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Boletim Informativo da Associação Portuguesa dos Industriais da Borracha Editorial “O ambiente económico em Portugal tarda a descolar”. Este é o tipo de afirmação que ouvimos diariamente, seja de analistas encartados ou do cidadão comum”. Mas o mais desmotivador é que não conseguimos encontrar argumentos para sustentar uma discordância. Só com uma dose utópica de optimismo poderemos fazer uma leitura diferente a partir dos indicadores que são publicados pelas entidades oficiais. Seja a resiliência do elevado valor do défice orçamental, seja o grande défice da balança de pagamentos ou o falhanço das previsões anteriores optimistas de crescimento do Produto Interno Bruto. Por muito que o discurso oficial dos nossos governantes apele a uma melhoria do nosso “astral” o que é certo é que o cidadão comum, que somos nós todos, não encontra uma base sustentada para mudar de atitude. Já quase não é notícia o encerramento certo de empresas, de tão corrente que se tornou. E a partir do próximo ano, as regiões norte e centro, correm o risco de continuar a ver empresas do sector têxtil reduzir a actividade ou, no limite, a declarar a falência. E a razão é muito simples, reside no facto incontornável de caírem as barreiras alfandegárias à entrada de têxteis da China no mercado comunitário, em consequência da adesão daquele gigantesco país à Organização Mundial do Comércio. O custo do factor trabalho é de tal forma mais reduzido no Império do Meio que elimina quaisquer sonhos de concorrência baseada apenas no preço. E a seguir virá a Índia... Claro que esta situação não é nova no sector da borracha, onde essa concorrência, já se faz sentir há bastante tempo. E bem podemos argumentar que a legislação de trabalho na República Popular da China ( e não só ) não respeita as mesmas regras de protecção do trabalhador, que a protecção social é muito mais limitada ( se existe ), que o respeito pela protecção ambiental é desconhecido, que…, que…. Não vale a pena ter ilusões. As alternativas disponíveis para a manutenção e eventual crescimento no sector, em Portugal, passam pelos vectores: desenvolvimento de produtos inovadores com alto conteúdo de “Know-how”, portanto difíceis de copiar; agregação de uma componente importante de serviço ao cliente, que garanta a fidelização deste e evitando a fuga para produtos concorrentes de baixo preço; deslocalização dos locais de produção para os países de baixo custo de mão-de-obra, mantendo em Portugal a investigação e o desenvolvimento, ou seja, a “massa cinzenta”; criação de parcerias com outros actores do tecido industrial, com vista ao desenvolvimento de sistemas que incorporem os componentes desenvolvidos especificamente por cada um dos parceiros, subindo, por isso, na cadeia de valor. O sector dos GRG’s (artefactos) é, naturalmente, o mais vulnerável, até porque é constituído especialmente por pequenas empresas, que deveriam crescer fortemente (seja organicamente ou por fusões e aquisições) por forma a adquirir massa crítica propiciadora de aproveitamento de sinergias e com capacidade de investimento na Investigação e Desenvolvimento. Muito mais poderíamos elaborar sobre este assunto, mas se os industriais do sector não se decidirem a debater o tema em conjunto de forma a delinear estratégias de resistência e crescimento, não valerá a pena perder tempo com análises por demais óbvias. O Presidente da Direcção da APIB A. Lopes Seabra, Engº APIB BOLETIM INFORMATIVO Associação Portuguesa dos Industriais da Borracha Rua Dr. Eduardo Torres, 1734 R/C Dto 4460 SENHORA DA HORA Telef: 229373994/Fax: 229351363 Contribuinte Nº 500 910 162 APIB Ano 9, nº 16 Fevereiro de 2006 “Por muito que o discurso oficial dos nossos governantes apele a uma melhoria do nosso “astral”, o que é certo é que o cidadão comum que somos nós todos, não encontra uma base sustentada para mudar de atitude”. 1

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Boletim Informativo da Associação Portuguesa dos Industriais da Borracha

Editorial

“O ambiente económico em Portugal tarda a descolar”. Este é o tipo de afirmação que ouvimos diariamente, seja de analistas encartados ou do cidadão comum”.

Mas o mais desmotivador é que não conseguimos encontrar argumentos para sustentar uma discordância. Só com uma dose utópica de optimismo poderemos fazer uma leitura diferente a partir dos indicadores que são publicados pelas entidades oficiais. Seja a resiliência do elevado valor do défice orçamental, seja o grande défice da balança de pagamentos ou o falhanço das previsões anteriores optimistas de crescimento do Produto Interno Bruto.

