BORGES, Marcelo. Carta Aberta - O Racismo da União do Vegetal

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    CARTA ABERTAO Racismo da Unio do Vegetal

    Marcelo Henrique Ribeiro Borges[1]

    O racismo uma prtica doentia e criminosa.Atos horrendos de intolerncia e desrespeito j foram perpetrados em nossa

    histria motivados por formas de pensamento racistas. O extermnio dos corpos fsicos antecedido pela violncia emocional e psicolgica, primeiro agredindo os membros dosgrupos tnicos perseguidos de modo sutil e subliminar, para posteriormente estabelecerestruturas rgidas de segregao e coao social. Atualmente existem srias questes

    postas ao debate na sociedade brasileira a este respeito, a par da conquista de valorososdireitos alcanados nos ltimos anos, as formas de atuao de grupos racistas

    comumente mantm-se de forma velada e disfarada, porm aplicam-se no interior desuas organizaes a frieza e crueldade das formas de pensamento racista.Ao tecer uma pesquisa sobre a Histriada Ayahuasca no Brasil,deparei-me

    com a existncia de uma doutrina racista no interior de uma comunidade centrada noRito de Comunho da Ayahuasca. Os fatos so complexos e mereceram dez (10) anosde investigao, colhendo fontes de documentos orais relativos ao campo doutrinrio daorganizao identificada como Uniodo Vegetal,fundada por Jos Gabriel da Costaem 1961.

    A pesquisa tornou-se pblica em julho de 2012 com o lanamento do livro deminha autoria: Histria da Ayahuasca no Brasil: um estudo ontolgico sobre as

    fronteiras da travessia humana com o suprassensvel.O tema do livro no se restringe

    apenas ao caso da Unio do Vegetal, mas dentro do Captulo VI (pginas 361 a 475)abordamos a questo com a devida seriedade que ela exige, expondo o centro ideolgicoda doutrina racista de eugenia. Exporemos de modo sucinto nesta Carta Aberta os

    principais elementos que compe da doutrina de racismo da Unio do Vegetal, todavia,orientamos que a pesquisa deve ser complementada com a leitura integral do trabalho

    publicado no livro, uma vez que a escrita apresenta-se fundamentada com um eixoargumentativo dentro do arcabouo doutrinrio.

    So dois pontos centrais que fundam o racismo da Unio do Vegetal, oprimeiro relaciona-se com a viso de inferioridade dos povos amerndios na prpriacomunho ancestral da Ayahuasca. O segundo diz respeito pretensa origem inferior enegativa dos povos e indivduos de epiderme escura a partir de sua origem ser

    determinada pela rebeldia de Lcifere dio de Caim.Ao se tratar de argumentos nocampo do imaginrio religioso, somos obrigados a apresentar os argumentos na ordemdestes mesmos termos.

    Estas duas premissas de discriminao e racismo esto fundamentadas em duashistrias contadas por Jos Gabriel da Costa, o mestre fundador da Unio do Vegetal: aHistriada Hoascae a Histriada Criao.A primeira histria situa-se naquilo que compreendido como a grande revelao do Mestre Gabriel, ele mesmo omensageiro de Deus responsvel em implantar na Terra a prpria Ayahuasca em temposimemoriveis, antediluvianos, conforme est narrado no livro na pgina 379:

    A premissa da doutrina nasce por revelao das recordaes do mestre, quando Gabriel teria se recordado de vidas

    antepassadas, sempre na forma de um enviado divino, indo at um reino mtico cujo soberano se chamava Inca:neste reino

    aconteceram milagres causadores do surgimento das plantas sagradas, o cip e a folha, mas somente aps o dilviouniversal

    com dito pela doutrina a Ayahuasca foi feita pela primeira vez pelo lendrio Rei Salomo, que serviu o primeiro clice

