BRASIL - irp-cdn.multiscreensite.com · Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine...

70
www.atlanticaeditora.com.br ISSN 1678-2410 Enfermagem BRASIL Periódico científico dos profissionais de enfermagem Ano 2017 - Volume 16 - nº 1 17 anos Assistência de Enfermagem Cuidar de uma forma humanizada Saberes e impactos da internação domiciliar Cuidados paliativos a paciente com encefalocele Gestação com anemia falciforme Educação Fatores para a segurança e insegurança do graduando Conhecimento dos agentes comunitários de saúde em diabetes Acupuntura em um hospital de ensino Ética na Enfermagem Conflitos éticos na atenção básica

Transcript of BRASIL - irp-cdn.multiscreensite.com · Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine...

Page 1: BRASIL - irp-cdn.multiscreensite.com · Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine Kareny da Silva, Mônica Oliveira Rios, ... (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

www.atlanticaeditora.com.br

ISSN 1678-2410

EnfermagemB R A S I L

Periódico científico dos profissionais de enfermagem

Ano 2017 - Volume 16 - nº 1

17 anos

Assistência de Enfermagem• Cuidar de uma forma humanizada• Saberes e impactos da internação

domiciliar• Cuidados paliativos a paciente com

encefalocele• Gestação com anemia falciforme

Educação• Fatores para a segurança e

insegurança do graduando• Conhecimento dos agentes

comunitários de saúde em diabetes• Acupuntura em um hospital de

ensino

Ética na Enfermagem• Conflitos éticos na atenção básica

Page 2: BRASIL - irp-cdn.multiscreensite.com · Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine Kareny da Silva, Mônica Oliveira Rios, ... (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

Anuncio credenciamento_20x27.indd 1 06/02/17 09:02

Page 3: BRASIL - irp-cdn.multiscreensite.com · Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine Kareny da Silva, Mônica Oliveira Rios, ... (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

EDITORIALA arte médica de “partejar” em região paulista: esquecida, negligenciada ou nunca tida?, Paulo Fasanelli, Zaida Aurora Sperli Geraldes Soler ........................................................ 3

ARTIGOS ORIGINAISFatores que contribuem para a segurança e insegurança do graduando de enfermagem durante o estágio, Kaline Dellys dos Santos, Marcio Antonio de Assis ........................ 6

Conflitos éticos da equipe de enfermagem no processo de trabalho na atenção básica, Renato Bellettini Bristot, Luciane Bisognin Ceretta, Maria Tereza Soratto .......................................................................................13

Verificação do conhecimento dos agentes comunitários de saúde de unidades de saúde da família do município de Brumadinho, após intervenção educativa em diabetes, Roberta Bárbara Gomes Fonseca .........................................22

Saberes e impactos da internação domiciliar: um estudo sob a ótica dos profissionais de saúde, Ana Paula Magalhães, Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine Kareny da Silva, Mônica Oliveira Rios, Jessica Lane Pereira Santos .....................................................................................29

Perfil de usuários e financiamento da acupuntura em um hospital de ensino no interior paulista, Sandra Segarra, Zaida Aurora Sperli Geraldes Soler, Marli de Carvalho Jericó ..................................................................39

RELATO DE CASOCuidados paliativos a paciente portador de encefalocele, Ana Carolina Paiva, Juniel Pereira Honorato, Maira Sodré Rosário .........................................................50

REVISÕESGestação em mulheres com anemia falciforme: uma revisão sobre as complicações maternas e fetais, Izabella de Oliveira Santana, Natália Paiva Guimarães, Rodrigo Almeida Bastos ...................................................................................53

Cuidados paliativos, o cuidar de uma forma humanizada, Jenifer Barbara Fernandes Costa, Tamilles Alves de Oliveira de Assunção, Heli da Silva Araújo Salles ..........................................................................................................................60

CALENDÁRIO DE EVENTOS ................................................................................................................64

NORMAS DE PUBLICAÇÃO ................................................................................................................66

ÍndiceAno 2017 - Volume 16 - Número 1

EnfermagemB R A S I L

Page 4: BRASIL - irp-cdn.multiscreensite.com · Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine Kareny da Silva, Mônica Oliveira Rios, ... (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

EDITOR CIENTÍFICO – PRESIDENTE DO CONSELHO CIENTÍFICOProfa. Dra. Zaida Aurora Sperli Geraldes Soler (FAMERP – São José do Rio Preto – São Paulo)

CONSELHO CIENTÍFICO

© ATMC - Atlântica Editora Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado.

Atlântica Editora edita as revistas Fisioterapia Brasil, Enfermagem Brasil, Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício, Viver na Infância e adolescência

Prof. Dr. Adriano Menis Ferreira (UFMS – Mato Grosso do Sul) Profa. Dra. Aida Mendes (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra – Portugal)Profa. Dra. Almerinda Moreira (Escola de Enfermagem Alfredo Pinto – UNIRIO – Rio de Janeiro)Prof. Dr Ari Nunes Assunção (UNISC – Santa Cruz do Sul)Profa. Dra Ariadne de Silva Fonseca (Gerente do Instituto de Ensino e Pesquisa e do Centro de Simulação da Rede de Hospitais São Camilo – São Paulo)Prof. Dr. Carlos Bezerra de Lima (UFPB – Paraíba)Prof. Dr. Carlos Roberto Lyra da Silva (UNIRIO – Rio de Janeiro)Prof. Dr. Dalmo Valério Machado de Lima (UFF – Rio de Janeiro)Profa. Dra. Eliane Aparecida Sanches Tonolli (UEM – Maringá)Profa. Dra. Jacileide Guimarães (UFRN – Rio Grande do Norte)Prof. Dr. José Verdú Soriano (Universidad de Alicante – Espanha)Profa. Drª Leila Rosa dos Santos (ISBL – Londrina)Profa. Dra. Márcia Galan Perroca (FAMERP – São José do Rio Preto – São Paulo)Profa. Dra. Márcia Maria Fontão Zago (USP – Ribeirão Preto)Profa. Dra. Margarethe Maria Santiago Rêgo (Escola Anna Nery – UFRJ – Rio de Janeiro)Profa. Dra. Maria da Graça Piva (ULBRA – RS)Profa. Dra. Maria Ermelinda Miranda Ribeiro Jaques (Escola Superior de Enfermagem – IPVC – Portugal)

Profa. Dra. Maria Helena da Silva Nery (UFRGS – Rio Grande do Sul)Profa. Dra. Marialda Moreira Christoffel (UFRJ – Rio de Janeiro)Profa. Dra. Meives Aparecida Rodrigues de Almeida (UNICAMP – Campinas)Profa. Drª Mércia Heloisa Ferreira da Cunha (UFMG – Belo Horizonte)Profa. Dra. Nadia Antonia Aparecida Poletti (FAMERP – São José do Rio Preto)Profa. Dra. Nebia Maria Almeida de Figueiredo (UNIRIO – Rio de Janeiro)Profa. Dra. Rita Batista Santos (Escola Anna Nery – UFRJ – Rio de Janeiro)Profa. Dra. Rita de Cássia Tapié Martins (USP – São Paulo)Prof. Dr. Roberto Carlos Lyra da Silva (UNIRIO – Rio de Janeiro)Prof. Dr. Sérgio Ribeiro dos Santos (UFPB – Paraíba)Profa. Dra. Silvia Helena de Bortoli Cassiani (USP – Ribeirão Preto)Profa. Drª. Soraia Dornelles Schoeller (UFSC – Santa Catarina)Profa. Dra. Taka Oguisso (USP – São Paulo)Profa. Drª Teresa Tonini (UNIRIO – Rio de Janeiro)Profa. Dra. Valéria Lerch Lunardi (FURG – Rio Grande do Sul)Profa. Dra. Vera Regina Salles Sobral (UFF – Rio de Janeiro)Prof. Dr. Wiliam César Alves Machado (UNIRIO – Rio de Janeiro)Prof. Dr. Wilson D. Lunardi Filho (FURG – Rio Grande do Sul)

Todo o material a ser publicado deve ser enviado para: [email protected]

Enfermagem Brasil é indexada no CINAHL (Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature)

Qualificação no CAPES B2

Administração e vendasAntonio Carlos Mello

[email protected]

Editor executivoDr. Jean-Louis Peytavin [email protected]

Atlântica Editora e Shalon Representações

Rua Dr. Braulio Gomes, 25/909Centro 01047-020 São Paulo SP

Atendimento

(11) 3361 5595 / 3361 9932E-mail: [email protected]

Assinatura1 ano (6 edições ao ano): R$ 260,00

Editor assistenteGuillermina Arias

[email protected]

Direção de arteCristiana Ribas

[email protected]

Marketing e Publicidade Rosilene Alves

[email protected]@atlanticaeditora.com.br

GRUPO DE ASSESSORESProfa. Ms. Andréia Saccol Lourenço (Escola Técnica de Enfermagem São Francisco – Rio Grande do Sul)Profa. Ms. Dóris Maria Volquind (Clínica de Florais de RAFF – Rio Grande do Sul)Profa. Ms. Gisele Cristina Tertuliano (Rio Grande do Sul)

Profa. Ms. Sonia Maria Ponciano dos Santos (Escola Anna Nery – UFRJ – Rio de Janeiro)Profa. Ms. Maria Filomena Vancellote Almeida (UniRio – Rio de Janeiro)Prof. Ms. William Malagutti (UGF – São Paulo)

Page 5: BRASIL - irp-cdn.multiscreensite.com · Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine Kareny da Silva, Mônica Oliveira Rios, ... (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

3

Editorial

A arte médica de “partejar” em região paulista: esquecida, negligenciada ou nunca tida?

Paulo Fasanelli*, Zaida Aurora Sperli Geraldes Soler, D.Sc.**

Cada sociedade tem sua forma particu-lar de organizar a atenção ao nascimento e os historiadores consideram que a assistência ao parto é uma forma de revelação de como uma sociedade considera a mulher, a maternidade e a criança. De modo geral, até o século XIX, na maioria das sociedades e grupos sociais, o ato de parir era um “assunto de mulheres” e a assistência ocorria como um intercâmbio de experiências vividas e transmitidas no contexto familiar e sociocultural [1,2].

Em tão pouco tempo quantas mudanças ocorreram... desde o final do século XIX os mé-dicos obstetras se empenharam na promoção de transformações na assistência ao parto, tornando--o um ato médico, que devia ser assistido nos hospitais. Desde então, cada vez mais foram sendo introduzidas técnicas, medicamentos e tecnologias na atenção a gestantes, parturientes e puérperas, aumentando o poder e a autonomia médica e a submissão da mulher e da família [1].

A arte de partejar, ou estar ao lado da mu-lher, ajudando-a a passar pelas “dores do parto” é considerada como um dom pelas parteiras tradicionais, que geralmente manifestam que é preciso coragem, esforço e crenças em ajuda

divina ou espiritual, para cumprir a missão de atender a mulher e a família no processo da parturição. Levam “suas mãos e a sabedoria e coragem que Deus dá” [2].

A partir do século XIX, entretanto, médicos e hospitais tornaram-se focos centrais na assis-tência ao nascimento, utilizando várias práticas com a finalidade de monitorar e controlar esse processo, com excessiva intervenção sobre o corpo das mulheres, resultando em aumento de cesáreas e da morbi-mortalidade materna e perinatal. Também, ficaram privilegiados in-vestimentos em equipamentos e procedimentos de alta complexidade e custos, em detrimento da qualidade da assistência à mulher, negando--lhes igualdade de oportunidades, de escolhas e de participar ativamente, de forma a ter uma experiência segura e prazerosa no ciclo gravídico--puerperal, especialmente no trabalho de parto e no parto [1-6].

Ao longo do tempo foram sendo desquali-ficadas as pessoas ou profissionais que buscavam atender o parir e o nascer com humanidade, com solidariedade, com cuidados pautados na ética e respeito ao ser humano, tomando como verdade para proteger a mãe e o concepto no

*Médico obstetra, mestrando do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Enfermagem – Mestrado Acadêmico, da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto/SP (FAMERP), **Obstetriz, enfermeira, mestre, doutora e livre-docente em enfermagem obstétrica, docente e orientadora de graduação e pós-graduação, coordenadora geral do mestrado Acadêmico em Enfermagem da FAMERP, Orientadora da dissertação que inclui conteúdo deste editorial

Correspondência: Paulo Fasanelli: [email protected], Zaida Aurora Sperli Geraldes Soler: [email protected]

Page 6: BRASIL - irp-cdn.multiscreensite.com · Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine Kareny da Silva, Mônica Oliveira Rios, ... (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

4

Enfermagem BRASIL

Ano 2017 - Volume 16 - Número 1

parto, um modelo tecnocrático, medicalizado e hospitalocêntrico. Contra esse modelo, em dife-rentes partes do mundo emergiram propostas de intervenção e de modelos holísticos de atenção ao nascimento, discutindo-se e de certa forma lutando-se pela prática do parto humanizado, que preconiza o direito de todas as mulheres de vivenciarem uma maternidade saudável e prazerosa [1].

Entre outras alternativas, os defensores do Parto Humanizado querem um modelo de aten-ção obstétrica respeitoso para com as mulheres, realizado em ambiente onde se sinta segura e em que respeitem seu bem-estar, sua intimidade, suas preferências pessoais e culturais, desde que pre-servadas a sua segurança e do concepto. Enfim, o direito do empoderamento e protagonismo [1].

Muitos pesquisadores em todo o mundo, de diferentes áreas profissionais e vinculados a organizações nacionais e internacionais, públi-cas e privadas, ao ouvir o clamor da sociedade e entidades representativas das mulheres, têm se dedicado a debater, estudar, investigar e divul-gar o fenômeno do nascimento, subsidiando a implementação de políticas públicas e diretrizes assistenciais.

O que fica em destaque nos resultados das pesquisas e nos debates em eventos científicos, no meio acadêmico e social, é que nem sempre essa mulher e sua família recebem a merecida atenção. Pior, são delatadas nas redes sociais e nos estudos científicos que muitas vezes são vítimas de desconsideração, de imprudência, de negligência, de imperícia e diferentes formas de violência, particularmente no âmbito da resolu-ção do parto, via de regra por meio da cesárea.

É unanimidade nas publicações e incontestável em dados epidemiológicos que a resolução do parto por cesárea, sem indicação obstétrica, tem sido a tônica da atenção obstétrica no Brasil a partir de 1970 pelo menos. Também, no âmbito que o “partejar” ou conduzir o traba-lho de parto, há muito tempo não faz parte do ensino e do exercício do médico no Brasil, na maioria das instituições de ensino e de assistência obstétrica.

O aumento abusivo e vergonhoso do nú-mero de cesáreas no Brasil levantou questões antropológicas sobre a cultura de nascer e parir,

repercutindo em sério problema de saúde públi-ca; em aumento de custos da assistência obsté-trica; em questões corporativistas profissionais; em desqualificação e eliminação de profissionais não médicos, em aumento da prematuridade e morbidade materna e neonatal, em violência obstétrica, enfim [1].

São cada vez mais frequentes os relatos de infrações técnico-assistencias, ético-legais e hu-manísticas relacionadas à assistência a gestantes, parturientes, puérperas e recém-nascidos. É certo que é um problema mundial, mas no Brasil e em certas regiões da nossa nação, foram se avolu-mando questões de caráter social, de atenção em saúde e até legal-policial, sendo frágeis as medidas governamentais para coibir os índices absurdos e progressivos de intervenções na atenção ao parto.

Vários fatores contribuíram para o nosso interesse em pesquisar, em nível de mestrado, os (des)caminhos da prática médica em Obste-trícia na Regional de Saúde XV (DRS XV), do Estado de São Paulo, região paulista com 103 municípios e considerada com maiores índices de cesáreas no Brasil e, consequentemente, no mundo.

Como médico obstetra, formado e atuando na DRS XV tenho verificado, atuando no âm-bito público ou privado, que as gestantes têm encontrado muitas dificuldades para terem seu parto resolvido via vaginal. As mulheres narram a perambulação por consultórios médicos e muitas vezes, mesmo sem perguntar qual o desejo da mulher, já é aventada a cesárea.

Por gostar da arte de partejar, busquei contatos com enfermeiras obstetras, conheci a Profa. Zaida, que me orienta no mestrado, tenho ministrado aulas em curso de especialização em enfermagem obstétrica, alcançando momentos gratificantes na atenção a mulheres que têm o parto normal/natural, conseguindo entender o significado do trabalho compartilhado e in-tegrado.

Também tem sido possível, seja no desen-volvimento de estudos, seja na parte assistencial compartilhada com enfermeiras obstetras, enten-der várias questões relacionadas ao protagonismo e empoderamento da mulher no processo do nascimento. Isso nada mais é que atender de forma humanizada, que nada mais é do que

Page 7: BRASIL - irp-cdn.multiscreensite.com · Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine Kareny da Silva, Mônica Oliveira Rios, ... (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

5

Enfermagem BRASIL

Ano 2017 - Volume 16 - Número 1

desenvolver competências (conhecimentos, ha-bilidades, atitudes, valores e emoções).

Também entendemos que não podemos simplesmente refutar, desconsiderar, desqualifi-car ou desprestigiar a prática de outras pessoas, no decorrer do ciclo gravídico-puerperal. Além de competências profissionais específicas, tra-balho compartilhado multi e interprofissional, o referente no partejar é a mulher/concepto, ponto de partida e de chegada do cuidado. Isso nos interessa ...MUITO.

Referências

1. Soler ZASG. CEPAHN - Centro de Preparo e Assis-tência Humanizados ao Nascimento: uma proposta

para a região de São José do Rio Preto, São Paulo [livre-docência]. São José do Rio Preto: Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto; 2005.

2. Aires MJ. O direito à arte de partejar. Revista da Fa-culdade de Direito UFPR 2005;43(0): DOI: http://dx.doi.org/10.5380/rfdufpr.v43i0.7031

3. Silveira IP, Leitão GCM. O cuidado de enferma-gem no partejar: marcos conceituais. Rev Gaúcha Enferm 2003;24(3):279-85.

4. Mott ML. O curso de partos: deve ou não haver par-teiras? Cadernos de Pesquisa 1999;(108):133-60.

5. Riesco MLG, Tsunechiro MA. Formação profis-sional de obstetrizes e enfermeiras obstetras: velhos problemas ou novas possibilidades? Revista Estudos Feministas 2002;(2):449-59.

6. Riesco MLG, Tsunechiro MA, Mott ML, Leister N. Do orgulho à resignação: educação e atuação profissional de obstetrizes formadas pela Univer-sidade de São Paulo. Cad Hist Ciênc 2011;7(2).

Envie seu artigo!

Tel: (11) 3361-5595 | [email protected]

EnfermagemB R A S I L

Page 8: BRASIL - irp-cdn.multiscreensite.com · Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine Kareny da Silva, Mônica Oliveira Rios, ... (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

6

ARTIGO ORIGINAL

Fatores que contribuem para a segurança e insegurança do graduando de enfermagem

durante o estágio

Kaline Dellys dos Santos*, Marcio Antonio de Assis**

*Aluna do Curso de Graduação em Enfermagem, Universidade de Mogi das Cruzes (UMC), **Docente do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC) 

Resumo O objetivo do estudo foi identificar os fatores responsáveis por gerar insegurança nos discentes do curso de enfermagem durante o primeiro estágio. Trata-se de uma investigação descritivo-exploratório com abordagem quantitativa realizada no curso de uma universidade particular. Trinta e nove discentes participaram do estudo respondendo a um questionário com perguntas abertas e fechadas. Foram identificados sentimentos relacionados ao próprio estudante, ao paciente e ao curso, e dentre os fatores mais evidenciados 69% apresentavam-se muito ansiosos frente à espera para início das práticas, 67% apresentavam sentimento de ansiedade caracterizado por entrada em ambiente desconhecido e 42% sentimento de despreparo. Este estudo contribui para refletir sobre as práticas curriculares dos acadêmicos, proporcionando a visão dos fatores que geram estresse bem como de meios para amenizá-los.

Palavras-chave: estágio clínico, ansiedade, fatores desencadeantes.

AbstractFactors contributing to the security and insecurity of the nursing student in trainingThe aim of the study was to identify factors responsible for generating insecurity in students of nursing program during the first training period. It is a descriptive and exploratory research with a quantitative approach performed in a private university. Thirty-nine students participated in the study by answering a questionnaire with open and closed questions. Feelings were related to the student himself, the patient and the course, and among the most evident factors 69% of participants had feelings of anxiety while waiting for the beginning of the practices, 67% characterized by entry into unfamiliar environment, and feeling of unpreparedness (42%). This study contributes to think about the academic practices, providing a vision of the factors that generate stress and means to attenuate them.

Key-words: nursing training, anxiety, precipitating factors.

Recebido em 2 de junho de 2015; aceito em 08 de fevereiro de 2017. Endereço para correspondência: Kaline Dellys dos Santos, Rua Padre Lucio Xavier de Castro, 319, 08720-030 Mogi das

Cruzes SP, E-mail: [email protected], Marcio Antonio de Assis: [email protected]

Page 9: BRASIL - irp-cdn.multiscreensite.com · Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine Kareny da Silva, Mônica Oliveira Rios, ... (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

7

Enfermagem BRASIL

Ano 2017 - Volume 16 - Número 1

Resumen Los factores que contribuyen a la seguridad y la inseguridad del estudiante de enfermería durante la pasantíaEl objetivo del estudio fue identificar los factores responsables de generar inseguridad en los estudiantes del programa de enfermería durante la primera etapa de las prácticas. Se trata de una investigación descriptiva y exploratoria, con abordaje cuantitativo llevado a cabo en ese curso en una universidad privada. Treinta y nueve estudiantes participaron en el estudio respondiendo un cuestionario con preguntas abiertas y cerradas. Se han identificado sentimientos relacionados con el propio estudiante, el paciente y el curso, y entre los factores más evidentes el 69% de los participantes presentaban ansiedad ante la espera del inicio de las pláticas, el 67% presentaba sentimientos de ansiedad caracterizado por la entrada en ambiente desconocido, y sensación de falta de preparación (42%). Este estudio contribuye a reflexionar sobre las prácticas curriculares de académicos, proporcionando una visión de los factores que generan estrés y los medios para amenizarlos.

Palabras-clave: prácticas clínicas, ansiedad, factores desencadenantes.

Introdução

O estresse é um fator importante de alteração no desempenho e falha na comunicação entre es-tudante/paciente, estudante/professor e estudante/equipe de enfermagem [1].

O estresse geralmente é desencadeado devido ao relacionamento indivíduo-ambiente e avaliado pelo indivíduo como desgaste ou excessivo aos seus recursos. O estresse é mais complicado que o simples mecanismo de estímulo e resposta, concentrando-se não no enfrentamento da ansiedade, mas, sim, à maneira como o indivíduo, em questão, percebe a ameaça. Sendo necessária na avaliação considerar o significado do estressor e os recursos de apoio que o indivíduo tem para enfrentá-lo [2].

A condição de estresse comumente gerada em situações que exigem responsabilidade, ação e estada em ambiente desconhecido, pode se apresentar de forma diferente em cada indivíduo, servindo como fator de motivação e superação quando em tempo limitado, já em longos períodos como causa de esgo-tamento fazendo com que o indivíduo sinta-se sobre forte pressão com exigências acima da capacidade por ele apresentada, representando uma ameaça a seu bem-estar, gerando assim um fator, ao contrário do mencionado anteriormente, desmotivador [1].

No início do estágio da graduação em enfer-magem os alunos tendem a apresentar grande an-siedade gerada pela entrada em ambiente hospitalar, realização de técnicas e procedimentos aprendidos na teoria e pela interação com o paciente/família. Nessa fase o aluno sente o receio de como será re-cebido pela equipe, paciente/família e professor [3].

Trata-se de um período de transição do aluno para o profissional e também uma fonte de sofri-mento e conflitos gerados pela ansiedade, medo de errar, sentimentos negativos como a impotência, a angústia, comuns à profissão, e despreparo dos alunos que iniciam o estágio, provavelmente por falha no ensino/aprendizagem. Esse processo carrega consigo a estressante natureza da transição para o profissional somada as características de cada aca-dêmico [4].

Percebe-se que no processo de formação aca-dêmica de enfermagem encontra-se de um lado o estresse gerado pelas exigências curriculares com estágios complexos e entrada brusca em ambiente desconhecido com situações complexas; e, por outro lado, quando os acadêmicos seguem para o está-gio prático, encontram a insegurança do paciente frente a um estudante, o despreparo da equipe para realização de trabalho em grupo e a dificuldade do professor em acompanhar os graduandos durante os processos.

Sabe-se, ainda, que durante as disciplinas teó-ricas do Curso de Graduação em Enfermagem são apresentados inúmeros procedimentos e técnicas relacionadas aos cuidados do paciente justamente para prepará-lo para esses desafios, porém, mesmo com essa abordagem, ao se deparar com a prática, o graduando apresenta uma série de dificuldades e inseguranças.

O ensino técnico-científico dos cursos de Graduação em Enfermagem está voltado para a visão e assistência do ser biológico, focando as suas necessidades e desconsiderando o ser humano tanto do paciente como do profissional que o assiste [5].

Page 10: BRASIL - irp-cdn.multiscreensite.com · Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine Kareny da Silva, Mônica Oliveira Rios, ... (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

8

Enfermagem BRASIL

Ano 2017 - Volume 16 - Número 1

ção de um questionário aos graduandos voltado a levantar informações pertinentes às pessoas (gradu-andos de enfermagem), no sentido de conhecer as dificuldades encontradas por eles no momento da experiência dos primeiros procedimentos durante a prática de estágio. Os resultados obtidos foram descritos em números absolutos e em forma de percentual.

Resultados e discussão

Dos 39 discentes que aceitaram responder ao questionário nota-se uma faixa etária média de 25 anos, com predominância do gênero feminino (92%), já compreendido pela história natural das Escolas de Enfermagem, e minoria masculina 8%.

O estudo possibilitou notar a ansiedade apre-sentada por esses alunos frente ao primeiro contato com o ambiente hospitalar, evidenciado pelas res-postas obtidas dos participantes deste estudo, dos quais 69% apresentavam-se muito ansiosos frente à espera para início das práticas.

A ansiedade pode ser considerada como uma reação natural que é produzida diante de certos tipos de situações nas quais a pessoa necessitaria de recursos necessários às mudanças no cotidiano. Em estudos realizados com estudantes de enfermagem a ansiedade é, ainda, referida como uma forma de estresse que aparece ao desenvolverem atividades práticas para as quais não se sentem preparados [1].

O que permite entender, assim, que a entrada dos alunos numa situação desconhecida é o que de-sencadeia tensões e ansiedade, que podem interferir ou não de modo negativo no aprendizado.

Ao serem questionados sobre as possíveis causas dessa ansiedade, 67% a relacionaram com a expectativa para conhecer a dinâmica hospitalar, conforme demonstrado na tabela I.

Tabela I - Apresentação das causas de sentimento de ansiedade pelos alunos frente à espera pela realiza-ção das práticas de cuidados com pacientes, Mogi das Cruzes/SP, 2015.

Causas da ansiedade n %Medo quanto à realização de procedi-mento

1 8

Primeiro contato com a prática profis-sional

5 42

Primeiro contato com paciente 3 25Para conhecer a dinâmica e o ambiente hospitalar

8 67

Dessa forma, durante os estágios, os alunos acabam por ter contato maior com os técnicos e au-xiliares de enfermagem, que muitas vezes não estão preparados para o trabalho em equipe e o estudante não é bem aceito no local, o que ocasiona um choque entre a necessidade de desenvolver a assistência e a de aprendizado [6].

Na prática, o aluno se depara com a exigência de uma ação interativa de altruísmo, que exige refle-xão, fazendo com que a assistência de enfermagem das disciplinas teóricas calcada em fundamentos e teorias terapêuticas passe a ser uma realidade sociocultural que envolve o cuidado de corpos e mentes [5].

Sendo assim, é importante ter o conhecimento das situações que contribuem para as dificuldades encontradas pelos graduandos de enfermagem em sua primeira experiência prática de assistência, para que isso sirva como subsídio para a elaboração de um método voltado a resolução das lacunas deixadas durante a sua formação ou que não foram supridas no decorrer das disciplinas teóricas.

Dessa forma, compreender o processo das experiências, onde estão as falhas durante o apren-dizado teórico e a importância do primeiro contato com o paciente e ambiente é fundamental para amenizar possíveis efeitos negativos que possam ser gerados durante o primeiro estágio do graduando de enfermagem.

Com isso, a identificação das situações e falhas, que colaboram para a geração de situações descon-fortáveis e dificuldades dos alunos, contribuirá não só na melhora do desempenho do discente, mas também auxiliará o docente na amenização dos sentimentos de frustração, por meio da melhora na interação entre ambos, permitindo, assim, um me-lhor preparo para a entrada no ambiente com suas complexas exigências, que são fortes fatores de es-tresse geradores de conflitos pessoais e interpessoais.

Material e métodos

Tratou-se de um estudo descritivo-exploratório com abordagem quantitativa. Realizado em uma instituição privada de ensino superior do município de Mogi das Cruzes/SP. Participaram deste estudo 39 alunos regularmente matriculados entre o 5° e 8° semestre do curso de graduação em Enfermagem, sem experiência prévia na área, que realizaram ou estavam realizando estágio no curso de graduação. A coleta de dados foi realizada por meio da aplica-

Page 11: BRASIL - irp-cdn.multiscreensite.com · Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine Kareny da Silva, Mônica Oliveira Rios, ... (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

9

Enfermagem BRASIL

Ano 2017 - Volume 16 - Número 1

Por não ter experiência 4 33Conhecer a realidade profissional 1 8Sentimento de despreparo 5 42Espera para obtenção de maior conhe-cimento prático

1 8

Cenário distinto do contexto de aula 1 8Colocar em prática o conhecimento adquirido

1 8

Preocupação em atender as expectativas do professor

1 8

Ansiedade pelo início das práticas 1 8

Colocada em questão a pergunta referente às emoções negativas no primeiro estágio clínico, observaram-se, nos discursos, sentimentos negativos como medo, ansiedade, piedade, necessidade de paciência e empatia. Pois, por mais que saibam a teoria e tenham treinado as técnicas em laboratórios, não tiveram contato anterior com paciente para que essa ansiedade, ocasionada pela falta de experiência e pelo medo do desconhecido diminuísse [1,4].

Além da ansiedade, o início das práticas assis-tenciais em ambiente hospitalar acarreta mudanças na vida diária dos estudantes de enfermagem. Fato notado nos dados obtidos, dos quais 92% dos discentes relataram que sentiram mudanças no cotidiano acadêmico, sendo caracterizada pela visão da realidade prática (29%), a necessidade de conhecimento adicional (29%) e ao acréscimo de conhecimento prático/teórico (41%).

A ansiedade e o estresse são associados pelos estudantes a sua inexperiência, ao despreparo em lidar com situações críticas e a interferência das horas exigidas para estudos teóricos, não só referente às exigências de sala de aula, como também, aos co-nhecimentos específicos exigidos e adquiridos em campo prático [1].

A mudança, assim, é sentida no momento em que o estudante entra em contato direto com a realidade do campo prático que permite o desen-volvimento pessoal/profissional e a consolidação de conhecimentos adquiridos no transcorrer do curso, por meio da relação teoria-prática exigida do aluno, denotando assim maior dedicação. A dinâ-mica exigida, o tempo destinado à permanência no campo de estágio e a necessidade de determinadas habilidades podem ser encarados como somatórios as mudanças relatadas.

Assim, ao serem questionados quanto ao senti-mento de preparo para o início do estágio, 56% dos participantes referiram-se não preparados, associan-

do essa característica à falta de aulas práticas (91%), ao sentimento de despreparo (45%) e à necessidade de buscar novos conhecimentos (27%).

Os acadêmicos deixam, assim, explícitos sen-timentos, como insegurança e medo, ao notarem que terão que agir com postura profissional junto ao paciente. Sentimentos que se justificam pela dificuldade de comunicação e interação entre pa-ciente/aluno, cuja maior preocupação é a sensação de prejuízo que pode ser causado ao paciente, por suas inabilidades e conhecimentos ainda limitados.

Os sentimentos de preparo são associados ao processo ensino-aprendizagem, relacionado ao regime tutorial e institucional, com boa oferta de base para ensino prático/teórico e supervisão por um profissional capaz de atitudes que permitam o diálogo com o discente, sem preconceitos entre senso comum/ciência que contribuem para o en-tendimento da realidade. Sendo assim, capaz de proporcionar maior segurança ao aluno [7-9].

Percebe-se que o processo de aprendizagem prática pode passar por diversos tipos de influências e, para minimizar impactos gerados pelo novo am-biente e pelas incertezas vivenciadas pelo estagiário é necessário que se tenha o enfoque em estratégias que minimizem essas características, como a possibi-lidade de encontrar um bom acolhimento dentro do serviço no qual será inserido. Este foi um dos pontos levantados junto aos discentes que revelaram que foram bem acolhidos apenas por alguns membros da equipe (33%), 36% foram acolhidos e 31% não se sentiram acolhidos.

A entrada do estudante no serviço de saúde pode acarretar mudanças na rotina do setor. Isso afeta diretamente o funcionário que vê sua neces-sidade de desenvolver tarefas cotidianas chocar-se com as necessidades dos alunos para o aprendizado, e disso pode advir o conflito. Cabendo ao professor se fazer presente neste momento dando suporte, quanto ao empenho do próprio aluno e ao auxílio do enfermeiro atuante [1].

Dessa forma, nota-se, tanto pelo apresentado na literatura quanto pelo obtido no estudo, a ne-cessidade das atividades práticas serem realizadas de maneira adequada, educativas e proveitosas para quem as está aprendendo, é imprescindível um ambiente que favoreça a sua permanência e proporcione tranquilidade. Com isso, os alunos foram questionados sobre alguns aspectos como o desconforto frente à equipe e 54% apresentaram em algum momento essa sensação dentro do serviço de

Page 12: BRASIL - irp-cdn.multiscreensite.com · Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine Kareny da Silva, Mônica Oliveira Rios, ... (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

10

Enfermagem BRASIL

Ano 2017 - Volume 16 - Número 1

Nota-se a necessidade de o docente estar voltado ao processo do ensino-aprendizagem que é o seu próprio papel no contexto da educação dos discentes, na prática profissional e no relaciona-mento interpessoal, uma vez que este possui papel fundamental não apenas no processo de ensino--aprendizagem de temas técnicos, como também na formação ética do caráter que será projetado nas atitudes do futuro profissional. Deve-se focalizar um ensino reflexivo, a fim de desafiar, estimular e ajudar os alunos na construção de habilidades e competências que fortaleçam o compromisso pro-fissional [3,5,10].

