Boletim Universitario - numero 10
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“Se você quer transformar o mundo, mexa primeiro em seu interior”(Dalai Lama)
Todo jovem sonha com um mundo que lhe permita se realizar na vida, tendo bem-estar, alegria, paz e, enfi m, felicidade. Mas é um sonho que quanto mais o perseguimos, mais se torna distante. Por quê?
Porque esse mundo não existe. É algo que nos compete criar. O mundo que temos, especialmente pelo seu egoísmo e consequente desrespeito à pessoa, não favorece a realização dessa profunda e justa aspiração do ser humano. É preciso eliminar dele o egoísmo das pessoas, que é como um câncer que mata os ideais humanos.
Mas como? Costuma-se dizer, e é verdade, que “ninguém pode dar o que não tem”. Antes de mais nada, cada um de nós deve procurar vencer o seu egoísmo, e isso signifi ca “mexer no seu interior”. O jovem, especialmente universitário, adquire conhecimentos que se tornam o seu bem maior, porque o tornam apto a exercer uma profi ssão; mas não é a profi ssão que melhora o mundo e realiza a pessoa. Não é o ter e sim o ser.
É a maneira de exercer a profi ssão que vai fazer diferença e que, para ser digna de uma pessoa humana e reverter-se para o bem dos outros, deve brotar de um desejo profundo de servir. Isso, naturalmente, requer domínio do próprio egoísmo que deve ser a maior aprendizagem de nossa vida, especialmente nos anos da juventude, quando ainda somos como uma planta jovem que se pode endireitar. Eis por que o lema do verdadeiro universitário deveria ser “Sciat ut serviat”, ou seja, aprenda para servir.
Universitário, abrace essa luta, junte-se a nós, divulgue com todos os meios os conteúdos deste jornalzinho Universitário. Obrigado!
“sciat ut serviat”Nº 10 :::::
BOLETIMUNIVErSITÁRIO
CRISE ECONÔMICA E ÉTICA
04Pág.
07Pág.
02Pág.
08Pág.
JORNADA MUNDIALDA JUVENTUDE
UNIVERSITÁRIOE FUTURO
AUTOESTIMA
A Autoestima e osentido do próprio valor
As condições favoráveis para que uma pessoa se estime vêm de um desenvolvimento psicológico e cognitivo sadio. “
“
A autoestima pode ser considerada como uma avaliação positiva
de si mesmo, uma sensação de aceitação de si mesmo, de ter um
certo valor, de constatar em si uma certa bondade e capacidade de
fundo; tudo isso unido ao reconhecimento realístico dos próprios
limites, que não invalidam tal avaliação positiva. Ao passo que, uma
estima excessiva de si (portanto não verdadeira) pode se tornar
uma forma de encobrir a própria fragilidade e, por isso, é uma
forma de defesa de uma escassa estima de si.
Tanto a baixa quanta a alta estima de si não dependem, pois, de um
conhecimento ou não de um limite – quem não o tem? – mas da
avaliação que se faz em termos de aceitação de si mesmo.
É a leitura (avaliação) das coisas, e sobretudo de si mesmo, a
determinar a capacidade de realizar ou não determinada ação: se
nos considerarmos incapazes, tornar-nos-emos incapazes. A timidez
bloqueia de tal maneira a pessoa a ponto de torná-la incapaz ou
insignifi cante.
Situações objetivamente difíceis são enfrentadas adequadamente se
houver a convicção prévia de que podem ser superadas: isso, com efeito,
leva a motivações e atitudes a respeito do que se deve enfrentar, diferentes
das de quem desde o início se acha incapaz. Pense-se, por exemplo, em um
atleta que, antes de iniciar uma corrida, continuasse a repetir a si mesmo:
“nunca conseguirei ganhar, nunca conseguirei”. Podemos imaginar o que
vai acontecer.
A percepção do próprio valor, juntamente com a capacidade
que a pessoa possui, é extremamente relevante para enfrentar
problemas e difi culdades; para se empenhar em campos novos de
atividade; para poder viver, tendo consciência de que situações novas
e diversidades em geral irão aparecer continuamente nas ações
comuns e conhecidas do dia a dia. Não são as difi culdades superadas
que demonstram que se tem valor, e sim a convicção de valer que
permite superá-las, como observava Sêneca: “Não é porque as
coisas são difíceis que nós não ousamos, é porque não ousamos que são
difíceis” (Cartas a Lucílio).
