Boletim OSMSP 6 fevereiro 2010

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BOLETIM DO PROJETO MEMÓRIA OSMSP “Não há opinião que não se possa mudar” (Cícero) - Tradução de Bento XVI Publicação Mensal - São Paulo - fevereiro de 2010 - Nº 6 - Ano II Q uem estranhou ver o nome do Papa como tradutor da frase do nosso Boletim de Janeiro, dê uma olhada na coluna “Cartas do Leitor”. Mas o que realmente impactou muitos leitores foram as questões que estão surgindo com as descobertas dos arqueólogos do Projeto Memória. Só para dar um exemplo, um leitor que não quer se identificar (para não ser “queimado” no meio dos com- panheiros da OSM) nos mandou a seguinte opinião: “Aquela história de que a OSM era uma “Frente de Trabalhadores” é conversa fiada, no fundo uma mistificação para esconder a realidade de que a Oposição era um caldeirão onde se mis- turavam 10 ou 12 organizações de esquerda. Desde os capa-pretas, até os dirigentes intermediári- os, todos tinham algum tipo de ligação com um agrupamento de esquerda. E cada um levava as propostas do seu Partido para as reuniões. Talvez esteja aí uma das explicações para o vanguardismo que caracterizou a OSM, e que foi um dos motivos para seu distanciamento da enorme massa metalúrgica de São Paulo”. O Boletim não é responsável por essas opiniões, não somos contra nem a favor, muito pelo con- trário, apenas registramos. Cabe aos leitores concordar ou discordar. Ao debate! NOTÍCIAS DO PROJETO MEMÓRIA Cesar H P A s escavações continuam, e a cada dia aparece uma novidade: dentes, pegadas, garras, armas defensivas e ofensivas, sinais de convivência amis- tosa e de lutas encarniçadas. Esses objetos e vestígios levantam algumas ques- tões: 1. Parece que a OSM tinha uma visão muito “basis- ta” da sua atividade, preocupava-se demais com o trabalho que cada um fazia na sua fábrica, e não dava a devida importância às tarefas necessárias para “tomar o Poder”, ou seja, ganhar o Sindicato. 2. As organizações de esquerda que vieram para a OSM depois da derrota na luta armada, trouxeram uma valiosa colaboração teórica e ideológica para o Movimento. Mas trouxeram também propostas vanguardistas, de um sindicalismo “revolucioná- rio” que estavam muito distantes dos interesses mais imediatos da categoria metalúrgica. Daí as seguidas derrotas que a Oposição amargou. 3. As difíceis relações da OSM com o sindicalismo do ABC, com o PT e com a CUT. – Quais as causas dos conflitos? – Como fazer uma análise desapaixonada, sem per- sonalismos, desses desencontros? A pesquisa e o estudo desses “fósseis” que a His- tória deixou talvez revelem o que foi essa espécie denominada “Oposição Sindical Metalúrgica de S. Paulo”. Pode ser que apareça daí um cavalo árabe, o mais belo animal que já pisou na Terra. Como pode tam- bém aparecer um ornitorrinco, um mamífero hor- roroso, com bico de pato e ovíparo. Não conseguiu terminar seu processo evolutivo de um réptil para um mamífero completo, ficou no meio do caminho. Como a OSM ? A História dará o seu veredicto final.

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A pesquisa e o estudo desses “fósseis” que a His- tória deixou talvez revelem o que foi essa espécie denominada “Oposição Sindical Metalúrgica de S. Paulo”. uma novidade: dentes, pegadas, garras, armas defensivas e ofensivas, sinais de convivência amis- tosa e de lutas encarniçadas. Ao debate! – Quais as causas dos conflitos? A História dará o seu veredicto final. Publicação Mensal - São Paulo - fevereiro de 2010 - Nº 6 - Ano II Cesar H P

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Boletim do Projeto memória oSmSP“Não há opinião que não se possa mudar” (Cícero) - Tradução de Bento XVI

