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Bolsas Universidade de Lisboa / Fundação Amadeu Dias Edição 2010/2011 Relatório de Projecto Estudo de extractos de uma esponja marinha com actividade neurobiológica Bolseira: Clara Patrício Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa Curso: Bioquímica Ano: 3º Ano Tutor: Doutor Pedro Lima

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Bolsas Universidade de Lisboa / Fundação Amadeu Dias

Edição 2010/2011

Relatório de Projecto

Estudo de extractos de uma esponja marinha com actividade neurobiológica

Bolseira: Clara Patrício

Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa

Curso: Bioquímica

Ano: 3º Ano

Tutor: Doutor Pedro Lima

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Í N D I C E

Enquadramento

Objectivos do projecto

Metodologia aplicada

Resultados obtidos de acordo com os objectivos propostos

Execução financeira de acordo com o plano orçamental previsto

Conclusões

Bibliografia

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Enquadramento

1. Relevância do estudo de produtos marinhos

A diversidade das florestas tropicais é uma miudeza quando comparada com a diversidade dos

ecossistemas marinhos. Todavia, os produtos naturais provenientes do mar são muito menos

estudados que os equivalentes terrestres [12]. Ainda assim, a enorme diversidade de metabolitos

secundários a serem sintetizados pela flora e fauna marinhas justifica o interesse científico crescente.

Desde que, em 1951, foram isolados dois nucleósidos (spongouridin e spongothymidin) da esponja

Cryptotethya crypta, os quais revelavam propriedades antivirais, mais de 20,000 compostos foram

descobertos em organismos marinhos [11] e mais de 21,000 artigos foram publicados.

O valor científico e comercial dos produtos marinhos na indústria biotecnológica, em vendas

globais, rondava 2.4 biliões de dólares em 2002. Para o período entre 1973 e 2007, o sector químico

detinha a maior fatia (53.5%) das patentes referentes aos recursos genéticos marinhos seguido do

sector farmacêutico (32.2%), alimentar (5.7%), agrícola (1.7%), cosmético (1.2%) e outros (5.7%) [17]. Apontam-se aqui apenas alguns exemplos ilustrativos de aplicações de produtos marinhos. Na

indústria química, os materiais base para plásticos biodegradáveis como o PHB são PHAs produzidos

por procariotas marinhos, e pigmentos como a melanina têm utilidade potencial na tinturaria e em

protectores solares. Proteínas anti-congelantes sintetizadas por peixes que vivem nos pólos são hoje

utilizadas no controlo da deterioração induzida pelo frio de alimentos, produtos médicos e

cosméticos. Igualmente, diversos produtos marinhos são também utilizados como suplementos

nutricionais (os óleos de krill, ricos em Omega-3, são suplementos benéficos na dieta humana). Já na

produção de etanol a partir de milho é usada um enzima (Fuelzyme) desenvolvido a partir de

amostras recolhidas do fundo do mar. Do uso de produtos marinhos na indústria cosmética são

exemplos a Pseudopterosin (Estée Lauder) e a alga Durvillea antárctica (Clarins) [17]. O oceano

fornece ainda recursos usados hoje nos laboratórios científicos de todo o mundo. Exemplos são a

proteína verde fluorescente (GFP) e enzimas como o Taq polimerase, o Vent polimerase ou o Pfu

DNA polimerase. O Prémio Nobel da Química de 2008 foi atribuído “pela descoberta e

desenvolvimento da GFP” [31] [24].

Há hoje 3 medicamentos em comercialização nos EUA e mais um na Europa cujo composto

activo é um produto marinho (cytarabine (Cytosar-U®, Depocyt®), vidarabine (Vira-A®), ziconotide

(Prialt ®) e Trabectedin (Yondelis ®)), e vários outros estão em ensaios clínicos para serem

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utilizados em diversas patologias. No tratamento do cancro, o Cytosar-U®, o Depocyt® e o

Yondelis® são três dos medicamentos actualmente em comercialização, mas outros dez compostos

de esponja estão já em fase de ensaios clínicos nos EUA [13]. Já exemplos de compostos com

actividade antiviral são o AZT, o Retrovir® e o Acyclovir (Zovirax®) utilizados no tratamento da

SIDA [17]. Também o vidarabine (Vira-A®) é utilizado como antiviral [13] e outros 150 produtos

naturais marinhos têm níveis promissores de actividade anti-HIV. Uma toxina extraída do búzio

conus (conotoxina) está na base do medicamento contra a dor [17]. Razões associadas à ecologia

marinha justificam a existência de compostos com actividade anti-bacteriana extraordinariamente

potentes [12]. Resultados indicam ainda produtos particularmente favoráveis para o tratamento da

tuberculose, enquanto outros parecem ter actividade anti-inflamatória, actividade anti-coagulante e

actividade anti-malária [17].

2. Esponjas

Como já foi referido, os produtos obtidos a partir de esponjas têm uma enorme relevância na

química dos produtos marinhos. As esponjas são animais invertebrados do filo Porifera que se

alimentam por filtração, o que justifica a morfologia com uma complexa rede canais condutores da

água e câmaras de coanócitos (células flageladas características do processo de nutrição das

esponjas), a qual permite o processamento de uma massa de água equivalente ao seu peso cada 5

segundos. As esponjas são consideradas fósseis vivos, já que se pensa representarem o filo

metazoário mais antigo existente nos dias de hoje. Considera-se que actualmente existam cerca de

9000 espécies de esponjas no planeta, em recifes de corais, altitudes mais elevadas ou mesmo em

lagos de água doce [14]. O seu esqueleto inorgânico é composto por estruturas denominadas espículas

maioritariamente de sílica (vasta maioria das esponjas) ou de carbonato de cálcio (minoritariamente)

[14], cuja análise é um factor determinante na identificação da espécie. Uma das características mais

peremptoriamente associada às esponjas é a sua estacionaridade. Esta particularidade não lhes

confere defesas físicas e, como tal, justifica a potência das suas defesas químicas.

É ainda de referir que o número de microrganismos, nomeadamente bactérias, que as esponjas

alojam suplanta em larga escala o número de células da própria esponja [14]. As bactérias são

activamente “aspiradas” para dentro da esponja através de correntes por esta geradas e retidas por

filtração. A distribuição das bactérias pela esponja segue então um padrão em que o mesmo tipo de

bactérias é encontrado nos mesmos tecidos de esponjas taxonomicamente e geograficamente

distantes. Muitas vezes as bactérias associadas às esponjas são referidas como simbiontes, no entanto,

em numerosos casos, essa relação é ainda controversa. Na verdade vários são os casos em que se

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verifica que os compostos com interesse biotecnológico isolados a partir de esponjas são na verdade

produtos dos microrganismos nela residentes [12] [14].

