Brasil Bastião Racismo Comtemporaneo

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Obs. Escrevi esse artigo antes de saber que o Andrade era técnico do Flamengo e Júnior era comentarista. Como sabemos, mesmo eles sendo exemplos, não modifica o problema.Lauro de Freitas, 7 de Novembro 2009Brasil - bastião do racismo contemporâneo Roberval OliveiraMorando vários anos fora do Brasil, ouvi várias vezes a visão simplificada que pessoas tem do Brasil. Quando dizia que era brasileiro, a conversa ia mais ou menos da seguinte forma: Brasil! ah..um dia ainda vou lá, deve ser um pa

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Obs. Escrevi esse artigo antes de saber que o Andrade era tcnico do Flamengo e Jnior era comentarista. Como sabemos, mesmo eles sendo exemplos, no modifica o problema.

Lauro de Freitas, 7 de Novembro 2009

Brasil - bastio do racismo contemporneo Roberval Oliveira

Morando vrios anos fora do Brasil, ouvi vrias vezes a viso simplificada que pessoas tem do Brasil. Quando dizia que era brasileiro, a conversa ia mais ou menos da seguinte forma: Brasil! ah..um dia ainda vou l, deve ser um pais lindo; um dia ainda vou ver o carnaval; e as mulheres devem ser to bonitas! Posso contar nos dedos ocasies em que algum direcionou a conversa para indagaes raciais. Aprendi a aceitar esses comentrios, uma vez que, se a maioria dos brasileiros no falam do racismo como um problema real, como poderia esperar ento que estrangeiros entendessem o racismo que impera no Brasil? Nesse sentido de alienar a populao brasileira e criar uma imagem de igualdade racial dentro e at mesmo fora do Brasil, o famoso mito da democracia racial - as instituies de ensino pblico e privado, o governo brasileiro, a televiso e as agncias oficiais de turismo foram extremamente eficientes. Eles conseguiram ao longo de vrias dcadas de alienao omitindo discusses sobre o racismo fazer com que a populao no enxergasse que a cor da pele quanto mais escura pior - est diretamente ligada ao nvel educacional e financeiro que o cidado() alcana, ao acesso sade que ele(a) tem, e possiveis atos de violncia que ele(a) possa sofrer pela polcia na vida e etc.

Nas camadas de baixa renda da populao, as pessoas conseguem enxergar claramente que rico no Brasil tem vantagem em tudo e que o pobre nunca consegue nada. Contudo, eles no enxergam que a maioria esmagadora desses ricos so brancos e que quase todos os pobres so negros. Nas classes mais altas, a negao do racismo no Brasil chega a beira do ridculo. Contudo, o fato de que um problema no seja entendido intelectualmente pelas pessoas de baixa renda e seja negado pela classe mdia alta, no implica que ele no exista. Apesar de recentes discusses sobre o assunto, os negros no Brasil continuam enfrentando o racismo diariamente. No tenha a menor dvida, que o racismo no Brasil est vivo, forte e prosperando. Ele institucionalizado, velado e explcito. Esse racismo se manifesta de vrias maneiras. Inacessibilidade ao poder econmico uma delas. Racismo no futebol e na indstria da msica so dois casos que analiso a seguir:

Racismo no Futebol Brasileiro - Negando poder e visibilidade a ex-jogadores negros Para qualquer brasileiro vivendo fora do Brasil, outra tipo de conversa comum sobre futebol, especialmente durante poca de copa do mundo. Amantes ou no do futebol gostam de falar dos craques do passado e do presente. Nessas conversas, futebol e relaes raciais no tem a mnima chance de estarem na mesma frase. Contudo,uma vez que racismo brasileiro manifesta-se em varios aspectos da nossa sociedade, afirmo que tambm, no universo do futebol brasileiro, o racismo est presente. Crticos dessa afirmao vo dizer que levantar a possibilidade de que existe racismo no futebol brasileiro, um absurdo. Afinal de contas, Pel, o maior e mais respeitado jogador de todos os tempos, negro e por sinal bem sucedido econmicamente. Alm do mais, iro apontar para outros craques nitidamente negros, como Julio Csar, Toninho Cerezo, Adilho, Dada Maravilha, Garrincha, Paulo Isidoro, Junior, e Mazinho,

