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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA BRUNO GOUVEIA FURLAN Corrosão Microbiana Lorena 2013

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA

BRUNO GOUVEIA FURLAN

Corrosão Microbiana

Lorena

2013

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BRUNO GOUVEIA FURLAN

Corrosão Microbiana

Trabalho de Graduação apresentado à

Escola de Engenharia de Lorena da

Universidade de São Paulo como requisito

parcial para conclusão da Graduação do

curso de Engenharia Bioquímica.

Orientador: Profª Drª Maria Bernadete de

Medeiros

Lorena

2013

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AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO Serviço de Biblioteca Escola de Engenharia de Lorena

Furlan, Bruno Gouveia

Corrosão microbiana/ Bruno Gouveia Furlan; Orientadora Maria

Bernadete de Medeiros —Lorena, 2013.

.47 p.

Monografia apresentada como requisito parcial para a conclusão do

Curso de Graduação de Engenharia Bioquímica - Escola de Engenharia de

Lorena da Universidade de São Paulo.

1. Corrosão. 2. Bofouling. 3. Biocorrosão I. Medeiros, Maria

Bernadete de, Orient.

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Aos meus queridos pais,

Antonio e Lourdes, por todo amor e

apoio para a realização de mais essa conquista.

E ao meu grande amor, Fernanda.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, aos meus pais e irmã. Antonio, Lourdes e Mariana, por todo o apoio e

ajuda para que eu pudesse conquistar mais esse sonho.

À minha orientadora Profa. Maria Bernadete de Medeiros, pelo auxílio e dedicação sobre o

andamento dessa monografia de conclusão de curso.

À minha namorada, por toda a força e companheirismo, nunca deixando desistir dos meus

objetivos.

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“Por não saber que era impossível ele foi lá e fez”

Jean Cocteau

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FURLAN, Bruno Gouveia. Corrosão microbiana/ Bruno Gouveia Furlan; Orientadora

Maria Bernadete de Medeiros—Lorena, 2013. 47 p. (Monografia apresentada como requisito

parcial para a conclusão do Curso de Graduação de Engenharia Bioquímica - Escola de

Engenharia de Lorena da Universidade de São Paulo)

RESUMO

A importância dada a biocorrosão tem aumentado muito nesses últimos anos,

pois governos e indústrias gastam milhões para reparar danos causados por esse

tipo de corrosão. Atualmente são conhecidos os principais mecanismos e

microrganismos, como bactérias, algas e algumas espécies de fungos. A

biocorrosão é um processo influenciado por atividade microbiana, especialmente

quando há a formação de biofilme, o qual promove a interação dos

microrganismos com a superfície do metal. O presente trabalho irá apresentar um

breve resumo sobre a formação de biofilmes em diferentes sistemas, assim como

uma análise dos principais microrganismos associados à biocorrosão de materiais

metálicos e não metálicos, os principais casos na indústria e técnicas de

prevenção e controle.

Palavras-chave: Corrosão. Biofouling. Biocorrosão.

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ABSTRACT

There has been an increase in the importance given to biocorrosion in the last

years, as government and industry, have been spending millions to repair

damages caused by this type of corrosion. Currently the main mechanism and

microorganism like bacteria, algae and some species of fungus are known.

Biocorrosion is a process influenced by microbial activity specially when there is

the formation of Biofouling, which promotes the interaction of microorganism with

the metal surface. This report presents a brief summary about the formation of

Biofouling and different systems, as well as an analysis of the main microorganism

associated with biocorrosion metallic and non-metallic materials, the main cases in

the industry and prevention and control techniques.

Key words: Biofouling, Corrosion, Microorganism.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Esquema dos processos de transferência de massa em um biofilme.

(CHARACKLIS, 1981). .......................................................................................... 16

Figura 2: Modelo atual de biofilme, onde o transporte é principalmente convectivo

e acontece por canais entre aglomerados (Clusters) microbianos.

(LEWANDOWSKI, et. Al, 1995)............................................................................. 17

Figura 3: Diferentes partes de uma plataforma de petróleo off-shore são afetadas

por biocorrosão e Biofouling. [Segundo Sanders e Hamilton, (1986)]..................21

Figura 4: Modelo de corrosão de dutos de concreto pelo acido sulfúrico. ............ 23

Figura 5: Parte superior de tubo de concreto, corroído pelo gás sulfídrico dos

esgotos. O gesso formado cristaliza, com a cor branca, na superfície do tubo de

concreto. Aparece ainda o resíduo da impermeabilização corroída (STEVEN,

2003)......................................................................................................................23

FIgura 6: Consórcios microbianos no interior de um biofilme...............................25

Figura 7: Interação entre as bactérias produtoras de ácidos e as BRS na

biocorrosão (CHARRET, 2010). ............................................................................ 26

Figura 8: Tubulção de ferro, com tubérculos de óxido de ferro (GENTIL, 2007). . 27

Figura 9: Processos Químicos de formação de tubérculos (PERRAMON, et al,

1972)......................................................................................................................27

Figura 10: (VIDELA, et al, 1988) Microrganismos em um sistema

água/combustível. A etapa inicial indica a disponibilidade de nutrientes, que são

provenientes dos hidrocarbonetos (compostos dos Combustíveis). ..................... 30

Figura 11: Biofilmes e produtos de corrosão na interfase metal/solução (VIDELA,

et al, 1988).............................................................................................................30

Figura 12: Inicio da ruptura da passividade do alumínio em um sistema

água/combustível (VIDELA, et al, 1988). .............................................................. 31

Figura 13: Progressão do processo por pites do alumínio em um sistema

água/combustível (VIDELA, et al, 1988). .............................................................. 31

Figura 14: Protozoário Zoothamnium sp. Fixado sobre aço inoxidável logo após a

exposição da superfície à água do mar natural (VIDELA, 2003). Escala: 10µm ... 33

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Figura 15: Início da formação de icrofouling sobre uma superfície de aço

inoxidável exposta à água do mar natural durante 5 dias (VIDELA, 2003). Escala:

10µm......................................................................................................................34

Figura 16: Microfouling sobre uma superfície de aço inoxidável exposta à água do

mar natural durante 15 dias (VIDELA, 2003). Escala: 10µm ................................. 34

LISTA DE TABELAS

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Tabela 1. Industrias mais frequentemente afetadas por biocorrosão e

Biofouling................................................................................................................2

1

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SUMÁRIO

1. . Objetivos .................................................................................................................... 13

