Bock psicanálise

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Freud ousou colocar as fantasias, os sonhos, os esquecimentos, a inierioridade do homem, cOlOleprohlemas cienE'icos "Se fosse preciso conc~i1trar numa palavra a descoberta freu- diana, Essa palavra s'eria incontestavelmente inconsciente"l. S~GMUND FREUD As tcorias cientiJicas surgem influenci;;;das pelas condic;:oes eta vida sod::..!, J~OS seus aspectos economicos, politicos, cllltuJ.-iis ete. Sao produtos histOl'ic0' Gi;ldos ?or homens concretos, qL:~ vi';em o seu tempo e contribuem ou aIter<J11J, radicalmeEte, 0 dese1l'folvi- mento do conhecimento. Sigmund Freud (1856-1939) foi urn medico vienease que aI- terol!, radicalmente, 0 modo de pensar a vida psiquica. Sua contri- buic;:ao e companiveI a de Karl Marx na compreensao dos proces- sos hist6ricos e sociais. Freud omOl! coiocar os "precessos misteric- 50S" do psiguismc, suas "regioes obscuras", isto e, as fantasias, os so- nhos, os esquecimcntos, a interioridade do homem, como lJfoblc- mas cientifict)s. A imcstig,H,:ao sistematica desses problemas levou Freud ;\ cria<;;aoda PsicamiIise. o tenno psicanalise e usado para sc referir a umateoria, a urn metodo de investiga<,:aoe a uma pratica profissional. E~qu'a~t() teo- ria, caracteriza-se pOl' urn canjunto de conhecimentos sistematiza- dos sabre 0 funcionamento da vida psfquica. Freud publicou uma extensa obra, durante toda a sua vida, relatando suas descobertas e formulando leis gerais sobre a estrutura e 0 funcionamento da psi- que humana. A Psican;ilise, enquanto metodo de illvestiga~ao, ca- racteriza-se pelo metoda interpretative, que busca 0 significado oculto do,quilo que e manifesto pOl' meio de ac;:oese palavras ou pe- las produc;:oes imaginarias, como os sonhos, os delirios, as associa- c;:oeslivres, os atos falhos. A pratica profissional refere-se a forma de tratamento - a Amilise - que busca 0 autoconhecimento ou a .E4in·mmt¥~.i~,6~·jDI~~4·1I. ~_ cura, que ocorre au'aves de sse autoconhecimento. Atualmente, 0 exercicio da PsicanaIise ocorre de muitas outras formas. au seja, e usada como base para psicoterapias, aconselhamento, orientar,;ao; {;aplicada no trabalho com grupos, instituic;:oes. A Psicamllise tam- bem e urn instrumento importante para a analise e compreensao de fenomenos sociais relevantes: as novas formas de sofrimento psi- quico, 0 excesso de individualismo no mundo contemporaneo, a exacerbac;:ao da violencia ete. Compreender a Psicanalise significa percorrer novamente 0 trajeto pessoal de Freud, desde a origem dessa ciencia e du- rante grande parte de seu desenvolvimen- to. A relac;:ao entre autor e obra lorna-se mais significativa quando descobrimos que grande parte de sua produc;:z.o foj baseada em experiencias pessoais, transcritas COln riQ'ol em varias de suas obra~, como A inter- jJ1';WCiio dos sfJ'ih.Js e A jJsicojJGtologia da vida cotidia l7a, den t IT outras. Compreender a Psicanalise significa. tambem, percorrer, 110 [livel pessoal, a ex, periencia inaugural dl" Freud e buscar "descobrir" as regioes obscuras da vida pSl- quica, vencendo 2.S resistencias interiofes, pais se eIa foi realizada por Freud, "naa e uma aquisir,;ao definitiva da hlJmani- c:ade, m<Jste,n que ser realizada de novo par cada pacientc e par cada psicanalista"2 A GESTl\CAO DA PS~ANALISE Sigmund FreucJ fundado1: da Psicam3J.ise. Freud formou-se em Medicina na Universidade de Viena, em 1881, e especializou-se em Psiquiatria. Trabalhou algum tempe em urn laborat6rio de Fisiologia e deu aulas de Neuropatologia no ins- tituto onde trabalhava. Par dificuldades financeiras, nao pode de- dicar-se integralmente a vida academic a e de pesquisador. Come- c;:ou, entao, a clinical', atendendo pessoas acometidas de "proble- mas nervosos". Obteve, ao final da residencia medica, uma bolsa de estudo para Paris, onde trabalhou com Jean Charcot, psiquiatra frances que tratava as histerias com hipnose. Em 1886, retornou a

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Freud ousoucolocar as

fantasias, ossonhos, os

esquecimentos,a inierioridade

do homem,cOlOleprohlemas

cienE'icos

"Se fosse preciso conc~i1trar numa palavra a descoberta freu-diana, Essa palavra s'eria incontestavelmente inconsciente"l.

S~GMUND FREUD

As tcorias cientiJicas surgem influenci;;;das pelas condic;:oes etavida sod::..!, J~OS seus aspectos economicos, politicos, cllltuJ.-iis ete.Sao produtos histOl'ic0' Gi;ldos ?or homens concretos, qL:~vi';emo seu tempo e contribuem ou aIter<J11J,radicalmeEte, 0 dese1l'folvi-mento do conhecimento.