Por muito que o discurso oficial dos nossos governantes apele a uma melhoria do nosso “astral” o que é certo é que o cidadão comum, que somos nós todos, não encontra uma base sustentada para mudar de atitude.

Já quase não é notícia o encerramento certo de empresas, de tão corrente que se tornou. E a partir do próximo ano, as regiões norte e centro, correm o risco de continuar a ver empresas do sector têxtil reduzir a actividade ou, no limite, a declarar a falência. E a razão é muito simples, reside no facto incontornável de caírem as

barreiras alfandegárias à entrada de têxteis da China no mercado comunitário, em consequência da adesão daquele gigantesco país à Organização Mundial do Comércio. O custo do factor trabalho é de tal forma mais reduzido no Império do Meio que elimina quaisquer sonhos de concorrência baseada apenas no preço. E a seguir virá a Índia...

Claro que esta situação não é nova no sector da borracha, onde essa concorrência, já se faz sentir há bastante tempo. E bem podemos argumentar que a legislação de trabalho na República Popular da China ( e não só ) não respeita as mesmas regras de protecção do trabalhador, que a protecção social é muito mais limitada ( se existe ), que o respeito pela protecção ambiental é desconhecido, que…, que….

Não vale a pena ter ilusões. As alternativas disponíveis para a manutenção e eventual crescimento no sector, em Portugal, passam pelos vectores: desenvolvimento de produtos inovadores com alto conteúdo de “Know-how”, portanto difíceis de copiar; agregação de uma componente importante de serviço ao cliente, que garanta a fidelização deste e evitando a fuga para produtos concorrentes de baixo preço; deslocalização dos

locais de produção para os países de baixo custo de mão-de-obra, mantendo em Portugal a investigação e o desenvolvimento, ou seja, a “massa cinzenta”; criação de parcerias com outros actores do tecido industrial, com vista ao desenvolvimento de sistemas que incorporem os componentes desenvolvidos especificamente por cada um dos parceiros, subindo, por isso, na cadeia de valor.

O sector dos GRG’s (artefactos) é, naturalmente, o mais vulnerável, até porque é constituído especialmente por pequenas empresas, que deveriam crescer fortemente (seja organicamente ou por fusões e aquisições) por forma a adquirir massa crítica propiciadora de aproveitamento de sinergias e com capacidade de investimento na Investigação e Desenvolvimento.

Muito mais poderíamos elaborar sobre este assunto, mas se os industriais do sector não se decidirem a debater o tema em conjunto de forma a delinear estratégias de resistência e crescimento, não valerá a pena perder tempo com análises por demais óbvias.

O Presidente da Direcção da APIB A. Lopes Seabra, Engº

APIB

BOLETIM

INFORMATIVO

Associação Portuguesa dos Industriais da Borracha

Rua Dr. Eduardo Torres, 1734 R/C Dto

4460 SENHORA DA HORA

Telef: 229373994/Fax: 229351363

Contribuinte Nº 500 910 162

APIB

Ano 9, nº 16

Fevereiro de 2006

“Por muito que o discurso oficial dos nossos governantes apele a uma melhoria do nosso “astral”, o que é certo é que o cidadão comum que somos nós todos, não encontra uma

base sustentada para mudar de atitude”.

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1 Editorial

3 BLIC - Relatório Anual 2003-2004

5 - 6 Reflexões sobre a China e as economias ocidentais

2 Fontes de energia alternativas

4 Empobor – Uma Organização preparada para o futuro

6 Curiosidades Publicações Recebidas

índice

Fontes de energia alternativas

Os problemas criados à indústria transformadora e ao sector dos transportes pelas sucessivas crises do petróleo têm sido tema obrigatório dos inúmeros colóquios e seminários promovidos por entidades ligadas aquelas actividades. Entre nós, discute-se e reivindica-se, sem qualquer proveito; lá fora, prefere-se incentivar estudos e subsidiar a investigação e desenvolvimento de novas fontes de energia.

Por nos parecer de intersse, transcrevemos, com a devida vénia, os pontos mais curiosos de um artigo publicado na revista “Além- Mar”, em Novembro último.