A utilização de esponjas pelo seu poder absorvente é bastante conhecida. Não obstante, outros

exemplos de aplicações que exploram as características morfológicas das esponjas são: a utilização

da esponjina (proteína semelhante ao colagénio) [20], a aplicação de uma estrutura do tipo esponja

formada de agregados de titânio em painéis fotovoltaicos híbridos [20], a utilização de microesponjas

sintéticas como estratégia de drug delivery [4] e a exploração das propriedades de fibras ópticas das

espículas da base da esponja Euplectella [27].

Tal como foi atrás mencionado, as esponjas são animais quase sem mobilidade e parcas

defesas físicas. Como tal, desenvolveram defesas químicas tóxicas ou repelentes contra os predadores

e contra outros organismos sedentários com os quais têm de competir por espaço no substrato [17] [9]

[15]. Assim, as concentrações dos metabolitos são mais altas em ambientes de alta competitividade

como recifes de coral ou zonas em que as esponjas estejam mais expostas à predação por peixes [15],

variando ainda com outros factores ambientais (temperatura, localização geográfica e iluminação) e

de stress. Cerca de 400 compostos foram já isolados a partir de esponjas [17] e mais de 2,700 artigos

relativos a metabolitos de esponjas marinhas foram publicados [9]. Contudo, apenas um número

restrito de drogas derivadas desses compostos chegaram efectivamente ao mercado devido às

dificuldades de cultura de esponjas em larga escala e à morosidade e custos elevados associados à

síntese dos compostos em questão [17]. Ainda assim, há mais fármacos derivados de esponjas em

ensaios clínicos e pré-clínicos do que de qualquer outro filo marinho [16]. Os lucros anuais de

compostos de esponjas marinhas usados para tratar herpes eram, em 2005, da ordem dos 50 a 100

milhões de dólares [17], o que é representativo do verdadeiro potencial em questão.

Resultados revelam que várias moléculas produzidas por esponjas e/ou microrganismos

associados, nomeadamente nucleósidos invulgares, treptenos bioactivos, estróis, péptidos cíclicos,

policétidos, alcalóides, ácidos gordos, peróxidos e derivados de aminoácidos (halogenados ou não),

apresentam actividades farmacológicas relevantes. Destacam-se aqui algumas dessas actividades [9]

[16]:

− anti-tumoral (Halichondrin B – metabolito da esponja H. okadai é uma potencial droga em

ensaios clínicos no Canadá; Agelasphin – proveniente da Agela Mauritânia, está em fase I de

testes clínicos na Europa),

− anti-bacteriana (6-hydroxymanzamine E – alcalóide produzido pela Acanthostrongylophora

sp. com resultados promissores contra M. tuberculosis, o patogénio da tuberculose),

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− anti-fúngica (Manzamine A – produto da Acanthostrongylophora sp. que exibe actividade

anti-C. neoformans, fungo que infecta a garganta, encontra-se em testes pré-clínicos),

− antiviral (Ara-A – nucleósido da Cryptotethya crypta tem actividade contra o vírus da herpes

e da varicela; Avarol – produto da Dysidea avara inibe o HIV quase completamente e os seus

derivados são potentes inibidores da transcriptase reversa do HIV, enzima fundamental nas

primeiras fases de infecção pelo vírus da SIDA),

− anti-protozoário (Manzamine A- alcalóide isolado de várias esponjas parece muito promissor

no tratamento de malária, em testes pré-clínicos),

− anti-inflamatória (Contignaterol - isolado de Petrosia contignata, está neste momento em

estudo em ensaios clínicos) e

− imunossupressora (Discodermolide – metabolito da Discodermia dissoluta, é um agente

imunossupressivo e anti-canceroso, apresentando actividade semelhante ao Taxol; encontra-se

em testes clínicos para cancros resistentes ao Taxol).

Outros produtos de esponjas podem ser encontrados nos laboratórios de todo o mundo, como

ferramentas de investigação científica. São exemplos o ácido ocadaico e a caliculina [9].

3. Esponjas nas neurociências

O sistema nervoso, e os neurónios em particular, funcionam por sinais eléctricos. Estes

devem-se a fluxos de iões para dentro e fora dos neurónios, os quais são regulados por canais iónicos.

Os canais iónicos são proteínas transmembranares, formando poros na membrana, por onde fluem

iões controladamente. Pequenas alterações conformacionais num único canal podem provocar a sua

abertura (gate) e permitir que 10 milhões de iões entrem ou saiam da célula por segundo. Alguns pico

amperes (10-12A) de corrente são gerados pela translocação de iões específicos de cada vez que cada

canal abre [19]. Estes canais normalmente são classificados segundo o tipo de ião que conduzem –

sódio, potássio, cálcio, cloro, entre outros -, embora alguns sejam menos selectivos. O gating pode

ser induzido por ligandos extracelulares, segundos mensageiros intracelulares ou alterações na

voltagem transmembranar [1]. Estes últimos, os canais iónicos dependentes de voltagem que medeiam

a sinalização eléctrica têm funções distintas: os canais de sódio dependentes de voltagem (Nav)

iniciam potenciais de acção; os canais de cálcio dependentes de voltagem (Cav) estão envolvidos em

processos como a transmissão sináptica, a contracção muscular e a secreção hormonal; e os canais de

potássio dependentes de voltagem (Kv) terminam o potencial de acção e repõe o potencial de repouso

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da membrana controlando a neuroexcitabilidade [19]. Cada célula tem várias subpopulações de canais,

ou seja, vários canais com funções distintas.

A diversidade de canais de potássio (K+) é significativamente superior à dos demais canais [6].

