Breve apresentação sobre os recursos geológicos de Moçambique

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Versão online: http://www.lneg.pt/iedt/unidades/16/paginas/26/30/185 Comunicações Geológicas (2014) 101, Especial II, 869-874 IX CNG/2º CoGePLiP, Porto 2014 ISSN: 0873-948X; e-ISSN: 1647-581X Breve apresentação sobre os recursos geológicos de Moçambique Brief presentation of the geological resources of Mozambique L. Vasconcelos 1 © 2014 LNEG – Laboratório Nacional de Geologia e Energia IP Resumo: Este artigo visa dar uma panorâmica geral sobre a geologia de Moçambique e dos recursos minerais e geológicos associados às diversas unidades geológicas. A geologia de Moçambique reparte-se por praticamente todos os períodos da história da Terra. Em termos tectónicos, o Precâmbrico distribui-se por três blocos do Gondwana – E, W e S – cada um com as suas características geoestruturais, e separados entre si por grandes linhas estruturais. No Fanerozóico, refere-se o Supergrupo do Karoo (Carbonífero Superior ao Jurássico Inferior), e o Sistema do Rifte Este-Africano (Jurássico ao Recente), com origem relacionada com a fragmentação do Gondwana e a abertura do Canal de Moçambique, e onde e distinguem as grandes bacias sedimentares do Rovuma (N) e de Moçambique (Centro-S), ambas conhecidas pelas descobertas de hidrocarbonetos nos últimos anos. É feita uma apresentação geral dos recursos geológicos do país e da sua localização. Palavras-chave: Moçambique, Geologia, Recursos minerais. Abstract: This paper aims at giving a general overview on the geology of Mozambique, and its mineral and geological resources associated to the different geological units. The geology of Mozambique covers almost all periods of the Earth’s history. Tectonically speaking, Precambrian is found in three Gondwana blocks – E, W and S -, each one of them with its geostructural characteristics, and separated from each other by great structural features. For Phanerozoic, reference is made to the Karoo Supergroup (Upper Carboniferous to Early Jurassic), and to the East- Africa Rift System (Jurassic to the present), with origin linked to the Gondwana fragmentation and the opening of the Mozambique Channel, where the great sedimentary basins of Rovuma (N) and Mozambique (center-S) can be distinguished, both world-wide known for the discoveries of hydrocarbons. A general presentation of the geological resources and their location. Keywords: Mozambique, Geology, Mineral resources. 1 Departamento de Geologia, Faculdade de Ciências, Universidade Eduardo Mondlane, CP 257, Maputo, Moçambique. E-mail: [email protected] 1. Introdução O período de paz e estabilidade que Moçambique vive desde 2 décadas permitiu um crescimento económico considerável, com grandes investimentos nacionais e estrangeiros em várias áreas da vida nacional, com destaque muito especial para os recursos naturais, e em especial os geológicos. Com um território com cerca de 800.000 km 2 de área emersa, e uma complexa geologia estendendo-se ao longo de praticamente todos os períodos da história geológica, o país é rico em recursos geológicos. O extenso e intenso trabalho de cartografia geológica entre 2002 e 2007, financiado por várias instituições nacionais e estrangeiras proporcionou um grande avanço no conhecimento destes recursos, do que surgiram cartas geológicas à escala 1:250.000 abrangendo todo o território, e ainda 30 cartas à escala 1:50.000 em zonas mais promissoras sob o ponto de vista dos mesmos. Foram ainda cobertos 75% do território com levantamento aerogeofísico regional e de alta densidade (Grantham et al, 2011). O objectivo deste artigo é apresentar uma breve descrição geotectónica e geológica de Moçambique, e os recursos minerais ligados às várias unidades geológicas. 2. Breve caracterização geotectónica e geológica de Moçambique Dada a sua enorme extensão, as diferenças geológicas são muito grandes entre o norte, o centro e o sul do País. Assim, o norte é fundamentalmente proterozóico e o sul inteiramente fanerozóico, com a região centro albergando terrenos arcaicos, proterozóicos e fanerozóicos (Fig. 1). Os terrenos precâmbricos (Fig. 2) mostram uma série de estruturas lineares regionais delimitando 3 blocos tectónicos, consequência da colisão entre os vários blocos do Gondwana, cada um com características próprias (Vasconcelos & Jamal, 2010): Gondwana E, Gondwana W e Gondwana S (Westerhof et al., 2008). Os blocos E e W estão separados por um limite N-S, e estes estão separados do bloco S respectivamente pelo Cinturão do Lúrio (LTB - Lúrio Tectonic Belt) e pela Zona de Cisalhamento de Sanângoè (SSZ – Sanângoè Shear Zone). Os terrenos fanerozóicos dividem-se em Supergrupo do Karoo (SGK) e Sistema do Rift Este-Africano (SREA) (Vasconcelos & Jamal, 2010) (Fig. 1). A idade do SGK, dividido em Inferior (sedimentar) e Superior (sedimentar e ígneo), varia do Carbonífero Superior ao Jurássico Inferior (GTK Consortium, 2006; Vasconcelos & Jamal, 2010), e está representado em depressões tectónicas intracratónicas profundas resultantes de rifts abortados Artigo Curto Short Article