Em relação ao desconforto sentido, na relação professor/aluno, 41% dos participantes sentiram-no relacionando-o ao sentimento de despreparo, inse-gurança frente à avaliação e medo de errar (21%), a ansiedade frente ao procedimento e a pouca liber-dade com o professor (14%).

Levando-se em conta que o docente funciona como um modelo para o graduando, conduzindo e orientando, este, a uma instrumentalização para formação de futuros profissionais da saúde, o docente deve estar voltado ao processo de ensino--aprendizagem, com o intuito de transmitir todo o arcabouço teórico e prático, capacitando o aluno a assistência de qualidade e estabelecimento de vín-culo terapêutico com o paciente.

Neste contexto, os discentes foram questio-nados em relação ao contato com o paciente, 74% referiram ter tido bom contato, atribuindo-o ao acolhimento e colaboração do paciente (100%), boa comunicação (58%), a troca de experiência (17%) e ao estabelecimento de vínculo (17%). Já 23% relataram experiência regular, dos quais 43% associaram à insegurança na abordagem, ao empe-cilho da ansiedade (29%) e ao pouco contato com o paciente (29%). Enquanto 3% a classificaram como ruim, atribuindo o constrangimento como fator de classificação.

Os acadêmicos deixam explícitos sentimentos, como insegurança e medo, quando percebem que terão que agir junto ao paciente com a postura de um enfermeiro. Esses sentimentos justificam-se pelo medo do novo, do desconhecido, justificadas pela descoberta do processo de cuidar no início da prática profissional. Por isso, para amenizar a situação, o de-senvolvimento da competência de comunicação faz-se cada vez mais necessária, pois somente assim é pos-sível continuar oferecendo cuidado interdisciplinar, personalizado, competente e humanitário [1,5,7].

saúde. Esse desconforto sentido pelos graduandos foi associado à baixa receptividade (57%), ao sen-timento de despreparo (36%), ao sentimento de estar atrapalhando (21%) e ao fato de não conhecer a equipe (14%).

Verifica-se, então, que os alunos precisam rece-ber apoio da equipe como um todo para sentirem-se mais seguros em realizar as tarefas propostas. Apoio este que pode ser fornecido pela compreensão e paciência da equipe com o compromisso docente/discente, para re-manejar funções em direção aos alunos, oportunizando a prática tão esperada por estes [10].

Todavia o ambiente de estágio, no qual o aca-dêmico está inserido, afeta diretamente os resultados do seu aprendizado. Assim, em relação à estrutura da(s) instituição(s), 31% dos discentes relataram sentir-se desconfortáveis, associando a divergência entre o ensinado na teoria e o vivenciado na prática (43%), fator intimamente ligado a falta de insumos, citado por 86% dos participantes.

É possível notar a preocupação dos alunos com a equipe e a forma de trabalho dela, já que, muitas vezes, é diferente da que é exigida pelos professores, que ensinam a necessidade de atitudes éticas, da prática de técnicas corretas que não afetem a integridade do cliente, o que, a maioria das vezes, diverge da experiência em campo, que nem sempre está em concordância com essas recomendações.

No cotidiano dos serviços de saúde muitas vezes os profissionais justificam a forma como desenvolvem suas práticas laborais com base na infraestrutura do local de trabalho. Para a realização da prática assistencial, faz-se necessário, entre outras condições, a garantia de infraestrutura apropriada, com disponibilidade de equipamentos adequados, de recursos humanos capacitados e de materiais e insumos suficientes à assistência prestada [11].

Nesse contexto a relação aluno/professor torna-se um meio que minimiza ou potencializa as situações e implicações responsáveis por gerar desconforto, bem como as que geram ansiedade e medo. Com base nessa relação, 92% dos discen-tes relataram ter uma boa relação com o docente, relacionando tal afirmação à acessibilidade do professor para o esclarecimento de dúvidas (85%), ao bom suporte oferecido pelo professor (54%), a paciência e disposição para ensinar (46%), a prestação de auxílio sempre que solicitado e ao feedback apresentado no desempenho dos alunos (31% respectivamente). Outros 5% classificaram a relação como regular, associando ao pouco contato com o professor.

Page 13: BRASIL - irp-cdn.multiscreensite.com · Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine Kareny da Silva, Mônica Oliveira Rios, ... (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

11

Enfermagem BRASIL

Ano 2017 - Volume 16 - Número 1

Estando a relação intimamente ligada aos fatores geradores de desconforto, questionou-se sobre este sentimento frente ao paciente e obteve--se de 46% dos participantes uma relação com esse aspecto, atribuindo-o, em sua maioria (33%), a ansiedade gerada pelo primeiro contato.

A relação do discente com o grupo em que está inserido pode influenciar, significativamente na ampliação ou diminuição da ansiedade, uma vez que a união do grupo promove o auxílio mútuo e amplia as possibilidades de aprendizado por debate e troca de experiências. Questionados, então, quanto à sensação de desconforto frente ao grupo, 15% as-sociaram-na à falta de união e interesse, pressão entre os membros para realização de procedimentos e ao sentimento de isolamento (17%). Considerando-se as situações que geraram desconforto, 69% relata-ram não tê-las, enquanto 31% relataram senti-las com impactos associados, relacionando-as a falta de técnica durante a realização de procedimentos (31%) e a falta de insumos (15%).

A insegurança pode ser uma grande geradora de ansiedade, principalmente quando está ligada ao preparo técnico para realização das atividades e procedimentos associados ao medo de errar e cau-sar algum prejuízo ao paciente sob seus cuidados. No entanto, quando auxiliados, os estudantes têm competência técnica e capacidade para resolver os problemas junto com os colegas de grupo e pro-fessor. Quando recebem o apoio deles a ansiedade diminui e os estágios passam a ser mais simples e mais proveitosos [1].

Nota-se até aqui a complexidade do estudar en-fermagem e do passar pelos campos de estágios para se obter o grau de enfermeiro. Este momento torna--se um divisor de águas, devido à confrontação com a realidade da profissão, fazendo com que os alunos sem experiência sintam maior impacto nesse pro-cesso. Isso levou-nos a questionar sobre a cogitação da desistência do curso, constatando-se que apenas 8% dos discentes já pensaram em desistir devido a dificuldades de adaptação (20%), a falta de campo para início do estágio (20%), a baixa quantidade de aulas práticas ministradas (20%), a dificuldade na realização de procedimentos (20%) e a visão da responsabilidade que cabe ao enfermeiro (20%).

Quanto aos procedimentos de maior e menor complexidade, identificados durante o processo de estágio, os discentes revelaram ter dificuldades maiores durante a realização de exame físico (46%), anotações de enfermagem (41%), punção venosa

(38%), banho no leito (38%), curativos (38%), passagem de sonda (38%), administração de me-dicamentos (38%) e troca de bolsa de colostomia (33%). Destacando que os procedimentos ainda não realizados pelos participantes não foram assinalados pelos mesmos.

Quanto à realização de procedimentos, os discentes associaram o conhecimento teórico do pro-cedimento (56%), boa habilidade de comunicação (41%), habilidades desenvolvidas em laboratório (38%), boa receptividade da equipe (33%), presença do professor e conhecimentos adquiridos em sala de aula (31%) como fatores geradores de maior ansiedade. Além disso, associaram a diminuição da ansiedade à boa relação com o grupo de estágio (90%), abertura para o processo de ensino/apren-dizagem proporcionado pelo professor (85%), boa receptividade do paciente/família (69%), a presença do professor (69%) e ao conhecimento adquirido em aulas teóricas (69%).

Todos esses fatores geradores de ansiedade contribuem para o aparecimento de sentimentos negativos. Por mais que tenham conhecimento te-órico, relatam deficiência no conhecimento prático, por pouco treinamento em laboratório e pouco ou nenhum contato com o paciente, fator que não colabora para a diminuição da ansiedade frente à falta de experiência. Essa ansiedade é causada pela entrada em ambiente hospitalar como futuro pro-fissional, ampliada ou ocasionada pela percepção de aspectos externos, que podem ser tanto negativos quanto positivos.

Os aspectos positivos são descritos pelos dis-centes como sendo aplicação do conhecimento teó-rico (42%), possibilidade de contato como paciente (38%), possibilidade de ampliação do conhecimento (35%), maior segurança (19%), entre outros. Já os aspectos negativos, em sua maioria (40%) são associados à baixa oportunidade para realização de procedimentos.

Com isso, os discentes foram questionados sobre as possíveis modificações para melhoria das práticas, os quais sugeriram, em sua maioria, maior número de aulas práticas (65%) e ampliação do tempo de estágio (60%).

Pode-se perceber, assim, a necessidade que esses alunos possuem frente a habilidades técnicas, uma vez que o processo de formação, muitas vezes, deixa lacunas nesse sentido, seja pela grande quantidade de alunos em sala, o que dificulta aulas em laboratório, seja por falta de estrutura ou baixa oportunidade

Page 14: BRASIL - irp-cdn.multiscreensite.com · Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine Kareny da Silva, Mônica Oliveira Rios, ... (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

12

Enfermagem BRASIL

Ano 2017 - Volume 16 - Número 1

em campo. Fato evidenciado pela colocação, como ponto de melhoria, o aumento de aulas práticas, bem como o aumento do tempo de estágio, possível tentativa de maior realização de procedimentos, tempo de contato com paciente e visualização da prática profissional.

Assim é possível perceber uma tríade impor-tante transmissão-participação-atenção no âmbito da sala de aula, ou seja, fatores que interligados concebem uma compreensão do conhecimento transmitido que extrapola a formação profissional para a formação do ser humano como um todo, capaz de contribuir para promoção, recuperação e reabilitação da saúde do indivíduo, família e co-munidade [12].

Conclusão

O objetivo deste trabalho foi conhecer os fatores que geram maior e menor insegurança nos discentes durante o seu primeiro estágio em campo hospitalar. Os resultados obtidos possibilitaram reflexões referentes ao ensino e desenvolvimento de procedimentos técnicos. Nota-se, segundo relatos, a importância de um bom desenvolvimento de aulas práticas que permitam um processo educacional que incite a transmissão, participação e atenção do discente. De forma que possibilite um sistema de ensino/aprendizagem voltado a atender as dificulda-des e anseios do aluno, bem como a auxiliar em seu processo de formação um profissional capaz de se adaptar ao constante contato com situações estres-santes presentes nos serviços de enfermagem, sem, contudo, perder a qualidade da assistência prestada.

Referências

1. Cremonese TS, Marques IR. Significados das primeiras experiências do estudante de enfermagem nos estágios clínicos. Rev Enferm UNISA 2011;12(2):94-9.

2. McEwen M, Wills EM. Bases teóricas para enferma-gem. 2a ed. Porto Alegre: Artmed; 2009. p.149.

3. Bonamann DMS, Cogo ALP. Primeira pratica curricu-lar hospitalar de estudantes de enfermagem descrita em fórum online. Cienc Cuid Saude 2013;12(2):226-32.

4. Gervásio SMD, Kawaguchi LYA, Casalechi HL, Car-valho RA. Análise do estresse em acadêmicos de Enfer-magem frente ao primeiro estágio da grade curricular. J Health Sci Int 2012;30(4):311-5.

5. Perbone JG, Carvalho EC. Sentimentos do estudante de enfermagem em seu primeiro contato com paciente. Rev Enferm 2011;64(2):343-7.

6. Carvalho MDB, Pelloso EASSV, Coimbra JAH. Expec-tativas dos alunos de enfermagem frente ao primeiro es-tágio em hospital. Rev Esc Enf USP 1999;33(2):200-6.

7. Silva RM, Silva ICM, Ravalia RA. Ensino de Enfer-magem: Reflexões Sobre o Estágio Curricular Super-visionado. Práxis 2009;1(1).

8. Lima TC, Paixão FRC, Candido EC, Campos CJG, Ceolim MF. Estágio curricular supervisionado: analise da experiência discente. Rev Bras Enferm 2014;67(1):133-40.

9. Martinho J, Pires R, Carvalho JC, Pimenta G. Forma-ção e desenvolvimento de competências de estudantes de enfermagem em contexto de ensino clínico em saúde mental e psiquiatria. Rev Port de Enferm de Saúde Mental 2014, Especial 1.

10. Tavares PEN, Santos SAM, Comassetto I, Santos RM, Santana VVRS. A vivência do ser enfermeiro e precep-tor em um hospital escola: olhar fenomenológico. Rev Rene 2011;12(4):798-807.

11. Pedrosa ICF, Corrêa ACP, Mandú ENT. Influências da infraestrutura de centros de saúde nas práticas profis-sionais: percepções de enfermeiros. Cienc Cuid Saude 2011;10(1):058-065.

12. Moura ECC, Mesquita LFC. Estratégias de ensino--aprendizagem na percepção de graduandos de enfer-magem. Rev Bras Enferm 2010;63(5):793-8.

Page 15: BRASIL - irp-cdn.multiscreensite.com · Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine Kareny da Silva, Mônica Oliveira Rios, ... (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

13

ARTIGO ORIGINAL

Conflitos éticos da equipe de enfermagem no processo de trabalho na atenção básica

Renato Bellettini Bristot, Esp.*, Luciane Bisognin Ceretta, D.Sc.**, Maria Tereza Soratto, M.Sc.**

*Enfermeiro, Especialista em Gestão da Atenção Básica de Saúde da Universidade do Extremo Sul de Santa Catarina (UNESC), Criciúma/ SC,**Enfermeira, UNESC, Criciúma/SC - Artigo Baseado na Monografia de Pós-graduação Especialização em Gestão da Atenção Básica de Saúde

ResumoEstudo com objetivo de identificar os conflitos éticos da equipe de enfermagem no processo de trabalho na atenção básica. Pesquisa de abordagem qualitativa, descritiva e de campo. Aplicou-se questionário semiestruturado com 6 profissionais da equipe de enfermagem atuantes na atenção básica de um município do Extremo Sul Catarinense. A análise e a interpretação dos dados qualitativos foram organizadas a partir da análise de conteúdo com a categorização dos dados, através da ordenação, classificação e análise final dos dados pesquisados. Os dilemas enfrentados pela equipe de enfermagem na atenção básica estão relacionados ao sigilo das informações, dificuldades inerentes à comunicação e ao acesso dos usuários aos serviços de saúde. É fundamental que a equipe de enfermagem promova discussões sobre os dilemas enfrentados e as condutas éticas requeridas no processo de trabalho, buscando a humanização e a qualidade do cuidado na atenção básica.

Palavras-chave: ética em enfermagem, atenção primária à saúde, prática profissional.

AbstractEthical conflicts of the nursing staff in the process of work in the basic attentionStudy aiming to identify the ethical conflict of nursing staff in the process of work in the basic attention. This is a qualitative, descriptive and field study. Semi-structured questionnaire was applied with 6 professionals of nursing staff that worked in basic attention of a city in the extreme south of Santa Catarina. The analysis and interpretation of qualitative data were organized from the content analysis with the categorization of the data, by ordering, sorting, and final analysis of the data searched. The dilemmas faced by nursing staff in basic care are related to the confidentiality of the information; difficulties inherent in the communication and users ‘ access to health services. It is essential that the nursing staff promote discussions about the dilemmas faced and the ethical requirements in the process of work, seeking humanization and the quality of care in the basic attention.

Key-words: ethics, nursing, primary health care, professional practice.

Recebido em 28 de março de 2016; aceito em 9 de fevereiro de 2017. Endereço para correspondência: Maria Tereza Soratto, UNESC, Av. Universitária, 1105, Curso de Enfermagem, Bloco S,

88806-000 Criciúma SC, E-mail: [email protected], [email protected], [email protected]

Page 16: BRASIL - irp-cdn.multiscreensite.com · Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine Kareny da Silva, Mônica Oliveira Rios, ... (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

14

Enfermagem BRASIL

Ano 2017 - Volume 16 - Número 1

ResumenConflictos éticos de enfermería en el proceso de trabajo en la atención básicaEstudio con el objetivo de identificar el conflicto ético de personal en el proceso de trabajo en la atención básica de enfermería. Investigación de enfoque cualitativo, descriptivo y de campo. Se aplicó cuestionario semiestructurado con 06 profesionales del equipo de enfermería en la atención básica de una ciudad en el extremo sur de Santa Catarina. El análisis e interpretación de datos cualitativos fueron organizados a partir del análisis de contenido con la categorización de los datos, ordenamiento, clasificación y análisis final de los datos de búsquedas. Los dilemas que enfrentan el personal en cuidados básicos de enfermería están relacionados con la confidencialidad de la información; dificultades en la comunicación y el acceso de los usuarios a servicios de salud. Es esencial que el personal de enfermería promueva discusiones sobre los dilemas que enfrentan y los requisitos éticos en el proceso de trabajo, buscando la humanización y la calidad de la atención en la atención básica.

Palabras-clave: ética en enfermería, atención primaria de salud, práctica profesional.

Introdução

A ética compreende a experiência da “morada humana”, compreendendo uma teia de relações interpessoais e interprofissionais, orientando-se por princípios e convicções, conforme valores sociais consagrados [1]. Os valores universais (a pessoa como um valor em si, a dignidade humana, a liber-dade, a igualdade e a fraternidade) observados na relação profissional só terão na prática a expressão correspondente se forem conhecidos, compreen-didos e incorporados pelos profissionais no seu universo de saberes [2] permitindo, assim, a sua efetivação na relação enfermeiro-paciente-cliente--família e comunidade.

O conhecimento e a prática profissional são de suma importância, mas a ética também é impor-tante, com isso se consegue a confiança não só da equipe, mas a confiança do paciente (cliente), sendo assim não basta apenas conhecer o que é ética, mas sim praticar a ética no seu cotidiano de trabalho. O que pensa a equipe sobre o tema? A ética no exer-cício de uma profissão deve iniciar-se bem antes da prática, porque envolve princípios, valores e crenças pessoais. Em virtude da importância da postura ética da equipe de enfermagem no processo de trabalho na atenção básica, como forma de garantir princípios de humanização do cuidado, sigilo, privacidade, considera-se imprescindível pesquisar a percepção dos profissionais sobre o tema.

O exercício da enfermagem engloba consci-ência, liberdade, valores e responsabilidades, que se encontram inseridos no contexto culturalmente construído, com significados atribuídos socialmente

ao fazer da equipe de enfermagem [1]. O Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem leva em consideração a necessidade e o direito de assistên-cia em enfermagem da população, os interesses do profissional e de sua organização. Está centrado na pessoa, família e coletividade e pressupõe que os trabalhadores de enfermagem estejam aliados aos usuários na luta por uma assistência sem riscos e danos e acessível a toda população [1,3].

As leis de cada profissão são elaboradas com o objetivo de proteger os profissionais, a catego-ria como um todo e as pessoas que dependem daquele profissional, mas há muitos aspectos não previstos especificamente e que fazem parte do comprometimento do profissional em ser etica-mente correto [2].

Os conflitos éticos são considerados desafios, fontes de conflitos de valores e deveres, que permi-tem vários cursos de ação para sua solução, exigindo deliberação e ponderação para se encontrar o melhor caminho, e este precisa ser continuamente reavaliado [4]. Os dilemas éticos estão presentes em todas as áreas de atuação dos profissionais da saúde e são situações passíveis de questionamento moral ou social relacionada ao conjunto de comportamentos, hábitos, valores, cultura e as crenças expressas pelos seres humanos na sociedade [5].

Nesta perspectiva, o trabalho na atenção Pri-mária em Saúde possui particularidades em termos das relações (bio)éticas estabelecidas nesse nível de atenção à saúde. Assim, a proposição de novos referenciais teóricos e o desenvolvimento de ações educativas usualmente utilizadas para a abordagem das questões tornam-se extremamente necessários

Page 17: BRASIL - irp-cdn.multiscreensite.com · Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine Kareny da Silva, Mônica Oliveira Rios, ... (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

15

Enfermagem BRASIL

Ano 2017 - Volume 16 - Número 1

De acordo com a Resolução 510/2016 [9], os participantes devem ser esclarecidos sobre a natureza da pesquisa, seus objetivos, métodos, benefícios previstos, potenciais riscos e o incômodo que esta possa lhes acarretar, na medida de sua compreensão e respeitados em suas singularidades [7]. Na pesquisa utilizou-se um termo de consentimento livre e escla-recido, informando aos participantes da pesquisa os objetivos, métodos, direito de desistir da mesma e sigilo em relação à pesquisa. Para preservar o sigilo e o anonimato dos participantes da pesquisa, de acordo com as diretrizes e normas regulamentadoras da Resolução 510/2016 [9], utilizou-se indicador alfanumérico; E para Enfermeiro e T para Técnico de Enfermagem (E1 e E2; T1 a T4). A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UNESC pelo Projeto nº 1.425.775/2016.

Resultados e discussão

Com base nos dados obtidos através da apli-cação do questionário semiestruturado, foram evidenciadas as seguintes categorias de análise: concepção da equipe de enfermagem sobre ética; capacitação sobre ética profissional na enfermagem; os conflitos e dilemas éticos enfrentados pela equipe de enfermagem no processo de trabalho na atenção básica; o enfrentamento dos conflitos e dilemas éticos pela equipe de enfermagem. Na categoria os conflitos e dilemas éticos enfrentados pela equipe de enfermagem no processo de trabalho na atenção básica organizaram-se 05 subcategorias: o sigilo; hu-manização; comunicação; assistência à comunidade; não vivenciar dilemas éticos na profissão.

Perfil da equipe de enfermagem

Em relação ao perfil dos profissionais entre-vistados, cinco são do sexo feminino e um do sexo masculino, a idade variou de 26 anos a 38 anos. Em relação à formação duas são enfermeiras e quatro técnicos de enfermagem. O tempo de atuação na atenção primária variou de 1 ano a 13 anos.

Concepção da equipe de enfermagem sobre ética

A ética provoca no ser uma reflexão com base em princípios e valores que orientam sua vida; reflete o pensar e o questionar a realidade circundante. A ética envolve valores internos, significa “modo de ser” ou “morada do ser”, englobando consciência,

[6,7]. Na atenção básica, a proximidade da equipe multiprofissional ao ambiente familiar propicia um contato mais próximo com o usuário, permitindo praticar ações educativas condizentes com a reali-dade vivenciada pela comunidade [7,8].

Considera-se que os conflitos éticos da equipe de enfermagem no processo de trabalho na atenção básica estão relacionados principalmente as questões que envolvem o sigilo profissional. A ética profis-sional é alicerçada a partir dos valores pessoais do indivíduo e pelo Código de ética de enfermagem, porém nem sempre ele responde a todos os conflitos e dilemas éticos no processo de trabalho na atenção básica. Este estudo teve por objetivo identificar os conflitos éticos da equipe de enfermagem no pro-cesso de trabalho na atenção básica.

Material e métodos

Nesta pesquisa de abordagem qualitativa, descritiva e de campo, aplicou-se questionário semiestruturado com 6 profissionais da equipe de enfermagem atuantes na atenção básica. Utilizaram--se como critérios de inclusão dos participantes da pesquisa: equipe de enfermagem atuante na aten-ção básica; aceitação para participar da Pesquisa segundo Resolução 510/2016 [9] e assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). O município conta com 6 Unidades vinculadas à Atenção Básica, e a pesquisa foi realizada na Unidade Central no mês de fevereiro a março de 2016. Dos 11 profissionais da equipe de enfermagem da Uni-dade Central de um município de pequeno porte do Extremo Sul Catarinense aceitaram participar da pesquisa 6 profissionais.

A análise dos dados ocorreu a partir da análise de conteúdo, sendo uma técnica de análise das co-municações realizadas em entrevistas, questionários ou observação. Na análise do material, busca-se classificá-los em temas ou categorias que auxiliam na compreensão do que está por trás dos discursos ressaltando os aspectos considerados semelhantes e os que foram concebidos como diferentes. Cada categoria constitui-se dos trechos selecionados das falas dos entrevistados sendo discutidos com base no referencial teórico [10]. A palavra chave é a expressão ampla da categoria que deve refletir com exaustividade e precisão o significado principal do relato. A organização das categorias deve observar fundamentalmente a exaustividade, validade e fide-lidade dos dados [11].

Page 18: BRASIL - irp-cdn.multiscreensite.com · Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine Kareny da Silva, Mônica Oliveira Rios, ... (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

16

Enfermagem BRASIL

Ano 2017 - Volume 16 - Número 1

conhecimento, concepção, liberdade e responsabi-lidade [1]. A ética como conjunto de regras, valores morais e princípios que norteiam a conduta humana foram destacados pelos enfermeiros E1 e E2 e o técnico de enfermagem T3:

E1: “Ética significa ter bom costume, con-junto de regras, princípios que norteiam a conduta humana”.

E2: “É um conjunto de valores morais e princípios que norteiam a conduta humana na sociedade”.

T3: “É um conjunto de princípios Morais que regem os direitos e deveres de cada um de nós”

A ação ética dentro dos valores estabelecidos pela sociedade, visando o bem e os direitos do ci-dadão, permeia a concepção de ética dos técnicos de enfermagem T1; T2 e T4.

T1: “Ética é um conjunto de ações que praticamos visando sempre o bem estar, a privacidade e os direitos dos pacientes”.

T2: “É o conjunto de ações e os hábitos de cada pessoa que juntas formam o caráter de cada um dando origem a ética”.

T4: “Ser ético é agir dentro dos padrões con-vencionais, é proceder bem, e não prejudicar o próximo. Ser ético é cumprir os valores estabelecidos pela sociedade em que se vive”.

Agir de forma consciente e ética requer uma per-cepção de si, do meio e dos outros, envolvendo também sabedoria, razão, comunicação, interação, concepções, valores e cultura, além da vontade, ou seja, do querer e do propiciar abertura para o outro [1]. A Atenção Básica necessita de uma bioética clínica amplificada que articule no cuidado a responsabilidade e direitos [12].

A ética pressupõe uma prática profissional que busca garantir o sigilo, o respeito, a privacidade, formando a partir desta postura profissional um vínculo com os pacientes e familiares. A postura ética da equipe de enfermagem contribui para uma con-vivência harmoniosa, entre os pacientes, familiares e a própria equipe, e o processo de trabalho alicerçado na ética possibilita a qualidade do cuidado.

Capacitação sobre ética profissional na Enfer-magem

A equipe de enfermagem foi capacitada sobre a ética profissional, com exceção do enfermeiro E1 e o técnico T1que foram capacitados somente na formação de graduação e técnico de enfermagem:

E1: “Sim. Na formação de nível superior”.

E2; T2; T3; T4: “Sim”.

T1: “Sim, na formação de técnico de en-fermagem”.

A educação permanente da equipe de enferma-gem precisa ser capaz de despertar os profissionais para a reflexão sobre as questões éticas envolvidas no processo de trabalho na atenção básica, com objetivo de desenvolver habilidades práticas, competência e sensibilidade para conduzir a reflexão, discussão e resolução prudente e responsável dos problemas éticos [4].

Os valores pessoais, o ensino e a prática são os pilares que suportam a construção de um profissio-nal eticamente competente [13]. Os aspectos éticos e bioéticos integrantes do cotidiano do cuidar na ESF muitas vezes não são percebidos, resultando em danos a atenção, especialmente no que se refere ao vínculo e corresponsabilização pela saúde. Para atuar na atenção básica o profissional, além de re-direcionar sua prática clínica, precisa redimensionar sua sensibilidade para perceber, compreender e pon-derar acerca de situações eticamente significativas ou problemáticas [7].

Nesta perspectiva, os profissionais necessitam estar preparados para o reconhecimento de conflitos éticos, para a análise crítica de suas implicações, para o uso de senso de responsabilidade e para a obrigação moral ao tomar decisões relacionadas à vida humana [14].

Os conflitos e dilemas éticos enfrentados pela equipe de enfermagem no processo de trabalho na atenção básica

Dilemas éticos são resultantes de diferenças de valores, crenças e experiências, bem como a forma-ção ética, humana e profissional do indivíduo, em que o profissional tem de tomar decisões entre duas ou mais alternativas de ação [2].

Page 19: BRASIL - irp-cdn.multiscreensite.com · Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine Kareny da Silva, Mônica Oliveira Rios, ... (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

17

Enfermagem BRASIL

Ano 2017 - Volume 16 - Número 1

sigilo profissional [3]. O Código de ética de Enfermagem no artigo

Art. 81 destaca que a enfermagem deve abster-se de revelar informações confidenciais de que tenha conhecimento em razão de seu exercício profissional a pessoas ou entidades que não estejam obrigadas ao sigilo. Preceitua como dever do profissional de enfermagem manter segredo sigiloso de que tenha conhecimento em razão de sua atividade profissio-nal [3].

Para Oguisso et al. [2] a confidencialidade não são princípios considerados, ética ou legalmente, absolutos. Ao contrário, têm seus limites funda-mentados na possibilidade de causar dano à saúde ou à segurança da coletividade ou de pessoas iden-tificáveis. No processo de trabalho na atenção básica é essencial preservar o sigilo e a confidencialidade das informações, buscando definir em que medida as informações privativas do paciente devem ser compartilhadas no âmbito da equipe [17].

O sigilo deve ser mantido também entre a equi-pe de enfermagem, garantindo a confidencialidade referente às informações dos pacientes e familiares atendidos na atenção básica.

A humanização

A falta de humanização foi citada nos relatos dos profisisionais E2 e T1 como um conflito viven-ciado no processo de trabalho na atenção básica.

E2: “A falta de humanização caracterizando os pacientes por patologias e condições sócio econômicas[...]”.

T1: “[...]a falta de interesse e dedicação pelo próximo”.

A falta de humanização, protagonizada por alguns membros da equipe – no processo de acolhimento ao usuário foi citada em pesquisa de Simas et al. [6]. A humanização abrange um conjunto de conhecimentos, práticas e atitudes, envolvendo a participação da equipe multiprofissional de saúde, gestores, usuários e mo-vimentos sociais possibilitando o compartilhamento de experiências visando à qualificação do cuidado na atenção básica [19].

A relação de confiança, o vínculo e a co--responsabilização é determinante para a humani-zação do cuidado, o que requer garantias ao direito de informação, um dos elementos fundamentais

O sigilo

O sigilo das informações é o conflito e dilema ético mais citado pela equipe de enfermagem, nos relatos da enfermeira E1 e E2 e o técnico T1:

E1: “Nossa função na enfermagem é orien-tada por normas e princípios. O sigilo é um dos principais dilemas que enfrentamos perante a equipe”.

E2: “[...] O sigilo sobre as patologias dos pacientes, muitas vezes os próprios pacientes já sabem o que a pessoa que consulta tem”.

T1: “O sigilo[...]”.

São recorrentes nos estudos resultados relativos a problemas éticos relacionados com as informações sigilosas e as potenciais ameaças à privacidade e confidencialidade das informações na atenção básica [4,6,15-17].

O segredo compreende as informações a que a equipe de enfermagem tem acesso, no exercício de suas atividades, quando transmitidas pelo paciente ou responsável, obtidas por meio da anamnese, exame físico, dos cuidados aos pacientes ou pro-venientes das observações de outros profissionais e procedimentos administrativos. Um recurso para dimensionar o que cabe ou não ser compartilhado sobre o paciente é colocar-se no lugar dele veri-ficando que informações, se reveladas, poderiam causar-lhe danos [2].

O sigilo nos serviços de saúde quanto às infor-mações dos usuários é previsto em lei e pelos conse-lhos de ética profissional, sendo dever do profissional de saúde manter a lealdade com o usuário [18].

Como responsabilidades e deveres o Código de ética, nas relações com a pessoa, família e cole-tividade institui no Art. 19 - Respeitar o pudor, a privacidade e a intimidade do ser humano, em todo seu ciclo vital, inclusive nas situações de morte e pós--morte. Em relação ao sigilo profissional - Capítulo II – o Código de ética constitui como responsabili-dades e deveres no Art. 82 - Manter segredo sobre fato sigiloso de que tenha conhecimento em razão de sua atividade profissional, exceto casos previstos em lei, ordem judicial, ou com o consentimento escrito da pessoa envolvida ou de seu representante legal. O Art. 83 ressalta que cabe ao enfermeiro orientar a equipe sob sua responsabilidade, sobre o dever do

Page 20: BRASIL - irp-cdn.multiscreensite.com · Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine Kareny da Silva, Mônica Oliveira Rios, ... (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

18

Enfermagem BRASIL

Ano 2017 - Volume 16 - Número 1

para que o usuário possa tomar decisões substan-cialmente autônomas sobre a sua saúde [4]. Nesse sentido, dois aspectos são relevantes no que tange à temática dos fundamentos éticos e morais da prática da enfermagem, o primeiro fato caracteri-zaria o momento quando o profissional que atua na área da saúde trata o paciente como um objeto, o segundo fato seria em não limitar a ética a um conjunto de normas, hermeticamente fechadas, prontas e acabadas [1].

A relação que permeia os profissionais e o usuário não deve se restringir apenas ao tratamento das doenças, mas se fundamentar na promoção da saúde e na percepção do indivíduo como ser único, que necessita ser escutado e compreendido nas ne-cessidades físicas, emocionais e sociais [7].

Para atuar na saúde da família o profissional, além de redirecionar sua prática clínica, precisa redimensionar sua sensibilidade para perceber, com-preender e ponderar acerca de situações eticamente significativas ou problemáticas. Existe a necessidade de educação continuada com direcionamento para a formação de especialistas em saúde da família objetivando a humanização do cuidado [7].

A comunicação

Os conflitos relacionados à falta de comu-nicação foi relatado pelo técnico T3: “Falta de comunicação”.

