Boletim do Kaos #9

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A litera Rua em Jornal

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ONDE PEGAR O SEU EXEMPLARSÃO PAULO - CAPITAL

Região CentralDGT Filmes Rua 13 de Maio, 70Ação Educativa Rua General Jardim, 660Sebo 264 Rua Rua Álvares Machado, 42Liberdade - (11) 3105-8217Restaurante Santa MadalenaRua Sta Madalena, 27 - Bela VistaConduta Galeria 24 de MaioPorte Ilegal - Galeria 24 de MaioEspaço MatilhaRua Rêgo Freitas, 542

Zona LesteLoja Suburbano ConvictoRua Nogueira Vioti, 56 - Itaim Pta(11) 2569-9151Locadora New HolidayRua Nogueira Vioti (11) 2572-2000Casa de Cultura do Itaim PaulistaPça Lions Clube, s/nº - Itaim Pta.Sebo MutanteRua Barão de Alagoas, 76-A - Itaim Paulista

Zona SulItaú Cultural (Na Biblioteca/Midiateca)Av. Paulista, 149 - 2º MezaninoBar do Zé Batidão Rua Bartolomeu dosSantos, 797 - Chácara SantanaLoja 1 da Sul Rua Comendador Santana,138 - Capão RedondoLoja 1 da Sul Av Adolfo Pinheiro, 384Loja 31 - Galeria Borba GatoEstudio 1 da SulRua Grissom, 80-a - Metrô CapãoSarau da Cooperifa (Toda quarta as 20h30)Rua Bartolomeu dos Santos, 797Chácara SantanaSarau do Binho Rua Avelino Lemos Jr., 60Campo Limpo (11) 5844-6521Sarau da Ademar Rua Pablo Pimentel, 65Cidade Ademar (11) 5622-4410

Zona OesteBar do Santista/Sarau Elo da CorrenteRua Jurubim, 788-a Pirituba

Zona NorteCCJ - Vila Nova CachoeirinhaAv Dep. Emílio Carlos, 3641Banca de JornalAlt. Nº 450 da Rua Dr César Castiglioni Jr.Sarau da Brasa - Bar da CarlitaRua Prof.Viveiros Raposo, 234

SuzanoCentro Cultural de SuzanoRua Benjamin Constant, 682 - Centro

SantosDULIXO no Marapé[email protected]

www.boletimdokaos.blogspot.comPeça pelo email:[email protected]

besouro

O ano de 2009 foi maravilhoso. Conseguimos vitórias em algunsprojetos de grande importância. Além, é claro, do Boletim do KAOS.

No começo do ano, o Natale (Itaú Cultural) ouviu minha propostade lançar um jornal mensal de literatura e encaminhou para a RobertaFelinto, da área de Marketing, que desde sempre curtiu e apoiou a ideia.

Apresentamos o projeto e o Itaú Cultural patrocinou o custográfico das 3 primeiras edições (Abril, Maio e Junho de 2009) para vercomo o jornal seria, sua repercussão, importância, etc.

Ao final dos três primeiros meses, renovamos o apoio por maisseis meses, de julho a dezembro de 2009. Independente de seguirmoscom a parceria em 2010, queria antes agradecer por 2009.

O Itaú Cultural nos proporcionou a chance de fazer um veículonovo de literatura, de graça, com 10 mil exemplares por mês nas ruas, dequalidade e que preza o conteúdo.

Continuemos ou não, foi importante cada matéria, cadaentrevista, cada dica literária.

Nomes como Marcelino Freire, Seu Jorge, GOG, Xico Sá, GilbertoDimenstein, Sacolinha, José Junior, Sérgio Vaz, Fernando Bonassi, Mauriciode Souza, Paulo Lins, Ferréz, Marçal Aquino, Cláudia Canto e tantos outrospassaram em nove meses de KAOS pelas nossas páginas.

O futuro a Deus pertence, mas acreditamos na renovação decontrato de apoio, para seguir em 2010 fazendo a diferença na informaçãoque corre nas ruas de São Paulo. E o melhor de tudo: 80% da nossadistribuição é pelas periferias, inclusive com representantes em 9 estadose diversas cidades.

O KAOS se tornou referência e a Litera Rua promete muita coisapara 2010. Fique ligado no nosso blog (www.boletimdokaos.blogspot.com)que lá postaremos as novidades para o próximo ano. Ainda existemcentenas de pessoas para passar por nossas páginas e outras milharesque irão ler.

Se você quer ajudar, e quer que esse jornalcontinue no ano que vem mande umdepoimento para o nosso blog.

O que você acha do KAOS e por que eledeve continuar nas ruas?

[email protected]

Alessandro Buzo - Editor

Capa da revista Litera Rua (2007), projeto embrião quedeu origem ao Jornal Boletim do Kaos.

A ideia era que a publicação viesse com CD de poesias.

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Em abril de 2009 foi para as ruas,ou melhor, para as periferias o Boletim doKAOS número 1. O jornal nasceu com aproposta de falar, divulgar e incentivar a li-teratura, principalmente aquela, classi-ficada como marginal.

Nessa jornada não estávamos asós. A cada edição fomos acompanhadospor grandes nomes que iam de Ferréz,Sérgio Vaz e Buzo, até Plínio Marcos eGorki. E assim fomos criando um perfil quefala de literatura com o rapper GOG ou comSeu Jorge e no mesmo espaço fala de LimaBarreto e Herman Hesse como nasegunda edição.

Presenciamos os escritores domi-nando os meios de produção, como asEdições Toró e o Sarau da Brasa. Alémda Suburbano Convicto, Coleção Glo-bal e a recém-inaugurada Selo Povo.

Nomes de notoriedade nacionalcomo Paulo Lins dividiram capa comescritores estreantes como Toni C. eEsmeralda, sempre acompanhados declássicos como Gustave Flaubert e JoãoAntonio. Provando que boa literaturaatravessa gerações.

Também misturamos quadrinhosentrevistando Mauricio de Souza namesma edição em que falamos deBukowski a Sacolinha.

O ex-presidiário e atual gênioliterário Edward Bunker atraiu os leitoresmais velhos, enquanto Xico Sá trouxe suairreverência e Cláudia Canto representouas mulheres. A cada edição, matérias intitu-ladas como “Antes e Depois” trouxeramnomes como Paulo Leminski sobre o lema:Tempos diferentes, estilos diferentes. Omesmo vício, a literatura.

Acho que nos destacamos pelaousadia. Criar um veículo que fale deliteratura, direcionado para periferia. “Umaloucura!”, pensaria o mais sensato dos editores.Mas conhecíamos essa cultura de dentro esempre colocamos na mesma estante nomesda literatura mundial como Dostoiévski emanos da zona sul como Sérgio Vaz, MárcioBatista e Rodrigo Ciriaco.

As poesias negras de Solano Trindade abençoavamos textos de Fernando Bonassi e pediam benção a mestrescomo Machado de Assis, Patativa de Assaré a LéopoldoSédar Sengher. Abríamos espaço para falar do polêmico FelaKuti e mostrar a realidade intelectual do rapper/poeta CrônicaMendes.

Mostramos exemplos de como é possível um Brasildiferente conversando com Gilberto Dimenstein, do BairroEscola Aprendiz, e com José Junior, do Afroreggae. Em outromês, o escritor Jorge Amado dividiu a capa com AlessandroBuzo, que lançava um filme.

A II Mostra da Cooperifa ferveu a zona sul. Umaentrevista mostra a história do agitador cultura Eleilson, nomeforte por trás da ONG Ação Educativa e da imprescindívelAgenda da Periferia, pilar dessa nova cena cultural paulista.

Nessa edição Ferréz dá mais um passo na história daLiteratura Marginal e lança a Selo Povo contrariando a lógicado mercado, vendendo livros a R$ 5 ao mesmo tempo em queinaugura um ponto de distribuição no centro da cidade.

Ainda tem espaço para Marçal Aquino, Litera Rua,cinema, música projetos, charges e até o fim do ano tem muitomais. Imagine em 2010 quantos nomes ainda vão passar peloBoletim do KAOS, quantas conexões são possíveis?

“Quem lê enxerga zmelhor”, como diz meu parceiroSergio Vaz e, como descreveu Gilberto Dimenstein, somos partedessa “Mistura do KAOS urbano com a riqueza humana”.Que venha 2010. “Jogando com elegância para vencer otime da Ignorância”, cantou Wesley Noóg.

Um ano decisivo.

Por Alexandre De Maio

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Nosso projeto começou combase na Litera Rua e na primeira ediçãocontamos a história dessa cena, focandoem nomes fortes como Ferréz, Ales-sandro Buzo e Sérgio Vaz. Em vez detentar definir o que era a Litera Rua,mostramos a produção cultural de cadaum, delineando as várias faces destenovo movimento literário.

Uma matéria com Allan da Rosae a história das Edições Toró mostrouque os escritores começavam a dominaros meios de produção. Investigamos comoandava a lei que criava uma editorapública, enquanto uma matéria contava ahistória de Gorki.

Mostramos nessa edição oslançamentos de livros, cinema e música ena sessão “ONG Q Representa” falamossobre a Casa do Zezinho. O destaque daedição é a entrevista com o diretor/escritor e quadrinista Lourenço Muta-relli. Direto de Portugal, a jornalista Juli-ana Penha fala sobre os livros de Paulinho

da Viola, que fazemsucesso tanto lá co-mo no Brasil.