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Versão online: http://www.lneg.pt/iedt/unidades/16/paginas/26/30/185 Comunicações Geológicas (2014) 101, Especial II, 869-874 IX CNG/2º CoGePLiP, Porto 2014 ISSN: 0873-948X; e-ISSN: 1647-581X

Breve apresentação sobre os recursos geológicos de Moçambique Brief presentation of the geological resources of Mozambique L. Vasconcelos1

© 2014 LNEG – Laboratório Nacional de Geologia e Energia IP

Resumo: Este artigo visa dar uma panorâmica geral sobre a geologia de Moçambique e dos recursos minerais e geológicos associados às diversas unidades geológicas. A geologia de Moçambique reparte-se por praticamente todos os períodos da história da Terra. Em termos tectónicos, o Precâmbrico distribui-se por três blocos do Gondwana – E, W e S – cada um com as suas características geoestruturais, e separados entre si por grandes linhas estruturais. No Fanerozóico, refere-se o Supergrupo do Karoo (Carbonífero Superior ao Jurássico Inferior), e o Sistema do Rifte Este-Africano (Jurássico ao Recente), com origem relacionada com a fragmentação do Gondwana e a abertura do Canal de Moçambique, e onde e distinguem as grandes bacias sedimentares do Rovuma (N) e de Moçambique (Centro-S), ambas conhecidas pelas descobertas de hidrocarbonetos nos últimos anos. É feita uma apresentação geral dos recursos geológicos do país e da sua localização. Palavras-chave: Moçambique, Geologia, Recursos minerais. Abstract: This paper aims at giving a general overview on the geology of Mozambique, and its mineral and geological resources associated to the different geological units. The geology of Mozambique covers almost all periods of the Earth’s history. Tectonically speaking, Precambrian is found in three Gondwana blocks – E, W and S -, each one of them with its geostructural characteristics, and separated from each other by great structural features. For Phanerozoic, reference is made to the Karoo Supergroup (Upper Carboniferous to Early Jurassic), and to the East-Africa Rift System (Jurassic to the present), with origin linked to the Gondwana fragmentation and the opening of the Mozambique Channel, where the great sedimentary basins of Rovuma (N) and Mozambique (center-S) can be distinguished, both world-wide known for the discoveries of hydrocarbons. A general presentation of the geological resources and their location. Keywords: Mozambique, Geology, Mineral resources.

1Departamento de Geologia, Faculdade de Ciências, Universidade Eduardo Mondlane, CP 257, Maputo, Moçambique. E-mail: [email protected]

1. Introdução

O período de paz e estabilidade que Moçambique vive desde há 2 décadas permitiu um crescimento económico considerável, com grandes investimentos nacionais e estrangeiros em várias áreas da vida nacional, com destaque muito especial para os recursos naturais, e em especial os geológicos.