De acordo com a sua topologia – nº de domínios transmembranares (DTMs) - podemos identificar

três grupos principais: aqueles com 6DMTs, que funcionalmente estão identificados como canais de

potássio dependentes de voltagem (Kv) e canais de potássio activados por ião cálcio; os com 4DMTs,

funcionalmente canais de potássio “leak”; e aqueles com apenas 2DMTs, os canais de potássio

inward rectifying (Kir). Estes grupos subdividem-se em famílias, de acordo com a semelhança da

respectiva sequência de aminoácido, e estas em subfamílias [6]. Cada população de canais de potássio

tem mecanismos de selectividade de iões, gating dependente de voltagem, de cálcio ou de outros

factores, subunidades auxiliares/proteínas associadas, mecanismos inactivação e bloqueio

característicos. A família de canais de potássio dependentes de voltagem (Kv) engloba 8 subfamílias [6]. Estes canais podem ser maioritariamente modulados por alteração da condutância, por influência

na dependência de voltagem ou por alteração dos perfis de activação ou inibição.

A técnica mais usada para monitorizar o funcionamento dos canais iónico é o patch clamp [1],

técnica utilizada no presente trabalho.

Existem alguns estudos sobre efeitos de extractos de esponjas marinhas na actividade de

canais iónicos, nomeadamente em canais de cálcio: um extracto aquoso de Ectyoplasia ferox mostra

um efeito no batimento cardíaco relacionada com uma potenciação de canais de cálcio de tipo L

(Cav1.2) – o composto activo não foi todavia identificado [5]; a halichlorine, um alcalóide de fórmula

molecular C23H32O3NCl (MM=405.4g/mol) isolado de Halichondria okadai Kadota tem um efeito

vasodilatador coadunável com a inibição do mesmo tipo de canais; também alcalóides (pirrólicos),

vários compostos isolados de Agelas conífera reduzem a entrada de cálcio dependente de voltagem

em células PC12 [2] [3]. Outros compostos mostram efeitos a nível dos mecanismos de Ca2+

intracelular: as xestosponginas (A, B e C) são um conjunto de produtos inicialmente isolados da

esponja Xestospongia exígua e que bloqueiam selectivamente receptores inositol-1,4,5-trifosfato (IP3)

e de Ryanodina [25], [10] e [28]. Já ao nível dos canais de sódio, há que referir que os compostos

alcalóides dromosceptrin e clathrodin, purificados de esponjas do género Agelas, apresentam efeitos

nas correntes membranas neuronais [23]. Por fim, há que salientar que, segundo o que foi possível

identificar, não existem quaisquer efeitos relatados de produtos de esponjas marinhas em canais de

potássio [30].

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4. Caso particular: Erylus

De acordo com o registo mundial das espécies marinhas há 74 espécies do género Erylus [22].

No entanto, poucos estudos decorrem sobre os produtos secundários desta esponja. Assinalam-se

porém de seguida três exemplos. As erylosides constituem uma família de glicósidos isolada de

várias Erylus spp.: a erylosid A5 tem actividade anti-tumor e antifungica, a erysolide E7 é

antagonista da ligação ao receptor de C5a (molécula parte do sistema imunitário) e a erosylide F

apresenta uma potente actividade antagonista do receptor da trombina, uma molécula envolvida na

coagulação do sangue, inibindo a agregação de plaquetas in vitro [26]. A nobiloside, C47H72O19,

isolada de uma amostra de Erylus nobilis, revelou ter actividade anti-neuramidase, um enzima

envolvido na infecção pelo vírus da influenza [29]. A esponja Erylus discophorus apresentou ainda

níveis elevados de polissacáridos e actividade inibitória do HIV-1 (90 a 95%) [8], sendo

presumivelmente a molécula activa neste efeito um polissacárido sulfatado de elevado peso

molecular (> 2000 kDa) a funcionar como um inibidor de fusão.

Espécimes da mesma esponja - Erylus discophorus - foram utilizados no decurso deste

trabalho. Esta esponja marinha (Classificação (Biota): Animalia, Porifera, Demospongiae,

Astrophorida, Geodiidade, Erylus) foi inicialmente descrita por Schmidt em 1862 e está registada no

Atlântico e no mar mediterrânico [22].

Objectivos do projecto

Este trabalho teve por objectivo estudar a actividade neurofarmacológica do extracto de uma

esponja marinha, Erylus discophorus. Em particular, numa primeira fase, o objectivo do trabalho foi

extrair o conteúdo de várias (dezoito) amostras de esponja Erylus discophorus, recolhidas em pontos

distintos do Oceano Atlântico nordeste. A segunda fase almejou a (1) estudar o efeito de um desses

estratos (B05.09.99) ao nível das correntes de potássio de neurónios piramidais isolados da região

CA1 do hipocampo de ratos wistar; (2) indagar sobre o modo de acção do(s) princípio(s) activo(s); e

(3) identificar qual(ais) o(s) canal(ais) de K+ afectado(s).

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Metodologia aplicada

Preparação de extractos de Erylus discophorus

As amostras de esponja

localizações do Oceano Atlântico Nordeste

do Gorringe (fig. 1 e tabela 1)

congeladas a -20°C, levadas em recipientes isotérmicos para o laboratório, onde foram armazenadas a

essa temperatura. A todas as amostras (18 amostras)

1). Uma fracção representativa d

98% para identificação. As amostras foram cortadas em pedaços pequenos

-80°C e liofilizadas. Os resultantes pedaços secos de esponja foram reduzidos a pó. Um grama

de cada amostra foi submetido então a uma extracção não diferencial. Ao grama de amostra foram

adicionados 20mL de solução de diclorometano:metanol (1:1) e a mistura foi submetida à acção de

ultra-sons (10 min) (Elma, Transsonic 460)

procedimento mais duas vezes usando o resíduo sólido da decantação. Do filtrado final (60mL)

obteve-se um extracto sólido por evaporação dos solventes num rota

Heating Bath B-490 e Rotavapor R

pressão até o extracto estar seco). Este extracto sólido foi sucessivamente dissolvido em solução

diclorometano:metanol (1:1), decantado para um novo recipiente, dissolvido em metanol e decantado

para o mesmo recipiente e de novo dissolvido em metanol e transferido para o recipiente referido. De

novo os solventes foram evaporados no rota

pressão até 1 torr). Quando se refere

deste processo. Os códigos de identificação dos extractos correspondem aos códigos de identificação

das amostras.