1.1 - Geral ................................................................................................................................ 13

1.2 - Específico ....................................................................................................................... 13

2. . Introdução................................................................................................................... 14

3. . Mecanismos da Biocorrosão e processos de Biofouling ............................................. 15

3.1 – Corrosão Devido à Formação de ácidos ................................................................... 18

3.1.1 - Oxidação de compostos inorgânicos de enxofre por bactérias do gênero

Thiobacillus ......................................................................................................................... 18

3.2 – Corrosão Por Aeração Diferencial ............................................................................. 19

3.2.1 - Bactérias oxidantes de ferro ................................................................................ 19

3.3 – Corrosão por Ação conjunta de Bactérias ................................................................ 20

4- . Microrganismos relacionados à Corrosão ................................................................... 20

4.1 – Bactérias ........................................................................................................................ 22

4.1.1 – Bactérias Oxidantes do Enxofre ......................................................................... 22

4.1.2 – Biocorrosão anaeróbica do Ferro e do Aço. Bactérias Redutoras de

Sulfatos (BRS). .................................................................................................................. 24

4.1.3 – Bactérias oxidantes do Ferro .............................................................................. 26

4.2 – Fungos Filamentosos ................................................................................................... 28

4.3 – Algas ............................................................................................................................... 31

5 - Biocorrosão em Metais Resistentes à Corrosão ......................................................... 32

6 - Biodeterioração de materiais não metálicos ............................................................... 35

6.1 - Biodeterioração de fachadas pintadas ....................................................................... 35

6.2 – Biodeterioraçãodo de Concreto .................................................................................. 36

7–Prevenção e Controle .................................................................................................. 37

8 – Conclusão ................................................................................................................. 40

9 – Referências Bibliográficas ......................................................................................... 41

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1. Objetivos

1.1 - Geral

O presente trabalho tem como objetivo identificar e caracterizar os

diferentes tipos de microrganismos relacionados à biocorrosão, bem como os

mecanismos químicos envolvidos e, os principais casos observados na indústria:

1.2 - Específico

Descrever a fisiologia dos diferentes grupos de microrganismos

relacionados à biocorrosão;

Avaliar os efeitos da ação conjunta de bactérias redutoras de sulfato e as

oxidantes do ferro;

Estimar os principais efeitos da formação de Biofouling em diferentes

setores do meio industrial;

Destacar os principais segmentos que são prejudicados por processo de

biocorrosão.

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2. Introdução

A importância dos combustíveis minerais na matriz energética brasileira é

evidente, quando são analisados, os dados relativos aos volumes de produção e

aos valores movimentados na comercialização desses produtos, considerando,

que esse mercado movimenta aproximadamente R$ 70 bilhões por ano, gerando

uma receita de impostos de aproximadamente R$ 35 bilhões.

O maior problema microbiano na indústria de refino de petróleo é a

contaminação de produtos armazenados, que pode levar à perda da sua

qualidade, à formação de borra e à deterioração de tubulações e tanques de

estocagem. O óleo diesel apresenta os problemas microbiológicos mais sérios

dentre os tipos de combustíveis comercializados.

O principal problema ocorre quando o combustível possui alto teor de

enxofre, pois sofre ação de microrganismos redutores de sulfato. De fato, a

corrosão metálica é responsável por enormes prejuízos econômicos, estima-se

que cerca de R$ 30 bilhões poderiam ser economizados, se medidas viáveis, sob

o aspecto econômico e tecnológico de prevenção de corrosão fossem adotadas

(SANDRES, 2004)

A biocorrosão de materiais pode ser definida como um processo

eletroquímico de dissolução metálica, iniciado ou acelerado por microrganismos.

Para estes processos ocorrerem, há o envolvimento de vias metabólicas, onde os

organismos produzem fluxos de elétrons, no qual promovem mudanças

indesejáveis nas propriedades de um material para sua atividade vital de

obtenção de energia, através da oxidação ou redução de certos materiais.

Em geral, as bactérias relacionadas à biocorrosão são oxidantes do

enxofre, e apresentam características distintas relacionadas à sua via metabólica

e podem ser quimioautotróficas, quimioheterotróficas ou fotoautotróficas. Esses

microrganismos participam em diferentes partes e intensidades no processo de

biocorrosão.

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3. Mecanismos da Biocorrosão e processos de Biofouling

A biocorrosão e o Biofouling das superfícies metálicas têm origens em

processos biológicos que ocorrem pela participação de microrganismos aderidos

às superfícies, formando biofilmes na interfase metal / solução (VIDELA, 1995).

Entretanto, a natureza eletroquímica da corrosão metálica continua

presente na corrosão microbiana. Os microrganismos participam de forma ativa

no processo, mas sem modificar as características da reação eletroquímica

(VIDELA, 1981).

A biocorrosão manifesta-se em diferentes condições, porém ela ocorre

com maior frequência em meio aquoso. Nessa condição o mecanismo da

corrosão é essencialmente eletroquímico (HUECK, 1968) Segundo Gentil (2007)

quando uma superfície metálica é imersa em água, começa a formação de um

biofilme, com as possíveis etapas:

- Compostos orgânicos dissolvidos na água são adsorvidos, iniciando

a formação do biofilme;

- Bactérias da fase aquosa se depositam, são as bactérias sésseis,

que ao contrario das plantônicas, não permanecem dispersas na água;

- As bactérias sésseis formam um biofilme através da síntese de

exopolímeros, que podem ser polissacarídeos. Esses polímeros passam a

envolver e aglutinar as células, protegendo-as das condições adversas ao meio

ambiente, como a ação dos biocidas;

- Após o processo de fixação e, havendo nutrientes suficientes, as

bactérias se multiplicam, o biofilme aumenta de volume e outros organismos,

como fungos e algas, podem aderir à estrutura do biofilme.

A presença de biofilmes sobre as superfícies metálicas, induz importantes

mudanças no tipo e concentração de íons, valores do pH, níveis de oxigênio,

velocidade de fluxo dos líquidos e capacidade tampão do meio próximo do metal

(WOLYNEC, 2003). O biofilme faz parte, também, do chamado Biofouling, que se

refere ao acúmulo indesejável de depósitos biológicos sobre uma superfície

(VIDELA, 1996). Como consequência, observa-se uma significativa redução no

desempenho e na vida útil dos equipamentos (GENTIL, 2007).