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    Caiano,o primeirohoasqueiro, uma encarnao passada de Gabriel, quando este adquiriu o graude mestre.Assim sendo, a

    doutrina postula que MestreCaianofoi o primeiro ser vivente na Terra que comungou a bebida sacramental, sendo dele a realeza

    de todo o legado posteriorpor isso o mestresuperiore nesta ocasio a Uniodo Vegetalfoi criada na Terra. No entanto, a

    lenda diz que por alguns motivos, aps MestreCaiano instalar sua doutrina, a Ayahuasca ficou esquecida,quando ento o

    podersuperiorordena que o mesmo voltasse Terra para restauraro Vegetal,reencarnando com o nome de Iagoraem meio

    aos ndios no Peru, quele que teria reconhecido as plantas e ensinado toda a tradio da Ayahuasca todos os povos do mundo, ao

    passo que tambm contava a antiga histria do Rei Incapor isso o reinado do lugar teria recebido este nomeo reino do

    Inca o Reino Inca.No decorrer dos acontecimentos, Mestre Iagora teria sido assassinado pelos discpulos por causa deriquezas materiais, quando este se negava a dizer o local de uma mina de ouro,aps este fato teriam nascido os mestresda

    curiosidade,bebendo o Vegetal sem a doutrina e contaminados pela raiva e cobia. Tempos depoiso mesmo mestre retorna ao

    Brasil, nascendo em Coraode Maria:Mestre Gabriel, o autor da Unio do Vegetal.

    Em nosso livro publicamos a ntegra da Histriada Hoasca,do mesmo mododispusemos a narrativa contada na voz do prprio fundador, que atribuiu a si prprio olegado de ter ensinado o conhecimento sobre a Ayahuasca a todas as civilizaesancestrais da Cordilheira dos Andes e da Amaznia, assim os xams, pajs e caboclosso considerados mestresda curiosidadeque teriam surgido aps o degolamento deIagora, pois comearam a beber o ch sem a orientao da Unio do Vegetal: semsabedoria e apenas por diverso ou curiosidade: era o cinemade ndio.Sendo assim,observamos claramente a presena de um discurso discriminatrio e preconceituoso nadoutrina implantada por Jos Gabriel da Costa, uma espcie de etnocentrismoreligioso, fato que expressa claramente os objetivos de domnio do mundo pelaorganizao, apresentado no arcabouo do livro Histria da Ayahuasca no Brasil.Uma contradio tcita, pois realizam a comunho de um sacramento de tradioindgena e a partir do estado de conscincia ampliado promovido pelo sacramento,disseminam uma doutrina que desqualifica todas as heranas culturais das naesancestrais da Amrica de pele vermelha.

    Entretanto, apenas por esta lenda no ser suficiente para desvendarmos ocampo doutrinrio do racismo, por isso completamos a exposio com a Histriada

    Criao que apresenta diretamente o vis narrativo de origem maligna dos povos eindivduos de epiderme escura. Conforme est posto na pgina 454 do livro Histria daAyahuasca no Brasil, a Histria da Criao uma narrativa restrita ao CorpoInstrutivo e ainda assim costuma ser retida por um tempo desde a iniciao dosdiscpulos. No obstante, toda a doutrina de Mestre Gabriel alicerada pelacosmoviso da Histriada Criao,inclusive a prpria Histriada Hoascas podeser compreendida plenamente a partir da correlao destes ensinos. A fim de evitarmosqualquer mal-entendido a respeito do tema, a narrativa do mito de matriz racista serexposta nesta Carta Aberta conforme consta em nossas fontes de pesquisa: umagravao aprovada em Sesso do Quadrode Mestre Antigo,realizada dia 17 de abrilde 1987, no NcleoMestre Rubensem Jar, Rondnia. O Quadrode Mestre Antigo

    comumente identificado Conselhoda Recordao dos Ensinos do Mestre Gabriel,formado por discpulos de Jos Gabriel da Costa que foram diretamente aprovados porele ao graude mestre.

    Histria da Criao aprovada pelo Quadro de Mestre Antigo em Sesso realizada em 17 de abril de 1987 no ncleo

    Mestre Rubens, em Jar- Rondnia.