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Metodologia aplicada

Preparação de extractos de Erylus discophorus

As amostras de esponja Erylus discophorus foram recolhidas por mergulho

localizações do Oceano Atlântico Nordeste - Reserva Natural das Berlengas, Açores, Ferrol e Banco

do Gorringe (fig. 1 e tabela 1) – em várias missões. Imediatamente após rec

em recipientes isotérmicos para o laboratório, onde foram armazenadas a

odas as amostras (18 amostras) foi atribuído um código de identificação

1). Uma fracção representativa de cada amostra foi armazenada à temperatura ambiente em etanol

As amostras foram cortadas em pedaços pequenos

0°C e liofilizadas. Os resultantes pedaços secos de esponja foram reduzidos a pó. Um grama

de cada amostra foi submetido então a uma extracção não diferencial. Ao grama de amostra foram

adicionados 20mL de solução de diclorometano:metanol (1:1) e a mistura foi submetida à acção de

, Transsonic 460); foi então decantada e filtrada. Repetiu

procedimento mais duas vezes usando o resíduo sólido da decantação. Do filtrado final (60mL)

se um extracto sólido por evaporação dos solventes num rota-vapor

490 e Rotavapor R-200) (a temperatura inferior a 37°C (aprox. 34°C), reduziu

pressão até o extracto estar seco). Este extracto sólido foi sucessivamente dissolvido em solução

diclorometano:metanol (1:1), decantado para um novo recipiente, dissolvido em metanol e decantado

ara o mesmo recipiente e de novo dissolvido em metanol e transferido para o recipiente referido. De

novo os solventes foram evaporados no rota-vapor (a temperatura inferior a 37°C, reduziu

refere a “extracto” doravante referimo-nos ao resíduo sólido decorrente

deste processo. Os códigos de identificação dos extractos correspondem aos códigos de identificação

.

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foram recolhidas por mergulho em várias

Reserva Natural das Berlengas, Açores, Ferrol e Banco

em várias missões. Imediatamente após recolha as amostras foram

em recipientes isotérmicos para o laboratório, onde foram armazenadas a

um código de identificação (tabela

e cada amostra foi armazenada à temperatura ambiente em etanol

As amostras foram cortadas em pedaços pequenos (≈2cm3), congeladas a

0°C e liofilizadas. Os resultantes pedaços secos de esponja foram reduzidos a pó. Um grama do pó

de cada amostra foi submetido então a uma extracção não diferencial. Ao grama de amostra foram

adicionados 20mL de solução de diclorometano:metanol (1:1) e a mistura foi submetida à acção de

tada e filtrada. Repetiu-se este

procedimento mais duas vezes usando o resíduo sólido da decantação. Do filtrado final (60mL)

vapor (Büchi: Vac V-500,

(a temperatura inferior a 37°C (aprox. 34°C), reduziu-se a

pressão até o extracto estar seco). Este extracto sólido foi sucessivamente dissolvido em solução

diclorometano:metanol (1:1), decantado para um novo recipiente, dissolvido em metanol e decantado

ara o mesmo recipiente e de novo dissolvido em metanol e transferido para o recipiente referido. De

vapor (a temperatura inferior a 37°C, reduziu-se a

nos ao resíduo sólido decorrente

deste processo. Os códigos de identificação dos extractos correspondem aos códigos de identificação

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Preparação de neurónios piramidais isolados da região CA1 do hipocampo de rato

Neurónios piramidais foram isolados da região CA1 do hipocampo de ratos wistar do sexo

feminino com idades compreendidas entre os 21 e os 30 dias (P21-30) como descrito anteriormente[7].

Os processos de dissecação cerebral, remoção do hipocampo, dissociação enzimática e mecânica,

usados para a obtenção dos neurónios processaram-se como anteriormente descrito [32].

Registos electrofisiológicos

Os registos das correntes membranares foram realizados por whole-cell voltage-clamp

unicamente em células piramidais isoladas, à temperatura ambiente (20-24°C), usando um

electrómetro (Axon Instruments, Axopatch 200B), um conversor de sinal analógico/digital (Axon

Instruments, DigiData 1200) e devidamente registados utilizando o software Clampex 6.0.3 (Axon

Instruments). Os microelectrodos utilizados foram produzidos por um estirador de pipetas horizontal

(Science Products GmbH, GB150T-8P) a partir de tubos de vidro de borosilicato (Science Products

GMBH). Estes eram enchidos com solução interna (tabela 2), enquanto a solução de perfusão externa

(tabela 2) fluía, por acção da gravidade, a uma taxa de 2-3 mL/min.

O potencial de junção estimado foi de 9.2 mV (os dados apresentados não estão corrigidos

para este valor). Já a capacitância e a resistência em série foram compensadas em 80%, as correntes

foram filtradas a 2kHz e a estudado frequência de amostragem foi de 5 kHz.

Protocolos de voltagem

Aguardou-se o tempo necessário para o registo estabilizar antes de as experiências serem

realizadas (monitorizando-se a taxa de run-down e qualidade do selo – resistência em série e holding

current), sendo que o holding potential foi mantido a -60mV.

O efeito dos extractos e perfusão nas correntes foi com correntes evocadas por um pulso

despolarizante, de +40mV, com duração de 1,3 segundos. Este pulso era precedido de um

pré-pulso hiperpolarizante (-120mV, 100ms) que pretendia remover a inactivação de canais,

particularmente os subjacentes à componente da corrente rápida (tipo A-D, segundo algumas

publicações mais antigas). Este protocolo era repetido a cada 30s.

Para o estudo da dependência de voltagem da activação, uma série de pulsos na gama de -80 a

+40mV (em passos de 10mV), com duração 1040ms e em intervalos de 5s, foi aplicada. Esta série de

‘pulsos-comando’ era precedida por outra série, de -65 a -39mV em passos de 2mV (duração 160

ms). Estes pré-pulsos tinham por finalidade estimar a corrente de fuga presente [18].

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Os extractos de esponja foram ressuspendidos numa solução de metanol, formando a solução

stock. A aplicação dos extractos passou por uma diluição desta solução stock em solução externa, e

foram consequentemente administrados em perfusão constante.

Tabela 2. Composição das soluções utilizadas na preparação de neurónios piramidais da região CA1 do hipocampo de

rato e durante os registos electrofisiológicos.

Análise de dados e tratamento estatístico

Utilizaram-se os softwares Clampfit 9.0.1.07 (Axon Instruments) e OriginPro 8.1.34.90

(OriginLab Corporation) para a análise dos dados.

Para cada experiencia, procedeu-se ao ajuste (fit) de uma ou mais funções exponenciais ao

registo da fase de inactivação da corrente de K+, de acordo com a seguinte equação:

�� = � ����/�� + ��

���

onde τi e ai são, respectivamente, a constante de tempo e o coeficiente de amplitude da exponencial

correspondente, c é uma constante (da componente constante e da corrente de fuga) e m é o número

de exponenciais que descrevem a queda da corrente de K+.