A comunicação qualificada entre a equipe de enfermagem e usuário poderia reduzir conflitos éticos na atenção básica e favorecer a condução satisfatória de uma relação terapêutica e ética [4]; sendo essencial uma linguagem clara e acessível para a resolução dos conflitos éticos e bioéticos no atendimento de famílias [15].

O acolhimento com uma escuta ativa, qua-lificada e resolutiva é um fator primordial para orientar o atendimento e o encaminhamento adequado, conduzindo a uma maior resolubi-lidade dos problemas enfrentados; o diálogo é considerado como um elemento de mediação entre os sujeitos da rede de atenção à saúde [6].

A partir dos princípios que norteiam a ética profissional, considera-se de extrema relevância um bom relacionamento e comunicação interpessoal da equipe de enfermagem para o estabelecimento de melhor resolução de conflitos e dilemas no processo de trabalho na atenção básica.

Assistência à comunidade

Os desafios relacionados ao atendimento da comunidade na atenção básica foi relatado pelo técnico T4:

T4: “Dilemas que eu enfrento, as pessoas precisam de consultas e o atendimento é limi-tado. Os conflitos, é que o médico só atende as 16 fichas, e só atende 2 vezes por semana. Falta de mais consultas na unidade, necessidade de um dentista e um ginecologista”.

Na atenção básica convive-se com um pro-blema que afeta vários municípios que é a falta de médicos e especialistas, e os poucos que têm não cumprem o horário. Mas, por outro lado, falta também uma escuta mais qualificada, uma consulta de enfermagem feita de forma correta, diminuindo assim de forma considerável a demanda para médico clínico geral ou especialista.

Em estudo de Siqueira-Batista et al. [17], Aran-tes et al. [20] com a equipe atuante na Estratégia Saúde da Família constataram problemas éticos relacionados as dificuldade de acesso dos usuários aos serviços de saúde. O acesso aos serviços de saúde pode ser avaliado na perspectiva do princípio da integralidade, equidade e justiça conforme diretriz do Sistema Único de Saúde [21]. A falta de recursos humanos, apontada como um problema ético da Atenção Básica pode comprometer a qualidade do cuidado [4].

Não vivenciar dilemas éticos na profissão

O técnico de enfermagem T2 não vivenciou dilemas éticos na prática profissional, em virtude do bom relacionamento interpessoal estabelecido pela equipe multiprofissional da atenção básica:

T2: “Não tenho como responder, na unidade de saúde onde trabalho não tem problemas relacionados a ética, equipe é muito boa. Até o momento não passei por nenhum problema ou conflito ético”.

A equipe multidisciplinar da atenção básica enfrenta na construção dos vínculos entre si e com as pessoas da coletividade, uma série de questões éticas, que podem passar despercebidas, deixando de ser identificadas [17].

Page 21: BRASIL - irp-cdn.multiscreensite.com · Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine Kareny da Silva, Mônica Oliveira Rios, ... (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

19

Enfermagem BRASIL

Ano 2017 - Volume 16 - Número 1

A reflexão sobre bioética requer o auxílio de conceitos fundamentais da ética [22], no entanto os aspectos éticos da atenção à saúde nem sempre são visíveis aos gestores, usuários e trabalhadores da área da saúde resultando em danos a atenção, especialmente no que se refere ao vínculo e corres-ponsabilização pela saúde [6,7,22].

O enfrentamento dos conflitos e dilemas éticos pela equipe de enfermagem

O diálogo e a humanização do cuidado são imprescindíveis para preservar a ética no relacio-namento com a equipe, paciente e família. Desta forma, a equipe de enfermagem enfrenta os conflitos e dilemas éticos vivenciados no processo de trabalho na atenção básica a partir do diálogo, com questio-namentos, debates e buscando a humanização:

E1: “A única maneira de enfrentamento é através de diálogo com a equipe”.

E2: “De forma clara e humanizada, cada paciente tem o direito de ser preservado; a fofoca é algo que não temos controle”.

T1: “Questionando e debatendo as falhas”.

T2: “Não passo por nenhum conflito ético na minha unidade de saúde, mas acredito que através do diálogo seria possível resolver”.

T4: “De forma agradável, fazendo com que as pessoas entendam que é uma norma a ser cumprida”.

Em estudo de Chaves e Massarollo [5], os enfermeiros levam em conta os seus valores, a ética profissional, a empatia e o diálogo com a equipe para tomar decisões frente às situações dilemáticas. Ainda em pesquisa de Caetano et al. [15] ressal-taram a necessidade de discussão dos casos pela equipe para promover a humanização do cuidado na atenção básica.

Não se pode perder de vista que as pessoas são diferentes, com valores, pontos de vistas e crenças individuais e coletivas distintas, que precisam ser respeitadas e consideradas em um ambiente de diálogo e de comprometimento de todo o grupo [21]. Os fundamentos do agir ético da equipe de enfermagem se pauta nas concepções de vida, valo-

res, crenças, desejos, motivações, intencionalidades, necessidades e possibilidades, perpassando o diálogo aberto, crítico, reflexivo e consensual [1].

Para o técnico de enfermagem T3 faz-se neces-sário reuniões e capacitação sobre ética no processo de trabalho para o necessário enfrentamento dos dilemas vivenciados: T3: “Reuniões semestrais e cursos de capacitação”.

O estudo de Schaefer e Junges [13] demons-trou a necessidade de promover iniciativas edu-cacionais e organizacionais, como ferramenta de enfrentamento dos dilemas e conflitos éticos no processo de trabalho em enfermagem para melhorar a qualidade do cuidado em atenção primária à saúde. Os profissionais indicam a formação como recurso de enfrentamento das questões éticas na atenção básica, valorizando discussões formais, informais, reflexão individual, em equipe e tempo para a dis-cussão das questões éticas [4].

De acordo com Oguisso e Zobolli [2] não se pode esquecer que a análise de um dilema ético depende das concepções e dos valores adquiridos pautados nos conhecimentos e nas suas experiências acumuladas ao longo da nossa história. Essas con-cepções e valores não são destituídos das influencias do meio, pois todo conhecimento e experiência ad-quiridos foram vivenciados como possibilidades no mundo, ou seja, foram compartilhados pelas nossas reflexões e ações. O ser ético vai além das concepções de valores aceitos como verdade, é também olhar para além da situação conflituosa ou do dilema ético, e constatar que talvez, as concepções e os valores estejam inadequados para aquela circunstância e que precisariam ser revistos.

Conforme o estudo realizado por Martins et al. [21] com profissionais da atenção básica, em Pelotas-RS, para a resolução de conflitos a equipe de trabalho precisa ser maleável, receptiva e adaptável às contínuas modificações que ocorrem nos serviços de saúde, com a formação de vínculos. A abordagem dos conflitos e dilemas éticos na esfera de cuidado à saúde necessita da incorporação dos conceitos éticos à ação do profissional de modo a embasar as decisões de forma autônoma e prudente [8].

O diálogo e a humanização do cuidado é base essencial para o enfrentamento dos dilemas éticos, sendo extremamente necessária a capaci-tação e sensibilização da equipe de enfermagem para questões que envolvem a ética, o exercício profissional e os conflitos vivenciados na atenção básica.

Page 22: BRASIL - irp-cdn.multiscreensite.com · Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine Kareny da Silva, Mônica Oliveira Rios, ... (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

20

Enfermagem BRASIL

Ano 2017 - Volume 16 - Número 1

Para uma tomada de decisão autônoma por parte da equipe de enfermagem, é preciso avaliar, primordialmente, os fundamentos éticos no próprio Código de Ética no que tange a responsabilidades, direitos e deveres [1]. É imprescindível refletir sobre os princípios éticos que norteiam cada ação, pois os valores não são absolutos e as questões éticas não contêm fórmulas matemáticas com respostas exa-tas e fechadas. Nem todo dilema ou conflito ético pode ser resolvido pela técnica. Neste contexto, o profissional de enfermagem deve refletir e diante de um conflito procurar conhecer a situação com cuidado, levando em conta os recursos disponíveis, tanto humanos como materiais [2].

O desenvolvimento da ciência, as regras do mercado, as leis civis e penais e as normas deon-tológicas das profissões de saúde nem sempre dão respostas aos problemas éticos, que se manifestam em muitos aspectos do trabalho. Sobretudo os con-flitos entre valores e interesses diferentes, nenhum desses é capaz de anular os demais, pois cada um pode apresentar uma justificativa legítima [2].

Os códigos de ética devem ajustar-se, conti-nuamente, às situações novas que as transformações sociais e científicas suscitam a cada momento [1]. O profissional de enfermagem deve dispor de sólidos princípios éticos para agir perante os frequentes dilemas éticos que integram o cuidado [2].

A competência ética é algo que está sempre em construção e mostra que ações com foco na ética devem ser constantes e transversais, tanto no âmbito do ensino quanto da prática [13]. Neste contexto é necessário que os profissionais de enfermagem tenham uma maior fundamentação teórica dos conjuntos de princípios éticos que compõem a base necessária para o delicado processo de tomada de decisão [5].

Conclusão

Os dilemas enfrentados pela equipe de enfer-magem envolvem fatores relacionados ao sigilo das informações; dificuldades inerentes à comunicação e ao acesso dos usuários aos serviços de saúde.

O enfrentamento dos conflitos e dilemas éticos pela equipe de enfermagem é realizado a partir do diálogo, com questionamentos, debates e buscando a humanização do cuidado no proces-so de trabalho na atenção básica. O diálogo e a humanização do cuidado são imprescindíveis para preservar a ética do cuidado. A equipe considera

necessárias reuniões e capacitação sobre ética no processo de trabalho para o adequado enfrenta-mento dos dilemas vivenciados.

Para o enfrentamento destes dilemas é essencial o conhecimento do Código de Ética da profissão, nesta perspectiva sugere-se uma capacitação/sensi-bilização para refletir sobre o processo de trabalho e as condutas necessárias para a efetivação da ética na atenção básica. É fundamental que a equipe de enfermagem promova discussões sobre os dilemas enfrentados e as condutas éticas requeridas no processo de trabalho, buscando a humanização e a qualidade do cuidado na atenção básica.

Referências

1. Freitas GF, Oguisso T, Fernandes MFP. Fundamentos éticos e morais na prática de enfermagem. Enfermagem em Foco 2010;1(3):104-8.

2. Oguisso T, Zoboli E. Ética e Bioética: Desafios para a enfermagem e a saúde. São Paulo: Manole; 2006. 233 p.

3. Pires DE, Bellaguarda MGR, Matos, ATZE, eds. Consolidação da Legislação e ética Profissional. Flo-rianópolis: Coren-SC; 2013. 132 p.

4. Nora CRD, Zoboli ELCP, Vieira M. Problemas éticos vivenciados por enfermeiros na atenção primária à saúde: revisão integrativa da literatura. Rev Gaúcha Enferm 2015;36(1):112-21.

5. Chaves AAB, Massarollo MCKB. Percepção de enfer-meiros sobre dilemas éticos relacionados a pacientes terminais em Unidades de Terapia Intensiva. Rev Esc Enferm USP 2009;43(1):30-6.

6. Simas KBF, Simões PP, Gomes AP, Costa AAZ, Pereira CG, Siqueira-Batista R. (Bio)ética e Atenção Primária à Saúde: estudo preliminar nas Clínicas da Família no município do Rio de Janeiro, Brasil. Ciênc Saúde Coletiva 2016;21(5):1481-90. 

7. Lima CA, Oliveira APS, Macedo BF, Dias OV, Costa SM.  Relação profissional-usuário de saúde da famí-lia: perspectiva da bioética contratualista. Rev Bioét 2014;22(1):152-60.

8. Vidal SV, Gomes AP, Maia PM, Gonçalves LL, Rennó L, Motta LCS, Siqueira-Batista R. A bioética e o traba-lho na estratégia saúde da família: uma proposta de edu-cação. Rev Bras Educação Médica 2014;38(3):372-80. 

9. Brasil. Conselho Nacional de Saúde. Resolução nº 510, de 07 de abril de 2016. [acesso em 2016 out. 30]. Disponível em: URL:

10. http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/2016/Reso510.pdf.

11. Silva AH, Fossá MIT. Análise de conteúdo: exemplo de aplicação da técnica para análise de dados qualitativos. Qualit@s Rev Eletrônica 2015;17(1):1-14.

12. Amado J, ed. Manual de investigação qualitativa em educação. 2 ed. Coimbra: Universidade de Coimbra; 2014.

13. Zoboli ELCP. Bioética e atenção básica: para uma clínica ampliada, uma Bioética clínica amplificada. O Mundo da Saúde São Paulo 2009;33(2):195-204.

Page 23: BRASIL - irp-cdn.multiscreensite.com · Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine Kareny da Silva, Mônica Oliveira Rios, ... (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

21

Enfermagem BRASIL

Ano 2017 - Volume 16 - Número 1

14. Schaefer R, Junges JR. A construção da competência ética na percepção de enfermeiros da Atenção Primária. Rev Esc Enferm USP 2014;48(2):329-34. 

15. Cardoso CML. Vivência do sofrimento moral na Es-tratégia de Saúde da Família: visão dos profissionais. [Dissertação]. Belo Horizonte: Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais; 2015.110 p.

16. Caetano PS, Feltrin JO, Soratto J, Soratto MT. Condu-ta do enfermeiro frente aos conflitos éticos e bioéticos em área vulnerável na ESF. Rev Saúde e Pesquisa 2016; 9(2):349-360.

17. Junges JR, Zóboli ELCP, Schaefer R, Nora CRD, Basso M. Validação da compreensibilidade de um ins-trumento sobre problemas éticos na atenção primária. Rev Gaúcha Enferm 2014;35(1):148-56.

18. Siqueira-Batista R, Gomes AP, Motta LCS, Rennó L, Lopes TC, Miyadahira R, et al . (Bio)ética e Estraté-gia Saúde da Família: mapeando problemas. Saude Soc 2015; 24(1):113-28. 

19. Veloso DO, Xavier GLM, Andrade BTL, Souza SLP, Freitas RAL, Melo CS. El secreto profesional y su importancia en la práctica de los enfermeros y odon-tólogos. Rev Bioét 2013;21(3):448-54.

20. Seoane AF, Fortes PAC. Percepção de médicos e enfer-meiros de unidades de assistência médica ambulatorial sobre humanização nos serviços de saúde. Saúde Soc São Paulo 2014;23(4):1408-16.

21. Arantes LJ, Shimizu HE, Merchán-Hamann E. Con-tribuições e desafios da Estratégia Saúde da Família na Atenção Primária à Saúde no Brasil: revisão da litera-tura. Rev Ciência & Saúde Coletiva 2016;21(5):1499-1509.

22. Martins AR, Pereira DB, Nogueira MLSN, Pereira CS, Schrader GS, Thoferhn, MB. Relações interpessoais, equipe de trabalho e seus reflexos na atenção básica. Rev Bras Educação Médica 2012;36(1, Suppl. 2):6-12. 

23. Vidal SV, Motta LCS, Gomes AP, Siqueira-Batista R. Problemas bioéticos na Estratégia Saúde da Família: reflexões necessárias. Rev Bioét 2014;22(2):347-57.

Assine já!

Tel: (11) 3361-5595 | [email protected]

EnfermagemB R A S I L

Page 24: BRASIL - irp-cdn.multiscreensite.com · Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine Kareny da Silva, Mônica Oliveira Rios, ... (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

22

ARTIGO ORIGINAL

Verificação do conhecimento dos agentes comunitários de saúde de unidades de saúde da família do município de Brumadinho/MG, após

intervenção educativa em diabetes

Roberta Bárbara Gomes Fonseca, M.Sc.*

*Enfermeira Referência Técnica em Estomaterapia, Especialista em Gerência dos Cuidados de Enfermagem no Programa de Saúde da Família pela PUC de Betim

ResumoObjetivo: Verificar o conhecimento dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) no pré-teste e no pós-teste, após intervenção educativa em Diabetes (DM). Material e métodos: Trata-se de um estudo qualitativo e epidemiológico, junto aos 41 Agentes Comunitários de Saúde, de 6 Unidades de Saúde da Família (USF’s), do Município de Brumadinho/MG. Para a coleta de dados foi utilizado o Diabetes Knowledge Questionnaire (DKN-A) para avaliação do conhecimento dos profissionais, tanto no pré-teste, quanto no pós-teste, após uma abordagem educacional em DM. Resultados: Comparando-se a porcentagem de acertos por questão, observou-se uma alta porcentagem de acertos em geral e um aumento significativo de acertos no pós-teste. Comparando-se os escores finais do pré-teste com o pós-teste, foi constatado um bom conhecimento por parte dos ACS, visto que foi obtido um escore > 8, ou seja, 10,0 e 11,1 no pré-teste e no pós-teste respectivamente. Conclusão: Diante dos resultados apresentados, conclui-se o quanto é importante a realização de programas e ações educativas permanentes e continuadas em saúde, tanto para os profissionais de saúde, quanto para os pacientes.

Palavras-chave: diabetes mellitus, agentes comunitários de saúde, saúde da família, conhecimento.

AbstractKnowledge verification of community health agents of health family units in Brumadinho city, after educational intervention in diabetesObjective: To verify the knowledge of the Community Health Agents in pre-test and post-test, after an educational intervention in diabetes. Methods: This is a qualitative and epidemiological study, together with the 41 Community Health Agents of 6 Family Health Units, in the city of Brumadinho/MG. To collect data, the Diabetes Knowledge Questionnaire (DKN-A) was used to evaluate the professionals knowledge, both in pre-test and post-test, after an educational approach in diabetes. Results: Comparing the percentage of correct answers per question, a high percentage of correct answers was

Recebido em 27 de junho de 2016; aceito em 13 de fevereiro de 2017. Endereço para correspondência: Roberta Bárbara Gomes Fonseca, Rua Galena, 140 Centro 31110-400 Brumadinho MG,

E-mail: [email protected]

Page 25: BRASIL - irp-cdn.multiscreensite.com · Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine Kareny da Silva, Mônica Oliveira Rios, ... (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

23

Enfermagem BRASIL

Ano 2017 - Volume 16 - Número 1

observed in general and a significant increase of correct answers in the post-test. Comparing the final scores of the pre-test with the post-test, it was verified a good knowledge by the agents, with a score > 8, that is, 10.0 and 11.1 in the pre-test and post-test respectively. Conclusion: In view of the presented results, it is concluded how important is permanent and continuing educational programs and actions in health, both for health professionals and patients.

Key-words: diabetes mellitus, community health workers, family health, knowledge.

ResumenVerificación de los conocimientos de los agentes comunitarios de salud de unidades de salud de la familia en la ciudad de Brumadinho, después de intervención educativa en diabetesObjetivo: Evaluar el conocimiento de los agentes comunitarios de salud en el pre-test y post-test, después de la intervención educativa sobre diabetes. Material y métodos: Se trata de un estudio cualitativo y epidemiológico, junto con los 41 Agentes Comunitarios de Salud, de 6 Unidades de Salud Familiar, en el municipio de Brumadinho, Minas Gerais. Para la recolección de datos se utilizó el Cuestionario de Conocimiento en Diabetes (DKN-A) para evaluar el conocimiento de los profesionales, tanto en el pre-test, como en el post-test, después de un enfoque educativo en la diabetes. Resultados: Comparando el porcentaje de respuestas correctas por pregunta, se observó un alto porcentaje de respuestas correctas en las puntuaciones generales y significativamente más altos en el post-test. En la comparación de los resultados finales del pre-test con el post-test, se encontró buen nivel de conocimiento por parte de los agentes, ya que se obtuvo una puntuación superior a 8, es decir, 10.0 y 11.1 en el pre-test y post-test, respectivamente. Conclusión: En vista de los resultados presentados, es evidente la importancia de los programas y actividades educativas permanentes y continuas en la salud, tanto para los profesionales de la salud como para los pacientes.

Palabras-clave: diabetes mellitus, agentes comunitarios de salud, salud de la familia, conocimiento.

Introdução

Por se tratar de uma doença de grande preva-lência e incidência, considera-se o Diabetes Melli-tus (DM) como sendo um importante problema de saúde pública, uma vez que é frequente a sua ocorrência, e que está associada a complicações que comprometem a produtividade, a qualidade de vida e sobrevida dos indivíduos, além de envolver altos custos no seu tratamento e de suas compli-cações. Medidas de prevenção do DM assim como das suas complicações, são eficazes em reduzir o impacto desfavorável sobre morbimortalidade des-tes pacientes. Segundo as Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes [1], intervenções no estilo de vida com ênfase em alimentação saudável e prática regular de atividade física reduzem a incidência do DM 2 (recomendação grau A), assim como o bom controle metabólico do DM previne o surgimento ou retarda suas complicações crônicas (recomen-dação grau A).

A incidência e a prevalência estão aumentando, em particular do DM tipo 2, alcançando proporções epidêmicas e atingindo a população na idade entre 30 e 69 anos [2,3].

O DM é um problema de saúde considerado sensível a Atenção Primária, ou seja, evidências demonstram que um bom manejo deste problema, ainda na Atenção Básica, evita hospitalizações e mortes por complicações cardiovasculares e cere-brovasculares [1,4-7].

No Sistema Único de Saúde (SUS) pessoas com DM, são acompanhadas em sua maioria por Equipes de Saúde da Família, através dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS’s). Neste contexto a Estratégia de Saúde da Família (ESF) é de impor-tância fundamental no desenvolvimento de ações de controle do DM, atuando na promoção, recupera-ção e reabilitação das pessoas com DM.

O ACS é elemento essencial na Equipe de Saúde da Família, pois, além de pertencer à comu-nidade onde exerce as suas atividades, é o principal elo integrador entre comunidade e Unidade de Saúde da Família [8].

O profissional ACS realiza atividades de pre-venção de doenças e promoção da saúde, por meio de ações educativas em saúde, realizadas em domi-cílios ou junto às coletividades, em conformidade com os princípios e diretrizes do SUS; estende, também, o acesso da população às ações e serviços

Page 26: BRASIL - irp-cdn.multiscreensite.com · Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine Kareny da Silva, Mônica Oliveira Rios, ... (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

24

Enfermagem BRASIL

Ano 2017 - Volume 16 - Número 1

Como critérios de inclusão: ACS das USF da Zona Urbana, USF completas em relação ao número de ACS; e como critérios de exclusão: ACS das USF da zona rural, unidades incompletas em relação ao número de ACS como, por exemplo, ACS de licença à maternidade ou por motivo de doença, ausência de ACS por falta de contrato em uma das micro áreas de abrangência, ou férias.

Após a inserção nos campos de estudo deu-se início a coleta de dados através do questionário, posteriormente à assinatura do Termo de Consen-timento Livre e Esclarecido (TCLE). O presente estudo foi submetido ao Comitê de Ética e Pesqui-sa da Santa Casa de Belo-Horizonte (CEP) para apreciação. O estudo foi aprovado sem restrições, enquadrando-se perfeitamente dentro dos precei-tos da ética para o manuseio de dados referentes a seres humanos.

Todos os entrevistados foram orientados acerca dos objetivos do estudo e assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido antes do início do preenchimento dos questionários.

Como método para avaliar o conhecimento específico sobre DM e cuidados referentes à do-ença, utilizou-se o questionário DKN-A (Tabela I). Embora este questionário seja para aplicação às pessoas com DM, torna-se necessária aplicação aos ACS’s, para que eles tenham a percepção das ações de cuidados que o portador de DM deve realizar diariamente, tornando-se também um instrumento de check-list para os ACS no momento de suas visitas e acompanhamentos.

O Questionário DKN-A (Tabela I), é um questionário autoaplicado, com 15 itens de res-postas de múltipla escolha acerca de diferentes aspectos relacionados ao conhecimento geral do DM. Apresenta cinco amplas categorias: fisiologia básica, incluindo a ação da insulina; hipoglicemia; grupos de alimentos e suas substituições; geren-ciamento do diabetes na intercorrência de alguma outra doença, e princípios gerais dos cuidados da doença. A escala de medida é de 0-15 e cada item é aferido com escore 1 para resposta correta e 0 para incorreta. Os itens de 1 a 12 requerem uma única resposta correta. Para os itens de 13 a 15 somente algumas respostas são corretas e todas devem ser conferidas para obter o escore 1. Um escore maior que oito indica conhecimento acerca do DM. Este questionário foi traduzido para a língua portuguesa e validado no Brasil [11].

de informação, de saúde, promoção social e de proteção da cidadania.

Além da ampliação da cobertura, o ACS é também importante agente social, introduzido nos municípios brasileiros a partir dos anos 1990. Apesar disso, não há muitos estudos que, dentro de uma perspectiva antropológica, busquem apreender de que modo o ACS contribui, na prática, para im-portantes mudanças sociais e de comportamento na população [9].

Este trabalho foi realizado com a finalidade de avaliar o conhecimento dos ACS, antes e após uma intervenção de orientação e esclarecimento sobre DM, sobre o quanto é importante o acompanhamento e visitas mensais aos pacientes portadores de DM. Vale destacar também a importância da função dos mesmos na educação e prevenção da DM junto à população.

Porém observa-se que há carência de instrumentos para mensurar os conhecimentos e atitudes sobre DM. Além disso, há necessidade de se avaliar os efeitos do processo educativo em DM no Brasil, a partir dos resultados da escala dos conhecimentos e atitudes em relação à doença. Dessa forma, pretende-se contribuir para a melhoria do autogerenciamento dos cuidados e da repercussão no bem-estar do indivíduo [10].

Após uma abordagem educacional em DM, espera-se que os ACS possam intervir de forma a influenciar direta e indiretamente na qualidade de vida dos portadores de DM, mostrando que a capacitação desses ACS’s é de fundamental impor-tância para que os mesmos possam orientar de forma adequada os seus pacientes.

Diante do exposto propõe-se aprofundar a in-vestigação de algumas variáveis relacionadas ao dia a dia dos Agentes Comunitários de Saúde sobre DM. Espera-se que este estudo possa fornecer subsídios para melhor compreensão dos aspectos relacionados ao processo de trabalho, perfil e conhecimento dos ACS em relação à educação em DM.

Material e métodos

Este estudo constitui-se de uma abordagem descritiva e qualitativa, realizada junto aos 41 ACS de 06 USF da Zona urbana do Município de Bru-madinho. As unidades selecionadas de acordo com os critérios e inclusão e exclusão foram: Unidades de Saúde da Família (USF) Jota, Residencial Bela Vista, Progresso, Grajaú, Centro e Santa Efigênia, do Município de Brumadinho/MG.

Page 27: BRASIL - irp-cdn.multiscreensite.com · Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine Kareny da Silva, Mônica Oliveira Rios, ... (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

25

Enfermagem BRASIL

Ano 2017 - Volume 16 - Número 1

Tabela I - Versão Brasileira do Questionário Diabetes Knowledge Questionnaire (DKN-A).

Instruções para o preenchimento do questionário abaixo:Este é um pequeno questionário para descobrir o quanto você sabe sobre diabetes. Se souber a resposta certa, faça um círculo em frente dela. Se não souber a resposta, faça um círculo em volta da letra à frente de “não sei”.

1 - No diabetes sem controle, o açúcar no sangue é?A. Normal; B. Alto; C. Baixo; D. Não sei.

2 - Qual dessas afirmações é verdadeira?A. Não importa se diabetes não está sob controle, desde que a pessoa não entre em coma;B. É melhor apresentar um pouco de açúcar na urina para evitar a hipoglicemia;C. O controle mal feito do diabetes pode resultar em uma chance maior de complicações mais tarde.D. Não sei.

3 - A faixa de variação normal de glicose no sangue é:A. 70 a 110 mg/dl;B. 70 a 140 mg/dl;C. 50 a 240 mg/dl;D. Não sei.

4 - A manteiga é composta principalmente de:A. Proteínas; B. Carboidratos; C. Gorduras;D. Minerais e Proteínas; E. Não sei.

5 - O arroz é composto principalmente de:A. Proteínas; B. Carboidratos;C. Gordura; D. Minerais e proteínas; E. Não sei.

6 - A presença de cetonas na urina é:A. Um bom sinal; B. Um mal sinal;C. Encontrado normalmente em quem tem Diabetes;D. Não sei.

7 - Quais das possíveis complicações abaixo não estão geralmente associadas ao diabetes?A. Alterações visuais; B. Alterações nos rins; C. Alterações nos pulmões; D. Não sei.

8 - Se uma pessoa que está tomando insulina apresenta uma taxa alta de açúcar no sangue ou na urina, assim como a presença de cetonas, ele deve:A. Aumentar a insulina;B. Diminuir a insulina;C. Manter a mesma quantidade de insulina e fazer um exame de urina e de sangue mais tarde;D. Não sei

9 - Se uma pessoa com diabetes está tomando insulina e fica doente ou não consegue comer a dieta receitada:A. Ela deve parar de tomar a insulina imediatamente;B. Ela deve continuar tomando a insulina;C. Ela deve tomar hipoglicemiante oral para diabetes em vez de insulina; D. Não sei.

10 – Se você sente que a hipoglicemia está começando, você deve:A. Tomar insulina ou hipoglicemiante oral imediatamente;B. Deitar-se e descansar imediatamente;D. Comer ou beber algo doce imediatamente; C. Não sei.

11- Você pode comer o quanto quiser dos seguintes alimentos:A. Maçã; B. Alface e agrião; C. Carne; D. Mel; E. Não sei;

12 - A hipoglicemia é causada por:A. Excesso de insulina; B. Pouca insulina;C. Pouco exercício; D. Não sei.

Atenção: para as próximas perguntas haverá 02 respostas corretas.

13 - Um quilo é:A. Uma unidade de peso; B. Igual a 1.000 gramas;C. Uma unidade de energia; D. Um pouco mais de 2 gramas; E. Não sei.

14 – Duas das seguintes substituições estão corretas:A. Um pão francês é igual a 4 biscoitos de água e sal;B. Um ovo é igual a uma porção de carne moída;C. Um copo de leite é igual a 1 copo de suco de laranja;D. Uma sopa de macarrão é igual a uma sopa de legu-mes; E. Não sei.

15 – Se eu não estiver com vontade de comer o pão fran-cês permitido na dieta para o café da manhã, eu posso:A. Comer 4 biscoitos de água e sal;B. Trocar por dois pães de queijo médios;C. Comer uma fatia de queijo;D. Deixar prá lá;E. Não sei.

Fonte: Tradução da autora adaptado da versão em inglês de Beeney, Dunn e Welch [11].

Page 28: BRASIL - irp-cdn.multiscreensite.com · Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine Kareny da Silva, Mônica Oliveira Rios, ... (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

26

Enfermagem BRASIL

Ano 2017 - Volume 16 - Número 1

serviços de referência, dentre outros, contribuindo, assim, para o melhor acompanhamento mensal às pessoas com DM [13].

Dessa forma, foi escolhida a proposta de trabalhar com os ACS das USF na modalidade de intervenção educativa sobre DM. O envolvimento e a participação mostraram-se apropriados para ge-rar uma reflexão sobre a realidade vivenciada pelos profissionais das USF’s em suas áreas de abrangência, assim como a construção de conhecimento e for-mação do pensamento crítico e emancipatório dos profissionais de saúde envolvidos no atendimento em DM nas USF [14,15].

Neste sentido, destaca-se o papel dos ACS como agente de mudança sociocultural e na educa-ção em DM, visto que é esse profissional que está em contato direto com os pacientes com DM.

Analisando os resultados relacionados ao co-nhecimento (DKN-A) e de acordo com o número de erros e acertos no geral e por questão, obtivemos um escore maior que 08, mostrando a efetividade das intervenções educativas e alcance do objetivo proposto para este estudo. Observou-se um grande número de acertos, no geral nas questões 02, 04, 05, 10, 11, 13 e 15 e um aumento significativo de acertos no pós-teste especialmente nas questões 03, 07, 09, 10, 11, 14 e 15. Porém, o número de erros nas questões 02, 04 e 06 foi maior no pós-teste e o número de erros nas questões 06, 08, 12 e 14 foram superiores ao número de acertos tanto no pré-teste, quanto no pós-teste, visto o uso de termos científicos tais como cetona e hipoglicemia. Nas questões 01, 05, 08 e 12, o número de erros e acertos não apre-sentou alterações do pré-teste para o pós-teste. Vale destacar que apenas 1 ACS acertou as 15 questões do questionário no pós-teste.

Quando comparamos no geral a proporção de erros e acertos no pré-teste e pós-teste, analisando questão por questão, observamos que um valor p significativo foi encontrado nas questões 06, 08, 09, 11, 12, 13 e 14, indicando um bom resultado final em 09 das 15 questões propostas.

Conforme a distribuição dos escores finais pré-teste e pós-teste, já no pré-teste apresentou um resultado significativo, com um escore maior que 8, bem como na distribuição final dos escores finais pré-teste e pós-testes dos domínios fisiologia básica + hipoglicemia e domínios alimentos e substitui-ções, que apresentaram um valor estatisticamente significativo (Tabela II).

Para a apresentação dos resultados e análises descritivas, qualitativas e quantitativas utilizou-se software estatístico SPSS (Statistical Package for Social Sciences) versão 20.0, 2012 e os testes de Fisher, Qui-quadrado, a correlação de Person, teste Anova, e testes Wilcoxon e Kruskal-Wallis, para verificar a possível associação entre variáveis qua-litativas e quantitativas e comparação das médias dos grupos. Foi estabelecido o nível de significância (p > 0,05) para verificar a possível associação entre as variáveis.

Ressalta-se que as categorias foram agrupadas em domínios. Os domínios a) fisiologia básica, incluindo a ação da insulina, e b) hipoglicemia em um só domínio, correspondendo às questões 1,2,3,6,7,8,9 e 10, e domínio c) grupo dos alimen-tos e substituições, correspondendo às questões 4,5,11,13,14 e 15.

As informações coletadas adquirem relevân-cia prática para possibilitar uma padronização de condutas e elaboração de estratégias para maior efetividade das ações no controle do DM.

A coleta de dados iniciou-se em 27/02/2013 e terminou em 27/06/2013.

As USF pesquisadas possuem de 5 a 8 ACS.

