Boletim de Conjuntura Março 2016

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    Março - 2016

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    O “Day After” de Dilma 

    Há grande probabilidade de que o impeachment  da Presidente Dilma Rousseff seja aprovado, tantopelo Congresso como pelo Senado, num contexto de forte recessão e grande insatisfação da maioria dapopulação. Frente a esse cenário político, cabe perguntar como reagiria a economia brasileira à mudança decomando?

    Em primeiro lugar, os mercados financeiro e cambial, “ansiosos” por natureza, deverão continua rrepercutindo a expectativa de mudança da fracassada “nova matriz macroeconômica”, por um modelo depolítica econômica mais coerente. Assim, pode-se esperar que o IBOVESPA siga em trajetória de expansão eque continue havendo pressões para a redução da taxa de câmbio.

    A apreciação do Real, combinada com a desaceleração dos preços livres, decorrente da queda daatividade econômica, e do menor reajuste dos preços administrados, deverá intensificar a redução da taxa deinflação, antecipando a redução da taxa SELIC por parte do Banco Central, prevista pelos analistas de mercado.

    Contudo, a redução dos juros por si só não garante retomada da atividade econômica, a partir dosinvestimentos produtivos e do consumo, pois depende fundamentalmente da confiança das famílias eempresas, que nos últimos anos marcaram sucessivos recordes negativos. A perda de credibilidade nacapacidade de governar de Dilma é tamanha, que a mera substituição de governo já parece capaz de mudaressa trajetória.

    A recuperação efetiva dessa confiança, porém, a partir da dissipação das incertezas, pressupõe que

    o novo presidente seja capaz de aglutinar apoio político suficiente não somente para a realização dos ajustesde curto prazo de nossa “descarrilhada” economia, mas também para promover as reformas estruturais querecuperem a capacidade futura de crescimento do Brasil.

    Nesse sentido, não se pode cometer o erro de pensar que, com a saída de cena da Presidente DilmaRousseff, se inaugurará um futuro promissor sem “sangue, suor e lágrimas”. Será necessária a realização deum forte ajuste fiscal, que deverá estar centrado em cortes de gastos e benefícios, principalmente no campoprevidenciário, o que exigirá uma cota de sacrifício por parte da sociedade.

    Esta, em muitos momentos de sua história, mostrou-se disposta a pagar o ônus das mudançaseconômicas, se fosse capaz de acreditar que o esforço não seria em vão. Caberá ao novo Governo estabelecerclaramente, e de forma transparente e realista, quais serão os objetivos perseguidos pela nova políticaeconômica e que instrumentos irá utilizar para alcançá-los.

    Síntese Econômica

      Crédito à pessoa física continuou desacelerando em fevereiro.

      Inflação continuou recuou em março.

      Produção industrial e varejo continuaram recuando em fevereiro.

      Inadimplência bancária manteve-se estável em fevereiro.

      As contas públicas continuaram se deteriorando em fevereiro.

      As contas externas seguiram mostrando melhora, devido principalmente à recessão.

      Taxa de câmbio sofreu forte redução em março.

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    Análise da Conjuntura

    1. 

    Moeda, Crédito e Inflação

    Dados do Banco Central (BC) de fevereiro seguem mostrando desaceleração no

    crédito à pessoa física, que em 12 meses apresentou aumento de 2,4%, bem abaixo dainflação medida para o mesmo período (10,4% - IPCA).

    Em março, a inflação (IPCA) desacelerou para 0,43%, ante 0,90% no mês anterior.Assim, no acumulado em doze meses passou de 10,36%, registrado em fevereiro, para9,39%. Os alimentos continuaram a pressionar o orçamento dos consumidores, com alta de1,24%, ante 1,06% no mês anterior, enquanto a inflação dos serviços dos preçosmonitorados perderam força.

    No Relatório de Inflação do primeiro trimestre de 2016, o Banco Central reiterouque permanecem as incertezas “principalmente quanto à recuperação dos resultadosfiscais”, e, portanto, “não permitem trabalhar com a hipótese de flexibilização da política

    monetária”. Por outro lado, as projeções de mercado (Relatório FOCUS) já começam aapontar leve queda para a taxa SELIC (13,75%) para o final do ano e para 2017 (12,25%).