Com um território com cerca de 800.000 km2 de área emersa, e uma complexa geologia estendendo-se ao longo de praticamente todos os períodos da história geológica, o país é rico em recursos geológicos. O extenso e intenso trabalho de cartografia geológica entre 2002 e 2007, financiado por várias instituições nacionais e estrangeiras proporcionou um grande avanço no conhecimento destes recursos, do que surgiram cartas geológicas à escala 1:250.000 abrangendo todo o território, e ainda 30 cartas à escala 1:50.000 em zonas mais promissoras sob o ponto de vista dos mesmos. Foram ainda cobertos 75% do território com levantamento aerogeofísico regional e de alta densidade (Grantham et al, 2011).

O objectivo deste artigo é apresentar uma breve descrição geotectónica e geológica de Moçambique, e os recursos minerais ligados às várias unidades geológicas.

2. Breve caracterização geotectónica e geológica de Moçambique

Dada a sua enorme extensão, as diferenças geológicas são muito grandes entre o norte, o centro e o sul do País. Assim, o norte é fundamentalmente proterozóico e o sul inteiramente fanerozóico, com a região centro albergando terrenos arcaicos, proterozóicos e fanerozóicos (Fig. 1).

Os terrenos precâmbricos (Fig. 2) mostram uma série de estruturas lineares regionais delimitando 3 blocos tectónicos, consequência da colisão entre os vários blocos do Gondwana, cada um com características próprias (Vasconcelos & Jamal, 2010): Gondwana E, Gondwana W e Gondwana S (Westerhof et al., 2008). Os blocos E e W estão separados por um limite N-S, e estes estão separados do bloco S respectivamente pelo Cinturão do Lúrio (LTB - Lúrio Tectonic Belt) e pela Zona de Cisalhamento de Sanângoè (SSZ – Sanângoè Shear Zone).

Os terrenos fanerozóicos dividem-se em Supergrupo do Karoo (SGK) e Sistema do Rift Este-Africano (SREA) (Vasconcelos & Jamal, 2010) (Fig. 1). A idade do SGK, dividido em Inferior (sedimentar) e Superior (sedimentar e ígneo), varia do Carbonífero Superior ao Jurássico Inferior (GTK Consortium, 2006; Vasconcelos & Jamal, 2010), e está representado em depressões tectónicas intracratónicas profundas resultantes de rifts abortados

Artigo Curto Short Article

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numa fase de desmembramento do Gondwana. Segue-se a abertura do Oceano Índico como resultado da deriva continental e da dispersão do Gondwana, em simultâneo com o desenvolvimento do SREA (Vasconcelos & Jamal,

2010), que teve o seu início no Jurássico e se continua até hoje (GTK Consortium, 2006), resultando no desenvolvimento de duas enormes bacias sedimentares, a Bacia de Moçambique e a Bacia do Rovuma.

Fig. 1. As grandes divisões geológicas de Moçambique (elaborado por Gerson Guerreiro, a partir dos shapefiles do mapa geológico de Moçambique, 1:1.000.000). Fig. 1. The great geological divisions of Mozambique (prepared by Gerson Guerreiro form the shapefiles of the geological map of Mozambique, 1:1,000,000).

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As formações arcaicas pertencem ao Cratão do Zimbabwe e estendem-se por cerca de 350 km (Fig. 1) ao longo da fronteira com aquele País, sendo-lhe atribuída uma idade > 2500 M.a., podendo subdividir-se em formações do soco cristalino granitóide e formações de cinturões de rochas verdes supracrustais.

