (quando

sujo) Não Não

F Sim Não Não Sim (quando

sujo)

Sim (papel

toalha) Não

G Não Sim Sim Sim Sim (pano

coletivo) Não

H Sim Sim Não Sim (quando

sujo)

Sim (papel

toalha) Sim

Page 45: Boas Práticas Produção Leite em Propriedades Rurais

45

município de Luz (MG) colocam que 90,6% dos ordenhadores não higienizam as mãos entre

uma ordenha e outra.

Outros procedimentos observados é que em 75% das propriedades é realizada a

higienização correta dos utensílios; 50% dos produtores praticam a lavagem dos tetos quando

sujos; 62,5% executam a secagem dos tetos com papel toalha individual e 50% realizam o

descarte dos três primeiros jatos de leite. Pesquisa de Araújo et al. (2009) revelou que 65,6%

dos produtores não lavam os tetos das vacas, 72,7% usam toalha de papel, 18,2% usam pano

único e 9,1% não secam os tetos das vacas.

Tabela 8 – Demais procedimentos realizados na obtenção do leite

Fonte: Autor, 2011.

Conforme a Tabela 8, em 62,5% das propriedades não é realizado o teste da caneca de

fundo preto. Araújo et al. (2009) também observaram este dado em propriedades rurais de

MG, onde 68,8% não realizam teste da caneca antes da ordenha. Em relação ao CMT

(Califórnia Mastitis Test) 100% realizam o teste concordando com o dado encontrado por

Bolzan, Link e Dickow (2011) em pequenas propriedades rurais da região Central do RS.

O pré-dipping (Figura 26) não é realizado em 62,5% das propriedades leiteiras,

enquanto o pós-dipping é usual em 62,5% das mesmas (Figura 27). Winch e Thaler Neto

Requisitos Proprie-

dade Teste da caneca CMT Pré-dipping

Produto

utilizado Pós-dipping

Produto

utilizado

A Sim Sim Sim

Sanitizante

comercial a

base de

álcool

Sim Clorexidina

B Não Sim Não ___ Não ___

C Não Sim Sim Solução

clorada 3% Sim Iodo

D Sim Sim Não ___ Sim Iodo

E Não Sim Não ___ Sim Iodo

F Não Sim Não ___ Não ___

G Não Sim Não ___ Não ___

H Sim Sim Sim Acido

Lático Sim Iodo

Page 46: Boas Práticas Produção Leite em Propriedades Rurais

46

(2009) observaram que o pré e pós-dipping só eram realizados em 13,4 e 36% das

propriedades, respectivamente, em regiões do Meio-Oeste e Alto Vale do Itajaí (SC).

Figura 26 – Pré-dipping realizado. Figura 27 – Pós-dipping realizado.

Fonte: Registro fotográfico do autor, 2011. Fonte: Registro fotográfico do autor, 2011.

A higienização dos equipamentos é descrita na Figura 28.

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

Sanitização correta

Sanitização incorreta

Figura 28 – Higienização dos equipamentos.

Fonte: Autor, 2011.

Conforme a Figura 28, em 75% das propriedades é realizada a limpeza e sanitização

dos equipamentos de ordenha de forma correta. A pesquisa de Winch e Thaler Neto (2009)

revelou que em 71% das propriedades avaliadas são usados detergentes específicos para

higienização das ordenhadeiras, no entanto apenas 30,9% dos produtores afirmam que

desmontam periodicamente o equipamento de ordenha para higiene profunda.

Page 47: Boas Práticas Produção Leite em Propriedades Rurais

47

4.1.6 Armazenamento do leite nas propriedades

O armazenamento do leite em todas as propriedades é realizado através de tanques de

expansão. Antes o leite é filtrado através de peneiras de fundo telado (Figura 29). A

temperatura de armazenamento nas mesmas varia de 2 a, no máximo, 4ºC.

O leite produzido é destinado para 2 indústrias de beneficiamento de leite, sendo

ambas localizadas na região do Vale do Taquari.