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À proporção que a espessura do biofilme aumenta e supera a camada-

limite de fluxo laminar, tem inicio o desprendimento das camadas mais externas

(por efeito do corte do fluxo de líquido). Portanto, estabelece-se um processo de

renovação do biofilme, que é dinâmico, dependente da espessura do depósito,

das velocidades do fluxo de líquido e do crescimento dos microrganismos. Uma

das consequências desse processo é a contaminação do meio líquido por

partículas biológicas (metabólitos e materiais provenientes da lise celular) e

partículas inorgânicas (produtos de corrosão), como ilustrado na figura 1

(CHARACKLIS, 1981).

Figura 1: Esquema dos processos de transferência de massa em um biofilme.

(CHARACKLIS, 1981).

Segundo Characklis (1990), os processos biológicos ocorrem de acordo

com uma sequência de eventos, que tem início imediatamente no contato entre o

meio líquido e o metal. Os processos biológicos (Biofouling) e os processos

inorgânicos (corrosão) ocorrem de forma simultânea, mas seguem direções

opostas. O Biofouling, como foi dito anteriormente, é um processo de acumulação

que se dirige do seio do líquido para a superfície metálica, já a corrosão,

transcorre no sentido oposto da superfície metálica (que se dissolve) para o seio

do fluido (CHARACKLIS, 1981).

No modelo mais aceito de biofilme (LEWANDOWSKI, et. Al, 1995), há a

formação de conglomerados (Clusters), onde ocorre à formação de canais ou

túneis, no qual o transporte de líquido ocorre essencialmente por convecção

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(figura 2). Esse modelo conceitual permite explicar a limitação do acesso de

alguns biocidas oxidantes (cloro e ozônio) e sobre a sua menor eficiência sobre

microrganismos aderidos (sésseis) ao metal.

Figura 2: Modelo atual de biofilme, onde o transporte é principalmente convectivo e

acontece por canais entre aglomerados (Clusters) microbianos. (LEWANDOWSKI, et. Al,

1995).

Dentre os principais microrganismos associados à biocorrosão, estão as

bactérias redutoras de sulfato e oxidantes de enxofre, bactérias oxidantes de ferro

e manganês, e bactérias formadoras de limos. Com menor frequência, embora

também importantes, são identificados casos de corrosão associado à

organismos eucariotos como fungos e algas (GENTIL, 2007).

Segundo Gentil (2007), podemos classificar a corrosão induzida por

microrganismos em quatro tipos:

- Devida a formação de ácidos;

- Despolarização catódica;

- Aeração diferencial;

- Ação conjunta de bactérias.

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3.1 – Corrosão Devido à Formação de ácidos

3.1.1 - Oxidação de compostos inorgânicos de enxofre por bactérias do

gênero Thiobacillus

O grupo de bactérias do gênero Thiobacillus oxida o enxofre a sulfato e

como consequência há produção de ácido sulfúrico, que funciona como agente

corrosivo. Os compostos que geralmente são oxidados são os sulfitos (SO32-),

sulfato (S2O32-) e diversos politionatos como o tetrationato (S4O6

2-). Algumas

bactérias metabolizam sulfetos solúveis quando a concentração de H2S livre

estiver numa concentração inferior a 200 ppm. Essas bactérias estão associadas

aos microrganismos que convertem sulfatos (SO42-) para sulfetos (S2-) e sulfetos

para enxofre (S) (GENTIL, 2007).

As principais espécies envolvidas no processo de oxidação do enxofre

são Thiobacillus ferrooxidans, Thiobacillus thioparus, Thiobacillus thiooxidans, e

Thiobacillus concretivorus. São bactérias aeróbias (necessitam de oxigênio para

realizar suas atividades metabólicas) e autotróficas, ou seja, a energia

proveniente para sintetizarem o material celular é obtida de compostos

inorgânicos, através das seguintes reações;

2 S + 3 O2 + 2 H2O 2 H2SO4

No caso de utilizar o gás sulfídrico ou ácido sulfídrico, tem-se:

2 H2S + 2 O2 H2S2O3 + H2O

5 H2S2O3 + 4 O2 + H2O 6 H2SO4 + 4 S

As bactérias Thiobacillus ferrooxidans são os principais microrganismos

responsáveis pela corrosão das máquinas de bombeamento de água em minas

de carvão e ouro, pois são capazes de acelerar a oxidação dos depósitos piríticos

(FeSx), para ácido sulfúrico. As reações liberam na água, compostos ácidos, que

são extremamente corrosivos para esse tipo de máquinas. As reações são

exemplificadas a seguir:

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-Oxidação da Pirita

4 FeS2 + 14 O2 + 4 H2O 4 FeSO4 + 4 H2 SO4

- Oxidação do sulfato ferroso

4 FeSO4 + 8 H2 SO4 + 4 O2 4 Fe(SO4)3 + 8 H2O

- Hidrólise do sulfato férrico

2 Fe(SO4)3 + 6 H2O 2 Fe(OH)3 + 6 H2SO4

3.2 – Corrosão Por Aeração Diferencial

Microrganismos como algas, fungos e bactérias, formam tubérculos que

ficam aderidos à superfície dos metais e, são os principais responsáveis pela

biocorrosão por aeração diferencial. Esse tipo de corrosão pode ser observado

em sistemas de resfriamentos e trocadores de calor. As algas quando são

arrastadas para as tubulações desses trocadores, mesmo que não cresçam por

ausência de luz, podem se depositar formando fouling. Sob essa camada,

observa-se a corrosão por aeração diferencial e o crescimento de bactérias

anaeróbias e redutoras de sulfato, que também induz a corrosão nessa região.

3.2.1 - Bactérias oxidantes de ferro

As bactérias são aeróbias e aceleram a oxidação do íon Fe2+ dissolvidos

na água para Fe3+, formando o produto final Fe(OH)3 , insolúvel. Em um sistema

aquoso contendo em solução o bicarbonato de ferro (III), tem-se a seguinte

reação acelerada por bactérias:

2 Fe(HCO3)2 + ½ O2 Fe2O3 + 2H2O + 4CO2

O óxido ou hidróxido de ferro que é insolúvel pode aderir à parede da

tubulação, sob a forma de tubérculo. As tubulações são predominantemente de

Fe2+, e o principal problema relacionado aos tubérculos é a condição de

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anaerobiose, que ocorre em seu interior, favorecendo o crescimento de bactérias

redutoras de sulfato.