O caso foi mais comum foi aquele em que m=2, sendo o decaimento da corrente descrito por

duas componentes, uma rápida (Ifast) e uma lenta (Islow) (fig. 2).

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Figura 2. Componentes da corrente de K+ dependente de voltagem em neurónios pirâmidais da região CA1 do hipocampo

de rato. A cinzento estão assinaladas as duas funções exponencias que descrevem a corrente, sendo bastante notória a sua

divergência e portanto a diferença entre as duas componentes da corrente. O protocolo de voltagem utilizado para evocar

a corrente encontra-se ilustrado no canto superior direito. Figura adaptada de Vicente, et al., 2010 [32].

As amplitudes das duas componentes foram medidas no pico (Ifast) e a 5xτfast (Islow), e a esses

valores foi subtraída a corrente de fuga (leak current), extrapolada a partir de uma regressão linear

ajustada aos valores de corrente obtidos por incrementemos de 1mV ao holding potential (sem que o

potencial de acção seja accionado).

Os valores de corrente resultantes foram convertidos em condutâncias através de:

� = � (�� − ��)⁄

onde Vm é a voltagem do pulso, EK o potencial de equilíbrio de K+ calculado pela equação de Nernst

(EK=-82mV). Posteriormente os valores de condutância foram normalizados para a sua resposta

máxima (G/Gmáx), o que nos permitiu construir o gráfico de G/Gmáx em função do potencial do pulso

(V) e descrever o comportamento por uma função de Boltzman:

� ��á�⁄ = �� − ��1 + �( ! "⁄ #) $⁄ + ��

onde Vm é o potencial do pulso, V1/2 é o potencial de meia-activação, VS é a constante de declive e A1

e A2 são as amplitudes mínima e máxima da curva, respectivamente.

A comparação dos resultados antes e depois da adição do extracto de esponja foi conseguida

por subtracção das correntes registadas nessas condições, considerando-se a corrente antes da adição

do produto o controlo.

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Resultados obtidos de acordo com os objectivos propostos

1. Obtenção de extractos de Erylus discophorus

Numa primeira fase deste trabalho procedeu-se à extracção não diferencial do conteúdo de 18

amostras de esponja Erylus discophorus, de acordo com o procedimento apresentado em

“Metodologia Aplicada”. Os resultados obtidos estão apresentados na tabela 2.

Tabela 2. Massas e rendimentos decorrentes da extracção não diferencial do conteúdo de amostras de Erylus discophorus.

“n.d.” significa não determinado.

Código de identificação

Massa esponja

fresca (g)

Massa esponja

liofilizada (g)

Rendimento liofilização

Massa pesada para

extracção (g)

Massa extracto final (g)

Rendimento extracção

AZ12/06/02 n.d. 78.02 n.d. 1.00 0.15 15% B05.09.99 52.33 12.03 23% 1.00 0.23 23%

B133 n.d. 8.87 n.d. 1.00 0.14 14% B135 n.d. 6.91 n.d. 1.00 0.18 18% B170 180.43 32.50 18% 1.01 0.13 13% B172 n.d. 64.30 n.d. 0.99 0.14 14% B206 158.72 36.02 23% 0.99 0.08 8% B24 120.92 n.d. n.d. 1.00 0.11 11%

B282 88.41 18.23 21% 1.01 0.10 10% B309 n.d. 10.33 n.d. 1.00 0.1119 11% B311 90.50 16.67 18% 1.00 0.16 16% B320 n.d. 33.93 n.d. 1.01 0.15 15% B329 n.d. 54.68 n.d. 1.02 0.09 9% B348 264.71 55.95 21% 1.00 0.12 12% B351 n.d. 51.04 n.d. 1.01 0.11 11% B437 141.86 32.17 23% 0.99 0.13 13% Fe06 n.d. 4.52 n.d. 1.01 0.1885 19%

G06.01 n.d. 42.14 n.d. 1.01 0.13 13%

Apesar dos rendimentos de extracção obtidos não serem ideais, são comparáveis aos valores

obtidos anteriormente [8]. A amostra para a qual o método de extracção foi mais rentável foi a

B05.09.99. Não foi possível fazer uma comparação do conteúdo extraído face à localização

geográfica de origem das amostras devido ao número reduzido de amostras dos Açores, Ferrol e

Banco do Gorringe.

Justifica-se assim a escolha do extracto B05.09.99 para a segunda fase do trabalho.

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2. Estudo da actividade neurofarmacológica do

2.1. Estudo do efeito do extracto

A segunda fase do trabalho compreende os estudos electrofisiológicos do efeito do

B05.09.99.

As correntes obtidas caracterizaram

seguida de um decaimento em

tempo (τfast)~70ms), seguida de uma outra mais lenta (

destas correntes é semelhante à descrita

A aplicação do extracto

(fig. 3). No entanto, a inibição referida mostrou ser dependente da concentração usada. A uma baixa

concentração (0,001%), o efeito é mais notório na fase de decaimento de

presente na componente de Islow

subsequente, a qual, apesar de ser descrita pela soma de duas

componente cuja constante de tempo é 57,4

observa-se que, não só é afectada

Finalmente, a uma concentração elevada (0,1%) as duas componentes de corrente são inibidas de

forma equiparável (fig. 3c). Todavia, não se observaram diferenças significativas nas constantes de

tempo de Ifast e Islow das correntes sensíveis às três concentrações usada, aplicadas em 14

células/registos. A cinética das correntes sensíveis a

às componentes Ifast e Islow de 60,2±7,5

Figura 3. Efeito de concentrações crescente de extrato de

de neurónios piramidais isolados da região CA1 do hipocampo de ratos

pulso despolarizante de +40mV com duração 1040ms, precedido de um pré

O protocolo de voltagem está respresentado no canto

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Estudo da actividade neurofarmacológica do extracto de Erylus B05.09.99

extracto ao nível das correntes de potássio (K+) em neurónios do hipocampo

A segunda fase do trabalho compreende os estudos electrofisiológicos do efeito do

As correntes obtidas caracterizaram-se por uma activação rápida da corrente de potássio (K

seguida de um decaimento em duas fases claramente observáveis: uma rápida (

)~70ms), seguida de uma outra mais lenta (Islow – τslow~ 1015ms) (fig. 3). A natureza

destas correntes é semelhante à descrita anteriormente [32] [18].

o de Erylus traduziu-se numa redução da corrente total

(fig. 3). No entanto, a inibição referida mostrou ser dependente da concentração usada. A uma baixa

concentração (0,001%), o efeito é mais notório na fase de decaimento de I

slow; esta observação é corroborada pela análise da c

a qual, apesar de ser descrita pela soma de duas exponenciais

cuja constante de tempo é 57,4 ms (fig. 3a). A uma concentração intermédia (0,01%),

é afectada a componente rápida, como também a componente lenta (fig. 3b).