Figura 29 – Filtração do leite nas propriedades.

Fonte: Registro fotográfico do autor, 2011.

O tempo de permanência do leite nas propriedades varia muito de uma a outra (Figura

30).

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

Até 72 h.

Até 48 h.

Figura 30 – Permanência do leite na propriedade.

Fonte: Autor, 2011.

Page 48: Boas Práticas Produção Leite em Propriedades Rurais

48

Como observado (Figura 30) em 75% das propriedades o leite permanece por até 72

horas. Segundo Cano e Frangilo (2008), o leite poderá permanecer conservado na propriedade

no máximo por até 48 horas. A IN 51 (Brasil, 2002) coloca que para se produzir um leite cru

tipo B, o mesmo deve ser refrigerado na propriedade rural e nela mantido pelo período de, no

máximo, 48 horas e em temperatura igual ou inferior a 4ºC, e ser transportado para

estabelecimento industrial para ser processado.

4.1.7 Assistência técnica às propriedades

A Figura 31 apresenta a assistência técnica nas propriedades rurais estudadas.

0%

20%

40%

60%

80%

100%

120%

Não possui

Possui

Figura 31 – Assistência técnica nas propriedades.

Fonte: Autor, 2011.

Como observado na Figura 31, em 100% das propriedades não possuem assistência

técnica. Os produtores revelaram que dificilmente as indústrias passam alguma informação.

Quando há necessidade de assistência, os produtores contratam um profissional particular, que

geralmente atua somente no manejo dos animais. Estes resultados vão ao encontro com os de

Bieger (2010), onde 76,92% das propriedades que produzem leite até 50 L/dia contratam um

profissional particular.

Page 49: Boas Práticas Produção Leite em Propriedades Rurais

49

4.1.8 Qualidade do leite

As Figuras 32 e 33 apresentam os resultados de Contagem Bacteriana Total (CBT) e

de Contagem Células Somáticas (CCS) do leite por propriedade, realizados pela indústria.

0250500750

1000125015001750200022502500275030003250350037504000425045004750

Jan. Fev. Mar. Abr. Mai. Jun. Jul. Ago.

Meses

X 100

0 (U

FC/m

l)

Propriedade A

Propriedade B

Propriedade C

Propriedade D

Propriedade E

Propriedade F

Propriedade G

Propriedade H

Figura 32 – CBT do leite por propriedade.

Fonte: Autor, 2011.

Pelos resultados relativos à Contagem Bacteriana Total (Figura 32), o leite das

propriedades A, B, C, H está dentro dos parâmetros de até 750.000 UFC/mL descritos pela

Instrução Normativa nº 51(Brasil, 2002) e Instrução Normativa nº 32 (Brasil, 2011) até a data

de 31 de dezembro de 2011. Considerando-se os mesmos dados, a partir de 1º de janeiro de

2012 apenas a propriedade A estará dentro dos limites aceitáveis, que serão de até 100.000

UFC/mL.

Page 50: Boas Práticas Produção Leite em Propriedades Rurais

50

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

1000

Jan. Fev. Mar. Abr. Mai. Jun. Jul. Ago.

Meses

x 10

00 (U

FC/m

l)Propriedade A

Propriedade B

Propriedade C

Propriedade D

Propriedade E

Propriedade F

Propriedade G

Propriedade H

Figura 33 – CCS do leite por propriedade.

Fonte: Autor, 2011.

Pela análise da Figura 33 observa-se que o leite oriundo das propriedades A, B, C, F,

G, H está dentro dos níveis de CCS de até 750.000 UFC/ml descritos pela Instrução

Normativa nº 51 (Brasil, 2002) e Instrução Normativa nº 32 (Brasil, 2011) até a data de 31de

dezembro de 2011. Após 1º de janeiro de 2012 apenas as propriedades A e H estarão em

conformidade com a legislação vigente, que é de 400.000 UFC/ml.

