Brinquedos

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SALVADOR TERÇA-FEIRA 2/10/2012 6 2 EXPOSIÇÃO Caixa Cultural abre Brinquedos à Mão, que reúne objetos de colecionadora A história e a tradição que envolvem os brinquedos VERENA PARANHOS “Brincar é pré-requisito para ser feliz”. Acreditando nesta ideia, Sálua Chequer começou, des- pretensiosamente, a guardar brinquedos. Mais de 20 anos depois, a professora de música, fascinada por manifestações po- pulares, inaugura hoje, às 19 horas, na Caixa Cultural Salva- dor, a exposição Brinquedos à Mão, que reúne parte de seu acervo: 600 brinquedos artesa- nais garimpados no Nordeste do Brasil. Mais do que simplesmente colecionar brinquedos, Sálua Chequer busca preservar a his- tória e a tradição que os envolve. Por isso, sabe os nomes dos ar- tesãos de quem comprou as pe- ças, lembra com detalhes as anedotas que cercam cada via- gem em busca dos joguetes e recorda os dias em que, ainda criança, ganhou os mais antigos da coleção. “Esses fui buscar em João Pes- soa, na casa de dona Lindalva”, diz, ao mostrar um casal de noi- vos de calda comprida, confec- cionado com pano. “Ela não faz cópias de figuras humanas. Cria, imagina os seres”, explica. “Esse barquinho comprei há uns 13 anos, em Alagoas, na mão de Lymbo, um índio ka- riri-xocó. Fiquei louca quando vi as crianças brincando com bar- cos assim, nas margens do São Francisco. Ele flutua de verda- de”, destaca entusiasmada. “Essas ‘modernidades’ vi- nham de Itabuna para Ibirataia (sua cidade natal)”, assim se re- fere a um fogão de metal do- brado e uma cama-patente, que guarda há mais de 50 anos. Tradicional x tecnologia Para Sálua, a mostra não tem nada de saudosista, pois o brin- quedo tradicional convive bem com os tecnológicos. “Eles não competem de modo algum. É um encantamento que combina muito bem com jogos eletrô- nicos, games e tablets”. Ilka Bichara, professora do Instituto de psicologia da Ufba, que desenvolve pesquisa sobre as brincadeiras infantis em es- paços urbanos, concorda com esse aspecto. “Criança gosta de brincar e brinca com o que en- contra. Acredito que elas rece- bem bem os objetos mais di- versos, os exploram, manipu- lam, brincam com eles primei- ramente como indicado e de- pois vão recriando outras pos- sibilidades”. E acrescenta: “As crianças continuam inventivas, transformando e recriando ob- jetos e brincadeiras, inclusive no ambiente virtual”. Sálua comprova o interesse das crianças de cinco a 11 anos por brinquedos tradicionais quando os leva para a sala de aula. “Elas ainda veem com en- tusiasmo, adoram. Ficam curio- sos para saber o que vou tirar da sacola e perguntam por quanto eu vendo. O que acontece é que dificilmente têm acesso a esse tipo de coisa”, conta Sálua, que só teve “brinquedo comprado”, como conta, por volta dos sete anos. “Naquela época, minha mãe dizia: ‘Se brinca com o que tem’ e a gente improvisava”, lembra. Hoje, aos 58 anos, Sálua con- fessa que brinca com suas peças pelo menos uma vez por mês, quando tem que limpá-las. “Em casa tirei uma parede para abrir mais espaço. Quando chega uma criança, eu tenho que ad- ministrar para que não mexam em tudo”. Apesar do ciúme que tem dos objetos, na exposição, que fica em cartaz até 4 de no- vembro, alguns artefatos vão poder ser manuseados pelos vi- sitantes. Sábado, a programa- ção inclui oficinas com a cole- cionadora sobre os brinquedos expostos, às 15h30, 16h, 16h30 e 17h (30 vagas cada uma). Ins- crições às 15 horas. BRINQUEDOS À MÃO / ABERTURA: HOJE, ÀS 19H / VISITAÇÃO: DE AMANHÃ ATÉ 4 DE NOVEMBRO, TERÇA A DOMINGO, DAS 9H ÀS 18H / CAIXA CULTURAL SALVADOR / GRÁTIS Fotos Mila Cordeiro / Ag. A TARDE Na montagem da exposição na Caixa Cultural, Sálua Chequer com os brinquedos de sua coleção Jogo de cozinha, feito de lata, do interior de Pernambuco “As crianças continuam inventivas, inclusive no ambiente virtual” ILKA BICHARA, professora da Ufba Caminhão de madeira, semelhante aos de transporte de carga Roda d'água de madeira, feita por garoto de Pintadas, Bahia Aqui os imóveis estão sempre em localização privilegiada. Imobiliário. Quinta e sábado no seu jornal A TARDE.

