BTEX e HPA No Ar Atmosférico

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

    INSTITUTO DE CINCIAS EXATAS

    DEPARTAMENTO DE QUMICA

    Helvcio Costa Menezes

    Belo Horizonte

    2011

    Anlise Ambiental de Benzeno e Hidrocarbonetos Aromticos Policclicos

    por Microextrao em Fase Slida e Cromatografia Gasosa Acoplada

    Espectrometria de Massas

  • UFMG/ICEx/DQ.868

    T. 369

    HELVCIO COSTA MENEZES

    Anlise Ambiental de Benzeno e Hidrocarbonetos Aromticos

    Policclicos por Microextrao em Fase Slida e Cromatografia

    Gasosa Acoplada Espectrometria de Massas

    Tese apresentada ao Departamento de

    Qumica do Instituto de Cincias Exatas da

    Universidade Federal de Minas Gerais, como

    requisito parcial obteno do grau de

    Doutor em Cincias Qumica.

    UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

    BELO HORIZONTE

    2011

  • i

    Menezes, Helvcio Costa.

    Anlise ambiental de benzeno e hidrocarbonetos

    aromticos policlicos por microextrao em fase

    slida e cromatografia gasosa acoplada

    espectrometria de massas / Helvcio Costa Menezes.

    2011.

    xviii, 156 f. : il.

    Orientadora: Zenilda de Lourdes Cardeal.

    Tese (doutorado) Universidade Federal de Minas

    Gerais. Departamento de Qumica.

    Bibliografia: f. 124-148.

    1.Qumica Analtica - Teses 2. Hidrocarbonetos

    policclicos aromticos Teses 3. Extrao (Qumica)

    Teses 4. Espectrometria de massa Teses 5. Anlise

    ambiental Teses I. Cardeal, Zenilda de Lourdes,

    Orientadora II. Ttulo.

    CDU 043

  • ii

  • iii

    A conscincia um singular para o qual no existe plural.

    Erwin Schrdinger

    Ao meu pai Jao (in memorian)

    Aos meus avs Vicente e Regina (in memorian)

  • iv

    Agradecimentos

    Ao Deus de nossos coraes pela Luz, Vida, e Amor.

    professora Zenilda Cardeal pela orientao, estmulo, e amizade.

    Ao professor Rodinei Augusti pela cooperao e disponibilidade na soluo de

    problemas.

    minha me Lourdes e irm Eliana pelo amor e carinho indispensveis para

    prosseguir.

    Angelita pela compreenso e apoio incondicional.

    Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Divinpolis pela cooperao, e em

    especial ao Nivaldo pela colaborao com as amostras.

    Leiliane pelo incentivo e colaborao.

    Ao Vagner pela disponibilidade e cooperao junto ao CETEC.

    Ao Hlio Anderson e Irene Yoshida pelo incentivo.

    Aos amigos Denise, Eugnio, Ivan, Olmpio, e Rodrigo Rgis.

    Aos companheiros dos Laboratrios 171 e 167, Amauri, Breno, Cludia, Isabela,

    Jaqueline, Jlio, Jnia, Karla, Marcos, Maria Jos, Miriany, Natlia, Renata, Valria,

    e Vanessa. Obrigado pela convivncia e amizade.

    Aos alunos da FUNEDI/UEMG Luciano, Roberta, Rosimeire, e Suzana pela

    colaborao nos trabalhos de campo.

    A todos os fratres e sorores.

    s agncias de fomento CNPq e FAPEMIG pelo apoio financeiro.

  • v

    RESUMO

    Neste trabalho foram desenvolvidos e validados mtodos para quantificao de

    benzeno no ar ambiente e no ar expirado, hidrocarbonetos aromticos policclicos

    em material particulado atmosfrico, e naftaleno em ar ambiente. Foi utilizada a

    tcnica de microextrao em fase slida para amostragem e pr-concentrao, e um

    sistema de gerao de padro gasoso com tubos de permeao para construo

    das curvas de calibrao para benzeno e naftaleno. As anlises foram efetuadas por

    cromatografia gasosa com detector de espectrometria de massas. Para a extrao

    dos hidrocarbonetos aromticos policclicos do material particulado atmosfrico por

    microextrao em fase slida com fibra resfriada foi desenvolvido um novo

    dispositivo de resfriamento. Aps a validao as metodologias desenvolvidas foram

    aplicadas para anlises em amostras reais de ar ambiente em parques, avenidas,

    escritrios, laboratrios e postos de revenda de combustveis na cidade de Belo

    Horizonte-MG. Simultaneamente foram realizadas as anlises de benzeno no ar

    expirado dos indivduos expostos ocupacionalmente. As anlises dos

    hidrocarbonetos aromticos policclicos foram efetuadas em material particulado

    coletado na cidade de Divinpolis-MG durante um perodo de seis meses. Os

    mtodos desenvolvidos mostraram-se adequados para todas as determinaes

    ambientais: benzeno no ambiente e no ar expirado, naftaleno no ambiente, e HAP no

    material particulado atmosfrico. O mtodo para determinao dos HAP alm de

    rpido e sensvel dispensa o uso de solventes txicos. Os resultados encontrados

    evidenciaram correlaes significativas entre as concentraes de benzeno no

    ambiente e no ar expirado dos indivduos ocupacionalmente expostos ao benzeno.

    Aplicaes futuras da tcnica de microextrao em fase slida com fibra resfriada

    incluem anlise de alimentos, gua, solo, plantas, e fludos biolgicos.

  • vi

    ABSTRACT

    This work shows the development and validation of methods for quantification of

    benzene in ambient and exhaled air, polycyclic aromatic hydrocarbons in airborne

    particulate matter, and naphthalene in ambient air. Solid phase microextraction was

    used for sampling and preconcentration, and a system for generating standard gas

    with permeation tubes was used to the construction of calibration curves for benzene

    and naphthalene. The samples were analyzed by gas chromatography with mass

    spectrometry detector. A new cooling device was developed to sampling polycyclic

    aromatic hydrocarbons for there extraction from airborne particulate matter by cold

    fiber solid phase microextraction. The validated methodologies were applied to the

    analysis of real samples in ambient air of parks, streets, offices, laboratories and fuel

    stations at the city of Belo Horizonte. In addition, analyses of benzene in exhaled air

    of occupationally exposed individuals were performed simultaneously. The analysis

    of polycyclic aromatic hydrocarbons were made into particulate matter collected at

    the city of Divinpolis over a period of six months. The methods developed in this

    study show to be suitable to environmental analysis for the determination of benzene

    in ambient and exhaled air, naphthalene in the environment, and PAH in airborne

    particulate matter. The results showed significant correlations between the

    concentrations of benzene in ambient and exhaled air of subjects occupationally

    exposed to benzene. The new method proposed for the determination of PAH is

    sensitive, fast and furthermore dispense the use of toxic solvents. The technique of

    cold fiber solid phase microextraction can be applied to other analyses including

    food, water, soil, plants and biological fluids.

  • vii

    LISTA DE FIGURAS

    Pgina

    Figura 2.1 Principais vias de biotransformao do benzeno

    (CYP, citocromo P450; GSH, glutationa; MPO,

    mieloperoxidase; NQO1, NAD(P)H: quinona

    oxiredutase)

    8

    Figura 2.2 Estruturas dos 16 HAP listados pela Agncia de

    Proteo Ambiental Americana

    10

    Figura 2.3 Principais biotransformaes do Benzo[a]pireno 15

    Figura 2.4 Diagrama esquemtico de um impactador de

    cascata

    18

    Figura 2.5 Perfil da excreo pulmonar de um solvente para

    uma expirao simples

    24

    Figura 2.6 Classificao das tcnicas para amostragem e

    anlise de VOC no ar

    25

    Figura 2.7 Componentes do dispositivo manual de SPME 28

    Figura 2.8 Processo de extrao por adsoro com SPME

    utilizando fibras porosas

    31

    Figura 2.9 Representao da extrao por SPME no modo

    headspace (a), e por imerso direta (b)

    32

    Figura 2.10 Representao da extrao por SPME no modo

    headspace com fibra resfriada. Adaptado

    33

    Figura 2.11 Representao do dispositivo de SPME com

    adaptao para amostragem do ar expirado

    34

    Figura 2.12 Representao esquemtica de um tubo de

    permeao com duas fases

    39

    Figura 2.13 Representao de amostras em um sistema de

    coordenadas com duas variveis e mudana para

    um novo sistema de variveis com Componentes

    Principais (PC1 e PC2)

    43

  • viii

    Figura 2.14 Representao do mtodo HCA para a construo

    de um dendograma

    45

    Figura 3.1 Fluxograma do sistema de gerao de vapores pelo

    mtodo de permeao

    56

    Figura 3.2 Mapa com a localizao dos pontos de

    amostragem nos parques (a) e avenidas (b) na

    cidade de Belo Horizonte

    58

    Figura 3.3 Estudo do tempo necessrio para o sistema de

    permeao se estabilizar em diferentes fluxos do

    gs diluente

    61

    Figura 3.4 Cromatograma de massas do padro gasoso de

    benzeno a 64,8 g m-3 por GC/MS, modo positivo,

    em varredura completa (full scan: 50 200 m/z)

    com extrao dos ions m/z 51 e 78.

    62

    Figura 3.5 Varincia das reas em funo da rea media dos

    picos para a curva de calibrao do benzeno no ar

    ambiente

    62

    Figura 3.6 Varincia das reas em funo da rea mdia dos

    picos para a curva de calibrao do benzeno no ar

    expirado

    63

    Figura 3.7 Curva de calibrao para benzeno no ar ambiente

    com amostragem por SPME em cmara de

    permeao e determinao por GC/MS

    63

    Figura 3.8 Curva de calibrao para benzeno no ar expirado

    com amostragem por SPME em cmara de

    permeao e determinao por GC/MS

    65

    Figura 3.9 Distribuio da concentrao (g m-3) de benzeno

    no ar ambiente de (a) Parques, (b) Avenidas, (c)

    Escritrios e Laboratrios, (d,e) Postos de revenda

    de combustveis

    66

    Figura 3.10 Correlao entre Ln da concentrao de benzeno

    no ar expirado e no ar dos escritrios e laboratrios

    70

  • ix

    Figura 3.11 Correlao entre Ln da concentrao de benzeno

    no ar expirado e no ar dos postos de revenda

    70

    Figura 4.1 Representao esquemtica do dispositivo

    construdo para extrao DI-CF-SPME.

    77

    Figura 4.2 Amostradores de grandes volumes para (a)

    partculas totais em suspenso (TSP Total

    Suspended Particles) modelo VFC-TSP, e (b)

    material particulado (PM10 - particulate matter)

    modelo VFC-PM10 da Thermo Scientific Inc.

    79

    Figura 4.3 Representao das superfcies de resposta obtidas

    a partir da funo de Desejabilidade dos modelos

    de regresso dos HAP.

    82

    Figura 4.4 reas obtidas para extrao em filtros de quartzo

    fortificados com os 16 HAP no modo DI-SPME e

    DI-CF-SPME.