Pelas análises acima das Figuras 32 e 33, apenas uma propriedade estaria dentro dos

parâmetros de CBT e CCS, a partir de janeiro de 2012. Mas é importante destacar que todas as

propriedades possuem alguma não conformidade em relação a estrutura, manejo, condições

sanitárias, qualidade da água e/ou higienização.

Trabalho de Marques et al. (2009) revelou que com um acompanhamento e orientações

técnicas nas propriedades é possível reduzir em torno de 45% a contagem de bactérias e, em

média, 54% da contagem células somáticas.

4.2 Sugestões para adequação das não conformidades

Sugere-se que medidas preventivas simples, e muitas vezes necessitando de baixo

investimento, devam ser adotadas primeiro, como hábitos de higiene pessoal e dos locais de

produção; organização dos locais tanto internamente, quanto externamente; descarte de

materiais. As adequações sejam realizadas através de uma nova análise detalhada, específica

em cada propriedade visando um planejamento baseado no nível de severidade do perigo de

contaminação.

Page 51: Boas Práticas Produção Leite em Propriedades Rurais

51

Algumas medidas mais gerais podem ser tomadas pelos produtores, sendo as

seguintes:

- rever a qualidade de água utilizada;

- rever os procedimentos operacionais, especialmente de manejo da ordenha;

- rever a possibilidade de reformulação da planta de ordenha;

- cobrar o recolhimento do leite em até 48 horas das indústrias;

- cobrar maior acompanhamento técnico das indústrias e do poder público;

- realizar uma capacitação na questão de produção de leite com qualidade e segurança.

4.3 Material informativo para os produtores rurais

O material informativo aos produtores rurais contendo as informações sobre a

produção de leite de boa qualidade, enfocando, principalmente, as práticas de manejo de

ordenha encontra-se no Anexo B.

Page 52: Boas Práticas Produção Leite em Propriedades Rurais

52

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pelo exposto, todas as propriedades visitadas apresentam alguma inconformidade

relacionada aos requisitos de boas práticas higiênico-sanitárias e operacionais de produção de

leite, seja nas instalações, equipamentos, manejo e/ou armazenamento da matéria-prima.

Caso os resultados de análises microbiológicas e de células somáticas permaneçam na

média apresentada, somente o leite da propriedade A estará dentro dos limites descritos pela

legislação em vigor a partir de 2012.

Considera-se que muitas vezes o empenho dos produtores em melhorar a qualidade do

leite é deficiente, visto que alguns relutam em aplicar as técnicas adequadas, apesar de

conhecê-las.

Os resultados do presente trabalho demonstram que há carência de assistência técnica

como um todo aos produtores, tanto das empresas quanto do poder público e particular,

constituindo-se em um dos principais fatores que afetam diretamente a qualidade do produto.

Page 53: Boas Práticas Produção Leite em Propriedades Rurais

53

REFERÊNCIAS

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de Campina do Monte Alegre – SP. Revista Sapere, v. 2, n. 2, 2010. Disponível em:

<http://www.revistasapere.inf.br/download/terceira/PROLEITE.pdf>. Acesso em: 27 ago.

2011.

ARAÚJO, M. M. P. et al. Qualidade higiênico-sanitária do leite e da água de algumas

propriedades da bacia leiteira do município de Luz – MG. Revista de Biologia e Ciências da

Terra, v. 9, n. 2, 2009.

BATTISTON, W. C. Gado leiteiro: manejo, alimentação e tratamento. Campinas: Instituto

Campeiro de Ensino Agrícola, 1977.

BEHMER, M. L. A. Tecnologia do leite: leite, queijo, manteiga, caseína, iogurte, sorvetes e

instalações: produção, industrialização, análise. 13. ed. ver. e atualizada. São Paulo: Nobel,

1984.

