Boletim Informativo Património(s)repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/803/1/Boletim24.pdf ·...

21
neps boletim informativo 24 | Março de 2002 1 EDITORIAL Património(s): velhas e novas andanças Otília Lage FALANDO DE DEMOGRAFIA HISTÓRICA... Maria Norberta Amorim FALANDO DE PATRIMÓNIO... Alberto Correia INVESTIGADOR APRESENTA- SE: Francisco Messias Trindade Ferreira Elisabete Pinto APONTAMENTOS DE INVESTIGAÇÃO: Em torno da mortalidade infantil Francisco Messias T. Ferreira ARGUMENTOS: Estudantes moçambicanos em Portugal Luís Polanah INVENTÁRIO: Uma aproximação à documentação dos arquivos paroquiais Manuela Silva NOTÍCIAS: Novas publicação Festas Sanjoaninas, de Antonieta Costa Otília Lage editorial Boletim Informativo Núcleo de Estudos de População e Sociedade| Instituto de Ciências Sociais| U.M.| Guimarães| 24| Março de 2002 s u m á r i o Património(s): velhas e novas andanças 1 Até se chegar a esta consciên- cia crítica, pela voz desassombrada de Alexandre Herculano vinda do romantismo do séc. XIX, muito ca- minho foi preciso percorrer. A partir do momento em que o(s) património(s) se tornam uma mercadoria, um objecto oferecido ao consumo de massas, a distribui- ção do saber fixa-se em novas ca- tegorias. Desde logo, a categoria de público pede uma nova preci- são. As leituras, as publicações de vulgarização (consumo) permitem acumular saber, mas não nos per- mitem só por si tornar-nos sábios, nem produtores de saberes. Valor de culto e valor de expo- sição, suscitando processos soci- ais e culturais de acumulação mas também de fruição, integram, numa perspectiva do viver de dentro para fora, o valor patrimonial – capaci- dade de testemunho, elemento simbólico, instrumento pedagógico - de qualquer objecto, monumen- to, documento. Para além da utilidade (i)mediata, Significado e Beleza definem também uma peça de pa- trimónio. O conceito de Património Docu- mental liga-se intrinsecamente ao conceito de documento no seu du- plo sentido – de recurso, logo fun- cional, e de significado e sentido, logo cultural -, sendo no entanto mais complexo que os conceitos já de si complexos de Documento 3 , Informação 4 ou Fonte histórica 5 . Património distingue-se de do- cumento por especificar numa de- terminada cultura alguns elemen- tos, objectos, formas que se con- sideram particularmente significa- tivos e recebem por isso uma con- sideração especial, enquanto sus- ceptíveis de serem entendidos como testemunho de existências, de crenças, de formas de viver/sen- tir, e em tudo isso participando da definição da identidade dos povos, das populações. Assim, Património Documental não pode encerrar-se num só as- pecto, nem tão pouco nas catego- rias clássicas de Património Biblio- gráfico 6 e/ou de Património Arqui- vístico 7 . Seus repositórios principais, as Bibliotecas, os Arquivos e mais modernamente os Serviços de Do- cumentação, tiveram também his- toricamente vocações distintas 8 . Mas hoje, ao tomar-se a informa- ção 9 como recurso estratégico mui- tas dessas antigas diferenças ten- dem a esbater-se. Tal como a dife- rença entre Documento e Monu- mento deixa também de fazer sen- PATRIMÓNIO DOCUMENTAL: TERRITÓRIOS E PRÁTICAS “Se fosse rico, iria comprar a capelinha, iria comprar o pardieiro onde houvesse a ombreira gótica; os homens do progresso vender-me-iam isso tudo, porque havia de enganá-los; porque havia de prometer-lhes que converteria aquela em lupanar, este em casa de câmbio” 2

Transcript of Boletim Informativo Património(s)repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/803/1/Boletim24.pdf ·...

neps boletim informativo 24 | Março de 2002 1

EDITORIAL

Pat r im ónio( s) :velhas e novas andanças

Otília Lage

FALANDO DE

DEMOGRAFIA HISTÓRICA...Maria Norberta Amorim

FALANDO DE

PATRIMÓNIO...Alberto Correia

INVESTIGADOR APRESENTA- SE:Francisco MessiasTrindade Ferreira

Elisabete Pinto

APONTAMENTOS

DE INVESTIGAÇÃO:Em torno da

m ortalidade infant ilFrancisco Messias T. Ferreira

ARGUMENTOS:Estudantes m oçam bicanos

em PortugalLuís Polanah

INVENTÁRIO:Um a aproxim ação àdocum entação dos

arquivos paroquiaisManuela Silva

NOTÍCIAS:• Novas publicação

Festas Sanjoaninas,de Antonieta Costa

Otília Lageeditorial

Boletim InformativoNúcleo de Estudos de População e Sociedade| Instituto de Ciências Sociais| U.M.| Guimarães| 24| Março de 2002

s u

m

á

r

i o

Património(s): velhas e novas andanças 1

Até se chegar a esta consciên-cia crítica, pela voz desassombradade Alexandre Herculano vinda doromantismo do séc. XIX, muito ca-minho foi preciso percorrer.

A partir do momento em queo(s) património(s) se tornam umamercadoria, um objecto oferecidoao consumo de massas, a distribui-ção do saber fixa-se em novas ca-tegorias. Desde logo, a categoriade público pede uma nova preci-são. As leituras, as publicações devulgarização (consumo) permitemacumular saber, mas não nos per-mitem só por si tornar-nos sábios,nem produtores de saberes.

Valor de culto e valor de expo-sição, suscitando processos soci-ais e culturais de acumulação mastambém de fruição, integram, numaperspectiva do viver de dentro parafora, o valor patrimonial – capaci-dade de testemunho, elementosimbólico, instrumento pedagógico- de qualquer objecto, monumen-to, documento.

Para além da utilidade(i)mediata, Significado e Belezadefinem também uma peça de pa-trimónio.

O conceito de Património Docu-mental liga-se intrinsecamente ao

conceito de documento no seu du-plo sentido – de recurso, logo fun-cional, e de significado e sentido,logo cultural -, sendo no entantomais complexo que os conceitos jáde si complexos de Documento3 ,Informação 4 ou Fonte histórica 5 .

Património distingue-se de do-cumento por especificar numa de-terminada cultura alguns elemen-tos, objectos, formas que se con-sideram particularmente significa-tivos e recebem por isso uma con-sideração especial, enquanto sus-ceptíveis de serem entendidoscomo testemunho de existências,de crenças, de formas de viver/sen-tir, e em tudo isso participando dadefinição da identidade dos povos,das populações.

Assim, Património Documentalnão pode encerrar-se num só as-pecto, nem tão pouco nas catego-rias clássicas de Património Biblio-gráfico6 e/ou de Património Arqui-vístico7 .

Seus repositórios principais, asBibliotecas, os Arquivos e maismodernamente os Serviços de Do-cumentação, tiveram também his-toricamente vocações distintas8 .Mas hoje, ao tomar-se a informa-ção9 como recurso estratégico mui-tas dessas antigas diferenças ten-dem a esbater-se. Tal como a dife-rença entre Documento e Monu-mento deixa também de fazer sen-

PATRIMÓNIO DOCUMENTAL:TERRITÓRIOS E PRÁTICAS

“Se fosse r ico, ir ia comprar a capelinha, ir ia comprar o pardieiro ondehouvesse a ombreira gót ica; os homens do progresso vender-me- iamisso tudo, porque havia de enganá- los; porque havia de prometer- lhesque converter ia aquela em lupanar, este em casa de câmbio” 2

2 neps boletim informativo 24 | Março de 2002

editorial Otília Lage

tido, quando nos sentimos compe-lidos a perspectivar a “ informação,não como uma “forma” no sentidoplatónico do termo, mas como umarelação muito prática e muito ma-terial entre dois lugares, em que oprimeiro negoceia o que deve pre-valecer no segundo a fim de o tersob controlo e agir sobre ele à dis-tância.” Em todos os casos, toda-via, organização e comunicaçãodocumental e informacional sãoindissociáveis da história dos po-deres, das tecnologias e das ciên-cias, sendo portanto de grandecomplexidade o sistema patrimoni-al que lhes é subjacente.

Por outro lado, a ideia de Patri-mónio Documental abarca, paraalém dos domínios referidos, acer-vos de largo espectro e integrauma diversidade cada vez maior deespólios e colecções, conteúdos esuportes novos - cuja razão de serse funda na existência de informa-ção social, materializada em supor-tes físicos e implicada na dinâmicada comunicação também social. Es-tende-se a uma série de territóri-os em que a informação tem umadimensão instrumental: produtos eresultados de distintos processoshistóricos da terra e dos homens(registos, marcas, traços de activi-dades e de culturas de povos e daspopulações em determinados es-paços - tempos e realidades con-cretas – comportamentos, usos ecostumes, tradições, manifesta-ções culturais e artísticas (teatro,cantares, danças, música, feiras,romarias, etc.), actividades antigase recentes, objectos e instrumen-tos de trabalho, formas e objectosde culto, de instrução, educação,recreio e lazer. Estende-se, em sín-tese, a uma diversidade de mar-cas e manifestações materiais esimbólicas da memória e históriacolectivas da humanidade, da di-versidade de povos e culturas edas populações anónimas.

O património Documental assimentendido no quadro da históriadas populações, partilha e serve aconstrução das noções de Patrimó-

nio Histórico e Património Cultural,entendidos na sua complexidade eabrangência actuais de história ecultura, na sua acepção mais am-pla e concreta: trajectórias e his-tórias de vidas, modelos de com-portamentos, usos/costumes e ins-trumentos /objectos usados poruma população num dado espaço– tempo; realidades concretas deuma população, de um povo, o queconstitui a sua identidade em re-sultado interactivo de um dadoprocesso histórico; um todo coe-rente de relações mútuas (ex. igre-jas, pontes, etc. têm a ver com o“universo” contexto em que se in-serem, como expressão de grupos,pessoas; realidades dinâmicas (enão fixas nem imóveis) constituídaspor formas de trabalhar, rezar, can-tar, contar, etc. sujeitas a mudan-ças profundas, como por exemploas derivadas dos surtos migratóri-os, níveis diferentes de cultura, etc.

Enquanto Património, o Patri-mónio Documental, reclama comotodas as modalidadescategorizadas de Património a quesempre subjaz, medidas de defe-sa genéricas que vão desde a pro-moção do seu conhecimento, o in-cremento da sua pesquisa e levan-tamento, inventariação e classifica-ção, educação e promoção para atomada de consciência e utilizaçãorenovada de acções educativas,criação de centros de patrimóniodocumental (língua , literatura, ououtras fileiras em que se é histori-camente diferenciado e de que te-mos vários exemplos (Régua, Por-to e Vila Nova de Gaia – Os arma-zéns do Vinho do Porto – do localao global ; Guimarães – A Funda-ção no duplo sentido de origem esuporte da nacionalidade – da Ida-de Média à Indústria Moderna eContemporânea; Barcelos e VilaReal – A arte do Barro; Viana doCastelo – Mar, Serra, Rio, Terra;Porto – Granitos, Trabalhos da Pe-dra e da Madeira, Artes e Tratosdo Comércio, etc.; Populaçõesagrárias do Portugal rural – O Bor-da d’ Água ou O Seringador “Serin-ga o pobre, o r ico e o lavrador...”;Populações urbanas - Arqueologiaindustrial).

Em resultado ainda embrioná-rio deste tipo de entendimentoabrangente mas estruturado, so-mam-se-lhe outros exemplos detemas e tópicos de património do-cumental que os nossos alunos emPatrimónio e Turismo10 , começarama inventariar e classificar como ca-sos de sucesso e/ou a necessitarde intervenção: Filarmónicas e Ban-das Musicais, em suas envolventesnaturais e culturais – os Jardins eos Coretos, no Minho e Trás-os-Montes; Ex – Votos na Srª das Ne-ves de Bagunte, Vila do Conde ;Associações culturais e recreativas,da Foz , Porto; núcleo importantee desconhecido de mais de 200espécies de Livro Antigo (sec.XVI -XVIII) no Solar dos Pimentéis doséc.XVIII, aldeia de Castelo Bran-co perto de Mogadouro, reconhe-cido como imóvel de interesse pú-blico em 1996; plantas de arquitec-tura e traçados urbanísticos em V.Nova de Gaia, escondidas qual“Bela Adormecida”, fundos de em-presas mineiras, na Borralha, Co-missão dos Canais de Água do RioEste, Nine, mandados edificar porD. Maria I , etc. etc.