O segundo número da sua dosemensal de ®evolução saiu em maio etrouxe muita gente interessante. Numaviagem a Brasília, Buzo entrevistou o rap-per GOG, que começava a integrar oconselho nacional de cultura. Na mesmaedição, o ganhador do Prêmio Jabuti,Marcelino Freire, declarava “Não negoa importância do prêmio, mas nãoposso me sentir um Jabuti, entende?”

E com certeza ele não é. Nomesmo mês um projeto seu levavaautores para os palcos num evento quereuniu Sérgio Vaz e Ferréz. Contin-uando nossa investigação pela editorapública, fomos até a AssembléiaLegislativa e tomamos conhecimentode que o projeto foi derrubado pelo atualgovernador José Serra. Nesse mês,Délcio Teobaldo lançava o livro Pivetime, simbolicamente, Afro-X terminava decumprir sua pena de 14 anos lançandoum livro se no Itaú Cultural. Ainda falamosde Marcio Batista a Herman Hesse,

O elegante grupodos escritores margi-nais só crescia. No KA-OS número cinco, nomês do cachorro lou-co, Xico Sá, CláudiaCanto, Edward Bun-ker, Lobão, Paulo Le-minksi, Sérgio Vaz eClaudio Portela sejuntavam com os cole-tivos Sarau da Brasa,1 Da Sul, Cooperifae Elo da Corrente.Para finalizar o time, o

cineasta Ricardo Elias fechava o grupoque levava suas ideias, estilos e sonhospara mais de 10 mil leitores espalhadospelas periferias de São Paulo e do Brasil.

Porque, além de distribuirmos emsaraus e pontos culturais de São Paulo,ainda separamos uma grana para mandarjornal para vários pontos do Brasil, assimrecebendo cartas de Salvador, MinasGerias e outros estados. Voltando de umaviagem pela Europa, o rapper Dudu falavasobre seus planos de lançar um livro,enquanto Luis Melodia e seu filhoMahal comemoravam o dia dos pais emshow gratuito.

Xico Sá declarou:

Agradando desde oadolescente até o mais experi-ente, o Boletim do KAOS se-guia sua linha editorial trazendonomes de peso e, nessa edição,entrevistamos Sérgio Vaz, omentor da Cooperifa, coraçãodessa nova cena cultural. Divi-dindo a capa com ele, FernandoBonassi, roteirista da RedeGlobo, declarava: “A entradada periferia na Cultura é umdos grandes acontecimen-tos sociais de nossa expe-riência democrática recen-te, sem dúvida”.

Nomes internacionaiscomo Dostoievski dividiam a

Um guia culturaldestaca as atividades domês e Ferréz publica a crônica “Assistindoe sendo humilhado”. Há também umaentrevista com Tata Amaral e o ativistaCarlos Moore e uma matéria sobre o Slam.O Movimento Mundial dos Saraus completoua edição que encerrou passando por RappinHood e pelo filme “O homem que virousuco”.

Na dica de site nascia a parceriacom o site Catraca Livre e a sessão “An-tes e Depois” estreava em grande estilocom Plinio Marcos e Sacolinha.

Tudo isso só foi possível porquenesse sonho acreditaram parceiros comoItaú Cultural, Editora Global, AçãoEducativa, Estúdio 1 Da Sul, Cooperifa,

DGT e Agenda da Periferia. Em abrilde 2009 estava lançada a ideia quefoi concretizada com festa de

lança-mento na DGT, na Cooperifae na Ação educativa.

“O estouro, aruptura estáem aconteci-mentos comoo Boletim doKAOS, entreoutras fontes

página com poetas contempo-râneos como Raquel Almeida. NoPerfil do Poeta, Jairo falava das suainfluências. Na zona norte de SãoPaulo, visitamos o Sarau da Brasae na sessão Q Representa falamosda ONG Interferência, do Ferréz.Juliana Penha, de Lisboa, escreveuo texto que falava sobre o livroVendidas, que relatava o tráficode seres humanos no mundo.

A Agenda Cultural crescia a cada ediçãoe Buzo trazia o texto “Favela não tem Heliporto”enquanto entrevistamos Wesley Nóog sobre suaviagem à França.

Falamos sobre projetos culturais interes-santes como Matilha Cultural e Eletroco-operativa. Numa matéria sobre o filme “ProfissãoMC”, Criolo Doido falava: “Vejo hoje nos saraisde poesias, nas quebradas, o mesmo empe-nho do hip hop que conheci há 20 anos.Parabéns a todos os poetas”.

Nessa mesma edição, a família de SolanoTrindade era homenageada na sessão Antes eDepois. Na dica de cultura divulgamos o projeto “Emritmo de aventura – O cinema da jovemguarda”, do Itaú Cultural.

tivemos entrevista com Seu Jorge emostramos a ONG Ação Educativa .

No Espaço Vip das palavras, ElianeBrum trazia o texto “O dia em que Tiãoameaçou a moralidade do sistema”.Ainda Sérgio Gag falava sobre os bas-tidores da gravação do quadro “Buzão, cir-cular periférico”, da TV Cultura, produzidopela DGT.

Ainda sobrou página para debateras mudanças da Lei Rouanet, falar sobre osite Jornalirismo, a coluna da Juliana Penhadireto de Portugal, o lançamento do estúdio1 Da Sul e mostrar que, se antes tínhamos oLima Barreto, hoje temos Rodrigo Ciriaco.

“[O Boletim do KAOS é]

mais um meio decomunicação

democrático nonosso

cenário”(GOG)

marginais que vão comendopelas beiradas.”

Nessa edição surgiu o Espa-ço Vip da Poesia, com RobertoFerreira Lima e sua poesia “TudoBacana”. Outro espaço também foiinaugurado e chamado de IdeiasCruzadas, testando o conhecimentomarginal dos leitores. Falamos sobreo projeto baiano Blackitude e sobrea literatura do jornalista, preso, MumiaAbu Jamal. Uma matéria também falousobre a Flip e Fernando Bonassitrouxe o texto “Os profissionais”.A Selo Povo nascia oficialmente efalava sobre seus projetos e o espaçode anúncio do Itaú Cultural tomavaforma de informativo e mostrava aBiblioteca e a Videoteca da Instituição.

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Essa terceira edição marcava o fim da primeirafase do projeto e a renovação da parceria com o ItaúCultural, que possibilitou que o jornal fosse feito atéo final do ano.

Com tanta coisa em jogo a publicação veiorecheada. Falamos sobre as Edições Toró, entrevis-tamos Paulo Lins, Esmeralda e Toni C. Tivemos aindauma matéria especial que falava sobre o destaque dasmulheres na literatura marginal e a Selo Povo jáanunciava sua existência.

A história de Gustave Flaubert dividia aedição sobre o filme “Profissão MC”, que já estavasendo gravado. Na sessão Q Representa, a ONGEnraizados, do Rio de janeiro, foi o destaque. Enquantoisso, direto da Europa, Juliana Penha fala sobre axenofobia. Uma foto com Marcelino Freire na feira delivros, em Lisboa, com o Boletim do KAOS na mão nosencheu de orgulho, pois já começávamos a sentir arepercussão nacional do nosso jornal. No Espaço Vipdas palavras Sérgio Vaz, o Poeta da periferia, trazia otexto “O riso do palhaço sem alegria”. Uma história

Com a parceria garantida até ofinal do ano, trouxemos uma entrevistacom o mestre dos quadrinhos, Mau-ricio de Souza, e também com oescritor/ agitador cultural Sacolinha.Mantendo a linha de trazer nomes queforam bases da literatura marginal,Bukowski foi o nome seguido da sessãoPerfil do Poeta, com Augusto, daCooperifa.

Divulgamos a 9º Semana daCultura hip hop e uma matéria com oSamba da Vela. As tiras da 1 Da Sultambém começaram a ter espaço nojornal. Na mesma edição, falamos doexemplo que é o AfroReggae e do Sa-rau do Binho. Juliana trouxe a tristehistória da escritora africana FauziyaKassindja.

A coluna de lançamento o mêsestava cheia e Paulo Lins nos presen-teava com o texto “Destino de Artis-ta”. Uma matéria sobre Fanzine contavaum pouco da nossa história e umaentrevista com Edson Natale, do ItaúCultural, falava sobre os projetos daInstituição. Contamos com a coluna defotos da Marilda Borges, que estevepresente em todas as edições comnomes como MV Bill e Heloisa Buar-que de Holanda. E na sessão Antes eDepois, íamos de Marcos Rey a Ales-sandro Buzo.

Na edição denúmero 7 mostramoscomo o Brasil pode serdiferente dando exem-plos de projetos eentrevistando seus i-dealizadores. Falamos comGilberto Dimenstein, doprojeto Bairro EscolaApren-diz, e com JoséJúnior, do AfroReg-

gae. “Começamos as oficinas deforma amadora, a gente tirou a fa-vela das páginas policiais e a colo-cou nas páginas culturais”, disseJosé Júnior.

Matérias como “Do Concretis-mo ao Twitter” ou mesmo a divulgaçãoda II Mostra Cultural da Cooperifamostravam que o movimento da Litera Ruacrescia a cada dia e nosso papel educa-cional também ficava cada vez mais claro.Éramos, na essência, um incenti-vador daliteratura nas periferias. “A luta pelaeducação é o mais atual e urgenteabolicionismo porque a pior escra-vidão é a ignorância. A falta deeducação”, falou Gilberto Dimenstein.

Para vencer essa guerra, nomesdo passado como Machado de Assis epoetas do presente como Lu Souza eCrônica Mendes eram imprescindíveisa cada batalha.