BIEGER, A. Caracterizarão das propriedades leiteiras: um estudo na cadeia produtiva da

bovinocultura de leite no município de Toledo – PR. 2010. 103 f. Dissertação (Mestrado em

Desenvolvimento Regional e Agronegócio) – Universidade Estadual do Oeste Paraná, Toledo,

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BOLZAN, D., LINK, L., DICKOW, M. Avaliação de boas práticas na obtenção do leite em

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Engenharia Agrícola) – Universidade de Santa Cruz do Sul, Santa Cruz do Sul – RS, 2011.

BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa nº. 51, de

18 de setembro de 2002. Aprova os Regulamentos Técnicos de Produção, Identidade e

Qualidade do Leite tipo A, do Leite tipo B, do Leite tipo C, do Leite Pasteurizado e do Leite

Cru Refrigerado e o Regulamento Técnico da Coleta de Leite Cru Refrigerado e seu

Transporte a Granel. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 20 set. 2002. Seção 1.

Page 54: Boas Práticas Produção Leite em Propriedades Rurais

54

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Page 58: Boas Práticas Produção Leite em Propriedades Rurais

58

ANEXO A - Check list aplicado nas propriedades

Check-list BPA

Produtor: _______________________________________________________________

Localidade: _____________________________________________________________

Município: ______________________________________________________________

Abreviaturas utilizadas: C – Conforme; NC – Não-conforme; NA – Não aplicável

1 – Caracterização da propriedade:

1.1 Área total (ha): ______________________

1.2 Utilização: culturas anuais______(ha); culturas permanentes______(ha); pastagens

nativas______(ha); pastagens cultivadas______(ha)

1.3 Principal atividade: ( )arroz ( )fumo ( )leite ( )outra:___________

1.4 Raça animais: Holandês______; Jersey______; Zebu______; Mestiço______

2 – Recursos humanos da propriedade:

2.1 Tipo de mão-de-obra: - familiar (nº):_____________ ; escolaridade:__________________

- contratada (nº):___________ ; escolaridade:__________________

Requisitos C NC NA Observação

2.2

Os produtores recebem treinamento de higiene e

boas praticas,

compatíveis com as tarefas que irão executar?

2.3

Os produtores apresentam higiene corporal

adequada, cabelos protegidos, unhas curtas,

limpas e sem esmalte e estão sem adornos, e os

homens barbeados ou com bigodes aparados?

2.4 Os produtores executam a higienização correta

das mãos nos momentos e de forma correta?

2.5

Os produtores utilizam roupas (uniformes)

limpas e conservadas, e adequados para as

atividades executáveis?

2.6 Os produtores utilizam EPI’s (botas e etc.) e

específicos para a atividade em execução?

2.7 O transito de produtores e visitantes não resulta

Page 59: Boas Práticas Produção Leite em Propriedades Rurais

59

em contaminação cruzada do produto?

2.8 Há treinamento em práticas de conservação do

solo, água e ambiente?

2.9

Durante as ordenhas são evitados, pelos

ordenhadores, os maus hábitos de fumar, tossir,

cuspir, mascar, etc.?

3 – Aspectos gerais de instalação e saneamento

Requisitos C NC NA Observação

3.1

Os arredores curral / sala ordenha estão livres de

sucatas, fossas, lixo, animais (insetos, roedores),

inundação e outros contaminantes?

3.2 O lay out da ordenha é adequado, evitando

contaminações?

3.3

Existe proteção contra a entrada de pragas ou

outros animais, nas áreas de produção / local

tanque expansão?

3.4

As paredes / divisórias têm superfície lisa e

impermeável, lavável, nas áreas ordenha e

armazenamento do leite e encontram-se em boas

condições?

3.5

Os pisos são de material liso, antiderrapante,

impermeável, lavável, com caimento para os

ralos, nas áreas de ordenha e armazenamento do

leite e encontram-se em boas condições?

3.6 As instalações elétricas encontram-se em bom

estado de conservação, segurança e uso?

3.7 Existem procedimentos operacionais para o

controle de pragas?

4 – Curral de espera

Requisitos C NC NA Observação

4.1 A área é adequada para o número de

animais presentes?