Sigmund Freud (1856-1939) foi urn medico vienease que aI-terol!, radicalmente, 0 modo de pensar a vida psiquica. Sua contri-buic;:ao e companiveI a de Karl Marx na compreensao dos proces-sos hist6ricos e sociais. Freud omOl! coiocar os "precessos misteric-50S" do psiguismc, suas "regioes obscuras", isto e, as fantasias, os so-nhos, os esquecimcntos, a interioridade do homem, como lJfoblc-mas cientifict)s. A imcstig,H,:ao sistematica desses problemas levouFreud ;\ cria<;;aoda PsicamiIise.

o tenno psicanalise e usado para sc referir a umateoria, a urnmetodo de investiga<,:aoe a uma pratica profissional. E~qu'a~t() teo-ria, caracteriza-se pOl' urn canjunto de conhecimentos sistematiza-dos sabre 0 funcionamento da vida psfquica. Freud publicou umaextensa obra, durante toda a sua vida, relatando suas descobertas eformulando leis gerais sobre a estrutura e 0 funcionamento da psi-que humana. A Psican;ilise, enquanto metodo de illvestiga~ao, ca-racteriza-se pelo metoda interpretative, que busca 0 significadooculto do,quilo que e manifesto pOl' meio de ac;:oese palavras ou pe-las produc;:oes imaginarias, como os sonhos, os delirios, as associa-c;:oeslivres, os atos falhos. A pratica profissional refere-se a formade tratamento - a Amilise - que busca 0 autoconhecimento ou a

.E4in·mmt¥~.i~,6~·jDI~~4·1I. ~_

cura, que ocorre au'aves de sse autoconhecimento. Atualmente, 0

exercicio da PsicanaIise ocorre de muitas outras formas. au seja, eusada como base para psicoterapias, aconselhamento, orientar,;ao;{;aplicada no trabalho com grupos, instituic;:oes. A Psicamllise tam-bem e urn instrumento importante para a analise e compreensaode fenomenos sociais relevantes: as novas formas de sofrimento psi-quico, 0 excesso de individualismo no mundo contemporaneo, aexacerbac;:ao da violencia ete.

Compreender a Psicanalise significapercorrer novamente 0 trajeto pessoal deFreud, desde a origem dessa ciencia e du-rante grande parte de seu desenvolvimen-to. A relac;:ao entre autor e obra lorna-semais significativa quando descobrimos quegrande parte de sua produc;:z.o foj baseadaem experiencias pessoais, transcritas COlnriQ'ol em varias de suas obra~, como A inter-jJ1';WCiio dos sfJ'ih.Js e A jJsicojJGtologia da vidacotidia l7a, den t IT outras.

Compreender a Psicanalise significa.tambem, percorrer, 110 [livel pessoal, a ex,periencia inaugural dl" Freud e buscar"descobrir" as regioes obscuras da vida pSl-quica, vencendo 2.S resistencias interiofes,pais se eIa foi realizada por Freud,

"naa e uma aquisir,;ao definitiva da hlJmani-c:ade, m<Jste,n que ser realizada de novopar cada pacientc e par cada psicanalista"2

A GESTl\CAO DA PS~ANALISE

Sigmund ·FreucJ- ° fundado1: da

Psicam3J.ise.

Freud formou-se em Medicina na Universidade de Viena, em1881, e especializou-se em Psiquiatria. Trabalhou algum tempe emurn laborat6rio de Fisiologia e deu aulas de Neuropatologia no ins-tituto onde trabalhava. Par dificuldades financeiras, nao pode de-dicar-se integralmente a vida academic a e de pesquisador. Come-c;:ou, entao, a clinical', atendendo pessoas acometidas de "proble-mas nervosos". Obteve, ao final da residencia medica, uma bolsa deestudo para Paris, onde trabalhou com Jean Charcot, psiquiatrafrances que tratava as histerias com hipnose. Em 1886, retornou a

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ri' Estas ideias e~sent1nianlos foramt,,:,-c; feprimidos e~s~tstituidos pelos( "0" sintomas.;.<._,~~.',,"

Esla Iibera9ao,d& afelos ieva a

.,'.elimina~ao dossinlomas.

Viena e voltou a clinicar, e seu principal instrumento de trabalhona elimina<;ao dos sintomas dos disturbios nervosos passou a ser asugestao hipn6tica~.

Em Viena, 0 contato de Freud com Josef Breuel~ medico ecientista, tall1bem foi importante pal'a a continuidade das invc-stiga-<;oes. Nesse sentido, 0 caso de uma paciente de Breuer foi signifi-cativo. Ana O. ",presentava um conjunto de sintomas que a fazia so··frer: paralisia com contratura muscular, inibi;;:oes e dificuldades depensarnento. Esses sintomas tiveram origem na epoca em que elacuidara do pai enfermo. No periodo em que cumprira essa tareh,ela havia tido pensamelltos e afetos que se referiam a um desejo deque a pai morresse. Estas ideias e sentimentos foram reprimidos esubstituidcs pelos sintomas.

Em seu estado de viglli<i, Ana O. nao era capaz de indicar aorigem de seus sin tomas, mas, sob a efeito da hipnose, relatava aorigem de cada urn deles, que estavam ligados a vivencias anterio-res da paCiellt':::, relaciolladas ('(lJfl 0 epis6dio cia J()e;~ca do pai.Com a remetDora<;:2.o dcsias cena~ e ViVCrlCi83. os sinlornas dl':sapa·,reciam. Este desapa;-ecimento nao ocolTia de forma "magica", masdevido a libera<;ao das reacoes emotivas associadas ao evento trau-matico - a doen(,:a do pai, 0 desejo inconsciente da morte do paienfermo.

Breuer denominoll metoda catarti.co a tratamer>.t0 que possi-bilita a libera<;ao de afetos e emo<;oes ligadas a acontecimentostraumaticos que nao puderam ~er expressos na acasiao da vivenciadesagradavel ou dolorosa. Esta libera<;ao de afetos leva a elimina-<;aodos sintomas.

Freud, em sua Autobiogmfia, afirma que desde a i111Ciode suapratica medica llsara a hipnose, nao s6 com objetivos de sugestao,mas tambem para outer a hist6ria da origem dos sintomas. Poste-riormente, pas sou a utilizar a metoda catartico e,

"aos poucos, foi modificando a tecnica de Breuer: abandonou ahipnose, porque nem todos os pacienles se prestavam a ~er hip-notizados; desenvolveu a tecnica de 'concentra<;:ao', na qual a re-memora<;:aosistematica er<tfeita par meio da conversa<;:aonor-mal; e par fim, acatando a sugestao (de uma jovem) an6nima,abandon au as perguntas - e com elas a dire<;:aoda sessao -para se confiar pOI'completo a fala desordenada do paciente"4.

3.0 medico induz 0 paciente a urn estado alterado da consciencia e, nesta condic;:ao,inves-tiga a ou as conex6es entre condutas e/ou entre fatos e condutas que podem tel' determi-nado 0 surgimento de um sintoma. a medico tambem introduz novas ideias (a sugestao)que podem, pelo menos temporariamente, provocar 0 desaparecimento do sintoma.