Hidrogénio: “limpo” como a água

O hidrogénio está a ser encarado como a energia do futuro: inesgotável e praticamente não poluente. É o elemento químico mais abundante no universo, o mais leve e o que contém maior valor energético. A única complicação reside no facto de nunca se encontrar isoladamente, mas sempre combinado com outros elementos. Pode ser produzido através da electrólise de soluções aquosas ou da reacção entre o vapor da água e hidrocarbonetos.

Como o recurso aos hidrocarbonetos continua a envolver a eliminação de poluentes, a esperança dos investigadores centra-se sobretudo na água (H2O) o que não é difícil de perceber: imagine-se um motor que só liberte

vapor... Até aqui a maior dificuldade consiste na quantidade de energia necessária para “ libertar” o hidrogénio do oxigénio, bem como os custos do processo. Infelizmente, no futuro imediato, o recurso aos hidrocarbonetos continua a ser a alternativa mais económica e viável.

Nas últimas 4 décadas, a Europa tem investido amplos recursos na investigação e desenvolvimento desta energia que, ao não produzir emissões poluentes, pode ajudar a alcançar os objectivos do Protocolo de Quioto (1997) de reduzir em mais de 5% a emissão de gases com efeito de estufa entre 2008 e 2012.

A BMW alemã, por exemplo, produz já modelos de automóveis a hidrogénio.

Ainda recentemente foi assinado nos Açores um protocolo que visa a instalação de uma central de produção de hidrogénio na Ilha Terceira. O hidrogénio que vier a ser produzido destina-se à rede de electricidade do arquipélago e a acções de demonstração na propulsão de veículos e aquecimento de águas.

Nos Estados Unidos foi anunciado, há um ano, um investimento de 1700 milhões de dólares no desenvolvimento de automóveis movidos a hidrogénio e fábricas como a Ford e a General Motors aderiram já ao projecto. Esta última conta vender na próxima década um milhão de veículos a hidrogénio.

Neste momento, várias cidades da

Europa trazem em experiência aoutocarros movidos a hidrogénio.

Por exemplo, no Porto vários

destes autocarros rodam continuamente nas linhas que

servem o centro da cidade

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European Association of Rubber Industry

Relatório Anual 2003-2004

“REACH” Nova política sobre produtos químicos da União Europeis

... Em seguimento da publicação, em Fevereiro de 2001, do “White Paper” sobre a Estratégia para uma Política Futura sobre Produtos Químicos, a Comissão responsável lançou em Maio de 2003 uma consulta pela Internet com o propósito de reunir comentários das entidades interessadas sobre uma proposta de estratégia para garantir um alto grau de segurança dos produtos químicos através de um sistema de REGISTO, AVALIAÇÃO e AUTORIZAÇÃO de PRODUTOS QUÍMICOS, conhecido como o sistema “REACH”. ... O Comissário para o Ambiente caracterizou o REACH como o sistema mundial mais avançado para a gestão dos Produtos Químicos. Tem como objectivo desenvolver mecanismos e procedimentos que responsabilizariam não apenas os produtores de Químicos mas também os utentes a jusante, tais como os industriais de borracha. Deste modo, seriam disponibilizadas informações acerca da utilização corrente de Produtos Químicos, prevenindo sobre os perigos, os riscos e medidas para a sua redução. O objectivo é criar um clima de maior confiança nas substâncias químicas em uso, que não oferecem perigo nem para as pessoas nem para o ambiente. ... O BLIC deu o seu contributo a esta consulta pela Internet e informou, nos princípios de Julho, a Comissão Europeia e os seus parceiros da indústria quanto às preocupações do sector industrial da borracha.

O Parlamento Europeu aprovou em 17 de Novembro de 2005, por larga maioria, em primeira leitura, a directiva REACH tal como foi elaborada pelo grupo PPE-DE. Quer a Comissão Europeia quer as Associações da Indústria Química acolheram com satisfação a posição do Parlamento. No entanto, vários grupos políticos de oposição uniram-se e forçaram a introdução de normas de regulamentação que foram consideradas “inexequíveis e excessivamente burocráticas”. Apesar disso, aguarda-se que, na segunda leitura do projecto de legislação, seja possível eliminar essas normas impeditivas e conseguir a aprovação definitiva do projecto. Desse modo, mais de 30.000 produtos químicos serão registados, no decurso dos próximos 11 anos, na agência Europeia dos Produtos Químicos.