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SALVADOR TERÇA-FEIRA 2/10/20126 2

EXPOSIÇÃO Caixa Cultural abre Brinquedos àMão, que reúne objetos de colecionadora

A história e atradição queenvolvem osbrinquedosVERENA PARANHOS

“Brincar é pré-requisito para serfeliz”. Acreditando nesta ideia,Sálua Chequer começou, des-pretensiosamente, a guardarbrinquedos. Mais de 20 anosdepois, a professora de música,fascinadapormanifestaçõespo-pulares, inaugura hoje, às 19horas, na Caixa Cultural Salva-dor, a exposição Brinquedos àMão, que reúne parte de seuacervo: 600 brinquedos artesa-nais garimpados no Nordestedo Brasil.

Mais do que simplesmentecolecionar brinquedos, SáluaChequer busca preservar a his-tóriaeatradiçãoqueosenvolve.Por isso, sabe os nomes dos ar-tesãos de quem comprou as pe-ças, lembra com detalhes asanedotas que cercam cada via-gem em busca dos joguetes erecorda os dias em que, aindacriança, ganhou os mais antigosda coleção.

“Esses fui buscar em João Pes-soa, na casa de dona Lindalva”,diz, ao mostrar um casal de noi-vos de calda comprida, confec-cionado com pano. “Ela não fazcópiasdefigurashumanas.Cria,imagina os seres”, explica.

“Esse barquinho comprei háuns 13 anos, em Alagoas, namão de Lymbo, um índio ka-riri-xocó. Fiquei louca quando vias crianças brincando com bar-cos assim, nas margens do SãoFrancisco. Ele flutua de verda-de”, destaca entusiasmada.

“Essas ‘modernidades’ vi-

nham de Itabuna para Ibirataia(sua cidade natal)”, assim se re-fere a um fogão de metal do-brado e uma cama-patente, queguarda há mais de 50 anos.

Tradicional x tecnologiaPara Sálua, a mostra não temnada de saudosista, pois o brin-quedo tradicional convive bemcom os tecnológicos. “Eles nãocompetem de modo algum. Éum encantamento que combinamuito bem com jogos eletrô-nicos, games e tablets”.

Ilka Bichara, professora doInstituto de psicologia da Ufba,que desenvolve pesquisa sobreas brincadeiras infantis em es-paços urbanos, concorda comesse aspecto. “Criança gosta debrincar e brinca com o que en-contra. Acredito que elas rece-bem bem os objetos mais di-versos, os exploram, manipu-lam, brincam com eles primei-ramente como indicado e de-pois vão recriando outras pos-sibilidades”. E acrescenta: “Ascrianças continuam inventivas,

transformando e recriando ob-jetos e brincadeiras, inclusive noambiente virtual”.

Sálua comprova o interessedas crianças de cinco a 11 anospor brinquedos tradicionaisquando os leva para a sala deaula. “Elas ainda veem com en-tusiasmo, adoram. Ficam curio-sos para saber o que vou tirar dasacola e perguntam por quantoeu vendo. O que acontece é quedificilmente têm acesso a essetipo de coisa”, conta Sálua, quesó teve “brinquedo comprado”,como conta, por volta dos seteanos. “Naquela época, minhamãe dizia: ‘Se brinca com o quetem’ e a gente improvisava”,lembra.

Hoje, aos 58 anos, Sálua con-fessa que brinca com suas peçaspelo menos uma vez por mês,quando tem que limpá-las. “Emcasa tirei uma parede para abrirmais espaço. Quando chegauma criança, eu tenho que ad-ministrar para que não mexamem tudo”. Apesar do ciúme quetem dos objetos, na exposição,que fica em cartaz até 4 de no-vembro, alguns artefatos vãopoder ser manuseados pelos vi-sitantes. Sábado, a programa-ção inclui oficinas com a cole-cionadora sobre os brinquedosexpostos,às15h30,16h,16h30e 17h (30 vagas cada uma). Ins-crições às 15 horas.

BRINQUEDOS À MÃO / ABERTURA: HOJE, ÀS

19H / VISITAÇÃO: DE AMANHÃ ATÉ 4 DE

NOVEMBRO, TERÇA A DOMINGO, DAS 9H ÀS

18H / CAIXA CULTURAL SALVADOR / GRÁTIS

Fotos Mila Cordeiro / Ag. A TARDE

Na montagem daexposição na CaixaCultural, SáluaChequer com osbrinquedos desua coleção

Jogo de cozinha, feito de lata, do interior de Pernambuco

“As criançascontinuaminventivas,inclusive noambiente virtual”ILKA BICHARA, professora da Ufba

Caminhão de madeira, semelhante aos de transporte de cargaRoda d'água de madeira, feita por garoto de Pintadas, Bahia

Aqui os imóveis estão sempreem localização privilegiada.Imobiliário. Quinta e sábado no seu jornal A TARDE.