Finalmente, a uma concentração elevada (0,1%) as duas componentes de corrente são inibidas de

3c). Todavia, não se observaram diferenças significativas nas constantes de

das correntes sensíveis às três concentrações usada, aplicadas em 14

células/registos. A cinética das correntes sensíveis a Erylus exibiu constantes

de 60,2±7,5 ms e 1204,0±146,3 ms, respectivamente.

Figura 3. Efeito de concentrações crescente de extrato de Erylus na corrente de K+: registos de whole

dos da região CA1 do hipocampo de ratos wistar (P21-30). As correntes foram evocas por um

pulso despolarizante de +40mV com duração 1040ms, precedido de um pré-pulso a -120mV (

O protocolo de voltagem está respresentado no canto superior direito. São apresentadas as correntes obtidas antes e

E s t u d o d e e x t r a c t o s d e u m a e s p o n j a m a r i n h a c o m a c t i v i d a d e n e u r o b i o l ó g i c a | C l a r a C u n h a M a t o s P a t r í c i o | B o l s a U L / F A D

) em neurónios do hipocampo

A segunda fase do trabalho compreende os estudos electrofisiológicos do efeito do extracto

se por uma activação rápida da corrente de potássio (K+),

duas fases claramente observáveis: uma rápida (Ifast – constante de

~ 1015ms) (fig. 3). A natureza

se numa redução da corrente total whole-cell.

(fig. 3). No entanto, a inibição referida mostrou ser dependente da concentração usada. A uma baixa

Ifast e está pouco ou nada

; esta observação é corroborada pela análise da corrente subtraída

exponenciais, é dominada pela

(fig. 3a). A uma concentração intermédia (0,01%),

a componente rápida, como também a componente lenta (fig. 3b).

Finalmente, a uma concentração elevada (0,1%) as duas componentes de corrente são inibidas de

3c). Todavia, não se observaram diferenças significativas nas constantes de

das correntes sensíveis às três concentrações usada, aplicadas em 14

exibiu constantes de tempo (τ) relativas

e 1204,0±146,3 ms, respectivamente.

: registos de whole-cell voltage-clamp

). As correntes foram evocas por um

120mV (holding potential: -60mV).

superior direito. São apresentadas as correntes obtidas antes e

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depois da adição de extrato de Erylus

(b) extrato de Erylus 0,001%, (c) extrato de

exponenciais.

Numa análise generalista, o efeito da inibição é tanto maior quanto maior a concentração do

extrato usada. No entanto, o efeito da concentração torna

onde se agrupam resultados provenientes de experiências identicas às apresentadas na figura 3

efeito das três concentrações de

Observa-se que para ambas (

relevante é notar que, à menor concentração usada (0,001%), apenas um efeito robusto é observável

em Ifast (a percentagem de inibição de

uma concentração moderada (0,0

componentes. Finalmente, à concentração mais elevada (0,1%), a tendência é inclusivamente inversa,

na medida em que ao efeito em

Estes resultados (fig. 3,

com especificidade díspar para uma e outra componente da corrente. De facto, a componente rápida é

bastante mais sensível ao extrato que a componente lenta.

Uma vez que é conhecido o efeito neurotóxico do metanol, solvente do composto usado,

investigou-se se algum dos efeitos observados seria a si atribuível. Assim, adicionou

neurónios sob registo, a concentração dez vezes mais elevada que aquela usada aquando d

concentração máxima de extracto

whole-cell para ambas as componentes (n=3).

E s t u d o d e e x t r a c t o s d e u m a e s p o n j a m a r i n h a c o m a c t i v i d a d e n e u r o b i o l ó g i c a | C l a r a C u n h a M a t o s P a t r í c i o | B o l s a U L / F A D

Erylus e a respectiva subtracção a três concentrações: (a) extrato de

0,001%, (c) extrato de Erylus 0,01%. A encarnado representa-

Numa análise generalista, o efeito da inibição é tanto maior quanto maior a concentração do

extrato usada. No entanto, o efeito da concentração torna-se mais evidente pela análise da figura 4,

agrupam resultados provenientes de experiências identicas às apresentadas na figura 3

efeito das três concentrações de Erylus é dissecado na decorrente inibição de cada componente.

se que para ambas (Ifast e Islow), a inibição aumenta com a co

relevante é notar que, à menor concentração usada (0,001%), apenas um efeito robusto é observável

(a percentagem de inibição de Islow é quase vestigial, sendo inferior a 5%). Tal não acontece a

uma concentração moderada (0,01%), em que, em termos relativos, o efeito é idêntico para as duas

componentes. Finalmente, à concentração mais elevada (0,1%), a tendência é inclusivamente inversa,

na medida em que ao efeito em Islow ganha expressão.

Figura 4. Relação dose-

do extrato de Erylus

corrente de K+ (Ifast

expresso em % de inbição (ver

aplicada”). “n” é o tamanho da amostra e as barras de

desvio, o erro padrão.

fig. 4) sugerem a existência de, pelo menos, dois principios activos,

com especificidade díspar para uma e outra componente da corrente. De facto, a componente rápida é

bastante mais sensível ao extrato que a componente lenta.

onhecido o efeito neurotóxico do metanol, solvente do composto usado,

se se algum dos efeitos observados seria a si atribuível. Assim, adicionou

neurónios sob registo, a concentração dez vezes mais elevada que aquela usada aquando d

extracto de Erylus. A figura ‘5’ demonstra a ausência de efeito na corrente

para ambas as componentes (n=3).

E s t u d o d e e x t r a c t o s d e u m a e s p o n j a m a r i n h a c o m a c t i v i d a d e n e u r o b i o l ó g i c a | C l a r a C u n h a M a t o s P a t r í c i o | B o l s a U L / F A D

respectiva subtracção a três concentrações: (a) extrato de Erylus 0,001% (m/v),

-se o ajuste de duas funções

Numa análise generalista, o efeito da inibição é tanto maior quanto maior a concentração do

se mais evidente pela análise da figura 4,

agrupam resultados provenientes de experiências identicas às apresentadas na figura 3 – o

é dissecado na decorrente inibição de cada componente.