Importa então detalhar algunselementos para melhor se compre-ender como a noção de Patrimóniocultural, histórico e documental sefoi diacronicamente construindoentre nós, até começar de se im-bricar, nos nossos dias, no campodo Turismo Cultural.

Ora sendo “a história uma dis-ciplina predadora” 11 , apesar decontinuar a efectuar-se sempre noquadro da sua própria tradição, elavai procurar em todos os domíni-os, instrumentos para a sua pró-pria renovação e dos seus para-digmas.

Assim, os elementos de ordemgeral esboçados, delimitam tão sócampos de investigação e estudoa aprofundar e desenvolver, se sequer ter do Património a compre-ensão mais densa que ele exige.

Fenómeno histórico, ele próprioe o seu entendimento resultam em

MOMENTOS, NOMES,MODAS, DOCUMENTOS

PATRIMÓNIO DOCUMENTAL HISTÓRIA DAS POPULAÇÕES

Património(s): velhas e novas andanças

neps boletim informativo 24 | Março de 2002 3

grande medida de sucessivos mo-vimentos e correntes de actuaçãoe pensamento, ou simplesmentede enfoques diversos, modos e“modas” que explicam e fazem comque o que hoje consideramos Pa-trimónio, o respeito e a considera-ção que por ele temos, não seja oque era há 10 ou há 100 anos, nãosendo por certo o que virá a serno futuro.

E é por isso que pensar e/outrabalhar sobre Património Docu-mental exige conhecer e discutir asua história, concepções e valoresque explicam as medidas tomadasou a ausência delas, soluções queforam ou não dadas, para a adop-ção de outras posições ajustadasa novos valores.

São fragmentos - momentosonde relevam factos, nomes, do-cumentos e fontes - de uma suces-são de etapas cumulativas de umprocesso de construção histórica esocial do actual conceito de Patri-mónio histórico e cultural, outrostantos elementos chave com quese forjou a nossa consciência deum Património colectivo nacional.Nesse quadro de evolução históri-ca e sentidos múltiplos, se confi-gura, em co - construção, uma his-tória do nosso Património Docu-mental, função do seu registo/ pro-va/ conhecimento/ comunicação.

Da defesa das “antiguidadespátrias” aos documentos paraalicerçar conhecimentos e às fon-tes para o fazer da história, até àconservação de bens culturais na-cionais para fruição social colecti-va, vai um longo percurso, só line-ar no modo esquemático de tentarapreendê-lo. Percurso sempre me-diado por fontes, documentos e in-formação constituída por elemen-tos e suportes vários que, abran-gendo de modo tópico um arco tem-poral que vem do séc. XVI aos nos-sos dias, passamos a pontuar.

Depois da monumental empre-sa, já por nós aqui aludida, que foia Leitura Nova Manuelina12 -trans-crição dos documentos essenciaisda história pátria, elaborada du-rante quase meio século porcalígrafos humildes e iluministasdestacados - , publicava-se em

Évora (1553) a História das Ant igui-dades de Évora da autoria do gran-de humanista português André deResende e, 40 anos mais tarde,(1593) Li b r i q u a t u o r d eAnt iquitat ibus Lusitaniae , do mes-mo autor a quem se fica a deverainda Monumenta Romanorum inLusitanis Urbibus. Destaque-se ain-da de Francisco de Holanda - Dafabrica que fallece à cidade de Lisboa.Da Scien cia d o Desen h o eGeographia d’Entre Douro e Minho eTrás-os-Montes, de João de Barros.

De 1741 a 1759, publica-se aBibliotheca Lusitana, 13 magníficorepositório de história, crítica e cro-nologia, notícia dos autores portu-gueses e das suas obras, grandedicionário bibliográfico. Obra em 4volumes, actualmente republicadaem CDROM pela Comissão dos Des-cobrimentos Portugueses foi seuautor Diogo Barbosa Machado (1682-1772), nascido em Lisboa,mas mais conhecido por Abade deSever, por nesta freguesia (StºAdrião de Sever) da diocese deLamego haver sido colocado comopresbítero. Bibliógrafo,14 estudiosoe erudito constituiu uma seleccio-nada e excelente livraria ondeabundavam espécies de granderaridade que ofereceu a D. José eque D. João VI levou para o Brasil,onde viriam a constituir o fundo pri-mitivo da Biblioteca Nacional do Riode Janeiro.

Pela mesma ocasião começavama ser editadas as Memórias da Aca-demia Real de História Portuguesae nos anos 1747 e 1758, o PadreLuís Cardoso publicava as Memóri-as Paroquiais, obra ainda hoje deconsulta recomendada para quemse dedica ao estudo sistemáticodos Arquivos Paroquiais e à Re-constituição de Paróquias , desig-nadamente no campo da Demogra-fia Histórica.

Nos finais do séc. XVIII, viajan-tes estrangeiros eruditos percor-reram Portugal, registaram as suasobservações sobre paisagens,ambientes e transformações urba-nísticas, sinais de atitudes de(des)respeito para com os monu-mentos, sendo só mais tarde ( apartir de 1834) publicados os re-

sultados dessas viagens e/ou es-tadias. É o caso de Beckford e deMurphy e das suas “Travels”.

O nosso séc. XIX é pródigo emobras de idêntica naturezavocacionadas para o conhecimen-to e defesa do nosso património:Monumentos Pátrios in “Opúsculos”(1838) de Alexandre Herculano ;Monumentos Nacionais de MendesLeal, bibliotecário-mor do reino co-nhecido, pela sua pela defesa daactualização das leis de salvaguar-da do património; As Cidades e asVillas da Monarchia Portuguesa queteem brasões d’Armas (1860), Es-tudos históricos e archeológicos (1874) e Monumentos de Portugal(1886), de Vilhena Barbosa ; Cultode arte em Portugal e Arte Portugue-sa (1897) de Ramalho Ortigão; Ar-queologia Industrial Portuguesa – OsMoinhos15 de Sousa Viterbo; deLuciano Cordeiro, criador da Soci-edade de Geografia e autor de umRelatório para a reforma da Aca-demia de Belas Artes (criada em1836).Esse relatório, um livro so-bre o mesmo assunto do Marquêsde Sousa Holstein filho do Duquede Palmela e sub-inspector da Aca-demia de Belas Artes e um folhetode Joaquim de Vasconcelos, erudi-to de longa formação alemã e cria-dor da História de Arte em Portu-gal, constituem três peças docu-mentais de interesse para o co-nhecimento da história da defesado nosso património.

São ainda da segunda metadedeste século, os Estatutos da As-sociação dos Arquitectos Civis Por-tugueses 16 e os Estatutos do RealInstituto Arqueológico de Portu-gal17 .

Ainda neste século, surge umnovo tipo de manifestações de in-teresse pela preservação do nos-so património numa acepção jámais lata de património culturalque inclui a reflexão e o ensino,como o ilustra por exemplo a pu-blicação de Observações sobre oactual estado do ensino das artes emPortugal. A organização dos museuse o serviço dos monumentos histó-ricos e de arqueologia 18 e, em 1893,na Revista “Mundo da Arte” (nº13)Subsídios para uma reflexão sobre o

editorial Otília Lage

Património(s): velhas e novas andanças

4 neps boletim informativo 24 | Março de 2002

património cultural, de Mário Nunes.São aliás de referir também as pu-blicações periódicas vocacionadaspara a divulgação e defesa do Pa-trimónio, como a revista Panoramaque iniciada em 1837, vai durantemuitos anos ser importante meiode comunicabilidade no país e noBrasil, nela defendendo a salva-guarda do património, nomes comoVilhena Barbosa. Com o mesmoobjectivo, publica Herculano muitasoutras páginas, contos e romanceshistóricos, o Archivo Pit toresco e oUniverso Pit toresco que mais tardeirão ser continuadas por muitasoutras publicações como por exem-plo, já na década de 1970, a I nfor-mação Cultural , Boletim da Secre-taria de Estado da Cultura dedica-do à defesa e valorização do patri-mónio cultural português, ou aMínia publicação de Braga comAchegas documentais para o estudoe a defesa do património19

Assim às iniciativas de defesa evalorização do nosso património,inicialmente com expressão acen-tuada do histórico, arqueológico,arquitectónico e monumental, ve-mos suceder-se, ao longo de todoo séc. XX, um alargamento do cam-po e uma abrangência cada vezmaior da noção de Património tra-duzido designadamente na inten-sificação e diversificação das ex-pressões de defesa, análise sociale ideológica e enquadramento le-gal do património cultural e do pa-trimónio natural, não só à escalanacional, mas também local. Sãodisso expressão, na década de1980, a realização dos primeirosencontros de associações de de-fesa do património e a proliferaçãode publicações20

Mais próximo de nós eilustrativo de velhos e novos de-safios, preocupações e expectati-vas antigas e renovadas, face àpreservação, defesa e divulgaçãodo estado actual do nosso Patri-mónio Cultural e Documental,21

apenas duas referências bibliográ-ficas de síntese, a título de exem-plo:

“Direito do Património Cultural”,volume22 que reúne contribuiçõesimportantes nos campos do direi-to internacional, direito compara-do e direito nacional de autoresestrangeiros (franceses, italianos,espanhóis), nacionais e represen-tantes de Portugal nos trabalhosda Convenção do Unidroit sobre arestituição internacional de bensculturais roubados ou ilicitamenteexportados;

“Arqueologia, Património e Cul-tura” de Vítor Oliveira Jorge23 - con-junto de textos e ensaioscentrados na arqueologia e patri-mónio, mas de abrangência e inci-dência diversas,

De ambas as obras releva idên-tico esforço de se procurar desen-volver uma política nacional de pre-servação do nosso património cul-tural entendido na sua mais amplaacepção.

Esforço que se partilha, paranos (re)pensarmos e ao nosso Pa-trimónio Cultural e Documental nasua conservação/divulgação - re-curso colectivo de mediatizaçãocrescente - de que se virá a cri-ar mais viva consciência, na com-plexa sociedade portuguesa dehoje.

1 O editorial, cujo subtítulo parafra-seia Jorge de Sena, é adaptado deLAGE, Maria Otília Pereira - Abor-dar o Pat r im ónio Docum ental nasua Transversalidade e Em ergên-cia: História e Perspect ivas. Terr i-t ór ios, Prát icas e Desafios(Policopiado 2001, a publicar emCadernos NEPS)

2 Monge de Cister, romance históricode Alexandre Herculano, publica-do em 1844.

3 unidade de informação4 dados do conhecimento registados5 testemunho original, não re-elabo-

rado, do conhecimento do passa-do

6 saber humano produzido sob qual-quer modalidade e gravado/inscri-to em qualquer tecnologia e/ousuporte, “depositado” em bibliote-cas e constituindo referência bási-

ca do ensino/investigação/produ-ção de conhecimento

7 documentos de entidades públicase privadas, colectivas e individu-ais, integrados em sistemas semi -fechados de informação social comdeterminada estrutura (naturezaorgânica) e funcionalidade (servi-ço/uso) .Podem ser organizadosem fundos ou núcleos, séries e dis-tintas unidades arquivísticas – pro-cessos, colecções, registos acon-dicionados em unidades de insta-lação.

8 Bibliotecas -reunião/depósito dedocumentos de proveniências va-riadas, com a função prioritária dasua divulgação para estudo /pes-quisa; arquivos - reunião/depósitode documentos produzidos no âm-bito de actividades de certas enti-dades por motivos administrativos,jurídicos, históricos, com a funçãoprioritária de conservação e pro-va; Serviços de documentação -extracção de dados e informaçõesa partir de documentos e fontes,para o acesso aos conteúdos dosdocumentos e informação, atravésda sua descrição seleccionada parafins especializados.

9 Informação – “conjunto de dadosem forma compreensível, regista-dos em papel ou outro meio, e ca-paz de comunicação”

10 Cursos de Mestrado e Especializa-ção em Património e Turismo, U.M.-Guimarães, 2001-2002

11 Emmanuel Leroy-Ladurie12 Ver nossa comunicação “Patrimó-

nio Documental no Portugal deQuinhentos: Para uma nova leitu-ra da “Leitura Nova Manuelina“ queapresentámos ao Congresso His-tórico de Guimarães “D. Manuel ea sua Época”., Outubro, 2001.

13 Ibidem14 Inocêncio, notável bibliográfico,

mais perto de nós, publica oDiccionario Bibliographicoactualização da Bibliotheca Lusita-na

15 “O Arqueólogo Português”, vol. II,nº 8 e 9, 1896

16 Lisboa: Sociedade Tipográfica Fran-co- Portuguesa, 1864

17 Lisboa: Sociedade Tipográfica Fran-co- Portuguesa, 1869.

18 Lisboa, Imprensa Nacional, 187521 Lei de Bases do Património Cultu-

ral – Lei 107/2001 de 8/ 9; Estatu-to do Mecenato – Dec. Lei nº74/99; Regime geral de Arquivos ePatrimónio arquivístico– Dec.Leinº16/93 de 23/1.