3.3 – Corrosão por Ação conjunta de Bactérias

Há casos de corrosão em que pode ocorrer ação simultânea de diferentes

bactérias. Como exemplo pode-se ter:

Redução de sulfato e a formação de ácido - por bactérias redutoras de

sulfato;

Redução de sulfato e oxidação de sulfeto - realizado por bactérias

redutoras de sulfato e bactérias que oxidam o sulfeto em enxofre

elementar, o qual é extremamente corrosivo;

Oxidação de enxofre elementar (de origem química ou biológica) provocada

simultaneamente por Thiobacilli e Ferrobacilli, produzindo mais ácido e,

evidentemente, uma corrosão mais rápida;

Bactérias redutoras de sulfato e bactérias de ferro – No centro dos

tubérculos, ocasionados pelas bactérias de ferro, há o crescimento de

bactérias anaeróbias redutoras de sulfato, ocasionando, então, a corrosão

localizada na parte inferior dos tubérculos, formando pites (GENTIL, 2007).

4- Microrganismos relacionados à Corrosão

No cenário industrial, observa-se que poucas indústrias estão livres do

processo de biocorrosão, e dentre todos os microrganismos que se relacionam,

em menor ou maior grau, serão apresentados principalmente os que são

encontrados com maior frequência.

A indústria petrolífera é o setor mais acometido por ação da biocorrosão.

As suas atividades de extração, armazenamento, processamento e distribuição

dos derivados do petróleo, apresentam graves problemas relacionados à corrosão

microbiológica. A crescente expansão da exploração de petróleo e os graves

problemas de biocorrosão observados motivaram o desenvolvimento de novas

pesquisas na área. A figura 3 mostra os principais problemas em uma plataforma

de petróleo, tendo os microrganismos como causa principal.

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Figura 3: Diferentes partes de uma plataforma de petróleo off-shore são afetadas por

biocorrosão e Biofouling. [Segundo Sanders e Hamilton, (SANDERS, et al, 1986)].

Segundo Videla (2003), além da indústria do petróleo, também

apresentam problemas de biocorrosão os gasodutos de transporte de gás natural

(WORTHINGAHM, et al, 1986), de distribuição e armazenamento de água potável

(TUOVINEN; MAIR, 1986), as usinas geradoras termoelétricas (BRANKEVICH, et

al, 1986), as hidroelétricas (PINTADO; MONTEIRO, 1986), as nucleares (LICINA,

1988), a indústria química e de processos (CHARACKLIS, et al, 1986), a indústria

de papel (HOLT, 1988), as refinarias de álcool (SILVA, et al, 1986), a siderúrgica

(ROSSMORE, 1993) entre outras. Na tabela (VIDELA, 2003) a seguir, estão

resumidas as atividades industriais afetadas com maior frequência pela

biocorrosão e pelo Biofouling.

Indústria petrolífera: Extração (em terra e off-shore)

Processamento (destilaria) Distribuição e transporte Armazenamento (terra, mar e ar)

Indústria de celulose e papel Usinas de geração de energia Térmicas

Hidroelétricas Nucleares

Instalações de água potável Produção e Distribuição Sistemas de osmose reversa Indústria naval e portuária Indústria aeronáutica Transporte de gás natural e engarrafamento (biogás) Distribuição de energia elétrica Sistemas de resfriamento industrial Indústria química e de processos Indústria de óleos e lubrificantes (fluidos de corte) Indústria metalúrgica Refinarias de álcool Tabela 1: Industrias frequentemente afetadas por biocorrosão e Biofouling

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4.1 – Bactérias

As principais bactérias causadoras da corrosão são bactérias presentes

no ciclo natural do enxofre. Entre essas bactérias podem-se citar as do gênero

Thiobacillus, e dentre as bactérias ferro-oxidantes, pode-se citar os gêneros

Gallionella e Siderophacus, ambos pertencentes à família Caulobacteriaceae.

4.1.1 – Bactérias Oxidantes do Enxofre

Entre essas bactérias, destacamos o gênero Thiobacillus, os quais são

microrganismos aeróbicos que utilizam o dióxido de carbono como principal fonte

de carbono. Tratam-se de bacilos curtos, com cerca de 0.5 µm de diâmetro e de

1.0 a 3.0 µm de comprimento. Possuem motilidade própria, por meio de um único

flagelo polar, têm sua temperatura ótima de crescimento entre 10oC e 37oC,

entretanto há algumas variedades termófilas que crescem em temperaturas

superiores a 55oC. Elas se desenvolvem em águas de mar ou de rio, de acordo

com as características halofílicas das espécies (VIDELA, 2003).

As bactérias podem ser estritamente autotróficas, com capacidade de

crescer na presença de compostos de enxofre reduzidos tais como o sulfeto e o

tiossulfato. Entretanto, podem crescer também na presença de enxofre elementar

e oxiânions de enxofre (YUEN & HUNKAPILLER, 1986; BRAMLETT, et al, 1975).

O Thiobacillus thioxidans é capaz de oxidar 31g de enxofre por grama de

carbono, causando uma elevada acidez do meio (aproximadamente pH 0.5)

devido à produção metabólica de ácido sulfúrico. Essa elevada acidez confere

grande agressividade ao ambiente, não somente a superfícies metálicas, mas

também em estruturas de concreto (PARKER, et al, 1953).

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Figura 4: Modelo de corrosão de dutos de concreto pelo acido sulfúrico.

Como exemplo de corrosão provocada por essas bactérias, tem-se a

destruição da parte superior interna de tubos de concreto ou de aço-carbono, que

são utilizados para condução de águas de esgoto ou de águas poluídas, devido

ao desprendimento de gás sulfídrico dessas águas. Esse gás é oxidado, pelas

bactérias, para ácido sulfúrico, que ocasiona, então, a corrosão do aço ou do

concreto. A falta de ventilação permite o acumulo de gás sulfídrico dentro dos

dutos, agravando ainda mais o processo de deterioração do concreto.

Figura 5: Parte superior de tubo de concreto, corroído pelo gás sulfídrico dos esgotos. O

gesso formado cristaliza, com a cor branca, na superfície do tubo de concreto. Aparece

ainda o resíduo da impermeabilização corroída (STEVEN, 2003).

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4.1.2 – Biocorrosão anaeróbica do Ferro e do Aço. Bactérias Redutoras de

Sulfatos (BRS).