    No princpio de tudo s existia o universo e trs luizformando a Trindade: Piv da Natureza, Jean Bangule Luiz Bela. Luiz

    Bela tinha o nome de Luiz Bela porque entre as outras luiz,ela se destacava a mais bela. Luiz Bela recebeu a autorizao das

    outras luizpra criar anjos: de um at nove anjos por minuto. Ela tinha um ramalhete e colocava aquele ramalhete em uma gua, e

    de cada pingo daquela gua que se desprendia, surgia um anjo, uma vida. Depois Luiz Bela se envaideceu achando que deveria

    criar mais anjos do que aquela quantidade que lhe havia sido autorizada. Quando iniciou criando mais anjos, as outras luiz

    chamaram ela para no proceder daquela maneira, pois a autorizao que ela tinha era para criar de um at nove anjos por minuto.

    A ela rebelou-se contra as outras luiz,porque ela era a luz que tinha o poder de criar anjos e chegou a criar at trezentos esessenta e trs anjos por minuto. Chegou a criar grandes legies de anjos. E por ela no ter obedecido as outras luiz, foi

    transformada de Luiz Bela para Luiz Bel, e foi retirada da Trindade ficando a Divindade, formada pelas Luiz Jean Bangul e Piv

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    da Natureza. Luiz Bel foi colocada no espao onde no tinha luizcom todos aqueles anjos que ela criou por conta prpria. Jean

    Bangul viu que aqueles anjos no tinham nenhuma culpa por terem sido criados. Pediu ao Piv, a Natureza: Senhor, h de ser

    criado um lugar onde esses anjos possam vir luiz. Quando fez o pedido, o Piv da Natureza disse: tu o Autor do

    Conselho e tambm das Trevas.Com essas palavras, Jean Bangul recebeu a transformao pra Autor do Conselho e tambm das

    Trevas. Com a palavra tu o Autor do Conselho e tambm das Trevashouve a autorizao pro incio da criao do lugar pros

    anjos. O ar se condensou em grandes camadas, formando a terra e depois de pronta, recebeu o nome de Cho.A veio o Autor

    das Trevas a habitar, primeiro ser vivente que chegou a esse lugar. Com a vinda do Autor das Trevas, Luiz Bel recebeu uma

    transformao de Luiz Bel pra Lcifer. O Autor das Trevas formou do p da Terra uma esttua no formato de um homem. Depoisde pronta, ps a esttua de p e disse: DEP SOU A DO.Com a palavra DO,andouDe onde nasceu a palavra pessoa:

    dep-sou-a do. Depois viu que pra sua misso necessitava de uma companheira. Ado adormeceu, o poder tirou de si uma

    costela, formou uma mulher e deu-lhe o nome de Eva. Tiveram diversos filhos: Caim, Abel, Genoveva, Abreu, Rebeca, Bicelona e

    Sete. Caim era lavrador, cuidava da lavoura. Abel era pastor, cuidava de ovelhas.Abel era um bom filho e por isso Caim achava

    que seu pai era mais dedicado a Abel. Por esse motivo, Caim sentiu inveja de Abel e com um pedao de osso de animal, que

    j existia, assassinou o irmo. O sangue de Abel manchou lhe as mos e aquela mancha foi se estendendo pelo corpo todo e

    com pouco tempo estava com a cor negra.Ficou envergonhado de vir na presena do Pai Ado, pelo que tinha feito, mas veio.

    Quando chegou, a sentena que o Pai Ado lhe deu, foi lhe entregar a irm Genoveva e mandou que ele se afastasse da famlia. Da

    ento foi viver nas montanhas, dando origem aos caboclos bravos das florestas. Ado quando estava em pessoa na Terra, o claro

    que existia era o dele. O reflexo de sua luiz,clareava na regio em que vivia. Depois do desencarnamento, Ado subiu pro Astral

    Superior de onde o Autor das Trevas est nos clareando, que conhecemos como Sol. Com o desencarnamento de Eva, ela subiu pro

    Astral Resplandecente de onde recebe o reflexo da luizdo Sol e resplandece e hoje conhecemos como Lua.

    Este o mito fundante da doutrina de Jos Gabriel da Costa, o epicentro doracismo da Unio do Vegetal, que pela primeira vez ocupou espao nas pginas de umlivro de histria. Este procedimento se fez necessrio devido ao carter que eleapresenta, pois em sua mensagem uma doutrina racista implantada sombra da lei ede qualquer princpio humano. Indo alm do simples mito de superioridade da Unio doVegetal e primazia de seu mestre fundador, a doutrina apregoa claramente uma supostainferioridade por parte das pessoas de pele escura, eis o grande segredo dosmistriosque cercam a Unio do Vegetal. Uma aberrao posta contemporaneidade,que abomina atravs da Declarao Universal dos Direitos Humanos, qualquer formade racismo e segregao tnica, portanto um crime classificado como hediondo pela

    Carta Magna da Repblica Federativa do Brasil.