Robinho, Ronhaldinho Gacho, e tantos outros deixaram e ainda deixam sua marca no futebol nacional e internacional. importante salientar que o racismo no futebol brasileiro no se manifesta no acesso de jogadores negros ao campo de futebol talvez possa estar engando nesta afrimao, uma vez que nunca fui jogador de futebol e uma investigao neste rea venha me provar o contrrio mais sim em reas de acesso ao poder econmico e liderana, visibilidade na mdia aps o jagodor encerar sua carreira. Que outra explicao possvel, seno ao racismo, para justificar o fato de que dentre tantos jogadores negros de alto padro que surgiram no futebol brasileiro, nenhum deles depois do fim de sua carreira, chegou a ocupar o cargo de tcnico da seleo brasileira? Esta posio, como todos sabem, bastante importante no mundo esportivo. Ela leva os anseios e esperanas no somente do povo brasileiro no cenrio internacional, independentemente de sua classe social or cor da pele, como tambm a dos povos de pases do terceiro mundo. Isso acontece porque a populao de pases no brancos se vem representadas nas variadas tonalidades da cor da pele dos jogadores brasileiros. importante lembrar que, uma posio como tcnico da seleo, traria para um exjogador negro no somente prestgio e poder ecnomico, como tambm provaria sua inteligncia - para os que duvidam que negros so capazes- mostraria sua capacidade de liderana, e lhe daria visibilidade nacional e internacional. Alm do mais, quebraria barreiras raciais, servindo de modelo para milhes de jovens negro(as) neste pas. Pas este que tem a maior populao do mundo de Afro-descendentes fora da frica e to poucos negros em posies de poder. Esse falta de representativida no ocorre somente na posio de tcnico da seleo brasileira. A mesma invisibilidade acontece em times estaduais, onde os ex-jogadores negros nunca aparecem nestas posies. Em alguns casos, eles aparecem como treinadores fsicos. Esta falta de representatividade nos leva a perguntar: Ser que no existe nenhum ex-jogador de futebol negro interessado ou capaz de ser tcnico de futebol? Ser que os profissionais negros s interessam em serem treinadores fsicos? Ser que eles j esto todos ricos e sem nenhum interesse em trabalhar?

Na mdia esportiva, a ausncia de ex-jogadores negros continua de maneira escandalosa e sem nenhum senso de auto-crtica. Por exemplo, a emissora brasileira de TV Globo, uma das maiores do mundo, retem os direitos autorais dos jogos da seleo brasileira e jogos importantes do campeonato nacional. Durante esses jogos, como todos sabem, necessrio a participao de comentaristas esportivos. E nesses momentos, que o racismo na mdia televisiva esportiva fica bvio. No existe e nunca existiu, ao meu conhecimento, comentaristas negros. Nesse momento, a TV Globo e outras emissoras utilizam-se de ex-jogadores brancos, ex-juizes de futebol brancos, e at de ex-goleiros brancos para comentarem esses jogos. Os ex-jogadores negros so espcie rara em extino. Pergunatmos de novo; ser que nenhum ex-jogador negro no gostaria de ser comentarista ou teria capacidade profissional de exercer a profisso para comentar jogos de futebol? Como explicar, se no atravs do racismo, a completa invisibilidade de ex-jogadores negros comentando jogos na grandes emissoras de TV brasileiras. Para finalizar, o racismo no futebol brasileiro se manifesta impedindo ex-jogadores negros o acesso a posies de liderana e visibilidade. Como conseqncia esse racismo inviabiliza e limita a continuidade de estvel padro econmico desses ex- jogadores. Eles s so lembrados pelas suas proezas atlticas. O racismo no futebol brasileiro faz com que ex- jogadres negros caam no esquecimento no final de suas carreiras.

Racismo na Msica Baiana No h espao para mulheres negras A indstria da msica na Bahia racista e elitista. Alm do machismo que mulheres tanto brancas quanto negras tm que enfrentar na indstria da msica, as mulheres negras que querem ser cantoras tem que enfrentar o racismo aberto e deliberado dos produtores de msica. A mdia capitalista, patriarcal, sexista e racista promove sem nenhuma vergonha uma cantora branca aps a outra, dando oportunidade a mulheres brancas de adquirir ou aumentar seu poder econmico e prestgio e renegando a mulheres negras a invisibilidade.

Andar pelas ruas de Salvador, especialmente prximo do carnaval, consciente dessa falta de representatividade irritante. Quando estou dirigindo, tento evitar olhar para as propagandas que promove uma cantora branca atrs da outra sem nenhuma vergonha ou responsabilidade por estar em cidade negra que Salvador. Eu era ainda garoto a primeira vez que lembro de uma cantora branca fazendo sucesso. Provavelmente estava no incio da dcada de 80. O nome dela era Sarajane. No lembro bem o tipo de msica que ela cantava mais uma coisa no tenho dvida: ela era considerada branca na avaliao baiana e brasileira. Por um bom tempo, Sarajane fez sucesso, mais depois caiu no esquecimento. Apesar de ser branca, ela no vinha de famlia de elite um outro cncer da sociedade brasileira classismo- que no analisaremos aqui. Depois de Sarajane, a Bahia produziu uma outra cantora branca que faria tremendo sucesso: Daniela Mercury. Eu, como muitos outros adolescentes da poca, fiquei encantando com Daniela Mercury e sua msica forte. Para a indstria de msica capitalista, patriarcal, sexista, classista e racista, Daniela Mercury era perfeita: branca, de famlia nobre e cantava a msica que o povo pobre e negro gostava de ouvir e danar. O sucesso de Daniela se deveu ao mesmo fato que impulsionaria outras cantoras brancas que surgiriam mais tarde a apropriao do gnio e criatividade de compositores negros, geralmente masculinos e de classe baixa. Esses compositores produziam a msica com o ritmo e a poesia negra que o povo gostava de ouvir e Daniela Mercury, em oportunismo comum a pessoas do poder, apropriava-se desses ritmos e os apresentava ao pbico em sua embalagem de classe alta e branca. Um exemplo do que falo foi o grande sucesso, A Cor dessa Cidade Sou Eu. Dizem que essa msica foi escrita por um compositor negro. E essa msica projetou Daniela Mercury a ser embaixadora da msica ax no Brasil. Imagine, uma mulher branca de famlia rica, representando a os rtmos negros da Bahia.