Segundo Videla (2003), o ciclo do enxofre também é composto por

microrganismos capazes de reduzir o íon sulfato por duas vias metabólicas

diferentes:

O sulfato é utilizado como fonte de enxofre, sendo reduzido a

sulfetos orgânicos por meio da redução assimiladora de sulfatos;

O sulfato atua como receptor terminal de elétrons na

respiração anaeróbia, segundo a redução desassimiladora de sulfatos.

Morfologicamente, essas bactérias se apresentam na forma de bacilos,

são Gram-negativas e possuem um diâmetro que varia de 0,5 a 1,0 µm e com

comprimento de 3,0 a 5,0 µm. A maioria das espécies apresenta mobilidade,

sendo a locomoção mediada por flagelos polares ou peritríquios (CHARRET,

2010). São microrganismos anaeróbicos restritos, possuem uma faixa ótima de

temperatura entre 25oC e 44oC, e pH entre 5,5 e 9,0. Entretanto, há espécies

como as do gênero Desulfotomaculum, que são termófilos e crescem em

temperaturas superiores a 55°C, sendo frequentemente encontradas em águas de

injeção na indústria extrativa de petróleo (VIDELA, 2003).

A biocorrosão encontrada na indústria do petróleo provenientes da ação

das BRS é um tipo gravíssimo, pois possui efeito corrosivo nos sistemas de ferro,

como taques de armazenamento ou nas tubulações de transporte. Essa corrosão

é conhecida como do tipo localizada e predominada por pites. Ela é capaz de

perfurar as paredes das tubulações ou dos tanques de armazenamento, em um

curto período de tempo. O processo causa enormes prejuízos, pois acidifica o

petróleo dos reservatórios (BAKARAN; NEMATI, 2004).

A velocidade da reação da corrosão é lenta e pouco frequente. Entretanto

pode ocorrer porque a atividade metabólica e corrosiva das BRS pode aumentar

drasticamente, nos consórcios microbianos, que se estabelecem nas camadas de

biofilmes (figura 6) formados na interfase metal solução (HAMILTON, 1985).

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Nesses biofilmes formam-se zonas anaeróbicas, ainda que em meios oxigenados

(COSTERTON; GEESEY, 1986), fornecendo às BRS condições favoráveis para o

seu crescimento. Como resultado da presença do biofilme, surge sobre a

superfície metálica uma grande quantidade de sítios com diferenças físico-

químicas em relação às zonas adjacentes, facilitando, portanto o processo de

corrosão do tipo localizada (VIDELA, 2003).

Figura 6: Consórcios microbianos no interior de um biofilme. (COSTERTON;

GEESEY 1986)

Recentemente, os produtos de corrosão típicos da ação desta bactéria,

como sulfeto de ferro (FeS), foram confirmados como aceleradores da formação

de célula galvânica em relação ao aço, sendo a taxa de corrosão, diretamente

proporcional à massa depositada sobre o metal (WORTHINGHAM, et al, 1986).

A corrosão ocorre na parte inferior dos tubérculos (camada de produto de

corrosão), onde é possível encontrar pites profundos, em função do ataque ao

metal pelo sulfeto, produzido pelo metabolismo das BRS (GENTIL, 2007). A figura

7 mostra o mecanismo de interação das bactérias produtoras de ácido com as

BRS, na degradação da superfície do material e, posterior formação de pite

(CHARRET, 2010).

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Figura 7: Interação entre as bactérias produtoras de ácidos e as BRS na biocorrosão

(CHARRET, 2010).

4.1.3 – Bactérias oxidantes do Ferro

.As bactérias oxidantes de ferro possuem uma grande diversidade.

Entretanto, apresentam em comum à capacidade de oxidar o ferro ferroso a

férrico. Além da corrosão, esses microrganismos são capazes de produzir flóculos

e depósitos de fouling de natureza inorgânico ou biológico. Nos sistemas de

águas industriais são capazes de promover entupimento como também, nas

tubulações da indústria de extração de petróleo (DAVIS, 1967).

Dentre as principais bactérias oxidantes do ferro, podemos citar os

gêneros Gallionellae e Siderophacus, ambos pertencentes à família

Caulobacteriacea. Além das bactérias, há uma grande variedade de outros

microrganismos procariotos que são contaminantes das águas industriais,

gerando depósitos de Biofouling, nas instalações e tubulações (VIDELA, 2003).

Segundo Gentil (2007), essas bactérias são encontradas com frequência

em águas de poços subterrâneos e desenvolvem-se em uma faixa de temperatura

de 0°C a 40°C e, em pH de 5,5 a 8,2.

Em geral, essas bactérias criam ambientes fortemente corrosivos para o

ferro e suas ligas, pelo aumento da concentração de íons cloreto, da formação de

cloreto de ferro ácido e da produção de cloreto de manganês (VIDELA, 1996). O

ataque dessas bactérias ocorre predominantemente por pites, e um dos exemplos

mais frequentes desse caso de biocorrosão, pode ser observado em tubulações

de ferro usadas para transportar água potável, onde tubérculos formados nas

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paredes internas da tubulação são constituídos principalmente por hidróxido de

ferro associado a outros compostos de cálcio, ferro e manganês (VIDELA, 2003).

Na figura 8 pode-se observar a formação de tubérculos em uma tubulação de

transporte de água.

Figura 8: Tubulção de ferro, com tubérculos de óxido de ferro (GENTIL, 2007).

Quando esses tubérculos estão associados às BRS, a corrosão é mais

agressiva, devido aos sulfetos e outros compostos derivados do seu metabolismo.

A figura 9 mostra a formação desses tubérculos.

Figura 9: Processos Químicos de formação de tubérculos (PERRAMON, et al, 1972).

Segundo Gentil (2007), esses tubérculos possuem como composto

predominante o Fe++, mas podendo haver compostos de cálcio, manganês e

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alumínio. Com o tempo, o tubérculo apresenta uma camada externa dura e uma

camada interna fluida. Esses tubérculos acumulam cloreto e sulfato, devido à

migração desses íons, da fase aquosa, para compensar as cargas positivas

resultantes da corrosão do ferro.

Deve-se ressaltar que os tubérculos são originados em um sistema

aquoso com alto teor de Fe2+, que foi oxidado por bactérias de ferro e não são

provenientes da corrosão da tubulação. Eles podem gerar problemas como:

Entupimento da tubulação

Interferência na troca de calor

Fornecendo condições de anaerobiose, embaixo do

tubérculo, que favorece o crescimento de bactérias redutoras de

sulfato, resultando na corrosão da tubulação.