), a inibição aumenta com a concentração. Igualmente

relevante é notar que, à menor concentração usada (0,001%), apenas um efeito robusto é observável

é quase vestigial, sendo inferior a 5%). Tal não acontece a

1%), em que, em termos relativos, o efeito é idêntico para as duas

componentes. Finalmente, à concentração mais elevada (0,1%), a tendência é inclusivamente inversa,

-resposta dos efeitos inbitórios

nas duas componentes da

e Islow). O efito inbitório é

expresso em % de inbição (ver “Metodologia

). “n” é o tamanho da amostra e as barras de

fig. 4) sugerem a existência de, pelo menos, dois principios activos,

com especificidade díspar para uma e outra componente da corrente. De facto, a componente rápida é

onhecido o efeito neurotóxico do metanol, solvente do composto usado,

se se algum dos efeitos observados seria a si atribuível. Assim, adicionou-se metanol a

neurónios sob registo, a concentração dez vezes mais elevada que aquela usada aquando da adição da

. A figura ‘5’ demonstra a ausência de efeito na corrente

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2.2. Estudo do efeito do extracto

Por fim, pretendeu-se indagar o modo de acção inerente à referida inibição. Assim, aplicaram

-se protocolos de voltagem que visam determinar a de

(fig. 6). A figura 6a mostra as correntes evocadas por pulsos despolarizantes de amplitude

incremental (ver “Metodologia aplicada”

0.01%. Os perfis de voltagem obtidos, tanto para

Para ambas componentes, observou

correspondentes. Concretamente, para

Uma vez que existe uma tendência para um

ao longo de registos similares, artefacto inerente ao método aplicado

provocado pelo extracto de esponja esteja aqui a se

demonstram que, pelo menos em parte, o efeito inibitório do

voltagem. Isto é, na presença do

corrente de igual amplitude.

Na figura ‘1c’, os sinais resultantes da subtracção das correntes em ‘a’ mostram, tal como

anteriormente, que Erylus, à concentração de 0,01% inibe ambas componentes da corrente total de

potássio. Os perfis de voltagem correspondentes a

-17,6 mV e -20,5 mV, respectivamente.

Finalmente, visitando a relevância biológica destes resultados, é coerente prever que o(s)

composto(s) activo(s) actue(m) na estrutura do canal alvo através de

de aminoácidos relativa ao sensor de voltagem do canal.

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Figura 5. Efeito do solvente da solução stock do

extrato de Erylus na corrente de K

foram evocas por um pulso despolarizante de

+40mV com duração 1040ms, precedido de um

pré-pulso a -120mV (

protocolo de voltagem está respresentado no canto

superior direito. O efeito não é relevante

pode observar pela subtracção das correntes.

extracto de Erylus na dependência da corrente à voltagem

se indagar o modo de acção inerente à referida inibição. Assim, aplicaram

se protocolos de voltagem que visam determinar a dependência de Ifast e Islow

(fig. 6). A figura 6a mostra as correntes evocadas por pulsos despolarizantes de amplitude

“Metodologia aplicada”) antes e depois do tratamento com

tagem obtidos, tanto para Ifast como para Islow são apresentados na figura 6b.

Para ambas componentes, observou-se um shift despolarizante nos perfis de voltagem

correspondentes. Concretamente, para Ifast obteve-se um shift de +9,7 mV e para

Uma vez que existe uma tendência para um shift gradual hiperpolarizante destes perfis de voltagem

ao longo de registos similares, artefacto inerente ao método aplicado [32], é de esperar que o desvio

de esponja esteja aqui a ser subestimado. Os resultados presentes em ‘6a

demonstram que, pelo menos em parte, o efeito inibitório do extracto é resultado do desvio de

voltagem. Isto é, na presença do extracto, uma despolarização maior é necessária para se induzir uma

Na figura ‘1c’, os sinais resultantes da subtracção das correntes em ‘a’ mostram, tal como

, à concentração de 0,01% inibe ambas componentes da corrente total de

potássio. Os perfis de voltagem correspondentes a Ifast e Islow (fig. 1d) mostram de valores de V

20,5 mV, respectivamente.

Finalmente, visitando a relevância biológica destes resultados, é coerente prever que o(s)

composto(s) activo(s) actue(m) na estrutura do canal alvo através de uma modificação da sequência

de aminoácidos relativa ao sensor de voltagem do canal.

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Figura 5. Efeito do solvente da solução stock do

na corrente de K+. As correntes

foram evocas por um pulso despolarizante de

+40mV com duração 1040ms, precedido de um

120mV (holding potential: -60mV). O

protocolo de voltagem está respresentado no canto

reito. O efeito não é relevante, como se

subtracção das correntes.

de Erylus na dependência da corrente à voltagem

se indagar o modo de acção inerente à referida inibição. Assim, aplicaram-

slow em relação à voltagem

(fig. 6). A figura 6a mostra as correntes evocadas por pulsos despolarizantes de amplitude

) antes e depois do tratamento com extracto de Erylus

são apresentados na figura 6b.

despolarizante nos perfis de voltagem

de +9,7 mV e para Islow de +23,3 mV.

gradual hiperpolarizante destes perfis de voltagem

, é de esperar que o desvio

r subestimado. Os resultados presentes em ‘6a-b’

é resultado do desvio de

, uma despolarização maior é necessária para se induzir uma

Na figura ‘1c’, os sinais resultantes da subtracção das correntes em ‘a’ mostram, tal como

, à concentração de 0,01% inibe ambas componentes da corrente total de

(fig. 1d) mostram de valores de V1/2 de

Finalmente, visitando a relevância biológica destes resultados, é coerente prever que o(s)

uma modificação da sequência

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Figura 6. Efeito do extrato de Erylus

em passos de 10m, com duração 1040ms

de voltagem ilustrado no topo de ‘a’. (a) Correntes correspondentes antes e depois da adição de extrato de

(0.01%). (b) Relações condutância normalizada(G/Gmax)

‘a’, para antes e depois da adição do extrato de

uma função de Boltzman cujos valores de V

depois da aplicação do estrato. Observam

e Islow. (c) Subtracção das correntes revelando as correntes sensiveis ao extrato. (d) Dependência de voltage

das componentes Ifast e Islow das correntes subtraídas representadas em ‘c’.