22 Oeiras: Instituto Nacional da Ad-ministração (INA), 1996

23 Porto: Instituto Piaget, 2000.

RECURSO COLECTIVODE MEDIATIZAÇÃO

NOTAS

editorial Otília Lage

Património(s): velhas e novas andanças

neps boletim informativo 24 | Março de 2002 5

falando de demografia histórica... Maria Norberta Amorim

Na ilha do Pico um máximo po-pulacional foi atingido ao iniciar-se o terceiro quartel do séculoXIX. Ilha com extensas zonas deformação recente e declive acen-tuado, eram escassos os espa-ços onde a produção cerealíferatinha rendimento aceitável oumesmo viabilidade. Era precisoexplorar toda a terra, rasgandohortas, erguendo currais de vi-nha, fazendo roças para plantarinhames e árvores de fruto, m a-lhando feito e puxando brejo paracriar pastagens nos terrenos al-tos. As melhores terras de se-meadura eram disputadas numadimensão alargada, mais alarga-da do que a da própria freguesia.Comprar boa terra onde a hou-vesse era uma aspiração de todoaquele que adquiria algum capi-tal, caso mais comum dos emi-grantes de sucesso.

Situando-se a freguesia dasRibeiras na parte mais antiga dailha, os lugares mais ocidentais,Arrife, Cruz, Mansilhas, Ribeiras,Caminho de Cima ou Caminho deBaixo, com menos declive, erampropícios à cultura dos cereais,particularmente do milho, base dealimentação das gentes da ter-ra.

O cruzamento da base de da-dos demográfica das Ribeiras como Mapa da Matriz Predial de 1885relativa à freguesia, ordenadopelo nome dos proprietários, comos números das propriedades res-pectivas e o rendimento colec-tável total correspondente, per-mitia-nos uma abordagem ao xa-drez social da freguesia.

Utilizando o Mapa e analisan-do os próprios livros da Matriz emque se acompanha número a nú-mero todas as propriedades se-gundo o local, com a dimensão,tipo de cultura e quantidade desemente necessária, categoria doterreno, rendimento bruto e ren-dimento colectável, podemosconseguir uma maior aproximaçãoàs formas de vida das gentes que

viveram nas Ribeiras nos finais doséculo XIX.

Considerando os maiores pro-prietários das Ribeiras, verifica-se que dois deles tinham rendi-mentos colectáveis superiores a50$000 réis e três outros tinhamrendimentos colectáveis entre40$000 e 50$000 réis. Todos oscinco residiam entre o Arrife e oCaminho de Baixo, na actual pa-róquia de Santa Bárbara, zonaentão com menos de metade doshabitantes da freguesia.

Os dois maiores proprietáriosreferidos em 1885 eram José Sil-veira Jorge, do Caminho de Baixo(ver Boletim Informativo do NEPS,nº 17), com 85$296 réis e Joséde Lacerda Pereira e Sousa, dolugar das Ribeiras, com 57$296réis de rendimento colectável.

Irei deter-me aqui sobre es-tes dois casos.

De José Silveira Jorge sabe-mos já que era bisneto de umoutro grande proprietário que vi-veu no primeiro quartel do sécu-lo XVIII. Casam entos tardios e,eventualm ente, proventos de-cor r en t es da em igr ação bemsucedida e est ratégias m at r im o-niais adequadas conservaram ouavolum aram num período bisse-cular um pat r im ónio dest inado aum a repart ição penalizadora nosinícios do século XX (recordemosque José Silveira Jorge casoucedo com uma mulher jovem eteve onze filhos, dos quais ape-nas dois viriam a ausentar-se,tendo um outro falecido na in-fância).

Os 25 artigos na Matriz Predi-al referidos como propriedade deJosé Silveira Jorge não se locali-zavam todos na zona ocidentalda freguesia e pontilhavam-seentre o mar e a serra. Os dife-rentes tipos de terreno permiti-am a diversidade de culturas ne-cessária a uma economia de sub-sistência em que só alguns pro-

dutos eram destinados ao mer-cado. À beira mar demarcavam-se as vinhas, seguindo-se, nosterrenos mais planos, as terrasde semeadura; nas encostascrescia arvoredo e lenha, a abei-rar o planalto demarcavam-se asterras de criação e no planaltoestendiam-se as pastagens.

A casa do Caminho de Baixoem que vivia a família de JoséSilveira Jorge era das poucos ca-sas da freguesia que comporta-va loja e dois andares, além dacozinha e da casa da atafona.Neste período a cozinha era naMatriz identificada à parte e qua-se sempre construída separadada casa para evitar os incêndi-os, na medida em que se con-servavam as brasas debaixo decinza, para reacender o fogocada manhã. No aposento (quin-tal) dos proprietários com lavou-ras havia uma casa de atafonageralmente de dois pisos, locali-zando-se no piso térreo a pró-pria atafona de boi, onde eramoída a farinha para os gastosdomésticos e no segundo pisoguardava-se o pasto para o gado,as batatas e outros géneros deconsumo corrente, não sendoraro, em famílias numerosas, queaí dormissem os rapazes já cres-cidos.

O grande aposento da casa deJosé Silveira Jorge media 2850braças e incluía terra de semea-dura, vinha, arvoredo e lenha,cujo rendimento bruto respecti-vo era de 33$950 réis em milho,$800 réis em vinho, 1$000 réisem frutos diversos e 1$500 réisem lenha.

Encontramos na sua possenúmeros relativos a terrenos des-tinados exclusivamente a vinha.O primeiro, na chamada Ponta doBiscoito, tinha 65 braças e eraconsiderado de 3ª qualidade. Orendimento bruto respectivo eraapenas de $200 réis. No entan-to, era dono de três vinhas de1ª categoria no lugar das Pontas

6 neps boletim informativo 24 | Março de 2002

falando de demografia histórica... Maria Norberta Amorim

Negras, na parte oriental da fre-guesia. A primeira tinha 100 bra-ças e localizava-se na Ponta Fu-rada, com rendimento bruto de$600 réis. A segunda, no sítio daPonta Grossa, tinha 600 braçase o rendimento bruto foi calcula-do em 4$800 réis. A terceira, ain-da na Ponta Grossa, tinha 400braças e rendimento de 6$000réis. Não é de estranhar o factode José Silveira Jorge ter boaspropriedades no lugar das Pon-tas Negras, se considerarmos queos seus avós paternos, tambémproprietários, eram naturais des-se lugar. Em outros sítios da par-te ocidental da freguesia, a vi-nha crescia ao lado de outrasculturas. No sítio chamado doAreal tinha uma propriedade de75 braças, de 3ª qualidade, queproduzia vinho, no valor de $100réis, e milho, no valor de $090réis. Na Ladeira de Ana Monteirotinha uma terra de 1000 braças,com vinha de 3ª e rendimentobruto correspondente de 3$000réis e arvoredo de 1ª, com fru-tas diversas, com rendimentoavaliado em 1$600 réis. Outraterra de vinha e lenha, de 250braças, no sítio do Outeiro, ren-dia pela vinha 1$200 réis e pelalenha $800 réis. Outra proprie-dade de vinha e arvoredo, aindano Outeiro, de 225 braças, ren-dia pelo vinho $200 réis. Na La-deira do Biscoito, no lugar dasPontas Negras, uma terra de se-meadura de 3ª e vinha de 1ª, com150 braças, rendia pelo milho$350 réis e pelo vinho $600 réis.

Exclusivamente de semeadu-ra encontramos três números. Oprimeiro, de 175 braças, foi clas-sificado como de 2ª categoria,situava-se no sítio das Covas, dolugar do Arrife, e rendia 3$150réis de milho. O segundo, locali-zado no sítio do Areal, tinha 100braças, e de rendimento $525 réisde milho, sendo considerado de3ª categoria. O terceiro, de 1ªcategoria, tinha 595 braças e si-

tuava-se no sítio chamado Fajão,ainda na parte ocidental da fre-guesia. Rendia 16$800 réis demilho.

Nos terrenos de encosta cres-cia a lenha de forma espontâ-nea, com domínio das faias. Cor-tando as lenhas podiam fazer-sepequenas quintas com árvoresdiversas, sendo as laranjeiras asmais rentáveis dada a possívelexportação das laranjas. Umaterra de arvoredo de 1ª e lenha,com 1400 braças, no sítio dosBiscoitos, rendia pelas laranjas8$000 réis e pela lenha 1$000réis. Outra terra também de ar-voredo de 1ª e lenha, num sítiopróximo chamado Canadas, me-dia 425 braças e rendia pelas la-ranjas 1$000 réis e pela lenha$200 réis. Havia ainda terras sóde lenha com dimensão apreciá-vel. A primeira, no sítio chamadoRibeira da Velha, tinha 125 bra-ças e rendia $400 réis. Outra, de300 braças, no sítio de BárbaraVieira, rendia $500 réis. Uma ter-ceira, de 700 braças, no sítio doValado, rendia $600 réis. Umaquarta, de 400 braças, nosGrotões, rendia $800 réis. Umaúltima, no mesmo sítio dos Grotõesrendia 1$500 réis, medindo 800braças. É de admitir que em al-gumas destas terras de lenha secriassem roças para a plantaçãode inhames, embora tal não te-nha sido referido.

As maiores extensões de ter-reno encontravam-se nas terrasde criação e nas pastagens, en-tendendo-se por terras de cria-ção as pastagens mais baixas emenos frias onde se criavam osbezerros e onde as vacas se re-fugiavam dos maiores rigores doInverno. As pastagens situavam-se no planalto, confinando asmais altas com os baldios da ser-ra.

José Silveira Jorge tinha duasterras de criação de 3ª catego-ria, uma no Outeiro do Cascalhoe outra na Furna do Tanoeiro,

medindo respectivamente 1800braças e 800 braças a quecorrespondia o rendimento brutode $480 réis e $350 réis, respec-tivamente. A maior terra de pas-tagens com 30000 braças, fica-va no sítio do Badanal e foi, comoas outras duas, classificada de2ª categoria. Rendia 15$000 réis.No sítio da Rosada tinha uma pas-tagem de 4000 braças e rendi-mento de 3$200 réis. Uma últimapropriedade na Roça das Abóbo-ras tinha 2000 braças e rendia7$200 réis.

Reduzindo as braças a medi-das normalizadas de superfície,como foi feito na própria MatrizPredial, calculamos para terrenosde semeadura algo mais de umhectare e meio de terreno, comum rendimento bruto de 54$865réis, com uma média aproximadade $350 réis por cada are. Nocaso das vinhas encontramos umrendimento de 17$500 réis paracerca de 75 ares de terreno, comum rendimento de $175 réis porare. Os terrenos de lenha queocupavam sensivelmente 2 hec-tares, rendiam cerca de 7$300réis, com $036 por cada are. Asterras de criação e pastagenscom mais de 26 hectares rendi-am 26$230 réis, com menos de$010 réis por cada are. No querespeita às laranjas e outros fru-tos de pomar o rendimento erade 11$600 réis, em espaços gan-hos nos terrenos de lenha.

Assim, as propriedades maisrentáveis eram de longe as ter-ras de milho, seguindo-se as vi-nhas e em último lugar as pasta-gens. Admitimos que os laranjaisdessem lucros relativamente im-portantes.

Numa longa cadeia de heran-ças ou outras aquisições chega-ram à posse de José Silveira Jor-ge algo mais de 30 hectares deterreno, que, embora de valormuito desigual, o colocava a con-siderável distância em termos derendimento colectável do segun-

neps boletim informativo 24 | Março de 2002 7

do maior proprietário da fregue-sia nesse ano de 1885.

Esse segundo maior proprie-tário era José de Lacerda Pereirae Sousa, natural da Ribeira Seca,da ilha de S. Jorge, onde nasce-ra em 11 de Outubro de 1839.Era filho do alferes João Caetanode Sousa, este natural da fre-guesia da Piedade, da ilha doPico, e de D. Maria Otília Forjazde Lacerda, natural da própriafreguesia das Ribeiras, freguesiaonde se realizara o casamentoem 24 de Maio de 1826.

D. Maria Otília Forjaz de La-cerda nascera em 8 de Setem-bro de 1798 e era filha do alferesJosé Francisco da Silveira, natu-ral das Lajes do Pico e de D. Ma-ria Custódia Forjaz de Lacerda,natural da freguesia de SantoAmaro da ilha de S. Jorge.