4.2 – Fungos Filamentosos

Os fungos são microrganismos eucarióticos, heterótrofos, possuem

parede celular espessa e crescem em ambientes que não são tolerados por

bactérias, ou seja, com baixa umidade e condição de pH ácido. Possuem uma

estrutura ramificada que é o micélio, formada por hifas, que são estruturas

tubulares com múltiplos núcleos e um citoplasma contínuo.

Entre os principais fungos relacionados à biocorrosão, pode-se menciona

o Hormoconisresinae, que é o principal responsável pela corrosão dos tanques de

combustíveis do tipo JP, amplamente utilizados na aviação. Esses

microrganismos crescem com quantidades mínimas de água, que geralmente são

provenientes do transporte do combustível ou dos processos de filtração.

A presença de água é fundamental, pois em combustível anidro o

microrganismo não consegue obter os nutrientes necessários para o seu

metabolismo. Os fungos crescem na interfase água/combustível e, possui um

efeito corrosivo sobre as ligas de alumínio, devido à produção de ácido orgânico,

proveniente do seu metabolismo.

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Os sedimentos provenientes da interfase água/combustível podem ser

considerados como uma fase separada, pois suas características são bem

diferentes das que prevalecem no sistema com combustível ou da fase aquosa

(WATKINSON, 1984).

Segundo Videla (1988), o nitrogênio e o fósforo são os nutrientes

limitantes no crescimento dos fungos. A limitação desses compostos, apesar de

dificultar o crescimento microbiano, acelera a produção de ácidos orgânicos

extracelulares, que como consequência aumenta o processo de corrosão

localizada (RIVERS, 1973).

A biocorrosão em sistemas água/combustível ocorre por vários

mecanismos simultâneos, que somam seus efeitos. Esse sistema pode ser

dividido em cinco mecanismos distintos:

Pelo metabolismo dos organismos há a produção de ácidos

graxos, o qual promove um aumento do pH do meio e a corrosão do

tipo localizada (VIDELA, et al, 1988; VIDELA, 1994; REINHART, 1967);

A corrosão por pites pode ser explicada pelo aumento das

características oxidantes do meio (VIDELA & CHARACKLIS, 1992;

COTTON & DOWNING 1957).

A diminuição da estabilidade dos filmes protetores pela

produção de metabólitos tensoativos (VIDELA, et al, 1988; VIDELA&

CHARACKLIS, 1992; COTTON & DOWNING, 1957).

O ataque localizado ao metal-base, aumenta com a formação

de biofilme, pois gera uma zona de aeração diferencial que favorece o

crescimento de microrganismos, que são capazes de acidificar o meio

(VIDELA & CHARACKLIS, 1992; DEXTER, et al, 1986).

Consumo microbiano de inibidores de corrosão (nitratos e

fosfatos) (VIDELA, et al,1988; VIDELA & CHARACKLIS, 1992; MOLICA,

1992; DEXTER, 1995). O consumo desses inibidores, além de fornecer

nutrientes para os microrganismos, também diminui o nível de proteção

do metal.

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Os diferentes efeitos desses microrganismos nas estruturas metálicas

podem ser observados nas seguintes figuras;

Figura 10: (VIDELA, et al, 1988) Microrganismos em um sistema água/combustível. A etapa

inicial indica a disponibilidade de nutrientes, que são provenientes dos hidrocarbonetos

(compostos dos Combustíveis).

Figura 11: Biofilmes e produtos de corrosão na interfase metal/solução (VIDELA, et al,

1988).

A figura 12 esquematiza o princípio do mecanismo da corrosão na

interfase metal/solução em um sistema água/combustível. Esse mecanismo de

corrosão se dá pelo consumo de nitratos presentes na fase aquosa. O consumo

dos nitratos por microrganismos expõe a superfície do metal, que em

consequência, fica desprotegido da ação dos cloretos, que favorece a corrosão

localizada do metal.

Como resultado do processo de aderência microbiana, há a formação de

biofilmes e depósitos de limo biológico, que criam condições de aeração

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diferencial e de acidificação localizada próximo ao micélio do fungo. Em alguns

pontos da superfície, o balanço favorável à concentração de cloretos em relação à

de nitratos, os baixos valores de pH e o alto potencial redox, criam condições

propícias para a progressão do ataque por pites (Figura 13)

Figura 12: Inicio da ruptura da passividade do alumínio em um sistema água/combustível

(VIDELA, et al, 1988).

Figura 13: Progressão do processo por pites do alumínio em um sistema água/combustível

(VIDELA, et al, 1988).

4.3 – Algas

Segundo Videla (2003), as algas são microrganismos eucarióticos.

Entretanto as algas azul-verdes são procarióticos. As algas apresentam

membrana nuclear, clorofila e diferentes pigmentos. São organismos autotróficos

e fotossintéticos que sintetizam a matéria orgânica a partir de dióxido de carbono

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e água, utilizando a luz solar como fonte de energia. Sua reprodução pode ser

sexuada ou assexuada.

As algas, como os grupos microbianos citados, produzem ácidos

orgânicos com capacidade corrosiva. Como também, sintetizam e excretam

compostos orgânicos que são utilizados como nutrientes por outro grupo de

microrganismos, favorecendo o seu crescimento nos biofilmes.

As algas estão mais relacionadas à formação de Biofouling do que a

reação de biocorrosão, sendo a causa da bioacumulação em sistemas de

trocadores de calor. Elas são com frequência encontrada como contaminantes de

sistemas de abastecimento de água potável, ocasionando odores e sabores

desagradáveis a água e diminuindo a eficiência e vida útil dos filtros (VIDELA,

2003).

Entre os gêneros mais frequentemente associados ao Biofouling de

instalações marinhas ou industriais, estão o Navicula (Diatomácea), o Oscilltoria

(algas azul-verde), o Chlorella e o Ulothrix (clorofitas). Entretanto, Sodré (1996)

cita as espécies Nostoc parmeloides e Anabaena sphaerica, como causadoras da

corrosão de aço carbono e de aço inoxidável (CHARRET, 2010).

A deposição desses microrganismos sobre superfícies promove o

surgimento de regiões com gradientes de concentração de oxigênio,

possibilitando o desenvolvimento das bactérias BRS e como consequência a

biocorrosão (CHARRET, 2010).