Excertos da mensagem do Presidente:

... Os problemas ambientais preencheram de novo as nossas agendas de 2003, com exigências cada vez mais formalizadas. Tenhamos em conta o exemplo dos requisitos do programa “REACH” da União Europeia ... Além disso, começa a preocupar-nos o mais importante desafio do futuro que é, sem dúvida, o alargamento da União Europeia, a par das consequências que trará para a indústria. Uma grande parte dos industriais do nosso sector instalou já unidades de produção nos países novos membros onde teremos de fazer face a condições e estruturas diferentes.

Afirmações feitas no Relatório da Secretária Geral:

... O alargamento da U.E. oferece oportunidades importantes à indústria europeia em termos de investimento, especialização e novos mercados. Em certos casos, o alargamento ajudou a manter a produção na U.E., a qual poderia ter sido, de outro modo, desviada para a Ásia! Nos últimos anos, a indústria de borracha Europeia fez grandes investimentos em países como a Polónia, Hungria, República Checa e Eslováquia, tendo em vista equilibrar as suas actividades comerciais, entre membros da U.E. já existentes e os novos membros, de forma a tirar partido das potencialidades e vantagens da concorrência nas diferentes áreas da União!

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EMPOBOR

Uma Organização preparada para o futuro

Breve história

A EMPOBOR foi constituída em 1972, tendo como objectivo a produção de pasta de borracha que era matéria-prima das três fábricas de recauchutagem pertencentes aos três grupos de sócios fundadores. Foi possível, assim, contornar o monopólio de preços resultante da lei do condicionamento industrial vigente na época.

Actualmente, em consequência de dois processos de aquisição de quotas, o capital social da empresa – que é de 1.060.000,00 €, pertence unicamente a um dos grupos fundadores.

Em 1981, a alteração da tecnologia da indústria de recauchutagem originou o aparecimento de uma nova empresa, a BORVUL, cujo capital ascende a 300.000,00 € e é participante e participada da EMPOBOR. Dedica-se principalmente à produção de piso pré-vulcanizado, para além dos sacos e envelopes de recauchutagem e correias transportadoras.

Situação Actual

Em 2005, o volume de negócios da EMPOBOR atingiu 9.640.000,00 €. Tem 3 linhas de mistura, com misturadores de 180, 140 e 75 litros, sendo um Intermix e outros tangênciais. Uma das linhas está destinada exclusivamente à produção de misturas de côr. Em 2005, esta unidade misturou 11.200 tons. (bases + finais).

Recentemente, a sala de misturas foi completamente remodelada. Foi montado um novo sistema de transporte e pesagem de matérias-primas, assim como um novo sistema de gestão da própria sala, que automatizou, permitindo agora a rastreabilidade total.

Assumindo-se como uma fábrica de misturas, a EMPOBOR produz principalmente matéria-prima para a indústria de recauchutagem. No entanto, fabrica todo o tipo de misturas, seguindo as especificações dos seus clientes.

Por sua vez, em 2004 a Borvul facturou

4.800.000,00 euros, exportando 40% das suas vendas (38% para os mercados comunitários e 2% extra-comunitários)

Importa salientar que a BORVUL detem a 100% a BORVUL –ESPAÑA SL, sediada em Barcelona, firma comercial que opera no mercado espanhol e no norte de África, vendendo sobretudo produtos originários da EMPOBOR e da BORVUL.

Para promover as vendas no resto da Europa, América Latina e Canadá, o grupo EMPOBOR / BORVUL recorre a uma empresa com sede em Itália, a Intertrading & Consultants S.A.S.

No mercado nacional tem como seu maior

cliente a associada BORVUL a quem vende

34% da sua produção. Exporta 40% dos

seus fabricos, sendo 35% para o mercado

comunitário e 5% para extracomunitário.

A APIB agradece, sensibilizada, ao Sr. Engº

José Alberto Correia Simões de Sousa a sua

anuência à solicitação que lhe foi feita para nos

disponibilizar as informação aqui reproduzidas

que historiam o passado e os sucessos

actuais do grupo EMPOBOR /BORVUL, que

impulsionou e continua a dirigir.

O grupo está sediado em Pombal.