Tomando partido da batalha, o

Mês passado a nossaluta pela valorização da li-teratura se manteve e foramrecrutados nomes como Ale-ssandro Buzo que, além dacaneta, agora usa as telas decinema como arma. Mostramosa história de vida surpreen-dente (para muitos) de Elei-lson, o cérebro por trás daAção Educativa, o QG daperiferia no Centro. Em entre-vista, ele declarou: “Editori-almente acho brilhante. Quan-

do vi, logo pensei: é a imprensa alterna-tivados anos 70 com o frescor da cultura daperiferia atual. É um trampo de heróis. Pouquí-ssimas pessoas botando um jornal com essaqualidade na rua todo mês é a prova de que épossível dar vida aos nossos sonhos”.

Jorge Amado foi chamado para essa batalhadiária junto com os cartunistas Xandão e MauricioPestana. Falamos sobre projetos como o ImagensPeriféricas, que fazem sua parte no fundão na zonanorte.

Uma das grandes batalhas desse mês foireunir todo o exército na II Mostra da Cooperifa,que levou milhares de pessoas a consumir teatro,música, dança, artes plásticas, cinema e literaturade qualidade. A virada cultural da periferia que oEstado não fez.

cartunista Xandão assumia asTiras, o Sarau do Ademar davaapoio e a DGT filmes era aestrutura, para vencermos. O exér-cito é forte e conta também comnossos ancestrais africanos comocom Léopold Sédar Senghor,do Senegal, e Fela Kuti, daNigéria. Nossas armas podem serpapel e caneta, mas nossas açõestambém são práticas como o 20ºFavela Toma Conta ou o espaçoQuebrada Digital, que fortificamnossas ações.

Na coluna de fotos daMarilda Borges, Seu Lorival,Thaide, GOG e Zinho Trindadesão soldados nessa luta. No Antese Depois, vemos que Patativa deAssaré nos deixou, mas seuespírito vive em parceiros contem-porâneos como João do Nasci-mento.

E como temos que formarnovos guerreiros, na dica decultura falamos sobre o Novo Sitedo Itaú Cultural, dedicado àscrianças.

Projetos inte-ressantes como o Urba-nias são aliados nessaluta, assim como apoesia de Berimba deJesus ou o livro de ÉricaPeçanha. Nessa missãotambém relatamos aslutas e a trajetória da Poesia Maloqueiristae a importância do Itaú Cultural. No Mês daConsciência Negra levamos centenas deeventos às ruas e tivemos vários lançamentosde livro inclusive o livro de crônicas deFerréz, que inaugurou a Selo Povo, que tema filosofia de vender livros a R$ 5, quebrandoa lógica do mercado enfraquecendo o inimigo.

No Espaço Vip a munição veio como texto do Sacolinha, “Cheiro de pão”,junto com o evento a “Invenção do Mundo”.

Até aqui já se somavam 80 mil jornaisnas ruas, isso sem contar com os acessos aonosso blog, feito em parceria com a Uol e osite cultura Hip hop. Se cada jornal passar, nomês, por três pessoas, aí já vamos para 240mil atingidos por cultura, arte e informação.Uma dura batalha contra centenas de mídiasque disseminam o nada, a futilidade e adesvalorização do próximo.

Continuamos firmes nessa luta enosso exército cresce a cada dia.

em quadrinhos diferente começava a nascer em parceria com o site CatracaLivre, uma construção online.

No canto da poesia tivemos Michel, do Elo da Corrente, e noAntes e Depois mostramos de João Antonio a Ferréz. Também tivemosmatérias com MV Bill, Caco Barcelos e Paula Lima falando do prazer emaprender.

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Não vou perguntar de favela, nemde crime, tá bom?Hehe. Agradeço o diferencial em relaçãoa todas as entrevistas.

A sua história, com o lançamento dolivro “Capão Pecado”, em 1999 ecom a coleção Literatura Marginal,da Caros Amigos, serviu de incentivopara muita gente e uma nova cenaliterária explodiu, depois embaladapelos saraus. Agora você dá um novopasso, lança a Selo Povo e a loja 1Da Sul, no centro. Fale sobre essesdois novos projetos e quais os pla-nos da literatura marginal para2010? Você esperava que essa cenacrescesse tanto?Acho que tudo que é plantado comrespeito e dignidade acaba crescendo,a Literatura Marginal plantou isso, foihumilde, educada e soube trabalhar, estána hora de colhermos os primeiros frutos,mas ainda temos uma safra inteira paracriar, a cena crescer está sendo ocomeço de uma verdadeira revolução. A1 Da Sul no centro é um processo decrescimento da marca e de distribuiçãodos nossos produtos, para não ficarmossendo vítimas dos comerciantes, que nãoentendem a nossa cultura e nossamotivação, acho que começa um novomarco para a cultura de rua.

O livro “Cronista de um TempoRuim” mostra como são vários pen-samentos seus. Você ainda me pareceum cara revoltado com situaçãogeral do país. Você sente uma mu-dança real nas ruas, você acha queganharemos essa guerra?Sou revoltado com a covardia, com opreconceito, com a falta de atenção aonosso povo e acho que vamos ganharessa guerra pelo diferencial de esforçoe talento, que a periferia tem tanto. Osistema se aposenta, muda de profissão,foge do país. A periferia está onde sempreesteve, só que agora está sabendo o quequer.

Quais os próximos lançamentos daSelo Povo?Cernov, uma grande escritora de Rondôniae também a Cidinha da Silva, escritora queestá em Minas Gerais. Tem também LimaBarreto. Depois desses é segredo, masestamos montando um time muito bom. Temmuito trabalho ainda por vir.

Literatura, quadrinhos, televisão,blogs, saraus, shows. Em qual espaçovocê é mais Ferréz?Tento ser eu (e é difícil) em todos eles,mas me identifico na escrita, amo escre-ver, sangro pelos dedos, me exponho, éonde me completo.

Hoje já existe algum incentivo dogoverno para a cultura, para proje-tos e estamos chegando ao final dosegundo mandato do Lula. Você achaque o Serra ganha as próximas elei-ções?Política é jogo, jogo muda a todo o

momento, acho que o país está indo paraum rumo diferente, parar esse rumo oumudar vai de quem votar, muita coisa aindavai rolar para a campanha presidencial.Agora temos a Marina Silva na jogada e issomuda muito.

“Os pequenos olhos azuis mudavam de corcom a ação do filme, e o cine Dom Bosconunca foi tão luxuoso, ninguém acreditariaque aqueles olhos ficariam mais apagados,e depois seriam cobertos com lentes devidros, e que em alguns anos eles fariambrotar tanta água sentimental, que faria abochecha hoje aveludada da pequena sermais a frente um duto profundo de transiçãopara a descida das lágrimas.”

Trecho do novo romance do Ferréz

Fale sobre o novo romance que vocêestá escrevendo.Chama-se “Deus foi almoçar”, estoutrabalhando desde 2004 nele. Estou muitocontente com o clima do livro e com opersonagem que criei. É tudo em volta deum só homem de meia idade e de seu inte-resse por uma mulher que vive lavando oquintal. É um texto bem psicológico e,provavelmente, sai no começo de 2010.

Como você vê a Literatura Marginal em2010? Quais os novos talentos que vocêvê na cena?Tem muita gente boa. Eu citaria o Ridson Dugueto, o Allan da Rosa, o rapper Gaspar, quepodia vir para a literatura tranquilamente,assim como muitos nomes do rap que fazemliteratura e não aprofundam. Tem muito autorque está fazendo tanta coisa que deixou olirismo ir embora. Está na hora de trazer elede volta, tem de ter qualidade, tem de lermuito, temos que nos dedicar, saber sim dosoutros autores, das obras clássicas etambém das não clássicas, pois a linguagemé nossa ferramenta. Temos que saber dosassuntos, estudar muito, ninguém vive sóda palavra "periferia". Falando dela ou não,o que vale é o talento para narrar, para contargrandes histórias, e disso não podemos nosesquecer.

Buzo lançou um filme e jornal, você umaeditora e mais uma loja, Sérgio Vaz fezuma semana inesquecível de eventos,seus livros são lançados em outrospaíses. Qual o próximo passo para aliteratura marginal em termos esté-ticos e de conteúdo?

“A 1 DA SUL NO CENTRO É UMPROCESSO DE CRESCIMENTO DAMARCA E DE DISTRIBUIÇÃO DOSNOSSOS PRODUTOS, PARA NÃOFICARMOS SENDO VÍTIMAS DOSCOMERCIANTES, QUE NÃOENTENDEM A NOSSA CULTURA ENOSSA MOTIVAÇÃO, ACHO QUECOMEÇA UM NOVO MARCO PARAA CULTURA DE RUA”

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Precisamos de mais romances, tem muitapoesia, crônica, mas pouco romance.Precisamos plantar isso, e ampliar a cultura,fazer ela ficar viável para os manos e minasvirem para a arte de uma vez, e não ficarna corda bamba. Temos uma grande coisapara construir, que é a estrutura do movi-mento, acho que o Buzo, Vaz, Sacolinha,Allan, Binho são as pilastras para isso, comuma infinidade de talentos que esperam opróximo passo.

O que você fala para aqueles quedizem que o termo “Literatura Mar-ginal” estereotipa a literatura feitana periferia?Se eu ligasse para o que dizem estariavendendo pão até hoje, faço literaturadivergente, provocativa, com linguagemprópria, que privilegia a margem, a perifa,então é L.M. mesmo.