4.2

Possui cercas adequadas (tubos ferros

galvanizados, correntes ou réguas de

madeira)?

4.3 Possui água sob pressão para limpeza do

local?

Page 60: Boas Práticas Produção Leite em Propriedades Rurais

60

4.4

O piso é adequado (concretado, blocos de

cimento ou pedras rejuntadas), com

declividade adequada e com cobertura?

4.5 Apresenta-se em bom estado de

conservação e manutenção?

5 – Sala de ordenha

Requisitos C NC NA Observação

5.1 A ordenha é realizada manualmente?

5.2

A ordenha é realizada mecanicamente? De

que forma: circuito fechado (espinha peixe,

tandem), balde ao pé ou circuito semi-

fechado?

5.3 Possui boa iluminação e boa ventilação?

5.4 Possui cobertura e forro adequado, e de

fácil limpeza?

5.5 Possui água sob pressão para limpeza do

local?

5.6 Apresenta-se em bom estado de

conservação e manutenção?

6 – Estábulo (pós-ordenha)

Requisitos C NC NA Observação

6.1 O sistema contenção é de fácil limpeza?

6.2 O piso é de material adequado (cimento

áspero, pedras rejuntadas)?

6.3 As canaletas não possuem cantos vivos?

6.4 O piso possui declividade adequada?

6.5

Possui cercas ou delimitação adequadas

(ferros galvanizados, correntes, réguas de

madeira ou muros e paredes)?

6.6

As manjedouras ou cochos coletivos não

possuem cantos vivos e com sistema de

escoamento de água?

6.7 Possui água sob pressão para limpeza do

local?

Page 61: Boas Práticas Produção Leite em Propriedades Rurais

61

7 – Caracterizações do manejo do rebanho

7.1 Manejo reprodutivo: ( )monta natural ( )inseminação artificial ( )não faz

7.2 Média de produção animal/dia (litros): _________

7.3 O modo como os animais são conduzidos à ordenha é adequado? ( )não ( )sim

7.4 Doenças mais freqüentes: ______________________________________________

7.5 Ocorrência de mastite: ( )não ( )sim, periodicidade _____________

7.6 Uso de antibióticos no controle da doença: ( )não ( )sim, período ________________

7.7 Controle de endoparasitas (carrapatos, moscas, bernes, verminoses): ( )mensal

( )bimestral ( )semestral ( )não faz_____________

7.8 Exames para detectar brucelose, tuberculose, leptospirose: ( )mensal

( )bimestral ( )semestral ( )não faz___________________

7.9 Destino do leite de animais em tratamento: _______________________

7.10 Destino do colostro: __________________________

7.11 Tipo de alimentação oferecida aos animais:

( )ração balanceada ( )silagem “tipo”_________________ ( )pastagem nativa

( )pastagem cultivada “tipo”________________

7.12 As rações são estocadas em locais arejados, sem umidade e afastados de paredes e piso?

( )sim, como: ________________ ( )não

7.13 Qual a origem da água de abastecimento?

( )açude ( )rio ( )poço raso ( )poço artesiano ( )rede municipal

( )outros ______________

7.14 Caso a água de abastecimento (higiene dos animais e de instalações: higiene pessoal) seja

proveniente de fonte alternativa de abastecimento a mesma recebe algum tratamento?

( )sim, qual tratamento: __________________ ( )não

7.15 Os reservatórios de água possuem tampas, encontram-se em bom estado de conservação

e são protegidos de contaminação?

( )sim ( )não

7.16 A limpeza dos reservatórios de água é realizada de forma e freqüência adequada:

( )sim ( )não

8 – Caracterização manejo ordenha

8.1 Manejo da ordenha: ( )no tempo ( )no curral ( )sala de ordenha

( )outro _____________________

Page 62: Boas Práticas Produção Leite em Propriedades Rurais

62

8.2 O leite é armazenado em: ( )tarros ( )tanque expansão

8.3 É realizada a higienização das mãos e braços antes e durante a ordenha?