4. R. Mezan. On, cit. n !i?

A DESCOBERTA DO INCONSCIENTE

"Qual poderia scr a causa de as pacientes esquecerem tantosfa/tos de sua vida interior e exterior...?"", perguntava-se Freud.

o esquecido era sempre alga penaso para a individua, e eraexatamente pOl' isso que havia sido esquecido e 0 penoso n3.o signi-ficava, necessariamente, sempre algo ruim, mas podia se referir aalga born que se perdcra au que fora intensamente desejado. Quan-do Freud abandonou as perguntas no trabalho t.erapeutico com ospacientes e os deixou dar livre curso as suas ideias, observou ~ue,muitas vezes, eles ficavam embara<;ados, envergonhados com algu-mas ideias ou imagens que Ihes ocorriarli .. A esta for<;a psiquica quese opunha a tarnal' consciente, a revelar um pensamento, Freud de-nominou resistencia. E charnou de repressiio a processo psiquicoque visa eneotrir, fazer desaparecer do. canscicncia, uma idCia au re-presenta<;ao insuportav~l e dolorosa que esta na odgem do sintoma.Estes contel1d('s pS;fJuico~ "Jocillizam-se" no inconsciente.

T:ris de~cf)henas

"(...) eonstituirCima base piincipai do.cornpreensao d35 neurosese impuseram uma modifica<;:aodo traoaiho terapeutico. Seu obje-tivo (...) era descobrir as repressoes e suprinli-Ias atraves de umjuizo que aceitasse au conclenasse definitivamente a exclufdopela repressao. Considerando este novo estado de coisas, dei aometoda de investiga<;:aoe cura resliitante 0 nome de psicamiliseem substitui<;:iJ.o0.0 de cat<irtico"6.

... de! ao metodade investigagaoe cura resultanleo nome depsicamilise.

A PRIMEIRA TEORIA~Q~~~.AESTRUTURA DO~~AI!_~_~t1Q..~~iQUICO

Em 1900, no livro A interpretar;iio dos snnhos, Freud apresenta aprimeira coneep<;ao sobre a estrutura e 0 funcionamento da perso-~alidade. Essa teoria refere-se a existencia de tres sistemas au ins-tancias pSlquicas: inconsciente, pre-consciente e consciente.• 0 inconsciente exprime 0 "conjunto dos conteudos nao presen-

tes no campo atual da consciencia"7. E constituido par conteudosreprimidos, que nao tern acesso aos sistemas pre-conscien-tel conscicnte, pela a<;ao de censuras internas. Estes conteudos

5. S. Freud. Autobiografia. In: Dbras camp/etas. Ensayos XCVIII AL CCIII. Madri, BibliotecaNueva. 1. III. p. 2773 (Trecho trad. autores).

6.ld. ibid. p. 2774.7. J. Laplanche e J.-B. Pantalis. Op. cit. p. 306.

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podem tel' sido conscientes, em algum momento, e tel' sido repri-midos, isto e, "foram" para 0 inconsciente, ou podem ser genui-namente inconscientes. 0 inconsciente e um sistema do aparelhopsfquico r'~gido pOl' leis proprias de funcionamento. Par exem-plo, e atemporal, nao existem as no<;:oesde passado e prescnte.o pre-consdente refere-se ao sistema onde pennanecem aqudesconteudos acessfveis a cODsciellcia. E aquilo que nao esta na con5-ciencia, neste momento, e no momento seguinte pode estar.o consciente e 0 sistema do aparelho psfquico que recebe aomesmo tempo 3S informa<;:(Jes do mundo exterior e as do mun-do interior. Na consciencia, destaca-se 0 fenomcl1u da percep-.;:ao,p:'incipalmente a percep<;:ao do mundo extcrior, a 2ten<;:ao,0raciocfnio.

Freud, en suas ir,vcstiga<;:(Jcsna pLhic2. cllnica solJI'f:as causase 0 funcion"lne~1tO (b~;l1cur,)ses, descolJriu que ,l maiaria de pen,samentm e desejos reprimidos referiam-se a conflitos de ordelll se-xual, localizados nos primeiros anos de vida dos indivfduus, isto e,que na vida infantil estavam as experiencias de caniter traumatico,reprimidas, que se configuravam como origem dos sintomas atuais,e confirma,a-se, desta forma, que as ocorrencids deste periode d"vida deixam marcas profundas na estrutura<;:ao da peSS0<LAs desco-bertas colocam a sexualiclade no centro da vida psfquica, e e postu-lada a cxistencia da sexualidade infanti!. Estas afirma.;:oes tiveramprofulldas repercussoes na sociedade puritana da epoca, pela con·cep<;:aovigente da infflllcia como "inocente".

Os principais aspectos destas descobertas san:• A fun<;:aosexual existe desde 0 principio da vida, logo apos 0 nas-

cimento, e nao so a partir da puberdade como afirmavam asideias doniinantes.

• 0 perfodo de desenvolvimento da sexualidade e longo e com ple-xo ate chegar a sexualidade adulta, onde as fun<;:oesde reprodu-<;:aoe de obten<;:aodo prazer podem estar associadas, tanto no ho-mem como na mulher. Esta afirma<;:aocontrariava as ideias predo-minantes de que a sexo estava associado, exclusivamente, a repro-du<;:ao.

• A libido, nas palavras de Freud, e "a energia dos instintos sexuaise so deles"8.

IE J·t1iffih6i1t1-No processo de desenvolvimento psicossexual, 0 indivfduo,

noS primeiros tempos de vida, tern a flin<;:aOsexual ligada a sobre-vivencia, e, pOl'tanto, 0 prazer e encontrado no proprio corpo. 0corpo e erotizado, isto e, as excita<;:6es sexuais estao localizadas empa,tes do corpo, e ha lim desenvolvimento progressivo que levouFreud a postular as fases do desenvo!vinwn-to sexual em: fase oral (a !.ona de erotiza<;:aoe a boea), fase anal (3 zona de erotiza<;:ao eo anus), fase fiiJica (a zona de erotiza<;:ao e 0orgao sexuai); em seguida vem urn perfodode latencia, que se prolonga ate a puberda-de e se caraCleriza pOl' Llma diminui<;:ao dasatividades sexuais, isto e, ha um "inter-valo"na cvolu<;:ao da sexualidade. E, finalmente,na puberdade e atingida :l ultima fase, istoe, a fase genital, quando 0 ob.ieto de erotiza-<;:2.0ou de dt:sejo Hao est2. rnai, n:..>propriocarpo, mas em tun obje~o externe ao indi\·f-clue - (J outro. Alguns 2ut0ce3 dC!1uminameste Dellodo exdusivamente como genital,incluindo 0 perfodo falico nas organiza<;:6espre-genitais, enquanto outros autores deno-minam 0 perfodo falico de organiza<;:ao ge-ni1.al infantil.