    Ao analisarmos o fragmento do mito que tece a narrativa sobre a origem dosfilhosde Caim,identificamos a matriz racista:

    O sangue de Abel manchou lhe as mos e aquela mancha foi se estendendo pelo corpo todo e com pouco tempo estava com

    a cor negra. Ficou envergonhado de vir na presena do pai Ado, pelo que tinha feito, mas veio. Quando chegou, a sentena

    que o pai Ado lhe deu, foi lhe entregar a irm Genoveva e mandou que ele se afastasse da famlia. Da ento foi viver nas

    montanhas, dando origem aos caboclos bravos das florestas.

    Num momento crucial da gravao, tentaram literalmente cortar a parte queanunciava a doutrina racista: manchou lhe as mos,no entanto, seja l quem tentoufraudar esta passagem, falhou em tcnica, permanecendo a gravao de modo intacto,

    mesmo que em voz baixa, de tal forma orientamos aos leitores que verifiquem noarquivo de udio e constatem por vossas prprias experincias. Este fato denota aconscincia que o grupo tem da gravidade da doutrina, pois tentaram ocultar o fator demaior preponderncia para que seus segredos no fossem abertos ao pblico. A doutrina

    posta desta forma jamais transmitida abertamente dentro das Sessesde Escala,oprocesso de aliciamento ocorre aos poucos, primeiro preparando a memria dosdiscpulos, depois incutindo medo sobrepunies sobrenaturaisque recaem sobre osrebeldesque deixam vazar os mistrios,at se firmar um pacto de silncio antes daHistriada Criaoser revelada. Mesmo sem concordar com a doutrina, os discpulosque ao longo da histria se afastaram das organizaes identificadas como UniodoVegetal, preferiram se calar e permanecer em isolamento, tal foram os mtodos de

    domnio e controle implantados durante as doutrinaes com o Vegetal.

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    Uma nica exceo se apresentou no rol de omisses e sentenas, esta veiopela voz de um mdico psiquiatra, seu nome Luiz Carlos Pimentel Alves e seutrabalho teve o objetivo de publicar a A Criao do Universo pela Religio daHoasca, um livro de vertente religiosa. Citamos esta obra apenas por ser outrareferncia que corrobora com a verso do mito da criao apresentado em nosso

    trabalho (ALVES, 2007: 52-55).

    O fato est consumado.A pesquisa levantou duas fontes de narrativa sobre a Histriada Criaopela

    Unio do Vegetal, as duas narrativas apresentam a explicao de que um crime fezsurgir a primeira pessoa de cornegraou corpreta:Caim, visto como um assassinoinvejoso e enciumado, seus filhos seriam os caboclosbravos das florestas.A histriaainda apresenta duas perspectivas de reflexo, a primeira diz respeito gerao daTrindade,pois num plano inicial a LuizBelaestava criando os anjosdentro daobedincia:nove por minuto. Estes anjos criados permaneceram na luz,encarnando

    como uma linhagem de filhos obedientes de Ado, claros e puros. Os demais anjoscriados foram filhos da desobedincia, portanto so filhos da rebeldia de Lcifer e diode Caim, por isso estes deveriam passar pelo processo de evoluo espiritual,necessitando limpar as trevas do corao:nasceriam primeiramente como animais edepois como pessoas humanas. Sendo espritos inferiores, a doutrina de Jos Gabriel daCosta ensina que primeiro encarnariam com a mancha do pecado de Caim na pele, ouseja, com a pele escura pelas trevas, aps o processo evolutivo de purificaoatravsda dor e do sofrimento, receberiam gradativamente a luzno corao,clareando a corda pele.

