Boaventura & a Educação

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pensadores & educação Inês Barbosa de Oliveira Boaventura & a Educação

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Boaventura & a Educação –Inês B

arbosa de Oliveira

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ISBN 978-85-7526-193-4

Voltada principalmente para educadores, pes-quisadores, estudantes dos cursos de formação deprofessores e demais interessados em pensar asrelações entre a Educação e o mundo contempo-râneo, a Coleção Pensadores & Educaçãoapresenta seu nono volume. Este livro situa e ana-lisa o pensamento do português Boaventura, tantopara compreendermos o presente quanto para ex-trairmos dele novas maneiras de problematizar asnossas práticas e teorizações educacionais. Nestelivro, Inês Barbosa de Oliveira suscita discussõesdesenvolvidas pelo próprio Boaventura sobretemas como: a formação das subjetividades incon-formistas e rebeldes para a ação transformadora ea formação das subjetividades democráticas comoelemento determinante das possibilidades dedemocratização da sociedade.

Outros títulos da Coleção

Pensadores & Educação

• Bourdieu & a Educação;

• Comenius & a Educação;

• Deleuze & a Educação;

• Derrida & a Educação;

• Foucault & a Educação;

• Habermas & a Educação;

• Nietzsche & a Educação;

• Norbert Elias & a Educação;

• Paulo Freire & a Educação;

• Rousseau & a Educação.

Coleção Temas & Educação

• Cinema & Educação;

• Estudos Culturais da Ciência

& Educação;

• Literatura & Educação;

• Surdez & Educação;

• Televisão & Educação.

PRÓXIMOS

LANÇAMENTOS

• Análise do Discurso & Educação;

• Epistemologia & Educação;

• Hermenêutica & Educação;

• Lingüística & Educação;

• Marxismo & Educação;

• Mídia & Educação;

• Bakhtin & a Educação;

• Kuhn & a Educação;

• Platão & a Educação.

Se a amplitude, a qualidade in-

contestável e a diversidade da obra

do pensador português Boaventura

permitem pensar em possibilidades

múltiplas de se escrever sobre seu

conteúdo e seu autor em diferentes

campos, Inês Barbosa de Oliveira

apresenta um recorte desse univer-

so nesta publicação que é o nono

volume da Coleção Pensadores

& Educação. Ela busca neste livro

abordar os mais significativos aspectos

do pensamento de Boaventura do

ponto de vista das possibilidades de

apropriação pelo campo da Edu-

cação.A autora, por meio desse pen-

sador, apresenta novos olhares e

perspectivas de um assunto que,

apesar de ser muito discutido, talvez

precise ser mais refletido. E, para aju-

dar nessa reflexão, nada melhor do

que a companhia desse grande pen-

sador que é Boaventura.A autora do

livro nos oferece o passaporte para

essa viagem com destino ao conhec-

imento.Mas não pense que irá embar-

car em um tempo muito distante,uma

vez que Inês Barbosa suscita, ao lançar

luzes no pensamento de Boaventura,

reflexões atuais e necessárias para a

Educação na contemporaneidade ao

explorar temas como a crise do par-

adigma da modernidade e a ciência

pós-moderna, a formação de subje-

tividades democráticas e a demo-

cracia social.

Boaventura & a Educação

COLEÇÃO

PENSADORES & EDUCAÇÃO

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Inês Barbosa de Oliveira

Boaventura & a Educação

2a edição

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O48b

Oliveira, Inês Barbosa de

Boaventura & a Educação / Inês Barbosa de Oliveira . –2. ed. – Belo Horizonte : Autêntica , 2008.

144 p. —(Pensadores & a educação, 8)

ISBN 978-85-7526-193-4

1.Educação. I.Santos, Boaventura de Sousa. I.Título.II.Série.

CDU 37

Ficha catalográfica elaborada por Rinaldo de Moura Faria – CRB6-1006

COPYRIGHT © 2006 BY INÊS BARBOSA DE OLIVEIRA

C O O R D E N A D O R D A C O L E Ç Ã O

Alfredo Veiga-Neto

R E V I S Ã O

Dila Bragança

E D I T O R A Ç Ã O E L E T R Ô N I C A

Waldênia Alvarenga Santos Ataíde

B E L O H O R I Z O N T E

Rua Aimorés, 981, 8º andar . Funcionários30140-071 . Belo Horizonte . MGTel: (55 31) 3222 68 19TELEVENDAS: 0800 283 13 22www.autenticaeditora.com.bre-mail: [email protected]

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Assinar um livro pressupõe um trabalho solitário de produção e

difunde a idéia de que se está diante de uma criação individual.