( )não ( )sim

8.4 É realizada higienização da instalação de ordenha? ( )não

( )sim, com que freqüência: ________________

8.5 É realizada a lavagem do úbere? ( )não ( )sim, como: ____________________

8.6 É realizada lavagem dos tetos? ( )não ( )sim, como: ______________________

8.7 Após lavagem faz secagem? ( )não ( )sim, como: ______________________

8.8 É realizado o descarte dos três primeiros jatos de leite? ( )não ( )sim

8.9 É realizado o teste da caneca de fundo preto? ( )não ( ) sim

8.10 Faz o teste CMT para identificar mastite subclínica? ( )não ( )sim

8.11 No caso positivo de mastite qual o destino dado ao leite?

________________________________________

8.12 Faz desinfecção dos tetos antes da ordenha (pré-dipping)? ( )não

( )sim, qual o produto utilizado: ____________________________

8.13 Após desinfecção faz a secagem dos tetos? ( )não

( )sim, como é feita: ______________________

8.14 Faz a desinfecção dos tetos após a ordenha (pós-dipping)? ( ) não

( ) sim, qual o produto utilizado: _____________________________

8.15 Os animais doentes são ordenhados no final dos trabalhos e o leite descartado?

( ) sim ( ) não

8.16 Após a ordenha o animal é estimulado a ficar de pé? ( )não

( )sim, como: ______________________

8.17 Utiliza algum detergente ou sanificante na lavagem e higienização? ( )não

( )sim, qual o produto utilizado: ____________________

Page 63: Boas Práticas Produção Leite em Propriedades Rurais

63

8.18 O leite obtido sofre alguma filtração antes de ser refrigerado? ( )não ( )sim, qual:

_________________________

8.19 Qual a temperatura de refrigeração do leite (ºC)?_______________

8.20 Quanto tempo o leite permanece na propriedade? ___________________________

8.21 Qual o destino do leite produzido?_______________________________________

9 – Características gerais do manejo

Requisitos C NC NA Observação

9.1

Os resíduos da lavagem dos currais, sala de

ordenha e outras instalações possuem

descarte adequado?

9.2

Há algum acompanhamento de técnico na

propriedade para orientar em todas as

etapas de boas práticas? E qual a

periodicidade?

9.3 Alguma forma de identificação dos animais

que estão sob medicação?

9.4

São observados os períodos de carência

entre a aplicação dos medicamentos nos

animais e a utilização do leite para consumo

humano?

9.5 As embalagens dos medicamentos sofrem

correto descarte?

9.6

São tomados os cuidados necessários para a

separação dos produtos de limpeza,

medicamentos e outros químicos em salas

próprias?

10 – Sala armazenagem leite

Requisitos C NC NA Observação

10.1 A sala possui iluminação e ventilação

adequada?

10.2 Há condições de transferência do leite

para o caminhão tanque?

10.3 Há boas condições de higiene?

10.4 Há boas condições de conservação e

Page 64: Boas Práticas Produção Leite em Propriedades Rurais

64

manutenção?

10.4 Possui foro ou cobertura adequada?

Page 65: Boas Práticas Produção Leite em Propriedades Rurais

65

ANEXO B - Cartilha de boas práticas na produção leiteira

Curso de Engenharia Agrícola

Disciplina de Estágio

CARTILHA DE BOAS PRÁTICAS NA PRODUÇÃO LEITEIRA

Contato:

Lucas Fernando Link

UNISC- Curso de Engenharia Agrícola

Av. Independência , 2293 Tel: (55) 9911-2207

Santa Cruz do Sul – RS E-mail: [email protected]

Page 66: Boas Práticas Produção Leite em Propriedades Rurais

66

Manejo da ordenha

Antes da ordenha:

1º - Planeje a sequência de Ordenha:

- inicie a ordenha com as vacas jovens e as vacas saudáveis;

- após ordenhe as vacas mais velhas;

- termine a ordenha com as vacas que estão em tratamento.

