Brigando com Deus
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Ainda que infrutuosas convicções incitem o meu mísero direito de gente, eu não exigirei
mais de Deus todas as explicações que me foram omitidas desde quando fui arrancado do
calmoso útero que me cobria e arremessado, inexoravelmente, ao labirinto ilógico desse
fadário universo de venturas. Eu sou sem pedir para ser, e mesmo carregando o indesejável
estorvo da incoerência que veio pregada comigo, quero, inexplicavelmente, continuar sendo
quem eu nunca saberei se fui. Sou um gerúndio de reticências f unambulando descalçado com a
razão ignorada que herdei. Sou um sujeito assim... Aleatoriamente à toa. Sem motivo algum
para ser. Pois se o tenho, não conheço, e ao desconhecê -lo torno-me um estranho insignificante
de mim mesmo. Submisso a passiva incapacidade de prever a minha sina, sigo buscando
desatinadamente o meu tino. Mesmo sem saber se o tenho.
O meu destino vestia-se de casualidades intempestivas para ludibriar que minhas atitudes
mudariam o meu futuro, entretanto nunca fora nada senão, parte da es túpida necessidade
humana de acreditar que tudo seria em consequência de minhas nobres decisões. Mas,
deixando um pouco de lado as crenças dos desesperados, que por defesa vital nos cega, ainda
consigo enxergar com a sobriedade desapontada de um descrente que, o futuro da minha vida
sempre independeu das minhas escolhas. Meus amanhãs são ignotos de mim, assim como todos
![Page 3: Brigando com Deus](https://reader036.fdocumentos.com/reader036/viewer/2022080100/568caa731a28ab186da1a2b0/html5/thumbnails/3.jpg)
os meus anelos são subservientes aos planos que não seguem sequer os meus roteiros. Sou um
fantoche com asas que não voa. Aprisionado numa grande interrogação invisível que não
responde as minhas perguntas por preces. Sou impotente, oco e não carrego sequer, a minha
própria razão. Sou escravo de uma entidade onipresente que jamais encontrei, curvado aos
intermitentes equívocos da sua soberana onisciência que – nem ao menos – posso contestar.
Biologicamente, até que com rara racionalmente, explicam de onde eu vim. O que de
maneira geral, não elucida muita coisa. Tampouco minora essa minha totalmente tola falta de
rumo: como se o bastante fosse suficientemente vital, batizaram a minha carne com um nome,
deram-me um coração de vidro trincado, um espírito que nunca vi e privaram -me do meu
significado de haver... Afora a certeza de um indesviável desfecho, que ainda rogo a
misericordiosa reputação do tal criador para que procrastine de encontrar.
Ainda assim, ao revés de toda lucidez e contradizendo qualquer sobriedade, eu não
reivindicarei mais de Deus as justas justificativas que ele me deve. Pois, atrelado aos acasos do
descaso, trilho o meu caminho por pura intuição: oscilando entre passadas alargadas da
certeza inexistente, com pegadas hesitantes de medo, tropeçando nas incertezas que me inibem
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de ir adiante ou anelante entusiasmo quando quero andar ligeiro. Porque, permeio a toda
insensatez que torna a vida ilogicamente incoerente, também persistem irracionais significados
que a fazem prazenteira o bastante para vivê-la sem buscar a racionalidade que não existe em
existir.
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TEXTO: Brigando com Deus / AUTOR: Marcus Deminco
FOTO: Márcia Klose (@mklosephot instagram / Site: www.mklose.com )
MODELO: Nii Klose ( https://www.facebook.com/nii.klose )