Breve caracterização das comunidades da Ilha Grande

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Breve caracterização das comunidades da Ilha Grande O processo de caracterização das comunidades da Ilha Grande nos remete a uma série de reflexões fundamentais para a compreensão do atual estado da ilha. A ausência ou a dificuldade em se obter dados populacionais e de infra- estrutura, além de indicadores sociais, econômicos e ambientais específicos da Ilha Grande ou de suas comunidades, dificultam a realização de qualquer diagnóstico, plano de ação ou planejamento de seu território. Reflete assim, um erro estratégico na maneira como a Ilha Grande é administrada e planejada. Aqui, ilustramos esta situação comparando dados do IBGE de 2000 e 2006 (este ultimo representa dados estimados, disponibilizados pela Secretaria de Saúde do Município de Angra dos Reis) e estimativas feitas pelos próprios moradores obtidas em campo. Vale destacar a imprecisão dos dados populacionais disponibilizados e nota-se uma tendência a se apresentarem dados bastante inferiores a realidade. Tampouco, podemos considerar a Ilha Grande como uma única comunidade. As distâncias entre as localidades, percorridas apenas de barco ou por trilhas, não são o único fator que as separam. A diversidade existente entre as comunidades, conseqüente do complexo mosaico histórico-cultural característico da Ilha Grande, dificulta a elaboração de políticas e estratégias comuns para todo o território. Cada localidade terá suas próprias potencialidades, vocações econômicas, infra-estrutura, grau de mobilização social, conflitos etc, sendo por isso necessário, um trabalho específico com cada comunidade. Ainda assim podemos citar de antemão alguns problemas que são comuns a maior parte das comunidades. Observa-se uma deficiência de serviços públicos como: saneamento básico, postos de saúde, transporte, educação de qualidade e ao alcance de todos, serviço de energia elétrica eficiente, além da dificuldade de acesso a informação e meios de comunicação e ausência de atividades culturais. Em relação ao mercado de trabalho, há uma crítica geral relacionada a forma de exploração do turismo, não-inclusiva, gerando apenas sub-empregos, sem carteira assinada, Instituto Ondular Endereço: Rua Alberto de Campos, 10A/1405 – Ipanema - Rio de Janeiro – RJ – Cep 22411-030 Telefone: (21) 2513-9240 E-mail: [email protected] Site: www. ondular.org.br

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O trabalho, realizado pelo Instituto Ondular traça uma breve caracterização das comunidades da Ilha Grande, faz uma reflexão sobre o estado da Ilha Grande e discorre sobre suas dimensões sociais, aponta indicadores e expõe o erro estratégico sobre com a Ilha Grande é administrada

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Breve caracterização das comunidades da Ilha Grande

O processo de caracterização das comunidades da Ilha Grande nos remete a

uma série de reflexões fundamentais para a compreensão do atual estado da ilha.

A ausência ou a dificuldade em se obter dados populacionais e de infra-

estrutura, além de indicadores sociais, econômicos e ambientais específicos da Ilha

Grande ou de suas comunidades, dificultam a realização de qualquer diagnóstico,

plano de ação ou planejamento de seu território. Reflete assim, um erro estratégico

na maneira como a Ilha Grande é administrada e planejada. Aqui, ilustramos esta

situação comparando dados do IBGE de 2000 e 2006 (este ultimo representa dados

estimados, disponibilizados pela Secretaria de Saúde do Município de Angra dos Reis)

e estimativas feitas pelos próprios moradores obtidas em campo. Vale destacar a

imprecisão dos dados populacionais disponibilizados e nota-se uma tendência a se

apresentarem dados bastante inferiores a realidade.

Tampouco, podemos considerar a Ilha Grande como uma única comunidade.

As distâncias entre as localidades, percorridas apenas de barco ou por trilhas, não

são o único fator que as separam. A diversidade existente entre as comunidades,

conseqüente do complexo mosaico histórico-cultural característico da Ilha Grande,

dificulta a elaboração de políticas e estratégias comuns para todo o território. Cada

localidade terá suas próprias potencialidades, vocações econômicas, infra-estrutura,

grau de mobilização social, conflitos etc, sendo por isso necessário, um trabalho

específico com cada comunidade.

Ainda assim podemos citar de antemão alguns problemas que são comuns a

maior parte das comunidades. Observa-se uma deficiência de serviços públicos

como: saneamento básico, postos de saúde, transporte, educação de qualidade e ao

alcance de todos, serviço de energia elétrica eficiente, além da dificuldade de acesso

a informação e meios de comunicação e ausência de atividades culturais. Em relação

ao mercado de trabalho, há uma crítica geral relacionada a forma de exploração do

turismo, não-inclusiva, gerando apenas sub-empregos, sem carteira assinada,

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perpetuando o estigma de exploração existente na ilha. A falta de perspectivas

econômicas para os jovens se reflete no processo de êxodo para o continente. Soma-

se a crescente especulação imobiliária e a perda da identidade cultural local.