Você experimentou atuar fazendo umpapel no seriado 9MM da Fox. Comofoi a experiência?Estranho. Atuar é difícil, foi só umabrincadeira do roteirista que escreviacomigo, o Marc Bechar, e esse ano temmais umas incursões na nova temporada,onde eu volto com esse personagem. Élegal fazer coisas diferentes, experimen-tar, nos outros países isso é comum. Vejaa cena do rap gringa, onde os caras estãofazendo várias coisas, o importante é nãoperder o foco e se divertir no final.

O que você tem lido ultimamente?Toda a obra de Alan Moore, que eu estoutentando há 10 anos ler e agora estouconseguindo, pois montei a coleção.Paralelamente, leio Dalton Trumbo eNorman Mailer, que foi uma indicaçãodo Henry. Estou terminado o PabloNeruda. Como gosto muito de desenho,estou acompanhando os trabalhos iniciaisde Frank Miller e também estou acompa-nhando a carreira de Brian Azzarelo, queescreve muito, além de terminar a trilogiade John Fante, o 1933. Fora isso, acabeide ler Dee Brown, mais uma seleção doManuel Bandeira e estou estudando oslivros que abordam a obra de Gorki, comoo do Cadinho.

O que é ser conselheiro editorial dojornal Le Monde Diplomatique Brasil?É uma responsabilidade sobre os temas,matérias, muita coisa de perifa que sai lá agente planta no conselho.

Você tem três lojas da 1 Da Sul e issote dá um contato direto com públicoconsumidor na periferia. O perfil mu-dou nesse anos? O que a periferia querconsumir?Mudou muito. O funk veio e, ao contráriodo que muitos dizem, não foi embora. Nãogosto desse som, mas ele pegou osmoleques que antes ouviam todas asmúsicas, inclusive rap. Ainda tem muitaresistência do rap, mas o funk fez o perfildo público mudar, fora isso as marcas desurf ficaram mais fortes, a nova geração éum pouco mais inconsequente. Acho quemudou bastante coisa, mudou não, está

mudando ainda. A gente acompanhaisso nas lojas, é uma realidade, mas averdade é que o rap não está em crise,está passando por um processo natu-ral de mudança e, para sobreviver, vaiter de voltar a trabalhar com respeitoao público e a si mesmo.

Em um de seus livros você falasobre o Capitalismo e suas maze--las. Como você separa o escritordo empresário?Tento não ser um Lex Luthor, tentoser o cara que coliga, que monta aestrutura, mas não se lambuza comela. Estou trilhando meu caminho nacaneta, escrevendo e trabalhandomuito, é difícil, mas tento ter o quepara mim é importante, e não mais queisso. Tenho uma casa, um carro, nãopreciso de três, o bom de ser empre-sário é que dá para ajudar muita gentese você for bem intencionado. Regis-trar um cara sem experiência, daroportunidade, lançar algum autor queuma grande nem atenderia, dar a umgrupo que nunca gravou um par deroupas, isso é bom demais. A feli-cidade existe cara, eu a conheçoquando faço algo assim.

Você tem um coleção enorme comvárias raridades, quais são os 5destaques da sua coleção?Puts, essa é difícil. Vamos lá.

1)Autógrafo do Herman Hesse numoriginal do autor comprado na Áustria,de 1949.

2)Livro da editora Nova Fronteira queprova que Walt Disney roubou a ideiado Zé Carioca do desenhista J. Carlos.

3)Quadro com os frames originais doseriado Arquivo X.

4)A coleção dos Super Heróis Shelllançados pela editora Ebal (a primeiraaparição dos heróis americanos noBrasil).

5)Toda a obra original de CarolinaMaria de Jesus, incluindo o primeirolivro publicado em agosto de 1960 (aprimeira escritora de favela a lançarum livro no Brasil).

Qual foi seu maior obstáculo?Ler para as pessoas. Ninguém paravapara eu poder ler um trecho e assimver se eu escrevia algo que fossebom.

Qual foi seu maior erro?Não achar uma resposta decente paraessa pergunta é meu maior erro.

Qual é sua melhor distração?Ler quadrinhos e brincar com minhafilha.

Qual sua primeira necessidade?Amizade. Gosto de estar rodeado deamigos.

O que mais te faz feliz?Um show do GOG, ver oGaspar falar de Zumbi, oRidson declamar sobrePalmares, o Marcelino ler umconto, o Sérgio Vaz apresen-tar o sarau, o Buzo e suas milpernas, ouvir uma música doArnaldo Antunes, ver umquadro original do Mutarelli,ver a biblioteca Êxoduscheia de crianças, ver ummenino encher o balcão da1 Da Sul de moedas de 10 centavos para com-prar um boné, ter a honra de ser abordado numbeco na vila missionária por um menino de 10anos perguntando se eu tenho uma história paracontar. Essas coisas são demais.

Qual o maior mistério?Natureza.

Qual seu pior defeito?Ser simpático. As pessoas confundem comfalsidade, mas não é.

Qual a coisa mais perigosa?As cobranças. Ter de provar que você é o caraàs vezes te leva aonde não quer ir.

Qual o pior sentimento?Inveja, esse sentimento é terrível, principal-mente quando a gente não quer enxergá-la emvolta.

O que a periferia tem, que o centro nãotem?Garra, determinação, postura, firmeza naspalavras, nos atos. A periferia não foi criadapara dar certo, e está dando.

O que a Literatura Marginal faz que aliteratura não consegue?Cativar, provar que é louco, que é gostoso ler,interpretar, escrever, que o bagulho é vida, queé nosso, que é de todo mundo e que você fazparte também.

“A PERIFERIAESTÁ ONDESEMPREESTEVE, SÓQUE AGORAESTÁSABENDO OQUE QUER”

“CATIVAR, PROVARQUE É LOUCO, QUEÉ GOSTOSO LER,INTERPRETAR,ESCREVER, QUE OBAGULHO É VIDA,QUE É NOSSO, QUEÉ DE TODO MUNDOE QUE VOCÊ FAZPARTE TAMBÉM”

“TENTO NÃO SER UM LEXLUTHOR, TENTO SER O CARAQUE COLIGA, QUE MONTA AESTRUTURA, MAS NÃO SELAMBUZA COM ELA”

“Temos que saber dos assuntos, estudar muito, ninguém vive só da palavra

"periferia". Falando dela ou não, o que vale é o talento para narrar, para contar

grandes histórias, e d isso não podemos nos esquecer.”

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Marçal Aquino lançou 13 livros e fez roteiros de alguns filmes.Hoje trabalha com roteiros para a TV, faz (com Fernando Bonassi) o “ForçaTarefa”, da Rede Globo. Atualmente escreve a segunda temporada quevai para o ar em 2010.

Sua maior ligação com a periferia foi o livro “O Invasor”, queescreveu. Depois fez o roteiro para cinema e, no filme, conheceu orapper Sabotage. Ele o define assim: “Foi muito legal ter feito ‘OInvasor’, ter convivido com o Sabotage, um puta artista. Talveza inteligência artística mais afiada que eu vi na vida.”

Marçal Aquino se mostra uma pessoa tranquila, de hábitossimples e bastante focado no trabalho, que demonstra trabalhar porprazer, um cara que fez e apostou em outras coisas, mesmo quandofinanceiramente falando não eram viáveis.

Um sonhador, na minha opinião como entrevistador, mas leia etire suas próprias conclusões.

Quem é Marçal Aquino?Nasci em Amparo, no interior paulista, há 51 anos. Sou jornalista, escritore roteirista de cinema e de televisão. Gosto muito de livros, mas muitomesmo. Tenho uma filha de 17 anos que mora comigo e com milhares devolumes. Escrevo porque tenho uma inesgotável curiosidade pelaspessoas, e escrever, para mim, é falar de pessoas que a gente gostariaque existissem.

Comente essa sua afirmação: “Em cinema você depende de muitagente. O cinema necessariamente é coletivo”.Enquanto a literatura é uma reserva de solidão, cinema é, neces-sariamente, coletivo. É uma frase autoexplicativa: ninguém faz cinemasozinho. É impossível fazer o filme de cada pessoa. O que o diretor fazé o que de perto mais agrada a ele. Digo “mais perto” porque ele tambémestá sujeito a uma série de injunções, porque é coletivo, não dependesó dele. Depende do fotógrafo, depende dos autores, do maquiador.

Esse é mesmo o limite de um diretor?O cineasta sempre é limitado pelas circunstâncias, a maioria delas deordem material.

compreendo o momento da minha vida emque foram feitos.

“O Invasor”, no cinema, trouxe o rap-per Sabotage e isso aproximou o filmedo público periférico, como vê essaligação?A ambição de qualquer artista é falar comtodas as camadas sociais, sem nenhum tipode exclusão. E a gente sabe que o pessoalda periferia é deixado meio de lado, meiosegregado. Foi muito legal ter feito “OInvasor”, ter convivido com o Sabotage, umputa artista, talvez a inteligência artísticamais afiada que eu vi na vida. E ter dialogadocom um público inteiramente novo para nóstodos que participamos do filme. Foi lindo.

Conhece a cena literária periférica? Oque destaca?Impossível conhecer tudo que se produzatualmente, tanto no centro quanto naperiferia. Falta tempo para tanta coisa. Entãoa gente vai lendo os caras do jeito que dá.Mas conheço e procuro acompanhar otrabalho do Ferréz, do Sacolinha e do SérgioVaz, que são grandes batalhadores.