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em correntes de K+ evocas por uma série de pulsos despolarizantes (

, com duração 1040ms), precedidos por um pré-pulso a -120mV (holding potential

de voltagem ilustrado no topo de ‘a’. (a) Correntes correspondentes antes e depois da adição de extrato de

(0.01%). (b) Relações condutância normalizada(G/Gmax) vs voltagem das componentes Ifast

‘a’, para antes e depois da adição do extrato de Erylus 0.01%. A dispersão dos valores foi ajustada adequadamente por

uma função de Boltzman cujos valores de V1/2 (ver métodos), referentes a Ifast e I slow são

depois da aplicação do estrato. Observam-se desvios despolarizantes dos respectivos perfis

(c) Subtracção das correntes revelando as correntes sensiveis ao extrato. (d) Dependência de voltage

das correntes subtraídas representadas em ‘c’.

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despolarizantes (-80 a +50mV,

holding potential: -60mV)- protocolo

de voltagem ilustrado no topo de ‘a’. (a) Correntes correspondentes antes e depois da adição de extrato de Erylus

fast e Islow calculadas apartir de

0.01%. A dispersão dos valores foi ajustada adequadamente por

e I slow são apresentados para antes e

de voltagem para ambas, Ifast

(c) Subtracção das correntes revelando as correntes sensiveis ao extrato. (d) Dependência de voltagem de activação

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2.3. Identificação das subunidades do(s) canal(ais) de potássio adjacente(s) à componente mais

sensível ao extracto

Na tentativa de identificar candidatos para o correlato molecular das subunidades no canal

associado a Ifast (componente mais sensível ao extracto) recorre-se aqui a uma avaliação comparativa

dos resultados. Por um lado, a taxa de decaimento de Ifast (τfast = 60,2±7,5 ms) enquadra-se na ordem

de grandeza dos valores publicados para Kv1.4, Kv4.1 e Kv4.3 [6]. Por outro lado, as curvas de

activação dependentes da voltagem da corrente sensível ao extracto de Erylus (V1/2~ -25 mV, valor

corrigido com o potencial de junção, ver “Metodologia aplicada”) sugerem o envolvimento de canais

do tipo Kv1.1, Kv1.3, Kv 1.4, Kv1.6, Kv1.7 e Kv2.2 [6]. Assim, e confrontando estas duas

abordagens, sugere-se aqui que a componente mais sensível ao extracto de Erylus (Ifast) é mediada

por um canal que contém subunidades α do tipo Kv1.4.

Este resultado é particularmente relevante dado que não existe conhecimento de qualquer

agente farmacológico cujo alvo seja especificamente o canal Kv1.4. Acrescenta-se o facto de o canal

referido ser o único Kv detectável nos “neurónios da dor”, os neurónios de menor diâmetro do

gânglio da raiz dorsal [21]. Concluindo, trata-se de um canal de importância reconhecida no estudo da

fisiologia da dor e constitui um alvo primordial na indústria associada.

Execução financeira de acordo com o plano orçamental

previsto

O projecto executou-se dentro do orçamento programado. Detalhando, as despesas

repartiram-se em reagentes (€420), eléctrodos e acessórios de electrofisiologia (€330), material

diverso de laboratório (€340), material de papelaria (€23) e outros (€150), totalizando €1263.

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Conclusões

De acordo com os resultados apresentados no presente relatório, conclui-se que:

• O método de extracção não diferencial aplicado às dezoito amostras de esponja Erylus mostrou

rendimentos adequados em relação ao anteriormente publicado;

• O extracto de Erylus eleito induz uma diminuição da corrente total whole-cell dependente da

concentração usada;

• A corrente de potássio sensível ao extracto caracterizava-se por um decaimento em duas fases:

uma rápida (Ifast: τfast=60,2±7,5 ms) e outra mais lenta (Islow: τfast=1204,0±146,3 ms);

• A diminuição de Ifast, assim como a de Islow, é tanto maior quanto maior a concentração de

extracto. No entanto, Ifast é claramente mais sensível;

• Sugere-se a existência de dois princípios activos com acção em correntes de potássio, o que

sublinha a relevância de, numa perspectiva futura, fraccionar e caracterizar quimicamente o

extracto bruto;

• Ao evocar um shift despolarizante nos perfis de voltagem (correntes sensíveis ao extracto: Ifast -

V1/2=-17,6 mV e Islow - V1/2=-20,5 mV), o extracto está provavelmente a alterar a conformação

do sensor de voltagem do canal alvo;

• Por fim, integrando os resultados, pode-se apontar o canal Kv1.4 como aquele sensível ao

extracto de Erylus. Este canal tem uma grande relevância para a patologia da dor, não havendo

agente farmacológico específico conhecido. Abrem-se assim perspectivas para investigações

futuras no intuito de se identificarem os compostos activos e estes serem potencialmente usados na

indústria farmacológica.

Como bolseira da Universidade de Lisboa/Fundação Amadeu Dias, esta oportunidade

permitiu integrar-me no meio de investigação científica, ao mesmo tempo que me desafiava a

estender os meus conhecimentos a várias áreas da bioquímica e neurociências. O apoio do tutor, Dr.

Pedro Lima, tal como da Dra. Madalena Humanes, e de distintos professores e colegas foi fulcral ao

longo do trabalho.

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Agradecimentos

Agradeço ao tutor, Doutor Pedro Lima, pelo incansável esforço de me dar a conhecer uma

realidade em tudo nova para mim, o mundo das neurociências, e de me dar as ferramentas necessárias

para aí me mover. À Doutora Madalena Humanes, pela disponibilidade, apoio e simpatia que desde o

início teve para comigo – devo-lhe a oportunidade de me lançar neste projecto. À Doutora Helena

Gaspar, pelo suporte que me deu na “fase química” do projecto e por me ensinar a estar num

laboratório de química. Ao Miguel Mondragão, pela constante presença e ajuda ao longo da “fase de

electrofisiologia” do projecto e pela franqueza com que sempre me transmitiu os conhecimentos por

ele adquiridos. E por fim, aos restantes professores que me ajudaram pontualmente, aos colegas de

laboratório que me puseram à vontade neste meio e à família e amigos que fizeram os mais sinceros

esforços para entender porque é que eu achava tão entusiasmante misturar esponjas com neurónios.

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