Depois de Daniela Mercury, Ivete Sangalo tomaria o seu lugar. Branca e tambm de famlia nobre, Ivete Sangalo aumentaria sua fortuna como porta voz da msica baiana. Mais recentemente nos contratos milionrios para subir no trio, Ivete Sangallo enriquece com propagandas e patrocnios. Um amigo, que trabalha dentro da idstria da msica, comentou que Ivete Sangalo no aceita menos de R$250.000,00 s para subir em rum palco, sem incluir cantar. Verdade ou no no h dvidas, que mais uma mulher branca, apropriou-se dos rtmos da cultura negra baiana e enriqueceu. Claudia Leite,outra cantora branca, comea a dominar o cenrio da msica baiana. importante salientar que essas cantoras brancas enriquecem rapidamente e lideram os trios eltricos mais caros e elitistas do carnaval da Bahia, aumentando suas fortunas. Nessas dcadas em que a msica baiana pop estourou no Brasil, dominada no lado feminino por contoras brancas, Margareth Menezes, a nica cantora negra Baiana de expresso nacional, tentou manter seu espao. importante salientar que Margareth no fez sucesso inicialmente na Bahia e no Brasil. Ela teve que solidificar sua carreira no exterior onde encontrou apoio, reconhecimento e respeito. Cotudo, apeser de seu sucesso, Margareth no tem os contratos millhonrios que suas concorrentes brancas tem. Ela no tem o biotipo desejado nem de famlia nobre. Um outro exemplo do racismo explcito contra a mulher negra na industria da msica e mdia brasileira foi o caso do grupo o tchan. Originalmente chamado de Gerasamba, esse grupo da Bahia, ficou famoso no Brasil com alguns ritmos contagiantes mais principalmente por causa de Carla Perez, uma das danarinas do grupo. Carla Perez era branca e danava com shorts extremamente pequenos e tinha um corpo que caia dentro das definies de corpo bonito. No grupo, existia uma outra mulher. Ela era negra e se chamava Dbora. Ela tambm danava com shorts curtos, contudo toda ateno da midia, era dada Carla Perez. O racismo e despeito mulher negra era to bvio que parecia que Dbora no existia. Para que dar ateno e oportunidade de crescimento econmico e visibilidade a uma mulher negra se eles tinhan uma mulher branca, com cabelos de amarelos e quadris avantjados?

Imediatamente aps o sucesso nacional do grupo, por razes desconhecidas, Dbora iria desaparecer e ser substituda por uma outra morena. O racismo explcito e nojento se consumou com um concurso promovido pela TV globo para escolher a nova morena do Tchan. Sheila Carvalho, que poderia se passar por uma italiana e em nenhum lugar do Brasil jamais seria considerada negra, foi escolhida para ser a nova parceira de Carla Perez. O indstria racista da msica, juntamente com a TV globo, conseguiram exatamente o que eles queriam: tirar uma mulher nitidamnete negra de um grupo pequeno que se tornou sensao nacional e colocar duas mulheres com perfis europeus na TV nacional. Carla Perez e Sheila Carvalho, ganharam muito dinheiro enquanto estavam no grupo e depois que o tchan se desintegrou, elas continuram enriquecendo com programas de televiso prprios e com contratos milhonrios enquanto Dbora, que nem sobrenome tem, foi acusada de inveja, renegada ao esquecimento e consequentemente manteve-se na probreza e caiu no esquecimento. O racismo na indstria da msica feminina na Bahia e no Brasil quase inacreditvel. dessa forma. brutal-horenda desonesta aproveitador oportunista nojento e em sua cara que ele se manisfesta. Uma das formas que este racismo opera negando a existncia de outras vozes e biotipos e experiencias que no seja o similar ao descentendes de europeus. Ele limita e rouba oporunidades para as mulheres negras que simblicamente venturam na indstria da msica. Consequentemente, perpetuando, a pobreza nas familias negras, destroindo a auto-estima de jovens mulheres adolescentes negras que no nunca se vem representadas em posies de poder. Muito Obrigado Roberval de Oliveira [email protected]