Outro fator que chama atenção é o quadro de baixa participação social,

associado ao alto nível de descrença e desconfiança de seus moradores. Algumas

comunidades importantes ainda não possuem uma Associação de Moradores

constituída e mesmo as que possuem sofrem com a falta de legitimidade de sua

Associação. É difícil então, enxergar a efetividade ou atuação dessas organizações,

até porque não há uma cultura de participação dos moradores nas reuniões. A

representação política da maior parte das comunidades se dá pela atuação de

lideranças comunitárias, nutridos na maior parte das vezes de boa fé, porém sem

muita legitimidade perante a comunidade.

Neste trabalho procuramos apenas fazer uma breve caracterização das

principais comunidades da Ilha Grande, sem qualquer pretensão de se assemelhar a

um trabalho antropológico. Trata-se da tentativa de se desenhar um quadro da

situação atual, sob diferentes aspectos que nos saltam aos olhos em cada

comunidade. Muitas informações aqui contidas exigem um certo grau de

conhecimento da história da região para serem realmente compreendidas.

Aventureiro – Diante do atual quadro de conflito envolvendo a comunidade, os

orgãos ambientais e a prefeitura, que chegaram a proibir o camping em Aventureiro,

a comunidade parece estar bastante consciente da necessidade de se unir e

organizar a atividade turística na praia, apresentando um maior nível de participação

social em relação a outras comunidades da ilha. É também a comunidade com mais

resquícios da cultura caiçara.

Além das dificuldades impostas pelo isolamento geográfico, a comunidade

sofre com a ausência de serviços como: esgotamento sanitário adequado, o que já

gerou surtos de doenças como “bicho de pé” e “bicho geográfico”; coleta de lixo, não

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é raro depararmo-nos com pilhas de sacos de lixo ao lado do cais; posto de saúde,

obrigando-os a grandes deslocamentos, muitas vezes perigosos devido ao “mar

agitado”; educação, uma vez que a escola local só vai até a 4a série, fazendo com

que os alunos tenham que enfrentar o mar todos os dias para estudar em Provetá, e

em dias de “mar agitado” os alunos fazem o percurso por trilha, chegando a escola,

cansados e sujos; e comunicação, uma vez que não há energia elétrica, acesso a

internet e telefones públicos. Apenas uma operadora de telefonia celular é captada

no Aventureiro.

Atualmente a associação de moradores é presidida pelo Luís (camping do

Luís) e é uma das associações com maior legitimidade junto a população local.

O censo demográfico do IBGE de 2000 apontava uma população total de 95

habitantes e 33 domicílios, as estimativas do IBGE para 2006 apontavam 54

habitantes. Já a estimativa dos moradores é a de que hajam aproximadamente 100

habitantes.

Provetá – Segunda maior comunidade da Ilha Grande, é a maior comunidade

pesqueira da Ilha e uma das maiores colônias de pescadores do Estado do Rio de

Janeiro. Aqui, o crescimento desordenado é evidente. Apesar de ter sido favorecida

com a rede de energia elétrica instalada em 2001 e a existência de um posto

telefônico público, a localidade ainda carece de rede coletora de água e esgoto. Há

valas de esgoto a céu aberto e o córrego principal está poluído. Nesta comunidade

funciona a única escola de ensino médio, além da Vila do Abraão, fazendo com que a

comunidade receba diariamente alunos das comunidades do Aventureiro e de todas

as comunidades da face noroeste da ilha, da Praia Vermelha a Bananal.

A força da Igreja Evangélica é tamanha que o Pastor Eliseu parece ser o

principal representante e interlocutor da comunidade. O Manoelzinho também foi

indicado como uma liderança social.

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O censo demográfico do IBGE de 2000 apontava uma população total de 1234

habitantes e 333 domicílios, as estimativas do IBGE para 2006 apontavam 883

habitantes. Já a estimativa dos moradores é a de que haja mais de 2000 habitantes.

Praia Vermelha – Habitada basicamente por famílias que tradicionalmente viveram

da pesca e em função da fábrica de sardinha que ali existiu, possui um pequeno

comércio e poucas pousadas. A praia recebe um número considerável de turistas

mergulhadores que de lá saem para expedições, também de lá se chega à gruta do

acaiá.