O fato de que o valor e a estima positiva de si dependem mais de
um processo de avaliação do que de alguns elementos objetivos,
encontra uma confi rmação analisando as coisas que o indivíduo não
sabe fazer ou que não conhece, porque nem todas essas coisas infl uem
da mesma maneira sobre a estima de si. O que infl ui são somente
aquelas das quais a pessoa gosta ou que lhe interessam. Lembremos o
episódio bíblico de Jonas! A ele interessava mais a pequena plantinha
de mamoneira, que lhe oferecia a sombra, do que a inteira cidade de
Nínive com os seus 120.000 habitantes (Jo 4,11). Assim é para cada
um: são os insucessos naquilo que se almeja a causa da diminuição
da estima de fundo, não as outras coisas. W James observava: “Eu,
que renunciei a tudo para ser psicólogo, sinto-me mortifi cado se alguém
sabe mais do que eu em psicologia. Mas não me angustio, nem me sinto
humilhado por não saber nada de grego. Se tivesse desejado ser um
lingüista, teria sido exatamente o contrário” (M. Michel, A autoestima).
Frequentemente os interesses nascem por acaso: ou porque algo vai
ao encontro do gosto da pessoa, ou porque ela se realiza mais naquela
determinada atividade, ou por qualquer outro motivo; por isso é bom ser
sempre curioso, porque se podem encontrar tantas coisas que conferem
gosto e sentido à vida. Ugo di San Vittore exortava: “apreenda tudo,
verás que nada é supérfl uo. Um conhecimento limitado não dá alegria”
(Didascalicon).
Algumas consequências da falta de estima
Para quem não se estima têm valor somente as coisas negativas e não
as positivas. Daí a atração para com as más notícias, interesse sobre
o qual prospera abundantemente a mídia; os jornais que tentaram
publicar somente boas notícias tiveram que cessar a produção por
falta de leitores.
A mesma prática - difusa em todos os tempos e por toda parte - da
crítica, da murmuração em relação àqueles que são tidos mais
importantes, é um reconhecimento claro de inferioridade em relação
à pessoa objeto de maledicência. De fato, é difícil que a patroa fale
EXPEDIENTE E-mail: [email protected]
Colaboradores: Kreativ • Gráfica Idealiza • Dom Albano Cavalin
com as amigas da vida particular da doméstica, ao passo que é muito
mais fácil que a doméstica comente com as suas colegas da vida
íntima da senhora.
Também a resistência a possíveis mudanças que levariam a uma
melhora na própria vida se devem à falta de estima de si. Costuma-
se dizer que “um mal certo é preferível a um bem incerto”. É uma
verdade paradoxal, mas psicologicamente relevante. Para que haja
uma mudança não basta estar mal, estar exasperado: é necessário
sobretudo o desejo fi rme de introduzir uma novidade na própria vida.
A pergunta de Jesus ao paralítico: “Queres ser curado?”, é, sobretudo,
um convite a esclarecer o coração do paralítico, pois essa pergunta
não é nada retórica, mas óbvia. De fato, o doente não responde à
pergunta de Jesus, mas continua a falar dos problemas que lhe são
familiares, os problemas do seu dia a dia (Jo 5,7). Também uma
situação desagradável pode trazer algumas vantagens, como receber
afeto, atenção, etc. De modo que fi car curado certamente é ótimo,
mas psicologicamente comporta a perda de algumas vantagens e
mudanças, devendo iniciar uma vida nova, mais sadia, mas também
mais incerta e difícil.
De onde provêm a estima de si ou a sua falta?
Não é simples estabelecer como se chega a ter estima de si. É preciso
ter presente não apenas a complexa diversidade e unicidade de cada
um com a sua liberdade de escolha, mas também a condição social,
cultural e psíquica.em que cresceu e se encontra. Em geral podemos
afi rmar que as condições favoráveis para que uma pessoa se estime
vêm de um desenvolvimento psicológico e cognitivo sadio.
Um elemento decisivo de tal desenvolvimento, além da necessária
presença de potencialidades (capacidades) de base, é dado pelas
relações signifi cativas que a criança vive. Especialmente
dois são os fatores que intervêm: a presença de ao
menos um ambiente estimulante e o
contato humano, em particular
as relações mãe-fi lho.