Você faz roteiros de textos de suaautoria (“Os Matadores”, “Ação entreAmigos”, “O Invasor” e “O amor eoutros objetos pontiagudos”). É maisfácil ou mais complicado?Em se tratando de adaptação, confesso quenão vejo muita diferença em trabalhar comum livro meu ou de outro autor. Afinal, quemquer fazer o filme – e tem uma visão desselivro – é o diretor. Meu trabalho é auxiliartentando botar no papel essas ideias delecombinadas com as minhas.

Quais roteiros originais já você fez.Lembro de “Nina”.“Nina” é o único roteiro original que escreviaté hoje, em parceria com o Heitor Dhalia.Todo os outros roteiros com os quais meenvolvi, com exceção do seriado “Força-Tarefa”, que escrevo com o Bonassi, têmmatriz literária.

Voltando à literatura, comente seuprimeiro livro: "Por bares nunca dantesnaufragados".“Por bares nunca dantes naufragados”,publicado em Campinas, em 1985, dá contado período em que pensei que poderiaescrever poesia. O problema é que, aquiloque eu chamava de poemas, tinha trama,personagens, situações. Era prosa presanum certo formato poético. Então, logodepois desse livro, vivi uma "crise", deixeide lado qualquer veleidade poética e passeia dedicar todo meu esforço à prosa, o que,como sabe qualquer pessoa que escreve, jáé uma façanha.

Você é boêmio?

Li que você acha curioso o porquê opessoal vai muito ao cinema e sai dofilme dizendo: “o livro era melhor”. Opessoal vai ver teatro baseado em lit-era-tura e ninguém sai da peça dizendoque o livro era melhor. É só no cinemaque isso acontece. Por quê?Nunca entendi por que as pessoas só falamdo livro-matriz quando saem do cinema, emgeral para falar mal do filme. No teatro, issonão acontece. Idiossincrasias, acho.

Você também disse que só escreve à mão,em caderno. Ainda hoje é assim?Sim, só escrevo literatura em cadernos. É umvício, uma cachaça. Não vejo graça emescrever direto no computador; já tentei, nãogostei do resultado. Bom, depois de todosesses anos, no mínimo melhorei minha letra.

Você nasceu em Amparo, no interiorpaulista, em 1958. Quando, como e porque veio para a cidade grande?Cheguei a São Paulo no começo da década de80. Vim porque queria trabalhar como jornalistae escrever literatura.

Você é jornalista, atuou como revisor,repórter e redator, com passagens pelosjornais O Estado de S.Paulo e Jornal daTarde. Atualmente, trabalha como jorna-lista free-lancer. Como é trabalhar nagrande mídia impressa?A experiência como jornalista da grandeimprensa, sobretudo o trabalho como repórter,foi fundamental para a minha literatura. Tive oprivilégio de trabalhar no Jornal da Tarde, umreduto de escritores. Era um jornal que davamuito valor ao texto literário. Foi um baitaaprendizado. Saí quando consegui criarcondições para viver como free-lancer, vi-sando a ter mais tempo para escrever meuslivros. Um sonho, claro.

O Prêmio Jabuti em 2000 foi importante,em qual sentido? Só pelo reconheci-mento?O Prêmio Jabuti foi muito importante para minhaconsolidação como escritor. É um prêmio que,inegavelmente, tem altos respeito e reconhe-cimento. Bom, todo prêmio é importante por-que, em alguma medida, representa distin-çãoe reconhecimento de um trabalho.

Que outros prêmios você ganhou e destaca?Destaco também o prêmio na Bienal Nestlé deLiteratura, em 1990, que permitiu que eu,finalmente, publicasse o livro de contos “Asfomes de setembro”, que estava pronto haviaquase uma década, mas não tinha espaço naseditoras – o conto, depois de uma década deouro nos anos 70, anda meio maldito entre oseditores.

Quantos livros você publicou e de quaisgosta mais?Publiquei 13 livros até hoje. Não tenho umpreferido, gosto de todos, pois, com eles,

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Já fui boêmio, há alguns anos, até porter trabalhado na noite, como jorna-lista. Hoje em dia vivo mais recluso.Saio muito pouco, mais pra ver osamigos. Atualmente, o único bar quefrequento é a Mercearia São Pedro,na Vila Madalena.

Você disse que literatura nascena rua, da observação das gran-dezas e indigências de que é ca-paz a maravilhosa espécie huma-na. Sempre é isso, algo do real?Observação?Faulkner dizia que literatura é “obser-vação, imaginação e experiência”.Acredito nisso. Acho que cada umdesses itens tem seu peso naquiloque escrevo. A observação é muitoimportante. Vários textos meusnasceram de algo que vi, ouvi oupresenciei no dia a dia. Mas aimaginação tem também um papel fun-damental no negócio. E também aexperiência vivida.

Você se entrega à prosa. Por quenão escreve poesias?Não escrevo poesia por três razões:a) não sou poeta; b) por higiene; c)por respeito aos poetas verdadeirosque leio, gente como Drummond,Bandeira, Murilo Mendes e Jorge deLima.

“Textos encomendados”, de as-suntos que estão em evidência,te atraem?Eu nem chego a ter drama nenhumcom os convites que recebo paratextos de encomenda, porque sequerposso pensar em aceitá-los, já quetrabalho absolutamente concentradonos roteiros do “Força-Tarefa”.

Você tem vários livros publicadose faz roteiros de filmes. Vivedisso ou do trabalho de jornalistafree-lancer?Literatura raramente dá dinheiro, oudá muito pouco para poucos. Mas éimpossível viver sem fazer. O cinematambém é meio economicamenteinviável. Vivo hoje do meu trabalhocomo roteirista de televisão, assimcomo já vivi do meu trabalho comoredator free-lancer. Nunca vivi deliteratura ou cinema. E isso não medeixou infeliz nem me fez abandonarqualquer uma dessas atividades.

Você trabalha em “Força Tarefa”,da Globo. O que acha da série?Neste momento, escrevo com oBonassi os episódios da segundatemporada, que irá ao ar no ano quevem. Tem sido uma experiênciamaravilhosa e um dos maioresdesafios que já enfrentei na vida.

Com o livro "Eu receberia aspiores notícias dos seus lindos

lábios", você comemorou 20anos desde a primeira pub-lica-ção. Comente essasduas décadas de carreira. Oque se des-taca, o que nãoqueria nem lembrar?Eu não me arrependo de nadaque escrevi. E algumas dascoisas que escrevi me derammuitas alegrias. Acho que é umsaldo e tanto.

Li o livro citado na pergun-ta anterior. De onde surgiua ideia da história de Lavi-nia e Cauby?Surgiu daquele lugar misterio-so de onde surgem todas asminhas histórias. Eu tambémnão sabia nada daquilo en-quanto ia escrevendo. Escre-ver, para mim, é descobrir. Foiuma grande experiência tercontado essa história de amor,que era uma coisa que euqueria fazer fazia tempo enunca dava certo – comecei o“Cabeça a prêmio” achandoque era uma história de amor,imagine.

Cite três filmes nacionaisde que você gosta muito.Gosto muito do “Assalto aotrem pagador”, do RobertoFarias, que é um filme esplên-dido na rara filmografia policialbrasileira. Gosto do “Todanudez será castigada”, doJabor; e também gosto do“Copacabana me engana”, doAntonio Carlos Fontoura. Penaque você só me pediu três; hácentenas de filmes brasileirosque amo com paixão.

Indique três livros.“São Bernardo”, do GracilianoRamos; “O cobrador”, do Ru-bem Fonseca; “Um copo decólera”, do Raduan Nassar.

Três autores essenciais.Wander Piroli, DomingosPellegrini e Luiz Vilela.

Três cineastas.Stanley Kubrick; MichaelHaneke e Martins Scorsese.

Diga um sonho a realizar eoutro realizado.Realizo meu sonho todos osdias quando escrevo.

Como é seu dia a dia?Meu cotidiano é bem comum. Acordocedo, minha filha vai para o colégio,preparo meu café, chega o Bonassi,começamos a trabalhar e vamos até atarde, parando para um almoço rápido. Ànoite, cuido de outros assuntos que meenvolvem. Ou então gosto de ler ou deassistir a um filme com a Lorena, minhanamorada. É mais ou menos essa a minharotina.

“FAULKNER DIZIA QUE LITERATURA ÉOBSERVAÇÃO, IMAGINAÇÃO EEXPERIÊNCIA”

“A EXPERIÊNCIA COMO JORNALISTA DAGRANDE IMPRENSA, SOBRETUDO O TRABALHOCOMO REPÓRTER, FOI FUNDAMENTAL PARA AMINHA LITERATURA”

“EU NÃO ME ARREPENDODE NADA QUE ESCREVI”

“REALIZO MEU SONHO TODOS

OS DIAS QUANDO ESCREVO.”

“ESCREVO PORQUE TENHO UMAINESGOTÁVEL CURIOSIDADE PELASPESSOAS, E ESCREVER, PARA MIM,É FALAR DE PESSOAS QUE A GENTEGOSTARIA QUE EXISTISSEM”

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Certa vez, um amigo emprestou-me umlivro chamado “Pepitas de Ouro” e disse-me queera algo para meditar. Fiquei meio naquelas eaceitei com todo o preconceito de quem ignoraa filosofia e literatura indiana. Nunca havia lidonenhum autor oriental e ele apresentou-meOsho. Foi uma grande descoberta, uma leituraque não tem volta. Palavras que entraram nocoração. Osho (nascido na Índia em 11 deDezembro de 1931, morreu em 19 de Janeiro de1990) foi um filósofo indiano que desde muitojovem decidiu não seguir as convenções domundo à sua volta. Ele nunca escreveu nenhumlivro, mas centenas foram publicados portranscrições de seus discursos epalestras. Foi professor de filosofia naUniversidade de Jabalpur, na Índia, eao mesmo tempo viajava pelo paísproferindo palestras, desafiandolíderes religiosos ortodoxos, em de-bates públicos e encontrando pes-soas de todas as posições sociais. Eleleu extensivamente tudo o que pôdeencontrar para expandir suacompreensão dos sistemas de crençae da psicologia do homem contem-porâneo.