A autora ou autor sabe, como muitas outras pessoas, que essa

idéia é uma ilusão, por isso quase sempre os livros trazem

agradecimentos aos tantos e tantas que, sem o terem digitado letra

a letra, participaram de sua escrita, tornando-o possível. No caso

deste, em primeiro lugar, devo agradecer a Boaventura, que tanta

vontade me deu de fazer este livro, por tudo que é e pensa.

Paulo Sgarbi, amigoirmãocolega (tudo junto como ele gosta) e

meu professor de português, é sempre indispensável. Alê, Aldo e

membros do grupo de pesquisa, partícipes de discussões com

comentários e dúvidas, enriqueceram a reflexão e o texto. Bons

ouvidos e boa companhia nas horas de pane de inspiração e

insegurança também são fundamentais: minhas irmãs, filha e

filhos nunca faltaram nessas horas. Finalmente, e sem o

consentimento do destinatário, o último agradecimento é para

alguém que muito me incentiva, acreditando no meu trabalho e

sendo infinitamente paciente com a minha ansiedade. Dirimindo

dúvidas, solucionando pequenos imprevistos e se fazendo

presente no cotidiano, foi fundamental na produção deste livro.

Obrigada a todas e todos.

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SUMÁRIO

IntroduçãoIntroduçãoIntroduçãoIntroduçãoIntrodução

CAPÍTULO I - A crise do paradigma daA crise do paradigma daA crise do paradigma daA crise do paradigma daA crise do paradigma damodernidade e a ciência pós-modernamodernidade e a ciência pós-modernamodernidade e a ciência pós-modernamodernidade e a ciência pós-modernamodernidade e a ciência pós-moderna

Da Ciência ao conhecimento prudenteAs condições teóricas da crise

As condições sociológicas da crise

Pensando o paradigma emergenteTodo conhecimento científico-natural é científi-

co-social – 1ª tese

Todo conhecimento é local e total – 2ª tese

Todo conhecimento é auto-conhecimento – 3ª

tese

Todo conhecimento visa constituir-se em senso

comum – 4ª tese

A ciência pós-moderna e a segunda rupturaepistemológicaCondições teóricas e sociais da dupla ruptura

epistemológica

Do progresso à vida decenteO conflito regulação/emancipação na contempora-

neidade

Subjetividade, cidadania e emancipação no para-

digma pós-moderno

CAPÍTULO II - A Sociologia das ausências e A Sociologia das ausências e A Sociologia das ausências e A Sociologia das ausências e A Sociologia das ausências e

a sociologia das emergênciasa sociologia das emergênciasa sociologia das emergênciasa sociologia das emergênciasa sociologia das emergênciasA crítica da razão metonímica e a sociologia

das ausências

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COLEÇÃO “PENSADORES & EDUCAÇÃO”

A arqueologia das existências invisíveis na educa-

ção e na pesquisa

A crítica da razão proléptica e a sociologiadas emergênciasA idéia da tradução: fundamentos, condições,procedimentos e motivações

CAPÍTULO III - Educação, formação deEducação, formação deEducação, formação deEducação, formação deEducação, formação desubjetividades democráticas e democracia socialsubjetividades democráticas e democracia socialsubjetividades democráticas e democracia socialsubjetividades democráticas e democracia socialsubjetividades democráticas e democracia social

Os aspectos centrais da experiência pedagógicaA aplicação técnica e a aplicação edificante da

ciência

Conhecimento-como-regulação e conhecimento-

como-emancipação

Imperialismo cultural e multiculturalismo

Das subjetividades inconformistas às subjetivi-dades democráticasAs redes de sujeitos e os espaços estruturais de in-

serção social

Mapa de estrutura-acção das sociedades capitalis-

tas no sistema mundial

Redes de subjetividades democráticas tecendoa democraciaProcessos de aprendizagem e a tessitura daemancipação social

Sobre Boaventura de Sousa SantossSobre Boaventura de Sousa SantossSobre Boaventura de Sousa SantossSobre Boaventura de Sousa SantossSobre Boaventura de Sousa SantossCronologiaObras mais relevantes em língua portuguesa

Sites Sites Sites Sites Sites de interessede interessede interessede interessede interesse

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BOAVENTURA & A EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO

O reencantamento do mundo pressupõe ainserção criativa da novidade utópica

naquilo que nos é mais próximo.