Resultados e discussão

No presente estudo, entende-se o quanto é importante a educação aos profissionais ACS para que através da transmissão dos conhecimentos obtidos às pessoas com DM possam promover mudanças de atitude como a predisposição para a adoção de ações de autocuidado nestes pacientes [12]. Portanto, espera-se que os ACS sejam capaz de esclarecer a comunidade sobre os fatores de risco para o DM; identificar, na população em geral, pessoas com o risco para DM tipo II; verificar o comparecimento dos pacientes com DM e HA (Hipertensão Arterial) às consultas agendadas na unidade de saúde; verificar a presença de sintomas e/ou queda do açúcar no sangue e encaminhar para a consulta externa; perguntar se a pessoa com DM está tomando com regularidade os medicamentos e se estão cumprindo as orientações de dieta, ativi-dades físicas, controle de peso, cessação do hábito de fumar e ingestão de água e bebidas alcoólicas; registrar na ficha de acompanhamento o diagnósti-co de DM de cada membro da família; encaminhar as solicitações de exames complementares para

Page 29: BRASIL - irp-cdn.multiscreensite.com · Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine Kareny da Silva, Mônica Oliveira Rios, ... (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

27

Enfermagem BRASIL

Ano 2017 - Volume 16 - Número 1

Tabela II - Distribuição dos escores finais pré-teste e pós-teste, e distribuição final dos escores finais pré-teste e pós--testes dos domínios fisiologia básica + hipoglicemia e domínios alimentos e substituições.

Variáveis/

ComparaçõesN(%) Média Mediana DP Mín Máx Valor P

Escore totalfinal

Pré-Teste 41 (100%) 10,0 10,0 2,2 5,0 14,0 <0,001

Pós-teste 41 (100%) 11,1 12,0 2,1 5,0 15,0 <0,001

Escore fisiologia básica + hipoglicemia

Pré-teste 41 (100%) 5,4 6,0 1,6 3,0 9,0 <0,001

Pós-teste 41 (100%) 6,2 6,0 1,3 3,0 9,0 <0,001

Escore alimentos e substituiçõespré-teste

Pré-teste 41 (100%) 4,6 5,0 1,1 2,0 6,0 0,031

Pós-teste 41 (100%) 4,9 5,0 1,2 2,0 6,0 0,031

Fonte: Dados da pesquisa. Elaborada pela autora.

4,6 pontos para 4,9 pontos do pré-teste para o pós--teste. A média de proporção de acertos do domínio fisiologia básica + hipoglicemia do pré-teste para o pós-teste aumentou de 59,9% para 69,4%. Obser-vamos um aumento significativo dos resultados do pré-teste para o pós-teste.

Por fim, vale salientar que este estudo pode apresentar limitações metodológicas. Utilizou-se um desenho de pesquisa qualitativo, quantitativo e epidemiológico analítico, o que impossibilita fazer inferências a respeito do efeito do programa educati-vo para a aquisição de conhecimentos e mudança de atitudes dos participantes, bem como fazer generali-zações para outros profissionais e outras populações de pessoas com DM. Os dados foram coletados em 06 USF do Município de Brumadinho, e que provavelmente, tem certas particularidades que não são comuns às outras USF que prestam assistência às pessoas com DM. Apesar dessas limitações, os resultados deste estudo fornecem subsídios impor-tantes para a avaliação de intervenções educativas e de programas de educação continuada e permanente em DM. De especial importância também para os profissionais de saúde, para a prestação de cuidados a pessoas com DM como também para o desenho de estudos futuros com outras metodologias e maior número de participantes.

Conclusão

Espera-se que os resultados e objetivos alcan-çados neste estudo alertem os gestores do quanto é importante um trabalho de educação continuada e permanente em saúde para os profissionais de

Conforme a Tabela II, o escore final do pré--teste teve média 10,0 pontos. Já no pós-teste, a média do escore final foi 11,1 pontos. Os resultados indicam já no pré-teste, um bom conhecimento em relação a DM por parte dos ACS, visto que o escore final foi superior a 8 pontos, representando uma diferença estatisticamente significativa (p < 0,001), indicando um resultado favorável da intervenção educativa.

O escore fisiologia básica + hipoglicemia no pré-teste teve média 5,4 pontos, e a média do esco-re alimentos e substituições foram de 4,6 pontos. Já no pós-teste, a média do escore fisiologia básica foi de 6,2 pontos, e a média do escore alimentos e substituições foi de 4,9 pontos, representando uma diferença estatisticamente significativa (p < 0,001) e (p = 0,031) respectivamente.

O escore do domínio fisiologia básica + hipo-glicemia no pré-teste obteve média 5,4 pontos, e no pós-teste a média foi de 6,2 pontos, indicando uma diferença estatisticamente significativa (p < 0,001). O escore do domínio alimentos e substituições no pré-teste obteve média de 4,6 pontos, e no pós-teste a média foi de 4,9 pontos, indicando também uma diferença estatisticamente significativa (p = 0,031).

Observamos que a média do escore final do pré-teste para o pós-teste apresentou aumento de 10,0 para 11,1 pontos. A média da proporção de acertos final do pré-teste para o pós-teste aumen-tou de 66,3 pontos para 74,3 pontos. A média do escore do domínio fisiologia básica + hipoglicemia do pré-teste para o pós-teste apresentou aumento de 5,4 pontos para 6,2 pontos. A média do escore do domínio alimentos e substituições aumentaram de

Page 30: BRASIL - irp-cdn.multiscreensite.com · Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine Kareny da Silva, Mônica Oliveira Rios, ... (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

28

Enfermagem BRASIL

Ano 2017 - Volume 16 - Número 1

saúde e para os portadores de doenças crônicas, não só em DM.

Conclui-se que a abordagem educacional em DM direcionada aos ACS é eficaz, e a capacitação desses ACS se reflete na melhoria da qualidade do acompanhamento e orientação dos pacientes em relação ao DM. As doenças crônicas, em especial o DM, exigem envolvimento contínuo dos profis-sionais, pacientes e familiares, além de acompanha-mento sistematizado com enfoque de vários aspectos da assistência à saúde. Nesse contexto, o DM, com suas especificidades e peculiaridades faz do paciente o principal responsável pelo manejo da doença, por meio das atividades de autocuidado, desde que bem orientados pelos profissionais de saúde, principal-mente pelos ACS.

Destaca-se o quanto importante é a educação em saúde e em DM. Para isso, é necessária a forma-ção, educação e atuação contínua, da equipe inter-disciplinar em conjunto com as pessoas com DM e a sociedade civil organizada. A atenção primária à saúde deve estar capacitada para realização de práticas educativas dialógicas e reflexivas, que valo-rizem o nível cultural das pessoas. Adicionalmente, os profissionais envolvidos precisam aprimorar suas habilidades de aconselhamento e comunicação.

Ficou evidente que os ACS possuem bom co-nhecimento relativo ao DM, e que estes têm papel fundamental na orientação aos pacientes portado-res de DM durante as visitas e acompanhamentos mensais.

Referências

1. Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD). Oliveira JEP, Vencio S, eds. Diretrizes da Sociedade Brasileira de Dia-betes: 2013-2014. [internet] São Paulo: AC Farmacêu-tica, 2014. [citado 2015 Jan 15]. Disponível em URL: http://www.nutritotal.com.br/files/342=diretrizessbd.pdf.

2. Gagliardino JJ, Hera Ml, Siri F. Evaluación de la calidad de la asistencia al paciente diabético en América Latina. Rev Panam Salud Pública 2001;10(5):309-17.

3. Knowler WC, Barrett-Connor E, Fowler SE, Hamman RF, Lachin JM, Walker EA, et al. Reduction in the incidence of type 2 diabetes with lifestyle intervention or metformin. N Engl J Med 2002;346(6):393-403.

4. American College of Sports Medicine. Diretrizes do ACSM para os testes de esforço e sua prescrição. Tradu-

zido por: Giuseppe Taranto. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2010.

5. Minas Gerais. Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais. Subsecretaria de Vigilância em Saúde Supe-rintendência de Epidemiologia. Análise de situação da saúde Minas Gerais. Belo Horizonte: Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais; 2011; 289p.

6. Brasil. Ministério da Saúde. Cadernos de atenção básica, Estratégias para o cuidado da pessoa com do-ença crônica- diabetes mellitus. Brasília: Ministério da Saúde; 2013.

7. American Diabetes Association. Standards of medi-cal care in diabetes - 2014. Diabetes Care 2014;37 Suppl1:S14-80.

8. Brasil. Ministério da Saúde. Guia Prático do Progra-ma Saúde da Família. [internet] Brasília, DF; [2000]. 69p. [citado 2014 Out 12]. Disponível em URL: http://189.28.128.100/dab/docs/publicacoes/geral/guia_pratico_saude_familia_psf1.pdf.

9. Medeiros RLR, Andrade AMBA, Fernandes AFC, Almeida NMGS, Lessa MGG. O agente comunitário de saúde como agente de mudança sociocultural. Ob-servatório de Recursos Humanos em Saúde Estação CETREDE / UFC / UECE. [internet]. Fortaleza; 2006. Disponível em URL: http://www.observarh.org.br/observarh/repertorio/Repertorio_ObservaRH/CETREDE/Agente_comunitario_mudanca.pdf.

10. Torres HC. Avaliação de um programa educativo em diabetes mellitus com indivíduos portadores de diabetes tipo 2 em Belo Horizonte, MG [tese]. Rio de Janeiro: Escola Nacional de Saúde Pública/ Fiocruz; 2004.

11. Beeney LJ, Dunn SM, Welch G. Measurement of diabetes knowledge: the development of the DKN scales. In: Bradley C, ed. Handbook of psychology and diabetes. Amsterdam: Harwood Academic Publishers; 2001. p.159-8.

12. Zanetti ML, Otero LM, Peres DS, Santos MA, Guima-rães FPM, Freitas MCF. Progress of the patients with diabetes mellitus who were managed with the staged diabetes management framework. Acta Paul Enferm 2007;20(3):338-44.

13. Espírito Santo. Secretaria de Estado. Gerência de Re-gulação e Assistência à Saúde Gerência de Vigilância em Saúde Diretrizes para o manuseio da Hipertensão Arterial sistêmica e Diabetes Mellitus na rede de saú-de pública. [internet]. Espírito Santo, Vitória; 2008; 204p. [citado 2016 Out 15]. Disponível em URL: http://www.saude.es.gov.br/download/34698_hiper-tenso_diabetes_miolo.pdf

14. Carneiro F, Agostini M. Oficinas de reflexão: espaço de liberdade e saúde. In: Agostini, M. Trabalho feminino e saúde. Rio de Janeiro: Fiocruz/ENSP/Centro de Es-tudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana; 1994. p.52-83.

15. Clement S. Diabetes self-management education. Diabetes Care1995;18(8):1204-14.

Page 31: BRASIL - irp-cdn.multiscreensite.com · Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine Kareny da Silva, Mônica Oliveira Rios, ... (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

29

ARTIGO ORIGINAL

Saberes e impactos da internação domiciliar: um estudo sob a ótica dos profissionais de saúde

Ana Paula Magalhães*, Magno Conceição das Merces, M.Sc.**, Márcio Costa de Souza, Ft., M.Sc.***, Jaine Kareny da Silva, M.Sc.****, Mônica Oliveira Rios*****, Jessica Lane Pereira Santos******

*Enfermeira, Especialista em Educação Permanente em Movimento, **Enfermeiro e Biólogo, Doutorando em Ciências da Saúde, Professor Auxiliar da Universidade do Estado da Bahia, Salvador/BA, ***Doutorando em Medicina e Saúde Humana, Professor Assistente da Universidade do Estado da Bahia, Salvador, ****Enfermeira, Doutoranda em Enfermagem e Saúde, Professora Assistente da Universidade do Estado da Bahia - Campus XII/Guanambi, *****Enfermeira, Mestrado profissionalizante em Enfermagem, Professora Auxiliar da Universidade do Estado da Bahia - Campus XII/Guanambi, ******Enfermeira, Residente em Terapia Intensiva, Professora Auxiliar da Universidade do Estado da Bahia - Campus XII/Guanambi

ResumoObjetivo: Compreender os saberes e impactos assistenciais da Internação Domiciliar (ID) em um município do sudoeste baiano sob a ótica dos profissionais de saúde deste serviço. Material e métodos: Estudo qualitativo e descritivo realizado com 11 profissionais de saúde da ID. A coleta de dados foi realizada mediante entrevista semiestruturada nos meses de março e abril de 2014, com posterior análise de conteúdo segundo Bardin. Resultados: Os principais saberes estão relacionados ao conceito do programa de ID, critérios de inclusão dos usuários e a sua diferença em relação ao cuidado em ambiente hospitalar. Os principais impactos são: redução de reinternações hospitalares, aumento das vagas de leitos, maior participação dos familiares no cuidado, garantia da equidade e universalidade. Conclusão: O conhecimento da estrutura organizacional da ID pode auxiliar na melhor qualidade de assistência em domicílio, promovendo um cuidar pleno e efetivo.

Palavras-chave: profissionais da saúde, serviços de assistência domiciliar, saúde pública.

AbstractKnowledge and impacts of home hospitalization: a study from the perspective of health professionalsObjective: To understand the knowledge and assistance impacts of Home Hospitalization (HH) in a municipality of the Southwest of Bahia under the perspective of the health professionals of this service. Method: Qualitative and descriptive study carried out with 11 HH health professionals. The data collection was performed through a semistructured interview in the months of March and April 2014, with a subsequent content analysis according to Bardin. Results: The main knowledge is related to the concept of the HH program, inclusion criteria of the users and their difference in relation

Recebido em 24 de janeiro de 2017; aceito em 13 de fevereiro de 2017. Endereço para correspondência: Magno Conceição das Merces, Rua Campo Florido, 204, Mar da Tranquilidade, Feira de

Santana, 44003-366 Bahia BA, E-mail: [email protected],[email protected], [email protected], [email protected], [email protected], [email protected]

Page 32: BRASIL - irp-cdn.multiscreensite.com · Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine Kareny da Silva, Mônica Oliveira Rios, ... (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

30

Enfermagem BRASIL

Ano 2017 - Volume 16 - Número 1

to the care in the hospital environment. The main impacts are: reduction of hospital readmissions, increase of beds vacancies, greater participation of family members in care, guarantee of equity and universality. Conclusion: Knowledge of the organizational structure of HH can help in the best quality of care at home, promoting a full and effective care.

Key-words: health personnel, home care services, public health.

ResumenSaberes e impactos de la hospitalización domiciliaria: un estudio desde la perspectiva de los profesionales de la saludObjetivo: Para entender el conocimiento y el bienestar de los impactos de la hospitalización domiciliaria (HD) en un municipio del sur de Bahia desde la perspectiva de los profesionales sanitarios en este servicio. Material y métodos: Estudio cualitativo y descriptivo con 11 profesionales de la salud HD. La recolección de datos se realizó mediante entrevistas semiestructuradas, en marzo y abril de 2014, con posterior análisis de contenido según Bardin. La investigación fue aprobada por el Comité de Ética de Investigación de la Universidad del Estado de Bahía con el Protocolo número 558697. Resultados: Los principales saberes están relacionados con el concepto del programa HD, criterios de inclusión de los usuarios y su diferencia en relación a la atención en el hospital. Los principales impactos son: la reducción de los reingresos hospitalarios, el aumento de camas vacantes, una mayor participación de la familia en el cuidado, garantía de igualdad y universalidad. Conclusión: El conocimiento de la estructura organizativa de la HD puede ayudar a una mejor calidad de atención en el hogar, promoviendo una atención plena y efectiva.

Palabras-clave: personal de salud, servicios de atención de salud a domicilio, salud pública.

Introdução

As lutas e conquistas resultantes do movimen-to sanitário, ocorrido no Brasil, motivado pelos mais diversos atores sociais e políticos, não foram suficientes para minimizar um dos grandes nós no sistema de saúde, que se conforma na hegemonia do modelo de atenção centrado na figura do médico, com seus múltiplos sinônimos e características pe-culiares voltados à doença e respectivamente a cura, como os termos: hospitalocêntrico, fragmentado, biomédico Flexneriano e mecanicista, voltados para a doença [1].

Nesse sentido, as práticas que seguem na perspectiva interativa e holística surgem como alter-nativas para mudança desse cuidado hospitalocên-trico e biomédico, a fim de desenvolver uma visão multicêntrica, multidisciplinar e interprofissional com o intuito de proporcionar um cuidado integral. Destaca-se neste cenário a Internação Domiciliar (ID) como um modelo de cuidado para atender as necessidades atuais de cuidados permanentes, prevenindo dessa forma as internações hospitalares desnecessárias que expõem usuários a riscos de in-fecções e afastamento de seu ambiente familiar [2].

A ID surge como uma das modalidades alter-nativas à hospitalização, tanto complementar, quan-to substitutiva, que emprega o domicílio como lugar

de cura e cuidado [3]. No âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) a ID representa um conjunto de ações no domicílio das pessoas clinicamente estáveis, que necessitam de cuidados acima das modalidades ambulatoriais, mas que podem ser mantidas em sua própria residência e atendidas por uma equipe profissional específica [4]. A peça fundamental do programa é a interação entre o usuário, a família, o contexto domiciliar, o cuidador e a equipe mul-tiprofissional.

Ao suscitar como objeto de estudo a ID, sentiu--se a necessidade de delimitar o entendimento, já que este serviço de saúde surge como alternativa para a desospitalização necessária, frente à superlotação dos leitos de hospitais na rede SUS, e para minimi-zar riscos associados ao internamento hospitalar, principalmente os de longa duração [5].

A ID objetiva acelerar o processo de reabili-tação do usuário, através da aproximação do am-biente familiar; redução de gastos com internações e reinternações hospitalares e com riscos de infecções hospitalares; diminuir a incidência de depressão por causa da doença; reintegrar o usuário ao seu cotidiano; integrar equipe de saúde da família e usuário, proporcionando melhorias nas condições psicológicas ao doente [6]. Para que esta estrutura de atenção à saúde alcance todos os avanços, me-lhorias e inovações propostas, é necessário uma im-

Page 33: BRASIL - irp-cdn.multiscreensite.com · Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine Kareny da Silva, Mônica Oliveira Rios, ... (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

31

Enfermagem BRASIL

Ano 2017 - Volume 16 - Número 1

Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Éti-ca e Pesquisa da Universidade do Estado da Bahia parecer nº 558.697. Os princípios éticos e morais relacionados à pesquisa que envolve seres humanos foram preservados, conforme preconiza a Resolução nº 466/12 do Conselho Nacional de Saúde.

Resultados e discussão

O domicílio pode ser considerado um local único em que a equipe de saúde presta assistência, considerando os aspectos econômicos, sociais, afeti-vos, as questões históricas e as experiências culturais dos familiares, ou seja, todos os recursos disponíveis, tanto humanos como materiais da pessoa [8]. Para tanto, nesse contexto do cuidado domiciliar, o saber profissional descreve os pilares desse cuidado, apre-sentando seus desafios, limitações e possibilidades de suas ações.

Assim, torna-se imprescindível destacar os saberes dos profissionais de saúde quanto à ID, bem como destacar os critérios de elegibilidade. As falas seguintes das entrevistadas Dália e Orquídea demonstram a compreensão sobre o programa de ID e o desenvolver do cuidado no domicílio:

[...] é quando você permite ao paciente que está internado em hospital, ir “pra” sua casa, e terminar o tratamento em casa, mas é claro que existem algumas regras pra levar esse paciente pra casa, entre elas o paciente não estar grave a ponto de não ter uma assistência 24 horas, ou assim...quando a família con-sente, é caso de câncer por exemplo [...], mas a internação domiciliar é basicamente isso, é dar toda assistência em casa [...] para que ele se sinta bem assistido por uma equipe de saúde [...] (Dália).

É uma modalidade de atenção realizada por uma equipe multiprofissional, específica com a ação de promoção da saúde, prevenção e prestar uma assistência às pessoas com qua-dros clínicos estáveis [...] (Orquídea).

Diante das falas apresentadas, nota-se uma compreensão de que a ID é prestar os cuidados ou assistência à pessoa no domicílio, por uma equipe de saúde multiprofissional. Para que a pessoa pos-sa ser inserida no programa, requerem-se alguns critérios de elegibilidade. Desta forma, é válido

plementação de serviços qualificados, apresentando um processo de trabalho e estrutura que atenda as necessidades integrais dos usuários do programa.

Diante do exposto, o presente estudo tem como objetivo compreender os saberes e impactos assistenciais da ID em um município do sudoeste baiano sob a ótica dos profissionais de saúde deste serviço.

Material e métodos

Estudo de abordagem qualitativa e caráter descritivo, o que se configurou a modalidade mais apropriada para este estudo, frente às especificidades de compreensão quanto aos saberes e impactos na atenção à saúde da ID sob a ótica dos profissionais de saúde. O campo de estudo foi o Hospital Regional de Guanambi (HRG) Dr. Juca Bastos, localizado na cidade de Guanambi, município situado no sudoeste da Bahia.

O programa de ID do referido município possui 11 trabalhadores de saúde (02 médicas, 02 enfermeiras, 04 técnicas de enfermagem, 01 fisioterapeuta, 01 nutricionista, 01 fonoaudiólo-ga), sendo adotados como critérios de inclusão: profissionais de saúde, de nível médio e nível superior, com idade igual ou superior a 18 anos, matriculados para o exercício da função no pro-grama de ID há mais de um bimestre. Portanto, neste estudo, a partir de determinado número de participantes, as falas chegaram à exaustão pela sua repetitividade, e assim foi delimitado o número de participantes.

Dentre as técnicas de produção dos dados, utilizamos a entrevista individual e semiestrutura-da, previamente agendada com os participantes da pesquisa, que foi realizada no HRG e nos domicílios dos doentes. Esta fase da pesquisa ocorreu entre os meses de março e abril de 2014. As entrevistas foram transcritas e analisadas, e, para a identificação e diferenciação das distintas falas, foram utilizados nomes de flores para os profissionais de saúde do ID, impossibilitando assim a identificação dos res-pondentes, preservando suas identidades. Os dados foram ordenados e classificados para a formação de categorias, para em seguida a realização da análise final através da síntese horizontal e vertical das falas dos entrevistados. O método selecionado foi Análise de Conteúdo, na perspectiva de Bardin [7], para buscarmos o aprofundamento dos dados coletados a partir das entrevistas.

Page 34: BRASIL - irp-cdn.multiscreensite.com · Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine Kareny da Silva, Mônica Oliveira Rios, ... (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

32

Enfermagem BRASIL

Ano 2017 - Volume 16 - Número 1

relembrar que as pessoas que necessitam de uma monitorização, que dependem de uma assistência de enfermagem contínua, que precisam de vários procedimentos diagnósticos com urgência, trata-mento cirúrgico de caráter de urgência, ou também os que necessitam de uso de ventilação mecânica invasiva contínua, não são incluídos no programa, pois integram uma assistência complexa no âmbito hospitalar [9].

O programa de ID, através da produção de cuidados domiciliares, necessita destes critérios de inclusão para cadastro, frente as suas peculiaridades e perspectivas de terapêutica, há uma necessidade singular de ferramentas do cuidado que valorizem as relações e o conhecimento, que podem ser denomi-nadas de tecnologias leve e leve/duras, ou tecnologia das relações, em detrimento das tecnologias duras, maquinários e procedimentos, mais presentes em unidades hospitalares [10]. Para tanto, é necessário enfatizar a importância do programa de ID, sem desmerecer a assistência na internação hospitalar, que no olhar no cuidado integral devem ser com-plementares e não antagônicas, visto cada uma se adequar as mais diversas situações de problemas de saúde.

Nos discursos abaixo, as entrevistadas Marga-rida, Tulipa e Girassol enfatizam a importância da internação domiciliar e explicitam quais as princi-pais diferenças e semelhanças entre o cuidado no hospital e o cuidado sendo realizado no domicílio.

[...] então a primeira coisa é o conforto que o paciente tem dentro da casa “né”? [...] a pró-pria cama é uma coisa importante, influencia muito no psicológico do paciente dormir na cama, no próprio quarto [...] a alimentação em casa é bem melhor porque também por mais que a comida do hospital seja boa existe aquele mito... é comida de hospital... “não quero comer” ou às vezes vem alguma coisa que o paciente não gosta “né”? [...] e também o livre acesso aos familiares, porque no hospital só é permitido um visitante por paciente e um acompanhante por paciente e na internação domiciliar não, a família fica livre pra fazer visita pra conversar “né”? En-tão o conforto do paciente, o bem estar é pra mim é o principal benefício! (Margarida).

[...] e nós sabemos que existem regras, que tem que existir que pouca gente pode

visitar o paciente no hospital, em casa ele está cercado da família, cercado de amor, de cuidados, e quem que não quer estar em sua casa “né”? Então se a gente puder dar a assistência em casa, eu acredito que há sim privilégio de estar recebendo esse cuidado em casa (Tulipa).

[...] o medicamento é o mesmo, a avaliação é a mesma, mas o paciente tende a melhorar porque ele tem ali perto o vizinho que ele gosta, tem a casa que ele gosta conhece o ambiente dele, ele não é tirado dali [...] o pa-ciente “tá” na casa dele, então até pra receber a gente (profissionais), igual a gente chega aqui pra fazer uma consulta no hospital, parece que o paciente se coloca lá no fundo, ele sabe que “tá” no meu canto (hospital) é o meu lugar de atender, chegando na casa dele ele se sente “o dono da casa” então até nisso há essa melhoria [...] (Girassol).

Diante dos discursos supracitados, percebe-se que a internação no âmbito domiciliar apresenta algumas vantagens, entre elas, o conforto, a liber-dade e maior recuperação no estado de saúde, por ser o próprio espaço da pessoa atendida. Esse tipo de internação é visto como seu porto seguro e sua referência, de onde obtêm tudo que necessitam e os seus aspectos são levados em conta [8].

Deve-se levar em conta que o ambiente do-miciliar proporciona um protagonismo na atenção à saúde da família e da pessoa atendida, divergente dos outros serviços de saúde, que na maioria das vezes pode produzir uma atenção à saúde compar-tilhada das decisões e com intervenções diretas dos familiares na construção do projeto terapêutico singular [11].

Sob a ótica dos entrevistados, as pessoas vi-sualizam o hospital como um lugar permeado de regras, onde “nada é permitido”. Possivelmente o contexto de vida de cada pessoa contribui para esta visão geralmente distorcida do real objetivo para este conjunto de normas e rotinas, que são empregados a todos os envolvidos (pessoa atendida, familiar/cuidador e profissionais) visando melhor atenção à pessoa que necessita [12]. Assim, a unidade hospita-lar necessita em algumas situações de maior controle dos procedimentos e condutas técnicas, mas pode e deve permitir a inclusão de mudanças que não interfiram na produção do cuidado.

Page 35: BRASIL - irp-cdn.multiscreensite.com · Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine Kareny da Silva, Mônica Oliveira Rios, ... (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

33

Enfermagem BRASIL

Ano 2017 - Volume 16 - Número 1

na internação domiciliar a gente auxilia a família, “né”? [...] atendimento mais huma-nizado, é como forma de orientação, cuida-dos, e a gente “tali” semanalmente passando, para rever esse paciente, então a gente da um suporte à família (Magnólia).

As falas revelam que há uma valorização ao cui-dado humanizado na ID, em que esta modalidade proporciona o convívio social da pessoa ou usuário, e a importância desta para as famílias. Dessa forma, verificamos que há uma necessidade de prevenção e gerenciamento adequado das doenças crônicas, de forma integrada com os cuidados agudos à saúde, para contribuir com o desenvolvimento de auto-nomia dos usuários e humanização no cuidado, em um contexto de envelhecimento, investindo no autocuidado e no cuidado proporcionado pela família através da ID [5].

Nesse sentido, humanizar a assistência em saú-de implica em dar lugar tanto à palavra do usuário quanto à palavra dos profissionais da saúde, de forma a propiciar o diálogo, que pense e promova as ações, a partir da ética, do respeito, do reconhecimento mútuo e da solidariedade. Esse diálogo diz respeito a associar os desejos do usuário aos cuidados pres-critos pelos profissionais de saúde do programa de ID, e assim atender integralmente as necessidades de saúde desse usuário [15].

Nesta perspectiva, esta modalidade de assis-tência, além de integrar o doente ao seu convívio familiar, proporciona uma maior aproximação da fa-mília com a equipe de saúde, propondo um cuidado em parceria [16]. Essa aproximação dos familiares, possíveis cuidadores, aos profissionais de saúde que compõem a equipe do programa de ID, promove a interação entre eles, o compartilhamento de saberes e de atribuições na produção do cuidado, e o apoio aos familiares na superação de dificuldades inerentes ao cuidado domiciliar.

Além das situações apresentadas que contri-buem para maior conforto do indivíduo, as en-trevistadas Girassol e Jasmim relatam um aspecto importante que diferencia os serviços de saúde e alertam quanto aos riscos de infecção e tempo de hospitalização pelos usuários vinculados a interna-ção hospitalar.

[...] aqui dentro do hospital por mais lim-peza que tenha, a gente sabe da infecção hospitalar, e em casa as bactérias que têm

Evidentemente, a pessoa que necessita deste serviço, possui necessidades físicas, sociais e psico-lógicas, devendo ser abordado de forma integral, o qual exige um trabalho de uma equipe multidiscipli-nar, uma vez que este enfoque favorece a qualidade da atenção oferecida, o doente consequentemente tende a diminuir as complicações. Nesse sentido, as ações de cuidado que são desenvolvidas no lar, espaço de referência do doente, devem ser realiza-das conforme as necessidades e singularidades do enfermo e de sua família [8].

Assim, as atividades de cuidado podem ser planejadas, de acordo com os hábitos de vida de cada pessoa e não devem ser empregadas meramente para cumprir medidas burocráticas. É importante haver mudanças que não comprometam os aspectos físicos e psicológicos das pessoas e envolvidos no contexto assistencial. O cuidado no domicílio deve ser realizado respeitando-se as preferências e desejos da pessoa, de forma que os sujeitos sejam percebidos como singulares em suas culturas, histórias de vida e subjetividades em geral [13].

Isso sugere que, no espaço domiciliar, a família e o doente parecem possuir maior autonomia, para tomar as decisões inerentes aos modos de cuidado. Entretanto, no hospital, esta autonomia fica preju-dicada, pois existem regras que são impostas como horário de visitas, horários de alimentação, tipo de alimentação, entre outras. Um estudo sobre o posicionamento dos profissionais que prestam assis-tência em domicílio obteve respostas que destacam a assistência domiciliar como uma forma de atenção à saúde diferenciada, que avalia a diversidade de vida, a complexidade das relações sociais e familiares, bem como promove a integração dos profissionais com o doente e sua família [14].

Nota-se, ainda, nos discursos abaixo, que as entrevistadas Orquídea e Magnólia sinalizam tam-bém como benefícios da internação no domicílio a promoção da humanização na assistência:

[...] o atendimento no lar, na própria casa é um atendimento mais humanizado [...] reintegra o paciente em meio social [...] e também proporciona um suporte emocional, “pras” famílias porque além do paciente, a internação domiciliar trabalha muito com a família (Orquídea).

[...] no hospital, o paciente tem o auxilio de técnicos, enfermeiros e médicos 24 horas,

Page 36: BRASIL - irp-cdn.multiscreensite.com · Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine Kareny da Silva, Mônica Oliveira Rios, ... (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

34

Enfermagem BRASIL

Ano 2017 - Volume 16 - Número 1

Assim, as entrevistadas Margarida, Dália e Hortênsia apontam algumas semelhanças e dife-renças relacionadas à assistência e procedimentos na internação hospitalar e domiciliar, como também alguns critérios para que o usuário possa participar do programa de ID:

[...] a semelhança é que no internamento domiciliar quanto no hospitalar a gente pode fazer alguns procedimentos como sorotera-pia, antibioticoterapia, desde que esse anti-biótico seja até de 12 em 12 horas, a gente pode fazer analgesia venosa [...] trocar sondas [...] curativos grandes de escara, a fisioterapia domiciliar, a retirada de gastrostomia [...] coleta do exame de sangue que também são feitos em casa, urina, fezes [...] (Margarida).

[...] a semelhança que existe é que a gente consegue dar uma assistência para esse pa-ciente para que ele possa tá em casa, mas no programa existem regras, e dentre elas está a medicação apenas de 12 em 12 horas, a gente fornece torpedo de oxigênio, fornece válvulas, cateter. Porém se o paciente fizer uso de oxigênio contínuo, de repente não é ideal que vá pra casa, então existe sim paciente com oxigenoterapia, porém de uso intermitente, de uso alternado, não de uso continuo (Dália).

[...] a diferença que tem é porque o paciente no hospital durante você trabalha 12 horas você simplesmente “tá” do lado dele ali, eu dou um plantão de 12 horas então eu “tô” vendo o paciente o dia todo no meu período de 12 horas, se eu pego 5, 6 pacientes eu sempre vou tá com eles no período de 12 horas, eu “tô” vendo ele o dia todo... visito 1, visito 2, 3 por dia num mesmo momento e volto, então e o paciente domiciliar a gente vai 1 vez no dia coloca o soro pela manhã, as vezes não dá pra voltar a tarde, aí eu vou no outro dia (Hortênsia).

Diante das falas das entrevistadas, verificamos que as semelhanças foram basicamente associadas aos procedimentos técnicos desenvolvidos na pro-dução do cuidado. Quanto às diferenças, elas foram associadas ao tempo de permanência do profissional de saúde ao lado do usuário, sendo no internamento

lá, que todo lugar têm, elas não são danosas quanto as daqui. As daqui estão acostumadas com grandes antibióticos então se ela pega ela causa um impacto maior na saúde do paciente [...] (Girassol).

[...] a questão da infecção hospitalar [...] já foi comprovado, e muitos pacientes que voltam pra casa com feridas fecham bem mais rápidas do que se tivessem internados aqui (hospital) (Jasmim).

As falas supracitadas apresentam discurso a respeito da vulnerabilidade, do usuário internado no ambiente hospitalar, frente à exposição aos agentes biológicos. Estes usuários internados em institui-ções hospitalares estão mais expostos a uma ampla variedade de microrganismos patogênicos. Assim, as falas expressam a percepção de que o cuidado no domicílio é menos danoso à pessoa atendida, portanto menos susceptível a esta infecção.