Telf: +351 236 200 680 / Fax: +351 236 200 689

E-mail: empoborail.telepac.pt

http:www.empobor.com

Endereço postal: Apartado 21 , 3101 – 901

Pombal - Portugal

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Quer a EMPOBOR, quer a BORVUL são empresas certificadas ISO 9001: 2000

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Reflexões sobre a China e as economias ocidentais

Os “muitos séculos de atraso” da China

Há cerca de 15 anos, realizou-se em Stratford-upon-Avon, terra natal de Shakespeare, em Inglaterra, a reunião anual dos fabricantes europeus de produtos de borracha. Estavam presentes todas as grandes marcas do sector, entre elas a Dunlop-Sumitomo, patrocinadora desse encontro, Michelin, Goodyear-Luxemburgo, Continental, Pirelli, Roulunds, Mabor, Nokia, Uniroyal, Gislaved, Firestone Hispania, Semperit, Vredestein, Avon, Phoenix, etc.

Alguém se lembrou de chamar a atenção para a concorrência ameaçadora dos produtores asiáticos que então provinha, essencialmente, do Japão e de Taiwan. Um dos presentes discordou do que parecia ser um consenso generalizado e ousou afirmar que o “perigo amarelo” de que se falava não tardaria a surgir da China...

O representante de uma conhecida marca de pneus, ridicularizou a afirmação, contra-argumentando que a China estava atrasada muitos séculos e nem por milagre poderia vir a tornar-se, nos nossos tempos, um concorrente das companhias ocidentais! Foi-lhe respondido que o conceito de que “um século tem 100 anos” não era hoje mais que uma definição escolar de medida de tempo porque, em termos práticos, bastaria que uma dúzia de fabricantes europeus ou americanos decidissem explorar o seu “know-how” em território chinês e os tais séculos de atraso não durariam mais que um ano...

Curiosamente, no ano seguinte, aquela marca de pneus, acompanhada por grandes empresas de vários sectores industriais, figurava na lista das inúmeras “joint-ventures” que, em tão curto espaço de tempo, estavam a constituir-se na China... Talvez ainda mais do que o apoio técnico e económico, a China beneficiou do fabuloso investimento financeiro que, por si mesma, não tinha possibilidades de mobilizar. O novo perigo amarelo depressa se consolidou, afectando seriamente as economias dos próprios países que ajudaram a China a sair do “quase nada para o quase tudo”.

As opiniões de um gigante económico americano

O Sr. Sal Monte, presidente da Kenrich Petrochemicals (USA), , um dos gigantes da indústria de polímeros, fez recentemente declarações à revista americana “Rubber & Plastics” sobre o presente e o futuro próximo da situação industrial na China onde operava, há mais de uma dezena de anos. Aquela revista publicou a sua análise do que se passou e do que acontece na China actual, completada com a antevisão das alterações que espera ver concretizadas no final de um novo período de 10 anos.

Antes, porém, afigura-se de todo o interesse apreciar as suas respostas às questões que lhe foram apresentadas pelo entrevistador. Inicialmente, foi-lhe perguntado se, ao aceitar fazer investimentos na China, não estaria a sujeitar-se ao risco de ser expoliado da sua propriedade intelectual. Sem rodeios, afirmou: “Na realidade eles já se apoderaram dela”... e esclareceu que se tinham apropriado não só da sua como das de todos os outros empresários. Deu, como exemplo, o facto de ter registado oficialmente 29 das suas patentes industriais que, muito simplesmente, eles ignoraram. “O nosso entendimento de propriedade industrial não cabe nos esquemas mentais Confucianos. Os chineses não compreendem que haja quem tome conta de uma ideia, que para eles é universal, e a confiem a um indivíduo, dizendo-lhe que é dele durante 15 ou 20 anos... O certo é que, se eles resolvem fazer dinheiro com essa ideia, fazem-no mesmo. Antes, porém, simulam desfazer-se em louvores que mais não são que “lip service”! Continuando, o Sr. Sal Monte garante: “Não têm qualquer intenção de pagar “royalties”. Porque haviam de fazê-lo? Sejamos realistas: Teremos de nos convencer que estamos ainda na China Vermelha...”.