    83

    Figura 4.5 Reconstituio dos cromatogramas de massas no

    modo varredura completa (full scan: 50 300 m/z)

    com seleo dos ons, aps extrao e anlise dos

    HAP pelos mtodos (a) DI-CF-SPME-GC/MS e (b)

    DI-SPME-GC/MS nas condies otimizadas. Discos

    de fibra de quartzo fortificados com os HAP.

    84

    Figura 4.6 Representao da viso geral do mtodo DI-CF-

    SPME-GC/MS para determinao de HAP em

    material particulado atmosfrico.

    85

    Figura 5.1 Mapa com a localizao dos pontos de

    amostragem (tringulos) Caic (P1), Ermida (P2),

    Sidil (P3), Sersan (P4), e Porto Velho (P5), e as

    indstrias siderrgicas (crculos de 1 a 8) na cidade

    de Divinpolis

    92

  • x

    Figura 5.2 Concentrao (ng m-3) mdia dos HAP no material

    particulado atmosfrico coletado em Divinpolis nos

    perodos de maio a julho (n = 60) e agosto a

    outubro (n = 65) de 2010.

    96

    Figura 5.3 Distribuio das razes entre as concentraes de

    FLU/(FLU+PY) e IcdP / (IcdP + BPe) nos perodos

    maio a julho (crculos) e agosto a outubro

    (tringulos).

    103

    Figura 6.1 Representao esquemtica do dispositivo para

    extrao do naftaleno com CF-SPME no sistema de

    gerao de padres gasosos.

    111

    Figura 6.2 Cromatograma de massas do padro gasoso de

    naftaleno a 64,8 g m-3 por GC/MS, modo positivo,

    em varredura completa (full scan: 40 350) e

    extrao do ion m/z = 128.

    113

    Figura 6.3 reas obtidas para o naftaleno em trs nveis de

    concentrao (P1 = 14,30; P2 = 78,50; P3 =

    120,90 g m-3) em extrao (n = 3) no sistema de

    gerao de padres gasosos com fibra SPME

    resfriada (CF-SPME) e sem resfriamento (SPME)

    114

    Figura 6.4 Curva de calibrao para naftaleno no ar ambiente

    com amostragem por CF-SPME em cmara de

    permeao e determinao por GC/MS

    115

    Figura 6.5 Distribuio das concentraes (g m-3) de

    naftaleno no ar de ambientes externos (cilindros) e

    internos (colunas)

    117

  • xi

    LISTA DE TABELAS

    Pgina

    Tabela 2.1 Nome comun, abreviao, frmula emprica,

    massa molar, e nmero CAS para os HAP

    11

    Tabela 2.2 Presses de vapor (P), solubilidade em gua a 25

    C (S), Logartimo do coeficiente de partio

    octanol-ar (LogKOA), Logartimo do coeficiente de

    partio octanol-gua (LogKOW), ponto de fuso

    (PF) e ponto de ebulio (PE) dos 16 HAP

    indicadores de poluio

    12

    Tabela 2.3 Carcinogenicidade, segundo a Agncia Internacional

    de Pesquisa para o Cncer, Agncia de Proteo

    Ambiental, e fatores de equivalncia de alguns HAP

    presentes no ar ambiente

    16

    Tabela 2.4 Principais caractersticas das fibras utilizadas em

    SPME

    29

    Tabela 2.5 Publicaes recentes com amostragem por SPME

    de hidrocarbonetos aromticos no ar ambiente e

    no ar expirado

    35

    Tabela 2.6 Nmero de experimentos e eficincia dos

    planejamentos Composto Central, Box-Wilson,

    Box-Behnken, e Doehlert

    42

    Tabela 2.7 Anlise de varincia para o ajuste pelo mtodo

    dos mnimos quadrados ordinrio. n= nmero

    total de observaes, p= nmero de parmetros

    do modelo, m= nmero de nveis distintos da

    varivel independente.

    48

    Tabela 3.1 Localizao dos pontos de amostragem nos parques (a) e avenidas (b) e as respectivas coordenadas geogrficas na cidade de Belo Horizonte.

    59

    Tabela 3.2 Concentrao (g m-3) de benzeno no ar

    ambiente de parques, avenidas, escritrios e

    laboratrios, postos de revenda de combustveis

    66

  • xii

    Tabela 3.3 Anlise de regresso linear para a relao de Ln

    da concentrao de benzeno no ar ambiente de

    escritrios e laboratrios (LnEO), postos de

    revenda de combustveis (LnES) e o Ln de

    benzeno no ar expirado dos trabalhadores de

    escritrios e laboratrios (LnBO) e dos postos de

    revenda (LnBS)

    70

    Tabela 4.1 Matriz experimental da extrao de HAP com os

    valores codificados entre parnteses para o

    planejamento fatorial 23

    80

    Tabela 4.2 Matriz experimental da extrao de HAP com os

    valores codificados entre parnteses para o

    planejamento Doehlert

    81

    Tabela 4.3 Linearidade, limite de deteco (LD) e limite de

    quantificao (LQ) para determinao de HAP

    pelo mtodo DI-CF-SPME-GC/MS

    86

    Tabela 4.4 Quantificao de HAP em poeira urbana SRM

    1649b pelo mtodo DI-CF-SPME-GC/MS.

    87

    Tabela 4.5 Concentrao (ng m-3) mdia (n = 3) de HAP em

    amostras de material particulado atmosfrico

    coletadas na cidade de Divinpolis, MG

    88

    Tabela 5.1 Localizao dos pontos de amostragem (P1, P2,

    P3, P4 e P5) e as indstrias siderrgicas (1 a 8)

    com suas respectivas coordenadas geogrficas

    na cidade de Divinpolis.

    93

    Tabela 5.2 Concentraes mdias dos HAP (ng m-3) e 16

    HAP (ng m-3) em material particulado atmosfrico

    coletado nos pontos Caic (n = 25), Ermida (n =

    25), Sidil (n = 25), Sersan (n = 25), e Porto Velho

    (n = 25)

    95

  • xiii

    Tabela 5.3 Mdias (n = 125) das concentraes dos HAP

    para o perodo de maio a outubro, fatores de

    equivalncia txica (TEF), equivalentes de

    benzo[a]pireno (B[a]Peq), e % B[a]Peq

    97

    Tabela 5.4 Parmetros metereolgicos para a cidade de

    Divinpolis durante os perodos de amostragem

    maio a julho (n = 60) e agosto a outubro (n = 65)

    99

    Tabela 5.5 Matriz de correlao para a soma das

    concentraes dos 16 HAP (16HAP), soma do

    material particulado (MP), e parmetros

    meteorolgicos de maio a outubro

    100

    Tabela 5.6 Razes entre as concentraes de HAP

    selecionados nos perodos de maio a julho, e de

    agosto a outubro

    102

    Tabela 5.7 Componentes principais, pesos dos fatores,

    varincia explicada e estimativa de fontes para os

    HAP nos perodos de maio a julho, e de agosto a

    outubro

    105

    Tabela 5.8 Tipo de combustvel, consumo mdio mensal e

    contribuio para o consumo total das principais

    indstrias instaladas no permetro urbano de

    Divinpolis em 2010

    107

    Tabela 6.1 Coeficientes de variao para repetitividade e

    reprodutibilidade intermediria em trs nveis de

    concentrao de naftaleno no ar ambiente

    116

    Tabela 6.2 Concentrao (g m-3) de naftaleno no ar de

    ambientes externos e internos.

    117

  • xiv

    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    ACGIH Conferncia Americana dos Higienistas Industriais

    Governamentais (American Conference of Governmental

    Industrial Hygienists)

    ANOVA Anlise de Varincia

    ANT Antraceno

    APCI Ionizao Qumica Presso Atmosfrica (Atmospheric

    Pressure Chemical Ionization)

    B[a]Peq Equivalentes de Benzo[a]pireno

    BaA Benzo[a]antraceno

    BPe Benzo[g,h,i]perileno

    CAR Carboxen

    CAS (Chemical Abstracts Service)

    CGxCG Cromatografia Gasosa Bidimensional Abrangente

    (Compreensive Two-dimensional Gas Chromatography)

    CMR Materiais de Referncia Certificados (Certified Materials

    Reference)

    CRY Criseno

    CV Coeficiente de Variao

    CW Polietilenoglicol (Carbowax)

    CX Carboxen

    CYP Citocromo P450

    DI-CF-SPME SPME no Modo Imerso Direta com Fibra Resfriada (Direct

    Imersion - Cold Fiber - Solid Phase Microextraction)

    DNA cido Deoxirribonuclico (Deoxiribonucleic Acid)

    DVB Divinilbenzeno

    EI Impacto eletrnico (Eletronic Impact)

    EPA Agncia de Proteo Ambiental (Environmental Protection

    Agency)

    EPC Equipamentos de Proteo Coletiva

    ET Extrao Trmica

    FEP Fator de Equivalncia do Potencial Carcinognico

  • xv

    Ffaj Razo entre as Mdias Quadrticas da Falta de Ajuste e do

    Erro Puro

    FFD Planejamento Fatorial Completo (Full Fatorial Design)

    FID Detectores de Ionizao por Chama (Flame Ionization

    Detector)

    FLU Fluoranteno

    FR Razo entre as Mdias Quadrticas

    GC Cromatografia Gasosa (Gas Chromatography)

    GC/MS Cromatografia a Gs Acoplada Espectrometria de Massas

    (Gas Chromatography-Mass Spectrometry)

    GSH Glutationa

    H Nmero de Habitantes

    HAP Hidrocarbonetos Aromticos Policclicos

    HAP Hidrocarbonetos Aromticos Policclicos

    HCA Anlise Hierrquica de Agrupamentos (Hierarchy Clusters

    Analysis)

    HPLC Cromatografia Lquida de Alta Eficincia (High-Performance

    Liquid Chromatography)

    IARC Agncia Internacional para Pesquisa em Cncer (International

    Agency for Research on Cancer)

    IcdP Indeno[1,2,3-cd]pireno

    IT Armadilha de ons (Ion Trap)

    Koa Coeficiente de Partio Octanol-ar

    Kow Coeficiente de Partio Octanol-gua

    LD Limite de Deteco

    LD Limite de Deteco

    LER Limite de Exposio Recomendado

    LnBO

    Logartimo Natural da Concentrao de Benzeno no Ar

    Expirado dos Trabalhadores de Escritrios e Laboratrios

    LnBS Logartimo Natural da Concentrao de Benzeno no Ar

    Expirado dos Trabalhadores de Postos de Revenda de

    Combustveis

  • xvi

    LnEO Logartimo Natural da Concentrao de Benzeno no Ar

    Ambiente de Escritrios e Laboratrios

    LnES Logartimo Natural da Concentrao de Benzeno no Ar de

    Postos de Revenda de Combustveis

    Log Logartimo Base 10

    LQ Limite de Quantificao

    LQ Limite de Quantificao

    LT Limite Tcnico

    MESI Extrao por Membrane com Interface Sorvente (Membrane

    Extraction with a Sorbent Interface)

    MIMS Espectrometria de Massas por Introduo via Membrana

    (Membrane Introduction Mass Spectrometry)