Na Praia Vermelha, assim como em todas as comunidades da Ilha Grande, fica

evidente a falta de perspectivas profissionais e educacionais para o jovens,

fortalecendo o quadro de exôdo para o continente e especulação imobiliária. Além da

falta de emprego, problemas referentes ao saneamento básico, transporte, acesso a

informação e saúde também são apontados pela comunidade.

Nota-se o baixo grau de participação social entre os habitantes, não havendo

associação de moradores constituída. Destacam-se socialmente a influência da igreja

evangélica e do espaço escolar (escola municipal até a 4a série). O maricultor

Miguel, apesar de não ser nativo, também é apontado como uma referência para a

comunidade.

O censo demográfico do IBGE de 2000 apontava uma população total de 192

habitantes e 71 domicílios, as estimativas do IBGE para 2006 apontavam 134

habitantes. Já a estimativa dos moradores é a de que hajam mais de 200 habitantes.

Praia Grande de Araçatiba – É o terceiro maior povoado da Ilha Grande, e a

segunda em atividade turística atrás de Abraão, guardando com esta certa

semelhança. Na praia existem diversas pousadas, casas disponíveis para aluguel por

temporada, comércio e embarcações que realizam regularmente o transporte entre a

ilha e o continente e passeios de barco. Araçatiba agrega também alguns fazendeiros

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marinhos que vivem do cultivo de mexilhão e é lá que ocorre o “Festival do

Mexilhão" no mês de outubro.

A comunidade dispõe de um posto de saúde e de uma escola até a oitava

série do primário, o que a torna um centro de referência para as comunidades

vizinhas.

Questões referentes a transporte, desemprego, saneamento básico (há uma

campanha para a despoluição do principal córrego da praia), participação social e

atividades culturais são as mais recorrentes na comunidade. As pequenas praias

vizinhas apresentam fortes sinais de tentativa de privatização, havendo boatos entre

os locais de que investidores estrangeiros estariam comprando-as para fins de

turismo de alto poder aquisitivo.

A professora Sara é uma forte liderança local e junto com o maricultor Loro,

está a frente do PIAJIG – Projeto de Incentivo e Apoio aos Jovens da Ilha Grande.

Ela também preside a instituição OPA – Organização das Pessoas de Araçatiba,

criada para ampliar o debate político na comunidade.

O censo demográfico do IBGE de 2000 unificou os dados de Araçatiba e Praia

da Longa, apontando uma população total de 415 habitantes e 207 domicílios. As

estimativas do IBGE para 2006, apenas para Araçatiba, apontavam 123 habitantes

(!!!). Já a estimativa dos moradores é a de que haja mais de 500 habitantes.

Praia da Longa – É uma praia que ainda não faz parte do roteiro turístico da Ilha

Grande, tendo um estaleiro como único empreendimento local. Possui a

peculiaridade de não possuir nenhuma pousada, há apenas casas para aluguel de

temporada. Em conversas com os moradores percebe-se uma postura bastante

crítica em relação ao tipo de turismo que é praticado nas outras praias da Ilha

Grande, pois eles temem a chegada de aspectos como a violência, drogas,

especulação imobiliária e poluição.

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Em relação aos serviços públicos, a praia possui apenas uma escola até a 4a

série do primário. Não há posto de saúde, telefone público, transporte adequado e

há uma queixa recorrente, quanto a falta de emprego e de meios de comunicação.

A professora da escola Ângela é reconhecida como uma jovem liderança local

e se mostrou bastante consciente e engajada nas atividades político-sociais e

culturais da sua comunidade.

Estimativas apontam a existência de aproximadamente 170 habitantes.

Enseada do Sítio Forte – A Enseada do Sítio Forte é composta por pequenas

praias: Ubatubinha, Tapera, Sítio Forte, Marinheiro, Maguariquissaba e Passaterra. A

localidade que teve papel importante durante a escravidão e no período do cultivo da

cana-de-açúcar, guardando ainda ruínas dos antigos casarões, não apresenta mais

uma comunidade tradicional residente. Pelo contrário, a enseada é fortemente

marcada por pousadas, restaurantes e grandes casas de pessoas de fora da Ilha,

havendo claros indícios de tentativa de privatização destas praias. A atividade de

maricultura é bastante forte entre os nativos restantes, abrigando um dos cultivos

mais bem sucedidos de toda a ilha e sendo estabelecida também uma Associação de

Maricultores. A região é ponto de parada para lanchas vindas de Angra dos Reis, em

busca de ostras e mexilhões e muito visitada por mergulhadores, devido à presença

de um naufrágio.