5 - Biocorrosão em Metais Resistentes à Corrosão

O titânio oferece uma notável resistência á corrosão. Atualmente, é o

único metal para o qual não foram relatados casos de biocorrosão (VIDELA,

1994). Esse comportamento passivo do titânio deve-se à presença de um filme

protetor de óxido sobre a superfície, altamente aderente e estável, que se forma

espontaneamente quando o titânio é exposto ao ar e umidade. A presença de

sulfetos na água do mar não altera o estado passivo do titânio. Até o momento

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não foi detectado corrosão em amostras expostas ao ambiente marinho durante

vários anos, mesmo em profundidades da ordem de 1.600 m (REINHART, 1967).

Segundo Videla (2003), o titânio não possui efeitos tóxicos sobre os

organismos marinhos, o que faz dele um dos metais que mais acaba recoberto

por depósitos de Biofouling (VIDELA; CHARACKLIS, 1992). Após varias horas de

exposição do metal à água do mar, observou-se uma cobertura total da superfície

de titânio por Biofouling marinho (COTTON; DOWNING, 1957), sem que afetasse

o filme protetor de óxido e, sem corrosão por frestas (crevice) ou por pites. Por

esses motivos, o titânio é um dos metais utilizados em trocadores de calor

alimentados com água do mar.

O aço inoxidável pode ser considerado outro metal resistente a

biocorrosão, porém assim como o titânio, é susceptível a formação de biofilme. A

deposição de biofilme sobre a superfície do aço inoxidável é explicada, pois o aço

possui uma superfície homogênea coberta de óxido e livre de produtos de

corrosão, o que permite mais facilmente a aderência microbiana ao metal. Após

algumas semanas de exposição do aço ao ambiente marinho, sua superfície se

encontra recoberta por um Biofouling complexo, constituído principalmente por

bactérias, material particulado e microrganismo de dimensões maiores como

algas, diatomáceas e protozoários.

Figura 14: Protozoário Zoothamnium sp. Fixado sobre aço inoxidável logo após a exposição

da superfície à água do mar natural (VIDELA, 2003). Escala: 10µm

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Apesar do aço inoxidável ser resistente a corrosão, a atividade metabólica

dos microrganismos no interior dos depósitos de Biofouling pode influenciar as

reações eletroquímicas do processo de corrosão. O Biofouling favorece a

formação de ânodos e cátodos localizados e, consequentemente, a corrosão por

meio de aeração diferencial (VIDELA, 2003).

Os mecanismos de biocorrosão do aço inoxidável em água do mar são:

Formação de células de aeração diferencial, devido à

distribuição não uniforme do biofilme (VIDELA; CHARACKLIS,

1992).

Favorecimento da corrosão por frestas (crevice), devido

ao consumo de oxigênio em algumas áreas (DEXTER, et al, 1986).

Figura 15: Início da formação de icrofouling sobre uma superfície de aço inoxidável exposta

à água do mar natural durante 5 dias (VIDELA, 2003). Escala: 10µm

Figura 16: Microfouling sobre uma superfície de aço inoxidável exposta à água do mar

natural durante 15 dias (VIDELA, 2003). Escala: 10µm

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6 - Biodeterioração de materiais não metálicos

Todos os materiais, em contato com o meio ambiente, sofrem

transformações. Estas transformações podem causar uma diminuição na

capacidade das funções a eles destinadas em uma construção particular e afetar

o desempenho da construção como um todo. Neste sentido, a durabilidade de um

material é a capacidade que ele tem de resistir a um processo de deterioração,

preservando a capacidade de desempenhar as funções a eles atribuídas (MELO;

AZEVEDO, 2008).

A simples colonização de superfícies por microrganismos causa,

frequentemente, grandes prejuízos à capacidade de desempenho dos edifícios,

pois a presença de microrganismos e seus biofilmes alteram propriedades como

cor, refletância, e capacidade de transporte de massa das superfície.

A alteração da cor das superfícies pelos biofilmes tem também impactos

importantes no desempenho das construções. O escurecimento das fachadas e

dos telhados afeta a eficiência energética desses edifícios, pois superfícies

escuras absorvem mais radiação, aumentando as cargas térmicas e

consequentemente a temperatura interna (MELO; AZEVEDO, 2008).

Estes processos de biodeterioração que alteram fundamentalmente

apenas a superfície do material apresentam importante impacto ambiental, pois

os biocidas, produtos tóxicos que a indústria de tintas acrescenta à formulação

para o controle da biodeterioração de superfícies pintadas, são lixiviados para o

meio ambiente (TOGERO, 2005).

6.1 - Biodeterioração de fachadas pintadas

A colonização de pintura externa de base aquosa por bactérias, fungos

filamentosos e algas é um processo bastante frequente, em diversas regiões do

planeta, sendo a ação dos microrganismos o motivo da adição de biocidas em

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tintas. Os fungos são considerados os agentes mais deteriogênicos (BRAVERY,

1988; GRANT, 1986).

Nas paredes das fachadas, a colonização por microrganismos depende

da frequência com que a superfície permanece molhada, já que no meio urbano

os poluentes podem servir como fonte de nutriente. As regiões mais altas das

fachadas apresentam maior rapidez na colonização por fungos, indicando que a

chuva contribui para o teor de água necessário à sua colonização (SATO, et al,

2002).

O efeito dos microrganismos na pintura promove a deterioração por varias

vias. Primeiro pela ruptura mecânica, que não envolve necessariamente a

utilização de componentes do filme de tinta. Em segundo lugar, a produção de

metabólito microbiano, principalmente ácidos orgânicos complexos que podem

solubilizar o material. Por fim a atividade enzimática pode favorecer a

deterioração. As tintas a base de água são particularmente susceptíveis ao

ataque por fungos devido aos éteres de celulose, usados como agente de

espessamento (GILLATT; TRACEY 1987).

A identificação dos fungos como biomassa das pinturas, tem uma

importante implicação para as indústrias de tintas. Os fungicidas são importantes

componentes das formulações de tintas, entretanto, a duração dos antifúngicos

modernos é menor que a vida útil da película da pintura (GAYLARDE, et al, 2003).

Este é um grande desafio para a cadeia industrial de tintas imobiliárias, a

formulação de novos fungicidas para tintas, com fácil decomposição,

considerando que são liberados no ambiente (GAYLARDE, 2005).

6.2 – Biodeterioraçãodo de Concreto

Dos materiais não metálicos susceptível à ação dos microrganismos, o

mais conhecido é a ação do Thiobacillus, as estruturas de concreto. Os danos em

tubulações de concreto, para coleta de esgoto, custam aos municípios milhões de

dólares em todo o mundo (ROBERTS, et al, 2002).