Publicação Mensal - São Paulo - fevereiro de 2010 - Nº 6 - Ano II

Quem estranhou ver o nome do Papa como tradutor da frase do nosso Boletim de Janeiro, dê uma olhada na coluna “Cartas do Leitor”.Mas o que realmente impactou muitos leitores foram as questões que estão

surgindo com as descobertas dos arqueólogos do Projeto Memória. Só para dar um exemplo, um leitor que não quer se identificar (para não ser “queimado” no meio dos com-panheiros da OSM) nos mandou a seguinte opinião:“Aquela história de que a OSM era uma “Frente de Trabalhadores” é conversa fiada, no fundo uma mistificação para esconder a realidade de que a Oposição era um caldeirão onde se mis-turavam 10 ou 12 organizações de esquerda. Desde os capa-pretas, até os dirigentes intermediári-os, todos tinham algum tipo de ligação com um agrupamento de esquerda. E cada um levava as propostas do seu Partido para as reuniões.Talvez esteja aí uma das explicações para o vanguardismo que caracterizou a OSM, e que foi um dos motivos para seu distanciamento da enorme massa metalúrgica de São Paulo”.O Boletim não é responsável por essas opiniões, não somos contra nem a favor, muito pelo con-trário, apenas registramos. Cabe aos leitores concordar ou discordar.Ao debate!

NOTÍCIAS DO PROJETO MEMÓRIA

Cesar H P

As escavações continuam, e a cada dia aparece uma novidade: dentes, pegadas, garras, armas

defensivas e ofensivas, sinais de convivência amis-tosa e de lutas encarniçadas.

Esses objetos e vestígios levantam algumas ques-tões:

1. Parece que a OSM tinha uma visão muito “basis-ta” da sua atividade, preocupava-se demais com o trabalho que cada um fazia na sua fábrica, e não dava a devida importância às tarefas necessárias para “tomar o Poder”, ou seja, ganhar o Sindicato.2. As organizações de esquerda que vieram para a OSM depois da derrota na luta armada, trouxeram

uma valiosa colaboração teórica e ideológica para o Movimento. Mas trouxeram também propostas vanguardistas, de um sindicalismo “revolucioná-rio” que estavam muito distantes dos interesses mais imediatos da categoria metalúrgica. Daí as seguidas derrotas que a Oposição amargou.3. As difíceis relações da OSM com o sindicalismo do ABC, com o PT e com a CUT.

– Quais as causas dos conflitos?

– Como fazer uma análise desapaixonada, sem per-sonalismos, desses desencontros?

A pesquisa e o estudo desses “fósseis” que a His-tória deixou talvez revelem o que foi essa espécie denominada “Oposição Sindical Metalúrgica de S. Paulo”.

Pode ser que apareça daí um cavalo árabe, o mais belo animal que já pisou na Terra. Como pode tam-bém aparecer um ornitorrinco, um mamífero hor-roroso, com bico de pato e ovíparo. Não conseguiu terminar seu processo evolutivo de um réptil para um mamífero completo, ficou no meio do caminho. Como a OSM ?

A História dará o seu veredicto final.

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O artigo abaixo, do leitor Paulo Rossi, traz para discussão um tema que até hoje desafia a

esquerda: a arte proletária. No período de 1917 a 1924 a União Soviética foi palco de manifestações artísticas extraordinárias em todas as áreas, no cinema, teatro, literatura, artes plásticas.Quando assumiu o poder total, Stalin impôs o silêncio para todos artistas de vanguarda. A maioria deles perdeu a vida em gulags na Sibéria.

Mais tarde as experiências socialistas na China, nos países do Leste europeu, em Cuba, iriam mostrar que a convivência de regimes comunistas com a arte é muito complicada. Porque será?