A infecção hospitalar é caracterizada pelo Ministério da Saúde como um agravo de causa in-fecciosa, adquirido pelo doente após sua a admissão em hospital, que pode manifestar-se, durante a in-ternação ou após a alta, desde que esteja relacionado à internação ou a procedimentos hospitalares [4].

Os estudos acerca da assistência domiciliar no Brasil, e no que diz respeito à comprovação de menores riscos de infecção hospitalar dessa moda-lidade são escassos, dificultando a comparação das falas obtidas na pesquisa. No entanto, infere-se que a contribuição na mudança do modelo de atenção, que visa o atendimento no domicílio, bem como a formação e a educação em saúde dos usuários do programa de ID e familiares cuidadores represen-tam os esforços, que alavancarão o controle para minimizar os riscos de infecção, e que promoverão uma visão interdisciplinar, e consequentemente um cuidado mais seguro.

A maioria das infecções hospitalares se ma-nifesta como complicações de pessoas em estado grave, em consequência da hospitalização e de procedimentos invasivos, além de advir também do tratamento através do uso de imunossupressores ao qual o doente pode ter sido submetido [17]. Neste sentido, a ID apesar de apresentar semelhanças à internação hospitalar, semelhanças essas necessárias à produção do cuidado, também apresenta diferenças, ou melhor, peculiaridades das especificidades dos cuidados específicos nele prestados.

Page 37: BRASIL - irp-cdn.multiscreensite.com · Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine Kareny da Silva, Mônica Oliveira Rios, ... (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

35

Enfermagem BRASIL

Ano 2017 - Volume 16 - Número 1

hospitalar um acompanhamento contínuo e no ID alternado com uma visita diária. Uma das falas também associa a oxigenoterapia contínua enquanto uma contraindicação para a ID.

Compreende-se que a ID é sinônima a presta-ção de serviços de saúde de maneira intermitente, como coleta de exames laboratoriais, informações e orientações gerais, bem como aconselhamento aos usuários e seus familiares [18]. A ID inclui, ainda, tratamentos e/ou terapias de reabilitação ou medicamentosa; serviços médicos e de enfer-magem; suporte nutricional enteral e parenteral, de forma que a pessoa, após passar pela fase aguda, que levou a internação hospitalar, poderá receber seguimento dos cuidados de saúde no ambiente domiciliar [19].

Assim, o discurso que assemelha as duas moda-lidades de internação, através das atividades técnicas de execução de procedimentos diversos, é fortalecido pelos conceitos supracitados. Neste sentido, a ID é uma assistência continuada da hospitalar, que oferta recursos humanos, equipamentos, materiais e medicamentos, para as pessoas em estado mais com-plexos que necessitam de atendimento semelhante ao oferecido no ambiente hospitalar [20].

Embora a ID, como foi perceptível nas fa-las, apresente alguns benefícios para o usuário do serviço, não se pode definir que uma modalidade de assistência seja ideal ou melhor do que a outra, pois ambos os tipos de internação podem ser sub-sequentes ou complementares. É preciso levar em consideração as especificidades de cada modelo, a avaliação da situação clínica da pessoa atendida pelos profissionais que as executam, e a decisão de internação deve ser tomada em conjunto com os profissionais de saúde, os usuários e os seus fami-liares [8].

Nesta perspectiva, a ID surge como modalida-de de atenção que visa ações centradas no cuidado que pode ser produzido em domicílio para aqueles usuários que se enquadram no perfil do programa, é válido ressaltar a significância dos avanços e me-lhorias que a ID trouxe, resultado das mudanças do perfil da atenção à saúde com a utilização do programa.

Contudo, a atenção hospitalar tem sofrido algumas alterações, decorrentes da crescente de-manda da população, dos altos custos gerados por este tipo de internação, sem contar na mecanização desse tipo de assistência, diante disso, programas que têm como foco atendimento domiciliar, como a ID

merece destaque, no que concernem as mudanças no perfil de atenção à saúde [8].

Assim, as entrevistadas Rosa, Dália, Hortênsia e Magnólia apresentam em suas falas que o Programa de ID, trouxe resultados positivos e avanços para município:

Eu acho que a internação trouxe um impacto muito positivo pra essa região, pela primeira vez nós vimos um serviço que desospitali-zasse, tirasse do hospital, levasse pra casa e prestasse o cuidado em casa, então aquele pa-ciente pode se restabelecer em casa ao lado da família que é de extrema importância (Rosa).

A gente costuma até perguntar às vezes “gente como era antes da ID”? Porque muitas pessoas dependem mesmo da ID, com medicações adminis-tradas em casa, questões de fraldas que são doadas, materiais de higiene, seringas, gazes, esparadrapos, enfim... a gente se pergunta como era feito antes? [...] os leitos já estão superlotados antes da ID, imagine mais 60 pessoas dentro do hospital? então o impacto é grande sim, e acho que Guanambi ganhou muito com esse programa! (Dália).

[...] essa internação ela veio para “desafogar” os hospitais, os hospitais da rede pública estão muito cheios, são muito procurados [...] o hospital cheio demais não tem como ser cuidado, ele indo pra casa ele vai ser um paciente bem cuidado inclusive pela família [...] (Hortênsia).

A internação domiciliar é um projeto do governo pra na verdade desafogar os leitos hospitalares, né? E aquele paciente, mantém internado em casa ter um auxílio que tem no hospital, no domicilio (Magnólia).

Como verificamos nas falas das entrevistadas acima, os resultados positivos relacionados a ID foram relacionados ao fato do programa reduzir o quantitativo de internações hospitalares, através da alta hospitalar daqueles usuários que possuem condições de serem acompanhados por cuidados domiciliares. Neste sentido, com este quantitativo de altas hospitalares ou processo de desospitalização, a liberação ou disponibilização de leitos hospitalares para novas internações surge como resultado deste trabalho da ID. Assim, a ID aumenta a disponibi-

Page 38: BRASIL - irp-cdn.multiscreensite.com · Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine Kareny da Silva, Mônica Oliveira Rios, ... (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

36

Enfermagem BRASIL

Ano 2017 - Volume 16 - Número 1

lidade de leitos hospitalares, bem como diminui o período de internação, sendo os custos para as internações domiciliares menores que ampliar e manter leitos em hospitais [21].

Destarte, atendendo a perspectiva de que a ID reduz as internações hospitalares e libera leitos para novas internações, isso contribui essencialmente com a situação atual de disponibilidade de leitos hospitalares no Brasil, visto que o Brasil conta com 322.201 leitos de internação hospitalar pelo SUS, sendo a equivalência destes de 0,86 leito hospitalar público por cada mil habitantes [22]. Tal índice apresenta-se inferior ao estabelecido pelo MS, fixa o ideal de 2,5 leitos gerais para cada grupo de mil habitantes, fato este que justifica a superlotação dos leitos hospitalares públicos [1].

Outro aspecto positivo da ID visualizado na fala da entrevistada Margarida, refere-se à diminui-ção de reinternações hospitalares daqueles usuários que fazem parte do programa de ID:

A gente cuida hoje de 60 doentes “né”? E que alguns desses doentes certamente estariam no hospital se não houvesse o serviço, né? E outros deles, a gente consegue evitar as reiternacões, então uns estaria aqui dentro e os outros a gente “tá” fazendo como se fosse prevenção pra evitar que eles se hospitalizem novamente né? [...] então possivelmente há um impacto aqui na emergência ou até nos leitos do hospital! (Margarida).

Como vimos na fala apresentada, a ID reduz os riscos de afecções hospitalares pelos usuários inter-nados, visto que esses pacientes atendidos pelo ID estarem livres dos riscos, ou até mesmo a redução de chances de reinternação desses usuários, devido aos cuidados de prevenção, promoção e reabilitação executados na ID, frente às possíveis complicações dos problemas de saúde apresentados pelos usuários do programa.

Diante do exposto, salientamos a importância das modalidades de atenção domiciliar compreender ações de promoção, prevenção e reabilitação, aten-tando assim para os três níveis de atenção: primária, secundária e terciária [23]. Nesta perspectiva a ID promove ações que reduzem significativamente os agravos de saúde, implicando consequentemente na redução de custos a saúde pública no Brasil. Isso afeta positivamente a gestão do SUS, visto que ainda vivenciamos um sistema de saúde que detém

elevados gastos por atender ao modelo de atenção a saúde médico centrado, que valoriza a realização de procedimentos técnicos de alto custo, muitas vezes desnecessários.

O modelo hegemônico de atenção à saúde cen-trado em procedimentos implica custos crescentes, particularmente em função do envelhecimento da população, da transição epidemiológica e, sobre-tudo, da incorporação tecnológica orientada pela lógica do mercado, não sendo capaz de responder às necessidades de saúde da população [11]. Assim, verificamos na fala de entrevistada Girassol que a ID tem também como finalidade diminuir os custos hospitalares:

A internação domiciliar veio exatamente pra diminuir a procura pelo hospital, né? Não bem a procura, mas para esvaziar a internação de hospital isso que eu acho que o hospital acaba sendo mais caro pro estado, ai eles fizeram essa internação domiciliar que se foi com esse intuito só de diminuir custos eles acertaram muito no sentido de ajudar muito o pessoal (Girassol).

Diante da fala da entrevistada, percebemos a associação da redução dos gastos hospitalares com a diminuição da procura pelo hospital, em casos de reinternação, e com o esvaziamento de leitos, pela redução do tempo de internação com a alta hospitalar para direcionamento do usuário ao ID. Desta forma, o Programa de ID representa uma estratégia na rever-são da atenção centrada nos hospitais e proporciona a elaboração de uma nova sistemática de atenção em saúde e na humanização desta atenção [23].

Para tanto, destaca-se que o cuidado domici-liar é uma estratégia da atenção à saúde que vem tornando-se imprescindível, pois além de reduzir custos hospitalares, diminuir número de compli-cações e, consequentemente, o número de reinter-nações, promove também a participação da família no cuidado ao doente, proporcionando melhor qualidade de vida, um olhar diferente na forma de viver e de enxergar o mundo, diante da fragilidade de saúde do doente [11,24].

Observa-se também na fala da entrevistada Girassol, que com programa de ID alguns princípios do SUS estão sendo respeitados no atendimento:

E o que me deixou bem tranquila com o programa, com esse serviço, que eu tenho

Page 39: BRASIL - irp-cdn.multiscreensite.com · Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine Kareny da Silva, Mônica Oliveira Rios, ... (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

37

Enfermagem BRASIL

Ano 2017 - Volume 16 - Número 1

notado que independente da classe social, da cor, se fuma droga se vende droga se deixou de ser drogado, nada [...] independente de religião o paciente tá sendo tratado com igualdade “cê” entendeu? Isso tá me deixando muito a vontade no programa sempre achei que a gente tinha que ter igualdade em todo lugar e aqui nós estamos tendo! eu acho que tem um principio do SUS que é tratar de maneira diferente os diferentes né? Para que eles se sintam pelo menos nesse momento igual e aqui “tá” tendo isso então eu acho que esse programa é excelente. (Girassol)

Verificamos então com a fala supracitada que os princípios da universalidade e da equidade foram pontuados como respeitados pelo programa de ID, através da universalidade, todos podem ter acesso ao programa e através da equidade, todos são atendidos de acordo com suas necessidades, dentro de suas diferenças ou diversidades em busca da resolutividade das suas necessidades de saúde. Pode--se salientar que os princípios do SUS englobam: universalidade, integralidade, resolutividade e da equidade no atendimento das necessidades de saúde da população, com consequência incorporação e o atendimento de parcela importante da população de excluídos [25].

Sabe-se que para prestar atendimento à saúde, como no Programa de ID, o serviço deve ser orga-nizado de forma coordenada e interdependente. Então, mediante a fala das entrevistadas Dália e Orquídea, o programa de ID traz avanços para o sistema de saúde:

Eu acho que foi um programa muito bom pra Guanambi, pra acrescentar, pra crescer, acredito que não estamos aqui pra tirar lugar de ninguém, estamos aqui para acrescentar, pra fazer parcerias, mas é importante cada área de responsabilidade, a unidade básica tem a importância fundamental na cidade, o SAMU, o hospital, cada um tem a impor-tância no seu espaço de contribuição (Dália).

[...] eu acredito que “pro” hospital regional não só “pro” regional, unidades básicas de saúde também, diminuiu, desafogou mesmo [...] antigamente qualquer paciente com uma dor aguda estaria no hospital, hoje não, essa dor mais aguda já pode ser tratada em casa

paciente sai de lá de onde for, vem “pro” hos-pital e não precisa nem “tá” internando já vai direto pra internação domiciliar (Orquídea).

Frente às falas acima, percebe-se que o pro-grama de ID avançou no sistema de saúde, a partir do momento que propôs a complementaridade e inter-relação para com os demais serviços de saú-de e demais complexidades da rede de atenção à saúde. Sua organização de maneira coordenada e interdependente mantém a credibilidade do pro-grama, uma boa relação e comunicação com os demais serviços. Assim, deve-se organizar em redes de atenção à saúde, que constitui um conjunto de serviços de saúde, vinculados entre si, poliárquicas, que possui o mesmo objetivo, permitindo uma aten-ção contínua e integral à população, com garantia de qualidade, e de humanização no atendimento, com responsabilidades econômicas e sanitárias por sua população [26].

Conclusão

O presente estudo evidenciou a importância da assistência domiciliar como modalidade alternativa e complementar à hospitalização, que se configurou como assistência substitutiva e adicional na organi-zação dos serviços de saúde. Possibilitou proporcio-nar saúde com práticas assistenciais de um cuidado mais humanizado e integral, trazendo desta forma, resultados positivos no que tange às melhorias das condições de saúde dos usuários do serviço público no município de Guanambi.

Destacou-se que a compreensão dos profissio-nais de saúde membros do programa de ID, acerca do significado do ID, diz respeito à produção de cuidados ou atenção ao usuário em seu domicílio, sendo esse serviço responsabilidade de uma equipe de saúde multiprofissional.

Os profissionais da ID afirmaram acreditar que o cuidado no domicílio representa para a pessoa mais liberdade, mais conforto, mais qualidade de vida e convívio social, com seus familiares, vizinhos, ami-gos, pois ele não é tirado do seu ambiente familiar, o que tende a contribuir para a evolução clínica da pessoa atendida.

Neste sentido, há, portanto, necessidade de in-vestimentos no programa, com intuito de ampliar o atendimento do ID, visto sua importância, essência e necessidade da rede de atenção à saúde em manter esse programa em atividade. Contudo, acredita-se

Page 40: BRASIL - irp-cdn.multiscreensite.com · Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine Kareny da Silva, Mônica Oliveira Rios, ... (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

38

Enfermagem BRASIL

Ano 2017 - Volume 16 - Número 1

que os objetivos do estudo foram atingidos, à me-dida que a realidade vivenciada pelos profissionais foram reveladas, bem como suas experiências que foram discutidas no decorrer do estudo.

Anseia-se que o presente estudo constitua sub-sídio para reflexão sobre o programa de internação domiciliar do município de Guanambi, além de possibilitar formulações sobre a organização desse programa e os sujeitos envolvidos, colaborando para uma melhor qualidade de assistência, no que concerne o cuidado no domicílio, promovendo um cuidar pleno e efetivo.

Sugere-se a realização de novas pesquisas com a finalidade de conhecer melhor o programa de ID, com intuito de favorecer a expansão do conhecimen-to científico acerca da temática, o que possivelmente acarretará em melhorias tanto para os usuários do sistema, profissionais e instituições de saúde.

Referências

1. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria nº 2.809, de 7 de dezembro de 2012. Estabelece a organização dos Cuidados Prolongados para retaguarda à Rede de Atenção às Urgên-cias e Emergências (RUE) e às demais Redes Temáticas de Atenção à Saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Brasília: Ministério de Estado da Saúde; 2012.

2. Oliveira SG, Quintana AM, Budó MLD, Kruse MHL, Beuter M. Internação domiciliar e internação hospitalar: semelhanças e diferenças no olhar do cuidador familiar. Texto & Contexto Enferm 2012;21(3):591-9.

3. Mesquita SRAM, Anselmi ML, Santos CB, Hayashida M. Programa interdisciplinar de internação domiciliar de Marília-SP: custos de recursos materiais consumidos. Rev Latinoam Enferm 2005;13(4):555-61.

4. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria nº 2.529 de 19 de outubro de 2006. Institui a internação domiciliar no âm-bito do SUS e dá outras providências. Brasília: Ministério de Estado da Saúde; 2006.

5. Brasil. Ministério da Saúde. Atenção domiciliar no SUS: resultados do laboratório de inovação em atenção domiciliar. Brasília: Ministério da Saúde/ Organização Pan-Americana da Saúde; 2014.

6. Martelli DRB, Silva MS, Carneiro J, Bonan PRF, Rodri-gues LHC, Martelli-Júnior H. Internação domiciliar: o perfil dos pacientes assistidos pelo Programa HU em Casa. Physis 2011;21(1):147-57.

7. Bardin L. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70; 2012.8. Lacerda MR, Oliniski SR, Giacomozzi CM. Familiares

cuidadores comparando a internação domiciliar e a hos-pitalar. Fam Saúde Desenv 2004;6(2):110-8.

9. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria nº 963, de 27 de maio de 2013. Redefine a Atenção Domiciliar no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Brasília: Ministério do Estado da Saúde; 2013.

10. Franco TB, Merhy EE. A produção imaginária da de-manda e o processo de trabalho em saúde. In: Pinheiro R, Mattos RA, eds. Construção social da demanda: direito à

saúde, trabalho em equipe, participação e espaços públicos. Rio de Janeiro: IMS-UERJ; 2005. p. 181-93.

11. Feuerwerker LCM, Merhy EE. A contribuição da atenção domiciliar para a configuração de redes substitutivas de saúde: desinstitucionalização e transformação de práticas. Rev Panam Salud Publica 2008;24(3):180-8.

12. Oliveira SG, Quintana AM, Denardin-Budó ML, Mo-raes NA, Lüdtke MF, Cassel PA. Internação domiciliar do paciente terminal: o olhar do cuidador familiar. Rev Gaúcha Enferm 2012;33(3):104-10.

13. Blois JM, Cartana MHF, Sasso GTMD, Martins CR. Home care as a possibility of art expression, creativity and access to technology: an analysis on the subject. Online Braz J Nurs 2008;7(1):385-91.

14. Giacomozzi CM, Lacerda MR. A prática da assistência domiciliar dos profissionais da estratégia de saúde da família. Texto & Contexto Enferm 2006;15(4):645-53.

15. Oliveira BRGD, Collet N, Vieira CV. Sofrimento psíquico da família de crianças hospitalizadas. Rev Bras Enferm 2006;59(6):769-74.

16. Shcwonke CRGB, Silva JRS, Casalinho ALD, Santos MC, Vieira FP. Internação domiciliar: Reflexões sobre a participação do cuidador/ família/ enfermeiro no cuida-do. Ensaios e ciências: C. Biológicas, Agrárias da Saúde 2008;12(1):77-90.

17. Pereira MJB, Mishima SM, Fortuna CM, Matumoto S. Assistência Domiciliar – conformando o modelo assis-tencial e compondo diferentes interesses/necessidades do setor saúde. Rev Latinoam Enferm 2005;13(6):1001-10.

18. Leão AC, Souza MC, Valente GS, Viana LO. A formação do enfermeiro para a assistência de portadores de necessi-dades especiais, com paralisia cerebral submetido à inter-nação domiciliar. Rev Enfermeira global 2009;(16):1-14. 

19. Monteiro CP, Monteiro JL. Internação domiciliária. In: Duarte Y, Diogo M, eds. Atendimento domiciliário: um enfoque gerontológico. São Paulo: Atheneu; 2000. p. 584.

20. Lacerda MR, Giacomozzi CM, Oliniski SR, Truppel TC. Atenção à saúde no domicílio: modalidades que fundamentam sua prática. Saude Soc 2006;15(2):88-95.

21. Cotta RMM, Varela SMM, González AL, Cotta JS Filho, Real ER, Ricós AD. A hospitalização domiciliar: antece-dentes, situação atual e perspectivas. Rev Panam Saúde Publica 2001;10(1):45-55.

22. DATASUS. Cadastro Nacional de Estabelecimento de Saúde (CNES): Informação sobre número de leitos hospitalares (SUS). Brasília: Ministério da Saúde; 2014.

23. Santana CR, Alves ED. Estudo sobre os limites e possibili-dades do programa de internação domiciliar em desospita-lizar doentes portadores de doenças crônico degenerativas na regional de saúde do Paranoá. Rev Eletrônica Gestão & Saúde 2014;5(1):37-46.

24. Paz AA, Santos BRL. Programas de cuidado de enferma-gem domiciliar. Rev Bras Enferm 2003;56(5):538-41.

25. Barata LRB, Tanaka OY, Mendes JDV. 15 anos de SUS: desafios e perspectivas. In: Conselho Nacional de Secre-tários e Saúde, organizador. Convergências e divergências sobre gestão e regionalização do SUS. Brasília: Conselho Nacional de Secretários e Saúde; 2004. p. 87-103.

26. Mendes EV. As redes de atenção à saúde. Ciênc Saúde Coletiva 2010;15(5):2297-2305.

Page 41: BRASIL - irp-cdn.multiscreensite.com · Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine Kareny da Silva, Mônica Oliveira Rios, ... (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

39

ARTIGO ORIGINAL

Perfil de usuários e financiamento da acupuntura em um hospital de ensino no interior paulista

Sandra Segarra*, Zaida Aurora Sperli Geraldes Soler, D.Sc.**, Marli de Carvalho Jericó, D.Sc.***

*Bacharel em Direito, mestranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP), São José do Rio Preto/SP, **Enfermeira, Livre-docente em Enfermagem, Professor Adjunto da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP), SP, Coordenadora Geral do Mestrado Acadêmico – Programa de Enfermagem da FAMERP, Orientadora do trabalho, ***Enfermeira, Professora do curso de graduação de enfermagem na Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP), São José do Rio Preto/ SP, Co-Orientadora do trabalho

Este artigo faz parte da dissertação de mestrado da primeira autora, sendo orientadora e co-orientadora as outras autoras, respectivamente. Está incluído no Grupo de Pesquisa “Nemoreges: Núcleo de Estudos sobre Morbidade Referida, Educação e Gestão em Saúde, na Área de Concentração “Processo de Trabalho em Saúde” e na Linha de Pesquisa Gestão em Saúde e em Enfermagem, do mestrado Acadêmico em Enfermagem da FAMERP

ResumoObjetivo: Analisar o perfil de usuários e o financiamento da acupuntura em um hospital de ensino no interior paulista. Métodos: Pesquisa transversal, quantitativa, com fonte de dados nos registros computadorizados entre os anos de 2010 a 2016, referente a 2564 pacientes que fizeram 19.034 atendimentos de acupuntura como prática terapêutica prescrita. Foram realizadas técnicas de estatística descritiva e os testes de Mann-Whitney, de Análise de Variância (ANOVA), de comparação múltipla de Games-Howell, teste de correlação de Pearson e análise de Correspondência Múltipla, para observar a relação entre todas as variáveis coletadas, o número total de atendimentos e o recurso financeiro total da prática de acupuntura. Resultados: A maioria dos pacientes era do sexo feminino - 1952 (76,13%); com ocupação do lar - 739 (28,82%); escolaridade em nível do ensino fundamental - 1077 (42,00%); religião católica - 1651 (64,39%). O número médio de atendimentos foi de 7,42 com desvio padrão de 8,99 atendimentos e mediana de 5,00 atendimentos; o financiamento médio foi de R$ 12,15, atingindo um máximo de R$ 21,47 por atendimento. Conclusão: Há necessidade de ofertar outras práticas de atenção em saúde previstas na Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC); serem mais divulgadas quanto aos benefícios, ao financiamento governamental e custos menores dessas práticas.

Palavras-chave: Terapia por acupuntura, financiamento da assistência à saúde, financiamento governamental, terapias complementares, medicina tradicional chinesa.

Recebido em 20 de fevereiro de 2017; aceito em 22 de fevereiro de 2017. Endereço para correspondência: Rua Projetada 8, 299, Bairro Ary Attab, 15040-647 São José do Rio Preto SP, E-mail:

[email protected], [email protected], [email protected]

Page 42: BRASIL - irp-cdn.multiscreensite.com · Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine Kareny da Silva, Mônica Oliveira Rios, ... (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

40

Enfermagem BRASIL

Ano 2017 - Volume 16 - Número 1

AbstractAcupuncture user profiles and financing of acupuncture sessions in a teaching school in the countryside of São Paulo state Objective: To investigate the profile of acupuncture users and the financing of acupuncture sessions in a teaching hospital in the countryside of Sao Paulo state. Methods: This transversal and quantitative study used, as a data source, all records computerized between 2010 and 2016 regarding 2,564 patients who received 19,034 acupuncture sessions as prescribed therapeutic interventions. The data were analyzed using descriptive statistics, the Mann-Whitney U test, the ANOVA test, the Games-Howell Multiple Comparison procedure, Pearson’s correlation test, and Multiple Correspondence Analysis, to investigate the relationship between the collected variables, the total number of sessions, and the total financial cost of acupuncture. Results: Most patients were female - 1952 (76.13%), housekeepers -739 (28.82%), had elementary school education -1077 (42.00%), and were Catholics -1651 (64.39%). The mean number of acupuncture sessions was 7.42 with a standard deviation of 8.99 sessions and a median of 5.0 sessions. The mean financing round for the performance of acupuncture sessions was 91.99 Brazilian Reais/patient; the mean financing round per session was 12.15 Brazilian Reais, reaching a maximum of 21.47 Brazilian Reais per session. Conclusion: There is a need to offer other healthcare practices provided for in the Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC), and show these practices, their benefits, and the government financing of PICs.

Key-words: acupuncture therapy, healthcare financing, financing, government, complementary therapies, traditional chinese medicine.

ResumenPerfil de los usuarios de acupuntura y financiación de la terapia por acupuntura en un Hospital Escuela del interior del Estado de São PauloObjetivo: Investigar el perfil de los usuarios de acupuntura y la financiación de la terapia por acupuntura en un hospital escuela del interior del Estado de São Paulo. Método: Estudio transversal y cuantitativo; utilizó como fuente de datos todos los registros computarizados entre 2010 y 2016 con respecto a 2.564 pacientes que recibieron 19.034 sesiones de acupuntura como intervenciones terapéuticas prescritas. Los datos se analizaron mediante estadística descriptiva, la prueba U de Mann-Whitney, la prueba ANOVA, el test de Comparación Múltiple de Games-Howell, el test de correlación de Pearson y el Análisis de Correspondencia Múltiple para investigar la relación entre las variables recogidas, el número total de sesiones y el costo financiero total de la terapia por acupuntura. Resultados: La mayoría de los pacientes eran mujeres - 1952 (76,13%), trabajadoras domésticas - 739 (28,82%), tenían educación primaria -1077(42,00%) y eran católicas - 1651 (64.39%). El número medio de sesiones de acupuntura fue de 7,42 con una desviación estándar de 8,99 sesiones y una mediana de 5,0 sesiones. La financiación media para la realización de sesiones de acupuntura fue de 91,99 reales brasileños por paciente; la financiación media por sesión de acupuntura fue de 12,15 reales brasileños, alcanzando un máximo de 21,47 reales brasileños por sesión. Conclusión: Evidenciada la necesidad de ofrecer otras prácticas de salud previstas en la Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) y deben ser mejor divulgadas en relación a los beneficios, la financiación gubernamental y costos menores de las PICs.

Palabras-clave: terapia por acupuntura, financiación de la atención de la salud, financiación gubernamental, terapias complementarias, medicina China tradicional.

Introdução

A OMS [1] tem reconhecido a importância de práticas não convencionais, chamadas de medi-cinas tradicionais, alternativas ou complementares (MAC), que não se incluem no escopo da medicina alopática, oficialmente reconhecida. Constituem intervenções terapêuticas geralmente pouco discu-tidas em escolas médicas; pouco disponibilizadas em hospitais ou unidades de atenção em saúde e sofrem resistência da comunidade médica e indús-

tria farmacêutica [2-7]. Neste estudo será utilizada somente a denominação PICs (Práticas Integrativas ou Complementares).

No bojo das discussões sobre as PICs ficam ressaltados: o vínculo solidário de integração dos aspectos físicos, psicológicos e sociais; os mecanis-mos naturais de prevenção, controle e recuperação da saúde; as tecnologias simples, baratas, eficazes e seguras; a valorização do vínculo terapêutico de humanização do atendimento; a integralidade na assistência; o acesso a todos e a um menor custo

Page 43: BRASIL - irp-cdn.multiscreensite.com · Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine Kareny da Silva, Mônica Oliveira Rios, ... (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

41

Enfermagem BRASIL

Ano 2017 - Volume 16 - Número 1

dimento eficaz e seguro, no segmento do vínculo terapêutico e não exige alta densidade tecnológica ou intervenções farmacológicas que possam colocar em risco a saúde dos usuários [2,8,19-21].

Desde a década de 1970, a OMS vem incen-tivando o uso da acupuntura e de outras PICS, de forma que criou um documento intitulado “Estratégia da OMS sobre Medicina Tradicional (MT) 2002-2005” [1]. O objetivo foi de promover o desenvolvimento de políticas para a implanta-ção de tratamentos não convencionais em saúde, estabelecendo requisitos de segurança, eficácia, qualidade, uso racional e acesso, podendo ser usa-da isoladamente ou integrada com outros recursos terapêuticos [22].

Dentre as possibilidades terapêuticas ofereci-das pela acupuntura estão seus efeitos: analgésico; antiinflamatório; de relaxamento muscular; ansio-lítico; antidepressivo; em sequelas neurológicas e distúrbios psiquiátricos; apressar o processo de cicatrização e diminuir o uso de medicação alo-pática [8,21,23,24], com menor custo.

Por certo é importante buscar menor custo ou equilíbrio entre receitas e despesas, mas finan-ciamento da saúde não se resume a uma simples equação contábil [12,25]. Também envolve questões como: volume de recursos a ser destinado à saúde e como prover acesso oportuno da população a serviços assistenciais com qualidade, eficiência, segu-rança e também custo-benefício, que corresponde à análise dos encargos tributários e despesas oriundas do serviço prestado [12,25-27].

Todas estas reflexões assinalam a relevância de analisar a configuração financeira atual e as perspec-tivas da acupuntura no serviço de saúde, deixando visíveis os contornos de sua relação com a PNPIC, contribuindo para o fortalecimento da atenção básica. Assim, o objetivo deste estudo foi analisar o perfil de usuários e o financiamento da acupuntura em um hospital de ensino no interior paulista.

Material e métodos

Trata-se de uma pesquisa de caráter analítico, transversal, com abordagem quantitativa. Foram preservados os aspectos éticos de pesquisa envol-vendo seres humanos, com a prévia submissão do projeto de pesquisa a Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), com aprovação sob Parecer nº 1.647.216.

O estudo foi realizado em um hospital de ensino de porte extra, que realiza atendimentos de

[1-4,8-10]. Soma-se a tudo isso a preocupação dos gestores em saúde, no âmbito público e privado, especialmente no Brasil, quanto à evidência do aumento dos gastos e custos na saúde, situação que enfrentam diariamente [11-15].

A propósito, em todo o mundo, cada vez mais se ressalta a importância de aprofundamento de pesquisas sobre os diferentes contextos da economia em saúde, justificados pela limitação dos recursos disponíveis, elevação de gastos e custos e demandas crescentes de necessidades da população. Entre outros fatores isso está explicado no aumento do envelhecimento populacional, de doenças crônico--degenerativas e mudanças epidemiológicas; na complexidade tecnológica terapêutica; no aumento de acidentes; no papel reduzido do mercado e maior grau de consciência de cidadania do usuário, cada vez mais exigente em relação a seus direitos [3-5].

São essenciais as pesquisas sobre as PICs que abordem aspectos gerenciais e econômicos, nos enfoques organizacionais, programáticos, sociais, humanísticos, monetários e governamentais, que re-velem os caminhos para a excelência de qualidade da atenção, baseada em evidências científicas [16-18]. No Brasil, o processo gerencial tradicionalmente adotado carece de dados fidedignos sobre custos e financiamento, revelando uma mentalidade de otimização das atividades. Dentro das possibilidades financeiras privilegia a quantidade de recursos, des-considerando a eficiência, a eficácia e a otimização na oferta de assistência [11-13].

A temática que incorpora as PIC está prevista na Constituição brasileira e nas prerrogativas do Sistema Único de Saúde (SUS) [2,14,15]. As PICs foram regulamentadas para financiamento pelo SUS em 2006, por meio da Portaria n. 971/2006,

com a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) [2]. Regulamenta o cuidado a saúde de pessoas interessadas em receber serviços relativos a: Medicina Tradicional Chinesa (acupuntura, dietoterapia, “ginástica terapêutica chinesa” [lian gong, chi gong e tai-chi-chuan]; a massagem tui-na e a meditação); a Homeopatia, o Termalismo-Crenoterapia (tratamento com água mineral); a Medicina Antroposófica (abordagem médico-terapêutica com uso de chás, homeopatia e fitoterapia) [2].

A acupuntura é uma modalidade terapêutica instituída através de sistemas e recursos cujas abor-dagens visam estimular os mecanismos naturais de prevenção e recuperação da saúde, uso de proce-

Page 44: BRASIL - irp-cdn.multiscreensite.com · Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine Kareny da Silva, Mônica Oliveira Rios, ... (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

42

Enfermagem BRASIL

Ano 2017 - Volume 16 - Número 1

alta complexidade, vinculado a uma instituição fun-dacional, localizado na região noroeste do interior paulista, que cumpre a tríade universitária de ensino, pesquisa e extensão de serviços à comunidade. É o principal campo de ensino prático de uma faculdade pública, com curso de graduação em medicina e en-fermagem e hospital referência da cidade, da região e até de outros estados, em especial a usuários do SUS, mas também realiza atendimento a pacientes da saúde suplementar e particulares.

