Boletim OSMSP 8 abril 2010

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M ês passado demos destaque ao grande poeta Carlos Drummond de Andrade. Agora nossa frase do mês é também de um mineiro, o jornalista e escritor Otto Lara Resende. Porque essa frase tão soturna? Porque vários leitores do Boletim, solidários com a enfermidade do Editor, se dispuseram a assumir o compromisso de colaborar. Sejam bem-vindos! E uma primeira colaboração vem da Isa, companheira que atuou na Zona Leste, apoiando a Oposição desde 1969 e depois na construção e consolidação do Movimento de Saúde nas décadas de 1980 e 1990. Ela também é mineira, uai! Leiam seu depoimento abaixo. Como um grande criador de frases, Otto Lara Resende também deixou esta, que cai como uma luva para muitos companheiros e companheiras da OSM: “Abraço e punhalada a gente só dá em quem está perto”. BOLETIM DO PROJETO MEMÓRIA OSMSP “O MINEIRO SÓ É SOLIDÁRIO NO CÂNCER” - Otto Lara Resende Publicação Mensal - São Paulo - abril de 2010 - Nº 8 - Ano II DEPOIMENTO DO LEITOR M uitas vezes, nós mulheres, militantes do movimen- to operário ou sindical, tivemos sérias dificulda- des em nos manifestar devido ao medo do julgamento e das críticas dos “capas-preta”, dirigentes e militantes, na sua grande maioria homens. Mas, quando hoje penso como as qualidades revolucionárias femininas contri- buíram para o enfrentamento corajoso do poder cons- tituído, na persistência do agir transformador, para a formação da consciência de classe, o aprimoramento da gestão democrática, me animo a deixar aqui a minha palavra de encorajamento para todas as companheiras do passado e, principalmente estas companheiras do futuro que estão se formando agora. Não é fácil: a con- ciliação do espaço doméstico e público, a luta pela cria- ção e educação dos filhos, a dupla ou tri- pla jornada de trabalho (serviço doméstico, emprego, participação popular e política), o enfrentamento da condição de submissão ao homem, a luta pela informa- ção e formação tantas vezes negada à mulher, a luta pela participação nos espaços públicos e de poder, a modificação de valores tradicionalmente atribuídos à mulher, etc. Mas, coragem, o reconhecimento chega com o tempo – história; as pequenas participações so- madas geraram políticas públicas inovadoras, a abertu- ra de espaços públicos, a mudança de valores pessoais e sociais. Como exemplo, posso citar - a participação e gestão democrática nos Movimentos, Comissões e Con- selhos Populares que levaram à criação das Conferên- cias e Conselhos Municipais, Estaduais e Federais da Saúde, Segurança, Habitação, da Assistência Social, do Idoso e tantos outros. A contribuição que era anônima e pequena, cresce no coletivo e se concretiza em pe- quenas e grandes transformações sociais. Dedico este pequeno texto às Anas, Marias, Célias e a tantas ou- tras mulheres, militantes anônimas, que um dia percebem o seu valor... Encontro do Projeto Memória em Itapecerica (20 a 22 de julho de 2008) - Grupo de Trabalho: Formação. Na foto:Nadine, Sueli, Leonildo, ?, Delma, Isa, Cícero e Tonico. ISA Projeto Memória - Munir Ahmed Isa - Encontro do Projeto Memória em Itapecerica (20 a 22 de julho de 2008) Projeto Memória - Munir Ahmed

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DEPOIMENTO DO LEITOR “O MINEIRO SÓ É SOLIDÁRIO NO CÂNCER” - Otto Lara Resende Publicação Mensal - São Paulo - abril de 2010 - Nº 8 - Ano II Isa - Encontro do Projeto Memória em Itapecerica (20 a 22 de julho de 2008) Encontro do Projeto Memória em Itapecerica (20 a 22 de julho de 2008) - Grupo de Trabalho: Formação. Na foto:Nadine, Sueli, Leonildo, ?, Delma, Isa, Cícero e Tonico. Projeto Memória - Munir Ahmed Projeto Memória - Munir Ahmed