(SANTOS, 1995, p. 106)

O pensamento de Boaventura1 de Sousa Santos abordaas mais diversas temáticas e discute problemas relacionadosàs teorias e às práticas sociais nos mais diferentes campos doconhecimento. A amplitude da obra, a sua qualidade incon-testável e a sua diversidade permitem pensar em possibilida-des múltiplas de escrever sobre ela e seu autor também emdiferentes campos. Para o que interessa a essa coleção – arelação entre os pensadores, seus pensamentos e a educa-ção – buscarei abordar, nos capítulos deste livro, os maisrelevantes aspectos desse pensamento, do ponto de vista daspossibilidades de apropriação pelo campo da educação.

O objetivo tanto do desenvolvimento do pensamentoem si feito por Boaventura, quanto das leituras possíveisde seus escritos é pensar uma possível trajetória epistemo-lógica e política em busca de “um conhecimento prudentepara uma vida decente”, tecida através da redefinição da

1 Boaventura de Sousa Santos é o nome completo do autor, o queindicaria a necessidade de referi-lo como Santos. Porém, não sópela inequivocidade do seu primeiro nome como também pelasua beleza e pela sua beleza e facilidade de reconhecimento, op-tei por me referir a ele sempre como Boaventura.

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COLEÇÃO “PENSADORES & EDUCAÇÃO”

relação entre o possível e o desejável, da equação entre

igualdade e diferença, da construção de relações culturaismais horizontalizadas, estabelecidas numa perspectiva derevalorização de culturas, de modos de pensar e de estarno mundo tornados invisíveis, subalternos ou errados pelocientificismo moderno e seu ideário, em busca da ocidenta-lização do mundo. Finalmente, será necessário discutir o

próprio entendimento do que sejam e do que podem ser ademocracia e a emancipação segundo Boaventura Santos,o que será feito pelo estudo de seus escritos sobre o temada democracia.

Recuperar a indissociabilidade entre reflexão epistemo-lógica e política, proposta por Boaventura, buscando pen-sar sua utilidade possível para a reflexão sobre a educaçãoé um dos objetivos desse livro. Assim sendo, será desen-volvida uma reflexão que visa a considerar o potencial detransformação social inscrito nas práticas sociais em geral,na medida em que é possível (e necessário) voltar a refle-xão sócio-político-epistemológica para a construção de umfuturo que seja mais do que uma repetição infinita do pre-sente. Depois a reflexão se volta para a especificidade daspráticas educativas. Assim, no capítulo 1, mesmo sabendoda arbitrariedade que habita qualquer datação de um qual-quer suposto ato inaugural, e por razões de ordem prática eoperacional, apresento, inicialmente, a obra Um discursosobre as ciências, considerando-a a primeira abordagem clarado que veio a se tornar o pensamento que hoje procuro

trazer. Penso que este primeiro livro de fato levanta ques-tões que vão perpassar quase toda a obra posterior do au-tor, no que ela tem de interesse para a reflexão sociológicacontemporânea e, dentro dessa, para se pensar a educação,tanto na sua dimensão teórico-epistemológica quanto nadiscussão político-ideológica que a integra e se integra na

definição dos fazeres educativos, dentro e fora da escola.Assim, na primeira parte do primeiro capítulo, apresento adiscussão epistemológica e o processo de construção de uma

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BOAVENTURA & A EDUCAÇÃO

nova epistemologia (pós-moderna?) que permita à sociedadesuperar o cientificismo que a impregna crescentemente aolongo de seu processo de “modernização”.