A pessoa não pode viver
sozinha. Precisa do afeto e
da comunicação com o outro,
como do ar que respira. A
comunicação é parte essencial
do ser humano: nela nasce e
dela vive. Eis por que a defi nição grega
do homem, traduzida literalmente,
signifi ca “animal dotado de
palavra”.
A respeito da essencialidade da comunicação para a vida humana, o
imperador Federico II, no século XIII, fez uma experiência. Ele queria
descobrir qual fosse a língua original do homem. Mandou, pois, entregar
alguns neonatos a babás, às quais ordenou cuidar muito bem deles, mas
proibiu severamente de dirigir-lhes a palavra. Assim, ele pensava em
descobrir qual língua os neonatos teriam espontaneamente falado. A
experiência terminou tragicamente, porque aqueles meninos morreram
todos (P. Watzlawick, Il linguaggio del cambiamento, Firenze, Feltrinelli
1991,12s).
(Continua – a seguir: A importância do ambiente familiar)
::: Pe Antonio CaliciottiGraduado em Filosofi a, Teologia e Pedagogia
Mestre em Teologia Moral
Mestre e Doutor em Filosofi a Social
Professor de Filosofi a, Sociologia e Metodologia
Você está contente com a sua situação
econômica? Certamente a sua resposta
é que não está muito boa por estarmos
atravessando um momento difícil na
economia. Isso o leva também a prestar a
máxima atenção às notícias da mídia todas as
vezes em que se fala sobre a crise econômica
atual , que atingiu o mundo todo, com a
esperança ou ilusão de que esteja havendo
uma luz de melhora no fim do túnel.
Realmente a situação está muito difícil para
a maioria e desesperadora para muitos. O
mercado, entregue a si mesmo, tornou-se
vítima de sua própria ambição desmedida.
Um provérbio diz que quem quer demais,
acaba não conseguindo nada.
As causas dessa crise são muitas, mas
a fundamental está no fato de que a
sociedade, em geral, e o mercado, de modo
específico, perderam os valores éticos para
se fixar unicamente nos valores monetários.
Hoje, na mentalidade consumista das
pessoas, o que vale é o material, não se dá
mais valor à consciência, ao espiritual. Dado,
porém, que o homem, além de ser matéria, é
também espírito, isto é, racional, no seu agir,
ele não pode prescindir do seu reto pensar.
Os animais, não possuindo a razão, realizam
o próprio bem, guiando-se pelo instinto.
Mas o homem, animal racional, justamente
por sê-lo, deve saber orientar o seu instinto
animal pela reta razão. Somente assim ele
realiza o seu bem e o bem dos outros.
Mas, quando o pensamento da pessoa
é correto? O pensamento é correto quando
é humano, isto é, quando respeita a
liberdade, a igualdade e a participação
de todos. Essas três características derivam
da verdadeira dignidade do homem, da sua
constituição racional. É o humano do ser
humano que, em atividade alguma, pode
ser esquecido ou desrespeitado sem ultrajar
e prejudicar as pessoas.
Por que hoje, depois de tantos milênios
de trajetória humana na história, temos
ainda mais de 3 (três) bilhões de pessoas
– quase metade da humanidade-
vivendo abaixo da linha da pobreza, e
1,3 bilhão abaixo da linha da miséria
? A falta de alimentação suficiente
ceifa, por dia, a vida de 23 mil pessoas.
E 80% da riqueza mundial encontra-se
concentrada em mãos de apenas 20%
da população do planeta.
Essas características principais da
pessoa - tripé da sua dignidade - são o que
chamamos de verdadeiros valores que
devem nortear a vida de cada indivíduo, se ele
quiser realizar o seu verdadeiro bem e o bem
dos outros. Sem o respeito a esses valores,
desrespeita-se a pessoa, não se constrói a
paz na família humana, não se alcança uma
economia suficiente para a sobrevivência de
todos. Pelo contrário, cometem-se injustiças
e violências, e constrói-se uma economia
de morte e não de vida.
Esses valores – e os demais que deles
derivam – por sua vez, constituem a
ética que, por isso, é definida como um
conjunto de valores verdadeiros que orientam
o comportamento do homem em relação aos
outros homens na sociedade em que vive.
Então, perguntemo-nos: é realmente a ética
que está dirigindo a economia?