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Mês passado demos destaque ao grande poeta Carlos Drummond de Andrade. Agora nossa frase do mês é também de um mineiro, o jornalista e escritor Otto Lara Resende. Porque essa frase tão soturna? Porque vários leitores do Boletim,

solidários com a enfermidade do Editor, se dispuseram a assumir o compromisso de colaborar. Sejam bem-vindos! E uma primeira colaboração vem da Isa, companheira que atuou na Zona Leste, apoiando a Oposição desde 1969 e depois na construção e consolidação do Movimento de Saúde nas décadas de 1980 e 1990. Ela também é mineira, uai! Leiam seu depoimento abaixo. Como um grande criador de frases, Otto Lara Resende também deixou esta, que cai como uma luva para muitos companheiros e companheiras da OSM: “Abraço e punhalada a gente só dá em quem está perto”.

Boletim do Projeto memória oSmSP“O MINEIRO SÓ É SOLIDÁRIO NO CÂNCER” - Otto Lara Resende

Publicação Mensal - São Paulo - abril de 2010 - Nº 8 - Ano II

DEPOIMENTO DO LEITOR

Muitas vezes, nós mulheres, militantes do movimen-to operário ou sindical, tivemos sérias dificulda-

des em nos manifestar devido ao medo do julgamento e das críticas dos “capas-preta”, dirigentes e militantes, na sua grande maioria homens. Mas, quando hoje penso como as qualidades revolucionárias femininas contri-buíram para o enfrentamento corajoso do poder cons-tituído, na persistência do agir transformador, para a formação da consciência de classe, o aprimoramento da gestão democrática, me animo a deixar aqui a minha palavra de encorajamento para todas as companheiras do passado e, principalmente estas companheiras do futuro que estão se formando agora. Não é fácil: a con-ciliação do espaço doméstico e público, a luta pela cria-

ção e educação dos filhos,

a dupla ou tri-

pla jornada de trabalho (serviço doméstico, emprego, participação popular e política), o enfrentamento da condição de submissão ao homem, a luta pela informa-ção e formação tantas vezes negada à mulher, a luta pela participação nos espaços públicos e de poder, a modificação de valores tradicionalmente atribuídos à mulher, etc. Mas, coragem, o reconhecimento chega com o tempo – história; as pequenas participações so-madas geraram políticas públicas inovadoras, a abertu-ra de espaços públicos, a mudança de valores pessoais e sociais. Como exemplo, posso citar - a participação e gestão democrática nos Movimentos, Comissões e Con-selhos Populares que levaram à criação das Conferên-cias e Conselhos Municipais, Estaduais e Federais da Saúde, Segurança, Habitação, da Assistência Social, do Idoso e tantos outros. A contribuição que era anônima e pequena, cresce no coletivo e se concretiza em pe-quenas e grandes transformações sociais. Dedico este

pequeno texto às Anas, Marias, Célias e a tantas ou-tras mulheres, militantes anônimas, que um dia

percebem o seu valor...

Encontro do Projeto Memória em Itapecerica (20 a 22 de julho de 2008) - Grupo de Trabalho: Formação. Na foto:Nadine, Sueli, Leonildo, ?, Delma, Isa, Cícero e Tonico.

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Isa - Encontro do Projeto Memória em Itapecerica (20 a 22 de julho de 2008)

Projeto Memória - Munir Ahmed

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GAOS - Grupo de Apoio à Oposição Sindical

CONSTRUINDO A HISTÓRIA DA OSMSP COM OS LEITORES

Recebemos uma valiosa colaboração do leitor Clau-dio Nascimento, falando de um tema que talvez

muitos leitores ignorem: o trabalho desenvolvido na Europa por militantes de Oposições Sindicais brasi-leiras que foram obrigados a se exilar. Com sede em Paris, o GAOS - Grupo de Apoio à Oposição Sindical, desenvolveu nos anos de 1973 a 1979 um intenso tra-balho de denúncia da repressão política no Brasil, das prisões, torturas e assassinatos de militantes, como também da exploração e das péssimas condições de vida e de trabalho da classe trabalhadora. Em 1979, com a Anistia, os companheiros exilados voltam ao Brasil, mas o trabalho feito pela GAOS permitiu o esta-belecimento e a continuidade de contatos com Centrais Sindicais e Entidades que deram um grande apoio à

