Boletim Técnico - Arsênio e Compostos

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BOLETIM TÉCNICO As Arsênioe compostos Edição n.°1 | 2009 TOXICOLOGIA NO AMBIENTE DE TRABALHO Prof.: Eustáquio L. Borges | Farmacêutico Toxicologista GENERALIDADES SOBRE A SUBSTÂNCIA O arsênio compõe um grupo de metais ubíquos, vasta- mente distribuídos nos ambientes em função de sua ocorrência natural e antropogênica, esta última a maior contribuição para a contaminação do ecossistema e do homem. Pode estar associado a outros minérios como o Cobre, Chumbo, Ouro,Prata, Níquel, Cobalto e Antimônio. Existem três grandes grupos de compostos de Arsênio (As): COMPOSTOS INORGÂNICO DO ARSÊNIO; COMPOSTOS ORGÂNICOS DO ARSÊNIO; ARSÊNIO GASOSO NA FORMA DE ARSINA E ARSINAS SUBSTITUÍDAS. USOS E APLICAÇÕES Os principais usos do Arsênio e derivados estão vincula- dos ao seu emprego autorizado na agricultura, como herbicida arsenical orgânico (Metano-arseniato ácido monossódico), nome técnico MSMA, com nome comer- cial Daconate. O trióxido de Arsênio tem vasto emprego mundial em formulação química para preservação de madeira, usado ainda na fabricação de materiais vítreos diversos e como conservantes de coro. O Arsênio metálico é usado na produção de ligas não ferrosas com chumbo em baterias e no latão resistente a corrosão. Sua associação com minério de cobre varia no teor em função da composição e origem. A formação de Arsina pode estar associada nos processos em que os óxidos de arsênio têm contato com ácidos o que pode produzir arsina, um gás potencialmente perigoso, devido a facilidade de sua absorção pulmonar. RISCOS NA EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL As exposições em ambientes de trabalho estão associa- das com a inalação de material particulado em minera- ção de cobre, fundição de cobre, manufatura de semicon- dutores, vidros, fabricação e aplicação de agrotóxicos para preservação de madeira e aplicação na agricultura. Os riscos estão ainda associados a absorção de arsênio na cadeia alimentar, notadamente frutos do mar que podem contribuir significativamente com a elevação de carga do toxicante no organismo. Outra situação de risco importante é a possibilidade de formação do gás Arsina como contaminante formado pela hidrogenação do trióxido de Arsênio em meio ácido em processos industriais em que este óxido está presente como componente de minérios em meta- lurgias. Arsina é um gás que tem a absorção pulmonar facilitada e uma potência tóxica mais elevada entre todos os produtos arsenicais. AÇÃO TÓXICA A ação tóxica do Arsênio no organismo humano tem alguns mecanismos conhecidos e elucidados expe- rimentalmente e podemos destacar a inibição da respiração celular (por acúmulo na mitocôndria), e comprometimento generalizado nas funções de proteínas importantes no metabolismo basal devido a forte afinidade do Arsênio para com os radicais sulfidrilas presentes nas estruturas protéicas. Esta forte afinidade do Arsênio por sulfidrilas vicinais serviu de base para o desenvolvimento do dimercaprol, antídoto quelante utilizado na primeira guerra para tratar vítimas da guerra química. O As III, trivalente promove dano no metabolismo bioquímico pela inibição do complexo piruvato desidrogenase, impedindo a regeneração da lipoa- mida no metabolismo normal, que tem o papel de co-fator na conversão do piruvato em acetil CoA (acetil coenzima A) e consequentemente diminuin- do a produção de ATP. O As trivalente promove ainda a redução dos níveis de glutationa, importante anti- oxidante para os processos reparadores de inativação de radicais livres e garantia da integridade das membranas celulares. Outros danos são observados de forma generaliza- da na intoxicação por compostos do Arsênio, porém sem mecanismos de ações claramente definidos. Destacamos alguns dos efeitos mais proeminente- mente constatados em estudos experimentais e observações de populações expostas. EFEITOS NO SISTEMA RESPIRATÓRIO Trabalhadores expostos ao As inorgânico presente em poeiras na forma de partículas apresen- tam irritação do trato respira- tório resultando em laringites, bronquites ou rinites.

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Breve estudo técnico sobre arsênio e seus compostos sob o prisma de seus efeitos danosos ao organismo, insalubridade.