    MMQP Metodo dos Mnimos Quadrados Ponderado

    MPO Mieloperoxidase

    MQep Mdia Quadrtica do Erro Puro

    MQfaj Mdia Quadrtica da Falta de Ajuste

    MQR Mdia Quadrtica da Regresso

    MQr Mdia Quadrtica dos Resduos

    MS Espectrometria de Massas (Mass Spectrometry)

    MSR Metodologia de Superfcies de Resposta

    NC Nvel de Confiana

    NIOSH Instituto Nacional de Sade e Segurana Ocupacional

    (Ocupacional National Institute for Occupational Safety and

    Health)

    NIST Instituto Nacional de Pares e Tecnologia (National Institute of

    Standards and Tecnologies)

    NQO1 Quinona Oxiredutase

    P Presses de Vapor

    PA Poliacrilato

    PC Componentes Principais (Principal Components)

    PCA Anlise de Componentes Pricincipais (Principal Components

    Analysis)

    PDMS Polidimetilsiloxana

  • xvii

    PE Ponto de Ebulio

    PF Ponto de Fuso

    PHE Fenantreno

    PM10 Material Particulado com dimetro inferior a 10 m (Particulate

    Matter)

    PP Polipropileno

    ppm Partes por milho

    PTFE Polietrafluoretileno

    PUF Espuma de Poliuretano (Polyurethane Foam)

    PY Pireno

    r Coeficiente de Correlao

    R2 Coeficiente de Determinao

    REL Limite de Exposio Recomendado (Recommended

    Exposition Limits)

    RSD Desvio Padro Relativo (Relative Standard Deviation)

    S Solubilidade em gua

    SPE Extrao em Fase Slida (Solid Phase Extraction)

    SPMD Dispositivo com Membrana Semipermevel (Semipermeable

    Membrane Device SPMD)

    SPME Microextrao em Fase Slida (Solid Phase Microextraction)

    SQep Soma Quadrtica do Erro Puro

    SQfaj Soma Quadrtica da Falta de Ajuste

    SQR Soma Quadrtica da Regresso

    SQr Soma Quadrtica dos Resduos

    SQT Soma Quadrtica Total

    SRM Material de Referncia Padro (Standard Reference Material)

    STEL Limite de Exposio em Curto Prazo (Short Term Exposure

    Limit)

    TEF Fator de Equivalncia Txica (Toxic Equivalent Factor)

    TLV Limite de Exposio Ocupacional (Threshold Limit Value)

    TSP Partculas Totais em Suspenso (Total Suspended Particles)

    UFMG Universidade Federal de Minas Gerais

    USA Estados Unidos da Amrica (United States of America)

  • xviii

    UR Unidade de Risco

    UV Ultra Violeta

    VOC Compostos Orgnicos Volteis (Volatile Organic Compounds)

    VRT Valores de Referncia Tecnolgicos

  • SUMRIO

    Agradecimentos........................................................................................ iv

    Resumo..................................................................................................... v

    Abstract..................................................................................................... vi

    Lista de Figuras........................................................................................ vii

    Lista de Tabelas........................................................................................ xi

    Lista de Abreviaturas e Siglas.................................................................. xiv

    CAPTULO 1: RELEVNCIA E OBJETIVOS.......................................... 1

    CAPTULO 2: ASPECTOS GERAIS........................................................ 5

    2.1- Benzeno: Fontes de Exposio Humana e Toxicologia.................... 6

    2.2- Hidrocarbonetos Aromticos Policclicos: Propriedades e Fontes de Exposio Humana.......................................................................

    9

    2.3- Efeitos Txicos dos Hidrocarbonetos Aromticos Policclicos.......... 14

    2.4- Anlise dos Hidrocarbonetos Aromticos Policclicos no Ar Ambiente ...........................................................................................

    17

    2.5- Anlise de Benzeno no Ar Expirado.................................................. 22

    2.6- Tcnicas para Amostragem de Compostos Volteis no Ar............... 25

    2.7- Amostragem por Microextrao em Fase Slida............................... 28

    2.8- Gerao de Padres Gasosos.......................................................... 36

    2.9- Mtodos Quimiomtricos................................................................... 40

    2.9.1-Planejamento de Experimentos....................................................... 40

    2.9.2- Anlise de Componentes Principais e Anlise Hierrquica de Agrupamentos.................................................................................

    43

    2.10- Validao de Mtodos de Ensaios Qumicos.................................. 45

    CAPTULO 3: DETERMINAO DE BENZENO NO AR AMBIENTE E NO AR EXPIRADO...................................................................................

    53

    3.1-Material e Mtodos............................................................................. 54

    3.1.1- Reagentes...................................................................................... 54

    3.1.2- Equipamentos................................................................................. 54

    3.1.3- Programas Computacionais........................................................... 54

    3.1.4- Sistema Cromatogrfico................................................................. 55

    3.1.5- Sistema de Gerao de Padres Gasosos.................................... 55

    3.1.6- Coleta de Amostras Reais.............................................................. 58

    3.2-Resultados e Discusso..................................................................... 60

    3.2.1-Determinao do Tempo de Equilbrio do Sistema de Gerao de Padres...........................................................................................

    60

  • 3.2.2- Validao da Metodologia.............................................................. 61

    3.2.3- Anlises no Ar Ambiente................................................................ 65

    3.2.4- Anlises no Ar Expirado................................................................. 69

    3.3- Concluso.......................................................................................... 71

    CAPTULO 4: DETERMINAO DE HIDROCARBONETOS AROMTICOS POLICCLICOS EM MATERIAL PARTICULADO ATMOSFRICO.......................................................................................

    73

    4.1- Material e Mtodos............................................................................ 74

    4.1.1- Reagentes...................................................................................... 74

    4.1.2- Equipamentos................................................................................. 74

    4.1.3- Programas Computacionais........................................................... 75

    4.1.4- Sistema Cromatogrfico................................................................. 75

    4.1.5- Planejamentos Experimentais........................................................ 76

    4.1.6- Microextrao em Fase Slida com Fibra Resfriada...................... 77

    4.1.7- Coleta de Amostras........................................................................ 78

    4.2- Resultados e Discusso.................................................................... 80

    4.2.1- Planejamentos e Procedimentos de Otimizao............................ 80

    4.2.2- Validao da Metodologia.............................................................. 85

    4.2.3- Anlises no Material Particulado Atmosfrico................................ 87

    4.3- Concluso.......................................................................................... 89

    CAPTULO 5: MONITORAMENTO DE HIDROCARBONETOS AROMTICOS POLICCLICOS EM MATERIAL PARTICULADO ATMOSFRICO........................................................................................

    90

    5.1- Material e Mtodos............................................................................ 91

    5.1.1- Reagentes...................................................................................... 91

    5.1.2- Equipamentos................................................................................. 91

    5.1.3- Programas Computacionais........................................................... 91

    5.1.4- Sistema Cromatogrfico................................................................. 91

    5.1.5-Coleta de Amostras......................................................................... 91

    5.1.6- Anlises das Amostras................................................................... 94

    5.2- Resultados e Discusso.................................................................... 94

    5.2.1-Variao Sazonal dos HAP............................................................. 94

    5.2.2-Distribuio das Fontes dos HAP.................................................... 101

    5.5- Concluso.......................................................................................... 107

    CAPTULO 6: DETERMINAO DE NAFTALENO NO AR AMBIENTE 109

    6.1- Material e Mtodos............................................................................ 110

    6.1.1- Reagentes...................................................................................... 110

    6.1.2- Equipamentos................................................................................. 110

    6.1.3- Programas Computacionais........................................................... 110

    6.1.4- Sistema Cromatogrfico................................................................. 110

    6.1.5- Sistema de Gerao de Padres Gasosos.................................... 111

  • 6.1.6- Coleta de Amostras........................................................................ 112

    6.2- Resultados e Discusso.................................................................... 113

    6.2.1- Validao da Metodologia.............................................................. 113

    6.2.2- Anlises no Ar Ambiente................................................................ 116

    6.3- Concluso.......................................................................................... 119

    CAPTULO 7: CONSIDERAES FINAIS.............................................. 120

    CAPTULO 8: REFERNCIAS................................................................. 124

    ANEXOS................................................................................................... 149

    Lista de Materiais Certificados.................................................................. 150

    Lista de Trabalhos Apresentados em Eventos......................................... 154

    Lista de Trabalhos Publicados e Submetidos para Publicao................ 156

  • 1

    Captulo 1

    RELEVNCIA E OBJETIVOS

  • 2

    Captulo 1

    O ser humano pode sobreviver algumas semanas sem alimento, alguns

    dias sem gua, porm no sobrevive a mais de trs minutos sem ar. Podemos

    recusar gua contaminada ou alimento suspeito, porm no conseguimos fazer

    o mesmo em relao ao ar poludo. No entanto, o modelo de desenvolvimento

    no sustentvel baseado na utilizao do carbono como fonte de energia

    primria tem contribudo de forma significativa para a deteriorao da qualidade

    do ar colocando em risco nossa sobrevivncia. A poluio atmosfrica um

    dos problemas ambientais mais relevantes tanto nos pases em

    desenvolvimento quanto nos desenvolvidos. Este problema se agrava em

    compartimentos ambientais com grandes aglomerados humanos, como nas

    regies metropolitanas, onde a queima clandestina de resduos slidos,

    indstrias e a emisso de gases dos veculos provocam uma elevao

    preocupante nos nveis de emisses dos compostos nocivos. Em reas

    urbanas, as pessoas passam a maior parte do tempo em ambientes fechados,

    o que contribui para aumentar a exposio aos poluentes presentes nesses

    microambientes [1].

    As emisses para o ar podem ser na forma slida, lquida ou gasosa. O

    tempo de permanncia desses poluentes na atmosfera varia de minutos a

    sculos. Devido disperso atravs das correntes de ar, a poluio

    atmosfrica no se restringe s reas onde ocorrem as emisses. As fronteiras

    regionais e nacionais so facilmente ultrapassadas e os efeitos podem ser

    observados em escala global. Dentre os danos ao ambiente causados pela

    poluio atmosfrica pode-se citar o aumento da acidez das guas da chuva, o

    ataque aos materiais e vegetao, o aumento da temperatura mdia da

    atmosfera e a diminuio da camada de oznio [2]. A interao dos poluentes

    com o organismo humano aumenta, principalmente, a incidncia de doenas

    respiratrias, circulatrias, neoplasias e mortes [3].

    A avaliao da exposio ocupacional e ambiental aos agentes qumicos

    condio essencial para minimizar seus efeitos na sade humana. Para isso,

    so necessrias tcnicas analticas adequadas que permitam determinar tais

    substncias qumicas no ambiente e atravs do biomonitoramento.

  • 3

    Captulo 1

    O conceito de limite de exposio ou limite de segurana de uma

    substncia txica procura estabelecer uma relao entre a dose e a resposta

    produzida nos organismos expostos. Atualmente, h uma tendncia de se

    considerar que no existe dose segura diferente de zero, principalmente para

    as substncias classificadas como carcinognicas, como o caso do benzeno

    e dos hidrocarbonetos aromticos policclicos (HAP) [4].