formação da CUT, ao PT e a várias organizações liga-das ao movimento operário e sindical no Brasil. Seria importante que todos os companheiros e companheiras envolvidos no Projeto tomassem conhecimento desse valioso trabalho realizado na Europa, “longe dos olhos mas perto do coração”. Para acessar o artigo de Claudio Nascimento “GAOS: a Oposição Sindical no Ex’lio”, feito no 30o Encon-tro Anual da ANPOCS (24 a 28 de outubro de 2006) Caxambu,MG - baixar em: www.iiep.org.br/ARTIGO GAOS -ClaudioNascimento..docPara ver o ensaio de Claudio Nascimento “A oposição sindical no exílio (ensaio sobre fontes da autogestão no Brasil). Ó, baixar em: www.iiep.org.br/A OPOSIÇÃO SINDICAL NO EXÍLIO_Claudio Nascimento.doc

NOTÍCIAS

O Projeto Memória levou 30 convidados ao teatro no dia 18/04 para ver FILHA DA ANISTIA, peça que surgiu a partir de inquietações levantadas pela dramaturga Carolina Rodrigues e Alexandre Piccini durante um trabalho de pesquisa de 3 anos em arquivos públicos, bibliotecas e entrevistando militantes. Qual ditadura existiu? A que nos foi apresentada pelos livros didá-ticos ou essa que estamos conhecendo através da pes-quisa? Como a geração contemporânea se apropriou dessa história? A peça Filha da Anistia deixa transparecer estas pre-ocupações, colocadas de forma didática e ao mesmo tempo cativante quando estabelece sensivelmente as relações “perdidas” entre a geração que viveu a dita-dura e as que vieram depois. Vale a pena conferir!!! Emocionante!!!

Sinopse: Após a morte da avó, Clara parte em busca do pai que nunca conhecera. Esse encontro irá revelar um passado de mentiras e omissões, forjado durante os anos de chumbo no Brasil.

Acompanhe a programação:http://filhadaanistia.blogspot.com/2010/02/lancamen-to-do-projeto-filha-da-anistia.html

Confira trailers no yotube:h t t p : / / w w w . y o u t u b e . c o m / w a t c h ? v = a X X _qHttD1o&feature=related

http://www.youtube.com/watch?v=mKno7Q151XY&feature=related

PROJETO VAI AO TEATRO VER “FILHA DA ANISTIA”

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Carolina Rodrigues (dramaturga), Ivan Seixas (Nucleo de Memória/ Fórum Ex-Presos Políticos) e Hélio Cicero (diretor) em debate realizado após a apresentação, em 18/04/2010 no Espaço Capobianco- São Paulo- SP

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HOMENAgEM

Como já é do conhecimento de muitos leitores, no dia 20 de abril perdemos ocompanheiro

José Groff.

ExPEDIENTE

Projeto Memória OSM-SPwww.iiep.org.br/index1.htmlTel: (11) 3362-1513 / (11) 7110-2474

E-mail: [email protected]: Acervo Projeto Memória/Arquivo OSM-SPProjeto Gráfico: Cesar Habert Paciornik

José Groff em reunião de Memória Oral do Coletivo da Greve da Cobrasma com o Projeto Memória da OSMSP, em 23/05/2009

Com uma sólida formação cristã de com-promisso com as lutas operárias, Groff dedicou toda sua vida para a conscienti-zação e organização dos trabalhadores, visando um mundo sem explorados e sem exploradores.

Na histórica greve de 1968 em Osasco, José Groff foi um dos seus principais di-rigentes, como presidente da Comissão de Fábrica da Cobrasma. Como todos lutadores, enfrentou desemprego, per-seguições, prisão e tortura. Não recuou nunca.

Seu exemplo de fidelidade aos princí-pios socialistas - solidariedade, respei-to, firmeza permanente, compromisso com a classe - deve ser uma referência para todos nós.

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