As formações paleoproterozóicas distribuem-se em três regiões geográficas do país (Fig. 1), extremamente distantes umas das outras: (i) em Manica, ao longo da fronteira com o Zimbabwe, bordejando as formações arcaicas; (ii) em Tete, em duas manchas isoladas perto do Songo e uma perto de Moatize; e (iii) no extremo NW do Niassa, junto ao Lago Niassa. As formações mesoproterozóicas constituem a maioria da zona norte e grande parte da zona centro (Fig. 1), ocorrendo nos três blocos gondwânicos atrás referidos,

todos eles com complexos intrusivos e grupos supracrustais. As formações neoproterozóicas, à semelhança das mesoproterozóicas, também ocorrem nos três blocos gondwânicos (Fig. 1), contendo grupos supracrustais, complexos vários e o complexo alóctone de Ocua do Cinturão do Lúrio. O Fanerozóico está representado por formações paleo-, meso- e cenozóicas. O Paleozóico está representado por intrusões câmbricas e ordovícicas espalhadas pelas regiões NE e NW do País, e por formações sedimentares carboníferas e pérmicas do SGK que se estende até ao Jurássico Inferior, onde ocorrem as formações ígneas do fim do Karoo. O Mesozóico (sem contar com as formações do SGK atrás referidas) e o Cenozóico são constituídos formações sedimentares e ígneas ligadas ao SREA.

Fig. 2. Terrenos precâmbricos de Moçambique. 1. Falha; 2. Falha normal; 3. Limites entre terrenos; 4. Cavalgamento; 5. Zona de cisalhamento; a. Cratão; b. Gondwana Este; c. Gondwana Oeste; d. Gondwana Sul; LTB. Cinturão do Lúrio; SSZ. Zona de Cisalhamento de Sanângoè; NMS. Cisalhamento de Namama; TS. Suite de Tete (adaptado de Westerhof et al., 2008). Fig. 2. Precambrian terrains of Mozambique. 1. Fault; 2. Normal fault; 3. Limits between terrains; 4. Thrustings; 5. Shear zone; a, Craton; b. Gondwana East; c. Gondwana West; d. Gondwana South; LTB. Lúrio Belt; SSZ. Sanângoè Shear Zone; NMS. Namama Shear; TS. Tete Suite (adapted from Westerhof et al., 2008).

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872 L. Vasconcelos / Comunicações Geológicas (2014) 101, Especial II, 869-874 3. A ocorrência dos recursos geológicos no país

Com o programa de cartografia geológica atrás referido, foram descobertas várias ocorrências minerais, e melhor avaliadas outras já conhecidas. A mineração artesanal joga um papel importante na economia local, em especial a nível das aldeias (Grantham et al., 2011), e têm sido mineiros artesanais os responsáveis pela descoberta de várias ocorrências minerais.

O mapa da figura 3 mostra as ocorrências das principais mineralizações de ouro, rútilo, zircão, ferro e ferro-titânio e cobre. Os depósitos primários de ouro ocorrem associados a formações arcaicas e do Proterozóico inferior. O ouro ocorre também na forma aluvionar. O ferro e o titânio ocorrem associados a três importantes grupos, a saber: (i) depósitos de Fe-Ti hospedados em anortositos e de Fe-apatite em skarns da área de Tete, de idade mesoproterozóica; (ii) “banded iron formations – BIF” arcaicos de Manica, sendo o mais importante o de Honde; e (iii) depósitos de areias pesadas ao longo da zona costeira (neste caso referência deve ser feita ao depósito de Topuito no norte e de Chibuto no sul, ocorrendo em areias do Quaternário). O cobre e o níquel (e outros metais básicos) não são actualmente explorados, tendo havido em tempos (desde o fim da década de 60 à de 90) a exploração de cobre na mina de Mundongwara em Manica. Outras ocorrências importantes de cobre são as do Fíngoè e Chíduè. Estas ocorrências estão ligadas a formações arcaicas (Manica) e paleo-mesoproterozóicas (Chíduè e Fíngoè). Outros minerais pesados a referir são o zircão e o rútilo, o primeiro ligado a pegmatitos do Alto Ligonha e outras ocorrências menores no Niassa, e o segundo a formações ígneas mesoproterozóicas. O manganês ocorre associado a formações paleoproterozóicas do sul de Tete.