    Efeitos adversos sade podem ser reduzidos de forma significativa

    quando se detecta em tempo hbil uma exposio perigosa. O monitoramento

    da exposio ocupacional e ambiental um procedimento que permite avaliar

    parmetros biolgicos e/ou ambientais com o objetivo de implantar medidas de

    preveno e controle adequados para a minimizao dos riscos sade [5].

    Um indicador biolgico ou biomarcador toda substncia, ou seu

    produto de biotransformao, ou quaisquer alteraes bioqumicas precoces,

    cuja determinao esteja associada intensidade da exposio ou ao risco

    sade [6]. A determinao da substncia txica ou seu produto de

    biotransformao pode ser realizado em fludos biolgicos tais como sangue,

    urina e ar expirado.

    Atualmente, muitas pesquisas [7-9] sobre biomarcadores tm sido

    desenvolvidas com o intuito de fazer frente ao grande desafio de estabelecer

    relaes entre exposies a agentes qumicos ambientais, e doenas

    desenvolvidas por exposies agudas e crnicas. Para validar a utilizao de

    biomarcadores necessrio estabelecer a relao qualitativa e quantitativa

    com a exposio qumica. Por isso, o monitoramento ambiental permite

    verificar se as medidas de controle das emisses so adequadas para reduzir

    as exposies, enquanto que o monitoramento biolgico possibilita avaliar se

    existe segurana quando da exposio ao agente qumico no ambiente de

    trabalho ou no meio ambiente [10]. O monitoramento biolgico alm de avaliar

    a exposio global ao txico, permite considerar caractersticas individuais tais

    como constituio fsica e predisposio gentica.

  • 4

    Captulo 1

    O desenvolvimento de metodologias para amostrar e quantificar

    hidrocarbonetos aromticos no ar ambiente e no ar expirado o tema principal

    desta tese. A microextrao em fase slida foi a tcnica selecionada para a

    amostragem. Para identificao e quantificao foi utilizada a cromatografia

    gasosa acoplada espectrometria de massas. Os principais objetivos foram

    determinar benzeno no ar ambiente e no ar expirado, utilizar o benzeno no ar

    expirado como biomarcador de exposio ocupacional e ambiental, determinar

    naftaleno no ar ambiente, determinar hidrocarbonetos aromticos policclicos

    em material particulado atmosfrico, e, por fim, monitorar hidrocarbonetos

    aromticos policclicos em material inalvel presente no ar ambiente do

    municpio de Divinpolis, MG.

    A tese apresentada em sete captulos. Nos aspectos gerais so

    apresentados os fundamentos dos principais tpicos descritos no trabalho e

    uma reviso bibliogrfica. Nos captulos 3 e 4 so apresentados materiais,

    mtodos, e discusso dos resultados obtidos para determinao de benzeno

    no ar ambiente e no ar expirado e hidrocarbonetos aromticos policclicos em

    material particulado atmosfrico. O captulo 5 trata do monitoramento dos

    hidrocarbonetos aromticos policclicos e da distribuio de fontes. O captulo 6

    descreve materiais, mtodos, e discusso dos resultados obtidos para

    determinao de naftaleno no ar ambiente. O captulo 7 refere-se concluso

    geral do trabalho e, por fim, so listadas as referncias utilizadas.

  • 5

    Captulo 2

    ASPECTOS GERAIS

  • 6

    Captulo 2

    2.1 Benzeno: Fontes de Exposio Humana e Toxicologia

    Benzeno um poluente primrio presente no ar atmosfrico, em

    ambientes internos e externos. Vaporizaes e combusto incompleta de

    gasolinas so suas principais fontes antropognicas [11, 12]. Indstria

    petroqumica, processamento do coque, indstrias de tintas, de vernizes, de

    plsticos e indstria farmacutica so atividades que tambm contribuem com

    emisses para o ambiente [13]. Em ambientes internos, alm da queima de

    cigarros [14], podem-se citar os carpetes, papeles e adesivos [15], bem como

    a utilizao de carvo e biomassa para aquecimento e cozimento [16, 17].

    A exposio ocupacional ocorre nas refinarias, indstrias de

    transformao, siderurgias, laboratrios de anlise qumica, postos de

    distribuio e revenda de combustveis, oficinas mecnicas e grficas. Os

    trabalhadores envolvidos com a produo, o transporte e a comercializao de

    combustveis esto expostos a diversos nveis de concentrao de benzeno

    cujo teor mdio em gasolinas de 3% v/v. Alteraes nesse valor ocorrem

    devido procedncia, a regulamentaes adotadas por cada pas e a

    adulteraes com solventes aromticos [18].

    Benzeno considerado carcinognico para humanos (1A) pela Agncia

    Internacional para Pesquisa em Cncer (International Agency for Research on

    Cancer - IARC) [19] e listado pela Organizao Mundial de Sade (World

    Health Organization - WHO) [20] como composto de prioridade mxima.

    Estudos tm mostrado que alm de ser fator de risco para leucemia, o benzeno

    pode provocar alteraes hematolgicas significativas em pessoas expostas a

    3,19 mg m-3 (101,3 kPa e 298 K) ou 1 ppm [21].

    A intoxicao humana por benzeno pode ocorrer pelas vias respiratria,

    cutnea e digestiva, no entanto a principal via a respiratria [22]. Na

    intoxicao aguda, a maior parte retida no sistema nervoso central, enquanto

    que na intoxicao crnica distribui-se pela medula ssea, fgado e tecidos

    gordurosos. As intoxicaes agudas, em geral acidentais e graves,

    caracterizam-se, sobretudo, pelos seus efeitos narcticos tais como tontura,

  • 7

    Captulo 2

    desmaios e coma. A exposio prolongada ao benzeno provoca diversos

    efeitos no organismo humano, destacando-se entre eles a mielotoxidade, a

    genotoxidade e a sua ao carcinognica. So conhecidos, ainda, efeitos sobre

    diversos rgos como o sistema nervoso central e os sistemas endcrino e

    imunolgico [23].

    Por se tratar de um composto genotxico e, portanto sem um limite

    seguro de exposio, h uma tendncia mundial em se reduzir o mximo

    possvel a exposio ocupacional e ambiental ao benzeno. O Limite de

    Exposio Ocupacional (Threshold Limit Value - TLV) de 1,60 mg m-3, mdia

    ponderada pelo tempo, recomendado pela Conferncia Americana de

    Higienistas Industriais (American Conference of Industrial Hygienists - ACGIH)

    [24] tem diminudo de forma significativa nas ltimas dcadas, em 1946 esse

    limite era 319 mg m-3. O Instituto Nacional de Sade e Segurana Ocupacional

    (NIOSH-USA Ocupacional National Institute for Occupational Safety and

    Health United States of America) (NIOSH-USA) estabeleceu o Limite de

    Exposio Recomendado (Recommended Exposition Limits REL) de 0,32

    mg m-3 mdia ponderada pelo tempo, e o Limite de Exposio em Curto Prazo

    (Short Term Exposure Limit STEL) com 15 minutos de exposio de 3,19

    mg m-3 [25]. Na Alemanha, adota-se um Limite Tcnico (LT) de 3,19 a 8 mg m-3

    [26]. No Brasil, a exemplo da Alemanha, a legislao trabalhista adota Valores

    de Referncia Tecnolgicos (VRT) de 3,19 mg m-3 [27].

    O aumento gradativo da concentrao de benzeno em atmosferas

    urbanas, com picos de concentrao que excedem vrias vezes os limites

    recomendados, tem indicado que a exposio em ambientes no ocupacionais

    deve receber ateno especial. Pois alm de se tratar de composto

    reconhecidamente carcinognico, o nmero de pessoas expostas muito

    maior em relao aos ambientes ocupacionais. H tambm a necessidade de

    proteo especial para a parcela mais sensvel da populao tais como

    crianas, gestantes e idosos [28].

  • 8

    Captulo 2

    A Comunidade Europeia, com base nas orientaes e recomendaes

    da Organizao Mundial de Sade, reconheceu a necessidade de reduzir a

    poluio atmosfrica para nveis que minimizem os efeitos na sade humana e

    no ambiente na sua globalidade. Para o benzeno, foi inicialmente fixado o

    valor-limite de 5 g m-3 [29] como mdia anual, que foi reduzida a zero a partir

    de 2010. Trata-se, portanto, de uma diretiva particularmente importante para

    identificar e implementar medidas mais eficazes de reduo nas emisses de

    benzeno. Convm ressaltar que valores para exposies de longo tempo de

    durao no consideram que em reas urbanas as pessoas, de um modo

    geral, ficam a maior parte do tempo em ambientes internos e quando esto em

    ambientes externos so submetidos a altos nveis de benzeno, principalmente,

    quando esto dentro de veculos em trnsito [30].

    Figura 2.1 - Principais vias de biotransformao do benzeno (CYP, citocromo P450; GSH, glutationa; MPO, mieloperoxidase; NQO1, NAD(P)H: quinona oxiredutase). [19].

  • 9

    Captulo 2

    Devido a sua baixa polaridade, o benzeno apresenta alta solubilidade

    em lipdios, portanto se acumula preferencialmente em tecidos adiposos. A

    biotransformao do benzeno (Figura 2.1) ocorre principalmente no fgado e na

    medula ssea. Os seus metablitos fenlicos so mais txicos que o prprio

    benzeno [31].

    A ao mielotxica dos metablitos quinnicos catecol e hidroquinol

    se deve a reao desses derivados com os cromossomos, provocando

    alteraes morfolgicas e interferindo na diviso celular. O cido trans-trans-

    mucnico possui estrutura qumica que possibilita uma atividade alquilante e

    capacidade de produzir ligaes cruzadas com protenas e o cido

    deoxirribonuclico (Deoxiribonucleic Acid - DNA) [32].

    A avaliao do risco de exposio ao benzeno pode ser feita pelo

    monitoramento ambiental ou ocupacional desse composto bem como pela

    utilizao de indicadores biolgicos de exposio em sangue, urina, pele ou ar

    expirado. Alm do benzeno no metabolizado, tem-se utilizado o cido trans-

    trans-mucnico [33, 34], cido S-fenilmercaptrico [35, 36] e adutos do

    benzeno com albumina ou hemoglobina [37, 38]. A determinao de benzeno

    no metabolizado em sangue, urina e ar expirado possibilita considerar tanto

    rotas conhecidas quanto desconhecidas de entrada no organismo, picos

    inesperados de concentrao e diferenas genticas individuais [39].

    2.2 Hidrocarbonetos Aromticos Policclicos: Propriedades e

    Fontes de Exposio Humana

    Os hidrocarbonetos aromticos policclicos (HAP) so membros de uma

    classe de compostos que esto presentes em diversos compartimentos

    ambientais. No ar so encontrados tanto em ambientes internos quanto

    externos. A maioria desses compostos apresentam comprovadas propriedades

    cancergenas e mutagnicas [40].