No decorre) dessas fases, varios processos e ocorrencias suce-dem-st=:.Desses eventos, destaca-se 0 complexo de Edipo, pois e emtorEO dele que ocone a estrutlira<;:ao da personalidade do indivf-duo. Acontece entre 3 e 5 anos, durante a fase falica. No complexode Edipo, a mae e 0 objeto de desejo do menino, e 0 pai e 0 rivalque impede seu acesso ao objeto desejado. Ele procma entao ser 0pai para "tel''' a mae, escolhendo-o como modelo de comportamen-to, passando a internalizar as regras e as norm3.S sociais representa-dcts e impostas pela autoridade paterna. Posteriormente, pOI'medoda perda do amor de pai, "desiste" da mae, isto e, a mae e "troca-

~::) '11~r\ ':~."L . ..oP--' I \

I

o beb~idemcmstra.;

que a boca eumazona de

prazer.

No complexo deEdipo, a mae e 0objeto de desejodo msnino, eo'pai e 0 rival queimpede seuacesso ao objetouesejado.Quino. Toda Ma-falda. Sao Paulo,

Martins Fontes,1991. p. 263.

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~a" pela.r~queza do mundo social e cultural, e 0 garoto pode, en-tao: partIClpar ~o m~llldo social, pois tem suas regras basicas inter-nahzadas atraves da Identificac;:ao com 0 pai. Este processo tambem?corr.e cor~ as menin.as, send? invertidas as figuras de desejo e deIdentlficac;:ao Freud fala em Edipo feminino.

ErOl , 8 puls§ode vida. ~1l8toseUIIlllo de morte.

Antes de prosseguirmos urn pouco mais acerca das descober-~as fundame~tais de Freud, e necessario esclarecer alguns concei-to: que.pelmrtem compleender os dados e informac;:6t's colocadosa~e aqm, de Un! m~do dinarnico c semconsidera-Ios processos me-C~l1ICOSe co_mpanlmentadcs. Alem disso, estes aspectos tambemsaG postula.;,:oes de F,eL~d, ~ sell conhecimento e fundam~ntal parase compreender a contmmdade do descllvolvjmento de sua teoria.1. No pTOcesso [t'T8.peutico e de postulac;:ao tcarica, Freud inicial-

n:~nte, entendia q~Ie tudas as cenas rcI~tadas p.=]os paci~ntcs ti-nnar.rl,lh~fato. ocorriclo. Po,sU':riol')llclite, dCSCOD,'iuque poderiamtel' SI~CIm~gll1ad<is,lJIas CODIa mesilla fon;:a e conseqLlencias deum~ sltua<,;aoreal. Aqllilo que, para 0 individuo, assume valol' dereahd~de e a realidade psiquica. E e isso 0 que importa, mesmoque nao co,responda a realidade objetiva.

2. ~ funcionarnento psfquico e concebido a partir de tres DOntOSdeVIsta: ~, economico (exi,ste uma quantidade de energi; que "ali-menta ~s processos pSlquicos), 0 topico (0 aparelho psiquico econstltmdo de um numero de sisterl1as que sao diferenciadosquanto a,sua natureza c modo de funcion8.me:1tO, 0 q~le permiteco.l1SI?era-locomo "!ugal" psfquico) eo dimimico (no interior dopSlqmsmo eXist~:n for<,;ctsque en tram em conflito e estao, penna-nentemente, atrvas. A origem dessas for<,;as e a pulsao). Com-preender os processos e fen6mcnos psiquicos e considerar os trespontos de vista simultaneamente.

3. A puls~o rcfere-se a um estado de tensao que busca, atraves deum ob,JCto, a supressao deste estado. Eros e a pulsao de vida eabra.?ge as pulsoes sexuais e as de autoconserva<;:ao. Tanatos e apu!sao de m~rte, po de ser autodestrutiva ou estar dirigida para~~ra e sc mal1lfes:ar como plllsao agressiva ou destrutiva.

4. Smtoma, na teona psicanalftica, e uma prodU<;:ao- quer seja umcomportamento, quer seja um pensamento - resultante de urnconflito psfquico entre 0 desejo e os mecanismos de defesa. 0 sin-toma, ao mesmo tempo que sinaliza, busca encobrir um conflitos:ubstitu.ir a sa.tisfa~ao ~o des:j? Ele e ou pode ser 0 ponto de par~uda da ll1vestlgac;:aopSlcanal1tIca na tentativa de descobrir os pro-

cessos psfquicos encobertos que determinam sua forma<;:ao. Ossintomas de Ana O. eram a paraJisia e os disturbios do pensamen-to; hoje, 0 sintoma da colega da sala de aula e rccusar-se a comer.

A SEGUNDA TEORCADO APARELHO PSiQUICO-_._-- _ ..._-~-----------------------

Entre 1920 e 192~, Freud remode!a a teoria do apare1ho psi-qui co e introduz os conceitos de id, ego e superego para referir-seaos tres sistemas da personalidade.

o id constitui 0 reservatorio da energia psiquica, e onde se"localizam" as puJsoes: a de \ida e a de morte. As caracterfsticasatribufdas ao sistema inconsciente, na primeira teoria, sao, nestateoria, atribuidas 0.0 id. E regido pelo principia do prazer.

o ego e 0 sistema qlle <':stabelece 0 equilfbrio entre as exigen-cias do id, as exigencias da realidade e as "o~dens" do supcrego.Procuro. "dar COl11o."dos intercsses da pessoa. E regido pelo princi-pia de. rcalidade, que, CG!1l0 principio do prazcr, rege 0 funciono.-meilte' pslqc!ico. ~ LUll reguladol, no. medida em que alrero. 0 prin-cipio do praz,er para buscar a satisfac;:ao considcrando as condi<;:oesobjetivas da realiclade. Neste sentido, a busca do prazer pode sersubstituida pelo evitamento do desprazer. As fun<;:oes basicas doego sao: percep<,;ao, memoria, sentimentos, pensamento.