Libertar-se do ego, conhe-cere respeitar a si próprio e deixar o coraçãoorientar suas ações e não a mente, são algumaslições. Fica aqui uma ideia que ele deixa sobre aPoesia.

Crença na PoesiaO amor é a única poesia que existe. Todasas outras poesias são apenas um reflexodele. A poesia pode estar no som, pode estarna pedra, pode estar na arquitetura, masbasicamente esses são todos reflexos doamor, captados em diferentes veículos.

Mas a alma da poesia é o amor, e aqueles que vivem o amor são ospoetas reais. Eles podem nunca escrever poemas, podem nuncacompor uma música, podem nunca fazer algo que normalmenteas pessoas consideram como arte, mas aqueles que vivem o amor,que amam completa e totalmente, esses são os poetas reais.

A religião é verdadeira se ela criar o poeta emvocê. Se ela matar o poeta e criar o pretensosanto, ela não é religião: é patologia, um tipode neurose vestida com termos religiosos.

A verdadeira religião sempre libera a poesia,o amor, a arte, a criatividade em você, ela odeixa mais sensível. Você pulsa mais, seucoração tem uma nova batida, sua vida não émais um fenômeno monótono e trivial. Ela éuma constante surpresa, cada momento abrenovos mistérios.

A vida é um tesouro inesgotável, mas somenteo coração do poeta pode conhecê-la. Não acredito em filosofia,não acredito em teologia, mas acredito na poesia.

Osho, em "Osho Todos os Dias - 365 Meditações Diárias"

Ancestral que hoje sou eu

Ouço as minhas ancestrais:

Cantando – cantar

Dançando – dançar

Sorrindo – sorrir

Retribuo:

Recitando poesias

Sonhando melodias

Construindo amanhãs

Piso na terra, piso no mar

Enfrento serpentes e armadilhas

Entro dentro de mim

Reconheço a ela o que hoje sou eu

Danço seus ritmos meus

Peneiro o deserto, encontro tesouros

Mesmo que besouros rondem meu lar

Pétalas finas e cheirosas

Rosas vermelhas a quem possa me

interessar.

Corro e percorro de sapatos vermelhos

Trilhas, trilhos, engrenagens

Roupas coloridas na vida cinza

Arco íris aonde quer que eu vá.

Acompanhada parecendo sozinha

Ancestral minha que hoje sou eu.

Paz e Resistência

Elizandra

Acesse:mjiba.blogspot.com

Foto:Maíra Soares.

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Time: Elo em BrasaFamília: Só quem éLiteratura: ArmamentoUm Livro: A Sociedade do Código de Barras

Quem disse que na luta não se fazpoesia? E que na poesia não se luta? CharlesTrocate, coordenador nacional do Movimentodos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o MST,sempre encontra um tempo para pôr no papelseus escritos, mesmo em tempos mais acirradosna luta pela terra.

No último dia 6, ele teve seu mandadode prisão expedido. As acusações são sempreas mesmas. Mas muito nos alegra receber notíciassuas em 12 de novembro, quando ele envioumais uma bela poesia.

Charles é paraense. Tem em seucoração e alma a cultura amazonense. Nasceuna beira do rio Apéu, Castanhal e começou amilitar muito cedo quando entrou no MST em1986. Escreveu, em 2002, o livro “Poemas deBarricada” e, em 2007, lançou os dois livros depoesias “Ato Primavera” e “Bernardo, poemas decombate!” Hoje, com 29 anos, não dá trégua.Luta, escreve, ama.

Por Nina Fideles

Para Quem Quiser...Se é agostoA concepção vai tortaTudo anda avesso e daí?Quem governa não sabe de mim,Nem dos camaradas afáveis.Mas meu amorÉ um plano invicto e tem dorsoBeija a outra margem do sol,É um ato sem nome [perambulando!A vida não é apenas isso.Mas o que fazer se a política endoideceu aspalavrasNão sabe nada de coisas passadas.O que torno dizerÉ indivisívelNão pode ser paradoxalA geografia de tudo não cabe [no coração.Se me escapoO riso é de pura aventuraO fio da razão sequela ainda mais aimperfeição,O que fazer?Entre o fervoE a palavra toda afliçãoQue a lucidez implora.Não há consensoA pedra é pedra e fura o desespero

É inútil tanto palácio!Meu silêncio tem um estômagoConfronta sem amizade,Seu equilíbrioÉ música que danço sem [fim!Nessa distânciaSó posso me inventar.O medo tem sua estratégiaArrogante se joga no ar!Aqui entre as rugas do poderSó há destinos tímidosFantasmas letrados?Pelas ruas de mimNão passará o hipócrita!O cuscuz das horas beira a [intimidadeResmungaUm sabor de tão futuro,O que querem vocês com os muros?Se o mundo é pequeno saio de dentrodele, e daí?A luta como meioO poema como fim!A carícia é apenas slogan.Em todos os cantosO cartaz do passado devora e etc...E o olhar deixou de serA fronteira da dor.Quem quer essas rimas, quaseinfames?Só peço, meu sobrenomeNão é panfletoSeu uso é apenas da classe.Quem é mesmo esse obeso Hiroshi?A fala não entende nada de mimO superficial já esgotou-seTem bolsoO delírio que se faz assim?Entendam, o mapa quer outro mapa.Mesmo uma felicidade!E os lobos, mil estepesComo não quer o covarde.Como sangraO presente e seus bajuladores!A ordem, sinto muito...Ficará sem meu amém!A luta como meioO poema como fim!A carícia é apenas slogan.

Charles TrocateNovembro de 2009

Um escritor: João AntonioUm poeta: Carlos de AssumpçãoUm filme: Quanto Vale ou é Por Quilo?Um ator: Divino – Elo da CorrenteUma atriz: Samanta BiottiO que te dá prazer: Ver os putos mais putos

O que você não suporta: HumilhaçãoTrês lugares que frequenta: Saraus, botecos e SebosUm sonho: Ver a Favela tomar contaUma personalidade: Bezerra da SilvaUm artista: Guayasamín

De algum lugar desse país, denotícia de jornal.

Chegou a décima e última edição do Prêmio Hutúz que consolidou osmelhores da cultura Hip Hop numa noite de muita emoção no Canecão,tradicional casa noturna do Rio de Janeiro. Confira os vencedores demelhores da década.

Melhores grupos ou artistas solo Gospel da décadaAo Cubo / Dj Alpiste / Apocalipse 16Melhores produtores Musicais da décadaErick 12 / DJ Raffa / KL JayMelhores Crew's de Break da décadaDie Hard Crew / DF Zulu Crew / Athos CrewMelhores DJ's da décadaDJ CIA / DJ Hum / KL JayMelhores Grupos ou Artistas Solo Feminino da décadaVisão de Rua (Dina Di) / Nega Gizza / Negra LiMelhores do GraffitiMent / Anarkia / GraphisMelhores Demos Masculino da décadaOBando / ADikto / RafuagiMelhor Grupo Norte NordesteCosta e Costa / Comunidade da Rima / RapaduraMelhores Revelações da décadaAtitude Feminina / Inquérito / Sabotage (em memoria)Melhores Demos Feminino da décadaLívia Cruz / Nega Gizza / Afro NordestinasMelhores Álbuns da décadaDos barracos de madeira aos palácios de platina (Realidade Cruel)Provérbios 13 (509-E) / Declaração de Guerra (Mv Bill)Nada como um dia após o outro dia (Racionais Mc’s)Melhores vídeo clipes da décadaSuburbano (Rappin Hood) / Brasil com P (GOG)Soldado do morro (Mv Bill ) / Vida Loka parte 2 (Racionais Mc’s)Melhores Músicas da décadaÉ o terror (GOG) / H Aço (DMN) / Soldado do morro (MV Bill)Negro Dama (Racionais Mc’s)Melhores Grupos ou artistas solo da décadaFacção Central / Mv Bill / Racionais Mcs / Sabotage (em memória)

Page 12: Boletim do Kaos #9

Reduto de bamba

Estivemos no Berço do Samba de SãoMatheus, um daqueles lugares que você nuncaesquece e já sai pensando em voltar.

Essa roda de samba iniciada há mais oumenos 20 anos tem o propósito de mostrar,revelar e trazer ao grande público suas compo-sições e seus intérpretes, cantando suas crôni-cas, poesias e exaltações em forma de sambade terreiro, partido alto, calango, samba de roda,sincopado e outros.

O “berço” fica no Boteco do Timaia, umapessoa muito comunicativa e fácil de se gostar.

Por lá aparecem sempre grandes sam-bistas, sem contar a prata da casa que é de pri-meira linha, entre eles o pessoal do grupoQuinteto em Branco e Preto, um dos maioresgrupos de samba do país, dois de seusintegrantes são de São Matheus e cria do “Berçodo Samba”.

Acaba de sair o CD do “Berço do Samba”com apoio do SESC. É uma obra prima, muito bemproduzido.

