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Sociedade e Cultura
ISSN: 1415-8566
Universidade Federal de Goiás
Brasil
Brito Carvalho, Clóvis
Resenha de: "O amor pela arte: os museus de arte na Europa e seu público" de Pierre Bourdieu y
Alain Darbel
Sociedade e Cultura, vol. 6, núm. 1, janeiro-junho, 2003, pp. 109-110
Universidade Federal de Goiás
Goiania, Brasil
Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=70360111
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BOURDIEU, Pierre; DARBEL, Alain. O amor pela arte: os museusde arte na Europa e seu público. Trad. Guilherme João de FreitasFerreira. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo: Zouk, 2003,243 p.
CLOVIS CARVALHO BRITO*
Compreender a sistemática do paradoxoinstituído entre bens artísticos que são acessíveisa todos e, simultaneamente, interditos à maioriadas pessoas consiste em um dos profícuoscampos temáticos da sociologia contemporânea.Nesse aspecto, os esforços tendem a questionaras condições sociais do acesso à prática culturalocasionadoras de um mecanismo óbice àapropriação, desmistificando as vertentesinstituidoras da cultura como privilégio natural.
No âmbito da discussão sobre a apropria-ção cultural, os pensadores têm apresentado,exaustivamente, a necessidade de uma publisci-zação das condições de acesso às ações culti-vadas, construída mediante um processodenominado educação patrimonial. Percebe-se,nas análises de forma geral, que a freqüênciaaos museus de arte aumenta consideravelmenteà medida que cresce o nível de instrução.
O amor pela arte: os museus de arte naEuropa e seu público permanece atual,considerando que os conceitos e estruturasvislumbradas à época de sua publicação originalem 1966 não foram superados e, por conse-guinte, se adaptam oportunamente à realidadedas condições de prática cultural dos brasileirosrelacionadas aos museus de arte. Observa-se,assim, como característica relevante, a cons-tante preocupação em apresentar respostassociológicas pautadas em rigorosas pesquisasbibliográficas e empíricas dirigidas por PierreBourdieu na realização de abordagens em
diferentes museus, na formação dos entrevis-tadores e na codificação e aplicação dosresultados; com a colaboração de Alain Darbelna construção do plano de sondagens e naelaboração do modelo destinado à análise dafreqüência do público aos museus.
Buscando a promoção de uma homoge-neidade formal dos códigos, com vistas àgarantia da comparabilidade dos resultados, osautores desenvolveram procedimentos unifor-mes nas distintas fases da pesquisa e nos cincopaíses estudados (Espanha, França, Grécia,Holanda e Polônia). O trabalho é desenvolvidoem três partes respectivamente: a) análiseempírica das relações instituídas entre afreqüência aos museus e as variadas caracte-rísticas econômicas, sociais e escolares dosvisitantes na apresentação dos fatores favore-cedores da freqüência, sua importância e aestrutura que os unem; b) identificação dagênese e da estrutura das disposições em relaçãoàs obras culturais, e c) promoção de umageneralização do sistema de causas e razões.
Por todo a livro, comprovações e hipótesesestimulantes são desenvolvidas na demonstraçãodas interações entre teoria e empiricidade, aexemplo de ser o público dos museus europeusrelativamente jovem e a observância do aumentocontínuo da idade média dos visitantes à medidaque se sobe na hierarquia social. Além disso,percebem fatores implícitos condicionadores,como na análise do nível cultural de aspiração:“sabendo que o visitante modal dos museuspossui o vestibular, não teremos bons motivospara supor que a pretensão a esse nível de
* Mestrando em Sociologia pela UFG. E-mail: [email protected]
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BRITO, CLOVIS CARVALHO. O amor pela arte:... (Pierre Bourdieu; Alain Darbel)
instrução contribui, em parte, para suscitarnaqueles que não o têm uma ‘prática de quempossui tal diploma’?” (p. 39).
Todavia os autores alertam ser o diplomaum indicador grosseiro de nível cultural,podendo-se pressupor diferenças que separamos visitantes de um mesmo nível de escolaridade,conforme características secundárias.
Outra observação consiste na associaçãoexistente entre o turismo e o nível de instruçãopor intermédio da renda que assume caracte-rística de norma difusa, como prática obrigatória“invocada por aqueles que têm ambiçõesculturais mais consistentes, ou seja, aqueles quepertencem ou aspiram a fazer parte do mundoculto” (p. 52).
Nesse sentido, o paradoxo entre a teoriada acessibilidade dos museus e a observânciade uma minoria detentora da possibilidade realdessa concretização conflui ao raciocínio de quea falta da prática é acompanhada pela ausênciado sentimento dessa privação. Assim, a obra dearte como bem simbólico “não existe como tala não ser para quem detenha os meios deapropriar-se dela, ou seja, decifrá-la” (p. 71).
Ao apresentar a necessidade da instituiçãode leis promotoras de uma difusão cultural, a
epígrafe de Leibniz consegue resumir um doscaminhos indicados à democratização do acesso:“a educação consegue tudo: faz dançar osursos”.
Na conclusão, os autores antecipam apossibilidade de estranhamento a respeito doesforço despendido no livro para a enunciaçãode algumas verdades aparentemente evidentes.Todavia, observam que “à semelhança dequalquer amor, o amor pela arte sofre repug-nância em reconhecer suas origens e, relativa-mente às condições e condicionamentos comuns,prefere, feitas as contas, os acasos singularesque se deixam sempre interpretar como predes-tinação’’ (p. 163).
Cabe, por fim, mencionar o consistenteaparato empírico-metodológico pioneiro nessatemática, e ousado por comparar divergentespúblicos e países, além da acessibilidade dalinguagem que, deliberadamente, por vezespoética, mas sem a despreocupação científica,destoa das demais obras de Bourdieu, demons-trando a real possibilidade de democratizaçãoda arte e contribuindo para pesquisas compa-rativas e multidisciplinares.
RECEBIDO EM JULHO DE 2004APROVADO EM SETEMBRO DE 2004