    2. 

    Produção, Vendas e Inadimplência

    Em fevereiro, de acordo com o IBGE, a atividade industrial voltou a registrar queda,com forte recuo de 9,8% em relação ao mesmo mês de 2015. As quedas são disseminadas,desde bens de capital (-25,8%) a bens duráveis (-29,3%). No acumulado em 12 meses, orecuo permaneceu em 9%.

    Em igual mês, o varejo reduziu a queda para 4,2%, frente a fevereiro de 2015,beneficiado com um dia útil adicional. No varejo ampliado, que inclui veículos e material de

    construção, o declínio foi de 5,6% na mesma base de comparação. No acumulado do ano,as contrações de ambos tipos de comércio alcançaram a 7,6% e 10,1%, respectivamente, osmaiores desde 2001.

    O setor serviços, que também se beneficiou de um dia útil a mais, apresentou quedade 4% em fevereiro, o pior resultado para o mês desde 2012, sendo o segmento detecnologia da informação e telecomunicações a principal influência negativa, pois a quedada renda está obrigando os consumidores a cortar gastos com serviços de telefonia e TVpor assinatura. No acumulado do ano o recuo foi de 4,5%.

    Dados da ACSP/BVS, com base nas consultas efetuadas durante o primeirotrimestre, mostraram diminuições das vendas parceladas (-11,2%) e à vista (-17%)na base

    anual.A confiança do consumidor, medida pelo Índice Nacional de Confiança (INC),

    calculado pelo IPSOS para a ACSP, voltou a cair levemente em março, porém mantendo-seno campo negativo. A insegurança no emprego (57% dos entrevistados) e a piora dacondição financeira (51% dos entrevistados) explicam porque 62% das famíliasentrevistadas não se sentem à vontade para adquirir eletrodomésticos e 67% em relação àcompra de veículo ou casa.

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    Segundo a Pesquisa Mensal do Emprego (PME) do IBGE, a taxa de desempregoalcançou em fevereiro a 8,2% da força de trabalho, muito acima dos 5,8% registrados nomesmo mês de 2015. A massa salarial (salários médios x ocupados) novamente mostrouforte recuo (-11,2%), com queda de 3,6% na ocupação e de 7,5% nos rendimentosrecebidos.

    A taxa de inadimplência da pessoa física, medida pelo Banco Central, que sinaliza o

    nível de atraso no crédito bancário (incluindo o crédito consignado), ficou estável em 4,3%da carteira em fevereiro, frente a 3,8%, observado no mesmo mês de 2015, sugerindopropensão moderada à alta.

    Em síntese, os dados preliminares do primeiro trimestre apontam para novacontração da atividade econômica, enquanto a inflação começa a desacelerar. Além disso,com a possibilidade de uma mudança no Governo, se iniciou um processo de reversão deexpectativas de juros e câmbio, que traz uma esperança de melhora da situação econômica.

    3. 

    Finanças Públicas

    Em fevereiro, de acordo com o Banco Central, o Governo Consolidado (União,Estados, Municípios e Estatais) voltou a registrar resultado primário (receitas menosdespesas não financeiras) negativo (déficit primário) de R$ 23 bilhões, revertendo oresultado positivo (superávit primário) obtido em janeiro, devido em grande parte àsreceitas do bônus do leilão de 29 usinas hidrelétricas. Foi o pior resultado para os meses defevereiro desde o início da série, em 2001.

    Quando medido em 12 meses, mais um recorde negativo foi quebrado, pois o déficitprimário alcançou a R$ 125, 1 bilhões (2,1% do PIB), avançando sobre o saldo negativocomputado, na mesma base, em janeiro, que correspondeu a R$ 104,3 bilhões (1,8% doPIB).

    Como de costume, a piora fiscal se deveu principalmente ao desempenho do

    Governo Central (Tesouro Nacional, Banco Central e Previdência), que no acumulado em 12meses teve déficit primário de R$ 125,6 bilhões (2,1% do PIB), frente a R$ 105,8 bilhões(1,8% do PIB) anotados em janeiro. Esses resultados só não foram piores, pois os governosregionais registraram superávit, embora cada vez menor, durante o mesmo período.