Quanto ao conhecimento em si, seus processos de cria-ção e validação, Boaventura, já nessa obra, parte da idéia deque todo conhecimento é social e relacionado a uma formaespecífica de ignorância. Desenvolve aí e posteriormente asnoções de conhecimento-regulação e de conhecimento-eman-cipação. O conhecimento-regulação seria aquele que conside-ra o caos como ignorância e a ordem como conhecimento.Nesse caso, o processo de conhecer seria aquele que leva docaos à ordem. O conhecimento-emancipação seria aquele que,procurando superar a ignorância representada pelo colonia-lismo, busca a solidariedade. Por outro lado, convencido deque há muitas formas de conhecimento negligenciadas pela

modernidade cientificista e da necessidade de revalorizá-las,Boaventura desenvolve um debate em torno do tema. O últi-mo texto do autor sobre isso (SANTOS; MENEZES e NUNES, 2005,p. 21-122) apresenta sete teses sobre a diversidade epistemológi-

ca do mundo. Embora não sejam explicitamente abordadasneste livro, creio ser fundamental registrar sua existência e

incentivar o leitor a descobri-las, ressaltando os vínculos queevidenciam as relações entre o social e o epistemológico.

Mesmo sem entrar em detalhes, pode-se perceber nes-sas formulações um potencial para pensar os conteúdosescolares e suas formas de organização de modo bastantediferenciado daquele que vem predominando historicamen-te; daí a importância de pensar a questão do conhecimento,seus processos de criação e transmissão para além da esfe-ra reduzida da racionalidade cognitivo-instrumental e daciência moderna. Ainda com relação à questão epistemoló-gica, será importante tratar das diferentes formas de conhe-cer existentes no mundo, e banidas pela crença de que osaber científico é o único válido, mas que vão aparecer comorelevantes para os debates em torno dos saberes que inte-gram as concepções e as práticas da educação formal.

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COLEÇÃO “PENSADORES & EDUCAÇÃO”

Em seguida, a discussão se dá em torno das dimensõesexplicitamente políticas da obra do autor, que se volta paraa construção social da democracia e da emancipação, parao que pode ser pensado e idealizado em torno da questão,tanto quanto suas possibilidades concretas, vinculadas àspráticas emancipatórias existentes na contemporaneidadee seus potenciais de ampliação e multiplicação. Mais umavez, as concepções e as práticas educativas e escolares apa-recem como particularmente relevantes, na medida em quese pode entender que a escola é um espaço privilegiado deinteração social; por isso mesmo, carrega possibilidades decontribuição emancipatória.

De modo mais geral, quando desenvolve sua discus-são sobre o binômio regulação/emancipação, em cujo equi-líbrio repousava o projeto da modernidade, Boaventura nospermite refletir sobre a existência de práticas emancipatóri-as no seio de estruturas regulatórias e gera idéias importan-tes sobre as diferentes concepções de conhecimento, queou nos permitem pensar de modo emancipatório ou nosmantêm aprisionados em pensamentos e ações de caráterregulatório. Assim, o que ele defende anuncia a idéia deque, em que pesem as normas de regulação previstas e im-postas no e pelo modelo social, para além dela as práticassociais desenvolvidas nos diferentes espaços interativosincluem dimensões emancipatórias exatamente porque es-colhas são possíveis, mesmo que inscritas nos limites da-dos pelas raízes (no que se refere aos limites internos dossujeitos) ou pelas normas de interação social (no que tangeaos limites impostos pela estrutura social).

A visibilidade possível de práticas sociais diferentes dasdominantes, bem como o investimento no reconhecimentoe no potencial de multiplicação que elas comportam levamBoaventura a desenvolver as idéias de sociologia das au-sências e sociologia das emergências. A primeira estariavoltada para a superação das não-existências produzidaspela modernidade em virtude de suas lógicas monolíticas,tornando-as crescentemente visíveis através de determinados

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BOAVENTURA & A EDUCAÇÃO

procedimentos. Ou seja, é uma sociologia voltada para amultiplicação das realidades já existentes, dando-lhes visi-bilidade; desse modo, é uma sociologia que amplia o pre-sente. Já a sociologia das emergências pretende encolher ofuturo, desidealizando-o através do reconhecimento de queo potencial efetivo de futuro se inscreve nas práticas reaisdo presente. Reconhece que, sem previsibilidade ou linea-ridade, o futuro só poderá ser a realização de algo para oqual a sociedade tem potencial no presente. Muitos outrostextos desenvolvidos anteriormente por Boaventura sãoreferidos no capítulo 2, na tentativa de evidenciar a coerên-cia do pensamento e os vínculos entre temas e abordagensaparentemente autônomas.