C superego origina-se com 0 complexo de Edipo, a partir dainternaIizac;:ao das proibic;:6es, dos Iimites e do. autoridade. A moral,os ideais sao fun<,;oesdo superego. 0 conteudo do superego refere-se a exigencias sociais e culturais.

Para compreender a constitui<.:ao clesta instancia - 0 superego-- e necessario introduzir a ideia de sentimento de culpa. Neste es-tada, 0 indivfduo sen[e-se culpado pOI' alguma coisa errada que fez- 0 que parece obvio - ou que nao fez e desejou tel' feito, algumacoisa considerada ma pelo ego mas nao, necessariamente, perigosaou prejudicial; pode, pelo comrario, tel' sido muito desejada. POI'que, elltao, C considerada ma? Porque alguem importante para ele,como 0 pai, por exemplo, po de puni-lo por isso. E a principal pun i-<;:aoe a perda do am or e do cuidado desta figura de autoridade.

Portanto, pOl' medo dessa perda, deve-se evitar fazer ou desejarfazer a coisa ma; mas, 0 desejo continua e, pOI' isso, existe a culpa.

Uma mudan<,;a importante acontece quando esta autoridadeexterna e illternalizada peIo individuo. Ninguem mais precisa lhedizer "nao". E como se ele "ouvisse" esta proibi<;:ao dentro de si.Agora, nao importa mais a a<;:aopara sentir-se culpado: 0 pensa-mento, () desejo de fazer algo mau se encarregam disso. E nao ha

... introduz osconceitos de id,ego e superegcpara referir -SG aosIres siBtCnlaS dapersonalidade,

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;••defesa e ajperayaopela~{) ego exeluiIi,Cohsei~rieia;,~~:'

eudos .';ve/55"'~ ",~-;;."l

como esconder de si mcsmo esse dcsejo peJo proibido. Com isso, 0

mal-estar instala-se elefinitivamente no interior do individuo. A fun-<;;aode autoridade sob}-c 0 individuo ser;l realizada permanente-mente pelo superego. E importante lembrar aqui que, para a l'sica-nalise,? sentimc!1t() de culpa origina-se na passagem pelo Com ple-xo de Edipo.

o ego e, posterionncnte, 0 superego san diferencia<;;oes dl) id,o que demo!1stra uma inte-dependencia entre esses tres sistemas,retirando a idcia de sistemas separados. 0 id refere-se ao il1cons-ciente, mas 0 ego e a superego tem, tambem, aspcctGs au "partes"inconscientes.

E importante consider'll' que estes sistem;ls nao existcm en-quanto uma estrutura vazia, mas sio sel1lpre habitados pelo con-junto de experiencias pessoals e particulares de cada um, que secomtitui como sujeito em sua rela<;:ao com 0 amra e em determi-nadas circunslancias sociais. Isto s;gniuca que, para cOIT'.prt'enderalguem, e necess<irio resgatar sua historia pessoal, que est;) Iigada?his/oria de sens gmros (' el;}sociedade em que live.

OS MECANISMOSD~ DEf~S~" OU.1t.. ~E.A~JD~pEC()MQEI.A NA9..E

A percep<:ao <It:\l1ll acoll[ccimCll(o. do mUlldn cxtcrllo ou doill11lldo illlerJlO, pock ~er algo lll\lilo COlls1rallgcc!or, do!oroso, de-soq-\,anizac!oL ]'.lra cvitar ('sIc cIeSprJler, a pessoa "dcforma" ou su-prime a realidadc -- dcixa de registr<u percep<;;oes extern.as, afastadCkrn:inados cOlllct:iclos psiquicos, interfere no pcns<mH~ilta.

Sao varios os mecanislllos que 0 incIividua poele llSal para rea-lizar esta defarma<;;ao cia realidade, chamados de mecanismos dedefesa. Sao processos realizados peIo ego e san inconscientes, istoe, ocorrem indepenrlentemente da vontade do individuo.

Para Freud, defesa e <topera<;;ao pela qual a ego exclui da cons-den cia os conteudos incIesejaveis. protegcndo, desta forma, 0 apare-Iho psiquico. 0 ego - uma instancia a servi<;:ocIa re;J.lidade extern ae sede dos processos defensivos - mobiliza estes mecanismos, quesuprimem ou dissimulam a percep<;;ao do perigo interno, em fun<;;aode perigos reais ou imagimlrios localizados no mundo exterior.

Estes mecanismos sao:• Recalque: 0 individuo "nao ve", "nao ouve" G que ocorre. Existe a

slJ,-pressaode uma parte da reaIidade. Este aspecto que nao e per-"cebido peIo individuo faz parte de um todo e, ao ficar invisivel, al-tera, deforma 0 sentido do todo. E como se, ao ler esta pagina.

1•• ~·Jj~·P~~~lf!·~li~t~lI~~'l~~•• --- __ JEIIuma palavra ou uma das linhas nao estivesse impressa, e isto im-pedisse a compreensao cIa frase au cIesse outro sentido ao quees~a esuito. UIl) exemplo e quando entendemos uma proibi<;;aocomo pennissao porque nao "ouvimos" 0 "nao". 0 recalgue, aosuprimir a percep<;;ao do que esta acontecendo, e omais radicaldos mecanismos de defesa. Os demais refcrem-se 2. deformat;:oesda realidade.

• Forma(ao reativa: 0 ego procm-a afastar 0 desejo que vai em de-terminada dire<;;ao, e, para isto, 0 individuo adota uma atitudeoposta <t este desejo. Um bom exempJo sao as atitudes exageradas- ternura excessiva, superprote<;;ao - que escondem 0 seu opos-to, no caso, um desejo agressivo intenso. AqLlilo que aparece (aatitude) ViS2esconder do proprio individuo suas verda<iciras mo-tiva<;;oes(0 desejo), para preserva-Io de urna descoberta acerca desi mesmo que p'oderia ser bastante delorosa. E 0 caso cia mie quesuperprotege a filho, do qual tem muita raiva porque atribui a elemuitas <ie suas dificuldades pessoais. Para muitas des!as maes,po de set' aterrador admitir essa agressividade em re13\ao ao mho.

• Rcgi'essao: a illdividuo rctorna a elapas anterjo~cs de sell descn-vohimento; e uma passagem para modos de expressao mais pri-mitivos. Um exemplo eo cia pessoa que enflenta silua\=oes diffceiscom bastante pondera<;;ao e, ao vel' uma barata, sobe na mesa, aosberros. Com certeza, nao e s6 a b<trata que ela ve na b<~rata.

• Projec;:ao: e uma conflucncia de distor<;;oes do mundo extcrno einterno. 0 individuo localiza (pr'Jjeta) alga cle si no mundo ex-terno e nao percebe aquilo que foi projetacIo como algo seu queconsidera indesejavel. E um mecanismo de usa frequenlc e obser-vavel na vida cotidiana. Urn exemplv e 0 jo'-'em que critica os co-legas po:' serem extremamente competitivos e nao se d3 conta deque tambem 0 e, as vezes ate mais que os colegas.

• Racionaliza(ao: 0 in-dividuo constr6i umaargumenta<;;ao inte-lectualmente convin-cente e aceitavel, quejustifica os estados"deformaclos" da cons-ciencia. Isto e, umadefesa que justifica asoutras. Portanto, naracionaliza<;;ao, 0 egocoIoca a razao a senoi-C;:O do irracional e uti-liza para isto 0 mate-

o reealque eo mais radicaldos mecanismosde defesa.

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A !inalidadedestetrabalhoe 0autoconhecimentodecadair.dividuo,

dosgrupos,dasinstitui90es.

rial fornecido pel a cultura, ou mesmo pelo saber cientiJico. Doisexemplos: 0 pudor excessivo (forma~ao reativa), justificado comargumentos morais; e as justificativas ideologicas para os impulsosdestrutivos que eclodem na guerra, no preconceito e na dl'fesa dapena de morte.

Alem dcstes mecanismos de dcfcsa do ego, existem eutros:denega<;ao, identifica~3.o, isolamemo, anulai;;ao retroativa, inversaoe retorno sobre si mesmo. Todos n6s os utilizamos em nossa vidacotidiana, isto e, defonnamos a rea!idade para nos defender de pe-rigos internos ou externos, reais ou imaginarios. 0 usa destes me-canismos nao e, em ;,i, patol6gico, ('ontuclo distorce a realiclade, es6 0 seu desvendamcnto pode nos fazer superar essa falsa conscien-cia, ou melhor, ver a realidade como ela c.

PSICANALISE: APLICA~OESE_ CQNTaJJ~UIs;O~SJ_9...Q.~.. ,'"_''_'~_'_'''

A caraClerfstica eS"i~llciai do trabalho psic<,nalftico e 0 d(~cj-framento do inconsciente e a integrar;3o de seus conteudos naconsciencia. Isto porque sao estes conteudos desconhecidos e in-conscientes que determinal11, em grande parte, a conduta dos ho-mens e dos grupos - as dificuldades p,u'a viver, 0 mal-estar, 0 so-frimento. '

A finalidade deste trabalho investigativo e 0 :mtoconhecimen·to, que possibilita !idar com 0 sofrimcnto, criar mecanismos de su-pera~ao cl2Sdificuldades, dos conflitos e dos submctinlentos em di-re~ao a vma produ~:'io humana mais autonoma, criativa e gratifi-cante de cada individuo, do~ grupos, das i;,stitUl~oes.

Nesta tarefa, muitas vezes bastante desejada pelo paciente, enecessario que 0 psicanalista ajude a desmontar, pacientemcnte, asresistencias inconscientes que obstaculir.am a passagem des con-teudos inconscientes para a consciencia.

A representa~ao social (a ideia) da Psicanalisc aincl<le bastan-te estereotipada em nosso rneio. Associamos a Psicanalise com 0

diva, com 0 trabalho de consult6rio excessivamente longo e s6 pas-sivel para as pessoas de alto poder aquisitivo. Esta ideia correspon-deu, durante muito tempo, a pratica nesta area que se restringia,exclusivamente, ao consultorio.

Contudo, hi varias decadas e possivel constatar a contribui-.;ao da Psicanalise e dos psicanalistas em varias areas da saudemental. Historicamente, e importante lembrar a contribuic;:ao do

1.1~1~·,n4!4!~*~·I~&~·jDI~~4-II. -l1Ellpsiquiatra e psicanaJista D. W. Winnicott, cujos programas radio-fonicos transmitidos na Europa, durante a Segunda Guerra Mun- 1 .. ,. "" 'I

dial, orientavam os pais na cria~ao dos filhos, ou a contribui~ao i9,~'9f;r:@~!JJ9>F d E

. _. t . humane assumede Ana reu para a auca~ao e, malS recentenleIlte, as con n- in'lmerasbui~oes de Fr<::.n~oise Dolto e Maud Mannoni para 0 trabalho express6es.com o'iani;;as e adolescentes em insti- rtuic;:oes - hospit2is, crecht::s, abrigos.