A população do estudo foi constituída pelos pacientes que fizeram acupuntura como prática terapêutica prescrita de junho de 2010 a julho de 2016. Justifica-se tal período, pelo fato que mesmo que a Portaria regulamentando as PIC no SUS tenha sido publicada em 03 de maio de 2006 [2], os dados digitalizados sobre financiamento da acu-puntura pelo SUS, no hospital campo da pesquisa, só estavam disponíveis no Sistema de Informação Hospitalar a partir de junho de 2010. Os registros existentes no Sistema de Informação Hospitalar sobre tratamentos com acupuntura pelo SUS fo-ram disponibilizados pelo serviço de tecnologia da informação (TI) do hospital.

O valor do procedimento de acupuntura re-passado pelo SUS ao hospital estudado consiste no valor em dinheiro pago pelo Ministério da Saúde (MS), segundo Sistema de Gerenciamento da Tabela de Procedimentos, Medicamentos, Órteses, Próteses e Materiais Especiais (SIGTAP) do SUS, que regu-lamenta o financiamento e transferência de recursos federais para os serviços de saúde [28].

Na análise dos dados foram realizadas técnicas de estatística descritiva das variáveis de caracteri-zação amostral, como: o teste de Mann-Whitney (comparar o número de atendimentos e o recurso financeiro); o teste de Análise de Variância (ANO-VA); o teste de comparação múltipla de Games--Howell (comparar o número de atendimentos e o recurso financeiro); o teste de correlação de Pearson (comparar o número de atendimentos e o recurso financeiro total em relação à idade dos pacientes) e a análise de correspondência múltipla (abordagem multivariada), relacionando as variáveis coletadas, o número total de atendimentos e o recurso finan-ceiro total.

A possibilidade de aplicação de ferramentas multivariadas é importante do ponto de vista esta-tístico, enquanto a análise univariada apresenta certa limitação no que concerne à influência dos efeitos de todas as variáveis na variável resposta. A abor-

dagem multivariada possibilita a análise estatística dos efeitos conjuntos de todas as variáveis coletadas na variável resposta [29]. Os dados obtidos foram agrupados por semelhanças, segundo o objetivo do estudo e são apresentados em Tabelas e Figura.

Resultados

Na Tabela I, estão apresentadas algumas carac-terísticas sociais e demográficas, disponíveis no ban-co de dados hospitalar, de 2564 pacientes assistidos com acupuntura financiada pelo SUS, entre 2010 a 2016, gerando-se 19.034 atendimentos na insti-tuição. Nota-se que a maioria dos pacientes era do sexo feminino (1952 – 76,1%), com ocupação do lar (739 – 28,8%); escolaridade de ensino fundamental (1077 – 42%); religião católica (1651 – 64,3%). A grande maioria (2551- 99,4%) era procedente da Direção Regional de Saúde de São José do Rio Preto (DRS XV).

Tabela I - Caracterização sociodemográfica dos pacien-tes submetidos à acupuntura financiada pelo SUS, entre junho de 2010 a julho de 2016. São José do Rio Preto, 2016.

Variáveis N pacientes %

Sexo 2564 100Feminino 1952 76,1Masculino 612 23,8Ocupação 2564 100Aposentado 119 4,6Do lar 739 28,8Estudante 60 2,3Trabalhadores do poder público 54 2,1Profissionais das ciências e das artes

50 1,9

Técnicos de nível médio 161 6,2Trabalhadores agropecuários 28 1,0Trabalhadores de bens e servi-ços industriais

198 7,7

Trabalhadores de manutenção e reparação

15 0,5

Trabalhadores de serviços ad-ministrativos

90 3,5

Trabalhadores de comércio e serviços

170 6,6

Sem informação 880 34,3Escolaridade 2564 100Sem escolaridade 81 3,1Fundamental 1077 42Médio 608 23,7Superior 175 6,8

Page 45: BRASIL - irp-cdn.multiscreensite.com · Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine Kareny da Silva, Mônica Oliveira Rios, ... (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

43

Enfermagem BRASIL

Ano 2017 - Volume 16 - Número 1

no hospital campo deste estudo.

Tabela III - Número de atendimentos de acupuntura com financiamento pelo SUS, no período de junho de 2010 a julho de 2016. São José do Rio Preto, 2016.

Ano NMédia ±

DP2

Media-

na(Mín;Máx)

Valor

P1

20101758 0,68 ±

1,95 cd0,00

(0,0;16,0)

< 0,001

20114562 1,77 ±

3,55 a0,00

(0,0;24,0)

20123994 1,55 ±

3,20 a0,00

(0,0;22,0)

20132570 1,00 ±

2,98 b0,00

(0,0;25,0)

20142499 0,97 ±

3,31 b0,00

(0,0;36,0)

20152183 0,85 ±

2,68 bc0,00

(0,0;24,0)

2016 14680,57 ± 1,61 d

0,00 (0,0;13,0)

1Valor P referente ao teste de Análise de Variância com teste

de comparação múltipla de Games-Howell a P < 0,05; 2Mé-

dia ± DP: média ± desvio padrão.

Figura 1 - Distribuição do número total de atendimentos de acupuntura por ano.

201 6201 5201 4201 3201 2201 1201 0

4500

4000

3500

3000

2500

2000

1 500

Ano

Núm

ero

de a

tend

imen

tos

1468

2183

24992570

3994

4562

1758

Na Tabela IV apresenta-se a estatística descriti-va de 2564 atendimentos de acupuntura, quanto aos valores gastos com essa terapia no hospital campo do estudo. O número médio de atendimentos nos anos avaliados foi de 7,4 com desvio padrão de 8,9 atendimentos e mediana de 5,0 atendimentos. O financiamento médio com a realização da prática de acupuntura, por paciente, foi de 91,99 reais com desvio padrão de 120,10 reais e mediana de 56,52 reais, atingindo um máximo de 1.429,06

Sem informação 623 24,3Religião 2564 100Católica 1651 64,3Espiritualista 95 3,7Evangélico/cristão 464 18,1Sem religião 78 3,0Sem informação 276 10,7Procedência 2564 100DRS XV 2551 99,4DRS II 1 0,0DRS III 3 0,1DRS V 3 0,1Outros estados 1 0,0Sem informação 5 0,2

Na Tabela II são apresentados os motivos para a realização da acupuntura entre os pacientes inclu-ídos no estudo. Observa-se que a maioria procurou a acupuntura como tratamento alternativo para problemas ortopédicos (1846 – 72%), seguido de problemas neurológicos (359 – 14%) e de processos infecciosos/inflamatórios (133 – 5,1%) .

Tabela II - Perfil clínico dos pacientes submetidos à acupuntura com financiamento pelo SUS, no período de junho de 2010 a julho de 2016. São José do Rio Preto, 2016.

Variáveis N %Descrição pelo CID 2564 100Dermatológico 17 0,6Digestivo 6 0,2Dor não especificada 6 0,2Endocrinológico 8 0,3Exame médico 7 0,2Ginecológico 6 0,2Infeccioso/Inflamatório 133 5,1Neurológico 359 14,0Oftalmológico 3 0,1Ortopédico 1846 72,0Otorrinolaringológico 14 0,5Proctológico 8 0,3Psicológico 1 0,0Respiratório 7 0,2Sem informação 74 2,8

A Tabela III e a Figura 1 mostram as estatísticas descritivas do número de atendimentos de acupun-tura financiada pelo SUS ao longo dos anos de junho de 2010 a julho de 2016. Nota-se que o número de atendimentos de acupuntura foi superior nos anos de 2011 e 2012, decrescendo de forma significativa após o ano de 2013. Ainda, que os anos de 2010 e de 2016 apresentaram menores quantidades de atendimento de acupuntura financiada pelo SUS,

Page 46: BRASIL - irp-cdn.multiscreensite.com · Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine Kareny da Silva, Mônica Oliveira Rios, ... (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

44

Enfermagem BRASIL

Ano 2017 - Volume 16 - Número 1

problemas físicos e emocionais, sendo recomendável a combinação dessa técnica com outros tratamentos convencionais [8,10,18]. Está entre as PIC mais conhecidas e utilizadas por diferentes usuários da saúde, assim como a mais prescrita por médicos de diversas especialidades, geralmente como tratamen-to complementar de agravos à saúde de pacientes que referem dor crônica [16,30].

No entanto, ainda é incipiente em nosso meio como evidenciar cientificamente os mecanismos de ação e os resultados da acupuntura, pois é uma prá-tica que pode ser realizada com diferentes técnicas, mas sem bula para explicar indicações, efeitos e a escolha do melhor procedimento, somando-se as deficiências na formação e atuação de acupunturis-tas. Alguns estudos no Brasil sustentam a hipótese de que há progressivo interesse pelas PIC e de modo geral mais sensibilização, ou menor oposição ou re-sistência de médicos, em especial aqueles que atuam na atenção primária [30,34]. Em parte isso pode ser explicado pela insatisfação com a biomedicina e suas iatrogenias decorrentes; altos custos da alopatia ou da medicina convencional; métodos diagnósti-cos, terapêuticos, tecnologia e produtos com foco na doença e não no doente e possível apenas para poucos. As qualidades atribuídas às PIC ressaltam: abordagem mais holística no cuidado; a integralida-de da atenção, a humanização, a universalidade, o estímulo às forças curativas do organismo e menor potencial de dano [8-9,16,33].

Outros estudos mostram que usuários da acu-puntura apresentaram diminuição na intensidade e frequência de dor, avanço no desenvolvimento cognitivo com o decorrer das sessões, remissão das queixas e progressiva suspensão do uso de analgési-cos, antidepressivos, laxantes intestinais e indutores de sono [8,21,23,24]. Também é uma possibilidade terapêutica eficaz e de baixo custo, ou menor custo que os tratamentos convencionais, em muitas situ-ações de atenção a agravos de saúde [16,25].

Um aspecto que merece discussão nesta pes-quisa é o número que consideramos reduzido de atendimentos com acupuntura no hospital estu-dado, de porte extra e que praticamente é o único

reais. O financiamento médio, por atendimento, foi de 12,15 reais com desvio padrão de 3,74 reais e mediana de 14,13 reais, atingindo um máximo de 21,47 reais por atendimento.

Na Tabela V são destacados os resultados da análise comparativa entre os dados

sociais dos pacientes participantes deste estudo quanto ao número de atendimentos e no financiamento total da acupuntura, verificando-se: diferenças significativas no número de atendimentos e no financiamento total da acupuntura (maior para as mulheres; o número total de atendimentos foi superior para as ocupações de aposentado e do lar e o menor número foi para técnicos de nível médio e outras ocupações); tanto o número de atendimentos quanto o financiamento total foram superiores para os pacientes sem escolaridade ou com menor esco-laridade; pacientes católicos e espiritualistas apre-sentaram maior número de atendimentos e maior financiamento referente à prática de acupuntura, diferenciando-se de forma significativa dos pacientes evangélicos e sem religião; o financiamento indivi-dual também apresentou diferenças significativas (P = 0,034), sendo que tal financiamento foi superior para os pacientes sem religião e inferior para os pacientes espiritualistas; o financiamento individual das sessões de acupuntura nos pacientes do estudo mostrou diferenças significativas para a comparação com CID (P < 0,001), sendo que o financiamento individual foi significativamente superior para os casos infecciosos/inflamatórios e inferior para os casos ortopédicos e outros casos.

Discussão

A acupuntura é uma prática oriental milenar, fundamentada na medicina chinesa, que envolve princípios humanísticos, religiosos e filosóficos, tem sido tema de investigações científicas, clínicas e expe-rimentais e reconhecida no mundo ocidental [1,2].

Resultados de pesquisas sobre a acupuntura mostram seu caráter holístico e abrangente, que permite seu emprego em praticamente todos os tipos de problema, com influência profunda sobre muitos

Tabela IV - Estatísticas descritivas do número total de atendimentos e dos financiamentos referentes à acupuntura com financiamento pelo SUS em reais, no período de junho de 2010 a julho de 2016. São José do Rio Preto, 2016.

Variável N Média ± DP Mediana (Mín;Máx)Total de atendimentos 19034 7,42 ± 8,99 5,0 (1,0;106,0)Financiamento por paciente 2564 91,99 ± 120,10 56,5 (0,0;1429,0)Financiamento por atendimento 19034 12,15 ± 3,74 14,1 (0,0;21,4)

Page 47: BRASIL - irp-cdn.multiscreensite.com · Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine Kareny da Silva, Mônica Oliveira Rios, ... (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

45

Enfermagem BRASIL

Ano 2017 - Volume 16 - Número 1

Tabela V - Comparação do perfil da população, segundo o número total de atendimentos e do financiamento total e individual da acupuntura no período de junho de 2010 a julho de 2016. São José do Rio Preto, 2016.

Variáveis N (paciente)

Número total de atendimentos por pa-ciente

Financiamento total Financiamento indivi-dual

Média ± DP Valor P Média ± DP Valor P Média ± DP Valor P

Sexo1Feminino 1952 7,62 ± 8,76

< 0,00194,46 ± 116,85

<0,00112,20±3,70 0,2143

Masculino 612 6,77 ± 9,66 84,11 ± 129,73 11,98±3,86

Ocupa-ção2

Aposentado 1199,82 ± 11,89 a

< 0,001

126,40 ± 157,90 a

0,001

12,82±3,26 0,5524

Do lar 7398,95 ± 9,78 a

110,65 ± 132,09 a

12,11±3,80

Técnicos de nível médio

1616,52 ± 6,66 b

83,27 ± 89,18 b 12,72±3,15

Trabalha-dores de produção industrial

1987,00 ± 9,29 ab

85,83 ± 124,85 a

11,84±3,92

Trabalha-dores de serviços administra-tivos

908,42 ± 13,06 ab

108,00 ± 169,50 a

12,91±2,43

Trabalha-dores de comércio

1707,90 ± 10,61 ab

103,50 ± 151,20 a

12,24±3,75

Outras 2076,37 ± 6,69 b

82,96 ± 90,39 b 12,53±3,47

CID2

Infeccioso/inflamatório

1338,23 ± 10,04

0,436

110,60 ± 133,90

0,471

13,31±2,04 a

< 0,001

Neurológico 359 7,05 ± 8,09 90,49 ± 106,6812,72±3,31 ab

Ortopédico 1846 7,56 ± 9,06 93,72 ± 122,3212,27±3,75 b

Outros 1528,63 ± 10,33

97,10 ± 125,7010,85±3,82 c

Escolari-dade2

Sem escola-ridade

818,88 ± 9,30 a

0,001

106,30 ± 120,80 ab

0,001

11,86±3,86 0,088

Fundamen-tal

10778,55 ± 10,46 a

106,89 ± 140,66 a

12,16±3,77

Médio 6087,05 ± 8,88 b

87,08 ± 115,95 b

12,32 ± 3,47

Superior 1756,35 ± 7,89 b

77,17 ± 107,33 b

11,65 ± 4,13

Reli-gião2

Católica 16518,15 ± 10,02 a

<0,001

101,40 ± 133,54 a

<0,001

12,21 ± 3,67 ab

0,034

Espiritualista 957,73 ± 10,24 ab

95,90 ± 140,00 ab

11,55 ± 4,05 b

Evangélico/cristão

4646,58 ± 6,84 b

81,01 ± 92,87 b12,00 ± 3,82 ab

Sem religião 785,83 ± 4,26 b

76,93 ± 62,62 b13,09 ± 2,81 a

1Valor P referente ao teste de Mann-Whitney a P < 0,05; 2Valor P referente ao teste de Análise de Variância com teste de comparação

múltipla de Games-Howell a P < 0,05; 3Valor P referente ao teste t para amostras independentes a P < 0,05; 4Valor P referente ao

teste de Kruskal-Wallis a P < 0,05.

Page 48: BRASIL - irp-cdn.multiscreensite.com · Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine Kareny da Silva, Mônica Oliveira Rios, ... (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

46

Enfermagem BRASIL

Ano 2017 - Volume 16 - Número 1

com condições efetivas de realizar tal assistência. É possível aventar que ainda são desconhecidos para a maioria da população e dos profissionais de saúde, particularmente dos médicos que prescrevem, as políticas públicas brasileiras que possibilitam finan-ciamento de práticas de atenção em saúde como a acupuntura.

Isso demonstra a necessidade em maior divul-gação dos benefícios da acupuntura no âmbito da atenção primária de saúde, que devem contribuir para aumentar os encaminhamentos [2-3,9]. Seja no âmbito privado, seja no público, é importante à proposição e implantação de medidas que facilitem e melhorem o acesso de usuários de acupuntura, assim como deve haver contínua participação do Estado no financiamento não só da acupuntura, mas também de outras PIC [11].

Neste estudo, o perfil dos 2564 pacientes que foram submetidos à acupuntura, com financiamento pelo SUS, entre os anos de 2010 a 2016, revelou:

predominância do sexo feminino, resultado semelhante a outras pesquisas, revelando que as mulheres procuram mais atendimentos junto ao SUS que os homens e também aceitam mais as práticas de saúde complementares, como a acu-puntura. Quanto aos homens, geralmente não se detêm para entender e usar práticas de atenção em saúde não convencionais e, por consequência, estão mais expostos a agravos de saúde que aumentam a morbimortalidade masculina [34,35].

Uso da acupuntura a indivíduos de menor escolaridade e renda. Alguns estudos destacam que nas últimas décadas, inclusive no Brasil, os usuários da acupuntura, entre pessoas que financiam seus atendimentos, têm maior escolaridade e maior renda [36,37].

A maioria dos pacientes incluídos nesta pesquisa procurou a acupuntura como tratamento alternativo para problemas ortopédicos (72,00%), seguido de problemas neurológicos (14,00%) e de processos infecciosos/inflamatórios (5,19%). Se-gundo a literatura pesquisada, em países ocidentais a acupuntura é procurada como tratamento de di-versas doenças e agravos à saúde, como por exemplo: enxaquecas, problemas gastrointestinais, alergias, algias diversas e problemas emocionais [2,3,38,39].

O número médio de atendimentos/paciente nos anos analisados foi de 7,42 e mediana de 5,00 atendimentos; foi superior nos anos de 2011 e 2012, com diminuição significativa após 2013. Os anos de 2010 e o de 2016 foram os que apresentaram

menores quantidades de atendimento referentes a essa prática. Pode-se justificar no número “peque-no” de atendimentos com acupuntura os seguintes fatos: apesar das diretrizes públicas, no hospital estudado cabe apenas aos médicos a aplicação de acupuntura; foi informado pelo médico chefe do serviço de acupuntura que a redução do número de atendimentos de acupuntura no hospital é reflexo da despactuação com o governo municipal no atendimento a pacientes da cidade; a diminuição do número de médicos residentes lotados para essa função; o acesso à acupuntura no hospital vem se restringindo a pacientes de interconsultas, que são aqueles encaminhados por outras especialidades dentro do ambulatório da instituição. Este médico não respondeu o motivo de não participação de profissionais não médicos. Uma questão que tem acirrado debate e amplas discussões no foco da lei e do direito, da regulamentação da prática e que tem evidenciado aspectos corporativos de profissionais da medicina no Brasil, diz respeito à não inclusão no atendimento à acupuntura de profissionais que não são médicos [40].

Tais fatos permitem supor que mesmo sendo praticamente a única instituição que atua pelo SUS na prestação desse serviço na cidade e na sub-região da DRS XV, existem condições estruturais e profis-sionais que limitam a possibilidade de atendimento e de revelar maior abrangência, eficiência e eficácia da acupuntura [41]. Se não há ao menos a possi-bilidade de aumentar a demanda, como estimular diversos perfis de usuários? Acreditamos que sem a inserção de novos profissionais de saúde, com formação e qualificação para atender acupuntura pelo SUS, não será possível manter e muito menos expandir o número de usuários da acupuntura, com financiamento público.

Propiciar maior fluxo de atendimentos de acu-puntura e outras PIC com financiamento público, não vai onerar o sistema de saúde governamental, federal, estadual ou municipal, já que é considerada uma prática de baixo custo e riscos. Ainda, mostra o paradoxo da baixa oferta da acupuntura na rede de atenção primária e representa uma saída expe-rimental frente a usuários que não respondem aos tratamentos convencionais propostos [4,9,39-41].

A perspectiva de busca de crescente aumento de atendimento de acupuntura com financiamento pelo SUS visa além da consonância de melhores condições na saúde com o enfoque na redução do adoecimento e de possíveis internações, além da

Page 49: BRASIL - irp-cdn.multiscreensite.com · Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine Kareny da Silva, Mônica Oliveira Rios, ... (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

47

Enfermagem BRASIL

Ano 2017 - Volume 16 - Número 1

possibilidade de menores gastos de financiamento, pela diminuição do custo e seus gastos fixos [16,42].

Nesta pesquisa, para o perfil de pacientes do sexo feminino, do lar e sem escolaridade, ocorreram mais de 6 atendimentos com financiamentos totais acima de R$ 100,00. Já entre os pacientes do sexo masculino e com ocupação vinculada a serviços industriais, houve menor número de atendimentos (1 a 5 atendimentos) e, por conseguinte, o menor financiamento referente à prática da acupuntura (até R$ 50). Pacientes aposentados, com 60 anos de idade ou mais, de ensino fundamental e com problemas ortopédicos, apresentaram gastos com acupuntura em torno de R$ 50,00 a R$ 100,00. O financiamento médio, por paciente, com a realização da prática de acupuntura, foi de R$ 91,99 e de R$ 12,15 a média de custo por atendimento.

Há falta de estudos brasileiros abordando a temática sobre o financiamento de acupuntura pelo SUS [43]. O SIGTAP [28] (Sistema de Gerencia-mento da Tabela de Procedimentos, Medicamentos e órteses, próteses e materiais especiais do SUS) disponibiliza valores repassados de R$ 3,67 em sessão de acupuntura com aplicação ventosa/moxa e de R$ 4.13 em sessão de acupuntura com agulhas.

Vale lembrar que a transferência do repasse de valores monetários dos recursos federais para os municípios privilegia aqueles com maior número de habitantes, situados na faixa de 50-100 mil pessoas [42]. Tal condição confere em âmbito demográfico, social, político e econômico da sociedade brasileira, uma repercussão direta na vida e saúde da população por ações que demandam em uma reformulação do sistema e melhor alocação dos recursos públicos [25,43].

O Ministério da Saúde tem manifestado que estão sendo ampliados os esforços nas bases de finan-ciamento sob a forma do repasse deste dinheiro na oferta do serviço disponível [25,43]. A inserção da Política Nacional de Práticas Integrativas e Comple-mentares (PNPIC) na rede municipal de saúde exige a elaboração de normas técnicas; definição de recur-sos orçamentários e financeiros; estabelecimento de mecanismos para a qualificação dos profissionais; apresentação e aprovação da proposta de inclusão no conselho municipal de saúde, com acompanhamen-to e avaliação da implantação, usando instrumentos de gestão e indicadores econômicos [32,43,44].

Embora até possam conhecer o conteúdo da PNPIC, muitos gestores não a utilizam para o de-senvolvimento do seu serviço, temendo a falta de

garantia de recursos pelos entes governamentais. E mais, o Ministério da Saúde vem publicando, ano após ano, documentos (estratégias, pactos, programas e diretrizes) que apontam caminhos para efetivação do SUS, mas em nenhum deles há menção, citações ou referências às PIC e à política que regulamenta essas práticas no SUS. Não estão inseridas no pacto pela saúde, composto por três documentos: pacto pela vida, pacto em defesa do SUS e pacto de gestão, assim como não estão nas leis de diretrizes orçamentárias, nas normas opera-cionais básicas. Como resultado, as PICs se tornam uma política isolada de atenção em saúde, pouco conhecida e de pouca influência [43].

No processo de melhorias e reformas pelos gestores, a efetivação de maior atendimento da acu-puntura financiada pelo SUS deve incluir mecanis-mos para prover número suficiente de profissionais capacitados, garantia de financiamento e espaço institucional para o desenvolvimento da acupuntura [4,11]. Entretanto, o empenho à solução de forma adequada dos problemas complexos, apresenta uma série de desafios administrativos no que tange aos processos decisórios em planejar e avaliar, podendo resultar em restrições à criação, articulação e ma-nutenção dos recursos financiados [44]. Para que ocorra maior inserção do serviço de acupuntura no SUS, é necessário avaliações e monitoramento de ações presente tanto do governo e seus gestores, quanto do usuário que contribui no desempenho em um processo continuo fiscalizador como cidadão brasileiro que conhece os seus direitos e assim ser ofertado a população a integralidade desta prática no SUS [32,43]. Desse modo, a destinação do recurso financeiro para uso das PICs financiada pelo SUS tem mostrado de forma obscura o esclarecimento do orçamento real [13,27].

Apesar da escassez de estudos relacionados ao tema acupuntura como prática integrativa e seu financiamento pelo SUS, deve-se buscar um incen-tivo à maior inserção desse seguimento terapêutico no sistema público de saúde. Os poucos estudos realizados no Brasil sobre a acupuntura já trazem indícios de uma elevada satisfação dos pacientes que tiveram acesso a tal prática, além de mostrarem redução de despesas e custos no tratamento e inter-nações hospitalares [11,16,25,45,46].

Recomenda-se a realização de pesquisas que abordem com mais exatidão e clareza aos usuários do serviço de acupuntura, o poder de acompanhar e até mesmo controlar o valor ofertado do finan-

Page 50: BRASIL - irp-cdn.multiscreensite.com · Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine Kareny da Silva, Mônica Oliveira Rios, ... (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

48

Enfermagem BRASIL

Ano 2017 - Volume 16 - Número 1

ciamento pelo SUS, seja pelos meios eletrônicos ou até mesmo divulgação escrita, visível em locais onde se realiza a prestação do serviço [45]. Ainda, no que diz respeito ao financiamento da acupuntura, as análises de custo benefício, eficácia clínica são de extrema importância em todo o complexo do sistema de atenção em saúde, além da definição da qualificação e regulamentação acerca dos profissio-nais que podem atuar.

Conclusão

A relação da pouca oferta ao usuário com cor-relação à demanda de atendimento da acupuntura financiada pelo SUS no hospital estudado, mostrou que há limitações que não estão sendo objeto de ao menos tentativa de correção, como no caso da realização da acupuntura ficar restrita a médicos e os gestores omitirem o motivo de não participação de outros profissionais qualificados para a aplicação dessa prática.

No aspecto econômico de financiamento da acupuntura, são necessárias investigações mais am-plas e controladas no Brasil, de forma a propiciar maiores condições de adesão de usuários e profissio-nais de saúde, assim como de análise e fiscalização dos recursos destinados à acupuntura.

Há necessidade de aumentar a oferta de atendimento da acupuntura e de outras práticas integrativas e complementares na rede de atenção pública e privada em saúde, seja por estímulo social, profissional ou de políticas públicas de organizações de saúde internacionais e nacionais. Deste modo, o usuário será beneficiado com uma prática efetiva, humanística, com tratamento menos dispendioso aos cofres públicos.

Referências

1. Organización Mundial de La Salud. Estrategia de la OMS sobre medicina tradicional 2002-2005. Ginebra: OMS;2002.

2. Brasil. Ministério da Saúde [homepage na Internet]. Brasília (DF); 2006. Portaria n. 971, de 03 de maio de 2006. Aprova a Política Nacional de Práticas Integrati-vas e Complementares (PNPIC) no Sistema Único de Saúde; [aproximadamente 25 telas]. [citado 2014 Fev 14]. Disponível em URL: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2006/prt0971_03_05_2006html.

3. Saad M, Medeiros R. Terapias complementares--cuidados para evitar cuidados adversos. Einstein: Educ Contin Saúde 2009;7(1 pt 2):42-3.

4. Santos MC, Tesser CD. Um método para a implan-tação e promoção de acesso às Práticas Integrativas e

Complementares na Atenção Primária à Saúde. Ciênc Saúde Colet 2012;17(11):3011-24.

5. Luz MT. Especificidade da contribuição dos saberes e práticas das ciências sociais e humanas para a saúde. Saude Soc 2011;20(1):22-31.

6. Otani MAP, Barros NFA. Medicina Integrativa e a construção de um novo modelo na saúde. Ciênc Saúde Coletiva 2011;16(3):1801-11.

7. Pelizzoli ML. Saúde: entre Ciência, Doença e Mercado: reflexões espistemológico-críticas. In: Barreto AF, orga-nizador. Integralidade e saúde: epistemologia, política e práticas de cuidado. Recife: EDUFPE; 2011. p. 31-47.

8. Silva EDC, Tesser CD. Experiência de pacientes com acupuntura no Sistema Único de Saúde em diferentes ambientes de cuidado e (des)medicalização social. Cad Saúde Pública 2013;29(11):2186-96.

9. Lima KMSV, Silva KL, Tesser CD. Práticas integrativas e complementares e relação com promoção da saúde: experiência de um serviço municipal de saúde. Interface Comun Saúde Educ 2014;18(49):261-72.

10. Fontanella F, Speck FP, Piovezan AP, Kulkamp IC. Co-nhecimento, acesso e aceitação das práticas integrativas e complementares em saúde por uma comunidade usu-ária do Sistema Único de Saúde na cidade de Tubarão/SC. ACM Arq Catarin Med 2007;36(2):69-4.

11. Dallora MELV, Forster AC. A importância da gestão de custos em hospitais de ensino- considerações teóricas. Medicina (Ribeirão Preto) 2008;41(2):135-42.

12. Leite VR, Lima KC, Vasconcelos CM. Financiamen-to, gasto público e gestão dos recursos em saúde: o cenário de um estado brasileiro. Ciênc Saude Colet 2012;17(7):1849-56.

13. Dain S. Os vários mundos do financiamento da Saúde no Brasil: uma tentativa de integração. Ciênc Saude Colet 2007;12(Suppl):1851-64.

14. Estrela WL. Reflexões a respeito da trajetória politico--institucional do atendimento médico homeopático no Brasil. Rev Cult Homeopát 2006;(15):15-20.

15. Galhardi WMP, Barros NF, Leite-Mor ACMB. O conhe-cimento de gestores municipais de saúde sobre a Política Nacional de Prática Integrativa e Complementar e sua influência para a oferta de homeopatia no Sistema Único de Saúde local. Ciênc Saude Colet 2013;18(1):213-20.

16. Ambrósio EMM, Bloor K, MacPherson H. Costs and consequences of acupuncture as a treatment for chro-nic pain: a systematic review of economic evaluations conducted alongside randomised controlled trials. Complement Ther Med 2012;20(5):364-74.

17. Gottems LBD, Pires MRGM. Para além da atenção básica: reorganização do SUS por meio da interse-ção do setor político com o econômico. Saude Soc 2009;18(2):189-98.

18. Pelletier KR, Herman PM, Metz RD, Nelson CF. Health and medical economics applied to integrative medicine. Explore (NY) 2010;6(2):86-99.

19. Estrela WL. Reflexões a respeito da trajetória politico--institucional do atendimento médico homeopático no Brasil. Rev Cult Homeopát 2006;(15):15-20.

20. Tesser CD, Barros NF. Medicalização social e medicina alternativa e complementar: Pluralização terapeuti-ca do Sistema Unico de Saúde. Rev Saude Pública 2008;42(5):914-20.

Page 51: BRASIL - irp-cdn.multiscreensite.com · Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine Kareny da Silva, Mônica Oliveira Rios, ... (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

49

Enfermagem BRASIL

Ano 2017 - Volume 16 - Número 1

21. Herman PM, Poindexter BL, Witt CM, Eisenberg DM. Are complementary therapies and integrative care cost--effective? A systematic review of economic evaluations. BMJ Open 2012;2(5):pii:e001046.

22. Rocha SP, De Benedetto MAC, Fernandez FHB, Gallian DMC. A trajetória da introdução e regulamen-tação da acupuntura no Brasil: memórias de desafios e lutas. Ciênc Saúde Coletiva 2015;20(1):155-64.

23. Cintra MER, Pereira PPG. Percepções de corpo iden-tificadas entre pacientes e profissionais de medicina tradicional chinesa do centro de saúde escola do Bu-tantã. Saude Soc 2012;21(1):193-205.

24. Goyatá SLT, Avelino CCV, Santos SVM, Souza Junior DI, Gurgel MDSL, Terra FS. Efeitos da acupuntura no tratamento da ansiedade: revisao integrativa. Rev Bras Enferm 2016;69(3):602-9.

25. Piola SF, Servo LMS, Sá EB, Paiva AB. Estruturas de financiamento e gasto do sistema público de saúde. Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz; 2013.

26. Ostermann T, Krummenauer F, Heusser P, Boehm K. Health economic evaluation in complementary medicine. Development within the last decades con-cerning local origin and quality. Complement Ther Med 2011;19(6):289-302.

27. Stamuli E, Bloor K, MacPherson H, Tilbrook H, Stu-ardi T, Brabyn S et al. Cost-effectiveness of acupunc-ture for irritable bowel syndrome: findings from an economic evaluation conducted alongside a pragmatic randomised controlled trial in primary care. BMC Gastroenterol 2012;12:149.

28. Brasil. Ministério da Saúde. DATASUS [homepage na Internet] Sistema de Gerenciamento da Tabela de Pro-cedimentos, Medicamentos e OPM do SUS (SIGTAP). [citado 2014 Fev 14]. Disponível em URL: http://sig-tap.datasus.gov.br/tabela-unificada/app/sec/inicio.jsp.

29. Hair JF, Black WC, Babin BJ, Anderson RE, Tatham RL. Análise multivariada de dados. 6ª ed. Porto Alegre: Bookman; 2009.

30. Deng ZQ, Zheng H, Zhao L, Zhou SY, Li Y, Liang FR. Health economic evaluation of acupuncture along meridians for treating migraine in China: results from a randomized controlled trial. BMC Complement Altern Med 2012;12:75.

31. Pai HJ. A acupuntura uma escolha do futuro? Rev Med 2012;91:1-4.

32. Tesser CD, Luz MT. Racionalidades médicas e inte-gralidade. Ciênc Saúde Coletiva 2008;13(1):195-206.

33. Galli KSB, Scaratti M, Diehl DA, Lunkes JT, Rojahn D, Schoeninger D. Saúde e equlíbrio através das te-rapias integrativas: relato de experiência. Rev Enferm 2012;8(8):245-55.

34. Albano BR, Basílio MC, Neves JB. Desafios para a inclusão dos homens nos serviços de atenção Primária de Saúde. Rev Enferm Integr 2010;3 (2):554-63.