A enseada possui apenas uma escola que vai até a 4a série do primário. A

questão fundiária parece ser o principal problema da região, havendo um forte

movimento de êxodo dos “nativos” para o continente.

A Associação de Maricultores parece ser a única instituição social em atividade

no local, presidida pelo Roberto, sendo pessoa influente na comunidade.

O censo demográfico do IBGE de 2000 apontava uma população total de 396

habitantes e 179 domicílios, as estimativas do IBGE para 2006 apontavam 102

habitantes. Esta estimativa parece se confirmar devido ao forte processo de êxodo

dos “nativos”, que vendem suas posses e migram para o continente.

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Matariz – Onde até a alguns anos atrás funcionou a última fábrica de pescados

enlatados da Ilha Grande, hoje há uma comunidade totalmente abandonada pelo

poder público. Com baixíssimas perspectivas de desenvolvimento econômico, a

impressão é a de que Matariz seja a comunidade mais pobre de toda a Ilha. Apesar

de não parecer, é bastante populosa, possui uma grande quantidade de jovens, que

são obrigados a se deslocar por duas horas de barco para chegar até Provetá, escola

de ensino médio mais próxima. Os jovens de Matariz são considerados os mais

indisciplinados do Barco Escola. Na comunidade há apenas uma escola até a 4a série

do primário, uma pousada e pequeno comércio. Problemas relacionados a

saneamento básico, desemprego, violência e drogas são bastante citados pelos

moradores. Outro problema que teve seu foco inicial em Matariz e depois se alastrou

por toda a ilha foi a introdução e proliferação do caramujo africano, potencial vetor

de doenças.

A comunidade conta com Associação de Moradores, atualmente presidida pela

Bete. A ONG Cio da Terra, da Amanda (nativa de Matariz), vem desenvolvendo um

trabalho junto aos moradores, realizando oficinas e atividades que a tornaram bem

conceituada.

A estimativa do IBGE para 2006 é a de que haviam 274 habitantes, porém

segundo os moradores há mais de 400 habitantes.

Bananal – Apesar da proximidade com Matariz, é notadamente uma comunidade

muito mais desenvolvida, articulada e com um turismo já representativo. A praia do

Bananal possui 2 atracadouros, diversas pousadas, restaurantes, bares e operadora

de mergulho. Aqui, a ONG Cio da Terra também desenvolve uma série de atividades,

apoiadas pelo Preto, da Pousada do Preto, que é uma das principais lideranças

comunitárias.

O censo demográfico do IBGE de 2000 apontava uma população total de 292

habitantes e 154 domicílios. As estimativas do IBGE para 2006 apontavam 126

habitantes, porém a realidade parece condizer mais com o Censo de 2000.

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Entre o Bananal e Praia Vermelha se percebe uma já incipiente

integração comunitária que é incentivada através das escolas locais.

O Bananal é como se fosse a “última comunidade” dessa face da Ilha, visto

que existe um total distanciamento para com as próximas comunidades.

Freguesia de Santana – primeiro povoado da Ilha e por muitos anos o mais

importante e populoso, hoje Freguesia de Santana é uma praia completamente

privatizada e sem qualquer presença de uma comunidade nativa. Diversos turistas a

procuram para visitar a igreja de Santana – 1796, considerado o mais importante

patrimônio histórico da Ilha Grande, onde acontece todo fim de julho a festa de

Santana, marcada por uma procissão de barcos. Apesar de sua importância histórica,

atualmente tem-se uma impressão um tanto frustrante da localidade, devido ao fato

de a igreja estar sempre fechada e de não haver qualquer sinal de uma comunidade

tradicional. Há apenas uma grande propriedade privada que ocupa toda a praia, com

bóias que dificultam a atracação de barcos e apenas algumas casas espalhadas ao

longo da trilha para o Bananal, em condições absolutamente precárias.

A estimativa do IBGE para 2006 é a de que haviam 44 habitantes.

Japariz – constituída por membros da mesma família, sua importância restringe-se a

ser ponto de parada de refeição para as diversas escunas que realizam passeio por

aquela área.

É em Japariz que está instalado o terminal que recebe o cabo subterrâneo que

leva energia elétrica para ser distribuída na Ilha.

A estimativa do IBGE para 2006 é a de que haviam 102 habitantes.

Enseada da Estrelas – A enseada que abriga as praias da Feiticeira, Iguaçú,

Camiranga, Grande e de Fora, possui uma comunidade bem populosa que se

estabelece ao longo de sua grande área. Atualmente, esta comunidade se confronta

com o cercamento de praias e restrição de acesso por parte de pousadas e

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propriedades privadas que vêm ocupando a região de maneira bastante agressiva.