Não faz muito tempo que 17 sambistasdo “Berço” foram se apresentar em Nova York,perguntei ao Timaia como 17 periféricos seviraram nos States, ele respondeu: “Hot dog éuniversal, aprendemos aqui”.

Mas não é só pelo samba (de primeiraqualidade, diga-se de passagem) que o Botecodo Timaia é conhecido e apreciado, a cerveja(de 600 ml ou 1 litro) é super gelada e são feitosna hora, na churrasqueira, peixe (comemos umsalmão que nem te conto), e outros especia-lidades, como espetinho de camarão.

Tem ainda cachaça da boa e a batidinhade milho do Timaia, mais uma a ser provada an-tes de se morrer. Além da raiz do projeto que é oBoteco do Timaia, tem ainda eventos no EspaçoBrasileirinho - Av. Aricanduva, 13.000. SãoMateus, Zona Leste.

Eu pretendo voltar em breve e indico atodos, conheça o Berço do Samba de SãoMatheus que é nota 10.

Informações:(11) 9828.8256 c/ Timaia.

Por que aCooperifa

representa ?Essa é fáci de

responder

Sarau da Brasa lança o livro dopoeta Carlos Assumpção

CAPA FEITA PELA ARTISTA CAROLZINHA

O autor de 82 anos veio para o lançamento do “Tambores da Noite”, uma obra que reúnediversos dos seus poemas.

Uma referência na literatura negra brasileira, o autor participou de vários encontros emhomenagem no Mês da Consciência Negra. O livro é uma antologia poética, organizado pelo ColetivoCultural Poesia na Brasa, Elo da Corrente, Ciclo Continuo e Projeto Espremedor.

Carlos é autor dos livros "Protesto" e "Quilombo", coautor do CD "Quilombo de Palavras" comCuti e participou de diversas antologias como "Cadernos Negros" – Quilombhoje- e "Negro Escrito" – Org.Oswaldo de Camargo. Ele foi frequentador assíduo da Associação Cultural do Negro, no centro de SãoPaulo nos anos 50, onde se encontrava com ativistas da extinta Frente Negra Brasileira e com escritorese intelectuais de grande importância como Solano Trindade, Aristides Barbosa e Oswaldo. Membro daAcademia Francana de Letras, formado em Letras e Direito, escolheu a cidade de Franca/SP para estudare lecionar nos anos 80 e nos últimos anos não participou ativamente da cena literária, pois está com asaúde sensível. Em 1982 Carlos de Assumpção ficou em 1° lugar no II Concurso de Poesia Falada deAraraquara/ SP com o poema “Protesto”. Em 1958, por ocasião do 70° aniversário da Abolição, recebeu otítulo de Personalidade Negra, conferido pela Associação Cultural do Negro, em São Paulo/SP.

Para mim o principal moti-vo é mesmo estar há 8 anos segui-dos, todas as quartas-feiras à noite(e em todas elas futebol na TV,novela das 8), fazendo um saraude poesia, num bar na periferia.

Sem faltar nenhumaquarta, fazer desse dia um marcona cena literária dos becos e vilas.

É de tudo quanto é que-brada que na sagrada quarta sur-gem homens e mulheres, de crian-ças a pessoas da melhor idade,muitos jovens, do hip hop, do sam-ba, do maracatu, da capoeira, dobatente no pesado, professores,motoristas, autônomos, todospelo mesmo ideal e objetivo; falare ouvir, declamar uma poesia ousimplesmente se maravilhar comos poetas, que fazem rir e chorar,às vezes chorar de rir. Emociona,as pernas tremem na hora deencarar o microfone e a comuni-dade.

Por trás, na estrutura,encontramos na linha de frente opoeta Sérgio Vaz, quarenta epoucos anos, comemorou 20anos de poesia com o lançamentodo livro “Colecionador de Pedras”(Global Editora), depois narrou sua

tragetória e do Sarau no “Cooperifa –Antropologia Periférica” (Aeroplano Editora).

Mas Vaz não está sozinho, pareceaté os Racionais: Apoiados por mais de 50mil manos.

Na estrutura do barato vemospessoas sérias como Marcio Batista (Meni-nos do Brasil, independente), Rose Dorea,Cocão e Will (Versão Popular), Professora Lú,Jairo (Periafricania), Sales e outros tantos depunhos serrados.

Só por isso, 8 anos de Sarau járepresenta, mas tem ainda a Chuva de Livros,Prêmio Cooperifa, Poesia no ar, CD dePoesias, Livro Rastilho de Polvorá e tantosoutros motivos para afirmar que a Cooperifarepresenta.

Lá se tornou um quilombo cultural.Vai quarta, vem quarta, mesmo com jogo daseleção, libertadores, novela A, B e C. Elesestão no Bar do Zé Batidão, na ChácaraSantana, zona sul de São Paulo.

E o Sérgio Vaz inicia sempre assim:-Povo Lindo, Povo inteligente!

Page 13: Boletim do Kaos #9

Por Heloisa Buarque de Holanda

Nos anos 70 do século pas-sado, surgiu, com força total no Rio deJaneiro, um movimento literário chama-do poesia marginal. No século XXI,vemos em São Paulo a consolidação deum outro movimento chamado LiteraturaMarginal. Coincidência? Existe algumparentesco entre os dois movimentoschamados marginais?

À primeira vista, eu diria quenão. Os poetas marginais cariocas eram,em sua quase totalidade, universitários,pertencentes à classe média, digamosuma classe média mais para alta do quepara baixa, pregavam a alegria e a irre-verência, e eram claramente contra-culturais. Ou seja: contra a literaturaestabelecida, contra o mercado, con-tra o sistema. Produziam seus livrinhosdescartáveis domesticamente no re-gime de cooperativas e enfrentavam omomento pesado e ameaçador da dita-dura militar, com leveza e bom humor.O nome marginal vinha por conta de umaposição contra o sistema fosse elepolítico, religioso, educacional, inclu-sive o literário. Aparentemente, não sequeriam escritores e, como diziam,escreviam “ao acaso”, tentando fundirvida e obra. Marginais, portanto porvontade própria, por decisão e opçãoideológica e literária.

Já os escritores que compõema literatura marginal, cujo quartel gen-eral são as periferias de São Paulo, sãode classe baixa ou média baixa, moramem comunidades desassistidas peloEstado, com problemas sérios de infra-estrutura, saúde e educação. Sem falarna violência gerada pelos embatescontínuos do tráfico de droga nessasquebradas. Pregam a escrita como arma,a ação em prol de suas comunidades, aguerrilha de informação com a qualdesafiam a invisibilidade que lhes foiimposta e, sobretudo, pregam o compro-misso com a educação e o domínio dapalavra como legítimos instrumentos depoder.

Não são exatamente contra o“sistema”, como seus antecessores ca-riocas, mas exigem, com garra, ingerên-cia neste sistema. Não são contra acultura nem contra a instituição literária,mas exigem o direito de acesso à cultu-ra como leitores e como criadores. Fi-nal-mente, não são como seus colegasdos anos 70, marginais por opção, massim marginais por exclusão involuntária.E, pela rapidez e firmeza do movimento,estão na direção certa para, mais cedodo que se imagina, deixarem de sermarginais.

Entretanto, se chegarmos maisperto dos dois fenômenos marginais empauta aqui, podemos começar a identi-ficar algumas semelhanças que não sãode se desprezar.

Ambos são estratégias de en-frentamento de contextos ou situações

adversas. O primeiro fazendo frente àsituação de arbitrariedade e violênciada ditadura militar; o segundo àsituação de desigualdade e exclusãoa que o estado e a sociedade osrelegaram.

Em ambos, ainda que comfortes diferenças, mas nunca diver-gências, a palavra e a poesia tornam-se recursos e mesmo armas na lutacontra a invisibilidade, o silêncio, aviolência. Ou, para usar um termo dosanos 70, ao “sufoco” de uma situaçãoadversa.

Em ambos, vemos a experi-ência de novas formas de fazerpolítica. Nos poetas marginais, o usodo humor e do vitalismo como instru-mento de transformação e enfren-tamento político; nos autores daliteratura marginal, o compromisso nãomais com a resistência nem com oenfrentamento, mas com uma políticaproativa, de ação pragmática, na quala cultura é arma e moeda para ainclusão social e a transformação desuas quebradas.

Em ambos, a articulação pro-dutiva entre música, ritmo e palavra.Se os marginais dos anos 70 tinhamuma ligação visceral com o rock, seuestilo e comportamento revolucioná-rios, nos anos 90, a literatura marginaljá nasce comprometida com a estéticae com o impulso transformador do rap.Nas apresentações - Artimanhas noprimeiro caso, e Saraus no segundo -a afinidade profunda entre música eliteratura se mostra não apenas vis-ceral mas sobretudo funcional emtermos de tradução do potencial trans-gressor de sua época.

Nos dois projetos de criaçãoliterária marginal, o sistema editorial,um tanto perverso e viciado nosquesitos preço e raio de alcance dadistribuição, se mostra pouco adequa-do ou suficiente para o propósitolibertário marginal. O resultado é, aindaem ambos os casos, o investimentocriativo em novas políticas editoriaismais independentes, eficazes e afeti-vas em relação ao livro e à palavra. Aprova disso são as atividades desen-volvidas nos anos 70 pelos selos ca-riocas Nuvem Cigana, Capricho, Vidade Artista e muitos outros, e agora nosselos paulistas Toró e Selo Povo.