Além de Maria Otília, o alferesJosé Francisco da Silveira e D.Maria Custódia, tiveram mais doisfilhos baptizados nas Ribeiras econhecemos-lhes três outrosnascidos fora mas casados nafreguesia. Um destes últimos foiD. Ana Forjaz Nunes de Lacerdaque casou em 27 de Outubro de1839 com Caetano Ferreira Nu-nes, natural de S. Roque do Pico,filho do capitão Francisco Nunesda Costa e Silveira e de D. Vitó-ria Mariana.

D. Ana Forjaz de Lacerda e seumarido tiveram uma única filha,D. Teresa Amélia de Lacerda,nascida em 4 de Janeiro de 1842,que viria casar com o primo, Joséde Lacerda Pereira e Sousa, em22 de Novembro de 1868.

José de Lacerda Pereira e Sou-sa e D. Teresa Amélia viriam ater nove filhos, mas nenhum de-les ficaria nas Ribeiras. Em 1885viviam no lugar da Cruz, aposen-to de D. Mar ia (admitimos queesta D. Maria fosse D. Maria Cus-tódia Forjaz de Lacerda, avó deambos). Casa com loja, um an-dar e cozinha, com um aposentode 500 braças, de terra de se-meadura e pomar, com rendimen-

to bruto de 12$250 réis em milhoe 3$500 réis de frutos diversos.

Na Matriz Predial além do nú-mero da casa, são-lhes referidasnove outras propriedades. Trêsdelas situavam-se na mesmazona da casa de residência. Umprimeiro número dizia respeito auma terra de semeadura de se-gunda categoria e terreno impro-dutivo, com 425 braças, com ren-dimento bruto de 4$500 réis demilho e $100 réis de lenha. O se-gundo número referia-se a umaterra de semeadura de primeiracategoria com 750 braças e40$600 réis de rendimento brutoem milho. Uma terra de arvoredochamada a Quinta é identificadadepois com 25 braças e um ren-dimento bruto de $800 réis emlaranjas. Um moinho de água éidentificado depois na Ribeira deSanta Bárbara. Uma outra terrade semeadura de primeira cate-goria e 50 braças situava-se nosítio das Ribeiras abaixo do ca-minho e dava de rendimento bruto1$400 réis. Os restantes quatronúmeros situavam-se já na en-costa da serra. Um laranjal com500 braças dava de rendimentobruto 2$500 réis. Mais acima umaterra de lenha, chamada o Valedo Barroso, tinha 1400 braças eo rendimento bruto era de 3$800réis. Uma terra de pastagem com6800 braças dava de rendimentobruto 2$720 réis. Por último, aoutra terra de pastagem com9000 braças é atribuído o rendi-mento bruto de 4$800 réis.

Reduzindo as braças a ares,verificamos que José de LacerdaPereira e Sousa tinha menos de2 hectares de terras de semea-dura, cerca de 30 ares de po-mar, algo mais de 75 ares de ter-ras de lenha e pouco menos de 8hect ares e meio de pastagens.Os rendimentos brutos correspon-dentes eram aproximadamente de60$000 réis em milho, 7$000 réisem laranjas e outros frutos,4$000 réis de lenhas e 7$500 réisde pastagens. A relação mais altaentre o rendimento e a extensãode terreno encontrava-se na ter-

ra de semeadura, logo seguidapelo pomar. Os terrenos de lenhaencontravam-se depois a gran-de distância nessa relação, maseram os terrenos do alto, as pas-tagens, onde a exploração eramenos intensiva, tal como já ha-víamos verificado no caso daspropriedades de José Silveira Jor-ge. Tratava-se de pastagem na-tural, sem conhecer arado, ondeo gado pastava livremente.

Se em 1885 José Silveira Jor-ge era o maior proprietário da fre-guesia das Ribeiras, os seus fi-lhos, que não encontraram saí-das, viriam a sentir as dificulda-des de uma propriedade reparti-da. Em contraste, os filhos deJosé de Lacerda Pereira e Sousasouberam encontrar no exterior,na preparação académica e nasrelações matrimoniais, alternati-vas para uma terra onde dificil-mente poderiam manter o seuestatuto de nascimento.

Sabendo através das estatís-ticas do Governo Civil da Hortapara o ano de 1884 que a fre-guesia das Ribeiras produziu cer-ca de 100.000 litros de milho,sendo necessários 370.000 litrospara o consumo dos seus 2276habitantes, e que cada alqueirede milho (14,204 litros) custava$500 réis, relativizamos a fortu-na dos maiores proprietários dafreguesia. Se os rendimentos daMatriz Predial estivessem correc-tos (o que admitimos não acon-tecer), a produção em milho, querde José Silveira Jorge quer de Joséde Lacerda Pereira e Sousa, nãose devia superiorizar, em cadacaso, a 120 alqueires, o que che-garia apenas para o consumomédio anual de 10 pessoas. Mes-mo que os valores matriciais seencontrassem depreciados, fácilé de admitir que poucos seriamos proprietários das Ribeiras quetiravam das suas terras o milhonecessário ao sustento das suasfamílias.

falando de demografia histórica... Maria Norberta Amorim

8 neps boletim informativo 24 | Março de 2002

falando de património Alberto Correia

Quando a festa de Carnavalse aproxima, em cada ano, hálogo máscaras de Carnaval en-chendo os balcões tanto dasgrandes superfícies que servemas metrópoles como as mercea-rias das aldeias mais distantes.Compram-nas os pais para as cri-anças, compram-nas jovens eadultos e utilizam-nas por um dia,brincando, escondendo-se pordetrás como se elas se tornas-sem cortina em sessão de magiapermitindo com o seu correr arevelação de um outro ser. Mastal atitude não passa de um jogo.E quem o inventou ou mesmoquem o joga não se lembra dasmáscaras originais dessas que ti-nham a ver com a vida, Essesnossos avós distantes usaram-nas. Mas foi há tanto tempo quese perderam todos os registos.Quase todos, Um efémero ecosobrevive no canto Nordeste dopaís cuja leitura fazemos aindacom alguma efabulação. Uma ou-tra perdida memória conserva-sea sul do Douro em Lazarim. E háperto do mar, perto de Ílhavonotícia incerta de uma outraincompreendida cultura que asmáscaras não chegam a revelar.

Mas que vida é esta que seesconde ou se revela por detrásda máscara /artifício? Que seressão estes que irrompem sabeDeus de onde, sobre o universodos homens? Que missão cum-prem nesse escasso tempo me-dido em que estão com eles?Quem pode saber? Ninguém podesaber.

Na distanciada Terra Fria doNordeste Transmontano há ape-nas festas de Natal que se es-tendem entre o dia 24 de De-zembro e o dia de Reis, a 6 deJaneiro. O ciclo dos Doze Dias.Mais tarde há o Carnaval. É pra-ticamente o começo e o fim deum ciclo, o começo e o fim do

grande tempo do Inverno da na-tureza.

E os rapazes que já saíram depuberdade congregam-se para adita Festa dos Rapazes distanci-ando-se então da comunidade.Há como que um toque de magiaporque quando voltam a descerao seio da comunidade já não sãoeles. O artifício da máscaratransfigurou-os. São caretos,chocalheiros, zangarrões,mascarões, velhos e velhas,diabos e outra coisa.

Como vestimenta trazem fa-tos garridos ornamentados comfranjas de lã, no rosto uma más-cara de madeira ou de outro ma-terial e, enroladas ou pendura-das no corpo cadeias com cho-calhos, na mão uma moca ou ca-cete, ou bengala. Às vezes umbornal ao ombro.

Trazem um destino marcado ecumprem-no até ao fim. Fazemrondas pelos caminhos da aldeia.E os gritos e o chocalhar de cam-

painhas assustam animais no es-tábulo, afugentam os bichos domonte, gelam de medo as crian-ças e as mulheres.

Noutra hora reúnem toda agente da aldeia. São como deu-ses. Há um juízo final. E com ostextos das loas, dos colóquiosou comédias trazem a julgamen-to todos aqueles que infringiramas normas ao longo de um anointeiro.

Os mascarados são tambémsenhores (quase) todo-podero-sos. Tocam as mulheres,escancaram todas as portas,apossam-se de bens que os ho-mens resgatam com dinheiro,“roubam” alimentos. Escondem-se depois com os seus lautosbanquetes. E bailam com as ra-parigas pela noite dentro. Seme-lhantes procedimentos têm lugarno Carnaval, nesse tempo novoanunciado por uma terra prestesa florescer, a regenerar-se gra-ças às sementes que os campo-neses enterram, graças aos re-banhos que se multiplicam sob ogoverno dos pastores.

Quando os mascarados se vãoa vida continua, aparentementecontinua no seio da pequena co-munidade. Mas não é assim. Por-que a máscara marcou uma ati-tude diferente, filosófica, aindaque inconsciente, mas eficazface à existência, à vida. Trouxea afirmação de que a desordemnão é possível e veio demonstrara necessidade da ordem, da lei,da norma. A crítica que ridicula-riza comportamentos reaproximaos desvios, quaisquer que sejam.

A subversão de funções, a in-versão de graus, o mundo ao re-vés, afirmam a igualdade dasclasses sociais. E o diabo comomáscara mais recorrente, vemlembrar a difícil separação do pro-fano e do religioso, vem lembrar

Máscara, a outra face do homem

neps boletim informativo 24 | Março de 2002 9

falando de património Alberto Correia

a perene luta do Bem e do Malainda que o Bem triunfe sem-pre neste governo a que amáscara preside, no Nordeste.

Em Lazarim, na margem suldo Douro, perto de Lamego, osrapazes ainda se vestem decaretos (máscaras masculinas)e de senhorinhas (máscarasfemininas) nos três dias de Car-naval.

Brincam apenas. Mas com asua ludicidade eles revelam aalma antiga do seu povo. E or-gulham-se disso.

Guardam as máscaras queproduzem ano após ano. Cadaum dos utilizadores que a fezpor si ou a mandou construir aqualquer habilidoso artesão local.E o tempo da festa e o artefactoque permanece constituem-secomo memória das crenças, dosritos, de velhos cultos que cele-bram a natureza, uma Terra-Mãebenfazeja que um dia ofereceuaos homens um tempo de Idadede Ouro de que eles se afasta-ram, por seu mal.

As memórias do Carnaval deLazarim remetem para um temponão muito distante em que osmascarados de Terça-Feira Gor-da se assumiam como guardiõesde costumes, como restaurado-res de normas violadas e oroberto, um cacete antropo-mórfico que hoje complementa amáscara, era simultaneamenteceptro e instrumento de carrasco.

Hoje que as máscaras estãodestituídas destas prerrogativasde promulgação e imposição deuma ordem jurídica, fica confia-da essa função ao acto de leitu-ra dos testamentos, uma farsanotarial que é simultaneamentetribunal onde se acusam e con-denam os desvios de um preten-dido comportamento de rapazes

e raparigas que se tomam comoque os símbolos da comunidade.

No Vale de Ílhavo, termo des-ta cidade, há os cardadores.São mascarados de Carnaval.Rapazes tão só. Reúnem-se àsescondidas muitas vezes, muitosdias antes do Carnaval. Prepa-ram máscaras. Consomem vinhoem abundância em demoradosserões onde a conversa se sol-ta, brejeira, no interior dos pa-lheiros onde apenas se entra comsanto e senha e onde os maisnovos se espantam com o co-nhecimento dos primeiros misté-rios da vida.

As máscaras são preparadascom lã branca. As aberturas daboca e dos olhos são revestidascom cortiça pintada de vermelhovivo. O bigode é feito com barbade milho ou crinas de cavalo. Onariz é objecto de particularatenção, é feito com flanela ver-melha e deverá ficar compridoconto se fosse um falo erecto.

A cabeça é ornamentada comvistosas asas de uma ave, gali-nha, pomba, pato, de preferên-

cia branca e a cabeleira quese desprende sobre os ombrosé feita de fitas, ditas paródi-as.

O resto da vestimenta queíntegra a máscara é um con-junto anárquico de roupagensde homens e mulheres, sem-pre caricatural, sempre visto-sa nas suas cores garridas.

O adereço obrigatório é acarda, espécie de escova depregaria que os cardadores uti-lizavam antigamente para a lã(operação do ciclo da lã).

Alguns usam ainda verda-deiras cardas compradas nafeira, outros colocam lixa no

lugar da pregaria ou usam umalarga escova evitando assim apericulosidade do instrumento.

No dia de Carnaval oscardadores irrompem vindos dapraia ou das muitas vizinhas comgritos e saltos e lançam a per-turbação entre a gente. Dirigema sua actuação às mulheres e ogesto simbólico de cardar, de en-direitar os fios de lã, é como queum gesto purificador que não ficadistante das atitudes doschocalheiros do Nordeste ou dosantigos caretos de Lazarim.