Há o desvio de servidões públicas históricas, desmatamento de manguezais,

construções de atracadouros irregulares, trânsito de embarcações em alta velocidade

(o que afeta o frágil ecossistema local) e diversas ocupações irregulares. Esta nova

ocupação por parte de grandes empreendimentos parece ser o maior motivo de

preocupação dos moradores.

A comunidade possui uma escola até a 4a série do primário e os jovens acima

desta série tem que se deslocar para Abraão. A situação mais crítica é a dos alunos

que cursam o ensino médio, como as aulas são ministradas apenas no turno da

noite, os jovens não dispõe do Barco Escola, e têm que se deslocar por conta

própria.

O censo demográfico do IBGE de 2000 apontava uma população total de 424

habitantes e 162 domicílios. As estimativas do IBGE para 2006 apontavam 301

habitantes, porém a realidade parece condizer mais com o Censo de 2000.

Vila do Abraão – é a maior comunidade da ilha e ponto de chegada das barcas que

partem de Angra e Mangaratiba. Grande mosaico cultural (nativos, barqueiros,

pousadeiros, estrangeiros...), sendo o turismo sua maior vocação. Possui muitas

pousadas, de todos os níveis, restaurantes, operadoras de passeios de barco,

comércio, posto de saúde e escola até o ensino médio. Apesar de concentrar a maior

parte das pousadas e serviços comerciais da Ilha Grande, Abraão não é sinônimo de

localidade bem desenvolvida. Sendo a maior comunidade, é a que mais sofreu o

processo de ocupação desordenado e falta de infra-estrutura. A presença do IEF na

Vila do Abraão devido a parte da Vila se situar no interior do Parque Estadual da Ilha

Grande e de uma sub-sede da Prefeitura de Angra dos Reis não impediu que lá se

desenvolvessem graves problemas como: esgoto a céu aberto, lixo nas ruas,

doenças endêmicas, ocupação e construções irregulares, desmatamentos e falta de

água. Abraão pode ser considerada o “patinho feio” da Ilha: a comunidade que

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nenhuma comunidade quer virar. Outro fato curioso é que ali foi o palco principal

dos principais projetos fracassados para a Ilha Grande.

O censo demográfico do IBGE de 2000 apontava uma população total de 1481

habitantes e 695 domicílios. As estimativas do IBGE para 2006 apontavam 1477

habitantes, já a estimativa dos moradores é a de que haja mais de 2000 habitantes.

Palmas – Ponto de parada no caminho que liga Abraão a Praia de Lopes Mendes.

Não há comércio desenvolvido e nenhum serviço público, apesar de esta ser uma

localidade que recebe muitos visitantes, que ficam acampados nos quintais das casas

dos moradores. Possui também pequenos restaurantes e três pousadas.

O censo demográfico do IBGE de 2000 apontava uma população total de 115

habitantes e 51 domicílios.

Dois Rios – Esta Vila parece até hoje carregar a herança maldita de ter sido sede do

Instituto Penal Cândido Mendes, com uma comunidade residente formada por

antigos funcionários do presídio e que ocupam irregularmente as casas que são do

Governo do Estado (Recentemente a UERJ ganhou na justiça o direito de finalmente

ocupar estas casas). Também é sede do Campus da UERJ, que é responsável pela

gestão da Vila de Dois Rios e possui um Centro de Estudos Ambientais e

Desenvolvimento Sustentável - CEADS no local. Claramente, até por falta de

recursos, a instituição universitária ainda não conseguiu desempenhar atividades de

pesquisa e extensão representativas para além da Praia de Dois Rios. A UERJ

pretende em breve realizar obras para a implementação de um museu (Ecomuseu).

Praia da Parnaioca – Parnaioca já foi no passado a praia mais populosa da Ilha

Grande, chegando a ter mais de mil habitantes que viviam da pesca e da agricultura.

Importante atividade na época do Brasil Colônia devido ao cultivo do café. Das

fazendas de café que lá se desenvolveram só restaram ruínas das antigas

construções feitas pelos escravos e a Igreja do Sagrado Coração de Jesus que ainda

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mantém seus traços principais. Parnaioca foi vivendo aos poucos a saída dos seus

moradores. Sendo esta a localidade mais próxima do Presídio, por medo dos

fugitivos, a população saiu da praia. Hoje, poucas famílias permanecem com moradia

fixa no local, alugando seus quintais para a prática do camping.

O censo demográfico do IBGE de 2000 apontava uma população total de 5

habitantes e 6 domicílios.

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