  • 10

    Captulo 2

    Sua natureza ubqua est evidenciada no fato de que os dezesseis HAP,

    mostrados na Figura 2.2, so considerados poluentes prioritrios pela Agncia

    de Proteo Ambiental Americana (Environmental Protection Agency-United

    States of America - EPA-USA) [41]. Recentemente a Unio Europeia, com o

    objetivo de evitar e prevenir os efeitos adversos dos HAP sade e ao

    ambiente, estabelece o valor alvo de 1 ng m-3 para o benzo[a]pireno no ar

    ambiente e recomenda o monitoramento do benzo[a]antraceno,

    benzo[b]fluoranteno, benzo[k]fluoranteno, benzo[b]fluoranteno, indeno[1, 2, 3-

    cd]pireno e dibenzo[a,h]antraceno [42].

    Figura 2.2 - Estruturas dos 16 HAP preconizados pela Agncia de Proteo

    Ambiental Americana como poluentes prioritrios.

    Os HAP so formados pela condensao de dois ou mais anis

    aromticos. Na atmosfera, esses compostos podem ocorrer na forma de gases,

    adsorvidos/absorvidos em material particulado, ou ainda distribudos entre as

  • 11

    Captulo 2

    fases gs-partcula, como o caso dos semivolteis. A partio gs-partcula

    depende principalmente da massa molar. Os HAP com baixas massas se

    concentram na fase gasosa enquanto aqueles com altas massas se associam

    ao material particulado. A Tabela 2.1 mostra o nome comum, abreviao,

    frmula emprica, massa molar, e nmero CAS (Chemical Abstracts Service)

    para os 16 HAP considerados poluentes prioritrios.

    Tabela 2.1 Nome comum, abreviao, frmula emprica, massa molar, e

    nmero CAS para os HAP

    Devido baixa polaridade, a solubilidades dos HAP em gua

    geralmente baixa. Entretanto, seus derivados oxidados tais como cidos, fenis

    e cetonas so mais polares, portanto mais solveis em gua. Os pontos de

    fuso apresentam uma ampla faixa de variao e os pontos de ebulio so

    acima de 200 C. Muitos desses compostos sublimam temperatura ambiente.

    A presso de vapor tambm apresenta uma ampla faixa de variao. Os

    coeficientes de partio octanol-ar e octanol-gua so determinantes para a

    distribuio dos HAP nos diversos compartimentos ambientais e decisivos para

    estabelecer planos de amostragem.A Tabela 2.2 fornece algumas propriedades

    fsico-qumicas de interesse para os HAP indicadores de poluio.

    Nome Comum Abreviao Frmula

    Emprica

    Massa

    Molar

    Nmero

    CAS

    Naftaleno NA C10H8 128,16 91203

    Acenaftileno AcPy C12H8 152,20 208968

    Acenafteno AcP C12H10 154,21 83329

    Fluoreno FL C13H10 166,22 86737

    Fenantreno PHE C14H10 178,22 85018

    Antraceno Ant C14H10 178,22 120127

    Fluoranteno FLU C16H10 202,26 206440

    Pireno PY C16H10 202,26 129000

    Benzo(a)antraceno BaA C18H12 228,29 56553

    Criseno CRY C18H12 228,29 218019

    Benzo[b]fluoranteno BbF C20H12 252,32 205992

    Benzo[k]fluoranteno BkF C20H12 252,32 207089

    Benzo[a]pireno BaP C20H12 252,32 50328

    Indeno[1,2,3-cd]pireno IcdP C22H12 276,34 193395

    Dibenzo[ah]antraceno dBAn C22H14 278,35 53703

    Benzo[ghi]perileno BPe C22H12 276,34 191242

  • 12

    Captulo 2

    Uma vez na atmosfera os HAP participam de diversas reaes qumicas,

    produzindo derivados oxigenados e nitrogenados mais txicos que os

    compostos de origem [43]. As reaes dos HAP quando expostos ao ambiente

    so preferencialmente de adio e substituio para manter o sistema

    conjugado aps a reao. O tipo de ambiente ir determinar as condies para

    que as reaes ocorram [44].

    Tabela 2.2 Presses de vapor (P), solubilidade em gua a 25C (S),

    Logaritmo do coeficiente de partio octanol-ar (Log Koa), Logaritmo do

    coeficiente de partio octanol-gua (Log Kow), ponto de fuso (PF) e ponto de

    ebulio (PE) dos 16 HAP indicadores de poluio.

    Os HAP presentes em partculas provenientes da queima de madeira,

    devido presena de xidos inorgnicos tais como silcio e alumnio, decaem

    mais rapidamente do que aqueles provenientes dos gases de exausto dos

    veculos automotores [45]. Alm da estrutura qumica, origem, estado fsico, as

    reaes desses compostos na atmosfera so afetadas pela presena de outros

    poluentes tais como oznio, xidos de nitrognio, xidos de enxofre e por

    fatores metereolgicos como irradiao solar e umidade relativa [46, 47].

    Composto P

    (mmHg) S

    (g/L) Log KOA Log KOW

    PF (C)

    PE (C)

    Naftaleno 7,8x10-2

    31700 5,13 3,37 80,2 217,9

    Acenaftileno 6,7x10-3

    16100 - 4,00 92-93 270

    Acenafteno 2,2x10-3

    3800 6,23 4,00 96,2 279

    Fluoreno 6,0x10-4

    1900 6,68 4,18 116,5 294

    Fenantreno 1,2x10-4

    45 7,45 4,57 100 340

    Antraceno 6,0x10-6

    73 7,34 4,54 218 342

    Pireno 4,5x10-6

    135 8,43 5,18 156 399

    Fluoranteno 9,2x10-6

    260 8,60 5,22 110 -

    Benzo[a]antraceno 2,1x10-7

    14 10,8 5,91 158,5 -

    Criseno 6,4x10-9

    2 10,44 5,75 255,5 -

    Benzo[a]pireno 5,6x10-9

    1,6 11,13 6,04 117 311

    Benzo[b]fluoranteno - 1,5 - 5,8 168 -

    Benzo[k]fluoranteno 3,9x10-10

    0,8 11,19 6,00 217 480

    Benzo[g,h,i]perileno - 0,3 - 6,5 273 -

    Indeno[1,2,3-cd]pireno - 0,2 - - 162 -

    Dibenzo[a,h]antraceno 3,7x10-10

    0,6 13,91 6,75 262 -

    Fonte: adaptado [43]

  • 13

    Captulo 2

    Os HAP so formados a partir da pirlise de compostos que contenha

    estruturas cclicas, combusto incompleta de compostos orgnicos e processos

    de biossntese. O mecanismo de formao dos HAP a partir de combustes

    incompletas bastante complexo e envolve a formao de radicais livres na

    zona redutora da chama. Os fragmentos combinam-se rapidamente para

    formar molculas aromticas parcialmente condensadas. Com o resfriamento,

    a mistura dos HAP condensa-se em um substrato particulado [48].

    A distribuio dos HAP em relao ao tamanho das partculas depende

    da massa molar. Compostos de maior massa molar, geralmente, esto

    associados a partculas de menor tamanho [49]. Na fase gasosa predominam

    os HAP volteis com dois anis e os semivolteis com trs e quatro anis.

    Associados ao material particulado esto os HAP semivolteis mais pesados

    contendo cinco e seis anis.

    Dentre as principais fontes antropognicas desses compostos, pode-se

    citar a combusto incompleta de gasolina e de diesel, processos de

    incinerao, queima de biomassa, gaseificao do carvo, produo do

    alumnio, ferro e ao e queima do tabaco. As fontes naturais so os vulces,

    processos hidrotrmicos e incndios florestais [50]. O tipo de fonte emissora

    determina a composio e a complexidade da mistura dos HAP obtida. As

    fontes estacionrias contribuem com a maior parte da emisso total dos HAP

    para a atmosfera, entretanto nos grandes centros urbanos as fontes mveis

    prevalecem [51]. O elevado nvel desses compostos em aglomerados urbanos

    se deve principalmente ao aumento do trfego veicular e a dificuldade de

    disperso dos poluentes [52]. A estabilidade de muitos HAP aliada a

    turbulncias na atmosfera, variaes na direo e velocidade dos ventos, faz

    com que esses compostos possam ser transportados grandes distncias

    atingindo receptores bem afastados dos pontos onde foram emitidos, portanto

    o monitoramento em escala local, regional e continental faz-se necessrio [53,

    54].

  • 14

    Captulo 2

    2.3 Efeitos Txicos dos Hidrocarbonetos Aromticos

    Policclicos

    Os HAP so absorvidos por inalao, por via oral e por exposio

    drmica. A exposio drmica significativa em algumas atividades industriais,

    podendo alcanar at 90% da quantidade absorvida pelo organismo. A

    absoro cutnea ocorre de forma rpida por difuso passiva [55].

    Uma vez absorvidos pelo organismo esses compostos se distribuem por

    todos os rgos. Os rgos formados por tecidos adiposos tendem a

    armazenar os HAP que so lipossolveis. Estudos mostram que devido

    excreo hepatobiliar o trato gastrointestinal apresenta nveis elevados de

    metablitos independente da via de acesso ao organismo. A biotransformao

    geralmente lenta, quando os HAP esto associados a partculas respirveis

    (dimetro aerodinmico menor que 10 m) entretanto, na ausncia desta

    associao a degradao pode ocorrer em at uma hora aps a exposio.

    O metabolismo dos HAP geralmente envolve a formao de fenis ou

    diis por epoxidao das ligaes duplas e derivados hidroxilados podem

    conjugar com glutationa, sulfatos ou cido glicurnico. Reaes de oxidao,

    reduo, hidrlise e conjugao dos HAP envolvem, alm do sistema

    enzimtico citocromo P450, vrias outras enzimas distribudas em diferentes

    rgos. Aps reaes de oxidao, a polaridade dos produtos oxigenados

    aumenta, tornando-os mais solveis em gua, e cria stios para ligaes com

    grupos mais volumosos. Alguns desses grupos podem causar danos genticos

    antes de serem excretados [56].

    As bases nucleoflicas do DNA so capazes de reagir com o carbono

    benzlico dos derivados dihidrodiolepxidos e iniciarem um processo

    mutagnico. Reaes semelhantes podem ocorrer com a albumina e a

    hemoglobina. Vrias enzimas envolvidas no metabolismo dos HAP apresentam

    distribuio polimrfica o que pode alterar a razo entre ativao e

    desativao, aumentando, assim, o risco de desenvolvimento de cncer [57].

  • 15

    Captulo 2

    Entre os HAP o benzo[a]pireno foi um dos primeiros compostos a ser

    identificado como carcinognico [58]. A biotransformao do benzo[a]pireno

    est representada simplificadamente na Figura 2.3. Na primeira fase da

    biotransformao, a enzima P450-monoxidase catalisa a produo dos

    epxidos (1), que ao sofrerem rearranjo formam fenis (2) ou di-hidrodiis (3).

    Alguns fenis obtidos podem ser oxidados foma quinona (4), ou por hidrlise

    formarem fenol di-hidrodiis (5).