A questão da formação das identidades sociais e indi-viduais está discutida no último capítulo. A partir da expli-citação do pensamento do autor a respeito dos espaçosestruturais da sociedade que, segundo ele próprio, preten-de superar as lacunas deixadas pela idéia de sociedade ci-vil e do que ela permite de reducionismos no estudo dasquestões sociais reais, a formação das subjetividades indi-viduais e coletivas é discutida. Nesse sentido, Boaventuradefende a idéia de que cada um de nós é uma rede de sujei-tos gerada pelo enredamento das diferentes formas de in-serção social que vivemos nos diferentes espaços estruturais,e que esses nos constituem.

No que se refere à educação, a apresentação é feitacom base em algumas discussões desenvolvidas pelo pró-prio Boaventura, como a idéia da formação das subjetivida-des inconformistas e rebeldes para a ação transformadora ea da formação das subjetividades democráticas como ele-mento determinante das possibilidades de democratizaçãoda sociedade. Essa discussão integra o último capítulo des-te livro. Nele, apresento, ainda, alguns elementos do que oautor chama de projeto educativo emancipatório para, apartir desse conjunto de reflexões, apresentar de modo maisdetalhado, as possibilidades de uso desse pensamento paraa concretização de um pensar a educação que se relacione

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COLEÇÃO “PENSADORES & EDUCAÇÃO”

com as possibilidades do fazer uma educação mais emanci-patória. Ou seja, busco trazer contribuições que possam res-ponder questões e problemas da vida cotidiana de educadorese educandos, e contribuam para superar a fragmentação en-tre saber e fazer, que preside a atual organização da escolaenquanto instituição.

No processo de construção do capítulo, lanço mão dasnoções de redes de conhecimentos e de conhecimento emrede, acreditando que elas ajudam a dialogar com a idéiade redes de sujeitos, tecida em função dos nossos diferen-tes modos de inserção nos espaços estruturais da socieda-de (o espaço doméstico, o da comunidade, o do mercado, oda produção, o da cidadania e o mundial). Identificandoesses espaços e formas de inserção como enredados unsaos outros, Boaventura vai semear a idéia de que os pro-cessos sociais de aprendizagem não podem ser resumidosà formalidade das práticas educativas escolares, na medidaem que tecemos nossas identidades individuais e sociais apartir das redes formadas por aquilo que aprendemos emtodas as instâncias da vida social, de modo dinâmico e per-manente, sempre condicionados pelas “raízes”. Ainda rela-cionando tessitura de identidades com processos educativos,Boaventura vai apontar que, apesar das raízes às quais es-tamos vinculados, temos “opções”; podemos escolher. Einvestir nesse potencial de escolha é tarefa da educação.

Em resumo, essa é a discussão que integra os diferen-tes capítulos deste livro. Necessário se faz alertar que a tra-jetória aqui narrada é uma das muitas leituras possíveis arespeito do trabalho intelectual que vem dando origem aoque hoje pode ser considerado, apesar dos seus 63 anosapenas, o já legado de Boaventura para o pensamento soci-ológico do final do século XX e início do XXI, mesmo quesaibamos que muito ele ainda desenvolverá nos próximosanos. Espero que os leitores também se sintam mobilizadospelo pensamento do autor. Vale dizer que as leituras quefaço e a forma como me aproprio da obra de Boaventura

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BOAVENTURA & A EDUCAÇÃO

são pessoais e intransferíveis; com isso, quero, além de isen-tar o autor de responsabilidade por qualquer idéia aquiexplicitada, reafirmar, mais do que o direito, o compromis-so de cada leitor com as suas próprias crenças e utilizaçõesda obra, acreditando, entretanto, que estou contribuindopara a difusão de um pensamento que vem me encantandoe à minha vida acadêmica nos últimos dez anos, me ajudan-do a pensar e investir nas possibilidades emancipatórias daação educativa, pela inserção criativa da novidade utópicanaquilo que me é mais próximo.

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