Hoje é também um fenómenolúdico sem deixar de expressarvivências antigas de uma co-munidade que não sabeexplicar a sua origem e aremete para um distanciadotempo de dois ou três séculosquando um costume índio seintroduziu por ignoradas vias.

Por detrás das máscaras fi-camos nós todos. Do lado decá também. As máscaras sãoo sinal desta contradição, danossa contradição. E o apelopara a sua resolução.

Máscara, a outra face do homem

10 neps boletim informativo 24 | Março de 2002

investigador apresenta-se Elisabete Pinto

NOME: Fra n cis co Mes s ia s Tr in d a d e Ferre iraIDADE: 43 anos

NATURALIDADE: AveiroACTIVIDADE PROFISSIONAL: Profes s or d o Ens ino S ecund ário

À procura da realização pessoal

O interesse pela DemografiaHistórica surgiu de uma curiosi-dade: fazer a árvore genealógi-ca da família. Porém, ressalvaFrancisco Messias, “fazê-la ma-nualmente era complicado. Daíter procurado um programa in-formático capaz de eliminar al-gumas dificuldades”. Nesta pes-quisa, o investigador depressaapercebeu-se “que poderia alar-gar o âmbito de uma família parauma paróquia inteira e entrar numcampo de pesquisa aliciante”. Foiassim que “o ‘bichinho’ da inves-tigação” impulsionou o docentedo ensino secundário à frequên-cia do Mestrado em História dasPopulações.

Apesar dos condicionalismosque a integração num projectodesta natureza impõe, com asdificuldades em “conciliar a acti-vidade profissional com a fre-quência das aulas, o tempo dis-ponível para a investigação e oacesso às fontes”, FranciscoMessias não olhou a sacrifíciospara atingir os objectivos.

O investigador não escondeque a possibilidade de progredirna carreira motivou o empenha-mento que dedicou à realizaçãoda dissertação de mestrado. Po-rém, admite, “mais que isso foi asatisfação e a realização pesso-al. É, a meu ver, redutor ficar pelodia a dia das aulas. Acaba-se porentrar numa rotina que se tornaao fim de algum tempoacomodativa; depois, cristaliza etransforma-se em improdutiva porvariados motivos, para finalmen-te se verificar que é frustrante.É necessário quebrar esse círcu-lo vicioso, e foi isso que fiz: dei-tei abaixo algumas paredes daminha rotina, dei-me um poucode desassossego!”

Por que conseguiu satisfazero objectivo desejado consideraessa trajectória “gratificante”.Nas pesquisas que tem efectua-do, o investigador tem identifi-cado “imensos aspectos de inte-resse quer ao nível da HistóriaLocal, quer ao nível da Demogra-fia Histórica”. No primeiro caso,por exemplo, mostra-se surpre-endido com “a dimensão da fre-guesia (Eixo) e mais ainda a doconcelho”; e intrigado com o fac-to “de Eixo e Esgueira terem tidono século XVIII um crescimentonotável enquanto Aveiro definha-va”. “Se as causas da decadên-cia de Aveiro são tradicionalmen-te associadas ao fecho da barrada ria, como é que surge o de-senvolvimento de Esgueira e Eixo,também eles intimamente ligadosà ria e ao Vouga?”, questiona odocente.

Ao analisar os pressupostosteóricos que orientam o seu tra-balho, Francisco Messias consi-dera que está “distante do ‘mo-delo francês’”, salientando que “anossa Demografia goza de parti-cularidades muito próprias e queprecisam de ser escalpelizadas.E mesmo dentro do continenteportuguês existem diferençassubstantivas”. E enumera algu-mas dessas diferenças: “a mor-talidade infantil não é uniforme,a ilegitimidade também não, asidades ao casamento tambémvariam”. “Depois, há outros as-pectos interessantes e mais par-ticulares decorrentes da minhainvestigação, ao nível da Demo-grafia: o elevado número de par-tos de gémeos (que se mantémcom o alargamento a outras pa-róquias), uma grande família cu-jos membros falecem com idadesentre os 85 e os 103 anos!; uma

freguesia onde a endogamia emtermos de casamentos émarcante (todos os casamentosno século XIX entre naturais dafreguesia revelam parentesco do2º ao 6º grau!); o crescimentoda ilegitimidade para níveiselevadíssimos após 1830”.

Apesar de já ter concluído oMestrado, Francisco Messias nãose tem afastado da demografia,considerando este domínio dosaber “a base para qualquer in-vestigação mais aprofundada”.Porém, está a preparar “o cami-nho para outras áreas que da-rão, certamente, muitas respos-tas às questões suscitadas pelademografia”. O doutoramento éa próxima meta. “Neste momen-to, estou ainda no primeiro pas-so, ou seja, na fase de conclu-são do levantamento de 6 paró-quias, à qual se segue o trata-mento dos dados. Depois será aabordagem das temáticas eco-nómica, social, mentalidades,cultura e política”. Aliás, o temada tese para aí aponta: “Viver emorrer no território do antigo con-celho de Eixo”, sendo uma ten-tativa de “captar a alma e a es-sência daquele povo nos temposidos”.

Felizmente, revela o investi-gador, “neste momento não te-nho o problema da conciliação daactividade profissional com a in-vestigação, uma vez que gozo deuma equiparação a bolseiro paradoutoramento, o que me conce-de todo o tempo para me dedi-car a esta tarefa. Quanto à vidafamiliar procuro que o trabalhonão interfira com ela, impondo-me um horário de trabalho maisou menos rígido conforme as cir-cunstâncias”.

neps boletim informativo 24 | Março de 2002 11

apontamentos de investigação Francisco M. Trindade Ferreira

Para quem efectua a recons-tituição de paróquias e gosta dedesafios, trabalhar a mortalidadeinfantil não deixa de ser um rep-to sedutor e irresistível. Sedutorpor colocar problemas que vãoda reconstituição à validade dosdados recolhidos, passando pelaidentificação dos indivíduos re-gistados; irresistível por criar noinvestigador o desejo de comple-tar o mais possível os dados re-ferentes às pessoas refe-renciadas e o de compreender eexplicar uma realidade mais oumenos distante.

A matéria prima a partir daqual se procede à reconstituiçãode uma paróquia é o registo pa-roquial. No entanto não se ex-cluem outras fontes de infor-mação, como por os róis deconfessados, com o intuito decompletar o conhecimento dapopulação da freguesia.

Mas a informação disponívelnem sempre é da melhor qualida-de, e algumas vezes é omissa ouincompleta. Apesar das orienta-ções contidas nas Constituiçõesdos vários Bispados, das Visita-ções efectuadas com regularida-de às paróquias, das chamadasde atenção (e multas aos páro-cos) para a elaboração dos re-gistos pela autoridade eclesiás-tica (incluídas muitas vezes nospróprios livros paroquiais), não seconseguiram grandes progressosem termos de homogeneidade ea qualidade variava na propor-ção directa do sentido deresponsabilidade do pároco. Otipo de registo que acabou porsofrer mais vincadamente comalguma incúria ou com as con-cepções vigentes foi o registo deóbitos.

No entanto, pelo decreto de19 de Agosto de 1859, foi uni-formizado o formulário dos regis-tos e o decreto de 2 de Abril de1862 torna obrigatória a utiliza-ção dos novos modelos. A nor-

Em torno da mortalidade infantil

malização conduziu a uma me-lhoria substancial da identifica-ção dos intervenientes dos vári-os actos, mas poderá não ter,naturalmente, evitado o subre-gisto, uma vez que a elaboraçãodos assentos continuava a car-go dos párocos.

Tomou-se como período deanálise os anos de 1860-1885,pois é a partir da data inicial queos registos paroquiais oferecemuma maior fiabilidade.

Reconstituíram-se sete paró-quias contíguas: Eixo, Requeixo,Eirol, Nariz, Oliveirinha,Fermentelos e Aradas. Todas in-tegravam o antigo concelho deEixo, à excepção de Aradas, etodas se inserem no actual con-celho de Aveiro. O valor encon-trado para a mortalidade infantilno período em apreço não diferede forma radical daqueles queforam verificados para as paró-quias já estudadas de Eixo-Oli-veirinha e Aradas: 103‰. Tra-ta-se de um valor efectivamentebaixo, que conduz a duas inter-rogações inevitáveis e contradi-tórias. Não haverá subregisto nosóbitos dos recém-nascidos? Nãoestaremos na presença efectivade baixos valores de mortalidadeinfantil?

Para a primeira questão asdúvidas serão resolvidas quandose conseguir uma ou várias séri-es cronológicas de dimensõesaceitáveis, onde os indivíduos te-nham o seu percurso de vida iden-tificado – m étodo de análise debiografias de Bengtsson, bastantepróximo da metodologia de re-constituição de paróquias (Amo-rim, 1991).

A segunda hipótese não é dedescartar a prior i, visto existi-rem algumas razões que podemsustentar esta asserção. O nú-mero de paróquias já reconstitu-ídas, que começa a ter algumsignificado, aponta para valoresde mortalidade infantil rela-

tivamente baixos. Por outro lado,Mário Leston Bandeira (1996:440), partindo das Tabelas doMov im ent o Fisiológico da Po-pulação de Portugal. Estat íst icadem ográf ica. . . encontrou para1902 valores muito baixos demortalidade infantil em alguns dis-tritos: Aveiro apresenta 92,56‰;Braga, 60,96‰; Coimbra,88,66‰; Viana do Castelo,97,70‰; mesmo Leiria, com116,42‰, não está muito dis-tante destas cifras. Em 1910 osvalores sofrem alguma alteração,mas mantêm-se no mesmo pata-mar de baixa mortalidade: Avei-ro, 101,33‰; Braga, 128,73‰;Coimbra, 81,33‰; Viana do Cas-telo, 111,78‰; e Leiria com91,47‰. Não há mais distritosno país a apresentar valores des-ta ordem de grandeza.

De toda esta faixa litoral ficaexcluído o Porto. A sua condiçãode grande pólo centrípeto cria-lhe um conjunto de condiçõesespeciais: em 1902 tem comovalor 171,14‰ e, em 1910,160,58‰. Aqueles valores con-trastam fortemente com os deoutros distritos: Castelo Branco(162,14‰), Évora (180,53‰),Portalegre (210,30‰), para re-ferir apenas alguns.

Comprovando-se os baixosvalores de mortalidade infantilnaqueles distritos, de imediatoafloram novas questões, às quaisa Demografia Histórica, por si só,não consegue dar resposta. Estapode encontrar-se em muitasoutras áreas do saber e mesmoapontar para a existência de umaconexão causal m ult i fact or ial(Bengtsson e Lundh, 1944: 38).

Segundo Rollet (1994:15) omodelo de mortalidade existentenum dado momento e numa dadaregião resulta de uma misturacomplexa de vários factores, cujopeso depende de um certo nú-mero de constrangimentos climá-ticos, económicos e sociais (leia-

12 neps boletim informativo 24 | Março de 2002

se culturais). Mas as razões paraa diminuição da mortalidade in-fantil ou para o seu baixo valortambém podem ser procuradas emáreas diferentes como aepidemologia (Bengtsson eLundh, 1994; Bernabeu-Mestre,1994), o ambiente (Del Panta,1994), a amamentação (Barbo-sa, 1998), ou os progressos mé-dico-sanitários públicos e indivi-duais, entre outros.

É por enquanto prematuroavançar com qualquer tentativade explicação conclusiva para osbaixos valores da mortalidade in-fantil encontrados, em particu-lar, para o conjunto das referidassete paróquias. Não existe tãopouco a possibilidade de compa-ração com períodos posterioresou anteriores, uma vez que, paraos primeiros, ainda não estão dis-poníveis todos os elementos e,para os segundos, a qualidadedos dados é no mínimoquestionável. Todavia é possívelefectuar uma primeira abordagemem termos demográficos a esteperíodo de 25 anos, que lançarápossíveis pistas para desenvol-vimentos futuros.

Como já foi indicado, a taxade mortalidade infantil nãocorrigida para este período (1860-1885) é de 103‰, para um totalde 726 óbitos. Pode decompor-se este valor em:taxa mortalidadeneonatal precoce(óbitos entre 0 e 6dias completos) -14‰; taxa de mor-talidade neonataltardia (óbitos entre7 dias a 1 mês) –26‰; taxa de mor-talidade pósneonatal (de 1 mêsa 1 ano) – 62‰.

São valores bai-xos, como anterior-mente se disse, masquando os registos

parecem estar correctos sob oponto de vista formal e de preci-são de conteúdos, quando estãoarrolados indivíduos que falecemcom 15 minutos ou 3 horas devida, não há muito mais a fazerque não seja seguir o percursode vida dos sobreviventes, pro-curando outras fontes de infor-mação.