    A oxidao sucessiva dos di-hidrodiis leva a formao do fenol di-

    hidrodiol (7) que pode hidrolisar espontaneamente em tetris (8). Na segunda

    fase, ocorrem as reaes de conjugao dos fenis, quinonas, di-hidrodiis e

    fenol di-hidrodiis com sulfatos e glicurnicos [59]. A urina e as fezes so as

    principais vias de eliminao dos produtos de biotransformao dos HAP.

    Figura 2.3 Principais biotransformaes do Benzo[a]pireno. Adaptado [59]

    Os HAP com cinco ou seis anis tm apresentado um maior potencial

    carcinognico do que aqueles com menos anis. Recentemente, foi proposto

    um fator de equivalncia para avaliar o potencial dos HAP para induzir cncer,

  • 16

    Captulo 2

    tomando como referncia o Benzo[a]pireno (fator 1,00) [60]. A Tabela 2.3

    mostra a carcinogenicidade de acordo com a IARC-USA e a EPA-USA, e o

    fator de equivalncia em relao ao Benzo[a]pireno para avaliao do potencial

    carcinognico de alguns HAP comumente presentes no ar ambiente.

    Tabela 2.3 Carcinogenicidade, segundo a Agncia Internacional de Pesquisa

    para o Cncer (International Agency for Research on Cancer IARC), Agncia

    de Proteo Ambiental (Environmental Protection Agency EPA) e fatores de

    equivalncia de alguns HAP presentes no ar ambiente.

    a I = evidncias inadequadas, L = evidncias limitadas, S = evidncias suficientes. [61] b 2A = evidncias adequadas, 2B= possibilidade de carcinognese, 3 = no classificado. [61] c B2 = evidncias suficientes para animais e evidncias inadequadas para estudos epidemiolgicos. NC = no classificado. [62] d FEP = Fator de Equivalncia do Potencial Carcinognico em relao ao Benzo[a]pireno. [63]

    A exposio aos HAP pode ser biomonitorada atravs da determinao

    de compostos individuais, misturas ou metablitos. Biomarcadores

    relacionados sua ao txica podem ser determinados na urina, entretanto os

    nveis encontrados para esses compostos so bem menores do que aqueles

    excretados pelas fezes. O tempo de meia vida dos metablitos para a excreo

    urinria apresenta uma ampla faixa de variao [64].

    Composto

    Classificao IARCa

    Classificao EPA

    c

    FEPd Animais

    a Humanos

    b

    Benzo[a]antraceno S 2A B2 0,005

    Criseno L 3 B2 0,03

    Benzo[a]pireno S 2A B2 1,00

    Benzo[b]fluoranteno S 2B B2 0,05

    Benzo[k]fluoranteno S 2B B2 0,05

    Benzo[g,h,i]perileno I - - 0,02

    Indeno[1,2,3-cd]pireno S 2B - 0,1

    Dibenzo[a,h]antraceno S 2A NC 0,4

  • 17

    Captulo 2

    Em exposies ocupacionais, a amostragem deve ser feita no final da

    jornada de trabalho. O hbito de fumar deve ser sempre levado em

    considerao ao se realizar biomonitoramento da exposio aos HAP.

    O pireno um dos HAP mais abundantes em emisses de combustes,

    por isso tem-se utilizado o 1-hidroxipireno como biomarcador urinrio para

    avaliar exposio de trabalhadores expostos a emisses de combustveis

    fsseis, entretanto grandes variaes so observadas entre os indivduos

    expostos, possivelmente devido a variaes individuais das taxas de

    biotransformao [65]. Em trabalho recente realizado com cem trabalhadores

    de incineradores de material orgnico foi encontrado 1-hidroxipireno na urina

    em concentraes na faixa 0,01 a 0,25 g por grama de creatinina na urina

    [66]. Outros metablitos hidroxilados do naftaleno, fluoreno, fenantreno,

    criseno, antraceno e benzo[a]pireno esto sendo propostos para avaliar a

    exposio aos HAP [67- 69].

    2.4 Anlise dos Hidrocarbonetos Aromticos Policclicos no Ar

    Ambiente

    A anlise dos HAP em ar ambiente um desafio analtico devido aos

    baixos nveis, complexidade e diversidade de fases da matriz e presena

    de ismeros. A grande faixa de variao da presso de vapor desses

    compostos e a reatividade com outros poluentes presentes no ar requerem

    cuidados e critrios bem definidos para realizao da amostragem. A partio

    entre fases depende, principalmente, da massa total de material particulado em

    suspenso, do tamanho das partculas e da temperatura [70].

    Para amostragem dos HAP so utilizados mtodos ativos ou passivos.

    Os mtodos ativos fazem uso de bombas que aspiram o ar sob fluxo constante.

    Quando se utiliza fluxos de 0,3 a 1,5 m3 min-1 so necessrios amostradores de

    grandes volumes (High Volum), mais indicados para ambientes externos. Para

    fluxos mdios de 0,001 a 0,003 m3 min-1, utilizam-se amostradores de baixos

    volumes.

  • 18

    Captulo 2

    Nos mtodos passivos a amostra deve-se difundir atravs de uma

    superfcie [71]. Estes mtodos se aplicam principalmente aos HAP na fase de

    vapor e so bastante teis para amostragem em ambientes ocupacionais.

    Para coleta de HAP no material particulado so utilizados filtros de fibra

    de vidro, teflon e fibra de quartzo. Desses materiais, o mais utilizado o de

    fibra de vidro devido principalmente ao baixo custo e facilidade de limpeza,

    que pode ser feita com solventes ou pr-aquecimento a 500 C. Os filtros de

    fibra de vidro quando comparados a filtros de teflon, tendem a reter maiores

    nveis dos HAP mais volteis. Isso ocorre provavelmente devido a menor

    queda de presso observada nos filtros de fibra de vidro [72].

    A amostragem de HAP em material particulado com classificao por

    tamanho da partcula pode ser feita com impactadores tipo cascata, como

    mostrado no diagrama esquemtico da Figura 2.4. Nesses equipamentos,

    vrias placas so sobrepostas com orifcios de tamanhos variveis. Ao passar

    por essas placas ou estgios, o fluxo do ar aumentado pela diminuio das

    dimenses das aberturas e provoca desvios de rota. A coleta ocorre por meio

    da fora inercial que as partculas ficam sujeitas durante as mudanas de

    trajetria do fluxo de ar. Nesse tipo de equipamento, possvel coletar

    partculas com dimetros na faixa de 0,5 a 30 m.

    Figura 2.4 - Diagrama esquemtico de um impactador de cascata. Adaptado

    [73]

  • 19

    Captulo 2

    Durante a amostragem do material particulado ocorre volatilizao dos

    HAP com baixa presso de vapor. Em um perodo de 24 horas de amostragem,

    estas perdas podem ser de at 85%. Para avaliar a partio entre as fases gs-

    partcula, tem-se utilizado espuma de poliuretano (Polyurethane Foam - PUF),

    aps o filtro para absoro dos compostos volteis e semivolteis.

    Alternativamente podem ser utilizados filtros impregnados com materiais

    absorventes, tubos com slidos adsorventes tais como Tenax (polmero poroso

    de xido de 2,6-difenileno) e XAD-2 (coopolmero de poliestireno) ou

    armadilhas criognicas [74]. Perdas tambm ocorrem por reaes dos HAP

    com poluentes tais como oznio e xidos de enxofre e nitrognio. Essas perdas

    so minimizadas pela utilizao de pr-filtros. A diminuio do tempo de

    amostragem reduz perdas por volatilizao e reaes paralelas.

    Aps a amostragem, os HAP devem ser extrados dos filtros para

    posterior anlise. Essa etapa geralmente lenta, alm de ser uma das

    principais fontes de erros quando se trabalha com nveis de traos. A extrao

    Soxhlet, agitao ultrassnica, extrao com fludo supercrtico e extrao com

    microondas so os mtodos mais utilizados para essa finalidade. Na extrao

    Soxhlet so utilizados solventes ou misturas de solventes, o ciclohexano mais

    seletivo para os HAP enquanto metanol extrai tambm quantidades apreciveis

    de outros compostos, principalmente aqueles que apresentam maior polaridade

    [75]. O tempo de extrao varia de 6 a 24 horas e no pode haver contato com

    a luz para evitar reaes fotolticas. Uma vez observadas essas condies, o

    rendimento pode se aproximar de 100% [76].

    A extrao por agitao ultrassnica apresenta rendimento semelhante

    ao Soxhlet, porm requer menor tempo de extrao, em geral de 20 a 30

    minutos, o que leva a melhor reprodutibilidade [77]. Entretanto, ambos os

    mtodos de extrao apresentam baixa eficincia para os HAP com altas

    massas molares. Alternativamente, pode-se extrair HAP com fludo

    supercrtico, o que melhora as condies de solvatao, aumenta a razo de

    transferncia de massa e facilita a concentrao dos extratos [78].

  • 20

    Captulo 2

    O gs carbnico o fludo mais utilizado para extrao dos HAP devido,

    principalmente, aos baixos valores do ponto crtico (304,3 K e 7386 kPa), por

    ser atxico, no inflamvel e de baixo custo [79]. Entretanto, a baixa polaridade

    do gs carbnico limita sua capacidade de extrair os HAP fortemente

    adsorvidos no material particulado.

    A extrao com micro-ondas se baseia na absoro da energia com

    frequncias mdias de 918 MHz ou 2,45 GHz para facilitar a difuso dos

    compostos para o solvente [80]. O processo de absoro seletivo, pois

    depende da constante dieltrica, e em se tratando de solventes apolares com

    baixas constantes dieltricas no ocorre aquecimento mediante a incidncia de

    micro-ondas. Para facilitar a ruptura da matriz e aumentar a migrao dos

    compostos para o solvente comum adicionar a matriz uma substncia com

    alta constante dieltrica. Esse procedimento de aquecimento localizado no

    possvel em sistemas de aquecimento convencionais. As principais vantagens

    [81] da extrao com micro-ondas so menor tempo de extrao, menores

    quantidades de solventes, maior nmero de amostras extradas

    simultaneamente e maior seletividade.

    Para identificao e anlise dos HAP, as tcnicas mais utilizadas so a

    cromatografia lquida de alta eficincia (High-Performance Liquid

    Chromatography HPLC) e a cromatografia gasosa (Gas Chromatography

    GC). Na HPLC, os detectores de fluorescncia e UV/Visvel so usados em

    comprimentos de onda especficos para deteco seletiva dos HAP.

    Geralmente a fase mvel uma mistura de acetonitrila com gua e a fase

    estacionria a C18. A utilizao de colunas de fase polimrica com ligaes

    cruzadas tende a melhorar a resoluo. A principal vantagem da tcnica HPLC

    est na possibilidade de analisar os HAP com massas molares maiores [82].

    A cromatografia gasosa para anlise de HAP faz uso de colunas

    capilares com fase estacionria de polisiloxanas que podem ser aquecidas at

    280 C e detectores de ionizao por chama (Flame Ionization Detector FID),

    ou de espectrometria de massas (Mass Spectrometry MS).