Se fosse, a economia deveria ter sempre
presente o bem comum, não as ambições
de poucos. O que quer dizer que ela
deveria respeitar os direitos de liberdade,
de igualdade e de participação de todos.
Somente assim todos teriam, pelo menos, o
mínimo para sobreviverem.
O que adiantam os avanços científicos e
tecnológicos se a população não conta com
trabalho e uma remuneração decente, com
serviços de saúde acessíveis e eficazes, com
uma educação gratuita e de qualidade, com
transporte público e ágil?
A economia não pode ter como finalidade
principal o lucro, o bem-estar de poucos, e o
mal-estar da maioria.
Não é o governo que deve dar saúde ao
sistema financeiro, socorrendo-o nos
momentos de crise com bilhões, mas é a
sociedade - trabalhando com saúde, com
entusiasmo e com satisfação - que deve
mantê-lo ou eliminá-lo, conforme a sua
eficiência, responsabilidade e honestidade
que mostra na administração do dinheiro.
Os governos deveriam, ainda, estar mais
preocupados com o desenvolvimento
humano do que com o aumento do PIB
(produto interno bruto). As pessoas, na sua
maioria, não querem ser ricas, mas desejam
viver serenas.
Não é ético, nem humano, um sistema que
privilegia o lucro privado acima dos direitos
comunitários, a especulação mais do que a
produção, o acesso ao crédito sem o respaldo
da poupança. Não é ético um sistema que
cria ilhas de opulência cercadas de miséria.
Ética é uma economia solidária e de
Crise econômicae crise ética
“Sem Deus não existe dignidade
humana”
4
JMJ RIO 2013
comércio justo. Ético é um sistema econômico que favorece a
pequena propriedade - organizada em cooperativas honestas - e que
desfavorece a grande propriedade que lucra além de um limite justo.
Ético é fortalecer a sociedade civil de modo que possa normatizar o
poder público em favor do bem comum.
O poder público, com efeito, existe para regularizar eticamente
a economia, assegurar à população os serviços básicos e os bens
espirituais, como o conhecimento e a liberdade religiosa. Esses bens
superiores são mais importantes que os bens materiais, porque eles
são a fonte destes; com efeito o que gera a ação é o pensamento.
Pensamento ético gera ação boa; pensamento egoísta, antiético
produz atividade prejudicial.
Enfim, o pior da crise econômica atual é não apreender
nada com ela. Não existe, de fato, a preocupação de eliminar suas
verdadeiras causas. Está-se procurando amenizar somente seus
efeitos, e de maneira errada, porque há mais preocupação em salvar
o sistema financeiro do que a humanidade. E isso devido a uma
mentalidade materialista, que domina e rejeita a espiritualidade e
a racionalidade da pessoa humana. Queremos encontrar a estrada
de saída, sem a devida luz, que não nos vem da matéria, e sim do
espírito, da reta razão, do respeito à dignidade humana de todos.
Poderíamos nos perguntar: na procura da solução da crise, onde está
Deus, onde está a dignidade da pessoa humana? Deus? Sim, porque
sem Deus não existe dignidade humana.
::: Pe Antonio Caliciotti
Graduado em Filosofi a, Teologia e PedagogiaMestre em Teologia MoralMestre e Doutor em Filosofi a SocialProfessor de Filosofi a, Sociologia e Metodologia
Em 07 de fevereiro/2012 foi lançada a logomarca ofi cial da próxima
Jornada Mundial da Juventude, que acontecerá no Rio de Janeiro
em Julho de 2013.
O arcebispo do Rio, Dom Orani João Tempesta, na ocasião, falou da
importância do evento para o Brasil e especialmente para a cidade
carioca. A marca escolhida é alegre e colorida e apresenta as cores
nacionais juntamente com um de seus mais conhecidos símbolos, o
Cristo Redentor. Foi uma ótima escolha, pois se trata de uma marca
leve, com traços suaves e, ao mesmo tempo, modernos. Há um
detalhe na marca que nos chama muito a atenção: o coração. Ele nos
remete imediatamente ao coração de Cristo, acolhedor e gratuito,
simples e direto. A marca traz em si várias mensagens cristãs. Uma
grande parte da juventude brasileira já está se preparando para o
evento. O tema a ser desenvolvido será: “Ide e fazei discípulos entre
todas as nações” (Mt.28,19).