2º - Monitore a saúde do úbere regularmente:

- tire os 3 primeiros jatos de leite e um caneco de fundo preto;

- examine se o leite estiver com grumos, ou floculação, alteração de

cor ou consistência;

- verifique a saúde do úbere com o teste da raquete (CMT) e anote os

resultados de cada animal;

- nunca entregue o leite de vacas cujo teste mostrou uma reação

positiva.

3º - Limpe cuidadosamente dos tetos:

- lave os tetos com água corrente, só quando estiverem muito sujos;

- sempre desinfete os tetos antes da ordenha, utilizando sanitizantes

apropriados;

- utilize papel toalha descartável para a secagem dos tetos;

- ATENÇÃO: nunca utilize pano coletivo, pois você poderá estar

contaminando um animal saudável com um contaminante de outro animal.

Page 67: Boas Práticas Produção Leite em Propriedades Rurais

67

Custo do papel toalha:

(Pct. com 1000 folhas = R$ 10,50) (utiliza-se 2 folhas/animal)

10,50/1000 = 0,0105 x 2 folhas/animal x 10 vacas = R$ 0,21/dia

Durante a ordenha:

4º - Verifique o vácuo da ordenha:

- sempre verifique o vácuo antes da ordenha;

- o vácuo ideal é especificado por cada fabricante;

- a taxa dos pulsadores deve ser de 60 batidas por minuto.

5º - Colocação das teteiras:

- coloque as teteiras imediatamente após a desinfecção dos tetos;

- evite a entrada de ar nas teteiras;

- verifique o posicionamento do conjunto de ordenha;

6º - Evite a sobreordenha:

- acompanhe o processo de ordenha;

- evite executar outras atividades durante momento da ordenha.

7º - Retirada da teteiras:

- retire o conjunto de ordenha após o fechamento do vácuo;

- retire as 4 teteiras ao mesmo tempo;

Page 68: Boas Práticas Produção Leite em Propriedades Rurais

68

8º - Observe os bons hábitos e o uso de EPI’s:

- não cuspa durante a ordenha;

- não fume no momento da ordenha;

- não use adornos (brincos, anéis, relógios, pulseiras, etc.);

- observe e use os EPI’s adequados nas funções que estão sendo executadas.

Após a ordenha:

9º - Desinfecção tetos:

- submirja cada teto com um sanitizante adequado, logo após a

retirada das teteiras;

- a limpeza esporádica é menos eficiente;

- o sucesso no controle de bactérias somente ocorre com uma limpeza

regular dos tetos.

10º - Limpeza dos equipamentos:

- pré-enxágue com água morna potável (32 a 41ºC);

- meça a quantidade correta de sanitizantes;

- circule a solução de limpeza por pelo menos 10 a 15 minutos a

temperatura de 71 a 73ºC;

- enxágue novamente com água potável.

11º - Resfriamento e armazenamento do leite;

- a temperatura do leite no resfriamento nunca deve ser maior que

4ºC;

- quando for adicionado leite de uma ordenha, com o que estiver no

resfriador, este nunca deve ultrapassar o 10ºC, e no máximo em 2

horas deverá voltar à temperatura de 4ºC;

Page 69: Boas Práticas Produção Leite em Propriedades Rurais

69

REFERÊNCIA: Adaptado de DELAVAL. 12 golden rules for milking. Acesso: 25 nov. 2011.

Disponível em: <http://www.delaval.com.br/-/Dairy-knowledge-and-advice/12-golden-rules-

for-milking/>.

- a higienização dos resfriadores, deve ocorrer, logo após a retirada do leite, com sanitizantes

adequados.

12º - Comparação e manutenção da planta de ordenha;

- analise o relatório da indústria de laticínios com relação aos

parâmetros de qualidade do leite;

- faça um cruzamento de dados mensal com o teste da raquete (CMT);

- faça uma manutenção da planta de ordenha a cada 6 meses.