E, finalmente, em ambas, abandeira de uma bandeira valiosa: adefesa do direito de invenção dalinguagem como instrumento própriode expressão, desafiando a norma cultae o preconceito linguístico. Tanto napoesia marginal dos anos 70 quanto naliteratura marginal de hoje, o que há demais importante é a firme-za de umaexperiência inovadora com a oralidade,com a musicalidade, com os recursosexpressivos de seu próprio CEP.

Não é uma grande surpresao fato de que os dois movimentos –ambos autodenominados marginais -tenham causado irritação e geradoácidas polêmicas na academia e en-tre os puristas da língua e do cânoneliterário. Afinal, não é sempre que seconsegue colocar, em zona de riscoe com eficácia, a pergunta que, hávárias décadas, não quer calar:

Afinal, o que é literatura,para quê e para quemdeve servir?

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Um momento único na vida ena carreira, lançar o filme"Profissão MC" no Cine Odeon

Texto: Alessandro Buzo

Fotos: Marilda Borges

Ontem foi um dia "perfeito" em matéria dereconhecimento do meu trabalho.

Acabava de dar entrevista por telefone para a RádioCBN de São Paulo e chegou o táxi para me levar aolançamento do filme "Profissão MC", de Alessandro Buzo eToni Nogueira, pelo encerramento do "Hutúz Filme Festi-val", no Cine Odeon Petrobrás, o TOP do Rio.

Cheguei ao Odeon na Cinelândia e tirava umas fotos,quando chegou para me prestigiar o amigo Guti Fraga (Nósdo Morro). Ele me sequestrou por 10 minutos para tomar umchope, no bar ao lado do cinema, que tem milhares de mesase pessoas na calçada. Colamos na mesa de um amigo dele,que o Guti fez questão de me apresentar, o ator e hojevereador do RJ, Stepan Nercesian. Ele foi super atenciosocomigo, disse que o Guti fala direto do trampo. Presenteeiele com um exemplar de "Guerreira", tomei o chope e volteipara o Odeon.

Nessa, chega o Toni Nogueira, vai chegando um,outro. Rapa do Enraizados (Dudu, Dumont, Tomassin, Jane,Re.Fem), chegaram uns manos do rap, que o Criolo haviaconvidado. Um mano da Jamaica, umas crianças de um projetoque também chegaram. DMC, Silvia Ramos, Vera (Primeira topmodel internacional do Brasil, desfilou na Chanel). Nãolotamos o Odeon, nem tínhamos essa pretensão, mascolaram poucas e importantes pessoas. Nem eram tão poucasassim. O Negrala do Rappa, o pessoal da CUFA, a Isabel abriucom uma fala, depois assistimos ao filme e no final, depoisdos aplausos, debate com os diretores e o protagonista,(Alessandro Buzo, Toni Nogueira e Criolo Doido). A rapperNega Gizza abriu a parte final e fez a mediação.

Depois fomos tomar uma gelada que era pracomemorar e também molhar as palavras.

Obrigado a todos que participaram direta ouindiretamente do meu projeto de filme, o sucesso que eleestá fazendo, divido com todos.

Valeu DGT Filmes por acreditar.

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RAPadura, ganhador de Melhor Grupo Norte Nordesteda década, lança Fita Embolada do Engenho

levar cultura, queremos saber o que o outro vem fazendo”,comenta o idealizador da caminhada.

Biblioteca sobre rodasA segunda edição da expedição foi percorrer aldeias indígenas

do litoral paulista, o destino final era Cananéia. A terceira edição a rotacaipira, o destino final foi Botucatu. Em média, o grupo costuma caminharde 20 a 30 km, mas nem sempre juntos. “Sempre tem alguém querendoconversar com algum morador que encontra”, diz Binho. Próximopasso da expedição é, através de patrocínio, cruzar a fronteira do Brasilcom o Paraguai, ou quem sabe, Argentina.

Bicicloteca: No Meio do Caminho Tem um LivroO projeto de construir uma biblioteca itinerante nasceu quando

a expedição estava em Mongaguá. Lá, adquiriram uma por R$ 39 econseguiram levantar mais de duzentos livros que ofereceram de portaem porta de cada morador da cidade.

O projeto “Bicicloteca: No Meio do Caminho Tem um Livro” veiopara São Paulo e contemplado pelo programa de valorização a cultura-VAI, Campo Limpo, agora dispõe de duas bibliotecas sobre rodas comlivros que podem ser emprestados a qualquer momento. Por ser umaregião de morro, a bicicleta percorre até 3 km diários, mas tem um localfixo próximo ao ponto de ônibus.

Uma vez, um dos motoristas de ônibus parou em frente a umadas bicicletas estacionadas e fez uma encomenda: que no acervo tivessemais livros do autor Edgar Allan Poe. Binho quer colocar uma placa dizendoque a Bicicloteca aceita também encomendas. “O importante é ler. Olivro que não voltar é lucro”, comenta Binho. O acervo de quatro millivros da Bicicloteca que vai de clássicos da literatura a gibis foramconseguidos através de doações.

Mais de 700 livros já foram emprestados, ao menos quarenta pordia. A Bicicloteca está localizada nos pontos de ônibus da Avenida CarlosLacerda, n° 678, e da Estrada do Campo Limpo, n° 1.600.

Ele foi apresentado pelo rapper GOG mas logo seu talento fez o rapper de chapéude palha e sandália de couro se tornar uma grata surpresa da cena do hip hop atual.

O mano de Lagoa Seca - CE, lança uma sua primeira Mixtape. "A fita emboladado engenho são músicas extraídas da nossa rica cultura nordestina, espero quepossa mostrar o que é Rap Nacional de verdade, um Rap extraído das nossasterras. Faço algo com a cara do nosso país, do meu estado.” declara o rapper quevai da levada do rap ao repente com a naturalidade da nova geração.

Sobre o título conquistado no prêmio Hutúz, o rapper RAPadurarespondeu por MSN: “É mais que uma premiação cabra, mais que um título, ésentir no peito que os anos de arado estão rendendo boas colheitas. Époder gritar o norte do norte nordeste no topo, poder ser umrepresentante de todo um povo, de toda, uma cultura. Representa maisque o rap, mais que a música, representa espirito, alma. Representa a vozdo povo na minha fala, nas expressões do corpo, em cada traço de suor.”

myspace.com/rapadurarap

poetas criadores do Cooperifa,SÉrgio Vaz e Marcio Batista, projetoque estou envolvido, do qual tenhoo maior orgulho por ser verdadei-ramente original como meu traba-lho. O Toca Brasil fortaleceu muitomeu trabalho e minha relação coma Cooperifa, pois, houve algo inusi-tado, os poetas declamaram ao somde fundo(trilha sonora) da 1BANDA(UMBANDA), minha banda de apoio,causando verdadeira catarse nopúblico presente, como também,marcando a história da música bra-sileira da nova geração...” declarouWesley.

w w w . y o u t u b e . c o m / w e s l e y n o o gwww.myspace.com/wesleynoog

Invadindocidades embusca decultura ediversidadePor Beatriz MonteiroCatrac Livre

Projeto idealizado porRobson Padial, Binho, Expedi-ción Por Donde Miras percorrecidades do Brasil levando cul-tura e conhecendo novasformas de arte.

Do Campo Limpo à AméricaLatina. Essa era a ideia inicialde Binho, conhecido organiza-dor do Sarau que leva seu

nome no Campo Limpo. “A América Latina parece uma parede, fechada para nós”, comenta oescritor. Ao lado de seu amigo, Serginho Poeta, Binho decidiu começar uma caminhada cultural.

O que contava apenas com duas pessoas ganhou forma e tornou-se uma expedição.Nasce, portanto, a Expedición Donde Miras - Caminhada Cultural pela América Latina. Um projeto quereúne poetas, atores, músicos, dançarinos, artistas plásticos, entre outros. Que saem, a pé,percorrendo outras cidades em busca de um intercâmbio cultural preenchendo espaços públicosencontrados, realizando saraus em praças públicas.

“A pé, qualquer pessoa é capaz de acompanhar e faz com que você consigacontemplar, meditar e se tornar parte da paisagem”, define Binho.

Mais de 1000 km percorridos por dois estados brasileiros. São Paulo e Paraná. Desde de2008, a expedição já realizou três viagens: Pelo Vale do Ribeira, destino final Curitiba. Por lá,passaram por quilombos e aldeias indígenas. Essa primeira expedição durou um mês. O que Binhobusca com as caminhadas é levar a arte de um grupo e conhecer a arte do outro. No dia em quechegam à cidade, buscam recrutar artistas e os convidam a misturar-se a eles. “Não queremos

Wesley representando a música periférica

Wesley Nóog, após o retorno da turnê pela França, tocade graça no Itaú Cultural em São Paulo, com transmissão ao vivopelo site da Instituição. Esse show é parte do projeto Toca Brasil“É um projeto importante no contexto atual da músicano Brasil, sob coordenação do meu amigo Edson Natale.Um dos objetivos é revelar novos nomes que tenhamconteúdo e proposta. Ao chegar da turnê pela europa,especificamente França, tive a agradável surpresa de serconvidado pelo Edson Natale para abrir a semana do TocaBrasil. Aceitei de imediato, pois, meu novo CD "MamelucoAfro Brasileiro" tem tudo a ver com o nome Itaú, que éuma palavra em tupi, que quer dizer pedra preta. O CD éuma espécie de filme sonoro que reflete liricamente aformação do nosso povo, a beleza, feminina, os orixás,minha função na história, entre outras coisas, então, foio casamento perfeito. O show foi transmitido ao vivopela Internet, sendo considerado com um dos maisinusitados, mesmo porque, houve a participação dos

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