35. Porto SM, Ugá MAD, Moreira RDS. Uma análise da utilização de serviços de saúde por sistema de finan-ciamento. Ciên Saude Colet 2006;16(9):3795-806.

36. Rodrigues Neto JF, Faria AA, Figueiredo MFS. Me-dicina complementar e alternativa: utilização pela comunidade de Montes Claros, Minas Gerais. Rev Assoc Med Bras 2009;55(3):296-301.

37. Brasil. Portal da Saúde [homepage na Internet]. Bra-sília (DF); 2016. Departamento de Atenção Básica (DAB); [citado 2016 Nov 19]. Disponível em URL: https://blog.atencaobasica.org.br/wp-content/uploa-ds/2016/06/Informe-PICS.pdf

38. Soliday E, Hapke P. Patient-reported benefits of acu-puncture in pregnancy. Complement Ther Clin Pract 2013;19(3):109-13.

39. Ischkanian PC, Pelicioni MCF. Desafios das práticas integrativas e complementares no SUS visando a promoção da saude. Rev Bras Crescimento Desenvolv Hum 2012;22(2):233-8.

40. Pereira CF. A acupuntura no SUS : Uma análise sobre o conhecimento e utilização em Tangará da Serra-MT. Saude e Pesqui (Impr.) 2010;3(2):213-19.

41. Samuels N, Rony RYZ, Singer SR, Dulitzky M, Mankuta D, Shuval JT et al. Use of and attitudes toward complementary and alternative medicine among nurse-midwives in Israel. Am J Obstet Gynecol 2010;203(4):341-7.

42. Mendes A. Discutindo uma metodologia para a aloca-ção equitativa de recursos federais para o Sistema Único de Saúde. Saúde Soc 2011;20(3):673-90.

43. Galhardi WMP, Barros NF, Leite-Mor ACMB. O conhecimento de gestores municipais de saúde sobre a Política Nacional de Prática Integrativa e Comple-mentar e sua influência para a oferta de homeopatia no Sistema Único de Saúde local. Ciênc Saude Colet 2013;18(1):213-20.

44. Brasil. Ministério da Saúde. O SUS de A a Z: garan-tindo saúde nos municípios 3ª ed. Brasília: Ministério da Saúde; 2009.

45. Gottems LBD, Pires MRGM. Para além da atenção básica : reorganização do SUS por meio da interse-ção do setor político com o econômico. Saude Soc 2009;18(2):189-98.

46. Gonzalez Gamez S, Rodriguez Labanino R, Caballero Ordunez A, Selva Capdesuner A. Eficacia terapéutica de la acupuntura en pacientes con sacrolumbalgia. Medisan 2011;15(3):300-7.

Page 52: BRASIL - irp-cdn.multiscreensite.com · Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine Kareny da Silva, Mônica Oliveira Rios, ... (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

50

RELATO DE CASO

Cuidados paliativos a paciente portador de encefalocele

Ana Carolina Paiva, M.Sc.*, Juniel Pereira Honorato**, Maira Sodré Rosário***

*Professora do Curso de graduação em Enfermagem da Universidade da Amazônia (UNAMA), **Discente de Enfermagem da UNAMA, ***Discente de Enfermagem da UNAMA

ResumoA encefalocele é considerada como um defeito do tubo neural e caracteriza-se pela protrusão do tecido encefálico através de uma falha estrutural do tecido ósseo craniano. Este estudo teve como objetivo implementar estratégias em busca da otimização do cuidado paliativo ao paciente pediátrico portador de encefalocele. Tratou-se de um estudo descritivo, do tipo relato de caso, dos cuidados de enfermagem a um paciente portador de má formação congênita, em um hospital de referência ao atendimento neonatal. Devido à gravidade do caso, a equipe foi orientada a manter cuidados paliativos, para conforto do paciente e seus familiares. Sem perspectiva de tratamento, faz-se necessário realizar curativo estéril, controle térmico; manter a alimentação por sucção e, caso não seja eficiente, administrar com SOG e higiene íntima satisfatória. As más formações congênitas, em grande maioria, precisam ser compreendidas para que a equipe de enfermagem possa prestar assistência de forma singular e satisfatória amenizando os transtornos causados pelas alterações físicas e fisiológicas das patologias.

Palavras-chave: Enfermagem, encefalocele, cuidados paliativos.

AbstractPalliative care to an encephalocele patientEncephalocele is considered as a neural tube defect. It is characterized by the protrusion of encephalic tissue through a structural break in cranial bone. The objective of this study was to implement strategies looking for optimize the palliative care to a pediatric encephalocele patient. It is a descriptive case report study of the nursing assistance of a congenital malformation patient in a reference hospital of neonatal treatment. Due to the severity of the case, the team was oriented to maintain the palliative care to comfort the patient and family. With no perspective to be healed, it is necessary to do sterile bandage, thermal control, keep feeding by suction or if it is not efficient, feed by orogastric tube insertion and to do satisfactory hygiene in the genital area. The malformation diseases, in most of the cases, need to be understood for the nursing staff to assist the patient in a singular and satisfactory way and softening the disorders caused by physical and physiological pathologies alterations.

Key-words: nursing, encephalocele, palliative care.

Recebido em 4 de novembro de 2016; aceito em 15 de fevereiro de 2017. Endereço para correspondência: Ana Carolina Paiva, Rua 15 de Agosto, nº 91, 66810-070 Belém PA, E-mail: carol.almeida.

[email protected], [email protected], [email protected]

Page 53: BRASIL - irp-cdn.multiscreensite.com · Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine Kareny da Silva, Mônica Oliveira Rios, ... (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

51

Enfermagem BRASIL

Ano 2017 - Volume 16 - Número 1

Resumen Cuidados paliativos brindados a paciente portador de encefaloceleEl encefalocele es considerado como un defecto del tubo neural y se caracteriza por la protrusión de tejido cerebral por un fallo estructural del hueso craneal. Este estudio tuvo como objetivo poner en práctica estrategias en busca de optimización de los cuidados paliativos para el paciente pediátrico con encefalocele. Se realizó un estudio descriptivo, tipo estudio de caso, sobre los cuidados de enfermería a un paciente con malformación congénita, en un hospital de cuidados neonatales de renombre. Debido a la gravedad del caso, los cuidados paliativos fueron mantenidos para la comodidad del paciente y sus familiares. Sin perspectiva de tratamiento, es necesario utilizar gasa estéril, controlar la temperatura corporal, mantener la alimentación por succión y, si no es eficaz, administrar una sonda orogástrica (SOG) y una higiene íntima satisfactoria. Las malformaciones congénitas, en muchos casos, necesitan ser comprendidas para que el personal de enfermería pueda dar una atención de forma singular y satisfactoria amenizando los trastornos causados por los cambios físicos y fisiológicos.

Palabras-clave: Enfermería, encefalocele, cuidados paliativos.

Introdução

Os defeitos do tubo neural são malformações congênitas que ocorrem na fase inicial embrionária, geralmente entre a terceira e a quinta semana de gestação. Apresentando aspectos clínicos diferentes, sendo a Anencefalia e espinha bífidas mais comuns, representando cerca de 90% de todos os casos do defeito do tubo neural. Os 10% dos casos restantes consistem principalmente em encefalocele [1].

As causas dos defeitos do tubo neural não são claramente esclarecidas, porém estudos indi-cam que está correlacionada a nutrição deficiente, especialmente ao não uso de ácido fólico, a causa genética ou ao uso de drogas, podendo também estar relacionada a certos medicamentos como os usados para controle de convulsões [1].

A maneira como o mecanismo genético opera ainda não está bem explicitado, porém há fortes indícios do seu envolvimento. Outro destaque é para a presença de defeitos do fechamento do tubo neural em diversas síndromes genéticas, como na síndrome de Waardenburg e nas trissomias de cro-mossomos [2].

Nota-se que vários genes atuam no fecha-mento do tubo neural; enquanto alguns desses genes conferem um forte componente genético, outros produzem pequenos efeitos ou interagem com outros genes. Os genes mais estudados são os que possuem relação com o metabolismo do ácido fólico. Diversos estudos já mostram uma relação significativa deste gene afetado, observado também em suas mães, porém o exato mecanismo como o ácido fólico está envolvido na embriogênese do tubo neural é ainda desconhecido [2].

Os defeitos no fechamento do tubo neural têm grande destaque na morbimortalidade infantil. Quando se trata de anencefalia o recém-nascido evolui a óbito logo após o nascimento ou ocorre óbito fetal. Outrora os pacientes portadores de mie-lomeningocele ou meningocele podem manifestar comprometimento grave da sua capacidade motora como paralisia dos membros inferiores [3].

Apesar de a medicina contar com um aparato tecnológico, muitos pacientes não conseguem se beneficiar por causa de suas patologias, e os cuidados paliativos – uma linha de cuidados caracterizados pelo cuidado ativo ao paciente cuja doença não responde mais ao tratamento curativo, tendo como prioridade o controle da dor e o acompanhamento psicológico, social e espiritual – proporcionam me-lhor qualidade de vida ao paciente e a família [4].

Material e métodos

A pesquisa teve uma abordagem descritiva, tipo relato de caso, elaborado após o estudo da matéria de cuidados paliativos, ocasião que fermentou o interesse pelo aprimoramento do conhecimento na área, quando se teve a oportunidade de acompanhar um paciente sem resposta ao tratamento curativo.

Foi acompanhado o recém-nascido com má formação congênita do tubo neural, diagnosticado com encefalocele em sutura lambdoide e microce-falia, nascido de parto Cesário, em um hospital de referência em atendimento neonatal, pesando 3500 kg, estatura 51 cm, perímetro cefálico prejudicado devido a sua patologia. Este possuía reflexos primi-tivos, ao exame de imagem observou-se exposição da massa encefálica extensa e após avaliação do

Page 54: BRASIL - irp-cdn.multiscreensite.com · Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine Kareny da Silva, Mônica Oliveira Rios, ... (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

52

Enfermagem BRASIL

Ano 2017 - Volume 16 - Número 1

como irritabilidade e hiperemia. Foram avaliados os reflexos das pupilas e simetria de 2 em 2 horas, pois mudanças poderiam indicar comprometi-mento neurológico e possível aumento da pressão intracraniana.

Conclusão

O estudo possibilitou evidenciar que, embora o paciente com encefalocele neste caso não possuísse perspectiva de cura, a equipe de enfermagem é muito importante na realização dos cuidados paliativos, na busca do alívio do sofrimento do paciente e seus familiares. Porém ainda são escassas publicações re-ferentes aos cuidados ao paciente com encefalocele, dificultando dessa forma a busca de conhecimento e a promoção de uma melhor assistência.

Para isso, é indispensável utilizar de estratégias de ensino que favoreçam o alcance das competências necessárias para a realização do cuidado paliativo aos pacientes em diversas patologias sem possibilidades de cura, bem como aos acometidos por encefaloce-le, que assim resultara em uma enfermagem mais preparada e capaz de oferecer uma assistência de qualidade e satisfação ao paciente, bem como aos familiares, procurando amenizar o sofrimento e angústias provenientes da doença.

Referências

1. Luiz FCN. Prevalência de defeitos de fechamento de tubo neural no Vale do Paraíba, São Paulo. Universida-de de Taubaté (Unitau), Taubaté, SP, Brasil. Rev Paul Pediatr 2008;26(4):372-7.

2. Marcos JBA, Ângela SC, Regina ALPA, Ana Maria AL, Renata LM, Luciana TB. Defeitos de fechamento do tubo neural e fatores associados em recém-nascidos vi-vos e natimortos. J Pediatr (Rio J) 2003;79(2):129-347.

3. Leonor MPS, Michelle ZP. Efeito da fortificação com ácido fólico na redução dos defeitos do tubo neural. Fa-culdade de Ciências da Saúde, Universidade de Brasília, Brasília, Brasil. Cad Saúde Pública 2007;23(1):17-24.

4. Ednamare PS, Dora S. Concepções sobre cuidados paliativos: revisão o bibliográfica. Acta Paul Enferm 2008;21(3):504-8.

5. Cristiana AJG, Giselle D, Myriam A MP. Crianças com anomalias congênitas: estudos bibliográficos de publicações na área de enfermagem pediátrica. Acta Paul Enferm 2007;20(1):18-23.

6. Tamez RN. Enfermagem na UTI neonatal: assistência ao recém-nascido de alto risco. 5ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2013.

neurocirurgião, não foi possível definir conduta sendo orientado a manter cuidados paliativos, com o objetivo de confortar o paciente e a família.

Resultados e discussão

A enfermagem é marcada como a arte do cui-dar, promover e restabelecer a saúde, prevenir doen-ças e suas complicações. O cuidado de enfermagem à criança portadora de encefalocele inclui vínculo e aconselhamento especialmente à pessoa responsável pelo seu cuidado [5]. Os cuidados de enfermagem promovidos pela equipe foram acompanhados no período do estudo com o objetivo de descrever e implementar estratégias de cuidados paliativos, otimizando o cuidado em busca do conforto do paciente bem como dos seus familiares.

Levando em consideração que os cuidados prestados a uma criança com problemas congênitos podem se tornar uma tarefa desgastante emocional-mente para o cuidador e para família, havendo um trabalho em equipe e aliado ao conhecimento teóri-co e prático, essas dificuldades podem ser superadas com maior facilidade pela equipe [5].

Sem possibilidades de tratamento curativo, os cuidados paliativos foram seguidos com a finalidade de evitar contaminação, perda de líquido e calor e proteger a lesão contra rupturas. Foram realizados curativos estéreis na região da encefalocele com gaze esterilizada, umedecida com soro fisiológico a 0,9% morno, coberto com plástico transparente flexível estéril, este era trocado a cada 2 horas com as técnicas assépticas [6]. O uso de antibióticos deve foi realizado conforme prescrição médica para trata-mento e prevenção de infecções, e o esvaziamento da bexiga via sondagem vesical contínua e intermitente. Sempre mantendo higiene íntima adequada após eliminação de fezes e urina com o objetivo de evitar futuras infecções. Ressalta-se a importância da mu-dança de decúbito entre 2 e 3 horas para promover o conforto e evitar traumatismo da lesão [6].

A equipe de enfermagem deve também au-xiliar os pais a superar o impacto da presença da malformação congênita e ajudá-los a desenvolver mecanismos para cuidar desse paciente, estimulando o relacionamento afetivo dos pais e o envolvimento nos cuidados, enfocando nos aspectos saudáveis e normais do paciente [4].

A identificação precoce de infecções permite que medidas terapêuticas sejam tomadas. Para isso e importante observar sinais e sintomas infecção,

Page 55: BRASIL - irp-cdn.multiscreensite.com · Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine Kareny da Silva, Mônica Oliveira Rios, ... (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

53

REVISÃO

Gestação em mulheres com anemia falciforme: uma revisão sobre as complicações

maternas e fetais

Izabella de Oliveira Santana*, Natália Paiva Guimarães*, Rodrigo Almeida Bastos, M.Sc.**

*Discente do curso de Enfermagem da Faculdade Pitágoras de Feira de Santana/BA, **Enfermeiro, Especialista em Acupuntura, Doutorando em tocoginecologia pela Universidade Estadual de Campinas/SP

ResumoIntrodução: As gestantes portadoras de falcemia estão sujeitas a terem complicações desde a gestação até o puerpério, visto que a fisiopatologia da doença interfere negativamente na gestação. O objetivo deste trabalho, portanto, foi investigar na literatura as principais dificuldades vividas pelas portadoras de falcemia durante o período gestacional, identificando as principais complicações maternas e fetais. Material e métodos: Trata-se de uma revisão da literatura cujos artigos foram encontrados nas bases de dados indexados na Biblioteca Virtual da Saúde, acessada em setembro de 2015. Resultados: A leitura dos artigos selecionados evidenciou que, durante a gestação, tanto as mulheres quanto o embrião - ou feto - estão sujeitos a complicações. Diante disso, foram criadas três categorias temáticas: Agravos clínicos da falcemia durante a gestação; Aspectos emocionais das falcêmicas diante da gestação; Complicações obstétricas e fetais. Conclusão: As gestantes com todos estes fatores complicadores devem ser observadas em sua rotina diária para que haja um acesso rápido ao sistema de atenção à saúde.

Palavras-chave: anemia falciforme, saúde da mulher, gestação.

AbstractPregnancy in women with sickle cell disease: a review of maternal and fetal complicationsIntroduction: The pregnant women with falcemia are subject to have complications from pregnancy to the postpartum period as the pathophysiology of the disease interfere negatively in pregnancy. Therefore, the objective of this work was to investigate in the literature the main difficulties experienced by women with sickle cell anemia during pregnancy, identifying the main maternal and fetal complications. Methods: This study deals with a literature review, being conducted through and materials found in indexed databases Virtual Health Library, accessed in September 2015. The reading of selected articles showed that, during pregnancy, both women and the embryo - or fetus - are subject to complications. Results: The reading of selected articles showed that, during pregnancy, both women and the embryo - or fetus - are subject

Recebido em 30 de julho de 2016; aceito em 21 de fevereiro de 2017. Endereço para correspondência: Izabella de Oliveira Santana, Av. José Falcão da Silva, 1283 Queimadinha, 44050-512

Feira de Santana BA, E-mail: [email protected], [email protected]

Page 56: BRASIL - irp-cdn.multiscreensite.com · Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine Kareny da Silva, Mônica Oliveira Rios, ... (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

54

Enfermagem BRASIL

Ano 2017 - Volume 16 - Número 1

to complications. Thus, the authors created three thematic categories: Clinical Diseases of falcemia during pregnancy; Emotional aspects of sickle before pregnancy; Obstetrical complications. Conclusion: Pregnant women with all these complicating factors should be observed in daily routine so that there is quick access to the health care system.

Key-words: sickle cell anemia, women’s health, pregnancy.

ResumenEl embarazo en mujeres con anemia de células falciformes: una revisión de las complicaciones maternas y fetalesIntroducción: Las mujeres embarazadas con falcemia están sujetas a tener complicaciones durante el embarazo en el período post-parto, ya que la fisiopatología de la enfermedad interfiere negativamente en el embarazo. El objetivo de este estudio fue, por tanto, investigar en la literatura las principales dificultades de las mujeres con falcemia durante el embarazo, la identificación de las principales complicaciones maternas y fetales. Métodos: El presente estudio es una revisión de la literatura cuyos estudios fueron encontrados en las bases de datos indexados en la Biblioteca Virtual de Salud, en septiembre de 2015. Resultados: La lectura de los artículos seleccionados mostró que durante el embarazo, las mujeres y el embrión - o el feto - están sujetos a complicaciones. Por lo tanto, se ha creado tres categorías temáticas: Enfermedades clínicas de falcemia durante el embarazo; Aspectos emocionales de la anemia falciforme antes del embarazo; Complicaciones obstétricas y fetales. Conclusión: Las mujeres embarazadas con todos estos factores de complicación se deben observar en su rutina diaria para que haya un acceso rápido al sistema de salud.

Palabras-clave: anemia de células falciformes, salud de la mujer, embarazo.

Introdução

A gestação é um é um processo historicamente observado com caráter de idealização pela maioria das mulheres, período no qual ocorre a preparação para a maternidade. Porém, em alguns casos, a gravi-dez é sinônimo de sofrimento, como nas portadoras de anemia falciforme, as quais enfrentam compli-cações obstétricas, neonatais e hematológicas, visto que esta patologia se agrava durante a gestação [1,2].

A doença falciforme é uma patologia genética, que tem que como característica, em nível citopato-lógico, a hemácia em forma de foice. Esse formato é resultante da presença da hemoglobina S, a qual sofre polimerização sob baixas tensões de oxigênio, deformando as hemácias. A existência desses glóbu-los vermelhos deformados - ou falcizados - ocasiona problemas como crises álgicas, crises vaso-oclusivas ou hemolíticas. Na gestação, o quadro torna-se mais preocupante, pois existe a relação orgânica com o feto, o qual é diretamente afetado. O processo de afecção do feto pela anemia falciforme materna ocorre devido ao quadro clínico da falcemia, que é descompensado pelas alterações fisiológicas da gestação [3].

A gestante portadora de falcemia pode ter complicações desde a gestação até o puerpério, o que significa que acompanhamento intenso e uma visão

integral a essa paciente são requeridos, direcionados a métodos preventivos de agravos. Estudos mos-tram uma dificuldade na aplicação de tratamento à falcemia pelos profissionais de saúde, haja vista as manifestações da patologia. Em se tratando de ges-tantes, as possibilidades de intervenção ficam ainda mais delicadas, pois durante a gestação há restrições e particularidades a serem consideradas [4].

Além da potencialização das manifestações clínicas da falcemia durante a gestação, o feto é prejudicado pela diminuição da oferta de substratos. A placenta é diferenciada em tamanho, localização e aderência à parede uterina. A gestante falcêmica está sujeita a maior índice de aborto, retardo de crescimento intrauterino, parto prematuro e mor-talidade perinatal [5].

A relevância da gestação e de seus impactos na vida da mulher é considerada desde a criação das primeiras políticas públicas específica para estas. Atualmente temos a Política Nacional de Atenção Integral a Saúde da Mulher (PNAISM) que busca um cuidado integral a essa mulher com uma maior abrangência, porém prioriza ainda os cuidados ade-quados das gestantes a fim de evitar complicações durante o ciclo gravídico-puerperal. Além disso, temos as políticas públicas voltadas para a popu-lação negra, com anemia falciforme, que buscam garantir os direitos dos negros, considerando os

Page 57: BRASIL - irp-cdn.multiscreensite.com · Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine Kareny da Silva, Mônica Oliveira Rios, ... (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

55

Enfermagem BRASIL

Ano 2017 - Volume 16 - Número 1

Os critérios de inclusão foram: 1) artigos com-pletos em português; 2) publicados nos últimos dez anos; 3) que trouxessem informações sobre gestação em portadoras de Falcemia. Os critérios de exclusão foram os seguintes: 1) Descritores incompletos ou em idiomas que não os selecionados; 2) Inexistên-cia de resumo nas bases de dados selecionadas; 3) Estudos com desenho de pesquisa pouco definido e explicitado.

A partir desse filtro, a busca inicial contou com 14 (catorze) artigos, dos quais foram excluídos aqueles repetidos e cuja leitura do título denotasse fuga do tema de discussão proposto por esse estudo. Foram selecionados 10 (dez), nos quais foram feitas leituras do resumo de cada um deles pelos autores deste estudo, excluindo-se 04 (quatro) artigos por não se encaixarem na proposta de discussão. Após esta nova etapa de seleção, foram selecionados 06 (seis) artigos para leitura completa do texto. Após as leituras completas, todos os 06 (seis) foram sele-cionados e incluídos como resultados deste estudo. A coleta de dados foi realizada através da leitura ex-ploratória, seletiva, e registros para posterior análise e interpretação dos dados. Os dados foram dispostos nos resultados em formato de categorias temáticas, as quais foram discutidas com a literatura.

Os artigos selecionados foram lidos na íntegra, sendo sistematizadas suas principais características. A princípio, foram construídas duas tabelas: na primeira, a identificação dos artigos selecionados (nomes dos autores, títulos dos artigos, referência, ano e país onde a pesquisa foi desenvolvida); na segunda, análise dos dados obtidos. Optou-se por uma visão integrativa dos resultados, realizando-se a discussão das informações procurando destacar as principais implicações das análises realizadas para o contexto científico e assistencial.

Figura I - Fluxograma do processo de seleção dos arti-gos pesquisados.

Resultados e discussão

Diante dos resultados obtidos através da seleção de artigos (Tabela I), percebeu-se que as metodologias utilizadas para estudar as questões relacionadas à anemia falciforme e gestação foram variadas. Em maioria, os estudos de campo tanto qualitativos quanto quantitativos trouxeram resul-

aspectos negativos que podem influenciar na sua saúde e respeitando suas particularidades biológi-cas. Tratando-se do período reprodutivo, em que aponta a necessidade do acesso ao serviço de saúde de boa qualidade durante toda a gravidez, parto e puerpério [5].

Diante das possíveis dificuldades que a gestante portadora de falcemia pode encontrar durante sua gravidez, podemos destacar o aspecto psicológico que pode ser afetado, a depender de como ela enfrenta tais problemas. As mulheres no período gestacional encontram-se mais frágeis e, no caso das portadoras de anemia falciforme, esse quadro pode ser potencializado, pois além do sofrimento físico, vivem apreensivas em relação à evolução da gravidez [1].

Sendo assim, visto que a falcemia é uma doença hereditária comum no Brasil e de grande impactos biopsicossocial no processo gravídico da mulher, justifica-se a relevância de estudos que investiguem e evidenciem as dificuldades vivenciadas por essas mulheres no período tão relevante de suas vidas. Estima-se que no país há um crescente número de casos de gestantes falcêmicas, evidenciando a ne-cessidade de por em pauta as discussões sobre suas complicações e, consequentemente, possíveis formas de pensar a prevenção dos riscos e agravos [6,7].

A pergunta disparadora desta investigação foi: Quais as principais complicações vivenciadas pelas portadoras de falcemia durante o período gestacional, evidenciadas na literatura? O objetivo deste trabalho, portanto, foi investigar, através de uma revisão da literatura, as principais dificulda-des vividas pelas portadoras de falcemia durante o período gestacional, identificando as principais complicações maternas e fetais. Foram conside-radas as complicações físicas e psicológicas dessas mulheres.

Material e métodos

O presente estudo trata-se de uma revisão de literatura, sendo uma pesquisa desenvolvida a partir de materiais já elaborados, constituído principal-mente de livros e artigos científicos [8]. A pesquisa foi realizada através de materiais encontrados nas bases de dados indexadas na Biblioteca Virtual da Saúde, acessada em setembro de 2015. Foram utilizados como descritores: “Anemia Falciforme” and “Gestação”, “Mulher” and “Anemia Falciforme” (Figura I).

Page 58: BRASIL - irp-cdn.multiscreensite.com · Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine Kareny da Silva, Mônica Oliveira Rios, ... (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

56

Enfermagem BRASIL

Ano 2017 - Volume 16 - Número 1

tados publicados em revistas de impacto nacional e internacional. Denota-se, portanto, que a discussão em torno da temática está se disseminando nas diver-sas formas de questões de pesquisa. Percebeu-se, de forma igualmente importante, a presença de estudos teóricos e de revisão bibliográfica, fortalecendo as questões conceituais do tema.

Os resultados obtidos através da revisão dos materiais analisados (Tabela II) permitiram a obser-vação de formas diferentes de complicações, sendo elas: Clínicas, emocionais e obstétrico-fetais.

A leitura dos artigos selecionados evidenciou que, durante a gestação, tanto as mulheres quanto o embrião - ou feto - estão sujeitos a complicações. Estas complicações podem ocorrer durante todas as fases da gravidez, durante o processo de parto ou no puerpério. Diante disso, foram criadas três categorias temáticas: Agravos clínicos da falcemia durante a gestação; Aspectos emocionais das falcê-micas diante da gestação; Complicações obstétricas e fetais. Cada uma delas trata especificamente um tipo de dificuldade e/ou complicações de acordo com os resultados e encontrado na pré-análise.

Agravos clínicos da falcemia durante a gestação

Esta primeira categoria refere-se às manifes-tações mais frequentes da doença falciforme no período gestacional. Durante a gestação ocorrem

mudanças anatômicas e fisiológicas na mulher, in-fluenciando negativamente na falcemia, visto que os sintomas clínicos da patologia são agravados, trazendo a essas mulheres muito sofrimento [15].

Durante a gestação a infecção do trato uri-nário pode ocorre em aproximadamente 50% das gestantes. É um índice preocupante, visto que esta complicação pode causar sérias consequências para a gestante e para o feto. Dentre estas consequências, destacam-se nos estudos investigados: o trabalho de parto pré-termo, rotura prematura de membranas, recém-nascidos de baixo peso, restrição de cresci-mento intrauterino, retardo mental na infância, além do óbito perinatal. Nesses casos ainda ocorre um maior incidência de bacteriúria assintomática, o que aumenta o risco para agravamentos das in-fecções [15,16].

As crises dolorosas, motivo relevante da bai-xa qualidade de vida dos portadores de falcemia, tornam-se frequentes e potencializadas durante a gestação. Estão associadas à isquemia de órgãos que resulta da falcização dos eritrócitos. Essas crises álgicas são fatores importantes para internamentos durante a gestação, visto que essa paciente necessita de hidratação venosa e controle da dor. Os episódios de dor devem ser avaliados com cuidado, já que a vaso-oclusão, causadora comum das dores, pode trazer complicações secundárias. Logo, essas mu-lheres estão sujeitas a falência de múltiplos órgãos,

Tabela I - Descrição dos resultados da busca de artigos segundo filtragem descrita na seção de método.

Referência* Metodologia utilizada Revista onde foi publicada

Zanette AMD. [9] Reflexão TeóricaRevista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia

Monken FV, Barros NN, Valadares PJC, Macedo RSPB, Cruz SG, Cury OS et al. [10]

Revisão bibliográficaRMMG - Revista Médica de Minas Gerais

Nomura RMY, Igai AMK, Tosta K, Fonseca GHH, Gualandro SFM, Zugaib M. [11]

Estudo de coorte de 2001 a 2008

Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia

Salazar EAM. [12] Relato de caso clínico Revista de Enfermagem da UFPE

Xavier ASG, Ferreira SL, Carvalho ESS, Araújo EM, Cordeiro RC. [13].

Estudo qualitativo, descri-tivo, exploratório.

Online Brazilian Journal of Nursing

Silva TL, Henneberg R, Silva PH. Doença falci-forme na gravidez. [14].

Revisão bibliográfica Revista Visão Acadêmica

*Segundo normas Vancouver.

Page 59: BRASIL - irp-cdn.multiscreensite.com · Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine Kareny da Silva, Mônica Oliveira Rios, ... (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

57

Enfermagem BRASIL

Ano 2017 - Volume 16 - Número 1

Tabela II - Pré-análise de artigos selecionados segundo método descrito.

Referência* Pré-análise individualZanette AMD. [9]. Embora a doença falciforme represente um risco materno-fetal independe

do genótipo, nas mulheres com SS demonstrou um curso clínico agravado. O parto prematuro ocorre de 30 a 50% dos casos. As crises dolorosas, infecções pré e pós-parto, piora da anemia, restrição do crescimento fetal, natimortalidade, abortamento espontâneos, recém-nascidos de baixo peso e pré-eclâmpsia são as complicações mais comum na gestação em mulheres falcêmicas.

Monken FV, Barros NN, Valadares PJC, Macedo RSPB, Cruz SG, Cury OS et al. [10]

A magnitude dos riscos durante a gestação depende do genótipo da doen-ça falciforme, as mulheres com HbSS apresentam maiores complicações. As principais complicações são: aborto espontâneo, trabalho de parto pré-termo, ruptura prematura da membrana, e infecções. As principais complicações fetais são o crescimento intrauterino restrito e baixo peso ao nascer.

Nomura RMY, Igai AMK, Tosta K, Fonseca GHH, Gualandro SFM, Zugaib M. [11]

As complicações maternas verificadas durante o acompanhamento pré--natal foram: Crises álgicas, infecções urinária, pneumonia, pré-eclâmp-sia, trabalho de parto prematuro e complicações na cesárea. Os resulta-dos perinatais mais frequentes foram: Sofrimento fetal, óbito fetal, baixo peso, Teste de Apgar baixo do ideal e óbito fetal.

Salazar EAM. [12] O período gestacional da paciente portadora de anemia falciforme foi complicado, sendo relacionado à patologia obstétrica. Entre as complica-ções destacam-se as crises vaso-oclusivas, as infecções e a doença hiper-tensiva específica da gravidez. A prematuridade e baixo peso, associados à infecção neonatal, resultou em óbitos fetais.

Xavier ASG, Ferreira SL, Carvalho ESS, Araújo EM, Cordeiro RC. [13]

A maioria das mulheres (72%) participantes do estudo apresentou com-plicações maternas e fetais durante a gestação, sendo elas: Aborto espontâneo, parto prematuro, agravamento do quadro falcêmico com necessidade de hemotranfusão, crises álgicas, infecções urinárias, doença hipertensiva específica da gravidez, ocorrência de natimorto, recém--nascido de baixo peso ao nascer e /ou icterícia. As mulheres relevam que a gestação é um período de frustração, devido aos medos, insegurança, tristeza e preocupação consigo e com seu filho. Considerando os aspectos psicológicos a interrupção da gestação por aborto espontâneo traz a essa mulheres sentimento de decepção, referido como momento significativo para estas podendo levar a depressão.

Silva TL, Henneberg R, Silva PH. [14] As complicações mais frequentes na gestação das portadoras de anemia falciforme são: Infecções urinárias, crises dolorosas, parto pré-termo, ane-mia, complicações cardíacas, bolsa rota, necessidade do parto operatório e mortalidade fetal.

*Segundo normas Vancouver.

diminuição da função pulmonar, hepática e renal [10,15].

Outro sintoma que é agravado durante a gesta-ção é a anemia, que aumenta devido à hemodiluição fisiológica da gestação. No entanto, este risco de ane-mia fisiológica quando somado à hemólise devido à falcemia, ocasiona tanto problemas para mãe quanto

para o feto. Há uma diminuição no volume placen-tário, diminuindo nutrientes para o feto e causando anormalidade na membrana placentária. A anemia também é um dos fatores que levam essas mulheres a estarem em um longo período hospitalizadas e em uso de hemotransfusão [11,14].

Page 60: BRASIL - irp-cdn.multiscreensite.com · Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine Kareny da Silva, Mônica Oliveira Rios, ... (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

58

Enfermagem BRASIL

Ano 2017 - Volume 16 - Número 1

Aspectos emocionais das falcêmicas diante da gestação

Esta segunda categoria foi criada a partir da observação dos estudos que trazem questões psicológicas das gestantes portadoras de anemia falciforme. Trata- se do emocional desta gestante, visto que passam por muitos momentos difíceis, durante um período de maior sensibilidade. Vários autores compreendem o período gestacional como um momento de preparação psicológica para a maternidade, logo sentimentos negativos nessa fase podem trazer consequência para esta como mulher e como mãe [1].