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ICOAsArsênioe compostos

Edição n.°1 | 2009

TOXICOLOGIA NO AMBIENTE DE TRABALHOProf.: Eustáquio L. Borges | Farmacêutico Toxicologista

GENERALIDADES SOBRE A SUBSTÂNCIA

O arsênio compõe um grupo de metais ubíquos, vasta-mente distribuídos nos ambientes em função de sua ocorrência natural e antropogênica, esta última a maior contribuição para a contaminação do ecossistema e do homem.Pode estar associado a outros minérios como o Cobre, Chumbo, Ouro,Prata, Níquel, Cobalto e Antimônio.

Existem três grandes grupos de compostos de Arsênio (As):

COMPOSTOS INORGÂNICO DO ARSÊNIO;COMPOSTOS ORGÂNICOS DO ARSÊNIO;ARSÊNIO GASOSO NA FORMA DE ARSINA E ARSINAS SUBSTITUÍDAS.

USOS E APLICAÇÕES

Os principais usos do Arsênio e derivados estão vincula-dos ao seu emprego autorizado na agricultura, como herbicida arsenical orgânico (Metano-arseniato ácido monossódico), nome técnico MSMA, com nome comer-cial Daconate.O trióxido de Arsênio tem vasto emprego mundial em formulação química para preservação de madeira, usado ainda na fabricação de materiais vítreos diversos e como conservantes de coro.O Arsênio metálico é usado na produção de ligas não ferrosas com chumbo em baterias e no latão resistente a corrosão. Sua associação com minério de cobre varia no teor em função da composição e origem. A formação de Arsina pode estar associada nos processos em que os óxidos de arsênio têm contato com ácidos o que pode produzir arsina, um gás potencialmente perigoso, devido a facilidade de sua absorção pulmonar.

RISCOS NA EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL

As exposições em ambientes de trabalho estão associa-das com a inalação de material particulado em minera-ção de cobre, fundição de cobre, manufatura de semicon-dutores, vidros, fabricação e aplicação de agrotóxicos para preservação de madeira e aplicação na agricultura. Os riscos estão ainda associados a absorção de arsênio na cadeia alimentar, notadamente frutos do mar que podem contribuir significativamente com a elevação de carga do toxicante no organismo.Outra situação de risco importante é a possibilidade de formação do gás Arsina como contaminante formado pela hidrogenação do trióxido de Arsênio em meio ácido

em processos industriais em que este óxido está presente como componente de minérios em meta-lurgias.Arsina é um gás que tem a absorção pulmonar facilitada e uma potência tóxica mais elevada entre todos os produtos arsenicais.

AÇÃO TÓXICA

A ação tóxica do Arsênio no organismo humano tem alguns mecanismos conhecidos e elucidados expe-rimentalmente e podemos destacar a inibição da respiração celular (por acúmulo na mitocôndria), e comprometimento generalizado nas funções de proteínas importantes no metabolismo basal devido a forte afinidade do Arsênio para com os radicais sulfidrilas presentes nas estruturas protéicas.Esta forte afinidade do Arsênio por sulfidrilas vicinais serviu de base para o desenvolvimento do dimercaprol, antídoto quelante utilizado na primeira guerra para tratar vítimas da guerra química.O As III, trivalente promove dano no metabolismo bioquímico pela inibição do complexo piruvato desidrogenase, impedindo a regeneração da lipoa-mida no metabolismo normal, que tem o papel de co-fator na conversão do piruvato em acetil CoA (acetil coenzima A) e consequentemente diminuin-do a produção de ATP.O As trivalente promove ainda a redução dos níveis de glutationa, importante anti- oxidante para os processos reparadores de inativação de radicais livres e garantia da integridade das membranas celulares.Outros danos são observados de forma generaliza-da na intoxicação por compostos do Arsênio, porém sem mecanismos de ações claramente definidos.Destacamos alguns dos efeitos mais proeminente-mente constatados em estudos experimentais e observações de populações expostas.

EFEITOS NO SISTEMA RESPIRATÓRIO

Trabalhadores expostos ao As inorgânico presente em poeiras na forma de partículas apresen-tam irritação do trato respira-tório resultando em laringites, bronquites ou rinites.

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ICOAsArsênioe compostos

EFEITOS CARDIOVASCULARES

O documento técnico da ATSDR, de 2007, relata estudos com evidência epidemiológica de que As inorgânico inalado produz efeitos no sistema cardiovascular e estudos transversais em trabalhadores expostos eviden-ciaram um aumento significativo do que foi chamado de Raynaud´s fenômeno, caracterizado como uma doença vascular periférica com espasmos das artérias digitais e constrição dos vasos sanguíneos em resposta ao teste do calor nas pontas dos dedos, além da vasoplasticidade observada.O mesmo documento da ASTDR ainda relata estudos tipo cohorts realizados em vários países em populações expostas no trabalho, evidenciando aumento no risco de mortalidade por doenças cardiovasculares isquemia cardíaca e cerebrovascular, embora sem estabelecer correlação com níveis de dose na exposição, limitando os achados.