Atualmente, e inclusive no Brasil,os psicanalistas estao debatendo 0 alcan-ce social do. pratica clinica visando tor··na-la accsslvel J amplos setores da socie-dade. Eles t2.tnbcrn estao voltanos para apesquisa e produi;;ao de conhecimentosque possam ser uteis na compreensaode fenomenos sociais graves, como (l au-mento do cnvoJvimento do adolescentccom a crirniuulidac1c, a surgimcnto den,was (c.ntigCls;» {urmas de ,,,[riment·:)produ7;idas pelo modr; de e;..:istencia nomundo COlltemPOraneo -- as drogadi-~oes, a anorexia, (i sindrome do panico,a excessiva medicaliza~ao do sofrimen-to, a sexualiza(ao da infancia. Enfim,eles procuram compreender os novosmodes de subjetiva<;:3.o e de existir, as OGRITO. DE EDVARD MU;,CF

novas expressoes que 0 sofrimento psiquico assume. A partir des-ta compreensao e de suas observa~oes, os psicanalistas tentamcriar modalidanes de interven~ao no social que visam superar 0

mal-estar na civiliza~ao.Alias, 0 pr6prio Freud, ern varias de suas obras - 0 mal-estar

na civilizar;iio, Reflexoes para 0 tempo de guerra e morte - coloca ques-toes sociais, e ainda atuais, como objeto de reflexi'i.o, ou seja, nosfaz pensar ever 0 que mais nos incomoda: a possibilidade constan-te de dissocia~ao dos vinculos sociais.

o nH~todo psicanalftico usado para desvendar 0 real, com- Cadapalavra,'preender 0 sintoma individual ou social e suas determina~oes, e ocada simbolo"i;,'interpretativo. No caso da analise individual, 0 material de traba- ternurnSig~ificp.p~lho do ana!ista sao os sonhos, as associac;:oes livres, os atos falhos \P~r!iGHi~riJlii.w~:7(os esquecimentos, as substitui~oes de palavras etc.). Em cada umcadilin~tYN~g~,~:ndesses caminhos de acesso ao inconsciente, 0 que vale e a hist6riapessoal. Cada palavra, cada simbolo tern urn significado particularpara cada individuo, 0 qual s6 pode ser apreendido a partir de suahist6ria, que e absolutamente unica e singular.

...ospsicanalistaslentamcnarmodalidadesde .interven9aonosocialquevisamsuperar0 mal-estarnacivilizayao.

Page 7: Bock psicanálise

POl' isso e que se diz que, a cada nova situa(ao, realiza-se no-vamente a experiencia inaugurada pOl' Freud, no inicio do secu]o20 - a experiencia de tentar descobrir as regioes obscuras da vidapsfquica.

Que significa haver 0 inconsciente? Em primeirolugar (...) uma certaforma de descobr:r sentidos, tfpica da interpretayao psicanalitica. Ou seja,tendo descoberto uma especie de ordem nas emoc;:i5esdas pessoas, os

~~~. psicanalistas afirmam que M um lugar hipotetico donde eias provem. E~ como se supusessemos que existe um lugar na mente dEtspessoas que

funciona a seme/hanc;:ada interpretac;:aoque fazemos; s6 que ao contrano:la se cifra 0 que aqui deciframos.

Veja os sonhos, por exemplo. Dormindo, produzimos estranhas histories, que parecemfazer sentido, sem que saibamos qual. Chegamos a pensar que nos ailur.ciam a futuro, sim-plesmente porque parecem ar.uncia algo, querer comunicar algum sentido. Freud, tratandodos sonhos, partia do principio de que eles diziam alga e COtTI bastante sentido. Nao, porem, 0

futuro. Det::idiu interpreta-Ios. Sua teeniea inlerpretEttlv"t era mais au mer,os assim. TOin8Vaasvarias partes dE' um sonho, sou ou alheio. e 1aziacom que 0 sonhador asso.:;iasse idaias e lem-branQas a cada uma delas. Foi possivel descobrir 2ssirn que os sOrlhos diziam respeito, Gin

parte, aos acontecimentos do dia anterior, embora se relacionassem tambem com modos deser lnfantis do sujeito.

Igualmente, ele descobriu algumas regras da 16gicadas emoc;;oesque produz os sonhos.Vejamos as mais conhecidas. Corn frequencia, uma figura que aparece nos sonhos, uma res-soa, uma situayao, representa varias fig/Has fundidas, significR isso e aqujlo ao masmo tempo.Chama-se este processo condensac;:ao,e ele explica 0 porque de qualquer interpretag3.o sersempre muito mais extensa do que 0 sonho interpretado. Outro processo, chamado desloca-mento, e 0 de dar 0 sonho uma importancia emocional maior a certos elementos que, quandoda interpretac;:ao,se reve/arao secundarios, negando-se aqueles que se mostrarao realmenteirnportantes. Um detalhezinho do sonho aparece, na /nterpretac;:ao,como 0 elo fundamental.

Digamos que 0 sonho, como um estudante desatento, coloca erradamente 0 acanto to-nico (emocional, e claro), c:riando um drama diverse do que deveria nc:rrar; como se dissesseEsquilo por esquilo... Um terceiro processc>de formac;:aodo sOilho consiste em que tudo e re-presentado por meio de simb%s e, um quarto, reside na forma final do sonho que, ao contra-rio da interpretagao, nao e uma hist6ria contada com palavras, porem uma cena visual. (...)

Do conjunto de assoeiay6es que partem do sonho, 0 interprete retira um sentido que Iheparece razoavel. Para Freud, e para n6s, todo sonho e uma tentativa de realizacao do desejo. (...)

Sera tudo apenas um brinquedo, uma charada que se inventa para resolver? Nao, porcerto (...).

. Apenas voce deve compreender que 0 inconsciente psicanalitico nao e uma coisa ern-'no'fundo da cabeca dos homens, uma fonte de motivos que explicam 0 que de outra for-

·'·.pouco razoav~1- como 0 medo de baratas ou a necessidadede autopunigao. In-e'~~o,nome que se da a um sistema 16gicoque, por necessidade te6rica, supomos'h~mente das pessoas, sem no entanto afirmar que, em si mesmo, seja assim ou

b'scitbemospela interpretagao.

Fabio Herrmann. 0 que e Psicanalise. Sao Paulo,Abril Culfural/Brasiliense, 1984. (Colegao Primeiros Passos, 12) p. 33-6.

1. Quais os tres usos do termo Psicanalise? . . .... ....2. Quais saG as praticas de Freud que antecederam a for!i;~,I.a<;:aocJ~;;~

ria psicanalftica? .-"

3. Quais foram as descobertas fin~is;9~:~~?fi2~r~~~'~"i~~ri.;~~~;;;·····r.alise?···......... •.. " ""-""";;"'.",';')':""';''''''/ """'. . ....4. Como se caracteriz~ a primeirateoriasoor:.:aestr\lturad? apar:!h.o

, quiso? ..' ..... . .."" "";;co;;';'·;;'·'" >'e'"

.5~0 q~~ Freydd~ss?briUdeimport.ante~()br'~i~sexu31\,d~d~~"6. Comose caractel izam asfasesdo desenvolvlmento sexuaL

7. Caracterize 0 complexo de Edipo.

8.0 que e realidade psfquica? . ..... .., .. "9. Como se caracteriiam os modelos econ6mico,toplcO e

funcionamento psfquico?

10. Como se caractei'iza a pulsao?

11.0 Que e sintoma?, 'I ,. '(12.Como se caracteriza a scgunda teoria do apare! 10 pSlqUiCO. .

13, Como 5e caracterize. 0 metodo de investiga~5.o da Psicanalise? E apra-

tica terapeutica? .14. Qual a func;ao e como operam os mecanismos de defesa do ego?

15. Qual a contribui<;:ao social da Psicanalise?

1.Ouais ~ao os ensinamentos que a interpretac;ao dos sonhos n.osproYlcia?Utilizem 0 texto complementar como referenda para essa d!scussao. .

2. Com os subsfdiosd~ texto, justifiquem a epfgrafe do c~pftulo: "Se fos-se preciso concentrar numa ~alavra ~ des;obertafreudlana, essa pala-,

, \fraseria.incot1~estavelmente I~conscle~te:.':,' " ..•..3.Disc~ta.ni"'3f;~~·~>iO~que Joactdiz d.e Pedro'cliz .mais de.~oao do que d~ •

Pedro".' .,' '.:' "., .'. ., ,. ... .4 P~s(f~is~~e:di~ctit~'';';t~xios' de'p~rt~nali;ta~ 'c~j~~ ~bj~tosd: analise:

\ c".' "',,.'" ,,,,,,.,,:;v,'j";;-.Jc"f ,0'''- '*y~or:to~iaf~""atu~is'''5fI'faibs 'i13'C{5tidiano.· Estes' H~xto?th>~"',;':.~~:~}¥r?!~~r1~~~~;~l~~~}!:~~~". ."'.. .,garis~ '.,.;•.........'c·";·, i: '~.c.t:'," "::;ljt~>,;"

". -,';-';/:'>:,~,

Page 8: Bock psicanálise

Para 0 alunoo livro de Fabio

Herrmann, 0 que ePsicanaJise (Sdo Paulo,Abril Cultural/Brasiliense, 1984. Colec;ao Pri-

meiros Passos), e um livro introdutorio aasprincipais conceitos da Psicanalise. A lin-guagem e faci! e atraente. Renata Mezanem seu livro Sigmund Freud, serie EncantoRadical (Sao Paulo, Brasiliense, 1982), situahistoricamente 0 aparecimento da Psicana-lise, os dados biograficos de Freud e os con-ceitos fundamentais da teoria. E uma boarefcorencia para se iniciar um estudo da Psi-canalise.

Para 0 professor,A,s obras campletas de SigmuI1d

Freud estao editadas no Brasil pela editaraImago, Rio de JClneiro. Nela estaa contidassua Autobiografia (historico das descaber-t::l<;do autor) e as Cinco conferencias (ex-posit;:ao sistematica e introdut6~ja da teo~iapsicanalftica).

o livro NOf;oes basicas de PsicaniiJi-se: introdUt;ao a Psicofogia psicanaiitica, de

Charles Brenner (5. ed. Rio de Janeiro, Ima-go, 1987), e bastante utilizado pelos ini-ciantes no estudo da Psicandlise e forneceuma visao ampla dos fundamentos des sateoria.

Pal'a consultas especfficas sobre a tcr-minologia psicanalitica, bem como as dife-rentes formas de conceituar 0 mesma reno-menD ou processo na teoria de S. Freud,existe 0 iivro de J. Laplanche e J.-B. Pantalis,VocabuJario da PsicanaJise (Saa Paulo, Mar-tins Fontes, s. d.). Este e um livro bastanteconceituado pelo rigor e exatidao das con-cepcoes freudianas

.;.••••J1'I~c;·~@ Freud,. ah~m d,~al-W'id-I'''·Ciftll:itM?',,§>' ma. Dire<;:ao John

Huston (EUA,1962)o fiime mos-

tra 0 irofciodos tra-balhos de Freud

em Viena, enfocando sua teoria sobre inter-preta<;.ao dos sonhos. Mostra tarnbem a re-jeic;ao da CC'munidade medica 3S suasideids.

As lenct(>nci,ls ieoric(-',s apresentadas nos capftulm: 3, 4 e r) -

Beh<::vjo!ismo, Gesf(dt e PSiGJ:12.lise, respcctivamellie -- cOJJstintl-ram-se em mauizes do desenvolvimen to da cier~ci2. psicol6gica,propiciando 0 surgimento de inumeras abordagens da PsicologiaconternpOfanea.

Do Behaviorismo, pOl' exemplo, surgiram as abordagens doBehaviorismo Radical (B. F. Skinner) e do Behavicrismo Cognitivis-ta (A. Banclura c, atualmente, K. Hawton e A. Beck).

A Gestalt (do ponto de vista de uma teoria com bases psicofi-siol6gicas) praticamente desapareceu. No entanto, a tradi.;:ao filo-s6fica que a fundamenta - a Fenornenologia - avan<;.:ou pGf urncarninho diferente, buscando a cornpreensac do ser no munclo e,de certa maneira, associou-se ao campo da Psicologia Existencialis-ta. Hoje, essa venente da Psicologia discute as bases da conscienciaatraves dos ensinarnentos de Jean Paul Sartre. Outra vertente daFenornenoJogia faz essa discussao atraves do Existencialisrno deMartin HeiddeO'er desenvolvendo urna proffcua corrente denorni-o ' _nada Dasein Analise, que tern no psiquiatra suf<;.:oMedard Boss.urna das figuras rnais destacadas. Outra corrente derivada da Ges-talt e que segue urn carninho diferente do tra<;.:ado pela Fenorneno-logia, e a da Gestalt Terapia. Fundada por Pearls, esta corrente tra-

1. Este capitulo contou com a contribui9ao de professores da equipe de Psicologia S6cio-Hist6rica da Faculdade de Psicologia da PUC-SP e, em especial, da prof" Maria da Gra-9a M. Gor,9alves.