Os artigos apresentados neste estudo observam que o sentimento dessas mulheres durante esse período é de insegurança, medo e preocupação. Temem pela sua vida, pela vida de seu filho, e pela possibilidade deste nascer falcêmico [9,13]. Os medos dessas mulheres surgem das intercorrências que ocorrem durante a gravidez, na qual precisam de atendimentos médicos frequentemente para manejo e sintomas e complicações da doença. Os principais medos apontados são de morrer durante o parto, do recém- nascido não sobreviver e de que seus filhos tenham a patologia, visando o sofrimento já passado. Apesar do desejo de ser mãe de muitas dessas mulheres, é um processo marcado por preo-cupações, tristezas e expectativas negativas [13,15]. Outro sentimento negativo apontado é o de frustra-ção, visto que o desejo de ser mãe é frustrado pelo aborto espontâneo. Muitas mulheres decidem, ou pelo menos cogita abortar, porém aquelas que optam em manter a gestação são devido ao desejo de ser mãe e, quando ocorre essa interrupção espontânea devido a complicações da falcemia, surge a decepção e tristeza que muitas vezes se agrava para um estado depressivo [13].

A condição emocional dessas mulheres du-rante a gravidez pode influenciar negativamente na sua vida posterior, diante de tantas dificuldades, sofrimentos, dúvidas, e medos, a gestação deixa de ser marcado pelas transformações de constituição da maternidade para receber o filho e passa a ser encarado como um momento de agravamento patológico [1].

Complicações obstétricas e fetais

Esta terceira categoria diz respeito a implica-ções fetais e obstétricas relacionada à gestação das

mulheres falcêmicas. A falcemia torna a gestação de alto risco devido a sua fisiopatologia que interfere não apenas nas condições maternas, mas também no desenvolvimento fetal. Uma característica impor-tante da gestação em falcêmicas é a alta incidência de partos prematuros, tendo como idade gestacional média 34 semanas. Esse recém-nascido está sujeito a ter além de baixo peso, problemas respiratórios graves, e infecções neonatal, podendo levar a óbitos [11,12].

O parto dessas gestantes também é marcado por muitas complicações, podendo ser citadas a bolsa rota na maioria dos casos e a pré-eclâmpsia, que têm se destacado nessas pacientes. O parto na maioria das vezes é cesariano, podendo ser o dobro nas gestantes falcêmicas sem comparado às normais. Essa necessidade de parto cirúrgico traz vários desafios, já que a instabilidade hemodinâmica contraindica o bloqueio anestésico [12,15].

Embora tenha diminuído nas últimas décadas, existem várias complicações que podem evoluir para a mortalidade materno-fetal. O óbito fetal ocorre em uma probabilidade de 25% no final do primei-ro trimestre. A natimortalidade nas gestantes com falcemia ocorre nove vezes mais em pacientes falcê-micas, isso ocorre devido à restrição do crescimento intrauterino [10,14]. Outras complicações podem ocorrer como risco elevado de infecções pós-parto e sepse deslocamento prévio da placenta e síndrome torácica aguda. Diante deste contexto é perceptível que estas mulheres e fetos tenham risco desde a ges-tação, parto e puerpério, o que torna uma gestação delicada que requer cuidados específicos [15].

Conclusão

Este estudo permitiu a descrição e discussão das complicações vivenciadas por gestantes com anemia falciforme, baseadas em uma revisão da literatura sobre o tema. Observou-se uma tríade problemática, composta de complicações clínicas, emocionais e obstétrico-fetais, em que a gestante encontra riscos tanto em nas fases gestacionais, trabalho de parto e puerpério. Os artigos encontrados saltam a atenção para as diferentes metodologias que trouxeram cada um destes eixos temáticos, demonstrando uma gama importante de perguntas de pesquisa sobre o tema.

Pôde-se observar que as questões clínicas tra-zem consigo uma carga de riscos importantes. Sinais ou sintomas de grandes infecções a crises álgicas tor-nam a vivência da gestante com anemia falciforme

Page 61: BRASIL - irp-cdn.multiscreensite.com · Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine Kareny da Silva, Mônica Oliveira Rios, ... (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

59

Enfermagem BRASIL

Ano 2017 - Volume 16 - Número 1

ainda mais arriscada, visto que esta semiologia tende a piorar com esta condição crônica hematológica. A depender do processo gestacional, cada fator clínico complicador poderá gerar instabilidade orgânica, tornando a condição clínica desta gestante uma constante tensão. Em casos extremos, a anemia fal-ciforme em gestantes poderá agravar-se a ponto de necessitar internamento com risco de morte.

De fato, as tensões das questões clínicas seguem a um nível psicológico, registrado também nos arti-gos pesquisados. Desde insegurança a frustrações, o risco de morte evidenciado tanto para a mãe quanto para o feto é fator estressor presente na rotina da gestante. Existe uma quebra do equilíbrio emocio-nal, basicamente causado pela relação conturbada entre o desejo de ser mãe e o medo de morte. Foram observados, nesse sentido, trabalhos que expunham o frágil estado psíquico destas mulheres, que esco-lhem ou cogitam por vezes o aborto para escapar dos riscos, porém nem sempre conseguindo escapar das amarras psicológicas que insistem em segui-las.

Estas questões clínicas e emocionais culminam em complicações obstétricas e fetais, também per-cebido pelos trabalhos selecionados neste estudo. O trabalho de parto e o puerpério se tornam novas fon-tes de tensão, visto que, além dos riscos prévios ao parto, há riscos após o período gestacional. O medo do óbito fetal ou da própria dor tornam as ques-tões obstétricas e puerperais deveras complicadas. Os trabalhos sugerem uma tensão potencializada, causada pelas questões clínicas e psicológicas unidas em um processo de parto arriscado, envolvendo risco de infecções, processo obstétrico complicado e risco de morte.

As gestantes com todos estes fatores complica-dores devem ser observadas em sua rotina diária para que haja um acesso rápido ao sistema de atenção à saúde. Os trabalhos sugerem que as complicações estão presentes tanto em forma de riscos quanto de condições clínicas e psicológicas, devendo ha-ver atenção dos profissionais de saúde envolvidos na rede de atenção à saúde da mulher quanto às especificidades da atenção à gestante com anemia falciforme. O presente estudo respondeu aos seus questionamentos de pesquisa e sugere que estudos que aprimorem a rede de atenção a essas gestantes

sejam realizados, a fim de miniminar as ocorrências de complicações, sejam elas de âmbito clínico ou psicológico.

Referências

1. Piccinini CA, Lopes RS, Gomes AG, De Nardi T. Gestação e a constituição da maternidade. Psicol Estud 2008;13(1):63-72.

2. Villers MS, Jamison MG, De Castro LM, James AH. Morbidity associated with sickle cell disease in preg-nancy. Am J Obstet Gynecol 2008;199:121-5.

3. Ngo C, Kayem G, Habibi A, et al. Pregnancy in sickle cell disease: maternal and fetal outcomes in a population receiving prophylactic partial exchan-ge transfusions. Eur J Obstet Gnecol Reprod Biol 2010;152:138-42.

4. Yawn BP, Buchanan GR, Afenyi-Annan AN, et al. Management of sickle cell disease: summary of the 2014 evidence-based report by expert panel members. JAMA 2014;312:1033-48.

5. Brasil. Ministério da Saúde. Gestação em mulheres com doença falciforme. Brasília: MS; 2006.

6. Cox FEM, Beauquier-Maccotta B. Representações ma-ternas durante uma gravidez patólogica: o caso da ane-mia falciforme. Estilos da Clínica 2014;19(2):309-24.

7. Cançado RD, Jesus JA. A doença falciforme no Brasil. Rev Bras Hematol Hemoter 2007;29(3):204-6.

8. Gil AC. Como elaborar projetos de pesquisa. 5 ed. São Paulo: Atlas; 2010.

9. Zanette AMD. Gravidez e contracepção na doença fal-ciforme. Rev Bras Hematol Hemoter 2007;29(3):309-12.

10. Monken FV, Barros NN, Valadares PJC, Macedo RSPB, Cruz SG, Cury OS, et al. Situações de urgência na gestante com doença falciforme. Rev Méd Minas Gerais 2010;20(2 supl1):S73-S77.

11. Nomura RMY, Igai AMK, Tosta K, Fonseca GHH, Gualandro SFM, Zugaib M. Resultados maternos e perinatais em gestações complicadas por doenças falci-formes. Rev Bras Ginecol Obstet 2010;32(8):405-11.

12. Salazar EAM. Agravos gestacionais de uma paciente com anemia falciforme. Rev Enf UFPE 2013;7(9):5600-3.

13. Xavier ASG, Ferreira SL, Carvalho ESS, Araújo EM, Cordeiro RC. Percepção de mulheres com anemia fal-ciforme sobre a gestação: estudo exploratório. Online Braz J Nurs (Online) 2013;12(4).

14. Silva TL, Henneberg R, Silva PH. Doença falciforme na gravidez. Visão Acadêmica 2014;15(1).

15. Alayed N, Kezouh A, Oddy L, Abenhaim HA. Sickle cell disease and pregnancy outcomes: population--based study on 8.8 million births. J Perinat Med 2014;42:487-92.

16. Figueiró-Filho EA, Bispo AMB, Vasconcelos MM, Maia MZ, Celestino FG. Infecção do trato urinário na gravidez: Aspectos atuais. Femina 2009;37(3):165-71.

Page 62: BRASIL - irp-cdn.multiscreensite.com · Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine Kareny da Silva, Mônica Oliveira Rios, ... (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

60

REVISÃO

Cuidados paliativos, o cuidar de uma forma humanizada

Jenifer Barbara Fernandes Costa*, Tamilles Alves de Oliveira de Assunção*, Heli da Silva Araújo Salles**

*Graduanda de Enfermagem da Universidade Federal do Amapá, **Doutorando em Biologia de Agentes Infecciosos e parasitários (BAIP - UFPA), Professor Efetivo do Departamento de Morfologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC)

ResumoEste trabalho tem como objetivo analisar e compreender, a partir da bibliografia selecionada, os cuidados paliativos, através do tratamento da dor e assistência ao sofrimento com uma visão holística. Trata-se de um estudo de revisão bibliográfica, cuja coleta de dados foi realizada através dos descritores: cuidados paliativos, enfermagem, equipe multiprofissional e humanização do cuidar, nas bases de dados Bireme, Scielo e Lilacs. Quando se analisa o resgate da humanização na arte de cuidar, observa-se que o profissional da saúde deve ampliar sua compreensão de forma contínua, perceber os elos que unem as pessoas em sua volta, captar seus desejos, vontades e sentimentos. Deste modo, assinala-se a importância do resgate em cuidar do “ser humano como um todo”, para obter resultados mais eficazes, visando melhor atendimento aos pacientes e melhora na qualidade de vida.

Palavras-chave: cuidados paliativos, Enfermagem, equipe de assistência ao paciente, humanização do cuidar.

AbstractPalliative care, humanistic health careThis paper aims to analyze and understand the palliative care, using a selected literature, through pain treatment and assistance to those who are suffering, based on a holistic vision. This is a literature review whose data collection was carried out in Bireme, Scielo and Lilacs databases using the following key-words: palliative care, nursing, multidisciplinary team and humanization of care. When we analyze the rescue of humanization in care, we observe that the health professionals should continually expand their knowledge, perceive the links that unite the people around them, capture their wishes, desires and feelings. Therefore, it emphasizes the importance of caring the “human being as a whole” for more effective results, aiming at better care for patients and improvement in their quality of life.

Key-words: palliative care, Nursing, patient care team, humanization of care.

Recebido em 4 de novembro de 2016; aceito em 14 de fevereiro de 2017. Endereço para correspondência: Jenifer Barbara Fernandes Costa, Universidade Federal do Amapá, Rodovia BR 156, nº

3051, 68980-000 Oiapoque AP, E-mail: [email protected], [email protected]

Page 63: BRASIL - irp-cdn.multiscreensite.com · Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine Kareny da Silva, Mônica Oliveira Rios, ... (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

61

Enfermagem BRASIL

Ano 2017 - Volume 16 - Número 1

ResumenLos cuidados paliativos, el cuidado de una forma humanistaEste trabajo tiene como objetivo analizar y entender con una visión holística, a partir de la literatura seleccionada, los cuidados paliativos, a través del tratamiento del dolor y asistencia a los que sufren. Se trata de una revisión bibliográfica, cuya recolección de datos se realizó utilizando las palabras-clave: cuidados paliativos, enfermería, equipo multidisciplinario y humanización de la atención, disponibles en la base de datos Bireme, Scielo y Lilacs. Al analizar el significado de humanización en el cuidado, se observa que el profesional de la salud debe renovar y actualizar continuamente sus conocimientos, percibir los enlaces que unen las personas en su entorno, captar sus deseos, voluntades y sentimientos. Por lo tanto, pone de relieve la importancia del cuidar del “ser humano como un todo”, para obtener resultados más eficaces, con la finalidad de conseguir mejor atención a los pacientes y mejor calidad de vida.

Palabras-clave: cuidados paliativos, enfermería, grupo de atención al paciente, humanización de la atención.

Introdução

Os cuidados paliativos são aqueles que vi-sam o alívio do sofrimento de pacientes que se encontram com doenças graves e colocam em risco a continuidade de sua vida. O amenizar da dor é baseado no controle de sintomas, sejam eles de ordem física, psicológica, social ou espiritual. Por este motivo, ressalta-se a importância da humanização nos cuidados paliativos e também da comunicação, pois sem comunicação não há humanização e consequentemente não há um atendimento adequado [1].

Nesse sentido a humanização vem resgatar a essência do ser humano que deveria seguir como princípio buscar humanizar o ser humano, pois a humanização está na capacidade de falar e também de ouvir para viabilizar o diálogo nas relações hu-manas, com o intuito de conhecer o outro, buscar compreendê-lo em suas amplitudes, demandas e es-pecificidades, para que então seja gerado o bem-estar de ambas as partes, tanto do doente que necessita dos cuidados quanto do cuidador [2].

Os profissionais de saúde cuidam do ser hu-mano em sua totalidade, preferencialmente, em relação à dor e ao sofrimento com a competência tecnocientífica e humana [3]. Em nossa vivência do dia a dia podemos perceber que o cuidado sempre está presente por meio de processos relacionais in-terativos e associativos. Proporcionando um vínculo entre o cuidador, o que é cuidado e toda a sua famí-lia. É necessária uma integração do conhecimento científico/técnico com a responsabilidade, a sensibilidade, a ética e a solidariedade [4] para obter resultados mais eficazes, visando o melhor atendimento aos pacientes.

No processo de cuidar, surgem várias exigên-cias com relação à percepção da equipe, que seja consciente na forma com que se colocará junto ao paciente, buscando estabelecer uma relação interpes-soal através do olhar, do toque, do tom da voz e da proximidade corporal, respeitando sempre suas indi-vidualidades [2]. Aos profissionais competentes que proporcionam os cuidados paliativos é necessário conhecimento técnico e científico para fornecerem o melhor cuidado a esses pacientes, viabilizando a preservação da dignidade humana [3].

Nota-se a necessidade do ingressar de uma equipe multiprofissional, evidenciando a troca de modelos e paradigmas, cujo modelo tradicional é ocupado pelo modelo sistêmico, incorporando os conceitos de multidisciplinaridade, interdisciplinari-dade e transdisciplinaridade em busca do cuidar [2].

Deste modo ressalta-se a importância de um trabalho com olhar humanizado e integrado através da necessidade de sensibilizar e orientar os profissio-nais envolvidos nessa dinâmica de saúde desafiadora e necessária. Nesse sentido, o presente trabalho teve como objetivo analisar e compreender, a partir da bibliografia selecionada, os cuidados paliativos que buscam amenizar os sintomas através do tratamento da dor e assistência ao sofrimento, com uma visão holística e um cuidado humanizado.

Material e métodos

O presente artigo se caracterizou como um estudo de revisão bibliográfica, realizado durante o período de 2003 a 2014, através de consulta a revistas, periódicos e artigos científicos, utilizando os bancos de dados da Scielo, da Bireme e da Lilacs. Os descritores para a busca foram os seguintes: cuidados

Page 64: BRASIL - irp-cdn.multiscreensite.com · Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine Kareny da Silva, Mônica Oliveira Rios, ... (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

62

Enfermagem BRASIL

Ano 2017 - Volume 16 - Número 1

prestado ao paciente e aos seus familiares [5]. Há o intuito de promover conforto e alívio, atenuam o sofrimento e a dor do paciente, proporcionando-lhe qualidade de vida e dignidade durante o período em que necessitam dos cuidados. Podem ser prestados não somente na finitude da vida, mas em qualquer etapa, desde o nascimento até a morte.

O termo humanização vem com o intuito de cuidado, da valorização da pessoa humana, da rela-ção interpessoal que deve ser firmada entre paciente/profissional e família, é o cuidar do próximo de forma afetuosa, responsável e também com conhecimento necessário [6]. Esta ação busca a relação de doação e proximidade, melhorando através do amor, respeito, afetividade, humanização, comunicação e outros, e abrindo as portas para a comunicação, que muitas vezes encontra-se ausente dos diálogos necessários entre os profissionais e para com os familiares e os doentes, dificultando ainda mais a assistência humanizada. Em sua grande maioria os princípios dos cuidados paliati-vos são aplicados na fase inicial da doença juntamente com terapias específicas [7]. Por fim as concepções que mais se destacaram foram: a comunicação, a assistência humanizada e a equipe multidisciplinar.

Comunicação

Um elo importantíssimo entre o profissional, o doente e a família, no entanto a literatura iden-tifica a comunicação nos cuidados paliativos como sinônimo de informação, é a maneira de se expressar com palavras, posturas e atitudes as mensagens que visam atenção e cuidado [8]. Apoiado em outros estudos que afirmam que a comunicação é o pilar dos cuidados paliativos, a fim de minimizar os sin-tomas decorrentes.

A comunicação se manifesta na relação entre o paciente e a equipe de saúde de diversas formas e pode ser verbalizada ou não. A comunicação verbal se configura na verbalização de palavras, anotações e registros em prontuários [9]. Por meio dela, o profis-sional da saúde pode se apropriar de diversas técnicas para estabelecer um relacionamento interpessoal positivo com o paciente na terminalidade, tais como: promover a empatia e um ambiente de interação; repetir a informação sempre que necessário; certi-ficar-se de que a comunicação foi compreendida; saber ouvir; usar tom adequado de voz, ser sincero e transparente; disponibilizar tempo e colocar-se à disposição; manter um discurso consistente e usar linguagem coloquial [10].

paliativos, enfermagem, equipe multiprofissional e humanização do cuidar.

Foram excluídos do presente estudo artigos que não foram redigidos em língua portuguesa, assim como resenhas, notícias ou cartas veiculadas a pe-riódicos científicos e teses, monografias, capítulos de livros e livros. Além destes foram excluídos também os artigos que se distanciavam da proposta do artigo. E foram inclusos os artigos que abordavam sobre o referido assunto, limitando aos cuidados paliativos e ao cuidar de forma humanizada.

Considerando-se estes aspectos, foram selecio-nados 38 publicações acerca dos cuidados paliativos com um olhar humanizado. Após os artigos terem sido selecionados na íntegra, foram submetidos à leitura e à análise dos mesmos, destacando os que abordavam o tema, apresentavam os critérios esta-belecidos, e seriam de grande contribuição para a construção do trabalho. Portanto a amostra consti-tuiu-se de 12 artigos.

Resultados

O estudo constituiu-se de 12 artigos que ver-savam sobre cuidados paliativos e o cuidar de forma humanizada. Destacando que foram publicados entre os anos de 2003 a 2014.

Dos doze artigos selecionados, 1 foi publicado no ano de 2014, 1 em 2013, 1 em 2012, 1 em 2011, 1 em 2010, 1 em 2008, 2 em 2007, 2 em 2006 e 2 no ano de 2003.

Ao analisar o resgate da humanização na arte de cuidar, observou-se que o profissional da saúde deve ampliar a sua compreensão de forma contínua, perceber os elos que unem as pessoas em sua volta, captar seus desejos, vontades e sentimentos. A rela-ção entre ambos é um fenômeno de transformação, cuidados e não apenas um evento condicionado, mas sim uma troca de cuidados universal visando tratar a dor, amenizar o sofrimento e qualificar a vida como um bem maior.

Dentre estes artigos, os temas que mais foram abordados são: a comunicação, assistência humani-zada e equipe multidisciplinar, os quais se correla-cionam, de forma que interagem entre si e no final formam um único conceito ou um conceito amplo.

Discussão

Conforme os estudos verificou-se que os cui-dados paliativos são imprescindíveis para o cuidado

Page 65: BRASIL - irp-cdn.multiscreensite.com · Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine Kareny da Silva, Mônica Oliveira Rios, ... (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

63

Enfermagem BRASIL

Ano 2017 - Volume 16 - Número 1

O papel da comunicação na humanização ocupa grande parte das relações correntes, sejam elas em nível profissional ou pessoal. Dessa forma, a comunicação aumenta a rapidez na difusão da mensagem e diminui as dificuldades de verbalização, principalmente tratando-se de cuidados paliativos [11].

Assistência humanizada

Caracterizada como um processo amplo, de-morado e complexo, a humanização envolve mudan-ças de comportamento. A assistência humanizada possibilita que o profissional ofereça o conforto e qualidade de vida para o doente e família, com cará-ter estritamente humanístico, através da compaixão, humildade, valorização da vida entre outros, se apro-ximando do princípio do cuidado paliativo, acerca do cuidar e do seu cuidador independentemente de suas individualidades e particularidades, respeitando a todos estes aspectos sejam eles valores, crenças, cultura e religião e até mesmo ambiente [12].

Equipe multidisciplinar

Neste ponto, destaca-se a necessidade de implantação, formação e preparação de tal equipe, formada por vários profissionais de diferentes áreas, para que possa atender e compreender o paciente que necessite dos cuidados paliativos, focalizando na filosofia desses cuidados.

Conclusão

Ao final da análise aqui empreendida, assinala--se a importância do resgate em cuidar do “ser humano como um todo”. Foi possível perceber e reconhecer o grau de importância que deve ser oferecido a este cuidado diferenciado, buscando ser humanizado e trabalhar de forma que venha prestar um atendimento paliativo, priorizando o conforto, a diminuição da dor, e à interação com a família a fim de buscar um efeito positivo, proporcionando qualidade de vida aos dias deste paciente e também dessa família.

Faz-se necessária uma integração do conhe-cimento científico/técnico com responsabilidade, sensibilidade, ética e solidariedade para obter resul-tados, que visem melhor atendimento aos pacientes. O tema abordado é de extrema importância, pois irá propiciar aos profissionais envolvidos, com essa temática, discussões e reflexões sobre os aspectos multidimensionais envolvidos no cuidado paliativo, fazendo com que haja maior sensibilização e quali-ficação referente ao assunto.

Referências

1. Collet N, Rozendo CA, Humanização e Trabalho na Enfermagem. Rev Bras Enferm 2003;56(2):189-92.

2. Camargo P. Humanização do Cuidar: uma proposta de desenvolvimento de equipe. Rev Bras Cuidados Paliativos 2012;3(4):19-30.

3. Suzaki TT, Silva MJP, Possari JF. Identificação das fases dos processos de morrer pelos profissionais de enferma-gem. Acta Paul Enferm 2006;19(2):144-9.

4. Bettinelli LA, Waskievicz J, Erdmann AL. Humaniza-ção do cuidado no ambiente hospitalar. O mundo da Saúde 2003;27(27).

5. Zaccara AAL, Vasconcelos MF, Leite KNS, Andrade SSC, Costa TF. Cuidados Paliativos e Bioética: revisão sistematizada de literatura. III Congresso Internacional de Envelhecimento Humano/ 13 a 15 de junho de 2013, Campina Grande/PB.

6. Palmeira HM, Comim FS, Peres RS. Cuidados paliati-vos no Brasil: revisão integrativa de literatura. Aletheia 2011;35-36.

7. Porto G, Lustosa MA. Psicologia hospitalar e cuidados paliativos. Rev SBPH 2010;13(1):76-93.

8. Araújo MMT, Silva MJP. A comunicação com o pa-ciente em cuidados paliativos: valorizando a alegria e o otimismo. Rev Esc Enferm 2007;41(4):666-74.

9. Santos CKC, Andrade CG, Costa ICP, Lopes ML, Silva CEG, Santos KFO. Comunicação em cuidados paliativos: revisão integrativa da literatura. Rev Bras Cienc Saúde 2014;18(1):63-72.

10. Moritz RD, Lago PM, Souza RP, Silva NB, Meneses FA, Othero CB et al. Terminalidade e cuidados pa-liativos na unidade de terapia intensiva. Rev Bras Ter Intensiva 2008;20(4):422-28.

11. Silva EP, Sudigursky D. Concepções sobre cuidados paliativos: revisão bibliográfica. Acta Paul Enferm 2008;21(3):504-8.

12. Oliveira BRG, Collet N, Vieira CS. A humaniza-ção na assistência de saúde. Rev Latinoam Enferm 2006;14(2):277-84.

Page 66: BRASIL - irp-cdn.multiscreensite.com · Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine Kareny da Silva, Mônica Oliveira Rios, ... (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

64

Enfermagem BRASIL

Ano 2017 - Volume 16 - Número 1

Anuncie!

Tel: (11) 3361-5595 | [email protected]

EnfermagemB R A S I L

Calendário de eventos

Julho

12 a 15 de julho11ª Jornada Brasileira de Enfermagem GerontológicaBelo Horizonte, MGSite: coral.ufsm.br/niepe/index.php/ultimas-noticias/34-11-jornada-brasileira-de-enfermagem-geronto

Novembro

6 a 7 de novembro69º Congresso Brasileiro de EnfermagemMaceió, AL Informação: E-mail: [email protected] Site: www.abennacional.org.br/home/

2017

Abril

20 a 22 abril35º Congresso Brasileiro de Circulação ExtracorpóreaRio de Janeiro, RJSite: sbcec.com.br/br/index.php/congresso-cursos-eventos/204-congresso-2017.html

Junho

14 a 16 de junho9º ISICEM - International Symposium on Intensive Care and Emergency Medicine for Latin America (LA)São Paulo, SPSite: apps.einstein.br/isicem/index.html

Page 67: BRASIL - irp-cdn.multiscreensite.com · Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine Kareny da Silva, Mônica Oliveira Rios, ... (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

65

Enfermagem BRASIL

Ano 2017 - Volume 16 - Número 1

Normas de publicação Enfermagem Brasil

A revista Enfermagem Brasil é uma publicação com perio-dicidade bimestral e está aberta para a publicação e divulgação de artigos científicos das áreas relacionadas à Enfermagem.

Os artigos publicados em Enfermagem Brasil poderão também ser publicados na versão eletrônica da revista (Internet) assim como em outros meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros que surjam no futuro, sendo que pela publicação na revista os autores já aceitem estas condições.

A Enfermagem Brasil assume o “estilo Vancouver” pre-conizado pelo Comitê Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com as especificações que são detalhadas a seguir. Ver o texto completo em inglês das Recommendations for the Conduct, Reporting, Editing, and Publication of Scholarly Work in Medical Journals no site do International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), www.icmje.org, na versão atualizada de dezembro de 2013.

Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/e-mail) para nossa redação, sendo que fica enten-dido que isto não implica na aceitação do mesmo, o que será notificado ao autor.

O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou re-torno de acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo científico, limitando-se unicamente ao estilo literário.

1. EditorialTrabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico, ou

por um de seus membros.Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato

A4 em corpo 12 com a fonte Times New Roman com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc; a bibliografia não deve conter mais que dez referências.

2. Artigos originaisSão trabalhos resultantes de pesquisa científica apre-

sentando dados originais de descobertas com relaçaõ a aspectos experimentais ou observacionais, e inclui análise descritiva e/ou inferências de dados próprios. Sua estrutura é a convencional que traz os seguintes itens: Introdução, Métodos, Resultados, Discussão e Conclusão.

Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, om todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. O total de caracteres não deve ultrapassar 25.000/30.000 caracteres, inclusos espaçamentos.

Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato Excel/Word.

Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas (formato .tif ou .gif ) ou que possam ser editados em Power-Point, Excel, etc.

Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências bibliográficas.

Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão o de rigor metodológico científico, novidade, interesse profissional, concisão da exposição, assim como a qualidade literária do texto.

3. RevisãoSão trabalhos que versem sobre alguma das áreas rela-

cionadas à Enfermagem, que têm por objeto resumir, analisar, avaliar ou sintetizar trabalhos de investigação já publicados em revistas científicas. Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o mesmo dos artigos originais.

4. Atualização São trabalhos que relatam informações geralmente atuais

sobre tema de interesse dos profissionais de Enfermagem (novas técnicas, legislação, por exemplo) e que têm características distintas de um artigo de revisão.

5. Relato de casoSão artigos dados descritivos de um ou mais casos explo-

rando um método ou problema através de exemplo. Apresenta as características do indivíduo estudado, com indicação de sexo, idade e pode ser realizado em humano ou animal.

6. Comunicação breveEsta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com

maior rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observa-ções, resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar comentários a trabalhos já editados na revista, com condições de argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor.

Texto: Recomendamos que não seja superior a três pá-ginas, formato A4, fonte Times New Roman, tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc.

Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e figuras digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou que possam ser editados em Power Point, Excel, etc

Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências bibliográficas.

7. ResumosNesta seção serão publicados resumos de trabalhos e

artigos inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo do Comitê Científico, inclusive traduções de trabalhos de outros idiomas.

8.CorrespondênciaEsta seção publicará correspondência recebida, sem que

necessariamente haja relação com artigos publicados, porém relacionados à linha editorial da revista. Caso estejam relacio-nados a artigos anteriormente publicados, será enviada ao autor do artigo ou trabalho antes de se publicar a carta.

Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as es-pecificações anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas ou figuras.

PREPARAÇÃO DO ORIGINAL1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em proces-

sador de texto (Word), em página de formato A4, formatado da seguinte maneira: fonte Times New Roman, tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc.

Page 68: BRASIL - irp-cdn.multiscreensite.com · Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine Kareny da Silva, Mônica Oliveira Rios, ... (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

66

Enfermagem BRASIL

Ano 2017 - Volume 16 - Número 1

1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada tabela junto à mesma.

1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as especificações anteriores.

As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e com qualidade ótima (qualidade gráfica – 300 dpi). Fotos e desenhos devem estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif.

1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, in-trodução, material e métodos, resultados, discussão, conclusão e bibliografia. O autor deve ser o responsável pela tradução do resumo para o inglês e o espanhol e também das palavras-chave (key-words). O envio deve ser efetuado em arquivo, por meio de disquete, zip-drive, CD-ROM ou e-mail. Para os artigos enviados por correio em mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma cópia impressa e identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM o nome do artigo, data e autor, incluir informação dos arquivos, tais como o processador de texto utilizado e outros programas e sistemas.

2. Página de apresentaçãoA primeira página do artigo apresentará as seguintes

informações:- Título em português, inglês e espanhol.- Nome completo dos autores, com a qualificação cur-

ricular e títulos acadêmicos.- Local de trabalho dos autores.- Autor que se responsabiliza pela correspondência, com

o respectivo endereço, telefone e E-mail.- Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques,

para paginação.- As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe,

aparelhos, etc.

3. AutoriaTodas as pessoas consignadas como autores devem ter

participado do trabalho o suficiente para assumir a respon-sabilidade pública do seu conteúdo.

O crédito como autor se baseará unicamente nas contri-buições essenciais que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise e interpretação dos dados; b) a redação do artigo ou a revisão crítica de uma parte importante de seu conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da versão que será pub-licada. Deverão ser cumpridas simultaneamente as condições a), b) e c). A participação exclusivamente na obtenção de recursos ou na coleta de dados não justifica a participação como autor. A supervisão geral do grupo de pesquisa também não é suficiente.

4. Resumo e palavras-chave Na segunda página deverá conter um resumo (com no

máximo 150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para os estruturados), seguido da versão em inglês e espanhol.

O conteúdo do resumo deve conter as seguintes infor-mações:

- Objetivos do estudo.- Procedimentos básicos empregados (amostragem,

metodologia, análise).- Descobertas principais do estudo (dados concretos e

estatísticos).- Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior

novidade.Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-

chave para facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar os termos utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) da Biblioteca Virtual da Saúde, que se encontra no endereço internet seguinte: http://decs.bvs.br. Na medida do possível, é melhor usar os descritores existentes.

5. AgradecimentosOs agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio

financeiro e material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as referências, em uma secção especial.

6. ReferênciasAs referências bibliográficas devem seguir o estilo Van-

couver definido nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográficas devem ser numeradas por numerais arábicos entre parênteses e relacionadas em ordem na qual aparecem no texto, seguindo as seguintes normas:

Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais de seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do livro (se diferente do capítulo), ponto, título do livro, ponto, local da edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano da impressão, ponto, páginas inicial e final, ponto.

Exemplos:Livro:May M. The facial nerve. New-York: Thieme; 1986

Capítulo ou parte de livro:Phillips SJ. Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor.

Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed. New-York: Raven Press; 1995. p.465-78.

Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es), letras iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto. Título do trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação seguido de ponto e vírgula, número do volume seguido de dois pontos, páginas inicial e final, ponto. Não utilizar maiúsculas ou itálicos. Os títulos das revistas são abreviados de acordo com o Index Medicus, na publicação List of Journals Indexed in Index Medicus ou com a lista das revistas nacionais, disponível no site da Biblioteca Virtual de Saúde (http://www.bireme.br). Devem ser citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colocar a abreviação latina et al.

Exemplo:Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and

localization of urokinase-type plasminogen activator receptor in human gliomas. Cancer Res 1994;54:5016-20.

Todos os artigos devem ser enviados a: portalatlanticaeditora.com.br

Page 69: BRASIL - irp-cdn.multiscreensite.com · Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine Kareny da Silva, Mônica Oliveira Rios, ... (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra
Page 70: BRASIL - irp-cdn.multiscreensite.com · Magno Conceição das Merces, Márcio Costa de Souza, Jaine Kareny da Silva, Mônica Oliveira Rios, ... (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra