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1 .Fotografia: registro do presente, documento para o futuro AUTOR: CHIAPINOTTO, Marina Lorenzoni CURSO: Comunicação Social – Jornalismo/Unifra, Santa Maria, RS OBRA: KOSSOY, Boris. Realidades e ficções na trama fotográfica. Cotia, SP: Ateliê Editorial, 2002. Realidades e ficções na trama fotográfica não pretende teorizar novos conceitos, mas sim despertar a reflexão sobre o caráter de documento e a representatividade da fotografia. O livro foi escrito de forma didática, decorrente das pesquisas que o autor vem desenvolvendo nos últimos anos, e contribui para a percepção da estética fotográfica. O texto é estruturado de uma forma lógica e a divisão em capítulos facilita a leitura para que cada pessoa crie sua própria interpretação do livro Boris Kossoy é arquiteto, museólogo e fotógrafo. Suas produções fotográficas, realizadas basicamente entre os anos de 1960 e 1970, encontram-se representadas nas coleções permanentes dos museus de New York, como o Museu Internacional de Fotografia (Rochester, NY). As obras mais conhecidas deste paulistano, entretanto, são voltadas à investigação da história da fotografia no Brasil e na América Latina e aos estudos teóricos e estéticos na expressão fotográfica. A imagem fotográfica, entendida como documento e representação, contém em si realidades e ficções. É a partir dessa relação ambígua que Kossoy explicita, no capítulo II, o caráter de representação inerente à fotografia documental. “O conceito de fotografia e sua imediata associação à idéia de realidade, tornam-se tão fortemente arraigado que, no senso comum, existe um condicionamento implícito de a fotografia ser um substituto imaginário do real” (p. 136). A imagem fotográfica – que abrange a fotografia amadora, a artística, a fotojornalística, etc. – é composta por inúmeras faces (ou seja, enfoques) e realidades. A primeira realidade (p. 34) é a mais evidente e visível, pois “é exatamente a representação de uma imagem no espaço e no tempo” (p. 37). É, também, aquilo que está imóvel no documento (neste caso e nas citações seguintes, documento remete à fotografia). Já a segunda realidade (p. 35) se refere ao conteúdo da imagem fotográfica, que é passível de identificação e interpretação. As demais faces são aquelas que não são possíveis se ver, que permanecem ocultas, invisíveis, não se explicitam; porém, podem ser intuídas.

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    .Fotografia: registro do presente, documento para o futuro

    AUTOR: CHIAPINOTTO, Marina Lorenzoni CURSO: Comunicao Social Jornalismo/Unifra, Santa Maria, RS OBRA: KOSSOY, Boris. Realidades e fices na trama fotogrfica. Cotia, SP: Ateli Editorial, 2002.

    Realidades e fices na trama fotogrfica no pretende teorizar novos conceitos, mas

    sim despertar a reflexo sobre o carter de documento e a representatividade da fotografia. O livro foi escrito de forma didtica, decorrente das pesquisas que o autor vem desenvolvendo nos ltimos anos, e contribui para a percepo da esttica fotogrfica. O texto estruturado de uma forma lgica e a diviso em captulos facilita a leitura para que cada pessoa crie sua prpria interpretao do livro

    Boris Kossoy arquiteto, muselogo e fotgrafo. Suas produes fotogrficas, realizadas basicamente entre os anos de 1960 e 1970, encontram-se representadas nas colees permanentes dos museus de New York, como o Museu Internacional de Fotografia (Rochester, NY). As obras mais conhecidas deste paulistano, entretanto, so voltadas investigao da histria da fotografia no Brasil e na Amrica Latina e aos estudos tericos e estticos na expresso fotogrfica. A imagem fotogrfica, entendida como documento e representao, contm em si realidades e fices. a partir dessa relao ambgua que Kossoy explicita, no captulo II, o carter de representao inerente fotografia documental. O conceito de fotografia e sua imediata associao idia de realidade, tornam-se to fortemente arraigado que, no senso comum, existe um condicionamento implcito de a fotografia ser um substituto imaginrio do real (p. 136).

    A imagem fotogrfica que abrange a fotografia amadora, a artstica, a fotojornalstica, etc. composta por inmeras faces (ou seja, enfoques) e realidades. A primeira realidade (p. 34) a mais evidente e visvel, pois exatamente a representao de uma imagem no espao e no tempo (p. 37). , tambm, aquilo que est imvel no documento (neste caso e nas citaes seguintes, documento remete fotografia). J a segunda realidade (p. 35) se refere ao contedo da imagem fotogrfica, que passvel de identificao e interpretao. As demais faces so aquelas que no so possveis se ver, que permanecem ocultas, invisveis, no se explicitam; porm, podem ser intudas.

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    De acordo com Kossoy (2002), das mltiplas faces, apenas uma explcita: a iconogrfica. A foto uma representao cultural, esttica e tecnicamente elaborada, conforme o fotgrafo que a est captando, em que o ndice e o cone no podem ser desvinculados do processo de construo da representao, pois a imagem no a realidade sua representao por analogia.

    Ser somente atravs da sensibilidade, do constante esforo de compreenso dos documentos e do conhecimento multidisciplinar do momento histrico fragmentariadamente (ou seja, atravs da fotografia) retratado que poderemos ultrapassar o plano iconogrfico: o outro lado da imagem alm do registro fotogrfico (p. 83).

    A partir desta afirmao do autor, pode-se dizer, ento, que a interpretao (segunda realidade) varia conforme o olhar de cada indivduo o que definido por Kossoy como o outro lado da imagem. a imaginao, o conhecimento, o sentimento, as concepes ideolgicas e estticas, as convices morais, ticas, religiosas e, principalmente, a sensibilidade do espectador que reconstituem e interpretam aquilo que se foi, ou seja, o fato ocorrido (que posteriormente ser parte da histria e tornar-se- documento). Uma foto pode conter tantas informaes e ser to emocionante, que dificilmente um texto, mesmo com inmeras linhas e detalhes, conseguiria descrever com tanta preciso o que est registrado nesta fotografia. Esta caracterstica da fotografia essencial para a compreenso do seu carter de documento, pois atravs da imagem que se comprova a veracidade dos fatos. Desta forma, a imagem fotogrfica auxilia na percepo da histria. Atravs da fotografia, possvel voltar ao passado e recordar o momento vivido e congelado pelo registro fotogrfico, que irreversvel (p.137). claro que a fotografia feita de escolhas. Ao se optar pelo enquadramento ideal, j est sendo recortado parte do real e mostrado s o que interessa (na tica do fotgrafo). Fazendo uma simples mudana de ngulo, pode-se alterar o sentido de uma foto. No entanto, mesmo que a foto-metragem esteja errada, mesmo que o foco no tenha ficado perfeito, o importante o que foi registrado, algo que nunca mais ser esquecido, pois algum dia, em algum momento, algum fez o registro de um fato/ cenrio/pessoa/objeto que se tornar documento para o futuro. O autor consegue fomentar a reflexo sobre o que significa e como se d a relao entre fotografia e documento. Em nenhum momento, Boris Kossoy tenta impr suas convices ou convencer o leitor sobre sua tica. Porm, avalia-se que Kossoy poderia ter explicitado e pontuado melhor a idia de fico que compe o ttulo da obra. Porm, como foi dito, o autor no imps suas citaes, mas sim d a liberdade de julgamento ao leitor. Ento,

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    compreende-se que as fices na trama fotogrfica so frutos da imaginao do leitor que, a partir do olhar sobre a imagem fotogrfica, pode entend-la como retrato da realidade ou no. A obra de Boris Kossoy incita o interesse pela leitura logo na Introduo, em que consegue despertar a curiosidade para o restante do livro. Como aliados do texto, so usadas reprodues fotogrficas que permitem a anlise de imagens em comprovao ao que diz o texto e quadros esquematizadores dos processos de construo das imagens. O autor cita outros grandes nomes na fotografia, tais como: Roland Barthes e Phillipe Dubois. Como todo bom fotgrafo, Kossoy tem timas referncias estticas. Isto pode ser constatado na diagramao, na capa e na impresso do livro, que no deixam a desejar em nenhum aspecto de apresentao.