A ARTE E A LUTA DE CLASSES - I

Para o pintor alemão Franz Wilhelm Seiwert (1894-1933) - líder do grupo de

artistas anarquistas Progressistas de Colônia (Kölner Progressiven) - abordar claramente conteúdos que denunciassem a corrupção material e moral da poderosa classe dominante e a difícil

condição social dos trabalhadores não era suficiente para tornar a arte proletária ou mesmo mostrar a mobilização do proletariado em torno de uma causa partidária. Tem como exemplo os temas centrais das obras de George Grosz (ver

figura 01), ou como no quadro O bolchevique, 1920, do artista soviético Boris Kustodiev. Ao contrário, para Franz, essas obras não levavam o proletariado a se libertar de sua condição de subordinado à ordem cultural e política estabelecida; para ele, a luta de classes estava sendo posta em nome de uma causa partidária e não do proletariado em si. Nesse sentido, a cultura comunista não diferia da capitalista, pois o homem continuava preso a uma cultura de obediência e de reprodução da ordem.As obras dos Progressistas de Colônia seriam a contrapartida disso, eles buscavam mostrar não os fatos da realidade cotidiana, mas os fundamentos culturais que estruturam a organização social dentro de uma realidade específica, como veremos em nosso próximo artigo.

CARTAS DO LEITOR

O papa Bento XVI nos escreveu, não só para traduzir a frase de Cícero mas também para fazer algumas

considerações sobre o assunto. Não sabemos quem envia o Boletim para Sua Santidade. Waldemar Rossi não é, com certeza, esses dois não se bicam, desde que Bento XVI era apenas Joseph Ratzinger.

Diz o Papa:

“Caríssimos irmãos, gostei da frase do Cícero porque ela me fez lembrar do Boletim de Novembro, onde vocês recomendavam a leitura do Livro de Jonas.

Li com muita atenção e, como diz o Cícero, me vi obrigado a mudar minha opinião a respeito da salvação das almas. Conforme os doutores da Igreja, quem não pertence à Eclesia, à comunidade dos cristãos, não será salvo. Ora, se Deus manda Jonas para converter e salvar o povo de Nínive, uma gente corrupta, violenta e sanguinária, porque então Ele não vai salvar os ateus, os muçulmanos e judeus que não acreditam na ressurreição de Cristo? Claro que vai!

Recebam a bênção apostólica de Benedictus (prá vocês Bento) XVI, papa.

O leitor Jacinto Leite Aquino Rego ganhou nosso Concurso para a melhor idéia de que “O Brasil não

é um país sério”. Com a seguinte frase:

“Um país que conseguiu sua independência de Portugal por meio de um português. O último dos países a abolir a escravidão dos negros e instituir a escravidão de brancos, negros e mulatos. A República foi proclamada há mais de 100 anos e não existe até hoje.E pesquisas feitas no mundo inteiro constataram que o brasileiro é o povo que se considera o mais feliz na face da Terra!Bom, as hienas gostam de carniça, trepam só uma vez

por ano, e estão sempre rindo. Porque não podemos ser assim também?“

Parabéns, Jacinto. Mas houve um pequeno problema com o prêmio. Não há mais passagens para Paris, e o Hotel Montmartre nos informou que suas reservas estão esgotadas. Conseguimos passagens para você e sua acompanhante para Kandahar, no Afeganistão. Vocês precisam levar coletes à prova de bala e botas de proteção contra minas.

Desejamos uma boa viagem e estamos rezando a Deus e Allah para que vocês voltem sãos e salvos!

Fig 1: George Grosz, Os pilares da sociedade, 1926, óleo sobre tela, 200x108cm.

RESPONDA E GANHE

A ARTE E A LUTA DE CLASSES

ExpEdiEntE Projeto Memória OSM-SPwww.iiep.org.br/index1.htmlTel: (11) 3362-1513 / (11) 7110-2474

E-mail: [email protected]: Acervo Projeto Memória/Arquivo OSM-SPProjeto Gráfico: Cesar Habert Paciornik