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Pão de AçucarCruz Peregrina
Litoral Brasileiro
CristoRedentor
Coração dos discípulo
Dificilmente, para não dizer nunca, os chefes de Estado visitam os
detidos numa prisão. Talvez pensem que fazê-lo significaria aprovar
a criminalidade dos presos. Mas eles esquecem que, como autoridade
máxima, também são responsáveis por eles. Essa responsabilidade,
com efeito, refere-se não somente ao cumprimento da justiça pelo
mal cometido, mas também à recuperação deles. Por estarem presos,
não deixam de ser cidadãos, membros da comunidade nacional e
merecedores de uma chance de recuperação, porque foram vítimas de
deformação humana por parte de uma sociedade cujo responsável é o
Estado.
Bento XVI, porém, foi visitá-los. E, visitando o cárcere de Rebibbia, quis
simbólica e idealmente visitar todos os cárceres do mundo.
Por que fez isso?
Porque está imbuído do Espírito evangélico de Jesus, do qual ele é o
representante sobre a terra. Jesus, com efeito, se identificou com os
famintos, com os emigrantes, com os presos, com todo marginalizado.
Aquilo que fizermos para essas pessoas, estaremos fazendo-o a Ele (Mt
25,36). E lembremos, ainda, o que Ele disse, como resposta a quem o
criticava porque ia à casa dos pecadores e comia com eles: “não são os
que estão bem que precisam de médico, mas sim os doentes” (Mt 9,12).
O Ministro que representava o Estado italiano e que saudou o Papa na
chegada, leu a carta de um condenado a trinta anos de cárcere e detido
numa prisão de segurança máxima na cidade de Cagliari. Ele assim se
expressava: “Visitar pessoas fechadas nos cárceres ou internadas em
hospitais psiquiátricos significa entrar em contato com um mundo de
sofrimento, solidão e humilhação, que não deve ser ignorado, nem
esquecido, porque aí está quem pede ouvido, compreensão, respeito
e sobretudo espírito fraterno. Quando se consegue dar isso sem
julgamentos, sem preconceitos ou falsos moralismos, mas procurando
descobrir a humanidade de cada um, fazendo distinção entre erro e
errante, então acontece um diálogo que se abre e se ilumina como uma
janela para a luz”.
O Papa, no seu discurso, lembrou que onde está um faminto, um
estrangeiro, um doente, um encarcerado, aí está Jesus esperando uma
visita num seu membro. A Igreja sempre colocou, entre as obras de
misericórdia corporal, a visita aos encarcerados. Esta, naturalmente,
para ser plena, requer uma total capacidade de acolhimento ao detento,
fazendo-lhe espaço no próprio tempo, na própria casa, nas próprias
amizades, nas próprias leis, na própria cidade. Gostaria, acrescentou, de
encontrar cada um e ouvir a sua história pessoal. Mas não me é possível;
vim, porém, para vos dizer que Deus vos ama com amor infinito e sois
sempre filhos de Deus. O mesmo Filho de Deus fez a experiência do
cárcere, foi julgado por um tribunal e condenado à morte.
O papa recordou também que a justiça humana e a divina são muito
diferentes entre si e que os homens devem procurar pelo menos se
inspirar na de Deus para colher o seu espírito profundo e evitar fazer
de um detento um excluído. Deus proclama a justiça com força, mas
cura também as feridas com bálsamo de misericórdia. Em Deus, justiça
e misericórdia coincidem, numa lógica diversa da nossa.
Enfim, lembrou que o sistema carcerário deve ter como pilares
fundamentais, por um lado, procurar tutelar a sociedade de eventuais
ameaças e, por outro, reintegrar quem errou, sem pisar na sua
dignidade e sem excluí-lo da vida social. Quer dizer, a pena deve ter a
função de reeducar e assegurar o respeito dos direitos e da dignidade
das pessoas. É importante, pois, promover um desenvolvimento do
sistema carcerário, que, embora respeite a justiça, torne-se cada vez
mais adequando às exigências da pessoa humana, por meio também
de penalidades não detentivas ou modalidades diversas de detenção.