Questionado sobre o que julga vir a ser o futuro de “tudo isto”, começou por confirmar que nós, os industriais do Ocidente, continuaremos a sofrer por mais 10 anos a invasão dos produtos chineses, a preços baixíssimos. E salientou que “é errada a justificação de que isso é apenas consequência de salários irrisórios porque, em boa verdade, eles não excedem os 3 a 4% dos seus custos de venda. Além da mão-de-obra, muitas outras vantagens influenciam os seus custos, sendo de destacar que, só por si, a taxa de câmbio que eles fixam para o dolar corresponde a uma vantagem de 35% a favor do seu “yuan”. Basicamente - continua o Sr. Sal Monte – trata-se do confronto entre um sistema de capitalismo de Estado e um sistema livre do

capitalismo empresarial. Nós temos obrigatoriamente de pensar em custos de implantação fabril, em lucros ou prejuízos, na segurança social e demais factores com que eles não se preocupam. Uma tremenda vantagem para eles”.

Apesar de tudo, é sua convicção que “o balão chinês rebentará um dia”, quando os nossos grandes grupos decidirem que não devem continuar a financiar por mais tempo os seus actuais parceiros. Ironicamente, não deixa de acrescentar que semelhante decisão só virá a ser uma realidade, depois dos financiadores ocidentais terem vendido na China milhões de carros... o que acontecerá, como prevê, dentro dos próximos 10 anos”.

Por outro lado, repetindo o desejo dos políticos americanos, não deixou de enfatizar “a probabilidade da economia chinesa vir a ser altamente penalizada pelo conflito que espera ver surgir dentro do Partido Comunista Chinês já que a sua ortodoxia doutrinária impõe que controlem severamente as estruturas capitalistas e as instituições que geram dinheiro.

Entretanto, no Ocidente, muita gente vai continuar a sofrer e perder-se-ão inúmeros postos de trabalho, sem que algo possa fazer-se para evitar a situação!”

Importa salientar que estas declarações do Sr. Sal Monte e outras que produziu sobre o mesmo tema foram classificadas como “explosivas” nos Estados Unidos.

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O pensamento actual no Ocidente Europeu Na Europa, são inúmeros os especialistas económicos que inserem as conclusões do Sr. Sal Monte no quadro típico das mais recentes utopias americanas. Na verdade, as últimas estatísticas disponíveis dão conta da existência de cerca de um milhar de “joint ventures” em que o “know-how” e a assistência técnica dos grandes grupos ocidentais, europeus e americanos, se transferiram para a China, com a justificação de que o fizeram por “estratégia de sobrevivência”. E os investidores do lado de cá do Atlântico –muitos deles igualmente gigantes industriais e

financeiros – sabem que “estratégias de sobrevivência” não podem ser estudadas em termos de curto prazo. Assim sendo, a experiência dos economistas europeus recomenda que, em relação à China, se tracem planos para largas décadas, revistos sempre que necessário. Conhecendo a paciência sem limites dos parceiros chineses (transformada num valioso património que utilizam nos contactos com o Ocidente), não será de adiar para o próximo século quaisquer “maus pensamentos” sobre a evolução comercial, económica, financeira e política da China? É, com certeza, mais avisado

substitui-los por “boas ideias” e planos realistas que permitam melhorar o relacionamento entre duas culturas que hoje ainda são antagónicas e amanhã poderão conciliar-se, gerando um manancial de proveitos mútuos. P.S. Na imensidão de um país como a China, com mais de um bilião de habitantes e recursos incomensuráveis, uma catástrofe telúrica ou um cataclismo económico podem ser noticiados para o exterior como meros acidentes locais... Selecção de textos e traduções a cargo de A.C.P.A.

PUBLICAÇÕES RECEBIDAS Estão à disposição, no secretariado da APIB, para consulta dos Senhores Associados, as publicações que lhe são enviadas,

normalmente, quer pelos Organismos Oficiais quer pelo BLIC e outras entidades. Entre elas, destacamos as seguintes:

Semanário Económico European Rubber Journal Tyres & Accessories Rubber & Plastic News (U.S.A.) INFOFSE – Instituto de Gestão do Fundo Social Europeu APCER – FORMAÇÃO – Revista da A.E.P. Relatório Mensal da Economia –Idem SAPATO – Centro Tecnológico do Calçado Anuário Estatístico de Portugal –Publicação do I.N.E. IAP MEDIA – Informação periódica do IAPMEI

Regulamento de Tarifas 2004 –publicação da A.P.D.L.

L’ Industrie du Caoutchouc en France et Europe – Relatórios

Anuais do S.N.C.P.

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CURIOSIDADES A Indústria Química movimenta 450.000 milhões de euros por ano e emprega cerca de 1,3 milhões de pessoas em 27.000 empresas.

Presentemente, regulam o sector mais de 40 directivas europeias