Boletim de 108 Pastoral Litúrgica · quanto a pregação, a oração das horas é a ... que vê à...

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Publicação trimestral – Ano XXVII – Nº 108 – Outubro / Dezembro 2002 – Preço 2,25 Boletim de Pastoral Litúrgica 108

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As coisas do alto, Pedro Lourenço Ferreira ........................................................... 145Catequese sobre o Salmo 8, João Paulo II ............................................................. 147Catequese sobre o Salmo 92, João Paulo II ........................................................... 149Catequese sobre o Cântico das criaturas (Dan 3, 57-88.56), João Paulo II ......... 151Catequese sobre o Salmo 148, João Paulo II ......................................................... 153Catequese sobre o Salmo 83, João Paulo II ........................................................... 155Catequese sobre o Cântico de Isaías (2, 2-5), João Paulo II ................................. 157Catequese sobre o Salmo 95, João Paulo II ........................................................... 159Catequese sobre o Salmo 84, João Paulo II ........................................................... 161Catequese sobre o Cântico de Isaías (26, 1-4.7-9.12), João Paulo II ................... 163Catequese sobre o Salmo 66, João Paulo II ........................................................... 165Catequese sobre o Salmo 85, João Paulo II ........................................................... 167Catequese sobre o Cântico de Isaías (33, 13-16), João Paulo II .......................... 169Catequese sobre o Salmo 97, João Paulo II ........................................................... 171Catequese sobre o Salmo 86, João Paulo II ........................................................... 173Catequese sobre o Cântico de Isaías (40, 10-17), João Paulo II .......................... 175Catequese sobre o Salmo 98, João Paulo II ........................................................... 177A liturgia eucarística (IGMR 78-79), José Ferreira ............................................. 179Curso para Acólitos – 8. Gestos e atitudes, José de Leão Cordeiro .................... 185O ministério litúrgico dos leitores – I, José de Leão Cordeiro ............................. 189XXVIII Encontro Nacional de Pastoral Litúrgica, Redacção................................ 195Assembleia Diocesana de Coros da Diocese do Porto, Redacção ........................ 201O Secretariado Nacional de Liturgia, Redacção ..................................................... 203Livros litúrgicos oficiais – Situação em Dezembro de 2002, Redacção .............. 208

BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICAPropriedade do Secretariado Nacional de Liturgia

Director: Pedro Lourenço FerreiraRedacção e Administração: Secretariado Nacional de LiturgiaSantuário de Fátima – Apartado 31 – 2496-908 FÁTIMATel. 249 533 327 – Fax 249 533 343 – E-mail: [email protected]

Publicação registada na SGMJ nº 118776ISSN 0873-3295

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As coisas do alto

EDITORIAL

Aliturgia do tempo do Natal fazmemória das coisas do alto e re-corda-nos o Altíssimo, Senhor do

céu e da terra. A obra da redenção é maismaravilhosa do que a primeira criação eambas são divinas e humanas, realizadas eainda não acabadas. Importa consideraresta suma maravilha da humanidade, tantomais que o progresso das ciências e dasartes se situa no caminho do homem paraDeus, ou, por outras palavras, no retornoda criatura ao Criador de todas as coisas.

A evangelização realizada mediante ascelebrações litúrgicas é um contributo pre-cioso da Igreja à humanidade. A culturacristã é património vivo da humanidade erecusa a condição de museu. É precisoafirmar a vitalidade dessa cultura e reali-zar um crescimento sustentado. A liturgia– exercício do ministério sacerdotal deCristo mediante os ritos da Igreja – é afonte de onde promana a vitalidade doscristãos e a meta de todas as actividadescristãs. Esta concepção litúrgica da vidacristã, sobretudo a prática ritual, constituia maior valia dos cristãos quando assí-duos à liturgia. Os saudosistas do cultocomo era antigamente têm os seus diasinscritos nesse tempo. Os apressados têmum tempo de vida muito curto devido àfraqueza da moda. As grandes obras da hu-manidade estabelecem pontes que ligamas margens do tempo com a eternidade. Aliturgia é o grande monumento erguidopor Deus para toda a humanidade naquelaSexta-Feira Santa da nova criação.

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Oalto é a morada do Altíssimo. Océu mais altíssimo – onde mora osol que nos move –, e a terra mais

profunda – onde a vida repousa e se re-nova –, são igualmente moradas do Cria-dor e coisas do alto. Pela Encarnação oCriador de todas as coisas visíveis e invisí-veis tornou-Se criatura humana sem deixarde ser divino e revestiu a humnanidadecom a sua divindade. Este elemento nãoestava presente no acto da primeira cria-ção, mas é a novidade da nova criação. Aliturgia é o cenário ritual deste aconteci-mento decisivo para a humanidade. Agrandiosidade cultual e cultural das cele-brações litúrgicas tem a ver com as coisasdo alto, a glória de Deus e a salvação doshomens. As grandes catedrais são o pontomais alto onde o engenho e a arte doshomens, assim crentes, puderam chegar.Os espaços litúrgicos afirmam o que nelesse realiza, em maior ou menor expressãode fé, na continuidade do primeiro Templocristão do Calvário. E os movimentos ri-tuais do corpo e da alma – expressos empalavras, gestos, canto e silêncio – conce-bem, geram e dão à luz a vida sacramentalque jorra do Corpo de Cristo oferecidono altar da cruz. Nesta cultura da liturgiacristã nada é supérfluo e banal, mas emtudo se encerra o mistério da nova criaçãoredentora. O homem é associado a esteacto criador “pois todas as vezes que cele-bramos o memorial deste sacrifício reali-za-se a obra da nossa redenção” (Oraçãosobre as oblatas do Dom. II do TC).

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Expostas as ideias e os princípios,importa analisar as realizações. Ea primeira boa realização é uma

ideia bem concebida e um bom princí-pio, que hão-de sustentar a obra à maneirade alicerces. Estes escondem a força doque para ser belo se apresenta frágil. Aformação humana e espiritual, teológicae pastoral requerida pela Igreja para aordenação sacerdotal é fundamental etem por objectivo a realização do cultoque está na origem da obra da redenção.A união assídua com Deus – expressa emLiturgia das Horas, sacramentos e sacra-mentais – gera comunhão fraterna queilumina e dá sabor tanto ao viver quantoao morrer. Os ministros ordenados – diá-conos, presbíteros e bispos – receberam avocação e a missão das coisas do alto quetêm lugar nas celebrações litúrgicas. Oprojecto de Deus no envio do Filho, queescolheu os Apóstolos e os associou àsua obra redentora, é executado pelo mi-nistério e pela vida dos ministros ordena-dos. A oração silenciosa é tão importantequanto a pregação, a oração das horas é amelhor preparação e continuação da Missae os sacramentais repartem a graça dossacramentos. Estas coisas são do alto,descem do Altíssimo e destinam-se aoshomens por Ele amados.

No exercício do ministério sagradoreina grande confusão nas ideias enas acções. Assistimos a um des-

gaste de forças humanas e espirituais queenfraquecem a acção primordial da Igrejae descaracterizam a cultura que resultaprecisamente da participação no exercíciodo ministério sacerdotal de Jesus Cristo.Os sacerdotes que fazem um pouco detudo em qualquer profissão criam odesequilíbrio dos espaços vazios que re-clamam ocupação. Este desperdício faz

parte da lista dos novos pecados e podeclassificar-se entre os atentados às coisasdo alto, pois desfiguram a formosura deDeus e a beleza das suas criaturas.

Ahistória regista os ciclos da vidanuma sucessão melódica harmo-nizada. Todas as criaturas procla-

mam a glória de Deus conforme a suanatureza. Uma das lições da história é aajuda mútua das culturas, porventura anta-gónicas. O império babilónico quando do-minou Israel, vitimado pela fraqueza doculto, mendigou os valores humanos doculto: “Aqueles que nos levaram cativosqueriam ouvir os nossos cânticos e os nos-sos opressores uma canção de alegria:«Cantai-nos um cântico de Sião»” (Salmo136, 3). O nosso tempo confirma que ascoisas do alto são a alegria da terra.

Ofascínio da humanidade situa-senas coisas do alto que sempreatraíram as criaturas e as torna

tanto mais inteligentes quanto mais olhampara o alto. A liturgia mostra as coisas docéu a baixar à terra – bênção descendenteda graça – e transfigura as coisas que daterra se elevam ao céu – bênção ascen-dente do louvor –. O canto dos Anjos nocéu de Belém foi o pedagogo dos pastorese na arquitectura do presépio se encenou oprimeiro templo cristão e a sua liturgia. Nafalta de melhor espaço, a Virgem Mãe deuà luz entre animais que reconheceram oseu Senhor. Tudo é belo aos olhos da almaque vê à luz de Deus e tudo é digno deDeus quando as coisas do alto descem àsprofundidades da terra e quando as criatu-ras são elevadas ao mais alto dos céuscomo acontece nas celebrações litúrgicas.

O mistério do Natal realize na liturgiao que os ritos celebram.

PEDRO LOURENÇO FERREIRA

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A VOZ DO PAPA

A GRANDEZA DO SENHORE A DIGNIDADE DO HOMEM

Catequese sobre o Salmo 8

1. “O homem..., no centro deste empre-endimento, revela-se um gigante. Reve-la-se divino, não em si, mas no seu princí-pio e no seu destino. Por conseguinte, sejahonrado o homem, a sua dignidade, o seuespírito, a sua vida”. Com estas palavras,em Julho de 1969 Paulo VI confiava aosastronautas americanos que partiam para alua o texto do Salmo 8, que agora aquise ouviu, para que entrasse nos espaçoscósmicos (Insegnamenti VII [1969], págs.493-494).

De facto, este hino é uma celebraçãodo homem, uma criatura que, se forcomparada com a grandeza do universo, éinsignificante, é uma “cana” frágil, parausar uma imagem do grande filósofoBlaise Pascal (Pensamentos, n. 264).Contudo, é uma “cana pensante” que podecompreender a criação, porque é senhor dacriação, “coroado” pelo próprio Deus(cf. Sl 8, 6). Como acontece com frequên-cia nos hinos que exaltam o Criador, oSalmo 8 começa e acaba com uma soleneantífona dirigida ao Senhor, cuja magni-ficência está espalhada no universo: “ÓSenhor, nosso Deus, como é grande ovosso nome em toda a terra” (vv. 2.10).

2. O verdadeiro e próprio conteúdo docântico deixa imaginar uma atmosferanocturna, com a lua e as estrelas que seacendem no céu. A primeira estrofe do

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hino (cf. vv. 2-5) é dominada por um con-fronto entre Deus, o homem e o universo.Na cena sobressai antes de tudo o Senhor,cuja glória é cantada pelos céus, mas tam-bém pelos lábios da humanidade. O louvorque surge espontâneo nos lábios das crian-ças silencia e confunde as conversas arro-gantes dos que negam Deus (cf. v. 3). Elessão definidos como “insensatos, corruptose abomináveis”, porque se iludem que po-dem desafiar e opor-se ao Criador com asua razão e acção (cf. Sl 13, 1).

Logo a seguir, eis que se abre um su-gestivo cenário de uma noite estrelada.Face a este horizonte infinito surge a eter-na pergunta: “Que é o homem?” (Sl 8, 5).A primeira e imediata resposta fala de nu-lidade, quer em relação à grandeza doscéus, quer sobretudo a respeito da majesta-de do Criador. Com efeito, o céu, diz oSalmista, é “teu”, a lua e as estrelas “por tiforam fixadas” e são “obra dos teus dedos”(cf. v. 4). É bonita esta última expressão,mais do que a mais comum “obra das tuasmãos” (v. 7): Deus criou estas realidadescolossais com a facilidade e o esmero deum bordado ou um trabalho de cinzel, como toque leve de quem faz deslizar os seusdedos pelas cordas da harpa.

3. Por conseguinte, a primeira reacção éde assombro: como pode Deus “recor-dar-se” e “ocupar-se” desta criatura tão

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frágil e delicada (cf. v. 5)? Mas eis agrande surpresa: ao homem, criaturafrágil, Deus concedeu uma dignidademaravilhosa: fez com que ele fosse poucoinferior aos anjos ou, como também podeser traduzido o original hebraico, poucoinferior a um Deus (cf. v. 6).

Entramos, desta forma, na segunda es-trofe do Salmo (cf. vv. 6-10). O homem évisto como o lugar-tenente real do próprioCriador. De facto, Deus “coroou-o” comoum vice-rei, destinando-o a um senhoriouniversal: “Tudo submetestes debaixodos seus pés” e o adjectivo “tudo” ressoaenquanto desfilam as várias criaturas (cf.vv. 7-9). Mas este domínio não é conquis-tado pela capacidade do homem, realidadefrágil e limitada, nem é obtido com umavitória sobre Deus, como queria o mitogrego de Prometeu. É um domínio propor-cionado por Deus: às mãos frágeis e porvezes egoístas do homem está confiadotodo o horizonte das criaturas, para que eleconserve a sua harmonia e beleza, o usemas não abuse, faça emergir os seus segre-dos e desenvolva as suas potencialidades.

Como declara a Constituição pastoralGaudium et spes do Concílio Vaticano II,“o homem foi criado à “imagem de Deus”,capaz de reconhecer e amar o seu Criador,que o constitui senhor de todas as criaturasterrenas, para as governar e usar, glorifi-cando a Deus” (n. 12).

4. Infelizmente, o governo do homem,afirmado no Salmo 8, pode ser mal com-preendido e deformado pelo homemegoísta, que muitas vezes se revelou maisum tirano insensato do que um governadorsábio e inteligente. O Livro da Sabedoriaadverte-nos contra os desvios deste gé-nero, quando esclarece que Deus formou“o homem... para dominar sobre as criatu-ras..., e governar o mundo com santidade ejustiça” (9, 2-3). Mesmo num contextodiferente, também Job faz apelo ao nosso

Salmo para recordar sobretudo a debili-dade humana, que não mereceria tantaatenção por parte de Deus: “Que é o ho-mem, para que faças caso dele e ponhasnele a tua atenção, para que o visites todasas manhãs e o proves a cada instante?” (7,17-18). A história documenta o mal que aliberdade humana semeia no mundo comas devastações ambientais e com as injus-tiças sociais mais clamorosas.

Ao contrário dos seres humanos, quehumilham os próprios semelhantes e acriação, Cristo apresenta-se como o ho-mem perfeito, “coroado de glória e dehonra... em virtude de ter padecido amorte, a fim de que, pela graça de Deus,provasse a morte por todos” (Heb 2, 9).Ele reina sobre o universo com aquele do-mínio de paz e de amor que prepara o novomundo, os novos céus e a nova terra (cf. 2Pd 3, 13), Aliás, a sua autoridade realcomo sugere o autor da Carta aos Hebreusaplicando-lhe o Salmo 8 é exercida atravésda entrega suprema de si na morte “em be-nefício de todos”.

Cristo não é um soberano que se deixaservir, mas que serve e se consagra ao pró-ximo: “Porque o Filho do Homem tam-bém não veio para ser servido, mas paraservir e dar a vida em resgate de muitos”(Mc 10, 45). Desta forma, Ele recapitulaem si “todas as coisas que há no Céu e naTerra” (Ef 1, 10). Nesta luz cristológica, oSalmo 8 revela toda a força da sua mensa-gem e da sua esperança, convidando-nos aexercer a nossa soberania sobre a criação,não dominando-a, mas amando-a.

JOÃO PAULO II

26 de Junho de 2002Transcrito de L'Osservatore Romano

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O PODER DE DEUS CRIADORCatequese sobre o Salmo 92

1. O conteúdo do Salmo 92, sobre o qualhoje nos detemos, é sugestivamenteexpresso por alguns versículos do Hinoque a Liturgia das Horas propõe para asvésperas da segunda-feira: “Ó imenso cri-ador, / que ao ímpeto das correntesmarcastes o percurso e o limite / na harmo-nia da criação / tu que à áspera solidão / daterra sequiosa /deste o refrigério / das cor-rentes e dos mares”.

Antes de entrar no coração do Salmo,dominado pela imagem das águas, deseja-mos captar a sua tonalidade de fundo, ogénero literário que o domina. De facto,este Salmo, como os Salmos 95-98, é defi-nido pelos estudiosos da Bíblia como “ocântico do Senhor rei”. Exalta aquele Rei-no de Deus, fonte de paz, de verdade e deamor, que nós invocamos no “Pai-Nosso”quando imploramos: “Venha a nós ovosso Reino!”.

Com efeito, o Salmo 92 começa preci-samente com uma exclamação de júbiloque diz assim: “Reina o Senhor” (v. 1). OSalmista celebra a realeza de Deus, isto é,a sua acção eficaz e salvífica, criadora domundo e redentora do homem. O Senhornão é um imperador impassível, confinadono seu céu distante, mas está presente nomeio do seu povo como Salvador podero-so e grande no amor.

2. Na primeira parte do hino de louvorprevalece o Senhor rei. Como um sobe-rano Ele senta-se num trono de glória, umtrono inabalável e eterno (cf. v. 2). O seu

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manto é o esplendor da transcendência, ocinto das suas vestes é a omnipotência (cf.v. 1). Precisamente a soberania omnipo-tente de Deus revela-se no centro doSalmo, caracterizado por uma imagem im-pressionante, a das águas caudalosas.

O Salmista menciona de modo maisparticular a “voz” dos rios, ou seja, o bra-mido das suas águas. Efectivamente, o fra-gor de grandes cataratas produz, sobreaqueles que estão ensurdecidos e com todoo seu corpo tomado pelo estremecimento,uma sensação de grande força. O Salmo41 recorda esta sensação quando diz: “Oabismo chama outro abismo no fragor dasvossas cataratas. Todas as vossas vagas etorrentes passaram sobre mim” (v. 8). Facea esta força da natureza o ser humano sen-te-se pequeno. Mas o Salmista usa-a comotrampolim para exaltar o poder, muitomaior, do Senhor. À tripla repetição da ex-pressão “as correntes elevam” (cf. Sl 92, 3)a sua voz, corresponde a tripla afirmaçãodo poder superior de Deus.

3. Os Padres da Igreja gostam de comen-tar este Salmo aplicando-o a Cristo “Se-nhor e Salvador”. Orígenes, traduzido porSão Jerónimo em latim, afirma: “O Se-nhor reinou, revestiu-se de beleza. Isto é: aquele que anteriormente tinha tremido namiséria da carne, resplandece agora namajestade da divindade”. Para Orígenes,os rios e as águas que elevam as suas vozesrepresentam as “figuras eminentes dosprofetas e dos apóstolos”, que “procla-

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mam o louvor e a glória do Senhor, anun-ciam os seus juízos para todo o mundo”(cf. 74 homilias sobre o livro dos Salmos,Milão 1993, pp. 666 e 669).

Santo Agostinho desenvolve de modoainda mais amplo o símbolo das correntese dos mares. Como rios repletos de águasfluentes, isto é, cheios do Espírito Santo efortificados, os Apóstolos já não têm re-ceio e finalmente levantam a sua voz.Mas “quando Cristo começou a ser anun-ciado por tantas vozes, o mar começou aagitar-se”. Na agitação do mar do mundo,escreve Agostinho, parece que a barca daIgreja flutua receosa, contrariada porameaças e perseguições, mas “no alto, oSenhor é admirável”: ele “caminhousobre as águas do mar e acalmou o seufragor” (Exposições sobre os salmos, III,Roma 1976, pág. 231).

4. Mas o Deus soberano de todas ascoisas, omnipotente e invencível, estásempre próximo do seu povo, ao qual dáos seus ensinamentos. Eis a ideia que oSalmo 92 oferece no seu último versículo:ao trono altíssimo do céu sucede o tronoda arca do templo de Jerusalém, o poder dasua voz cósmica é substituído pela doçurada sua palavra santa e inefável: “Sãodignos de fé os Vossos testemunhos, davossa casa é própria a santidade, ó Senhor,por toda a extensão dos dias” (v. 5).

Encerra-se desta maneira um hinobreve mas de grande intensidade. É umaoração que gera confiança e esperança nosfiéis que muitas vezes se sentem agitados,receosos de serem arrastados pela tempes-tade da história e atingidos por ameaçado-ras forças obscuras.

Podemos reconhecer um eco desteSalmo no Apocalipse de João, quando oAutor inspirado, ao descrever a grande as-sembleia celeste celebra a derrocada daBabilónia opressiva, e afirma: “Ouvi,então, como que a voz de uma grande mul-

tidão, como o ruído de muitas águas ecomo o ribombar de grandes trovões quedizia: “Aleluia! Eis que o Senhor, nossoDeus, o Todo-Poderoso, tomou posse doSeu Reino”” (19, 6).

5. Concluimos a nossa reflexão sobre oSalmo 92 dando a palavra a São Gregóriode Nazianzo, o “teólogo” por excelênciaentre os Padres. Fazemo-lo com um seubonito cântico no qual o louvor a Deus,soberano e criador, assume um aspectotrinitário: “Tu [Pai], criaste o universo, acada coisa atribuíste o lugar que lhe com-pete e tudo mantiveste em virtude da tuaprovidência... é Deus-Filho o teu Verbo: de facto, é consubstancial ao Pai, e igual aEle na honra. Ele conciliou harmoniosa-mente o universo, para reinar sobre tudo.E, abraçando tudo, o Espírito Santo, Deus,de tudo cuida e tudo defende. A Ti procla-marei, Trindade viva, como único e sómonarca... força inabalável que rege oscéus, cuja visão não é acessível aos olhosmas que contempla todo o universo e co-nhece qualquer profundidade secreta daterra até aos abismos. Ó Pai, sê benignocomigo: ... que eu possa encontrar miseri-córdia e graça, porque a ti são dadas glóriae graças até ao fim dos tempos” (Cântico31, em Poesias/1, Roma 1994, pp. 65-66).

JOÃO PAULO II

3 de Julho de 2002Transcrito de L'Osservatore Romano

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1. No capítulo 3 do Livro de Daniel en-contra-se inserida uma luminosa oraçãolitânica, um verdadeiro e peculiar Cânticodas criaturas, que a Liturgia das Laudesnos propõe várias vezes, em diversosfragmentos.

Ouvimos agora a parte fundamental,um grandioso coro cósmico, emolduradopor duas antífonas que o resumem: “Ben-dito sois no firmamento dos céus, digno delouvor e glória eternos! Obras do Senhor,bendizei todas o Senhor, a ele glória e lou-vor eterno!” (vv. 56-57).

Entre estas duas aclamações desen-volve-se um solene hino de louvor, que seexprime com o convite repetido “bendi-zei”: formalmente, trata-se apenas de umconvite a bendizer a Deus dirigido a toda acriação; na realidade, trata-se de umcântico de agradecimento que os fiéiselevam ao Senhor por todas as maravilhasdo universo. O homem faz-se voz da cria-ção inteira para louvar e agradecer a Deus.

2. Este hino, cantado por três jovens he-breus que convidam todas as criaturas alouvar a Deus, nasce numa situação dra-mática. Os três jovens, perseguidos pelosoberano da Babilónia, encontram-seimersos na fornalha ardente devido à suafé. E contudo, mesmo se estavam prestes asofrer o martírio, eles não hesitam em can-tar, em rejubilar, em louvar. O sofrimento

TODAS AS CRIATURASLOUVEM AO SENHOR

Catequese sobre o Cântico das criaturas(Dan 3, 57.88.56)

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áspero e violento da prova desaparece, pa-rece que se dissolve na presença da oraçãoe da contemplação.

É precisamente esta atitude de aban-dono confiante que suscita a intervençãodivina.

De facto, como afirma a sugestivanarração de Daniel, “O anjo do Senhor,porém, tinha descido até Azarias e seuscompanheiros, na fornalha, e afastava ofogo. Mudou o lugar da fornalha em lugaronde soprava como que uma brisamatinal: o fogo nem sequer os tocou e nemlhes causou qualquer mal nem a menordor” (vv. 49-50). Os pesadelos desapare-cem como o nevoeiro ao sol, os receiosdissipam-se, o sofrimento é eliminadoquando todo o ser humano se torna louvore confiança, expectativa e esperança. Eis aforça da oração quando é pura, intensa,abandono total a Deus, providencial e re-dentor.

3. O cântico dos três jovens faz desfilardiante dos nossos olhos uma espécie deprocissão cósmica, que parte do céu po-voado de anjos, onde também brilham osol, a lua e as estrelas. Lá de cima Deusderrama sobre a terra o dom das águas queestão acima dos céus (cf. v. 60), isto é, aschuvas e a brisa matinal (cf. v. 64).

Contudo, eis que começam também asoprar os ventos, a explodir os relâmpagos

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e a irromper as estações com o calor e como gelo, com o fervor do verão, mas tam-bém com a geada, o gelo, a neve (cf. vv.65-70.73). O poeta insere no cântico delouvor ao Criador também o ritmo dotempo, o dia e a noite, a luz e as trevas (cf.vv. 71-72). No final o olhar poisa tambémsobre a terra, partindo dos cumes dosmontes, realidades que parecem unir terrae céu (cf. vv. 74-75).

Eis que então se unem no louvor aDeus as criaturas vegetais que germinamna terra (cf. v. 76), as nascentes que trazemvida e frescor, os mares e os rios com assuas águas abundantes e misteriosas. Defacto, o cantor evoca também “os mons-tros marinhos” ao lado dos peixes (cf. v.79), como sinal do caos aquático primor-dial ao qual Deus impôs regras para seremobservadas.

Depois é a vez do grande e variado rei-no animal, que vive e se move nas águas,na terra e nos céus (cf. Dn 3, 80-81).

4. O último actor da criação que entrana cena é o homem. Primeiro, o olharalarga-se a todos os “filhos do homem”(cf. v. 82); depois, a atenção concentra-seem Israel, o povo de Deus (cf. v. 83); aseguir, é a vez de quantos se consagraramtotalmente a Deus não só como sacerdotes(cf. v. 84), mas também como testemunhasde fé, de justiça e de verdade. São os“servos do Senhor”, os “espíritos e as al-mas dos justos”, os “mansos e humildes decoração” e, entre eles, sobressaem os trêsjovens, Ananias, Azarias e Misael, quederam voz a todas as criaturas num louvoruniversal e perene (cf. vv. 85-88).

Ressoaram constantemente os trêsverbos da glorificação divina, como numaladainha: “bendizei, louvai, exaltai” o Se-nhor. Esta é a alma autêntica da oração edo cântico: celebrar o Senhor sem parar,na alegria de pertencer a um coro que en-globa todas as criaturas.

5. Gostaríamos de concluir a nossa medi-tação dando voz aos Padres da Igreja,como Orígenes, Hipólito, Basílio de Cesa-reia e Ambrósio de Milão, que comenta-ram a narração dos seis dias da criação (cf.Gn 1, 1-2, 4a) precisamente em conexãocom o Cântico dos três jovens.

Limitamo-nos a citar o comentário deSanto Ambrósio, o qual, ao referir-se aoquarto dia da criação (cf. Gn 1, 14-19),imagina que a terra fala e, ao falar sobre osol, encontra todas as criaturas unidas nolouvor a Deus: “Bom é deveras o sol,porque serve, ajuda a minha fecundidade,alimenta os meus frutos. Ele foi-me dadopara o meu bem, está submetido comigo àscanseiras. Geme comigo, para que cheguea adopção dos filhos e a redenção do gé-nero humano, para que possamos ser,também nós, libertados da escravidão.Ao meu lado, juntamente comigo louva oCriador, juntamente comigo eleva um hinoao Senhor nosso Deus. Onde o sol bendiz,ali bendiz a terra, bendizem as árvores defruto, bendizem os animais, bendizem co-migo as aves” (Os seis dias da criação,SAEMO, I, Milão-Roma 1977-1994,págs. 192-193).

Ninguém é excluído da bênção do Se-nhor, nem sequer os monstros do mar (cf.Dn 3, 79). Com efeito, Santo Ambrósioprossegue: “Até as serpentes louvam o Se-nhor, porque a sua natureza e o seu aspectorevelam aos nossos olhos alguma beleza emostram ter a sua justificação” (Ibid.,págs. 103-104).

Com mais razão nós, seres humanos,devemos acrescentar a este concerto delouvor a nossa voz feliz e confiante, acom-panhada por uma vida coerente e fiel.

JOÃO PAULO II

10 de Julho de 2002Transcrito de L'Osservatore Romano

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1. O Salmo 148 que agora elevámos aDeus constitui um verdadeiro “cântico dascriaturas”, uma espécie de Te Deum doAntigo Testamento, um aleluia cósmicoque envolve tudo e todos no louvor divino.

Assim comenta um exegeta contem-porâneo: “O salmista, chamando-os pelonome, ordena os seres: em cima o céu,dois astros segundo os tempos, e, separa-das, as estrelas; de um lado as árvores defruto, do outro os cedros; num plano osrépteis, e noutro as aves; aqui os príncipese além os povos; em duas filas, talvez dan-do as mãos, jovens e moças... Deus estabe-leceu-os atribuindo-lhes um lugar e umafunção; o homem acolhe-os, dando-lheslugar na linguagem, e assim dispostos osconduz à celebração litúrgica. O homem é“pastor do ser” ou liturgo da criação” (L.Alonso Schökel, Trinta Salmos: poesia eoração, Bolonha 1982, pág. 499).

Sigamos também nós este coro uni-versal, que ressoa no firmamento do céu eque tem como templo todo o cosmos.Deixemo-nos conquistar pelo alcance dolouvor que todas as criaturas elevam aoseu Criador.

2. No céu encontramos os cantores douniverso estrelar: os astros mais distantes,as esteiras dos anjos, o sol e a lua, as estre-las reluzentes, os “céus dos céus” (cf. v. 4),

GLORIFICAÇÃO DE DEUSSENHOR E CRIADOR

Catequese sobre o Salmo 148

A VOZ DO PAPA

OUTUBRO – DEZEMBRO 2002 153

isto é, o espaço estrelar, as águas superio-res que o homem da Bíblia pensa que estãoconservadas em depósitos antes de caíremcomo chuva sobre a terra.

O aleluia, ou seja, o convite a “louvaro Senhor”, ressoa pelo menos oito vezes etem como meta final a ordem e a harmoniados seres celestes: “estabeleceu-lhes leis aque não faltam” (v. 6).

O olhar dirige-se depois para o hori-zonte terrestre onde se segue uma procis-são de cantores, pelo menos vinte e dois,isto é, uma espécie de alfabeto de louvor,espalhado no nosso planeta. Eis os mons-tros marinhos e os abismos, símbolos docaos aquático sobre o qual a terra está fun-dada (cf. Sl 23, 2), segundo a concepçãocosmológica dos antigos semitas.

O Padre da Igreja, São Basílio, ob-serva: “Nem sequer o abismo foi consi-derado desprezível pelo salmista, que oacolheu no coro geral da criação, aliás,com uma linguagem própria, também elecompleta harmoniosamente o hino aoCriador” (Homiliae in hexaemeron, III, 9: PG 29, 75).

3. A procissão continua com as criaturasda atmosfera: o fogo dos relâmpagos, ogranizo, a neve, o nevoeiro e o vento datempestade, considerado um veloz mensa-geiro de Deus (cf. Sl 148, 8).

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154 BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICA

Entram depois em cena os montes e ascolinas, consideradas popularmente ascriaturas mais antigas da terra (cf. v. 9a). Oreino vegetal está representado pelas árvo-res de fruto e pelos cedros (cf. v. 9b). Aocontrário, o mundo animal está presenteatravés das feras, dos animais, dos répteise das aves (cf. v. 10).

E por fim, eis o homem que preside àliturgia da criação. Ele é definido deacordo com todas as idades e distinções:crianças, jovens e idosos, príncipes, reis enações (cf. vv. 11-12).

4. Confiemos agora a São João Crisós-tomo a tarefa de lançar um olhar de con-junto sobre este imenso coro. Ele faz istocom palavras que reenviam também para ocântico dos três jovens na fornalha arden-te, por nós meditado na última catequese.

O grande Padre da Igreja e patriarca deConstantinopla afirma: “Devido à suagrande rectidão de alma os santos, quandose preparam para dar graças a Deus, costu-mam chamar muitos para participar no seulouvor, exortando-os a empreender jun-tamente com eles esta bonita liturgia.Também os três jovens na fornalha ardentefizeram isto, quando chamaram toda acriação para louvar o benefício recebido epara cantar hinos a Deus (Dn 3).

Também este Salmo faz o mesmo, cha-mando as duas partes do mundo, a que estáno alto e a que está em baixo, a sensível e ainteligente. Assim fez também o profetaIsaías, quando disse: “Cantai, ó Céus,exulta de alegria ó terra... porque o Senhorconsola o seu povo” (Is 49, 13). E o Salté-rio exprime-se de novo assim: “QuandoIsrael saiu do Egipto, a casa de Jacob dumpovo estranho, os montes saltaram comocarneiros, as colinas como cordeiros” (Sl113, 1.4). E em Isaías: “As nuvens façamchover a justiça” (Is 45, 8). De facto, os

santos, considerando-se eles própriosinsuficientes para louvar o Senhor, diri-gem-se a todas as partes envolvendo todosna hinologia comum” (Expositio inpsalmum CXLVIII: PG 55, 484-485).

5. Também nós somos convidados aassociar-nos a este coro imenso, tornan-do-nos voz explícita de cada criatura elouvando a Deus nas duas dimensõesfundamentais do seu mistério. Por umlado, devemos adorar a sua grandezatranscendente, “porque só o Seu nome éexcelso, a sua majestade está acima do céue da terra”, como diz o nosso Salmo (v.13). Por outro lado, reconhecemos a suabondade condescendente, porque Deusestá próximo das suas criaturas e vem,sobretudo, em ajuda do seu povo: “Eleenalteceu o poder do seu povo... povo dasua amizade” (v. 14), como ainda afirma oSalmista.

Face ao Criador omnipotente e miseri-cordioso aceitemos, então, o convite deSanto Agostinho para o louvar, exaltar ecelebrar através das suas obras: “Quandoobservas estas criaturas e por isso te rego-zijas e te elevas até ao Artífice de tudo e,através do intelecto, contemplas os atri-butos invisíveis das coisas criadas, entãoeleva-se a sua confissão sobre a terra e nocéu... Se as criaturas são belas, quantomais não o será o Criador?” (Exposiçõessobre os Salmos, IV, Roma 1977, págs.887-889).

JOÃO PAULO II

17 de Julho de 2002Transcrito de L'Osservatore Romano

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1. Damos continuidade ao nosso itinerá-rio no âmbito dos Salmos da Liturgia dasLaudes. Ouvimos agora o Salmo 83, atri-buído pela tradição judaica “aos filhos deCoré”, uma família sacerdotal que se ocu-pava do serviço litúrgico e guardava a en-trada da tenda da arca da Aliança (cf. 1 Cor9, 19).

Trata-se de um cântico muito suave,repassado por uma aspiração mística aoDeus da vida, celebrado várias vezes (cf.Sl 83, 2.4.9.13) com o título de “Senhordos exércitos”, isto é, Senhor das estrelase, por conseguinte, do universo. Por outrolado, este título estava relacionado especi-almente com a arca conservada no templo,chamada “a arca do Deus dos exércitosque se senta sobre os querubins” (1 Sm 4,4; cf. Sl 79, 2). De facto, ela era sentidacomo o sinal da protecção divina nos diasdo perigo e da guerra (cf. 1 Sm 4, 3-5; 2 Sm11, 11).

O quadro de todo o Salmo está repre-sentado pelo templo para o qual se dirige aperegrinação dos fiéis. A estação pareceser a outonal, porque se fala da “primeirachuva” que alivia a aridez do Verão (cf. Sl83, 7). Por isso, poderíamos pensar naperegrinção rumo a Sião, para a terceirafestividade principal do ano hebraico, ados Tabernáculos, memória da peregrina-ção de Israel no deserto.2. O templo está presente com todo o seufascínio desde o início até ao fim do

DESEJO DO TEMPLO DO SENHORCatequese sobre o Salmo 83

OUTUBRO – DEZEMBRO 2002 155

A VOZ DO PAPA

Salmo. Na abertura (cf. vv. 2-4) encontra-mos a admirável e delicada imagem dasaves que construíram os seus ninhos nosantuário, privilégio invejável.

Esta é uma representação da felicidadede todos os que como os sacerdotes dotemplo têm uma residência fixa na Casa deDeus, gozando da sua intimidade e da suapaz. Com efeito, todo o ser do crente estáorientado para o Senhor, estimulado porum desejo quase físico e instintivo: “A mi-nha alma desfalece e consome-se pelosátrios do Senhor. O meu coração e a minhacarne gritam de alegria de encontro aoDeus vivo” (v. 3). Depois, o templo volta aaparecer no fim do Salmo (cf. vv. 11-13).O peregrino exprime a sua grande felicida-de de estar algum tempo nos átrios da casade Deus e opõe esta felicidade espiritual àilusão idólatra, que impulsiona para as“tendas dos ímpios”, isto é, os templosaviltantes da injustiça e da perversão.

3. Só no santuário do Deus vivo existema luz, a vida e a alegria, e é “bem-aventu-rado todo aquele que confia” no Senhor,escolhendo o caminho da rectidão (cf.vv. 12, 13). A imagem do caminho con-duz-nos ao centro do Salmo (cf. vv. 5-9),onde se desenvolve outra peregrinaçãomais significativa. Se é bem-aventuradoaquele que habita no templo de maneiraestável, é muito mais bem-venturadoaquele que decide empreender uma via-gem de fé até Jerusalém.

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156 BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICA

Também os Padres da Igreja nos seuscomentários ao Salmo 83 dão um realceparticular ao v. 6: “Felizes os que em Vóstêm a sua força, que têm a peito as peregri-nações”. As antigas traduções do Saltériofalavam da decisão de realizar as “ascen-sões” rumo à cidade santa. Portanto, paraos Padres, a peregrinação a Sião torna-va-se o símbolo do progresso contínuodos justos para as “tendas eternas”, ondeDeus acolhe os seus amigos na alegriatotal (cf. Lc 16, 9).

Gostaríamos de nos deter um mo-mento acerca desta “ascensão” mística,que tem na peregrinação terrena umaimagem e um sinal. E fá-lo-emos com aspalavras de um escritor cristão do séculoVII, abade do mosteiro do Sinai.

4. Trata-se de São João Clímaco, que de-dicou um tratado inteiro A Escada do Pa-raíso para explicar os numerosos degrauspelos quais a vida espiritual se eleva. Nofim da sua obra ele cede a palavra à pró-pria caridade, situada no cimo da escadado progresso espiritual.

É ela que convida e exorta, propondosentimentos e atitudes que já foram su-geridos pelo nosso Salmo: “Subi, irmãos,ascendei. Cultivai, no vosso coração oprofundo desejo de subir sempre (cf. 83,6). Escutai as Escrituras que convidam:“Vinde, subamos à Montanha do Senhor, àCasa do Deus de Jacob” (Is 2, 3), que fezos nossos pés rápidos como os de umcervo e nos indicou como meta um lugarsublime, para que, seguindo as suas vere-das, saíssemos vencedores (cf. Sl 17, 33).Apressemo-nos, então, todos como estáescrito enquanto não tivermos encontrado,na unidade da fé, o rosto de Deus, e reco-nhecendo-O, não tivermos alcançado ohomem perfeito na maturidade completada idade de Cristo (cf. Ef 4, 13)” (A Esca-da do Paraíso, Roma 1989, pág. 355).

5. Em primeiro lugar, o Salmista pensana peregrinação concreta que, de Sião,conduz às várias localidades da TerraSanta. A chuva que está a cair parece seruma antecipação das bênçãos jubilosasque o envolverão como um manto (cf. Sl83, 7) quando estiver diante do Senhor notemplo (cf. v. 8). A viagem cansativaatravés “do vale do pranto” (cf. v. 7) étransfigurada pela certeza de que a meta éDeus, aquele que dá vigor (cf. v. 8), escutaa súplica do fiel (cf. v. 9) e torna-se o seu”escudo” protector (cf. v. 10).

É precisamente nesta luz que a pere-grinação concreta se transforma comointuíram os Padres numa parábola da vidainteira, passada entre o afastamento e aintimidade com Deus, entre o mistério e arevelação. Também no deserto da exis-tência quotidiana, os seis dias de trabalhosemanal são fecundados, iluminados esantificados pelo encontro com Deus nosétimo dia através da liturgia e da oração.

Caminhemos, então, também quandoestamos no “vale do pranto”, tendo o olharfixo naquela meta luminosa de paz e decomunhão. Também nós repetimos nonosso coração a bem-aventurança final,semelhante a uma antífona que conclui oSalmo: “Senhor dos exércitos, feliz o ho-mem que em vós confia!” (v. 13).

JOÃO PAULO II

28 de Agosto de 2002Transcrito de L'Osservatore Romano

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A VOZ DO PAPA

SOLENE CONVITEA RENOVAR A ALIANÇA

Catequese sobre o Cântico de Isaías (2, 2-5)

1. A Liturgia quotidiana das Laudes,além dos Salmos, propõe sempre umCântico tirado do Antigo Testamento. Defacto, sabemos que, paralelamente ao Sal-tério, verdadeiro e próprio livro da ora-ção de Israel e depois da Igreja, existe umaespécie de outro “Saltério” distribuídopelas várias páginas históricas, proféticase sapienciais da Bíblia. Também ele éconstituído por hinos, súplicas, louvores einvocações, muitas vezes de grande belezae intensidade espiritual.

Na nossa peregrinação espiritual pelasorações da Liturgia das Laudes, já encon-tramos muitos destes cânticos queconstelam as páginas bíblicas. Tomamosagora em consideração um, deveras ad-mirável, obra de um dos máximos profetasde Israel, Isaías, que viveu no oitavo sé-culo a.C. Ele é testemunha de momentosdifíceis vividos pelo reino de Judá, mastambém cantor da esperança messiânicanuma linguagem poética altíssima.

2. É o caso do Cântico que acabámos deescutar e que está colocado quase naabertura do seu livro, nos primeiros versí-culos do capítulo 2, precedidos por umanota redaccional posterior que diz assim:“Visão profética de Isaías, filho de Amós,sobre Judá e Jerusalém” (Is 2, 1). Porconseguinte, o hino é concebido comouma visão profética, que descreve umameta para a qual tende, na esperança, ahistória de Israel. Não é por acaso que as

OUTUBRO – DEZEMBRO 2002 157

primeiras palavras são: “No fim dos tem-pos” (v. 2), isto é, na plenitude dos tempos.Por isso, é um convite a não nos fixarmosno presente tão pobre, mas a sabermosintuir, sob a superfície dos acontecimentosquotidianos, a presença misteriosa daacção divina, que conduz a história paraum horizonte muito diferente de luz e depaz.

Esta “visão”, com sabor messiânico,será retomada ulteriormente no capítulo60 do mesmo livro num cenário mais am-plo, sinal de uma nova meditação das pala-vras fundamentais e incisivas do profeta,precisamente as do Cântico que agora pro-clamámos. O profeta Miqueias (cf. 4, 1-3)retomará o mesmo hino, ainda que termine(cf. 4, 4-5) de maneira diferente do oráculode Isaías (cf. Is 2, 5).

3. No centro da “visão” de Isaías er-gue-se o monte Sião, sendo habitado porDeus e, por conseguinte, é lugar de con-tacto com o céu (cf. 1 Rs 8, 22-53). Dele,segundo o oráculo de Isaías 60, 1-6, difun-dir-se-á uma luz que rasgará e afastaráas trevas e para ele se dirigirão procissõesde povos de todas as partes da terra.

Este poder de atracção que Sião pos-sui, está fundado sobre duas realidadesque promanam do monte de Jerusalém: aLei e a Palavra do Senhor. Elas constitu-em, na verdade, uma única realidade, queé fonte de vida, de luz e de paz, expressãodo mistério do Senhor e da sua vontade.

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158 BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICA

Quando as nações alcançam o cume deSião, onde se ergue o templo de Deus, eisque se realiza aquele milagre que desdesempre a humanidade espera e pelo qualsuspira. Os povos deixam cair das mãos asarmas, que depois são recolhidas para se-rem forjadas em instrumentos pacíficos detrabalho: as espadas são transformadasem relhas de arados, as lanças em foices.Desta forma, delineia-se um horizonte depaz, de shalôm (cf. Is 60, 17), como se dizem hebraico, palavra querida sobretudo àteologia messiânica. Finalmente desapare-cem de uma vez por todas a guerra e oódio.

4. O oráculo de Isaías conclui-se com umapelo, que está em sintonia com a espiri-tualidade dos cânticos de peregrinação aJerusalém: “Casa de Jacob, vinde, cami-nhemos à luz do Senhor” (Is 2, 5). Israelnão deve permanecer espectador destatransformação histórica radical; não sepode dissociar do convite que ressoou naabertura nos lábios dos povos: “Vinde, su-bamos à Montanha do Senhor” (v. 3).Também nós, cristãos, somos interpeladospor este Cântico de Isaías. Ao comentá-lo,os Padres da Igreja do quarto e quinto sé-culos (Basílio Magno, João Crisóstomo,Teodoro de Ciro, Cirilo de Alexandria)vêem-no realizado com a vinda de Cristo.Por conseguinte, identificavam na Igreja o“monte do templo do Senhor... erigido nocimo dos montes”, do qual saía a Palavrado Senhor e para o qual acorriam os povospagãos, na nova era de paz inauguradapelo Evangelho.

5. Já o mártir São Justino na sua Pri-meira Apologia, escrita por volta de 153,proclamava a realização do versículo doCântico que diz: “sairá de Jerusalém a pa-lavra do Senhor” (cf. v. 3). Ele escrevia:“De Jerusalém sairão homens para omundo, num número de doze; e estes eramincultos; não sabiam falar, mas graças ao

poder de Deus revelaram a todo o génerohumano que tinham sido enviados porCristo para ensinar a todos a Palavra deDeus. E nós, que antes nos matávamos unsaos outros, não só já não combatemos osinimigos, mas para não mentir e não enga-nar quantos nos interrogam, morremos debom grado confessando Cristo” (PrimeiraApologia, 39, 3; Os apologistas gregos,Roma 1986, pág. 118).

Por isso, de modo particular nós,cristãos, aceitamos o apelo do profeta eprocuramos lançar as bases daquela civili-zação do amor e da paz na qual não hajamais guerra, “nem morte, nem pranto, nemgritos, nem dor, porque as primeiras coisaspassaram” (Ap 21, 4).

JOÃO PAULO II4 de Setembro de 2002Transcrito de L'Osservatore Romano

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A VOZ DO PAPA

DEUS É REI E JUIZ DO UNIVERSOCatequese sobre o Salmo 95

1. “Proclamai ante os povos: ‘O Senhoré quem reina’”. Esta exortação do Salmo95 (v. 10), que agora proclamámos, ofe-rece como que a tonalidade sobre a qual semodula todo o hino. De facto, ele insere-seentre os chamados “Salmos do Senhorrei”, que incluem os Salmos 95-98, alémdo 46 e do 92.

Já tivemos no passado a ocasião de en-contrar e comentar o Salmo 92, e sabemoscomo estes cânticos têm no centro a figuragrandiosa de Deus, que ampara todo o uni-verso e governa a história da humanidade.

Também o Salmo 95 exalta tanto oCriador dos seres, como o Salvador dospovos: Deus “fixou o orbe, não vacilará;governa os povos com equidade” (v. 10).Aliás, no original hebraico o verbo tradu-zido com “julgar” significa na realidade“governar”: desta forma temos a certezaque nós não estamos abandonados às for-ças obscuras da confusão ou do acaso, masestamos sempre nas mãos de um Soberanojusto e misericordioso.

2. O Salmo começa com um convite fes-tivo a louvar a Deus, um convite que abreimediatamente uma perspectiva universal:“Cantai ao Senhor terra inteira!” (v. 1). Osfiéis são convidados a “narrar a glória”de Deus “entre os povos”, depois a diri-girem-se “a todas as nações” para procla-mar “os seus prodígios” (v. 3). Aliás, oSalmista interpela directamente as “fa-mílias dos povos” (v. 7) para convidar aglorificar o Senhor. Por fim, pede aos fiéis

OUTUBRO – DEZEMBRO 2002 159

que digam “entre os povos: o Senhor rei-na” (v. 10), e esclarece que o Senhor “jul-ga as nações” (v. 10), “todos os povos” (v.13). Esta abertura universal por parte deum pequeno povo esmagado pelos gran-des impérios é muito significativa. Estepovo sabe que o seu Senhor é o Deus douniverso e que “os deuses dos pagãos sãonada” (v. 5).

O Salmo está substancialmente consti-tuído por dois quadros. A primeira parte(cf. vv. 1-9) inclui uma solene epifania doSenhor “no seu santuário” (v. 6), isto é, notemplo de Sião. Ela é precedida e seguidapelos cânticos e ritos sacrificais da assem-bleia dos fiéis. Desfila premente o fluxodo louvor face à majestade divina: “Cantaiao Senhor um cântico novo... cantai... can-tai... bendizei... anunciai a sua salvação...narrai a sua glória... proclamai os seus pro-dígios... rendei ao Senhor glória e poder...rendei ao Senhor glória... transportaiofertas... prostrai-vos” (vv. 1.3.7-9).

O gesto fundamental perante o Senhorrei, que manifesta a sua glória na históriada salvação é, por conseguinte, o cânticode adoração, de louvor e de bênção. Estasatitudes deveriam estar presentes tambémno âmbito da nossa liturgia quotidiana e danossa oração pessoal.

3. No centro deste cântico encontramosuma declaração anti-idolátrica. A oraçãorevela-se assim como que um caminhopara alcançar a pureza da fé, segundo anossa afirmação lex orandi, lex credendi:

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160 BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICA

a norma da verdadeira oração é tambémnorma de fé, é lição sobre a verdade di-vina. Com efeito, ela pode ser descobertaprecisamente através da comunhão íntimacom Deus realizada na oração.

O Salmista proclama: “é grande o Se-nhor e mui digno de louvor, mais terrívelque todos os deuses. Os deuses dos pagãossão nada, mas o Senhor criou os céus” (vv.4-5). Através da liturgia e da oração pu-rifica-se a fé de todas os degenerações,abandonam-se aqueles ídolos aos quais sesacrifica facilmente algo de nós durante avida quotidiana, passa-se do medo face àjustiça transcendente de Deus à experiên-cia viva do seu amor.

4. Mas eis-nos no segundo quadro, o quese abre com a proclamação da realeza doSenhor (cf. vv. 10-13). Agora quem cantaé o universo, também nos seus elementosmais misteriosos e obscuros, como o mar,segundo a antiga concepção bíblica:“Alegrem-se os céus, exulte a terra! Res-soe o mar e quanto nele existe! Sorriam oscampos e todos os seus frutos, exultemtambém todas as árvores dos bosques, napresença do Senhor que se aproxima, por-que Ele vem governar a terra” (vv. 11-13).

Como dirá São Paulo, também a natu-reza, juntamente com o homem, “aguardaansiosa... de ser também ela, libertada daservidão da corrupção para participar, li-vremente, da glória dos filhos de Deus”(Rm 8, 19.21).

E nesta altura, gostaríamos de deixarespaço à leitura cristã deste Salmo reali-zada pelos Padres da Igreja, que viramneles uma prefiguração da Encarnação eda Crucifixão, sinal da realeza paradoxalde Cristo.

5. Assim, no início do sermão pronuncia-do em Constantinopla no Natal de 379 oude 380, São Gregório de Nazianzo retomaalgumas expressões do Salmo 95: “Cristonasce: glorificai-o! Cristo desce do céu:

ide ao seu encontro! Cristo está na terra:levantai-vos! “Cantai ao Senhor, terrainteira” (v. 1), e, para reunir os dois con-ceitos, “rejubilem os céus e exulte a terra”(v. 11) devido àquele que é celeste masque, depois, se tornou terreno” (Homiliassobre a natividade, Discurso 38, 1, Roma1983, pág. 44).

Desta forma o mistério da realeza di-vina manifesta-se na Encarnação. Aliás,aquele que reina “tornando-se terreno”,reina precisamente na humilhação sobre aCruz. É significativo que muitos antigoslessem o v. 10 deste Salmo com uma su-gestiva integração cristológica: “O Senhorreinou do madeiro”.

Por isso já a Carta de Barnabé ensina-va que “o reino de Jesus está no madeiro”(VIII, 5; Os Padres Apostólicos, Roma1984, pág. 198) e o mártir São Justino, ci-tando quase integralmente o Salmo na suaPrimeira Apologia, concluia convidandotodos os povos a rejubilar porque “o Se-nhor reinou do madeiro” da Cruz (Osapologistas gregos, Roma 1986, pág.121).

Floresceu neste terreno o hino dopoeta cristão Veneziano Fortunato, Vexillaregis, no qual é exaltado Cristo que reinado alto da Cruz, trono de amor e não dedomínio: Regnavit a ligno Deus. De facto,já durante a sua existência terrestre, Jesusadmoestava: “Quem quiser ser o primeiroentre vós, faça-se escravo de todos. Por-que o Filho do Homem também não veiopara ser servido, mas para servir e dar avida em resgate por muitos” (Mc 10, 43-45).

JOÃO PAULO II

18 de Setembro de 2002Transcrito de L'Osservatore Romano

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A VOZ DO PAPA

A NOSSA SALVAÇÃO ESTÁ PRÓXIMACatequese sobre o Salmo 84

1. O Salmo 84, que agora proclamámos,é um cântico jubiloso e repleto de espe-rança no futuro da salvação. Ele reflecte omomento exaltante da volta de Israel doexílio na Babilónia para a terra dos ante-passados. A vida nacional recomeça na-quele querido lar, que tinha sido apagado edestruído pela conquista de Jerusalém porparte do exército do rei Nabucodonosor,em 586 a.C.

De facto, no original hebraico doSalmo ouve-se ressoar repetidamente overbo shûb, que indica a vinda dos de-portados, mas significa também “vinda”espiritual, isto é, “conversão”. Por con-seguinte, o renascimento não se refereapenas à nação, mas também às comuni-dades dos fiéis, que tinham vivido o exíliocomo uma punição dos pecados cometidose que viam agora a repatriação e a novaliberdade como uma bênção divina, emvirtude da conversão alcançada.

2. O Salmo pode ser acompanhado noseu desenvolvimento, segundo duas eta-pas fundamentais. A primeira, marcadapelo tema da “vinda”, com todos os valo-res que mencionámos.

Celebra-se antes de tudo a vinda físicade Israel: “Senhor... Vós sois quemrestaurais a parte de Jacob” (v. 2); “Res-taurai-nos, ó Deus, nossa salvação... Seráque já não nos restituirás a vida...?” (vv.5.7). Este é um precioso dom de Deus, quese preocupa em libertar os seus filhos da

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opressão e se empenha na sua prosperi-dade. Com efeito, Ele “ama tudo o queexiste... perdoa a todos, porque todos sãodele, o Senhor que ama a vida” (cf. Sb 11,24.26).

Mas, paralelamente a esta “vinda”,que na prática unifica os dispersos, háoutra “vinda”, mais interior e espiritual. OSalmista reserva-lhe um amplo espaço,atribuindo-lhe um relevo particular, que éválido não só para o antigo Israel mas paraos fiéis de todos os tempos.

3. Nesta “vinda” o Senhor age eficaz-mente, revelando o seu amor ao perdoar ainiquidade do seu povo, ao eliminar todosos seus pecados, ao abandonar todo o seudesdém e ao pôr fim à sua ira.

Precisamente a libertação do mal, operdão das culpas e a purificação dos pe-cados criam um novo povo de Deus. Isto éexpresso através de uma invocação, quetambém entrou na liturgia cristã: “Conce-dei, Senhor, que vejamos os vossos favo-res; seja-nos oferecida a vossa salvação”(v. 8).

Mas a esta “vinda” de Deus que per-doa deve corresponder a outra “vinda”,isto é, a conversão do homem que se arre-pende. De facto, o Salmo declara que a paze a salvação são oferecidas a quem “jánão voltará ao desvio” (cf. v. 9). Quempercorre com decisão os caminhos dasantidade recebe os dons da alegria, daliberdade e da paz.

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162 BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICA

Sabemos que, com frequência, as pala-vras bíblicas que se referem ao pecadorecordam um enganar-se no caminho, umfalhar a meta, um desviar-se da via recta. Aconversão é, precisamente, um “voltar”para o caminho linear, que leva para a casado Pai, que nos espera para nos abraçar,perdoar e nos fazer felizes (cf. Lc 15, 11-32).

4. Assim, chegamos à segunda parte doSalmo (cf. Sl 84, 10-14), tão querida à tra-dição cristã. Nela é descrito um mundonovo, em que o amor de Deus e a suafidelidade, como se fossem pessoas, seabraçam; de modo semelhante, também ajustiça e a paz se beijam, quando se en-contram. A verdade germina como numarenovada primavera; e a justiça, que para aBíblia é também salvação e santidade,desce do céu para começar o seu caminhono meio da humanidade.

Todas as virtudes, primeiro expulsasda terra devido ao pecado, entram agora denovo na história e, cruzando-se, desenhamo mapa de um mundo pacífico. Misericór-dia, verdade, justiça e paz tornam-se comoque os quatro pontos cardeais desta geo-grafia do espírito. Também Isaías canta: “Destilai, ó céus, lá das alturas, o orvalho,e as nuvens façam chover a vitória; abra-sea terra e produza o fruto da salvação; aomesmo tempo faça germinar a justiça! Eusou o Senhor, que crio tudo isto” (45, 8).

5. As palavras do Salmista, já no se-gundo século com Santo Ireneu de Lião,foram interpretadas como anúncio da “ge-ração de Cristo por parte da Virgem”(Adversus haereses, III, 5, 1). Com efeito,a vinda de Cristo é a fonte da misericórdia,o desabrochar da verdade, o florescer dajustiça e o esplendor da paz.

Por isso o Salmo, sobretudo na suaparte final, é lido de novo em chave na-talícia pela tradição cristã. Eis como ointerpreta Santo Agostinho, num dos seus

discursos para o Natal. Deixemos que sejaele a concluir a nossa reflexão. “A verdadesurgiu da terra”: Cristo, que disse: “Eu soua verdade” (Jo 14, 6) nasceu da Virgem.“E a justiça aproximou-se do céu”: quemcrê n’Aquele que nasceu, não se justificasozinho, mas é justificado por Deus. “Averdade surgiu da terra”: porque “o Verbose fez homem” (Jo 1, 14). “E a justiçaaproximou-se do céu”; porque ”qualquergraça excelente e qualquer dom perfeitoprovêm do alto” (Tg 1, 17). “A verdadesurgiu da terra”, isto é, tomou um corpo deMaria. “E a justiça aproximou-se do céu”;porque “o homem nada pode receber senão lhe for concedida pelo céu” (Jo 3, 27)”(Discursos, IV/1, Roma 1984, pág. 11).

JOÃO PAULO II

25 de Setembro de 2002Transcrito de L'Osservatore Romano

INTRODUÇÕESAOS SALMOS E CÂNTICOS

DE LAUDES E DE VÉSPERAS

Subsídios litúrgicospreparados pelo

P. José de Leão Cordeiro

SECRETARIADO NACIONAL DE LITURGIA

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O HINO DEPOIS DA VITÓRIACatequese sobre o Cântico de Isaías

(26, 1-4.7-9.12)

A VOZ DO PAPA

1. No Livro do profeta Isaías convergemvozes diferentes, distribuídas num amploarco de tempo e todas colocadas sob onome e a inspiração desta grandiosa teste-munha da Palavra de Deus, que viveu noséculo VIII a.C.

Dentro deste amplo rolo de profecias,que também Jesus abriu e leu na sinagogada sua aldeia, Nazaré (cf. Lc 4, 17-19),encontra-se uma série de capítulos, quevai do 24 ao 27, geralmente intituladapelos estudiosos “o grande apocalipse deIsaías”. De facto, encontramos outra,menor, nos capítulos 34-35. Em páginasmuitas vezes fervorosas e repletas de sím-bolos, delineia-se uma poderosa descriçãopoética do juízo divino acerca da história eexalta-se a expectativa da salvação porparte dos justos.

2. Muitas vezes, como acontecerá noApocalipse de João, se opõem duas cida-des antitéticas entre si: a cidade rebelde,encarnada nalguns centros históricos da-quela época, e a cidade santa, onde os fiéisse reúnem.

Pois bem, o Cântico que agora ouvi-mos proclamar, e que é tirado do capítulo26 de Isaías, é precisamente a celebraçãojubilosa da cidade da salvação. Ela ele-va-se forte e gloriosa, porque foi o próprioSenhor que lançou as suas bases e os mu-ros de defesa, tornando-a habitação segurae tranquila (cf. v. 1). Agora ele abre de par

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em par as suas portas para receber o povodos justos (cf. v. 2), que parece repetir aspalavras do Salmista quando, diante dotemplo de Sião, exclama: “Abri-me asportas da justiça, desejo entrar para dargraças ao Senhor. Esta é a porta do Senhor;por ela entram apenas os justos” (Sl 117,19-20).

3. Quem entra na cidade da salvaçãodeve ter uma característica fundamental:“Carácter firme... confiança em vós... con-fiar” (cf. Is 26, 3-4). É a fé em Deus, umafé sólida, baseada n’Ele, que é a “rochaperene” (v. 4).

É a confiança, já expressa na raiz ori-ginária hebraica da palavra “amen”, sinté-tica profissão de fé no Senhor, que comocantava o rei David é “minha força, minharocha, minha fortaleza, meu abrigo, meuescudo; meu Deus e meu abrigo em quemme refugio, meu escudo, minha defesa emeu castelo” (cf. Sl 17, 2-3; 2 Sm 22, 2-3).

O dom que Deus oferece aos fiéis é apaz (cf. Is 26, 3), o dom messiânico porexcelência, síntese de vida na justiça, naliberdade e na alegria da comunhão.

4. É um dom recordado com vigor noversículo final do Cântico de Isaías:“Senhor, proporcionai-nos a paz, porquetodas as nossas empresas vós as reali-zais” (v. 12). Este versículo chamou aatenção dos Padres da Igreja: naquelapromessa de paz eles viram as palavras

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164 BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICA

de Cristo que ressoaram alguns séculosmais tarde: “Deixo-vos a paz, dou-vos aminha paz” (Jo 14, 27).

No seu Comentário ao Evangelho deJoão, São Cirilo de Alexandria recordaque, ao dar a paz, Jesus oferece o seupróprio Espírito. Por conseguinte, Ele nãonos deixa órfãos, mas permanece connos-co através do Espírito. E São Cirilo co-menta: o profeta “invoca que seja dado oEspírito divino, por meio do qual fomosreadmitidos na amizade com Deus Pai,nós, que antes andávamos afastados d’Eledevido ao pecado que reinava em nós”. Ocomentário torna-se depois oração: “Con-cedei-nos a paz, ó Senhor. Então admitire-mos que tudo possuímos, e parecer-nos-áque nada falta àquele que recebeu a pleni-tude de Cristo. De facto, é plenitude dequalquer bem que Deus habite entre nósatravés do Espírito (cf. Cl 1, 19)” (vol. III,Roma 1994, pág. 165).

5. Demos um último olhar ao texto deIsaías. Ele apresenta uma reflexão sobre“o caminho recto” (cf. v. 7) e uma declara-ção de adesão às justas decisões de Deus(cf. vv. 8-9). A imagem dominante é a docaminho, clássica na Bíblia, como jáOseias, um profeta pouco anterior a Isaías,tinha declarado: “Quem é sábio para com-preender estas coisas, inteligente para asconhecer? Porque os caminhos do Senhorsão rectos, os justos andam por eles, masos pecadores neles tropeçam” (14, 10).

No cântico de Isaías há outra compo-nente, que se revela muito sugestiva tam-bém para o uso litúrgico que dele faz aLiturgia das Laudes. Tem-se, com efeitouma menção do alvorecer, esperado de-pois de uma noite empenhada na busca deDeus: “A minha alma deseja-vos de noite eo meu espírito dentro de mim busca-vospela manhã” (26, 9).

É precisamente no alvorecer, quandocomeça o trabalho e a vida quotidiana jávibra nos caminhos da cidade, que o fieldeve empenhar-se de novo a caminhar “navereda dos vossos juízos, Senhor” (v. 8),esperando n’Ele e na Sua palavra, únicafonte de paz.

Emergem então dos seus lábios as pa-lavras do Salmista, que desde o alvorecerprofessa a sua fé: “Vós, Senhor, sois omeu Deus, anseio por Vós. A minha almaestá sedenta de Vós... O Vosso amor é maisprecioso do que a vida” (Sl 62, 2.4). Com aalma fortalecida ele pode enfrentar o novodia.

JOÃO PAULO II

2 de Outubro de 2002Transcrito de L'Osservatore Romano

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TODOS OS POVOSGLORIFIQUEM O SENHOR

Catequese sobre o Salmo 66

A VOZ DO PAPA

1. Ressoou agora a voz do antigo Sal-mista, que elevou ao Senhor um jubilosocântico de agradecimento. É um textobreve e fundamental, mas que se expandepara um horizonte imenso, até abarcarespiritualmente todos os povos da terra.

Esta abertura universalista reflecteprovavelmente o espírito profético daépoca posterior ao exílio na Babilónia,quando se desejava que também os estran-geiros fossem conduzidos por Deus até aoseu monte santo para se sentirem repletosde alegria. Os seus sacrifícios e holo-caustos teriam sido agradáveis, porque otemplo do Senhor se tornou “casa de ora-ção para todos os povos” (Is 56, 7).

Também no nosso Salmo, o 66, o corouniversal das nações é convidado a unir-seao louvor que Israel eleva no templo deSião. De facto, por duas vezes volta estaantífona: “Louvem-Vos, ó Senhor, ospovos, todos os povos vos dêem graças”(vv. 4.6).

2. Também os que não pertencem à co-munidade escolhida por Deus recebemd’Ele uma vocação: com efeito, são cha-mados a conhecer o “caminho” revelado aIsrael. O “caminho” é o plano divino desalvação, o reino de luz e de paz, em cujaactuação estão incluídos também os pa-gãos, convidados a ouvir a voz de Javé (cf.v. 3). O resultado desta escuta obediente é

OUTUBRO – DEZEMBRO 2002 165

o temor do Senhor em “todos os confins daterra” (v. 8), expressão que não recordatanto o receio como, ao contrário, o res-peito adorante do mistério transcendente eglorioso de Deus.

3. Na abertura e na parte conclusiva doSalmo é expresso um desejo insistente dabênção divina: “Deus tenha piedade denós e nos abençoe, e faça resplandecersobre nós a luz da Sua face... O Senhor,nosso Deus, nos abençoa” (vv. 2.7-8).

É fácil ver nestas palavras o eco dafamosa bênção sacerdotal ensinada, emnome de Deus, por Moisés a Aarão e aosdescendentes da tribo sacerdotal: “O Se-nhor te abençoe e te proteja! Que o Senhordirija o Seu olhar para ti e te conceda apaz!” (Nm 6, 24-26).

Pois bem, segundo o Salmista, estabênção efundida sobre Israel será comouma semente de graça e de salvação a serlançada à terra do mundo inteiro e dahistória, pronta para germinar e se tornaruma árvore frondosa.

O pensamento dirige-se também paraa promessa feita pelo Senhor a Abraão nodia da sua eleição: “Farei de ti um grandepovo, abençoar-te-ei, engrandecerei o teunome e serás uma fonte de bênção... Etodas as famílias da terra serão em tiabençoadas” (Gn 12, 2-3).

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166 BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICA

4. Na tradição bíblica, um dos efeitosexperimentais da bênção divina é o domda vida, da fecundidade e da fertilidade.

No nosso Salmo é mencionada expli-citamente esta realidade concreta, preciosapara a existência: “O campo deu os seusfrutos” (v. 7). Esta constatação estimulouos estudiosos a relacionar o Salmo ao ritode agradecimento para uma colheita abun-dante, sinal do favor divino e testemunhopara os outros povos da proximidade doSenhor a Israel.

A mesma frase chamou a atenção dosPadres da Igreja, que do horizonte agrícolapassaram para o nível simbólico. Assim,Orígenes aplicou este versículo à VirgemMaria e à Eucaristia, isto é, a Cristo queprovém da flor da Virgem e se torna fruto,para poder ser comido. Nesta perspectiva“a terra é Santa Maria, que vem da nossaterra, da nossa semente, desta lama, destaargila, de Adão”. Esta terra deu o seu fru-to: a primeira produziu flor... depois estaflor tornou-se fruto, para que o pudésse-mos comer, para que comêssemos a suacarne. Quereis saber quem é este fruto? Éo Casto da Virgem, o Senhor da serva, oDeus do homem, o Filho da Virgem Mãe,o fruto da terra” (74 Homilias sobre oLivro dos Salmos, Milão 1993, pág. 141).

5. Concluímos com as palavras de SantoAgostinho, no seu comentário ao Salmo.Ele identifica o fruto que germinou naterra com a novidade que se produz noshomens graças à vinda de Cristo, umanovidade de conversão e um fruto delouvor a Deus.

Com efeito, “a terra estava coberta deespinhos”, explica ele. Mas “aproxi-mou-se a mão daquele que desenraiza,aproximou-se a voz da sua majestade eda sua misericórdia; e a terra começou alouvar. Agora a terra dá o seu fruto”.

Certamente não daria fruto, “se antes nãotivesse sido regada” pela chuva, “se nãotivesse vindo primeiro do alto a misericór-dia de Deus”. Mas já assistimos a um frutomaduro na Igreja, graças à pregação dosApóstolos: “Enviando depois a chuvaatravés das suas nuvens, ou seja, atravésdos apóstolos que anunciaram a verdade,“a terra deu o seu fruto” mais abundante-mente: e esta messe já encheu o mundo in-teiro” (Exposições sobre os Salmos, II,Roma 1970, pág. 551).

JOÃO PAULO II

9 de Outubro de 2002Transcrito de L'Osservatore Romano

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1. O Salmo 85, que agora foi proclamadoe que será objecto da nossa reflexão,oferece-nos uma sugestiva definição doorante. Ele apresenta-se a Deus com estaspalavras: sou “Vosso servo” e “filho davossa serva” (v. 16). Sem dúvida, a ex-pressão pode pertencer à linguagem docerimonial de corte, mas também erausada para indicar o servo adoptado comofilho do chefe de uma família ou de umatribo. Sob esta luz, o Salmista, que se defi-ne também “fiel” do Senhor (cf. v. 2), sen-te que está ligado a Deus por um vínculonão só de obediência, mas também defamiliaridade e de comunhão. Por isso asua súplica está impregnada de confianteabandono e de esperança.

Seguimos agora esta oração que aLiturgia das Laudes nos propõe no iníciode um dia que, presumivelmente, apre-sentará não só compromissos e fadigas,mas também incompreensões e dificul-dades.

2. O Salmo começa com um apelo in-tenso, que o orante dirige ao Senhorconfiando no seu amor (cf. vv. 1-7). Nofinal, ele exprime de novo a certeza de queo Senhor é um “Deus piedoso e compas-sivo, paciente, grande na bondade e nafidelidade” (v. 15; cf. Êx 34, 6). Estasafirmações reiteradas e convictas deconfiança revelam uma fé intacta e pura,que se abandona ao “Senhor bom... cheiode misericórdia para todos os que Vosinvocam” (Sl 85, 5).

A VOZ DO PAPA

ORAÇÃO A DEUS NA AFLIÇÃOCatequese sobre o Salmo 85

OUTUBRO – DEZEMBRO 2002 167

No centro do Salmo eleva-se um hino,que alterna sentimentos de agradecimentocom uma profissão de fé nas obras desalvação que Deus realiza para os povos(cf. vv. 8-13).

3. Contra qualquer tentação idolátrica, oorante proclama a unicidade absoluta deDeus (cf. v. 8). Depois é expressa a espe-rança audaciosa que um dia “todos ospovos” adorarão o Deus de Israel (v. 9).Esta perspectiva maravilhosa encontra oseu cumprimento na Igreja de Cristo,porque ele convidou os seus apóstolos aensinar “todas as nações” (Mt 28, 19).Ninguém pode oferecer uma libertaçãototal, a não ser o Senhor do qual todosdependem como criaturas e ao qual nosdevemos dirigir em atitude de adoração(cf. Sl 85, 9). De facto, ele manifesta nocosmos e na história as suas obras admi-ráveis, que testemunham a sua senhoriaabsoluta (cf. v. 10).

A este ponto o Salmista recorta umespaço para se apresentar diante de Deuscom uma pergunta intensa e pura: Ensi-nai-me, Senhor, o Vosso caminho e cami-nharei na verdade, dirigi o meu coraçãopara que tema o Vosso nome” (v. 11). Ébonito este pedido para poder conhecer avontade de Deus, e esta invocação parapoder obter o dom de “um coração sim-ples”, semelhante ao de uma criança, quesem segundas intenções nem cálculos seconfia plenamente ao Pai para se enca-minhar pelas veredas da vida.

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4. Surge então nos lábios do fiel o louvorao Deus misericordioso, que não o deixaprecipitar no desespero e na morte, nem nomal nem no pecado (cf. vv. 12-13; Sl 15,10-11).

O Salmo 85 é um texto querido aojudaísmo, que o inseriu na liturgia de umadas solenidades mais importantes, o YômKippur ou dia da expiação. O livro doApocalipse, por sua vez, tirou dele um ver-sículo (cf. v. 9), colocando-o na gloriosaliturgia celeste dentro do “cântico deMoisés, servo de Deus, e do cântico doCordeiro”: “Todas as nações virão pros-trar-se diante de Ti”, e o Apocalipseacrescenta: “pois os teus juízos forammanifestados” (Ap 15, 4).

Santo Agostinho dedicou ao nossoSalmo um longo e apaixonado comentárionum cântico a Cristo e ao cristianismo. Atradução latina, no v. 2, conforme com aversão grega do Livro dos Setenta, emvez de “fiel” usa a versão “santo”: “Guar-da-me porque sou santo”. Na realidade, sóCristo é santo. Todavia, raciocina SantoAgostinho, também o cristão pode aplicara si estas palavras: “Sou santo, porque tume santificaste; porque o recebi [este tí-tulo], e não porque o tinha eu mesmo;porque tu mo concedeste, não porque eu omereci”. Por conseguinte, “digam tambémtodos os cristãos, ou melhor, diga-o todo ocorpo de Cristo, grite-o em toda a parte,enquanto sofre as tribulações, as váriastentações, os numerosos escândalos:“Guarda a minha alma, porque sou santo!Salva o teu servo, meu Deus, que esperaem ti”. Eis que este santo não é soberbo,porque confia no Senhor” (vol. II, Roma1970, pág. 1251).

5. O cristão santo abre-se à universalida-de da Igreja e reza com o Salmista: “To-das as nações que criaste virão colocar-seperante Vós, ó Senhor” (Sl 85, 9). E Agos-tinho comenta: “Todas as nações no únicoSenhor são um só povo e constituem aunidade. Assim como existe a Igreja e asigrejas, e as igrejas são a Igreja, assimaquele “povo” é o mesmo que os povos.Inicialmente, eram vários povos, numero-sas nações; agora é um só povo. Por quêum só povo? Porque há uma só fé, uma sóesperança, uma só caridade, e uma únicaexpectativa. Por fim, porque não deveriaser um só povo, se a pátria é uma só? Apátria é o céu, a pátria é Jerusalém. E estepovo está espalhado do oriente até aoocidente, do norte até ao mar, nas quatropartes do mundo inteiro” (ibid., pág.1269).

Sob esta luz universal a nossa oraçãolitúrgica transforma-se num suspiro delouvor e num cântico de glória ao Senhorem nome de todas as criaturas.

JOÃO PAULO II

23 de Outubro de 2002Transcrito de L'Osservatore Romano

168 BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICA

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1. Entre os Cânticos bíblicos, que seentrelaçam com os Salmos na Liturgia dasLaudes, encontramos um breve texto quehoje proclamámos. Ele é tirado de umcapítulo do Livro do profeta Isaías, o tri-gésimo da sua grande e admirável recolhade oráculos divinos.

O Cântico começa com os versículosanteriores aos que foram citados (cf. vv.10-12), com o anúncio de uma entrada po-derosa e gloriosa de Deus sobre a históriahumana: “Agora eu me levantarei, diz oSenhor, agora me erguerei e vou subir” (v.10). As palavras de Deus destinam-se aosque estão “longe” e aos que estão “perto”,isto é, a todas as nações da terra, mesmo àsmais distantes, e a Israel, o povo que está“perto” do Senhor devido à aliança (cf. v.13).

Noutra passagem do Livro de Isaías éafirmado: “Porei nos seus lábios este cân-tico: Paz àquele que está longe e àqueleque está perto, diz o Senhor, e eu o sararei”(Is 57, 19). Agora, ao contrário, as pala-vras do Senhor tornam-se duras, assumema tonalidade do julgamento sobre o maldos que estão “longe” e dos que estão“perto”.

2. De facto, logo a seguir, difunde-se omedo entre os habitantes de Sião nos quaisse escondem pecado e impiedade (cf. Is33, 14). Eles estão conscientes de viverao lado do Senhor que reside no templo,

escolheu caminhar com eles na história etransformou-se em “Emanuel”, “Deus--connosco” (cf. Is 7, 14). Pois bem, oSenhor justo e santo não pode tolerar aimpiedade, a corrupção e a injustiça.Como “fogo devorador” e “chama perene”(cf. Is 33, 14), Ele desencadeia-se contra omal para o aniquilar.

Já no capítulo 10, Isaías admoesta: “Aluz de Israel será um fogo, o seu Santo,uma chama, que abrasará e devorará” (v.17). Também o Salmista cantava: “Talcomo... ao contacto com o fogo, se derretea cera, assim se dissipam os ímpios na pre-sença do Senhor” (Sl 67, 3). Deseja dizer--se, no âmbito da economia veterotesta-mentária, que Deus não é indiferente faceao bem e ao mal, mas mostra o seu desdéme a sua cólera em relação à maldade.

3. O nosso cântico não termina com estacena sombria de julgamento. Aliás, reser-va a parte mais ampla e intensa à santidadeacolhida e vivida como sinal da conversãoe reconciliação com Deus que se verificou.Na esteira de alguns Salmos, como o 14 eo 23, que realçam as condições requeridaspelo Senhor para viver em comunhão jubi-losa com Ele na liturgia do templo, Isaíasenumera seis compromissos morais para overdadeiro crente, fiel e justo (cf. Is 33,15), que pode habitar, sem sofrer dano al-gum, junto do fogo divino, que para ele éfonte de benefícios.

A VOZ DO PAPA

DEUS JULGARÁ COM JUSTIÇACatequese sobre o Cântico de Isaías

(33, 13-16)

OUTUBRO – DEZEMBRO 2002 169

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O primeiro compromisso consiste em“caminhar na justiça”, ou seja, considerara lei divina como lâmpada que ilumina ocaminho da vida. O segundo, coincidecom o falar leal e sincero, sinal de relaçõessociais correctas e autênticas. Como ter-ceiro compromisso, Isaías propõe que se“recuse um lucro que seja fruto de vexa-mes”, combatendo assim a opressão dospobres e a riqueza injusta.

Depois, o crente compromete-se acondenar a corrupção política e judicial“sacudindo as mãos para não aceitar dá-divas”, imagem sugestiva que indica arecusa de doações feitas para desviar aaplicação das leis e o curso da justiça.

4. O quinto compromisso é expressocom o gesto significativo de “fechar osouvidos” quando são feitas propostas san-guinolentas, actos de violência a seremperpetrados. O sexto e último compro-misso é expresso com uma imagem que,inicialmente, nos desorienta porque nãocorresponde ao nosso modo de falar.Quando falamos de “fechar um olho”,desejamos dizer: “fingir não ver para nãoter a obrigação de intervir”; mas o profetadiz que o homem honesto “fecha os olhospara não ver o mal”, no sinal de uma re-cusa completa de qualquer contacto com omal.

São Jerónimo, no seu comentário aIsaías, desenvolve da seguinte forma oconceito, tendo em consideração o con-junto do trecho: “Qualquer forma deiniquidade, de opressão e de injustiça, édecisão de sangue: e mesmo se não matacom a espada, contudo mata com a in-tenção. “E fecha os olhos para não ver omal”: é feliz a consciência que não ouve enão contempla o mal! Por conseguinte,quem se comporta assim, habitará “noexcelso”, ou seja, no reino dos céus ou na

altíssima gruta da fortíssima Pedra, emJesus Cristo” (In Isaiam prophetam, 10,33: PL 24, 367).

Desta forma, Jerónimo introduz-nosna compreensão justa daquele “fechar osouvidos” recordado pelo profeta: trata-sede um convite a recusar absolutamentequalquer forma de conivência com o mal.Como é fácil observar, são chamados emcausa os sentidos principais do corpo:mãos, pés, olhos, ouvidos e língua sãoenvolvidos no agir moral humano.

5. Pois bem, quem opta por seguir estecomportamento honesto e justo poderá teracesso ao templo do Senhor, onde irá rece-ber a segurança daquele bem-estar exteriore interior que Deus oferece a quem está emcomunhão com Ele. O profeta empregaduas imagens para descrever este êxitojubiloso (cf. v. 16): a segurança em fortale-zas incorruptíveis e a abundância do pão eda água, símbolo de vida próspera e feliz.

A tradição interpretou espontanea-mente o sinal da água como imagem dobaptismo (cf. por ex. a Carta de Barnabé11, 5), enquanto o pão se transfigurou paraos cristãos em sinal da Eucaristia. Équanto se lê, por exemplo, no comentáriode São Justino mártir, o qual vê nas pala-vras de Isaías uma profecia do “pão” euca-rístico, “memória” da morte redentorade Cristo (cf. Diálogo com Trifónio, Pau-linas 1988, pág. 242).

JOÃO PAULO II

30 de Outubro de 2002Transcrito de L'Osservatore Romano

170 BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICA

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1. O Salmo 97, há pouco proclamado,pertence a um género de hinos que já en-contramos durante o itinerário espiritual,que estamos a percorrer à luz do Saltério.

Trata-se de um hino ao Senhor, reido universo e da história (cf. v. 6). Ele de-fine-se como “cântico novo” (v. 1), que nalinguagem bíblica significa um cânticoperfeito, pleno, solene, acompanhado porum complexo musical de festa. De facto,além do cântico coral recordam-se “ascanções alegres” da cítara (cf. v. 5), astrombetas e o chifre (cf. v. 6), mas tambémuma espécie de aplauso cósmico (cf. v. 8).

Ressoa depois, repetidamente, o nomedo “Senhor” (seis vezes), indicado como“nosso Deus” (v. 3). Por conseguinte,Deus está no centro do cenário com toda asua majestade, enquanto realiza a salvaçãona história e é aguardado para “julgar” omundo e os povos (v. 9). O verbo hebraicoque indica o “julgamento” significa tam-bém “governo”: por isso espera-se a acçãoeficaz do Soberano de toda a terra, quetrará paz e justiça.

2. O Salmo abre-se com a proclamaçãoda intervenção divina no âmbito da histó-ria de Israel (cf. vv. 1-3). As imagens da“direita” e do “braço santo” recordam oêxodo, a libertação da escravidão doEgipto (cf. v. 1). A aliança com o povo daeleição é, ao contrário, recordada pelasduas grandes perfeições divinas: “amor” e“fidelidade” (cf. v. 3).

Estes sinais de salvação são testemu-nhados “aos olhos dos povos” e em “todosos confins da terra” (vv. 2.3), para que todaa humanidade seja atraída por Deus salva-dor e se abra à sua palavra e à sua obrasalvífica.

3. O acolhimento reservado ao Senhorque intervém na história distingue-se porum louvor coral: além da orquestra e doscânticos do templo de Sião (cf. vv. 5-6),participa nele também o universo, queconstitui uma espécie de templo cósmico.

São quatro os cantores deste enormecoro de louvor. O primeiro é o mar comtudo o que encerra, que parece fazer comoque de baixo contínuo a esse grandiosocântico (cf. v. 7). Seguem-no a terra e todoo mundo (cf. vv. 4.7) com todos os seushabitantes, unidos numa harmonia solene.A terceira personificação é a dos rios que,sendo considerados como os braços domar, parece que, com o seu fluxo rítmico,batem as mãos num aplauso (cf. v. 8). Porfim, eis as montanhas que parecem dançarde alegria diante do Senhor, apesar deserem as criaturas mais maciças e impo-nentes (cf. v. 8; Sl 28, 6; 113, 6).

Por conseguinte, um coro colossal quetem uma única finalidade: exaltar o Se-nhor, rei e juiz justo. O final do Salmo,como se dizia, apresenta de facto Deus“que vem julgar (e governar) a terra... comjustiça e equidade” (cf. Sl 97, 9).

A VOZ DO PAPA

A VITÓRIA DO SENHORNA SUA VINDA FINAL

Catequese sobre o Salmo 97

OUTUBRO – DEZEMBRO 2002 171

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Eis a grande esperança e a nossa invo-cação: “Venha a nós o Vosso reino!”, umreino de paz, de justiça e de serenidade,que reconcilie a harmonia originária dacriação.

4. Neste Salmo, o apóstolo Paulo reco-nheceu com profunda alegria uma profeciada obra de Deus no mistério de Cristo.Paulo serviu-se do v. 2 para exprimir otema da sua grande carta aos Romanos: noEvangelho “foi revelada a justiça deDeus” (cf. Rm 1, 17), “foi manifestada”(cf. Rm 3, 21).

A interpretação feita por Paulo confereao Salmo maior plenitude de sentido. Lidona perspectiva do Antigo Testamento, oSalmo proclama que Deus salva o seupovo e que todas as nações, ao verem isto,ficam admiradas. Ao contrário, na pers-pectiva cristã, Deus realiza a salvação emCristo, filho de Israel; todas as nações ovêem e são convidadas a aproveitar estasalvação, porque o Evangelho “é poderde Deus para a salvação de todos os quecrêem, primeiro do Judeu e, depois, doGrego”, ou seja, do pagão (Rm 1, 16).Agora, “todos os confins da terra” não só“viram a salvação do nosso Deus” (Sl 97,3), mas receberam-na.

5. Nesta perspectiva, Orígenes, escritorcristão do terceiro século, num texto reto-mado depois por São Jerónimo, interpretao “cântico novo” do Salmo como umacelebração antecipada da novidade cristãdo Redentor crucificado. Sigamos então oseu comentário que entrelaça o cântico dosalmista com o anúncio evangélico.

“Cântico novo é o Filho de Deus quefoi crucificado e isto jamais se tinha ou-vido. Uma realidade nova deve ter umcântico novo. “Cantai ao Senhor umcântico novo”. Aquele que sofreu a pai-xão, na realidade é um homem; mas vós

cantai ao Senhor: suportou a paixão comohomem, mas salvou como Deus”. Oríge-nes continua: Cristo “fez milagres entreos judeus: curou paralíticos, purificouleprosos, ressuscitou mortos. Mas tambémoutros profetas fizeram isto. Transformoupoucos pães num grande número, e deu decomer a um povo sem número. Mas tam-bém Eliseu fez isto. Então, o que fez denovo para merecer um cântico novo?Quereis saber o que fez de novo? Deusmorreu como homem, para que os homenstivessem a vida; o Filho de Deus foi cru-cificado, para nos elevar até ao céu” (74homilias sobre o livro dos Salmos, Milão1993, pág. 309-310).

JOÃO PAULO II

6 de Novembro de 2002Transcrito de L'Osservatore Romano

172 BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICA

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1. O cântico a Jerusalém, cidade da paz emãe universal, que agora ouvimos ressoar,encontra-se infelizmente em contrastecom a experiência histórica que a cidadeestá a viver. Tarefa da oração é semearconfiança e gerar esperança.

A perspectiva universal do Salmo 86pode levar a pensar no Hino do Livro deIsaías, que vê convergir para Sião todos ospovos para ouvir a Palavra do Senhor e re-descobrir a beleza da paz, transformando“as espadas em relhas de arados” e “assuas lanças em foices” (cf. 2, 2-5). Na rea-lidade, o Salmo coloca-se numa perspec-tiva muito diferente, a de um movimentoque, em vez de convergir para Sião, partede Sião; o Salmista vê em Sião a origem detodos os povos. Depois de ter declarado aprimazia da cidade santa não por méritoshistóricos ou culturais, mas apenas devidoao amor que Deus tem por ela (cf. Sl 86, 1-3), o Salmo abre-se precisamente parauma celebração deste universalismo queirmana todos os povos.

2. Sião é cantada como mãe de toda ahumanidade e não só de Israel. Esta afir-mação possui uma audácia extraordinária.O Salmista está consciente disto e fá-lonotar: “Gloriosas coisas se apregoam de ti,ó cidade de Deus” (v. 3). Como pode umamodesta capital de uma pequena nação serapresentada como a origem de povosmuito poderosos? Por que pode ter, Sião,

esta grande pretensão? A resposta é dadana mesma frase: Sião é mãe de toda a hu-manidade, porque é a “cidade de Deus”;por conseguinte, está na base do projectode Deus.

Todos os pontos cardeais da terra estãoem relação com esta mãe: Raab, ou seja, oEgipto, o grande estado ocidental; Babiló-nia, a conhecida potência oriental; Tiro,que personifica o povo comercial do norte,enquanto a Etiópia representa o sul pro-fundo e a Palestina a área central, tambémela filha de Sião.

Na repartição de registo espiritual deJerusalém estão inscritos todos os povosda terra: é repetida três vezes a frase “Alinasceram / Este nela nasceu” (vv. 4.5.6). Éa expressão jurídica oficial com a qual naépoca se declarava que uma pessoa tinhanascido numa determinada cidade e, comotal, gozava da plenitude dos direitos civisdaquele povo.

3. É sugestivo observar que até as naçõesconsideradas hostis a Israel subiam a Jeru-salém e nela eram recebidas não como es-trangeiros mas como “familiares”. Aliás, oSalmista transforma a procissão destes po-vos rumo a Sião num cântico coral e numadança gloriosa: eles encontram as suas“fontes” (cf. v. 7) na cidade de Deus daqual promana um torrente de água vivaque fecunda todo o mundo, em sintoniacom quanto foi proclamado pelos profetas

A VOZ DO PAPA

JERUSALÉM,MÃE DE TODOS OS POVOS

Catequese sobre o Salmo 86

OUTUBRO – DEZEMBRO 2002 173

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(cf. Ez 47, 1-12; Zc 13, 1; 14, 8; Ap 22,1-2).

Todos devem descobrir em Jerusalémas suas raízes espirituais, sentir-se na suapátria, sentir-se membros da mesma famí-lia, abraçar-se como irmãos, que voltarampara a sua casa.

4. O Salmo 86, página de verdadeirodiálogo inter-religioso, reúne a herançauniversal dos profetas (cf. Is 56, 6-7; 60,6-7; 66, 21; Job 4, 10-11; Mal 1, 11, etc.) eantecipa a tradição cristã que aplica esteSalmo à “Jerusalém lá de cima”, da qualSão Paulo proclama que “é livre e é a nos-sa mãe” e tem mais filhos do que a Jerusa-lém terrena (cf Gl 4, 26-27). O Apocalipsefala do mesmo modo quando canta a“Jerusalém que desce do Céu, de junto deDeus” (21, 2.10).

Em continuidade com o Salmo 86também o Concílio Vaticano II vê naIgreja universal o lugar em que se encon-tram reunidos “todos os justos a começarpor Adão, desde o justo Abel, até ao últimoeleito”. Ela será “consumada na glória nofim dos séculos” (Lumen gentium, 2).

5. Esta leitura eclesial do Salmo abre-se,na tradição cristã, a uma nova leitura emchave mariológica. Jerusalém era, para oSalmista uma verdadeira “metrópole”, istoé, uma “cidade-mãe”, dentro da qual seencontrava o próprio Senhor (cf. Sof 3,14-18). A esta luz, o cristianismo cantaMaria como a Sião viva, em cujo seio égerado o Verbo encarnado e por conse-guinte são regenerados os filhos de Deus.As vozes dos Padres da Igreja de Ambró-sio de Milão a Atanásio de Alexandria, deMáximo, o Confessor a João Damasceno,de Cromácio de Aquileia a Germano deConstantinopla concordam com esta novaleitura cristã do Salmo 86.

Preparemo-nos agora para ouvir ummestre da tradição arménia, Gregório deNarek (c. 950-1010), que no seu Discursopanegírico da bem-aventurada VirgemMaria assim se dirige à Virgem: “Refu-giando-nos sob a tua digníssima e pode-rosa intercessão, estamos protegidos, ósanta Mãe de Deus, encontrando alíviosob a sombra de tua protecção como prote-gidos por um muro bem fortificado: muroornamentado, embutido graciosamentepor brilhantes puríssimos; muro envolvidode fogo e, por isso, invencível perante osassaltos dos ladrões; muro resplandecentede centelhas, ao qual os cruéis traidoresnão podem chegar nem aceder; murocircundado por todos os lados, segundoDavid, cujas bases foram lançadas peloAltíssimo (cf. Sl 86, 1.5); muro poderosoda cidade do alto, segundo São Paulo (cf.Gl 4, 26; Hb 12, 22), onde recebeste todoscomo habitantes, porque mediante o nasci-mento corporal de Deus fizestes filhos daJerusalém lá do alto os filhos da Jerusalémterrena. Por isso, os seus lábios bendizemo teu seio virginal e todos te proclamammorada e templo d’Aquele que é consubs-tancial ao Pai. Por isso, justamente seadapta bem a ti a frase do profeta: “Fostepara nós refúgio e fortaleza, ajuda semprepronta nas angústias” (cf. Sl 45, 2)” (Tex-tos marianos do primeiro milénio, IV,Roma 1991, pág. 589).

JOÃO PAULO II

13 de Novembro de 2002Transcrito de L'Osservatore Romano

174 BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICA

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1. No livro do grande profeta Isaías, queviveu no oitavo século a. C., encontram-setambém reunidas as vozes de outros pro-fetas, seus discípulos e sucessores. É ocaso daquele que os estudiosos da Bíbliachamaram “o Segundo Isaías”, o profetado regresso de Israel do exílio na Babiló-nia, que se verificou no sexto século a. C.A sua obra constitui os capítulos 40-55 dolivro de Isaías e, precisamente, do pri-meiro destes capítulos é tirado o Cânticoque entrou na Liturgia das Laudes hápouco proclamado.

Este Cântico é composto por duaspartes: os primeiros dois versículos pro-vêm do final de um belíssimo oráculo deconsolação que anuncia o regresso dosexilados a Jerusalém, sob a orientaçãodo próprio Deus (cf. Is 40, 1-11). Os versí-culos seguintes formam o começo de umdiscurso apologético, que exalta, por umlado, a omnisciência e a omnipotência deDeus e, por outro, submete os fabricantesde ídolos a uma dura crítica.

2. Por conseguinte, no começo do textolitúrgico aparece a figura poderosa deDeus, que volta a Jerusalém precedidodos seus troféus, assim como Jacob tinhavoltado à Terra Santa precedido pelos seusrebanhos (cf. Gn 31, 17; 32, 17). Os tro-féus de Deus são os Hebreus exilados,que Ele arrancou das mãos dos seus con-quistadores. Por conseguinte, Deus é apre-sentado “como um pastor” (Is 40, 11).

Muito frequentemente na Bíblia e noutrastradições antigas, esta imagem recorda aideia de orientação e de domínio, mas aquias características são sobretudo ternas eapaixonadas, porque o pastor é tambémcompanheiro de viagem das suas ovelhas(cf. Sl 22). Ele cuida do rebanho, não sóalimentando-o e preocupando-se paraque não se tresmalhe, mas também incli-nando-se com ternura sobre os cordeiros eas ovelhas-mães (cf. Is 40, 11).

3. Concluída a descrição da entrada emcena do Senhor rei e pastor, eis a reflexãosobre o seu agir como Criador do uni-verso. Ninguém pode estar ao seu nívelnesta obra grandiosa e extraordinária:não o homem, sem dúvida, e muito menosos ídolos, seres mortos e impotentes. Oprofeta recorre depois a uma série de in-terrogações retóricas, nas quais já estáincluída a resposta. Elas são pronunciadasnuma espécie de processo: ninguém podecompetir com Deus e apropriar-se doseu imenso poder ou da sua ilimitada sabe-doria.

Ninguém está em condições de mediro imenso universo criado por Deus. Oprofeta faz compreender como osintrumentos humanos são ridiculamentedesapropriados para esta tarefa. Por outrolado, Deus foi um artífice solitário; nin-guém foi capaz de o ajudar ou de o aconse-lhar num projecto tão imenso como o dacriação cósmica (cf vv. 13-14).

A VOZ DO PAPA

O BOM PASTOR: O DEUS ALTÍSSIMOCatequese sobre o Cântico de Isaías

(40, 10-17

OUTUBRO – DEZEMBRO 2002 175

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Na sua décima oitava Catequese bap-tismal, São Cirilo de Jerusalém, com baseno nosso Cântico, convida a não medirDeus com o metro da nossa limitaçãohumana: “Para ti, homem tão pequeno efrágil, a distância que vai da Gótia à Índia,da Espanha à Pérsia, é grande, mas paraDeus, que tem nas suas mãos o mundointeiro, qualquer terra está próxima” (Ascatequeses, Roma 1993, pág. 408).

4. Depois de ter celebrado a omnipo-tência de Deus na criação, o profeta tra-ça o seu senhorio sobre a história, ouseja, sobre as nações, sobre a humanidadeque povoa a terra. Os habitantes dos terri-tórios conhecidos, mas também os das re-giões remotas, que a Bíblia chama “ilhas”distantes, são uma realidade microscópicaem relação à grandeza infinita do Senhor.As imagens são brilhantes e intensas: ospovos são “como uma gota de água numbalde”, “como o grão na balança”, como“o pó fino” (Is 40, 15).

Ninguém seria capaz de preparar umsacrifício digno deste grandioso Senhor erei: não seriam suficientes todas as vítimassacrificais da terra, nem sequer todas asflorestas de cedros do Líbano para acendero fogo deste holocausto (cf. v. 16). O pro-feta conduz o homem à consciência do seulimite face à grandeza infinita e à omni-potência soberana de Deus. A conclusão élapidar: “Todos os povos são, diante dele,como se não existissem; diante dele sãoapenas nada e vacuidade” (v. 17).

5. Por conseguinte, o fiel é convidado,desde o início do dia, a adorar o Senhoromnipotente. São Gregório de Nissa,Padre da Igreja da Capadócia (IV século),meditava assim as palavras do Cânticode Isaías: “Todas as vezes que ouvimospronunciar a palavra “omnipotente”,pensamos no facto de que Deus mantém

unidas todas as coisas na existência, tantoas inteligíveis, como as que pertencem àcriação material. De facto, por isso, elemantém o círculo da terra, tem nas suasmãos os confins da terra, contém o céudentro de uma mão-cheia, mede a águacom a mão, engloba em si mesmo toda acriação intelectual: para que todas ascoisas permaneçam na existência, man-tidas com força pelo poder que as abraça”(Teologia trinitária, Milão 1994, pág.625).

São Jerónimo, por seu lado, mani-festa-se estupefacto face a outra verdadesurpreendente: a de Cristo, que, “era decondição divina... despojou-se a Simesmo, tomando a condição de servo,tornando-se semelhante aos homens”(Fil 2, 6-7). Aquele Deus infinito e omni-potente observa ele fez-se pequenino elimitado. São Jerónimo contempla-o nopresépio de Belém e exclama: “Ele quecontém o universo numa mão-cheia, ei-loencerrado numa estreita manjedoura”(Carta 22, 39, em Obras escolhidas, I, Tu-rim 1971, pág. 379).

JOÃO PAULO II

20 de Novembro de 2002Transcrito de L'Osservatore Romano

176 BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICA

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1. “O Senhor reina”. Esta aclamação, queabre o Salmo 98 que acabamos de escutar,revela o seu tema fundamental e o seu gé-nero literário característico. Trata-se deum cântico elevado pelo Povo de Deus aoSenhor, que governa o mundo e a históriacomo soberano transcendente e supremo.Ele relaciona-se com outros hinos análo-gos os Salmos 95-97, que já foram objectoda nossa reflexão que a Liturgia das Lau-des coloca como oração ideal da manhã.

Com efeito, o fiel, ao começar o seudia sabe que não é abandonado a um podercego e obscuro, nem deixado na incertezada sua liberdade, nem confiado às decisõesalheias, nem dominado pelas vicissitudesda história. Ele sabe que acima de qual-quer realidade terrena se eleva o Criador eSalvador na sua grandeza, santidade e mi-sericórdia.

2. São várias as hipóteses feitas pelosestudiosos sobre o uso deste Salmo naliturgia do templo de Sião. Contudo, eletem um tom de louvor contemplativoque se eleva ao Senhor, sentado na gló-ria celeste diante de todos os povos daterra (cf. v. 1). E contudo, Deus torna-Sepresente num espaço e no meio da comu-nidade, isto é em Jerusalém (cf. v. 2),mostrando que é “Deus-connosco”.

São sete os títulos solenes atribuídos aDeus pelo Salmista logo nos primeirosversículos: ele é rei, grande, excelso,

terrível, santo, poderoso, justo (cf. vv. 1-4). Mais adiante, Deus é apresentadotambém com a qualificação de “paciente”(v. 8). A ênfase é posta sobretudo sobre asantidade de Deus: de facto, por três vezesé repetido quase em forma de antífona que“ele é santo” (vv. 3.5.9). A palavra indica,na linguagem bíblica, sobretudo a trans-cendência divina. Deus é superior a nós, esitua-se infinitamente acima de todas assuas criaturas. Mas esta transcendêncianão faz dele um soberano indiferente eestranho: quando é invocado, responde(cf. v. 6). Deus é aquele que pode salvar, oúnico que pode libertar a humanidadedo mal e da morte. De facto, ele “ama ajustiça” e “exerce o direito e a justiça emJacob” (v. 4).

3. Sobre o tema da santidade de Deus osPadres da Igreja fizeram numerosas refle-xões, celebrando a inacessibilidade divina.Contudo, este Deus transcendente e santofez-se próximo do homem. Aliás, comodiz Santo Ireneu, “habituou-se” ao homemjá no Antigo Testamento, manifestando-secom aparições e falando por meio dosprofetas, enquanto o homem “se habitua-va” a Deus aprendendo a segui-lo e a obe-decer-lhe. Também, Santo Efrém, num dosseus hinos, realça que através da encarna-ção “o Santo tomou a sua habitação noseio (de Maria) de forma corpórea, / agoraele toma a sua habitação na mente de

A VOZ DO PAPA

SANTO É O SENHOR NOSSO DEUSCatequese sobre o Salmo 98

OUTUBRO – DEZEMBRO 2002 177

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maneira espiritual” (Hinos sobre a Nativi-dade, 4, 130). Além disso, pelo dom daEucaristia, em analogia com a encarnação,“o Remédio de Vida desceu do alto / parahabitar naqueles que são dignos dele. /Depois de ele ter entrado, / assumiu a suahabitação connosco,/ assim santifi-camo-nos a nós próprios dentro dele” (Hi-nos conservados em arménio, 47, 27.30).

4. Este vínculo profundo entre “santida-de” e proximidade de Deus é desenvolvidotambém no Salmo 98. De facto, depois deter contemplado a perfeição absoluta do

Senhor, o Salmista recorda que Deus esta-va em perene contacto com o seu povoatravés de Moisés e de Aarão, seus media-dores, como também através de Samuel,seu profeta. Ele falava e era escutado, cas-tigava os delitos mas também perdoava.

Desta sua presença entre o povo era si-nal “o escabelo dos seus pés”, isto é, o tro-no da arca do templo de Sião (cf. vv. 5-8).Por conseguinte, o Deus santo e invisíveltornava-se disponível para o seu povoatravés de Moisés, o legislador, Aarão, osacerdote, Samuel, o profeta. Ele revela-va-se em palavras e actos de salvação e dejuízo, e estava presente em Sião através doculto celebrado no templo.

5. Poderemos então dizer que o Salmo 98se realiza hoje na Igreja, sede da presençade Deus santo e transcendente. O Senhornão se retirou no espaço inacessível do seumistério, indiferente à nossa história e àsnossas expectativas. Ele “vem governar aterra. Governará o mundo com justiça e ospovos com equidade” (Sl 97, 9).

Deus veio para o meio de nós sobretu-do no seu Filho, que se fez um de nós parainfundir em nós a sua vida e a sua santida-de. Por isso nós agora aproximamo-nos deDeus, não com terror, mas com confiança.De facto, temos em Cristo o sumo sacer-dote santo, inocente, sem mancha. Ele“pode salvar perpetuamente os que por Elese aproximam de Deus, vivendo semprepara interceder em seu favor” (Heb 7, 25).Então, o nosso cântico enche-se de sereni-dade e de alegria: exalta o Senhor rei, quehabita entre nós, enxugando todas as lágri-mas dos nossos olhos (cf. Apoc 21, 3-4).

JOÃO PAULO II

27 de Novembro de 2002Transcrito de L'Osservatore Romano

178 BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICA

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A LITURGIA EUCARÍSTICA[IGMR 78-79 (54-55)]

MISSA

Depois dos ritos da Preparação dasOferendas, “inicia-se o ponto central e cul-minante de toda a celebração, a OraçãoEucarística, oração de acção de graças e deconsagração”. Chamando-lhe “oração deacção graças e de consagração”, a IG logodefine a natureza (acção de graças) e oefeito (consagração) dessa oração. Habi-tuados a olhar quase exclusivamente paraas chamadas “palavras da consagração”,quase se deixou perder o sentido de toda aOração Eucarística, que é toda ela umaoração de louvor e acção de graças peloMistério Pascal de Nosso Senhor JesusCristo que em toda ela é celebrado.

A acção de graças bíblica não se podeexplicar simplesmente pelo “obrigado”

português, como se diante dos dons deDeus nos sentíssemos apenas “obrigados”a retribuir-Lhe, como quem se “desobri-gasse” pagando a quem nos sentimosdevedores pelos seus benefícios.

A acção de graças bíblica é a expres-são do louvor que brota do coração que re-conhece e contempla as maravilhas deDeus, isto é, as acções que Deus fez emfavor dos homens na história da salvação eque, uma vez contempladas com fé e amor,causam admiração – é o que significa apalavra maravilhas, do latim mirabilia –, elogo fazem nascer em quem as contemplaa palavra de louvor agradecido. Por seulado, oração de louvor agradecido é o quesignifica, no seu primeiro sentido, a pa-lavra grega eucharistia. S. Justino (± 167),que nos dá a mais antiga descrição da cele-bração da Missa, diz: “Traz-se àquele quepreside pão e uma taça de vinho com água.Ele recebe-os e faz uma longa eucaristiapor todos os bens que Ele (o Pai) se dignouconceder-nos. Depois dá-se e distribui-sea cada um das coisas eucaristiadas (i.é,sobre as quais foi pronunciada a eucaris-tia, a Oração Eucarística); a este alimentochamamos nós Eucaristia”(Apol I, 65.67).Por aqui vemos que da oração a palavraeucaristia passou ao Sacramento, comoque justificando antecipadamente o que oMissal Romano agora diz da Oração Eu-carística, que ela é “oração de acção degraças e de consagração”.

OUTUBRO – DEZEMBRO 2002 179

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Origem

A oração de acção de graças da Missa,a Oração Eucarística, tem as suas raízesjá na oração judaica; de facto, a Bíbliamuitas vezes se refere à acção de graças,como podemos observar em particular nossalmos, e depois na oração de Maria, oMagnificat, e na de Jesus: “Eu Te bendigo,ó Pai” (Mt 11,25; Lc10,21). Dar graças é aforma mais alta e mais pura da oração; elaé o retorno a Deus em louvor da consciên-cia que se tem dos dons recebidos deDeus: “Graças ao Senhor pela sua miseri-córdia, pelos seus prodígios em favor doshomens”[Sl 106(107)].

Mas é na oração das refeições festivase, em particular, na da ceia pascal, que aoração judaica pode servir de modeloinspirador da futura Oração Eucarísticacristã.

A Igreja oriental conheceu na sualiturgia várias formas de Oração Euca-rística, consoante os lugares, a que chamaanáfora. Da Igreja romana, o texto maisantigo desta oração é o referido por S. Hi-pólito no seu livro Tradição Apostólica,cerca do ano 235, a propósito da ordena-ção do bispo (Trad. Apost., 4). Esta anáfo-ra não tinha ainda a aclamação Santo, nemas Intercessões, que só mais tarde aí foramintroduzidas. É este texto de S. Hipólito,durante tantos séculos esquecido e até hápouco tempo apenas utilizado na liturgiaetíope, que desde 1970 foi de novo recupe-rado no Missal Romano sob a designaçãode Oração Eucarística II, e se tornou hoje omais usado, não certamente por ser o maisvenerável pela sua antiguidade, masprovavelmente por ser o mais breve! Até àreforma litúrgica do Concílio Vaticano II,em 1970, a única fórmula de Oração Euca-rística que esteve em uso em Roma, desdeo séc.IV/V foi o Cânone Romano ou a

Oração Eucarística I, que aliás nem é aque apresenta uma estrutura mais bemorganizada.

Estrutura daOração Eucarística II

1. DIÁLOGO INTRODUTÓRIO

A Oração Eucarística começa com odiálogo entre o presidente e a assembleia;desde logo fica bem claro que essa oraçãoé dita “em nome de todo o povo santo deDeus”; isto porém não significa que devaou possa ser dita pela boca de todo o povo;fazê-lo seria não compreender que a as-sembleia é um corpo em que cada membrotem a sua função própria . A IG é clara:“A Oração Eucarística por sua próprianatureza exige que o sacerdote, em razãoda sua ordenação, a pronuncie”(IG 147).

a) O Senhor esteja convosco.

É a saudação habitual do presidente àassembleia antes de começar uma oração.A fórmula tem já origem bíblica (Rt 2,4)e manifesta agora o desejo e o facto dacomunhão de todos em Cristo, o Senhor.

A resposta da assembleia sofre aqui,em português, da anomalia já apontada nasaudação da entrada.

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b) Corações ao alto.O nosso coração está em Deus.

É uma exortação à assembleia paraque ela se deixe elevar ao ambiente sobre-natural exigido pela Oração Eucarística,como aliás na resposta a assembleia mos-tra aceitar e confirma. Já S. Paulo a talconvidava, não para a Oração Eucarísticamas para sempre: “Aspirai às coisas doalto, afeiçoai-vos às coisas do alto e nãoàs da terra” (Col.3,1-2). Também S. Cipri-ano fala do Corações ao alto, dizendo quenestas palavras se exprime a disposiçãocom a qual o cristão deveria começar cadaoração: “Todo o pensamento carnal emundano deve desaparecer para o espíritoficar só fixo no Senhor” (Sobre a or.dom.).

c) Dêmos graçasao Senhor nosso Deus.

É nosso dever, é nossa salvação.

Dêmos graças é o invitatório que de-clara directamente o sentido da OraçãoEucarística. Que vamos fazer neste mo-mento culminante desta celebração? Dargraças, proclamar em ambiente de louvore acção de graças o Mistério Pascal doSenhor que morreu e ressuscitou, nossalvou dando a vida ao Pai por nós e assimnos faz passar deste mundo para o Pai. Atão grande graça que o Pai nos concede sópoderemos responder dando graças, ben-dizendo, porque esse é o nosso dever paracom o Pai e a salvação para nós. A oraçãode eucaristia, de louvor e acção de graçasque logo ressoa no prefácio, retoma-a opresidente a partir da resposta da assem-bleia, confirmando-a e desenvolvendo-a:É verdadeiramente nosso dever, nossa sal-vação darmos graças… Assim começadirectamente no latim o prefácio; o por-tuguês preferiu antecipar os vocativos e

começar logo: Senhor, Pai Santo, Deuseterno e omnipotente. Será mais claro paraa assembleia; não será certamente tãodinâmico como o diálogo que o conduziu.

2. PREFÁCIO

Prefácio não significa aqui qualquercoisa que sirva de introdução a outra,como se diz do prefácio de um livro. Oprefácio já faz parte da Oração Eucarísticapropriamente dita; não há a menor dúvida,embora a apresentação gráfica que, desdelonga data, o Missal vem fazendo entre oSanto e o que vem a seguir pareça sugeriroutra coisa. No texto latino do cânone ro-mano, a primeira palavra depois do Santoé Te. Segundo a tradição manuscrita, aletra com que se inicia um novo capítuloou uma nova secção é frequentementeenvolvida numa iluminura. Neste caso, o Tinicial prestava-se a um belo desenho e foiassim que ele começou a ser apresentadoem forma de cruz, até com o Crucificado, ea encher não apenas uma letra, o T, masuma página inteira, à qual se seguia ime-diatamente a continuação Oração Euca-rística. O costume tornou-se regra, e aindahoje se mantém, até nas edições em línguavulgar, como no Missal português, inter-rompendo deste modo a unidade da Ora-ção Eucarística. Mas a Oração eucarísticaé oração una desde o diálogo introdutóriodo prefácio até ao Ámen da doxologia fi-nal.

No texto do prefácio podemos dis-tinguir três secções. A primeira retoma adeixa da assembleia na resposta ao presi-dente, confirmando que “é nosso dever, énossa salvação” dar graças como Ele nosconvidava a fazer. A segunda é a parte cen-tral que apresenta o motivo próprio da ce-lebração de cada dia pelo qual somos con-

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vidados a dar graças; esta parte central va-ria de celebração para celebração; se reu-níssemos essa parte central de todos osprefácios, poderíamos obter o conjunto detoda a história da salvação, que não épossível evocar de uma só vez. A terceiraparte conduz imediatamente à aclamaçãodo Santo.

As edições actuais do Missal Romano,tanto no texto latino como no português,têm o cuidado de abrir um pequeno espaçoentre cada uma das secções, o que mostraque essa orientação pedagógica dos servi-ços centrais da Santa Igreja.

Os títulos dados a Deus na primeiraparte do prefácio recebem hoje umapontuação, tanto na letra como na música,diferente da que esteve em uso antes da re-cente reforma da liturgia da Missa e queassim retomou a pontuação hoje tida porautêntica: Senhor, Pai santo, Deus eternoe omnipotente. Esta pontuação é importan-te que seja observada, tanto quando o pre-fácio é cantado, como quando é simples-mente recitado. O ritmo crescente destestrês vocativos sublinha já por si que entrá-mos num momento especialmente impor-tante da celebração eucarística.

Mas, por fim, “não apresentamos onosso reconhecimento e a nossa home-nagem diante do trono de Deus sem umintermediário, nem como um grupoqualquer de pessoas em oração, mas en-quanto comunidade de resgatados porAquele que é o nosso Redentor e a nossaCabeça, Cristo nosso Senhor”. É de facto,somente por Ele que o nosso louvor podechegar a Deus.

“Os nossos louvores concluem-se,perdendo-se no hino de louvor dos coroscelestes. É este um aspecto da graça danossa salvação em Cristo, particularmentequerida à antiguidade cristã, que por Ele,

somos associados aos espíritos bem--aventurados do Céu e podemos ocuparos lugares dos anjos decaídos: ‘Vósaproximastes-vos do monte Sião, da ci-dade do Deus vivo, da Jerusalém celeste,de muitos milhares de anjos em reuniãofestiva, de uma assembleia dos primo-génitos cujos nomes estão inscritos noCéu’(He 12,22-23). Assim, desde estavida, como filhos da Jerusalém do alto,sobretudo quando estamos reunidos paracelebrar a Nova Aliança, podemos unir asnossas vozes aos cânticos de louvor dasmilícias celestes. O prefácio faz-nos escu-tar de algum modo estes cânticos. Mas oque aí mais nos surpreende é que elesmesmos, como o afirma agora o prefácioComum II, são oferecidos por Cristo:‘Por Ele os Anjos proclamam a vossamajestade’” (JUNGMANN, MissarumSolemnia, ed. franc., III, 1958, pp. 2-3).Não há louvor que suba até Deus que nãopasse por Cristo, mesmo o dos Anjos. Eleé o Sacerdote único que vem ao encontrode todas as suas criaturas para as conduzirao Pai.

O prefácio, logo no início da OraçãoEucarística coloca-nos no ambiente deadoração e contemplação que é o de todoesse momento da celebração; o canto atanto deve conduzir e ajudar, e nada podeperturbar esse ambiente, muito menos aporventura má qualidade da música comque se pretendesse envolver a soleneaclamação do Santo!

3. SANTO, SANTO, SANTO

Embora esta aclamação seja por vezesapresentada com a aparência de uma peçaautónoma em relação ao prefácio, ela érealmente a sua continuação: o Santo é a

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aclamação que o prefácio preparou e agoracoloca na boca de toda a assembleia, denós todos, que somos a Igreja da terracomo que em eco aos coros celestes. Otexto desta aclamação provém do livro deIsaías: “Vi o Senhor, sentado num tronoalto e sublime; a fímbria do seu mantoenchia o templo. À sua volta estavam sera-fins de pé (…), e clamavam: ‘Santo, Santo,Santo, Senhor Deus do Universo. A suaglória enche toda a terra’”(Is 6,1…3). É odiálogo dos Serafins que o profeta ouviuno templo no dia da sua vocação e o dei-xou atemorizado.

A oração judaica utiliza o santo naoração da manhã. Na liturgia romana daMissa o Santo ainda não existia na anáforade S. Hipólito (séc.III); no século V já seencontra em todo o Ocidente.

O texto português do Santo não temverbo: é uma exclamação. Quer deixar--nos em ambiente contemplativo emordem a continuar a Oração Eucarística.

O versículo Benedictus qui venit, tira-do de Salmo 117(118), 25-26, com que opovo aclamou o Senhor na sua entradamessiânica em Jerusalém, veio juntar-seao Santo em todo o Ocidente e já aí se en-contrava no século VI. Este versículo fazunidade com o Santo. Foram somente os

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desenvolvimentos da música polifónicasobre o Sanctus que levaram a deixar paradepois da elevação o Benedictus, visto queo presidente continuava em voz baixa ocânone, enquanto o coro continuava acantar o Sanctus. Chegou até a acontecerque o presidente tivesse de esperar que ocoro acabasse o Benedictus para podercantar o Per omnia saecula saeculorum aque se devia responder com o Ámen finalda Oração Eucarística. Foi a instrução daSCR de 3 de Setembro de 1958, nº27, querecolocou o Benedictus a seguir aoSanctus, onde hoje se encontra.

O Santo é uma aclamação de toda aassembleia. A IG diz claramente: “Toda aassembleia, em união com os coros ce-lestes, canta ou recita o Santo. Esta acla-mação que faz parte da Oração Eucarísticadeve ser cantada ou recitada por todo opovo juntamente com o sacerdote”. E oMissal diz na respectiva rubrica: “No fim,(o sacerdote) junta as mãos e conclui oprefácio cantando ou recitando em vozalta com os ministros e o povo: Santo,Santo, Santo…”(Ord, nº 31, no latim). Defacto, a maior parte das soluções musicaisdo segundo milénio estiveram longe deresponder a esta orientação. Mas hoje jáestamos dentro da reforma litúrgica do Va-ticano II!

JOSÉ FERREIRA

Nova edição doMissal Popular Dominical

com introduções doCónego José Ferreira.

Em homenagemà sua dedicação

à pastoral litúrgica

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CANTAR NA LITURGIAMúsicaspara a celebraçãoda Liturgia das Horase da Missa.Esta colecçãovai no terceiro livroe tem projectospara todasas celebraçõese tempos litúrgicos,sempre a partirdas propostasdos livros litúrgicos.

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CURSO PARA ACÓLITOS

8

Gestos e atitudes na liturgia

1. Tempo de oração• Acolhimento• Sinal da cruz• Pequena oração

2. O sinal da cruzNa liturgia, o acólito faz gestos e toma

atitudes corporais. Vamos ver, nesta lição,quais são os seus gestos e atitudes maisimportantes.

Quando os nossos pais nos levaram àigreja da nossa paróquia para sermosbaptizados, o sacerdote e depois os nossospais e padrinhos, fizeram-nos o sinal dacruz na fronte. Porquê? Porque o sinal dacruz é o mais importante de todos os sinaiscristãos. Ele recorda o mistério pascal deCristo, que tem no centro a cruz onde Eledeu a sua vida por nós.

Não admira, por isso, que todas ascelebrações litúrgicas comecem pelo sinalda cruz e pelas palavras: Em nome do Pai edo Filho e do Espírito Santo. A seguir, aolongo das celebrações, o presidente faz,por vezes, o sinal da cruz sobre as pessoase as coisas. E, por fim, todas as celebra-ções terminam também pelo sinal da cruz,em forma de bênção. Diz o sacerdote:Abençoe-vos Deus todo-poderoso, Pai,Filho, e Espírito Santo. E enquanto ele dizestas palavras, traça, com a mão direita,

ACÓLITOSACÓLITOS

uma cruz sobre toda a assembleia, e cadaum dos fiéis faz sobre si próprio o sinal dacruz.

Não é só na liturgia que isto acontece.Ao deitar-se e ao levantar-se o cristão faz osinal da cruz. Como o faz? Colocando amão esquerda, se está livre, sobre o peito,traça sobre si mesmo uma cruz, com a mãodireita aberta, da testa ao peito e do ombroesquerdo ao direito, dizendo: Em nome doPai e do Filho e do Espírito Santo. Amen.

Quando se pode dispor de água benta,começamos por molhar a ponta dos dedosda mão direita na água, e depois benzemo--nos. A água benta recorda-nos a graça dosanto baptismo.

Nos desafios de futebol transmitidospela televisão, com frequência vemos osjogadores, ao entrarem no campo, a fazer osinal da cruz... mas muito mal feito. E nãosão só eles. Há cristãos que até na igrejafazem o mesmo. Não se pode chamar àqui-lo um sinal da cruz. Quando muito, será asua caricatura. Quando te benzeres, nãofaças assim. O Senhor que por ti morreu nacruz merece mais do que isso. Benze-tesempre devagar e com muita dignidade,pensando em Jesus, teu Salvador e Mestre.

Questões práticas:

— Vamos reaprender a fazer o sinal dacruz.

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— Em que momentos da Liturgia se faz osinal da cruz?

— O sinal de cruz é símbolo de quê?

3. O nosso corpo e o espaçoQuando estamos de pé, o espaço tem

para nós seis partes: acima de nós, abaixode nós, à nossa frente, à nossa retaguarda,à nossa direita e à nossa esquerda. Parachegar ao que está acima de nóselevamo-nos nos pés e levantamos osbraços; apanhamos o que está abaixo denós abaixando-nos; alcançamos o que estáà nossa frente avançando; recuamos quan-do queremos ir buscar o que ficou lá atrás;sempre que precisamos de ir para a direitaou para a esquerda, para aí nos voltamosantes de começarmos a andar nessa di-recção. Fazemos cada um dos nossosmovimentos exteriores com os nossos pése as nossas mãos.

Estará tudo dito? Não haverá maisespaço nenhum a explorar? Há sim. Po-demos falar também do espaço que existedentro de nós, aquele que constitui o nossomundo interior. Para entrarmos nesse uni-verso não usamos os pés nem as mãos,mas o nosso espírito. Entramos dentro denós recolhendo-nos, ou andamos por forade nós quando nos dispersamos. O Salmo138 diz tudo isso muito bem:1 Senhor, Vós conheceis o íntimo do meu ser, *

sabeis quando me sento e quando me levanto.2 De longe penetrais o meu pensamento: *

Vós me vedes quando caminhoe quando descanso,

† Vós observais todos os meus passos...5 Por todos os lados me envolveis *

e sobre mim pondes a vossa mão...7 Onde poderei ocultar-me ao vosso espírito? *

Onde evitarei a vossa presença?8 Se subir ao céu, Vós lá estais; *

se descer aos abismos, ali Vos encontrais...

Questões práticas:

— Quais são as partes do espaço exteriorquando estamos de pé?

— O que é o espaço interior de cadapessoa?

— Procurar na Bíblia o Livro dos Salmos(=ou Saltério) e rezar o salmo 138,que também tem o número 139.

4. Estar de péNa missa, os fiéis estão de pé: desde o

início do cântico de entrada, ou enquanto osacerdote se encaminha para o altar, até àoração colecta, inclusive; durante o cân-tico do Aleluia que precede o Evangelho;durante a proclamação do Evangelho;durante a profissão de fé e a oração uni-versal; e desde o invitatório Orate fratresantes da oração sobre as oblatas até ao fimda missa, excepto nos momentos adianteindicados.

Questões práticas:

— Fazer perguntas sobre cada um dosmomentos em que se está de pé, namissa.

— Descobrir a razão por que se está depé nesses momentos.

5. CaminharNa liturgia, para fazer a maior parte

das acções, caminha-se. Assim acontecena procissão de entrada, quando o leitorvai ler ao ambão, quando o acólito se le-vanta para levar os dons ao altar, durante aprocissão da Comunhão, ao sair da igreja,depois da despedida. Em todos esses mo-mentos, e ainda noutros, se caminha naliturgia.

Não é fácil caminhar bem e com digni-dade durante a missa. Muitos fazem-no demaneira desagradável e distraída; outroscom demasiada pressa ou devagar demais.

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O acólito deve ser ensinado a cami-nhar bem. Eu diria até que a primeira coisaque ele deve aprender é a caminhar na pre-sença de Deus e em direcção a Deus.Quando caminha na procissão de entrada,quando vai buscar o missal e o leva aopresidente, quando acompanha a procis-são do Evangelho, quando caminha paralevar os dons ao altar, quando caminha aolado do presidente segurando a bandeja nacomunhão...

Questões práticas:

— O que entendes por caminhar bem naliturgia.

— Fazer exercícios de deslocação comona liturgia.

6. Estar sentadoou de joelhos

Ouve-se melhor alguém que fala,quando se está sentado. Por isso nos senta-mos durante as leituras que precedem oEvangelho e durante o salmo responsorial;durante a homilia e a preparação dos dons;e, conforme as circunstâncias, durante osilêncio sagrado depois da Comunhão.

Estamos de joelhos durante a consa-gração, excepto se as razões de saúde, aestreiteza do lugar, o grande número dospresentes ou outros motivos razoáveis aisso obstarem. Mas se alguém não puderajoelhar-se nesse momento tão impor-tante, deve fazer uma profunda inclinaçãode todo o corpo, à elevação da hóstia e docálice.

Questões práticas:

— Que deve fazer quem não pode ajoe-lhar à consagração? Vamos aprendera fazer uma genuflexão profunda detodo o corpo.

7. GenuflexãoA genuflexão consiste em dobrar o

joelho direito até ao solo, por respeito, e avoltar a erguer-se em seguida. O corpodeve manter-se direito. O acólito devegenuflectir sempre que passe diante doSantíssimo Sacramento, a não ser que váem procissão ou leve nas mãos algumobjecto. É o acontece quando leva o turí-bulo, a cruz ou as velas na procissão deentrada ou na procissão do Evangeliário.

Fora da celebração da missa, genu-flecte-se sempre diante do SantíssimoSacramento quer exposto na custódia,quer no sacrário.

Todos genuflectem à Cruz, desde aadoração solene, em Sexta-feira Santa, atéà Vigília Pascal, e a assembleia genuflecteàs palavras «E encarnou...», nas soleni-dades da Anunciação e do Natal do Se-nhor; nos restantes tempos e festas faz,apenas, uma inclinação.

Questões práticas:

— Vamos aprender a genuflectir. Fazerexercícios. Chamar a atenção sobre amaneira de genuflectir.

8. Uniformidade dos gestose atitudesPara se conseguir a uniformidade nos

gestos e atitudes numa mesma celebração,é preciso que os fiéis obedeçam às indi-cações que, no decurso da celebração, lhesforem dadas pelo diácono, pelo ministroleigo ou pelo sacerdote, de acordo com oque está estabelecido nos livros litúrgicos.

JOSÉ DE LEÃO CORDEIRO

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LIVROS DO

SALMISTA E DO ORGANISTA

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LEITORES

Se alguém quiser aprofundar o sentidoe a riqueza da celebração da Missa, tem deprestar atenção a duas afirmações impor-tantes, que encontramos no n. 28 da Ins-trução Geral do Missal Romano (=IGMR).Primeira afirmação: «A Missa consta, porassim dizer, de duas partes: a liturgia dapalavra e a liturgia eucarística»; segundaafirmação: «Estas duas partes, porém, es-tão entre si tão estreitamente ligadas queconstituem um único acto de culto».1 Poroutras palavras: a Missa não é só Liturgiada Palavra, mas é também Liturgia daEucaristia. Ambas fazem parte integranteda única e total celebração do mistério.Não há celebração da Missa sem Palavra esem Eucaristia. A Missa sem uma ou outradestas duas partes não seria a Missa comoa Igreja a entende. Por tudo isso está nalógica das coisas que, se no ano passadoestudámos a primeira parte, este anoabordemos a segunda.

E não pensem os leitores que a partedesenvolvida no ano passado lhes diziamais directamente respeito do que a desteano. Volto a lembrar que a Missa é umacelebração única. Somos nós que neladistinguimos duas partes, por razões ob-jectivas que têm a ver com os respectivoselementos. Mas, de facto, essas duaspartes seguem-se uma à outra sem inter-

rupção e ambas pertencem, no mesmograu e importância, à Missa.

A Missa que o leitor, enquanto bapti-zado e membro vivo de uma comunidadeparoquial frequenta, cada domingo, estáno centro da vida da Igreja. Esse leitorpoderá ter um serviço, relacionado com aPalavra, a realizar na celebração num certodomingo. Mas se, eventualmente, numoutro domingo, esse mesmo leitor não ti-ver uma leitura para fazer, uma introduçãopara ler, um salmo responsorial para cantarou alguma intenção da oração dos fiéispara proclamar, nem por isso ele deixaráde se dirigir, à hora conveniente, para olugar da reunião dos cristãos.

Porque motivo não fica ele em casaquando o seu nome não consta da lista dosintervenientes na Liturgia da Palavra?Porque a Missa é mais do que a reuniãodos cristãos duma comunidade no dia doSenhor, é muito mais do que a celebraçãoda Palavra de Deus, é imensamente maisdo que o ministério que o leitor leva a caboquando lê. A Missa é o mistério Pascal deJesus Cristo tornado presente cada vez queuma comunidade cristã se reúne para fazermemória do acontecimento salvador ce-lebrado por Jesus no andar de cima de umacasa, em Jerusalém, com os Apóstolos.

O leitor participa na Missa, todos osdomingos, mesmo que não tenha de irfazer uma leitura, porque ninguém pode

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O MINISTÉRIO LITÚRGICODOS LEITORES

O leitor e a Missa

1 IGMR 28

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ser cristão e crescer na fé se não participar,assiduamente, na mesa da Palavra e namesa do Corpo de Cristo, nas quais «osfiéis recebem instrução e alimento».2

O leitor não vai à Missa, ao domingo,por ter uma função a desempenhar, maspara receber instrução e alimento. Osleitores não devem ir à Missa porque al-guém precisa deles, mas porque são elesque não podem viver sem a Missa. Não éDeus que precisa de nós; nós é que pre-cisamos de Deus.

Escola de ministérios

O Encontro Nacional de Liturgia já vaino 28º ano da sua realização. Não foisempre como é hoje. Passou por diversasfases. Mais simples e familiar ao princí-pio, viu a sua complexidade aumentar como número de participantes. Foi para res-ponder melhor àquilo que os responsáveispela sua realização pensam que deve ser asua função, que os Encontros passaram ater a fisionomia actual: a parte da manhãdedicada à formação genérica de todos osparticipantes e a parte da tarde à formaçãoespecífica dos vários ministros litúrgicos.

E assim nasceu, há três anos, a Escolade Ministérios, que pretende responder aeste segundo objectivo. Ao mesmo tempoque nós estamos aqui nesta formação deleitores, os presbíteros que presidem àscelebrações da Eucaristia, os diáconos,acólitos e ministros extraordinários daComunhão, e os organistas e membros dosgrupos de canto estão noutros locais afazer um trabalho idêntico ao nosso, masnão igual.

O que fez a Escola de Ministérios nosdois anos anteriores no que aos leitores dizrespeito? No ano 2000 falámos de coisas

muito práticas: O que é a Liturgia da Pala-vra, porque motivo lemos a Palavra naliturgia, a importância da preparação dasleituras pelo leitor, as atitudes correctas eincorrectas do leitor durante a leitura,como utilizar bem o microfone, comoenunciar bem as intenções da oração dosfiéis. Foi um começo um tanto ou quantopretensioso, pois não imaginávamos quea Escola de Ministérios fosse para conti-nuar. Por isso tentámos meter o Rossio naBetesga. Muita coisa em pouco tempo.

Em 2001 vimos que era preciso darpassos importantes em relação ao minis-tério dos leitores, não apenas dos quefrequentam este Encontro, mas de todosaqueles que, domingo após domingo, rea-lizam, pelo país fora, nas igrejas maioresou mais pequenas das nossas cidades, vilase aldeias, o belo ministério que Jesus reali-zou um dia, na Sinagoga de Nazaré, paraos seus conterrâneos: serem leitores na suaassembleia litúrgica dominical. Paraatingir tal objectivo apresentámos, aquimesmo, no primeiro dia, uma proposta,mais tarde divulgada no Boletim de Pasto-ral Litúrgica 104 (Outubro-Dezembro de2001). Convencidos de que é preciso for-mar permanentemente e sempre melhor osnossos leitores, e tendo em conta que o Se-cretariado publicara o livro «O ministériodo leitor», a proposta foi esta: utilizar esselivro como compêndio, dividir em 4 gru-pos os temas que aí se tratam, e fazer emquatro semestres (2 anos), um curso deleitores em cada Paróquia. Não sei se aideia foi aproveitada. Se alguém conheceexperiências nascidas desta sugestão, con-vido-o a dar-nos notícias delas. Emboratardiamente, agradeço à senhora D. AnaMaria Bernardo, que não sei se está pre-sente, a sua carta de 31 de Julho de2001,que começava assim: «Estimado Pa-dre Cordeiro: Em boa hora o Secretariado

190 BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICA

2 Ibidem.

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Nacional de Liturgia decidiu apostar naformação das equipas litúrgicas. Háainda um longo caminho a percorrer, maseste começo é bastante auspicioso. Parti-cularmente no que tocou à formação deleitores, o sentimento geral foi de recepti-vidade e gratidão pelas orientações forne-cidas. Bem haja por esse amor à liturgiaque tão bem nos soube incutir...» E a ter-minar sugeria: «Esperando um intercâm-bio proveitoso sobre esta faceta tão im-portante que a liturgia é dentro de umapastoral, despeço-me com saudações fra-ternas». O intercâmbio, devo confessá-locom tristeza, não existiu por minha ex-clusiva culpa, pois não respondi à cartarecebida. Peço desculpa.

No segundo dia da Escola de Ministé-rios de 2001 desenvolvemos o tema Oministério da proclamação da Palavra.Primeiro demos alguma doutrina, depois,com a vossa colaboração, proclamámosvários tipos de leitura e ajudámo-nosmutuamente com algumas sugestões quepareceram pertinentes.

Que vamos fazer neste ano de 2002, oterceiro da Escola de Ministérios? Antesde o dizer, queria chamar a atenção para oEditorial publicado pelo Director do Se-cretariado Nacional de Liturgia no últimonúmero do Boletim de Pastoral Litúrgica(107), onde afirma: «Uma das primeiraspreocupações dos leitores deve ser a qua-lidade do seu ministério da palavra. É quea nossa técnica de leitores litúrgicos, emtempos de concorrência verbal, está a per-der qualidade... A fé, que é um dom deDeus, nasce e alimenta-se da palavra queé a fonte da verdadeira vida. E a liturgia,que é obra de Cristo, está ao serviço daPalavra que falou pelos Profetas e Se fezcarne no seio da Virgem Maria, e Se tornaPão da vida no Corpo de Cristo que aIgreja gera na celebração da Eucaristia...

A esta fé da Igreja corresponde umaprática litúrgica.... A escola deste ministé-rio é a meditação assídua da Palavra queinstrui e move ao anúncio fiel... A aptidãoé, certamente, técnica, teológica, humanae espiritual. A preparação é o exercícioque faz a aptidão: estudar a leitura e lerem voz alta, ler algum comentário bíblico,rezar a leitura com Cristo e partilhá-la naconversa com os irmãos. O ministérioda palavra é o primeiro grande sinal...da presença de Cristo na sua Igreja, so-bretudo nas acções litúrgicas, fontes devida cristã...»3.

A minha experiência de pároco con-firma a percepção do autor do artigotranscrito. Tenho a sensação de que esta-mos a perder fôlego. Houve um tempo emque se insistiu bastante na formação, e issodeu alguns resultados. Mas julgo que sediminuiu a intensidade do esforço, cujaambição é levar a fazer sempre melhor.Porém, a formação não é tudo. O Salmo126 diz: «Se o Senhor não edificar a casa,em vão trabalham os que a constróem. Seo Senhor não guardar a cidade, em vãovigiam as sentinelas». Que quero eu dizercom isto? Quero dizer que, juntamentecom o cuidado do Senhor em edificar acasa e em guardar a cidade, tem de haveratitude igual da parte de cada leitor emmelhorar a sua forma de ler e em mantervivo o desejo de fazer sempre melhor. Orabem, isto não pode ser imposto a ninguém,do exterior, porque tudo o que é impostonão dura muito. Cada leitor tem de ser exi-gente consigo mesmo, não dando tréguas àrotina e ao desleixo. Os cursos são neces-sários, a formação permanente é indispen-sável, mas se cada leitor não for o guarda

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3 Pedro Lourenço Ferreira, O ministério da Palavra, emBoletim de Pastoral Litúrgica 107 (Julho-Setembro2002), p. 81-82.

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vigilante de si mesmo, nem o Senhor po-derá fazer grande coisa com ele.

São Lucas descreve assim o ministériode Jesus, leitor num dia de sábado na sina-goga de Nazaré: «Impelido pelo Espírito,Jesus voltou da Galileia e a sua famapropagou-se por toda a região. Ensinavanas sinagogas e todos o elogiavam. Veio aNazaré, onde tinha sido criado. Segundo oseu costume, entrou em dia de sábado nasinagoga e levantou-se para ler. Entrega-ram-lhe o livro do profeta Isaías e, desen-rolando-o, deparou com a passagem emque está escrito: ‘O Espírito do Senhorestá sobre mim...’. Terminada a leitura,enrolou o livro, entregou-o ao responsávele sentou-se. Todos os que estavam na sina-goga tinham os olhos fixos nele. Começouentão a dizer-lhes: ‘Cumpriu-se hoje estapassagem da Escritura, que acabais deouvir’. Todos davam testemunho em seufavor e se admiravam com as palavras re-pletas de graça que saíam da sua boca.Diziam: ‘Não é este o filho de José?».4

Em comentário a esta passagem quenos fala de Jesus, leitor, em Nazaré, naassembleia daquele sábado, reunida paraescutar a palavra de Deus, apetece-me di-zer que o ministério dos nossos leitoresconsiste, afinal, em coisas muito simples:deixar-se impelir pelo Espírito, ofere-cer-se ao Pároco para ser leitor, prepa-rar-se para isso num curso apropriado, ir àsua assembleia cada domingo, quando fora sua vez de ler, aceitar o livro das mãos doresponsável, subir ao ambão, abrir o livrona página a proclamar e ler o que nela estáescrito, de tal modo que, no fim da leitura,todos os ouvintes dêem testemunho em fa-vor do modo como o leitor leu e fiquemadmiradas com as palavras repletas de gra-ça que saíram da sua boca.

Isto não se improvisa. Estes resultadosserão sempre obra de Deus que edifica acasa e guarda a cidade, mas igualmente dotrabalhador que levanta as paredes e dasentinela que vigia no lugar que lhe foi in-dicado. O trabalhador trabalha muito comas mãos: o leitor terá de trabalhar outrotanto com a voz. A sentinela não pode fe-char os olhos nem por um instante: o leitornão pode dar tréguas à resposta a dar aDeus que em si faz nascer o desejo de lermuito bem para os seus irmãos. A verda-deira Escola dos Ministérios, relativa-mente aos leitores, é a meditação assíduada Palavra que instrui e move ao anúnciofiel. Essa Escola está dentro de nós.Chama-se exigência pessoal. É tempo depassarmos de meros leitores a profundosconhecedores. Hoje em dia, todo o quefica pela rama das coisas não impressiona.Os nossos leitores não podem contentar-seem dizer: Já preparei a leitura uma vez.Isso pode não chegar para ler bem com avoz... quanto mais para viver bem o que élido. Quando o bispo entrega o livro dosEvangelhos ao diácono acabado de or-denar diz-lhe: Recebe o Evangelho deCristo, que tens missão de proclamar. Crêo que lês, ensina o que crês e vive o queensinas5. E por seu lado, quando o mesmobispo entrega a Bíblia ao leitor acabadode instituir, o gesto da entrega é acompa-nhado destas palavras: Recebe o livro daSagrada Escritura e anuncia fielmente aPalavra de Deus, para que ela seja cadavez mais viva no coração dos homens.6

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4 Lc 4, 14-22.

5 Pontifical Romano, Ordenação dos diáconos, n. 238.6 Pontifical Romano, Instituição dos leitores, n. 26.

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O leitoré alguém que ama a Cristo

Sempre houve leitores na liturgiacristã. E a imagem que a história nosguardou deles é, sem favor, uma das maisbelas. Já vos falei, um dia, dos poemas deS. Cipriano em louvor dos leitores de Car-tago no tempo da perseguição violenta deDécio, imperador romano. Hoje gostavade vos falar de um leitor chamado Emé-rito, preso e interrogado no dia 19 deMaio de 303, em Cirta, actual cidade deConstantina, também situada no Nortede África. Transcrevo das Actas do seumartírio:

[«O procônsul perguntou ao leitorEmérito: «Foi em tua casa que, contra asordens dos imperadores, se fizeram asreuniões»? Emérito, cheio do EspíritoSanto, respondeu: «Sim, foi em minhacasa que fizemos o dominicum». Oprocônsul: «Porque lhes permitiste queentrassem»? Resposta: «Porque são meusirmãos, e não podia proibi-los». Oprocônsul: «Mas devias tê-los proibido».Emérito: «Não podia, porque não pode-mos viver sem o dominicum...».

Imediatamente o procônsul o mandouestender no cavalete e atormentar... Masele dizia: «Peço-te, Cristo, vem em meuauxílio...». O procônsul interrompeu-o,dizendo: «Não devias tê-los recebido».Ele respondeu: «Não podia deixar dereceber os meus irmãos». O procônsuldisse: «Mas antes estava o mandato dosimperadores e Césares». Replicou omártir: «Antes está Deus, não os impera-dores. Suplico-te, Cristo. Dou-te graças elouvores. Cristo Senhor, dá-me forçaspara sofrer...».

Enquanto assim orava, o procônsulinterveio, perguntando-lhe: «Tens algu-mas Escrituras em tua casa?» Respondeu:

«Tenho, mas no meu coração». Oprocônsul: «Tens algumas em tua casa ounão?» O mártir Emérito disse: «Tenho-asno meu coração. Suplico-te, Cristo.Louvo-te. Livra-me, Cristo. Por teu nomepadeço, por breve tempo padeço, comgosto padeço. Cristo Senhor, não deixesque eu seja confundido»].

Aqui temos bem sintetizado o segredodeste leitor, chamado Emérito. Foi presopor emprestar a sua casa a outros cristãosa fim de ai se realizar uma reunião deleitura, explicação e meditação da palavrade Deus, seguida da Liturgia Eucarística,aqui chamada dominicum, apesar de taisreuniões estarem proibidas pelos impera-dores.

Diante da coragem demonstrada porEmérito o procônsul tentou vencê-lo como suplício. Estendido no cavalete, quandoo juiz lhe grita que antes do amor aosirmãos estava o mandato dos imperadores,a sua resposta é clara: «Antes está Deus,não os imperadores. Suplico-te, Cristo,Dou-te graças e louvores».

Ao ouvir a sua oração o procônsulperguntou-lhe: «Tens algumas Escriturasem tua casa?» É que os pergaminhos doslivros da Bíblia (os nossos Leccionáriosactuais) eram guardados pelos leitores,função do mais alto risco, dado que asperseguições iam dirigidas aos ministrosda Igreja e aos livros de que eles se ser-viam, para serem todos destruídos, numtempo em que um livro era um objecto ca-ríssimo e muito raro. E qual foi a respostadeste leitor, vosso amigo e antepassado?«Tenho as Escrituras no meu coração.Livra-me, Cristo. Por teu nome padeço,por breve tempo padeço, com gosto pa-deço».

Se não fosse atrevimento seria casopara gritar: «Muito bem, leitor corajoso.Assim é que se fala».

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Como é que Emérito chegara a gravaras Escrituras no seu coração senão len-do-as muitas vezes e com todo o interesseantes de as proclamar? A que reduzimos,afinal, nós, o ministério de leitor emnossos dias? Que Escola de Ministérios ouCurso de Leitores será capaz de nos levar aesse amor pela Palavra de Deus, se opróprio leitor não for o primeiro a pedira Cristo que lhe ponha esse amor no co-ração?

Temos de ter cuidado, nós todos queandamos em contacto com as coisas maissantas da liturgia, como são a Palavra e aEucaristia, não aconteça que o hábito nosleve a já não ter olhos para ver, ouvidospara ouvir e coração para gravar as pala-vras escutadas. Na verdade, se no coraçãodeixa de haver lugar para as palavras deDeus, o que aí se instala e o enche por

completo são as palavras dos homens.Ora, como diz o ditado, a boca fala daabundância que temos no oração. Se nocoração o lugar que a Palavra de Deusocupa é pequeno, então cada vez daremosmenos tempo e menos atenção à prepara-ção das nossas leituras. E sem preparaçãoprévia não há leitura bem proclamada. Defacto, o leitor não pode reduzir o seu mi-nistério à simples reprodução, por meio depalavras, daquilo que está escrito no livro.Essa é a função de um gravador. O leitornão é um gravador. É um cristão pela bocado qual o Espírito Santo quer falar ao povode Deus. O leitor é, por definição, alguémque ama muito a Cristo, e especialmente aCristo, Palavra do Pai. E este amor é osegredo do bom leitor, da boa leitura, dobom cristão.

P. José de Leão Cordeiro

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CRÓNICA

XXVIII ENCONTRO NACIONALDE PASTORAL LITÚRGICA

A Liturgia Eucarística

Realizou-se em Fátima nos dias 22 a26 de Julho de 2002 o XXVIII EncontroNacional de Pastoral Litúrgica. Estes en-contros fazem parte da história da liturgiaem Portugal e continuam a exercer grandeinfluência nos passos que se vão dando nareforma litúrgica pedida pelo Concílio. Oentusiasmo dos primeiros anos foi dandolugar à estabilidade e serenidade de unsdias únicos no ano para quantos cultivam aliturgia no exercício dos seus ministérios.O número, que tem vindo a crescer e jápassou de 1400, confirma o interesse destaactividade e o sentir de quantos se movempor dentro desta realidade.

As conferências brilharam pelo seu ca-rácter majestoso. Mereciam ser publicadase divulgadas para benefício de muitosmais, mas as limitações humanas têm

contribuído para esta realidade. Foramgravadas e distribuídas pela livraria doCentro Pastoral Paulo VI, serviço queprolonga no tempo os ensinamentos dosmestres da pastoral litúrgica.

A Liturgia Eucarística foi o tema emestudo, na continuação do ano anteriordedicado à Liturgia da Palavra. A Eucaris-tia na Sagrada Escritura foi explicadapelo P. Dr. José António Morais Palos daArquidiocese de Évora, professor de Sa-grada Escritura e pároco de Montemor-o--Novo. A oração eucarística foi apresen-tada pelo P. Dr. Luís Manuel P. da Silva doPatriarcado de Lisboa, professor deLiturgia e pároco da Sé de Lisboa. Asvárias orações eucarísticas do MissalRomano e suas características foramanalisadas pelo P. Dr. Carlos Manuel de

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Aquino da Diocese do Algarve e párocode Quelfes. A liturgia eucarística e suacelebração que tanto deixa a desejar naprática litúrgica foi abordada pelo CónegoDr. João da Silva Peixoto da Diocese do

Porto, professor de Liturgia e director doCentro de Cultura Católica do Porto.Quatro maravilhosas lições de mestres quesouberam dizer a grandeza da OraçãoEucarísitica e exortaram a um uso digno

P. Dr. José António Morais Palos

P. Dr. Luís Manuel P. da Silva

P. Dr. Carlos Manuel P. de Aquino P. Dr. João da Silva Peixoto

Os conferencistasdo Encontro

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da mais bela e importante oração daIgreja.

A Escola de Ministérios continua aafirmar-se como uma estrutura de reno-vação deste Encontro Nacional e deabertura aos desafios dos novos tempos. Oministério da presidência na liturgia eu-carística, destinado aos presidentes dascelebrações, foi orientado pelo P. Dr.Luís Ribeiro de Oliveira da Diocese de

Coimbra, professor de Liturgia e párocode Santa Clara. O ministério do diácono,do acólito e do ministro extraordinário dacomunhão na liturgia eucarística, destina-do sobretudo aos que servem ao altar, foiorientado pelo P. Dr. Manuel José DiasAmorim da Diocese do Porto. Da mesa daPalavra à mesa da Eucaristia – o ministé-rio dos leitores – foi orientado pelo P. Dr.José de Leão Cordeiro da Arquidiocese deÉvora, professor de Liturgia e pároco deCouço. O ministério da música e do cantona lituriga eucarística foi orientado peloP. Dr. António Azevedo Oliveira da Arqui-diocese de Braga, director da Nova Revis-ta de Música Sacra.

A passagem duma liturgia de carac-terísticas sobretudo clericais para umambiente e uma participação mais laical

D. Manuel Madureira Dias, bispo do Algarve,em representação do Conselho Permanente daConferência Episcopal Portuguesa.

D. António Maria Bessa Taipa, Presidente daComissão Episcopal de Liturgia

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Professores daEscola de Ministérios

P. Dr. Luís Ribeiro de Oliveira

P. Dr. Manuel José Dias Amorim

P. Dr. José de Leão Cordeiro P. Dr. António Azevedo Oliveira

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tem contribuído para uma maior afirmaçãoda liturgia em permanente renovação. Aliturgia ao serviço da fé e esta a reclamarnovas expressões orantes. A adesão dosjovens aos ministérios litúrgicos, já sempreconceitos do feminino mas integrandoharmoniosamente o humano no serviçodivino, é uma nova realidade na vida daIgreja. O gosto pela beleza dos sons, dosgestos e dos serviços qualificados vai serdecisivo para a passagem duma liturgia detradição patrimonial para uma nova afir-

mação de fé adquirida na prática litúrgica.O entusiamo dos participantes na Escolade Ministérios é a afirmação duma verda-de que precisa de ser aprofundada a nívelnacional e local. Estaremos atentos.

A Conferência Episcopal Portuguesafez-se presente na pessoa do Senhor D.Manuel Madureira, a pedido do ConselhoPermanente, e no Presidente da ComissãoEpiscopal de Liturgia, D. António MariaBessa Taipa. Estas presenças, importantessobretudo nas celebrações litúrgicas, sãoum estímulo a quantos, clérigos ou leigos,dedicam uma parte importante da sua vidaà pastoral litúrgica.

Participaram alguns delegados dosPaíses Africanos de Língua Portuguesa,que partilham connosco os mesmos livroslitúrgicos e as mesmas preocupaçõeslitúrgicas. A sua presença é muito querida,apreciada e promovida pela organizaçãodeste Encontro.

Os mestres do canto são os grandestrabalhadores desta actividade pelo grande

O pequeno coro exerce um verdadeiro ministério litúrgico

Na liturgia não se improvisa.A escola é importante.

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número de cânticos, alguns em estreia, queensaiam à grande assembleia e ao pequenocoro. Este ano foram convidados algunstocadores de outros instumentos. Exerce-ram o seu ministério com muita dignidadee enriqueceram o canto da assembelia.Aos instrumentos de sopro, que mais sefizeram ouvir, deverão juntar-se os instru-mentos de corda, tão queridos à liturgia,sobretudo no canto dos Salmos.

Os acólitos formam um grupo muitoespecial neste Encontro e apresentam-secom o dinamismo próprio deste ministé-rio. Encontram-se fora do seu habitat locale na presença de outros entendidos, masprocuram competir da qualidade de me-lhor servir nas celebrações. Uma carta en-viada ao Secretariado no final do Encontrodiz: «Foi a primeira vez que estive numencontro desta natureza, foi pena a sema-na ter passado muito depressa! Esperoque para o ano que vem, possa estar pre-sente! Mas o momento mais alto, foi sem

dúvida, eu ter acolitado, pela primeira vezno Altar de Maria, o meu maior sonho!»(Ana Paula de Sousa Pinto – Arrifaninha,Codal).

No dia 25 à noite teve lugar um con-certo em homenagem ao Cónego CarlosSilva da Diocese de Leiria-Fátima, porocasião das bodas de ouro da sua ordençãosacerdotal. A obra Visitando Carlos Silvafoi composta para a ocasião pelo maestroAlberto Roque, que dirigiu a orquesta desopros do Orfeão de Leiria. Algumaspartes da obra foram executadas comcanto pelo barítono Paulo Lameiro e pelocoro infantil da Escola de Artes SAMP.

O Encontro Nacional de Pastoral Li-túrgica é uma experiência única para umencontro com os mestres da liturgia, docanto litúrgico e de umas cerimónias queprovocam sensações espirituais de muitoconforto humano.

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MÚSICA LITÚRGICA

ASSEMBLEIA DIOCESANA DE COROSDA DIOCESE DO PORTO

O Secretariado Diocesano de Liturgiado Porto, dirigido pelo Cónego AntónioFerreira dos Santos, promoveu na tarde dodia 24 de Novembro de 2002 na NaveDesportiva de Espinho a Primeira Assem-bleia Diocesana de Coros. O programaconsistiu numa solene Celebração da Pala-vra com canto. Presidiu o Senhor D. Ar-mindo Lopes Coelho, bispo do Porto. Osresponsáveis do pavilhão avaliaram umastreze mil pessoas, mas a organização daAssembleia apresentou os seus números:412 coros litúrgicos com mais de oito milcantores, entre os quais mais de mil eramcrianças. Foram executadas catorze com-posições inéditas e duas já conhecidas daautoria do Cónego António Ferreira dosSantos que dirigiu a assembleia. O resulta-do final foi grandioso e emocionante, ape-sar da exigência e qualidade dos cânticos ea presença de uma grande orquestra quejuntou o órgão aos metais, ao piano, ao xi-lofone, à guitarra e a vários instrumentosde percussão. Foram longos meses de en-saios para uma feliz manifestação de fé,expressa em cultura musical e reveladorada grande riqueza humana dos fiéis que sereúnem na celebração dominical e váriasvezes durante a semana para os ensaios.

Esta assembleia diocesana associou aoministério da música o ministério dosacólitos que contribuiu para uma maiordignidade da celebração. A procissão doEvangelho, e porque duma celebração daPalavra se tratava, demorou cerca de dez

minutos. Atravessou toda a nave em di-recção ao ambão e nela se integraramdoze lanternas e dezasseis turíbulos fume-gantes. A fé também se canta, se diz e sefaz por meio do rito.

Na sua homilia, D. Armindo LopesCoelho precisou o sentido deste aconteci-mento diocesano:– Vós constituís uma porção qualificadado povo de Deus e da Diocese do Porto,com a missão de cantar a glória de Deus epelo canto litúrgico serdes um apelo àsantidade dos irmãos.– Cantando entre vós e cantando paranós em coro, estais a exercer um ministé-rio na Igreja, ministério que é um serviçogeneroso e desprendido, desinteressado esolícito aos irmãos na fé e a todos os ho-mens que, atraídos e conduzidos pela har-monia e beleza do vosso canto, poderãochegar às alturas e à intimidade do Deusque se encontra nas expressões e manifes-tações da Arte.– Sede construtores da unidade da co-munhão que caracterizam e definem aIgreja e são sinais da sua autenticidade.– Sede exemplares na harmonia que de-veis irradiar e cultivar com os vossos pas-tores, com os grupos de apostolado, comos restantes serviços ou ministérios, paraque todos vos reconheçam como servido-res da comunhão e da unidade.– A vossa alegria e o vosso júbilo trans-parecem e são contagiantes. Emprestam àIgreja o carácter festivo que se saboreia

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nas celebrações litúrgicas em que partici-pais. Naturalmente, a alegria que impri-mís à liturgia resulta e redunda em ale-gria para vós e em felicidade para to-dos.– A dedicação generosa de todos vósnão tem explicação natural. Mas vós e eusabemos o segredo desta entrega: é a de-voção da nossa fé comum e a consciênciaque temos do que é ser filho da Igreja.

– Vós, como membros dos coroslitúrgicos, assumi esta missão pedagógicade, através da música litúrgica, na harmo-nia e na esperança, com decisão, dedica-ção e júbilo, serdes anunciadores da BoaNova que é Cristo. ... Sede pedagogos comespírito de missão, autênticos missionári-os no anúncio de Cristo e salvaguarda daverdade que é Cristo na verdade e quali-dade da música e da liturgia. Há belezassuperficiais e fugazes, de gosto duvidoso epor isso de duração efémera, sem bases esem fundamento sólido, de presunçõesatrevidas e de intromissões ou apropria-ções desadequadas.

Esta feliz iniciativa terá continuidadenas assembleias regionais a realizar em2003 e 2004 e numa segunda AssembleiaDiocesana em 2005.

O Boletim de Pastoral Litúrgica saúdaesta boa iniciativa e apresenta-a a todas asdioceses para que este bom exemplo sirvade estímulo e referência que contrarie agrande força de influências e maus costu-mes tão divulgados por certas práticaslitúrgicas e por alguma comunicação so-cial sem critérios de beleza e de verdade.

Cónego António Ferreira dos Santos

Assembleia Diocesana de Coros Litúrgicos na Nave Desportiva de Espinho

202 BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICA

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NOTÍCIAS

OBoletim de Pastoral Litúrgica doSecretariado Nacional de Liturgiacontinua a sua missão de formar e

informar o que é importante na pastorallitúrgica. As catequeses semanais doSanto Padre ocupam uma parte signifi-cativa de cada edição para fazer eco da so-licitude papal que oferece formação sobreos textos de uma forma de oração que re-comenda aos fiéis – a Liturgia das Horas.

Os trabalhos assíduos dos Padres JoséFerreira e José de Leão Cordeiro oferecemuma formação inicial de grande importân-cia para os agentes da pastoral litúrgica.Os leitores do Boletim reconhecem estapreocupação e estão a aderir ao projectocom novas assinaturas que colocam àdisposição dos diversos colaboradoresda liturgia. Este novo serviço tem as suasdificuldades, mas todas se superam com oapoio e o interesse manifestado pelos lei-tores que colaboram com esta iniciativa.

Queremos ir mais longe na formação ena informação. As muitas ocupações para-lelas a este serviço impedem uma maiordedicação a este compromisso váriasvezes assumido, mas ainda não executado.A ideia de passar de trimestral para bimes-tral, mas ainda não será em 2003. Precisa-mos de garantir a entrega atempada do Bo-letim no início do mês a que diz respeito.Porém, a abundância de conteúdo temconduzido à duplicação do número depáginas das últimas edições. Se a esta rea-lidade juntarmos as promessas de novoscolaboradores, asseguramos o projecto.

O SECRETARIADO NACIONALDE LITURGIA

O aproveitamento da cor não temcorrespondido aos custos, mas não desani-mamos e insistimos na qualidade desteserviço litúrgico.

Nem sempre temos cuidado as infor-mações que os leitores esperam encontrarneste Boletim. Esta rubrica vai ao encontroda necessidade de informação.

Arenovação do Secretariado Nacio-nal de Liturgia é uma realidadeque todos sentimos e desejamos.

A nova Comissão Episcopal de Liturgia(cf. edição anterior, p. 141) conseguiu jun-tar um novo elemento aos actuais vogais.O Cónego João da Silva Peixoto aceitoufazer parte deste Secretariado, o que vaipermitir um novo desenvolvimento aosprojectos em curso. O Boletim conta commais um bom colaborador.

As boas notícias também se fazemacompanhar de boas companhias. O Cóne-go António Ferreira dos Santos, presidentedo Serviço Nacional de Música Sacra enessa qualidade vogal do SecretariadoNacional de Liturgia, tem estado tãoocupado com a Escola das Artes que nãotem tido mais tempo para este serviço.Finalmente, regressou aos trabalhos ecom renovado vigor. Assumiu vários pro-jectos e anunciou trabalho feito. A diocesedo Porto colabora na liturgia em plano na-cional com dois bispos e dois padres. OSenhor da messe execute a anunciada pro-messa de dar mais a quem tem, recompen-sando este serviço com novas vocações.

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No início do mandato desta Comis-são Episcopal de Liturgia foramdecididos alguns assuntos que

irão ser objecto de atenção pastoral desteSecretariado. Assim, fazem parte daagenda de trabalho das reuniões mensaisos seguintes assuntos.– Nova edição do Missal Romano.– Nova edição do Ritual das Exéquias.– Edição do Martirológio.– Documento sobre a pastoral de algumascelebrações: a celebração do baptismo edo matrimónio nas capelas. Os registos fo-tográficos e vídeos nas igrejas. As celebra-ções transmitidas pela rádio e televisão.Os concertos nas igrejas.– Ritual das celebrações dominicais na au-sência de presbítero.– Encontro anual sobre Liturgia e Artepara arquitectos, artistas e técnicos.– A Peregrinação-Encontro Nacional dosAcólitos no dia 1 de Maio de 2003.

Recentemente foram reeditados al-guns livros litúrgicos que se en-contravam esgotados: A Liturgia

das Horas I, a Edição Abreviada e o Lec-cionário dominical do Ano B. No presenteencontram-se disponíveis todas as ediçõesda Liturgia das Horas e dos Leccionários.

Encontra-se esgotado e em revisão oRitual das Exéquias. Não está prevista uma data para a conclusão

destes trabalhos. Temos recebido váriasrecomendações e sugestões, que agrade-cemos, e informamos que o assunto estáentregue a párocos e pastores que têmexperiência e conhecimento do assunto.

OServiço Nacional de Música Sa-cra tem em preparação algumasedições de cânticos: A Liturgia

das Horas com canto II (Advento, Natal,

Quaresma e Páscoa); Cânticos para missascom crianças; Textos com música paramissas e ofícios de defuntos.

Informamos que está disponível umanova edição do Missal Popular Domi-nical com introduções do Cónego José

Ferreira. Esta obra dum prestigiado litur-gista da nossa praça diz da sua dedicação àpastoral litúrgica e da profundidade do seupensamento e intuição renovadora na fide-lidade às orientações conciliares. A ediçãodo Missal Popular Ferial está a ser reali-zada com introduções do mesmo autor enos mesmos moldes. Esperamos que estaedição possa estar à disposição do públicoainda antes da próxima Quaresma.

Com muita alegria e esperançaanunciamos que se deu porterminada a escrita do último

grande trabalho do Padre José de LeãoCordeiro. Na continuação do Enquirídiodos Documentos da Reforma Litúrgica, aAntologia Litúrgica tem como subtítuloTextos litúrgicos, patrísticos e canónicosdo primeiro milénio. Terá cerca de duasmil páginas de textos fundamentais parao conhecimento da liturgia cristã do pri-meiro milénio. Sobre esta obra é perti-nente uma questão: o nosso público mere-ce a jóia desta obra da literatura cristã? Elafoi confeccionada ao longo de muitos anos

204 BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICA

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com o carinho e a dedicação de um párocode várias paróquias no Alentejo, professorde liturgia em Évora e ainda com tempopara ser o maior trabalhador do Secreta-riado Nacional de Liturgia: tudo porqueadormece com uma boa página de litera-tura e acorda os galos para os louvores damanhã. Parabéns, Padre José de Leão eCordeiro. Ficamos à espera do que sabe-mos estar já entre mãos e com o carinho dequem ama as assembleias dos fiéis e cuidadas suas celebrações litúrgicas.

Opróximo Encontro Nacional dePastoral Litúrgica a realizar nosdias 21 a 25 de Julho de 2003 em

Fátima já tem assunto temático: O Domin-go e a sua celebração. Haverá quatro ex-posições doutrinais: O Domingo e a Euca-ristia, A Celebração da Eucaristia Domi-nical, A Celebração Dominical daLiturgia das Horas e Outras formas desantificação do Domingo. A Escola deMinistérios foi remodelada na metodolo-gia e na distribuição, passando de quatropara cinco grupos: presidentes, leitores,acólitos, ministros extraordinário da Co-munhão e cantores. Esta Escola terá umprimeiro dia em comum com uma breveexposição de cada orientador, um segundodia por sectores e um terceiro dia para oplenário final.

Na continuação dos anos anteriores,vai realizar-se no próximo dia 1de Maio a Peregrinação Nacional

dos Acólitos a Fátima. A participação temvindo a aumentar de ano para ano, o que ébom, mas reclama maior rigor na progra-mação. Pedimos a colaboração de todos. Odia foi escolhido de forma a permitir amaior participação de acólitos e seus pá-rocos, dado ser feriado sem preceito. Asactividades programadas são importantes

para os acólitos, que se encontram parauma manifestação solene do seu ministé-rio litúrgico. A manhã é dedicada à oraçãoe no início da tarde é oferecida uma acçãode formação prática e informação que vaiter muito interesse para todos.

Está agendado para os dia 19 e 20 deSetembro de 2003, da sexta-feira às18 horas até ao sábado à tarde, um

encontro sobre Liturgia e Arte, destinadosobretudo aos artistas, nomeadamente osarquitectos, engenheiros e técnicos deconstrução, de som e de imagem. Os inte-ressados podem reservar a data. Breve-mente daremos mais informações.

Ainformação litúrgica encontra-sedisponível na Internet. O primeiroano de presença foi muito positivo

pelo material colocado à disposição epelas visitas efectuadas. É concebidocomo um espaço de informação e forma-ção litúrgica. Há melhores tecnologias deapresentação e mundos de conteúdosque deviam estar à disposição dos interes-sados, mas as coisas de Jesus Cristo têmtodas uma mística própria: Jesus falava emparábolas, realizava sinais, negava-se aresponder com palavras e até escrevia nochão para apontar com gestos os caminhosda verdade. O acesso ao conhecimentolitúrgico não deve ser de modo a substi-tuir a experiência litúrgica, verdadeirafonte de sabedoria cristã. Privilegiamos ostextos da oração litúrgica, a doutrina daIgreja e as informações que possam ajudaros fiéis na compreensão dos mistérios deCristo celebrados pela liturgia.

Esta forma de comunicação permite aactualização permanente, mas os serviçosdo Secretariado Nacional de Liturgia nãotêm estruturas humanas capazes de res-ponder a este objectivo. Pedimos desculpa

OUTUBRO – DEZEMBRO 2002 205

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WWW.LITURGIA.PT

pela demora nas actualizações, lentidão naconstrução do projecto e prometemos irmais longe neste serviço.

A Internet precisa de ser evangelizadae santificada, ou seja, orientada para o bemsupremo que é a glória de Deus e o seu de-

sígnio de salvação. Os devotos da liturgia,cibernautas dos mistérios de Deus, ser-vem-se de tudo o que de melhor existe naobra divina da criação para afirmarem averdade do culto e manifestarem aomundo a beleza da Igreja em oração.

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CAMPANHA DE ASSINATURASOs novos investimentos no Boletim de Pastoral Litúrgica são evidentes.

Os leitores têm colaborado e os resultados estão a ser de proveito para todos.Vamos continuar com um novo ano de promoção, não aumentando o preço deassintura para 2003. Pedimos que o pagamento da assinatura seja feito noinício do ano. Oferecemos a assinatura de 2003 a quem conseguir duas novasassinaturas. A cada paróquia três assinaturas.

Boletim dePastoral Litúrgica

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Duas novas assinaturasvalem uma renovação gratúita

ou uma outra de oferta por um ano.

Campanha válida até Março de 2003

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INFORMAÇÃO

LIVROS LITÚRGICOS OFICIAIS

Situação em Dezembro de 2002

Missal– Formato maior – (1ª ed.) ................................................................................... Disponível– Formato menor – (1ª ed.) .................................................................................. Esgotado– (A 2ª ed. aguarda a publicação da edição típica latina)

Leccionário:– I. Ano A (2ª ed.) – Edição revista ................................................................ Disponível– II. Ano B (2ª ed.) – Edição revista ................................................................ Disponível– III. Ano C (2ª ed.) – Edição revista ................................................................ Disponível– IV. Ferial I: Advento, Natal, Quaresma, Páscoa ............................................ Disponível– V. Ano II: Anos ímpares ............................................................................... Disponível– VI. Ano III: Anos pares .................................................................................. Disponível– VII. Santoral e Comuns .................................................................................... Disponível– VIII.Missas Rituais, Diversas e Votivas .......................................................... Disponível

Evangeliário ............................................................................................................... DisponívelOração dos Fiéis (2ª ed. revista e com formulários para o santoral) ......................... DisponívelLiturgia das Horas [revista e actualizada]

– Vol I. Advento e Natal (4ª ed.) ..................................................................... Disponível– Vol II. Quaresma e Páscoa (4ª ed.) ................................................................. Disponível– Vol III. Tempo Comum (4ª ed.) ....................................................................... Disponível– Vol IV. Tempo Comum (4ª ed.) ....................................................................... Disponível– Abrev. Edição abreviada [Laudes-H. Int.-Vésp. e Completas] (3ª ed.) .......... Disponível– Abrev. Laudes e Vésperas [Laudes-Vésp. e Completas] (1ª ed.) ................... Disponível

Celebração do Baptismo ............................................................................................ DisponívelIniciação Cristã dos Adultos ...................................................................................... DisponívelCelebração da Confirmação (2ª ed.) .......................................................................... DisponívelSagrada Comunhão e Culto do Mistério Eucarístico Fora da Missa ........................ DisponívelRitual do Ministro Extraordinário da Comunhão (4ª ed.) ......................................... DisponívelCelebração da Penitência (2ª ed.) .............................................................................. DisponívelUnção e Pastoral dos Doentes ................................................................................... DisponívelCelebração das Exéquias ........................................................................................... EsgotadoOrdenação do Bispo, dos Presbíteros e Diáconos (2ª ed.) ........................................ DisponívelCelebração do Matrimónio (nova edição) ................................................................. DisponívelDedicação da Igreja e do Altar .................................................................................. DisponívelBênção de um Abade e de uma Abadessa ................................................................. DisponívelRitual da Profissão Religiosa .................................................................................... DisponívelRitual dos Exorcismos ............................................................................................... DisponívelConsagração das Virgens .......................................................................................... DisponívelCelebração das Bênçãos ............................................................................................ DisponívelInstituição dos Leitores e dos Acólitos ..................................................................... DisponívelBênção dos Óleos dos Catecúmenos

e dos Enfermos e Consagração do Crisma (2ª ed.) .............................................. Disponível

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PUBLICAÇÕES DO SNL

A celebração do Tempo do Natal (2ª ed.) .................................................... € 3,50A Religiosidade Popular e a Celebração da Fé ........................................... € 2,00Adaptação das Igrejas segundo a Reforma Litúrgica ................................ € 3,50Akathistos ...................................................................................................... € 2,00As bênçãos ..................................................................................................... € 3,50Bênçãos da Família ....................................................................................... € 3,50Cânticos de Entrada e de Comunhão I

(Advento, Natal, Quaresma e Páscoa) ............................................... € 6,00Cânticos de Entrada e de Comunhão II (Tempo Comum) ......................... € 6,00Cânticos instrumentados para Banda ............................................................. € 10,00Directório para as celebrações dominicais na ausência do presbítero ...... € 0,50Directório Litúrgico 2003 ............................................................................. € 5,00Agenda – Directório Litúrgico 2003............................................................ € 7,00Enquirídio dos Documentos da Reforma Litúrgica .................................... € 25,00Guião do XXVI Encontro Nacional Pastoral Litúrgica .............................. € 5,00Guião do XXVII Encontro Nacional Pastoral Litúrgica ............................ € 5,00Introduções aos Salmos e Cânticos de Laudes e Vésperas ........................ € 4,00Instrução Geral sobre a Liturgia das Horas (2ª ed.) ................................... € 2,00Liturgia das Horas – Edição para canto (Tempo Comum) ......................... € 10,00O Ministério do Leitor .................................................................................. € 5,00O Tríduo Pascal ............................................................................................. € 2,50O Tempo Pascal (2ª ed.) ................................................................................ € 3,50Orar cantando – Carlos da Silva .................................................................. € 12,50Ordenamento das Leituras da Missa ............................................................ € 2,50Ritual do Ministro Extraordinário da Comunhão (4ª ed.) .......................... € 4,00Salmos Responsoriais – Organista – (2ª ed.) – P. Manuel Luís ................. € 17,50Salmos Responsoriais – Salmista – (2ª ed.) – P. Manuel Luís .................. € 14,00

EM PREPARAÇÃO:Antologia Litúrgica. Textos litúrgicos, patrísticos e canónicos do primeiro milénio.Liturgia das Horas – Ed. para canto II (Advento, Natal, Quaresma e Páscoa)Cânticos para Missas com crianças.

Secretariado Nacional de LiturgiaSantuário de Fátima – Apartado 31 — 2496-908 FÁTIMATel. 249 533 327 Fax 249 533 343Sítio: www.liturgia.ptE-mail: [email protected]

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SECRETARIADO NACIONAL DE LITURGIA

A Liturgia é simultaneamentea meta

para a qual se encaminha a acção da Igrejae a fonte

de onde promana toda a sua força.(SC 10)