Torna-se interessante analisara sazonalidade dos óbitos demenores. Seguiu—se para estaanálise o processo em quase tudosemelhante ao proposto porSoriano Palao (1999): calcula-ram-se as taxas de mortalidadepara cada um dos meses e, o res-pectivo desvio em relação aovalor da taxa de mortalidade do

período. Este método permiteobviar el sesgo que se introduciríaen los datos por la estacionalidadde los nascim ientos en caso deut ilizar los núm eros brutos defallecidos (J. Knodel, 1983, apudJ. Soriano Palao, 1999).

Obteve-se, assim, a tabela 1e o gráfico Sazonalidade da Taxade Mortalidade I nfant il ( 1860-1885) . A curva da sazonalidadeé muito semelhante à que foi ob-tida por Ferreira (1999) paraEixo-Oliveirinha e Lacerda (2000)para Aradas, em termos de óbi-tos de maiores de sete anos emenores que essa idade para pe-ríodo idêntico. Em ambos os ca-sos as am plitudes sazonais têmintensidades aprox im adas nosm eses de Fevereiro a Julho –m eses de baix a (F. Lacerda,2000, 198).

A maior intensidade da mor-talidade de menores de um anositua-se no período outonal, comum ligeiro pico em Fevereiro. Acoincidência de picos de mortali-dade infantil e das restantes(maiores e menores de sete anos)no período outonal, parece apon-tar para causas de óbito de na-tureza epidemiológica do forogastrointestinal.

O estudo da mortalidade dosmenores de um ano segundo aestação do nascimento, propos-

Em torno da mortalidade infantil

apontamentos de investigação Francisco M. Trindade Ferreira

neps boletim informativo 24 | Março de 2002 13

to inicialmente porVilquin (1978) e conti-nuado por Breschi eLivi-Bacci (1994), re-vela-se de grande uti-lidade, dada a multipli-cidade de factores quepodem intervir na mor-talidade infantil. Porforça do desfasamen-to temporal dos nas-cimentos ao longo deum ano, cada grupo deindivíduos enfrenta, emdiferentes condições,as várias estações doano. Naturalmente asituação de vida e a capacidadede resposta será também dife-rente.

Para a análise em causa par-tiu-se dos meses de nascimen-to, agrupados em coortes trimes-trais de acordo com a estaçãodo ano, mantendo-se a divisãousada internacionalmente. Inver-no (Dezembro a Fevereiro), Pri-mavera (Março a Maio), Verão(Junho a Agosto) e Outono (Se-tembro a Novembro).

Representa-se de seguida, deforma gráfica e numérica, os des-vios das taxas de mortalidade decada coorte, indexando os valo-res à taxa média do período emanálise (Taxas de Mor talidadeI nfant il segundo a estação denascim ento) .

A partir do gráfico é possívelobservar não existir uma grandediscrepância entre as várias es-tações do ano. No entanto, osnascidos durante o período maisfrio (Outono e Inverno) são me-nos favorecidos. As causas des-ta maior incidência de mortalida-de são naturalmente múltiplas,podendo ter origem endógena ouexógena. Pelo contrário, os nas-cidos na Primavera-Verão resis-tem melhor à mortalidade outo-nal pois a sua alimentação aindaé pouco variada (ainda se en-contram em aleitação) e os

anticorpos fornecidos pelas mãessão em número suficiente parapoderem resistir às agressões deagentes patogénicos.

Em forma de conclusão podedizer-se que a mortalidade infantilé bastante baixa para o períodoem análise. O alargamento doquadro espacial de observaçãomais não fez que comprovar osvalores anteriormente verificados(F. Ferreira, 1999; Lacerda 2000).Trabalhar a mortalidade infantilem termos de sazonalidade e du-ração de vida permitirá encami-nhar a pesquisa, de forma maisorientada, para a procura dasexplicações da origem.

AMORIM, Maria Norberta, 1991, Um aMet odologia de Reconst it u ição deParóquias, Braga, Universidade doMinho.

BANDEIRA, Mário Leston, 1996, Dem o-grafia e Modernidade. Família e Tran-sição Dem ográfica em Portugal, Lis-boa, Imprensa Nacional Casa daMoeda.

BARBOSA, Maria Hermínia Vieira,1998, “Reconstituição de Paróqui-as e aprofundamento dos Estu-dos de Mortalidade Infanto-Juve-nil da Comunidade de Esporões(Séculos XVII-XX)”, Bolet ín de laAsociación de Dem ografía Histórica,vol. XVI-I, 1998.

BENGTSSON, Tommy e LUNDH,Christer, 1994, “La mortalitéinfantile et post-infantile dans les

pays nordiques avant 1900”,Annales de Dém ographie Historique1994, pp. 23-43.

BERNABEU MESTRE, J., 1994,“Problèmes de santé et causes dedécès infantiles en Espagne,1900-1935”, An n a l es d eDém ographie Histor ique 1994, pp.61-77.

BRESHI, M. e LIVI BACCI, Massimo,1994, “Le mois de naissancecomme facteur de suivie desenfants”, Annales de Dém ographieHistorique 1994, pp. 169-185.

DEL PANTA, Lorenzo, “Mortalitéinfantile et post-infantile en Italiedu XVIII

e au XX

e siècle: tendences

à long terme et différencesrégionales”, An n a l es d eDém ographie Histor ique 1994, pp.45-60.

FERREIRA, Francisco Messias Trinda-de, 1999, A Ant iga Freguesia de Eixoe Oliveir inha (1666-1900) : estudodem ográf ico, dissertação de mes-trado, Universidade do Minho.

LACERDA, Fernando Alberto, 2000, S.Pedro de Aradas (1690-1900) : estu-do dem ogr áf ico , dissertação demestrado, Universidade do Mi-nho.

ROLLET, Catherine, 1994, “La mortalitédes enfants dans le passé: au-delà des apparences”, Annales deDémographie Historique 1994, pp. 7-22.

SORIANO PALAO, José, 1999, “Lamortalidad infantil en los iniciosde la transición demográfica.Análisis de una parroquia de Yecla(Murcia): 1852-1930”, Historia Con-t em poranea, 1999 – 18, pp. 253-269.

BIBLIOGRAFIA

Em torno da mortalidade infantil

apontamentos de investigação Francisco M. Trindade Ferreira

14 neps boletim informativo 24 | Março de 2002

argumentos Luís Polanah

A civilização que os Europeuslevaram para o continente afri-cano teve precedentes em ou-tras civilizações no Oriente quedeixaram profundas marcas dasua cultura nos povos de variaspartes importantes da África Ne-gra. A expansão do Islamismo emÁfrica antecedeu o esforçoevangelizador do Cristianismomuitos séculos. Toda a faixa cos-teira de Moçambique cujo nomeé nitidamente memoria dum ilus-tre nome muçulmano, foi territó-rio fortemente marcado pela cul-tura maometana tanto nas ca-racterísticas somáticas quanto

nos costumesdas suas po-pulações.

Os Euro-peus podem,contudo, or-gulhar-se dehaverem de-sencadeadoum processode assimilaçãocultural, algodramáticopara as popu-lações indíge-nas da ÁfricaNegra. Foicontudo opreço que es-sas popula-ções tiveramde pagar parapoderemtranspor odrama da es-cravatura eassumir-se, aolado dos paí-ses maisavançados domundo, comocaloiros da ci-vilização.

Por acçãodos Portugue-ses, entre ou-tras naçõeseuropeias, pu-deram emergirvários grupos

étnicos do estado de sua tradi-cional organização tribal e clanicapara uma forma mais actual ba-seada nos conceitos e valoresdas sociedades europeias. Semtodavia haverem abandonado asregras das suas linhagens fun-dadoras a maior parte das popu-lações negras aprendeu a conhe-cer e a viver segundo princípiosdiferentes que representavampara eles o limiar da civilização.

Mas dificilmente o colono “ci-vilizador” deixava de interpretaros costumes das populaçõescomo manifestações de brutezae selvajaria. Não havia possibili-dade de explicar que o colono,por sua vez, não estava prepa-rado para entender que a diver-sidade de estruturas sociais e devalores morais não tinha nada aver com a mentalidade de brutomas com fases do progresso hu-mano e sua adaptação progres-siva às mudanças sofridas no es-paço e no tempo. Um processode que o colonizador já não ti-nha memoria de haver percorridoos mesmos trilhos alguns milha-res de anos antes.

Porém, esse pensamento jus-tificava o sacrifício e abnegaçãode missionários e outros que seentregaram à dura tarefa de irevangelizá-los e ensinar-lhes ocaminho duma vida superiormen-te humana e civilizada.

Afirmava-se que os Africanosnão possuíam uma religião, umcorpo de sacerdotes, uma noçãode Deus e do Paraíso tal o seuestado de selvajaria. Declarada-mente se concluía que não pos-suíam uma religião salvifica, nemum Deus único, justo e bondoso.Senão um conjunto de supersti-ções grosseiras. O homem euro-peu chamava então sobre si aespinhosa tarefa de resgataresse homem primitivo fazendodele um ser humano “à sua se-melhança e feitio”. E fez comose pode hoje ver em muitos dospaíses africanos que foram coló-nias europeias, onde Portugaltambém está!

Chamou-se civilizar ecristianizar a todas as acçõesdesenvolvidas, para converter o“homem africano” numa réplica do“homem europeu”. Durante essetempo a economia dos países quemantinham esse pesado fardopode prosperar e novas catego-rias sociais economicamenteprosperas emergiram fazendoprojectar internacionalmente aimagem das nações que possuí-am impérios coloniais.

Com o rodar dos tempos re-conheceu-se que a alma do Ne-gro vinha sofrendo um certo“branqueamento” visível nos cos-tumes que adoptava e naapetência de civilização, riquezae ostentação dos seus modelos.O homem africano ressuscitava,assim, segundo a imagem do seututor colonial.

Depois de o DEUS dos Judeuse Cristão haver criado Adão e Evaà sua imagem, tocara a vez de oHomem Ocidental, seu devotoseguidor, fazer do Homem Afri-cano um “ser civilizado”, impri-mindo-lhe os traços do seu ca-rácter, tanto os aspectos maisrefinados do seu saber como osseus vícios e defeitos mais gra-ves!

Entre o século XIX e o sec.XX, o selvagem das florestas esavanas tropicais aprendera aimitar o seu protector em tudoquanto lhe parecesse convenien-te, até mesmo no ódio, no ego-ísmo, na ambição e na vaidade,com prejuízo dos seus própriosirmãos de raça, cultura ou terri-tório, por supostas razões ideo-lógicas e em defesa duma von-tade popular ignorada do povo,com um grau de crueldade e ego-ísmo jamais vistos!

Quando o Africano percebeque pode copiar do seu criador emodelo europeu os mesmos ges-tos, usar os mesmos argumen-tos, ter as mesmas atitudes so-ciais, vestir os mesmos fatos,habitar moradias sumptuosas nosbairros mais nobres do tempocolonial, desfilar em grandes car-

Estudantes mocambicanos em Portugal

neps boletim informativo 24 | Março de 2002 15

argumentos Luís Polanah

ros, servir-se dos mesmos ardislesando os interesses do povotrabalhador, então neste pontorevolta-se contra o seu abnega-do patrono proclamando o seudireito de determinar o própriodestino com liberdade...

Traça o roteiro do seu futuroem direcções que não haviam sidosugeridas pelo país que o tutela-ra durante tantos séculos, pro-pondo modelos “milagreiros”, fá-ceis e irrefutáveis, em contradi-ção com a estrutura moral daspopulações em cujo seio mergu-lhavam, afinal, as raízes ances-trais desses chefes. O ódio aopaternalismo opressivo do seuantigo tutor subleva-se numaguerra desesperada, contra umpassado que já ninguém podiaapagar ou repetir. E por causadele mesmo mergulham numaguerra fratricida sem outro sen-tido senão a voraz apetência depoder e riqueza manipulada poroutros interesses exteriores.

A África evangelizada e explo-rada gerou filhos que haviam debradar um dia para o mundo queos civilizara, dizendo: -”Agora queeu possuo o código dos teus mé-todos de poder e domínio sintoque sou igual a ti e posso tomaro teu lugar na condução dos des-tinos dos nossos povos, dispen-so a tua tutela ou mostra-meessa necessidade noutros ter-mos. Quiseste criar-me à tua ima-gem, eis-me, pois, aqui, feito àluz e semelhança do teu Evan-gelho!

“A minha revolta não é contrao teu povo nem porque me qui-seste moldar à tua imagem masporque me fizeste “europeu” deoutros climas, mascarado com acor dos trópicos. Eis que sou, fi-nalmente, a tua obra! Aprendi areagir com os teus instintos, acopiar os teus desejos e sonhos,no egoísmo e na impiedade, etambém nas mascaras que usopara poder conviver com o mun-do perverso que nos rodeia.

“Vê, pois, como hoje possosacrificar os meus irmãos de raça,

os meus colaterais vizinhos damesma essência humana que nós(tu e eu) com a mesma friezacom que tu matavas outrora naEuropa os teus irmãos continen-tais por não acreditarem nos teusdeuses, por não rezarem ante osmesmos altares e não oferece-rem os sacrifícios que tu prati-cavas. Contudo não desisto deproclamar o meu arrependimentoperante o DEUS que me ensinas-te a amar e em cujo nome possofazer tudo o que tu, meu pro-tector e mentor ocidental, meensinaste a fazer sem o menorsentimento de culpa!”

Entretanto os ponteiros dotempo rodaram mais rápido doque se pensava...Se ontem ashostes piedosas da acçãocivilizatória devassavam os ma-tos africanos procurando atrair oselvagem para os braços da mi-sericordiosa civilização, hoje, jáemancipados da antiga tutelapolitica, são os próprios africa-nos que batem uns nos portaisdos seus antigos tutores e im-ploram abrigo, segurança epaz...enquanto outrosconclamam pelas luzes do sabercivilizado, sedentos de ganhar ex-periência e outra visão da vida,para além dos limites da sua in-digência e sofrimento.

A História escreve-se agora decostas voltadas para o passado.Já não são os Indígenas de on-tem os que hoje se apresentamcomo membros duma mesma fa-mília a família irmanada sob umasigla comum, a dos PALOP. Umafamília imensamente diversifica-da e acabada de chegar ao átrioda civilização. É a primeira gera-ção dos últimos dias do crepús-culo colonial, que agora procurajunto da nação providencial ab-sorver o saber e a experiênciadas sociedades civilizadas. Bus-ca avidamente aprender tudopara assim poder inventar o seupróprio futuro nacional e nave-gar nas estradas da Historia coma mesma legitimidade dos demais.

Estes herdeiros do passado

colonial são agora imigrantes naPátria do antigo tutor dos seusprimeiros passos na estrada daHistoria Moderna, imigrantes queao reduto lusitano afluem pedin-do emprego, acolhida, protecção.Como operários, fugitivos, desa-lojados, refugiados ou drogados,meretrizes e esfomeados, todosem busca dum tecto que os pro-teja e ensine outros caminhospossíveis para uma saudável re-abilitação social e humana. Comose pregava outrora na África co-lonial, invocando as palavras doEvangelho que ninguém entendia,mas agora sim!

No meiodessa multi-dão deexpatriadosemerge tam-bém um largocontingentede jovensimpolutos, quese apresentacom o “esta-tuto de estu-dantes”. VêmfrequentarInstitutos eUniversidadesportuguesas,protegidos soba bandeira dosPALOP, for-mando assimas bases dumacomunidadedo futuro, comuma amplitudetranscontinentale multietnica,que aHISTORIA, umdia, terá deregistar comoum novo capi-tulo das soci-edades huma-nas sob o sig-no das naçõesglobalizadas!

Então sobesse pendãofraternal dos

Estudantes mocambicanos em Portugal

16 neps boletim informativo 24 | Março de 2002

PALOP (CPLP), Africanos de va-rias origens e culturas viverão napátria de Camões e FernandoPessoa, durante largos anos, aquiestreitando laços históricos epessoais com os Portugueses,procurando com isso sanar anti-gas ressentimentos, esquecererros que foram parte duma ex-periência irrepetível, e procurarnos horizontes do futuro uma luzapelativa das convergências quebuscam... Um exército de jovensestudantes está finalmente pisan-do o solo da Nação que lhes abriuas portas da HISTORIA. Aqui vi-eram permanecer cinco, seis oumais anos para sorver ciência eexperiência, aprender a dar pas-sos seguros nos carris da CIVI-LIZAÇÃO e a desenvolver a suacriatividade reflectindo sobre acomplexidade dos seus povos edos problemas que o seu país,como Nação que ainda não é,encontre algum dia a sua identi-dade cultural profundamente so-cializada no conjunto das popu-lações etnicamente divididas. Por

isso mesmo, devem os estudan-tes dos PALOP não ignorar quesão antes de tudo africanos eaprender que isso significa nãoprocurar ser o que não devem ser-uma máscara do europeu- sequiserem sustentar a singularida-de da sua condição africana, queé o factor que a todos eles unena sua diversidade etno-negra elhes empresta originalidade e en-canto!

Os estudantes africanos nãodevem, por isso, esquecer quenas suas pátrias de origem tam-bém são entre si diferentes, por-tadores de idiossincrasias distin-tas, que precisam de ser respei-tadas e valorizadas. Porque é aíque reside a essência da sua ori-ginalidade nacional como supor-te moral da identidade culturalque tanto procuram.

Duma maneira geral, os es-tudantes dos PALOP não devem,por estas razões esquecer, quan-do regressarem aos seus países,que não irão lidar com pessoas,famílias, sociedades, sistemas de

Estudantes mocambicanos em Portugal

argumentos Luís Polanah

valores, hábitos de vida, cren-ças e sensibilidades culturais di-ferentes do quadro moral doseuropeus com quem durante mui-tos anos tiveram uma saudáveloportunidade de conviver desco-brindo afinidades que o ambientecolonial não consentira...

Terem sido educados e instru-ídos na Europa, poderá tambémter-lhes permitido aprender a re-flectir sobre as condições dosseus irmãos de raça e cultura...Eles que permaneceram dobradossobre a terra-mãe, fiéis aos seuscostumes ancestrais e cuja psi-cologia, bloqueada por outrosfactores culturais e sociológicos,é importante compreender e sa-ber respeitar. Se quiserem queesse “colono” nativo, irmão deraça, semente e fruto de cultu-ras tradicionais milenares, dê pas-sos seguros nos difíceis trilhos daCivilização sem cair numa outraforma de servidão e sofrimento,porventura, ainda mais cruel!...

inventário Manuela Silva

Em estudos de História da Po-pulação, é necessário analisarcom especial cuidado a qualida-de das fontes que os sustentam,talvez mais que noutras discipli-nas históricas, pelo menos expli-citamente.

É verdade que esta preocu-pação deu lugar a notáveis aná-lises sobre as disposições e pro-cessos de elaboração e, portan-to, à qualidade de uma das fon-tes de primordial importância, osregistos paroquiais.

Estes documentos são, umadas fontes utilizadas no estudodas populações do passado, pelofacto de fornecerem informaçãosobre os actos vitais que são onascer, o procriar e o morrer. Asséries de livros sacramentais sus-citam maior atenção como fon-

tes essenciais de um estudo de-mográfico. Estamos, pois, deacordo com Vicente Perez Moredaquando escreve que neste tipode estudo “...os registos de bap-tismo, óbito e casamento, e asrelações periódicas de confirma-dos constituem o núcleo funda-mental” (Moreda, 1980:26).

A importância desta fonte levoua que muitos demógrafos reconhe-çam a riqueza do seu conteúdo eprivilegiem os livros de Registo Pa-roquial onde os “...actos mais im-portantes da vida dos seus avós,nobres ou plebeus, ricos ou pobresforam sistematicamente regista-dos” (Amorim, 1982:5) e conside-ram que a “melhor fonte para oconhecimento da demografia deum país será o estudo exaustivodos registos Paroquiais” (Hajnal,

1965:134), “os quais são uma boafonte de informação que deve serexplorada” (Ibidem:7).

Em virtude do empenho do Es-tado em preservar os registos pa-roquiais de possíveis estragos “oslocais onde se encontram habitu-almente os assentos de nascimen-to, casamento e óbito anteriores a1850 são os Arquivos Distritais (es-poradicamente os municipais) ou oArquivo Central. Onde os primeirosnão foram organizados, pode serainda a autoridade eclesiástica queos conserva nos ArquivosDiocesanos” (Amorim,1982:7). Pos-teriormente a este período,encontrá-los-emos no Registo Ci-vil e cartórios Paroquiais.

Foi com base no espólio dosCartórios Paroquiais do concelhode Braga, quer da área urbanaquer da área rural, que elaborámos

Uma aproximação à documentação dos arquivos paroquiais

neps boletim informativo 24 | Março de 2002 17

inventário Manuela Silva

um trabalho de inventariação doqual nos propomos trazer algumanotícia. Esse trabalho foi levado aefeito por uma equipa de alunosdo último ano do Curso de Históriada Universidade do Minho e por ummembro de NEPS sobre a orienta-ção do Professor Doutor Franque-lim Neiva Soares. Das reuniões pré-vias de preparação para o traba-lho a realizar foi elaborado um es-quema condutor que lhe daria uni-dade. Posto isto, foi dividida a áreaterritorial. Como já vínhamos reali-zando este tipo de trabalho na par-te ocidental do concelho, demos-lhe continuidade num total de 34freguesias da zona rural e numada zona urbana.

Não foi fácil a entrada nos Ar-quivos Paroquiais porque a dispo-nibilidade dos párocos era quasenula e podem-se contar pelos de-dos aqueles que, à primeira tenta-tiva de marcação, puderam fran-quear as suas portas. Foi neces-sário muitas vezes fazer vários te-lefonemas para se conseguir umaadesão ao nosso trabalho. Apesardestes escolhos a que o nossooptimismo não cedeu, paulatina-mente o trabalho de inventariaçãoe análise foi-se realizando e cadacartório era um foco de expectati-va, uma vez nele penetrado, o des-lumbramento pela qualidade doseu conteúdo sobrepunha-se atodas as dificuldades.

E saber que muitos documen-tos perseveraram incólumes ao lon-go de três séculos, resistindo àsintempéries de alguns detractorese à cobiça de outros, constituiumotivo de regozijo para quem vêna documentação paroquial “o nú-cleo fundamental como fontes es-senciais de um estudo demográfi-co”.

As séries de livros sacramentaisexistentes nos cartórios datavamdo século XX, embora os livros deextractos fizessem a ligação aosanteriores a 1910. Apesar de umaou outra paróquia conservar um ououtro livro anterior a este período,obviamente as disposiçõesnormativas sobre os assentos pa-roquiais já não são somente as

emanadas das constituições Sino-dais de 1697, mas também as doDecreto de 19 de Agosto de 1859,o primeiro diploma legal que entrenós regulou a forma dos assentosde baptismo.

Durante quase dois anos fomospercorrendo, um a um, os cartóri-os paroquiais. O nosso trabalho,por questões metodológicas, esta-va dividido em quatro capítulos: oprimeiro dizia respeito à paróquia.Nele englobávamos os livros sacra-mentais, róis de confessados, cos-tumeiros, fábrica da igreja, testa-mentos, tombos, visitações. O se-gundo respeitava associações,confrarias e irmandades. Aqui en-globávamos os estatutos,acórdãos ou actas, irmãos, conta-bilidade/receita e despesa, lega-dos e missas, tombos de proprie-dades, documentos jurídicos econtencioso. Um terceiro capítuloreportava-se à junta de paróquia.O quarto referia-se a outro fundo.Englobávamos aqui todos os do-cumentos que não se enquadra-vam nos capítulos anteriores. Umquinto capítulo dizia respeito aobras impressas, mas só refería-mos obras valiosas, raras ou co-lecções completas.

Em relação ao primeiro capítulotemos a destacar o espólio doscartórios paroquiais de Priscos,com três livros de Visitações relati-vos aos anos de 1659, de 1767 ede 1824, bem como de Nogueira,de 1738, e de Ferreiros. De regis-tar ainda nestas paróquias umasérie de Róis de Confessados des-de 1876 a 1926, bem como, emGualtar, Róis de Confessados de1777 a 1845 e um livro de recen-seamento de crianças com idadeescolar dos 6 aos 12 anos datadode 188 1-1884.

No Cartório de Tibães encontrá-mos Róis de Confessados de 1880a 1935, e, no de Passos S. Julião,um caderno de Baptismos de 1806a 1846, bem como um de Óbitosde 1808 a 1833. No de 5. JoãoBaptista de Nogueira compulsámosum livro de um inventário da fábri-ca da igreja, de 1707, e no deLomar um outro de usos e costu-

mes, de 1709, e ainda um livro detestamentos de 1720 e outro dePrazos de 1706 a 1727. Em Tibães,uma referência fora do comum é umlivro de registo de cera, sem data,com 300 páginas todas completas.