  • 21

    Captulo 2

    A grande vantagem da GC quando comparada HPLC a maior

    eficincia na separao dos HAP. Para quantificao fundamental a

    utilizao de materiais de referncia certificados para validar os resultados

    obtidos [83].

    Geralmente para determinao dos HAP em ar ambiente, os mtodos

    EPA TO-13A e NIOSH 5515 so os mais utilizados [84, 85]. Esses mtodos

    utilizam amostradores de grandes volumes com tubos coletores de fibra de

    poliuretano. Aps a amostragem os HAP so extrados pelo processo Soxhlet,

    concentrados em um evaporador Kuderna-Danish e posteriormente analisados

    por HPLC. Estas metodologias no so indicadas para HAP com altas

    presses de vapor, pois so fracamente retidos pela fibra de poliuretano e,

    portanto, apresentam baixas porcentagens de recuperao.

    Em ar urbano os HAP podem ser amostrados atravs de um amostrador

    de grande volume com um tubo adsorvente de XAD-2, extrao ultrassnica

    realizada com diclorometano, hexano e acetona a fim de serem efetuadas

    anlises por Cromatografia a Gs acoplada Espectrometria de Massas (Gas

    Chromatography-Mass Spectrometry GC/MS) [86, 87]. Processo semelhante

    utilizado para determinao de HAP em emisses de fornos de carvo [88].

    Amostradores de grande volume com reteno em tubos de XAD-2 so

    tambm utilizados para determinao de HAP em emisses de motores a

    diesel [89]. Extrao de HAP de material particulado com dimetro inferior a 10

    m (Particulate Matter PM10) de rea residencial e industrial pode ser feita

    utilizando ciclohexano como solvente e anlise em sistema GC/MS [90]. Pode-

    se realizar tambm determinao de HAP em material particulado de zona rural

    [91].

    O desenvolvimento de dispositivos com membrana semipermevel

    (Semipermeable Membrane Device SPMD) tem permitido a amostragem

    passiva de HAP presentes no ar [92, 93]. Esta tcnica possibilita a amostragem

    de HAP e nitro-HAP em ar de regies urbanas e rurais, seguida de extrao

    com ciclopentano/diclorometano e anlise por GC/MS [94].

  • 22

    Captulo 2

    A extrao trmica (ET) com posterior anlise por GC/MS um mtodo

    alternativo para determinao de HAP em material particulado. Extraes

    tpicas requerem temperaturas da ordem de 300 C. Com esta metodologia,

    pode-se avaliar a extenso da reteno dos HAP de altas massas molares pelo

    material particulado principalmente os provenientes de regies urbanas,

    contendo altos teores de carbono [95]. Pode-se determinar HAP em aerossol

    por introduo direta da amostra e dessoro trmica em um sistema GC/MS

    convencional [96]. A tcnica de ionizao qumica presso atmosfrica

    (Atmospheric Pressure Chemical Ionizatio APCI) tem sido adaptada para

    determinao de HAP em ar ou material particulado por introduo direta da

    amostra [97].

    possvel tambm identificar e quantificar HAP e oxi-HAP em material

    particulado atravs de Cromatografia Gasosa Bidimensional Abrangente

    (Compreensive Two-dimensional Gas Chromatography GCxGC) com

    detectores FID e MS. Amostradores de grandes volumes coletam o material

    particulado em filtros de fibra de vidro, os analitos so extrados em sistema de

    extrao em fase slida para melhorar o limite de deteco [98]. A tcnica

    GCxGC facilita a resoluo dos picos gerados por matrizes complexas como

    o caso do ar atmosfrico. Esta tcnica apresenta grandes potencialidades para

    identificar e quantificar analitos em amostras ambientais [99 -101].

    2.5 Anlise de Benzeno no Ar Expirado

    Os primeiros relatos da utilizao do ar expirado para avaliar exposio

    ocupacional so de 1930, desde ento vrios estudos vem sendo realizados

    mostrando as aplicaes da tcnica na rea clnica e toxicolgica. A aplicao

    mais comum a anlise do etanol no ar expirado de motoristas no trnsito.

    Alm disso, a anlise do ar expirado pode ser utilizada para diagnosticar

    doenas tais como cncer, diabetes, cardiopatias e distrbios inflamatrios

    [102].

  • 23

    Captulo 2

    As rpidas trocas gasosas que ocorrem nos pulmes permitem a

    eliminao de substncias com altas presses de vapor e baixa solubilidade no

    sangue. O equilbrio que se estabelece entre as fases sangue capilar pulmonar

    e ar alveolar permite correlacionar as concentraes de benzeno presente em

    cada uma dessas fases, atravs do coeficiente de partio sangue e ar alveolar

    que de 7,4 [103]. Fatores tais como difuso, adsoro, ventilao,

    temperatura, tcnica de expirao, metabolismo e composio do sangue

    influenciam o equilbrio de fases nos pulmes e, portanto, a concentrao no ar

    expirado [104].

    Alguns trabalhos tm demonstrado correlaes significativas entre as

    concentraes de benzeno no ambiente e no ar expirado, tais como os estudos

    efetuados com mecnicos [105], fumantes ativos [106] e fumantes ativos e

    passivos [107]. Devido a meia vida relativamente curta do benzeno no

    organismo, as correlaes obtidas entre a concentrao no ambiente e no ar

    expirado devem refletir a exposio h algumas horas que precedem as

    medies [108]. As baixas concentraes e flutuaes que frequentemente

    ocorrem nos ambientes ocupacionais requerem tcnicas analticas de elevada

    sensibilidade. A avaliao da exposio ocupacional pode ser durante a

    jornada de trabalho, ao final da jornada e na manh seguinte jornada.

    Medidas realizadas durante a jornada de trabalho refletem as condies no

    momento da amostragem. Medies feitas ao final da jornada refletem as

    variaes de exposio que podem ocorrer durante o perodo de trabalho e as

    medidas na manh seguinte refletem a exposio integral do dia anterior

    amostragem [109].

    Um modelo proposto para a expirao de substncias qumicas (Figura

    2.5) divide o processo em trs etapas. A primeira etapa (I) contm o ar do

    espao morto que contm pouca quantidade da substncia. Na etapa (II)

    ocorre um aumento brusco da concentrao at que ocorra uma estabilizao

    da concentrao alveolar na etapa (III). Nessa ltima etapa, h a liberao

    contnua da substncia dos alvolos. Uma diminuio abrupta da concentrao

    observada aps a terceira etapa devido diluio provocada pela inalao do

    ar.

  • 24

    Captulo 2

    Figura 2.5 Perfil da excreo pulmonar de um solvente para uma expirao

    simples [104].

    O ar expirado, portanto, uma mistura composta por ar de diferentes

    regies do pulmo. O ar alveolar geralmente cerca de dois teros do volume

    total do ar expirado. Para amostragem do ar alveolar, deve-se desprezar o

    primeiro fluxo, que geralmente est diludo pelo ar retido no espao morto do

    trato respiratrio (boca, nariz, faringe, traquia e brnquios). Alguns fatores

    podem alterar a concentrao das substncias no ar expirado, tais como a

    velocidade de difuso dos gases atravs da membrana alvolo-capilar, o

    metabolismo, o gradiente de temperatura das vias areas, a composio do

    sangue e a cintica de absoro e eliminao [110]. Dentre as metodologias

    para biomonitoramento do benzeno no metabolizado, a determinao no ar

    expirado apresenta a vantagem de ser uma tcnica no invasiva alm da

    menor complexidade da matriz em relao ao sangue e urina.

  • 25

    Captulo 2

    2.6 Tcnicas para Amostragem de Compostos Volteis no Ar

    A amostragem de Compostos Orgnicos Volteis (Volatile Organic

    Compounds VOC) no ar um desafio permanente, pois essa matriz

    apresenta caractersticas tais como baixa densidade (1,2 kg m-3 a 273 K e

    101,3 kPa), heterogeneidade, complexidade, composio fortemente

    dependente das condies meteorolgicas e geogrficas, grande capacidade

    de difuso e reatividade. Os VOC geralmente esto em concentraes muito

    baixas com valores tpicos em nveis de parte por bilho em volume, o que

    geralmente requer uma etapa de pr-concentrao. As estratgias de

    amostragem variam de acordo com os objetivos do estudo, tipo de amostra,

    faixa de concentrao, sensibilidade, exatido, preciso, interferentes,

    portabilidade e custo [111]. A Figura 2.6 mostra uma classificao geral das

    tcnicas utilizadas para amostragem e anlise de VOC no ar.

    Figura 2.6 Classificao das tcnicas para amostragem e anlise de VOC no

    ar.

  • 26

    Captulo 2

    Nas tcnicas diretas podem ser utilizados vrios tipos de receptculos

    tais como seringas, bulbos de vidro, sacos plsticos e recipientes de metal

    [112]. A amostragem pode ser realizada no modo passivo se a presso interna

    do recipiente for menor que a presso atmosfrica ou no modo ativo pelo uso

    de bombas. Aps a amostragem, o ar transferido completamente para o

    sistema de anlise. A amostragem passiva muito simples e permite a coleta

    de vrias amostras simultneas. No modo ativo, o uso de bombas propicia o

    trabalho com grandes volumes, porm compromete a portabilidade. Ambos os

    modos esto sujeitos a perdas por permeao e instabilidade da amostra, alm

    da necessidade de limpeza rigorosa para evitar contaminaes e efeitos de

    memria [113].

    Nas tcnicas com pr-concentrao os VOC podem ser coletados por

    soro, membrana, ou solvente. Extrao em fase slida (Solid Phase

    Extraction SPE) e SPME so as principais tcnicas que utilizam o princpio de

    soro. Na extrao em fase slida, os VOC so retidos em tubos preenchidos

    com sorventes adequados. Carvo ativado, carbono grafitizado, peneiras

    moleculares e polmeros porosos so materiais comumente utilizados para este

    propsito [114]. Os sorventes podem ser slidos (processo de adsoro) ou

    lquidos (processo de absoro). A seleo do sorvente apropriado depende

    principalmente das propriedades fsico-qumicas dos VOC de interesse e das

    caractersticas do prprio sorvente. Combinaes de sorventes podem ser

    utilizadas para aumentar a eficincia do processo e diminuir perdas dos

    analitos. Perdas tambm ocorrem devido a reaes com o oznio e a

    humidade [115].

    Com a tcnica SPE possvel realizar a amostragem no modo ativo ou

    passivo. No modo ativo, o ar bombeado com um fluxo constante (0,01 a 1400

    L min-1) para um tubo metlico contendo o sorvente apropriado. Por este

    processo, a eficincia da pr-concentrao aumenta para uma grande

    variedade de VOC. A principal desvantagem a necessidade do uso de

    bombas e medidores de fluxo, que devem estar devidamente calibrados.