    Esta doutrina aplica-se na perspectiva de purificao da humanidade pelobranqueamento da epiderme. Acredita-se que os espritos inferiores e malignos nascem

    com as trevasno corao,representadas por uma pele escura; enquanto os espritossuperiores e benignos nascem com a luzno corao,representada por uma pela clara:assim cada gerao deveria se esforar por clarear a pele de seus filhos, eliminando daTerra toda forma de trevas e escurido, pois quanto mais branca uma pessoa, mais

    pura ela seria Tal preceito aplicado s questes tnico-raciais classificado comoEUGENIA: uma forma de pensamento criminoso que produziu barbries na histriahumana, de modo mais recente teve sua aplicao durante o regime nazista de AdolfHitler a partir das LeisdeNuremberg.

    O absurdo de um pensamento como este se manifestar no Brasil representauma negao sobre toda a histria cultural de miscigenao, sincretismo e hibridismo. Amaior contradio ainda se aplica a outras duas questes sobrepostas: a doutrina racista

    de eugenia nascer pela obra de um baiano de pele escura e ainda fazendo uso daAyahuasca, um sacramento indgena, para sua difuso e doutrinao. Mas sem se furtar explicao dos fatos,Jos Gabriel da Costa dizia que sua manifestao atravs destaforma era no cumprimentode uma misso,pois veio justamente entre as trevasparatrazer a luz, nasceu com a pele escura para servir de exemplo a todos para queningum duvidasse de sua palavra, uma vez que se fosse ao contrrio, o grandeensinodapurezapoderia sofrer rejeio, isto caso sua pele fosse clara.

    Estas so as principais consideraes sobre a doutrina racista da Unio doVegetal, atravs do livro Histria da Ayahuasca no Brasil: um estudo ontolgico

    sobre as fronteiras da travessia humana com o suprassensvel todos os leitoresinteressados no tema podero identificar todos os eixos de argumentao e conduta queacompanham o mito da criao por Jos Gabriel da Costa. De fato, identificamos nodecorrer desta pesquisa, que o sacramento ancestral tem sido usado nesta vertente para a

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    propagao de uma doutrina racista com preceitos de eugenia. O ideal de beleza eperfeio da cor de pele branca assumiu patamares to fortes no imaginrio de JosGabriel da Costa, que sua profeciasobre seu retorno inclui no repertrio de poderes, aencarnao num corpo puro, sem manchas, nem vus, da o mistrio donome JACINTO LUZ TABOA: jsinto que a luz estboaou seja: um rei de pele

    branca para o Brasil. No estudo ontolgico sobre a condio humana do ser em si,identificamos os fortes sinais de um ideal de superioridade por quem atravessaragrandes dificuldades e angstias de existncia, seja como jovem apartado da famlia emSalvador, fugitivo da polcia, escravo nos seringais, trabalhador explorado, pai defamlia carente, negro discriminado epor fim, paciente em estado terminal.

    Alguns colaboradores desta pesquisa, por vezes ponderaram se a exposio detodas estas questes no poderia depor contra a prpria Ayahuasca, considerandotodos os problemas existentes ainda de graves dimenses na sociedade contudo,nossa responsabilidade perante o conhecimento se afirmou mais alta do que qualqueroutra conjectura. Quando iniciamos a investigao, nem imaginvamos quealcanaramos uma reflexo to profunda e que os segredose mistriosda Unio do

    Vegetal seriam to srios, por diversas vezes tambm ponderamos sobre a possibilidadede alterao do foco de pesquisa ou mesmo desistncia do trabalho, mas novamente avoz da responsabilidade histrica falou mais alto em nossa conscincia. O ponto centralde nossa reflexo concentrou-se no fato nico de que, at o presente momento, apenasesta pesquisa concatenou todo este corolrio em um nico trabalho, ento por umaquesto de justia em amor sabedoria, decidimos torn-lo pblico.