Terminou elevando o discurso à dimensão espiritual, convidando
todos a rezar para sermos libertos da prisão do pecado, da soberba
e do orgulho, cárceres interiores dos quais todos precisamos sair, e
lembrando que a Igreja incentiva e encoraja qualquer esforço que
visa garantir a cada ser humano uma vida digna, e que o Papa estava
próximo de todas as famílias dos detentos.
Bento XVI tocou em assuntos muito importantes da problemática
carcerária. Realmente, o mundo carcerário precisa de esperança. Essa
falta de esperança pode levar a pensar em fugas, a cometer suicídio,
homicídios e outras tragédias, como de fato acontece. E embora não
seja tarefa da Igreja apontar soluções práticas para essa problemática,
todavia é sua missão lembrar que os detentos são pessoas e cidadãos
com uma própria dignidade: a dignidade de criaturas e filhos de Deus.
(Agência ZENIT).
O Papa Bento XVI visita o cárcerede “Rebibbia”em Roma
6
FIQUE POR DENTRO
1. CONVITE PARA JOVENS
ACIMA DE 16 ANOS
ENCONTRO VOCACIONAL EM
CAMPOS DO JORDÃO-SP
DE 28 DE ABRIL A 01 DE MAIO /2012
CONTATOS: (12) 3662-3914
2. ENCONTRO DE FORMAÇÃO
NO FERIADO DE CORPUS CHRISTI
DE 07 A 10 DE JUNHO/2012
LOCAL: RECANTO OÁSIS – CAMPOS DO JORDÃO – SP
CONTATOS: (12) 3662-3914
De 18 a 21 de agosto de 2011, realizou-se em
Madri a XXVI Jornada Mundial da Juventude
(JMJ). O tema foi: “Arraigados e fundados
em Cristo, fi rmes na fé” (Cl 2,7).
A Jornada - que na realidade se articula
em diversos dias e a nível mundial, teve a
participação do Papa e reuniu dois milhões
de jovens, provindos de 196 países - foi
uma festa e um testemunho de fé em Jesus
Cristo, uma confraternização de raças,
culturas, línguas e cores.
O Rei Juan Carlos, na saudação ao Papa,
disse que devemos respeitar as esperanças
dos jovens, especialmente pondo fi m à
desocupação juvenil, e animá-los a tomar
a chama dos valores que engrandecem a
humanidade.
Bento XVI participou dessa
jornada com o espírito de um
verdadeiro jovem, embora
tenha mais de oitenta anos,
e dirigiu a sua palavra de
representante de Cristo a todos
eles, em geral e às categorias
em particular.
A todos aconselhou a ter
confi ança plena em Cristo e, enraizados
nele, a enfrentar com determinação os
empenhos decisivos do futuro, porque
a vida em plenitude já está presente
neles. Alertou-os a não seguir aqueles
que, crendo-se deuses, julgam não ter
necessidade de raízes, nem de fundamentas
que não sejam eles mesmos. Desejariam
decidir somente por si o que é verdade ou
não, o que é bem ou mal, justo ou injusto.
O Pontífi ce exortou-os, ainda, a não
permitir que nenhuma adversidade os
paralise, a não se conformar com o que
não seja verdade e amor. Animou-os a
ser protagonistas da procura na verdade,
que, aliás, é a mais alta aspiração do ser
humano, porque a verdade é o bem, fonte
da realização humana e eterna do homem,
pediu que a sua fé em Cristo signifi que uma
relação pessoal com ele, adesão de toda a
pessoa, com a própria inteligência, vontade
e sentimentos à manifestação que Deus faz
de si mesmo.
Lembrou também que seguir Jesus é
caminhar com ele na comunhão da
Igreja. Não se pode seguir Jesus a sós,
por conta própria, ou viver a fé segundo a
mentalidade individualista, que predomina
na sociedade, pois dessa forma corre-se
o perigo de nunca encontrar Jesus, ou de
acabar seguindo uma imagem falsa dele.
Aos jovens docentes universitários
espanhóis recordou que a missão de
um professor universitário, hoje, não
é exclusivamente aquela de formar
profi ssionais competentes e efi cientes que
possam satisfazer à demanda do mercado,
nem privilegiar a pura capacidade técnica,
mas transmitir também o que de mais
elevado corresponde a todas as dimensões
que constituem o homem. Isso porque a
idéia genuína de Universidade é aquela
que vai além de uma visão reducionista e
distorcida do humano. Na realidade, ela foi
e é atualmente chamada a ser a casa onde se
procura a verdade, que é a característica da
pessoa humana. Foi por esse motivo que a
Igreja promoveu a Instituição universitária.
