Brigando com Deus

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TEXTO: Brigando com Deus / AUTOR: Marcus Deminco

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Ainda que infrutuosas convicções incitem o meu mísero direito de gente, eu não exigirei

mais de Deus todas as explicações que me foram omitidas desde quando fui arrancado do

calmoso útero que me cobria e arremessado, inexoravelmente, ao labirinto ilógico desse

fadário universo de venturas. Eu sou sem pedir para ser, e mesmo carregando o indesejável

estorvo da incoerência que veio pregada comigo, quero, inexplicavelmente, continuar sendo

quem eu nunca saberei se fui. Sou um gerúndio de reticências f unambulando descalçado com a

razão ignorada que herdei. Sou um sujeito assim... Aleatoriamente à toa. Sem motivo algum

para ser. Pois se o tenho, não conheço, e ao desconhecê -lo torno-me um estranho insignificante

de mim mesmo. Submisso a passiva incapacidade de prever a minha sina, sigo buscando

desatinadamente o meu tino. Mesmo sem saber se o tenho.

O meu destino vestia-se de casualidades intempestivas para ludibriar que minhas atitudes

mudariam o meu futuro, entretanto nunca fora nada senão, parte da es túpida necessidade

humana de acreditar que tudo seria em consequência de minhas nobres decisões. Mas,

deixando um pouco de lado as crenças dos desesperados, que por defesa vital nos cega, ainda

consigo enxergar com a sobriedade desapontada de um descrente que, o futuro da minha vida

sempre independeu das minhas escolhas. Meus amanhãs são ignotos de mim, assim como todos

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os meus anelos são subservientes aos planos que não seguem sequer os meus roteiros. Sou um

fantoche com asas que não voa. Aprisionado numa grande interrogação invisível que não

responde as minhas perguntas por preces. Sou impotente, oco e não carrego sequer, a minha

própria razão. Sou escravo de uma entidade onipresente que jamais encontrei, curvado aos

intermitentes equívocos da sua soberana onisciência que – nem ao menos – posso contestar.

Biologicamente, até que com rara racionalmente, explicam de onde eu vim. O que de

maneira geral, não elucida muita coisa. Tampouco minora essa minha totalmente tola falta de

rumo: como se o bastante fosse suficientemente vital, batizaram a minha carne com um nome,

deram-me um coração de vidro trincado, um espírito que nunca vi e privaram -me do meu

significado de haver... Afora a certeza de um indesviável desfecho, que ainda rogo a

misericordiosa reputação do tal criador para que procrastine de encontrar.

Ainda assim, ao revés de toda lucidez e contradizendo qualquer sobriedade, eu não

reivindicarei mais de Deus as justas justificativas que ele me deve. Pois, atrelado aos acasos do

descaso, trilho o meu caminho por pura intuição: oscilando entre passadas alargadas da

certeza inexistente, com pegadas hesitantes de medo, tropeçando nas incertezas que me inibem

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de ir adiante ou anelante entusiasmo quando quero andar ligeiro. Porque, permeio a toda

insensatez que torna a vida ilogicamente incoerente, também persistem irracionais significados

que a fazem prazenteira o bastante para vivê-la sem buscar a racionalidade que não existe em

existir.

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TEXTO: Brigando com Deus / AUTOR: Marcus Deminco

FOTO: Márcia Klose (@mklosephot instagram / Site: www.mklose.com )

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