Na figura 3 representam-se também as zonas de ocorrência das principais pedras preciosas e semi-preciosas, em que se incluem as turmalinas e berilos vários, espodumenas, granadas e topázio. Referência especial deve ser feita às turmalinas-paraíba de descoberta recente em Nampula. Estes minerais ocorrem em pegmatitos do Neoproterozóico, sendo de destacar a zona do Alto Ligonha e a zona de Cuamba. O mapa mostra ainda as zonas de ocorrência de ágatas, ligadas aos vulcanitos do SGK e aluviões de Inharrime. Outras pedras preciosas e semi-preciosas de referir são a dumortierite e os rubis na zona norte, estes também de descoberta recente. Quanto a diamantes, não foram encontrados ainda depósitos significantes, tendo sido encontrados alguns diamantes muito pequenos nas aluviões do Rio Limpopo, trazidos do vizinho Cratão de Kaapvaal (Grantham et al., 2011). No Niassa foram encontrados alguns kimberlitos. Marques (2000) refere também diamantes em Niassa. Outras ocorrências referidas por Marques (2000) incluem quartzos vários, fluorite, rodonite, distena, obsidiana, amazonite, adulária, labradorite, jaspe, olho-de-tigre e

aventurina. As zonas pegmatíticas contêm ainda minerais de terras raras, micas várias, minerais de lítio, columbo-tantalites, manganotantalites, cassiterites, etc.

O país é rico em pedras ornamentais (Fig. 3), ocorrendo principalmente no Precâmbrico e nos riolitos do SGK. Alguns calcários cenozóicos podem ser utilizados também como pedra ornamental. Calcários para a indústria cimenteira ocorrem fundamentalmente em formações cenozóicas.

Os caulinos ocorrem fundamentalmente como produtos de alteração de minerais pegmatíticos (na zona do Alto Ligonha) e como produto de alteração de rochas arcaicas de Manica. Outras argilas ocorrem em todas as províncias do país, como produtos de alteração de rochas duras, ou como depósitos quaternários. A bentonite ocorre como produto de alteração de rochas riolíticas do SGK, cujos depósitos mais importantes se localizam na Província de Maputo. Referência a outros minerais industriais deve ser feita como por exemplo aos bauxitos, lateritos, perlitos e diatomitos.

É importante ainda referir os hidrocarbonetos que ocorrem tanto onshore como offshore nas Bacias do Rovuma e de Moçambique. De momento, as principais ocorrências são de gás natural, havendo três grandes zonas principais, uma na Bacia do Rovuma, e duas na Bacia de Moçambique. Em vários locais do país há ocorrência de oil seeps.

Finalmente, referência deve ainda ser feita às águas termais e minerais associadas com limites de rifts, zonas marginais e elementos tectónicos reactivados de depressões que assentam sobre cinturões móveis, zonas de vulcanismo do SGK e zonas de blocos proterozóicos reactivados por tectónica de falhas (Lächelt, 2004). Feita esta breve descrição das principais ocorrências de recursos geológicos de Moçambique, importa agora ter uma ideia geral sobre as áreas prioritárias para trabalhos de prospecção e pesquisa (segundo Lächelt, 2004). Assim, o Arcaico tem um alto potencial para Au, Cu, Ni, Fe e asbestos, bem como bauxito (como produto de alteração de várias rochas ígneas – GTK, 2006). O Paleoproterozóico mostra potencialidades para Fe, Cu e calcários. O Mesoproterozóico do Gondwana E apresenta potencialidades grandes para grafite ligada aos gnaisses e xistos. Já o Mesoproterozóico do Gondwana Sul, mostra grande potencial para pegmatitos com terras raras e pedras preciosas e semi-preciosas, e, ainda, micas, “coltan”, minerais de Li, Bi e Sb. O SGK apresenta enormes potencialidades em carvão, de que são já sobejamente conhecidos as minas de Moatize e de Benga, havendo outros depósitos conhecidos, alguns deles em desenvolvimento. Os depósitos de Moatize e de Benga são de classe mundial. A fluorite ocorre em fracturas mesozóicas ligadas à evolução do rift este-africano. Quanto a diamantes, foram encontrados micro-diamantes ao longo dos Rios Limpopo e Singédzi (Província de Gaza) e kimberlitos na Província do Niassa. Os hidrocarbonetos apresentam uma grande potencialidade, tanto em onshore como em offshore em ambas as Bacias do Rovuma e de Moçambique.