Os nossos jovens, hoje, precisam de mestres
autênticos: pessoas abertas à verdade total
nos diferentes ramos do saber, pessoas
convencidas, sobretudo, da capacidade
humana de avançar nos caminho da
verdade, A juventude, já dizia Platão, é
o tempo privilegiado para a procura e
o encontro com a verdade: “Procura a
verdade enquanto és jovem, porque se
não o fi zer, depois ela lhe fugirá das mãos”
(Parmênides, 135 d).
Aos seminaristas lembrou que Cristo
continua ainda a chamar os jovens para
torná-los seus apóstolos e continuadores
de sua missão. Sustentados pelo seu
amor, não se deixem apavorar – exorta-
os - por um ambiente no qual se procura
excluir Deus e no qual o poder, o possuir e
o prazer freqüentemente são os principais
critérios sobre os quais se rege a existência.
Pode acontecer que, por causa
dessa opção, sejam desprezados,
como se costuma fazer para com
aqueles que visam metas mais altas
e desmascaram os ídolos diante dos
quais hoje muitos se prostram. Será
então que uma vida profundamente
enraizada em Cristo se manifestará
realmente como uma novidade,
atraindo com força aqueles que
verdadeiramente procuram Deus, a
verdade e a justiça.
Às jovens religiosas que consagraram
a vida a Cristo, falou da radicalidade
evangélica que a vida religiosa deve
testemunhar em particular hoje, quando se
constata uma espécie de “eclipse de Deus”.
Diante do relativismo e mediocridade
surge a necessidade desta radicalidade,
que testemunha a consagração como um
pertencer a Deus sumo bem.
Resumindo, eu convidaria os jovens a
aderirem a Cristo. Nele encontrarão a
luz e a força para nunca desanimarem
diante das difi culdades pessoais e
sociais do presente e do futuro.
::: Mercedes dos Santos RosaGraduada em Direito e História
RELEMBRANDO A XXVI JORNADA MUNDIALDA JUVENTUDE ESPANHA 2011
7
“Procura a verdade enquanto és jovem, porque
se não o fi zer, depois ela lhe fugirá das mãos”(Parmênides, 135 d).
O universitário é o jovem que sonha alto. Imagina um futuro maravilhoso:
uma vida serena no aconchego amoroso de sua futura família, sucesso
na sua profi ssão, para a qual está se preparando através do seu curso, e
condições econômicas boas para viver tranquilo.
Esse sonho é correto. Todavia corre o perigo de não se realizar pela falta de
fatores sociais e econômicos também indispensáveis para a sua realização.
Vivemos dentro de uma sociedade e de uma economia que podem
favorecer ou impedir a realização dos nossos sonhos. Elas são como o ar que
respiramos: se forem boas, teremos saúde; se forem poluídas, adoeceremos.
O universitário, hoje, deve ser alguém, pois, que se preocupa não somente
com o seu aprimoramento, mas também com o mundo em que vive, que é
a sua sociedade e a humanidade toda, por esta ser globalizada. Deve olhar
não apenas para o seu estudo e a sua formação ética, mas também lutar
para que haja uma sociedade justa e uma economia solidária.
Para isso, deve procurar ter uma visão objetiva das condições
socioeconômicas do seu país e do mundo todo.
O mundo atual é marcado por um enorme mal-estar e as diversas crises:
econômicas, políticas e sociais, representam a expressão dele. O nosso país,
apesar da propaganda contrária, não foge à regra.
A crise econômica e fi nanceira mundial é o que, principalmente,
deve preocupar. Esta não somente atingiu as famílias e as empresas dos
países economicamente mais avançados, donde se originou - criando uma
situação na qual muitos, especialmente os jovens, sentiram-se desnorteados
e frustrados nas suas aspirações por um porvir sereno - mas incidiu
profundamente também sobre a vida dos países em desenvolvimento.
Essa crise, porém, não deve ser motivo de desânimo, e sim uma ocasião de
refl exão sobre a existência humana e sobre a importância da dimensão
ética, antes de nos levar a avaliar os mecanismos que regem a vida econômica.