Em relação ao segundo capítu-lo, Associações e Confrarias, al-guns espólios paroquiais são bas-tante ricos. Assinalamos os doscartórios paroquiais de Tibães,Nogueira, Gualtar, S. Lázaro e Fer-reiros. Embora todas as freguesi-as possuam livros respeitantes aConfrarias e Irmandades, um gran-de número destes é de data recen-te. Outros, porém, com, os atrásreferidos, possuem documentosdesde o século XVII. Podemos, atítulo de exemplo, assinalar algunsdentre eles: o caso das Confrariasde Nossa Senhora do O de Tibães,datada de 1695, S. Lázaro com aConfraria de Nossa Senhora doSocorro, livro para assentar osconfrades de Nossa Senhora doSocorro, de 1649, e o livro da Con-fraria do Bem-aventurado S. José,de 1620 em Gualtar o da Confrariade Subsino, de 1722.

Em relação ao terceiro capítulo,Junta de Paróquia, pouca documen-tação se encontra neste campo. Eno entanto de assinalar a existen-te na freguesia de Palmeira, data-da de 1893 a 1925.

Para o último capítulo, “Outrofundo”, remetemos toda a docu-mentação que não se encontravanos capítulos anteriores, como se-jam as palestras eclesiásticas, queabundavam no início do século pas-sado.

Pensamos que a inventariaçãodos Arquivos paroquiais é um bomcontributo para a divulgação dasfontes existentes e que poderácompletar a base de dados demuitos historiadores demógrafosque trabalham com fontes paroqui-ais. Ao mesmo tempo congratu-lámo-nos com a preservação demuitos arquivos ao longo de sécu-los que começarão certamente aser utilizados por aqueles que, comafinco, trabalham no campo da De-mografia Histórica.

Uma aproximação à documentação dos arquivos paroquiais

18 neps boletim informativo 24 | Março de 2002

notícias neps

Alargando a sua linha edito-rial, Neps acaba de lançar o pri-meiro volume de uma nova co-lecção de publicações, a sérieB dos Cadernos Neps. Trata-se de uma obra da investiga-dora açoreana Antonieta Cos-ta, um estudo comparativo do-cumental com o título “As Fes-tas Sanjoaninas e suas origensmais remotas”, dedicado aoestudo das festividades tradi-cionais do solestício de Verãoda Ilha Terceira.

Este trabalho insere-se naactividade de pesquisa que An-tonieta Costa tem vindo a de-senvolver na sequência doDoutoramento em PsicologiaSocial pelo Instituto Superior deCiências do Trabalho e da Em-presa (ISCTE).

Na apresentação do traba-lho agora publicado, a autoraescreve:

As Festas Sanjoaninas da I lhaTerceira, são um acontecim en-to m arcante nos Açores, presen-t em ent e conhecido com o ‘asm aiores festas profanas’ do Ar-quipélago.

As Festas são com postas porum agrupamento de eventos cul-turais, aparentem ente descone-xos, para os quais não se co-nhecem as razões de ser nemos sent idos, não obstante cro-nistas locais se refer irem a ele,docum entando-o na I lha desdepelo m enos o século XVI I .

No Cont inente Português, deonde provavelmente terá emigra-do com os pr im eiros povoado-res, as referências histór icas re-lat ivam ente às possíveis or igenssão t am bém pou co esclar e-cedoras.

Devido à persistência desta

t radição e pr incipalm ente àpreservação do m odelo ini-cial, que não obstante ilógi-co ( na sua com pr eensãoactual) , é m ant ido ao longodos seus m uit os anos deex ist ência, lev an t ou- se aquestão de se proceder au m a su a l e i t u r ahermenêut ica. Considerandoa hipótese da proveniênciadest a t r ad ição se si t u arnum a área m ais vasta, queiria englobar, possivelmente,a cultura europeia, ou indo-europeia, procurou-se estu-dar a etnografia do pensa-m ento or iginal, que estar ianos prim órdios dessa cultu-ra

A invest igação histór ico/ant ropológica dir igiu-se en-tão a out ras fontes e a esseobj ecto m ais vasto, tendoem consideração a hipótesede que a m anifestação cultural‘Sanjoaninas’ seria a em anaçãode um pensam ento e de um sis-t em a de sent idos est ruturado(em oposição à explicação de quese t rata de um mero agrupamen-to de eventos, não inter ligadosent re si) .

O object ivo desta invest iga-ção, porém, não se situa na mera‘ciência pela ciência’, que por sisó já se just ificar ia. Mas no casopresente, e tendo em conside-ração os perigos que o pat r im ó-nio cultural deste t ipo corre, oobject ivo pr incipal desta invest i-gação é o de facilitar esses re-sult ados ao público ut ente daFesta. Para além de t razer con-t r ibutos ao esclarecim ento daorigem e respect iva lógica des-te conjunto de eventos, preten-de-se, com efeito, que esse es-clarecim ento possa acordar asdefesas próprias, existentes nosgrupos sociais, em relação aos

Primeiro volume de nova série de publicações do Neps

As Festas Sanjoaninas e suas origensmais remotas, de Antonieta Costa

seus valores.Com tal intenção, o produto

da invest igação foi elaborado dem odo a ser consum ido por essepúblico, com a finalidade de pro-m over um efect ivo encont ro en-t re os actores e espectadoresdas ‘Festas’, e essas suas raízesm ais rem otas, e tam bém paraque o valor do pat r im ónio quetestem unham , e que é pertençade todos, possa cont inuar a in-form ar sobre essa fase da evo-lução hum ana.

Para além de integrar a equi-pa de investigadores do Núcleode População e Sociedade, An-tonieta Costa exerce actual-mente as unções de TécnicaSuperior Principal da DirecçãoRegional da Cultura do Gover-no Regional dos Açores, sen-do responsável pela direcção daCasa da Cultura, em Angra doHeroísmo. •

neps boletim informativo 24 | Março de 2002 19

ficha de inscrição neps

IDENTIFICAÇÃO

Nome Data de Nascimento

_____/_____/_________

Endereço

Telefone Fax E-mail

Naturalidade

BI n.º Data / / Arquivo N.º Contribuinte

HABILITAÇÕES ACADÉMICAS

Doutor XX Doutorando XX

Mestre XX Mestrando XX Licenciado

XX Estudante XX Cursos [indicar instituições e anos de conclusão]

ACTIVIDADE PROFISSIONAL

Profissão

Instituição

Endereço

Telefone Fax E-mail

INTERESSES DE INVESTIGAÇÃO

Fontes XX

Análise demográfica XX Reconstituição de Paróquias XX Registos paroquiais ou de estado civil Outra documentação paroquial Documentação fiscal Passaportes Dotes Testamentos Doações Outra documentação notarial Cruzamento de fontes diversas Migrações História da família Genealogias História da criança abandonada Análise social História da alfabetização Outros

Data Assinatura

_____/_____/_______

Depois de preenchida, esta ficha deverá ser remetida ao Neps, com uma cópia do currículo do investigador.

Autor:

Título:

Publicado Policopiado Inédito Artigo Livro Dissertação Trabalho académico

Editor Ano de edição

Local de edição N.º de páginas

Revista N.º/ano Páginas /

Se se tratar de uma comunicação apresentada em encontro científico, indique a identificação completa do evento (título/temática/secção onde o trabalho foi apresentado; entidade organizadora; local e data de realização):

Resumo

Para que o possa divulgar, o Núcleo de Estudos de População e Sociedade necessita de manter actualizada o seu ficheiro bibliogáficocom as produções dos seus membros. Para tanto, agradecemos que esta ficha seja preenchida e remetida para o NEPS sempre queproduza ou publique um novo trabalho, fazendo-a acompanhar, sempre que possível, por uma cópia do mesmo.

ficha de actualização bibliográfica neps

20 neps boletim informativo 24 | Março de 2002

Boletim Informativonº 24

Março de 2002

PUBLICAÇÃO DO:NÚCLEO DE ESTUDOS

DE POPULAÇÃO E SOCIEDADEInstituto de Ciências Sociais

Universidade do MinhoPólo de Azurém

Guimarães

DIRECTORA:Maria Norberta Amorim

EDITOR:António Amaro das Neves

COORDENAÇÃO DA REDACÇÃO:Elisabete Pinto

COLABORADORES DESTE NÚMERO:Francisco Messias Trindade

Ferreira, Maria Norberta Amo-rim, Alberto Correia, Manuela

Silva, Elisabete Pinto,António Amaro das Neves

SECRETARIADO:Isabel Salgado, Daniel Freitas,Fátima Dias, Natália Silva, Só-nia Fernandes, Vítor Oliveira

DEPÓSITO LEGAL

n.º 125306/98

Núcleo de Estudosde População e Sociedade

Universidade do Minho,Pólo de Azurém

4800-058 Guimarães

Telefone/Fax:253510187

e-mail:[email protected]

Mailling list:•endereço:

[email protected]•subscrição:

[email protected]

www.eng.uminho.pt/~neps

O Boletim Informativo do NEPS é umapublicação bimestral dedicada à divulga-ção das actividades do Núcleo de Estudosde População e Sociedade e dos trabalhosrelacionados com Demografia Histórica eHistória das Populações. Agradece-se todaa colaboração que nos seja enviada, a qualserá submetida à apreciação dos editores.Solicita-se o envio de notícias acerca deeventos, publicações e investigações nasáreas de Demografia Histórica e afins.

Os textos assinados são da exclusivaresponsabilidade dos respectivos autores.

publicações do neps neps

Aos membros do Neps é concedido um desconto de 20% sobre o preço de capa.Os pedidos (acompanhados de cheque correspondente ao valor dos livros soli-citados) devem ser encaminhados para a Secretaria do Núcleo de Estudos dePopulação e Sociedade (Campus de Azurém da Universidade do Minho).

AMORIM, Maria Norberta e CORREIA, Alberto, Fran-cisca Catarina (1846-1940) . Vida e Raízes em S. João doPico ( Biograf ia, Genealogia e Est udo de Com unidade) ,Neps/ICS – Universidade do Minho, Guimarães, 1999.

[3 800$00 / 18,95 €]

AMORIM, Maria Norberta, Ribeiras doo Pico. ( Finaisdo séc. XVI I a finais do séc. XX) . Microanálise de evolu-ção dem ográf ica, Neps/ICS – Universidade do Minho,Guimarães, 2001.

[1 800$00/ 8,98 €]

BARBOSA, Maria Hermínia Vieira (com a colaboraçãode Anabela de Deus Godinho), Cr ises de m or t al idadeem Portugal, desde m eados do século XVI até ao início doséculo XX, Neps/ICS – Universidade do Minho, Guima-rães, 2001.

[1 250$00/ 6,23 €]

CARVALHO, Elza Maria Gonçalves Rodrigues de, Bas-to (St .ª Tecla) - Um a Leitura Geográfica (do século XVI àcontem poraneidade) , Neps/ICS – Universidade do Minho,Guimarães, 1999.

[3 800$00/ 18,95 €]

FARIA, Inês Martins de, Santo André de Barcelinhos. Odifícil equilíbr io de um a população – 1606-1910, Neps/ICS– Universidade do Minho, Guimarães, 1998.

[3 000$00/ 14,96 €]

GOMES, Maria Palmira Silva, Est udo Dem ográf ico deCortegaça – Ovar (1583-1975) , Neps/ICS – Universidadedo Minho, Guimarães, 1998.

[3 000$00/ 14,96 €]

NEVES, António Amaro das, Filhos das Ervas - A ilegi-t im idade no Norte de Guim arães, séculos XVI -XVI I I , Neps/ICS – Universidade do Minho, Guimarães, 2001.

[3 000$00/ 14,96 €]

MACIEL, Maria de Jesus, I m agens de Mulheres, Câ-mara Municipal de Lajes do Pico/ICS – Universidade doMinho, Guimarães, 1999.

[1 800$00/ 8,98 €]

SANTOS, Carlota Maria Fernandes dos, Sant iago deRom ar igães, com unidade rural do Alto Minho: Sociedadee Dem ografia (1640-1872) , Câmara Municipal de Paredesde Coura - Neps/ICS – Universidade do Minho, Guima-rães, 1999.

[3 000$00/ 14,96 €]

SCOTT, Ana Sílvia Volpi, Fam ílias, Form as de União eReprodução Social no Noroeste Português (Séculos XVI I eXI X) , Neps/ICS – Universidade do Minho, Guimarães, 1999.

[3 800$00/ 18,95 €]

SOLÉ, Maria Glória Parra Santos, Meadela, Com uni-dade Rural do Alto Minho: Sociedade e Dem ografia (1593-1850) , Neps/ICS – Universidade do Minho, Guimarães,2001.

[3 800$00/ 18,95 €]

This document was created with Win2PDF available at http://www.daneprairie.com.The unregistered version of Win2PDF is for evaluation or non-commercial use only.