    Tampouco consideramos que a exposio de questes como estas podem vir adepor contra a Ayahuasca, pois a bebida sacramental nada tem a ver com oimaginrio de quem a ingere, muito menos com a conduta que desempenham. O caso dadoutrina racista deve ser analisado com toda a seriedade que o tema exige, inclusive

    pelos responsveis constitudos na letra da lei para assegurar o cumprimento da CartaMagnaem respeito a todos os cidados deste pas, princpio expresso no Estatuto daIgualdade Raciale na Declarao Universal dos Direitos Humanos. Os elementoscomponentes da doutrina foram expostos em sua ntegra, todos baseados em fontesadvindas da prpria Unio do Vegetal, aos discpulos que tem em seu ato de f osvalores estudados, deixamos o nosso trabalho como ponto de reflexo, sabendo quesomente a partir da EdioFinalpoderemos dar um retorno aos anseios e crticas quese apresentarem. Ressaltamos que temos a plena conscincia da seriedade das questes

    postas e ainda desafiamos qualquer pesquisador a identificar qualquer tipo de fraude oumanipulao tendenciosa em nosso ofcio de historiar o passado, todas crnicasapresentadas foram acompanhadas por fontes primrias ou secundrias, sejam elas

    referncias bibliogrficas, depoimentos da tradio oral ou o prprio arcabouodoutrinrio coletado em nossa pesquisa de campo.Por fim, esclareo s autoridades pblicas e dirigentes de movimentos da

    sociedade civil organizada, que desde o ms de junho de 2012 temos este tema expostoem nosso espao virtual, do mesmo modo o livro est publicado desde julho destemesmo ano, todavia at o presente momento no registramos nenhum posicionamentoformal da organizao responsvel pela disseminao da doutrina racista de eugenia: oCentro Esprita Beneficente Unio do Vegetal. de se estranhar que uma organizaocom tentculos at no exterior, no se veja obrigada a responder um tema de to vultosa

    polmica. No obstante, j no ano de 2010, durante uma Audincia Pblica realizada naComissode Combate ao Crime Organizado da Cmara dos Deputados, o tema do

    racismo entre comunidades ayahuasqueiras havia sido levantado por minha prpriapessoa. Portanto, identificamos neste silncio tcito, uma forma covarde de negao do

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    debate a fim de evitar que a questo seja levada ao conhecimento das autoridadespblicas do Estado brasileiro.

    De tal forma, perante toda a nao brasileira, na condio de autor do livro e dadenncia sobre o racismo da Unio do Vegetal, reafirmo minha inteira responsabilidadesobre este processo, estando disposio de todas as autoridades competentes do

    Estado, bem como dos movimentos sociais interessados em debater a questo. Adoutrina objetiva quanto origem maligna dos povos e indivduos de epiderme escura,logo, a conduta dos membros destas organizaes no pautada por uma prtica derespeito e tolerncia, todavia o processo de lavagem cerebral aplicado aos discpulos osfaz agir de modo temeroso e atormentado, mesmo quando afastados da Unio doVegetal, fato que exige uma profunda e eficaz investigao pelo Ministrio PblicoFederal e demais foras competentes do Estado.

    Estas so as minhas palavras nestes momentos. Todos aqueles queapresentarem alguma dvida ou discordncia dos temas expostos nesta pesquisa, sejaem nosso espao virtual, canal do youtubeou no prprio livro, que apresentem taisquestes com a mesma seriedade que apresento, honrando seu nome e se identificando

    conforme os preceitos legais da legislao nacional. Tentativas de intimidao, calnia,difamao e ameaas, j so vistas apenas como aes de mentes tacanhas e covardes.Que o esclarecimento da verdade prevalea pelo iderio do nascimento de uma novasociedade, mais humana e fraterna: por este sonho entrego a minha vida.

    Goinia, 27 de novembro de 2012

    Marcelo Henrique Ribeiro Borgeshttp://[email protected]

    [1]Autor do livro Histriada Ayahuasca no Brasil: um estudo ontolgico sobre as fronteiras da travessia humana com o suprassensvel(Goinia,Editora Kelps: 2012ISBN: 978-85-400-0479-5 / CDU: 111.1);

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    Marcelo Borges

    http://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fhistoriadaayahuasca.net%2F&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNFUztFPZLGq14RZl9vc6njshmXz3Ahttp://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fhistoriadaayahuasca.net%2F&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNFUztFPZLGq14RZl9vc6njshmXz3Ahttp://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fhistoriadaayahuasca.net%2F&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNFUztFPZLGq14RZl9vc6njshmXz3A