EFEITOS DERMATOLÓGICOS

Trabalhadores expostos ao arsênio inorgânico frequen-temente apresentam dermatites, hiperqueratinização da pele expostas, pigmentação e queratoses.

EFEITOS IMUNOLÓGICOS E LINFORETICULARES

Estudo relatado pela ASTDR em 2007, registra a detecção de anormalidades nos níveis séricos de imuno-globulinas de trabalhadores expostos e também foram detectadas significativos aumentos de outras proteínas como transferrina e ceruloplasmina, sugerindo inclusive associação entre aumento de ceruloplasmina e aumento de incidência de câncer.

EFEITO CARCINOGÊNICO

Existem evidências convincentes em diversos estudos epidemiológicos de que a inalação de arsênio inorgânico aumenta o risco de câncer de pulmão.Estes estudos estão referidos no documento da ASTDR de 2007.Entretanto a Agência Internacional de Pesquisa do Cancer/ IARC-WHO, classifica o Arsênio no grupo I, defini-tivamente carcinogênico para o ser humano.

MONITORIZAÇÃO DA EXPOSIÇÃO

Neste boletim nós destacamos os dados e referências para vigilância em função da contaminação ambiental, cadeia alimentar, ambiente de trabalho (limites de tolerância-dose externa) e limite biológico de exposição (dose interna).

VIGILÂNCIA NO AMBIENTE DE TRABALHO

Na tabela abaixo estão referidos os limites adota-dos para dose externa em ambientes de trabalho adotados nos EUA(Estados Unidos) e Brasil.

ORGANIZAÇÃO / PAÍS

DESCRIÇÃO LIMITE REFERÊNCIA

ACGIH/EUA

TLV/TWAAs elementar e seus compostos

inorgênicos

0,01 mg/m³ ACGIH-1999

NIOSH/EUAREL(compostos

inorgânicos) 0,002 mg/m³

0,16 mg/m³

NIOSH-1999

NR-15, 1978LT(até 48h/semana

para Arsina e arsenamina)

MT/SSMT/Brasil

NR 15

TLV=Threshold limit values | TWA=Time-weighted exposure concentration

REL=Recommended exposure limits | LT=Limite de tolerância

TOXICOVIGILÂNCIA DA POPULAÇÃO TRABALHADORA

Indicador Biológico de Exposição:MT/SSMT/ NR-7Arsênio urinário: IBMP = 50 mcg/g de creatininaArsênio urinário: Vr = até 10 mcg/ g de creatinina adotado pela NR-7Vr=Valor de referência adotado como níveis em população não expostas no trabalho, para popula-ção geral, porém este valor pode variar considera-velmente a depender de fatores ambientais, hábitos alimentares, sociais etc.IBMP= Índice biológico máximo permitido.Legenda (mcg=micrograma) g=grama

ORIENTAÇÃO DE AMOSTRAGEM NA TOXICOVIGILÂNCIA

Coleta: Coletar amostra de urina pré ou pós-jornada (50ml) no último dia da jornada semanal de trabalho.Conservação da amostra: Conservar refrigerada a 4 graus, por até 7 dias.Método analítico Recomendado: Espectrometria de Absorção Atômica com gerador de Hidreto , Forno de Grafite ou ICPMS.

REFERÊNCIAS:

1) The International Agency for Research on Cancer – IAR disponível em: http://www.iarc.fr/ acesso 5 Out de 2009.

2) U.S. DEPARTMENT OF HEALTH AND HUMAN SERVICES Public Health Service Agency for Toxic Substances and Disease Registry. http://www.atsdr.cdc.gov/ acesso em 5 Out de 2009.

3) Azevedo F. A. Chasin A.M. -Metais-Gerenciamento da Toxicidade.Ed Atheneu, 2003.

4) Ministério do Trabalho-Normas regulamentadoras: http://www.mte. gov.br/legislacao/normas_regulamentadoras/default.asp, acesso em 5 Out 2009.

TOXICOLOGIA NO AMBIENTE DE TRABALHOProf.: Eustáquio L. Borges | Farmacêutico Toxicologista

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