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Fig. 3. Mapa com as principais ocorrências minerais de Moçambique (adaptado de vários mapas em Lächelt, 2004). Fig. 3. Map with the main mineral occurrences of Mozambique (adapted from several maps in Lächelt, 2004).

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874 L. Vasconcelos / Comunicações Geológicas (2014) 101, Especial II, 869-874 4. Conclusões

Apesar dos grandes avanços no conhecimento dos recursos minerais e geológicos do país, em resultado do programa de cartografia levado a cabo entre 2002 e 2007, e dos trabalhos de prospecção e pesquisa conduzidos pelas várias empresas nacionais e estrangeiras, muitos recursos há ainda por descobrir. Torna-se ainda necessário uma cartografia de detalhe do território, em especial das zonas que à partida apresentam maior potencial.

Agradecimentos

Os meus agradecimentos vão para os seguintes colegas pela informação cedida: Fátima Momad, João Marques, Geraldo Valói, Grácio Cune, Cândido Rangeiro, Arsénio Mabote e Ali Assane. Também se agradece ao estudante Gerson Guerreiro, pelo apoio na elaboração de mapas deste artigo.

Referências Grantham, G.H., Marques, J.M., Wilson, M.G.C., Manhiça, V.,

Hartzer, F.J. (Compil.), 2011. Explanation of the Geological Map of Mozambique, 1: 1 000 000. República de Moçambique, Ministério dos Recursos Minerais, Direcção Nacional de Geologia. Mineral Resources Management Capacity Building Project financed by the Nordic Development Fund (NDF) under the World Bank Credit No. 3486. 383 p.

GTK, 2006. Notícia Explicativa; Volume 1: Geologia das Folhas 2032/2033, 2034/2035, 2131/2132, 2133, 2134/2135, 2231, 2232, 2233, 2234/2235, 2331/2332, 2333, 2334/2335, 2431/2432, 2433, 2434/2435, 2531/2532, 2533/2534 e 2632. Volume 2: Geologia das Folhas 1631, 1632, 1633, 1634, 1732,1733, 1734, 1832, 1833, 1834, 1932, 1933 e 1934. Volume 3: Geologia das Folhas 1735-1736-1737/1738/1739-1835-1836-1935. Volume 4: Geologia das Folhas 1430–1432 e 1530–1534, Escala 1:250.000. Direcção Nacional de Geologia, Ministério dos Recursos Minerais, Maputo, Moçambique.

Lächelt, S., 2004. Geology and Mineral Resources of Mozambique. Ministério dos Recursos Minerais e Energia, Direcção Nacional de Geologia, Maputo, Moçambique. 515 p.

Marques, J.M.P.R., 2000. Gemstones in Mozambique: present status and potential. Workshop on Tertiary Sector Geoscience Education in Southern Africa - Building regional networks on local expertise Maputo. Extended Abstract Volume, 103-118.

Vasconcelos, L., Jamal, D., 2010. A nova geologia de Moçambique. In: D. Flores, M. Marques, (Eds). X Congresso de Geoquímica dos Países de Língua Portuguesa, Universidade do Porto, Porto, Portugal. Memória, 14, 53-66.

Westerhof, P.A.B., Lehtonen, M.I., Mäkitie, H., Manninen, T., Pekkala, Y., Gustafsson, B., Tahon, A., 2008. The Tete-Chipata belt: a new multiple terrane element from western Mozambique and southern Zambia. GTK Consortium Geological Surveys in Mozambique 2002–2007. In: Y. Pekkala, T. Lehto, H. Mäkitie, (Eds). Geological Survey of Finland, Special Paper 48, 121–144.