    Por muito que o pagamento das chamadas “pedaladas fiscais”  (adiamento derepasses do Tesouro Nacional aos bancos públicos) continue a afetar negativamente oresultado acumulado nos últimos doze meses, é inescapável a conclusão de que adeterioração fiscal se explica e se agrava pelo crescimento contínuo dos gastos obrigatóriosdo Governo Central, frente à queda da arrecadação das receitas de impostos e decontribuições previdenciárias, por efeito do intenso recuo da atividade econômica. De

    acordo com o Tesouro Nacional, as despesas totais aumentaram 19,2% em fevereiro, emrelação ao mesmo mês de 2015, enquanto as receitas totais diminuíram em 2,2%, semcorrigir pela inflação (em termos nominais).

    A única melhora, sem, contudo, mudar o panorama desolador das contas públicasbrasileiras, foi o recuo do pagamento dos juros da dívida pública, que, em 12 meses,passaram de R$ 540 bilhões (9,1% do PIB) em janeiro para R$ 513,4 bilhões (8,6% do PIB)em fevereiro. Essa melhora se explica exclusivamente pelos ganhos obtidos pelo BancoCentral nas operações de swap cambial, decorrentes da apreciação do Real.

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    Com isso, também houve pequena redução do déficit nominal, que soma o resultadoprimário com as despesas financeiras em 12 meses, que passou de R$ 644,4 bilhões (10,9%do PIB) em janeiro para R$ 638,6 bilhões (10,7% do PIB) em fevereiro. Apesar desse avanço,o “rombo” fiscal continua muito elevado, o que implica em progressivo aumento do graude endividamento do Governo, que alcançou a 68% do PIB, outra máxima histórica,elevando ainda mais o risco de insolvência fiscal.

    A perspectiva de mudança de Governo poderá melhorar as perspectivas dosresultados fiscais para o resto do ano, se houver a capacidade de aglutinar apoio políticosuficiente para realizar os cortes de despesas factíveis no curto prazo. A atenuação da crisepolítica e o abandono da malfadada “nova matriz macroeconômica” deverá gerar maiorconfiança para as famílias e empresários, produzindo elevação da arrecadação.

    Contudo, o desequilíbrio fiscal brasileiro depende de problemas estruturais, querequerem, além de reformas profundas na estrutura das despesas públicas obrigatórias,uma ampla reforma tributária, que ao diminuir a carga, a complexidade e a burocracia denosso atual sistema, promoverá o crescimento sustentável da atividade e da arrecadação.

    4. 

    Setor Externo

    A balança comercial continua apresentando expressivos saldos positivos durante osprimeiros meses de 2015, ajudando a reduzir rapidamente o “rombo” das contas externasbrasileiras. Em março, o superávit comercial foi de US$ 4,4 bilhões (exportações de US$ 16bilhões menos importações de US$ 11,6 bilhões), o melhor resultado para o mês desde ocomeço da série histórica, iniciada em 1989.

    Esses números positivos refletem a recessão econômica, combinada com a alta dodólar, que reduziram fortemente as compras do exterior. Pela média diária, as importaçõesem março foram 30% menor do que as realizadas em igual mês do ano passado, comdecréscimo em todas as categorias de produtos: combustíveis e lubrificantes (-40,8%), bens

    de consumo (-31%), bens intermediários (-28,3%) e bens de capital (-26,8%). Neste caso, amenor aquisição de máquinas e equipamentos do exterior compromete, no futuro, amelhora da produtividade e competitividade das empresas industriais do país.

    As vendas para o exterior também diminuíram, mas em menor proporção. A médiadiária das exportações em março foi 5,8% abaixo da média verificada um ano antes, sendoque as vendas de produtos básicos caíram 1,8%, especialmente devido ao minério de ferro(-44%), petróleo em bruto (-40%) e café em grão (-21,9%). O início do embarque de soja emgrão (32,2%) e o crescimento das vendas de milho em grão (154%) e algodão em bruto(38,7%) não foram suficientes para reverter o saldo negativo desse grupo de produtos.Ainda, em comparação com março de 2015, os produtos manufaturados caíram 5,6% e

    semimanufaturados 14,1%.A redução no valor das exportações pode ser atribuída à relação de trocasdesfavorável que o país está tendo em suas transações com os demais países,principalmente em decorrência da forte queda dos preços das commodities no mercadointernacional, forçada pela desaceleração econômica chinesa e pelo aumento da produçãomundial. Mesmo com o aumento de 15,7% nas quantidades vendidas para o exterior, ovalor das exportações não cresceu no mês passado em decorrência da queda de 17,4% dospreços desses produtos.