É preciso, com efeito, tanto frear as perdas, quanto “dar-nos regras novas que
asseguram a todos a possibilidade de viver com dignidade e de desenvolver as
próprias capacidades em benefício da comunidade inteira” (Oss. Rom., 9-10 janeiro
2012,5).
Em segundo lugar, o olhar universitário deve ter presente a situação política e
social do mundo. Isto é, deve refl etir sobre os movimentos de reivindicação
de reformas e de participação mais ativa na vida política e social, embora sem
uma previsão dos êxitos, no Norte da África e no Médio Oriente. A essência
das instituições e das leis que esses povos desejam reformar deve ser o respeito
para com a pessoa, de modo que se possam construir “sociedades estáveis e
reconciliadas, sem injustas descriminações, em particular de ordem religiosa”
(Bento XVI).
Preocupantes são também as violências na Síria e no Iraque. Essas
animosidades devem cessar, assim como se deve retomar o diálogo entre
Israelenses e Palestinos.
Enfi m, o que mais preocupa o futuro de hoje é a educação. Ela é a
dimensão fundamental para a formação dos jovens que nos premem a
considerar seriamente as suas perguntas sobre a verdade, a justiça e a paz.
Mas a educação requer ambientes adequados. O primeiro é a família,
célula fundamental de toda sociedade e “fundada sobre o matrimônio de um
homem e de uma mulher” (Bento XVI). Por isso “as políticas lesivas à família
ameaçam a dignidade humana e o mesmo futuro da humanidade” (Bento
XVI), assim como as políticas que não somente permitem, mas, às vezes,
favorecem o aborto.
A educação deve ser acessível a todos e, “além de promover o desenvolvimento
cognitivo da pessoa, deve cuidar do crescimento harmônico da personalidade,
inclusive a sua abertura ao Transcendente (Deus)” (Bento XVI). Essa educação
integral postula também a liberdade religiosa em dimensão individual,
coletiva e institucional. Trata-se do primeiro direito humano. Talvez, a esse
respeito, seja bom lembrar o Ministro pakistanês Shahbaz Bhatti, morto
devido a sua luta em defesa dos direitos das minorias religiosas, e tantos outros
cristãos ceifados por motivo religioso, especialmente na Ásia e na África. O Papa
Bento XVI, em “Assisi” (Itália), tem lembrado aos líderes religiosos do mundo
todo para que repitam com força e fi rmeza que “O terrorismo religioso não é a
verdadeira natureza da religião. É a sua distorção e contribui par a sua destruição” .
É importante também tomar conhecimento da sentença da “Corte
Européia dos direitos do homem” em favor da presença do Crucifi xo nas
aulas das escolas italianas.
Por último, lembremos que, em tantas nações - como na China, na Coreia
do Norte, etc. - também muitos outros direitos humanos ainda são
desrespeitados pelas leis. As pessoas vivem como escravas do Estado. Os
demais países, porém, devido a interesses econômicos ou por outros motivos,
não se opõem.
Essa panorâmica problemática, descrita de maneira sucinta e parcial, e
que terá, ainda, muitos outros desdobramentos, deve estar presente no
universitário. Ela é condicionante. Sem que nos apercebamos, pode, direta ou
indiretamente, nos envolver e impedir os nossos sonhos de vida. Diante dela,
com o entusiasmo e as energias juvenis, os universitários devem reagir e lutar
com coragem, para que tudo o que há de errado no mundo seja eliminado. E
lembremos: o errado e o certo são sempre determinados pela vida plena (física,
material e espiritual) da pessoa. O que a prejudica é mal; o que a favorece é bem.
Em todo caso, seja qual for a existência terrena que nos espera, seja-nos de
conforto e de esperança que a vida não acaba no nada: o seu destino não
é a corrupção, mas a imortalidade. Isso faz com que, sendo o nosso futuro
positivo, também o presente se torne visível (Encíclica Spe salvi, n.2).
::: Pe Antonio Caliciotti
Graduado em Filosofi a, Teologia e PedagogiaMestre em Teologia MoralMestre e Doutor em Filosofi a SocialProfessor de Filosofi a, Sociologia e Metodologia
O UNIVERSITÁRIO E O SEU FUTURO
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“A educação, além de promover o desenvolvimento cognitivo da pessoa, deve cuidar do crescimento harmônico da personalidade, inclusive a sua abertura ao Transcendente (Deus)”