  • 27

    Captulo 2

    No modo passivo, a amostragem realizada atravs de um pequeno

    tubo contendo o sorvente que exposto ao ar [116]. Devido elevada

    afinidade dos VOC presentes no ar pelo sorvente ocorre um gradiente de

    difuso (radial ou axial) destes compostos no sorvente. Atravs deste processo

    possvel realizar amostragens integradas por variados perodos de tempo. Na

    amostragem passiva ocorre uma menor pr-concentrao em relao ao modo

    ativo e h uma maior sensibilidade s flutuaes de temperatura e

    movimentao do ar [117]. A extrao dos VOC coletados no sorvente ocorre

    por dessoro trmica ou com solvente. A principal desvantagem do uso de

    fases slidas adsorventes a necessidade da posterior extrao do analito

    com a utilizao de solventes, o que pode provocar uma diminuio da

    sensibilidade analtica, alm de aumentar o risco de contaminao ambiental e

    ocupacional.

    Na tentativa de contornar algumas deficincias das tcnicas de extrao

    por sorventes, tem sido propostas vrias alternativas como a extrao por

    fludos supercrticos, extrao lquido-lquido e extrao por membranas [118].

    Estas membranas geralmente so compostas por uma estrutura de silicone

    que retm os analitos de forma seletiva. A anlise posterior realizada por

    espectrometria de massas com introduo via membrana (Membrane

    Introduction Mass Spectrometry MIMS). Com esta tcnica, possvel

    monitorar VOC em tempo real devido rapidez de resposta, alm da grande

    capacidade de miniaturizao pelo uso de analisadores de massas com

    dimenses submilimtricas [119]. H tambm a possibilidade de se combinar

    vrias membranas em um mesmo dispositivo multimembrana ou combinar uma

    membrana com um sorvente (Membrane Extraction with a Sorbent Interface

    MESI) [120]. Esta tcnica apresenta grande capacidade de enriquecimento,

    elevado potencial de automao e diversas aplicaes ambientais e

    ocupacionais [121].

  • 28

    Captulo 2

    Na pr-concentrao com solventes, os VOC so absorvidos

    irreversivelmente em uma fase lquida atravs do processo de quimiossoro.

    Bulbos e tubos so preenchidos com o solvente e substncias adequadas para

    reao com os VOC de interesse.

    Com essa tcnica, possvel amostrar grandes volumes de ar,

    compostos com altos pontos de ebulio e espcies reativas [122]. A principal

    limitao est no fato de que o solvente pode ser facilmente contaminado pelos

    VOC presentes no ambiente, alm da grande produo de resduos de

    solventes.

    2.7 Amostragem por Microextrao em Fase Slida

    Uma tcnica que tem demonstrado ser de grande eficincia para

    amostragem de compostos volteis e semivolteis no ar e em vrias matrizes

    complexas a Microextrao em Fase Slida (Solid Phase Microextraction

    SPME). A tcnica alm de dispensar o uso de tubos, bulbos e bolsas conjuga

    amostragem e pr-concentrao em uma nica etapa. O primeiro dispositivo de

    SPME foi desenvolvido por Pawliszyn e colaboradores [123]. A atual

    configurao, mostrada na Figura 2.7, consiste de uma haste de slica fundida

    com 10 mm de comprimento recoberta com uma fase polimrica polar ou

    apolar com diversas espessuras de acordo com a aplicao. A haste pode

    ficar exposta ou recolhida em uma agulha de ao por meio de um mbolo.

    Figura 2.7 Componentes do dispositivo manual de SPME. Adaptado [123]

  • 29

    Captulo 2

    O princpio da tcnica de SPME o equilbrio do analito entre a matriz e

    a fase polimrica que recobre a haste de slica. Se a fase polimrica for lquida

    h absoro do analito e se estabelece um equilbrio de partio que afetado

    pela espessura do filme polimrico e pelo tamanho do analito. Em fases

    polimricas slidas, a reteno do analito ocorre nos stios ativos da fibra e o

    equilbrio de adsoro que ocorre depende, principalmente, do tamanho dos

    poros. Aps a fase de extrao, o analito dessorvido termicamente no injetor

    do cromatgrafo. Atualmente, so comercializadas fibras com espessuras de

    fases, polaridades e composies variadas como mostra a Tabela 2.4.

    Tabela 2.4 Principais caractersticas das fibras utilizadas em SPME.

    Fonte: adaptado [124]

    A amostragem por SPME pode ser utilizada com a fibra recolhida na

    agulha ou exposta. Para a fibra exposta, no processo de absoro, a massa do

    analito extrada proporcional a concentrao do analito na amostra de acordo

    com a expresso 2.1.

    Composio da Fase Polari-dade

    Processo

    Espes-sura de

    Fase (m)

    Temperatura de dessoro

    (C) Aplicao

    Polidimetilsiloxana (PDMS)

    100 200 - 270 Volteis

    apolar Absoro 30 200 270 Semivolteis

    apolares

    7 200 - 270 Semivolteis semipolares

    Polidimetilsiloxana/ Divinilbenzeno (PDMS/DVB)

    polar Adsoro

    60 200 - 270 Volteis e

    65 200 - 270 no volteis

    Carboxen/ Polidimetilsiloxana (CX/PDMS)

    polar Adsoro 75 240 - 300 Volteis

    Carbowax/Divinilbenzeno (CW/DVB)

    polar/ apolar

    Adsoro Absoro

    65 200 - 260 Volte

    Polares is

    Divinilbenzeno/Carboxen/ Polidimetilsiloxana (DVB/CX/PDMS)

    Polar/ apolar

    Adsoro 50/30 230 - 270 Volteis

    Poliacrilato (PA) polar Absoro 85 220 - 310 Volteis polares

  • 30

    Captulo 2

    (2.1)

    Onde: n = nmero de moles absorvidos;

    K = coeficiente de partio fibra/amostra;

    Vf = volume da fibra;

    Vs = volume da amostra;

    C = concentrao do analito na amostra.

    Para grandes volumes da amostra (K.Vf

  • 31

    Captulo 2

    A adsoro um processo competitivo no qual espcies com baixa

    afinidade pela fibra podem ser substitudas por aquelas de alta afinidade. Uma

    interface se forma entre o ar e a fibra, quando essa exposta ao ar em

    movimento. Os analitos so transferidos do ar para a superfcie da fibra via

    difuso molecular. A concentrao dos analitos no ar pode ser considerada

    constante quando h um curto perodo de amostragem e um fornecimento

    constante de analito por conveco. Como mostra o grfico da Figura 2.8,

    quando o processo se inicia a concentrao do analito prxima superfcie da

    fibra pode ser considerada igual a zero [125].

    Figura 2.8 Processo de extrao por adsoro com SPME utilizando fibras

    porosas. Adaptado [125].

    A quantidade de analito (m) extrada durante o tempo (t) de exposio

    pode ser expressa por:

    (2.5)

    Onde: Dg = coeficiente de difuso molecular na fase gasosa (cm2 s-1);

    L = comprimento da fibra(cm);

    b = raio externo da fibra (cm);

    Car = concentrao do analito no ar (ng cm-3);

    = espessura da interface (cm).

  • 32

    Captulo 2

    A extrao por SPME pode ser feita pela imerso direta da fibra na

    matriz ou por headspace [126]. Na extrao por imerso, o analito

    transportado diretamente da matriz para a fibra. A fibra pode ser usada com

    proteo, isto , ser recoberta por uma membrana, que evita a soro de

    outros compostos da matriz, o que torna a anlise mais seletiva. Para matrizes

    aquosas, deve-se proceder a uma agitao para facilitar o processo de difuso

    do analito para a fibra. Quando a matriz muito complexa ou suja, usa-se uma

    membrana.

    Na tcnica de headspace, a amostra slida ou lquida colocada em um

    frasco de vidro que ento lacrado. A fibra exposta no topo do frasco sem

    contato direto com a amostra, assim os analitos volteis entram em equilbrio

    com a fibra (Figura 2.9a). Alternativamente, pode-se utilizar o frasco de

    headspace para expor a fibra diretamente na amostra lquida (Figura 2.9b).

    Figura 2.9 Representao da extrao por SPME no modo headspace (a) e

    por imerso direta (b). Adaptado [126].

    Vrias modificaes j foram introduzidas nessa tcnica para melhorar o

    desempenho da extrao. O uso de bombas tem sido proposto para aumentar

    a presso e acelerar a extrao em amostras slidas. A passagem de um fluxo

    contnuo de gs de arraste inerte no frasco de headspace facilita a remoo de

    compostos menos volteis.

  • 33

    Captulo 2

    O aquecimento da gua diminui sua constante dieltrica e facilita a

    remoo dos compostos mais apolares da amostra. Aquecimento da gua e

    resfriamento interno da fibra aumenta o coeficiente de distribuio e melhora a

    extrao de compostos volteis.

    Para resfriamento interno foi proposto a utilizao de gs carbnico

    lquido (Figura 2.10) que percorre internamente um tubo capilar revestido

    externamente com a fibra [127]. Como a partio entre o analito e a fibra um

    processo exotrmico, o resfriamento favorece a recuperao dos analitos,

    principalmente, dos mais volteis. Entretanto, esta modificao apresenta

    limitaes tais como baixa capacidade de resfriamento do gs carbnico, uso

    de bomba, e comprometimento da portabilidade.

    Figura 2.10 Representao da extrao por SPME no modo headspace com

    fibra resfriada internamente. Adaptado [127].

    O modo headspace permite modificaes na matriz sem danificar a fibra.

    Fatores como temperaturas, agitao, tempo de exposio, e fora inica

    exercem influncia na eficincia de extrao. Aps extrao, a fibra recolhida

    e levada diretamente ao injetor do cromatgrafo para dessoro. Para

    armazenar a fibra at o momento da anlise, deve-se resfri-la para minimizar

    perdas por volatilizao.

  • 34

    Captulo 2

    Muitos compostos polares presentes em matrizes complexas so de

    difcil extrao, nessas situaes a tcnica da derivatizao pode ser

    conjugada com a SPME para facilitar o processo [128]. Uma das maneiras

    mais simples de derivatizao a adio do agente derivatizante diretamente

    no frasco contendo a matriz. Aps completar a reao, a fibra de SPME

    exposta para extrao do analito derivatizado. Alternativamente, faz-se uma

    derivatizao da fibra de SPME com um reagente derivatizante adequado e

    logo em seguida expe-se a fibra derivatizada matriz para que o analito

    possa ser extrado [129].

    A amostragem do ar expirado por SPME pode ser feita pela expirao

    direta na fibra ou pela expirao em bolsas e recipientes com extrao

    posterior. A primeira aplicao de SPME para anlise do ar expirado descrita

    na literatura [130], teve como objetivo determinar etanol, acetona e isopreno.

    Foram testadas quatro fibras diferentes com variaes de temperatura, tempo

    de extrao e umidade para avaliar a sensibilidade da tcnica. A coleta do ar

    expirado foi realizada com auxlio de um tubo de teflon adaptado ao dispositivo

    de SPME (Figura 2.11), o tempo de expirao utilizado foi de 30 segundos para

    coleta do ar alveolar.

    Figura 2.11 Representao do dispositivo de SPME com adaptao para

    amostragem do ar expirado. Adaptado [130].

    Recentemente muitos trabalhos tm sido realizados utilizando SPME

    para amostragem de diversos tipos de VOC no ar como clorobenzenos [131],

    organofosfatos [132], aldedos [133], pesticidas [134