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    No primeiro trimestre do ano, independentemente da queda dos preços dasprincipais commodities, as exportações somaram US$ 40,6 bilhões e as importaçõesUS$ 32,2 bilhões, valores 5,1% e 33,4% menores, respectivamente, em relação a idênticoperíodo de 2015. Como resultado, o saldo comercial que totalizou US$ 8,4 bilhões,revertendo o saldo negativo (déficit) de US$ 5,5 bilhões registrados no ano passado,continua reduzindo o “rombo” das contas externas.

    Nos últimos doze meses, terminados em fevereiro, as transações correntes, quemedem a diferença entre as exportações e importações de bens e serviços, tiveram seudéficit diminuído de US$ 102,8 bilhões para US$ 46,3 bilhões, devendo manter essatendência de queda durante o transcorrer do ano. Contribuem também para esse resultadopositivo a diminuição dos gastos de turistas brasileiros com viagens para o exterior, asmenores remessas de lucros pelas empresas estrangeiras e as despesas com transportes,diante da crise econômica e da alta do dólar desde início do ano passado.

    A taxa de câmbio, que manteve flutuação próxima a R$ 4,00 durante fevereiro,voltou a sofrer forte volatilidade em março, devido em grande parte ao ambiente políticoconturbado que vive o país. A moeda americana teve seu valor reduzido ao menor patamardos últimos nove meses, fechando março com a cotação de R$ 3,56 por dólar, com baixa de10,5% no mês, mas mantendo ainda uma apreciação de 11% nos últimos doze meses.

    Se a queda do valor do dólar pode ajudar a conter o processo inflacionário, por outrolado prejudica as vendas ao exterior, sobretudo de manufaturados, pelas incertezas quetransmite às empresas exportadoras, conforme avalia a Associação de Comércio Exteriordo Brasil.

    Para conter a tendência de alta do Real, o Banco Central mudou sua política deatuação no mercado cambial, reduzindo a rolagem de “swaps” tradicionais, que equivalemà venda futura de dólares, e, ao mesmo tempo, passou a atuar de forma agressiva nomercado, ofertando contratos de “swap” cambial reverso, o que significa a compra futurada moeda americana. Essas medidas não foram ainda capazes de conter a redução da taxa

    de câmbio, cuja cotação chegou a cair em torno de R$ 3,50, no final da primeira quinzenade abril.

    Em síntese, a queda da atividade econômica, em decorrência da redução doconsumo e do investimento, continua “favorecendo” o desempenho das contas externas,com perspectiva de rápida diminuição do déficit das transações correntes, num contesto demenor entrada de capitais financeiros internacionais. O próprio Banco Central, queesperava para o final do ano um déficit de US$ 41 bilhões, já reduziu essa previsão para US$25 bilhões, caminhando para o equilíbrio no próximo ano.

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    Indicadores de Conjuntura Selecionados:

    Variação Acumulada

    2016/2015 (%)

    Crédito à Pessoa Física 2,4% (1) 

    Inflação – IPCA 9,4% (1) Produção Industrial -9,8% (2) 

    Vendas do Varejo -4,2% (2) 

    Receitas Governo Central -2,2% (2) 

    Despesas Governo Central 19,2% (2) 

    Exportações -5,1% (3) 

    Importações -33,4% (3) 

    Taxa de Câmbio 11,0% (1) 

    Fonte: IBGE, Banco Central, STN, MDIC/SECEX, IEGV/ACSP.

    (1) Variação acumulada em 12 meses.(2) Variação fevereiro 2016 – fevereiro 2015.(3) Variação janeiro-março 2016 – janeiro-março 2015.