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Na realidade, a biodeterioração do concreto compreende a combinação

de processos químicos e microbiológicos. Dentro das tubulações, a atmosfera é

abundante em dióxido de carbono e sulfeto de hidrogênio.

Nesse sistema, a fonte de enxofre é produzida apartir do metabolismo das

bactérias redutoras de sulfato. A redução do sulfato ocorre com a utilização da

matéria orgânica presente no esgoto e, como consequência, a produção de gás

sulfídrico O H2S pode sofrer auto-oxidação a enxofre elementar, ambos os

compostos podem ser oxidados por bactérias do gênero Thiobacillus com

produção de ácido sulfúrico, que desloca o pH a valores extremos da ordem de 1,

provocando a desintegração do concreto.

7–Prevenção e Controle

A principal prevenção para controlar a biocorrosão é manter o sistema

limpo. Entretanto, esse princípio básico é pouco aplicado, principalmente por falta

de compreensão dos processos de biocorrosão e do Biofouling, que somente são

detectados após uma forte contaminação ou falhas estruturais decorrentes da

corrosão do material.

Segundo Videla (2003), os métodos mais utilizados para prevenir e

controlar a biocorrosão são: limpeza química ou mecânica do sistema e utilização

de biocidas. Como também, compreender as reações físico-químicas presentes

na interface metal/solução. Com destaque a atividade e o crescimento microbiano

além das reações químicas presentes no fluído. De posse dos dados, é possível

traçar uma estratégia de prevenção e consequentemente um controle mais

efetivo.

O princípio dos métodos de prevenção à biocorrosão possui como

fundamento inibir a atividade dos microrganismos ou modificar drasticamente as

condições do meio. Portanto, evitando a adaptação dos organismos ao material.

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Considerando que a limpeza está embasada na remoção dos depósitos

da superfície metálica de um sistema, podem-se dividir os depósitos em dois tipos

(VIDELA, 2003):

Incrustações (Scaling)

Sedimentos ou Limo (slime).

Segundo Videla (2003), incrustações são depósitos cristalinos, duros,

produzidos pela precipitação do material dissolvido, como carbonato, sulfato e

silicato de cálcio. A formação das incrustações é função de diversas variáveis,

como temperatura, concentração de espécie química incrustante, pH, qualidade

da água e condições hidrodinâmicas

A precipitação do carbonato de cálcio é geralmente controlada por adição

de ácidos, com a finalidade de inibir a sua formação ou modificar sua estrutura

cristalina. Por uma questão econômica, por ser de baixo custo, utiliza-se o ácido

sulfúrico e, em menor proporção, os ácidos clorídrico ou sulfâmico.

Os sedimentos ou limos são depósitos formados por material em

suspensão que se acumula ou adere às superfícies metálicas. São exemplos

lodo, óxidos metálicos, limo bacteriano, óleo, depósitos relacionados com o

tratamento químico e contaminante do processo. Os sedimentos são resultados

de um fenômeno físico e em certos casos sua remoção pode ser necessária por

filtração ou pelo uso de dispersantes, que mantêm as partículas suspensas

(VIDELA, 2003).

Altas velocidades de fluxo auxiliam na remoção desse tipo de sedimento,

entretanto velocidades mais baixas de fluxo ajudam na deposição das

substâncias em suspensão. Baixas velocidades de fluxo são comuns em circuitos

de resfriamento industrial (VIDELA, 2003).

Segundo Gentil (2007), a adição de agentes tensoativos facilita a

remoção de depósitos biológicos, evitando, assim, a possibilidade de corrosão por

aeração diferencial, e o desenvolvimento de bactérias anaeróbicas na parte

inferior dos depósitos. A limpeza mecânica pode ser por raspadores ou jatos de

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água com alta pressão. Após a limpeza é usual a sanitização, empregando-se

normalmente solução alcalina (pH ~ 10), contendo biocida não-oxidante.

Para uma ação mais efetiva, costuma-se utilizar misturas de biocidas e

também adicionar um agente tensoativo e um dispersante para deslocar o limo

bacteriano das superfícies onde eles estão aderidos, facilitando a ação do biocida.

Outros exemplos de biocidas utilizados para o controle bacterianos são o

ozônio e o peróxido de hidrogênio. O ozônio é um gás instável, oxidante forte que

deve se evitar o contato com superfícies plásticas, pois as torna quebradiças.

Para o tratamento de água potável, prefere-se utilizar o ozônio ao invés do cloro,

pois este formaria halometanos, como tetracloreto de carbono que são

cancerígenos. O peróxido requer dosagens elevadas e contato prolongado para

ser efetivo, mas tem a vantagem de não ser poluente.

Além das medidas apresentadas anteriormente, pode-se empregar

proteções diferentes para cada problema especifico (GENTIL, 2007):

Mecanismos de ação das bactérias, através de aeração, que

evita o desenvolvimento de bactérias redutoras de sulfato;

Proteção externa de tubulações enterradas – são recomendáveis

polietileno, poli (cloreto de vinila) PVC, betume, e alcatrão;

Revestimento interno, de tanques de combustíveis de aviões a

jato, com sistema à base de resina furânica;

Emprego de tubulações de esgotos com resinas de poliéster

reforçadas com fibra de vidro.

Emprego de sistemas com ultrassom, em alguns casos, para

evitar a fixação e crescimento do biofilme.

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8 – Conclusão

Devido aos recorrentes problemas encontrados na indústria relacionados

à corrosão microbiana, houve um aumento dos investimentos destinados às

pesquisas de novos métodos de detecção e prevenção desse tipo de

deterioração, pois atualmente a biocorrosão é responsável por cerca de 30% dos

casos de corrosão dos sistemas metálicos. Com esse cenário, é fundamental

entender os mecanismos relacionados, tal como os microrganismos que atuam

nesse tipo de corrosão, pois assim podemos desenvolver novas técnicas para

prevenir e monitorar o avanço da degradação do material. Os mecanismos

envolvidos nesses processos são complexos, e podem envolver dois ou mais

tipos de microrganismos com diferentes vias metabólicas, e em diferentes meios,

que abrange desde tubulações metálicas que são encontradas no subsolo, até

tubulações de concreto. Os microrganismos atuantes nesse processo podem ser

bactérias, fungos ou algas, portanto cada vez mais os microbiologistas e

engenheiros bioquímicos se fazem necessários no meio industrial.

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